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O movimento estudantil brasileiro tem demonstrado ao longo dos últimos
anos sua capacidade de mobilização e luta: as ocupações das Reitorias em 2007-
08, pela luta contra o fim da autonomia universitária e o projecto do REUNI
para a reforma universitária são os principais motes atuais dos estudantes,
organizando manifestações e discutindo o projecto de universidade pretendida
pelo Governo Federal e pelas instituições financeiras internacionais e o modelo
de universidade pretendidas pelos estudantes. Não menos importante observar o
movimento atual é conhecer a rica história do movimento estudantil, em vários
contextos e regiões por todo o país. Isso implica em relacionar a universidade,
os estudantes, os contextos e especificidades dos movimentos, os movimentos
políticos e os processos de mudança no ensino superior.
Resultado do projecto “A Engenharia Nacional, os Estudantes e a
Educação Superior: A Memória Reabilitada (1930-85)”, a obra constitui um
trabalho árduo de entrevistas e recolha de memórias estudantis da Escola de
Engenharia de Pernambuco (EEP – UFPE) e da Escola de Minas de Ouro Preto
(UFOP), relacionado com outros contextos estudantis, como o das repúblicas
da Universidade de Coimbra. O resgate da memória de militantes estudantis
dos anos 1960 consiste em um panorama ampliado do movimento, seguindo
os caminhos da tradição estudantil e o engajamento político.
204204
Resenhas
O livro, dividido em quatro partes, apresenta uma linha condutora central:
a retomada das memórias estudantis e de movimentos sociais de 1950 a 1975,
através da participação de antigos militantes e estudantes, no período da Ditadura
Militar, sobretudo do norte e nordeste brasileiro. Não menos importante é a
referência à diversos nomes conhecidos pela militância nos tempos da UNE
e pela construção do debate político e ideológico brasileiro – de Dom Hélder
Câmara a José Serra, passando pela Acção Popular, Juventude Universitária
Católica, Partido Comunista Brasileiro – personagens que estiveram presentes
na luta pela derrocada militar e a construção democrática do país e que hoje, são
referências para a história do movimento, sobretudo, àqueles que se tornaram
símbolos da repressão militar, como o estudante-trabalhador secundário Edson
Luiz, morto no restaurante do Calabouço – RJ, no dia 28 de Março de 1968,
num dos confrontos entre a polícia e os estudantes. Retrato da participação
dos estudantes “[...] em um período de lutas e esperanças, rico em idealismos,
sonhos, experiências e aprendizados, apesar de todos os riscos, de todos os
momentos de tensão, perseguição e decepção.” (p.55).
A primeira parte é centrada na relação da universidade e seus movimentos,
políticos, culturais, que relacionam a construção de uma identidade política
dos estudantes, em meio às mobilizações no período militar. O depoimento
de Tânia Bacelar aponta o início da Escola de Engenharia da UFPE e o
projecto desenvolvimentista militar da SUDENE (Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste). Essa ideia poderia ser melhor ampliada no
carácter geral da pesquisa, já que o projecto favoreceu a formação de quadros
técnicos e profissionais, alterando a estrutura de classes da região nordeste,
sobretudo em suas camadas medianas. Luíz Costa Lima relembra o inicio do
movimento estudantil no Recife marcado pelas influências ideológicas de Paulo
Freire e a terceira via, diante da indefinição ideológica do Partido Comunista
diante da indefinição bipolar do socialismo real e do capitalismo de consumo.
O depoimento de Jurandir Freire Costa aponta o engajamento dos militantes
católicos na alfabetização popular e seu exílio posterior. Finalmente, Lauro
Morhy apresenta a trajetória dos estudantes-trabalhadores e a formação do
movimento estudantil do Recife no contexto nacional, marcado pela disputa
entre os grupos políticos – do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Ação
Popular, Política Operária (POLOP) – e a conquista da UNE pela AP, na
presidência de José Serra, e a clandestinidade que se abateu sobre os grupos de
esquerda e desestruturação do movimento estudantil pós-64.
