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Substância
Activa
Semestral | Terceira Edição | Julho 2011 | Distribuição Gratuita
Revista do Núcleo de Comunicação da AEFFUP
Editorial
Associação de Estudantes da Faculdade de
Farmácia da Universidade do Porto
Rua Aníbal Cunha nº 164,
4050-047 Porto
Tlf: 22 208 80 01 / 22 200 71 74
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Núcleo de Comunicação AEFFUP
Directora
Ana Raquel Santos
Coordenadores
Mariana Dias
Luís Azevedo
Redacção
Ana Rocha
João Barbosa
Joaquim Gonçalves
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Sílvia Pisco
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Tel: 229 429 142
Fax: 229 429 142
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E-mail: sereer@sereer.pt
	 A simples visualização daquilo que nos rodeia faz-me ver que
a sociedade mudou, está diferente. Sofreu imensas mudanças e foi
obrigada a enquadrar-se nas novas perspectivas mundanas. Este facto
não foi indiferente ao Mundo Farmacêutico, que teve que se adaptar
às tecnologias, aos métodos modernos de fabrico, para poder actuar
perante uma sociedade criteriosa e selectiva. No ínfimo da tecnologia
farmacêutica actual, procura-se descobrir a melhor substância activa
possível: o melhor hipertensor, o melhor antidepressivo, o melhor anal-
gésico... Há um ano atrás descobrimos a nossa “Substância Activa”! E
continuamos a procurar, ano após ano, métodos inovadores, matéria
aliciante e sobretudo o enquadramento no mundo dos especialistas do
medicamento, de forma a obtermos reconhecimento académico e so-
cial.
	 O Núcleo de Comunicação não é indiferente às inovações. Es-
tas valorizam-nos. Com a entrada de novos membros, cheios de ideias
futuristas e empolgantes, decidimos mudar os “excipientes” do nosso
produto, mantendo a orgânica inicial do projecto: a revista “Substância
Activa”. Com um formato diferente, mas apoiada nos pilares anterior-
mente construídos, pretendemos mostrar que a etapa continua e que a
meta proposta ainda se encontra longe: queremos muito mais! E para
isso precisamos de ti!
	 Convidamos-te a ler e a ser a Substância Activa!
P’lo Núcleo de Comunicação AEFFUP,
Ana Raquel Santos
Com o aparecimento de um núcleo rejuvenescido, eis que chega até vós a nova
edição da Substância Activa. Uma revista com uma nova imagem, que visa a actualidade,
com questões pertinentes e que nos preocupam e com as entrevistas que mais anseias
ler. Uma revista que é o reflexo do projeto AEFFUP e dos seus associados.
	 Ao iniciar este percurso, a direcção da AEFFUP definiu como ambição pessoal
a construção de um projeto, que sabíamos ser ambicioso, mas principalmente multidi-
mensional, sem incúria para nenhuma área de intervenção.
	 Neste quase meio mandato, já muitas metas foram alcançadas, permitindo que
todos os associados tenham a oportunidade de se enriquecer e evoluir como estudan-
tes, cidadãos e futuros profissionais.
	 Fomentar o desenvolvimento colectivo, a cultura desportiva, o voluntariado, a
promoção para a saúde são alguns dos pontos-chave para o futuro que nos espera.
	 Promover a formação de opiniões é o maior objectivo da AEFFUP e tentamos
fornecer os meios para que todos os estudantes construam com as melhores fundações,
juízos sustentados dos temas prementes do mundo académico, da sociedade e da profis-
são. Vivemos numa época de constante mutação, onde o saber e a opinião são essenciais
para a produção de novas premissas.
	 Hoje é essencial intervir, trabalhando em conjunto, ajudando à evolução. Temos
conhecimento que ainda temos imenso pela frente, por isso convido-vos a deixar a vossa
marca, a vossa opinião, fazer a diferença, enriquecer a tua associação, a tua faculdade!
	 Participem nos núcleos, nas actividades, na construção de projectos destinados
completamente para ti!
Catarina Pires
Presidente da Direcção AEFFUP 2010/2011
Copos & Conversas
Pág. 8
Índice6
9
28
Internacional
Pág. 14
XIII ENEF
Pág. 8
Fantasporto
Pág. 18
Entrevista Rui Veloso & Tim
Pág. 20
Álbum fotográfico
Pág.22
Visita de Estudo à Bial
Pág. 24
Opinião
Pág. 31
Porquê o roxo?
Pág. 14
Grupos Académicos
Pág. 34
X Fórum APEF
Pág. 37
NASA
Pág. 38
CAP
Pág.40
Taça AEFFUP
Pág. 40
Concurso de Escrita
Pág. 41
Banha da Cobra
Pág. 42
25
5
A
lgum desejo para 2011? Que o
tempo parasse! Ou que inventassem
a tal máquina do tempo, esperada e va-
lorizada por tanto ser humano! Ainda acho que foi
ontem que tudo começou. Um grupinho de pesso-
as, que apenas conhecia de vista e cuja relação com
parte deles simplesmente se baseava no “Bom dia”
e “Boa tarde”. Cheguei à sala de convívio, sentei-me
e fiquei à espera que acontecesse. As pessoas co-
meçaram a chegar, com imensas ideias por formar
e pensamentos vagos, tentando saber o seguimento
de todo um projecto ainda mal explicado. Conversa
puxa conversa, foi desde aquele momento que o tur-
bilhão de ideias para levar o projecto Comunicação
avante, nunca mais findou!
	 Passou um ano e agora como directora do
Núcleo de Comunicação, sinto que o sentimento da-
quele momento, ficou apenas a um simples olhar
para trás! Basta fechar os olhos, que as imagens
ressaltam à vista. O desconhecido, o prazer de fazer
nascer algo, são tudo aspectos que nem por palavras
consigo descrever! São muitas memórias… Um ano
repleto delas, que posso recordar através do nosso
trabalho, arquivado para a vida! Isso é algo gratifi-
cante!
	 Alguns dos fundadores foram obrigados a
abandonar-nos, porque a vida além faculdade conti-
nua, mas novos elementos ingressaram, com ideias
que convidam a sentar e a querer muito mais. Posso
dizer que existimos porque realmente acreditamos.
Somos cada um por si numa união incrível, mostran-
do que a heterogeneidade é uma mais-valia para
estes propósitos. A revista “Substância Activa” que
ganhou asas há um ano, mostrando o âmago da nos-
sa faculdade e a “RadioActiva” que dá aos nossos
ouvintes momentos de pura diversão e lazer, são os
dois caminhos pelos quais me tenho perdido com-
pletamente!
	 É um orgulho enorme pertencer a este Nú-
cleo e é com enorme prazer que felicito todos os
que fizeram e fazem parte dele. E apelo-vos, leitores
assíduos da “Substância Activa” e ouvintes da “Ra-
dioactiva”, que continuem a fazer o vosso excelente
trabalho como mensageiros do nosso troféu!
	 Desejos? Reformulo o desejo e não quero
que o tempo pare, mas que o bom produto seja re-
almente destacado e reconhecido por todos e que
daqui a trinta anos quando ler novamente um dos
nossos exemplares possa dizer: “Foi um projecto de
vida!”
O
ve-
lho di-
tado diz
que uma
imagem vale
por mil palavras
e nós não somos
excepção à regra!
Parabéns ao projecto
Comunicação e, princi-
palmente, a nós como Nú-
cleo. Porque somos as almas
que dão a energia, a voz e a es-
crita, ao produto que é “nosso”!
Por Ana Raquel Santos
nc.aeffup@gmail.com
comunicacao.aeffup.com
Parabéns
Núcleo!
66
Como tem vindo a ser habitual, a AE-
FFUP proporcionou aos seus associados
e convidados uma semana recheada de ac-
tividades, animação e divertimento, come-
morando assim 82 anos da sua existência.
	 A semana de festa começou com a já co-
nhecida Noite de Bingo. Um serão diferente que,
tendo por base um ambiente familiar, propor-
cionou a atmosfera necessária para uma noite
divertida e surpreendente, que ultrapassou as-
sim as demais expectativas criadas. Numa noite
onde não faltou música, diversão, palhaçadas e
claro, muitos “Bingos”, esta tornou-se numa das
actividades obrigatórias que “enche a casa” e
leva todos os presentes à gargalhada pela certa.
	 O serão de terça-feira contou com uma
presença ilustre no magnífico evento Copos
& Conversas, que teve lugar no Bar Alfaiate. O
Prof. Doutor Alberto Barros, médico do Hospi-
tal de São João e Director do Centro de Gené-
tica da Reprodução, rapidamente se enquadrou
com os demais presentes, facto que aliado ao
excelente ambiente vivido no bar, resultou numa
agradável conversa subordinada ao tema: “Ma-
nipulação genética - Será legítimo escolher o
futuro?”. Vários foram os temas abordados pelo
nosso convidado, muitos dos quais baseados em
vivências pessoais e temas de elevado peso so-
cial, passando desde “a fiabilidade do processo
de lavagem de espermatozóides em HIV posi-
tivos” à questão da clonagem, levando os pre-
sentes a questionarem-se sobre a definição do
limite entre o moralmente correcto e incorrecto.
	 As comemorações do octogésimo
segundo aniversário da AEFFUP seguiram-se
com a mais aguardada actividade do mundo
desportivo da FFUP – a Taça AEFFUP. Apesar
das caneladas, das faltas e dos cartões mostra-
dos, dos vencedores e vencidos, das alegrias
e tristezas, típicas de uma partida de futebol,
o torneio acabou com a magnitude da vitó-
ria, realçando o verdadeiro espírito de des-
portivismo e o prazer na prática do desporto.
	 Como não há aniversário sem comemo-
ração a rigor, na noite de quinta-feira realizou-se
a tão aguardada festa de aniversário da AEFFUP.
O espírito para mais uma festa já há muito se ins-
talara na faculdade, tendo contribuído para tal o
facto de a festa ser temática e a perspectiva de
existirem inúmeras surpresas para os estudantes.
	 Sendo este o último aniversário que a
AEFFUP realizou nas actuais instalações da Fa-
culdade de Farmácia da Universidade do Porto,
tudo apontava para uma noite inesquecível re-
pleta de misticismo e saudade. Envolta no tema
dos “Anos Vinte”, esta festa tinha as condições
perfeitas para ser, sem dúvida, uma das melho-
res festas do ano. O espírito em alta, a decoração
temática e os convidados vestidos a rigor, condu-
ziram à atmosfera ideal para um perfeito flash-
Aniversário
82_Aniversa
7
back vivenciado em pleno século XXI. Começan-
do com um apetitoso churrasco, passando para
uma sessão de Karaoke e prolongando-se noite
dentro no Pitch Club, esta tornou-se obrigatoria-
mente numa das festas mais memoráveis de sem-
pre da história da Faculdade de Farmácia da UP.
	 E para terminar em grande, na sexta-
-feira, na sala de convívio, realizou-se a solene
festa de aniversário, que constou com a presença
de ilustres professores da Faculdade de Farmá-
cia, representantes de entidades patrocinado-
ras e alguns membros de outras faculdades da
Universidade do Porto. Num clima acolhedor, as
Sirigaitas (Tuna Feminina da Faculdade de Far-
mácia da UP) fizeram as honras da casa, encan-
tando os presentes com a sua voz e a sua alegria,
fechando da melhor forma esta semana de co-
memorações do octogésimo segundo aniversá-
rio da nossa querida Associação de Estudantes.
	 Resta apenas desejar à AEFFUP mui-
tas felicidades, deixando votos de grandes con-
quistas nos anos vindouros. E, do fundo do co-
ração, um grande obrigado pelas vivências e
recordações com que rechearam todos os pre-
sentes nesta fantástica semana de aniversário.
Sílvia Pisco
Aniversário
ario_AEFFUP
7
8
N
o passado dia 1 de Março, o Bar Alfaiate abriu as
portas para acolher mais uma edição de Copos &
Conversas, que este ano se subordinava ao tema:
“Manipulação Genética - Será legítimo escolher o futuro?”.
Este evento, focalizado nas técnicas de reprodução medi-
camente assistidas, foi promovido pela Associação de Estu-
dantes e teve como convidado o Prof. Doutor Alberto Bar-
ros, médico do Hospital de São João e Director do Centro
de Genética da Reprodução.
Apresentando-se como um
“pára-quedista via terrestre”,
demonstrou um à vontade tal
que, alienado ao ambiente aco-
lhedor da sala, proporcionou
grandes horas de conversa.
	 Um dos primeiros tópi-
cos abordados foi a fiabilidade
da técnica de lavagem de esper-
matozóides em HIV positivos,
com vista à separação de esper-
matozóides vivos, sem o vírus
HIV e posterior introdução no
útero da mulher no período de ovulação. O convidado escla-
receu este ponto dizendo que “a vida não tem probabilidade
zero”, que em biologia nada é 100% seguro e que as pessoas
são sempre avisadas e esclarecidas relativamente ao grau de
risco do processo. Acrescentou ainda que até ao momento
não foi descrito nenhum caso de infecção com essa técnica.
	 O Prof. Doutor Alberto Barros salientou que o seu
objectivo como médico não passa por melhorar a espécie,
mas por diminuir a prevalência da doença genética grave,
inferindo a importância do diagnóstico genético pré-implan-
tação. No entanto, a título pessoal mostrou-se relutante em
casos de implantação de esperma em mães solteiras ou em
casais do mesmo sexo, mesmo que a lei assim o permita.
Firmemente, explicou que a grande questão está na decisão
individual e considera que a situação contra natura de dois
homossexuais quererem um filho não obedece às boas prá-
copos
	 As intervenções do Prof. Dr. Alberto Barros basearam-
-se essencialmente em vivências pessoais. Quando questiona-
do sobre a sua posição face à criação de úteros artificiais para
reprodução assistida, usou como referência um livro que leu,
intitulado “O Admirável Mundo Novo”, que já augurava a ferti-
lização e a gestação "in vitro", prevendo que um útero de subs-
tituição será algo “muito feliz” para os casos em que se recorria
a um útero de aluguer e, igualmente, representará um avanço
científico grandioso: “Não se deve
ter medo da evolução”, afirma.
	 Na assistência levantou-
-se então a questão da definição
dos limites entre o moralmente
correcto e o moralmente incor-
recto. O convidado desenvolveu
este assunto, explicando que
a actividade médica passa por
obedecer às boas práticas. Na
área da procriação assistida há
e haverá muitas divergências,
mas se uma prática levar a uma
diminuição do sucesso da téc-
nica, então essa deixa de ser uma prática correcta.
O Prof. Dr. Alberto Barros explicou, e muito bem, que um médi-
co nunca deve falsear a verdade científica, mesmo que discor-
de sobre o facto, visto que além de estar a questionar o valor
de peritos que obedecem a regras rigorosas na estipulação das
normas, pode colocar em causa a saúde pública. Disse, a títu-
lo de exemplo, que um médico, mesmo sendo contra o pre-
servativo, nunca poderá aconselhar o paciente a não o utilizar,
visto ser algo universalmente aceite na comunidade científica.
	 Após esta discussão sobre assuntos que tocam mais à
subjectividade e a questões muito pessoais, o serão vai avan-
çando até ao término, sem esquecer uma nota importante que
o convidado fez questão de referir: ”A bata é um simbolismo: as
pessoas dizem aos médicos o que não dizem às esposas ou à fa-
mília. Temos sempre de dizer aquilo que pode ser feito, mesmo
que não concordemos. Isso é que é cumprir as boas práticas.”
Restaaexpectativaeoconviteparaquesejastu,opróximoaparti-
ciparnumafuturaediçãodeCopos&Conversascomatuaopinião!
Ana Catarina Rocha
conversas&
Saúde
ticas médicas. Como não aceita
pelas suas convicções, acon-
selha a auto-inseminação ou
indica outros locais onde
poderão realizar insemi-
nação, sem nunca ma-
nifestar imposição.
9
Professor Doutor
Carlos Afonso
Entrevista
10
Entrevista
S.A. Como surgiu o interesse de ingressar no curso de Ciências
Farmacêuticas?
Inscrevi-me em Farmácia um pouco por acaso, não sabia o que
queria fazer exactamente da vida. Estávamos em 1976, numa
altura pós-Revolução, onde ainda se viviam ecos do Verão
Quente de ’75. Vim de Bragança para o Porto e inscrevi-me
na primeira faculdade que encontrei! Como também não sabia
o que queria ser na vida, nem o que queria fazer, inscrevi-me
com a ideia: “se calhar mudo de curso, vamos ver, vou experi-
mentar”. Vim um bocadinho com esse espírito de abertura e
de experiência. Fiz amizades que ainda hoje persistem, gostei
imenso do ambiente que se vivia na faculdade, do contacto
com os professores. Havia uma aproximação muito grande e
acho que existiam professores notáveis pela abrangência cul-
tural que tinham, pela maneira como se empenhavam nas au-
las. Tudo isto fez com que eu fosse ficando e ainda hoje cá es-
tou! (risos) Mas também sinto que, se tivesse feito outra coisa
diferente, conseguia ser igualmente feliz. Hoje, com 52 anos,
continuo a aprender a ser feliz com aquilo que surge e com as
opções que faço na vida.
S.A. E porquê o ramo da Química Orgânica?
O ramo da Química Orgânica surgiu também por acaso. Isso
aconteceu no 4.º ano, através de um professor que me marcou
profundamente tanto como homem como professor, o Pro-
fessor Polónia. Era um excelentíssimo professor e ainda hoje
tenho alguns “tiques” dele. O Professor Polónia convidou-me
para ser monitor da cadeira de Química Orgânica Farmacêuti-
ca quando andava no 4º ano. Quando terminei a Licenciatura,
agora Mestrado Integrado, abriu um concurso para assistente
ao qual concorri e fiquei. Era regra do Professor Polónia que,
qualquer assistente que entrasse, nos primeiros tempos, teria
que aprender a dar aulas, só depois é que podia fazer outras
coisas. Assim, obrigava-nos a assistir às aulas dele e ele apare-
cia frequentemente nas nossas. Nessa altura era obrigatório
fazer provas de aptidão pedagógica científica. Na altura havia
um tema que me despertou imenso interesse: a comunicação
química. Falei dele ao Professor Polónia, que me incentivou
imenso. Pouco depois acontece o seu falecimento prematu-
ro e eu decidi continuar nessa área para o doutoramento. Fiz
uma parte da investigação cá e outra parte em França, usando
uma bolsa do governo francês. Depois do doutoramento, era o
único no nosso centro de investigação a interessar-se por este
tema. Isto não fazia qualquer sentido e assim, entendi ser mais
producente integrar-me de forma mais directa com os traba-
lhos em curso no nosso centro de investigação. Desde então,
tenho-me dedicado mais a aspectos de Química Farmacêutica
e Química Ambiental. Pode ser que qualquer dia regresse à co-
municação química, tema que não deixei de acompanhar em
termos de leitura sobre o que se vai fazendo por esse mundo
fora.
S.A. O Professor referiu que o seu principal mentor, primeiro
ensinou-o a leccionar e só depois o ensinou a investigar. Acha
que neste momento, na faculdade segue-se esse caminho?
Criam-se primeiro professores e depois investigadores?
Hoje a realidade é muito diferente. A maioria dos novos do-
centes entram já doutorados e com autonomia para realizar
a sua própria investigação. Em muitos casos não é o ensino
que os atrai. A evolução na carreira é medida essencialmen-
te pela sua eficiência na investigação. Tudo isto faz com que
a preocupação com o ensino e a forma de ensinar fique em
segundo plano. Não é fácil fazer com que essa pessoa pense
no aspecto pedagógico, a não ser que tenha uma vocação e um
interesse particular para isso. Infelizmente, o esquema de fun-
cionamento das universidades não está feito de maneira a con-
seguir encontrar espaço e valorizar de igual modo as pessoas
que gostam mais de ensinar e as pessoas que gostam mais de
investigar. Isto acaba por ser uma violência para ambos, por-
que há gente que tem facilidade em transmitir conhecimento
e gosta menos de investigar e há outras pessoas que preferem
a investigação ao ensino. Acho que as universidades ganhariam
se valorizassem ambas as vocações. Sou de opinião que é pre-
ferível ter um professor cientificamente bem preparado e não
tão bom pedagogicamente, do que ter um professor mal pre-
parado e que seja bom pedagogo (se é que isso existe). Mas é
Professor Doutor Carlos Afonso
Entrevistado por Ana Raquel Santos e Joaquim Gonçalves
Transcrito por Ana Catarina Rocha, Ana Raquel Santos, João Barbosa e Nelson Barbosa
Em todas as faculdades existem as histórias, as festas, os projectos, as personalidades e a nossa boa FFUP não foge à re-
gra. Assim sendo, resolvemos conversar com uma personalidade conhecida por todos na faculdade, não só pela cultu-
ra que tão largamente demonstra, como por hábitos peculiares e capacidade pedagoga inigualável e tentar desmistifi-
car o que está por detrás de algumas realidades, que nos fazem pensar todos os dias. Para uns, o patriarca de uma das
cadeiras mais difíceis do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas; para outros, uma pessoa extremamente culta
em diversas áreas; mas para todos, sem dúvida, um Professor muito especial – convosco, o Professor Doutor Carlos Afonso.
11
Entrevista
possível conciliar, uma vez que os docentes universitários hoje
em dia têm uma preparação científica perfeitamente provada e
o que não têm provado é a sua capacidade pedagógica. É uma
falha clara que existe na Universidade.
S.A. Durante os seus estudos universitários, como se descrevia
como aluno? Considera que o perfil de aluno tem vindo a mu-
dar ao longo do tempo?
Era um aluno perfeitamente normal. Digamos que dividia equi-
tativamente o meu tempo pelo estudo, pelas actividades den-
tro da Faculdade e pela diversão. Creio que aprendi mais na-
queles 5 anos do que no tempo que tinha vivido até aí. Só mais
tarde me apercebi que muitas das coisas que fiz, tinham sido
fundamentais para a minha formação como Homem. Por isso,
insisto sempre com os alunos que deverão ter interesses que os
ajudem a ser homens e mulheres cultos, cidadãos conscientes
do mundo que habitam. Em muitos aspectos o perfil dos alunos
não se alterou, continua a ser variado e continuam todos a ser
jovens com as características típicas das idades que têm. Há 25
anos atrás, por força das circunstâncias que se viviam em ter-
mos políticos e económicos, talvez tivéssemos de ser maduros
mais cedo e também mais intervenientes e participativos. Não
existiam tantas iniciativas à “solidão”; não havia internet, com-
putadores, nem jogos electrónicos! O estilo de vida era mais
propício ao convívio.
S.A. O Professor acha que o ambiente familiar e o nível so-
cioeconómico têm uma influência preponderante no sucesso
académico?
Essa é uma pergunta muito interessante e muito actual, tendo
em conta os tempos que estamos a viver com a “geração à ras-
ca”. Eu acho que tudo se relaciona. É evidente que é preciso um
mínimo de bem-estar socioeconómico para se poder enfrentar
um curso universitário. Acho que há um mínimo indispensá-
vel, mas também considero que a abundância excessiva acaba
sempre por arrastar efeitos nefastos. O excesso e a facilidade
deixam as pessoas mais lassas, sem objectivos, menos felizes.
E esse é um problema que a nossa geração criou e se reflecte
agora em muitos de vocês. Nós, os pais, sempre nos preocupá-
mos muito em facilitar-vos o caminho e em resolver os vossos
problemas. Não vos soubemos mostrar que há coisas mais im-
portantes do que ter uma vida fácil. Em muitos casos não vos
ensinámos a valorizar devidamente o esforço, o sacrifício e a
exigência pessoal. Estou convencido que uma grande parte dos
jovens teve acesso a coisas, mesmo antes de ter sentido ne-
cessidade delas; tiveram bicicleta, telemóvel ou computador
sem terem de lutar por isso. Isso criou uma imagem errada do
mundo real. Mas penso que isto é algo que se pode corrigir,
até porque vocês estão conscientes destas realidades. Aliás, o
mundo está a mudar, a nossa geração também cometeu outros
erros. Não soube colocar valores como a tolerância, a caridade
e o respeito pelo outro, acima da preocupação económica e do
dinheiro fácil. Agora, que se vê que aqueles caminhos não con-
duziram a um mundo melhor, pode ser a grande oportunidade
para nos transformarmos. Temos agora uma boa oportunidade
para mudar o paradigma na forma de educar os filhos.
