Este documento discute mapeamento epidemiológico e intervenção preventiva para violência no trabalho. Ele apresenta conceitos de violência ocupacional, classificações e evidências científicas sobre fatores de risco e modalidades de intervenção. O documento também fornece orientações sobre desenho e implementação de programas pilotos para prevenção da violência no ambiente de trabalho.
2. Pontos chaves da apresentação
A violência ocorre de forma heterogênea entre empresas,
atividades de trabalho, organização e cultura do trabalho.
Para diminuição da prevalência da violência, não há evidências
suficientes para recomendações generalizáveis.
A metodologia dos estudos experimentais pode auxiliar na
elaboração de programas piloto.
O mapeamento populacional é a base para discussão e consenso
sobre violência ocupacional com a empresa e seus trabalhadores.
Programas pilotos emergem do mapeamento, percepção e
prioridades de uma empresa.
4. Conceito de violência ocupacional
International Labor Organization1
“Qualquer ação, incidente ou comportamento que se afaste da
conduta razoável em que pessoa é agredida, ameaçada,
prejudicada, ferida no curso de, ou como resultado direto seu
trabalho”.
Violência interna no local de trabalho é aquela que ocorre entre
trabalhadores, incluindo gerentes e supervisores.
Violência externa no local de trabalho é aquela que ocorre entre
os trabalhadores (e gerentes e supervisores) e qualquer outra
pessoa presente no local de trabalho.
5. Classificação da violência
OSHA2
Tipo 1: Violência criminosa (roubo, assassinato entre outros) realizada por
trabalhadores ou pessoas externas à empresa.
Tipo 2: Violência executada por clientes, pacientes, consumidores da
empresa contra trabalhadores. Como exemplo temos a agressão física ou
verbal de pacientes contra profissionais da saúde.
Tipo 3: Violência executada entre trabalhadores de qualquer nível
hierárquico. Como exemplo temos o bullying ou assédio moral ou sexual
entre trabalhadores.
Tipo 4: Violência em ambiente de trabalho contra o trabalhador por
pessoas da sua intimidade.
6. Assédio moral / Bullying / Mobbing3
“É definido como qualquer conduta abusiva (gesto, palavra,
comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou
sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou
física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o
clima de trabalho.”
Características definidoras:
▪ caráter processual
▪ frequência e duração
▪ orientação a um alvo específico
▪ desequilíbrio de poder
▪ intencionalidade
7. Níveis de evidência científica
Revisão
sistemática
Ensaio
clínico
Coorte
Caso
controle
Estudos
transversais
Relatos de
caso
8. Evidências científicas
Associações de risco de adoecimento
Associação População Meta-análise Nível de evidência
Bullying / Depressão4 15173 OR 2.82 (2.21 - 3.59) Moderado / Coorte
Bullying / Diabetes5 45905 HR 1.46 (1.23 - 1.74) Moderado / Coorte
Bullying / Doença cardíaca6 79201 HR 1.59 (1.28-1.98) Moderado / Coorte
Bullying / Insônia7 13821 OR 1.44 (1.18 - 1.76) Moderado / Coorte
Bullying / Absenteísmo8 104966 OR 1.58 (1.39 - 1.79) Moderado / Coorte
9. Estudo transversal com 3465 enfermeiras norte americanas de salas de emergência
Fatores organizacionais percebidos por mais de 50% das enfermeiras para violência
tipo 2
Alto volume de pacientes
Longas horas de espera
Pacientes psiquiátricos ou com demência
Percepção negativa dos pacientes quanto a linguagem, atitude e cuidado das enfermeiras.
Barreiras de registro dos eventos de violência ocupacional tipo 2:
Temor de prejuízo na pontuação de qualidade de cuidado ao cliente
Políticas ambíguas de registro de violência
Medo de retaliação por parte de gestores
Percepção de que o registro do evento seja percebido como um sinal de fraqueza ou
incompetência
Percepção de que o relato não irá promover ações efetivas de combate à violência
10. Fator de risco Magnitude de risco Evidencia
Desbalanço esforço-
recompensa9
1.49 95% IC 1.23-1.80, P<0.001
(depressão)
Moderado
Alta demanda + baixo
controle10
RR 1.77 95% IC 1.47-2.13 (depressão) Moderado
Alto controle11 OR 0.73 95% IC 0.68-0.77 (depressão) Moderado
Suporte social presente11 OR 0.8 95% IC 0.7-0.9 (depressão) Limitado
11. Metodologia
e resultados
Artigos identificados na base
Medline
(n = 16.680)
SeleçãoIncluídosElegibilidadeIdentificação Artigos identificados nas bases
EMBASE, CENTRAL e outras fontes
(n = 101)
Artigos recuperados
(n = 16.781)
Artigos selecionados
(n = 304)
Artigos excluídos
(n = 16.477)
Textos completos elegíveis
(n = 55)
Artigos excluídos com
motivos
(n = 45)
Identificação de risco = 20
Não trabalhador = 2
Sem dados = 9
Revisão narrativa = 9
Tratamento = 1
Outras publicações = 3
Violência tipo 1 = 1
Estudos incluídos
(n = 10)
13. Intervenção educativa para violência tipo 2
Conceitos de violência ocupacional
Legislação
Técnicas de comunicação
Técnicas de segurança
Reconhecimento, enfrentamento e descalonamento da violência
Treinamento prático com simulação de eventos de violência
Benefícios:
Redução dos eventos de violência reportados em 3 e 6 meses.
