SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Baixar para ler offline
E QUANDO O VÍCIO RASPA A DIGNIDADE? 
Naquela repousante neblina que cobria a pequena Mumbuca, povoado quase imperceptível situado no município de Coité do Nóia, interior de Alagoas, e ainda deslumbrado com a beleza natural do lugarejo vou conduzindo-me pelos caminhos esburacados deixados pela chuva que caíra na noite anterior. Adentrando-me pelas lavouras que trazem verde a pequena paisagem sigo em direção até o centro da minha cidade. 
Era uma manhã calma e sadia, e caminhando pelas ruas de Coité do Nóia visualizava a grande multidão de comerciantes da feirinha dominical. Todos bem colocados com suas artes, cheios de talento para o marketing. Colaboravam sem dúvida para o avanço da nossa cidade. Uma grande multidão de consumidores em meio a frutas, legumes e verduras compravam alimentos que acabara de sair dessas terras. Em minha mente não consigo deixar de lembrar- me das aulas de História e perceber naquela cena a redescoberta do capitalismo que surgiu durante o desenvolvimento da burguesia. 
Apesar de sentir-me encantado com o cenário, meu destino era outro. Entrar no reduto ao lado do ginásio de esportes, naquela barbearia estreita, e repor minha cabeça às mãos casquentas de seu Zé. Um homem de vida alegre, flamenguista de coração e de porte baixo. 
Como de costume cumprimento a todos e sinto-me que sou a figura do salão. Ambiente cheio de senhores que interagem uns com os outros e trazem como tema de suas conversas: a vida. Não há lugar que se tenha grandes estórias como um salão de cabelereiro. Não é simplesmente um ambiente que se corta cabelos. É um lugar onde se refaz e respeitam- se identidades. Ambiente agradável, onde se reencontram amigos e inimigos. Sua importância não está apenas em restaurar a beleza, ou raspar as barbas suadas de muitos, mas em ser um passatempo que trás sentido aos domingos daquela cidade interiorana. 
A espera foi longa, mas repousei naquela cadeira que trazia luxo ao lugar desde a infância de muitos até a velhice de poucos. Um fardo para alguns. Para ela, o sentimento de servir a vida. 
Fico a observar naquela sala empoeirada cabelos de várias formas: loiro, ruivo, liso, crespo e até mesmo pixaim. E há quem diga que as mãos de seu Zé não são abençoadas. Um paradoxo, diante do tratamento dado para todos aqueles tipos de cabelos. Após o término do que poderia chamar de “novo eu” fico abismado diante do espelho, mas recolho-me até o banco ao lado. Dando a vez para o próximo sortudo. 
Mesmo chegando ao fim do que buscara naquele lugar, continuo ali, na expectativa de ouvir novas estórias contadas por aqueles senhores. De repente, vi uma criatura torcida de vícios miseráveis, adentrar no salão. A figura trazia pena aos olhos da beleza, da paz e do respeito. Sentando-se ao meu lado, falou: 
_ Bom dia a rapaziada! Ei tio! Tem como dá um trato aqui no meu cabelo? 
_ Como você quer cortar seu cabelo? Fala Zé ao sujeito. 
_ Quero que passe a zero. 
_ Tá certo. Sente-se aqui. Responde Zé. 
O silêncio, com seu tom desconfiado, inunda aquele minúsculo salão. Era como se todos sentissem a dor daqueles belos fios loiros sendo decapitados da cabeça do rapaz. Ouvia- se apenas o barulho da máquina e viam-se as mãos de seu Zé um pouco trêmulas após ser surpreendido pelo segundo pedido do rapaz: raspar a sobrancelha. Parecia que aquele Ser queria mostrar-se totalmente a margem e distanciado da imagem de “bom rapaz” da sociedade coiteense. 
O barulho daquela máquina raspando a dignidade daquele futuro homem e a imagem daquela face sem sobrancelha, que mais parecia um monge budista sem sabedoria, despertou- me o medo. Medo das gerações futuras, da insegurança sobre o mal que o homem criou para saciar seu prazer. O medo da falta de amor, não o amor ao próximo, mas a falta de amor a si mesmo. No fim todos estavam surpreendidos. O sujeito? Aquele que poderia ter tudo pela frente? Saía sorridente, voltando para o vício repugnante da periferia da nossa cidade. Sumindo em meio à feira daquela manhã. 
Autor: José Kelvin