S.A. O Professor fala muito de Bragança. O facto de ter vivido
na região de Trás-os-Montes e Alto Douro influenciou de algu-
ma forma a sua vida pessoal e académica?
Eu nasci em Moçambique e só vivi em Bragança durante dois
anos. Mas a verdade é que os genes transmontanos são genes
dominantes, pelo que isso se reflecte em vários aspectos. Há
muita gente que diz, por exemplo, que eu não sou capaz de es-
conder o meu estado de alma, que é muito fácil perceber atra-
vés da minha expressão facial se estou bem ou mal disposto. Eu
também digo o que penso de uma forma até demasiado directa
e isso é um bocadinho típico de ser transmontano, se é que se
pode definir esse tipo de pessoa. Mas nesse aspecto não há dú-
vida nenhuma de que sou transmontano!
S.A. Enquanto aluno da Faculdade, quais foram as principais
personalidades que, no campo académico e científico, mais o
marcaram?
Durante a minha vida académica existiram muitos professores
que me marcaram. Já vos falei do Professor Polónia. A Faculda-
de tinha um lote de professores que fizeram história e que ti-
veram inclusive alguma influência e poder em termos políticos.
Nesse grupo de professores a que eu chamo a “velha guarda”,
inclui-se o Professor Carvalho Guerra, que é actualmente nosso
cooptado no Conselho de Representantes. É uma personalida-
de especial pela sua riqueza, pela sua clarividência e pela sua
inteligência. Por falar em inteligência, há que referir um outro
professor, o Professor Vale Serrano, que era um indivíduo com
uma inteligência notável, tão inteligente que para ele era tudo
fácil! O Professor João Carlos de Sousa, da área da Microbio-
logia, um indivíduo pedagógica e cientificamente excepcional
e também a Professora Margarida Ferreira que continua viva
e actualizada na área da Bromatologia. Há ainda uma série de
outros que foram meus professores e ainda se encontram na
Faculdade que também me marcaram muito. Reconheço que
aquilo que sou é fruto daquilo que todas estas personalidades
são e daquilo que me transmitiram.
S.A. Qual foi o melhor momento da sua carreira académica e
científica?
É muito difícil escolher um momento, porque aqui na Faculdade
fui aluno, fui e continuo a ser professor e já fiz parte de todos
os órgãos de gestão, nomeadamente a Assembleia de Repre-
sentantes, o Conselho Directivo e o Conselho Pedagógico. Fui
até há pouco tempo Vice-Presidente do Conselho Científico e
Director do Mestrado em Controlo de Qualidade. É evidente
que tudo isso, juntamente com uma postura de transmontano
que eu não consigo evitar (risos), cria momentos inesquecíveis.
E como nessas coisas da vida acho que sou muito optimista,
guardo positivamente todos esses momentos. Eu não guardo os
momentos negativos. Aliás, esqueço com muita facilidade esses
momentos.
S.A. De que forma encara o seu papel como pedagogo? O que
retira de mais importante nessa profissão?
Eu não me posso considerar pedagogo. Aquilo que tento fazer
é preocupar-me em ser sempre pedagogicamente melhor. E en-
caro isso como uma obrigação. Eu não consigo conceber que
12
alguém aceite o papel de ser professor e que ganhe um salário
de professor, sem que tenha a preocupação de se esforçar por
ser pedagogicamente o melhor possível. Aprender não é uma
diversão, é um acto de esforço. Mas, como já me ouviram dizer
muitas vezes, na vida não é possível encontrar circunstâncias e
situações em que se gosta sempre de tudo e que é fundamental
acreditar na capacidade de se aprender a gostar. O dever do
professor é ajudar o estudante a fazer esse esforço de aprender
a gostar. E uma das formas mais eficazes é transmitir o conheci-
mento de forma aliciante e simples.
S.A. Que qualidades deve um professor possuir para poder
leccionar no ensino superior?
Deve gostar de transmitir aquilo que sabe e saber mais do que
aquilo que transmite. Deve saber mais do que o programa da
sua disciplina. Um professor universitário tem, por obrigação,
saber relacionar o programa da sua disciplina com o das outras
disciplinas do curso, ou pelo menos com a maioria delas, e tem
também que ter um conhecimento e uma cultura acima da mé-
dia, porque está a preparar cidadãos e cidadãs, com o objectivo
de terem uma formação superior. Para se exigir, tem que se dar.
E para se dar, tem que se ter.
S.A. O Professor falou em aprender a gostar de ensinar… Para
si não foi uma paixão?
Foi, desde o início. Eu tenho na família alguns professores, por
isso não sei até que ponto isso não constará dos meus genes!
Mas é verdade que transmitir aquilo que eu sei, o que estudei,
é uma coisa que me apaixona imenso, pelo que para mim, não
constitui qualquer sacrifício dar aulas.
S.A. Costuma ser reconhecido pela maioria dos estudantes
como um professor diferente, tanto pela forma como ensina,
como pela simpatia e pessoalidade com que trata os estudan-
tes. Esta postura já lhe trouxe algum dissabor?
Não, pelo contrário, dissabores rigorosamente nenhuns. Eu
acho que tenho uma atitude para com os estudantes de aber-
tura e transparência. Desde o início que as regras do jogo são
colocadas em cima da mesa e isso faz com que se crie um clima
de confiança, que não leva nem a más interpretações, nem a
dissabores rigorosamente nenhuns.
S.A. Quando falo em dissabores é sobretudo por essa transpa-
rência que é tão claramente reconhecida pelos seus alunos…
Mas eu acho que é por causa disso mesmo. É fundamental exis-
tir um clima de respeito mútuo, o qual torna o relacionamen-
to muito claro. Acho que os estudantes sabem que eu tenho
sempre presente que só existo porque eles existem. Eu tenho
o máximo respeito por eles e isso traz como consequência que
eu seja respeitado. Este clima permite um espectro de actuação
muito largo sem ser mal interpretado.
S.A. Será talvez por isso, que o Professor consegue ter sempre
uma boa disposição na forma como exprime os assuntos, sem-
pre um bom humor?
Isso é essencial, as aulas não podem ser, como diria Eça de
Queirós, “um ferro”, têm que ser um prazer. Acho que sim,
eu tenho por obrigação fazer o melhor que sei para transmitir
aquilo que quero. Claro que tento ser recebido e aliás, é fácil
para um Professor perceber quando isso acontece e é uma das
situações fantásticas que esta profissão tem, já que quando se
está a dar aula, se cria um clima/energia que se sente entre o
docente e o estudante. É possível saber quando estamos a ser
ouvidos e quando não estamos, quando estamos a seguir um
caminho que não está a ter resultados e quando esse caminho
está a prender a atenção das pessoas. Eu acho que é uma acti-
vidade deliciosa e é por esta razão e por achar que devo fazê-la,
que a faço.
S.A. Junto da comunidade estudantil é um dos Professores
que os alunos mais rapidamente reconhecem principalmente
por estar sempre a fumar o seu cachimbo. Considera-o uma
imagem de marca? E como é que nasceu este hábito?
Para já, uma novidade, se ainda não sabem: estou sem fumar
há 6 semanas! Atenção que eu não disse que deixei de fumar,
eu disse, “estou sem fumar”. A história por detrás do cachimbo
é muito simples, nunca imaginei que pudesse funcionar como
imagem de marca. Aliás, estupidamente eu só comecei a fumar
na universidade … Eu fumava cigarros, como toda a gente. Já as-
sistente e na Química Orgânica foi o Dr. Queirós de Oliveira, uma
figura carismática dentro da faculdade, que me convenceu com
argumentos fortes a passar do cigarro para o cachimbo. Nunca
imaginei que isso viesse a constituir imagem de marca. Mas a
verdade é que já me proporcionou momentos muito agradáveis
de conversa, inclusive com os estudantes, mas espero que não
seja necessário isso para poder conviver com os estudantes!
S.A. As constantes referências culturais que faz nas suas aulas,
são pormenores que os alunos mais reconhecem no professor.
Em que medida, a vertente cultural pode constituir um factor
diferencial na formação do estudante? O Professor valoriza o
estudante nesse aspecto?
Claro que sim, a cultura tem um efeito sinérgico em tudo na
vida. Se alguém for culto, vai ser um profissional melhor, da
mesma maneira que, se um estudante for culto, vai ser um es-
tudante melhor. Acho que, para um estudante universitário,
é fundamental que não saiba apenas aquilo que se ensina na
universidade. A meu ver, o curso universitário não é só a in-
formação que é dada nas aulas, é também a formação que se
obtém e essa formação deve ser o mais banda larga possível,
principalmente nos tempos que correm, em que não há empre-
gos fixos, há muitos desafios na vida e é preciso saber respon-
der-lhes sem medo, enfrentando-os com naturalidade. Devem
estar preparados para isso e quanto mais cultura se tiver, mais
facilidade se terá em enfrentar todos esses obstáculos.
S.A. Avizinha-se a mudança para as novas instalações da facul-
dade. Prevê uma melhoria qualitativa na formação dos novos
farmacêuticos? Existem outros factores que limitem esse mes-
mo melhoramento?
Nós vamos mudar de instalações e isso foi um desejo de há
vários anos, omnipresente na nossa faculdade. É uma questão
Entrevista
13
Entrevista
de necessidade, vamos ter muito mais espaço, mas temos que
recordar um aspecto muito importante: o que constitui uma fa-
culdade não são as paredes, são as pessoas. É evidente que o
facto de termos mais espaço ajuda ao sucesso, como poderá
também ajudar o facto de irmos conviver lado a lado com uma
faculdade de medicina e de veterinária. Pode ser uma mais-valia
na preparação daquilo que a nossa faculdade produz, que são
Especialistas do Medicamento. Acredito que esta mudança de
paredes contribua também no sentido de preparar farmacêuti-
cos indispensáveis na sociedade e é essa a nossa grande missão.
S.A. Como é que encara a evolução da profissão farmacêutica
nas últimas décadas e qual será o percurso a percorrer para a
valorização da profissão na sociedade portuguesa e europeia?
A profissão farmacêutica tem sido objecto de ataques múltiplos
e injustificados nos últimos anos. Perdemos a influência que
tínhamos nas análises clínicas, a farmácia hospitalar luta com
enormes dificuldades e a farmácia comunitária tem sido a víti-
ma principal de decisões legislativas, apesar de desempenhar
um papel indispensável no esquema de saúde nacional. Pen-
so que as Faculdades de Farmácia não podem ignorar ou achar
que estas realidades não têm a ver consigo, porque não são
problemas científicos. As Faculdades de Farmácia são as únicas
a ter a responsabilidade e a missão de preparar um tipo de pro-
fissionais com intervenção específica na sociedade: os farma-
cêuticos. Nenhuma outra Faculdade pode preparar Farmacêu-
ticos. Esta missão só poderá ser bem cumprida conhecendo a
realidade da profissão, percebendo que tipo de profissionais a
sociedade precisa como farmacêuticos, colaborando e ouvindo
todos os organismos e instituições que envolvem farmacêuti-
cos. A FFUP deve adequar e planear o ensino em função destes
aspectos. E não me refiro apenas ao MICF (que é a razão de
existirmos), refiro-me também ao 3º ciclo e às pós-graduações.
É necessário que haja mais doutoramentos em áreas mais espe-
cificamente farmacêuticas. Não devemos ter medo de intervir
em áreas diversas daquelas em que nos acomodámos. Temos
também de fazer com que os nossos estudantes continuem a
ter necessidade de vir à casa mãe, mesmo depois de estarem
a trabalhar. Temos de os ouvir e proporcionar-lhes a formação
que eles necessitam. Temos de aprender com eles. Sem com-
plexos e com o orgulho de sermos farmacêuticos. Não podemos
viver de costas voltadas para a profissão. Se não tivermos medo
e pensarmos de forma mais abrangente, então a profissão far-
macêutica ganhará relevância na sociedade e nós teremos con-
tribuído com a parte que nos cabe.
S.A. O professor receia por exemplo, que com a mudança de
faculdade, pudermos vir a ser integrados com o ICBAS?
Esse é um problema menor! Se me pergunta se eu gostaria de
ser integrado, não! Se acho que ser integrado é uma desgraça
para nós, não! O fundamental é mantermos a nossa identidade
como Escola de Farmácia e como produtores de Farmacêuticos
de qualidade. Os nossos estudantes têm de saber fazer coisas
que mais ninguém saiba fazer!
S.A. Numa componente mais prática, divagando um pouco,
a faculdade vangloria-se muito por um artigo científico, um
cientista, mas não nos vangloriamos por um farmacêutico,
numa área mais social, estar a fazer um trabalho brilhante?
Nos últimos anos a profissão farmacêutica tem sido atacada e
vilipendiada e nunca se ouviu a voz de um professor da Facul-
dade de Farmácia falar na televisão. E isto não pode ser, porque
são coisas que dizem respeito a todos nós e assumo a minha
parte da culpa, eu também não fui lá! Nós temos que ter in-
fluência na sociedade! Porque é que o farmacêutico não há-de
intervir mais ao nível autárquico? Porque é que não há-de ha-
ver mais deputados farmacêuticos? É um desafio que vos deixo
também a vós, estudantes. Têm de intervir de uma forma activa,
politicamente activa, no bom sentido que a palavra tem. Porque
se isso acontecer evitamos que a população seja enganada por
quem tem interesse em fazer diminuir a nossa importância e a
nossa força. Agora, se não nos mostramos, se nos recolhemos
ao nosso canto, se as faculdades acham que isso é um proble-
ma profissional, que não é científico, se não há farmacêuticos
com influência visível na sociedade, isso será muito mau para a
profissão farmacêutica, mas não teremos legitimidade para nos
queixarmos!
S.A. Que conselho dá aos futuros farmacêuticos?
A Faculdade ensina a pensar. Ensina a ter espírito científico. O
que eu desejo é que dêem utilidade a ambas as coisas e que
sejam interventivos, cultos e socialmente relevantes! E, essen-
cialmente, que não tenham medo!
14
Internacional
	 Estar a fazer Erasmus em Barcelona tem sido uma experiência incrível! Primeiro porque Bar-
celona é uma cidade feita mesmo à medida dos jovens. É super multicultural, transbordando arte e
diversão por todos os lados. Aqui há sempre alguma coisa para fazer ou ver, impossível é ficar em casa!
Segundo, porque por si só a experiência de estar 3 meses no estrangeiro numa faculdade totalmente
diferente já é deveras espantosa! Estou na Universidade Autónoma de Barcelona e adoro o ambiente
e a hospitalidade das pessoas com quem trabalho.
	 Concluindo, se estás hesitante em fazer Erasmus o meu conselho é: ARRISCA-TE! Somos jo-
vens e são estas “pequenas aventuras” que não podemos perder oportunidade de concretizar, pois
serão sempre uma mais-valia tanto a nível do nosso percurso pessoal como profissional. Experiências
no estrangeiro e o contacto com outras culturas só nos vão ajudar a abrir ainda mais os nossos horizon-
tes e a olhar o mundo por outras perspectivas, sendo uma óptima maneira de nos prepararmos para o
duro mercado de trabalho que nos espera!
Tatiana Guimarães
	 Londres é uma cidade absolutamente fantástica – não há um único dia em que não tenha
este pensamento. Falar de Londres é falar de museus de excelente qualidade e gratuitos, de merca-
dos com uma oferta incrivelmente diversificada, de ruas impecavelmente cuidadas e com edifícios
imponentes, de monumentos perfeitos como a Torre do Big Ben ou a St. Paul’s Cathedral, de parques
verdes, bem tratados e com esquilos fugitivos, de variados espectáculos como musicais, peças de tea-
tro e concertos, de ruas onde sabe bem andar, explorar, conhecer… Falar de Londres é simplesmente
falar duma cidade que não pára e que tem para oferecer uma fonte inesgotável de ocupações. Aqui,
até uma simples viagem de metro me parece engraçada, pois é um dos momentos em que é possível
observar outra particularidade inerente a Londres: a enorme diversidade cultural que parece cada vez
mais enraizada nesta cidade. É fascinante observar diferentes cores de pele, diferentes línguas, dife-
rentes formas de vestir e de estar, no fundo diferentes culturas, tudo misturado no interior de uma só
cidade. Para quem nunca visitou Londres, aconselho vivamente a vir passar cá uns dias – certamente
não se irão arrepender. Pessoalmente, acredito que não poderia ter escolhido melhor cidade para o
meu Erasmus e estou a adorar o tempo que tenho passado aqui em Londres!
Renata Belo
	 É uma experiência que aconselho vivamente a quem tenha possibilidades de o fazer! Há um
mês que estou em Paris a estagiar no Laboratório de Bacteriologia e Virologia do Hospital Bicêtre e
tem sido um mês fantástico! Paris é uma cidade belíssima, com monumentos impressionantes, jardins
lindos e museus fantásticos que, para quem tem menos de 25 anos são grátis! No hospital as pessoas
são muito simpáticas e prestáveis, explicando sem problemas aquilo que não se sabe fazer e acho
bastante engraçado observar as diferenças que existem entre um grande laboratório de investigação
e os nossos da faculdade.
	 Como disse, aconselho a todos que vivam este tipo de experiência pois, para além de se
conhecer um país e seus costumes, de se fazer uma data de novos conhecimentos, acho que é muito
benéfico para as próprias pessoas, pois é uma ajuda extra para se ganhar autonomia!
Magali Lago
Farmácia por esse mundo
fora
15
Internacional
	 Sossegada e discreta, Genebra revelou-se pela sua diversidade multicultural, devido à
presença das Nações Unidas e todas as suas agências. É na Organização Mundial de Saúde que
estamos a estagiar. É curiosa e interessante a sua dinâmica, existem sempre seminários e acti-
vidades na designada "lunch time", permitindo a exposição e discussão de temas pertinentes
relativos à Saúde Pública.
	 A Suíça deslumbrou-nos com as suas paisagens e organização. Ainda muito há para
explorar, mas ocupar-nos-emos dessa tarefa!
Ana Sara Gomes, Florbela Santos, Sara Duarte e Teresa Oliveira
	 Hey there dear colleague,
	 As you may have heard along the previous semester,
AEFFUP gives our students the chance to participate on a mega
worldwide project called SEP - Student Exchange Programme.
This is a mobility programme that gives students from all over
the world the opportunity to get to know pharmacy in a di-
fferent country, performing internships in areas such as com-
munity and hospital pharmacy, wholesale companies, pharma-
ceutical industry, pharmacy faculties or government or private
health agencies.
	 Going on SEP is the perfect chance to enrich your cur-
riculum while you travel around the world during the summer
break since the host country may also provide room, board
and/or pocket money in addition to the training site in order to
help the student.
	 Now I can hear you squirming: “Gosh, why didn't I ap-
ply for it this year?!” Fear not. There is still a way for you to get
involved in this project in THIS summer before you participate
on SEP next year. AEFFUP is creating a group to help welcoming
the students we will receive, sharing our knowledge about our
city, helping them with their questions, guiding them through
the best pubs and discos...
	 You will meet new friends all over the globe, your en-
glish will be improved, you will have tons of fun and I promise
this will be the best warm up possible if you want to go on SEP
in the future. And more.... since you are helping the program-
me, the programme will help you if you apply to go abroad the
next year. Extra points will be given to those who are joining
our group and you'll be privileged when the destination distri-
bution occurs.
	 If you're interested in joining this group send us an
email to aeffup.internacional@gmail.com and we will get you
posted on the further developments. This project will be your
chance to duplicate your facebook friends this summer!
Alexandra Marques e Tiago Caria
(Departamento de Relações Internacionais - AEFFUP)
	 Deixar os familiares, a rotina, o previsível e colonizar o desconhecido, Brasil!
	 O sol acorda-me para mais uma manhã a trabalhar no Hospital Universitário de Ma-
ringá. Aqui encontrei uma realidade bem diferente, que reflecte um país que está em plena
expansão, mas carente de regulamentação legal.
	 Brasil, uma experiência gastronómica maravilhosa, expressões emblemáticas marcan-
tes, mas com a sua magia essencialmente nas pessoas que conheci :)
Apenas 3 meses e a expectativa de ser das melhores experiências que estou a ter enquanto
estudante. Por enquanto, só quero é desfrutar cada momento único e interiorizar esta mentali-
dade de Carpe Diem que caracteriza o Povo Brasileiro.
	 O meu conselho é: abram a mente, abram o espírito a uma aventura destas, e mesmo
com receio (porque ele existe!), atrevam-se a viver esta experiência!
Sónia Garrido
Núcleo de Mobilidade
16
Internacional
E
a semana de Istambul do Projecto “Quatrino” culmina no
que descrevi no primeiro parágrafo. Amizade, troca de
impressões e ideias, partilha de conhecimentos e expe-
riências, ensaios gastronómicos e turismo puro. A cidade não
dorme, corre num círculo intenso e ruidoso. São aos milhões
pelas largas ruas, avenidas e praças. O comércio persegue-nos
com uma tendência viciante para negociar tudo e mais alguma
coisa. Os céus trazem-nos preces religiosas à hora das orações
na mesquita. Uma língua esquisita é o veículo de comunica-
ção de um mundo que cruza o Ocidente com o Oriente. O chá
substitui o café, e só o acto de o servir e transportar de porta
em porta é uma profissão. A gastronomia difere daquela a que
por cá estamos habituados. À mesa, supostos pratos típicos
de arroz com feijão, sem carne porque a refeição já é calórica.
Ou então um grande pão a cobrir um peixe inteiro com alface,
preparado no interior de um barco que balança na marginal ao
ritmo da forte ondulação. Como que a marcar o ritmo da tal
cidade que não pára! Paramos um quarto de hora. Olhamos
à nossa volta. Nesse período, passaram por nós mais pessoas
que numa qualquer grande romaria popular portuguesa. Táxis,
táxis e mais táxis. Num frenesim descontrolado, sem grande
respeito às regras de trânsito. Será que elas existem? Pouco
importa, que esta gente dá-se muito bem assim. Mercados
com lojas que se empurram umas às outras, com comerciantes
que esbracejam e mostram todo o stock que lhes é possível
vender. E não é exagerado repetir: sempre com vontade de ne-
gociar e fazer variar os preços como quem analisa à centésima
as variações do Psi-20.
	 Baralhados os traços gerais da quinta maior cidade do
planeta azul, importa referir também os workshops prepara-
dos e coordenados pelas diferentes delegações - turca, portu-
guesa, búlgara e sueca. Workshops subordinados ao tema da
Obesidade e Risco Cardiovascular. A discussão permite-nos
aferir, sem puxar os galardões para as quinas, que estamos na
linha da frente. Inequivocamente.
	 A experiência Quatrino vale a pena. Pela intensidade,
pela diversidade cultural que nos passa à frente dos olhos e,
sobretudo, pela globalização de nós mesmos, enquanto estu-
dantes e enquanto indivíduos. Levar lá fora o que é ser Portu-
guês, para trazer na mala um cardápio de ideias que nos faz
sentir mais capazes e preparados para o dia de amanhã.
	 Teşekkürler! , que é para agradecer muito em turco. A
todos os que foram e proporcionaram este carrossel de experi-
ências e sensações, pois claro.
Nuno Cunha
	 Ayrılık ayrılık aman ayrılık, diz uma canção muito conhecida por terras otomanas. E é exactamente a partir do sig-
nificado de separação que o refrão nos traz aos corações, que vale a pena começar a descrever esta semana de aventuras e
descobertas. É precisamente no momento em que nos despedimos das pessoas com quem partilhámos momentos e ex-
periências, que entendemos o significado daquilo que vivemos e fizemos. Claro está que os sentimentos variam de pessoa
para pessoa, mas no fundo há sempre aquele friozinho mágico na barriga do “Vou-me embora, um dia voltamo-nos a ver.”
