Traça o panorama da implantação do Projeto Caia na Rede no Baixo Sul da Bahia, as reformulações que o tornou viável da região, e sobre as importantes alianças e parcerias estratégicas firmadas, que contribuem para sua execução e ampliação em todo o Brasil e em outros países.
Universidade Empreendedora como uma Plataforma para o Bem comum
Uma janela para o mundo: o desafio da inclusão digital em áreas rurais
1. Uma Janela para o Mundo
O Desafio da Inclusão Digital em Áreas Rurais
Clovis Faleiro | Fabrício Cruz
(A Window on the World – The Challenge of Digital Inclusion in Rural Areas)
2. Prefácio
1
Uma Janela para o Mundo
O Desafio da Inclusão Digital em Áreas Rurais
(A Window on the World – The Challenge of Digital Inclusion in Rural Areas)
4. Prefácio
3
Clovis Faleiro | Fabrício Cruz
Salvador, 2011
Uma Janela para o Mundo
O Desafio da Inclusão Digital em Áreas Rurais
(A Window on the World – The Challenge of Digital Inclusion in Rural Areas)
5. UmaJanelaparaoMundo
4
EQUIPE DE COLABORADORES
Projeto Caia na Rede – Baixo Sul
Coordenação
Frede Luís dos Santos Bonfim (Coordenação Local)
Débora Santana (Assistente Administrativo)
Monitores
Aline da Silva Barbosa
André Carlos Vieira Santos
Elânio Menezes Souza
Elenildo Santos Pinheiro Júnior
Jonh Anderson Macedo Santos
Michele Rainan da Silva Carvalho
Pedro Conceição Moura Júnior
Rosana dos Santos Coutinho
Wesley Santos Freitas
Fundação Odebrecht
Décio Souza de Carvalho (Apoio administrativo)
Diego Costa Fernandes (Fotografia/Capa)
Fabrício Nascimento da Cruz (Sistematização)
Pessoa Física
Augusto Leal (Capa)
Edileno Capistrano Filho (Projeto Gráfico e Diagramação)
Jane do Carmo (Tradutora)
Faleiro, Clovis
Uma janela para o mundo = A window on the world : the challenge of digital inclusion in rural areas : o desafio
da inclusão digital em áreas rurais /Clovis Faleiro Jr., Fabrício Cruz ; [tradução para o inglês Jane do Carmo]. -- São
Paulo : Fundação Odebrecht, 2011.
Edição bilíngue: português/inglês.
ISBN 978-85-7959-012-2
1. Áreas rurais 2. Centros comunitários 3. Inclusão digital 4. Internet - Aspectos sociais
5. Sociologia rural 6. Trabalhadores rurais 7. Usuários da Internet I. Cruz, Fabrício.
II. Título. III. Título: A window on the world : the challenge of digital inclusion in rural area.
11-14052 CDD-303.4840
Índices para catálogo sistemático:
1. Inclusão digital em áreas rurais : Sociologia 303.4840
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
6. Prefácio
5
À José Cláudio Grossi, Mauro Rehm, Olindina
Domingues e Evandro Rangel por terem
concebido e implantado o Projeto Caia na Rede,
em2005, na Construtora Norberto Odebrecht.
À João Cumerlato por ter, a partir de2009,
ampliado o alcance do Caia na Rede, no
Brasil e exterior, construindo uma rede de
relacionamentos empresariais que nos fez
chegar até aqui.
8. Prefácio
7
Nossos Parceiros
Levar a Inclusão Digital a uma grande região rural
do nordeste brasileiro, é um desafio de enorme proporção.
Uma única empresa não conseguiria dar conta dessa complexidade,
que envolve não apenas a falta de infraestrutura, mas também
a pouca ou nenhuma intimidade das pessoas com a tecnologia.
Aqui destacamos, de modo especial, a importância estratégica
dos parceiros desta jornada.
A todos que acreditaram e se comprometeram com o Caia na Rede,
o nosso muito obrigado.
10. Prefácio
9
SUMÁRIO
Prefácio 11
Apresentação 15
Bill Gates e o Baixo Sul da Bahia 19
Introdução - Inclusão Digital e Educação 23
Capítulo I – Do Fracasso ao Sucesso 29
1. Alfabetização Digital 29
2. Dificuldades Enfrentadas no Baixo Sul 30
3. Corrigindo o Rumo 31
4. Mudança do Cenário 33
Capítulo II – Consolidando o Caia na Rede 35
1. Diretrizes Pedagógicas 35
2. Investimento nas Pessoas 36
3. Foco nos Resultados 37
Capítulo III – Expansão do Projeto 45
1. Ganhos Crescentes 45
2. Tecnologia à Serviço do Agricultor 46
3. A Era do Conhecimento 47
Capítulo IV – Parcerias e Alianças Estratégicas 57
1. Microsoft, Dell, Oi, Odebrecht e Fundação Odebrecht 57
2. Telebrás 57
3. Semp Toshiba 58
4. O que Pensam os Líderes 59
Capítulo V – O Caia na Rede e a Odebrecht 63
1. Como Tudo Começou 63
2.Experiências no Brasil 64
3. Rompendo Fronteiras 66
4. O Apoio da Fundação Odebrecht às empresas 67
Homenagem 69
Anexos 75
Fotos 85
Tributo ao Futuro 99
11. Prefácio
11
Há muitos anos escrevi um artigo comparando a internet à roda: sempre que alguém quer
dizer que não está criando nada de extraordinariamente novo, afirma: “ninguém inventa a roda
duas vezes”.
De fato, a roda foi uma das mais fantásticas invenções da humanidade. Com ela foi possível au-
mentarenormementeasdistânciasdasviagensterrestres,permitindoaexplosãodocomérciointer-
no e a mobilidade dos cidadãos em todas as Nações. As consequências disso foram extraordinárias.
Lembro-me então de ter dito que apesar destes grandes resultados que mudaram a face
do planeta, especialmente quando acoplados à navegação, a roda pode ser um instrumento de
exclusão: um indivíduo com roda vai de São Paulo ao Rio de Janeiro, por exemplo, em4 horas;
um outro sem roda demorará mais de um mês para ir de uma cidade à outra a pé, ou pelo menos
uma semana, se for a cavalo.
Esta diferença de utilização do tempo é fatal para a desigualdade social, especialmente na
modernidade, em que tempo é dinheiro.
Pois bem, a internet pode ser comparada à roda no quesito exclusão social: um indivíduo
com internet se conecta com o Japão em alguns segundos; outro sem internet jamais se conec-
tará: portanto, a inclusão digital é um elemento essencial para a democratização daquilo que é
hoje o símbolo do progresso: informação, conhecimento, relacionamento.
Nos últimos meses, as redes sociais abrigadas pela internet passaram a exercer um papel
crescente também nas ações coletivas. Quem poderia imaginar, há um ano, a ocupação da Wall
Street e seus congêneres anarquistas da Itália e da Inglaterra?
Quem preveria as enormes e brutais mobilizações da Primavera Árabe? Isto só acontece por
causa da internet e quem estiver conectado participará, quem não estiver ficará de fora.
É por essas e outras que a inclusão digital é uma premissa para a democracia moderna, mes-
mo para os mais liberais: a base do liberalismo é a igualdade de oportunidades, e a internet
precisa ser igualmente oportunizada a todos.
A Fundação Odebrecht, como já demonstrou em diversas outras iniciativas, tem esta visão
de incluir a todos, alicerce da justiça social e da democracia legítima.
POR ROBERTO RODRIGUES
PREFÁCIO
12. UmaJanelaparaoMundo
12
Consciente dos números alarmantes da exclusão digital no nordeste do país, fator que
inibe o progresso e abre ainda mais o abismo social com as regiões desenvolvidas, criou o
Caia na Rede, através do qual abre espaço para que jovens segregados em áreas rurais mais
distantes fiquem ao par, em tempo real, das novas tecnologias disponíveis para seu avanço
social, econômico e cultural.
Incorporando novas tecnologias, passam a competir em melhores condições e se juntam ao
imenso contingente de internautas com acesso ao conhecimento e à informação.
Ganham roda para voar, e com a velocidade da luz!
É um belo programa que deve encher de orgulho a Odebrecht e seus dirigentes e parceiros.
Roberto Rodrigues – Foi Ministro da Agricultura (governo Lula); coordenador do Centro de Agronegócios da
Fundação Getúlio Vargas; Presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo; foi Presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, da Organização Mundial das Cooperativas
Agrícolas e da Aliança Cooperativa Internacional; é Professor de Economia Rural da UNESP/Jaboticabal.
13. Prefácio
13
Companhias de sucesso e inovadoras tendem a ser inspiradas por um grande propósito que
está por trás de tudo que fazem.
Na Dell, sempre acreditamos que a tecnologia deveria desenvolver o potencial humano.
Essa crença embasou nossa cultura durante os 27 anos de existência da empresa, e, hoje, nós
definimos o propósito da Dell ao redor dessa ideia singular: oferecer soluções de tecnologia
que permitam que pessoas de todo o mundo cresçam e prosperem. Temos a responsabilidade
de trazer nosso propósito a vida junto a nossos clientes, colaboradores e acionistas. E essa res-
ponsabilidade se estende às comunidades em que atuamos e ao planeta que habitamos.
Em minhas visitas aos clientes, é com grande satisfação que testemunho como nossas solu-
ções tecnológicas e iniciativas corporativas estão permitindo que as pessoas, em todo o lugar,
alcancem seus sonhos e objetivos. Jovens ao redor do planeta estão desenvolvendo as habi-
lidades que necessitam para ingressarem no mercado de trabalho e se tornarem os líderes de
amanhã, com soluções tecnológicas como a Sala de Aula Conectada e o projeto Dell Youth
Connect, ou ainda com projetos como o Caia na Rede, da Fundação Odebrecht. Hospitais es-
tão realizando melhorias importantes no atendimento aos pacientes e aumentando ganhos em
eficiência com as soluções de registro médicos eletrônicos, virtualização de desktops e outras
soluções de tecnologia. Empreendedores e donos de pequenos negócios – que têm um papel
fundamental no crescimento de nossa economia global — continuam a nos inspirar a desenvol-
ver a tecnologia Dell de maneira inédita, para que eles possam competir com negócios maiores
e já estabelecidos.
Ajudar as pessoas a crescerem e alcançarem seus sonhos é um resultado direto de nosso
negócio, e também um fator inspirador para os programas de Responsabilidade Social desen-
volvido por diversas empresas. Solucionar os desafios que enfrentamos hoje nas áreas de edu-
cação, saúde, economia e meio ambiente requer uma combinação de estratégia de negócio das
corporações, de iniciativas de cidadania globais e da forte atuação dos Governos.
É nesse contexto que os projetos de inclusão digital, como o Caia na Rede, são de extrema
importância. Foi com grande satisfação que aceitamos o convite da Fundação Odebrecht e de
POR RAYMUNDO PEIXOTO
PREFÁCIO
14. UmaJanelaparaoMundo
14
seus parceiros para participar dessa iniciativa, que iniciou em maio de 2009, com objetivo de
levar Internet e os benefícios do acesso à tecnologia para as zonas rurais do Baixo Sul. E foi com
orgulho que acompanhei como a Fundação agiu para enfrentar as dificuldades e fazer deste um
projeto vencedor.
