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Educomunicar
Comunicação, Educação e Participação para uma
educação pública de qualidade
A Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação (Rede CEP)
conta com o apoio do Instituto C&A e do Unicef.
Educomunicar
    Comunicação, Educação e Participação para uma
    educação pública de qualidade




Realização:            Produção:         Parceria:
Realização
Rede de Experiências em Comunicação, Educação e
Participação (Rede CEP)

Organizações da Rede
Auçuba (PE), Bem TV - Educação e Comunicação (RJ),
Centro de Criação da Imagem Popular (CECIP - RJ),
Cidade Escola Aprendiz (SP), Cipó Comunicação Interativa
(BA), Ciranda (PR), Comunicação e Cultura (CE), MOC (BA),
Núcleo de Comunicação e Educação - USP (SP), Oficina de
Imagens (MG), Saúde e Alegria (PA ), Agência Uga-Uga (AM)

Produção
Bem TV - Educação e Comunicação

Projeto Gráfico e Diagramação
Victor Gruzman

Fotografias
Arquivos das Organizações

Revisão dos textos
Olívia Bandeira de Melo
Sumário




06   Museu de Novidades
     Alexandre Le Voci Sayad - Secretário executivo da
     Rede CEP


08   Educomunicação: a contribuição que a Rede CEP
     pode oferecer às políticas públicas
     Ismar Soares - Núcleo de Comunicação e Educação
     da Universidade de São Paulo


11   Escola de Vídeo – uma experiência de
     comunicação e educação
     Auçuba


15   Aprender Fazendo (Mídia)
     Bem TV - Educação e Comunicação


19   Botando a Mão na Mídia
     Centro de Criação da Imagem Popular (CECIP)


23   A Educomunicação no Bairro-Escola:
     fortalecendo o território e a comunidade local
     Cidade Escola Aprendiz


27   Escola Interativa: para transver a Educação
     Cipó Comunicação Interativa



31   Luz, Câmera... Paz! nas Unidades
     Ciranda



35   Programa Jornal Escola
     Comunicação e Cultura


39   Educomunicação no Sertão da Bahia
     Movimento de Organização Comunitária



43   NCE/USP - Pesquisa e Assessoria em políticas
     públicas de educomunicação
     Núcleo de Comunicação e Educação da
     Universidade de São Paulo


47   Oficina de Imagens: 10 Anos de experimentação
     e iniciativas em educomunicação
     Oficina de Imagens


51   Educomunicação com Saúde e Alegria
     – Experiências da Rede Mocoronga em
     Comunidades Ribeirinhas da Amazônia
     Saúde e Alegria
Alexandre Le Voci Sayad *




Museu de Novidades



      De 2005 para cá, quando a primeira publica-      talece a certeza das organizações de que o traba-
ção que marcava a constituição da Rede CEP foi         lho em educomunicação é fundamental para uma
lançada1, conceitos como “era digital” e “socieda-     educação de qualidade. Uma educação que ignora
de do conhecimento” tornaram-se, de certa forma,       os efeitos da comunicação e da mídia no seu con-
peças de museu. Não pela invalidação dos termos,       texto e não envolve a participação dos educandos
mas pelo esvaziamento de significado devido ao         na verdadeira construção de conhecimento deve
uso excessivo e muitas vezes descontextualizado        ficar para trás.
das palavras por gestores, educadores e formado-              No cenário das políticas públicas do Brasil,
res de opinião.                                        onde mora o grande desafio deste trabalho da
      Grandes mudanças ocorreram não só em re-         Rede CEP, o novo e o arcaico ainda convivem.
lação aos conceitos, mas nas preocupações sobre a             Há um esforço enorme para que as políticas
educação. Não é mais novidade, ou seja, não está       dos ministérios da Educação, do Meio Ambiente,
restrita a rodas de intelectuais, a idéia de que a     das Comunicações e da Cultura possam criar pro-
qualidade da educação pública é de extrema im-         gramas integrados quando o assunto é o ensino.
portância para o desenvolvimento econômico e           No campo da educação ambiental, por exemplo,
social do Brasil. Qualidade essa ligada à porcen-      já foi percebida a importância de não só se receber
tagem do PIB destinada à educação, mas também          informações da mídia, mas também produzi-la.
à expansão das boas práticas educativas que já         O Programa de Educomunicação Socioambiental,
acontecem por todo o país.                             ainda em fase de discussão, fomenta as iniciativas
      Isso ficou claro porque o Ministério da Educa-   já existentes, valoriza os meio digitais para pro-
ção (MEC) e seus parceiros desenvolveram instru-       pagação de informações, a integração e os conhe-
mentos cada vez mais sofisticados que permitem         cimentos populares. Mas esse tipo de iniciativa
medir o desempenho de estudantes, professores,         ainda é raro.
escolas e redes. O Aprova Brasil, por exemplo,                No entanto, estamos diante de excelentes
desenvolvido pelo UNICEF, investiga qualitativa-       oportunidades. A integralidade da educação e o
mente a realidade de escolas que tiveram desem-        debate sobre o ensino médio são itens importan-
penho acima da média na Prova Brasil, do MEC.          tes de conceitualização e dimensionamento nas
      As organizações não governamentais ganha-        políticas públicas e um campo fértil para que a
ram também um papel cada vez mais sólido e             educomunicação possa atuar e deixar sua marca.
atuante, com os bônus e ônus que isso significa               Nesse sentido, o maior desafio da Rede CEP
de fato. As novas tecnologias se espalharam com        parece mesmo estar na sensibilização do poder
uma rapidez tão grande que nem assustam mais (o        público para o que de fato constitui a prática edu-
que causa espanto é que o gargalo do acesso a elas     comunicativa. O que é chamado de “olhar sistê-
ainda existe em regiões do país). Mas continuam        mico”.
existindo muitas dúvidas sobre os impactos reais              Educomunicar não é somente utilizar um com-
dessas tecnologias na escola e sobre as formas de      putador ou uma câmera digital em sala de aula. É
sua utilização.                                        integrar educador e educando no desenvolvimento
      De que modo os projetos das organizações         de produtos de comunicação; é permitir múltiplos
que compõem a Rede CEP, que envolvem crian-            olhares do plano pedagógico sobre a educação; é
ças e jovens na produção de mídia, se adaptaram a      apropriar-se criativamente dos meios de comunica-
essas mudanças? Surge daí a urgência e elementa-       ção; é integrar a voz dos estudantes ao “ecossistema
ridade desta publicação, em que cada organização       comunicativo” (como definiu o espanhol radicado
explicita seus conceitos e evidencia suas práticas.    na Colômbia Jesús Martín-Barbero) da escola e é,
      Realizar projetos educomunicativos exige         em última instância, melhorar a gestão do ambien-
das organizações da Rede CEP repensar a cada mo-       te escolar com a participação dos educandos. Vale
mento o que estão fazendo, porque estão fazendo        lembrar que escolas com bom desempenho na Pro-
e onde pretendem chegar, porque os processos           va Brasil realizavam programas de integração dos
são dinâmicos e exigem constantes avaliações e         alunos com as questões centrais da gestão – alguns
mudanças de planejamento. Essa experiência for-        deles utilizando a comunicação.
apresentação
      Atentar com profundidade a esses objetivos,
entre muitos outros, é não relegar a segundo pla-
no quem trabalha com mídia, como aconteceu
nos anos 30 do século passado com o educador
francês Célestin Freinet, que propôs trabalho com
jornais escolares e foi expulso do sistema de edu-
cação formal.
      A Rede CEP quer que estados, municípios
e escolas entendam essa dimensão do aprender e
desejem estar perto da educomunicação. E que a
União possa prover a eles o acesso às tecnologias
e às práticas metodológicas.
      Isso tudo é fundamental para que o conceito
de educação de qualidade não vire rapidamente
também peça de museu, e tenha seu profundo e
necessário significado esvaziado.




                                                     * Secretário Executivo da Rede CEP – Rede de Experiências
                                                     em Comunicação, Educação e Participação


                                                     1 ROSSETTI, Fernando. Mídia e Escola: Perspectivas para
                                                     políticas públicas. São Paulo: UNICEF/Jogos de Amarelinha,
                                                     2005. Download disponível em www.redecep.org.br


                                                                                                                    7
Prof. Ismar de Oliveira Soares *




Educomunicação: a contribuição que a Rede CEP
pode oferecer às políticas públicas


                                                       car as ocasiões de manifestação de todos os pólos
                                                       vivos do processo educativo.
                                                             O conceito de educomunicação é reconheci-
                                                       do, desta forma, pela busca do ideal de uma co-
                                                       municação viva e plena, estando os educadores
                                                       centrados na promoção - e na consolidação, onde
                                                       já existam - das oportunidades da fala, ou, em ou-
                                                       tras palavras, numa didática preocupada com a
                                                       socialização dos recursos indispensáveis para que,
      A logomarca da Rede CEP tem como sím-            na prática, seja evitado o monopólio da palavra.
bolo uma espiral centrífuga, de onde sai um ne-              Nesse sentido, o conceito de educomunica-
ologismo denso de significado: educomunicação.
                                 ­                     ção se confronta com algumas das formas pelas
Se perguntarmos para qualquer das organiza-            quais são exaltadas as TIC – Tecnologias da Infor-
ções que compõem a rede o que caracteriza suas         mação e da Comunicação, quando são apresenta-
ações, a resposta será uma, sem exceção: “faze-        das como panacéia para todos os males da educa-
mos educação, pela comunicação, usando a mí-           ção tradicional (“educação moderna é aquela que
dia, com muita participação”.                          faz usos das TIC”). Ou, ainda, quando são identifi-
                                                       cadas como recursos a serviço da performance do
      No final dos anos 90, o NCE/USP, após pes-       professor, independentemente da verticalidade ou
quisas junto a especialistas de 12 países da Amé-      horizontalidade de seu procedimento.
rica Latina, identificou a educomunicação como               Para a educomunicação, as tecnologias devem
o “conjunto das ações inerentes aos processos,         estar sobretudo a serviço da comunidade, sendo
programas e produtos destinados a criar e a for-       geridas democraticamente. No caso, a proposta
talecer ecossistemas comunicativos em espaços          de se ter na escola “um computador por aluno”
educativos”. Apontava desta forma, para a tradi-       é tentadora. Mas sob o foco da educomunicação,
ção latino-americana de colocar os meios de infor-     melhor seria pensar num “laboratório multimídia
mação a serviço dos interesses e das necessidades      por escola”, onde grupos de docentes e estudantes
da população, e não exatamente do mercado ou           estejam envolvidos em projetos coletivos. É o que
dos sistemas econômicos e políticos. Hoje, inúme-      a educomunicação denomina como ampliar o “co-
ras organizações do movimento social entendem,         eficiente comunicativo” das ações educativas.
como a Rede CEP, que a melhor forma de educar                Em síntese, a educomunicação confronta-se,
as gerações de crianças e jovens é possibilitar que    basicamente, com dois conceitos muito em voga:
entendam como funcionam os sistemas de infor-          o “funcionalismo” (teoria que cristaliza os papéis
mação. É garantir a todos o indispensável acesso       que emissores e receptores exercem no espaço da
às tecnologias, a partir, contudo, de alguns pressu-   produção cultural) e o “iluminismo” (teoria pela
postos básicos, que passamos a considerar.             qual cabe ao sistema educacional sistematizar e
                                                       transmitir conhecimentos). Ao questionar as fun-
Educomunicação é o mesmo que TIC ou                    ções e as estruturas facilitadoras das operações
Mídia e Educação?                                      de comunicação e o próprio sentido desta ação, a
      Ao afirmarmos que a educomunicação volta-        educomunicação se pergunta, antes, pelas pessoas
se, sobretudo, para criar, viabilizar e desenvolver    envolvidas e pelo sentido do próprio ato de comu-
“ecossistemas comunicativos”, apontamos para o         nicar, entendendo que todos somos mediadores
desafio em repensar as formas como são concebi-        dos processos de produção da cultura.
das as relações no interior dos espaços educativos.          Muitos dos gestores responsáveis pela intro-
No caso, a educomunicação defende – com base           dução das TIC nas escolas fazem uso do conceito
em Paulo Freire - a maneira dialógica e construti-     “Mídia e Educação” (emprestada da expressão in-
vista de “estar juntos” no mundo, começando pela       glesa media education, que no seu original signfiica
escola. Exalta, assim, virtudes como a capacidade      “educação para a recepção da mídia”). Em muitos
de escuta e a disposição em favorecer e multipli-      casos, existe perfeita sintonia entre a ação de tais
apresentação
empreendedores e a dos que preferem trabalhar               • Reflexão epistemológica sobre o novo
com o termo educomunicação. Nada a opor, pois,        campo (reflexão sobre as próprias ações, de forma
a esta prática, desde que a opção pelo emprego        a garantir coerência epistemológica ao ato de pen-
dos recursos da mídia aponte para uma política        sar e produzir comunicação)
de ação que faça frente, simultaneamente, ao fun-           Das áreas anunciadas, ganha importância a
cionalismo e ao iluminismo. Caso contrário, não       que se refere à gestão dos processos destinados a
se estaria fazendo outra coisa que reforçar os sis-   construir ecossistemas comunicacionais. A gestão
temas tradicionais, agregando a eles o valor que o    da comunicação nos espaços educativos produz-
marketing usado conseguir imprimir.                   se, como vimos, tanto nos ambientes voltados
                                                      para programas escolares formais quanto naque-
As múltiplas faces da educomunicação                  les dedicados ao desenvolvimento de ações não
      A prática da educomunicação se dá em di-        formais de educação. O que caracteriza a gestão
ferentes áreas de trabalho. A literatura do NCE/      é, em suma, a “costura” que alcança produzir - por
USP aponta para a existência das seguintes possi-     meio da ação prática - entre as várias vertentes
bilidades de atuação do profissional da educomu-      que aproximam a comunicação e a educação.
nicação:                                                    Frente aos desafios inerentes à nova proposta
      • Educação pela e para a comunicação            governamental da “escola integral”, o conceito de
(“media education” - prepara os receptores para       educomunicação poderia a ser transformado num
relacionar-se criticamente com as mensagens dos       referencial seguro e promissor para os que ainda
meios de informação);                                 vêem com dificuldade a incorporação do “contra-
      • Mediação tecnológica na educação (preo-       turno” ao cotidiano da escola.
cupa-se com o uso adequado e compartilhado das              Com a educomunicação, suas tecnologias e
tecnologias no ensino)                                seus processos criativos de produção de cultura,
      • Expressão comunicativa através das artes      toda escola se transformará num espaço de cria-
(práticas que visam ampliar os espaços e as moda-     ção, em “meio período” ou em “período integral”.
lidades de expressão)                                 Em pouco tempo, os administradores públicos, os
      • Gestão da comunicação nos espaços edu-        gestores e os diretores se perguntarão, entre atôni-
cativos (assessoria aos sistemas educativos no        tos e satisfeitos: por que demoramos tanto a des-
entendimento do que seja a educomunicação,            cobrir uma proposta tão simples? Para o enten-
colaborando para que processos coerentes sejam        dimento desses novos caminhos, as instituições
implantados)                                          membros da Rede CEP têm muito a contribuir.




                                                      * Pesquisador da ECA/USP. Professor visitante da Marquette
                                                      University, Milwaukee, USA (1999-2000); Coordenador
                                                      do Núcleo de Comunicação e Educação da USP <www.
                                                      usp.br/nce>, Supervisor do Programa de educação a
                                                      distância “Mídias na Educação” do MEC para o Estado
                                                      de São Paulo; Membro do Pontifício Conselho para as
                                                      Comunicações Sociais do Vaticano (2001-2008), Jornalista
                                                      responsável pela revista Comunicação & Educação.
                                                      <ismarolive@yahoo.com>.


                                                                                                                     9
Organização: Auçuba – Comunicação e Educação




Escola de Vídeo
– uma experiência de comunicação e educação




                                                     colhendo notícias na comunidade




A experiência                                        construtor de significados por e para ambos, na
      O Escola de Vídeo dá ênfase ao desenvolvi-     construção do conhecimento. Ainda em Freire,
mento do jovem como sujeito de iniciativas sócio-    encontra-se correlação com a prática de incentivo
políticas, utilizando estratégias pedagógicas para   ao posicionamento crítico frente aos diversos tex-
formação em três dimensões: humana, política e       tos da comunicação social (mídia eletrônica, im-
técnica. Busca ampliar as possibilidades de empo-    pressa, rádio, etc.), problematizando a realidade.
deramento e autonomia da juventude, que surgem       No francês Freinet, o Auçuba reconhece respaldo
como conseqüência de um trabalho baseado no          teórico para sua prática do aprendizado pela ex-
acesso ao conhecimento tecnológico e na prepa-       perimentação.
ração do cidadão informado, crítico e criativo. A          Com essa base, o projeto segue algumas eta-
participação é o princípio fundamental e a autono-   pas que, em princípio, têm o vídeo como estratégia
mia e a pró-atividade são os resultados esperados    central e como linguagem a ser apreendida técnica
dessa intervenção.                                   e estruturalmente pelos jovens. Em edições pos-
      O projeto empreende um processo de apren-      teriores foram introduzidas novas etapas e outras
dizagem em consonância com o interesse e a           linguagens: rádio, fotografia e jornal.
realidade do seu público. Sua referência teórico-          Resumidamente, as etapas focam: valoriza-
metodológica parte de duas abordagens de cunho       ção do indivíduo, relações interpessoais, partici-
participativo e mobilizador – as pedagogias de       pação, questões de grupo; a expressão corporal,
Paulo Freire e Célestin Freinet. Na obra do pri-     a fotografia e as artes plásticas despertando para
meiro, é reconhecida a dialogicidade como prin-      o exercício do olhar; noções básicas de teoria,
cípio da relação entre educador e educando, na       produção de vídeo e aulas práticas com a câmera;
qual o eixo da comunicação é mais interativo e       pesquisa, produção e elaboração do roteiro de ví-

                                                                                                          11
preparando a câmera para gravar...




