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PESQUISA
Research Suplemento Páginas 53-64 2019 ISSN 1415-2177
Revista Brasileira de Ciências da Saúde
APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS,
DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS
CHILDHOOD APRAXIA OF SPEECH AND HISTORY,
DEVELOPMENT AND BEHAVIOR MARKERS
Gilmaelma de Souza Rodrigues1
Rayanna Cardoso da Silva Maciel1
Débora Vasconcelos Correia2
Flávia Luiza Costa do Rêgo2
Hertha Maria Tavares de Albuquerque Coutinho2
Isabelle Cahino Delgado2
Jaims Franklin Ribeiro Soares2
Ana Carla Estellita Vogeley2
1- Curso de Fonoaudiologia pela Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, Brasil.
2- Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, Brasil.
RESUMO
Introdução: A Apraxia de Fala da Infância (AFI) é um transtor-
no neurológico, no qual a precisão e a consistência dos mo-
vimentos da fala estão alterados, pela dificuldade em plane-
jamento/programação motora, na ausência de prejuízo neuro-
muscular. Considerando a alta relação de comorbidade da AFI
com outros transtornos neurodesenvolvimentais, a avaliação
precisa contemplar marcadores comportamentais, históricos
e desenvolvimentais, facilitando diagnóstico e/ou encami-
nhamento (ASHA, 2007; SHRIBERG et al, 2017). Objetivo:
Identificar marcadores históricos, desenvolvimentais e com-
portamentais envolvidos no diagnóstico de AFI. Métodos: A
amostra foi composta pela documentação clínica de 12 crian-
ças, com idades entre 4 a 10 anos e suspeita de AFI. A análise
documental foi referente a relatórios de atendimentos fono-
audiológicos. Resultados: Todas as crianças apresentaram
marcadores históricos e desenvolvimentais já descritos para
AFI, na perspectiva integrativa, sendo 5 desenvolvimentais,
1 histórico e 4 com ambos. A falta de informações de história
evidencia a importância da anamnese detalhada e dinâmica,
com integração desses dados efetivamente. Foram compi-
lados 49 marcadores comportamentais. Das 12 crianças, 5
apresentavam impulsividade, agitação psicomotora, irritação
e quietude exacerbada e 4 apresentavam dificuldade em con-
tato visual e desatenção. Conclusão: Escalas para avaliação
comportamental oferecem marcadores formais congruentes
com os descritos em manuais como o DSM-V, que junto aos
históricos e desenvolvimentais, como prevê o modelo integra-
tivo, conduzem o raciocínio clínico baseado em evidências
fundamental ao diagnóstico diferencial e precoce de AFI e um
encaminhamento eficaz, principalmente em crianças menores
ou não-verbais.
DESCRITORES: Transtornos da Articulação. Apraxia. Fala.
Desenvolvimento. História. Comportamento.
ABSTRACT
Introduction: Childhood Apraxia of Speech (CAS) is a neu-
rological disorder in which the accuracy and consistency
of speech movements are affected, due to the difficulty on
speech motor planning and programming, in the absence of
neuromuscular impairment. Since CAS has a hard comorbidity
rate with other neurodevelopmental disorders, a speech-lan-
guage evaluation needs to include history, early developmen-
tal and behavioral markers, driving diagnosis and/or referral
(ASHA, 2007; SHRIBERG et al, 2017). Objective: To identify
historical, developmental and behavioral markers, involved in
the diagnosis of CAS. Methods: The study consists of a doc-
umentary analysis of speech therapy services reports of 12
children (10 boys and 2 girls), between 4 and 10 years and
suspected of CAS. Results: All children presented historical
and developmental markers described to CAS, in the integra-
tive perspective: 5 with developmental, 1 historical and 4 with
both. The lack of history information highlights the importance
of detailed and dynamic anamnesis, with integration of these
data effectively. It were compiled 49 behavioral markers. From
12 children, 5 presented impulsivity, psychomotor agitation,
irritation and exacerbated stillness and 4 presented difficulty
in eye contact and inattention. Conclusion: Behavioral assess-
ment scales provide formal markers congruent with those de-
scribed in manuals such as the DSM-V, which along with the
historical and developmental ones, as predicted by the inte-
grative model, lead the evidence-based clinical reasoning to
the differential and early diagnosis of CAS and effective refer-
ral, especially in younger or nonverbal children.
DESCRIPTORS: Articulation Disorders. Apraxia. Speech. De-
velopment. History. Behavior.
http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs
DOI: 10.22478/ufpb.2317-6032.2019v23n2.48418
RODRIGUES et al.
R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
54	
A
Apraxia de Fala da Infância (AFI) é
um transtorno neurológico, no qual
a precisão e a consistência dos mo-
vimentos da fala estão alterados, sem que
haja algum dano neuromuscular1,2
. A falha
está no planejamento e/ou programação de
parâmetros espaço temporais das sequên-
cias dos movimentos, resultando em erros
na produção dos sons da fala e alterações
prosódicas.
Pode ser decorrente de sequela de
um trauma neurológico, ocorrer em associa-
ção a um transtorno do neurodesenvolvimen-
to e ainda pode ocorrer sem que haja uma
causa aparente1
. Manifesta-se com articula-
ção desordenada, dificuldade em sequenciar
sons e sílabas, produção e repetições de
sons e sílabas inconsistentes, e interrupção
no nível suprassegmental ou prosódico3
.
Em relação aos critérios diagnóstic-
os, a ASHA2
descreve uma lista de carac-
terísticas que podem ser encontradas em
crianças com AFI. No estágio pré- lexical,
podem ser encontradas dificuldades no bal-
bucio, desenvolvimento tardio das primeiras
palavras, inventário limitado de consoantes e
vogais, prejuízo na sequenciação dos sons
e pausa entre os sons. Em etapas emergen-
tes do desenvolvimento da fala, pode haver
a presença de erros inconsistentes nos sons
da fala, linguagem receptiva melhor que lin-
guagem expressiva, dificuldade de imitação,
durante a produção de sons e palavras os lá-
bios e a língua parece tatear, dificuldade em
palavras maiores e complexas e fala difícil de
ser compreendida.
Não há uma característica pato-
gnomônica, mas alguns sinais que podem
identificar a AFI podem ser citados pela re-
lação direta com déficits no planejamento e
na programação de movimentos para a fala,
como: erros atípicos em vogais e consoantes
e prosódia inadequada durante a fala1
.
Crianças que demoram a ser diag-
nosticadas com AFI podem variar no que diz
respeito às suas características e à forma de
apresentação clínica, tornando o processo
diagnóstico um desafio. Algumas crianças
com pouca idade podem não se comunicar
ou se comunicar tardiamente. Outras, em
idade pré-escolar, possuem alterações fo-
nológicas graves. Outras, um pouco mais
velhas, podem apresentar dificuldade em
palavras mais complexas e na prosódia. O
que todas têm em comum é a dificuldade em
planejar e coordenar os movimentos para a
produção da fala4
.
O diagnóstico da AFI é viabilizado
quando há possibilidade de testar produção
de palavras polissílabas. Isso dificulta o dia-
gnóstico em crianças pequenas e/ou não
verbais, afetando, consequentemente, além
do diagnóstico precoce, os resultados da
terapia fonoaudiológica, já que as crianças
com AFI não se beneficiam com as terapias
fonoaudiológicas tradicionais de base con-
trastiva. Nesse sentido, é necessário haver
o estabelecimento de marcadores não ape-
nas de fala, mas referentes a outros sinais
precoces.
	Ainda como critérios diagnósticos,
podemos encontrar, na AFI, diferença entre
a produção voluntária e involuntária da fala;
erros inconsistentes na repetição de sílabas
e palavras; prosódia inapropriada, especial-
mente na realização do acento lexical ou fra-
sal e transição coarticulatória entre sons e
sílabas lenta e com interrupções1,5
.
APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS
55
R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
A Lista de verificação de 10 pontos de
Strand apresenta características segmentais
e supra-segmentais que podem estar presen-
tes em crianças que apresentam AFI. Para a
confirmação, é preciso obter combinação de
pelo menos 4 dos 10 itens em 3 tarefas3,6
:
1.	 Dificuldade em configurações iniciais ar-
ticulatórias e transições para vogais;
2.	 Segregação de sílaba;
3.	 Erros de acento lexical ou mesmo na fra-
se;
4.	Distorções e substituições de vogais ou
consoantes;
5.	 Tateado não verbal;
6.	Epêntese de schwa;
7.	 Processos de desvozeamento;
8.	 Taxa baixa de elocução;
9.	 Taxa de DDC lenta;
10.	 Maior dificuldade com mais ou mais pa-
lavras foneticamente complexas.
Crianças com AFI apresentam maior
dificuldade em palavras polissílabas, falhas
em provas de diadococinesia e alterações
prosódicas, inclusive a prosódia é o único
marcador de fala validado para o diagnóstico
de AFI7
. Porém, esses critérios diagnósticos
só podem ser aplicados em crianças que pro-
duzem palavras polissílabas. Sendo assim,
como conduzir o diagnostico precoce da AFI,
se em crianças pequenas e/ou não verbais
esses critérios diagnósticos não se aplicam?