Na Dell, acreditamos que oferecer tecnologia na sala de aula não é, por si só, a solução dos
problemas da educação. É necessário um profundo entendimento da realidade dos alunos e
o desenvolvimento de conteúdo interativo e alinhado com as necessidades apresentadas em
sala de aula, num processo onde tanto os alunos, quanto os professores e as organizações en-
volvidas trocam ideias, aprendem mutuamente e crescem em entendimento e desempenho ao
longo desse processo.
E foi exatamente seguindo esses conceitos que o Caia na Rede alcançou seus resultados ex-
tremamente positivos. Projetos como esse dão vida ao propósito da Dell. Só temos que agrade-
cer por fazermos parte de uma iniciativa tão nobre, comprometida e transformadora!
Raymundo Peixoto – Diretor Geral da Dell Brasil.
15. Apresentação
15
APRESENTAÇÃO
O Desafio de levar a Inclusão Digital ao interior do Brasil
Ao nos debruçarmos sobre os dados da exclusão digital no Brasil, nos deparamos com os se-
guintes indicadores:
• De acordo com a Pesquisa TIC2007 - Centro de Estudos sobre a Tecnologia da Informação
e da Comunicação -47% da população brasileira nunca usou um computador e59% nunca
acessou a internet.
• Entre as pessoas que estudaram somente até o ginásio, 83% não tem acesso a computador e
89%nãoacessaaInternet(Fonte:MapadaExclusãoDigital,InstitutoBrasileirodeEconomia).
Olhando para os números do Norte e Nordeste do país, identificamos que a exclusão digital
ganha contornos regionais, e os dados vão piorando a medida que nos afastamos das capitais e
grandes centros urbanos:
• No Norte e Nordeste, 91% das famílias não têm acesso à internet nas residências, ou seja,
somente em 9% dos domicílios há acesso à rede mundial de computadores. Esta é a pro-
porção mais desigual se consideradas às demais regiões do país.
• Na Região Nordeste, 48% dos domicílios com acesso a internet não têm banda larga (in-
fraestrutura para internet em alta velocidade). Desse total, 31% não têm como pagar pelo
serviço e 23% não contam com a tecnologia disponível na área.
• Se formos analisar apenas as comunidades rurais, o número de domicílios sem acesso à inter-
net chega a100%. Essa é a fotografia, por exemplo, da exclusão digital no Baixo Sul da Bahia.
Dentre os motivos identificados para a falta de internet nos domicílios, temos:
• A falta de infraestrutura adequada. A privatização das telecomunicações não assegurou os
16. UmaJanelaparaoMundo
16
investimentos nos municípios de baixo desenvolvimento econômico e social, mantendo
assim a exclusão digital nessas regiões.
• O preço da banda larga no Brasil é um dos mais caros do mundo. O País possui mais de dez
milhões de acessos fixos à internet rápida, que pagam, em média, R$ 162,00 pelo serviço.
O valor é 9,6 vezes maior que no Japão e24 vezes mais alto em relação aos EUA, de acordo
com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Para fazer frente a este enorme fosso, o Governo Federal vem, desde 2010, estruturando o
Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), que pretende levar o acesso a internet a 90 milhões de
brasileiros, em regiões que hoje se encontram completamente à margem do processo de inclu-
são digital, por conta da falta de viabilidade econômica para implantação de projetos.
A iniciativa dever contar com a utilização dos recursos do FUST - Fundo de Universalização
dos Serviços de Telecomunicações, cujos recursos, que somam mais de 06 bilhões de reais,
nunca foram utilizados, pois são usados para compor as metas de superávit primário.
O PNBL embora represente uma esperança, vem tendo suas metas prorrogadas a cada semes-
tre e a Telebrás, empresa gestora do programa, tem sofrido constantes cortes em seu orçamento,
o que inviabiliza o cumprimento do seu cronograma e a expansão do Plano de Banda Larga.
Um Objetivo Nobre, Superior e Comum
Enfrentar este problema foi o que nos motivou. Em janeiro de 2009, começamos a mapear im-
portantes parceiros estratégicos. Nosso objetivo era criar uma rede de tecnologia que pudesse
apoiar os projetos promovidos pela Fundação Odebrecht, no Baixo Sul da Bahia, transforman-
do a região numa referência para o Brasil.
Nos dois primeiros meses do ano, estivemos com a direção de importantes empresas, tais
como: Cisco, Oi, Dell, IBM, Oracle e Microsoft. Buscamos apresentar o trabalho realizado pela
Fundação Odebrecht e identificar, junto a essas organizações, potenciais pontos de sinergia e
alavancagem, que permitissem criar condições de transferência e geração de conhecimento de
ponta para o Baixo Sul, contribuindo assim, para gerar mais e melhores resultados.
Começamos a exercitar a possibilidade de utilizar o projeto de Alfabetização Digital criado,
em2005, pela Construtora Norberto Odebrecht, batizado com o nome Caia na Rede, cujo obje-
tivo era capacitar em informática os trabalhadores e as comunidades próximas à obra, amplian-
do, a partir de parcerias com as organizações procuradas, seu escopo e alcance.
Consolidamos em março os primeiros entendimentos entre Odebrecht, Microsoft, Funda-
ção Odebrecht, Dell e Oi, firmando um Acordo de Cooperação para implantar o Caia na Rede
em43 obras da Odebrecht, no Brasil, e nos Projetos Educacionais apoiados pela Fundação Ode-
brecht, no Baixo Sul da Bahia, abrangendo também outras Instituições parceiras.
Conscientes do grave problema de exclusão digital no Brasil, procuramos combinar esfor-
ços para construir uma oportunidade efetiva de servir e contribuir, de forma decisiva, com o de-
senvolvimento de pessoas e regiões. O Caia na Rede tem como objetivo explorar a vontade dos
indivíduos para desenvolver suas potencialidades, tornando-os pessoas de conhecimento, que,
17. Apresentação
17
conseguem, por meio da tecnologia, abrir uma janela para o mundo, acessando informações e
conteúdos relevantes, de modo a estruturar seus negócios e contribuir com o desenvolvimento
social e econômico das suas comunidades.
Entendemos que na era da informação, a alfabetização digital é elemento de progresso e,
a falta dela, de exclusão social. O acesso a tecnologia, com orientação qualificada e disciplina,
pode ser um importante acelerador do processo de mudança na educação. O ensino e a apren-
dizagem podem ser efetivos, não em virtude do uso da tecnologia, mas por saber aliar as meto-
dologias inovadoras que podem garantir uma formação de qualidade, e encurtar distâncias ao
encontrar a combinação adequada entre programas, conteúdos e parcerias.
Assinado o Acordo de Cooperação, iniciamos o projeto em junho de 2009. Os resultados já
alcançados nos mostram, de forma particular, que, no caso do Baixo Sul da Bahia, é necessário
ter uma maior participação das empresas provedoras de internet, pois a conectividade, quando
ocorre, é ruim (funcionando por rádio ou satélite). Além do mais, poucas áreas possuem sinal
e conexão. Neste sentido, comprometemos a Telebrás, por meio do Plano Nacional de Banda
Larga. Sem uma política pública que priorize essa questão, não será possível pôr fim a exclusão
digital nas comunidades rurais do Baixo Sul e do Norte e Nordeste brasileiro como um todo.
Do ponto de vista humano, o desafio é melhor qualificar as pessoas (monitores/educadores)
para que saibam potencializar o uso da tecnologia, explorando suas diversas possibilidades para
melhorar a construção dos seus planos de aulas, tornando o conhecimento mais acessível aos jo-
vens da região. Quase todas as escolas públicas já possuem computadores, mas estão sem uso, ou
porque as escolas não têm estrutura adequada, ou porque os professores não possuem nenhuma
intimidade com a tecnologia. Nesse contexto, a participação da Microsoft tem sido estratégica,
em razão dos cursos que desenvolveu (Alfabetização Digital, Aprender em Parceria e Aluno Mo-
nitor), e que permitem uma melhoria significativa do uso da informática nas escolas.
Com o funcionamento dos laboratórios do Caia na Rede estamos conseguindo resultados
expressivos. A tecnologia combinada a educação vem permitindo: um maior e mais rápido
acesso a informação; uma pesquisa mais qualificada de conteúdos, que pode fazer a diferença
para o jovem da zona rural, sobretudo com o acesso aos temas relacionados ao agronegócio;
um maior intercâmbio de informações e experiências, que pode resultar na solução de proble-
mas e na construção de oportunidades; o uso racional de ferramentas (planilhas eletrônicas,
análises gráficas, etc.) que contribuem com o planejamento e o acompanhamento da produti-
vidade e rentabilidade dos empreendimentos rurais.
Ao ensinarmos os jovens das regiões rurais, a utilizar a tecnologia para melhorar a eficácia e
eficiência dos seus negócios, estaremos construindo uma nova realidade.
Um mundo rural alicerçado pela tecnologia pode parecer um sonho, sobretudo se falamos
do Norte e Nordeste do Brasil, que em seu interior, nas comunidades rurais, ainda ostenta um
elevado padrão de subdesenvolvimento. No entanto, este sonho é possível, desde que existam
líderes e organizações dispostas a empreender esforços visando transformar uma realidade social
deexclusãoeatraso,criandoascondiçõesnecessárias,possíveisedesejáveisaodesenvolvimento.
Clovis Faleiro Jr. - Relações Institucionais da Fundação Odebrecht e Líder do Programa Tributo ao Futuro.
19. BillGateseoBaixoSuldaBahia
19
BILL GATES E O BAIXO SUL DA BAHIA
Em maio de 2010, tínhamos nos lançado ao desafio de provar que era possível levar a
inclusão digital ao mundo rural brasileiro, em especial ao Baixo Sul da Bahia, área de atu-
ação da Fundação Odebrecht, e onde decidimos priorizar a implantação do Caia na Rede.
Desde o início a Microsoft nos mostrou que o sonho era possível e que sua participação era
pra valer.
Nessa mesma época, Bill Gates, criador da Microsoft e Presidente da Fundação Bill e Me-
linda Gates, estava lançando o seu site oficial – The Gates Notes (www.thegatesnotes.com).
Por conta da parceria com a Fundação Odebrecht, a Casa Familiar Rural, de Presidente Tan-
credo Neves, foi a única escola do Brasil e da América Latina, selecionada para possibilitar aos
seus alunos a oportunidade de fazer perguntas a Bill Gates, que ele responderia e postaria em
seu site, cujo lançamento despertou a atenção da imprensa mundial e foi acompanhado em
mais de 170 países.
Nunca havíamos imaginado que seria possível conectar jovens do mundo rural a Bill Ga-
tes. E repentinamente estávamos diante de uma oportunidade única, que nos mostrou que
nada era impossível.
Segue abaixo a reprodução da histórica entrevista dos jovens agricultores de Presidente
Tancredo Neves, Bahia, com ninguém menos que – Bill Gates.
TheCuriousClassroomfeaturingquestionsfromstudentsinBahia,Brazilwaspostedtodayon
The Gates Notes - http://www.thegatesnotes.com/Curious-Classroom/SpecialFeature.aspx
Questions for Bill Gates from Bahia (Postado em 05/05/2010)
A Casa Familiar Rural criou uma escola possível para jovens que vivem em fazendas distantes,
espalhados em uma região rural da Bahia, no Brasil. Os jovens vivem uma semana na escola, e
em seguida, retornam para suas famílias, onde ficam duas semanas, onde são visitados pelos
monitores/educadores da escola, quando compartilham o que aprenderam.
20. UmaJanelaparaoMundo
20
Conversation
Geiane Macedo, 19
O que o motivou a deixar a Microsoft para se dedicar à filantropia?