deo; a TV de Rua nas comunidades – o primeiro         Recife, envolvendo 40 alunos e quatro professores,
contato externo dos jovens e o sentido mobiliza-      por meio de convênio com a secretaria de edu-
dor da comunicação têm início no projeto; Núcle-      cação do município. Em decorrência da avaliação
os de Produção (etapa iniciada em 2000), que são      dessa experiência, o Auçuba produziu e promoveu
continuidade do trabalho embrionário das TVs de       a distribuição do Kit Escola de Vídeo com o obje-
Ruas, mas com autonomia para abordar aspectos         tivo de difundir e socializar na rede pública suas
relevantes das e com as comunidades.                  estratégias metodológicas. O material, distribuído
      Em 2002, alguns dos jovens idealizaram e re-    a partir de 1998, consta de CD-ROM, folhetos ex-
alizaram oficinas de vídeo (viabilizadas pelo prê-    plicativos e a descrição metodológica para o uso
mio da UNESCO) em escolas públicas do Recife,         do vídeo-debate, além de fita de vídeo. Em 2001,
Camaragibe e Olinda. Essa experiência foi piloto      através de convênio com a Secretaria de Educação
para a implementação dos Núcleos de Comunica-         de Olinda, o projeto Escola de Vídeo foi desenvol-
ção Comunitária (NCC) a partir das escolas / bair-    vido em cinco escolas. Entre 2003 e 2006, a expe-
ros, etapa iniciada em 2003. A partir daí, a ênfase   riência de formação dos Núcleos de Comunicação
é dada ao processo de retorno dos jovens às suas      Comunitária foi realizada em parceria com escolas
comunidades, agora como educadores, e à mobili-       públicas de Recife e Olinda, em suas dependências.
zação social através da comunicação.                  Em 2006, numa tentativa de promover mais uma
      Entre 2006 e 2008, o projeto passou a atu-      vez a aproximação com as escolas, o projeto abriu-
ar a partir de uma base tecnológica no bairro da      se à formação pedagógica da sua equipe, mas não
Bomba do Hemetério, abrigando as atividades de        houve adesão dos profissionais.
formação de adolescentes de sete comunidades do             No entanto, é preciso dizer que o cumpri-
entorno para produção de comunicação e mobili-        mento dessa meta propiciou à equipe do projeto –
zação. Uma casa foi montada com equipamentos          até então jovens egressos do Núcleo de Produção,
de informática, vídeo, rádio e fotografia. Hoje, o    que atuavam como monitores desde 2002 – ama-
espaço é referência na comunidade e segue cons-       durecimento pedagógico para assumir a respon-
truindo alternativas de formação, de articulação      sabilidade enquanto educadores e, na seqüência,
política e mobilização comunitária.                   responder pela condução do projeto tendo à frente
      A relação do projeto com o poder público        da coordenação um desses jovens.
se deu de forma descontinuada ao longo da sua
trajetória. Mas reflete, sobretudo, o interesse do    Público beneficiário do projeto:
Auçuba em socializar sua experiência de forma a            Adolescentes e jovens (13-22 anos) de comu-
inspirar a adoção de metodologias participativas      nidades de baixa renda do Recife e de Olinda, do
no ensino formal. Com esse intuito, em 1995 o         ensino fundamental e do ensino médio (em curso
projeto aconteceu em quatro escolas públicas do       ou concluído).
Escola de Vídeo – uma experiência de comunicação e educação · auçuba
gravando na comunidade




Números do projeto:                                     Breve histórico da instituição:
      Custo anual – R$ 400.000,00 (viabilizam:                Auçuba - Comunicação e Educação é uma
quatro educadores, coordenação, oficineiros pon-        ONG pernambucana, fundada em 1989, volta-
tuais, palestrantes, infra-estrutura física, equipa-    da prioritariamente para a defesa dos direitos de
mentos, transportes, material didático e de comu-       crianças, adolescentes e jovens. Tem a metodo-
nicação, alimentação e produções de vídeo, rádio,       logia de educação pela comunicação como sua
jornal, fotografia e circuitos de exibição de rua).     grande força de ação. Em 2001, recebeu prêmio
      Atendimento – De 1995 a 2008, cerca de 500        da UNESCO como uma das cinco experiências
jovens em atendimento direto e mais de cinco mil        de Pernambuco que têm resultados relevantes e
em ações multiplicadoras (exibições de TV de Rua        efetivos na prevenção da violência entre jovens
e TVs comunitárias e oficinas de monitoria reali-       de comunidades de baixa renda. Ficou entre as 30
zadas pelos jovens); cerca de 15 escolas públicas,      instituições brasileiras reconhecidas por esse orga-
atingindo alunos e professores; oficinas de Comu-       nismo como “êxito de metodologia de formação”.
nicação e Educação com 45 técnicos em educação          Em 2003, recebeu o Prêmio Cristina Tavares de
(dos quais 15 são diretores de escolas) da rede pú-     Jornalismo com a campanha social “Registro Civil
blica de ensino de Olinda, em 2001 e 2002.              de Nascimento, uma certidão de cidadania”, reali-
      Produtos de comunicação – Mais de 40 tí-          zada em parceria com o UNICEF.
tulos em vídeo (vários formatos e gêneros); seis
programas de rádio e diversos spots; 3 edições de
jornais impressos e inúmeros fanzines;
      Envolvidos – profissionais de comunicação,
sociologia, educação, psicologia e artes (artes plás-
ticas, teatro etc.). De 1995 a 2008, o projeto foi
conduzido por seis coordenadoras. A última res-
ponde pela coordenação desde 2007 e é egressa do
projeto. Conta ainda com a participação de volun-
tários (em palestras, debates e outras atividades) e
parcerias com lideranças comunitárias e gestores
de escolas públicas de comunidades onde atua.
Teve o apoio financeiro de quatro parceiros: Fun-
dação Odebrecht (1995-1999), Comunidade Soli-
dária (2000), Instituto Ayrton Senna (2001-2002),
Instituto C&A (2003-2006) e FEDCA/CEDCA/OI                                                    seleção para o núcleo de
Futuro (2006-2008).                                                                           comunicação comunitária



                                                                                                                         13
Organização: BemTV




Aprender fazendo (Mídia)




                                                       aula de vídeo na Escola
                                                       Municipal Helena Antipoff




      Diariamente, somos bombardeados por in-          de uma sociedade solidária. Para dar conta dessa
formações que nos chegam por rádio, televisão,         missão, desenvolve um projeto de atendimento
internet, jornais, revistas, outdoors e cartazes es-   direto aos adolescentes (Olho Vivo) e outro volta-
palhados pela cidade. A comunicação de massa e         do ao aperfeiçoamento dos professores que atuam
a comunicação mediada por computador e outros          nas escolas onde estudam esses jovens (Educomu-
dispositivos digitais ampliam cada vez mais sua        nicar). As duas estratégias apostam nos processos
participação na construção dos sentidos sociais e      de produção e veiculação de mensagens para al-
das identidades, e por essa via chegam à sala de       cançar melhores resultados no processo de ensi-
aula. Também cresce a percepção de que dominar         no/aprendizagem.
as linguagens da comunicação e as ferramentas
que nos permitem produzir – e não só consumir          Preceitos básicos
mensagens – torna-se essencial para o exercício da           Como outras organizações da Rede CEP, a
cidadania e para a possibilidade de influenciar as     Bem TV se apóia na proposta da educomunica-
decisões políticas. A comunicação passa a ser vista    ção. São os processos de produção e veiculação de
como um direito humano.                                mensagens estruturando a construção de conhe-
      É pensando em formas de democratizar a           cimento.
comunicação e influenciar políticas públicas que             Ao desenvolver um vídeo, por exemplo, o
levem a mídia para dentro da escola que a Bem          aluno pesquisa sobre o tema, organiza as informa-
TV – Educação e Comunicação organiza seu foco          ções em um roteiro, re-significa essas informações
e suas estratégias de ação. A organização utiliza a    na gravação e faz uma sistematização ao editar o
comunicação como metodologia para formar jo-           material. Ao longo de todo o processo, desenvol-
vens críticos e comprometidos com a construção         ve competências (como capacidade de pesquisa

                                                                                                            15
jovens produzem Fotonovela




e expressão, capacidade de trabalho em grupo,         significativo de instituições, existem 800 adoles-
responsabilidade e senso crítico) e se apropria do    centes na região que estão fora da escola e, entre
conteúdo trabalhado.                                  os que estudam, 64% observam uma defasagem
      Outro diferencial refere-se à veiculação da     de pelo menos dois anos em seu fluxo escolar1.
produção. Diante da perspectiva de “falar” para os          As ações do projeto se organizam em dois
colegas ou para a comunidade, o compromisso da        componentes: as Oficinas de Mídia e os Grupos
criança ou do adolescente em relação à produção       de Jovens Comunicadores. Nas Oficinas de Mídia,
de texto ou imagem se torna maior. Sua produção       a cada ano 90 adolescentes aprendem técnicas de
estará impactando sua identidade frente ao grupo      produção audiovisual, fotografia ou desenvolvi-
e não apenas servindo de parâmetro para a nota        mento de sites. Em encontros semanais, eles usam
que a professora lhe dará.                            as técnicas aprendidas para levantar a memória e
      Todos concordam que é preciso garantir pro-     o diagnóstico da situação de vida de cada região.
cessos individualizados de educação, que é ne-        Ao final do processo, uma exposição fotográfica,
cessário trabalhar a partir dos interesses dos edu-   vídeos e sites produzidos pelos jovens abrem es-
candos. Mas como fazer isso com turmas de mais        paço para uma discussão nas comunidades sobre
de 30 alunos? Como conciliar esse ideário com         problemas e potencialidades de cada território.
as ementas exigidas nacionalmente? A produção               Egressos das oficinas podem dar continuida-
de mídia em sala de aula é uma resposta a essas       de ao aprendizado participando dos Grupos de Jo-
questões. Mas é preciso estar preparado para au-      vens Comunicadores. Hoje existem três grupos: o
las “barulhentas”, alunos “questionadores” e para     Nós na Fita; que gerencia um cineclube itinerante
uma revisão de papéis entre os sujeitos da escola.    e produz vídeos, o Olho Vivo, editor de um jornal
                                                      e responsável por exposições anuais de fotografia,
Projeto Olho Vivo                                     e o Virtuação, gerente de uma agência virtual de
      O projeto Olho Vivo viabiliza a produção de     notícias (www.niteroicomunidades.org.br).
mídia por adolescentes em quatro comunidades de             Entre os 537 jovens que já passaram pelo
baixa renda de Niterói: o Morro do Preventório, a     projeto Olho Vivo, que teve início em 2003, mais
Grota, o Morro do Estado e Jurujuba. As quatro        da metade melhorou seu desempenho escolar e
regiões somam mais de 25 mil habitantes e quase       quase 80% melhoraram suas relações familiares.
metade destes são jovens entre 13 e 22 anos. Na       Hoje, 15 jovens egressos do projeto atuam no
região, funcionam quatro escolas públicas estadu-     mercado de trabalho de comunicação e seis che-
ais e três escolas municipais. Apesar do número       garam ao ensino superior.
Projeto Educomunicar




                                                                                                                         Aprender fazendo (Mídia) · BEM TV
                                                          Breve histórico
      Em 2006, teve início o projeto Educomunicar.              A Bem TV surgiu como idéia em 1990,
A proposta de realizar uma oficina de capacitação         durante os três dias de viagem que separam
(carga horária de 60 horas) voltada para professo-        Niterói (RJ) de São Luís do Maranhão (MA).
res surgiu do diálogo que a Bem TV já mantinha            Uma aluna de jornalismo e um aluno de publi-
com as escolas da região, através do projeto Olho         cidade voltavam de um encontro de estudan-
Vivo. Desde então, a oficina vem sendo reeditada          tes, quando tiveram a idéia de colocar a comu-
anualmente. Vinte e uma escolas de Niterói e 14           nicação a serviço de processos de mobilização
do Rio de Janeiro já participaram do projeto. O           e educação popular, inspirados no trabalho da
processo formativo começa com uma introdução              TV Viva de Recife (PE).
à educomunicação. Na segunda aula, discute-se                   Inicialmente, a ação consistia em exibir
a gestão de projetos de comunicação na escola; o          em espaços públicos de comunidades de baixa
objetivo é convencer os educadores de que com             renda de Niterói vídeos produzidos com a par-
planejamento, flexibilidade e articulação qualquer        ticipação de moradores dessas áreas. Invaria-
proposta se realiza.                                      velmente, os adolescentes eram os primeiros
      A partir do terceiro encontro, os participantes     a abraçar a idéia, atraídos pelas câmeras e pela
têm contato com cada uma das principais lingua-           possibilidade de expressão. Esse contato com
gens midiáticas: internet, jornal, rádio, fotografia      os jovens levou a Bem TV ao diálogo com as
e vídeo. São três encontros para cada linguagem,          escolas e aproximou sua proposta dos fazeres
sempre associando discussão teórica, atividades           da educação.
práticas de produção e reflexão crítica dos pro-
cessos. Os dois últimos encontros são dedicados           Parceiros atuais:
à construção de projetos de comunicação para se-          Projeto Olho Vivo: Petrobras, Oi Futuro,
rem implantados nas escolas, com a participação           SESC
dos alunos, muitos deles capacitados na área de           Projeto Educomunicar: Instituto Unibanco
comunicação também pela Bem TV.                           Prêmios:
      Um “seminário de pactuação” marca o en-             Projeto Olho Vivo: Itaú UNICEF (2007)
cerramento do processo formativo. Participam,             Projeto Educomunicar: Fundo Itaú Excelên-
além dos professores envolvidos com a oficina,            cia Social (2007)
os diretores das escolas e representantes das se-
cretarias municipal e estadual de educação). No           Outros projetos:
evento, os professores apresentam seus projetos           Entre fraldas e cadernos: parceria com o
e estabelecem os acordos necessários à sua efetiva        UNICEF.
implantação.

jovens na aula de midia digital                                                     nos na fita grava no Centro de Niteroi




                                                        1 Dados: Censo 2000, Programa Médicos de Família,
                                                        Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia.


                                                                                                                         17
Organização: CECIP - Centro de Criação de Imagem Popular




Botando a Mão na Mídia




                                                                                                   oficina com adolescentes




      A maior parte do tempo livre de alunos e pro-         Ao “botar a mão na mídia”, descobrem que ela
fessores brasileiros se passa diante da telinha da          pode ser um instrumento pedagógico excepcional.
televisão. A garotada da escola básica gasta mais           Mas, atenção: a tecnologia não é o mais importan-
horas ali do que assistindo a aulas ou convivendo           te nessa história. Para que essa revolução interna
com os pais. Ler, então, é hábito de poucos. O de-          aconteça, é preciso tanto assumir quanto provocar
safio para os educadores é que, para promover a             mudanças de atitude, passando de simples consu-
aprendizagem, eles devem partir da realidade dos            midores passivos a leitores e observadores críticos
alunos, ajudando-os a estabelecer pontes entre os           dos meios de comunicação, capazes de criar suas
conteúdos do saber sistematizado da escola e suas           próprias mensagens e conteúdos.
vivências cotidianas. Como ignorar esse aspecto                  Pensando nisso, o CECIP desenvolveu o pro-
essencial de suas vidas, que é a sua relação com a          jeto Botando a Mão na Mídia, sistematizando a
televisão e com a mídia em geral?                           experiência acumulada em mais de seis anos de
      Muitos professores começam a procurar in-             trabalho com alunos e professores do sistema
formações e recursos para aumentar sua compe-               público de ensino de segundo grau. Criamos um
tência em integrar as tecnologias da comunicação            conjunto de materiais educativos (um kit), com-
à escola, trazendo para a sala de aula a televisão,         posto de um manual, dois cartazes e um vídeo/
o vídeo, os jornais, as revistas, o rádio e a internet.     DVD, com todas as informações indispensáveis a

                                                                                                                          19
oficina com professores




seu uso eficaz. Entre 2000 e 2003, esse material     po de Conhecer, parte-se da prática para chegar
foi usado em oficinas de formação de orientadores    à teoria, organizando situações de aprendizagem
de telecentros, que repassaram o aprendido a pro-    que incentivam os participantes a desenvolver um
fessores do sistema público de ensino do Estado      olhar crítico sobre os meios de comunicação. O
do Rio de Janeiro, numa parceria com a Secretaria    mesmo acontece quando o grupo é formado por
Estadual de Educação. Em 2005, o Botando a Mão       alunos: a idéia é refletir sobre sua própria experi-
na Mídia foi distribuído pela Secretaria de Edu-     ência e experimentar novas atitudes. Os textos do
cação Continuada, Alfabetização e Diversidade        pensador espanhol Joan Ferrés sobre TV, Vídeo e
(SECAD) do Ministério da Educação a 3.500 es-        Educação são usados nesse bloco para aprofundar
colas espalhadas por todo o território nacional. O   esses conceitos.
CECIP realizou a formação de agentes multiplica-           No bloco sobre questões técnicas, o Tempo
dores que, por sua vez, capacitaram os professores   de Fazer, o caminho é inverso: parte-se da teo-
das escolas que receberam os kits. A experiência     ria para chegar à vivência prática. As dinâmicas
demonstrou o potencial da metodologia do Bo-         preparam os participantes para usar os aparelhos
tando a Mão na Mídia, também merecedora do           de vídeo, TV e câmera, para dominar os equipa-
prêmio de Tecnologia Social da Fundação Banco        mentos de que a escola dispõe e para saber como
do Brasil.                                           utilizá-los criativamente. Essa experiência prá-
                                                     tica, de mão na massa, é fundamental para que
A seguir, brevemente, seus pontos                    professores adquiram confiança em si mesmos,
principais:                                          sabendo que poderão resolver eventuais proble-
      O curso Botando a Mão na Mídia é composto      mas técnicos sem precisar pedir ajuda nem “pagar
de seis oficinas de quatro horas de duração. Cada    mico”diante de seus alunos.
oficina é estruturada em dois blocos temáticos:
linguagem audiovisual (Tempo de Conhecer) e                As oficinas são relizadas com dinâmicas des-
questões técnicas (Tempo de Fazer). Elas alternam    critas passo a passo. Representam um estímulo à
momentos de debate e de reflexão, atividades em      reflexão e à colaboração, um aprendizado a ser e a
grupo e plenárias, proporcionando aos participan-    conviver. Possuem cinco características:
tes, caso sejam professores, uma vivência prática          1. Estimulam os participantes a refletir in-
que os motiva a experimentar com seus alunos al-     dividualmente, para depois compartilhar as pró-
gumas das atividades de que participaram.            prias idéias com o grupo, identificando consensos
      No bloco de linguagem audiovisual, o Tem-      e valorizando diferenças. Isto é: aprender consi-
go mesmo e aprender a ouvir o outro, atenta e        a um compromisso é considerado aceitável. Uma




                                                                                                           Botando a Mão na Mídia · cecip
respeitosamente.                                     forma simpática de ir mudando esse traço cultural
      2. Incentivam a cooperação entre pessoas       é começar as oficinas pontualmente, mesmo com
diferentes, mostrando como é enriquecedor con-       poucas pessoas presentes, planejando-as de modo
viver com a diversidade.                             que a perda da abertura não interfira no entendi-
      3. Criam um ambiente propício à experimen-     mento da dinâmica geral daquele dia. É um modo
tação, onde o erro é admitido e usado como fonte     sutil de tolerar aqueles 10 a 15 minutos de atraso,
de aprendizagem e de reflexão.                       mas suficientemente constrangedor para os retar-
      4. Estimulam os participantes a melhor es-     datários. O atrasado procurará ser pontual na pró-
truturar suas idéias, expressando-se oralmente       xima vez.
com clareza e objetividade.                                Uma experiência leva a outras. Atualmente,
      5. Representam um desafio à criatividade.      o CECIP vem desenvolvendo, com alunos e pro-
                                                     fessores, o projeto Do Giz ao Pixel – Ampliando o
      Para terminar, deixamos uma observação         Leque da Sala de Aula, em que são usadas câmeras
quanto ao uso do tempo, em que cada hora, cada       fotográficas digitais simples, cujas gravações são
minuto, é uma oportunidade de crescimento e de       editadas usando o programa Movie Maker. Com
aperfeiçoamento, tanto pessoal quanto coletivo.      essa experiência, caem barreiras hierárquicas, bu-
Relaciona a própria aprendizagem com a respon-       rocráticas e geracionais, permitindo um novo diá-
sabilidade pelo manejo do tempo em que ela se        logo, com base na crítica dos trabalhos realizados
dá. Na escola básica, atraso de alunos não é admi-   e no debate sobre as infinitas possibilidades que o
tido; na vida adulta, chegar meia hora mais tarde    uso dessa linguagem abre para as escolas.




                                                       O CECIP foi fundado em l986 por um grupo
                                                       de profissionais, entre eles Paulo Freire,
                                                       presidente de honra, preocupados em propor-
                                                       cionar à população informações de qualidade
                                                       sobre seus direitos. Enquanto a TV Maxam-
                                                       bomba, seu projeto de TV Popular, apresen-
                                                       tava em praças públicas os programas criados
                                                       com os moradores da Baixada Fluminense, o
                                                       CECIP produzia documentários com televi-
                                                       sões européias (BBC, Channel 4, Canal Plus,
                                                       ZDF, ARTE). O crescente trabalho com a es-
                                                       cola levou o CECIP a desenvolver conjuntos
                                                       de materiais educativos e a atuar na formação
                                                       de agentes de mudança.

