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10º Ano FILOSOFIA – Ficha de Trabalho nº 5

                                  TEMA: As condicionantes da acção humana
Relação com a aula anterior:

- os alunos reconheceram a especificidade da acção humana;

- compreenderam a análise clássica do acto voluntário;

- Identificaram a rede conceptual da acção humana.

                            Objectivo da aula : Mostrar que a liberdade humana é condicionada e contextualizada.

                                                          Tema / Problema: Será o homem plenamente livre no agir?

                                                         TEXTO

Um homem foi esmagado pela composição 131, na linha 3 da estação do metropolitano de Saint – Lazare... Esse homem
tinha vinte e nove anos.

Ontem, Bernardo andava numa das extremidades da plataforma, de um lado para o outro; afastou-se dos passageiros,
inclinou-se para olhar as luzes da máquina e lançou-se como um mergulhador sobre os carris, de pés juntos e os braços ao
longo do corpo. Com as pernas cortadas e o rosto queimado, morreu imediatamente.

Não mais dobrará a esquina da rua Ordener onde, ainda criança, aprendera a brincar; não mais subirá a estreita escada
onde sentia o mau cheiro dos fritos e da latrina; não mais lerá, apoiado no fogão a gás (...), os anúncios de emprego do
“Parisien Liberé”. Tinha aprendido a profissão paterna: alfaiate (...); há cinco meses que estava desempregado: pequenos
anúncios, escadas, recusas duras...e, depois, as roupas ficaram-lhe tão andrajosas que deixou de sair.

Já algum de nós ficou dias inteiros, deitado na cama, com a impressão de ter perdido o aspecto de homem, a viver num
mundo que nos recusa trabalho?

Bernardo ouvia do outro lado do tabique a mãe, à custa de quem vivia, a mexer nas panelas. Saíu ainda uma vez. Na
fábrica, recusaram-no para servente por ser muito fraco; no escritório, o chefe de serviço disse não haver vaga, olhando
hostilmente os seus sapatos furados.

Às sete horas da manhã do dia seguinte, hora de ir para o trabalho, entrou sub-repticiamente na gare de Saint Lazare.
Todos são escravos do relógio, preocupados com o trabalho. Só ele é livre.

É livre, pode ir ao museu ou ver os parques em flor, é livre para pensar na física de Einstein ou na Imaculada Conceição.
Neste momento ele sente-se livre, sobretudo livre para escolher entre o bico de gás ou as carruagens do metropolitano.

São sete horas da manhã. Começa o dia de um homem livre: de um homem que foi esmagado pela composição 131.
Bernardo, um homem livre entre homens livres, foi esmagado por essa liberdade.

Isto revela, com trágico brilho, a ambiguidade da palavra liberdade. O desempregado é livre, dado que não está sujeito aos
horários da fábrica ou do escritório, nem ao fardo das tarefas quotidianas. É livre para procurar trabalho e os empregadores
são livres para lho recusar. E, no entanto, ele é escravo, está sujeito à opressão da miséria. Em consequência, já não é
livre para viver.

                         SERÁ BERNARDO UM HOMEM LIVRE?
1 - Condicionantes biológicas

                              Geral                                             No Texto
   •       Doenças                                              Bernardo é fisicamente muito frágil;

   •       Equilíbrio e saúde do corpo;                         Tem 29 anos;

   •       Funcionamento dos orgãos internos;                   Seria Bernardo doente?
   •       Satisfação das necessidades básicas;                 Bernardo é refém de uma herança genética: olhos
                                                                 castanhos ou azuis, cabelo liso ou encaracolado..
   •       Património genético

 2 – Condicionantes histórico-culturais

                                  Geral                                         No Texto
       •     O grupo social em que nascemos;                    Bernardo é francês;

       •     A época histórica;                                 Bernardo é um cidadâo cosmopolita;

       •     A cultura da nossa sociedade;                      Era alfaiate (herança social);

       •     Os valores pessoais e da nossa sociedade;          O desemprego.         O    OUTRO       (empregador)
                                                                 condiciona-nos.
       •     O nível económico que temos;
                                                                O relógio marca o tempo nas sociedades
       •     Os problemas com que nos deparamos                  desenvolvidas;

       •     A educação que recebemos;                          A escola que Bernardo frequentou – que
                                                                 influências recebeu?
       •     Os padrões culturais;
                                                                Será Bernardo um homem crente em Deus? O
       •     A religião                                          suicídio – aceitável ou não?

   3 – Condicionantes psicológicas

                                  Geral                                         No Texto
              •   Razões afectivas/sentimentais;                Qual o valor da vida para Bernardo?

              •   Bagagem intelectual;                          Terá Bernardo alguém de quem goste muito e
                                                                 que o prenda à vida?
              •   Inteligência;
                                                                Sentir-se-á Bernardo um inútil?
              •   Boa preparação académica;
                                                                Terá Bernardo um nível de escolaridade que lhe
              •   O que gostamos e de quem gostamos;             permita encontrar um novo emprego?