205
Cadernos de Campo
205
Os dois outros capítulos de análise histórica, de Simone Tenório Rocha e
Silva e Maria de Lourdes Fávero recorrem sobretudo a fontes primárias e fontes
oficiais e dos média para construir um panorama da rebeldia, contestação e o
silenciamento pós-68 e as alterações nas reformas universitárias posteriores. O
primeiro constrói a argumentação do processo de manifestação e consequente
silenciamento do movimento estudantil em Pernambuco e em nível nacional,
apontando a forte incidência da repressão militar sobre os estudantes,
praticamente desestruturando suas ações posteriores. O segundo, propõe-se
a apontar o processo de discussão da reforma universitária, de 1958 a 1968,
“[...] o papel da universidade na sociedade brasileira, a busca da autonomia
universitária, a estrutura organizacional das instituições universitárias [...]”
(p.85), entre outros pontos. Em ambos, o tom da desestruturação do movimento
estudantil pós-68 é evidente, na medida que assinala um momento de ruptura
de um movimento memorável das décadas anteriores. Entretanto, essa ruptura
política (imbricada de ruptura geracional), enevoa as experiências da esquerda
e da classe trabalhadora nos anos seguintes, sendo a UNE o ponto de referência
institucional por excelência e a Ditadura Militar o grande ensurdecedor.
A segunda parte é conduzida pelo tema dos estudantes e os movimentos
políticos, apresentando a participação dos grupos políticos do PCB, AP e
PCBR e suas experiências pessoais, momento em que observamos as influências
ideológicas na construção da esquerda brasileira. Destaque ao artigo de
Elimar Nascimento, militante da AP, apontando a prática da conscientização
quotidiana e a prática política do grupo na UNE, sob a perspectiva da terceira
via, do humanitarismo cristão das ideias de Jacques Mariatan. Suscita-nos uma
questão não menos pertinente: saber como se deu a influência dessas correntes
na formação ideológica dos movimentos sociais, nomeadamente, do MST.
Novamente a necessidade de compreender melhor o momento seguinte, as
configurações políticas no campo da esquerda brasileira, sobretudo nas décadas
de 1970 e 1980.
Na terceira parte, os artigos tratam da relação entre os estudantes e a
universidade, retomando a experiência da vida universitária, a perspectivas
colectivas e subjectivas, o interesse dos norte-americanos na UFPE através
da CIA, o discurso do movimento estudantil e os aspectos sócio – históricos
do ensino superior brasileiro. A experiência dos estudantes portugueses nas
centenárias repúblicas da Universidade de Coimbra também é observada
através da construção da experiência diária dos estudantes, das suas definições
206206
Resenhas
identitárias, culturais e políticas. Em caracter quase isolado – quanto ao ponto
de vista do corpo do livro – o artigo de Aníbal Frias toca num ponto subjacente
a objetivação política dos estudantes: a experiência subjectiva no ambiente
quotidiano, a vivência estudantil. A sequência argumentativa pode ser encontrada
no artigo de Machado et al, nomeadamente, através da análise da juventude,
como “construção sociocultural que ocorre num tempo histórico determinado”
(p.176), em meio aos impactos da reestruturação produtiva e da globalização
ser bastante sentida nos jovens, afectando suas realidades e perspectivas. Assim,
a experiência da chapa A Ciranda para o Diretório Central dos Estudantes da
UFPB significaria um re-encantamento cultural do movimento estudantil na
universidade, evidenciando através do seu discurso o caráter metafórico de sua
proposta política, de retomada das práticas do movimento estudantil. Embora
não seja evidenciado os grupos políticos dos quais fazem parte os estudantes,
encobertos pela análise do discurso, nomeadamente, estudantes independentes
e ainda ligados à UNE que estiveram nas ocupações da Reitoria da UFPE em
2007.