Quatrino
1717
O
XIII Encontro Nacional de Estudantes de Farmácia (ENEF)
ocorreu em Portimão durante os primeiros quatro dias
de Abril e como sempre, a Faculdade de Farmácia da Uni-
versidade do Porto fez-se representar em massa, procurando um
escape ao stress das avaliações e dos trabalhos que perseguem os
estudantes pelos corredores e laboratórios da Faculdade.
	 As recordações que acompanham o XIII ENEF resumem-
-se a um fim-de-semana repleto de emoções, no qual a Faculdade
de Farmácia da Universidade do Porto foi escolhida como a me-
lhor faculdade, onde “Foi tudo à grande” e “Não faltou nada”. E
até quando os prémios não vinham para a casa Portuense, todos
cantavam pelo “Incrível TAC!”, fazendo com que mais ninguém se
fizesse ouvir.
	 A Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia não
desapontou e proporcionou aos participantes um fim-de-semana
recheado de excelentes actividades. Durante o dia os interessados
puderam participar em workshops específicos, em congressos ou
optar pela aula de Surf; à noite, os foliões puderam gozar de três
serões de grande diversão, quer pelas festas proporcionadas pelo
275 (mais concorrido que o Mojito Bar anunciado pela COACC),
quer pelas festas na Katedral, que se prologaram noite dentro.
	 O único ponto negativo a referir prende-se com a exces-
siva distância que separou os estudantes, a qual em alguns casos
pôde chegar aos 20 minutos a pé, para percorrer o caminho que
unia uma ponta à outra do hotel. Este facto condicionou a exis-
tência do tal espírito de “corredor” vivido noutros anos, tendo
levado a que a interacção entre as várias faculdades não fosse tão
promovida.
	 Pese embora esta pequena limitação que todos se esfor-
çaram para superar, foi um ENEF que correspondeu às expectati-
vas dos presentes e onde todos pudemos esquecer, ainda que por
pouco tempo, os tempos difíceis que nos esperam até à chegada
do Verão.
João Teixeira
ENEF
XIIIENEF
18
E
ntre os dias 21 de Fevereiro e 6 de Março decorreu,
no Teatro Municipal Rivoli, a 31ª edição do Fantas-
porto – Festival Internacional de Cinema do Porto,
que é organizado desde 1981. Esta edição contou com a
colaboração de um vasto conjunto de voluntários, que
muito contribuiu no sucesso do festival, organizado pelo
já habitual trio: Mário Dorminsky, Beatriz Pacheco Pereira
e António Reis.
	 A Substância Activa acompanhou o evento ao
longo destes quinze dias, estando sempre presente nos
momentos mais marcantes deste festival, que garantida-
mente faz jus ao cognome de maior festival de cinema do
País e dos mais conceituados em todo o Mundo.
	 Como já vem sendo costume nas edições ante-
riores, o Fantasporto apresenta-se com um carácter ar-
rojado, marcado sempre por uma originalidade que visa
garantir que, a partir do momento em que o espectador
entre no Teatro Rivoli, esteja rodeado por um ambiente
de “cinema fantástico”, tão inerente a este Festival. A mi-
núcia leva até a que as próprias casas de banho tenham o
seu quê de sombrio, com projecções fantasmagóricas.
	 Como principais novidades temos a forte pre-
sença do cinema português. Para além da inauguração
de uma secção competitiva e exclusiva para o cinema na-
cional, a qual incluiu a atribuição do Grande Prémio do
Cinema Português e do Grande Prémio para o Jovem Re-
alizador, o Fantasporto em colaboração com a Faculdade
de Belas Artes da Universidade do Porto, produziu uma
série de curtas-metragens, tentando destacar o trabalho
desenvolvido por um conjunto de jovens artistas plásticos
portugueses. Uma outra novidade foi o programa “Uma
Década das Melhores Curtas Europeias”, que consistiu na
exibição de uma selecção das melhores curtas-metragens
produzidas pelos mais diversos institutos de cinema euro-
peus durante a última década e cujo acesso ao público foi
gratuito.
	 O filme “Two Eyes Staring”, realizado pelo holan-
dês Elbert van Strien, foi o grande vencedor do festival, ao
conquistar o Grande Prémio Fantasporto 2011. Estiveram
também em destaque os filmes “A Serbian Film”, de Srd-
jan Spasojevic (Sérvia), que recebeu o Prémio Especial do
Júri, e “I Saw the Devil”, de Kim Jee-woon (Coreia do Sul),
que conquistou os prémios de Melhor Realização e de
Melhor Filme da Secção Oficial Orient Express. O triunfo
de Kim Jee-woon no Fantasporto não é inédito, uma vez
que surge na sequência de um outro prémio conquistado
pelo realizador sul-coreano em 2004, com o filme “A Tale
of Two Sisters”. “The Housemaid”, de Im Sang-Soo (Co-
reia do Sul), venceu o Prémio Manoel de Oliveira, o qual
representa o reconhecimento mais importante da Secção
Oficial da Semana dos Realizadores. Axel Wedekind (“Iron
Doors”, de Stephen Manuel) levou para casa o prémio
de Melhor Actor, enquanto o de Melhor Actriz foi entre-
gue a Seo Young-hee pelo seu papel em “Bedevilled”, de
Jang Cheol-soo. O norte-americano Mick Garris foi inclu-
sivamente convidado para presidir ao Júri da Secção do
Cinema Fantástico e os portugueses Maria de Medeiros,
Paulo Trancoso e João Meneses foram galardoados com o
Prémio Carreira.
	 Esta edição do Fantasporto terminou com a reali-
zação do já conhecido Baile dos Vampiros no Teatro de Sá
da Bandeira, que teve Adolfo Luxúria Canibal como anfi-
trião e que contou com a presença de aproximadamente
600 pessoas. A música house e electrónica imperou com
músicos como Alexis Taylor, dos Hot Chip, Filthy Dukes e
Bandidos, encerrando o Fantasporto na madrugada de 6
de Março.
	 Depois de um ano em que todas as expectativas
foram excedidas, garantimos que o Fantasporto estará de
regresso em 2012 e esperamos que para o ano a Subs-
tância Activa possa cobrir o evento, com a categoria que
cobriu este ano.
Cultural
por Nelson Barbosa e Catarina Rocha
19
20
Cultural
A Feira de Março, em Aveiro, é sinónimo de festa, alegria e mui-
ta animação. Mas esse barulho do exterior não se fazia sentir
nos camarins. Confortavelmente sentados, e com muito à von-
tade, Rui Veloso e Tim, dois grandes músicos do pop-rock por-
tuguês, partilham, sem rodeios, as suas opiniões à Substância
Activa.
Por Ana Rocha e João Gil
S.A. Como surgiu a parceria entre Tim e Rui Veloso? Já é algo
que tem anos de história para contar ou decidiram recente-
mente juntar dois ícones da música portuguesa?
Tim (T): Começou há muito tempo. Eu lembro-me, por exem-
plo, do concerto de despedida do estádio de Alvalade, e além
disso fizemos muitas coisas um com o outro, mesmo antes dis-
so. Portanto, agora falar desta parceria, o que nos traz aqui a
Aveiro é quase um ciclo, pois acho que nós temos vindo a tra-
balhar juntos. (Pausa) São uns anos de estrada. Muitos, não me
lembro, mas sei que temos…
Rui Veloso (RV): São treze, catorze anos.
T: Exacto, só assim de rotina ou de ensaiar. Ele convidou-me
para concertos históricos, logo a seguir aos Rio Grande. Foi, e
ainda é, uma parceria.
S.A. Referindo então os Rio Grande, e visto que foi um projec-
to com o qual a maioria do público se identificou e ainda hoje
reconhece, por que não uma continuidade ou retoma de algo
tão representativo?
RV: Cada um de nós tem a sua vida, segue as suas carreiras in-
dividuais e portanto é difícil conciliar.
T: Praticamente é isso. E depois, ideologicamente, Rio Grande
era um projecto muito bem feito e é difícil continuá-lo, pois
ficamos sempre com pena do que já fizemos. Foi muito bom
quando estivemos todos a trabalhar, foi uma experiência e uma
oportunidade que, na altura, tivemos. Para voltar a fazer Rio
Grande era necessário criar novamente uma certa onda musical
e um certo ambiente.
RV: Não é repetível. É um projecto único e, para voltar a ser
feito, teria de ter sido pouco tempo depois, na sequência do
resto. E se tivesse havido, por exemplo, motivos como a pres-
são por parte da editora, ou se existissem mais músicas, talvez
pudesse ter havido continuidade, só que existia ali esta série de
condicionantes. Depois passou o timing e cada qual foi para a
sua vida. Mas de vez em quando juntamo-nos, claro!
S.A. No álbum Companheiros de Aventura, do Tim, há uma
música, a Sayago Blues, que pela sua sonoridade faz lembrar
outros tempos, como os anos de glória dos Go Graal Blues
Band ou mesmo quando o Rui Veloso estava muito enraizado
na alma Blues. Acham que hoje em dia, se os novos talentos
emergentes em Portugal se descentralizarem logo de início de
um género, poderá contribuir para um não sucesso das suas
carreiras?
RV: Não é só cá em Portugal, não me parece que seja exclusivo
de cá. Em todo o mundo há muito agora uma espécie de cópia.
Há um grupo com sucesso e depois há uma data de grupos que
vai atrás a tentar soar mais ou menos ao mesmo. Cá em Por-
tugal não foge muito a isso. É a época em que vivemos, pois
há muita gente que acha que tem jeito para a música, há mais
músicos do que havia, portanto é natural que haja mais coisas
más. Mas se formos a ver, quem fica e sobrevive na História são
os talentos mais antigos (os dinossauros!), como o Paul Simons,
o Neil Young, o Bruce Springsteen, Eric Clapton ou os Rolling
Stones. Esses continuam a ser os eternos. Depois, na malta mais
nova, há umas coisas engraçadas … há coisas boas, mas não é o
sucesso dessas dimensões!
T: Mas eu acho que virão a ser. Estamos agora num ascender de
novas bandas de sucesso. Foi criada essa “super plataforma”,
essas “super bandas” com “super espectáculos”, mas todos os
anos vão incrementando com um ou com outro novo artista.
Depois há um que vai fazer a primeira parte do espectáculo,
ou há outro que já surge como convidado. Porque bandas que
foram para nós novidade, são agora clássicos, não é?
RV: Pois, mas era uma altura muito musical. Na altura as pes-
soas e as editoras gostavam de música e hoje em dia isso não
é bem assim, as editoras têm uma maior preocupação com a
vertente económica. A música passou a ser um mero produto
de venda. Na altura sabia-se onde é que se tinha que investir.
A partir do momento em que começaram a vir os contabilistas,
que não ligavam à música, enganaram-se na forma de fazer o
negócio.
S.A. Quando falam em cópias, referem-se também à recria-
ção musical, a novos estilos e artistas que pegam no antigo e
transformam-no? Que opinião têm sobre este tema?
T: Para trazer os êxitos antigos ainda lhes falta um bocado. Não
é isso que eles fazem. Eles fazem coisas novas com músicas an-
tigas, mas claro que nunca será tão bom quanto os clássicos.
Porém, isto ultrapassa gerações, pois nós falamos com pessoas
de outras gerações e para eles, por exemplo, fazer uma música
Tim
Rui Veloso
21
Cultural
como um bolero obedece a uma lógica de acordo com o que vão
fazer, mas muita coisa pode variar. Hoje em dia uns tentam fazer
como este ou aquele e depois há umas linhas às quais não se
foge. Torna-se tudo tão difuso que é difícil entender o que foi
copiado, ou mesmo o que poderão estar a copiar.
RV: De qualquer maneira, eu acho que música é tocada por
pessoas que toquem instrumentos, não há hipótese. Por pesso-
as que toquem um ou vários, seja ele a voz, ou outro qualquer,
como a guitarra, o piano, o violino, o bandolim. Música tem que
ser feita por músicos, não é por máquinas.
S.A. Não consideram, portanto, o sample um novo método ins-
trumental, ou mesmo um instrumento da modernidade?
RV: Em vez de ter o músico tem-se o sample. Mas é sempre pre-
ferível ter-se o músico.
T: Já aconteceu uma situação com o Marco Paulo, que não tocava
com músicos e depois começou a tocar, porque reparou que era
melhor. Provavelmente alguns artistas de agora já estão a chegar
a essa conclusão.
RV: É melhor porque olhou para nós. (risos) Mas os músicos to-
cam diferente de um sample e dos pluggins que, apesar de hoje
em dia estarem muito evoluídos e muito bons, nunca consegui-
rão substituir, por exemplo, um piano acústico, porque de facto
nunca será a mesma coisa!
S.A. Referindo então os músicos ditos de verdade, insubstituí-
veis por máquinas, já tiveram oportunidade de tocar com al-
gum que, em particular, seja uma referência ou ídolo vosso?
T: Eu já toquei com o Rui Veloso. (risos)
RV: Eu já toquei com o B.B. King. Foi giro, foi uma boa experiên-
cia, teve o seu quê melhor e o seu quê pior, mas o que fica para
guardar é sempre bom. Ele é que já tocou com o Chuck Berry…
T: Eu já toquei com o Chuck Barry, mas gosto mais de tocar com
o Rui Veloso. (risos)
RV: Eu não queria tocar com o Chuck Barry, deves ter sofrido
pouco! (risos)
S.A. Como se sabe, o mundo está a atravessar um período de
decréscimo e crise, tanto a nível económico como político e so-
cial. De que forma isto pode influenciar a cultura e a indústria
musical?
T: Estas alturas são muito férteis. Por vezes, para muitas pessoas
improváveis, é uma oportunidade para elas aparecerem a tra-
balhar no ramo, quando ontem nem faziam ideia que amanhã
podiam estar agarradas a um microfone. Portanto, isto é um fe-
nómeno que certamente gira muito as ideias.
RV: É o Futre, o Futre está numa fase criativa! (risos)
T: Não, mas eu acho que é mesmo isso. Há muita gente que nem
fazia ideia que conseguia ter hipótese e apesar de tudo estão
a ter.
RV: Não concordo inteiramente, acho que vai ter depressão
também, além de criatividade. A depressão já cá está. Há
pouco trabalho, os músicos estão muito à rasca e tudo isso
leva logo à criação de produtos supérfluos.
T: “No Money, no Buck Rogers!”
S.A. Já sofreram ou tiveram receio de falta de inspiração?
Ou aplicam no vosso trabalho lemas como “90% é transpi-
ração, apenas 10% é inspiração”?
RV: Eu já sofri com essa coisa de ter medo de me faltarem
ideias e inspiração, aconteceu-me isso. Mas faltar, nunca me
faltou. Quer dizer, tinha medo que faltasse, mas estava sem-
pre a fazer coisas novas.
T: Acho que a inspiração surge apenas.
S.A. Finalizando e direccionando a questão um pouco para
o Rui, não necessitou de um trabalho profundo de pesquisa
na composição e produção do álbum Auto da Pimenta, onde
refere muito temas relacionados com os Descobrimentos?
RV: Houve trabalho! Claro que o Carlos Tê, que escreveu as
letras, se informou mais. Eu fartei-me de pesquisar e olhar
para as letras, para ver o que fazer delas. Ia buscar os instru-
mentos todos que conseguia arranjar e isso ouve-se no dis-
co, que tem uma variedade de sons bastante diversa. Mas o
mais importante é fazer as canções e fazer as canções é letra,
guitarra e piano à frente e, sem inspiração não há mais nada.
T: Transmitir as imagens, é só preciso isso, nada mais.
24
Formação
24
N
o passado dia 31 de Março, a AEFFUP proporcionou a um
grupo de vinte estudantes da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto, uma visita de estudo às instala-
ções da prestigiada Bial. A tão aguardada visita alicerçou-se no
propósito de observar de perto o trabalho que se realiza nesta
empresa do sector farmacêutic dedicada à investigação.
	 Após uma viagem de aproximadamente meia hora,
num dia solarengo e repleto de calor, nada melhor do que iniciar
o percurso num ameno anfiteatro, onde se pôde ouvir um pouco
mais sobre a história desta empresa de renome. No filme apre-
sentado, um dos factos que mais importou reter acerca desta
empresa de Indústria Farmacêutica, prende-se com o propósito
da criação da mesma: “Fundada em 1924, começa por se des-
crever como uma instituição de utilidade pública, que tem como
missão investigar e desenvolver novos medicamentos que irão
proporcionar mais e melhor vida, em Portugal e no Mundo”. Fin-
da esta apresentação inicial, seguiu-se um breve diálogo, no qual
foi possível apurar que apenas 10% dos trabalhadores actuais da
empresa são farmacêuticos. Contudo, o desânimo não se pode
fazer valer no espírito dos que realmente ambicionam enveredar
por esta área, é preciso ser audaz e superar os limites que as
actuais circunstâncias impõem.
	 Vestidos a rigor com bata, protecção de pés e touca,
iniciamos a visita pelas instalações, tendo esta sido guiada por
um allumni da nossa prezada Faculdade. Começamos com uma
breve passagem pelas instalações fabris de produção de compri-
midos e xaropes, a qual contou com uma descrição detalhada
sobre o processo de fabrico e acondicionamento dos mesmos,
tendo-se passado depois pelo laboratório de análise de controlo
de qualidade. A visita terminou no armazém onde se encontram
acondicionadas as matérias-primas e os medicamentos já em-
balados, local onde nos foi dado a conhecer o moderno sistema
robotizado que gere este mesmo armazém.
	 E desta forma, com algum pesar, vimos a nossa jornada
no “mundo Bial” chegar ao fim. Para uns ficou a esperança de um
dia lá voltar para exercer a profissão, para outros ficou a certeza
de que esta não será uma escolha futura. De qualquer forma,
na memória de todos ficou uma tarde bem passada, bem ao
estilo intelectual dos estudantes de Farmácia.
Sílvia Pisco
2525
A
Universidade do Porto (UP) celebrou o primeiro Cente-
nário da sua história. Sem dúvida que esta representou a
celebração mais importante dos últimos anos para a Uni-
versidade e, consequentemente, para nós enquanto estudan-
tes de uma das mais antigas escolas da Universidade. Líder do
conhecimento em Portugal, reconhecida a nível Internacional
pela sua actividade, qualidade de ensino e contribuição para o
desenvolvimento do país, assim é a UP.
	 O Magnífico Reitor da Universidade do Porto, Profes-
sor Marques dos Santos, salientou a necessidade de projectar o
futuro da Universidade e pensá-la precisamente enquanto uma
das melhores a nível internacional.
	 Nesta cerimónia esteve também presente o anterior
Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano
Gago, que salientou a necessidade da Universidade apostar na
diversificação da oferta e numa consciencialização da realidade
do mercado de trabalho.
	 O Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco
Silva, referiu por diversas vezes a Universidade do Porto e a pró-
pria cidade, como um centro de conhecimento ímpar. Nas suas
palavras, “comemora 100 anos uma das maiores riquezas do
Norte, a Universidade do Porto enquanto verdadeiro centro de
transmissão de saberes, de espírito académico, de investigação
científica e fonte de desenvolvimento do tecido social e empre-
sarial do nosso País”.
	 Luís Rebelo, da Federação Académica do Porto, referiu
que o actual paradigma organizativo da Universidade está perto
dos limites das suas potencialidades, tendo destacado a neces-
sidade de repensar internamente a Universidade do Porto. Afir-
mou que “o desafio dos estudantes é racionalizar e potenciar a
Universidade”, salientando a excelência como um adjectivo que
caracteriza o passado, o presente e pressagia/antevê a direcção
futura da Universidade do Porto.
	 A cerimónia contou com a presença da comunidade
Académica da Universidade do Porto, que prestou a devida ho-
menagem e demonstrou estima pela magnífica história da Uni-
versidade.
	 Foi na perspectiva de preparar o futuro e com uma vi-
são centrada nos desafios que se adivinham, mantendo a exce-
lência da Universidade do Porto, que se celebrou esta data. Será
com os olhos postos no futuro, que esperamos um crescimento
e crescente valorização da nossa Instituição, sustentados na sua
já reconhecida excelência.
	 Venham mais 100!
Bruno Macedo
Aluno do 5º ano do MICF
Centenário UP
26
Centenário UP
1803
Academia Real
da Marinha e
Comércio
1836
Criação da Escola de
Farmácia anexa à Escola
Médico-Cirúrgica;
Academia Portuense de
Belas Artes
1837
Academia
Politécnica
22 Março de 1911
Primeiro dia da
Universidade do
Porto.
Maio 1911
Primeira Associação
de Estudantes do
Porto
1 de Novembro de 1911
A abertura do primeiro
ano lectivo
1912
O Nascimento do
Orfeão
1915
A Faculdade Técnica:
Caminho aberto para a
FEUP
1915
Autonomia
da Escola de
Farmácia
1919
Os primeiros
institutos de
investigação
e a Primeira
Faculdade
de Letras do
Porto
1921
A “nova” Faculdade de
Farmácia; Elevação à
Categoria de Faculdade
1922
"O Porto Académico",
pioneiro da imprensa
estudantil
1925
O Centenário do
ensino médico no
Porto
1926
Nova Orgânica
para o Ensino
Farmacêutico
1929
Os primeiros
Doutores
“investidos” da
U.Porto
1932
Reforma do Ensino Farmacêutico:
•Curso Profissional (3 anos);
•Licenciatura (5 anos);
•Única a Conferir o Grau de Doutor
1942
Criação do Centro
Universitário do
Porto
27
Centenário UP
1947
Lançamento do
Centro de Estudos
Humanísticos
1948
A primeira residência
universitária – Lar de S.
João de Brito
1953
Inauguração do Estádio
Universitário do Porto
1958
Funcionamento
regular de cursos de
pós-graduação na
FFUP.
1953
Criação da
Faculdade de
Economia
1960
Transferência das instalações da
Faculdade de Medicina do Largo da
Escola Médica (actualmente Largo
do Professor Abel Salazar) para o
Hospital de São João.
1961
Restituição da
Faculdade de
Letras após a sua
extinção em 1928.
1974
Mudança de
instalações da
Faculdade de
Economia do edifício
da Faculdade de
Ciências (Praça de
Gomes Teixeira)
para o novo edifício
do Pólo 2 da
Universidade do
Porto.
1975
Incêndio nas
instalações da
Faculdade de
Farmácia
1975
Criação do Instituto
de Ciências
Biomédicas de Abel
Salazar.
1976
Início das
actividades da
Escola Superior
de Medicina
Dentária do
Porto.
1978
Reforma do ensino
farmacêutico
(licenciatura com
tronco comum
de três anos e
com opção de
dois anos de
Farmácia de Oficina
e Hospitalar,
Farmácia Industrial
ou Análises Clínicas
1979
Criação da
Faculdade de
Arquitectura
1980
Instituição da
Faculdade de
Psicologia e
de Ciências
da Educação
1982
Fim das obras
de recuperação
do edifício da
Carvalhosa após o
incêndio de 1975
com reinício das
actividades esco-
lares da Faculdade
de Farmácia
1988
Reforma do ensino
farmacêutico
(licenciatura
generalista de cinco
anos).
1989
Fundação da
Federação
Académica
do Porto
1994
Criação da
Faculdade de
Direito
2011-2012
Passagem das
instalações
da FFUP para
o “Complexo
de Ciências
da Vida e
Saúde da
Universidade
do Porto”,
juntamente
com o ICBAS.
28
No passado dia 30 de Março, realizou-se o XVI Fórum Far-
macêutico AEFFUP subordinado ao tema:“Actividade Far-
macêutica: Competências e Perspectivas”, ao longo do qual se
procurou esclarecer o âmago da profissão, apontado actuais
problemas e perspectivando o futuro.