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibanoInovasite
 
Minha última corrida!
Minha última corrida!Minha última corrida!
Minha última corrida!Fábio Cunha
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibanoprofjazon
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibanoJNR
 
Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....
Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....
Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....Antônia de Fátima Codonho
 
Auto da Barca do Inferno -9ºB
Auto da Barca do Inferno -9ºBAuto da Barca do Inferno -9ºB
Auto da Barca do Inferno -9ºBluiscontente
 
1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha
1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha
1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinhaizildinha
 
Avaliação bimestral 6º ano iv
Avaliação bimestral 6º ano ivAvaliação bimestral 6º ano iv
Avaliação bimestral 6º ano ivNadja Rakel
 
Aúltimaviagemdetaxi
AúltimaviagemdetaxiAúltimaviagemdetaxi
AúltimaviagemdetaxiMaria Helena
 
A mulher que vendeu ... - Janduhi Dantas
A mulher que vendeu ... - Janduhi DantasA mulher que vendeu ... - Janduhi Dantas
A mulher que vendeu ... - Janduhi DantasMima Badan
 
Piui, Piui, Piui... - Vovó Mima Badan
Piui, Piui, Piui...  - Vovó Mima BadanPiui, Piui, Piui...  - Vovó Mima Badan
Piui, Piui, Piui... - Vovó Mima BadanVovó Mima Badan
 
Filhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexoFilhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexoPoeta Jardim .
 
Pestilóide e o sumiço da chuva
Pestilóide e o sumiço da chuvaPestilóide e o sumiço da chuva
Pestilóide e o sumiço da chuvananychika ********
 

Mais procurados (20)

Diário
DiárioDiário
Diário
 
A última viagem de taxi
A última viagem de taxiA última viagem de taxi
A última viagem de taxi
 
Presente de Paris
Presente de ParisPresente de Paris
Presente de Paris
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibano
 
Minha última corrida!
Minha última corrida!Minha última corrida!
Minha última corrida!
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibano
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibano
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibano
 
Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....
Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....
Quadras ao gosto popular de Fernando Pessoa, Ativ. 3 e 4 , Apresentação Prof....
 
Taxi curitibano
Taxi curitibanoTaxi curitibano
Taxi curitibano
 
Auto da Barca do Inferno -9ºB
Auto da Barca do Inferno -9ºBAuto da Barca do Inferno -9ºB
Auto da Barca do Inferno -9ºB
 
Spirits
SpiritsSpirits
Spirits
 
1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha
1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha
1 soneto e 1 poema nivaldo e izildinha
 
Avaliação bimestral 6º ano iv
Avaliação bimestral 6º ano ivAvaliação bimestral 6º ano iv
Avaliação bimestral 6º ano iv
 
Aúltimaviagemdetaxi
AúltimaviagemdetaxiAúltimaviagemdetaxi
Aúltimaviagemdetaxi
 
A mulher que vendeu ... - Janduhi Dantas
A mulher que vendeu ... - Janduhi DantasA mulher que vendeu ... - Janduhi Dantas
A mulher que vendeu ... - Janduhi Dantas
 
Piui, Piui, Piui... - Vovó Mima Badan
Piui, Piui, Piui...  - Vovó Mima BadanPiui, Piui, Piui...  - Vovó Mima Badan
Piui, Piui, Piui... - Vovó Mima Badan
 
Filhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexoFilhas do segundo sexo
Filhas do segundo sexo
 
Outro tipo de mulher nua
Outro tipo de mulher nuaOutro tipo de mulher nua
Outro tipo de mulher nua
 
Pestilóide e o sumiço da chuva
Pestilóide e o sumiço da chuvaPestilóide e o sumiço da chuva
Pestilóide e o sumiço da chuva
 

Destaque (20)