Um transtorno de fala pode já de-
monstrar os seus sinais muito antes da crian-
ça falar. Marcadores não só de fala, mas
também históricos e desenvolvimentais po-
dem indicar a AFI. Dificuldades ou ausência
de balbucio canônico, problemas alimenta-
res, comportamento alterado, falta de coor-
denação motora oral e crianças muito quie-
tas são pontos que podem ser encontrados
nos relatos históricos e desenvolvimentais de
crianças com AFI1
.
A coleta de dados históricos guia o
início do processo diagnóstico. Esse mo-
mento geralmente acontece nos primeiros
contatos entre terapeuta, família e criança.
É preciso estar atento a Informações acerca
dos períodos pré e pós natais, do desenvol-
vimento global e linguístico inicial da criança,
histórico familiar de alterações de fala e de
transtornos mentais, presença de comorbi-
dades como o Transtorno do Espectro Autis-
ta (TEA), Síndrome de Down, Transtorno de
Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH),
Epilepsia Rolândica, Sindrome do X Frágil,
Síndrome de Joubert, Galactosemia, Síndro-
me de Rett e Síndrome Russell-Silver, que
são as comorbidades mais comuns relacio-
nadas à AFI1
.
Com o objetivo de estabelecer um
biomarcador para AFI, recentemente houve
o desenvolvimento de alguns estudos genéti-
cos, que retratam mutações do gene FOXP2.
As primeiras correlações entre alterações de
fala e linguagem e mutações no FOXP2 fo-
ram realizadas com membros de uma mes-
ma família, a família KE, com três gerações
com AFI. Todos os afetados apresentaram
uma mutação no gene FOXP2, localizado no
cromossomo 73
. Estes estudos demostram
a importância da coleta de dados históricos
para o diagnóstico de AFI, já que o fator his-
tórico familiar de alterações de fala e lingua-
gem pode ser um critério para o diagnóstico
de AFI.
Dados do desenvolvimento inicial de
RODRIGUES et al.
56	 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
fala são fundamentais. Crianças com sus-
peita de AFI, além da possibilidade de apre-
sentar atrasos no desenvolvimento, podem
seguir caminhos de desenvolvimento idios-
sincráticos, como ausência ou interrupção
do balbucio ou este período marcado ape-
nas por vocalização1
. Por isso, a referência
a marcos típicos pode ser útil ao diagnóstico,
já que perfis atípicos podem ser sugestivos
de AFI.
A ASHA1
chama a atenção para es-
tudos que relatam AFI associada a outros
transtornos do neurodesenvolvimento, carac-
terizados por dificuldades no comportamento
que aparecem precocemente e persistem no
desenvolvimento da criança, levando a pre-
juízos frequentes na rotina8
.
Com o objetivo de facilitar a rastrear
dos transtornos do neurodesenvolvimento e
de identificar alterações de comportamen-
to, a partir de encaminhamento para áreas
responsáveis pelo diagnóstico, são utiliza-
dos questionários ou escalas para guia de
observação clínica, para pais ou responsá-
veis, cuidadores e professores das crianças.
Dentre eles, os mais utilizados são o Modified
Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT),
SNAP-IV, Child Behavior Check-List (CBCL)
e o Childhood Autism Rating Scale (CARS).
O M-CHAT, extensão da Checklist for Autism
in Toddlers (CHAT), é uma escala utilizada
para auxiliar no diagnóstico precoce de crian-
ças com TEA, constituída por 23 questões do
tipo sim/não, respondida pelos pais sobre o
comportamento da criança. A SNAP-IV utiliza
critérios estabelecidos pelo DSM-IV para le-
vantamento de possíveis sintomas de TDAH.
De fácil aplicação, pode ser respondida por
pais e professores. É composta por uma lis-
ta de comportamentos avaliados utilizando
intensidade e frequência numa escala de
nem um pouco, pouco, bastante e demais. O
CBCL é uma lista de verificação do compor-
tamento infantil dirigida a pais e cuidadores e
é um dos instrumentos mais utilizados para
identificar transtornos psiquiátricos na infân-
cia. O CARS é um dos instrumentos mais
utilizados para observação comportamental
no diagnóstico do TEA. Constitui-se de uma
entrevista estruturada de 15 itens, também
respondida com base nas observações dos
pais.
Os marcadores históricos (casos de
AFI na família), desenvolvimentais (ausên-
cia de balbucio) e comportamentais (que
podem ser congruentes com transtornos do
neurodesenvolvimento, como o Transtorno
do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de
Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH),
por exemplo, podem guiar o diagnóstico, já
que a AFI tem alta relação de comorbidade
com outros transtornos do neurodesenvolvi-
mento. A definição de marcadores históricos,
desenvolvimentais e comportamentais, a
partir da anamnese e do rastreio de comor-
bidades, podem guiar o diagnóstico, seguin-
do um modelo integrativo, que não apenas
se baseia em marcadores linguísticos e de
fala7
, sendo estes últimos os validados como
potenciais para o diagnóstico de AFI. No en-
tanto, só são seguros para uma clientela que
já produz polissílabos, não sendo, portanto,
suficiente e eficaz para diagnóstico precoce
em crianças mais jovens.
A justificativa deste estudo é a neces-
sidade de aumentar o rigor em relação aos
critérios diagnósticos, baseado em marca-
dores desenvolvimentais, comportamentais
APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS
57
R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
e históricos, para auxiliar o diagnóstico de
AFI em crianças não verbais, contribuindo
para elaboração de políticas de rastreio efi-
cazes, incluindo o encaminhamento adequa-
do para serviços interdisciplinares, a partir do
inventário comportamental da criança. Ainda
há dificuldades na descrição desses dados
nos relatórios fonoaudiológicos e não há um
instrumento formal de avaliação comporta-
mental e uma terminologia consensual que
dialoga com outras áreas efetivamente. Há,
portanto, uma necessidade em serem refe-
ridos com base em critérios diagnósticos já
descritos formalmente em manuais. Dada
a atenção para marcadores não apenas de
fala, o diagnóstico precoce diferencial pode
ser viabilizado e acrescenta subsídios para
abordagens terapêuticas que atendam as
reais demandas das crianças.
	 O objetivo principal deste estudo foi
identificar esses marcadores históricos, de-
senvolvimentais e comportamentais envolvi-
dos no diagnóstico de AFI. Os objetivos es-
pecíficos foram: investigar os marcadores de
história familiar em crianças com diagnóstico
de AFI; averiguar os marcadores de desen-
volvimento linguístico inicial em crianças com
diagnóstico de AFI; verificar quais os marca-
dores comportamentais mais comuns descri-
tos nos protocolos clínicos de diagnóstico de
AFI; observar instrumentos de rastreio prio-
rizados no estabelecimento de marcadores
e apontar quais conduzem o diagnóstico de
AFI.
METODOLOGIA
Este estudo foi realizado na cidade
de Recife-PE, no período entre fevereiro e
outubro de 2018, foi avaliado e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do
Centro de Ciências da Saúde (CCS/ UFPB),
CAAE 00455318.1.0000.5188 e seguiu as
recomendações éticas da Plataforma Brasil,
da Resolução do Conselho Nacional de Saú-
de (CNS) 510/16, assim como, as normas
estabelecidas pela Coordenação de Fono-
audiologia em 2016, COORDFONO/CCS Nº
01/201.
A população estudada foi composta
por 12 crianças, sendo 10 do sexo masculino
e 2 do sexo feminino, com idades entre 4 a
10 anos, todas com alterações de fala e lin-
guagem. As crianças foram atendidas entre
2015 a 2018. O presente estudo tem caráter
documental, retrospectivo de abordagem
qualitativa. O estudo tem como variáveis in-
dependentes sexo, idade e comorbidades e
as variáveis dependentes são os marcado-
res históricos e desenvolvimentais. A amos-
tra foi composta pela documentação clínica
das crianças com diagnóstico de AFI.
	 Os pais das crianças assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclareci-
do autorizando a participação da criança e a
utilização dos dados clínicos da criança na
pesquisa.
A documentação clínica das crianças
continha dados pessoais, dados de entrevis-
ta inicial e dados da avaliação fonoaudioló-
gica que envolvem os aspectos clínicos da
motricidade orofacial, linguagem não ver-
bal, desenvolvimento dos níveis linguísticos
(pragmática, semântica, fonologia e morfos-
sintaxe), habilidades motoras de fala, psico-
motricidade global e fina, comportamento,
leitura, escrita e desenho.
Para análise dos dados coletados,
RODRIGUES et al.
58	 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
nesta pesquisa foi utilizada a metodologia de
análise qualitativa tipológica e categorial de
temática aprofundada: (1) compilação de da-
dos documentais; (2) descrição e tabulação
de dados diagnósticos de AFI e das variáveis
sexo, idade e comorbidades; (3) compilação
de dados desenvolvimentais globais e lin-
guísticos, assim como histórico familiar; (4)
dados comportamentais a partir dos dados
obtidos pelos instrumentos de rastreio; (5)
análise qualitativa dos descritores desenvol-
vimentais e históricos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Gráfico 1 mostra os marcadores
desenvolvimentais distribuídos em catego-
rias, mostrando a frequência em que cada
um apareceu nos dados de anamnese con-
tidos nas documentações clínicas das crian-
ças analisadas.