	 Contou-se com as ilustres presenças do Professor
Doutor Maurício Barbosa, docente da FFUP e Bastonário da
Ordem dos Farmacêuticos; do Prof. Doutor Rui Pita, docente
da FFUC; do Dr. Adalberto Campos Fernandes, docente da
ENSP UNL; do Prof. Doutor Carlos Gouveia Pinto, docente do
ISEG UTL; Dr. José Aranda da Silva, consultor na área da Saúde
e do Medicamento; da Dra. Suzete Costa, Directora Executi-
va do CEFAR-ANF; da Dra. Cristina Santos, coordenadora dos
Serviços Farmacêuticos/ANF; Dr. João Almeida, Presidente da
Delegação norte da ANF; da Dra. Helena Monteiro, represen-
tante da direcção da APFH; Prof. Doutor Franklim Marques,
presidente da Secção Regional do Norte da OF e docente da
FFUP; do Dr. Henrique da Luz, presidente do Sindicato Nacio-
nal dos Farmacêuticos e da Dra. Paula Teixeira, Representante
do Colégio de Especialidade de Indústria Farmacêutica.
	 O Professor Doutor Maurício Barbosa começou por
afirmar que “vivemos tempos de pura incerteza, que tudo é
imprevisível”, apontado que o futuro da profissão passaria pe-
las mãos dos presentes, a maioria ainda estudantes do Mes-
trado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Ao longo do dia,
vários temas que colocavam o Farmacêutico no centro do
“universo”vieram a debate. Desvendar o seu verdadeiro papel
na sociedade actual, compará-lo ao que foi outrora e apontar
medidas de prevenção que sustentem uma perspectiva opti-
mista do futuro, foram premissas fulcrais em todos os momen-
tos de discussão.
	 O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sofrido inú-
meras mudanças ao longo da história e a sua sustentabilidade
sugere dúvidas e requer novas propostas. Efectuando uma
retrospectiva da actividade farmacêutica em Portugal, veri-
fica-se que esta se pode considerar quase milenar e que ao
longo dos tempos tem vindo a ganhar elevada especificidade,
na sequência das reorganizações nos cuidados de saúde. Foi
necessário alargar horizontes, aumentar a dimensão e imple-
mentar leis que demonstrassem a importância da profissão e
atestassem a sua seriedade. Algumas guerrilhas políticas ti-
veram lugar, até realmente esta ser considerada a “profissão
privilegiada, com formação científica adequada” que hoje to-
dos reconhecem. Encarar o farmacêutico como Especialista do
Medicamento e Agente de Saúde Pública, permanece actual-
mente uma teoria indiscutível. A situação agrava-se quando,
em Portugal, ainda se continua a ser Especialista do Medica-
mento e há muito se perdeu o Agente de Saúde Pública, pas-
sando o testemunho para os profissionais que surgem apenas
como consequência de uma falta de organização conjunta
do sistema de saúde em que nos inserimos. Assim, desafios
são propostos para tentar dinamizar o quadro actual, que se
pode descrever crítico. Embora a saúde não se resuma a um
mero negócio, esta apresenta-se como o sector mais dinâmico
que a economia pode ter. Assim, apesar da complicada situa-
ção vivida em terras lusitanas, deverá tentar-se tirar partido
da actual “anemia europénica”, intervindo apenas de acordo
com o necessário e levando a discussão as más decisões, para
as solucionar da melhor forma possível. É necessário definir
prioridades, com vista a garantir que o trabalho até agora de-
senvolvido não será perdido, mas antes optimizado. É impor-
tante clarificar as áreas de intervenção, resolver o problema da
distribuição geográfica dos Farmacêuticos em Portugal, fazer
uma reforma nos cuidados primários, criar medidas para sal-
vaguardar a taxa de sustentabilidade do país e, acima de tudo,
é imprescindível uma rede de transparência.“Existe muito tra-
balho a fazer”, afirma Dr. Adalberto Campos Fernandes.
	 A política de comparticipações no SNS é mais uma
vez levada a discussão, tendo inicialmente sido apontada
como inexistente em Portugal. Porém, ela existe. Provavel-
mente não é a mais correcta, pelo que se deviam procurar
formas de a controlar ou até de a mudar, tomando como
exemplo países europeus que subsistem com outros tipos de
políticas, como sejam a Suécia e a Inglaterra. Todos estes sis-
temas são complexos e os objectivos a atingir podem ser con-
flituais. Aborda-se a introdução dos genéricos que aumentam
a procura e estimulam a concorrência. Será a saúde uma des-
pesa, ou um investimento? Mais anos o dirão. Não obstante
todas estas questões, indiscutível é que a comparticipação de
medicamentos representa um bem social – o medicamento é
um bem que deve ser preservado e reivindicado.
	 No que respeita aos Serviços Farmacêuticos presta-
dos em Farmácia Comunitária, desde muito cedo se verificou
que, além da habitual dispensa de medicamentos, alguns
	 A AEFFUP ao longo dos anos tem seguido uma linha de pensamento bastante ligada à actividade forma-
tiva dos seus associados, oferecendo-lhes a possibilidade de complementarem os seus planos formativos, toman-
do simultaneamente consciência da realidade farmacêutica vivida no mundo exterior à faculdade. Com este propósi-
to em mente, concretizou-se mais um Fórum Farmacêutico, actividade do foro formativo e educacional, que jogou com
assuntos pertinentes e actuais da profissão farmacêutica. O fórum objectivou assim, e á semelhança do que vem sen-
do hábito, despertar o interesse dos estudantes e a sua capacidade crítica relativa às diversas problemáticas que po-
derão vir a enfrentar no exercício da profissão, sobretudo as decorrentes do actual contexto socioeconómico do país.
Fórum AEFFUP
FÓRUM FARMACÊUTICO
Actividade Farmacêutica: Competências e PerspectivasXVI
“Nada está perdido.
São o futuro da
profissão e tudo
está nas vossas
mãos”
3030
serviços da índole da avaliação da condição física do doente
eram uma realidade. Atendendo ao potencial que um espaço
de saúde como este detém, seria satisfatório que profissionais
habilitados se resignassem à mera venda de medicamentos e
produtos de saúde? A resposta é não. A crescente necessidade
de Cuidados de Saúde por parte da população incitou a pro-
cura de um sistema de manutenção da saúde e do bem-estar,
sempre mais próximo e mais presente, no qual o Farmacêu-
tico assume um papel preponderante. No entanto, só a 2 de
Novembro de 2007, aquando da entrada em vigor da portaria
nº 1429/2007, é que as farmácias passaram a ser encaradas na
sua completa importância e virtual capacidade de promoção
de saúde. Passaram assim a estar autorizadas a prestar assis-
tência e intervir mais activamente na vida dos utentes, nome-
adamente através da elaboração de campanhas de informa-
ção, da prestação de primeiros socorros e da elaboração de
diagnósticos utilizando meios auxiliares. Pode então dizer-se
que à data as farmácias passaram da simples venda do produ-
to à prestação de serviços, os quais se encontram actualmente
classificados em essenciais (qualquer elemento da farmácia)
ou diferenciados (requer profissionais qualificados).
	 A habitual mesa redonda, desta vez orientada sob o
tema “O Exercício da Profissão Farmacêutica” e na qual inter-
vieram representantes dos vários sectores e vertentes do uni-
verso farmacêutico, trouxe a debate assuntos fulcrais. Refira-
-se a título de exemplo, o alerta sobre a importância de um
sindicato na área farmacêutica, no qual o número de farma-
cêuticos sindicalizados não ascende os 10% do total de farma-
cêuticos que actualmente exercem. Já no âmbito da Indústria
Farmacêutica, cujas áreas passíveis de intervenção farmacêu-
tica recaem essencialmente sobre a produção, qualidade de
controlo e investigação, foi salientada a mudança de paradig-
ma do papel dos farmacêuticos. Com efeito, verifica-se uma
tendência crescente para que os farmacêuticos trabalhem nas
questões de regulamentação e legislação. Mas é obrigatória
esta mudança. Actuar para o bem da profissão e não a levar
à falência, como tende a acontecer com tudo hoje em dia em
Portugal. Actuar em áreas inter-relacionadas, gerir os riscos e
enfrentar o problema. Também o ramo das análises clínicas
sofreu enormes alterações, desde 1820 (data perto da qual
terá surgido o primeiro “laboratório” de análises clínicas) até
à actualidade. Isto como resultado quer do aumento demo-
gráfico, quer da ascensão de profissões decorrentes da trans-
formação de técnicas/metodologias de trabalho em ciências
(das quais se citam os biólogos, os bioquímicos, entre outros).
A farmácia comunitária mostrou-se ainda, a “salvação”, para
os demais presentes, contudo o Dr. João Almeida afirma que
actualmente, para o verdadeiro sucesso profissional na área
farmacêutica, é necessário mais do que apenas o Mestrado
Integrado. Indica serem necessárias formações adjacentes, na
tentativa de destaque profissional e pessoal. Intervém ainda
dizendo que estamos a perder terreno e que cabe aos estu-
dantes de hoje em dia dar rumo à profissão e lutar pelo seu
nome.
	 Os objectivos inicialmente propostos para o XVI Fó-
rum Farmacêutico foram alcançados, superando as expectati-
vas. Os presentes abandonaram o anfiteatro com as suas dúvi-
das esclarecidas e com uma ideia realista e actual da profissão
farmacêutica. Tal como a crise, a certeza no sector farmacêu-
tico instala-se; este vai enfraquecendo, com o simples falar e
pouco agir. A fácil empregabilidade há muito foi perdida, a
profissão tende a alterar-se cada vez mais, mas a única certe-
za ainda reside nos estudantes, futuros profissionais – “Nada
está perdido. São o futuro da profissão e tudo está nas vossas
mãos”.
	
Ana Raquel Santos, João Barbosa e Mariana Dias
Fórum AEFFUP
31
“Nem sempre, ficar em casa é o melhor remédio…”
Q
uantos de nós já ouviram ou, até mesmo, pragueja-
ram frases como: “A Ordem dos Farmacêuticos não
faz nada por nós!”, “A ordem devia diminuir as vagas
do MICF!”, a Ordem devia“isto”, a Ordem não faz“aquilo”…
Este“nós”vai para além dos estudantes do Mestrado Integra-
do em Ciências Farmacêuticas (MICF), sendo estas expres-
sões transversais devido à desinformação que acompanha
o nosso sector quanto à sua representatividade. Assumindo
por defeito, que todos queremos a nossa classe profissional
bem defendida e representada é importante perceber quais
são as instituições representativas dos vários sectores do
universo farmacêutico e em que situações actuam.
	 No recente “X Fórum Educacional” da Associação
Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF), realizado no
Porto, o Exmo. Bastonário Professor Doutor Carlos Maurício
Barbosa desmistificou muitos dos preconceitos que teimam
em imperar quanto à verdadeira função de uma Ordem, no-
meadamente a Ordem dos Farmacêuticos (OF). A Constitui-
ção da República Portuguesa, no seu artigo 267º estabelece
que só podem ser constituídas associações públicas profis-
sionais - Ordens, quando correspondam a profissões cujo
exercício é condicionado à obtenção prévia de uma habili-
tação académica do nível de licenciatura ou superior - para a
satisfação de necessidades específicas e que as mesmas não
podem exercer funções próprias das associações sindicais e
têm organização interna baseada no respeito dos direitos
dos seus membros e na formação democrática dos seus ór-
gãos.
	 Numa leitura rápida, desde logo é realçada a dis-
tinção entre uma Ordem e um Sindicato. A Ordem dos Far-
macêuticos não existe para defender corporativamente os
Farmacêuticos; antes, ela é sinónimo de que o estado reco-
nhece na nossa classe a capacidade de auto-regulação, ten-
do sempre como principal objectivo a defesa daqueles que
recebem os nossos cuidados: os utentes.
	 Devemos orgulhar-nos de uma Ordem dos Farma-
cêuticos que tenha consciência dos seus nobres objectivos.
Não se travestindo numa Ordem/Sindicato, defendendo de
forma cega os interesses dos seus associados, proletarizando
a classe. Vejamos a Ordem dos Médicos, que se auto-intitu-
lam como os “grandes defensores” dos utentes, mas que ig-
noram e falseiam qualquer medida que vise a poupança e o
aumento do poder de escolha daqueles que supostamente
defendem. Pessoalmente, sentiria um certo incómodo por
ser defendido por uma“Ordem”dessas.
	 Deste modo, noutro campo de acção, temos as vá-
rias instituições que representam e defendem determinadas
áreas do sector farmacêutico: Associação Nacional das Far-
mácias, Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, Associação
Portuguesa da Indústria Farmacêutica, Associação Portugue-
sa de Farmacêuticos Hospitalares, Associação Portuguesa de
Estudantes de Farmácia, entre outras com menor relevo so-
cial. Todas têm funções específicas com a actividade corpo-
rativa, legítima e necessária à defesa dos farmacêuticos e das
diversas áreas onde estes actuam.
	 É unânime o reconhecimento da força e qualidade
do associativismo farmacêutico, mas o refúgio da nossa in-
tervenção junto destas entidades da sociedade civil tem-nos
limitado o poder de intervenção junto daquilo que dita as
regras pelas quais nos regemos: a esfera política. Já demons-
trámos que somos muito competentes dentro das nossas
portas, que honramos a nossa casa, mas é imperativo que
mais farmacêuticos se empenhem em mostrar a nossa capa-
cidade de intervenção, com qualidade, na sociedade. Numa
Assembleia da República a rebentar pelas costuras, apenas
temos dois deputados farmacêuticos. Este dado deve fazer-
-nos reflectir sobre o que verdadeiramente queremos para o
nosso futuro!
	 Tem-se verificado, sobretudo na última década, a
destruição da credibilidade atribuída aos políticos; tornou-
-se socialmente desonroso assumir cargos políticos, o que
afasta os jovens líderes da actividade política. Quem é bom
no seu sector, não quer nada com a política e muito menos
fazer uma carreira como político. Não sendo minimamente
censurável esta opção, será positiva tanto para nós, como
para toda a sociedade? Certamente que não!
	 É importante que mais jovens, nomeadamente fu-
turos farmacêuticos, manifestem as suas opiniões políticas,
se juntem a grupos de acção política juvenil, da esquerda à
direita, marcando posições relativas à política da saúde e do
medicamento em Portugal. Só assim, conseguiremos que o
farmacêutico continue a ser reconhecido como um profissio-
nal com características próprias e únicas.
	 Não podemos estar à espera que outros pensem
em nós e nos reconheçam o verdadeiro valor. Este é um pro-
cesso que exige coragem por parte dos jovens para romper
com tabus e preconceitos. Não é fácil, mas a longo prazo será
certamente bastante reconhecida a mudança de paradigma
e os proveitos que dela resultarão.
	 Caso para dizer que, nem sempre, ficar em casa é o
melhor remédio…
Opinião
Por Joaquim Gonçalves
"Nem sempre, ficar em casa é o
melhor remédio…"
3232
Porquê o roxo?
N
o centro da cidade histórica do Porto, envolta de mis-
ticismo e histórias anciãs, encontra-se localizada a Fa-
culdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP),
cuja origem leva-nos aos antigos anos 20, nomeadamente ao
ano de 1921. Constituída por quatro pisos e meio, a Faculdade
de Farmácia da Universidade do Porto, para além da instituição
enigmática que aparenta ser, é também uma das mais antigas
da Universidade do Porto e a mais emblemática Faculdade de
Farmácia do país. Por cá, já passaram gerações e gerações de
mentes brilhantes, que partiram para o mundo farmacêutico,
lutando todos os dias por um sistema de saúde melhor e de
confiança.
	 Neste estabelecimento de ensino são colocados por
ano, cerca de duzentos alunos, mas destes duzentos, apenas
30% recorrem a esta casa em primeira opção. São muitos os
alunos, que ao terminar o primeiro ano lectivo decidem conti-
nuar nesta muy nobre Faculdade. Mas porquê? O que torna a
FFUP tão especial?
	 Para além do curso em si, especialmente rico na área
da Biologia e da Química, esta Faculdade está cheia de opor-
tunidades que ninguém pode deixar escapar. A Associação de
Estudantes proporciona aos seus associados maravilhosas ac-
tividades em variadíssimos campos, enriquecendo não só o
seu percurso académico, como também as relações interpes-
soais. Mas o leque de oportunidades não fica por aqui! Existem
também os grupos académicos, que permitem desenvolver
o intelecto e o artístico, os núcleos da AEFFUP que permitem
desenvolver a criatividade e num outro, poder ajudar os mais
necessitados, sem esquecer o facto de existir também a opor-
tunidade de integrar em projectos de laboratório de diversos
departamentos, fortalecendo e aplicando as competências ad-
quiridas ao longo do curso.
	 Mas ser da FFUP não é só estudar todos os dias afin-
cadamente para poder ser um bom farmacêutico. É fortalecer
diariamente as relações de amizade. É aprender a ver o mundo
de outra maneira. É dar um bocadinho de nós sem esperar nada
em troca. Os alunos da FFUP, apesar da sobrecarga de trabalho
semestral, das épocas de exames terríveis, do sistema de avalia-
ção que desagrada a muitos, do espaço reduzido, da inexistên-
cia de ar condicionado, dos meios pisos e dos tectos estranhos,
têm algo que não se vê noutra Faculdade do País: têm um lugar,
rodeado de pessoas conhecidas, sempre dispostas a ajudar, a
que podem chamar “lar”. E é esta a nossa identidade! É isto que
nos diferencia de todas as outras Faculdades! É isto que nos
distingue de tudo o resto e que nos faz querer ficar cá e não sair
mais. É isto que nos orgulha e nos faz vestir o Roxo e defender a
nossa casa.
	 E na Monumental Serenata, quando o fim do cur-
so parece eminente, cada lágrima vertida não simboliza pura
tristeza, mas sim demonstra o respeito pela grande instituição
de educação farmacêutica que os ensinou também a ter um
melhor carácter como pessoa, com novas ideias e perspectivas
de vida; simboliza também cada amizade criada, cada relação
construída, cada ligação que ficará para a vida; simboliza tradi-
ção, descoberta, união, experiência e acima de tudo, a Família
que construíram.
O roxo simboliza uma nobre faculdade próspera em inteligên-
cia, rigor e dedicação, aliada aos melhores valores que se po-
dem incutir numa pessoa: respeito, lealdade e amor.
	 É com orgulho que eu digo: “A Faculdade de Farmácia
da Universidade do Porto não é um edifício, mas sim todas as
pessoas que dela fazem parte”.
Sílvia Pisco
Porquê
o roxo?
33
Porquê o roxo?
FOTO BANDEIRA EM GRANDE a4
34
C
urvas e contra-curvas, subidas e descidas, ravinas à
vista, era o pânico instalado! Mas foi com alegria e
muita música que chegámos a Vila Nova de Foz Côa
para participar no I RUPESTUNAS, o primeiro encontro de
tunas organizado pela Associação Juvenil Gustavo Filipe no
âmbito do dia do Estudante Universitário.
	 Desde logo fomos muito bem rece-
bidas pela organização, começando por um
fantástico almoço, em que melhor que a so-
bremesa só mesmo o convívio entre as tunas
presentes. Pouco depois chegava a hora das
tunas a concurso – TFP – Tuna de Farmácia
do Porto, TUNA-MUS – Tuna Médica da UBI e
TAB – Tuna Académica de Biomédicas - parti-
ciparem no Passa-Calles. Uma vez que não
estávamos a concurso no festival, decidimos
passar esse tempo que tínhamos livre cantan-
do e animando as pessoas que passeavam pela
Festa da Amendoeira em Flor no centro da Vila.
	 Mais tarde, na Praça do Município, as-
sistimos à actuação das tunas masculinas, que
proporcionaram um óptimo espectáculo ao pú-
blico presente e que as Sirigaitas fizeram questão de tornar ain-
da mais espectacular. Dançámos, cantámos e animámos toda
a gente, desde os mais novos aos mais velhos (quem é que vai
esquecer a Dona Maria Emília e o seu fadinho?). No final do
espectáculo, procedeu-se à entrega dos prémios aos vencedo-
res e foi com muito agrado que vimos a TFP trazer para nossa
casa os prémios de “Tuna mais Tuna” e “Melhor Passe-Calles”.
	 Como a noite já se aproximava, dirigimo-nos nova-
mente à Escola Secundária de Foz Côa onde
iríamos jantar na companhia das restantes
tunas e de outros estudantes universitários
naturais de Foz Côa, para comemorarmos o
dia do Estudante Universitário. Seguiram-se
momentos para mais tarde recordar, com
muita música e diversão, que se estende-
ram para os bares da Vila e pela noite fora.
No dia seguinte, Farmácia foi almoçar em
peso em casa do Sr. Filipe, um amigo que
fizemos durante a estadia em Foz Côa e
que nos ajudou em tudo o que precisá-
mos. Já cansadas de um fim-de-semana
tão extenuante, partimos rumo ao Por-
to numa viagem, como seria de esperar,
muito animada e cheia de peripécias.
As Sirigaitas vão continuar a sua tour-
né pelo resto do país, de Évora a Coimbra e, claro está,
pelo Porto! Não nos percas de vista, num palco perto de ti!
Grupos Académicos
SIRIGAITAS
Sirigaitas,
A Tua Tuna!
35
Grupos Académicos
I
niciamos este artigo com um comunicado penoso, conster-
nado, desconsolado, acabrunhado e, já que estou a abusar
do dicionário de sinónimos a torto e a direito, porque não
acrescentar, sorumbático. Vivem-se tempos difíceis e nem mes-
mo a Tuna de Farmácia do Porto - como órgão reivindicador,
vinculante, reafirmante, actual e actualizado que é - ficou alheia
á crise. Por culpa do governo e da especulação económica que
se tem vindo a sentir, a T.F.P. viu-se forçada a ter de cancelar o
que viria a ser o seu primeiro Festival de Tunas. Não é de ânimo
leve que tal decisão foi tomada, mas por motivos de força maior
(maiores até do que a área de superfície total do contrabaixo da
Tuna) e movidos por uma procura de excelência, achamos por
bem adiar o festival por um ano.
	 Mas nem tudo são más notícias, por isso a Tuna vê-se
forçada a meter mãos á obra (literalmente, porque não temos
dinheiro para pagar a carpinteiros para nos montar uma barra-
ca) e visto sermos todos moços jovens e empreendedores, va-
mos mais uma vez – se é que ainda não entenderam – ter uma
barraquinha na Queima das Fitas do Porto. Passo a reformular.
A Tuna de Farmácia do Porto vai pela segunda vez consecutiva,
absoluta, sintética, somática e analítica, ter uma (grande) barra-
ca no Mui Nobre, Mui sui generis e Mui etanolicamente fecun-
do, fantabulástico e espectaculoso, Queimódromo da Semana
da Queima das Fitas do Porto 2011.
	 O que já de si só, sempre foi um local de “afável” con-
vívio, em toda a sua magnitude exuberante de uma miscelânea
de sabores, odores, fragores e cornucópia de licores e vapores,
será agora isso tudo e muito mais! – Inserir banda sonora par-
tidária aqui - Porque nós, também estamos lá! – Inserir ova-
ção fervorosa! Eu sei o que vocês estão a pensar: “É pá, isso é
incrível!” Ao que eu respondo: “Pois é!” E reiteram: “ Há aqui
qualquer coisa errada, pá!” E eu digo: “Cala-te Armando! Não
há nada errado! É verdade mesmo!” E o Sócrates diz: “Porreiro
pá!” e faz “fixe” assim com o dedo. Citando o filósofo e grande
poeta “It’s going to be legen… Wait for it…”
	 Portanto já sabem, se querem apanhar a “garota de
programa” (peço desculpa mas o Word forçou-se a usar o novo
acordo ortográfico “Brasileirês”); provar o exclusivo e já mítico
“shot pastel de nata” ou simplesmente serem atendidas por jo-
vens saudáveis e espadaúdos, não precisam procurar mais! Di-
rijam-se á barraquinha T.F.P., i.e. Temos Fígados Potentes. Numa
Queima das Fitas perto de si!