Bill Gates
Eu tive sorte que minhas ações na Microsoft tornaram-se extremamente valiosas. Isso
criou tanto uma oportunidade como uma grande responsabilidade para mim, que passei
a estar pessoalmente envolvido em voltar a minha riqueza para o mundo de maneira
mais benéfica. Por um longo tempo, eu sabia que acabaria por mudar, para me dedi-
car integralmente à Fundação que criei, quando estivesse com meus cinquenta anos. Na
verdade, eu tinha 53 anos, quando escolhi fazer essa mudança. Tenho sorte de ter feito
meu trabalho na Microsoft, de forma divertida, aprendendo coisas novas, trabalhando
com pessoas inteligentes. E posso ainda desfrutar do meu trabalho de filantropia.
Maricélia Soares, 20
Qual é o seu maior sonho, e qual é a sua maior alegria na vida?
Bill Gates
Ter uma família jovem é a minha maior alegria. Meus filhos têm 13, 10 e 7 anos agora.
Adoro fazer coisas novas com eles, observando como aprendem. A maior alegria para a
minha esposa, Melinda, e para mim é estar com nossos filhos.
Eu também digo que meu trabalho me traz muita alegria, por conta do progresso que
estamos fazendo. Podemos sair e encontrar agricultores e suas culturas bem sucedidas,
visitar a aldeia onde a taxa de malaria caiu pela metade. Nós nos encontramos com pes-
quisadores, que são capazes de realizar um trabalho relevante com o nosso apoio. Rece-
bi, recentemente, uma carta de Robert Glass, um cientista que trabalhava em uma va-
cina para rotavírus. É fantástico saber que podemos ajudá-lo a lutar contra uma doença
que mata meio milhão de crianças a cada ano. Meu maior sonho é um mundo onde todos
possam receber uma educação de qualidade e onde atender as necessidades básicas não
é um desafio diário.
Maurílio de Jesus, 20
O que o ajudou a se tornar um grande empreendedor?
Bill Gates
É muito importante ter a confiança de que você pode realizar alguma coisa, ainda que
seja bastante difícil ao tentar. É fácil você ficar desanimado. Quando você começa um
negócio, há muitas questões financeiras por descobrir, com um monte de terminologias
específicas. Mas, se você tem habilidades matemáticas razoáveis, e procurar as pessoas
21. BillGateseoBaixoSuldaBahia
21
que podem lhe explicar essas coisas, verá que não é realmente tão complicado assim.
Você precisa estar disposto a perguntar: Ei, o que significam todas essas coisas? Os ver-
dadeiros especialistas são os únicos que podem lhe explicar.
Por exemplo, um grande conceito no mundo dos negócios é o valor do dinheiro no tem-
po. Esse é um tema complexo, mas Warren Buffett explica como “é mais importante ter
um pássaro na mão, do que dois a voar”. Um provérbio simples explica o princípio fun-
damental dos negócios. Desfrutando das aprendizagens, encontrando as pessoas que
podem ajudá-lo, e sendo perseverante quando algo parecer muito complicado – tudo
isso foi muito útil para mim.
Marilan Souza, 18
Quais foram as principais crises que você enfrentou e como conseguiu passar por elas?
Bill Gates
Eu tive muita sorte na vida, por não ter passado por um monte de coisas terríveis. Meus
pais eram abastados economicamente, nós tivemos uma vida boa. Minha trajetória esco-
lar foi ótima. Minha carreira profissional tem sido maravilhosa. A coisa mais negativa na
minha trajetória foi uma série de problemas legais que a Microsoft teve que enfrentar.
Fui ajudado pelos conselhos, que tenho tido ao longo do caminho, do meu pai, de War-
ren Buffett, Melinda e Steve Ballmer. Eu tenho uma parceria comercial forte com Steve,
e ele me ajudou a manter as coisas em perspectiva. Isso foi muito útil.
A Educação na Região
A Casa Familiar Rural é uma escola, localizada em Presidente Tancredo Neves, uma cidade de
20 mil habitantes, na Bahia, Brasil. A escola atende alunos de toda uma região de pequenos
produtores rurais, com pouco acesso à tecnologia e onde poucos conseguem concluir a escola.
Inaugurada em 2003, com o apoio da Fundação Odebrecht, a Casa Familiar Rural utiliza um
método conhecido como Pedagogia da Alternância, na qual os alunos passam uma semana na
escola e duas semanas em sua propriedade. Os alunos estão na faixa etária de 15 a 21 anos. Du-
rante 03 anos estudam no currículo escolar padrão (matemática, biologia, português, etc.) e
também aprendem novas técnicas agrícolas. Na propriedade rural, compartilham seu apren-
dizado com suas famílias e comunidades, contribuindo para melhorar a educação e as práticas
agrícolas em áreas rurais remotas.
23. Introdução-InclusãoDigitaleEducação
23
1. A Natureza da Inclusão Digital
Considero como Inclusão Digital o processo mediante o qual as pessoas obtêm acesso à tecno-
logia digital e se capacitam para utilizá-la de modo a promover seus interesses e desenvolver
competências que resultem na melhoria da qualidade de sua vida.
Estudos recentes na área de Inclusão Digital – e tenho em mente especialmente o livro Brid-
ging the Digital Divide: Technology, Community and Public Policy, de Lisa J. Servon (Série “The
Information Age, Editora Blackwell Publishing, Oxford, UK, 2008) – têm enfatizado o fato de
que a Inclusão Digital envolve basicamente três componentes, todos contemplados na defini-
ção que acabo de fornecer:
• Acesso à tecnologia digital;
• Capacidade de manejar essa tecnologia do ponto de vista técnico;
• Capacidade de integrar essa tecnologia nos afazeres diários.
Isso significa que a velha visão da Inclusão Digital, segundo a qual, para promovê-la, bastava
dar aos digitalmente excluídos acesso à tecnologia, fornecendo-lhes computadores, software
e conexão com a internet, não é mais adequada, se é que um dia foi (embora acesso, clara e
evidentemente, continue a ser uma condição necessária para a Inclusão Digital).
Também não basta complementar o acesso com treinamento técnico em Windows, Office e
Internet (ou softwares equivalentes) para que as pessoas aprendam a manejar tecnicamente a
tecnologia (embora esse domínio técnico da tecnologia também seja uma condição necessária
para a Inclusão Digital).
Esses dois componentes, acesso e manejo técnico da tecnologia, são, como assinalei, condi-
ções necessárias para a Inclusão Digital – mas nem mesmo conjuntamente se tornam condições
suficientes.
Para que as pessoas não sejam excluídas dos benefícios da tecnologia digital, é preciso, além
INTRODUÇÃO
INCLUSÃO DIGITAL E EDUCAÇÃO
24. UmaJanelaparaoMundo
24
desses dois componentes, que elas adquiram a capacidade de efetivamente integrar a tecno-
logia em sua vida e em seus afazeres diários (profissionais e pessoais), de modo a desenvolver
competências que resultem na melhoria da qualidade de sua vida (o terceiro componente). E é
exatamente esta a proposição da Fundação Odebrecht quando da implementação e execução
do Programa Caia na Rede, no Baixo Sul da Bahia.
Deforma,organizada,programáticaeativa,promove,nãosomenteainclusãodigitaloferecendo
capacitação, mas também promovendo uma transformação na vida de cada um dos seus partícipes.
2. A Inclusão Digital e a Educação
A expressão “Inclusão Digital” foi inventada a partir da expressão “Inclusão Social”. Socialmen-
te incluído é o indivíduo capaz de participar plenamente da vida social, em todos os seus múlti-
plos aspectos. A expressão aparentemente surgiu em relação aos deficientes, que, dependendo
da natureza e intensidade da deficiência, em geral são excluídos de muitos aspectos da vida
social. Hoje em dia, porém, aplica-se predominantemente aos pobres, que, em virtude de sua
pobreza, em geral são excluídos da participação na maioria dos aspectos, digamos, mais inte-
ressantes e atraentes da vida.
“Inclusão Digital”, em analogia, seria a condição do indivíduo capaz de utilizar plena e com-
petentemente, em seus afazeres profissionais e pessoais, a tecnologia digital – isto é, especial-
mente computadores e a internet. Com a convergência, para o computador, das tecnologias
de comunicação, em especial a telefonia celular, a Inclusão Digital provavelmente vá envolver
também essas tecnologias dependentes do computador.
A expressão “Inclusão Digital”, portanto, se refere à capacidade de utilização plena de uma
tecnologia.
Duas observações são pertinentes neste contexto – que podem parecer nos levar muito para
fora do foco de discussão, mas que, asseguro, são relevantes.
A. A Escrita como Tecnologia
Hoje há uma concordância quase absoluta em torno da tese de que, no seu sentido mais amplo,
tecnologia é tudo aquilo que o ser humano inventa para tornar sua vida mais fácil ou agradável.
Tecnologia não é algo que se encontra pronto na natureza, que nasce em árvores ou de animais.
Tecnologia é artefato, é coisa que surge primeiro, como ideia e projeto, na mente do ser huma-
no e, depois, é produzida por ele.
Entendida dessa forma, a tecnologia não consiste somente de ferramentas, instrumentos, im-
plementos. Ela consiste também de métodos, procedimentos, técnicas, algoritmos, linguagens,
notações, sistemas, etc. Ou seja, existe uma tecnologia “hard”, que consiste de entidades tangí-
veis, e uma tecnologia “soft”, que consiste de entidades intangíveis. O fato de as entidades intan-
gíveis que constituem a tecnologia “soft” precisarem ser, muitas vezes, armazenadas e transmiti-
das em objetos físicos (papel, livro, discos, fitas, fios, cabos, etc.) não invalida a distinção.
25. Introdução-InclusãoDigitaleEducação
25
Nesse entendimento, a linguagem oral ou falada é uma tecnologia – e a linguagem escrita,
outra. A escrita originalmente era iconográfica, ideográfica, cuneiforme. Depois passou a ser
na Europa, predominantemente alfabética. (No Oriente muitas línguas não são alfabéticas). A
escrita cuneiforme e a alfabética são, portanto, variedades da linguagem escrita. A escrita tam-
bém pode ser feita a mão (manuscrita) ou pode ser impressa (em Inglês ainda se usa o termos
“manuscript” e “typescript” para descrever as duas).
Embora haja alguma evidência da existência de um alfabeto já por volta de 1900 AC, a lin-
guagem escrita alfabética se tornou popular no mundo, pelo que consta, por volta de 1000 a
800 AC – ou até bem depois (na época de Platão ainda havia controvérsia se a escrita era algo
bom ou ruim: Sócrates era um crítico dela!). Ou seja, arredondando mais ou menos na média,
podemos dizer que a escrita alfabética data de cerca de três mil anos atrás.
No início, e por muito tempo, a escrita alfabética (daqui para frente essa é a única modali-
dade de escrita a que vou me referir) foi uma tecnologia altamente exclusiva. (Na realidade,
toda tecnologia é, no início, altamente exclusiva: poucos são os que estão capacitados a lidar
competentemente com ela). Durante séculos – na verdade, por bem mais de um milênio – a
quantidade daqueles que poderiam ser descritos como não excluídos (e, portanto, como inclu-
ídos) pela tecnologia da escrita era mínima. Em plena Renascença, no século XV, na Europa,
quase só monges e clérigos eram capazes de ler e escrever com um mínimo de competência.