Comentar as duas afirmações de Georges Gusdorf:
A - “Uma liberdade absoluta só seria possível num espaço e tempo míticos”

B – “Nunca poderemos repousar na liberdade sem a perder”.

                                                                            Professora: Rosa Sousa

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  • 1. 10º Ano FILOSOFIA – Ficha de Trabalho nº 5 TEMA: As condicionantes da acção humana Relação com a aula anterior: - os alunos reconheceram a especificidade da acção humana; - compreenderam a análise clássica do acto voluntário; - Identificaram a rede conceptual da acção humana. Objectivo da aula : Mostrar que a liberdade humana é condicionada e contextualizada. Tema / Problema: Será o homem plenamente livre no agir? TEXTO Um homem foi esmagado pela composição 131, na linha 3 da estação do metropolitano de Saint – Lazare... Esse homem tinha vinte e nove anos. Ontem, Bernardo andava numa das extremidades da plataforma, de um lado para o outro; afastou-se dos passageiros, inclinou-se para olhar as luzes da máquina e lançou-se como um mergulhador sobre os carris, de pés juntos e os braços ao longo do corpo. Com as pernas cortadas e o rosto queimado, morreu imediatamente. Não mais dobrará a esquina da rua Ordener onde, ainda criança, aprendera a brincar; não mais subirá a estreita escada onde sentia o mau cheiro dos fritos e da latrina; não mais lerá, apoiado no fogão a gás (...), os anúncios de emprego do “Parisien Liberé”. Tinha aprendido a profissão paterna: alfaiate (...); há cinco meses que estava desempregado: pequenos anúncios, escadas, recusas duras...e, depois, as roupas ficaram-lhe tão andrajosas que deixou de sair. Já algum de nós ficou dias inteiros, deitado na cama, com a impressão de ter perdido o aspecto de homem, a viver num mundo que nos recusa trabalho? Bernardo ouvia do outro lado do tabique a mãe, à custa de quem vivia, a mexer nas panelas. Saíu ainda uma vez. Na fábrica, recusaram-no para servente por ser muito fraco; no escritório, o chefe de serviço disse não haver vaga, olhando hostilmente os seus sapatos furados. Às sete horas da manhã do dia seguinte, hora de ir para o trabalho, entrou sub-repticiamente na gare de Saint Lazare. Todos são escravos do relógio, preocupados com o trabalho. Só ele é livre. É livre, pode ir ao museu ou ver os parques em flor, é livre para pensar na física de Einstein ou na Imaculada Conceição. Neste momento ele sente-se livre, sobretudo livre para escolher entre o bico de gás ou as carruagens do metropolitano. São sete horas da manhã. Começa o dia de um homem livre: de um homem que foi esmagado pela composição 131. Bernardo, um homem livre entre homens livres, foi esmagado por essa liberdade. Isto revela, com trágico brilho, a ambiguidade da palavra liberdade. O desempregado é livre, dado que não está sujeito aos horários da fábrica ou do escritório, nem ao fardo das tarefas quotidianas. É livre para procurar trabalho e os empregadores são livres para lho recusar. E, no entanto, ele é escravo, está sujeito à opressão da miséria. Em consequência, já não é livre para viver. SERÁ BERNARDO UM HOMEM LIVRE?
  • 2. 1 - Condicionantes biológicas Geral No Texto • Doenças  Bernardo é fisicamente muito frágil; • Equilíbrio e saúde do corpo;  Tem 29 anos; • Funcionamento dos orgãos internos;  Seria Bernardo doente? • Satisfação das necessidades básicas;  Bernardo é refém de uma herança genética: olhos castanhos ou azuis, cabelo liso ou encaracolado.. • Património genético 2 – Condicionantes histórico-culturais Geral No Texto • O grupo social em que nascemos;  Bernardo é francês; • A época histórica;  Bernardo é um cidadâo cosmopolita; • A cultura da nossa sociedade;  Era alfaiate (herança social); • Os valores pessoais e da nossa sociedade;  O desemprego. O OUTRO (empregador) condiciona-nos. • O nível económico que temos;  O relógio marca o tempo nas sociedades • Os problemas com que nos deparamos desenvolvidas; • A educação que recebemos;  A escola que Bernardo frequentou – que influências recebeu? • Os padrões culturais;  Será Bernardo um homem crente em Deus? O • A religião suicídio – aceitável ou não? 3 – Condicionantes psicológicas Geral No Texto • Razões afectivas/sentimentais;  Qual o valor da vida para Bernardo? • Bagagem intelectual;  Terá Bernardo alguém de quem goste muito e que o prenda à vida? • Inteligência;  Sentir-se-á Bernardo um inútil? • Boa preparação académica;  Terá Bernardo um nível de escolaridade que lhe • O que gostamos e de quem gostamos; permita encontrar um novo emprego? Comentar as duas afirmações de Georges Gusdorf: A - “Uma liberdade absoluta só seria possível num espaço e tempo míticos” B – “Nunca poderemos repousar na liberdade sem a perder”. Professora: Rosa Sousa