	 Procurando preencher o número mínimo de palavras,
vamos dissertar acerca das inúmeras actividades em que a T.F.P.
têm vindo a participar. Porque isto de tuna, não é só copos, se-
renatas, donzelas, rambóiada e javardanço. Não, não é! Tam-
bém… Diz-se por aí, que se viaja por esse lindo e maravilhoso
Portugal, de norte a sul, cantando e encantando com a nossa
música. A Tuna contou nestes últimos dois meses com uma pa-
nóplia de actuações, algumas das quais em festivais, onde já
ganhou inclusive (e por mais uma vez, apesar de muitos ele-
mentos não se lembrarem sequer de terem subido ao palco)
o primoroso prémio Tuna mais Tuna. Prova de que a T.F.P. está
para as tunas como o Tide está para a roupa: Tuna mais Tuna
(que a T.F.P.) não há!
	 Entre os inúmeros palcos em que a T.F.P. teve a oportu-
nidade de actuar, houve um que se destacou: a actuação em Foz
Côa! (Fomos com as Sirigaitas! Dormirmos na mesma divisão e
tudo! Tivemos que as proteger dos elementos das restantes Tu-
nas masculinas, que ao contrário de nós não são nada refinados
nem cavalheirescos).
	 E assim, aqui fica um apelo àqueles que ainda não des-
cobriram que querem entrar para a Tuna, por não terem a com-
pleta noção do Universo que isto é: a T.F.P. foi e voltou de Foz
Côa sem pagar um único tostão. Bebeu, comeu, e bebeu ainda
mais, tudo gratuitamente! Actuámos nas ruas para as gentes
galhofeiras do nosso Portugal, que nos presentearam com gen-
tis donativos (posso desde já adiantar que o vinho de Foz Côa
é bastante bom) e os habituais gestos e palavras de apreço e
carinho. A senhora da mercearia local até nos ofereceu uma al-
face! (apenas por não estarmos na época dos ananases) – Que
de certo, caso estejam familiarizados com o trabalho poético
do colectivo intitulado “Ukurralle”, saberão da importância que
depreende “não renunciarem a alface”!
	 Despeço-me com isto e despede-se também a Tuna de
Farmácia do Porto, por agora. Não se esqueçam que a T.F.P. tem
ensaios todas as semanas, às segundas e quartas às 21 horas no
átrio da FFUP. Por isso se querem entrar para a Tuna (ou se são
o Milheiro), apareçam!
Isac Novo
TFP
36
Grupos Académicos
O
Grupo de Fados da Faculdade de Farmácia da Uni-
versidade do Porto devia fazer um franchising! Entre
Erasmus, Farmácias, Hospitais, Laboratórios, aulas, tra-
balhos e afins, aqui permanece, percorrendo o seu caminho,
alargando repertório e ganhando experiência.
	 Um complexo processo sináptico de maturação de
ideias decorre nas nossas cabeças e esperamos poder brindar
a nossa comunidade estudantil com alguns projectos num fu-
turo breve. Tão breve quanto possível. Perdoar-me-ão que não
desvende, ainda, nenhum deles, mas julgo que compreenderão
que anunciar projectos antes que estejam definitivamente pro-
gramados, poderá levar várias agências de "rating" a baixar o
escalão do nosso pobre país caso não se concretizem da forma
que prevemos, ou até a que nos apaguem as luzes durante os
aplausos no final de uma qualquer actuação.
	 Nesta edição da Substância Activa parece-me perti-
nente dar a conhecer a faceta irreverente, intervencionista e
reivindicativa do GF FFUP. É um grito de revolta, contra as inú-
meras ilusões que são apresentadas aos milhares de jovens do
ensino superior (e ao futuro do país, no fundo), em favor de
uma Verdade Estudantil.
	 Queremos que todos os leitores da Substância Activa
se sintam tranquilos, pelo menos, em relação a algumas coi-
sas que a todos nós pertencem. A identidade, os valores e os
dogmas que defendemos como Grupo de Estudantes, são pre-
ceitos imutáveis. E estes ninguém nos tira. Agência de "rating"
nenhuma! Nenhuma classe política decadente, nem qualquer
pranto desportivo violento ou vingativo nos pode roubar este
Porto de Abrigo, a nossa Torre dos Clérigos, as nossas pontes,
a nossa Viela, o nosso Recanto, o nosso Fado. Esta cultura que
nos define não é volátil, não depende de especulações, nem
das telenovelas de comunicação social. Ainda há motivos para
termos orgulho em sermos Portugueses e por termos a sorte de
estudar na cidade que, no seu nome, tem dependurado o nome
do nosso país.
	 Melhores dias virão, caríssimos. Até lá contem com
o nosso Fado de Coimbra. Estou certo que estes dias negros e
sem esperança darão lugar a longos e Verdes Anos.
	 Saudações Académicas!
O Grão-mestre do GF FFUP
Alexandre Pereira
GRUPO DE FADOS
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Aniversário AEFFUP festeja 82 anos

  • 1. Substância Activa Semestral | Terceira Edição | Julho 2011 | Distribuição Gratuita Revista do Núcleo de Comunicação da AEFFUP
  • 2. Editorial Associação de Estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Rua Aníbal Cunha nº 164, 4050-047 Porto Tlf: 22 208 80 01 / 22 200 71 74 Tlm: 931 625 390 Fax: 22 205 73 78 www.aeffup.com geral@aeffup.com comunicacao@aeffup.com Facebook: http://www.facebook.com/aeffup Núcleo de Comunicação AEFFUP Directora Ana Raquel Santos Coordenadores Mariana Dias Luís Azevedo Redacção Ana Rocha João Barbosa Joaquim Gonçalves Nelson Barbosa Sílvia Pisco Rádio João Cunha João Gil João Teixeira Design Paulo Malta Rui Ferreira Web design Paulo Malta Colaboradores externos Bruno Macedo Nuno Cunha www.comunicacao.aeffup.com nc.aeffup@gmail.com Sereer, Unipessoal, lda Rua Missionários Combonianos, 216 Apartado 1393 4471-909 Maia Portugal Tel: 229 429 142 Fax: 229 429 142 Telemóvel: 962 100 921 E-mail: sereer@sereer.pt A simples visualização daquilo que nos rodeia faz-me ver que a sociedade mudou, está diferente. Sofreu imensas mudanças e foi obrigada a enquadrar-se nas novas perspectivas mundanas. Este facto não foi indiferente ao Mundo Farmacêutico, que teve que se adaptar às tecnologias, aos métodos modernos de fabrico, para poder actuar perante uma sociedade criteriosa e selectiva. No ínfimo da tecnologia farmacêutica actual, procura-se descobrir a melhor substância activa possível: o melhor hipertensor, o melhor antidepressivo, o melhor anal- gésico... Há um ano atrás descobrimos a nossa “Substância Activa”! E continuamos a procurar, ano após ano, métodos inovadores, matéria aliciante e sobretudo o enquadramento no mundo dos especialistas do medicamento, de forma a obtermos reconhecimento académico e so- cial. O Núcleo de Comunicação não é indiferente às inovações. Es- tas valorizam-nos. Com a entrada de novos membros, cheios de ideias futuristas e empolgantes, decidimos mudar os “excipientes” do nosso produto, mantendo a orgânica inicial do projecto: a revista “Substância Activa”. Com um formato diferente, mas apoiada nos pilares anterior- mente construídos, pretendemos mostrar que a etapa continua e que a meta proposta ainda se encontra longe: queremos muito mais! E para isso precisamos de ti! Convidamos-te a ler e a ser a Substância Activa! P’lo Núcleo de Comunicação AEFFUP, Ana Raquel Santos
  • 3. Com o aparecimento de um núcleo rejuvenescido, eis que chega até vós a nova edição da Substância Activa. Uma revista com uma nova imagem, que visa a actualidade, com questões pertinentes e que nos preocupam e com as entrevistas que mais anseias ler. Uma revista que é o reflexo do projeto AEFFUP e dos seus associados. Ao iniciar este percurso, a direcção da AEFFUP definiu como ambição pessoal a construção de um projeto, que sabíamos ser ambicioso, mas principalmente multidi- mensional, sem incúria para nenhuma área de intervenção. Neste quase meio mandato, já muitas metas foram alcançadas, permitindo que todos os associados tenham a oportunidade de se enriquecer e evoluir como estudan- tes, cidadãos e futuros profissionais. Fomentar o desenvolvimento colectivo, a cultura desportiva, o voluntariado, a promoção para a saúde são alguns dos pontos-chave para o futuro que nos espera. Promover a formação de opiniões é o maior objectivo da AEFFUP e tentamos fornecer os meios para que todos os estudantes construam com as melhores fundações, juízos sustentados dos temas prementes do mundo académico, da sociedade e da profis- são. Vivemos numa época de constante mutação, onde o saber e a opinião são essenciais para a produção de novas premissas. Hoje é essencial intervir, trabalhando em conjunto, ajudando à evolução. Temos conhecimento que ainda temos imenso pela frente, por isso convido-vos a deixar a vossa marca, a vossa opinião, fazer a diferença, enriquecer a tua associação, a tua faculdade! Participem nos núcleos, nas actividades, na construção de projectos destinados completamente para ti! Catarina Pires Presidente da Direcção AEFFUP 2010/2011
  • 4. Copos & Conversas Pág. 8 Índice6 9 28 Internacional Pág. 14 XIII ENEF Pág. 8 Fantasporto Pág. 18 Entrevista Rui Veloso & Tim Pág. 20 Álbum fotográfico Pág.22 Visita de Estudo à Bial Pág. 24 Opinião Pág. 31 Porquê o roxo? Pág. 14 Grupos Académicos Pág. 34 X Fórum APEF Pág. 37 NASA Pág. 38 CAP Pág.40 Taça AEFFUP Pág. 40 Concurso de Escrita Pág. 41 Banha da Cobra Pág. 42 25
  • 5. 5 A lgum desejo para 2011? Que o tempo parasse! Ou que inventassem a tal máquina do tempo, esperada e va- lorizada por tanto ser humano! Ainda acho que foi ontem que tudo começou. Um grupinho de pesso- as, que apenas conhecia de vista e cuja relação com parte deles simplesmente se baseava no “Bom dia” e “Boa tarde”. Cheguei à sala de convívio, sentei-me e fiquei à espera que acontecesse. As pessoas co- meçaram a chegar, com imensas ideias por formar e pensamentos vagos, tentando saber o seguimento de todo um projecto ainda mal explicado. Conversa puxa conversa, foi desde aquele momento que o tur- bilhão de ideias para levar o projecto Comunicação avante, nunca mais findou! Passou um ano e agora como directora do Núcleo de Comunicação, sinto que o sentimento da- quele momento, ficou apenas a um simples olhar para trás! Basta fechar os olhos, que as imagens ressaltam à vista. O desconhecido, o prazer de fazer nascer algo, são tudo aspectos que nem por palavras consigo descrever! São muitas memórias… Um ano repleto delas, que posso recordar através do nosso trabalho, arquivado para a vida! Isso é algo gratifi- cante! Alguns dos fundadores foram obrigados a abandonar-nos, porque a vida além faculdade conti- nua, mas novos elementos ingressaram, com ideias que convidam a sentar e a querer muito mais. Posso dizer que existimos porque realmente acreditamos. Somos cada um por si numa união incrível, mostran- do que a heterogeneidade é uma mais-valia para estes propósitos. A revista “Substância Activa” que ganhou asas há um ano, mostrando o âmago da nos- sa faculdade e a “RadioActiva” que dá aos nossos ouvintes momentos de pura diversão e lazer, são os dois caminhos pelos quais me tenho perdido com- pletamente! É um orgulho enorme pertencer a este Nú- cleo e é com enorme prazer que felicito todos os que fizeram e fazem parte dele. E apelo-vos, leitores assíduos da “Substância Activa” e ouvintes da “Ra- dioactiva”, que continuem a fazer o vosso excelente trabalho como mensageiros do nosso troféu! Desejos? Reformulo o desejo e não quero que o tempo pare, mas que o bom produto seja re- almente destacado e reconhecido por todos e que daqui a trinta anos quando ler novamente um dos nossos exemplares possa dizer: “Foi um projecto de vida!” O ve- lho di- tado diz que uma imagem vale por mil palavras e nós não somos excepção à regra! Parabéns ao projecto Comunicação e, princi- palmente, a nós como Nú- cleo. Porque somos as almas que dão a energia, a voz e a es- crita, ao produto que é “nosso”! Por Ana Raquel Santos nc.aeffup@gmail.com comunicacao.aeffup.com Parabéns Núcleo!
  • 6. 66 Como tem vindo a ser habitual, a AE- FFUP proporcionou aos seus associados e convidados uma semana recheada de ac- tividades, animação e divertimento, come- morando assim 82 anos da sua existência. A semana de festa começou com a já co- nhecida Noite de Bingo. Um serão diferente que, tendo por base um ambiente familiar, propor- cionou a atmosfera necessária para uma noite divertida e surpreendente, que ultrapassou as- sim as demais expectativas criadas. Numa noite onde não faltou música, diversão, palhaçadas e claro, muitos “Bingos”, esta tornou-se numa das actividades obrigatórias que “enche a casa” e leva todos os presentes à gargalhada pela certa. O serão de terça-feira contou com uma presença ilustre no magnífico evento Copos & Conversas, que teve lugar no Bar Alfaiate. O Prof. Doutor Alberto Barros, médico do Hospi- tal de São João e Director do Centro de Gené- tica da Reprodução, rapidamente se enquadrou com os demais presentes, facto que aliado ao excelente ambiente vivido no bar, resultou numa agradável conversa subordinada ao tema: “Ma- nipulação genética - Será legítimo escolher o futuro?”. Vários foram os temas abordados pelo nosso convidado, muitos dos quais baseados em vivências pessoais e temas de elevado peso so- cial, passando desde “a fiabilidade do processo de lavagem de espermatozóides em HIV posi- tivos” à questão da clonagem, levando os pre- sentes a questionarem-se sobre a definição do limite entre o moralmente correcto e incorrecto. As comemorações do octogésimo segundo aniversário da AEFFUP seguiram-se com a mais aguardada actividade do mundo desportivo da FFUP – a Taça AEFFUP. Apesar das caneladas, das faltas e dos cartões mostra- dos, dos vencedores e vencidos, das alegrias e tristezas, típicas de uma partida de futebol, o torneio acabou com a magnitude da vitó- ria, realçando o verdadeiro espírito de des- portivismo e o prazer na prática do desporto. Como não há aniversário sem comemo- ração a rigor, na noite de quinta-feira realizou-se a tão aguardada festa de aniversário da AEFFUP. O espírito para mais uma festa já há muito se ins- talara na faculdade, tendo contribuído para tal o facto de a festa ser temática e a perspectiva de existirem inúmeras surpresas para os estudantes. Sendo este o último aniversário que a AEFFUP realizou nas actuais instalações da Fa- culdade de Farmácia da Universidade do Porto, tudo apontava para uma noite inesquecível re- pleta de misticismo e saudade. Envolta no tema dos “Anos Vinte”, esta festa tinha as condições perfeitas para ser, sem dúvida, uma das melho- res festas do ano. O espírito em alta, a decoração temática e os convidados vestidos a rigor, condu- ziram à atmosfera ideal para um perfeito flash- Aniversário 82_Aniversa
  • 7. 7 back vivenciado em pleno século XXI. Começan- do com um apetitoso churrasco, passando para uma sessão de Karaoke e prolongando-se noite dentro no Pitch Club, esta tornou-se obrigatoria- mente numa das festas mais memoráveis de sem- pre da história da Faculdade de Farmácia da UP. E para terminar em grande, na sexta- -feira, na sala de convívio, realizou-se a solene festa de aniversário, que constou com a presença de ilustres professores da Faculdade de Farmá- cia, representantes de entidades patrocinado- ras e alguns membros de outras faculdades da Universidade do Porto. Num clima acolhedor, as Sirigaitas (Tuna Feminina da Faculdade de Far- mácia da UP) fizeram as honras da casa, encan- tando os presentes com a sua voz e a sua alegria, fechando da melhor forma esta semana de co- memorações do octogésimo segundo aniversá- rio da nossa querida Associação de Estudantes. Resta apenas desejar à AEFFUP mui- tas felicidades, deixando votos de grandes con- quistas nos anos vindouros. E, do fundo do co- ração, um grande obrigado pelas vivências e recordações com que rechearam todos os pre- sentes nesta fantástica semana de aniversário. Sílvia Pisco Aniversário ario_AEFFUP 7
  • 8. 8 N o passado dia 1 de Março, o Bar Alfaiate abriu as portas para acolher mais uma edição de Copos & Conversas, que este ano se subordinava ao tema: “Manipulação Genética - Será legítimo escolher o futuro?”. Este evento, focalizado nas técnicas de reprodução medi- camente assistidas, foi promovido pela Associação de Estu- dantes e teve como convidado o Prof. Doutor Alberto Bar- ros, médico do Hospital de São João e Director do Centro de Genética da Reprodução. Apresentando-se como um “pára-quedista via terrestre”, demonstrou um à vontade tal que, alienado ao ambiente aco- lhedor da sala, proporcionou grandes horas de conversa. Um dos primeiros tópi- cos abordados foi a fiabilidade da técnica de lavagem de esper- matozóides em HIV positivos, com vista à separação de esper- matozóides vivos, sem o vírus HIV e posterior introdução no útero da mulher no período de ovulação. O convidado escla- receu este ponto dizendo que “a vida não tem probabilidade zero”, que em biologia nada é 100% seguro e que as pessoas são sempre avisadas e esclarecidas relativamente ao grau de risco do processo. Acrescentou ainda que até ao momento não foi descrito nenhum caso de infecção com essa técnica. O Prof. Doutor Alberto Barros salientou que o seu objectivo como médico não passa por melhorar a espécie, mas por diminuir a prevalência da doença genética grave, inferindo a importância do diagnóstico genético pré-implan- tação. No entanto, a título pessoal mostrou-se relutante em casos de implantação de esperma em mães solteiras ou em casais do mesmo sexo, mesmo que a lei assim o permita. Firmemente, explicou que a grande questão está na decisão individual e considera que a situação contra natura de dois homossexuais quererem um filho não obedece às boas prá- copos As intervenções do Prof. Dr. Alberto Barros basearam- -se essencialmente em vivências pessoais. Quando questiona- do sobre a sua posição face à criação de úteros artificiais para reprodução assistida, usou como referência um livro que leu, intitulado “O Admirável Mundo Novo”, que já augurava a ferti- lização e a gestação "in vitro", prevendo que um útero de subs- tituição será algo “muito feliz” para os casos em que se recorria a um útero de aluguer e, igualmente, representará um avanço científico grandioso: “Não se deve ter medo da evolução”, afirma. Na assistência levantou- -se então a questão da definição dos limites entre o moralmente correcto e o moralmente incor- recto. O convidado desenvolveu este assunto, explicando que a actividade médica passa por obedecer às boas práticas. Na área da procriação assistida há e haverá muitas divergências, mas se uma prática levar a uma diminuição do sucesso da téc- nica, então essa deixa de ser uma prática correcta. O Prof. Dr. Alberto Barros explicou, e muito bem, que um médi- co nunca deve falsear a verdade científica, mesmo que discor- de sobre o facto, visto que além de estar a questionar o valor de peritos que obedecem a regras rigorosas na estipulação das normas, pode colocar em causa a saúde pública. Disse, a títu- lo de exemplo, que um médico, mesmo sendo contra o pre- servativo, nunca poderá aconselhar o paciente a não o utilizar, visto ser algo universalmente aceite na comunidade científica. Após esta discussão sobre assuntos que tocam mais à subjectividade e a questões muito pessoais, o serão vai avan- çando até ao término, sem esquecer uma nota importante que o convidado fez questão de referir: ”A bata é um simbolismo: as pessoas dizem aos médicos o que não dizem às esposas ou à fa- mília. Temos sempre de dizer aquilo que pode ser feito, mesmo que não concordemos. Isso é que é cumprir as boas práticas.” Restaaexpectativaeoconviteparaquesejastu,opróximoaparti- ciparnumafuturaediçãodeCopos&Conversascomatuaopinião! Ana Catarina Rocha conversas& Saúde ticas médicas. Como não aceita pelas suas convicções, acon- selha a auto-inseminação ou indica outros locais onde poderão realizar insemi- nação, sem nunca ma- nifestar imposição.
  • 10. 10 Entrevista S.A. Como surgiu o interesse de ingressar no curso de Ciências Farmacêuticas? Inscrevi-me em Farmácia um pouco por acaso, não sabia o que queria fazer exactamente da vida. Estávamos em 1976, numa altura pós-Revolução, onde ainda se viviam ecos do Verão Quente de ’75. Vim de Bragança para o Porto e inscrevi-me na primeira faculdade que encontrei! Como também não sabia o que queria ser na vida, nem o que queria fazer, inscrevi-me com a ideia: “se calhar mudo de curso, vamos ver, vou experi- mentar”. Vim um bocadinho com esse espírito de abertura e de experiência. Fiz amizades que ainda hoje persistem, gostei imenso do ambiente que se vivia na faculdade, do contacto com os professores. Havia uma aproximação muito grande e acho que existiam professores notáveis pela abrangência cul- tural que tinham, pela maneira como se empenhavam nas au- las. Tudo isto fez com que eu fosse ficando e ainda hoje cá es- tou! (risos) Mas também sinto que, se tivesse feito outra coisa diferente, conseguia ser igualmente feliz. Hoje, com 52 anos, continuo a aprender a ser feliz com aquilo que surge e com as opções que faço na vida. S.A. E porquê o ramo da Química Orgânica? O ramo da Química Orgânica surgiu também por acaso. Isso aconteceu no 4.º ano, através de um professor que me marcou profundamente tanto como homem como professor, o Pro- fessor Polónia. Era um excelentíssimo professor e ainda hoje tenho alguns “tiques” dele. O Professor Polónia convidou-me para ser monitor da cadeira de Química Orgânica Farmacêuti- ca quando andava no 4º ano. Quando terminei a Licenciatura, agora Mestrado Integrado, abriu um concurso para assistente ao qual concorri e fiquei. Era regra do Professor Polónia que, qualquer assistente que entrasse, nos primeiros tempos, teria que aprender a dar aulas, só depois é que podia fazer outras coisas. Assim, obrigava-nos a assistir às aulas dele e ele apare- cia frequentemente nas nossas. Nessa altura era obrigatório fazer provas de aptidão pedagógica científica. Na altura havia um tema que me despertou imenso interesse: a comunicação química. Falei dele ao Professor Polónia, que me incentivou imenso. Pouco depois acontece o seu falecimento prematu- ro e eu decidi continuar nessa área para o doutoramento. Fiz uma parte da investigação cá e outra parte em França, usando uma bolsa do governo francês. Depois do doutoramento, era o único no nosso centro de investigação a interessar-se por este tema. Isto não fazia qualquer sentido e assim, entendi ser mais producente integrar-me de forma mais directa com os traba- lhos em curso no nosso centro de investigação. Desde então, tenho-me dedicado mais a aspectos de Química Farmacêutica e Química Ambiental. Pode ser que qualquer dia regresse à co- municação química, tema que não deixei de acompanhar em termos de leitura sobre o que se vai fazendo por esse mundo fora. S.A. O Professor referiu que o seu principal mentor, primeiro ensinou-o a leccionar e só depois o ensinou a investigar. Acha que neste momento, na faculdade segue-se esse caminho? Criam-se primeiro professores e depois investigadores? Hoje a realidade é muito diferente. A maioria dos novos do- centes entram já doutorados e com autonomia para realizar a sua própria investigação. Em muitos casos não é o ensino que os atrai. A evolução na carreira é medida essencialmen- te pela sua eficiência na investigação. Tudo isto faz com que a preocupação com o ensino e a forma de ensinar fique em segundo plano. Não é fácil fazer com que essa pessoa pense no aspecto pedagógico, a não ser que tenha uma vocação e um interesse particular para isso. Infelizmente, o esquema de fun- cionamento das universidades não está feito de maneira a con- seguir encontrar espaço e valorizar de igual modo as pessoas que gostam mais de ensinar e as pessoas que gostam mais de investigar. Isto acaba por ser uma violência para ambos, por- que há gente que tem facilidade em transmitir conhecimento e gosta menos de investigar e há outras pessoas que preferem a investigação ao ensino. Acho que as universidades ganhariam se valorizassem ambas as vocações. Sou de opinião que é pre- ferível ter um professor cientificamente bem preparado e não tão bom pedagogicamente, do que ter um professor mal pre- parado e que seja bom pedagogo (se é que isso existe). Mas é Professor Doutor Carlos Afonso Entrevistado por Ana Raquel Santos e Joaquim Gonçalves Transcrito por Ana Catarina Rocha, Ana Raquel Santos, João Barbosa e Nelson Barbosa Em todas as faculdades existem as histórias, as festas, os projectos, as personalidades e a nossa boa FFUP não foge à re- gra. Assim sendo, resolvemos conversar com uma personalidade conhecida por todos na faculdade, não só pela cultu- ra que tão largamente demonstra, como por hábitos peculiares e capacidade pedagoga inigualável e tentar desmistifi- car o que está por detrás de algumas realidades, que nos fazem pensar todos os dias. Para uns, o patriarca de uma das cadeiras mais difíceis do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas; para outros, uma pessoa extremamente culta em diversas áreas; mas para todos, sem dúvida, um Professor muito especial – convosco, o Professor Doutor Carlos Afonso.