Imperadores, reis, príncipes, e outros nobres eram completamente analfabetos. Não sabiam
ler e escrever porque pouco incentivo havia para que aprendessem e isso por basicamente uma
razão: havia pouquíssima coisa que precisassem ler e escrever eles próprios e, quando aparecia
alguma, tinham acesso a quem pudesse ler e escrever por eles.
Foi só com a invenção da prensa tipográfica de tipo móvel, por Johannes Gutenberg, por volta
de 1455, que começou a aparecer uma literatura escrita que, de certo modo, incentivou muitos
a aprender a ler e a escrever. A Reforma Protestante do século XVI, revoltando-se contra a ma-
nipulação dos fiéis por parte de padres católicos inescrupulosos, que se arvoravam em únicos
intérpretes autorizados das Escrituras, deu uma significativa contribuição à causa do aprendizado
da leitura e da escrita ao criar escolas e defender a tese de que todo mundo deveria aprender a ler
e a escrever para que pudesse, por si só (sob a inspiração do Espírito Santo, pretendiam os refor-
madores), ler e interpretar as Escrituras, saindo assim da tutela da Igreja Católica.
Ou seja, do ano 1000 AC até o ano 1500 DC, num período de dois mil e quinhentos anos, a
maioria absoluta das pessoas era excluída da tecnologia da escrita.
O mais incrível é que, apesar da importância que a escrita rapidamente adquiriu (como ve-
ículo para a produção literária, filosófica e científica, como ferramenta educacional, como, es-
pecialmente através da literatura, símbolo de identidade dos nascentes estados nacionais, etc.),
mesmo de1500 DC para cá essa tecnologia tem encontrado sérias dificuldades para alcançar in-
clusão universal. Num país como o Brasil, descoberto pelos europeus em1500, quase ao mesmo
tempo em que a prensa tipográfica de tipo móvel era inventada, ainda temos cerca de 35% de
“analfabetos funcionais”, isto é, de gente que, para todos os fins práticos, é excluída dos enor-
mes benefícios de uma tecnologia inventada há 3000 anos. (E, aqui entre nós, Inclusão Digital
26. UmaJanelaparaoMundo
26
de analfabetos parece um despropósito – o que mostra, como veremos, que o grande problema
que enfrentamos talvez seja outro).
Esse fato é por demais grave, porque a educação escolar, hoje, tem, como pré-requisito, da
segunda série em diante, a capacidade de leitura e escrita. Quem não adquire e domina essa
capacidade, ainda que tenha permanecido nos bancos escolares por vários anos, na prática não
foi além da primeira série.
B. A “Inclusão Televisiva”
A televisão foi inventada no final da primeira metade do século XX, mas se popularizou na se-
gunda. No Brasil, a data de1950 representa a entrada da televisão no país.
No início, possuir um aparelho de televisão era um luxo que poucos se podiam dar. Nos
quarteirões das vizinhanças de classe média, em geral uma ou duas famílias apenas tinham con-
dições de comprar um aparelho.
Por volta do ano 2000, ou seja, cinquenta anos depois da entrada da televisão no país, cer-
ca de 96% dos lares brasileiros tinham aparelhos de televisão – muitos, mais do que um. Ou
seja, em relativamente pouco tempo, sem necessidade de intervenção governamental (muito
menos de órgãos internacionais), sem necessidade de criação de Organizações Não Governa-
mentais (ONGs) para promovê-la, sem necessidade de que as empresas, através de suas áreas
de Responsabilidade Social Corporativa, contribuíssem para o esforço, sem que jamais tivesse
se constituído uma Associação Comunitária para a disseminação do uso da televisão – sem que
nada disso fosse necessário, o mercado, cuidando apenas do seu interesse principal (a busca do
lucro), promoveu a “Inclusão Televisiva” no Brasil.
E note-se que houve várias fases importantes nesse processo. Por volta de 1970, surgiu a
televisão em cores. De novo, pouquíssimos eram os que podiam adquirir um aparelho de tele-
visão em cores. Em pouco tempo, televisor em branco e preto virou uma raridade. Na década de
80, surgiu o vídeo-cassete. Novamente, poucos eram os que podiam se dar o luxo de comprar
um vídeo-cassete. Em pouco tempo, quase todo mundo tinha um. Depois, no final da década de
90, surgiu o DVD. Mais uma vez, o preço de entrada da tecnologia no mercado era proibitivo:
acima de mil dólares. Hoje por cerca de 75 dólares ou menos se adquire um leitor de DVDs – e
virtualmente todo mundo tem um: o DVD “matou” o vídeo-cassete.
C. A Inclusão Digital
O Brasil começou realmente a ter acesso a microcomputadores decentes a um preço acessível
depois da abertura do mercado que começou com o governo Collor e progrediu com o governo
FHC e Lula. E a internet comercial só chegou ao Brasil em1995, quando o ministro Sérgio Motta
investiu contra a Embratel e, quase sozinho, acabou com o monopólio das telecomunicações
no país. Ou seja, faz, na realidade, menos de quinze anos que temos possibilidade concreta de
(sem quebrar a lei) ter um computador em casa, adquirido a um preço razoável, devidamente
27. Introdução-InclusãoDigitaleEducação
27
conectado à internet. A redução nos preços, tanto dos computadores em si, como do acesso à
internet, vem ocorrendo de forma gradativa, mas inexorável. Hoje é possível comprar um com-
putador decente por cerca de 500 dólares em um supermercado e pagá-lo em dez prestações,
sem acréscimo.
E o custo do acesso ilimitado à internet é menor do que o custo da assinatura de um telefone
(embora, infelizmente, ainda se acrescente a ele) e bem menor do que o custo da assinatura de
televisão por cabo ou satélite.
Os governos, em especial nos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, claramen-
te vêm perdendo a batalha da educação. Apesar dos bilhões de dólares por eles investidos na
educação, apesar da legislação que os obriga investir30% ou mais da arrecadação no sistema de
ensino, a educação pública dos países não-desenvolvidos e em desenvolvimento é, em geral,
uma calamidade. Mesmo num estado teoricamente rico como o de São Paulo, adolescentes
chegam à sexta, sétima ou até mesmo a oitava série como analfabetos funcionais. O governo
investe neles oito anos de escolaridade e não consegue fazer com que se tornem “incluídos” na
tecnologia da leitura e da escrita.
Nossos alunos serão efetivamente incluídos digitalmente quando tiverem uma educação de
qualidade – que contribua para o seu desenvolvimento humano – em escolas bem equipadas
com tecnologia, em que o desafio não será aprender a usar a tecnologia, mas usar a tecnologia
para aprender, e, assim, para se desenvolver como ser humano e viver uma vida de qualidade.
Emílio Munaro – Diretor de Educação da Microsoft Brasil
29. CapítuloI-DoFracassoaoSucesso
29
1. Alfabetização Digital
Levar inclusão digital ao Baixo Sul da Bahia foi o desafio firmado em2009, pela Microsoft, Dell,
Oi, Odebrecht e Fundação Odebrecht.
Por se tratar de uma região, notadamente rural, sabíamos que o desafio seria complexo,
pois demandaria, ao mesmo tempo, desenvolvimento tecnológico e qualificação das pessoas.
Na zona rural brasileira, sobretudo no Norte e Nordeste do país, a grande maioria dos jovens
não possui computadores, nem acesso à internet em suas casas. O nível de relacionamento das
pessoas com a tecnologia é muito baixo ou inexistente.
Neste cenário, ficou definido que o ponto de partida do Projeto Caia na Rede seria, portan-
to, a execução do programa de Alfabetização Digital, concebido pela Microsoft. Trata-se de
uma proposta didática de alfabetização em informática, que objetiva ensinar e avaliar os conhe-
cimentos e aptidões básicas de computação para que os beneficiários possam utilizar a tecnolo-
gia no dia a dia e conquistar novas oportunidades sociais e econômicas.
O programa tem uma carga horária de 20 horas distribuídas nos seguintes módulos:
Noções Básicas Sobre o Computador
No mundo moderno, a computação se tornou parte integrante do nosso cotidiano. Músicas,
fotos, operações bancárias, comunicações, todas essas atividades, hoje executadas no compu-
tador, modificaram nossa maneira de viver e de trabalhar. Este módulo do programa apresenta
as noções básicas da computação, explica os componentes de um computador, explora os prin-
cípios do sistema operacional e mostra como usar o mouse e o teclado.
Programas de Produtividade
Existem atualmente centenas de aplicativos de softwares disponíveis. Este módulo explora os
CAPÍTULO I
DO FRACASSO AO SUCESSO
30. UmaJanelaparaoMundo
30
aplicativos utilizados com mais frequência nos negócios, na educação e em casa. Ele ensina a
escolher o software mais indicado para cada tipo de projeto. Os usuários aprendem os prin-
cípios básicos de processamento de texto, planilhas de cálculos, softwares de apresentação e
bancos de dados.
A Internet e a World Wide Web
A internet pode conectar você às pessoas, informações e recursos em todo o mundo. O curso
mostra como se conectar a internet, procurar páginas da Web, navegar pelos sites, usar meca-
nismos de pesquisa e trocar mensagens de e-mail com outras pessoas.
Segurança e Privacidade
É muito simples utilizar um computador com toda segurança e privacidade, desde que se sai-
ba como fazê-lo. O curso facilita a identificação dos principais riscos e ameaças à segurança e
privacidade, de modo a aprender a evitá-los e adquirir mais confiança no uso da computação.
Estilos de Vida Digitais
Telefones celulares, MP3, câmeras digitais, computadores, estes e tantos outros dispositivos
estão trazendo grandes modificações ao nosso cotidiano. O módulo apresenta as novas tec-
nologias digitais, incluindo as de áudio, vídeo e fotografia digitais. Ele explora como essas e
outras tecnologias da computação estão criando novas oportunidades de trabalho e moldando
o mundo em que vivemos.
2. Dificuldades Enfrentadas no Baixo Sul
Durante a execução desta fase inicial do Projeto Caia na Rede, percebemos que o curso de Alfa-
betização Digital da Microsoft não poderia ser aplicado genuinamente, sem que houvesse uma
adaptação dos seus recursos ao público do Baixo Sul da Bahia.
Constatamos que o curso da Microsoft tinha um caráter predominantemente urbano, e uma
linguagem que seria mais familiar às pessoas com maior possibilidade de acesso ao computador
e maior tempo com essas máquinas disponíveis para serem praticados os conhecimentos teóri-
cos aprendidos.
Os beneficiários do Projeto no Baixo Sul não se enquadravam nas características citadas an-
teriormente. São moradores da zona rural e enfrentaram diversos obstáculos para conseguirem
concluir o curso de Alfabetização Digital, como por exemplo, os longos espaços de tempo entre
uma aula e outra, estradas mal conservadas que, em épocas de chuva, os impedem de ir às aulas
nos laboratórios de informática, falta de máquinas disponíveis nas comunidades onde moram,
dificultando a prática do que aprenderam, problemas com interpretação de textos, decorrentes
31. CapítuloI-DoFracassoaoSucesso
31
de uma aprendizagem básica muito deficiente, etc.
Mesmo neste cenário, foi identificada como uma grande oportunidade, a possibilidade de
se traçar uma abordagem contextualizada para os conteúdos trabalhados, adaptando-os à re-
alidade local, ou seja, fazendo com que os jovens criassem uma relação de identificação com
as linguagens e códigos próprios da tecnologia, vendo com isso sua aplicação no cotidiano, e
assim, pudessem obter uma aprendizagem de fato significativa.
