PROJETO DE EXTENSÃO I - AGRONOMIA.pdf AGRONOMIAAGRONOMIA
Ditadura militar nas narrativas escolares
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ
PEDAGOGIA
A DITADURA MILITAR NAS
NARRATIVAS DIDÁTICAS
História do Brasil
Professor: Edilson Mateus
2. INTRODUÇÃO
● O que é a narrativa histórica escolar?
● Como esta é elaborada?
● Qual a finalidade da disciplina história no currículo escolar?
● Qual lugar a memória ocupa na definição curricular dos conteúdos
dessa disciplina?
Essas considerações foram levantadas para apresentar tendências observadas ao comparar
as narrativas presentes em textos principais de livros didáticos de história. A autora analisa
a linguagem desses textos para analisar as narrativas sobre a ditadura militar e apresentar
algumas tendências presentes relativas à produção de sentidos.
ROCHA, Helenice. A ditadura militar nas narrativas didáticas. In ROCHA, Helenice; MAGALHÃES, Marcelo; REZNIK, Luis.
Livros didáticos de História: entre políticas e narrativas. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2017.p.(245)-(268).
3. Narrativa histórica e Narrativa ficcional
● Narrativa histórica:
○ Texto expositivo de caráter factual, tratado a partir de uma perspectiva analítica;
○ Compromisso em ampliar o conhecimento sobre os homens em sua relação com o tempo a partir da crítica
documental
○ Efeito de realidade, promove a crença de que se refere a coisas que aconteceram de certa forma e se tornaram
importantes para a coletividade.
● Narrativa histórica escolar:
○ Síntese didática
○ Contribui para o ensinar e o aprender
○ Narra o que aconteceu a partir de textos já produzidos
4. Sentidos da ditadura no Brasil
● Foram analisados 3 livros publicados no período entre 1969 e 1978:
● Neles não há menção à palavra "ditadura"
ou referências ao golpe de estado;
● Os títulos e menções da época tratam o
período como a "República Nova", nos
livros de Ilmar Mattos, Sérgio Buarque e
seus colaboradores;
● O golpe é mencionado como “Deposição de
João Goulart” no primeiro livro e como “O
Movimento de 31 de março de 1964” no
segundo;
● Armando Souto apresenta o golpe militar
como “Revolução Gloriosa” no capítulo “
A redemocratização do país";
● A denominação “ditadura militar” só
passou a ser utilizada nos títulos e livros
didáticos a partir do reconhecimento do
período como ditadura;
● Ao longo da década de 80, as narrativas
sobre a ditadura foram se transformando;
● Nesse momento os livros começam a
afirmar a existência do período ditatorial,
porém, alguns deles introduzindo de forma
tímida o assunto.
5. Sentidos da ditadura no Brasil
● Foram analisados 3 livros publicados no período entre 1969 e 1978:
● Os livros didáticos necessitam constituir uma narrativa que sintetize a história e
inclua o processo em sua narrativa maior;
● Nos parâmetros colocados, as narrativas tratam de um tema traumático e recente,
construído com elementos da memória e reflexão histórica da experiência;
● Tratam da experiência dos sujeitos, memória e da reflexão histórica sobre a
experiência do período ditatorial.
6. A Narrativa sobre a ditadura militar nos livros didáticos
● A composição dos livros didáticos apresentam
uma sequência que se inicia nos seus
antecedentes;
● Se inicia na crise do governo João Goulart, que
teria provocado o golpe, e se desenvolve em
período ditatorial e destaca os presidentes da
república do período;
● As narrativas sobre a ditadura também
apresentam aspectos políticos e econômicos da
época e termina com a posse de Tancredo Neves
em 1985;
● A narrativa se desenvolve de diversas formas
em apenas um capítulo, em capítulos separados
ou capítulos alternados com capítulos sobre a
história mundial;
● Foram analisadas 15 coleções:
● Na produção de sentidos, a separação em capítulos
diversos, bem como a alternância entre a história
nacional e mundial pode dificultar a compreensão
do enredo, exigindo do leitor diversas
recapitulações e repetições, o que é realizado em
parte nas narrativas das coleções;
● A leitura é um aspecto que exige uma bagagem
experiencial do aluno para estabelecer nexos entre
capítulos dedicados à história do país e mundial;
● Quando essa exigência não se realiza, o aluno se
vê em uma ditadura que se inicia sem motivos e
sem explicações;
● Se a história integrada responde no âmbito
didático e histórico, por outro, pode comprometer
a compreensão na leitura da narrativa.