  • 11. 11 Entrevista possível conciliar, uma vez que os docentes universitários hoje em dia têm uma preparação científica perfeitamente provada e o que não têm provado é a sua capacidade pedagógica. É uma falha clara que existe na Universidade. S.A. Durante os seus estudos universitários, como se descrevia como aluno? Considera que o perfil de aluno tem vindo a mu- dar ao longo do tempo? Era um aluno perfeitamente normal. Digamos que dividia equi- tativamente o meu tempo pelo estudo, pelas actividades den- tro da Faculdade e pela diversão. Creio que aprendi mais na- queles 5 anos do que no tempo que tinha vivido até aí. Só mais tarde me apercebi que muitas das coisas que fiz, tinham sido fundamentais para a minha formação como Homem. Por isso, insisto sempre com os alunos que deverão ter interesses que os ajudem a ser homens e mulheres cultos, cidadãos conscientes do mundo que habitam. Em muitos aspectos o perfil dos alunos não se alterou, continua a ser variado e continuam todos a ser jovens com as características típicas das idades que têm. Há 25 anos atrás, por força das circunstâncias que se viviam em ter- mos políticos e económicos, talvez tivéssemos de ser maduros mais cedo e também mais intervenientes e participativos. Não existiam tantas iniciativas à “solidão”; não havia internet, com- putadores, nem jogos electrónicos! O estilo de vida era mais propício ao convívio. S.A. O Professor acha que o ambiente familiar e o nível so- cioeconómico têm uma influência preponderante no sucesso académico? Essa é uma pergunta muito interessante e muito actual, tendo em conta os tempos que estamos a viver com a “geração à ras- ca”. Eu acho que tudo se relaciona. É evidente que é preciso um mínimo de bem-estar socioeconómico para se poder enfrentar um curso universitário. Acho que há um mínimo indispensá- vel, mas também considero que a abundância excessiva acaba sempre por arrastar efeitos nefastos. O excesso e a facilidade deixam as pessoas mais lassas, sem objectivos, menos felizes. E esse é um problema que a nossa geração criou e se reflecte agora em muitos de vocês. Nós, os pais, sempre nos preocupá- mos muito em facilitar-vos o caminho e em resolver os vossos problemas. Não vos soubemos mostrar que há coisas mais im- portantes do que ter uma vida fácil. Em muitos casos não vos ensinámos a valorizar devidamente o esforço, o sacrifício e a exigência pessoal. Estou convencido que uma grande parte dos jovens teve acesso a coisas, mesmo antes de ter sentido ne- cessidade delas; tiveram bicicleta, telemóvel ou computador sem terem de lutar por isso. Isso criou uma imagem errada do mundo real. Mas penso que isto é algo que se pode corrigir, até porque vocês estão conscientes destas realidades. Aliás, o mundo está a mudar, a nossa geração também cometeu outros erros. Não soube colocar valores como a tolerância, a caridade e o respeito pelo outro, acima da preocupação económica e do dinheiro fácil. Agora, que se vê que aqueles caminhos não con- duziram a um mundo melhor, pode ser a grande oportunidade para nos transformarmos. Temos agora uma boa oportunidade para mudar o paradigma na forma de educar os filhos. S.A. O Professor fala muito de Bragança. O facto de ter vivido na região de Trás-os-Montes e Alto Douro influenciou de algu- ma forma a sua vida pessoal e académica? Eu nasci em Moçambique e só vivi em Bragança durante dois anos. Mas a verdade é que os genes transmontanos são genes dominantes, pelo que isso se reflecte em vários aspectos. Há muita gente que diz, por exemplo, que eu não sou capaz de es- conder o meu estado de alma, que é muito fácil perceber atra- vés da minha expressão facial se estou bem ou mal disposto. Eu também digo o que penso de uma forma até demasiado directa e isso é um bocadinho típico de ser transmontano, se é que se pode definir esse tipo de pessoa. Mas nesse aspecto não há dú- vida nenhuma de que sou transmontano! S.A. Enquanto aluno da Faculdade, quais foram as principais personalidades que, no campo académico e científico, mais o marcaram? Durante a minha vida académica existiram muitos professores que me marcaram. Já vos falei do Professor Polónia. A Faculda- de tinha um lote de professores que fizeram história e que ti- veram inclusive alguma influência e poder em termos políticos. Nesse grupo de professores a que eu chamo a “velha guarda”, inclui-se o Professor Carvalho Guerra, que é actualmente nosso cooptado no Conselho de Representantes. É uma personalida- de especial pela sua riqueza, pela sua clarividência e pela sua inteligência. Por falar em inteligência, há que referir um outro professor, o Professor Vale Serrano, que era um indivíduo com uma inteligência notável, tão inteligente que para ele era tudo fácil! O Professor João Carlos de Sousa, da área da Microbio- logia, um indivíduo pedagógica e cientificamente excepcional e também a Professora Margarida Ferreira que continua viva e actualizada na área da Bromatologia. Há ainda uma série de outros que foram meus professores e ainda se encontram na Faculdade que também me marcaram muito. Reconheço que aquilo que sou é fruto daquilo que todas estas personalidades são e daquilo que me transmitiram. S.A. Qual foi o melhor momento da sua carreira académica e científica? É muito difícil escolher um momento, porque aqui na Faculdade fui aluno, fui e continuo a ser professor e já fiz parte de todos os órgãos de gestão, nomeadamente a Assembleia de Repre- sentantes, o Conselho Directivo e o Conselho Pedagógico. Fui até há pouco tempo Vice-Presidente do Conselho Científico e Director do Mestrado em Controlo de Qualidade. É evidente que tudo isso, juntamente com uma postura de transmontano que eu não consigo evitar (risos), cria momentos inesquecíveis. E como nessas coisas da vida acho que sou muito optimista, guardo positivamente todos esses momentos. Eu não guardo os momentos negativos. Aliás, esqueço com muita facilidade esses momentos. S.A. De que forma encara o seu papel como pedagogo? O que retira de mais importante nessa profissão? Eu não me posso considerar pedagogo. Aquilo que tento fazer é preocupar-me em ser sempre pedagogicamente melhor. E en- caro isso como uma obrigação. Eu não consigo conceber que
  • 12. 12 alguém aceite o papel de ser professor e que ganhe um salário de professor, sem que tenha a preocupação de se esforçar por ser pedagogicamente o melhor possível. Aprender não é uma diversão, é um acto de esforço. Mas, como já me ouviram dizer muitas vezes, na vida não é possível encontrar circunstâncias e situações em que se gosta sempre de tudo e que é fundamental acreditar na capacidade de se aprender a gostar. O dever do professor é ajudar o estudante a fazer esse esforço de aprender a gostar. E uma das formas mais eficazes é transmitir o conheci- mento de forma aliciante e simples. S.A. Que qualidades deve um professor possuir para poder leccionar no ensino superior? Deve gostar de transmitir aquilo que sabe e saber mais do que aquilo que transmite. Deve saber mais do que o programa da sua disciplina. Um professor universitário tem, por obrigação, saber relacionar o programa da sua disciplina com o das outras disciplinas do curso, ou pelo menos com a maioria delas, e tem também que ter um conhecimento e uma cultura acima da mé- dia, porque está a preparar cidadãos e cidadãs, com o objectivo de terem uma formação superior. Para se exigir, tem que se dar. E para se dar, tem que se ter. S.A. O Professor falou em aprender a gostar de ensinar… Para si não foi uma paixão? Foi, desde o início. Eu tenho na família alguns professores, por isso não sei até que ponto isso não constará dos meus genes! Mas é verdade que transmitir aquilo que eu sei, o que estudei, é uma coisa que me apaixona imenso, pelo que para mim, não constitui qualquer sacrifício dar aulas. S.A. Costuma ser reconhecido pela maioria dos estudantes como um professor diferente, tanto pela forma como ensina, como pela simpatia e pessoalidade com que trata os estudan- tes. Esta postura já lhe trouxe algum dissabor? Não, pelo contrário, dissabores rigorosamente nenhuns. Eu acho que tenho uma atitude para com os estudantes de aber- tura e transparência. Desde o início que as regras do jogo são colocadas em cima da mesa e isso faz com que se crie um clima de confiança, que não leva nem a más interpretações, nem a dissabores rigorosamente nenhuns. S.A. Quando falo em dissabores é sobretudo por essa transpa- rência que é tão claramente reconhecida pelos seus alunos… Mas eu acho que é por causa disso mesmo. É fundamental exis- tir um clima de respeito mútuo, o qual torna o relacionamen- to muito claro. Acho que os estudantes sabem que eu tenho sempre presente que só existo porque eles existem. Eu tenho o máximo respeito por eles e isso traz como consequência que eu seja respeitado. Este clima permite um espectro de actuação muito largo sem ser mal interpretado. S.A. Será talvez por isso, que o Professor consegue ter sempre uma boa disposição na forma como exprime os assuntos, sem- pre um bom humor? Isso é essencial, as aulas não podem ser, como diria Eça de Queirós, “um ferro”, têm que ser um prazer. Acho que sim, eu tenho por obrigação fazer o melhor que sei para transmitir aquilo que quero. Claro que tento ser recebido e aliás, é fácil para um Professor perceber quando isso acontece e é uma das situações fantásticas que esta profissão tem, já que quando se está a dar aula, se cria um clima/energia que se sente entre o docente e o estudante. É possível saber quando estamos a ser ouvidos e quando não estamos, quando estamos a seguir um caminho que não está a ter resultados e quando esse caminho está a prender a atenção das pessoas. Eu acho que é uma acti- vidade deliciosa e é por esta razão e por achar que devo fazê-la, que a faço. S.A. Junto da comunidade estudantil é um dos Professores que os alunos mais rapidamente reconhecem principalmente por estar sempre a fumar o seu cachimbo. Considera-o uma imagem de marca? E como é que nasceu este hábito? Para já, uma novidade, se ainda não sabem: estou sem fumar há 6 semanas! Atenção que eu não disse que deixei de fumar, eu disse, “estou sem fumar”. A história por detrás do cachimbo é muito simples, nunca imaginei que pudesse funcionar como imagem de marca. Aliás, estupidamente eu só comecei a fumar na universidade … Eu fumava cigarros, como toda a gente. Já as- sistente e na Química Orgânica foi o Dr. Queirós de Oliveira, uma figura carismática dentro da faculdade, que me convenceu com argumentos fortes a passar do cigarro para o cachimbo. Nunca imaginei que isso viesse a constituir imagem de marca. Mas a verdade é que já me proporcionou momentos muito agradáveis de conversa, inclusive com os estudantes, mas espero que não seja necessário isso para poder conviver com os estudantes! S.A. As constantes referências culturais que faz nas suas aulas, são pormenores que os alunos mais reconhecem no professor. Em que medida, a vertente cultural pode constituir um factor diferencial na formação do estudante? O Professor valoriza o estudante nesse aspecto? Claro que sim, a cultura tem um efeito sinérgico em tudo na vida. Se alguém for culto, vai ser um profissional melhor, da mesma maneira que, se um estudante for culto, vai ser um es- tudante melhor. Acho que, para um estudante universitário, é fundamental que não saiba apenas aquilo que se ensina na universidade. A meu ver, o curso universitário não é só a in- formação que é dada nas aulas, é também a formação que se obtém e essa formação deve ser o mais banda larga possível, principalmente nos tempos que correm, em que não há empre- gos fixos, há muitos desafios na vida e é preciso saber respon- der-lhes sem medo, enfrentando-os com naturalidade. Devem estar preparados para isso e quanto mais cultura se tiver, mais facilidade se terá em enfrentar todos esses obstáculos. S.A. Avizinha-se a mudança para as novas instalações da facul- dade. Prevê uma melhoria qualitativa na formação dos novos farmacêuticos? Existem outros factores que limitem esse mes- mo melhoramento? Nós vamos mudar de instalações e isso foi um desejo de há vários anos, omnipresente na nossa faculdade. É uma questão Entrevista
  • 13. 13 Entrevista de necessidade, vamos ter muito mais espaço, mas temos que recordar um aspecto muito importante: o que constitui uma fa- culdade não são as paredes, são as pessoas. É evidente que o facto de termos mais espaço ajuda ao sucesso, como poderá também ajudar o facto de irmos conviver lado a lado com uma faculdade de medicina e de veterinária. Pode ser uma mais-valia na preparação daquilo que a nossa faculdade produz, que são Especialistas do Medicamento. Acredito que esta mudança de paredes contribua também no sentido de preparar farmacêuti- cos indispensáveis na sociedade e é essa a nossa grande missão. S.A. Como é que encara a evolução da profissão farmacêutica nas últimas décadas e qual será o percurso a percorrer para a valorização da profissão na sociedade portuguesa e europeia? A profissão farmacêutica tem sido objecto de ataques múltiplos e injustificados nos últimos anos. Perdemos a influência que tínhamos nas análises clínicas, a farmácia hospitalar luta com enormes dificuldades e a farmácia comunitária tem sido a víti- ma principal de decisões legislativas, apesar de desempenhar um papel indispensável no esquema de saúde nacional. Pen- so que as Faculdades de Farmácia não podem ignorar ou achar que estas realidades não têm a ver consigo, porque não são problemas científicos. As Faculdades de Farmácia são as únicas a ter a responsabilidade e a missão de preparar um tipo de pro- fissionais com intervenção específica na sociedade: os farma- cêuticos. Nenhuma outra Faculdade pode preparar Farmacêu- ticos. Esta missão só poderá ser bem cumprida conhecendo a realidade da profissão, percebendo que tipo de profissionais a sociedade precisa como farmacêuticos, colaborando e ouvindo todos os organismos e instituições que envolvem farmacêuti- cos. A FFUP deve adequar e planear o ensino em função destes aspectos. E não me refiro apenas ao MICF (que é a razão de existirmos), refiro-me também ao 3º ciclo e às pós-graduações. É necessário que haja mais doutoramentos em áreas mais espe- cificamente farmacêuticas. Não devemos ter medo de intervir em áreas diversas daquelas em que nos acomodámos. Temos também de fazer com que os nossos estudantes continuem a ter necessidade de vir à casa mãe, mesmo depois de estarem a trabalhar. Temos de os ouvir e proporcionar-lhes a formação que eles necessitam. Temos de aprender com eles. Sem com- plexos e com o orgulho de sermos farmacêuticos. Não podemos viver de costas voltadas para a profissão. Se não tivermos medo e pensarmos de forma mais abrangente, então a profissão far- macêutica ganhará relevância na sociedade e nós teremos con- tribuído com a parte que nos cabe. S.A. O professor receia por exemplo, que com a mudança de faculdade, pudermos vir a ser integrados com o ICBAS? Esse é um problema menor! Se me pergunta se eu gostaria de ser integrado, não! Se acho que ser integrado é uma desgraça para nós, não! O fundamental é mantermos a nossa identidade como Escola de Farmácia e como produtores de Farmacêuticos de qualidade. Os nossos estudantes têm de saber fazer coisas que mais ninguém saiba fazer! S.A. Numa componente mais prática, divagando um pouco, a faculdade vangloria-se muito por um artigo científico, um cientista, mas não nos vangloriamos por um farmacêutico, numa área mais social, estar a fazer um trabalho brilhante? Nos últimos anos a profissão farmacêutica tem sido atacada e vilipendiada e nunca se ouviu a voz de um professor da Facul- dade de Farmácia falar na televisão. E isto não pode ser, porque são coisas que dizem respeito a todos nós e assumo a minha parte da culpa, eu também não fui lá! Nós temos que ter in- fluência na sociedade! Porque é que o farmacêutico não há-de intervir mais ao nível autárquico? Porque é que não há-de ha- ver mais deputados farmacêuticos? É um desafio que vos deixo também a vós, estudantes. Têm de intervir de uma forma activa, politicamente activa, no bom sentido que a palavra tem. Porque se isso acontecer evitamos que a população seja enganada por quem tem interesse em fazer diminuir a nossa importância e a nossa força. Agora, se não nos mostramos, se nos recolhemos ao nosso canto, se as faculdades acham que isso é um proble- ma profissional, que não é científico, se não há farmacêuticos com influência visível na sociedade, isso será muito mau para a profissão farmacêutica, mas não teremos legitimidade para nos queixarmos! S.A. Que conselho dá aos futuros farmacêuticos? A Faculdade ensina a pensar. Ensina a ter espírito científico. O que eu desejo é que dêem utilidade a ambas as coisas e que sejam interventivos, cultos e socialmente relevantes! E, essen- cialmente, que não tenham medo!