2.1. Problemas Principais
Ao iniciarmos o Caia na Rede no Baixo Sul, delegamos a execução do programa de Alfabe-
tização Digital aos monitores de informática da região, vinculados aos projetos educacionais
apoiados pela Fundação Odebrecht.
Entretanto, no processo de acompanhamento, no primeiro trimestre de 2010, percebemos
que os instrutores apresentavam um quadro de forte rejeição ao conteúdo Microsoft, colocan-
do-o como inadequado ao ambiente rural e justificando a impossibilidade de assimilação por
parte dos jovens. Esta visão motivou a coordenação do projeto a realizar um diagnóstico situ-
acional, e em paralelo, recorrer ao apoio de técnicos e dialogar com os beneficiários, a fim de
aprofundar a análise sobre a realidade em questão.
O diagnóstico nos mostrou que havíamos cometido diversas falhas no processo. A Primeira
Metade da Tarefa Empresarial (o Planejamento) não havia sido realizada; os monitores, em-
bora técnicos em informática, não possuíam didática para ensinar; muitos não dominavam os
conteúdos da Microsoft (e não se prepararam para ensinar). Na Segunda Metade da Tarefa
Empresarial (a Execução) o resultado, portanto, não podia ser diferente.
Os monitores patinavam no curso, as aulas eram pouco produtivas, e o conteúdo que deve-
ria ser dado em 20 horas, se arrastava por 50 horas, sem previsão de conclusão, gerando uma
grande desmotivação nos jovens. Decidimos, então, marcar os testes de avaliação, em todas as
turmas, com 20 horas ou mais de capacitação, no site da Microsoft. De 162 jovens que realiza-
ram os testes formulados pela Microsoft, apenas 05 (isso mesmo!) conseguiram ser aprovados.
Uma fotografia nítida e assustadora do nosso problema.
3. Corrigindo o Rumo
Sempre que estivermos diante de um problema, é essencial a realização de um diagnóstico an-
tes de agir. Essa lição nos foi ensinada pelo empresário Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar.
Abílio destaca que é necessário olhar, com tranquilidade, primeiro o problema, buscando dados
e fatos, que nos permitam entender o que está realmente acontecendo. Feito o diagnóstico é
possível elaborar um planejamento correto, que norteará toda a execução. A ação é o último
passo deste processo.
Para reverter o quadro diagnosticado, a Fundação Odebrecht montou uma força-tarefa para
iniciar do zero as ações. Mas agora, tendo a Tecnologia Empresarial Odebrecht como bússola,
32. UmaJanelaparaoMundo
32
orientando o planejamento, a execução, e o acompanhamento dos resultados. Passamos a atuar
com base nos seguintes pontos:
3.1. Foco no Planejamento
Para atingir maiores e melhores resultados, concluímos que era necessário estruturar toda a
ação e focar no planejamento pedagógico. Essa etapa permitiu identificar a melhor forma de
ensinar os conteúdos, a fim de garantir ao público do Projeto uma aprendizagem significativa e,
por conseguinte, conseguir a aprovação nos testes da Microsoft.
3.2. Revisão do Método
Baseados nas graves dificuldades de leitura, interpretação de textos e de cálculos apresentadas
pelos jovens do Baixo Sul, optamos por rever o método em que se baseava o Programa. Com
isso, houve o reconhecimento da importância do monitor, enquanto mediador dos conheci-
mentos de informática para os alunos.
3.3. Valorização do Papel do Monitor
O principal desafio do monitor é o de criar a ponte entre a tecnologia, seus termos técnicos,
seus recursos e seus benefícios e o beneficiário do Projeto, fazendo-o entender o mundo de
informações por trás da tecnologia, permitindo que este conhecimento seja convertido em
crescimento pessoal e comunitário.
Entendemos que o profissional que assume esta função, além da experiência e competência
técnica, precisava possuir sensibilidade e destreza para perceber as oportunidades de aprendi-
zagens das turmas, e ter a habilidade em propor resoluções práticas, que prendam a atenção dos
alunos, e incentive a colaboração na construção dos conhecimentos.
3.4. Elaboração e distribuição do Material Didático
Diante da dificuldade dos beneficiários do Projeto, em acessarem materiais didáticos sobre o
assunto, em meio digital, em suas casas, e não encontrarem laboratórios ou salas de informá-
tica em suas comunidades, para que pudessem, assim, ampliar a interação com o computador,
passamos a produzir materiais de apoio impressos (textos, atividades de fixação, etc.), que ga-
rantiram a continuidade dos estudos, mesmo quando o jovem não estivessem no laboratório do
Caia na Rede, nas instituições apoiadas pela Fundação Odebrecht.
3.5. Convergência de Linguagens
A tecnologia no âmbito do Caia na Rede foi assumida como um espaço de convergência das di-
33. CapítuloI-DoFracassoaoSucesso
33
versas áreas de conhecimento. Neste caso, a diversificação de linguagens (textual, audiovisual e
tecnológica), é entendida como um recurso essencial, utilizado para assegurar uma abordagem
multidisciplinar dos conteúdos de informática. Por isso utilizamos, de forma sinérgica e com-
plementar, as linguagens abaixo:
3.5.1. Textual: aos alunos foram disponibilizados textos alternando gênero e tipolo-
gia a fim de permitir o interesse e o gosto pela leitura, associando-os aos conteúdos
centrais do projeto;
3.5.2. Audiovisual: vídeos curtos, coerentes e/ou curiosos, representam um ótimo
recurso para fixação de conteúdos, muitos deles impossíveis de serem explicados
apenas com palavras;
3.5.3. Tecnológica: consideramos que a melhor forma de ensinar se dá por meio do
incentivo à prática. Identificamos, assim, como importante e necessário buscar pro-
gramas que possam ser utilizados, pelos beneficiários do projeto em suas atividades
práticas e cotidianas. No mundo rural, a tecnologia precisa estar a serviço do empre-
sariamento das atividades agrícolas, contribuindo para a melhoria da produtividade,
qualidade e rentabilidade.
4. Mudança do Cenário
Momento 1 – Diagnóstico
180
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Avaliados
Diagnóstico realizado de 20/07 a 13/08/2010 em todas as Casas Familiares
162
5
Aprovados
34. UmaJanelaparaoMundo
34
Após as ações descritas, chegamos ao final de 2010, com 242 jovens certificados pela
Microsoft, num universo de 292 pessoas avaliadas. As 50 que não conseguiram ser apro-
vadas em dezembro, passaram por aulas de reforço na primeira semana de janeiro de 2011,
conseguindo sua aprovação também.
Estávamos diante da efetiva mudança da realidade. Após termos feito o diagnóstico, pude-
mos realizar o planejamento adequado. Ao irmos para execução, fizemos o que estava plane-
jado. Com isso, os resultados apareceram. As dificuldades foram vencidas. É possível levar a
tecnologia e ensinar o seu uso às pessoas que vivem no mundo rural.
160
140
120
100
80
60
40
20
0
Avaliados
Avaliações realizadas em Setembro e Outubro de 2010 - CFR-PTN e CFR-I
135
107
Aprovados
350
300
250
200
150
100
50
0
Avaliados
Todas avaliações realizadas até dezembro de 2010
292
242
Aprovados
Momento 2 – Intervenção Pedagógica
Momento 3 – Resultado Final
35. CapítuloII-ConsolidandooCaianaRede
35
CAPÍTULO II
CONSOLIDANDO O CAIA NA REDE
Após conseguir, de fato, levar os jovens do Baixo Sul a aprender o conteúdo Microsoft, do
curso de Alfabetização Digital, decidimos iniciar a sistematização de nossa experiência.
Era preciso escrever sobre o que tínhamos presenciado e vivido. O caminho percorrido ha-
via nos mostrado os erros cometidos, o que havia dado certo, e o que fizemos para modificar
totalmente a realidade, superando todas as adversidades.
O êxito nos motivou a escrever sobre o assunto, por entendermos que isso é uma relevante
contribuição para outras iniciativas similares, seja no Brasil ou exterior.
Neste processo de sistematização, visando consolidar o Caia na Rede no Baixo Sul, en-
tendemos como fundamental a definição de Diretrizes Pedagógicas claras e factíveis; de-
mos ênfase à qualificação da equipe técnica envolvida; e focamos nos resultados (nossa
meta era 100% de aprovação na prova da Microsoft. Decidimos que não iríamos deixar
nenhum jovem pra trás).
1. Diretrizes Pedagógicas
Ao realizar o diagnóstico, pudemos perceber qual era, de fato, o problema existente.
O diagnóstico nos levou a planejar as ações e estruturar um método para nossa atuação.
Com isso feito, pudemos partir para a execução.
As reuniões e os encontros de formação com os Monitores do Projeto serviram para sensibi-
lizá-los e fortalecer o entendimento do seu papel. Orientando-os a conduzir as aulas, norteados
pelas Diretrizes, construídas de forma colaborativa, que apresentamos a seguir:
1. Executar processos educativos de qualidade, focados na inclusão, no aperfeiçoamento e
no desenvolvimento de novas tecnologias, comprometidos com a emancipação digital dos
beneficiários do projeto;
2. Promover o uso das tecnologias, viabilizando a apropriação e a aplicação dos seus códigos
e linguagens específicas no cotidiano das pessoas;
36. UmaJanelaparaoMundo
36
3. Conceber a tecnologia como um espaço de convergência e integração de diversas áreas
de conhecimento;
4. Reconhecer no âmbito do desenvolvimento tecnológico, a teoria e a prática como uma uni-
dade indissociável, pois toda tecnologia possui uma ação aplicável no nosso dia a dia;
5. Mediar novas formas de diálogo, de construção de saberes e realização de ações concretas
na realidade, a partir do uso das tecnologias;
6. Fomentar a criação e/ou participação em redes de colaboração e o fortalecimento de prá-
ticas coletivas entre os beneficiários do projeto;
7. Difundir a pesquisa, a troca e a colaboração na construção de conhecimentos relevantes
para os beneficiários e suas comunidades de origem;
8. Possibilitar o fortalecimento de laços e vínculos sociais a partir do uso adequado das tec-
nologias;
9. Explorar as potencialidades existentes nas tecnologias, por meio da inovação nas aborda-
gens dos conteúdos.
2. Investimento nas Pessoas
O Projeto Caia na Rede em 2010 e 2011 investiu no desenvolvimento da equipe (sem pessoas
preparadas para o desafio proposto, o sucesso torna-se improvável), explorando diversos es-
paços de formação, na sala de aula, passando pelos encontros de formação, à participação em
eventos em nível nacional, dentre os quais se destacam:
• Seminário Estratégias de Redes Sociais, realizado pela HSM com apoio da Oracle, com a
presença da Especialista em Redes Sociais e Negócios, Charlene Li (Mar/2010);
• Seminário Conexão Digital para o Desenvolvimento Social, realizado pela Associação
Telecentros de Informação e Negócios (ATN), em parceria com a Microsoft, que teve
como pauta principal o uso das tecnologias no desenvolvimento social, estratégias de
geração de renda e captação de recursos para o Terceiro Setor (Mar/2010);
• Curso Aluno Monitor, produto da Microsoft que visa formar multiplicadores em informá-
tica, tendo ênfase na parte de hardware. Foram capacitados 10 monitores em atuação no
Projeto (Abr-Mai/2010);
• Treinamento em SharePoint visando ao desenvolvimento de um Portal Colaborativo para
possibilitar a sinergia das práticas educacionais entre as Casas Familiares do Baixo Sul (Abr-
-Mai/2010);
• Curso Educação por Projetos - um guia para o educador, realizado pela Fundação Ode-
brecht e a Modus Faciendi. 03 monitores do Caia na Rede foram envolvidos visando pro-
vocá-los a pensar de forma qualificada a relação entre a educação e as novas tecnologias
(Jul/2010);
• Fórum Microsoft de Educação Inovadora, e 5ª e 6ª edição do Prêmio Microsoft Educadores
Inovadores, essa interação serviu para que a equipe do Projeto avaliasse a execução das ações
37. CapítuloII-ConsolidandooCaianaRede
37
doBaixoSul,e,paraconhecernovaspráticasdeensinoreferendadaspelaMicrosoft(Ago/2010
e Ago/2011);
• Conferência para a Gestão Estratégica em Portais Corporativos e Intranets, promovida pela
International Business Communications (Set/2010);
• Formação Continuada dos Monitores da equipe realizada mensalmente pelos gestores do
projeto no Baixo Sul da Bahia (2010).