                                                       As linhas de ação do CECIP compreendem:
                                                       1) produção de materiais educativos;
                                                       2) capacitação, apoio a escolas e formação de
                                                       agentes de mudança;
                                                       3) mobilização social e campanhas de
                                                       interesse público;
                                                       4) realização de documentários e filmes para
                                                       TV e cinema e
                                                       5) consultoria.


                                                                                                           21
Organização: Associação Cidade Escola Aprendiz




A Educomunicação no Bairro-Escola:
fortalecendo o território e a comunidade local



                                                                                       decisões coletivas




      A Associação Cidade Escola Aprendiz é um        ção não se restringem à união de duas áreas do
laboratório de pedagogia comunitária que promo-       conhecimento: trazem, sobretudo, novos mode-
ve o conceito de bairro-escola, cujo objetivo é in-   los de relação, de convivência e de concepção de
tegrar os diversos potenciais educativos de uma       ensino/aprendizagem. A prática educomunicativa
comunidade (seus espaços, pessoas, instituições e     exige - pela natureza do paradigma que a sustenta
iniciativas) em uma rede que busca garantir con-      - uma modificação no modelo cristalizado da rela-
dições para o desenvolvimento integral do terri-      ção entre professor e aluno: não há mais lugar para
tório e dos sujeitos, especialmente das crianças e    um transmissor ativo e um receptor passivo de in-
jovens.                                               formações. Nessa perspectiva, torna-se obsoleta e
      O Aprendiz nasceu como mídia: um site           ineficiente o que Paulo Freire chamou criticamen-
(www.aprendiz.org.br) com função inicial de dis-      te de “educação bancária”, na qual os professores
seminar temas relacionados à educação para a ci-      (emissores) “depositam” o conhecimento nos alu-
dadania, oferecendo-se como uma redação-escola        nos (receptores), e o mesmo conhecimento deve
para estudantes de instituições educacionais pú-      ser reproduzido em provas e testes. Como sabe-
blicas e privadas.                                    mos, para Freire, “a educação é comunicação, é di-
      Esse primeiro programa deu origem a uma         álogo, na medida em que não é a transferência de
série de projetos do Aprendiz, que têm em comum       saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores
a convicção de que a sociedade da informação exi-     que buscam a significação dos significados” (Frei-
ge a formação dos sujeitos em mídia e que não é       re, 1979, p. 69). Dessa forma, necessariamente, a
mais possível separar a reflexão sobre a educação     relação educador-educando torna-se um processo
da reflexão acerca da comunicação.                    comunicativo de ida e volta, no qual o educador
      No entanto, as inovações da educomunica-        tanto ensina como aprende. A comunicação é,

                                                                                                              23
escola da comunidade
                                                                                                do Grajaú




portanto, a base de uma educação emancipadora.               O projeto tem como propósito fortalecer a
      Desse modo, o lugar da escola é transfor-        comunicação local, ampliando o acesso à infor-
mado. A instituição escolar, caracterizada histo-      mação e fortalecendo a possibilidade dos sujeitos
ricamente pelo ensino diretivo, vertical e hierar-     serem produtores desse processo. A agência tem
quizado, começa a perder o monopólio educativo         buscado reunir as informações produzidas nas
(Orozco, 1997), na medida em que outras instân-        instituições do bairro e veicular notícias de inte-
cias culturais, parte inerente da vida dos estudan-    resse local a partir dos diversos meios disponíveis.
tes, se apropriam de temas e metodologias que          A produção é feita por 20 jovens comunicadores -
o ensino formal ainda ignora ou insiste em não         estudantes das escolas do bairro de Pinheiros, em
valorizar. Torna-se urgente o reconhecimento de        São Paulo - que aprendem a desenvolver um novo
que a educação acontece também fora das salas de       olhar sobre o bairro e a buscar notícias locais com
aula, como defendeu Freinet: “As técnicas tradi-       a mediação de jornalistas profissionais. Simulta-
cionais [de ensino] são isoladas da vida e todos os    neamente à formação, os jovens são responsáveis
alunos se desinteressam. Precisamos restabelecer       pela produção de conteúdos e pelo desenvolvi-
o circuito para ligar a escola à realidade.” (www.     mento de diferentes mídias como site, rádio, ví-
freinet.org.br)                                        deo, entre outros.
      Trata-se, portanto, de promover o ensino               Paralelamente à atuação com os jovens, o
atrelado à vida. O conceito de bairro-escola, que      projeto trabalha com as instituições de ensino do
norteia as práticas da Cidade-Escola Aprendiz,         território. Além de garantir um espaço no site de-
traduz justamente essa transposição: é possível        dicado aos blogs das escolas, o projeto entende ser
aprender em qualquer lugar, com toda a comuni-         necessário criar a demanda da comunidade escolar
dade e por toda a vida. Somente ao aprender pela       por comunicação, para que a mesma possa partici-
experiência temos cidadãos verdadeiramente en-         par ativamente do processo e incorporar seus va-
gajados com o conhecimento, com consciência de         lores. Para tanto, o programa oferece formação em
si, da sua responsabilidade na escola, no bairro, na   educomunicação para os professores e estudantes
sua cidade; dotados de, mais do que informação,        do 6º ao 9º ano, que descobrem formas de utilizar
autonomia para buscá-la.                               a comunicação como ferramenta de ensino e inte-
      É nessa perspectiva, e como resultado de dez     ração dentro e fora da sala de aula.
anos de experiências que atrelam a construção de             Fica claro, portanto, que existe aqui uma
conhecimento à reflexão e ação sobre a realidade       preocupação em construir uma comunidade de
local, que se insere a Agência Comunitária de Notí-    interesse em torno da educação. Essa comunida-
cias de Pinheiros (www.agenciacomnoticias.org.br).     de, formada tanto por pessoas quanto por institui-
ções, caracteriza-se por um forte potencial de co-




                                                                                                                            A Educomunicação no Bairro-Escola · Associação Cidade Escola Aprendiz
                                                                nectividade: o intuito é utilizar os meios para criar
                                                                e fortalecer relações dentro e fora da comunidade,
                                                                promovendo a um só tempo o desenvolvimento
                                                                individual, coletivo e do território, ou seja, o de-
                                                                senvolvimento local integral entendido como algo
                                                                que pode ser alcançado e construído pela própria
                                                                comunidade.
                                                                      A comunicação comunitária torna-se assim
                                                                um instrumento do bairro-escola: produz, pela
                                                                mobilização de agentes locais, informações de
                                                                interesse do bairro; atua pelo princípio da multi-
                                                                plicidade, promovendo a participação de escolas,
                                                                ONGs, estudantes e população; atua em rede na
                                                                gestão de parcerias e fomenta o olhar co-respon-
                                                                sável para o bairro, contribuindo com a constru-
                                                                ção da identidade do território e estimulando o
                                                                espírito de pertencimento.
                                                                      A Agência Comunitária de Notícias está sen-
                                                                do disseminada através do projeto “Mudando sua
                                                                escola e comunidade”, parceria da Rede CEP com
                                                                o UNICEF que envolve cinco capitais brasileiras.
                                                                Em São Paulo, o projeto está sendo implementado
                                                                pelo Aprendiz em parceria com a Revista Viração
                                                                como parte das estratégias do programa Platafor-
 muitos são os lugares                                          mas Urbanas do UNICEF.
          para aprender




                                                                                                      atividade artística




Referências bibliográficas:
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 4. ed. Tradução Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
KAPLUN, M. “Mini-autobiografia”. Boletim Alaic, nº 7-8, 1993.
MEDEIROS FILHO, B. & GALIANO, M. B. Bairro-escola: Uma nova geografia do aprendizado. A tecnologia da Cidade Escola
Aprendiz para integrar escola e comunidade. São Paulo: Tempo D’Imagem, 2005.
OROZCO GOMEZ, G. “Uma pedagogia para os meios de comunicação”. In: Revista Comunicação & Educação, n º 12, ECA-
USP, São Paulo, Editora Moderna, 1997.

Links:
www.aprendiz.org.br
www.freinet.org.br
www.oldnet.com.br


                                                                                                                            25
Organização: Cipó – Comunicação Interativa




Escola Interativa: para transver a Educação




                                                                                   jovem aprende computação gráfica




      O poeta Manoel de Barros, em seu poema          ção pela comunicação. Nós já sistematizamos:
As lições de R.Q., afirma categórico: “o olho vê,           Escola Interativa: abordagem da educação
a lembrança revê, a imaginação transvê. É preciso     pela comunicação no ensino formal.
transver o mundo”. Exercitar esse verbo imaginá-            Estúdio Aprendiz: utilização das Tecnologias
rio e cunhado por Barros para explicar como con-      de Informação e Comunicação (TICs) para pro-
cretizar o mundo e os sonhos é o desafio da Cipó      mover a inserção de jovens no mundo do traba-
– Comunicação Interativa com a educação pela          lho, via Lei da Aprendizagem (Lei n. 10.097/00).
comunicação. Acreditamos que, utilizando a co-              Sou de Atitude: uso da comunicação para a
municação de forma democrática, participativa e       participação política de crianças, adolescentes e
educativa, crianças, adolescentes e jovens podem      jovens e monitoramento e incidência nas políticas
criar produtos capazes de transver o mundo, cujos     públicas.
conteúdo e processo de elaboração conferem um               Comunicação para a garantia de direitos:
outro sentido à sua própria história, da sua comu-    qualificação da mídia e das organizações sociais
nidade, cidade ou país.                               para o uso da comunicação em prol da garantia
      A Cipó é uma associação civil sem fins lucra-   dos direitos infanto-juvenis. Em parceria com a
tivos atuante na Bahia há nove anos e tem a educa-    Rede Andi Brasil.
ção pela comunicação em seu DNA. A metodolo-                Comunicação para organizações da socie-
gia propõe um novo enfoque sobre o processo de        dade civil: incorporação da comunicação como
ensino-aprendizagem, em que os educandos parti-       estratégia para promover o fortalecimento institu-
cipam ativamente da produção de peças de comu-        cional e a ampliação do impacto de organizações
nicação que, uma vez disseminadas, geram novos        sociais.
processos de educação e mobilização social.                 O Cidadão de Papel: utilização do teatro
      Funcionamos como um laboratório pedagó-         para promover a mobilização da sociedade em
gico no qual criamos, testamos, avaliamos e siste-    torno de temas relacionados a direitos humanos
matizamos algumas formas de trabalhar a educa-        e cidadania.


                                                                                                                  27
Programa Escola Interativa                             Para transver a escola
      O desejo de contribuir com a melhoria da               Todo o aprendizado acumulado em nove
educação levou a Cipó a arriscar-se na complexa,       anos de experimentações e reflexões com a edu-
porém gratificante, tarefa de adotar a educação        cação pela comunicação, em processos formais ou
pela comunicação na escola pública. O desafio          não formais de ensino, reforça na Cipó a certeza
era tornar essa metodologia, até então experimen-      do potencial dessa metodologia para o desenvol-
tada em processos não formais de ensino, uma           vimento pessoal, social e político de crianças, ado-
ferramenta pedagógica capaz de colaborar para          lescentes e jovens. No entanto, a experiência do
a qualificação da educação pública, permitindo         Escola Interativa nos traz uma certeza: apenas in-
que estudantes, professoras(es) e gestoras(es) se      corporada como política pública a educação pela
apropriassem da comunicação e a utilizassem de         comunicação poderá ser exercida em toda sua po-
forma transversal ao currículo. Essa experiência       tencialidade, gerando impactos significativos nos
deu forma ao programa Escola Interativa, até hoje      índices educacionais.
executado e reinventado pela Cipó.                           Nesse sentido, a Cipó vem realizando uma
      Tudo começou, em 2000, com a adesão de           série de ações de incidência junto ao poder públi-
cinco escolas. No ano seguinte, após muitas ex-        co, sempre em parceria com outros atores estraté-
perimentações e resultados, a primeira conquista:      gicos, como a Rede CEP. Promovemos e/ou parti-
passamos a integrar o Fórum de Parceiros da Secre-     cipamos de fóruns e articulações para monitorar,
taria Municipal de Educação de Salvador- SMEC.         avaliar e propor programas e ações que colaborem
Nos anos de 2002 e 2003, ampliamos nossa ação          para a melhoria do ensino público. Além da Secre-
nas escolas e lançamos o Guia Interativo Escola        taria Municipal de Educação de Salvador, mante-
com Sabor (www.cipo.org.br/escolacomsabor), site       mos diálogo com a Secretaria Estadual de Educação
de divulgação e mobilização da proposta pedagó-        da Bahia a fim de contribuir com a implementação
gica.                                                  da educação pela comunicação no ensino médio.
      Em 2004, o Escola Interativa focou no prota-           Como Manoel de Barros, queremos que to-
gonismo estudantil, formando lideranças em três        das as crianças, adolescentes e jovens tenham a
níveis: representantes de turma, lideranças de grê-    oportunidade de transver o mundo através da es-
mios estudantis e conselheiros escolares. No final     cola, dando a ela um outro sentido: acolhedor, de-
do ano, três ações desenvolvidas por adolescentes      safiador, criativo e importante na construção dos
em escolas públicas municipais foram premiadas.        sonhos, da realidade e do seu projeto de vida.
Os resultados alcançados foram avaliados, siste-
matizados e disseminados por meio da Coletânea
Escola Interativa, lançada no mesmo ano e forma-
da por um guia metodológico, um guia de ativida-
des e um vídeo de caráter mobilizador. No mes-
mo ano, concebemos e executamos o Programa
de Educação pela Comunicação – PEC, formando                                    oficina de rádio em escola
educadores de diversas organizações sociais na
metodologia da educação pela comunicação.
      A partir de 2006, concentramos o foco de
atuação da Cipó em algumas comunidades espe-
cíficas, levando o Escola Interativa para quatro es-
colas do Subúrbio Ferroviário de Salvador e outras
quatro da Região Metropolitana, nos municípios
de Dias D´Ávila e Camaçari. Começamos também
a desenvolver e experimentar um método de estí-
mulo à participação infantil, no qual a produção
de comunicação dentro das escolas aborda o direi-
to das crianças à participação comunitária, social
e política.
      Após oito anos de atuação, os aprendizados
e desafios foram muitos e refletem as dificuldades
do ensino público no Brasil: falta de estrutura das
escolas, descontinuidade do projeto pedagógico
com a mudança de direção, saída de professoras(es)
já mobilizadas(os), mudanças de governo e de pro-
fissionais à frente das secretarias de educação e,
sobretudo, a incansável necessidade de reafirmar a
metodologia da educação pela comunicação como
uma possibilidade real de transformação do am-
biente escolar e da comunidade em seu entorno.
Escola Interativa: para transver a Educação · cipó comunicação interativa
                                                aluna da Escola Kabum fotografando




ALGUNS RESULTADOS CIPÓ 1999 - 2007              O programa Escola Interativa é
                                                estruturado da seguinte forma:
Formação - 7.127 crianças, adolescentes e jo-
vens, 1.467 educadores e 3.224 atores sociais   Etapa I - Identificação da escola; sensibilização
                                                da comunidade escolar; adesão dos interessa-
Mobilização - 119 escolas, 126 veículos de      dos; montagem da proposta de acordo com o
comunicação, 6 universidades e 160 empresas.    planejamento pedagógico da escola.

Produção - 377 peças de mídia feitas com        Etapa II – Montagem do Núcleo Interativo,
crianças, adolescentes e jovens.                formado por estudantes e professoras(es);
                                                elaboração do plano de implementação do
Ação política - 86 monitoramentos de políti-    projeto educativo.
cas públicas, 27 ações de incidência promovi-
das com jovens                                  Etapa III – Execução de formações para e com
                                                os membros do Núcleo Interativo e da escola
                                                em educação pela comunicação e linguagens
                                                de mídia.

                                                Etapa IV – Mostra dos produtos realizados;
                                                elaboração de estratégias para envolver famí-
                                                lias e comunidade.




                                                                                                    29
Organização: Ciranda




Luz, Câmera… Paz! nas Unidades



      “Todos falam da violência das águas que tudo
 carregam pela frente. Mas ninguém diz nada sobre
       a violência das margens que as comprimem.”
                                   Bertold Brecht

      Meses e meses sem ver a família, os amigos.
Longe de tudo o que até então se entendia como
vida. Até então...
      Cedo demais, muitos adolescentes enfren-
tam problemas com a justiça. Vão parar em cen-
tros de socioeducação e perdem a liberdade antes
mesmo de conquistá-la. A maioria vítima de uma
violência precoce, que começa ainda na infância
e acaba potencializada na puberdade. Realidade
dura! Realidade ÚNICA conhecida por quase to-
dos os meninos e meninas em privação de liber-
dade. Alguns deles participaram do projeto Luz,
Câmera...Paz! nas Unidades e, assim, tiveram a        apesar do envolvimento com a violência, podem
oportunidade de manusear uma câmera fotográfi-        se transformar em agentes da cultura da paz,
ca, de escrever algo sobre si mesmos e de ser pro-    como todos os outros filhos de Josés, Marias e An-
tagonistas do próprio filme, do próprio roteiro.      tonias.
      Muitos se mostraram pela primeira vez!
Muitos foram vistos, ouvidos e percebidos pela        O projeto
primeira vez!                                                O ambiente é fechado, com grades e câmeras
      Um resgate de auto-estima, de cidadania, de     de segurança. Mas a educomunicação quebra essa
valores humanos. Um resgate de vida! De algo a        rotina. Permite falar do que quase não se fala.
mais do que - até então - se entendia como vida.             Uma vez por semana, os educadores do pro-
                                                      jeto Luz, Câmera...Paz! nas Unidades aplicavam
Os adolescentes                                       oficinas de educomunicação no Joana Miguel Ri-
      Filhos de Josés, Marias, Antônias... Compor-    cha, centro de socioeducação feminino localizado
tamento adolescente como o de qualquer pessoa         na capital paranaense, e no São Francisco e no Fa-
que já passou dos doze, mas que ainda não che-        zenda Rio Grande, centros de internamento mas-
gou aos 18.                                           culino localizados em Piraquara e em Fazenda Rio
      Mas os meninos e meninas que participaram       Grande, Região Metropolitana de Curitiba.
do “Luz, Câmera…Paz! nas Unidades” carregam                  Pelos pátios, nos refeitórios, adolescentes
cicatrizes profundas. Cometeram ato infracional       privados de liberdade eram livres para refletir,
e estavam em regime de privação de liberdade na       discutir e opinar sobre a realidade em que se en-
época em que o projeto foi desenvolvido. Os mo-       contravam. Estimulados e orientados pelos edu-
tivos que os levaram a esse destino foram os mais     cadores, aprendiam técnicas de comunicação e
diversos: furto, roubo, tráfico de drogas, homicí-    como aplicá-las para expressar o que pensavam e
dio, seqüestro e latrocínio. Eles podem ficar entre   sentiam. Aos poucos, a timidez e a desconfiança
seis meses e três anos privados da liberdade. Há      ficavam de lado e a “liberdade” se refletia na pro-
muitos casos de reincidência.                         dução de fanzines repletos de textos e ilustrações,
      Os jovens, internados na capital, vêm de di-    jornais murais com matérias, desenhos e fotogra-
ferentes cidades do Paraná. A maioria não comple-     fias, além de vídeos, numa linguagem próxima do
tou o ensino fundamental e todos são de famílias      documentário, que abordavam o cotidiano e as
com baixa renda.                                      reflexões feitas por eles.
      Esse perfil se repete nas outras unidades de           Todas as discussões e decisões, desde os te-
privação de liberdade. Mas são adolescentes que,      mas das pautas até os cortes das edições, eram fei-