  • 14. 14 Internacional Estar a fazer Erasmus em Barcelona tem sido uma experiência incrível! Primeiro porque Bar- celona é uma cidade feita mesmo à medida dos jovens. É super multicultural, transbordando arte e diversão por todos os lados. Aqui há sempre alguma coisa para fazer ou ver, impossível é ficar em casa! Segundo, porque por si só a experiência de estar 3 meses no estrangeiro numa faculdade totalmente diferente já é deveras espantosa! Estou na Universidade Autónoma de Barcelona e adoro o ambiente e a hospitalidade das pessoas com quem trabalho. Concluindo, se estás hesitante em fazer Erasmus o meu conselho é: ARRISCA-TE! Somos jo- vens e são estas “pequenas aventuras” que não podemos perder oportunidade de concretizar, pois serão sempre uma mais-valia tanto a nível do nosso percurso pessoal como profissional. Experiências no estrangeiro e o contacto com outras culturas só nos vão ajudar a abrir ainda mais os nossos horizon- tes e a olhar o mundo por outras perspectivas, sendo uma óptima maneira de nos prepararmos para o duro mercado de trabalho que nos espera! Tatiana Guimarães Londres é uma cidade absolutamente fantástica – não há um único dia em que não tenha este pensamento. Falar de Londres é falar de museus de excelente qualidade e gratuitos, de merca- dos com uma oferta incrivelmente diversificada, de ruas impecavelmente cuidadas e com edifícios imponentes, de monumentos perfeitos como a Torre do Big Ben ou a St. Paul’s Cathedral, de parques verdes, bem tratados e com esquilos fugitivos, de variados espectáculos como musicais, peças de tea- tro e concertos, de ruas onde sabe bem andar, explorar, conhecer… Falar de Londres é simplesmente falar duma cidade que não pára e que tem para oferecer uma fonte inesgotável de ocupações. Aqui, até uma simples viagem de metro me parece engraçada, pois é um dos momentos em que é possível observar outra particularidade inerente a Londres: a enorme diversidade cultural que parece cada vez mais enraizada nesta cidade. É fascinante observar diferentes cores de pele, diferentes línguas, dife- rentes formas de vestir e de estar, no fundo diferentes culturas, tudo misturado no interior de uma só cidade. Para quem nunca visitou Londres, aconselho vivamente a vir passar cá uns dias – certamente não se irão arrepender. Pessoalmente, acredito que não poderia ter escolhido melhor cidade para o meu Erasmus e estou a adorar o tempo que tenho passado aqui em Londres! Renata Belo É uma experiência que aconselho vivamente a quem tenha possibilidades de o fazer! Há um mês que estou em Paris a estagiar no Laboratório de Bacteriologia e Virologia do Hospital Bicêtre e tem sido um mês fantástico! Paris é uma cidade belíssima, com monumentos impressionantes, jardins lindos e museus fantásticos que, para quem tem menos de 25 anos são grátis! No hospital as pessoas são muito simpáticas e prestáveis, explicando sem problemas aquilo que não se sabe fazer e acho bastante engraçado observar as diferenças que existem entre um grande laboratório de investigação e os nossos da faculdade. Como disse, aconselho a todos que vivam este tipo de experiência pois, para além de se conhecer um país e seus costumes, de se fazer uma data de novos conhecimentos, acho que é muito benéfico para as próprias pessoas, pois é uma ajuda extra para se ganhar autonomia! Magali Lago Farmácia por esse mundo fora
  • 15. 15 Internacional Sossegada e discreta, Genebra revelou-se pela sua diversidade multicultural, devido à presença das Nações Unidas e todas as suas agências. É na Organização Mundial de Saúde que estamos a estagiar. É curiosa e interessante a sua dinâmica, existem sempre seminários e acti- vidades na designada "lunch time", permitindo a exposição e discussão de temas pertinentes relativos à Saúde Pública. A Suíça deslumbrou-nos com as suas paisagens e organização. Ainda muito há para explorar, mas ocupar-nos-emos dessa tarefa! Ana Sara Gomes, Florbela Santos, Sara Duarte e Teresa Oliveira Hey there dear colleague, As you may have heard along the previous semester, AEFFUP gives our students the chance to participate on a mega worldwide project called SEP - Student Exchange Programme. This is a mobility programme that gives students from all over the world the opportunity to get to know pharmacy in a di- fferent country, performing internships in areas such as com- munity and hospital pharmacy, wholesale companies, pharma- ceutical industry, pharmacy faculties or government or private health agencies. Going on SEP is the perfect chance to enrich your cur- riculum while you travel around the world during the summer break since the host country may also provide room, board and/or pocket money in addition to the training site in order to help the student. Now I can hear you squirming: “Gosh, why didn't I ap- ply for it this year?!” Fear not. There is still a way for you to get involved in this project in THIS summer before you participate on SEP next year. AEFFUP is creating a group to help welcoming the students we will receive, sharing our knowledge about our city, helping them with their questions, guiding them through the best pubs and discos... You will meet new friends all over the globe, your en- glish will be improved, you will have tons of fun and I promise this will be the best warm up possible if you want to go on SEP in the future. And more.... since you are helping the program- me, the programme will help you if you apply to go abroad the next year. Extra points will be given to those who are joining our group and you'll be privileged when the destination distri- bution occurs. If you're interested in joining this group send us an email to aeffup.internacional@gmail.com and we will get you posted on the further developments. This project will be your chance to duplicate your facebook friends this summer! Alexandra Marques e Tiago Caria (Departamento de Relações Internacionais - AEFFUP) Deixar os familiares, a rotina, o previsível e colonizar o desconhecido, Brasil! O sol acorda-me para mais uma manhã a trabalhar no Hospital Universitário de Ma- ringá. Aqui encontrei uma realidade bem diferente, que reflecte um país que está em plena expansão, mas carente de regulamentação legal. Brasil, uma experiência gastronómica maravilhosa, expressões emblemáticas marcan- tes, mas com a sua magia essencialmente nas pessoas que conheci :) Apenas 3 meses e a expectativa de ser das melhores experiências que estou a ter enquanto estudante. Por enquanto, só quero é desfrutar cada momento único e interiorizar esta mentali- dade de Carpe Diem que caracteriza o Povo Brasileiro. O meu conselho é: abram a mente, abram o espírito a uma aventura destas, e mesmo com receio (porque ele existe!), atrevam-se a viver esta experiência! Sónia Garrido Núcleo de Mobilidade
  • 16. 16 Internacional E a semana de Istambul do Projecto “Quatrino” culmina no que descrevi no primeiro parágrafo. Amizade, troca de impressões e ideias, partilha de conhecimentos e expe- riências, ensaios gastronómicos e turismo puro. A cidade não dorme, corre num círculo intenso e ruidoso. São aos milhões pelas largas ruas, avenidas e praças. O comércio persegue-nos com uma tendência viciante para negociar tudo e mais alguma coisa. Os céus trazem-nos preces religiosas à hora das orações na mesquita. Uma língua esquisita é o veículo de comunica- ção de um mundo que cruza o Ocidente com o Oriente. O chá substitui o café, e só o acto de o servir e transportar de porta em porta é uma profissão. A gastronomia difere daquela a que por cá estamos habituados. À mesa, supostos pratos típicos de arroz com feijão, sem carne porque a refeição já é calórica. Ou então um grande pão a cobrir um peixe inteiro com alface, preparado no interior de um barco que balança na marginal ao ritmo da forte ondulação. Como que a marcar o ritmo da tal cidade que não pára! Paramos um quarto de hora. Olhamos à nossa volta. Nesse período, passaram por nós mais pessoas que numa qualquer grande romaria popular portuguesa. Táxis, táxis e mais táxis. Num frenesim descontrolado, sem grande respeito às regras de trânsito. Será que elas existem? Pouco importa, que esta gente dá-se muito bem assim. Mercados com lojas que se empurram umas às outras, com comerciantes que esbracejam e mostram todo o stock que lhes é possível vender. E não é exagerado repetir: sempre com vontade de ne- gociar e fazer variar os preços como quem analisa à centésima as variações do Psi-20. Baralhados os traços gerais da quinta maior cidade do planeta azul, importa referir também os workshops prepara- dos e coordenados pelas diferentes delegações - turca, portu- guesa, búlgara e sueca. Workshops subordinados ao tema da Obesidade e Risco Cardiovascular. A discussão permite-nos aferir, sem puxar os galardões para as quinas, que estamos na linha da frente. Inequivocamente. A experiência Quatrino vale a pena. Pela intensidade, pela diversidade cultural que nos passa à frente dos olhos e, sobretudo, pela globalização de nós mesmos, enquanto estu- dantes e enquanto indivíduos. Levar lá fora o que é ser Portu- guês, para trazer na mala um cardápio de ideias que nos faz sentir mais capazes e preparados para o dia de amanhã. Teşekkürler! , que é para agradecer muito em turco. A todos os que foram e proporcionaram este carrossel de experi- ências e sensações, pois claro. Nuno Cunha Ayrılık ayrılık aman ayrılık, diz uma canção muito conhecida por terras otomanas. E é exactamente a partir do sig- nificado de separação que o refrão nos traz aos corações, que vale a pena começar a descrever esta semana de aventuras e descobertas. É precisamente no momento em que nos despedimos das pessoas com quem partilhámos momentos e ex- periências, que entendemos o significado daquilo que vivemos e fizemos. Claro está que os sentimentos variam de pessoa para pessoa, mas no fundo há sempre aquele friozinho mágico na barriga do “Vou-me embora, um dia voltamo-nos a ver.” Quatrino
  • 17. 1717 O XIII Encontro Nacional de Estudantes de Farmácia (ENEF) ocorreu em Portimão durante os primeiros quatro dias de Abril e como sempre, a Faculdade de Farmácia da Uni- versidade do Porto fez-se representar em massa, procurando um escape ao stress das avaliações e dos trabalhos que perseguem os estudantes pelos corredores e laboratórios da Faculdade. As recordações que acompanham o XIII ENEF resumem- -se a um fim-de-semana repleto de emoções, no qual a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto foi escolhida como a me- lhor faculdade, onde “Foi tudo à grande” e “Não faltou nada”. E até quando os prémios não vinham para a casa Portuense, todos cantavam pelo “Incrível TAC!”, fazendo com que mais ninguém se fizesse ouvir. A Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia não desapontou e proporcionou aos participantes um fim-de-semana recheado de excelentes actividades. Durante o dia os interessados puderam participar em workshops específicos, em congressos ou optar pela aula de Surf; à noite, os foliões puderam gozar de três serões de grande diversão, quer pelas festas proporcionadas pelo 275 (mais concorrido que o Mojito Bar anunciado pela COACC), quer pelas festas na Katedral, que se prologaram noite dentro. O único ponto negativo a referir prende-se com a exces- siva distância que separou os estudantes, a qual em alguns casos pôde chegar aos 20 minutos a pé, para percorrer o caminho que unia uma ponta à outra do hotel. Este facto condicionou a exis- tência do tal espírito de “corredor” vivido noutros anos, tendo levado a que a interacção entre as várias faculdades não fosse tão promovida. Pese embora esta pequena limitação que todos se esfor- çaram para superar, foi um ENEF que correspondeu às expectati- vas dos presentes e onde todos pudemos esquecer, ainda que por pouco tempo, os tempos difíceis que nos esperam até à chegada do Verão. João Teixeira ENEF XIIIENEF
  • 18. 18 E ntre os dias 21 de Fevereiro e 6 de Março decorreu, no Teatro Municipal Rivoli, a 31ª edição do Fantas- porto – Festival Internacional de Cinema do Porto, que é organizado desde 1981. Esta edição contou com a colaboração de um vasto conjunto de voluntários, que muito contribuiu no sucesso do festival, organizado pelo já habitual trio: Mário Dorminsky, Beatriz Pacheco Pereira e António Reis. A Substância Activa acompanhou o evento ao longo destes quinze dias, estando sempre presente nos momentos mais marcantes deste festival, que garantida- mente faz jus ao cognome de maior festival de cinema do País e dos mais conceituados em todo o Mundo. Como já vem sendo costume nas edições ante- riores, o Fantasporto apresenta-se com um carácter ar- rojado, marcado sempre por uma originalidade que visa garantir que, a partir do momento em que o espectador entre no Teatro Rivoli, esteja rodeado por um ambiente de “cinema fantástico”, tão inerente a este Festival. A mi- núcia leva até a que as próprias casas de banho tenham o seu quê de sombrio, com projecções fantasmagóricas. Como principais novidades temos a forte pre- sença do cinema português. Para além da inauguração de uma secção competitiva e exclusiva para o cinema na- cional, a qual incluiu a atribuição do Grande Prémio do Cinema Português e do Grande Prémio para o Jovem Re- alizador, o Fantasporto em colaboração com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, produziu uma série de curtas-metragens, tentando destacar o trabalho desenvolvido por um conjunto de jovens artistas plásticos portugueses. Uma outra novidade foi o programa “Uma Década das Melhores Curtas Europeias”, que consistiu na exibição de uma selecção das melhores curtas-metragens produzidas pelos mais diversos institutos de cinema euro- peus durante a última década e cujo acesso ao público foi gratuito. O filme “Two Eyes Staring”, realizado pelo holan- dês Elbert van Strien, foi o grande vencedor do festival, ao conquistar o Grande Prémio Fantasporto 2011. Estiveram também em destaque os filmes “A Serbian Film”, de Srd- jan Spasojevic (Sérvia), que recebeu o Prémio Especial do Júri, e “I Saw the Devil”, de Kim Jee-woon (Coreia do Sul), que conquistou os prémios de Melhor Realização e de Melhor Filme da Secção Oficial Orient Express. O triunfo de Kim Jee-woon no Fantasporto não é inédito, uma vez que surge na sequência de um outro prémio conquistado pelo realizador sul-coreano em 2004, com o filme “A Tale of Two Sisters”. “The Housemaid”, de Im Sang-Soo (Co- reia do Sul), venceu o Prémio Manoel de Oliveira, o qual representa o reconhecimento mais importante da Secção Oficial da Semana dos Realizadores. Axel Wedekind (“Iron Doors”, de Stephen Manuel) levou para casa o prémio de Melhor Actor, enquanto o de Melhor Actriz foi entre- gue a Seo Young-hee pelo seu papel em “Bedevilled”, de Jang Cheol-soo. O norte-americano Mick Garris foi inclu- sivamente convidado para presidir ao Júri da Secção do Cinema Fantástico e os portugueses Maria de Medeiros, Paulo Trancoso e João Meneses foram galardoados com o Prémio Carreira. Esta edição do Fantasporto terminou com a reali- zação do já conhecido Baile dos Vampiros no Teatro de Sá da Bandeira, que teve Adolfo Luxúria Canibal como anfi- trião e que contou com a presença de aproximadamente 600 pessoas. A música house e electrónica imperou com músicos como Alexis Taylor, dos Hot Chip, Filthy Dukes e Bandidos, encerrando o Fantasporto na madrugada de 6 de Março. Depois de um ano em que todas as expectativas foram excedidas, garantimos que o Fantasporto estará de regresso em 2012 e esperamos que para o ano a Subs- tância Activa possa cobrir o evento, com a categoria que cobriu este ano. Cultural por Nelson Barbosa e Catarina Rocha
  • 19. 19
  • 20. 20 Cultural A Feira de Março, em Aveiro, é sinónimo de festa, alegria e mui- ta animação. Mas esse barulho do exterior não se fazia sentir nos camarins. Confortavelmente sentados, e com muito à von- tade, Rui Veloso e Tim, dois grandes músicos do pop-rock por- tuguês, partilham, sem rodeios, as suas opiniões à Substância Activa. Por Ana Rocha e João Gil S.A. Como surgiu a parceria entre Tim e Rui Veloso? Já é algo que tem anos de história para contar ou decidiram recente- mente juntar dois ícones da música portuguesa? Tim (T): Começou há muito tempo. Eu lembro-me, por exem- plo, do concerto de despedida do estádio de Alvalade, e além disso fizemos muitas coisas um com o outro, mesmo antes dis- so. Portanto, agora falar desta parceria, o que nos traz aqui a Aveiro é quase um ciclo, pois acho que nós temos vindo a tra- balhar juntos. (Pausa) São uns anos de estrada. Muitos, não me lembro, mas sei que temos… Rui Veloso (RV): São treze, catorze anos. T: Exacto, só assim de rotina ou de ensaiar. Ele convidou-me para concertos históricos, logo a seguir aos Rio Grande. Foi, e ainda é, uma parceria. S.A. Referindo então os Rio Grande, e visto que foi um projec- to com o qual a maioria do público se identificou e ainda hoje reconhece, por que não uma continuidade ou retoma de algo tão representativo? RV: Cada um de nós tem a sua vida, segue as suas carreiras in- dividuais e portanto é difícil conciliar. T: Praticamente é isso. E depois, ideologicamente, Rio Grande era um projecto muito bem feito e é difícil continuá-lo, pois ficamos sempre com pena do que já fizemos. Foi muito bom quando estivemos todos a trabalhar, foi uma experiência e uma oportunidade que, na altura, tivemos. Para voltar a fazer Rio Grande era necessário criar novamente uma certa onda musical e um certo ambiente. RV: Não é repetível. É um projecto único e, para voltar a ser feito, teria de ter sido pouco tempo depois, na sequência do resto. E se tivesse havido, por exemplo, motivos como a pres- são por parte da editora, ou se existissem mais músicas, talvez pudesse ter havido continuidade, só que existia ali esta série de condicionantes. Depois passou o timing e cada qual foi para a sua vida. Mas de vez em quando juntamo-nos, claro! S.A. No álbum Companheiros de Aventura, do Tim, há uma música, a Sayago Blues, que pela sua sonoridade faz lembrar outros tempos, como os anos de glória dos Go Graal Blues Band ou mesmo quando o Rui Veloso estava muito enraizado na alma Blues. Acham que hoje em dia, se os novos talentos emergentes em Portugal se descentralizarem logo de início de um género, poderá contribuir para um não sucesso das suas carreiras? RV: Não é só cá em Portugal, não me parece que seja exclusivo de cá. Em todo o mundo há muito agora uma espécie de cópia. Há um grupo com sucesso e depois há uma data de grupos que vai atrás a tentar soar mais ou menos ao mesmo. Cá em Por- tugal não foge muito a isso. É a época em que vivemos, pois há muita gente que acha que tem jeito para a música, há mais músicos do que havia, portanto é natural que haja mais coisas más. Mas se formos a ver, quem fica e sobrevive na História são os talentos mais antigos (os dinossauros!), como o Paul Simons, o Neil Young, o Bruce Springsteen, Eric Clapton ou os Rolling Stones. Esses continuam a ser os eternos. Depois, na malta mais nova, há umas coisas engraçadas … há coisas boas, mas não é o sucesso dessas dimensões! T: Mas eu acho que virão a ser. Estamos agora num ascender de novas bandas de sucesso. Foi criada essa “super plataforma”, essas “super bandas” com “super espectáculos”, mas todos os anos vão incrementando com um ou com outro novo artista. Depois há um que vai fazer a primeira parte do espectáculo, ou há outro que já surge como convidado. Porque bandas que foram para nós novidade, são agora clássicos, não é? RV: Pois, mas era uma altura muito musical. Na altura as pes- soas e as editoras gostavam de música e hoje em dia isso não é bem assim, as editoras têm uma maior preocupação com a vertente económica. A música passou a ser um mero produto de venda. Na altura sabia-se onde é que se tinha que investir. A partir do momento em que começaram a vir os contabilistas, que não ligavam à música, enganaram-se na forma de fazer o negócio. S.A. Quando falam em cópias, referem-se também à recria- ção musical, a novos estilos e artistas que pegam no antigo e transformam-no? Que opinião têm sobre este tema? T: Para trazer os êxitos antigos ainda lhes falta um bocado. Não é isso que eles fazem. Eles fazem coisas novas com músicas an- tigas, mas claro que nunca será tão bom quanto os clássicos. Porém, isto ultrapassa gerações, pois nós falamos com pessoas de outras gerações e para eles, por exemplo, fazer uma música Tim Rui Veloso
  • 21. 21 Cultural como um bolero obedece a uma lógica de acordo com o que vão fazer, mas muita coisa pode variar. Hoje em dia uns tentam fazer como este ou aquele e depois há umas linhas às quais não se foge. Torna-se tudo tão difuso que é difícil entender o que foi copiado, ou mesmo o que poderão estar a copiar. RV: De qualquer maneira, eu acho que música é tocada por pessoas que toquem instrumentos, não há hipótese. Por pesso- as que toquem um ou vários, seja ele a voz, ou outro qualquer, como a guitarra, o piano, o violino, o bandolim. Música tem que ser feita por músicos, não é por máquinas. S.A. Não consideram, portanto, o sample um novo método ins- trumental, ou mesmo um instrumento da modernidade? RV: Em vez de ter o músico tem-se o sample. Mas é sempre pre- ferível ter-se o músico. T: Já aconteceu uma situação com o Marco Paulo, que não tocava com músicos e depois começou a tocar, porque reparou que era melhor. Provavelmente alguns artistas de agora já estão a chegar a essa conclusão. RV: É melhor porque olhou para nós. (risos) Mas os músicos to- cam diferente de um sample e dos pluggins que, apesar de hoje em dia estarem muito evoluídos e muito bons, nunca consegui- rão substituir, por exemplo, um piano acústico, porque de facto nunca será a mesma coisa! S.A. Referindo então os músicos ditos de verdade, insubstituí- veis por máquinas, já tiveram oportunidade de tocar com al- gum que, em particular, seja uma referência ou ídolo vosso? T: Eu já toquei com o Rui Veloso. (risos) RV: Eu já toquei com o B.B. King. Foi giro, foi uma boa experiên- cia, teve o seu quê melhor e o seu quê pior, mas o que fica para guardar é sempre bom. Ele é que já tocou com o Chuck Berry… T: Eu já toquei com o Chuck Barry, mas gosto mais de tocar com o Rui Veloso. (risos) RV: Eu não queria tocar com o Chuck Barry, deves ter sofrido pouco! (risos) S.A. Como se sabe, o mundo está a atravessar um período de decréscimo e crise, tanto a nível económico como político e so- cial. De que forma isto pode influenciar a cultura e a indústria musical? T: Estas alturas são muito férteis. Por vezes, para muitas pessoas improváveis, é uma oportunidade para elas aparecerem a tra- balhar no ramo, quando ontem nem faziam ideia que amanhã podiam estar agarradas a um microfone. Portanto, isto é um fe- nómeno que certamente gira muito as ideias. RV: É o Futre, o Futre está numa fase criativa! (risos) T: Não, mas eu acho que é mesmo isso. Há muita gente que nem fazia ideia que conseguia ter hipótese e apesar de tudo estão a ter. RV: Não concordo inteiramente, acho que vai ter depressão também, além de criatividade. A depressão já cá está. Há pouco trabalho, os músicos estão muito à rasca e tudo isso leva logo à criação de produtos supérfluos. T: “No Money, no Buck Rogers!” S.A. Já sofreram ou tiveram receio de falta de inspiração? Ou aplicam no vosso trabalho lemas como “90% é transpi- ração, apenas 10% é inspiração”? RV: Eu já sofri com essa coisa de ter medo de me faltarem ideias e inspiração, aconteceu-me isso. Mas faltar, nunca me faltou. Quer dizer, tinha medo que faltasse, mas estava sem- pre a fazer coisas novas. T: Acho que a inspiração surge apenas. S.A. Finalizando e direccionando a questão um pouco para o Rui, não necessitou de um trabalho profundo de pesquisa na composição e produção do álbum Auto da Pimenta, onde refere muito temas relacionados com os Descobrimentos? RV: Houve trabalho! Claro que o Carlos Tê, que escreveu as letras, se informou mais. Eu fartei-me de pesquisar e olhar para as letras, para ver o que fazer delas. Ia buscar os instru- mentos todos que conseguia arranjar e isso ouve-se no dis- co, que tem uma variedade de sons bastante diversa. Mas o mais importante é fazer as canções e fazer as canções é letra, guitarra e piano à frente e, sem inspiração não há mais nada. T: Transmitir as imagens, é só preciso isso, nada mais.
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  • 23.
  • 24. 24 Formação 24 N o passado dia 31 de Março, a AEFFUP proporcionou a um grupo de vinte estudantes da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, uma visita de estudo às instala- ções da prestigiada Bial. A tão aguardada visita alicerçou-se no propósito de observar de perto o trabalho que se realiza nesta empresa do sector farmacêutic dedicada à investigação. Após uma viagem de aproximadamente meia hora, num dia solarengo e repleto de calor, nada melhor do que iniciar o percurso num ameno anfiteatro, onde se pôde ouvir um pouco mais sobre a história desta empresa de renome. No filme apre- sentado, um dos factos que mais importou reter acerca desta empresa de Indústria Farmacêutica, prende-se com o propósito da criação da mesma: “Fundada em 1924, começa por se des- crever como uma instituição de utilidade pública, que tem como missão investigar e desenvolver novos medicamentos que irão proporcionar mais e melhor vida, em Portugal e no Mundo”. Fin- da esta apresentação inicial, seguiu-se um breve diálogo, no qual foi possível apurar que apenas 10% dos trabalhadores actuais da empresa são farmacêuticos. Contudo, o desânimo não se pode fazer valer no espírito dos que realmente ambicionam enveredar por esta área, é preciso ser audaz e superar os limites que as actuais circunstâncias impõem. Vestidos a rigor com bata, protecção de pés e touca, iniciamos a visita pelas instalações, tendo esta sido guiada por um allumni da nossa prezada Faculdade. Começamos com uma breve passagem pelas instalações fabris de produção de compri- midos e xaropes, a qual contou com uma descrição detalhada sobre o processo de fabrico e acondicionamento dos mesmos, tendo-se passado depois pelo laboratório de análise de controlo de qualidade. A visita terminou no armazém onde se encontram acondicionadas as matérias-primas e os medicamentos já em- balados, local onde nos foi dado a conhecer o moderno sistema robotizado que gere este mesmo armazém. E desta forma, com algum pesar, vimos a nossa jornada no “mundo Bial” chegar ao fim. Para uns ficou a esperança de um dia lá voltar para exercer a profissão, para outros ficou a certeza de que esta não será uma escolha futura. De qualquer forma, na memória de todos ficou uma tarde bem passada, bem ao estilo intelectual dos estudantes de Farmácia. Sílvia Pisco
  • 25. 2525 A Universidade do Porto (UP) celebrou o primeiro Cente- nário da sua história. Sem dúvida que esta representou a celebração mais importante dos últimos anos para a Uni- versidade e, consequentemente, para nós enquanto estudan- tes de uma das mais antigas escolas da Universidade. Líder do conhecimento em Portugal, reconhecida a nível Internacional pela sua actividade, qualidade de ensino e contribuição para o desenvolvimento do país, assim é a UP. O Magnífico Reitor da Universidade do Porto, Profes- sor Marques dos Santos, salientou a necessidade de projectar o futuro da Universidade e pensá-la precisamente enquanto uma das melhores a nível internacional. Nesta cerimónia esteve também presente o anterior Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, que salientou a necessidade da Universidade apostar na diversificação da oferta e numa consciencialização da realidade do mercado de trabalho. O Presidente da República, Professor Aníbal Cavaco Silva, referiu por diversas vezes a Universidade do Porto e a pró- pria cidade, como um centro de conhecimento ímpar. Nas suas palavras, “comemora 100 anos uma das maiores riquezas do Norte, a Universidade do Porto enquanto verdadeiro centro de transmissão de saberes, de espírito académico, de investigação científica e fonte de desenvolvimento do tecido social e empre- sarial do nosso País”. Luís Rebelo, da Federação Académica do Porto, referiu que o actual paradigma organizativo da Universidade está perto dos limites das suas potencialidades, tendo destacado a neces- sidade de repensar internamente a Universidade do Porto. Afir- mou que “o desafio dos estudantes é racionalizar e potenciar a Universidade”, salientando a excelência como um adjectivo que caracteriza o passado, o presente e pressagia/antevê a direcção futura da Universidade do Porto. A cerimónia contou com a presença da comunidade Académica da Universidade do Porto, que prestou a devida ho- menagem e demonstrou estima pela magnífica história da Uni- versidade. Foi na perspectiva de preparar o futuro e com uma vi- são centrada nos desafios que se adivinham, mantendo a exce- lência da Universidade do Porto, que se celebrou esta data. Será com os olhos postos no futuro, que esperamos um crescimento e crescente valorização da nossa Instituição, sustentados na sua já reconhecida excelência. Venham mais 100! Bruno Macedo Aluno do 5º ano do MICF Centenário UP
  • 26. 26 Centenário UP 1803 Academia Real da Marinha e Comércio 1836 Criação da Escola de Farmácia anexa à Escola Médico-Cirúrgica; Academia Portuense de Belas Artes 1837 Academia Politécnica 22 Março de 1911 Primeiro dia da Universidade do Porto. Maio 1911 Primeira Associação de Estudantes do Porto 1 de Novembro de 1911 A abertura do primeiro ano lectivo 1912 O Nascimento do Orfeão 1915 A Faculdade Técnica: Caminho aberto para a FEUP 1915 Autonomia da Escola de Farmácia 1919 Os primeiros institutos de investigação e a Primeira Faculdade de Letras do Porto 1921 A “nova” Faculdade de Farmácia; Elevação à Categoria de Faculdade 1922 "O Porto Académico", pioneiro da imprensa estudantil 1925 O Centenário do ensino médico no Porto 1926 Nova Orgânica para o Ensino Farmacêutico 1929 Os primeiros Doutores “investidos” da U.Porto 1932 Reforma do Ensino Farmacêutico: •Curso Profissional (3 anos); •Licenciatura (5 anos); •Única a Conferir o Grau de Doutor 1942 Criação do Centro Universitário do Porto
  • 27. 27 Centenário UP 1947 Lançamento do Centro de Estudos Humanísticos 1948 A primeira residência universitária – Lar de S. João de Brito 1953 Inauguração do Estádio Universitário do Porto 1958 Funcionamento regular de cursos de pós-graduação na FFUP. 1953 Criação da Faculdade de Economia 1960 Transferência das instalações da Faculdade de Medicina do Largo da Escola Médica (actualmente Largo do Professor Abel Salazar) para o Hospital de São João. 1961 Restituição da Faculdade de Letras após a sua extinção em 1928. 1974 Mudança de instalações da Faculdade de Economia do edifício da Faculdade de Ciências (Praça de Gomes Teixeira) para o novo edifício do Pólo 2 da Universidade do Porto. 1975 Incêndio nas instalações da Faculdade de Farmácia 1975 Criação do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar. 1976 Início das actividades da Escola Superior de Medicina Dentária do Porto. 1978 Reforma do ensino farmacêutico (licenciatura com tronco comum de três anos e com opção de dois anos de Farmácia de Oficina e Hospitalar, Farmácia Industrial ou Análises Clínicas 1979 Criação da Faculdade de Arquitectura 1980 Instituição da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação 1982 Fim das obras de recuperação do edifício da Carvalhosa após o incêndio de 1975 com reinício das actividades esco- lares da Faculdade de Farmácia 1988 Reforma do ensino farmacêutico (licenciatura generalista de cinco anos). 1989 Fundação da Federação Académica do Porto 1994 Criação da Faculdade de Direito 2011-2012 Passagem das instalações da FFUP para o “Complexo de Ciências da Vida e Saúde da Universidade do Porto”, juntamente com o ICBAS.