• Visita ao projeto Sala de Aula Conectada, realizado pela Dell, em Hortolândia, São Paulo
(Ago/2011); e
• Estágio supervisionado do Coordenador do projeto no Baixo Sul, com a Equipe de TI da
Odebrecht, em São Paulo (out a dez/2011).
Na interação com essas iniciativas, gestores e monitores passaram a perceber diferentes pos-
sibilidades de execução das suas ações, dando-lhes um caráter inovador.
Um programa focado no ensino da tecnologia exige atualização permanente.
3. Foco nos Resultados
a. Definindo o Método
A execução do projeto necessitava estar ancorada em um método (o jeito certo de fazer algo),
que permitisse alcançar os resultados pactuados.
Em seu livro “O Verdadeiro Poder”, o consultor Vicente Falconi questiona: “Se a vitória
de uma organização é algo desejado por todos, por que falhamos?”. Ele próprio aponta o
caminho: “Falhamos porque: a) não colocamos as metas certas (ou não definimos nossos
problemas de forma correta); b) não fazemos bons Planos de Ação, seja porque desconhece-
mos os métodos de análise, seja porque não temos acesso às informações necessárias; c) não
executamos completamente, e a tempo, os Planos de Ação; d) podem ocorrer circunstâncias
fora de nosso controle”. No mesmo livro, Falconi destaca: “Liderar é bater metas consistente-
mente, com o time e fazendo o certo”. Para fazermos o que é o certo, é preciso discernir à luz
da cultura empresarial (no nosso caso, da Tecnologia Empresarial Odebrecht), e encontrar
os caminhos que nos levarão às soluções. Neste sentido, Vicente Falconi pondera sobre a
importância de encontrar o método mais apropriado para o desafio: “Método é uma palavra
que se originou do grego e é a soma das palavras Meta e Hódos. Meta significa “Resultado a
ser atingido” e Hódos significa “caminho”. Portanto, o Método pode ser entendido como o
caminho para o resultado, ou então como uma sequência de ações necessárias para se atingir
o resultado desejado”.
Acreditando nessas reflexões, logo após o diagnóstico realizado, a equipe reuniu-se para
identificar a melhor forma de ensinar os conteúdos, a fim de garantir ao público do Projeto uma
aprendizagem significativa e, por conseguinte, alcançar as aprovações nos testes da Microsoft.
As aulas foram planejadas pensando em cada conteúdo e na construção de uma metodo-
38. UmaJanelaparaoMundo
38
logia adequada, que instigasse os jovens, facilitasse sua compreensão e que exemplificasse as
questões, adaptando-as à realidade rural.
Com este propósito, foram estruturados os instrumentos destacados no quadro abaixo:
Instrumentos Funcionalidade
Diário de bordo Instrumento em que o Monitor registra todo o planeja-
mento do curso a ser executado com uma determinada
turma. Nele estão concentrados todos os planos de aula
que orientam a prática cotidiana do Monitor. Com esse
registro, é possível avaliar o desempenho do Monitor
suas respectivas turmas.
Registro de frequência dos alunos e sua evolução Além do planejamento, o Monitor registra a frequência
das turmas, permitindo inclusive avaliação da participa-
ção dos alunos em sala.
Avaliações processuais Após cada aula os alunos realizam avaliações parciais
envolvendo os temas trabalhados em sala, a fim de que
fixassem a aprendizagem dos conteúdos. Para isso,
utilizou-se um programa de perguntas e respostas (o
Quiz Maker), ambientando os jovens, a espaços virtuais
de avaliação.
Avaliação final para certificação pela Microsoft O processo de certificação no curso de Alfabetização
Digital da Microsoft ocorre na plataforma da Microsoft
em meio on line. O aluno em 1h deve responder toda a
prova contendo 30 questões, e o seu rendimento deve ser
de no mínimo 80%.
As avaliações parciais permitem aos jovens apropriarem-
-se ainda mais da linguagem própria do mundo digital,
e a sentirem-se mais seguros para realizar a prova de
certificação.
45. CapítuloIII-ExpansãodoProjeto
45
CAPÍTULO III
EXPANSÃO DO PROJETO
Com a sistematização concluída e a meta de 100% de aprovação conseguida em janeiro de
2011, decidimos pela ampliação da ação do Caia na Rede.
Havíamos pactuado com a Microsoft que formaríamos, em 18 meses, até o final de 2010,
2.500 jovens no Baixo Sul.
Essa meta não havia sido cumprida, face aos motivos elencados no Capítulo II. Em2010, con-
seguimos formar apenas 342 jovens, no Baixo Sul da Bahia. Até o presente momento (outubro
de 2011), já certificamos outros 600 jovens. Totalizando, portanto, 942 pessoas já certificadas
pela Microsoft, no programa de Alfabetização Digital. Para cumprirmos o pactuado, restam
1.558 jovens por certificar. Essa é a meta até o final deste ano.
Para fazer frente a este desafio, desde o início do ano, expandimos nossa atuação. Além das
Casas Familiares (escolas profissionalizantes, integradas com o ensino médio, que formam os jo-
vens em técnicos em agropecuária), implantamos laboratórios no Tiro de Guerra (Centro de For-
mação do Exército) e no Construir Melhor (projeto apoiado pelo Banco Nacional de Desenvol-
vimento Econômico e Social [BNDES], voltado à formação profissional para a construção civil).
Além dos projetos diretamente apoiados pela Fundação Odebrecht, abrimos os laborató-
rios do Caia na Rede para servir às comunidades em geral (associações rurais, escolas públicas,
sindicatos rurais, Federação dos Agricultores e escolas de referência), contribuindo assim para
desencadear um grande processo de inclusão digital, numa das mais atrasadas regiões da Bahia.
1. Ganhos Crescentes
Como resultado efetivo da parceria com a Microsoft, 522 computadores, pertencentes a diversas
OrganizaçãodaSociedadeCivildeInteressePúblico(OSCIP)eCooperativasdoBaixoSul,tiveram
seus softwares regularizados, o que representou um valor de R$1.058.616,00. O uso de produtos
pirateados era uma rotina no Baixo Sul, percebida desde2000, e que persistiu até2009. A maioria
das instituições locais alegava não ter recursos para adquirir os softwares originais (essa situação é
vista em boa parte do Brasil, sobretudo no terceiro setor e nos pequenos empreendimentos).
46. UmaJanelaparaoMundo
46
Também podemos destacar como conquista direta do Caia na Rede a inclusão do município
de Presidente Tancredo Neves no Plano Nacional de Banda Larga, do Governo Federal, execu-
tado pela Telebrás. Na Bahia foram escolhidas apenas 08 cidades para fazer parte da primeira
etapa do PNBL. Presidente Tancredo Neves está entre elas e é o único município do Baixo Sul
que terá100% de cobertura de internet, até junho de 2012.
A meta inicial do Governo era ter isso realizado em março de2011, mas o cronograma sofreu
atrasos. De qualquer sorte, ainda que seja em junho de 2012, o município terá todo o seu terri-
tório com cobertura de internet. Nenhum outro município da região terá no curto prazo, esse
nível de cobertura.
2. Tecnologia à Serviço do Agricultor
Dentre os objetivos do Caia na Rede, está o de criar oportunidades para que o agricultor tenha
acesso, por intermédio da tecnologia, a conhecimentos e novos mercados. Entendemos que o
pequeno agricultor no Brasil, conseguirá crescer e se desenvolver se tiver acesso ao universo de
possibilidades e oportunidades que a tecnologia lhe oferece.
Neste aspecto algumas iniciativas já merecem destaque no Baixo Sul:
2.1. Inclusão Digital para o Homem do Campo
Visando ampliar o acesso às novas tecnologias para as comunidades locais, e com isso, minimizar
o cenário de exclusão digital no Baixo Sul, celebramos uma parceria com a União das Federações
das Associações de Agricultura Familiar e Economia Solidária (UNAFES), em Valença. Até o final
de2012 pretendemos beneficiar cerca de1.000 jovens da zona rural do município.
Primeiramente, será oferecido para 200 jovens, organizados em 10 turmas, o Curso de Al-
fabetização Digital, disponível na plataforma Microsoft. Prevê-se também, a interação dos
associados com esta iniciativa, para efetuar declaração de ITR (Imposto Territorial Rural). As
atividades começaram no primeiro trimestre de 2010.
2.2. Interação com as Políticas Públicas
Os laboratórios de informática do Caia na Rede foram colocados à disposição do Governo
Federal, servindo ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério do Desen-
volvimento Social. A estrutura tem sido utilizada para as capacitações sobre o aplicativo e
operação do PAA Net, instrumentalizando instituições e agricultores familiares para cadas-
tramento no Programa.
O PAA é oriundo de uma política pública voltada para o combate à fome e a miséria, distribui-
ção de renda e desenvolvimento do pequeno agricultor. O Programa permite que os produtos
produzidos por agricultores familiares, que estejam organizados em associações e cooperativas,
possam ser adquiridos pelo Governo para abastecer escolas, creches infantis, hospitais públicos,
47. CapítuloIII-ExpansãodoProjeto
47
etc. Sem o cadastro do produtor rural no site do Governo Federal, não é possível participar do
Programa. Daí a importância dos laboratórios do Caia na Rede nesta ação.
2.3. Cooperativismo Digital
A Cooperativa dos Produtores de Amido de Mandioca do Estado da Bahia (Coopamido) é a
maior cooperativa da região, atuando no aproveitamento do amido modificado, com aplicações
comerciais para a indústria petroquímica, farmacêutica, dentre outras.
Em 2011, a Coopamido recebeu uma doação de 300 computadores da Dell, e pretende estrutu-
rar15 laboratórios na sua região de atuação, servindo a jovens e adultos, que vivem da agricultu-
ra. Em2012, o Caia na Rede assumirá a Coordenação Educacional dos laboratórios, que deverão
beneficiar, já no primeiro ano, cerca de1.000 agricultores.
OslaboratóriosdeinformáticadoCaianaRedeesuaestruturadecapacitação,estãocontribuin-
doparaainclusãodigitaldosagricultoresdaregião,facilitandooacessoàsinformaçõeseàsPolíticas
Públicas. Mais do que apenas aprender a acessar o computador e se conectar na internet, o Caia na
Rede tem contribuído para ampliar os horizontes de conhecimento aplicado ao mundo rural, o que
gera,deformaprática,aumentodeprodutividade,qualidadeerentabilidadenaatividadeprodutiva.