A última parte é destacada pela biografia do militante sessentista da EEP,
Rui Frazão Soares, militante da AP, de importante participação na construção do
movimento estudantil do recife. Finalmente, o artigo de Luís Antonio Groppo
fecha o livro, apresentando uma discussão da emergência das novas esquerdas
estudantis, a partir das dissidências do PCB, maoístas, trotskistas e da esquerda
católica, construindo uma práxis contra a ditadura militar. Em um segundo
momento, passa a evidenciar a radicalização do movimento de 1968, no contexto
de “uma onda mundial de revoltas”. Recorrendo tanto a fontes primárias quando
a bibliografia especializada, apresenta a UNE como uma entidade que abraçaria
uma “[...] nova visão sobre a relação entre estudantes e classes trabalhadoras,
abandonando aquele populismo de outrora [...]” (p.250).
Em suma, o trabalho tem uma boa qualidade na recolha de fontes
primárias e entrevistas e recorre à bibliografia especializada em alguns momentos.
Carece de um aprofundamento analítico maior, na medida em seria necessária
a compreensão dos movimentos estudantis também através das mudanças no
processo produtivo mundial e as transformações classistas desse período. Não
obstante, o processo de construção histórica do livro parte de uma análise
particular para compreender o movimento estudantil em âmbito nacional,
atingindo o objectivo de ampliar a discussão. Aponta também as modificações da
UNE em torno de suas posições políticas no período anterior a 68, entretanto, a
207
Cadernos de Campo
207
grande ênfase nesse período, apontado pela organização institucional estudantil,
afirma o argumento da interrupção do movimento estudantil marcado por forte
repressão e o exílio nos anos seguintes.
Embora esclarecedor do ponto de vista histórico, voltar a dúvida ao se
observar o movimento estudantil atual: em que medida pensar o movimento
estudantil brasileiro significa a constante retomada de 1968, ou de que maneira
se consegue perceber as configurações atuais do movimento (sobretudo da
aproximação dos estudantes com os movimentos sociais) sem desconsiderar sua
história, que passa pela história da UNE. O campo da história dos subalternos
poderia ser interessante para compreender os grupos minoritários da UNE, como
os trotskistas, muito pouco referenciados no estudo.
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Resenha de pablo almada sobre livro movimento estudantil brasileiro

  • 1. 203 Cadernos de Campo 203 ZAIDAN FILHO, Michel; MACHADO, Otávio Luiz (Org.). Movimento Estudantil Brasileiro e a Educação Superior. Recife: Ed. Universitária UFPE, 2007 Pablo Emanuel Romero ALMADA Doutorando em Democracia no Século XXI. UC- Un i ve r s i d a d e d e C o i m b ra . Pó s g ra d u a ç ã o e m Democracia no Século XXI. Coimbra-PT-Portugal. 3004-531-pabloera@gmail.com O movimento estudantil brasileiro tem demonstrado ao longo dos últimos anos sua capacidade de mobilização e luta: as ocupações das Reitorias em 2007- 08, pela luta contra o fim da autonomia universitária e o projecto do REUNI para a reforma universitária são os principais motes atuais dos estudantes, organizando manifestações e discutindo o projecto de universidade pretendida pelo Governo Federal e pelas instituições financeiras internacionais e o modelo de universidade pretendidas pelos estudantes. Não menos importante observar o movimento atual é conhecer a rica história do movimento estudantil, em vários contextos e regiões por todo o país. Isso implica em relacionar a universidade, os estudantes, os contextos e especificidades dos movimentos, os movimentos políticos e os processos de mudança no ensino superior. Resultado do projecto “A Engenharia Nacional, os Estudantes e a Educação Superior: A Memória Reabilitada (1930-85)”, a obra constitui um trabalho árduo de entrevistas e recolha de memórias estudantis da Escola de Engenharia de Pernambuco (EEP – UFPE) e da Escola de Minas de Ouro Preto (UFOP), relacionado com outros contextos estudantis, como o das repúblicas da Universidade de Coimbra. O resgate da memória de militantes estudantis dos anos 1960 consiste em um panorama ampliado do movimento, seguindo os caminhos da tradição estudantil e o engajamento político.