                                                                                                            31
jovem em atividade de produção




tas pelos adolescentes, que assumiam o papel de            Durante as oficinas, os adolescentes eram
protagonistas do processo.                            orientados sobre as técnicas de comunicação e
      Como resultado, o resgate das perspectivas      despertados para a leitura crítica da mídia.
de vida desses adolescentes: carreira, família, es-
tudos, sonhos. Por meio das discussões, eles pro-     A transformação
jetavam o futuro, a vida, depois de cumprirem as
medidas socioeducativas em regime fechado.                    “Às vezes a história de um adolescente pode
      E tudo isso foi parar na tela do cinema. Nas          ajudar os outros. O jornalista tem de conhecer
duas etapas do projeto (entre 2004 e 2005 e entre      melhor essas histórias, saber quais são as condições
2007 e 2008), os vídeos foram exibidos a convida-        desse adolescente e tem de ouvir o que ele pensa.
dos na Cinemateca de Curitiba. Na última delas,        E, ainda, tentar passar para os outros que, se tiver
em julho de 2008, havia na platéia alguém espe-         condições, ele vai mudar. Que a sociedade tem de
cial: um dos jovens que fez parte do projeto Luz,       receber a gente de volta, e não ficar só julgando”.
Câmera...Paz! nas Unidades. Poucos sabiam quem                                   (P., menina de 15 anos)
era ele. Apenas os educadores da Ciranda, ONG
que desenvolve o projeto, notaram a emoção nos              O projeto proporcionou, na mídia, visibilida-
olhos do garoto quando ele se percebeu na grande      de aos temas ligados a medidas socioeducativas.
tela do cinema.                                       A sociedade passou a prestar mais atenção em
                                                      como essas medidas são executadas nos CENSEs
A educomunicação                                      (Centros de Sócioeducação). As ações também
      Seja pela lente de uma câmera, pela ponta de    serviram como argumentação contra a redução da
um lápis ou pela simples troca de palavras, a co-     maioridade penal em vários debates.
municação é um poderoso meio que desperta um                O projeto teve boa repercussão na mídia.
novo olhar para a sociedade. Ela instiga os adoles-   Jornalistas de veículos de comunicação de Curiti-
centes a pensar e a expor suas opiniões.              ba contribuíram, assim, para expandir a cobertura
      A proposta do Projeto Luz, Câmera...Paz!        jornalística sobre temas como: jovens em conflito
nas Unidades é estimular os adolescentes em           com a lei, violência, cultura da paz, Estatuto da
conflito com a lei a refletir sobre suas vidas e a    Criança e do Adolescente e maioridade penal.
se tornar agentes de transformação, resgatando a            Com isso, a sociedade também pôde debater
auto-estima.                                          e refletir sobre esses temas e, ainda, participar de
      Para isso, a Ciranda criou um material de       palestras e de seminários, como o da Exploração
apoio, com os assuntos debatidos nas oficinas se-     Sexual na Tríplice Fronteira, para jornalistas brasi-
manais, enfocando os temas escolhidos por eles: o     leiros, paraguaios e argentinos em Foz do Iguaçu
uso de drogas e a sexualidade.                        (PR), em 2005, entre outros.
“Agora que eu estou aqui, as coisas parecem mais




                                                                                                        Luz, Câmera… Paz! nas Unidades · ciranda
   fáceis. Mas quando eu chegar lá fora, sei que as    A Ciranda
coisas se tornarão mais difíceis, pela discriminação         O projeto Luz, Câmera... Paz! nas Uni-
       e pelas condições de nossas famílias. Então a   dades é desenvolvido pela Ciranda – Central
 sociedade podia tentar ajudar, vendo o motivo que     de Notícias da Infância e Adolescência. Em
                  nos levou a estar nessa situação.”   seus dez anos de atuação, a ONG promove
                                     (D., 18 anos)     os direitos de meninos e meninas, pela educo-
                                                       municação e pelo jornalismo socialmente res-
                                                       ponsável. Com sede em Curitiba, no Paraná, a
                                                       Ciranda compõe a Rede CEP, a Rede Viração
                                                       e a Rede ANDI Brasil de comunicadores pela
                                                       infância. Seus projetos beneficiam, em média,
                                                       mil crianças e adolescentes por ano e ajudam a
                                                       multiplicar idéias a cerca de 300 educadores.
                                                             Além de promover a sócioeducação nos
                                                       CENSEs paranaenses, o projeto Luz, Câme-
                                                       ra… Paz!, também é desenvolvido em escolas
                                                       públicas de Curitiba e Região Metropolitana,
                                                       como forma de promoção e de disseminação
                                                       da cultura da paz.




      elaboração de impressos pelos adolescentes




                                                                                                        33
Organização: Comunicação e Cultura




Programa Jornal Escola




                                                                                             Sócias do Clube do Jornal
                                                                                             distribuindo a publicação




      Na história da educação, o jornal escolar está          Considerando esse potencial, o Comunica-
identificado com a vida e a obra do educador fran-     ção e Cultura, uma ONG fundada no Ceará em
cês Célestin Freinet (1896-1966), que levou a pu-      1988, se deu como missão viabilizar a dissemina-
blicação de jornais para o coração da sala de aula.    ção do jornal escolar nas redes públicas. Desen-
Em 1927, Freinet publicou o livro A Imprensa na        volvemos, para tanto, o Programa Jornal Escola,
Escola, que constitui ainda hoje referência indiscu-   que publica jornais adaptados à especificidade dos
tível para quem quer utilizar esse recurso.            anos iniciais do ensino fundamental, aos anos fi-
      O valor do jornal escolar está no fato de pro-   nais e do ensino médio. Cada escola tem seu pró-
piciar ao aluno a oportunidade de expressar seus       prio jornal e, às vezes, dois, três ou mesmo quatro
pensamentos e sentimentos, pondo em jogo sua           (um jornal para os anos iniciais do turno da ma-
capacidade de comunicação no espaço público            nhã, outro para os anos inicias do turno da tarde
(constituído pelos leitores – os pares, os familia-    etc.). Em 1999, a iniciativa nos valeu o Prêmio Itaú
res, a comunidade). A competência comunicativa         UNICEF Educação & Participação.
serve de base para o desenvolvimento de outras,               Nos anos iniciais, o Comunicação e Cultura
como a cidadania participativa e a decodificação       apóia, através do projeto Primeiras Letras, a pro-
crítica do papel da mídia. O jornal é, ainda, um       dução de jornais que veiculam textos e desenhos
suporte para a realização da interdisciplinarida-      produzidos exclusivamente em sala de aula. As
de (pois nos textos convergem diversas áreas de        publicações estão, portanto, estreitamente vin-
conhecimento). Freinet enumera uma rica lista de       culadas à missão alfabetizadora da escola. Nesse
vantagens pedagógicas, psicológicas e sociais do       segmento, nossa ação está direcionada a fazer
jornal escolar que, infelizmente, a brevidade deste    com que a secretaria de educação adquira as com-
texto nos impede de resumir.                           petências necessárias à gestão pedagógica do jor-

                                                                                                                     35
Fala Escola, para
                                                                                    a escola comunicar




nal escolar na sua rede (integração com outras ati-   um sujeito pleno. Daí decorreria a possibilidade
vidades, inclusive de capacitação de professores,     do aluno identificar na escola uma parte de si e
acompanhamento e monitoria etc.)                      não, como acontece hoje, uma exterioridade im-
      Nos anos iniciais do ensino fundamental         posta pelo mundo adulto. No Clube do Jornal,
(Projeto Fala Escola), há uma grande variedade de     trabalhamos exclusivamente com os adolescentes
formas de apropriação do jornal: textos produzidos    editores, que são formados para o exercício ético
em sala de aula, extraclasse e mesmo “produção        e positivo da comunicação, visando a mudança da
independente” dos alunos; atividade de turno ou       cultura escolar e a educação entre pares.
turno complementar (escola integral) etc. O jornal          Essas três iniciativas – que estão enveredan-
escolar se adapta à grande diversidade constituti-    do para a interface com a internet – estão atual-
va dos anos finais do ensino fundamental, quando      mente implantadas em um conjunto de quase
os alunos ainda navegam entre o “ser criança” e o     1.000 escolas, de 79 secretarias de educação em
“ser adolescente”, situação definida pela expressão   cinco estados (Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí,
híbrida “pré-adolescência”. Em alguns momentos        Bahia e São Paulo).
o que vale é a busca de autonomia, em outros é a            Participar do jornal escolar (ou estudantil)
necessidade de apoio e respaldo do professor. A       constitui uma experiência que mobiliza o interes-
metodologia permite a adaptação flexível a essas      se do educando. Esses dois conceitos são reconhe-
realidades. Sem descuidar da busca por competên-      cidos como mediações fundamentais no processo
cias comunicativas, o foco do jornal passa a ser a    de aprendizagem desde a Escola Nova, no início
cidadania participativa do aluno. No Fala Escola,     do século passado. Um reflexo psicológico espon-
capacitamos tanto professores como os pré-ado-        tâneo predispõe o aluno que participa do jornal
lescentes.                                            para a aprendizagem, sobretudo se ele tem a pos-
      O Clube do Jornal, direcionado para o ensi-     sibilidade de falar da sua vida, do seu mundo, de
no médio, parte de um princípio diferente, pois       seus interesses e pontos de vista.
publica jornais estudantis independentes, que cir-          Decorre dessa simplicidade que implantar o
culam sem revisão de professores ou da direção        jornal nas redes escolares seja uma coisa fácil de
da escola. O objetivo é fazer da liberdade de ex-     acontecer? De jeito nenhum, infelizmente. O que
pressão juvenil um fator de renovação do ensino       é fácil e simples para um professor consciente, na
médio. A proposta atrela a possibilidade de solu-     sua sala, ou para uma escola mobilizada e bem
ção das muitas dificuldades pelas quais passam as     dirigida, torna-se trabalhoso nas redes escolares,
escolas desse nível à consideração do aluno como      que são afetadas por inércias, resistências e falhas
Programa Jornal Escola · comunicação e cultura
                                                                                 Primeiras Letras, o jornal
                                                                               trabalhado em sala de aula




de gerenciamento e avaliação, para citar algumas       escola. Diversos dados são monitorados através
das dificuldades.                                      da análise de conteúdo – por exemplo, professores
      Sabendo disso, o Comunicação e Cultura si-       dos anos iniciais que não trabalham a escrita – e
tuou seu campo de ação nas redes escolares (só         retornados para os sistemas de acompanhamen-
fazemos parcerias com secretarias, para atender a      to das secretarias de educação, de modo que elas
um conjunto de escolas) de modo que houvesse           possam focalizar capacitação e monitoria.
uma aprendizagem em termos de gestão pedagó-                Essa visão sistêmica permite construir o ca-
gica e administrativa, para permitir a universaliza-   minho para a disseminação nas escolas do Nor-
ção do jornal escolar.                                 deste, em uma primeira etapa. Nesse caminhar vai
      Para começar, garantimos a impressão dos         se constituindo a Rede Jornal Escola, a estrutura
jornais, com qualidade e um exemplar por aluno,        de diálogo e intercâmbio de experiências entre os
para todas as escolas, independentemente do es-        atores do processo, que constitui o alicerce da sus-
tado onde se situam. Dessa maneira, cortamos o         tentabilidade e do desenvolvimento pedagógico.
circuito de frustrações que vivem as escolas que
querem publicar jornais e não conseguem fazê-lo          Escolas atendidas com o Primeiras Letras
por questões logísticas. Resolvida essa questão,         (anos inicias do ensino fundamental): 933
equacionamos, com ajuda de parceiros, uma pro-           Escolas atendidas com o Fala Escola (anos
posta de co-financiamento que torna compatível o         finais do ensino fundamental): 333
custo de participação com os recursos que as se-
                                                         Escolas atendidas com o Clube do Jornal
cretarias de educação dispõem.
                                                         (ensino médio): 34
      Sobre essa base prática se constroem as pro-
postas de gestão pedagógica do jornal escolar para       Número de secretarias de educação
cada um dos níveis e “tipos” de jornais citados,         parceiras: 79
que estão orientadas por paradigmas de integra-          Estados onde atuamos: Ceará, Piauí, Rio
ção (com os Planos Políticos Pedagógicos e o pla-        Grande do Norte, Bahia e São Paulo
nejamento operacional de escolas e secretarias), de      Principais apoiadores: Instituto C&A,
simplicidade (jornal como ferramenta, mobilização        UNESCO, UNICEF, BNDES, Oi Futuro,
de conhecimentos existentes e processos de auto-         Undime
aprendizagem) e de rigor de acompanhamento.
                                                         Em andamento desde: 1995 (Clube do Jornal),
Nesse último sentido, seguimos Freinet no senti-
                                                         1998 (Primeiras Letras) e 2008 (Fala Escola)
do de considerar o jornal como um “relatório” da


                                                                                                              37
Organização: Movimento de Organização Comunitária




Educomunicação no Sertão da Bahia




                                                                                         jovens de comunidades rurais
                                                                                             colocam sua rádio no ar
                                                                                             durante o recreio




      O Movimento de Organização Comunitária           temas relacionados ao desenvolvimento susten-
– MOC é uma organização não-governamental              tável do semi-árido; a comunicação comunitária
sediada em Feira de Santana, Bahia, que atua há        nos Territórios Rurais do Sisal e Bacia do Jacuípe,
mais de 40 anos na promoção do desenvolvimen-          através do fortalecimento das rádios comunitárias
to sustentável do semi-árido baiano. A proposta        e da formação de jovens comunicadores; e a edu-
pedagógica do MOC realiza-se através de sete           comunicação nas escolas do campo.
programas inter-relacionados: Água e Segurança               Para lidar com a realidade da educação pú-
Alimentar, Comunicação, Criança e Adolescente,         blica, o MOC desenvolveu uma proposta de Edu-
Educação do Campo, Fortalecimento da Agricul-          cação do Campo, que valoriza o sujeito do semi-
tura Familiar, Gênero e Políticas Públicas. O tra-     árido nas suas múltiplas dimensões, trabalha a
balho da entidade se caracteriza por uma metodo-       conscientização e a mobilização da comunidade
logia em que todos são considerados sujeitos da        em torno dos problemas de desenvolvimento, e
ação. Por isso, reflete criticamente com as pessoas,   promove uma concepção integral do ensino e da
valores, tradições e culturas, ao passo que busca      aprendizagem. A luta por uma política pública
promover os indivíduos e as organizações como          de educação do campo integral é defendida pelo
aptos a conhecer e produzir conhecimento, acre-        MOC em parceria com universidades e movimen-
ditando na sua capacidade de mudar a si mesmos         tos sociais. Como resultado, 19 municípios da re-
e a realidade.                                         gião já implementaram a metodologia do CAT –
      O Programa de Comunicação do MOC, des-           Conhecer, Analisar e Transformar a Realidade do
de 2005, atua em três áreas estratégicas: a asses-     Campo, além de projetos como o Baú de Leitura e
soria e qualificação da imprensa na cobertura de       de Educomunicação no Campo.


                                                                                                                    39
Pequenos ouvintes soltam a voz nas oficinas




Novas maneiras de pensar e fazer mídia              Resultados estimulam secretaria a
      O trabalho de educomunicação em escolas       universalizar a proposta
do campo da Região Sisaleira começou a ser de-            Hoje, em seis escolas rurais do município de
senvolvido de forma sistemática em 2006, ano em     Valente, o horário do intervalo entre as aulas – o
que deixou de acontecer nos espaços da Jornada      chamado “recreio” – é o mais esperado pelos alu-
Ampliada do PETI - Programa de Erradicação do       nos. São nesses momentos que vão ao ar as rádios-
Trabalho Infantil, passando a ser desenvolvido em   escola protagonizadas pelos próprios estudantes e
escolas do campo da rede municipal, participantes   que abordam notícias do ambiente escolar, da vida
do projeto CAT nos municípios de Conceição do       cotidiana das comunidades rurais, e expõem todo
Coité, Valente e Retirolândia.                      o talento e a desenvoltura dos meninos e meninas
      Desde então, entendendo que a educomuni-      do sertão. O papel deles como “radialistas” faz
cação é um dos caminhos que possibilitam o de-      despertar nos alunos o interesse pelos bastidores
bate sobre a democratização da comunicação e o      das emissoras de rádio da região, que passaram a
acesso aos meios, 58 pessoas, entre educadores e    ser acompanhados de perto por eles. Descobrem
coordenadores, participam de oficinas de qualifi-   como se monta um programa, como pautas são
cação em práticas de produção e leitura de mídia    levantadas e apuradas e quais os formatos que po-
nas linguagens de rádio e jornal. Como resultado    dem ser usados no rádio.
dessa formação, os educadores desenvolveram               Esse despertar comunicativo das crianças
nas salas de aula programas de rádio e boletins     do semi-árido vem acompanhado, na avaliação
impressos.                                          dos seus educadores, de melhorias no processo
      Os conteúdos das peças produzidas por         de ensino-aprendizagem. Elas são estimuladas na
crianças e adolescentes do semi-árido abordam a     leitura de jornais e boletins, hábito pouco comum
realidade local e buscam estratégias de interven-   nessas comunidades, e decifram de forma mais
ção nas políticas públicas locais. Desse modo, ao   crítica os conteúdos midiáticos que chegam até as
mesmo tempo em que permite ao aluno tornar-se       suas casas. Os alunos estão mais atentos aos pro-
protagonista de sua história, através desse pro-    gramas jornalísticos e costumam levar questões
cesso de pensar e fazer mídia, a metodologia de     veiculadas na grande mídia para a sala de aula. A
educomunicação no campo tem contribuído para        inserção de veículos de comunicação e a produção
a democratização da comunicação de uma região       de conteúdos próprios a partir dos temas trata-
onde o acesso a meios diversificados é um cami-     dos em sala de aula aumentaram o interesse dos
nho a ser trilhado.                                 alunos pelas temáticas discutidas nos veículos de
Educomunicação no Sertão da Bahia · Movimento de Organização Comunitária
                                                    crianças exibem seu jornal mural




comunicação da Região Sisaleira, em especial nas    Ficha técnica do programa
rádios comunitárias, fazendo com que seus pais      Educomunicação no Campo
também escutem os programas.
      Diante dos resultados dessa experiência-pi-   Ano inicial: 2006
loto desenvolvida pelo MOC em três escolas do       Escolas: 27 no município de Valente, 14 no muni-
campo, do 1º ao 5º ano, a Secretaria Municipal de   cípio de Conceição do Coité, 6 no município de
Educação de Valente se propôs a ampliá-la para      Retirolândia
todas as escolas do município. A equipe de edu-     Comunidades inseridas: 26
cação do campo do município elaborou uma pro-       Alunos envolvidos: aproximadamente 630
posta para o Fundo Nacional do Desenvolvimento      Educadores envolvidos: 58
da Educação – FNDE, que, uma vez aprovado,
garantiu a ampliação do projeto para as cinco es-   Metodologia:
colas municipaisdo 6° ao 9° ano. Com a mesma        • Participação em espaços de formação continu-
metodologia de capacitação feita pelo MOC, Va-      ada de educadores do campo para sensibilização
lente vem conseguindo oferecer aos adolescentes     dos mesmos;
e jovens um ensino mais participativo, democrá-     • Encontros de planejamento, monitoramento e
tico, com a cara e a voz daqueles e daquelas que    avaliação com os coordenadores do projeto CAT
não são pautados pelos meios de comunicação de      dos municípios atendidos e uma parte dos educa-
massa. Com tudo isso, Valente hoje possui uma       dores envolvidos;
política de educomunicação inserida no Plano        • Oficinas de formação em educomunicação e co-
Municipal de Educação, que garante que todas as     municação comunitária, voltadas para técnicas de
27 escolas do campo do município desenvolvam        produção de mídia em sala de aula e planejamento
ações nessa área.                                   pedagógico de atividades educomunicativas;
      Na avaliação da equipe pedagógica do mu-      • Dias de produção nas escolas em parceria com
nicípio, além do desenvolvimento das crianças e     jovens comunicadores e comunicadores comuni-
adolescentes que têm oportunidade de entender       tários;
desde cedo a comunicação como um direito hu-        • Excursões das turmas escolares para espaços de
mano, os educadores estão orientando a produção     comunicação comunitária;
de fanzines, jornais-mural, boletins, vinhetas e    • Edição de coletâneas da produção radiofônica
programas de rádio que vêm mudando a educação       das crianças para distribuição nas escolas e veicu-
no município.                                       lação em rádios comunitárias.