Aumento da autoconfiança no reconhecimento e manejo das situações
de violência
Não houve diferença entre grupo CBT vs CBT + presencial.
14. Intervenção multimodal para violência tipo 2
Padronização do mapeamento da violência
Identificação dos setores de maior risco e severidade
Visitas nos postos de trabalho
Reuniões curtas, em grupo de 3-4 pessoas, compostas por gestores ou
supervisores e outros representantes envolvidos no assunto.
Mapeamento é apresentado. Os supervisores ou gestores e trabalhadores criam
soluções.
Incident rate ratio (IRR) de 0.48 (95% CI 0.29-0.80) após 6 meses e de IRR 0.37
(95% CI 0.17-0.83) após 24 meses.
15.
16. Intervenção educativa para violência tipo 3
9 situações de violência tipo 3 foram validadas por enfermeiras de diversos
níveis hierárquicos e profissionais da comunicação.
Situações simuladas e debatidas pelas enfermeiras participantes.
Promoção do autoconhecimento, de superação das emoções destrutivas
quebrando o ciclo de repetição do bullying pelas vítimas, de treinamento
de habilidades de comunicação não violenta através da repetição da
simulação.
Benefícios:
Redução da intenção de turnover
Melhora da qualidade dos relacionamentos interpessoais
Sem efeito na redução da prevalência de bullying ou de sintomas de
depressão
17.
18. Intervenção multimodal para violência tipo 3
Criado e implementado pela Veterans Health Administration (VHA) em hospitais.
O programa emergiu inicialmente do entendimento pelas lideranças da empresa de
que civilidade é uma prioridade, após a constatação através de estudos dentro da
empresa de que a falta de civilidade foi um motivo comum dos pedidos de demissão
e de que havia alta prevalência de eventos de abuso verbal.
O CREW possui como premissa primordial de que a mudança cultural e
comportamental e as soluções para remoção das barreiras da civilidade devem
emergir da motivação e percepção natural das pessoas e não de um programa pré-
definido.
O programa busca auxiliar a empresa a esclarecer a situação atual, necessidades,
motivações e capacidade de tomar as próprias decisões sobre a incivilidade.
O programa não articula as necessidades ou direções ou planejamento pois isso deve
emergir naturalmente das pessoas da empresa.
19. Promoção de civilidade no trabalho
Reuniões semanais estratégicas envolvendo ferramentas do CREW ou próprias
ideias.
Promoção de habilidades de manejo de conflito.
Discussão e simulação (roleplay) de casos conflituosos.
Promoção de cooperação (teambuilding)
Diversos instrumentos e eventos de confraternização.
Compartilhamento de sucessos na promoção da civilidade
Identificação e resolução de fatores organizacionais que promovam conflitos
20. Questionários úteis no
mapeamento da violência
Negative Acts Questionnaire
Inventário LIPT
Questionário de Maiara Bordignon
Nurse Incivility Scale
Instrumentos próprios adaptados a realidade local
21. Desenho e implementação de um
programa piloto sobre violência
Mapeamento
populacional
confiável
Consenso sobre
violência
ocupacional
Identificação
de fatores de
risco
Medidas de
intervenção
piloto conjuntas
Avaliação da
efetividade e
viabilidade
Expandir ou
modificar o
programa piloto
22. 1. International Labor Organization Sectoral Activities Program. (2003). Code of practice on workplace violence in services
sectors and measures to combat this phenomenon.
2. Occupational Safety and Health Administration: Enforcement Procedures for Investigating or Inspecting Workplace Violence
Incidents. Directive Number: CPL 02-01-052, U.S. Department of Labor, Washington, DC. (2011)
3. Soboll LAP, Thereza CG. Assedio moral interpessoal e organizacional: um enfoque interdisciplinar. Sao Paulo, Editora LTr,
2009.
4. Theorell T, Hammarstrom A, Aronsson G, et al. A systematic review including meta-analysis of work environment and
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6. Xu T, Magnusson Hanson LL, Lange T, Starkopf L, Westerlund H, Madsen IE et al. Workplace bullying and workplace violence
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11. Theorell T, Hammarstrom A, Aronsson G, et al. A systematic review including meta-analysis of work environment and
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