Felicidades10
Felicidades10Felicidades10
Felicidades10
 
Guia de música
Guia de músicaGuia de música
Guia de música
 
Carta à populacao
Carta à populacaoCarta à populacao
Carta à populacao
 
Tangrans maio
Tangrans  maioTangrans  maio
Tangrans maio
 
Encarte CD
Encarte CDEncarte CD
Encarte CD
 
Cedência de passagem
Cedência de passagemCedência de passagem
Cedência de passagem
 
P. de texto 001
P. de texto 001P. de texto 001
P. de texto 001
 
Folheto_publicidade
Folheto_publicidadeFolheto_publicidade
Folheto_publicidade
 
2 c estruturas organizacionais_
2 c estruturas organizacionais_2 c estruturas organizacionais_
2 c estruturas organizacionais_
 
Agencia órbita web 18/05
Agencia órbita web 18/05Agencia órbita web 18/05
Agencia órbita web 18/05
 
Rb 51 MSD Finca Productiva Salud Del Hato
Rb 51 MSD Finca Productiva Salud Del HatoRb 51 MSD Finca Productiva Salud Del Hato
Rb 51 MSD Finca Productiva Salud Del Hato
 
YA
YAYA
YA
 
Proyecto de empresa
Proyecto de empresaProyecto de empresa
Proyecto de empresa
 
Ericka tarefa 06
Ericka tarefa 06Ericka tarefa 06
Ericka tarefa 06
 
Sistema economico
Sistema economicoSistema economico
Sistema economico
 
Revisão de prova p2 3º ano médio matutino
Revisão de prova p2 3º ano médio matutinoRevisão de prova p2 3º ano médio matutino
Revisão de prova p2 3º ano médio matutino
 
Menu18
Menu18Menu18
Menu18
 
En defensa servicios públicos
En defensa servicios públicosEn defensa servicios públicos
En defensa servicios públicos
 
Novidades Legislativas Nº 25 | 24/04/2012
Novidades Legislativas Nº 25 | 24/04/2012Novidades Legislativas Nº 25 | 24/04/2012
Novidades Legislativas Nº 25 | 24/04/2012
 
Trabajo final. gestión de tic. rotger, romina
Trabajo final. gestión de tic. rotger, rominaTrabajo final. gestión de tic. rotger, romina
Trabajo final. gestión de tic. rotger, romina
 

Semelhante a Quando o vício raspa a dignidade

Capitulo i mesmo na morte
Capitulo i   mesmo na morteCapitulo i   mesmo na morte
Capitulo i mesmo na morteMesmoNaMorte
 
Capitulo i - mais uma parte
Capitulo i - mais uma parteCapitulo i - mais uma parte
Capitulo i - mais uma parteMesmoNaMorte
 
Palavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarPalavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarSá Editora
 
Gonzaga Barbosa
Gonzaga Barbosa Gonzaga Barbosa
Gonzaga Barbosa Ze Legnas
 
Paulina Chiziane - Niketche – uma História de Poligamia.pdf
Paulina Chiziane  -  Niketche – uma História de Poligamia.pdfPaulina Chiziane  -  Niketche – uma História de Poligamia.pdf
Paulina Chiziane - Niketche – uma História de Poligamia.pdfCarolinaDeCastroCerv1
 
Retalhos. mo maie
Retalhos. mo maieRetalhos. mo maie
Retalhos. mo maieMo Maie
 
DUAS HORAS MUITO LOUCAS I
DUAS HORAS MUITO LOUCAS IDUAS HORAS MUITO LOUCAS I
DUAS HORAS MUITO LOUCAS IWendell Santos
 
INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016
INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016
INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016blog2012
 
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazA ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazLRede
 
3º agro literatura tipo 03 pdf
3º agro   literatura tipo 03 pdf3º agro   literatura tipo 03 pdf
3º agro literatura tipo 03 pdfRenato Oliveira
 
ASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docx
ASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docxASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docx
ASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docxisabaraujo67
 

Semelhante a Quando o vício raspa a dignidade (20)