7. A crise no governo Jango
● As narrativas passam a ideia de que a
situação que antecede o golpe se trata de
uma crise generalizada;
● As coletâneas apresentam esse fato de
formas diferentes, principalmente ao
tratamento discursivo das forças sociais;
● As narrativas são construídas uma
sequência que se inicia quando Jango é
empossado após renúncia de Jânio Quadros
em uma crise institucional;
● Além disso, algumas narrativas mencionam
reações de grupos que apoiaram, ou
discordaram das ações de jango;
● Em outras narrativas há a presença de
tendências ideológicas de correntes políticas e
econômicas, ao lado de nomes atuantes no
desenrolar dos acontecimentos;
● Com essa diversidade de atores que representam
vários graus de abstração, os alunos da escola
básica ainda não conhecem as possíveis relações
entre eles. Diante disso, percebe-se a dificuldade
potencial para o trabalho de conferir os sentidos
dos fatores que proporcionaram a ditadura
militar no país.
8. A crise no governo Jango
● As narrativas presentes na maior parte dos
livros não apresentam uma associação direta
dos setores conservadores;
● E dos setores de vanguarda, são apresentados
como preocupados com a melhoria das
condições de vida dos segmentos populares;
● Essas lacunas são preenchidas de forma
heterogênea pelas coleções;
● O potencial de produção de sentidos presentes
nessas narrativas sugere ao leitor mais uma
confusão do que uma polarização política e
social;
● Existem lacunas de sentido a serem preenchidas pelo
leitor, que não discerne os movimentos dos
protagonistas e antagonistas desse enredo e suas
relações com o golpe;
● A narrativa escolar tenta sintetizar essas explicações
divergentes de forma inteligível para o aluno.
Algumas coleções investem em transitar entre o
evento e a estrutura;
● Apesar de todas as narrativas apresentarem a crise
do governo jango como o estopim da ditadura, a
forma de construção do enredo e seus
desdobramentos, em muitas delas há o
estabelecimento de sentido, repercutindo na
compreensão das sequências que causaram o golpe.
9. Os Sujeitos e suas ações
● A participação da sociedade civil é pouco
mencionada;
● Sujeitos elencados na crise do governo João
Goulart: “elite” econômica e política conservadora;
● Termo utilizado: Golpe civil-militar;
● A partir de então, militares tornam-se os sujeitos;
● Manifestantes são eleitos como representantes da
presença e participação como oposição da sociedade
civil.
● Narrativas desenvolvidas a partir da sucessão
de presidentes, conforme a tradição escolar
sobre o período republicano;
● O conjunto de generais é apresentado com
suas realizações
● Utilizam a categorização “linha moderada” e
“linha dura”
● Algumas obras apresentam épocas: “anos de
chumbo”, “milagre econômico”, “transição”
ou “abertura”
“As coleções silenciam sobre o possível consentimento social às ações atribuídas à linha dura dos militares” (p.
259).
Percebe-se o movimento da narrativa: no primeiro momento a sociedade civil é representada. A seguir, cria-se e
desaparece o movimento de luta armada em decorrência do endurecimento do regime.
O potencial de sentido das narrativas sobre a ditadura é afetado pela intertextualidade com a produção
historiográfica, que por sua vez é afetada pela vivência e necessidade de posicionamento diante dos
acontecimentos.
10. O desfecho da ditadura
Apesar de 21 anos de ditadura, os militares
sempre tiveram de enfrentar uma forte oposição
na sociedade. Essa oposição manifestou-se na
política, nas artes, igrejas, no esporte e etc.
Desde o começo do regime, manifestações contra
os militares aconteceram e foram violentamente
reprimidas. O ciclo de 1964 a 1968 ficou marcado
por manifestações gigantescas de estudantes e de
trabalhadores.
11. Diretas Já
● Diretas Já foram um movimento que defendia a aprovação da Emenda Dante de Oliveira, que
tentava alterar a Constituição para que fossem realizadas eleições presidenciais diretas em
1985.
● Os comícios das Diretas reuniram milhares de pessoas e unificaram a oposição à ditadura.
● A Emenda Dante de Oliveira foi derrotada na Câmara dos Deputados, e as eleições de 1985
foram realizadas de forma indireta e mediante Colégio Eleitoral.
● A união das oposições durante as Diretas se materializou na eleição de Tancredo Neves pelo
Colégio Eleitoral.
12. O dissenso Historiográfico e o concenso escolar
● A autora sustenta que, diferentemente da exigência crítica da história de
matiz acadêmico, existe uma expectativa social de que a história escolar
apresente aos alunos uma narrativa com princípio, meio e fim, em que a
sequência causal esteja clara para seu público e os pontos de dissenso sejam
superados em favor das finalidades sociais do seu ensino.
● Ao analisar o tratamento do tema da ditadura militar no Brasil nas
narrativas de livros didáticos de história do Ensino Fundamental, é possível
concluir que elas atendem à finalidade social de apresentação de uma
história compreensível às novas gerações, porém com algumas lacunas e
incongruências relativas a mecanismos internos e externos ao texto.
13. Referências
Rocha, H. A ditadura militar nas narrativas didáticas. In: Livros didáticos de história: entre
políticas e narrativas. Rocha, Helenice; Reznik, Luis e Magalhães, Marcelo de Souza (org). Rio
de Janeiro, FGV, 2017. P. 245-268.