Foram estabelecidas 14 categorias
de marcadores desenvolvimentais, sendo 3
do desenvolvimento linguístico inicial e 11 do
desenvolvimento global da criança. Dentre
as 12 crianças, os marcadores mais ocorren-
tes foram: atraso no desenvolvimento da fala
(9 sujeitos), seletividade alimentar e quietude
do bebê (ambas em 4 sujeitos). Em apenas
uma das crianças não houve relatos de mar-
cadores desenvolvimentais, nas demais, ha-
via relatos de mais de um marcador descrito.
A ASHA2
descreve uma lista de ca-
racterísticas que podem ser encontradas
em crianças com AFI no estágio pré-lexical.
Dentre essas características estão descritas
dificuldades no balbucio, balbucio menos
frequente que seus pares tipicamente em
desenvolvimento, balbucio menos maduro e
complexo, além de problemas alimentares e
comportamento quieto. Esses dados foram
identificados nos relatos de anamnese das
crianças estudadas. Como descrito ante-
riormente, das 12 crianças, duas realizavam
poucas vocalizações quando bebê, quatro
apresentaram ausência de vocalizações
quando bebê, quatro apresentaram seletivi-
dade alimentar e duas apresentaram ausên-
cia ou poucos dias de amamentação.
Foi possível identificar marcadores
desenvolvimentais que não estão descritos
na literatura em relação com AFI, o que pede
a realização de outros estudos mais detalha-
dos. Dentre esses marcadores, estão: uso de
chupeta, intercorrências no parto, demora a
andar, dificuldades motoras, bebê agitado,
ausência de atenção compartilhada, ausên-
cia de conduta imitativa e dificuldades em
manter contato visual.
Os marcadores históricos foram dis-
tribuídos em categorias, mostrando a sua fre-
quência nas crianças. Foi possível observar
que, dentre as sete crianças que apresenta-
ram marcador histórico, duas apresentavam
histórico familiar de alterações neurodesen-
volvimentais (como transtorno do espectro
do autismo e transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade) e duas apresentam históri-
co familiar de alterações de fala e linguagem
e de alterações neurodesenvolvimentais.
AASHA1
define a AFI como sendo um
transtorno de origem neurológica e que pode
está relacionada comorbidamente a altera-
ções neurodesenvolvimentais, o que leva a
identificar marcadores históricos não só de
alterações de fala e linguagem, mas também
alterações neurodesenvolvimentais que pos-
sam estar presentes em familiares de crian-
APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS
59
R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
Gráfico 2 – Marcadores históricos que ocorreram nas crianças.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
Histórico familiar de alterações de fala e linguagem
Histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais ou
neurocomportamentais
Histórico familiar de alterações de fala e linguagem e de
alterações neurodesenvolvimentais
Crianças sem relatos de marcadores históricos
A ASHA1
define a AFI como sendo um transtorno de origem neurológica e que pode
está relacionada comorbidamente a alterações neurodesenvolvimentais, o que leva a
identificar marcadores históricos não só de alterações de fala e linguagem, mas também
alterações neurodesenvolvimentais que possam estar presentes em familiares de crianças
com AFI. Foi possível observar histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais em 4
das 12 crianças.
Os marcadores históricos, desenvolvimentais e comportamentais são os principais
marcadores que conduzem o diagnóstico de AFI7
, o que foi observado na análise das do-
cumentações clínicas das crianças. Todas as crianças apresentaram marcadores históricos
e desenvolvimentais em seus dados, sendo seis apenas com marcadores
desenvolvimentais, duas apenas com marcadores históricos e quatro com os dois tipos de
marcadores.
Gráfico 1 – Marcadores desenvolvimentais que ocorreram nas crianças.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Dificuldades em manter contato visual
Ausência de conduta imitativa
Ausência de atenção compartilhada
Bebê agitado
Bebê quieto
Dificuldades motoras
Demorou a andar
Parto com intercorrências
Chupa ou chupou chupeta
Ausência ou poucos dias de amamentação
Seletividade alimentar
Ausência de vocalizações
Poucas vocalizações
Demorou a falar
A ASHA2
descreve uma lista de características que podem ser encontradas em
crianças com AFI no estágio pré-lexical. Dentre essas características estão descritas
dificuldades no balbucio, balbucio menos frequente que seus pares tipicamente em
desenvolvimento, balbucio menos maduro e complexo, além de problemas alimentares e
comportamento quieto. Esses dados foram identificados nos relatos de anamnese das
crianças estudadas. Como descrito anteriormente, das 12 crianças, duas realizavam poucas
vocalizações quando bebê, quatro apresentaram ausência de vocalizações quando bebê,
quatro apresentaram seletividade alimentar e duas apresentaram ausência ou poucos dias
de amamentação.
Foi possível identificar marcadores desenvolvimentais que não estão descritos na
literatura em relação com AFI, o que pede a realização de outros estudos mais detalhados.
Dentre esses marcadores, estão: uso de chupeta, intercorrências no parto, demora a andar,
dificuldades motoras, bebê agitado, ausência de atenção compartilhada, ausência de
conduta imitativa e dificuldades em manter contato visual.
Os marcadores históricos foram distribuídos em categorias, mostrando a sua
frequência nas crianças. Foi possível observar que, dentre as sete crianças que
apresentaram marcador histórico, duas apresentavam histórico familiar de alterações
neurodesenvolvimentais (como transtorno do espectro do autismo e transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade) e duas apresentam histórico familiar de alterações de fala e
linguagem e de alterações neurodesenvolvimentais.
ças com AFI. Foi possível observar histórico
familiar de alterações neurodesenvolvimen-
tais em 4 das 12 crianças.
		 Os marcadores históricos, desenvol-
vimentais e comportamentais são os princi-
pais marcadores que conduzem o diagnós-
tico de AFI7
, o que foi observado na análise
das documentações clínicas das crianças.
Todas as crianças apresentaram marcado-
res históricos e desenvolvimentais em seus
dados, sendo seis apenas com marcadores
desenvolvimentais, duas apenas com marca-
dores históricos e quatro com os dois tipos
de marcadores.
RODRIGUES et al.
60	 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
		 Destaca-se que, entre as 12 crianças,
quatro não apresentaram dados de fala, sen-
do dois com TEA e as outras não-verbais. Os
marcadores históricos, desenvolvimentais e
comportamentais, nessas crianças, foram
cruciais para conduzir o diagnóstico de AFI.
As outras oito crianças apresentam dados
de fala que, somados aos dados históricos,
desenvolvimentais e comportamentais, guia-
ram o diagnóstico.
O modelo integrativo7
enfatiza a im-
portância dos marcadores comportamentais,
desenvolvimentais e históricos para auxiliar
o diagnóstico de AFI, visto que outros mar-
cadores validados, como o de fala, não são
viáveis a depender da idade da criança.
A partir dos protocolos clínicos ana-
lisados, foram encontrados 49 marcadores
comportamentais, alguns mais frequentes
que outros. No total de 12 crianças, os mar-
cadores comportamentais mais frequentes
foram impulsividade, agitação psicomotora,
quietude exacerbada e irritação (Tabela 1).
	 Em um estudo9
que utilizou o CBCL
para avaliação dos problemas emocionais e
comportamentais de crianças e adolescen-
tes, os problemas de comportamento foram
distribuídos em duas grandes escalas que
envolviam comportamentos externalizantes,
tais como problemas de sociabilidade, de
atenção, violação de regras e comporta-
mento agressivo, e comportamentos inter-
nalizantes, tais como ansiedade-depressão,
retraimento-depressão, queixas somáticas e
problemas com o pensamento.
É possível perceber que não existe diferença
considerável entre a quantidade de marca-
dores distribuídos em suas categorias, visto
que 24 marcadores enquadraram-se na ca-
tegoria de comportamentos internalizantes
e 25 na categoria de comportamentos exter-
nalizantes.
	 Os descritores comportamentais que
podem participar da condução do diagnósti-
co de AFI são os que foram mais frequentes
na população com diagnóstico de AFI inves-
tigada: é impulsivo(a) ou age sem pensar,
agitação psicomotora, quieto(a), irritado(a),
gosta de estar sozinho(a), dificuldade em
manter contato visual, desatento(a), tími-
do(a), parece não ouvir, comportamentos
não-funcionais e desastrado(a).
	 Esses descritores podem ser con-
gruentes com transtornos como o TDAH,
transtorno de conduta (TC) e com o TEA, que
são transtornos com alta taxa de relação de
comorbidade com a AFI, estando os dados
aqui obtidos em concordância com a litera-
tura internacional atualizada na área. Esse
resultado mostra a necessidade de as esca-
las como SNAP-IV, para rastreio de TDAH,
e outras específicas para rastreio do TEA,
como a M-CHAT, CARS ou mesmo o CBCL,
enquanto inventário mais amplo, podem e
precisam ser adotadas na rotina fonoaudio-
lógica para avaliação comportamental e me-
lhor descrição dos dados de comportamento
das crianças, usando uma terminologia con-
sistente e congruente com a utilizada nos
manuais diagnósticos como o DSM-V10
e o
CID-10.