A TRILOGIA
A TRILOGIAA TRILOGIA
A TRILOGIA
 
Capitulo i mesmo na morte
Capitulo i   mesmo na morteCapitulo i   mesmo na morte
Capitulo i mesmo na morte
 
Capitulo i - mais uma parte
Capitulo i - mais uma parteCapitulo i - mais uma parte
Capitulo i - mais uma parte
 
Palavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya BaydarPalavra Perdida - Oya Baydar
Palavra Perdida - Oya Baydar
 
O Crânio de Cristal
O Crânio de CristalO Crânio de Cristal
O Crânio de Cristal
 
Gonzaga Barbosa
Gonzaga Barbosa Gonzaga Barbosa
Gonzaga Barbosa
 
Arroio Luiz Rau
Arroio Luiz RauArroio Luiz Rau
Arroio Luiz Rau
 
Arroio luiz rau
Arroio luiz rau Arroio luiz rau
Arroio luiz rau
 
Extrato de obras do poeta das moreninhas
Extrato de obras do poeta das moreninhasExtrato de obras do poeta das moreninhas
Extrato de obras do poeta das moreninhas
 
Arroio Luiz Rau
Arroio Luiz RauArroio Luiz Rau
Arroio Luiz Rau
 
Paulina Chiziane - Niketche – uma História de Poligamia.pdf
Paulina Chiziane  -  Niketche – uma História de Poligamia.pdfPaulina Chiziane  -  Niketche – uma História de Poligamia.pdf
Paulina Chiziane - Niketche – uma História de Poligamia.pdf
 
Retalhos. mo maie
Retalhos. mo maieRetalhos. mo maie
Retalhos. mo maie
 
DUAS HORAS MUITO LOUCAS I
DUAS HORAS MUITO LOUCAS IDUAS HORAS MUITO LOUCAS I
DUAS HORAS MUITO LOUCAS I
 
Olhosestranhosvol3
Olhosestranhosvol3Olhosestranhosvol3
Olhosestranhosvol3
 
INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016
INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016
INDICADOS PARA 5ª EDIÇÃO OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA 2016
 
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferrazA ceia-dos-mortos-salma-ferraz
A ceia-dos-mortos-salma-ferraz
 
3º agro literatura tipo 03 pdf
3º agro   literatura tipo 03 pdf3º agro   literatura tipo 03 pdf
3º agro literatura tipo 03 pdf
 
ASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docx
ASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docxASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docx
ASSOBIANDO À VONTADE, Mário Dionísio.docx
 
Mestre-Finezas.pdf
Mestre-Finezas.pdfMestre-Finezas.pdf
Mestre-Finezas.pdf
 
Chicos 13 fevereiro 2008
Chicos 13 fevereiro 2008Chicos 13 fevereiro 2008
Chicos 13 fevereiro 2008
 

Último

AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptxthaisamaral9365923
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Vitor Mineiro
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...licinioBorges
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
SEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL - PPGEEA - FINAL.pptx
SEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL -  PPGEEA - FINAL.pptxSEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL -  PPGEEA - FINAL.pptx
SEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL - PPGEEA - FINAL.pptxCompartilhadoFACSUFA
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassAugusto Costa
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavrasMary Alvarenga
 

Último (20)

AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
“Sobrou pra mim” - Conto de Ruth Rocha.pptx
 
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
Descreve o conceito de função, objetos, imagens, domínio e contradomínio.
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
SEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL - PPGEEA - FINAL.pptx
SEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL -  PPGEEA - FINAL.pptxSEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL -  PPGEEA - FINAL.pptx
SEMINÁRIO QUIMICA AMBIENTAL - PPGEEA - FINAL.pptx
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e Característicass
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Bullying - Atividade com caça- palavras
Bullying   - Atividade com  caça- palavrasBullying   - Atividade com  caça- palavras
Bullying - Atividade com caça- palavras
 