                                                                                                          41
Organização: Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP)




NCE/USP: pesquisa e assessoria em políticas
públicas de educomunicação



                                                                                                  projeto geração cidadã
                                                                                           programas de rádio para blogs




      Em seu relatório de pesquisa sobre as or-       rica Latina, que o conceito “educomunicação”
ganizações voltadas para a trilogia conceitual        passasse a designar não mais atividades pontuais
Comunicação/Educação/Participação, Fernando           e subsidiárias nas bordas dos sistemas de comuni-
Rossetti identificou o Núcleo de Comunicação          cação ou de educação, como a “leitura crítica da
e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/         mídia” ou mesmo o “uso da comunicação no ensi-
USP) pela forma como implementava, na época           no”, mas, essencialmente, o conjunto das ações vol-
(2004), o programa Educomunicação pelas Ondas         tadas ao planejamento, implementação e avaliação de
do Rádio (Educom.rádio). Segundo o relatório,         processos, programas e produtos destinados a criar e/ou
tratava-se da ação mais visível de um conjunto de     fortalecer ecossistemas comunicativos abertos e criativos,
atividades que fazia do NCE/ECA/USP “a prin-          em espaços educativos, formais ou não formais, median-
cipal referência, no Brasil, no campo da pesquisa     te a gestão democrática dos recursos da informação, ten-
acadêmica e da disseminação da chamada Educo-         do como meta o pleno exercício da cidadania, garantido
municação”1.                                          pelo reconhecimento do direito à expressão2.
      O que identifica o NCE no contexto da Rede             O que, na verdade, a pesquisa do NCE ha-
CEP é, sem dúvida, o fato de haver proposto, em       via constatado era o fato de que a sociedade ci-
1999, em decorrência de investigação desenvolvi-      vil construíra – ao longo das últimas décadas do
da junto a agentes culturais de 12 países da Amé-     século XX - caminhos alternativos na interface

                                                                                                                       43
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Educomunicação fortalece educação pública