  • 2. 204204 Resenhas O livro, dividido em quatro partes, apresenta uma linha condutora central: a retomada das memórias estudantis e de movimentos sociais de 1950 a 1975, através da participação de antigos militantes e estudantes, no período da Ditadura Militar, sobretudo do norte e nordeste brasileiro. Não menos importante é a referência à diversos nomes conhecidos pela militância nos tempos da UNE e pela construção do debate político e ideológico brasileiro – de Dom Hélder Câmara a José Serra, passando pela Acção Popular, Juventude Universitária Católica, Partido Comunista Brasileiro – personagens que estiveram presentes na luta pela derrocada militar e a construção democrática do país e que hoje, são referências para a história do movimento, sobretudo, àqueles que se tornaram símbolos da repressão militar, como o estudante-trabalhador secundário Edson Luiz, morto no restaurante do Calabouço – RJ, no dia 28 de Março de 1968, num dos confrontos entre a polícia e os estudantes. Retrato da participação dos estudantes “[...] em um período de lutas e esperanças, rico em idealismos, sonhos, experiências e aprendizados, apesar de todos os riscos, de todos os momentos de tensão, perseguição e decepção.” (p.55). A primeira parte é centrada na relação da universidade e seus movimentos, políticos, culturais, que relacionam a construção de uma identidade política dos estudantes, em meio às mobilizações no período militar. O depoimento de Tânia Bacelar aponta o início da Escola de Engenharia da UFPE e o projecto desenvolvimentista militar da SUDENE (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste). Essa ideia poderia ser melhor ampliada no carácter geral da pesquisa, já que o projecto favoreceu a formação de quadros técnicos e profissionais, alterando a estrutura de classes da região nordeste, sobretudo em suas camadas medianas. Luíz Costa Lima relembra o inicio do movimento estudantil no Recife marcado pelas influências ideológicas de Paulo Freire e a terceira via, diante da indefinição ideológica do Partido Comunista diante da indefinição bipolar do socialismo real e do capitalismo de consumo. O depoimento de Jurandir Freire Costa aponta o engajamento dos militantes católicos na alfabetização popular e seu exílio posterior. Finalmente, Lauro Morhy apresenta a trajetória dos estudantes-trabalhadores e a formação do movimento estudantil do Recife no contexto nacional, marcado pela disputa entre os grupos políticos – do PCB (Partido Comunista Brasileiro), Ação Popular, Política Operária (POLOP) – e a conquista da UNE pela AP, na presidência de José Serra, e a clandestinidade que se abateu sobre os grupos de esquerda e desestruturação do movimento estudantil pós-64.
  • 3. 205 Cadernos de Campo 205 Os dois outros capítulos de análise histórica, de Simone Tenório Rocha e Silva e Maria de Lourdes Fávero recorrem sobretudo a fontes primárias e fontes oficiais e dos média para construir um panorama da rebeldia, contestação e o silenciamento pós-68 e as alterações nas reformas universitárias posteriores. O primeiro constrói a argumentação do processo de manifestação e consequente silenciamento do movimento estudantil em Pernambuco e em nível nacional, apontando a forte incidência da repressão militar sobre os estudantes, praticamente desestruturando suas ações posteriores. O segundo, propõe-se a apontar o processo de discussão da reforma universitária, de 1958 a 1968, “[...] o papel da universidade na sociedade brasileira, a busca da autonomia universitária, a estrutura organizacional das instituições universitárias [...]” (p.85), entre outros pontos. Em ambos, o tom da desestruturação do movimento estudantil pós-68 é evidente, na medida que assinala um momento de ruptura de um movimento memorável das décadas anteriores. Entretanto, essa ruptura política (imbricada de ruptura geracional), enevoa as experiências da esquerda e da classe trabalhadora nos anos seguintes, sendo a UNE o ponto de referência institucional por excelência e a Ditadura Militar o grande ensurdecedor. A segunda parte é conduzida pelo tema dos estudantes e os movimentos políticos, apresentando a participação dos grupos políticos do PCB, AP e PCBR e suas experiências pessoais, momento em que observamos as influências ideológicas na construção da esquerda brasileira. Destaque ao artigo de Elimar Nascimento, militante da AP, apontando a prática da conscientização quotidiana e a prática política do grupo na UNE, sob a