	 O instrumento mais utilizado foi o
CBCL, seguido pelo SNAP-IV. Sendo que
9 dos 12 protocolos clínicos priorizaram o
CBCL para identificação dos marcadores e,
dentre esses, 2 também utilizaram o SNAP-
-IV pela alta prevalência de sintomas hiper-
cinéticos e de dificuldades de atenção. Em
APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS
61
R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
Tabela 1 – Marcadores comportamentais ocorrentes nas crianças.
MARCADORES COMPORTAMENTAIS n
É impulsivo(a), ou age sem pensar 5
Agitação psicomotora 5
Quieto(a) 5
Irritado(a) 5
Gosta de estar sozinho(a) 4
Dificuldade em manter contato visual 4
Desatento(a) 4
Tímido(a) 3
Parece não ouvir 3
Comportamentos não-funcionais 3
Desastrado(a) 3
Pouco ativo(a), move-se com lentidão, tem falta de energia 2
Olha no espaço por longos períodos de tempo 2
Tem problemas para dormir 2
Não desenvolve amizades 2
Tenso(a) 2
Requer muita atenção 2
Chora muito 2
Grita muito 2
Fica confuso(a) ou parece ficar sem saber onde está 2
Distraído(a) 2
Problemas de comportamento na escola 2
Preocupa-se muito 1
Ideias persistentes e inadequadas para a idade 1
Medo de determinados animais, situações ou lugares 1
Acha que deve ser perfeito(a) 1
É infeliz, triste ou deprimido(a) 1
Muitas vezes assustado(a) ou muito ansioso(a) 1
Choraminga 1
Sente-se muito culpado(a) 1
Movimentos nervosos/tiques 1
Assustado(a) 1
Não segue instruções até o fim e tem dificuldade em persistir 1
Esquecido(a) 1
Corre demais e sobe em coisas em situações inapropriadas 1
Fala rápido 1
Não usa brinquedos apropriadamente 1
Fala muito alto 1
Estereotipias verbais e motoras 1
Agarra-se demais aos adultos ou é muito dependente 1
Baixo limiar para frustração 1
Cansa-se muito 1
Come muito 1
Mostra-se pouco à vontade ou facilmente embaraçado(a) 1
Fixa em partes de objetos 1
Agitado(a) 1
Desobediente 1
Perturba os outros 1
Tem dificuldades nos trabalhos escolares 1
Total de marcadores analisados 49
Em um estudo9
que utilizou o CBCL para avaliação dos problemas emocionais e
comportamentais de crianças e adolescentes, os problemas de comportamento foram distri-
RODRIGUES et al.
62	 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
apenas um dos protocolos clínicos não havia
relatos de queixas comportamentais. Neste
caso, marcadores de fala guiaram o diagnós-
tico de AFI.
	 Vale destacar que tais instrumentos
foram utilizados porque já havia preocupa-
ção com o rastreio de comorbidades, desde
uma publicação7
sobre o modelo integrativo,
mas não é uma prática ainda amplamente
adotada. Essa prática precisa ser rotineira na
Fonoaudiologia. A amostra foi pequena e de
apenas um serviço, que já considera a práti-
ca importante. É necessário que seja feito um
estudo em maior escala, com maior amostra
e mais heterogênea, para que a realidade
sobre o uso de instrumentos de rastreio seja
bem retratada. A proposta aqui foi mostrar a
utilidade desses instrumentos, como forma
inicial de abordar o tema.
Um diagnóstico seguro e precoce
pode conduzir crianças com AFI a uma abor-
dagem terapêutica apropriada, uma vez que
terapias tradicionais de base puramente fo-
nológica não são muito bem sucedidas para
crianças com AFI11
.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Histórico familiar de alterações de fala e linguagem e de
alterações neurodesenvolvimentais
Crianças sem relatos de marcadores históricos
A ASHA1
define a AFI como sendo um transtorno de origem neurológica e que pode
está relacionada comorbidamente a alterações neurodesenvolvimentais, o que leva a
identificar marcadores históricos não só de alterações de fala e linguagem, mas também
alterações neurodesenvolvimentais que possam estar presentes em familiares de crianças
com AFI. Foi possível observar histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais em 4
das 12 crianças.
Os marcadores históricos, desenvolvimentais e comportamentais são os principais
marcadores que conduzem o diagnóstico de AFI7
, o que foi observado na análise das do-
cumentações clínicas das crianças. Todas as crianças apresentaram marcadores históricos
e desenvolvimentais em seus dados, sendo seis apenas com marcadores
desenvolvimentais, duas apenas com marcadores históricos e quatro com os dois tipos de
marcadores.
Gráfico 3 – Distribuição dos marcadores desenvolvimentais e históricos.
Marcadores desenvolvimentais
Marcadores históricos
Ambos
buídos em duas grandes escalas que envolviam comportamentos externalizantes, tais como
problemas de sociabilidade, de atenção, violação de regras e comportamento agressivo, e
comportamentos internalizantes, tais como ansiedade-depressão, retraimento-depressão,
queixas somáticas e problemas com o pensamento.
Gráfico 4 – Distribuição dos marcadores comportamentais nas duas escalas.
20
21
22
23
24
25
Comportamentos internalizantes
Comportamentos externalizantes
É possível perceber que não existe diferença considerável entre a quantidade de marcado-
res distribuídos em suas categorias, visto que 24 marcadores enquadraram-se na categoria
de comportamentos internalizantes e 25 na categoria de comportamentos externalizan-
tes.
APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS
63
R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
CONCLUSÃO
	 O estudo demonstrou que os marca-
dores desenvolvimentais e históricos podem
guiar o diagnóstico de AFI, principalmente
em crianças pequenas e/ou não verbais em
que não é possível identificar marcadores de
fala. Também foi possível perceber que em
crianças maiores e verbais os marcadores
desenvolvimentais e históricos somados aos
marcadores de fala garantem um diagnóstico
mais confiante.
	 A maior presença de marcadores de-
senvolvimentais em relação aos históricos se
deve à presença de comorbidades e à falta
de informações quanto ao histórico familiar
por parte dos informantes. Assim, este estu-
do ressalta a importância da anamnese de-
talhada e dinâmica, para que dados desen-
volvimentais, históricos e comportamentais
façam parte, efetivamente, do processo de
avaliação e diagnóstico.
	 Este estudo enfatizou a importância
de se adotar escalas ou instrumentos de
rastreio para avaliação comportamental e
melhor descrição dos dados de comporta-
mento das crianças, contendo descritores
formais congruentes com aqueles utilizados
em manuais diagnósticos como o DSM-V e o
CID-11, para facilitar o rastreio de comorbida-
des e de alterações de comportamento nas
crianças, visto que, os marcadores compor-
tamentais mais frequentes aqui encontrados
serviram para conduzir o diagnóstico de AFI,
facilitando um diagnóstico diferencial preco-
ce e um encaminhamento eficaz, principal-
mente em crianças menores ou não-verbais
em que não é possível avaliar com base em
marcadores clínicos de fala.
	 Um diagnóstico seguro e precoce
pode conduzir crianças com AFI a uma abor-
dagem terapêutica apropriada, uma vez que
terapias tradicionais de base puramente fo-
nológica não são muito bem sucedidas para
crianças com AFI.
REFERÊNCIAS
1.	 American Speech-Language-Hearing Association. Child-
hood apraxia of speech [Technical report]. North Caro-
lina, 2007. Disponível em: <http://www.asha.org/policy>.
Acesso em: 24 mar. 2018.
2.	 American Speech-Language-Hearing Association.
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North Carolina, 2012. Disponível em: <https://www.asha.
org/policy>. Acesso em: 24 mar. 2018.
3.	 Shriberg LD, Lohmeier HL, Strand EA, Jakielski KJ. En-
coding, memory, and transcoding deficits in Childhood
Apraxia of Speech. Clinical Linguistics & Phonetics 2012;
26(5):445-82.
4.	 Ozanne A. Childhood Apraxia of Speech. In: Dodd B.
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Speech Disorder. 6ª ed. Cornwall: Whurr Publishers;
2005, p. 71-82.
5.	 Zaretsky E, Velleman, SL, Curro K. Through the magni-
fying glass: underlying literacy deficits and remediation
potential in childhood apraxia of speech. International
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6.	 Shriberg LD, Potter NL. Childhood apraxia of speech in
children and adolescents with galactosemia. Paper pre-
sented at the American Speech-Language-Hearing Asso-
ciation National Convention. New Orleans, nov. 2009.
7.	 Shriberg LD, Strand EA, Fourakis M, Jakielski KJ, Hall
SD, Karlsson HB et al. A Diagnostic Marker to Discrimi-
nate Childhood Apraxia of Speech From Speech Delay:
Introduction. Journal Of Speech Language And Hearing
Research 2017; 60(4):1094-1095.
8.	 Willfors C. Identification of biobehavioral markers of neu-
rodevelopmental disorders in twins. Thesis for doctoral
degree - Karolinska Institutet, Stockholm, 2017.
9.	 Emerich DR, Rocha MM, Silvares EFM, Gonçalves JP.
Diferenças quanto ao gênero entre escolares brasileiros
avaliados pelo inventário de comportamentos para crian-
ças e adolescentes (CBCL/6-18). Psico 2012; 43(3):380-
387.