Quando o vício raspa a dignidade

  • 1. E QUANDO O VÍCIO RASPA A DIGNIDADE? Naquela repousante neblina que cobria a pequena Mumbuca, povoado quase imperceptível situado no município de Coité do Nóia, interior de Alagoas, e ainda deslumbrado com a beleza natural do lugarejo vou conduzindo-me pelos caminhos esburacados deixados pela chuva que caíra na noite anterior. Adentrando-me pelas lavouras que trazem verde a pequena paisagem sigo em direção até o centro da minha cidade. Era uma manhã calma e sadia, e caminhando pelas ruas de Coité do Nóia visualizava a grande multidão de comerciantes da feirinha dominical. Todos bem colocados com suas artes, cheios de talento para o marketing. Colaboravam sem dúvida para o avanço da nossa cidade. Uma grande multidão de consumidores em meio a frutas, legumes e verduras compravam alimentos que acabara de sair dessas terras. Em minha mente não consigo deixar de lembrar- me das aulas de História e perceber naquela cena a redescoberta do capitalismo que surgiu durante o desenvolvimento da burguesia. Apesar de sentir-me encantado com o cenário, meu destino era outro. Entrar no reduto ao lado do ginásio de esportes, naquela barbearia estreita, e repor minha cabeça às mãos casquentas de seu Zé. Um homem de vida alegre, flamenguista de coração e de porte baixo. Como de costume cumprimento a todos e sinto-me que sou a figura do salão. Ambiente cheio de senhores que interagem uns com os outros e trazem como tema de suas conversas: a vida. Não há lugar que se tenha grandes estórias como um salão de cabelereiro. Não é simplesmente um ambiente que se corta cabelos. É um lugar onde se refaz e respeitam- se identidades. Ambiente agradável, onde se reencontram amigos e inimigos. Sua importância não está apenas em restaurar a beleza, ou raspar as barbas suadas de muitos, mas em ser um passatempo que trás sentido aos domingos daquela cidade interiorana. A espera foi longa, mas repousei naquela cadeira que trazia luxo ao lugar desde a infância de muitos até a velhice de poucos. Um fardo para alguns. Para ela, o sentimento de servir a vida. Fico a observar naquela sala empoeirada cabelos de várias formas: loiro, ruivo, liso, crespo e até mesmo pixaim. E há quem diga que as mãos de seu Zé não são abençoadas. Um paradoxo, diante do tratamento dado para todos aqueles tipos de cabelos. Após o término do que poderia chamar de “novo eu” fico abismado diante do espelho, mas recolho-me até o banco ao lado. Dando a vez para o próximo sortudo. Mesmo chegando ao fim do que buscara naquele lugar, continuo ali, na expectativa de ouvir novas estórias contadas por aqueles senhores. De repente, vi uma criatura torcida de vícios miseráveis, adentrar no salão. A figura trazia pena aos olhos da beleza, da paz e do respeito. Sentando-se ao meu lado, falou: _ Bom dia a rapaziada! Ei tio! Tem como dá um trato aqui no meu cabelo? _ Como você quer cortar seu cabelo? Fala Zé ao sujeito. _ Quero que passe a zero. _ Tá certo. Sente-se aqui. Responde Zé. O silêncio, com seu tom desconfiado, inunda aquele minúsculo salão. Era como se todos sentissem a dor daqueles belos fios loiros sendo decapitados da cabeça do rapaz. Ouvia- se apenas o barulho da máquina e viam-se as mãos de seu Zé um pouco trêmulas após ser surpreendido pelo segundo pedido do rapaz: raspar a sobrancelha. Parecia que aquele Ser queria mostrar-se totalmente a margem e distanciado da imagem de “bom rapaz” da sociedade coiteense. O barulho daquela máquina raspando a dignidade daquele futuro homem e a imagem daquela face sem sobrancelha, que mais parecia um monge budista sem sabedoria, despertou- me o medo. Medo das gerações futuras, da insegurança sobre o mal que o homem criou para saciar seu prazer. O medo da falta de amor, não o amor ao próximo, mas a falta de amor a si mesmo. No fim todos estavam surpreendidos. O sujeito? Aquele que poderia ter tudo pela frente? Saía sorridente, voltando para o vício repugnante da periferia da nossa cidade. Sumindo em meio à feira daquela manhã. Autor: José Kelvin