3. A Era do Conhecimento
Peter Drucker, o pai da administração moderna, que continua sendo reverenciado como um
dos maiores mentores do desenvolvimento empresarial em todo o mundo, em suas reflexões,
nos anos 60, havia percebido que a sociedade passava por uma grande transformação – o fim
da Era Industrial e o surgimento da Era do Conhecimento. Na primeira, o Capital e o Trabalho
eram as duas grandes fontes de riqueza. Na segunda, no entanto, ambos perderiam relevância.
Na Era do Conhecimento, as informações estariam disponíveis a todos. Informação deixaria de
significar poder nas mãos de poucos. Neste novo mundo, o que faria diferença, seria a capaci-
dade do ser humano buscar as informações de que necessita, com velocidade, e sua habilidade
de transformar o conhecimento em resultado.
Em 2011, não resta mais nenhuma dúvida que Peter Drucker estava certo em sua visão. O
mundo evoluiu rapidamente nessa direção. A internet fez uma grande revolução, disponibili-
zando todo o conhecimento acumulado pela humanidade, e criou condições de interações so-
ciais, de construção colaborativa e geração de conhecimento, que se multiplica a cada segundo.
O mundo se interconectou. A informação trafega em segundos por todo o planeta. O compu-
tador está presente, como vislumbrou Steve Jobs, em milhões de lares, em centros digitais comu-
nitários e em escolas públicas e particulares. Os celulares passaram a dar mobilidade ao acesso à
internet, transformando-se em computadores de bolso. A tecnologia veio e continuará mudando
radicalmente o mundo e a forma como interagimos com o conhecimento e com as pessoas.
Neste cenário, o desafio de qualquer iniciativa de inclusão digital é dar um sentido relevante
para o uso da tecnologia.
48. UmaJanelaparaoMundo
48
Sabemos que as crianças e jovens, vivam nas áreas urbanas ou rurais, ficam fascinadas
pelo mundo que se apresenta na internet e com os múltiplos recursos tecnológicos existentes
atualmente. Neste contexto, o grande desafio é fazer da tecnologia algo verdadeiramente
relevante para o ensino, mostrando às crianças e jovens como utilizar os recursos já existentes
para melhor aprender, desenvolvendo suas habilidades e competências, criando oportunida-
des de interação na produção de novos conteúdos e conhecimentos, utilizando, com sabedo-
ria, este imenso ferramental que emergiu e possibilitou a transição da Era Industrial para a Era
do Conhecimento.
No Brasil, uma pesquisa feita pelo Ibope/Fundação Victor Civita, em 2010, mostrou que,
em13 capitais brasileiras analisadas, 98% das escolas já possuem computadores. Essa tendência
tende a se verificar também no interior brasileiro, nos próximos dois anos. A pesquisa, no en-
tanto, destacou que os computadores não estão sendo utilizados em prol da melhoria da edu-
cação das crianças e dos jovens. 72% dos professores, nas 13 capitais estudadas, não se sentem
preparados para usar a tecnologia em sala de aula e 18% das escolas nem sequer usam os labo-
ratórios de informática. Se formos avaliar o que ocorre no interior do país, este quadro piora em
muito, adquirindo tons dramáticos quando focamos nas regiões Norte e Nordeste.
No Baixo Sul da Bahia, por exemplo, a maioria dos laboratórios de informática das escolas
públicas está fechada. E 100% dos professores (não é exagero!) não possuem nenhuma habi-
lidade para transformar o computador num aliado no processo de aprendizagem dos alunos.
O Ministério da Educação anunciou este ano, que, em2012, todos os alunos da rede pública
terão um Tablet. A ideia é fantástica. O efeito, entretanto, diante do cenário já verificado, é
questionável. O professor não saberá apoiar e estimular o aluno a utilizar o equipamento em
sala de aula, e boa parte das escolas não possui conexão de internet.
O uso da tecnologia em sala de aula é uma tendência mundial irreversível. Já podemos
constatar que o uso do computador, em diversos países, tem contribuído de modo expressivo
para potencializar o aprendizado dos jovens, preparando-os para o mundo do trabalho, que
na Era do Conhecimento, seja no campo ou nas cidades, exigirá pessoas altamente qualifica-
das e capazes de utilizar as novas tecnologias com destreza e segurança.
Um levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que
reúne as nações mais desenvolvidas, afirma que os estudantes que utilizam a internet são os
que, ao longo do tempo, obtêm as médias mais altas, em40 países analisados.
O mundo virtual, usado com orientação adequada, permite o acesso a conhecimentos de
ponta, visitar museus do mundo inteiro, ter acesso a milhares de livros já digitalizados, fazer a
tradução de todo tipo de conteúdo, não importa em que idioma esteja, visitar centros de pes-
quisa e conhecer o trabalho de seus pesquisadores (a exemplo da Empresa Brasileira de Pesqui-
sa Agropecuária [Embrapa], no Brasil), interagir com jovens de outras cidades, estados e países,
conhecer o mundo a partir da tela de um computador, conhecer o universo e seus mistérios.
Sem dúvida, é um admirável mundo novo e repleto de possibilidades.
O que impacta ao olharmos o que está ocorrendo no Brasil, no entanto, é que, embora a
tecnologia esteja cada vez mais sendo disponibilizada, falta o investimento básico no mediador,
49. CapítuloIII-ExpansãodoProjeto
49
no facilitador do processo, o professor. Cabe a ele, ao dominar a tecnologia, orientar as crianças
e jovens não apenas a manusear os recursos existentes, mas a tirar o máximo de proveito dos
mesmos, dando uma utilidade efetiva a tecnologia, utilizando-a como ferramenta de transfor-
mação para sua vida pessoal e profissional.
No caso do Baixo Sul, ao iniciarmos a implantação do Caia na Rede, pudemos ver, na prática,
como estavam despreparados os instrutores para ensinar os jovens. Foi preciso ajustar os pro-
cessos, definir o método de ensino, elaborar os conteúdos, e capacitar os professores.
A Era do Conhecimento vem se consolidando com o uso inteligente da Informação e da Co-
municação. Neste novo tempo, o aprendizado precisa ser um exercício permanente. Com este
olhar, o Caia na Rede, a partir do potencial das empresas de tecnologia parceiras do projeto,
tem refletido como tecer, cada vez mais, essa rede de construção do saber coletivo, de modo a
contribuir para promover uma autêntica revolução no mundo rural.
3.1. Construção do Portal Colaborativo
Em 2010, com apoio da Microsoft (que disponibilizou para nós o SharePoint, um software es-
pecífico para a criação de sites e portais corporativos) e da área de Tecnologia da Informação
da Odebrecht S.A, desenvolvemos e implantamos o primeiro Portal Colaborativo numa região
rural do Brasil. Trata-se de um feito inédito no país.
O Portal Colaborativo das Casas Familiares do Baixo Sul da Bahia foi concebido com o pro-
pósito de dar sinergia às quatro Casas Familiares existentes na região, e que são apoiadas pela
Fundação Odebrecht.
As instituições podem compartilhar conteúdos e experiências práticas, num ambiente vir-
tual, que é acessado por alunos, educadores, pesquisadores, associações e sindicatos rurais,
universidades, etc.
As Casas Familiares do Baixo Sul têm como missão desenvolver Jovens Empresários Ru-
rais, fortalecendo a Agricultura Familiar em bases sustentáveis. Para tanto, tem seu modelo
educacional baseado na Pedagogia da Alternância, o que permite conciliar a teoria e a prática
agrícola. Agora, a partir do uso da tecnologia, as Casas Familiares passam a construir um novo
conceito educacional no meio rural, transpondo as barreiras que impedem a inserção das co-
munidades tradicionais na Sociedade da Informação, tornando-as partícipes, de fato, da Era do
Conhecimento.
O Portal Colaborativo (www.baixosuldigital.org.br) deve ser um espaço de interação e in-
tegração entre jovens e educadores das Casas Familiares do Baixo Sul, disseminando um mo-
delo colaborativo de construção e socialização de conhecimentos sobre Educação no Campo,
Pedagogia da Alternância e Projetos Socioprodutivos.
A plataforma tem por desafio integrar ambientes interativos que contribuam para a me-
lhoria dos índices educacionais e elevação da aprendizagem dos jovens das Casas Familia-
res. Bem utilizada, poderá ser um veículo importante de comunicação e servir para organi-
zar eletronicamente o acervo produzido pelas Casas Familiares, contextualizando o uso das
50. UmaJanelaparaoMundo
50
tecnologias com as vivências práticas dos jovens em seus múltiplos espaços: na família, nas
associações e cooperativas rurais, nas ações de planejamento e no acompanhamento dos
projetos produtivos que realizam nas suas propriedades.
3.1.1. Objetivos Principais
Criar uma ambiência favorável à apropriação dos códigos e linguagens específicas da tecnolo-
gia, pelos jovens e educadores das Casas Familiares do Baixo Sul, conforme as Diretrizes Cur-
riculares Nacionais.
Possibilitar o uso das tecnologias no cotidiano dos jovens – planejamento das atividades
produtivas (planejamento de produção, levantamento topográfico e georreferencimento), in-
tervenções nas comunidades (seminários rurais e dias de campo), e para sua organização pes-
soal (elaboração de plano de vida, finanças pessoais, interação com redes sociais digitais).
Exercitar a colaboração e a autonomia no processo de pesquisa e construção do conheci-
mento entre os atores das Casas Familiares.
Compartilhar boas práticas de produção rural e divulgar os estudos e produtos desenvolvi-
dos pelos jovens nas Casas Familiares e em suas propriedades rurais.
Criar conexões com centros de excelência na geração de conhecimento aplicado ao campo.
O Portal é uma porta de entrada para outros universos do saber, conectando-se a outras plata-
formas interativas, que complementam a formação prevista no itinerário pedagógico das Casas
Familiares Rurais. Nele, já estão dispostos os links da Biblioteca Nacional de Agricultura (BINA-
GRI), iniciativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que reúne o
maior acervo da agricultura da América Latina ; o acesso a Biblioteca da Embrapa, com todos os
seus estudos, pesquisas e publicações ; e do TED.com, site apoiado pelo Banco Santander que
reúne centenas de vídeos com conferências, palestras e apresentações feitas por especialistas de
diversas áreas de conhecimento de todo o mundo. Além disso, temos o link direto para acesso à
Biblioteca Mundial da UNESCO, com todo seu acervo cultural.
3.1.2. Gestão do Conhecimento
No Portal Colaborativo, produzido em SharePoint, toda a base documental produzida pelas Casas
Familiares está organizada por meio de bibliotecas, facilitando a busca dos diversos documentos:
fichas pedagógicas; legislação, diretrizes e normas educacionais aplicadas ao agronegócio; arti-
gos, revistas científicas e publicações; documentos relativos ao projeto Círculos de Leitura, além
de acervo multimídia composto com banco de imagens, vídeos e podcasts com dados relevantes
para a formação dos jovens das Casas Familiares.
O Fórum Conectando Saberes existente no Portal foi concebido como um espaço de diálo-
go, construção coletiva e compartilhamento de documentos, onde os educadores poderão dis-
correr sobre os seguintes temas: Pedagogia da Alternância, Planejamento, Gestão e Legislação
Educacional, Associativismo e Cooperativismo, Tecnologias e Educação, Técnicas Agrícolas,
51. CapítuloIII-ExpansãodoProjeto
51
Educação e Desenvolvimento Sustentável.