10.	 American Psychiatric Association. DSM-V: Manual diag-
nóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª ed. Porto
Alegre: Artmed Editora; 2014.
RODRIGUES et al.
64	 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019
11.	 Murray E, Iuzzini-Seigel, J. Efficacious Treatment of Chil-
dren With Childhood Apraxia of Speech According to the
International Classification of Functioning, Disability and
Health. Perspectives of the ASHA Special Interest Groups
2017; 2.
CORRESPONDÊNCIA
Ana Carla Estellita Vogeley
Departamento de Fonoaudiologia – Universidade Federal da
Paraíba – UFPB Campus I. Cidade Universitária, s/n - Conj.
Pres. Castelo Branco III, João Pessoa - PB, Cep: 58051-900.
E-mail: anacarla.vogeley@gmail.com

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  • 1. PESQUISA Research Suplemento Páginas 53-64 2019 ISSN 1415-2177 Revista Brasileira de Ciências da Saúde APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS CHILDHOOD APRAXIA OF SPEECH AND HISTORY, DEVELOPMENT AND BEHAVIOR MARKERS Gilmaelma de Souza Rodrigues1 Rayanna Cardoso da Silva Maciel1 Débora Vasconcelos Correia2 Flávia Luiza Costa do Rêgo2 Hertha Maria Tavares de Albuquerque Coutinho2 Isabelle Cahino Delgado2 Jaims Franklin Ribeiro Soares2 Ana Carla Estellita Vogeley2 1- Curso de Fonoaudiologia pela Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, Brasil. 2- Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, Brasil. RESUMO Introdução: A Apraxia de Fala da Infância (AFI) é um transtor- no neurológico, no qual a precisão e a consistência dos mo- vimentos da fala estão alterados, pela dificuldade em plane- jamento/programação motora, na ausência de prejuízo neuro- muscular. Considerando a alta relação de comorbidade da AFI com outros transtornos neurodesenvolvimentais, a avaliação precisa contemplar marcadores comportamentais, históricos e desenvolvimentais, facilitando diagnóstico e/ou encami- nhamento (ASHA, 2007; SHRIBERG et al, 2017). Objetivo: Identificar marcadores históricos, desenvolvimentais e com- portamentais envolvidos no diagnóstico de AFI. Métodos: A amostra foi composta pela documentação clínica de 12 crian- ças, com idades entre 4 a 10 anos e suspeita de AFI. A análise documental foi referente a relatórios de atendimentos fono- audiológicos. Resultados: Todas as crianças apresentaram marcadores históricos e desenvolvimentais já descritos para AFI, na perspectiva integrativa, sendo 5 desenvolvimentais, 1 histórico e 4 com ambos. A falta de informações de história evidencia a importância da anamnese detalhada e dinâmica, com integração desses dados efetivamente. Foram compi- lados 49 marcadores comportamentais. Das 12 crianças, 5 apresentavam impulsividade, agitação psicomotora, irritação e quietude exacerbada e 4 apresentavam dificuldade em con- tato visual e desatenção. Conclusão: Escalas para avaliação comportamental oferecem marcadores formais congruentes com os descritos em manuais como o DSM-V, que junto aos históricos e desenvolvimentais, como prevê o modelo integra- tivo, conduzem o raciocínio clínico baseado em evidências fundamental ao diagnóstico diferencial e precoce de AFI e um encaminhamento eficaz, principalmente em crianças menores ou não-verbais. DESCRITORES: Transtornos da Articulação. Apraxia. Fala. Desenvolvimento. História. Comportamento. ABSTRACT Introduction: Childhood Apraxia of Speech (CAS) is a neu- rological disorder in which the accuracy and consistency of speech movements are affected, due to the difficulty on speech motor planning and programming, in the absence of neuromuscular impairment. Since CAS has a hard comorbidity rate with other neurodevelopmental disorders, a speech-lan- guage evaluation needs to include history, early developmen- tal and behavioral markers, driving diagnosis and/or referral (ASHA, 2007; SHRIBERG et al, 2017). Objective: To identify historical, developmental and behavioral markers, involved in the diagnosis of CAS. Methods: The study consists of a doc- umentary analysis of speech therapy services reports of 12 children (10 boys and 2 girls), between 4 and 10 years and suspected of CAS. Results: All children presented historical and developmental markers described to CAS, in the integra- tive perspective: 5 with developmental, 1 historical and 4 with both. The lack of history information highlights the importance of detailed and dynamic anamnesis, with integration of these data effectively. It were compiled 49 behavioral markers. From 12 children, 5 presented impulsivity, psychomotor agitation, irritation and exacerbated stillness and 4 presented difficulty in eye contact and inattention. Conclusion: Behavioral assess- ment scales provide formal markers congruent with those de- scribed in manuals such as the DSM-V, which along with the historical and developmental ones, as predicted by the inte- grative model, lead the evidence-based clinical reasoning to the differential and early diagnosis of CAS and effective refer- ral, especially in younger or nonverbal children. DESCRIPTORS: Articulation Disorders. Apraxia. Speech. De- velopment. History. Behavior. http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs DOI: 10.22478/ufpb.2317-6032.2019v23n2.48418
  • 2. RODRIGUES et al. R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 54 A Apraxia de Fala da Infância (AFI) é um transtorno neurológico, no qual a precisão e a consistência dos mo- vimentos da fala estão alterados, sem que haja algum dano neuromuscular1,2 . A falha está no planejamento e/ou programação de parâmetros espaço temporais das sequên- cias dos movimentos, resultando em erros na produção dos sons da fala e alterações prosódicas. Pode ser decorrente de sequela de um trauma neurológico, ocorrer em associa- ção a um transtorno do neurodesenvolvimen- to e ainda pode ocorrer sem que haja uma causa aparente1 . Manifesta-se com articula- ção desordenada, dificuldade em sequenciar sons e sílabas, produção e repetições de sons e sílabas inconsistentes, e interrupção no nível suprassegmental ou prosódico3 . Em relação aos critérios diagnóstic- os, a ASHA2 descreve uma lista de carac- terísticas que podem ser encontradas em crianças com AFI. No estágio pré- lexical, podem ser encontradas dificuldades no bal- bucio, desenvolvimento tardio das primeiras palavras, inventário limitado de consoantes e vogais, prejuízo na sequenciação dos sons e pausa entre os sons. Em etapas emergen- tes do desenvolvimento da fala, pode haver a presença de erros inconsistentes nos sons da fala, linguagem receptiva melhor que lin- guagem expressiva, dificuldade de imitação, durante a produção de sons e palavras os lá- bios e a língua parece tatear, dificuldade em palavras maiores e complexas e fala difícil de ser compreendida. Não há uma característica pato- gnomônica, mas alguns sinais que podem identificar a AFI podem ser citados pela re- lação direta com déficits no planejamento e na programação de movimentos para a fala, como: erros atípicos em vogais e consoantes e prosódia inadequada durante a fala1 . Crianças que demoram a ser diag- nosticadas com AFI podem variar no que diz respeito às suas características e à forma de apresentação clínica, tornando o processo diagnóstico um desafio. Algumas crianças com pouca idade podem não se comunicar ou se comunicar tardiamente. Outras, em idade pré-escolar, possuem alterações fo- nológicas graves. Outras, um pouco mais velhas, podem apresentar dificuldade em palavras mais complexas e na prosódia. O que todas têm em comum é a dificuldade em planejar e coordenar os movimentos para a produção da fala4 . O diagnóstico da AFI é viabilizado quando há possibilidade de testar produção de palavras polissílabas. Isso dificulta o dia- gnóstico em crianças pequenas e/ou não verbais, afetando, consequentemente, além do diagnóstico precoce, os resultados da terapia fonoaudiológica, já que as crianças com AFI não se beneficiam com as terapias fonoaudiológicas tradicionais de base con- trastiva. Nesse sentido, é necessário haver o estabelecimento de marcadores não ape- nas de fala, mas referentes a outros sinais precoces. Ainda como critérios diagnósticos, podemos encontrar, na AFI, diferença entre a produção voluntária e involuntária da fala; erros inconsistentes na repetição de sílabas e palavras; prosódia inapropriada, especial- mente na realização do acento lexical ou fra- sal e transição coarticulatória entre sons e sílabas lenta e com interrupções1,5 .