  • 1. Educomunicar Comunicação, Educação e Participação para uma educação pública de qualidade
  • 2. A Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação (Rede CEP) conta com o apoio do Instituto C&A e do Unicef.
  • 3. Educomunicar Comunicação, Educação e Participação para uma educação pública de qualidade Realização: Produção: Parceria:
  • 4. Realização Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação (Rede CEP) Organizações da Rede Auçuba (PE), Bem TV - Educação e Comunicação (RJ), Centro de Criação da Imagem Popular (CECIP - RJ), Cidade Escola Aprendiz (SP), Cipó Comunicação Interativa (BA), Ciranda (PR), Comunicação e Cultura (CE), MOC (BA), Núcleo de Comunicação e Educação - USP (SP), Oficina de Imagens (MG), Saúde e Alegria (PA ), Agência Uga-Uga (AM) Produção Bem TV - Educação e Comunicação Projeto Gráfico e Diagramação Victor Gruzman Fotografias Arquivos das Organizações Revisão dos textos Olívia Bandeira de Melo
  • 5. Sumário 06 Museu de Novidades Alexandre Le Voci Sayad - Secretário executivo da Rede CEP 08 Educomunicação: a contribuição que a Rede CEP pode oferecer às políticas públicas Ismar Soares - Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo 11 Escola de Vídeo – uma experiência de comunicação e educação Auçuba 15 Aprender Fazendo (Mídia) Bem TV - Educação e Comunicação 19 Botando a Mão na Mídia Centro de Criação da Imagem Popular (CECIP) 23 A Educomunicação no Bairro-Escola: fortalecendo o território e a comunidade local Cidade Escola Aprendiz 27 Escola Interativa: para transver a Educação Cipó Comunicação Interativa 31 Luz, Câmera... Paz! nas Unidades Ciranda 35 Programa Jornal Escola Comunicação e Cultura 39 Educomunicação no Sertão da Bahia Movimento de Organização Comunitária 43 NCE/USP - Pesquisa e Assessoria em políticas públicas de educomunicação Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo 47 Oficina de Imagens: 10 Anos de experimentação e iniciativas em educomunicação Oficina de Imagens 51 Educomunicação com Saúde e Alegria – Experiências da Rede Mocoronga em Comunidades Ribeirinhas da Amazônia Saúde e Alegria
  • 6. Alexandre Le Voci Sayad * Museu de Novidades De 2005 para cá, quando a primeira publica- talece a certeza das organizações de que o traba- ção que marcava a constituição da Rede CEP foi lho em educomunicação é fundamental para uma lançada1, conceitos como “era digital” e “socieda- educação de qualidade. Uma educação que ignora de do conhecimento” tornaram-se, de certa forma, os efeitos da comunicação e da mídia no seu con- peças de museu. Não pela invalidação dos termos, texto e não envolve a participação dos educandos mas pelo esvaziamento de significado devido ao na verdadeira construção de conhecimento deve uso excessivo e muitas vezes descontextualizado ficar para trás. das palavras por gestores, educadores e formado- No cenário das políticas públicas do Brasil, res de opinião. onde mora o grande desafio deste trabalho da Grandes mudanças ocorreram não só em re- Rede CEP, o novo e o arcaico ainda convivem. lação aos conceitos, mas nas preocupações sobre a Há um esforço enorme para que as políticas educação. Não é mais novidade, ou seja, não está dos ministérios da Educação, do Meio Ambiente, restrita a rodas de intelectuais, a idéia de que a das Comunicações e da Cultura possam criar pro- qualidade da educação pública é de extrema im- gramas integrados quando o assunto é o ensino. portância para o desenvolvimento econômico e No campo da educação ambiental, por exemplo, social do Brasil. Qualidade essa ligada à porcen- já foi percebida a importância de não só se receber tagem do PIB destinada à educação, mas também informações da mídia, mas também produzi-la. à expansão das boas práticas educativas que já O Programa de Educomunicação Socioambiental, acontecem por todo o país. ainda em fase de discussão, fomenta as iniciativas Isso ficou claro porque o Ministério da Educa- já existentes, valoriza os meio digitais para pro- ção (MEC) e seus parceiros desenvolveram instru- pagação de informações, a integração e os conhe- mentos cada vez mais sofisticados que permitem cimentos populares. Mas esse tipo de iniciativa medir o desempenho de estudantes, professores, ainda é raro. escolas e redes. O Aprova Brasil, por exemplo, No entanto, estamos diante de excelentes desenvolvido pelo UNICEF, investiga qualitativa- oportunidades. A integralidade da educação e o mente a realidade de escolas que tiveram desem- debate sobre o ensino médio são itens importan- penho acima da média na Prova Brasil, do MEC. tes de conceitualização e dimensionamento nas As organizações não governamentais ganha- políticas públicas e um campo fértil para que a ram também um papel cada vez mais sólido e educomunicação possa atuar e deixar sua marca. atuante, com os bônus e ônus que isso significa Nesse sentido, o maior desafio da Rede CEP de fato. As novas tecnologias se espalharam com parece mesmo estar na sensibilização do poder uma rapidez tão grande que nem assustam mais (o público para o que de fato constitui a prática edu- que causa espanto é que o gargalo do acesso a elas comunicativa. O que é chamado de “olhar sistê- ainda existe em regiões do país). Mas continuam mico”. existindo muitas dúvidas sobre os impactos reais Educomunicar não é somente utilizar um com- dessas tecnologias na escola e sobre as formas de putador ou uma câmera digital em sala de aula. É sua utilização. integrar educador e educando no desenvolvimento De que modo os projetos das organizações de produtos de comunicação; é permitir múltiplos que compõem a Rede CEP, que envolvem crian- olhares do plano pedagógico sobre a educação; é ças e jovens na produção de mídia, se adaptaram a apropriar-se criativamente dos meios de comunica- essas mudanças? Surge daí a urgência e elementa- ção; é integrar a voz dos estudantes ao “ecossistema ridade desta publicação, em que cada organização comunicativo” (como definiu o espanhol radicado explicita seus conceitos e evidencia suas práticas. na Colômbia Jesús Martín-Barbero) da escola e é, Realizar projetos educomunicativos exige em última instância, melhorar a gestão do ambien- das organizações da Rede CEP repensar a cada mo- te escolar com a participação dos educandos. Vale mento o que estão fazendo, porque estão fazendo lembrar que escolas com bom desempenho na Pro- e onde pretendem chegar, porque os processos va Brasil realizavam programas de integração dos são dinâmicos e exigem constantes avaliações e alunos com as questões centrais da gestão – alguns mudanças de planejamento. Essa experiência for- deles utilizando a comunicação.
  • 7. apresentação Atentar com profundidade a esses objetivos, entre muitos outros, é não relegar a segundo pla- no quem trabalha com mídia, como aconteceu nos anos 30 do século passado com o educador francês Célestin Freinet, que propôs trabalho com jornais escolares e foi expulso do sistema de edu- cação formal. A Rede CEP quer que estados, municípios e escolas entendam essa dimensão do aprender e desejem estar perto da educomunicação. E que a União possa prover a eles o acesso às tecnologias e às práticas metodológicas. Isso tudo é fundamental para que o conceito de educação de qualidade não vire rapidamente também peça de museu, e tenha seu profundo e necessário significado esvaziado. * Secretário Executivo da Rede CEP – Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação 1 ROSSETTI, Fernando. Mídia e Escola: Perspectivas para políticas públicas. São Paulo: UNICEF/Jogos de Amarelinha, 2005. Download disponível em www.redecep.org.br 7
  • 8. Prof. Ismar de Oliveira Soares * Educomunicação: a contribuição que a Rede CEP pode oferecer às políticas públicas car as ocasiões de manifestação de todos os pólos vivos do processo educativo. O conceito de educomunicação é reconheci- do, desta forma, pela busca do ideal de uma co- municação viva e plena, estando os educadores centrados na promoção - e na consolidação, onde já existam - das oportunidades da fala, ou, em ou- tras palavras, numa didática preocupada com a socialização dos recursos indispensáveis para que, A logomarca da Rede CEP tem como sím- na prática, seja evitado o monopólio da palavra. bolo uma espiral centrífuga, de onde sai um ne- Nesse sentido, o conceito de educomunica- ologismo denso de significado: educomunicação. ­ ção se confronta com algumas das formas pelas Se perguntarmos para qualquer das organiza- quais são exaltadas as TIC – Tecnologias da Infor- ções que compõem a rede o que caracteriza suas mação e da Comunicação, quando são apresenta- ações, a resposta será uma, sem exceção: “faze- das como panacéia para todos os males da educa- mos educação, pela comunicação, usando a mí- ção tradicional (“educação moderna é aquela que dia, com muita participação”. faz usos das TIC”). Ou, ainda, quando são identifi- cadas como recursos a serviço da performance do No final dos anos 90, o NCE/USP, após pes- professor, independentemente da verticalidade ou quisas junto a especialistas de 12 países da Amé- horizontalidade de seu procedimento. rica Latina, identificou a educomunicação como Para a educomunicação, as tecnologias devem o “conjunto das ações inerentes aos processos, estar sobretudo a serviço da comunidade, sendo programas e produtos destinados a criar e a for- geridas democraticamente. No caso, a proposta talecer ecossistemas comunicativos em espaços de se ter na escola “um computador por aluno” educativos”. Apontava desta forma, para a tradi- é tentadora. Mas sob o foco da educomunicação, ção latino-americana de colocar os meios de infor- melhor seria pensar num “laboratório multimídia mação a serviço dos interesses e das necessidades por escola”, onde grupos de docentes e estudantes da população, e não exatamente do mercado ou estejam envolvidos em projetos coletivos. É o que dos sistemas econômicos e políticos. Hoje, inúme- a educomunicação denomina como ampliar o “co- ras organizações do movimento social entendem, eficiente comunicativo” das ações educativas. como a Rede CEP, que a melhor forma de educar Em síntese, a educomunicação confronta-se, as gerações de crianças e jovens é possibilitar que basicamente, com dois conceitos muito em voga: entendam como funcionam os sistemas de infor- o “funcionalismo” (teoria que cristaliza os papéis mação. É garantir a todos o indispensável acesso que emissores e receptores exercem no espaço da às tecnologias, a partir, contudo, de alguns pressu- produção cultural) e o “iluminismo” (teoria pela postos básicos, que passamos a considerar. qual cabe ao sistema educacional sistematizar e transmitir conhecimentos). Ao questionar as fun- Educomunicação é o mesmo que TIC ou ções e as estruturas facilitadoras das operações Mídia e Educação? de comunicação e o próprio sentido desta ação, a Ao afirmarmos que a educomunicação volta- educomunicação se pergunta, antes, pelas pessoas se, sobretudo, para criar, viabilizar e desenvolver envolvidas e pelo sentido do próprio ato de comu- “ecossistemas comunicativos”, apontamos para o nicar, entendendo que todos somos mediadores desafio em repensar as formas como são concebi- dos processos de produção da cultura. das as relações no interior dos espaços educativos. Muitos dos gestores responsáveis pela intro- No caso, a educomunicação defende – com base dução das TIC nas escolas fazem uso do conceito em Paulo Freire - a maneira dialógica e construti- “Mídia e Educação” (emprestada da expressão in- vista de “estar juntos” no mundo, começando pela glesa media education, que no seu original signfiica escola. Exalta, assim, virtudes como a capacidade “educação para a recepção da mídia”). Em muitos de escuta e a disposição em favorecer e multipli- casos, existe perfeita sintonia entre a ação de tais
  • 9. apresentação empreendedores e a dos que preferem trabalhar • Reflexão epistemológica sobre o novo com o termo educomunicação. Nada a opor, pois, campo (reflexão sobre as próprias ações, de forma a esta prática, desde que a opção pelo emprego a garantir coerência epistemológica ao ato de pen- dos recursos da mídia aponte para uma política sar e produzir comunicação) de ação que faça frente, simultaneamente, ao fun- Das áreas anunciadas, ganha importância a cionalismo e ao iluminismo. Caso contrário, não que se refere à gestão dos processos destinados a se estaria fazendo outra coisa que reforçar os sis- construir ecossistemas comunicacionais. A gestão temas tradicionais, agregando a eles o valor que o da comunicação nos espaços educativos produz- marketing usado conseguir imprimir. se, como vimos, tanto nos ambientes voltados para programas escolares formais quanto naque- As múltiplas faces da educomunicação les dedicados ao desenvolvimento de ações não A prática da educomunicação se dá em di- formais de educação. O que caracteriza a gestão ferentes áreas de trabalho. A literatura do NCE/ é, em suma, a “costura” que alcança produzir - por USP aponta para a existência das seguintes possi- meio da ação prática - entre as várias vertentes bilidades de atuação do profissional da educomu- que aproximam a comunicação e a educação. nicação: Frente aos desafios inerentes à nova proposta • Educação pela e para a comunicação governamental da “escola integral”, o conceito de (“media education” - prepara os receptores para educomunicação poderia a ser transformado num relacionar-se criticamente com as mensagens dos referencial seguro e promissor para os que ainda meios de informação); vêem com dificuldade a incorporação do “contra- • Mediação tecnológica na educação (preo- turno” ao cotidiano da escola. cupa-se com o uso adequado e compartilhado das Com a educomunicação, suas tecnologias e tecnologias no ensino) seus processos criativos de produção de cultura, • Expressão comunicativa através das artes toda escola se transformará num espaço de cria- (práticas que visam ampliar os espaços e as moda- ção, em “meio período” ou em “período integral”. lidades de expressão) Em pouco tempo, os administradores públicos, os • Gestão da comunicação nos espaços edu- gestores e os diretores se perguntarão, entre atôni- cativos (assessoria aos sistemas educativos no tos e satisfeitos: por que demoramos tanto a des- entendimento do que seja a educomunicação, cobrir uma proposta tão simples? Para o enten- colaborando para que processos coerentes sejam dimento desses novos caminhos, as instituições implantados) membros da Rede CEP têm muito a contribuir. * Pesquisador da ECA/USP. Professor visitante da Marquette University, Milwaukee, USA (1999-2000); Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da USP <www. usp.br/nce>, Supervisor do Programa de educação a distância “Mídias na Educação” do MEC para o Estado de São Paulo; Membro do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais do Vaticano (2001-2008), Jornalista responsável pela revista Comunicação & Educação. <ismarolive@yahoo.com>. 9
  • 10.
  • 11. Organização: Auçuba – Comunicação e Educação Escola de Vídeo – uma experiência de comunicação e educação colhendo notícias na comunidade A experiência construtor de significados por e para ambos, na O Escola de Vídeo dá ênfase ao desenvolvi- construção do conhecimento. Ainda em Freire, mento do jovem como sujeito de iniciativas sócio- encontra-se correlação com a prática de incentivo políticas, utilizando estratégias pedagógicas para ao posicionamento crítico frente aos diversos tex- formação em três dimensões: humana, política e tos da comunicação social (mídia eletrônica, im- técnica. Busca ampliar as possibilidades de empo- pressa, rádio, etc.), problematizando a realidade. deramento e autonomia da juventude, que surgem No francês Freinet, o Auçuba reconhece respaldo como conseqüência de um trabalho baseado no teórico para sua prática do aprendizado pela ex- acesso ao conhecimento tecnológico e na prepa- perimentação. ração do cidadão informado, crítico e criativo. A Com essa base, o projeto segue algumas eta- participação é o princípio fundamental e a autono- pas que, em princípio, têm o vídeo como estratégia mia e a pró-atividade são os resultados esperados central e como linguagem a ser apreendida técnica dessa intervenção. e estruturalmente pelos jovens. Em edições pos- O projeto empreende um processo de apren- teriores foram introduzidas novas etapas e outras dizagem em consonância com o interesse e a linguagens: rádio, fotografia e jornal. realidade do seu público. Sua referência teórico- Resumidamente, as etapas focam: valoriza- metodológica parte de duas abordagens de cunho ção do indivíduo, relações interpessoais, partici- participativo e mobilizador – as pedagogias de pação, questões de grupo; a expressão corporal, Paulo Freire e Célestin Freinet. Na obra do pri- a fotografia e as artes plásticas despertando para meiro, é reconhecida a dialogicidade como prin- o exercício do olhar; noções básicas de teoria, cípio da relação entre educador e educando, na produção de vídeo e aulas práticas com a câmera; qual o eixo da comunicação é mais interativo e pesquisa, produção e elaboração do roteiro de ví- 11
  • 12. preparando a câmera para gravar... deo; a TV de Rua nas comunidades – o primeiro Recife, envolvendo 40 alunos e quatro professores, contato externo dos jovens e o sentido mobiliza- por meio de convênio com a secretaria de edu- dor da comunicação têm início no projeto; Núcle- cação do município. Em decorrência da avaliação os de Produção (etapa iniciada em 2000), que são dessa experiência, o Auçuba produziu e promoveu continuidade do trabalho embrionário das TVs de a distribuição do Kit Escola de Vídeo com o obje- Ruas, mas com autonomia para abordar aspectos tivo de difundir e socializar na rede pública suas relevantes das e com as comunidades. estratégias metodológicas. O material, distribuído Em 2002, alguns dos jovens idealizaram e re- a partir de 1998, consta de CD-ROM, folhetos ex- alizaram oficinas de vídeo (viabilizadas pelo prê- plicativos e a descrição metodológica para o uso mio da UNESCO) em escolas públicas do Recife, do vídeo-debate, além de fita de vídeo. Em 2001, Camaragibe e Olinda. Essa experiência foi piloto através de convênio com a Secretaria de Educação para a implementação dos Núcleos de Comunica- de Olinda, o projeto Escola de Vídeo foi desenvol- ção Comunitária (NCC) a partir das escolas / bair- vido em cinco escolas. Entre 2003 e 2006, a expe- ros, etapa iniciada em 2003. A partir daí, a ênfase riência de formação dos Núcleos de Comunicação é dada ao processo de retorno dos jovens às suas Comunitária foi realizada em parceria com escolas comunidades, agora como educadores, e à mobili- públicas de Recife e Olinda, em suas dependências. zação social através da comunicação. Em 2006, numa tentativa de promover mais uma Entre 2006 e 2008, o projeto passou a atu- vez a aproximação com as escolas, o projeto abriu- ar a partir de uma base tecnológica no bairro da se à formação pedagógica da sua equipe, mas não Bomba do Hemetério, abrigando as atividades de houve adesão dos profissionais. formação de adolescentes de sete comunidades do No entanto, é preciso dizer que o cumpri- entorno para produção de comunicação e mobili- mento dessa meta propiciou à equipe do projeto – zação. Uma casa foi montada com equipamentos até então jovens egressos do Núcleo de Produção, de informática, vídeo, rádio e fotografia. Hoje, o que atuavam como monitores desde 2002 – ama- espaço é referência na comunidade e segue cons- durecimento pedagógico para assumir a respon- truindo alternativas de formação, de articulação sabilidade enquanto educadores e, na seqüência, política e mobilização comunitária. responder pela condução do projeto tendo à frente A relação do projeto com o poder público da coordenação um desses jovens. se deu de forma descontinuada ao longo da sua trajetória. Mas reflete, sobretudo, o interesse do Público beneficiário do projeto: Auçuba em socializar sua experiência de forma a Adolescentes e jovens (13-22 anos) de comu- inspirar a adoção de metodologias participativas nidades de baixa renda do Recife e de Olinda, do no ensino formal. Com esse intuito, em 1995 o ensino fundamental e do ensino médio (em curso projeto aconteceu em quatro escolas públicas do ou concluído).
  • 13. Escola de Vídeo – uma experiência de comunicação e educação · auçuba gravando na comunidade Números do projeto: Breve histórico da instituição: Custo anual – R$ 400.000,00 (viabilizam: Auçuba - Comunicação e Educação é uma quatro educadores, coordenação, oficineiros pon- ONG pernambucana, fundada em 1989, volta- tuais, palestrantes, infra-estrutura física, equipa- da prioritariamente para a defesa dos direitos de mentos, transportes, material didático e de comu- crianças, adolescentes e jovens. Tem a metodo- nicação, alimentação e produções de vídeo, rádio, logia de educação pela comunicação como sua jornal, fotografia e circuitos de exibição de rua). grande força de ação. Em 2001, recebeu prêmio Atendimento – De 1995 a 2008, cerca de 500 da UNESCO como uma das cinco experiências jovens em atendimento direto e mais de cinco mil de Pernambuco que têm resultados relevantes e em ações multiplicadoras (exibições de TV de Rua efetivos na prevenção da violência entre jovens e TVs comunitárias e oficinas de monitoria reali- de comunidades de baixa renda. Ficou entre as 30 zadas pelos jovens); cerca de 15 escolas públicas, instituições brasileiras reconhecidas por esse orga- atingindo alunos e professores; oficinas de Comu- nismo como “êxito de metodologia de formação”. nicação e Educação com 45 técnicos em educação Em 2003, recebeu o Prêmio Cristina Tavares de (dos quais 15 são diretores de escolas) da rede pú- Jornalismo com a campanha social “Registro Civil blica de ensino de Olinda, em 2001 e 2002. de Nascimento, uma certidão de cidadania”, reali- Produtos de comunicação – Mais de 40 tí- zada em parceria com o UNICEF. tulos em vídeo (vários formatos e gêneros); seis programas de rádio e diversos spots; 3 edições de jornais impressos e inúmeros fanzines; Envolvidos – profissionais de comunicação, sociologia, educação, psicologia e artes (artes plás- ticas, teatro etc.). De 1995 a 2008, o projeto foi conduzido por seis coordenadoras. A última res- ponde pela coordenação desde 2007 e é egressa do projeto. Conta ainda com a participação de volun- tários (em palestras, debates e outras atividades) e parcerias com lideranças comunitárias e gestores de escolas públicas de comunidades onde atua. Teve o apoio financeiro de quatro parceiros: Fun- dação Odebrecht (1995-1999), Comunidade Soli- dária (2000), Instituto Ayrton Senna (2001-2002), Instituto C&A (2003-2006) e FEDCA/CEDCA/OI seleção para o núcleo de Futuro (2006-2008). comunicação comunitária 13
  • 14.
  • 15. Organização: BemTV Aprender fazendo (Mídia) aula de vídeo na Escola Municipal Helena Antipoff Diariamente, somos bombardeados por in- de uma sociedade solidária. Para dar conta dessa formações que nos chegam por rádio, televisão, missão, desenvolve um projeto de atendimento internet, jornais, revistas, outdoors e cartazes es- direto aos adolescentes (Olho Vivo) e outro volta- palhados pela cidade. A comunicação de massa e do ao aperfeiçoamento dos professores que atuam a comunicação mediada por computador e outros nas escolas onde estudam esses jovens (Educomu- dispositivos digitais ampliam cada vez mais sua nicar). As duas estratégias apostam nos processos participação na construção dos sentidos sociais e de produção e veiculação de mensagens para al- das identidades, e por essa via chegam à sala de cançar melhores resultados no processo de ensi- aula. Também cresce a percepção de que dominar no/aprendizagem. as linguagens da comunicação e as ferramentas que nos permitem produzir – e não só consumir Preceitos básicos mensagens – torna-se essencial para o exercício da Como outras organizações da Rede CEP, a cidadania e para a possibilidade de influenciar as Bem TV se apóia na proposta da educomunica- decisões políticas. A comunicação passa a ser vista ção. São os processos de produção e veiculação de como um direito humano. mensagens estruturando a construção de conhe- É pensando em formas de democratizar a cimento. comunicação e influenciar políticas públicas que Ao desenvolver um vídeo, por exemplo, o levem a mídia para dentro da escola que a Bem aluno pesquisa sobre o tema, organiza as informa- TV – Educação e Comunicação organiza seu foco ções em um roteiro, re-significa essas informações e suas estratégias de ação. A organização utiliza a na gravação e faz uma sistematização ao editar o comunicação como metodologia para formar jo- material. Ao longo de todo o processo, desenvol- vens críticos e comprometidos com a construção ve competências (como capacidade de pesquisa 15