Já o Blog Conexão Jovem, por seu caráter dinâmico, é para os jovens, um dos atrativos do
Portal, uma vez que constitui um espaço para múltiplas expressões do universo juvenil presente
nas Casas Familiares.
Nas seções “Expressão jovem”, “Faça Diferença!”, e “Eu fiz e deu certo!” os jovens divulgam
informações e conhecimentos por eles produzidos: artigos, poesias, crônicas, fotos, músicas,
projetos e compartilham suas experiências ligadas ao desenvolvimento comunitário. Os jovens
podem ainda, contar suas histórias de vida, e através da seção Juventude em Foco, acessar sites
que tenham a temática juvenil como principal destaque.
A integração dos conteúdos (notícias, agendas e projetos), objetiva otimizar a comunica-
ção na instituição e entre as organizações, possibilitando uma comunicação eficaz e eficiente, e
criando novos canais de diálogo e transparência.
3.2. Novos Conteúdos e Formação
O Projeto Caia na Rede entende que é preciso estabelecer um uso racional da tecnologia, tor-
nando-a uma fonte de criação de conhecimentos, oportunidades e riqueza. Sendo assim, uma
ferramenta estratégica para a aceleração do desenvolvimento no mundo rural brasileiro, no
contexto da realidade econômica e social dos pequenos agricultores familiares, sobretudo do
Norte e Nordeste do país, que, em geral, vivem em precárias condições de vida, sobrevivendo
de uma agricultura arcaica, de subsistência, sem recursos tecnológicos, com baixa produtivida-
de e rentabilidade, e que ostenta baixos níveis de escolaridade.
O programa de Alfabetização Digital realizado com a Microsoft cria as bases para que os
jovens da zona rural do Baixo Sul da Bahia possam estar aptos a assimilar novos conteúdos e
conhecimentos.
Vencida essa etapa, o Caia na Rede viabiliza a transição destes jovens para a realização de
outros cursos, em parceria com a Microsoft e com outras grandes empresas de tecnologia,
como veremos a seguir.
Os cursos de Aluno Monitor e Aprender em Parceria realizados em parceria com a Microsoft
e o IT Essentials firmado com a Cisco vão beneficiar, em2012,500 jovens.
3.2.1. Programas Educacionais Microsoft
A parceria com a Microsoft no Baixo Sul da Bahia prevê a adoção de uma série de programas
educacionais, que se sucedem, ampliando o nível de conhecimento dos jovens. Já estão forma-
tados para a região os seguintes programas:
Alfabetização Digital (AD) - Projeto didático de alfabetização em informática, que tem
por objetivo ensinar e avaliar os conhecimentos e aptidões básicas de computação para
que os beneficiários possam utilizar a tecnologia do computador no dia a dia e conquis-
52. UmaJanelaparaoMundo
52
tar novas oportunidades sociais e econômicas. Após a conquista do certificado Micro-
soft (obtido com 20 horas de aula), o jovem, considerando a sua vocação para a área de
tecnologia, poderá optar por desafios maiores. É através do Alfabetização Digital que o
usuário de informática aprende a manusear o computador, acessar a internet, adquire
noções sobre arquivos, programas, hardware, e-mail e outros recursos. Por se tratar de
um curso de noções básicas, o AD é a porta de entrada para os cursos de aprofundamen-
to em tecnologia, tanto os oferecidos pela Microsoft quanto por outras empresas, como
a Cisco. A previsão para 2012 é de formarmos 2.000 jovens agricultores.
Aluno Monitor - Promove a formação e a qualificação profissional de estudantes de en-
sino médio, por meio de uma formação técnica para o suporte em infraestrutura de am-
bientes com tecnologia. Possui duração de 140 horas, com aulas presenciais e online. O
conteúdo abordado é indicado para os interessados que tenham o perfil orientado à área
de informática. O programa Aluno Monitor é o segundo nível na linha de evolução do
Projeto Caia na Rede, pois abrange temas como manutenção de computadores, funcio-
namento de hardware e Software, resolução de problemas em computadores, instalação,
formatação, noções de periféricos, etc. Esse curso dá oportunidade ao participante de se
capacitar para o mercado de trabalho, fornecendo as habilidades profissionais necessárias
às exigências do mercado. Com o curso, o jovem torna-se apto a monitorar e dar manuten-
ção aos ambientes informatizados. O jovem deverá cumprir como parte de sua formação
prática, uma jornada de voluntariado, onde estará em apoio a escolas públicas, instituições
sociais e associações rurais, contribuindo para a recuperação e manutenção de máquinas e
equipamentos, além de ajudar na formação de outras pessoas de sua comunidade. Previ-
são para 2012:300 jovens certificados.
Aprender em Parceria - Metodologia voltada aos professores do Baixo Sul, que com-
preende a formação em duplas, estimulando o desenvolvimento mútuo dos educadores,
que são orientados quanto ao uso mais eficaz e eficiente da tecnologia em sala de aula.
O Programa contribui com o planejamento e desenvolvimento de atividades de ensino,
que integrem a tecnologia ao currículo escolar, dando ênfase na formação em serviço, e
estimula a colaboração e o intercâmbio de experiências entre os profissionais da Educação.
O Programa pretende contribuir com a qualificação de professores de toda a Rede Pública
dos municípios do Baixo Sul da Bahia, resolvendo o principal problema existente na re-
gião – a falta de profissionais qualificados para o uso da tecnologia em sala de aula. 100%
dos professores locais apresentam dificuldades em utilizar o computador e a internet como
ferramentas de melhoria do aprendizado. Previsão para 2012: capacitar duplas de profes-
sores multiplicadores em 20 escolas do Baixo Sul, dentre elas as 06 unidades do Projeto
Escola de Referência, nos municípios de Presidente Tancredo Neves, Ibirapitanga, Piraí do
Norte, Ituberá, Nilo Peçanha e Igrapiúna.
53. CapítuloIII-ExpansãodoProjeto
53
Live@Edu – É uma Solução educacional voltada para instituições de ensino, que permite
a efetivação de canais de comunicação com estudantes, garantindo-lhes uma conta de
e-mail corporativo com 10 GB, um disco virtual com capacidade de 25 GB, acesso a am-
bientes colaborativos de aprendizagem e aos aplicativos do Office 2010.
3.2.2. Cisco Networking Academy
Sabemos que na Era do Conhecimento, em um mundo Globalizado, dinâmico, acelerado e alta-
mente interconectado, a Exclusão Digital amplia a distância entre os países desenvolvidos e os
subdesenvolvidos, aprofunda a desigualdade entre os ricos e os pobres, e cria um abismo entre
os que têm acesso aos recursos tecnológicos e oportunidades da área de tecnologia e os que
não conhecem tais recursos.
A Cisco identificou que a educação e a internet podem atuar como equalizadores, contri-
buindo para reduzir essa distância digital. Por meio do acesso e do domínio das tecnologias re-
lacionadas à internet, as pessoas podem utilizar o e-learning (educação através da internet) para
facilitar o aprendizado e eliminar as barreiras de tempo, distância e situação socio-econômica.
Foi com este propósito, que a Cisco e reconhecidas organizações internacionais estabele-
ceram diversas parcerias, e estruturaram Academias para ajudar a eliminar a distância digital
e demonstrar como a internet pode ser utilizada para levar o desenvolvimento social e eco-
nômico para todo o mundo.
O Programa Networking Academy, faz parte do Ecossistema de Educação da Cisco, tendo
sido criado a partir de acordos com escolas, universidades, empresas, entidades internacionais
e/ou não governamentais, sindicatos e agências do governo. Essas organizações contribuem
com talento, conhecimento e recursos para garantir o êxito e o crescimento do Programa nas
comunidades.
Dentre as organizações que impulsionam o Programa Cisco Networking Academy pode-
mos destacar:
• Organização das Nações Unidas - ONU (PNUD, UNIFEM, UNECA, UNRWA, UNESCO);
• Organização dos Estados Americanos (OEA);
• Banco Mundial;
• União Internacional de Telecomunicações (UIT);
• Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID).
Economia Baseada na Tecnologia
Osanos90testemunharamumarevoluçãotecnológicanãomuitodiferentedaRevoluçãoIndustrial
que marcou o começo do século XX. Assim como a máquina a vapor impulsionou a economia do
séculoXX,astecnologiasbaseadasnainformáticaeinternetconverteram-seemfatorespropulsores
para o crescimento econômico no século XXI. Neste novo cenário, onde o desenvolvimento está
54. UmaJanelaparaoMundo
54
associado ao Conhecimento (não um Conhecimento qualquer, mas um Conhecimento, cada vez
mais amplo, complexo e sofisticado), os educadores de todo o mundo, estão desafiados a formar
profissionais hábeis e competentes em lidar com as questões tecnológicas.
Além de tratar os temas tradicionais, como a leitura, escrita, ciência e matemática, cabe a
eles adicionar à matriz curricular, os conhecimentos de informática e o desenvolvimento de ha-
bilidades para soluções de problemas neste segmento. Entretanto, o que se percebe é que a
maioria dos sistemas educativos existentes não dispõe dos conhecimentos necessários para se
atualizarem sozinhos.
Pensando nisso, em 1993, a Cisco realizou um acordo com instituições educacionais para
converter os desafios da área de tecnologia em oportunidades de aprendizado e crescimento.
Inicialmente, a Cisco desenvolveu um programa para que as escolas pudessem ensinar seus
alunos a desenhar redes de computadores práticas e de baixo custo. Porém, como as escolas
também necessitavam de especialistas com conhecimentos e experiência para manter e desen-
volver suas redes, a Cisco atendeu essa necessidade através da capacitação de professores e
profissionais, o que inspirou a criação de um programa de seminários por todo os Estados Uni-
dos. O sucesso dos seminários levou as escolas a solicitarem um programa de estudos da Cisco
que pudesse ser integrado ao currículo como um curso opcional. Este movimento resultou, em
1997, na criação do Programa Cisco Networking Academy.
Atualmente o Programa conta com mais de 500.000 estudantes ativos, em mais de 11.000
Academias instaladas em universidades, escolas técnicas, escolas secundárias, escolas prepa-
ratórias, organizações comunitárias e outros programas educacionais em mais de 150 países,
que recebem os diferentes currículos em até9 idiomas (dependendo do currículo). Somente na
América Latina, o Programa já foi implantado em 650 Academias, instaladas em 22 países, com
mais de 65.000 estudantes ativos.
Mudando a Forma como as Pessoas Aprendem
A Cisco Systems acredita que a internet pode transformar a maneira como as pessoas tra-
balham, vivem, se divertem e aprendem. O Programa Cisco Networking Academy busca o
aprimoramento da metodologia para utilizar o poder da internet na formação dos estudantes,
integrando a avaliação com os programas de estudo e instrução. O Programa Networking
Academy oferece a possibilidade de capacitação em um ambiente completo de e-learning,
permitindo que o aluno alcance um bom equilíbrio entre a formação teórica e a prática. De-
senvolvido por educadores e especialistas em diferentes áreas tecnológicas, o Programa pro-
porciona planos de estudos baseados na Web, laboratórios práticos, capacitação, apoio por
parte do instrutor da Academia e preparação para obter diferentes certificações reconhecidas
pelo Mercado. Ao utilizar a internet para integrar a avaliação nos cursos, o Programa oferece
aos instrutores e aos estudantes uma retroalimentação imediata e constante sobre o conheci-
mento e as habilidades que os estudantes estão adquirindo, permitindo também aos instruto-
res modificar e ajustar o enfoque de instrução até o término do curso.