  • 3. APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS 55 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 A Lista de verificação de 10 pontos de Strand apresenta características segmentais e supra-segmentais que podem estar presen- tes em crianças que apresentam AFI. Para a confirmação, é preciso obter combinação de pelo menos 4 dos 10 itens em 3 tarefas3,6 : 1. Dificuldade em configurações iniciais ar- ticulatórias e transições para vogais; 2. Segregação de sílaba; 3. Erros de acento lexical ou mesmo na fra- se; 4. Distorções e substituições de vogais ou consoantes; 5. Tateado não verbal; 6. Epêntese de schwa; 7. Processos de desvozeamento; 8. Taxa baixa de elocução; 9. Taxa de DDC lenta; 10. Maior dificuldade com mais ou mais pa- lavras foneticamente complexas. Crianças com AFI apresentam maior dificuldade em palavras polissílabas, falhas em provas de diadococinesia e alterações prosódicas, inclusive a prosódia é o único marcador de fala validado para o diagnóstico de AFI7 . Porém, esses critérios diagnósticos só podem ser aplicados em crianças que pro- duzem palavras polissílabas. Sendo assim, como conduzir o diagnostico precoce da AFI, se em crianças pequenas e/ou não verbais esses critérios diagnósticos não se aplicam? Um transtorno de fala pode já de- monstrar os seus sinais muito antes da crian- ça falar. Marcadores não só de fala, mas também históricos e desenvolvimentais po- dem indicar a AFI. Dificuldades ou ausência de balbucio canônico, problemas alimenta- res, comportamento alterado, falta de coor- denação motora oral e crianças muito quie- tas são pontos que podem ser encontrados nos relatos históricos e desenvolvimentais de crianças com AFI1 . A coleta de dados históricos guia o início do processo diagnóstico. Esse mo- mento geralmente acontece nos primeiros contatos entre terapeuta, família e criança. É preciso estar atento a Informações acerca dos períodos pré e pós natais, do desenvol- vimento global e linguístico inicial da criança, histórico familiar de alterações de fala e de transtornos mentais, presença de comorbi- dades como o Transtorno do Espectro Autis- ta (TEA), Síndrome de Down, Transtorno de Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), Epilepsia Rolândica, Sindrome do X Frágil, Síndrome de Joubert, Galactosemia, Síndro- me de Rett e Síndrome Russell-Silver, que são as comorbidades mais comuns relacio- nadas à AFI1 . Com o objetivo de estabelecer um biomarcador para AFI, recentemente houve o desenvolvimento de alguns estudos genéti- cos, que retratam mutações do gene FOXP2. As primeiras correlações entre alterações de fala e linguagem e mutações no FOXP2 fo- ram realizadas com membros de uma mes- ma família, a família KE, com três gerações com AFI. Todos os afetados apresentaram uma mutação no gene FOXP2, localizado no cromossomo 73 . Estes estudos demostram a importância da coleta de dados históricos para o diagnóstico de AFI, já que o fator his- tórico familiar de alterações de fala e lingua- gem pode ser um critério para o diagnóstico de AFI. Dados do desenvolvimento inicial de
  • 4. RODRIGUES et al. 56 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 fala são fundamentais. Crianças com sus- peita de AFI, além da possibilidade de apre- sentar atrasos no desenvolvimento, podem seguir caminhos de desenvolvimento idios- sincráticos, como ausência ou interrupção do balbucio ou este período marcado ape- nas por vocalização1 . Por isso, a referência a marcos típicos pode ser útil ao diagnóstico, já que perfis atípicos podem ser sugestivos de AFI. A ASHA1 chama a atenção para es- tudos que relatam AFI associada a outros transtornos do neurodesenvolvimento, carac- terizados por dificuldades no comportamento que aparecem precocemente e persistem no desenvolvimento da criança, levando a pre- juízos frequentes na rotina8 . Com o objetivo de facilitar a rastrear dos transtornos do neurodesenvolvimento e de identificar alterações de comportamen- to, a partir de encaminhamento para áreas responsáveis pelo diagnóstico, são utiliza- dos questionários ou escalas para guia de observação clínica, para pais ou responsá- veis, cuidadores e professores das crianças. Dentre eles, os mais utilizados são o Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-CHAT), SNAP-IV, Child Behavior Check-List (CBCL) e o Childhood Autism Rating Scale (CARS). O M-CHAT, extensão da Checklist for Autism in Toddlers (CHAT), é uma escala utilizada para auxiliar no diagnóstico precoce de crian- ças com TEA, constituída por 23 questões do tipo sim/não, respondida pelos pais sobre o comportamento da criança. A SNAP-IV utiliza critérios estabelecidos pelo DSM-IV para le- vantamento de possíveis sintomas de TDAH. De fácil aplicação, pode ser respondida por pais e professores. É composta por uma lis- ta de comportamentos avaliados utilizando intensidade e frequência numa escala de nem um pouco, pouco, bastante e demais. O CBCL é uma lista de verificação do compor- tamento infantil dirigida a pais e cuidadores e é um dos instrumentos mais utilizados para identificar transtornos psiquiátricos na infân- cia. O CARS é um dos instrumentos mais utilizados para observação comportamental no diagnóstico do TEA. Constitui-se de uma entrevista estruturada de 15 itens, também respondida com base nas observações dos pais. Os marcadores históricos (casos de AFI na família), desenvolvimentais (ausên- cia de balbucio) e comportamentais (que podem ser congruentes com transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), por exemplo, podem guiar o diagnóstico, já que a AFI tem alta relação de comorbidade com outros transtornos do neurodesenvolvi- mento. A definição de marcadores históricos, desenvolvimentais e comportamentais, a partir da anamnese e do rastreio de comor- bidades, podem guiar o diagnóstico, seguin- do um modelo integrativo, que não apenas se baseia em marcadores linguísticos e de fala7 , sendo estes últimos os validados como potenciais para o diagnóstico de AFI. No en- tanto, só são seguros para uma clientela que já produz polissílabos, não sendo, portanto, suficiente e eficaz para diagnóstico precoce em crianças mais jovens. A justificativa deste estudo é a neces- sidade de aumentar o rigor em relação aos critérios diagnósticos, baseado em marca- dores desenvolvimentais, comportamentais
  • 5. APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS 57 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 e históricos, para auxiliar o diagnóstico de AFI em crianças não verbais, contribuindo para elaboração de políticas de rastreio efi- cazes, incluindo o encaminhamento adequa- do para serviços interdisciplinares, a partir do inventário comportamental da criança. Ainda há dificuldades na descrição desses dados nos relatórios fonoaudiológicos e não há um instrumento formal de avaliação comporta- mental e uma terminologia consensual que dialoga com outras áreas efetivamente. Há, portanto, uma necessidade em serem refe- ridos com base em critérios diagnósticos já descritos formalmente em manuais. Dada a atenção para marcadores não apenas de fala, o diagnóstico precoce diferencial pode ser viabilizado e acrescenta subsídios para abordagens terapêuticas que atendam as reais demandas das crianças. O objetivo principal deste estudo foi identificar esses marcadores históricos, de- senvolvimentais e comportamentais envolvi- dos no diagnóstico de AFI. Os objetivos es- pecíficos foram: investigar os marcadores de história familiar em crianças com diagnóstico de AFI; averiguar os marcadores de desen- volvimento linguístico inicial em crianças com diagnóstico de AFI; verificar quais os marca- dores comportamentais mais comuns descri- tos nos protocolos clínicos de diagnóstico de AFI; observar instrumentos de rastreio prio- rizados no estabelecimento de marcadores e apontar quais conduzem o diagnóstico de AFI. METODOLOGIA Este estudo foi realizado na cidade de Recife-PE, no período entre fevereiro e outubro de 2018, foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro de Ciências da Saúde (CCS/ UFPB), CAAE 00455318.1.0000.5188 e seguiu as recomendações éticas da Plataforma Brasil, da Resolução do Conselho Nacional de Saú- de (CNS) 510/16, assim como, as normas estabelecidas pela Coordenação de Fono- audiologia em 2016, COORDFONO/CCS Nº 01/201. A população estudada foi composta por 12 crianças, sendo 10 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, com idades entre 4 a 10 anos, todas com alterações de fala e lin- guagem. As crianças foram atendidas entre 2015 a 2018. O presente estudo tem caráter documental, retrospectivo de abordagem qualitativa. O estudo tem como variáveis in- dependentes sexo, idade e comorbidades e as variáveis dependentes são os marcado- res históricos e desenvolvimentais. A amos- tra foi composta pela documentação clínica das crianças com diagnóstico de AFI. Os pais das crianças assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclareci- do autorizando a participação da criança e a utilização dos dados clínicos da criança na pesquisa. A documentação clínica das crianças continha dados pessoais, dados de entrevis- ta inicial e dados da avaliação fonoaudioló- gica que envolvem os aspectos clínicos da motricidade orofacial, linguagem não ver- bal, desenvolvimento dos níveis linguísticos (pragmática, semântica, fonologia e morfos- sintaxe), habilidades motoras de fala, psico- motricidade global e fina, comportamento, leitura, escrita e desenho. Para análise dos dados coletados,