  • 16. jovens produzem Fotonovela e expressão, capacidade de trabalho em grupo, significativo de instituições, existem 800 adoles- responsabilidade e senso crítico) e se apropria do centes na região que estão fora da escola e, entre conteúdo trabalhado. os que estudam, 64% observam uma defasagem Outro diferencial refere-se à veiculação da de pelo menos dois anos em seu fluxo escolar1. produção. Diante da perspectiva de “falar” para os As ações do projeto se organizam em dois colegas ou para a comunidade, o compromisso da componentes: as Oficinas de Mídia e os Grupos criança ou do adolescente em relação à produção de Jovens Comunicadores. Nas Oficinas de Mídia, de texto ou imagem se torna maior. Sua produção a cada ano 90 adolescentes aprendem técnicas de estará impactando sua identidade frente ao grupo produção audiovisual, fotografia ou desenvolvi- e não apenas servindo de parâmetro para a nota mento de sites. Em encontros semanais, eles usam que a professora lhe dará. as técnicas aprendidas para levantar a memória e Todos concordam que é preciso garantir pro- o diagnóstico da situação de vida de cada região. cessos individualizados de educação, que é ne- Ao final do processo, uma exposição fotográfica, cessário trabalhar a partir dos interesses dos edu- vídeos e sites produzidos pelos jovens abrem es- candos. Mas como fazer isso com turmas de mais paço para uma discussão nas comunidades sobre de 30 alunos? Como conciliar esse ideário com problemas e potencialidades de cada território. as ementas exigidas nacionalmente? A produção Egressos das oficinas podem dar continuida- de mídia em sala de aula é uma resposta a essas de ao aprendizado participando dos Grupos de Jo- questões. Mas é preciso estar preparado para au- vens Comunicadores. Hoje existem três grupos: o las “barulhentas”, alunos “questionadores” e para Nós na Fita; que gerencia um cineclube itinerante uma revisão de papéis entre os sujeitos da escola. e produz vídeos, o Olho Vivo, editor de um jornal e responsável por exposições anuais de fotografia, Projeto Olho Vivo e o Virtuação, gerente de uma agência virtual de O projeto Olho Vivo viabiliza a produção de notícias (www.niteroicomunidades.org.br). mídia por adolescentes em quatro comunidades de Entre os 537 jovens que já passaram pelo baixa renda de Niterói: o Morro do Preventório, a projeto Olho Vivo, que teve início em 2003, mais Grota, o Morro do Estado e Jurujuba. As quatro da metade melhorou seu desempenho escolar e regiões somam mais de 25 mil habitantes e quase quase 80% melhoraram suas relações familiares. metade destes são jovens entre 13 e 22 anos. Na Hoje, 15 jovens egressos do projeto atuam no região, funcionam quatro escolas públicas estadu- mercado de trabalho de comunicação e seis che- ais e três escolas municipais. Apesar do número garam ao ensino superior.
  • 17. Projeto Educomunicar Aprender fazendo (Mídia) · BEM TV Breve histórico Em 2006, teve início o projeto Educomunicar. A Bem TV surgiu como idéia em 1990, A proposta de realizar uma oficina de capacitação durante os três dias de viagem que separam (carga horária de 60 horas) voltada para professo- Niterói (RJ) de São Luís do Maranhão (MA). res surgiu do diálogo que a Bem TV já mantinha Uma aluna de jornalismo e um aluno de publi- com as escolas da região, através do projeto Olho cidade voltavam de um encontro de estudan- Vivo. Desde então, a oficina vem sendo reeditada tes, quando tiveram a idéia de colocar a comu- anualmente. Vinte e uma escolas de Niterói e 14 nicação a serviço de processos de mobilização do Rio de Janeiro já participaram do projeto. O e educação popular, inspirados no trabalho da processo formativo começa com uma introdução TV Viva de Recife (PE). à educomunicação. Na segunda aula, discute-se Inicialmente, a ação consistia em exibir a gestão de projetos de comunicação na escola; o em espaços públicos de comunidades de baixa objetivo é convencer os educadores de que com renda de Niterói vídeos produzidos com a par- planejamento, flexibilidade e articulação qualquer ticipação de moradores dessas áreas. Invaria- proposta se realiza. velmente, os adolescentes eram os primeiros A partir do terceiro encontro, os participantes a abraçar a idéia, atraídos pelas câmeras e pela têm contato com cada uma das principais lingua- possibilidade de expressão. Esse contato com gens midiáticas: internet, jornal, rádio, fotografia os jovens levou a Bem TV ao diálogo com as e vídeo. São três encontros para cada linguagem, escolas e aproximou sua proposta dos fazeres sempre associando discussão teórica, atividades da educação. práticas de produção e reflexão crítica dos pro- cessos. Os dois últimos encontros são dedicados Parceiros atuais: à construção de projetos de comunicação para se- Projeto Olho Vivo: Petrobras, Oi Futuro, rem implantados nas escolas, com a participação SESC dos alunos, muitos deles capacitados na área de Projeto Educomunicar: Instituto Unibanco comunicação também pela Bem TV. Prêmios: Um “seminário de pactuação” marca o en- Projeto Olho Vivo: Itaú UNICEF (2007) cerramento do processo formativo. Participam, Projeto Educomunicar: Fundo Itaú Excelên- além dos professores envolvidos com a oficina, cia Social (2007) os diretores das escolas e representantes das se- cretarias municipal e estadual de educação). No Outros projetos: evento, os professores apresentam seus projetos Entre fraldas e cadernos: parceria com o e estabelecem os acordos necessários à sua efetiva UNICEF. implantação. jovens na aula de midia digital nos na fita grava no Centro de Niteroi 1 Dados: Censo 2000, Programa Médicos de Família, Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia. 17
  • 18.
  • 19. Organização: CECIP - Centro de Criação de Imagem Popular Botando a Mão na Mídia oficina com adolescentes A maior parte do tempo livre de alunos e pro- Ao “botar a mão na mídia”, descobrem que ela fessores brasileiros se passa diante da telinha da pode ser um instrumento pedagógico excepcional. televisão. A garotada da escola básica gasta mais Mas, atenção: a tecnologia não é o mais importan- horas ali do que assistindo a aulas ou convivendo te nessa história. Para que essa revolução interna com os pais. Ler, então, é hábito de poucos. O de- aconteça, é preciso tanto assumir quanto provocar safio para os educadores é que, para promover a mudanças de atitude, passando de simples consu- aprendizagem, eles devem partir da realidade dos midores passivos a leitores e observadores críticos alunos, ajudando-os a estabelecer pontes entre os dos meios de comunicação, capazes de criar suas conteúdos do saber sistematizado da escola e suas próprias mensagens e conteúdos. vivências cotidianas. Como ignorar esse aspecto Pensando nisso, o CECIP desenvolveu o pro- essencial de suas vidas, que é a sua relação com a jeto Botando a Mão na Mídia, sistematizando a televisão e com a mídia em geral? experiência acumulada em mais de seis anos de Muitos professores começam a procurar in- trabalho com alunos e professores do sistema formações e recursos para aumentar sua compe- público de ensino de segundo grau. Criamos um tência em integrar as tecnologias da comunicação conjunto de materiais educativos (um kit), com- à escola, trazendo para a sala de aula a televisão, posto de um manual, dois cartazes e um vídeo/ o vídeo, os jornais, as revistas, o rádio e a internet. DVD, com todas as informações indispensáveis a 19
  • 20. oficina com professores seu uso eficaz. Entre 2000 e 2003, esse material po de Conhecer, parte-se da prática para chegar foi usado em oficinas de formação de orientadores à teoria, organizando situações de aprendizagem de telecentros, que repassaram o aprendido a pro- que incentivam os participantes a desenvolver um fessores do sistema público de ensino do Estado olhar crítico sobre os meios de comunicação. O do Rio de Janeiro, numa parceria com a Secretaria mesmo acontece quando o grupo é formado por Estadual de Educação. Em 2005, o Botando a Mão alunos: a idéia é refletir sobre sua própria experi- na Mídia foi distribuído pela Secretaria de Edu- ência e experimentar novas atitudes. Os textos do cação Continuada, Alfabetização e Diversidade pensador espanhol Joan Ferrés sobre TV, Vídeo e (SECAD) do Ministério da Educação a 3.500 es- Educação são usados nesse bloco para aprofundar colas espalhadas por todo o território nacional. O esses conceitos. CECIP realizou a formação de agentes multiplica- No bloco sobre questões técnicas, o Tempo dores que, por sua vez, capacitaram os professores de Fazer, o caminho é inverso: parte-se da teo- das escolas que receberam os kits. A experiência ria para chegar à vivência prática. As dinâmicas demonstrou o potencial da metodologia do Bo- preparam os participantes para usar os aparelhos tando a Mão na Mídia, também merecedora do de vídeo, TV e câmera, para dominar os equipa- prêmio de Tecnologia Social da Fundação Banco mentos de que a escola dispõe e para saber como do Brasil. utilizá-los criativamente. Essa experiência prá- tica, de mão na massa, é fundamental para que A seguir, brevemente, seus pontos professores adquiram confiança em si mesmos, principais: sabendo que poderão resolver eventuais proble- O curso Botando a Mão na Mídia é composto mas técnicos sem precisar pedir ajuda nem “pagar de seis oficinas de quatro horas de duração. Cada mico”diante de seus alunos. oficina é estruturada em dois blocos temáticos: linguagem audiovisual (Tempo de Conhecer) e As oficinas são relizadas com dinâmicas des- questões técnicas (Tempo de Fazer). Elas alternam critas passo a passo. Representam um estímulo à momentos de debate e de reflexão, atividades em reflexão e à colaboração, um aprendizado a ser e a grupo e plenárias, proporcionando aos participan- conviver. Possuem cinco características: tes, caso sejam professores, uma vivência prática 1. Estimulam os participantes a refletir in- que os motiva a experimentar com seus alunos al- dividualmente, para depois compartilhar as pró- gumas das atividades de que participaram. prias idéias com o grupo, identificando consensos No bloco de linguagem audiovisual, o Tem- e valorizando diferenças. Isto é: aprender consi-
  • 21. go mesmo e aprender a ouvir o outro, atenta e a um compromisso é considerado aceitável. Uma Botando a Mão na Mídia · cecip respeitosamente. forma simpática de ir mudando esse traço cultural 2. Incentivam a cooperação entre pessoas é começar as oficinas pontualmente, mesmo com diferentes, mostrando como é enriquecedor con- poucas pessoas presentes, planejando-as de modo viver com a diversidade. que a perda da abertura não interfira no entendi- 3. Criam um ambiente propício à experimen- mento da dinâmica geral daquele dia. É um modo tação, onde o erro é admitido e usado como fonte sutil de tolerar aqueles 10 a 15 minutos de atraso, de aprendizagem e de reflexão. mas suficientemente constrangedor para os retar- 4. Estimulam os participantes a melhor es- datários. O atrasado procurará ser pontual na pró- truturar suas idéias, expressando-se oralmente xima vez. com clareza e objetividade. Uma experiência leva a outras. Atualmente, 5. Representam um desafio à criatividade. o CECIP vem desenvolvendo, com alunos e pro- fessores, o projeto Do Giz ao Pixel – Ampliando o Para terminar, deixamos uma observação Leque da Sala de Aula, em que são usadas câmeras quanto ao uso do tempo, em que cada hora, cada fotográficas digitais simples, cujas gravações são minuto, é uma oportunidade de crescimento e de editadas usando o programa Movie Maker. Com aperfeiçoamento, tanto pessoal quanto coletivo. essa experiência, caem barreiras hierárquicas, bu- Relaciona a própria aprendizagem com a respon- rocráticas e geracionais, permitindo um novo diá- sabilidade pelo manejo do tempo em que ela se logo, com base na crítica dos trabalhos realizados dá. Na escola básica, atraso de alunos não é admi- e no debate sobre as infinitas possibilidades que o tido; na vida adulta, chegar meia hora mais tarde uso dessa linguagem abre para as escolas. O CECIP foi fundado em l986 por um grupo de profissionais, entre eles Paulo Freire, presidente de honra, preocupados em propor- cionar à população informações de qualidade sobre seus direitos. Enquanto a TV Maxam- bomba, seu projeto de TV Popular, apresen- tava em praças públicas os programas criados com os moradores da Baixada Fluminense, o CECIP produzia documentários com televi- sões européias (BBC, Channel 4, Canal Plus, ZDF, ARTE). O crescente trabalho com a es- cola levou o CECIP a desenvolver conjuntos de materiais educativos e a atuar na formação de agentes de mudança. As linhas de ação do CECIP compreendem: 1) produção de materiais educativos; 2) capacitação, apoio a escolas e formação de agentes de mudança; 3) mobilização social e campanhas de interesse público; 4) realização de documentários e filmes para TV e cinema e 5) consultoria. 21
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  • 23. Organização: Associação Cidade Escola Aprendiz A Educomunicação no Bairro-Escola: fortalecendo o território e a comunidade local decisões coletivas A Associação Cidade Escola Aprendiz é um ção não se restringem à união de duas áreas do laboratório de pedagogia comunitária que promo- conhecimento: trazem, sobretudo, novos mode- ve o conceito de bairro-escola, cujo objetivo é in- los de relação, de convivência e de concepção de tegrar os diversos potenciais educativos de uma ensino/aprendizagem. A prática educomunicativa comunidade (seus espaços, pessoas, instituições e exige - pela natureza do paradigma que a sustenta iniciativas) em uma rede que busca garantir con- - uma modificação no modelo cristalizado da rela- dições para o desenvolvimento integral do terri- ção entre professor e aluno: não há mais lugar para tório e dos sujeitos, especialmente das crianças e um transmissor ativo e um receptor passivo de in- jovens. formações. Nessa perspectiva, torna-se obsoleta e O Aprendiz nasceu como mídia: um site ineficiente o que Paulo Freire chamou criticamen- (www.aprendiz.org.br) com função inicial de dis- te de “educação bancária”, na qual os professores seminar temas relacionados à educação para a ci- (emissores) “depositam” o conhecimento nos alu- dadania, oferecendo-se como uma redação-escola nos (receptores), e o mesmo conhecimento deve para estudantes de instituições educacionais pú- ser reproduzido em provas e testes. Como sabe- blicas e privadas. mos, para Freire, “a educação é comunicação, é di- Esse primeiro programa deu origem a uma álogo, na medida em que não é a transferência de série de projetos do Aprendiz, que têm em comum saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores a convicção de que a sociedade da informação exi- que buscam a significação dos significados” (Frei- ge a formação dos sujeitos em mídia e que não é re, 1979, p. 69). Dessa forma, necessariamente, a mais possível separar a reflexão sobre a educação relação educador-educando torna-se um processo da reflexão acerca da comunicação. comunicativo de ida e volta, no qual o educador No entanto, as inovações da educomunica- tanto ensina como aprende. A comunicação é, 23
  • 24. escola da comunidade do Grajaú portanto, a base de uma educação emancipadora. O projeto tem como propósito fortalecer a Desse modo, o lugar da escola é transfor- comunicação local, ampliando o acesso à infor- mado. A instituição escolar, caracterizada histo- mação e fortalecendo a possibilidade dos sujeitos ricamente pelo ensino diretivo, vertical e hierar- serem produtores desse processo. A agência tem quizado, começa a perder o monopólio educativo buscado reunir as informações produzidas nas (Orozco, 1997), na medida em que outras instân- instituições do bairro e veicular notícias de inte- cias culturais, parte inerente da vida dos estudan- resse local a partir dos diversos meios disponíveis. tes, se apropriam de temas e metodologias que A produção é feita por 20 jovens comunicadores - o ensino formal ainda ignora ou insiste em não estudantes das escolas do bairro de Pinheiros, em valorizar. Torna-se urgente o reconhecimento de São Paulo - que aprendem a desenvolver um novo que a educação acontece também fora das salas de olhar sobre o bairro e a buscar notícias locais com aula, como defendeu Freinet: “As técnicas tradi- a mediação de jornalistas profissionais. Simulta- cionais [de ensino] são isoladas da vida e todos os neamente à formação, os jovens são responsáveis alunos se desinteressam. Precisamos restabelecer pela produção de conteúdos e pelo desenvolvi- o circuito para ligar a escola à realidade.” (www. mento de diferentes mídias como site, rádio, ví- freinet.org.br) deo, entre outros. Trata-se, portanto, de promover o ensino Paralelamente à atuação com os jovens, o atrelado à vida. O conceito de bairro-escola, que projeto trabalha com as instituições de ensino do norteia as práticas da Cidade-Escola Aprendiz, território. Além de garantir um espaço no site de- traduz justamente essa transposição: é possível dicado aos blogs das escolas, o projeto entende ser aprender em qualquer lugar, com toda a comuni- necessário criar a demanda da comunidade escolar dade e por toda a vida. Somente ao aprender pela por comunicação, para que a mesma possa partici- experiência temos cidadãos verdadeiramente en- par ativamente do processo e incorporar seus va- gajados com o conhecimento, com consciência de lores. Para tanto, o programa oferece formação em si, da sua responsabilidade na escola, no bairro, na educomunicação para os professores e estudantes sua cidade; dotados de, mais do que informação, do 6º ao 9º ano, que descobrem formas de utilizar autonomia para buscá-la. a comunicação como ferramenta de ensino e inte- É nessa perspectiva, e como resultado de dez ração dentro e fora da sala de aula. anos de experiências que atrelam a construção de Fica claro, portanto, que existe aqui uma conhecimento à reflexão e ação sobre a realidade preocupação em construir uma comunidade de local, que se insere a Agência Comunitária de Notí- interesse em torno da educação. Essa comunida- cias de Pinheiros (www.agenciacomnoticias.org.br). de, formada tanto por pessoas quanto por institui-
  • 25. ções, caracteriza-se por um forte potencial de co- A Educomunicação no Bairro-Escola · Associação Cidade Escola Aprendiz nectividade: o intuito é utilizar os meios para criar e fortalecer relações dentro e fora da comunidade, promovendo a um só tempo o desenvolvimento individual, coletivo e do território, ou seja, o de- senvolvimento local integral entendido como algo que pode ser alcançado e construído pela própria comunidade. A comunicação comunitária torna-se assim um instrumento do bairro-escola: produz, pela mobilização de agentes locais, informações de interesse do bairro; atua pelo princípio da multi- plicidade, promovendo a participação de escolas, ONGs, estudantes e população; atua em rede na gestão de parcerias e fomenta o olhar co-respon- sável para o bairro, contribuindo com a constru- ção da identidade do território e estimulando o espírito de pertencimento. A Agência Comunitária de Notícias está sen- do disseminada através do projeto “Mudando sua escola e comunidade”, parceria da Rede CEP com o UNICEF que envolve cinco capitais brasileiras. Em São Paulo, o projeto está sendo implementado pelo Aprendiz em parceria com a Revista Viração como parte das estratégias do programa Platafor- muitos são os lugares mas Urbanas do UNICEF. para aprender atividade artística Referências bibliográficas: FREIRE, P. Extensão ou comunicação? 4. ed. Tradução Rosisca Darcy de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. KAPLUN, M. “Mini-autobiografia”. Boletim Alaic, nº 7-8, 1993. MEDEIROS FILHO, B. & GALIANO, M. B. Bairro-escola: Uma nova geografia do aprendizado. A tecnologia da Cidade Escola Aprendiz para integrar escola e comunidade. São Paulo: Tempo D’Imagem, 2005. OROZCO GOMEZ, G. “Uma pedagogia para os meios de comunicação”. In: Revista Comunicação & Educação, n º 12, ECA- USP, São Paulo, Editora Moderna, 1997. Links: www.aprendiz.org.br www.freinet.org.br www.oldnet.com.br 25
  • 26.
  • 27. Organização: Cipó – Comunicação Interativa Escola Interativa: para transver a Educação jovem aprende computação gráfica O poeta Manoel de Barros, em seu poema ção pela comunicação. Nós já sistematizamos: As lições de R.Q., afirma categórico: “o olho vê, Escola Interativa: abordagem da educação a lembrança revê, a imaginação transvê. É preciso pela comunicação no ensino formal. transver o mundo”. Exercitar esse verbo imaginá- Estúdio Aprendiz: utilização das Tecnologias rio e cunhado por Barros para explicar como con- de Informação e Comunicação (TICs) para pro- cretizar o mundo e os sonhos é o desafio da Cipó mover a inserção de jovens no mundo do traba- – Comunicação Interativa com a educação pela lho, via Lei da Aprendizagem (Lei n. 10.097/00). comunicação. Acreditamos que, utilizando a co- Sou de Atitude: uso da comunicação para a municação de forma democrática, participativa e participação política de crianças, adolescentes e educativa, crianças, adolescentes e jovens podem jovens e monitoramento e incidência nas políticas criar produtos capazes de transver o mundo, cujos públicas. conteúdo e processo de elaboração conferem um Comunicação para a garantia de direitos: outro sentido à sua própria história, da sua comu- qualificação da mídia e das organizações sociais nidade, cidade ou país. para o uso da comunicação em prol da garantia A Cipó é uma associação civil sem fins lucra- dos direitos infanto-juvenis. Em parceria com a tivos atuante na Bahia há nove anos e tem a educa- Rede Andi Brasil. ção pela comunicação em seu DNA. A metodolo- Comunicação para organizações da socie- gia propõe um novo enfoque sobre o processo de dade civil: incorporação da comunicação como ensino-aprendizagem, em que os educandos parti- estratégia para promover o fortalecimento institu- cipam ativamente da produção de peças de comu- cional e a ampliação do impacto de organizações nicação que, uma vez disseminadas, geram novos sociais. processos de educação e mobilização social. O Cidadão de Papel: utilização do teatro Funcionamos como um laboratório pedagó- para promover a mobilização da sociedade em gico no qual criamos, testamos, avaliamos e siste- torno de temas relacionados a direitos humanos matizamos algumas formas de trabalhar a educa- e cidadania. 27
  • 28. Programa Escola Interativa Para transver a escola O desejo de contribuir com a melhoria da Todo o aprendizado acumulado em nove educação levou a Cipó a arriscar-se na complexa, anos de experimentações e reflexões com a edu- porém gratificante, tarefa de adotar a educação cação pela comunicação, em processos formais ou pela comunicação na escola pública. O desafio não formais de ensino, reforça na Cipó a certeza era tornar essa metodologia, até então experimen- do potencial dessa metodologia para o desenvol- tada em processos não formais de ensino, uma vimento pessoal, social e político de crianças, ado- ferramenta pedagógica capaz de colaborar para lescentes e jovens. No entanto, a experiência do a qualificação da educação pública, permitindo Escola Interativa nos traz uma certeza: apenas in- que estudantes, professoras(es) e gestoras(es) se corporada como política pública a educação pela apropriassem da comunicação e a utilizassem de comunicação poderá ser exercida em toda sua po- forma transversal ao currículo. Essa experiência tencialidade, gerando impactos significativos nos deu forma ao programa Escola Interativa, até hoje índices educacionais. executado e reinventado pela Cipó. Nesse sentido, a Cipó vem realizando uma Tudo começou, em 2000, com a adesão de série de ações de incidência junto ao poder públi- cinco escolas. No ano seguinte, após muitas ex- co, sempre em parceria com outros atores estraté- perimentações e resultados, a primeira conquista: gicos, como a Rede CEP. Promovemos e/ou parti- passamos a integrar o Fórum de Parceiros da Secre- cipamos de fóruns e articulações para monitorar, taria Municipal de Educação de Salvador- SMEC. avaliar e propor programas e ações que colaborem Nos anos de 2002 e 2003, ampliamos nossa ação para a melhoria do ensino público. Além da Secre- nas escolas e lançamos o Guia Interativo Escola taria Municipal de Educação de Salvador, mante- com Sabor (www.cipo.org.br/escolacomsabor), site mos diálogo com a Secretaria Estadual de Educação de divulgação e mobilização da proposta pedagó- da Bahia a fim de contribuir com a implementação gica. da educação pela comunicação no ensino médio. Em 2004, o Escola Interativa focou no prota- Como Manoel de Barros, queremos que to- gonismo estudantil, formando lideranças em três das as crianças, adolescentes e jovens tenham a níveis: representantes de turma, lideranças de grê- oportunidade de transver o mundo através da es- mios estudantis e conselheiros escolares. No final cola, dando a ela um outro sentido: acolhedor, de- do ano, três ações desenvolvidas por adolescentes safiador, criativo e importante na construção dos em escolas públicas municipais foram premiadas. sonhos, da realidade e do seu projeto de vida. Os resultados alcançados foram avaliados, siste- matizados e disseminados por meio da Coletânea Escola Interativa, lançada no mesmo ano e forma- da por um guia metodológico, um guia de ativida- des e um vídeo de caráter mobilizador. No mes- mo ano, concebemos e executamos o Programa de Educação pela Comunicação – PEC, formando oficina de rádio em escola educadores de diversas organizações sociais na metodologia da educação pela comunicação. A partir de 2006, concentramos o foco de atuação da Cipó em algumas comunidades espe- cíficas, levando o Escola Interativa para quatro es- colas do Subúrbio Ferroviário de Salvador e outras quatro da Região Metropolitana, nos municípios de Dias D´Ávila e Camaçari. Começamos também a desenvolver e experimentar um método de estí- mulo à participação infantil, no qual a produção de comunicação dentro das escolas aborda o direi- to das crianças à participação comunitária, social e política. Após oito anos de atuação, os aprendizados e desafios foram muitos e refletem as dificuldades do ensino público no Brasil: falta de estrutura das escolas, descontinuidade do projeto pedagógico com a mudança de direção, saída de professoras(es) já mobilizadas(os), mudanças de governo e de pro- fissionais à frente das secretarias de educação e, sobretudo, a incansável necessidade de reafirmar a metodologia da educação pela comunicação como uma possibilidade real de transformação do am- biente escolar e da comunidade em seu entorno.