perspectiva da terceira via, do humanitarismo cristão das ideias de Jacques Mariatan. Suscita-nos uma questão não menos pertinente: saber como se deu a influência dessas correntes na formação ideológica dos movimentos sociais, nomeadamente, do MST. Novamente a necessidade de compreender melhor o momento seguinte, as configurações políticas no campo da esquerda brasileira, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980. Na terceira parte, os artigos tratam da relação entre os estudantes e a universidade, retomando a experiência da vida universitária, a perspectivas colectivas e subjectivas, o interesse dos norte-americanos na UFPE através da CIA, o discurso do movimento estudantil e os aspectos sócio – históricos do ensino superior brasileiro. A experiência dos estudantes portugueses nas centenárias repúblicas da Universidade de Coimbra também é observada através da construção da experiência diária dos estudantes, das suas definições
  • 4. 206206 Resenhas identitárias, culturais e políticas. Em caracter quase isolado – quanto ao ponto de vista do corpo do livro – o artigo de Aníbal Frias toca num ponto subjacente a objetivação política dos estudantes: a experiência subjectiva no ambiente quotidiano, a vivência estudantil. A sequência argumentativa pode ser encontrada no artigo de Machado et al, nomeadamente, através da análise da juventude, como “construção sociocultural que ocorre num tempo histórico determinado” (p.176), em meio aos impactos da reestruturação produtiva e da globalização ser bastante sentida nos jovens, afectando suas realidades e perspectivas. Assim, a experiência da chapa A Ciranda para o Diretório Central dos Estudantes da UFPB significaria um re-encantamento cultural do movimento estudantil na universidade, evidenciando através do seu discurso o caráter metafórico de sua proposta política, de retomada das práticas do movimento estudantil. Embora não seja evidenciado os grupos políticos dos quais fazem parte os estudantes, encobertos pela análise do discurso, nomeadamente, estudantes independentes e ainda ligados à UNE que estiveram nas ocupações da Reitoria da UFPE em 2007. A última parte é destacada pela biografia do militante sessentista da EEP, Rui Frazão Soares, militante da AP, de importante participação na construção do movimento estudantil do recife. Finalmente, o artigo de Luís Antonio Groppo fecha o livro, apresentando uma discussão da emergência das novas esquerdas estudantis, a partir das dissidências do PCB, maoístas, trotskistas e da esquerda católica, construindo uma práxis contra a ditadura militar. Em um segundo momento, passa a evidenciar a radicalização do movimento de 1968, no contexto de “uma onda mundial de revoltas”. Recorrendo tanto a fontes primárias quando a bibliografia especializada, apresenta a UNE como uma entidade que abraçaria uma “[...] nova visão sobre a relação entre estudantes e classes trabalhadoras, abandonando aquele populismo de outrora [...]” (p.250). Em suma, o trabalho tem uma boa qualidade na recolha de fontes primárias e entrevistas e recorre à bibliografia especializada em alguns momentos. Carece de um aprofundamento analítico maior, na medida em seria necessária a compreensão dos movimentos estudantis também através das mudanças no processo produtivo mundial e as transformações classistas desse período. Não obstante, o processo de construção histórica do livro parte de uma análise particular para compreender o movimento estudantil em âmbito nacional, atingindo o objectivo de ampliar a discussão. Aponta também as modificações da UNE em torno de suas posições políticas no período anterior a 68, entretanto, a
  • 5. 207 Cadernos de Campo 207 grande ênfase nesse período, apontado pela organização institucional estudantil, afirma o argumento da interrupção do movimento estudantil marcado por forte repressão e o exílio nos anos seguintes. Embora esclarecedor do ponto de vista histórico, voltar a dúvida ao se observar o movimento estudantil atual: em que medida pensar o movimento estudantil brasileiro significa a constante retomada de 1968, ou de que maneira se consegue perceber as configurações atuais do movimento (sobretudo da aproximação dos estudantes com os movimentos sociais) sem desconsiderar sua história, que passa pela história da UNE. O campo da história dos subalternos poderia ser interessante para compreender os grupos minoritários da UNE, como os trotskistas, muito pouco referenciados no estudo.