  • 6. RODRIGUES et al. 58 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 nesta pesquisa foi utilizada a metodologia de análise qualitativa tipológica e categorial de temática aprofundada: (1) compilação de da- dos documentais; (2) descrição e tabulação de dados diagnósticos de AFI e das variáveis sexo, idade e comorbidades; (3) compilação de dados desenvolvimentais globais e lin- guísticos, assim como histórico familiar; (4) dados comportamentais a partir dos dados obtidos pelos instrumentos de rastreio; (5) análise qualitativa dos descritores desenvol- vimentais e históricos. RESULTADOS E DISCUSSÃO O Gráfico 1 mostra os marcadores desenvolvimentais distribuídos em catego- rias, mostrando a frequência em que cada um apareceu nos dados de anamnese con- tidos nas documentações clínicas das crian- ças analisadas. Foram estabelecidas 14 categorias de marcadores desenvolvimentais, sendo 3 do desenvolvimento linguístico inicial e 11 do desenvolvimento global da criança. Dentre as 12 crianças, os marcadores mais ocorren- tes foram: atraso no desenvolvimento da fala (9 sujeitos), seletividade alimentar e quietude do bebê (ambas em 4 sujeitos). Em apenas uma das crianças não houve relatos de mar- cadores desenvolvimentais, nas demais, ha- via relatos de mais de um marcador descrito. A ASHA2 descreve uma lista de ca- racterísticas que podem ser encontradas em crianças com AFI no estágio pré-lexical. Dentre essas características estão descritas dificuldades no balbucio, balbucio menos frequente que seus pares tipicamente em desenvolvimento, balbucio menos maduro e complexo, além de problemas alimentares e comportamento quieto. Esses dados foram identificados nos relatos de anamnese das crianças estudadas. Como descrito ante- riormente, das 12 crianças, duas realizavam poucas vocalizações quando bebê, quatro apresentaram ausência de vocalizações quando bebê, quatro apresentaram seletivi- dade alimentar e duas apresentaram ausên- cia ou poucos dias de amamentação. Foi possível identificar marcadores desenvolvimentais que não estão descritos na literatura em relação com AFI, o que pede a realização de outros estudos mais detalha- dos. Dentre esses marcadores, estão: uso de chupeta, intercorrências no parto, demora a andar, dificuldades motoras, bebê agitado, ausência de atenção compartilhada, ausên- cia de conduta imitativa e dificuldades em manter contato visual. Os marcadores históricos foram dis- tribuídos em categorias, mostrando a sua fre- quência nas crianças. Foi possível observar que, dentre as sete crianças que apresenta- ram marcador histórico, duas apresentavam histórico familiar de alterações neurodesen- volvimentais (como transtorno do espectro do autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e duas apresentam históri- co familiar de alterações de fala e linguagem e de alterações neurodesenvolvimentais. AASHA1 define a AFI como sendo um transtorno de origem neurológica e que pode está relacionada comorbidamente a altera- ções neurodesenvolvimentais, o que leva a identificar marcadores históricos não só de alterações de fala e linguagem, mas também alterações neurodesenvolvimentais que pos- sam estar presentes em familiares de crian-
  • 7. APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS 59 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 Gráfico 2 – Marcadores históricos que ocorreram nas crianças. 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5 Histórico familiar de alterações de fala e linguagem Histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais ou neurocomportamentais Histórico familiar de alterações de fala e linguagem e de alterações neurodesenvolvimentais Crianças sem relatos de marcadores históricos A ASHA1 define a AFI como sendo um transtorno de origem neurológica e que pode está relacionada comorbidamente a alterações neurodesenvolvimentais, o que leva a identificar marcadores históricos não só de alterações de fala e linguagem, mas também alterações neurodesenvolvimentais que possam estar presentes em familiares de crianças com AFI. Foi possível observar histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais em 4 das 12 crianças. Os marcadores históricos, desenvolvimentais e comportamentais são os principais marcadores que conduzem o diagnóstico de AFI7 , o que foi observado na análise das do- cumentações clínicas das crianças. Todas as crianças apresentaram marcadores históricos e desenvolvimentais em seus dados, sendo seis apenas com marcadores desenvolvimentais, duas apenas com marcadores históricos e quatro com os dois tipos de marcadores. Gráfico 1 – Marcadores desenvolvimentais que ocorreram nas crianças. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Dificuldades em manter contato visual Ausência de conduta imitativa Ausência de atenção compartilhada Bebê agitado Bebê quieto Dificuldades motoras Demorou a andar Parto com intercorrências Chupa ou chupou chupeta Ausência ou poucos dias de amamentação Seletividade alimentar Ausência de vocalizações Poucas vocalizações Demorou a falar A ASHA2 descreve uma lista de características que podem ser encontradas em crianças com AFI no estágio pré-lexical. Dentre essas características estão descritas dificuldades no balbucio, balbucio menos frequente que seus pares tipicamente em desenvolvimento, balbucio menos maduro e complexo, além de problemas alimentares e comportamento quieto. Esses dados foram identificados nos relatos de anamnese das crianças estudadas. Como descrito anteriormente, das 12 crianças, duas realizavam poucas vocalizações quando bebê, quatro apresentaram ausência de vocalizações quando bebê, quatro apresentaram seletividade alimentar e duas apresentaram ausência ou poucos dias de amamentação. Foi possível identificar marcadores desenvolvimentais que não estão descritos na literatura em relação com AFI, o que pede a realização de outros estudos mais detalhados. Dentre esses marcadores, estão: uso de chupeta, intercorrências no parto, demora a andar, dificuldades motoras, bebê agitado, ausência de atenção compartilhada, ausência de conduta imitativa e dificuldades em manter contato visual. Os marcadores históricos foram distribuídos em categorias, mostrando a sua frequência nas crianças. Foi possível observar que, dentre as sete crianças que apresentaram marcador histórico, duas apresentavam histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais (como transtorno do espectro do autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e duas apresentam histórico familiar de alterações de fala e linguagem e de alterações neurodesenvolvimentais. ças com AFI. Foi possível observar histórico familiar de alterações neurodesenvolvimen- tais em 4 das 12 crianças. Os marcadores históricos, desenvol- vimentais e comportamentais são os princi- pais marcadores que conduzem o diagnós- tico de AFI7 , o que foi observado na análise das documentações clínicas das crianças. Todas as crianças apresentaram marcado- res históricos e desenvolvimentais em seus dados, sendo seis apenas com marcadores desenvolvimentais, duas apenas com marca- dores históricos e quatro com os dois tipos de marcadores.
  • 8. RODRIGUES et al. 60 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 Destaca-se que, entre as 12 crianças, quatro não apresentaram dados de fala, sen- do dois com TEA e as outras não-verbais. Os marcadores históricos, desenvolvimentais e comportamentais, nessas crianças, foram cruciais para conduzir o diagnóstico de AFI. As outras oito crianças apresentam dados de fala que, somados aos dados históricos, desenvolvimentais e comportamentais, guia- ram o diagnóstico. O modelo integrativo7 enfatiza a im- portância dos marcadores comportamentais, desenvolvimentais e históricos para auxiliar o diagnóstico de AFI, visto que outros mar- cadores validados, como o de fala, não são viáveis a depender da idade da criança. A partir dos protocolos clínicos ana- lisados, foram encontrados 49 marcadores comportamentais, alguns mais frequentes que outros. No total de 12 crianças, os mar- cadores comportamentais mais frequentes foram impulsividade, agitação psicomotora, quietude exacerbada e irritação (Tabela 1). Em um estudo9 que utilizou o CBCL para avaliação dos problemas emocionais e comportamentais de crianças e adolescen- tes, os problemas de comportamento foram distribuídos em duas grandes escalas que envolviam comportamentos externalizantes, tais como problemas de sociabilidade, de atenção, violação de regras e comporta- mento agressivo, e comportamentos inter- nalizantes, tais como ansiedade-depressão, retraimento-depressão, queixas somáticas e problemas com o pensamento. É possível perceber que não existe diferença considerável entre a quantidade de marca- dores distribuídos em suas categorias, visto que 24 marcadores enquadraram-se na ca- tegoria de comportamentos internalizantes e 25 na categoria de comportamentos exter- nalizantes. Os descritores comportamentais que podem participar da condução do diagnósti- co de AFI são os que foram mais frequentes na população com diagnóstico de AFI inves- tigada: é impulsivo(a) ou age sem pensar, agitação psicomotora, quieto(a), irritado(a), gosta de estar sozinho(a), dificuldade em manter contato visual, desatento(a), tími- do(a), parece não ouvir, comportamentos não-funcionais e desastrado(a). Esses descritores podem ser con- gruentes com transtornos como o TDAH, transtorno de conduta (TC) e com o TEA, que são transtornos com alta taxa de relação de comorbidade com a AFI, estando os dados aqui obtidos em concordância com a litera- tura internacional atualizada na área. Esse resultado mostra a necessidade de as esca- las como SNAP-IV, para rastreio de TDAH, e outras específicas para rastreio do TEA, como a M-CHAT, CARS ou mesmo o CBCL, enquanto inventário mais amplo, podem e precisam ser adotadas na rotina fonoaudio- lógica para avaliação comportamental e me- lhor descrição dos dados de comportamento das crianças, usando uma terminologia con- sistente e congruente com a utilizada nos manuais diagnósticos como o DSM-V10 e o CID-10. O instrumento mais utilizado foi o CBCL, seguido pelo SNAP-IV. Sendo que 9 dos 12 protocolos clínicos priorizaram o CBCL para identificação dos marcadores e, dentre esses, 2 também utilizaram o SNAP- -IV pela alta prevalência de sintomas hiper- cinéticos e de dificuldades de atenção. Em