  • 29. Escola Interativa: para transver a Educação · cipó comunicação interativa aluna da Escola Kabum fotografando ALGUNS RESULTADOS CIPÓ 1999 - 2007 O programa Escola Interativa é estruturado da seguinte forma: Formação - 7.127 crianças, adolescentes e jo- vens, 1.467 educadores e 3.224 atores sociais Etapa I - Identificação da escola; sensibilização da comunidade escolar; adesão dos interessa- Mobilização - 119 escolas, 126 veículos de dos; montagem da proposta de acordo com o comunicação, 6 universidades e 160 empresas. planejamento pedagógico da escola. Produção - 377 peças de mídia feitas com Etapa II – Montagem do Núcleo Interativo, crianças, adolescentes e jovens. formado por estudantes e professoras(es); elaboração do plano de implementação do Ação política - 86 monitoramentos de políti- projeto educativo. cas públicas, 27 ações de incidência promovi- das com jovens Etapa III – Execução de formações para e com os membros do Núcleo Interativo e da escola em educação pela comunicação e linguagens de mídia. Etapa IV – Mostra dos produtos realizados; elaboração de estratégias para envolver famí- lias e comunidade. 29
  • 30.
  • 31. Organização: Ciranda Luz, Câmera… Paz! nas Unidades “Todos falam da violência das águas que tudo carregam pela frente. Mas ninguém diz nada sobre a violência das margens que as comprimem.” Bertold Brecht Meses e meses sem ver a família, os amigos. Longe de tudo o que até então se entendia como vida. Até então... Cedo demais, muitos adolescentes enfren- tam problemas com a justiça. Vão parar em cen- tros de socioeducação e perdem a liberdade antes mesmo de conquistá-la. A maioria vítima de uma violência precoce, que começa ainda na infância e acaba potencializada na puberdade. Realidade dura! Realidade ÚNICA conhecida por quase to- dos os meninos e meninas em privação de liber- dade. Alguns deles participaram do projeto Luz, Câmera...Paz! nas Unidades e, assim, tiveram a apesar do envolvimento com a violência, podem oportunidade de manusear uma câmera fotográfi- se transformar em agentes da cultura da paz, ca, de escrever algo sobre si mesmos e de ser pro- como todos os outros filhos de Josés, Marias e An- tagonistas do próprio filme, do próprio roteiro. tonias. Muitos se mostraram pela primeira vez! Muitos foram vistos, ouvidos e percebidos pela O projeto primeira vez! O ambiente é fechado, com grades e câmeras Um resgate de auto-estima, de cidadania, de de segurança. Mas a educomunicação quebra essa valores humanos. Um resgate de vida! De algo a rotina. Permite falar do que quase não se fala. mais do que - até então - se entendia como vida. Uma vez por semana, os educadores do pro- jeto Luz, Câmera...Paz! nas Unidades aplicavam Os adolescentes oficinas de educomunicação no Joana Miguel Ri- Filhos de Josés, Marias, Antônias... Compor- cha, centro de socioeducação feminino localizado tamento adolescente como o de qualquer pessoa na capital paranaense, e no São Francisco e no Fa- que já passou dos doze, mas que ainda não che- zenda Rio Grande, centros de internamento mas- gou aos 18. culino localizados em Piraquara e em Fazenda Rio Mas os meninos e meninas que participaram Grande, Região Metropolitana de Curitiba. do “Luz, Câmera…Paz! nas Unidades” carregam Pelos pátios, nos refeitórios, adolescentes cicatrizes profundas. Cometeram ato infracional privados de liberdade eram livres para refletir, e estavam em regime de privação de liberdade na discutir e opinar sobre a realidade em que se en- época em que o projeto foi desenvolvido. Os mo- contravam. Estimulados e orientados pelos edu- tivos que os levaram a esse destino foram os mais cadores, aprendiam técnicas de comunicação e diversos: furto, roubo, tráfico de drogas, homicí- como aplicá-las para expressar o que pensavam e dio, seqüestro e latrocínio. Eles podem ficar entre sentiam. Aos poucos, a timidez e a desconfiança seis meses e três anos privados da liberdade. Há ficavam de lado e a “liberdade” se refletia na pro- muitos casos de reincidência. dução de fanzines repletos de textos e ilustrações, Os jovens, internados na capital, vêm de di- jornais murais com matérias, desenhos e fotogra- ferentes cidades do Paraná. A maioria não comple- fias, além de vídeos, numa linguagem próxima do tou o ensino fundamental e todos são de famílias documentário, que abordavam o cotidiano e as com baixa renda. reflexões feitas por eles. Esse perfil se repete nas outras unidades de Todas as discussões e decisões, desde os te- privação de liberdade. Mas são adolescentes que, mas das pautas até os cortes das edições, eram fei- 31
  • 32. jovem em atividade de produção tas pelos adolescentes, que assumiam o papel de Durante as oficinas, os adolescentes eram protagonistas do processo. orientados sobre as técnicas de comunicação e Como resultado, o resgate das perspectivas despertados para a leitura crítica da mídia. de vida desses adolescentes: carreira, família, es- tudos, sonhos. Por meio das discussões, eles pro- A transformação jetavam o futuro, a vida, depois de cumprirem as medidas socioeducativas em regime fechado. “Às vezes a história de um adolescente pode E tudo isso foi parar na tela do cinema. Nas ajudar os outros. O jornalista tem de conhecer duas etapas do projeto (entre 2004 e 2005 e entre melhor essas histórias, saber quais são as condições 2007 e 2008), os vídeos foram exibidos a convida- desse adolescente e tem de ouvir o que ele pensa. dos na Cinemateca de Curitiba. Na última delas, E, ainda, tentar passar para os outros que, se tiver em julho de 2008, havia na platéia alguém espe- condições, ele vai mudar. Que a sociedade tem de cial: um dos jovens que fez parte do projeto Luz, receber a gente de volta, e não ficar só julgando”. Câmera...Paz! nas Unidades. Poucos sabiam quem (P., menina de 15 anos) era ele. Apenas os educadores da Ciranda, ONG que desenvolve o projeto, notaram a emoção nos O projeto proporcionou, na mídia, visibilida- olhos do garoto quando ele se percebeu na grande de aos temas ligados a medidas socioeducativas. tela do cinema. A sociedade passou a prestar mais atenção em como essas medidas são executadas nos CENSEs A educomunicação (Centros de Sócioeducação). As ações também Seja pela lente de uma câmera, pela ponta de serviram como argumentação contra a redução da um lápis ou pela simples troca de palavras, a co- maioridade penal em vários debates. municação é um poderoso meio que desperta um O projeto teve boa repercussão na mídia. novo olhar para a sociedade. Ela instiga os adoles- Jornalistas de veículos de comunicação de Curiti- centes a pensar e a expor suas opiniões. ba contribuíram, assim, para expandir a cobertura A proposta do Projeto Luz, Câmera...Paz! jornalística sobre temas como: jovens em conflito nas Unidades é estimular os adolescentes em com a lei, violência, cultura da paz, Estatuto da conflito com a lei a refletir sobre suas vidas e a Criança e do Adolescente e maioridade penal. se tornar agentes de transformação, resgatando a Com isso, a sociedade também pôde debater auto-estima. e refletir sobre esses temas e, ainda, participar de Para isso, a Ciranda criou um material de palestras e de seminários, como o da Exploração apoio, com os assuntos debatidos nas oficinas se- Sexual na Tríplice Fronteira, para jornalistas brasi- manais, enfocando os temas escolhidos por eles: o leiros, paraguaios e argentinos em Foz do Iguaçu uso de drogas e a sexualidade. (PR), em 2005, entre outros.
  • 33. “Agora que eu estou aqui, as coisas parecem mais Luz, Câmera… Paz! nas Unidades · ciranda fáceis. Mas quando eu chegar lá fora, sei que as A Ciranda coisas se tornarão mais difíceis, pela discriminação O projeto Luz, Câmera... Paz! nas Uni- e pelas condições de nossas famílias. Então a dades é desenvolvido pela Ciranda – Central sociedade podia tentar ajudar, vendo o motivo que de Notícias da Infância e Adolescência. Em nos levou a estar nessa situação.” seus dez anos de atuação, a ONG promove (D., 18 anos) os direitos de meninos e meninas, pela educo- municação e pelo jornalismo socialmente res- ponsável. Com sede em Curitiba, no Paraná, a Ciranda compõe a Rede CEP, a Rede Viração e a Rede ANDI Brasil de comunicadores pela infância. Seus projetos beneficiam, em média, mil crianças e adolescentes por ano e ajudam a multiplicar idéias a cerca de 300 educadores. Além de promover a sócioeducação nos CENSEs paranaenses, o projeto Luz, Câme- ra… Paz!, também é desenvolvido em escolas públicas de Curitiba e Região Metropolitana, como forma de promoção e de disseminação da cultura da paz. elaboração de impressos pelos adolescentes 33
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  • 35. Organização: Comunicação e Cultura Programa Jornal Escola Sócias do Clube do Jornal distribuindo a publicação Na história da educação, o jornal escolar está Considerando esse potencial, o Comunica- identificado com a vida e a obra do educador fran- ção e Cultura, uma ONG fundada no Ceará em cês Célestin Freinet (1896-1966), que levou a pu- 1988, se deu como missão viabilizar a dissemina- blicação de jornais para o coração da sala de aula. ção do jornal escolar nas redes públicas. Desen- Em 1927, Freinet publicou o livro A Imprensa na volvemos, para tanto, o Programa Jornal Escola, Escola, que constitui ainda hoje referência indiscu- que publica jornais adaptados à especificidade dos tível para quem quer utilizar esse recurso. anos iniciais do ensino fundamental, aos anos fi- O valor do jornal escolar está no fato de pro- nais e do ensino médio. Cada escola tem seu pró- piciar ao aluno a oportunidade de expressar seus prio jornal e, às vezes, dois, três ou mesmo quatro pensamentos e sentimentos, pondo em jogo sua (um jornal para os anos iniciais do turno da ma- capacidade de comunicação no espaço público nhã, outro para os anos inicias do turno da tarde (constituído pelos leitores – os pares, os familia- etc.). Em 1999, a iniciativa nos valeu o Prêmio Itaú res, a comunidade). A competência comunicativa UNICEF Educação & Participação. serve de base para o desenvolvimento de outras, Nos anos iniciais, o Comunicação e Cultura como a cidadania participativa e a decodificação apóia, através do projeto Primeiras Letras, a pro- crítica do papel da mídia. O jornal é, ainda, um dução de jornais que veiculam textos e desenhos suporte para a realização da interdisciplinarida- produzidos exclusivamente em sala de aula. As de (pois nos textos convergem diversas áreas de publicações estão, portanto, estreitamente vin- conhecimento). Freinet enumera uma rica lista de culadas à missão alfabetizadora da escola. Nesse vantagens pedagógicas, psicológicas e sociais do segmento, nossa ação está direcionada a fazer jornal escolar que, infelizmente, a brevidade deste com que a secretaria de educação adquira as com- texto nos impede de resumir. petências necessárias à gestão pedagógica do jor- 35
  • 36. Fala Escola, para a escola comunicar nal escolar na sua rede (integração com outras ati- um sujeito pleno. Daí decorreria a possibilidade vidades, inclusive de capacitação de professores, do aluno identificar na escola uma parte de si e acompanhamento e monitoria etc.) não, como acontece hoje, uma exterioridade im- Nos anos iniciais do ensino fundamental posta pelo mundo adulto. No Clube do Jornal, (Projeto Fala Escola), há uma grande variedade de trabalhamos exclusivamente com os adolescentes formas de apropriação do jornal: textos produzidos editores, que são formados para o exercício ético em sala de aula, extraclasse e mesmo “produção e positivo da comunicação, visando a mudança da independente” dos alunos; atividade de turno ou cultura escolar e a educação entre pares. turno complementar (escola integral) etc. O jornal Essas três iniciativas – que estão enveredan- escolar se adapta à grande diversidade constituti- do para a interface com a internet – estão atual- va dos anos finais do ensino fundamental, quando mente implantadas em um conjunto de quase os alunos ainda navegam entre o “ser criança” e o 1.000 escolas, de 79 secretarias de educação em “ser adolescente”, situação definida pela expressão cinco estados (Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, híbrida “pré-adolescência”. Em alguns momentos Bahia e São Paulo). o que vale é a busca de autonomia, em outros é a Participar do jornal escolar (ou estudantil) necessidade de apoio e respaldo do professor. A constitui uma experiência que mobiliza o interes- metodologia permite a adaptação flexível a essas se do educando. Esses dois conceitos são reconhe- realidades. Sem descuidar da busca por competên- cidos como mediações fundamentais no processo cias comunicativas, o foco do jornal passa a ser a de aprendizagem desde a Escola Nova, no início cidadania participativa do aluno. No Fala Escola, do século passado. Um reflexo psicológico espon- capacitamos tanto professores como os pré-ado- tâneo predispõe o aluno que participa do jornal lescentes. para a aprendizagem, sobretudo se ele tem a pos- O Clube do Jornal, direcionado para o ensi- sibilidade de falar da sua vida, do seu mundo, de no médio, parte de um princípio diferente, pois seus interesses e pontos de vista. publica jornais estudantis independentes, que cir- Decorre dessa simplicidade que implantar o culam sem revisão de professores ou da direção jornal nas redes escolares seja uma coisa fácil de da escola. O objetivo é fazer da liberdade de ex- acontecer? De jeito nenhum, infelizmente. O que pressão juvenil um fator de renovação do ensino é fácil e simples para um professor consciente, na médio. A proposta atrela a possibilidade de solu- sua sala, ou para uma escola mobilizada e bem ção das muitas dificuldades pelas quais passam as dirigida, torna-se trabalhoso nas redes escolares, escolas desse nível à consideração do aluno como que são afetadas por inércias, resistências e falhas
  • 37. Programa Jornal Escola · comunicação e cultura Primeiras Letras, o jornal trabalhado em sala de aula de gerenciamento e avaliação, para citar algumas escola. Diversos dados são monitorados através das dificuldades. da análise de conteúdo – por exemplo, professores Sabendo disso, o Comunicação e Cultura si- dos anos iniciais que não trabalham a escrita – e tuou seu campo de ação nas redes escolares (só retornados para os sistemas de acompanhamen- fazemos parcerias com secretarias, para atender a to das secretarias de educação, de modo que elas um conjunto de escolas) de modo que houvesse possam focalizar capacitação e monitoria. uma aprendizagem em termos de gestão pedagó- Essa visão sistêmica permite construir o ca- gica e administrativa, para permitir a universaliza- minho para a disseminação nas escolas do Nor- ção do jornal escolar. deste, em uma primeira etapa. Nesse caminhar vai Para começar, garantimos a impressão dos se constituindo a Rede Jornal Escola, a estrutura jornais, com qualidade e um exemplar por aluno, de diálogo e intercâmbio de experiências entre os para todas as escolas, independentemente do es- atores do processo, que constitui o alicerce da sus- tado onde se situam. Dessa maneira, cortamos o tentabilidade e do desenvolvimento pedagógico. circuito de frustrações que vivem as escolas que querem publicar jornais e não conseguem fazê-lo Escolas atendidas com o Primeiras Letras por questões logísticas. Resolvida essa questão, (anos inicias do ensino fundamental): 933 equacionamos, com ajuda de parceiros, uma pro- Escolas atendidas com o Fala Escola (anos posta de co-financiamento que torna compatível o finais do ensino fundamental): 333 custo de participação com os recursos que as se- Escolas atendidas com o Clube do Jornal cretarias de educação dispõem. (ensino médio): 34 Sobre essa base prática se constroem as pro- postas de gestão pedagógica do jornal escolar para Número de secretarias de educação cada um dos níveis e “tipos” de jornais citados, parceiras: 79 que estão orientadas por paradigmas de integra- Estados onde atuamos: Ceará, Piauí, Rio ção (com os Planos Políticos Pedagógicos e o pla- Grande do Norte, Bahia e São Paulo nejamento operacional de escolas e secretarias), de Principais apoiadores: Instituto C&A, simplicidade (jornal como ferramenta, mobilização UNESCO, UNICEF, BNDES, Oi Futuro, de conhecimentos existentes e processos de auto- Undime aprendizagem) e de rigor de acompanhamento. Em andamento desde: 1995 (Clube do Jornal), Nesse último sentido, seguimos Freinet no senti- 1998 (Primeiras Letras) e 2008 (Fala Escola) do de considerar o jornal como um “relatório” da 37
  • 38.
  • 39. Organização: Movimento de Organização Comunitária Educomunicação no Sertão da Bahia jovens de comunidades rurais colocam sua rádio no ar durante o recreio O Movimento de Organização Comunitária temas relacionados ao desenvolvimento susten- – MOC é uma organização não-governamental tável do semi-árido; a comunicação comunitária sediada em Feira de Santana, Bahia, que atua há nos Territórios Rurais do Sisal e Bacia do Jacuípe, mais de 40 anos na promoção do desenvolvimen- através do fortalecimento das rádios comunitárias to sustentável do semi-árido baiano. A proposta e da formação de jovens comunicadores; e a edu- pedagógica do MOC realiza-se através de sete comunicação nas escolas do campo. programas inter-relacionados: Água e Segurança Para lidar com a realidade da educação pú- Alimentar, Comunicação, Criança e Adolescente, blica, o MOC desenvolveu uma proposta de Edu- Educação do Campo, Fortalecimento da Agricul- cação do Campo, que valoriza o sujeito do semi- tura Familiar, Gênero e Políticas Públicas. O tra- árido nas suas múltiplas dimensões, trabalha a balho da entidade se caracteriza por uma metodo- conscientização e a mobilização da comunidade logia em que todos são considerados sujeitos da em torno dos problemas de desenvolvimento, e ação. Por isso, reflete criticamente com as pessoas, promove uma concepção integral do ensino e da valores, tradições e culturas, ao passo que busca aprendizagem. A luta por uma política pública promover os indivíduos e as organizações como de educação do campo integral é defendida pelo aptos a conhecer e produzir conhecimento, acre- MOC em parceria com universidades e movimen- ditando na sua capacidade de mudar a si mesmos tos sociais. Como resultado, 19 municípios da re- e a realidade. gião já implementaram a metodologia do CAT – O Programa de Comunicação do MOC, des- Conhecer, Analisar e Transformar a Realidade do de 2005, atua em três áreas estratégicas: a asses- Campo, além de projetos como o Baú de Leitura e soria e qualificação da imprensa na cobertura de de Educomunicação no Campo. 39
  • 40. Pequenos ouvintes soltam a voz nas oficinas Novas maneiras de pensar e fazer mídia Resultados estimulam secretaria a O trabalho de educomunicação em escolas universalizar a proposta do campo da Região Sisaleira começou a ser de- Hoje, em seis escolas rurais do município de senvolvido de forma sistemática em 2006, ano em Valente, o horário do intervalo entre as aulas – o que deixou de acontecer nos espaços da Jornada chamado “recreio” – é o mais esperado pelos alu- Ampliada do PETI - Programa de Erradicação do nos. São nesses momentos que vão ao ar as rádios- Trabalho Infantil, passando a ser desenvolvido em escola protagonizadas pelos próprios estudantes e escolas do campo da rede municipal, participantes que abordam notícias do ambiente escolar, da vida do projeto CAT nos municípios de Conceição do cotidiana das comunidades rurais, e expõem todo Coité, Valente e Retirolândia. o talento e a desenvoltura dos meninos e meninas Desde então, entendendo que a educomuni- do sertão. O papel deles como “radialistas” faz cação é um dos caminhos que possibilitam o de- despertar nos alunos o interesse pelos bastidores bate sobre a democratização da comunicação e o das emissoras de rádio da região, que passaram a acesso aos meios, 58 pessoas, entre educadores e ser acompanhados de perto por eles. Descobrem coordenadores, participam de oficinas de qualifi- como se monta um programa, como pautas são cação em práticas de produção e leitura de mídia levantadas e apuradas e quais os formatos que po- nas linguagens de rádio e jornal. Como resultado dem ser usados no rádio. dessa formação, os educadores desenvolveram Esse despertar comunicativo das crianças nas salas de aula programas de rádio e boletins do semi-árido vem acompanhado, na avaliação impressos. dos seus educadores, de melhorias no processo Os conteúdos das peças produzidas por de ensino-aprendizagem. Elas são estimuladas na crianças e adolescentes do semi-árido abordam a leitura de jornais e boletins, hábito pouco comum realidade local e buscam estratégias de interven- nessas comunidades, e decifram de forma mais ção nas políticas públicas locais. Desse modo, ao crítica os conteúdos midiáticos que chegam até as mesmo tempo em que permite ao aluno tornar-se suas casas. Os alunos estão mais atentos aos pro- protagonista de sua história, através desse pro- gramas jornalísticos e costumam levar questões cesso de pensar e fazer mídia, a metodologia de veiculadas na grande mídia para a sala de aula. A educomunicação no campo tem contribuído para inserção de veículos de comunicação e a produção a democratização da comunicação de uma região de conteúdos próprios a partir dos temas trata- onde o acesso a meios diversificados é um cami- dos em sala de aula aumentaram o interesse dos nho a ser trilhado. alunos pelas temáticas discutidas nos veículos de
  • 41. Educomunicação no Sertão da Bahia · Movimento de Organização Comunitária crianças exibem seu jornal mural comunicação da Região Sisaleira, em especial nas Ficha técnica do programa rádios comunitárias, fazendo com que seus pais Educomunicação no Campo também escutem os programas. Diante dos resultados dessa experiência-pi- Ano inicial: 2006 loto desenvolvida pelo MOC em três escolas do Escolas: 27 no município de Valente, 14 no muni- campo, do 1º ao 5º ano, a Secretaria Municipal de cípio de Conceição do Coité, 6 no município de Educação de Valente se propôs a ampliá-la para Retirolândia todas as escolas do município. A equipe de edu- Comunidades inseridas: 26 cação do campo do município elaborou uma pro- Alunos envolvidos: aproximadamente 630 posta para o Fundo Nacional do Desenvolvimento Educadores envolvidos: 58 da Educação – FNDE, que, uma vez aprovado, garantiu a ampliação do projeto para as cinco es- Metodologia: colas municipaisdo 6° ao 9° ano. Com a mesma • Participação em espaços de formação continu- metodologia de capacitação feita pelo MOC, Va- ada de educadores do campo para sensibilização lente vem conseguindo oferecer aos adolescentes dos mesmos; e jovens um ensino mais participativo, democrá- • Encontros de planejamento, monitoramento e tico, com a cara e a voz daqueles e daquelas que avaliação com os coordenadores do projeto CAT não são pautados pelos meios de comunicação de dos municípios atendidos e uma parte dos educa- massa. Com tudo isso, Valente hoje possui uma dores envolvidos; política de educomunicação inserida no Plano • Oficinas de formação em educomunicação e co- Municipal de Educação, que garante que todas as municação comunitária, voltadas para técnicas de 27 escolas do campo do município desenvolvam produção de mídia em sala de aula e planejamento ações nessa área. pedagógico de atividades educomunicativas; Na avaliação da equipe pedagógica do mu- • Dias de produção nas escolas em parceria com nicípio, além do desenvolvimento das crianças e jovens comunicadores e comunicadores comuni- adolescentes que têm oportunidade de entender tários; desde cedo a comunicação como um direito hu- • Excursões das turmas escolares para espaços de mano, os educadores estão orientando a produção comunicação comunitária; de fanzines, jornais-mural, boletins, vinhetas e • Edição de coletâneas da produção radiofônica programas de rádio que vêm mudando a educação das crianças para distribuição nas escolas e veicu- no município. lação em rádios comunitárias. 41
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  • 43. Organização: Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) NCE/USP: pesquisa e assessoria em políticas públicas de educomunicação projeto geração cidadã programas de rádio para blogs Em seu relatório de pesquisa sobre as or- rica Latina, que o conceito “educomunicação” ganizações voltadas para a trilogia conceitual passasse a designar não mais atividades pontuais Comunicação/Educação/Participação, Fernando e subsidiárias nas bordas dos sistemas de comuni- Rossetti identificou o Núcleo de Comunicação cação ou de educação, como a “leitura crítica da e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/ mídia” ou mesmo o “uso da comunicação no ensi- USP) pela forma como implementava, na época no”, mas, essencialmente, o conjunto das ações vol- (2004), o programa Educomunicação pelas Ondas tadas ao planejamento, implementação e avaliação de do Rádio (Educom.rádio). Segundo o relatório, processos, programas e produtos destinados a criar e/ou tratava-se da ação mais visível de um conjunto de fortalecer ecossistemas comunicativos abertos e criativos, atividades que fazia do NCE/ECA/USP “a prin- em espaços educativos, formais ou não formais, median- cipal referência, no Brasil, no campo da pesquisa te a gestão democrática dos recursos da informação, ten- acadêmica e da disseminação da chamada Educo- do como meta o pleno exercício da cidadania, garantido municação”1. pelo reconhecimento do direito à expressão2. O que identifica o NCE no contexto da Rede O que, na verdade, a pesquisa do NCE ha- CEP é, sem dúvida, o fato de haver proposto, em via constatado era o fato de que a sociedade ci- 1999, em decorrência de investigação desenvolvi- vil construíra – ao longo das últimas décadas do da junto a agentes culturais de 12 países da Amé- século XX - caminhos alternativos na interface 43