  • 9. APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS 61 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 Tabela 1 – Marcadores comportamentais ocorrentes nas crianças. MARCADORES COMPORTAMENTAIS n É impulsivo(a), ou age sem pensar 5 Agitação psicomotora 5 Quieto(a) 5 Irritado(a) 5 Gosta de estar sozinho(a) 4 Dificuldade em manter contato visual 4 Desatento(a) 4 Tímido(a) 3 Parece não ouvir 3 Comportamentos não-funcionais 3 Desastrado(a) 3 Pouco ativo(a), move-se com lentidão, tem falta de energia 2 Olha no espaço por longos períodos de tempo 2 Tem problemas para dormir 2 Não desenvolve amizades 2 Tenso(a) 2 Requer muita atenção 2 Chora muito 2 Grita muito 2 Fica confuso(a) ou parece ficar sem saber onde está 2 Distraído(a) 2 Problemas de comportamento na escola 2 Preocupa-se muito 1 Ideias persistentes e inadequadas para a idade 1 Medo de determinados animais, situações ou lugares 1 Acha que deve ser perfeito(a) 1 É infeliz, triste ou deprimido(a) 1 Muitas vezes assustado(a) ou muito ansioso(a) 1 Choraminga 1 Sente-se muito culpado(a) 1 Movimentos nervosos/tiques 1 Assustado(a) 1 Não segue instruções até o fim e tem dificuldade em persistir 1 Esquecido(a) 1 Corre demais e sobe em coisas em situações inapropriadas 1 Fala rápido 1 Não usa brinquedos apropriadamente 1 Fala muito alto 1 Estereotipias verbais e motoras 1 Agarra-se demais aos adultos ou é muito dependente 1 Baixo limiar para frustração 1 Cansa-se muito 1 Come muito 1 Mostra-se pouco à vontade ou facilmente embaraçado(a) 1 Fixa em partes de objetos 1 Agitado(a) 1 Desobediente 1 Perturba os outros 1 Tem dificuldades nos trabalhos escolares 1 Total de marcadores analisados 49 Em um estudo9 que utilizou o CBCL para avaliação dos problemas emocionais e comportamentais de crianças e adolescentes, os problemas de comportamento foram distri-
  • 10. RODRIGUES et al. 62 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 apenas um dos protocolos clínicos não havia relatos de queixas comportamentais. Neste caso, marcadores de fala guiaram o diagnós- tico de AFI. Vale destacar que tais instrumentos foram utilizados porque já havia preocupa- ção com o rastreio de comorbidades, desde uma publicação7 sobre o modelo integrativo, mas não é uma prática ainda amplamente adotada. Essa prática precisa ser rotineira na Fonoaudiologia. A amostra foi pequena e de apenas um serviço, que já considera a práti- ca importante. É necessário que seja feito um estudo em maior escala, com maior amostra e mais heterogênea, para que a realidade sobre o uso de instrumentos de rastreio seja bem retratada. A proposta aqui foi mostrar a utilidade desses instrumentos, como forma inicial de abordar o tema. Um diagnóstico seguro e precoce pode conduzir crianças com AFI a uma abor- dagem terapêutica apropriada, uma vez que terapias tradicionais de base puramente fo- nológica não são muito bem sucedidas para crianças com AFI11 . 0 0,5 1 1,5 2 2,5 Histórico familiar de alterações de fala e linguagem e de alterações neurodesenvolvimentais Crianças sem relatos de marcadores históricos A ASHA1 define a AFI como sendo um transtorno de origem neurológica e que pode está relacionada comorbidamente a alterações neurodesenvolvimentais, o que leva a identificar marcadores históricos não só de alterações de fala e linguagem, mas também alterações neurodesenvolvimentais que possam estar presentes em familiares de crianças com AFI. Foi possível observar histórico familiar de alterações neurodesenvolvimentais em 4 das 12 crianças. Os marcadores históricos, desenvolvimentais e comportamentais são os principais marcadores que conduzem o diagnóstico de AFI7 , o que foi observado na análise das do- cumentações clínicas das crianças. Todas as crianças apresentaram marcadores históricos e desenvolvimentais em seus dados, sendo seis apenas com marcadores desenvolvimentais, duas apenas com marcadores históricos e quatro com os dois tipos de marcadores. Gráfico 3 – Distribuição dos marcadores desenvolvimentais e históricos. Marcadores desenvolvimentais Marcadores históricos Ambos buídos em duas grandes escalas que envolviam comportamentos externalizantes, tais como problemas de sociabilidade, de atenção, violação de regras e comportamento agressivo, e comportamentos internalizantes, tais como ansiedade-depressão, retraimento-depressão, queixas somáticas e problemas com o pensamento. Gráfico 4 – Distribuição dos marcadores comportamentais nas duas escalas. 20 21 22 23 24 25 Comportamentos internalizantes Comportamentos externalizantes É possível perceber que não existe diferença considerável entre a quantidade de marcado- res distribuídos em suas categorias, visto que 24 marcadores enquadraram-se na categoria de comportamentos internalizantes e 25 na categoria de comportamentos externalizan- tes.
  • 11. APRAXIA DE FALA DA INFÂNCIA E MARCADORES HISTÓRICOS, DESENVOLVIMENTAIS E COMPORTAMENTAIS 63 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 CONCLUSÃO O estudo demonstrou que os marca- dores desenvolvimentais e históricos podem guiar o diagnóstico de AFI, principalmente em crianças pequenas e/ou não verbais em que não é possível identificar marcadores de fala. Também foi possível perceber que em crianças maiores e verbais os marcadores desenvolvimentais e históricos somados aos marcadores de fala garantem um diagnóstico mais confiante. A maior presença de marcadores de- senvolvimentais em relação aos históricos se deve à presença de comorbidades e à falta de informações quanto ao histórico familiar por parte dos informantes. Assim, este estu- do ressalta a importância da anamnese de- talhada e dinâmica, para que dados desen- volvimentais, históricos e comportamentais façam parte, efetivamente, do processo de avaliação e diagnóstico. Este estudo enfatizou a importância de se adotar escalas ou instrumentos de rastreio para avaliação comportamental e melhor descrição dos dados de comporta- mento das crianças, contendo descritores formais congruentes com aqueles utilizados em manuais diagnósticos como o DSM-V e o CID-11, para facilitar o rastreio de comorbida- des e de alterações de comportamento nas crianças, visto que, os marcadores compor- tamentais mais frequentes aqui encontrados serviram para conduzir o diagnóstico de AFI, facilitando um diagnóstico diferencial preco- ce e um encaminhamento eficaz, principal- mente em crianças menores ou não-verbais em que não é possível avaliar com base em marcadores clínicos de fala. Um diagnóstico seguro e precoce pode conduzir crianças com AFI a uma abor- dagem terapêutica apropriada, uma vez que terapias tradicionais de base puramente fo- nológica não são muito bem sucedidas para crianças com AFI. REFERÊNCIAS 1. American Speech-Language-Hearing Association. Child- hood apraxia of speech [Technical report]. North Caro- lina, 2007. Disponível em: <http://www.asha.org/policy>. Acesso em: 24 mar. 2018. 2. American Speech-Language-Hearing Association. Speech Sound Assessment and Intervention Module. North Carolina, 2012. Disponível em: <https://www.asha. org/policy>. Acesso em: 24 mar. 2018. 3. Shriberg LD, Lohmeier HL, Strand EA, Jakielski KJ. En- coding, memory, and transcoding deficits in Childhood Apraxia of Speech. Clinical Linguistics & Phonetics 2012; 26(5):445-82. 4. Ozanne A. Childhood Apraxia of Speech. In: Dodd B. Differencial Diagnosis and Treatment of Children with Speech Disorder. 6ª ed. Cornwall: Whurr Publishers; 2005, p. 71-82. 5. Zaretsky E, Velleman, SL, Curro K. Through the magni- fying glass: underlying literacy deficits and remediation potential in childhood apraxia of speech. International Journal of Speech-Language Pathology 2010; 12:58-68. 6. Shriberg LD, Potter NL. Childhood apraxia of speech in children and adolescents with galactosemia. Paper pre- sented at the American Speech-Language-Hearing Asso- ciation National Convention. New Orleans, nov. 2009. 7. Shriberg LD, Strand EA, Fourakis M, Jakielski KJ, Hall SD, Karlsson HB et al. A Diagnostic Marker to Discrimi- nate Childhood Apraxia of Speech From Speech Delay: Introduction. Journal Of Speech Language And Hearing Research 2017; 60(4):1094-1095. 8. Willfors C. Identification of biobehavioral markers of neu- rodevelopmental disorders in twins. Thesis for doctoral degree - Karolinska Institutet, Stockholm, 2017. 9. Emerich DR, Rocha MM, Silvares EFM, Gonçalves JP. Diferenças quanto ao gênero entre escolares brasileiros avaliados pelo inventário de comportamentos para crian- ças e adolescentes (CBCL/6-18). Psico 2012; 43(3):380- 387. 10. American Psychiatric Association. DSM-V: Manual diag- nóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed Editora; 2014.
  • 12. RODRIGUES et al. 64 R bras ci Saúde Suplemento:53-64, 2019 11. Murray E, Iuzzini-Seigel, J. Efficacious Treatment of Chil- dren With Childhood Apraxia of Speech According to the International Classification of Functioning, Disability and Health. Perspectives of the ASHA Special Interest Groups 2017; 2. CORRESPONDÊNCIA Ana Carla Estellita Vogeley Departamento de Fonoaudiologia – Universidade Federal da Paraíba – UFPB Campus I. Cidade Universitária, s/n - Conj. Pres. Castelo Branco III, João Pessoa - PB, Cep: 58051-900. E-mail: anacarla.vogeley@gmail.com