  • 28. 28 No passado dia 30 de Março, realizou-se o XVI Fórum Far- macêutico AEFFUP subordinado ao tema:“Actividade Far- macêutica: Competências e Perspectivas”, ao longo do qual se procurou esclarecer o âmago da profissão, apontado actuais problemas e perspectivando o futuro. Contou-se com as ilustres presenças do Professor Doutor Maurício Barbosa, docente da FFUP e Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos; do Prof. Doutor Rui Pita, docente da FFUC; do Dr. Adalberto Campos Fernandes, docente da ENSP UNL; do Prof. Doutor Carlos Gouveia Pinto, docente do ISEG UTL; Dr. José Aranda da Silva, consultor na área da Saúde e do Medicamento; da Dra. Suzete Costa, Directora Executi- va do CEFAR-ANF; da Dra. Cristina Santos, coordenadora dos Serviços Farmacêuticos/ANF; Dr. João Almeida, Presidente da Delegação norte da ANF; da Dra. Helena Monteiro, represen- tante da direcção da APFH; Prof. Doutor Franklim Marques, presidente da Secção Regional do Norte da OF e docente da FFUP; do Dr. Henrique da Luz, presidente do Sindicato Nacio- nal dos Farmacêuticos e da Dra. Paula Teixeira, Representante do Colégio de Especialidade de Indústria Farmacêutica. O Professor Doutor Maurício Barbosa começou por afirmar que “vivemos tempos de pura incerteza, que tudo é imprevisível”, apontado que o futuro da profissão passaria pe- las mãos dos presentes, a maioria ainda estudantes do Mes- trado Integrado em Ciências Farmacêuticas. Ao longo do dia, vários temas que colocavam o Farmacêutico no centro do “universo”vieram a debate. Desvendar o seu verdadeiro papel na sociedade actual, compará-lo ao que foi outrora e apontar medidas de prevenção que sustentem uma perspectiva opti- mista do futuro, foram premissas fulcrais em todos os momen- tos de discussão. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) tem sofrido inú- meras mudanças ao longo da história e a sua sustentabilidade sugere dúvidas e requer novas propostas. Efectuando uma retrospectiva da actividade farmacêutica em Portugal, veri- fica-se que esta se pode considerar quase milenar e que ao longo dos tempos tem vindo a ganhar elevada especificidade, na sequência das reorganizações nos cuidados de saúde. Foi necessário alargar horizontes, aumentar a dimensão e imple- mentar leis que demonstrassem a importância da profissão e atestassem a sua seriedade. Algumas guerrilhas políticas ti- veram lugar, até realmente esta ser considerada a “profissão privilegiada, com formação científica adequada” que hoje to- dos reconhecem. Encarar o farmacêutico como Especialista do Medicamento e Agente de Saúde Pública, permanece actual- mente uma teoria indiscutível. A situação agrava-se quando, em Portugal, ainda se continua a ser Especialista do Medica- mento e há muito se perdeu o Agente de Saúde Pública, pas- sando o testemunho para os profissionais que surgem apenas como consequência de uma falta de organização conjunta do sistema de saúde em que nos inserimos. Assim, desafios são propostos para tentar dinamizar o quadro actual, que se pode descrever crítico. Embora a saúde não se resuma a um mero negócio, esta apresenta-se como o sector mais dinâmico que a economia pode ter. Assim, apesar da complicada situa- ção vivida em terras lusitanas, deverá tentar-se tirar partido da actual “anemia europénica”, intervindo apenas de acordo com o necessário e levando a discussão as más decisões, para as solucionar da melhor forma possível. É necessário definir prioridades, com vista a garantir que o trabalho até agora de- senvolvido não será perdido, mas antes optimizado. É impor- tante clarificar as áreas de intervenção, resolver o problema da distribuição geográfica dos Farmacêuticos em Portugal, fazer uma reforma nos cuidados primários, criar medidas para sal- vaguardar a taxa de sustentabilidade do país e, acima de tudo, é imprescindível uma rede de transparência.“Existe muito tra- balho a fazer”, afirma Dr. Adalberto Campos Fernandes. A política de comparticipações no SNS é mais uma vez levada a discussão, tendo inicialmente sido apontada como inexistente em Portugal. Porém, ela existe. Provavel- mente não é a mais correcta, pelo que se deviam procurar formas de a controlar ou até de a mudar, tomando como exemplo países europeus que subsistem com outros tipos de políticas, como sejam a Suécia e a Inglaterra. Todos estes sis- temas são complexos e os objectivos a atingir podem ser con- flituais. Aborda-se a introdução dos genéricos que aumentam a procura e estimulam a concorrência. Será a saúde uma des- pesa, ou um investimento? Mais anos o dirão. Não obstante todas estas questões, indiscutível é que a comparticipação de medicamentos representa um bem social – o medicamento é um bem que deve ser preservado e reivindicado. No que respeita aos Serviços Farmacêuticos presta- dos em Farmácia Comunitária, desde muito cedo se verificou que, além da habitual dispensa de medicamentos, alguns A AEFFUP ao longo dos anos tem seguido uma linha de pensamento bastante ligada à actividade forma- tiva dos seus associados, oferecendo-lhes a possibilidade de complementarem os seus planos formativos, toman- do simultaneamente consciência da realidade farmacêutica vivida no mundo exterior à faculdade. Com este propósi- to em mente, concretizou-se mais um Fórum Farmacêutico, actividade do foro formativo e educacional, que jogou com assuntos pertinentes e actuais da profissão farmacêutica. O fórum objectivou assim, e á semelhança do que vem sen- do hábito, despertar o interesse dos estudantes e a sua capacidade crítica relativa às diversas problemáticas que po- derão vir a enfrentar no exercício da profissão, sobretudo as decorrentes do actual contexto socioeconómico do país. Fórum AEFFUP FÓRUM FARMACÊUTICO Actividade Farmacêutica: Competências e PerspectivasXVI
  • 29. “Nada está perdido. São o futuro da profissão e tudo está nas vossas mãos”
  • 30. 3030 serviços da índole da avaliação da condição física do doente eram uma realidade. Atendendo ao potencial que um espaço de saúde como este detém, seria satisfatório que profissionais habilitados se resignassem à mera venda de medicamentos e produtos de saúde? A resposta é não. A crescente necessidade de Cuidados de Saúde por parte da população incitou a pro- cura de um sistema de manutenção da saúde e do bem-estar, sempre mais próximo e mais presente, no qual o Farmacêu- tico assume um papel preponderante. No entanto, só a 2 de Novembro de 2007, aquando da entrada em vigor da portaria nº 1429/2007, é que as farmácias passaram a ser encaradas na sua completa importância e virtual capacidade de promoção de saúde. Passaram assim a estar autorizadas a prestar assis- tência e intervir mais activamente na vida dos utentes, nome- adamente através da elaboração de campanhas de informa- ção, da prestação de primeiros socorros e da elaboração de diagnósticos utilizando meios auxiliares. Pode então dizer-se que à data as farmácias passaram da simples venda do produ- to à prestação de serviços, os quais se encontram actualmente classificados em essenciais (qualquer elemento da farmácia) ou diferenciados (requer profissionais qualificados). A habitual mesa redonda, desta vez orientada sob o tema “O Exercício da Profissão Farmacêutica” e na qual inter- vieram representantes dos vários sectores e vertentes do uni- verso farmacêutico, trouxe a debate assuntos fulcrais. Refira- -se a título de exemplo, o alerta sobre a importância de um sindicato na área farmacêutica, no qual o número de farma- cêuticos sindicalizados não ascende os 10% do total de farma- cêuticos que actualmente exercem. Já no âmbito da Indústria Farmacêutica, cujas áreas passíveis de intervenção farmacêu- tica recaem essencialmente sobre a produção, qualidade de controlo e investigação, foi salientada a mudança de paradig- ma do papel dos farmacêuticos. Com efeito, verifica-se uma tendência crescente para que os farmacêuticos trabalhem nas questões de regulamentação e legislação. Mas é obrigatória esta mudança. Actuar para o bem da profissão e não a levar à falência, como tende a acontecer com tudo hoje em dia em Portugal. Actuar em áreas inter-relacionadas, gerir os riscos e enfrentar o problema. Também o ramo das análises clínicas sofreu enormes alterações, desde 1820 (data perto da qual terá surgido o primeiro “laboratório” de análises clínicas) até à actualidade. Isto como resultado quer do aumento demo- gráfico, quer da ascensão de profissões decorrentes da trans- formação de técnicas/metodologias de trabalho em ciências (das quais se citam os biólogos, os bioquímicos, entre outros). A farmácia comunitária mostrou-se ainda, a “salvação”, para os demais presentes, contudo o Dr. João Almeida afirma que actualmente, para o verdadeiro sucesso profissional na área farmacêutica, é necessário mais do que apenas o Mestrado Integrado. Indica serem necessárias formações adjacentes, na tentativa de destaque profissional e pessoal. Intervém ainda dizendo que estamos a perder terreno e que cabe aos estu- dantes de hoje em dia dar rumo à profissão e lutar pelo seu nome. Os objectivos inicialmente propostos para o XVI Fó- rum Farmacêutico foram alcançados, superando as expectati- vas. Os presentes abandonaram o anfiteatro com as suas dúvi- das esclarecidas e com uma ideia realista e actual da profissão farmacêutica. Tal como a crise, a certeza no sector farmacêu- tico instala-se; este vai enfraquecendo, com o simples falar e pouco agir. A fácil empregabilidade há muito foi perdida, a profissão tende a alterar-se cada vez mais, mas a única certe- za ainda reside nos estudantes, futuros profissionais – “Nada está perdido. São o futuro da profissão e tudo está nas vossas mãos”. Ana Raquel Santos, João Barbosa e Mariana Dias Fórum AEFFUP
  • 31. 31 “Nem sempre, ficar em casa é o melhor remédio…” Q uantos de nós já ouviram ou, até mesmo, pragueja- ram frases como: “A Ordem dos Farmacêuticos não faz nada por nós!”, “A ordem devia diminuir as vagas do MICF!”, a Ordem devia“isto”, a Ordem não faz“aquilo”… Este“nós”vai para além dos estudantes do Mestrado Integra- do em Ciências Farmacêuticas (MICF), sendo estas expres- sões transversais devido à desinformação que acompanha o nosso sector quanto à sua representatividade. Assumindo por defeito, que todos queremos a nossa classe profissional bem defendida e representada é importante perceber quais são as instituições representativas dos vários sectores do universo farmacêutico e em que situações actuam. No recente “X Fórum Educacional” da Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia (APEF), realizado no Porto, o Exmo. Bastonário Professor Doutor Carlos Maurício Barbosa desmistificou muitos dos preconceitos que teimam em imperar quanto à verdadeira função de uma Ordem, no- meadamente a Ordem dos Farmacêuticos (OF). A Constitui- ção da República Portuguesa, no seu artigo 267º estabelece que só podem ser constituídas associações públicas profis- sionais - Ordens, quando correspondam a profissões cujo exercício é condicionado à obtenção prévia de uma habili- tação académica do nível de licenciatura ou superior - para a satisfação de necessidades específicas e que as mesmas não podem exercer funções próprias das associações sindicais e têm organização interna baseada no respeito dos direitos dos seus membros e na formação democrática dos seus ór- gãos. Numa leitura rápida, desde logo é realçada a dis- tinção entre uma Ordem e um Sindicato. A Ordem dos Far- macêuticos não existe para defender corporativamente os Farmacêuticos; antes, ela é sinónimo de que o estado reco- nhece na nossa classe a capacidade de auto-regulação, ten- do sempre como principal objectivo a defesa daqueles que recebem os nossos cuidados: os utentes. Devemos orgulhar-nos de uma Ordem dos Farma- cêuticos que tenha consciência dos seus nobres objectivos. Não se travestindo numa Ordem/Sindicato, defendendo de forma cega os interesses dos seus associados, proletarizando a classe. Vejamos a Ordem dos Médicos, que se auto-intitu- lam como os “grandes defensores” dos utentes, mas que ig- noram e falseiam qualquer medida que vise a poupança e o aumento do poder de escolha daqueles que supostamente defendem. Pessoalmente, sentiria um certo incómodo por ser defendido por uma“Ordem”dessas. Deste modo, noutro campo de acção, temos as vá- rias instituições que representam e defendem determinadas áreas do sector farmacêutico: Associação Nacional das Far- mácias, Sindicato Nacional dos Farmacêuticos, Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, Associação Portugue- sa de Farmacêuticos Hospitalares, Associação Portuguesa de Estudantes de Farmácia, entre outras com menor relevo so- cial. Todas têm funções específicas com a actividade corpo- rativa, legítima e necessária à defesa dos farmacêuticos e das diversas áreas onde estes actuam. É unânime o reconhecimento da força e qualidade do associativismo farmacêutico, mas o refúgio da nossa in- tervenção junto destas entidades da sociedade civil tem-nos limitado o poder de intervenção junto daquilo que dita as regras pelas quais nos regemos: a esfera política. Já demons- trámos que somos muito competentes dentro das nossas portas, que honramos a nossa casa, mas é imperativo que mais farmacêuticos se empenhem em mostrar a nossa capa- cidade de intervenção, com qualidade, na sociedade. Numa Assembleia da República a rebentar pelas costuras, apenas temos dois deputados farmacêuticos. Este dado deve fazer- -nos reflectir sobre o que verdadeiramente queremos para o nosso futuro! Tem-se verificado, sobretudo na última década, a destruição da credibilidade atribuída aos políticos; tornou- -se socialmente desonroso assumir cargos políticos, o que afasta os jovens líderes da actividade política. Quem é bom no seu sector, não quer nada com a política e muito menos fazer uma carreira como político. Não sendo minimamente censurável esta opção, será positiva tanto para nós, como para toda a sociedade? Certamente que não! É importante que mais jovens, nomeadamente fu- turos farmacêuticos, manifestem as suas opiniões políticas, se juntem a grupos de acção política juvenil, da esquerda à direita, marcando posições relativas à política da saúde e do medicamento em Portugal. Só assim, conseguiremos que o farmacêutico continue a ser reconhecido como um profissio- nal com características próprias e únicas. Não podemos estar à espera que outros pensem em nós e nos reconheçam o verdadeiro valor. Este é um pro- cesso que exige coragem por parte dos jovens para romper com tabus e preconceitos. Não é fácil, mas a longo prazo será certamente bastante reconhecida a mudança de paradigma e os proveitos que dela resultarão. Caso para dizer que, nem sempre, ficar em casa é o melhor remédio… Opinião Por Joaquim Gonçalves "Nem sempre, ficar em casa é o melhor remédio…"
  • 32. 3232 Porquê o roxo? N o centro da cidade histórica do Porto, envolta de mis- ticismo e histórias anciãs, encontra-se localizada a Fa- culdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP), cuja origem leva-nos aos antigos anos 20, nomeadamente ao ano de 1921. Constituída por quatro pisos e meio, a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, para além da instituição enigmática que aparenta ser, é também uma das mais antigas da Universidade do Porto e a mais emblemática Faculdade de Farmácia do país. Por cá, já passaram gerações e gerações de mentes brilhantes, que partiram para o mundo farmacêutico, lutando todos os dias por um sistema de saúde melhor e de confiança. Neste estabelecimento de ensino são colocados por ano, cerca de duzentos alunos, mas destes duzentos, apenas 30% recorrem a esta casa em primeira opção. São muitos os alunos, que ao terminar o primeiro ano lectivo decidem conti- nuar nesta muy nobre Faculdade. Mas porquê? O que torna a FFUP tão especial? Para além do curso em si, especialmente rico na área da Biologia e da Química, esta Faculdade está cheia de opor- tunidades que ninguém pode deixar escapar. A Associação de Estudantes proporciona aos seus associados maravilhosas ac- tividades em variadíssimos campos, enriquecendo não só o seu percurso académico, como também as relações interpes- soais. Mas o leque de oportunidades não fica por aqui! Existem também os grupos académicos, que permitem desenvolver o intelecto e o artístico, os núcleos da AEFFUP que permitem desenvolver a criatividade e num outro, poder ajudar os mais necessitados, sem esquecer o facto de existir também a opor- tunidade de integrar em projectos de laboratório de diversos departamentos, fortalecendo e aplicando as competências ad- quiridas ao longo do curso. Mas ser da FFUP não é só estudar todos os dias afin- cadamente para poder ser um bom farmacêutico. É fortalecer diariamente as relações de amizade. É aprender a ver o mundo de outra maneira. É dar um bocadinho de nós sem esperar nada em troca. Os alunos da FFUP, apesar da sobrecarga de trabalho semestral, das épocas de exames terríveis, do sistema de avalia- ção que desagrada a muitos, do espaço reduzido, da inexistên- cia de ar condicionado, dos meios pisos e dos tectos estranhos, têm algo que não se vê noutra Faculdade do País: têm um lugar, rodeado de pessoas conhecidas, sempre dispostas a ajudar, a que podem chamar “lar”. E é esta a nossa identidade! É isto que nos diferencia de todas as outras Faculdades! É isto que nos distingue de tudo o resto e que nos faz querer ficar cá e não sair mais. É isto que nos orgulha e nos faz vestir o Roxo e defender a nossa casa. E na Monumental Serenata, quando o fim do cur- so parece eminente, cada lágrima vertida não simboliza pura tristeza, mas sim demonstra o respeito pela grande instituição de educação farmacêutica que os ensinou também a ter um melhor carácter como pessoa, com novas ideias e perspectivas de vida; simboliza também cada amizade criada, cada relação construída, cada ligação que ficará para a vida; simboliza tradi- ção, descoberta, união, experiência e acima de tudo, a Família que construíram. O roxo simboliza uma nobre faculdade próspera em inteligên- cia, rigor e dedicação, aliada aos melhores valores que se po- dem incutir numa pessoa: respeito, lealdade e amor. É com orgulho que eu digo: “A Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto não é um edifício, mas sim todas as pessoas que dela fazem parte”. Sílvia Pisco Porquê o roxo?
  • 33. 33 Porquê o roxo? FOTO BANDEIRA EM GRANDE a4
  • 34. 34 C urvas e contra-curvas, subidas e descidas, ravinas à vista, era o pânico instalado! Mas foi com alegria e muita música que chegámos a Vila Nova de Foz Côa para participar no I RUPESTUNAS, o primeiro encontro de tunas organizado pela Associação Juvenil Gustavo Filipe no âmbito do dia do Estudante Universitário. Desde logo fomos muito bem rece- bidas pela organização, começando por um fantástico almoço, em que melhor que a so- bremesa só mesmo o convívio entre as tunas presentes. Pouco depois chegava a hora das tunas a concurso – TFP – Tuna de Farmácia do Porto, TUNA-MUS – Tuna Médica da UBI e TAB – Tuna Académica de Biomédicas - parti- ciparem no Passa-Calles. Uma vez que não estávamos a concurso no festival, decidimos passar esse tempo que tínhamos livre cantan- do e animando as pessoas que passeavam pela Festa da Amendoeira em Flor no centro da Vila. Mais tarde, na Praça do Município, as- sistimos à actuação das tunas masculinas, que proporcionaram um óptimo espectáculo ao pú- blico presente e que as Sirigaitas fizeram questão de tornar ain- da mais espectacular. Dançámos, cantámos e animámos toda a gente, desde os mais novos aos mais velhos (quem é que vai esquecer a Dona Maria Emília e o seu fadinho?). No final do espectáculo, procedeu-se à entrega dos prémios aos vencedo- res e foi com muito agrado que vimos a TFP trazer para nossa casa os prémios de “Tuna mais Tuna” e “Melhor Passe-Calles”. Como a noite já se aproximava, dirigimo-nos nova- mente à Escola Secundária de Foz Côa onde iríamos jantar na companhia das restantes tunas e de outros estudantes universitários naturais de Foz Côa, para comemorarmos o dia do Estudante Universitário. Seguiram-se momentos para mais tarde recordar, com muita música e diversão, que se estende- ram para os bares da Vila e pela noite fora. No dia seguinte, Farmácia foi almoçar em peso em casa do Sr. Filipe, um amigo que fizemos durante a estadia em Foz Côa e que nos ajudou em tudo o que precisá- mos. Já cansadas de um fim-de-semana tão extenuante, partimos rumo ao Por- to numa viagem, como seria de esperar, muito animada e cheia de peripécias. As Sirigaitas vão continuar a sua tour- né pelo resto do país, de Évora a Coimbra e, claro está, pelo Porto! Não nos percas de vista, num palco perto de ti! Grupos Académicos SIRIGAITAS Sirigaitas, A Tua Tuna!
  • 35. 35 Grupos Académicos I niciamos este artigo com um comunicado penoso, conster- nado, desconsolado, acabrunhado e, já que estou a abusar do dicionário de sinónimos a torto e a direito, porque não acrescentar, sorumbático. Vivem-se tempos difíceis e nem mes- mo a Tuna de Farmácia do Porto - como órgão reivindicador, vinculante, reafirmante, actual e actualizado que é - ficou alheia á crise. Por culpa do governo e da especulação económica que se tem vindo a sentir, a T.F.P. viu-se forçada a ter de cancelar o que viria a ser o seu primeiro Festival de Tunas. Não é de ânimo leve que tal decisão foi tomada, mas por motivos de força maior (maiores até do que a área de superfície total do contrabaixo da Tuna) e movidos por uma procura de excelência, achamos por bem adiar o festival por um ano. Mas nem tudo são más notícias, por isso a Tuna vê-se forçada a meter mãos á obra (literalmente, porque não temos dinheiro para pagar a carpinteiros para nos montar uma barra- ca) e visto sermos todos moços jovens e empreendedores, va- mos mais uma vez – se é que ainda não entenderam – ter uma barraquinha na Queima das Fitas do Porto. Passo a reformular. A Tuna de Farmácia do Porto vai pela segunda vez consecutiva, absoluta, sintética, somática e analítica, ter uma (grande) barra- ca no Mui Nobre, Mui sui generis e Mui etanolicamente fecun- do, fantabulástico e espectaculoso, Queimódromo da Semana da Queima das Fitas do Porto 2011. O que já de si só, sempre foi um local de “afável” con- vívio, em toda a sua magnitude exuberante de uma miscelânea de sabores, odores, fragores e cornucópia de licores e vapores, será agora isso tudo e muito mais! – Inserir banda sonora par- tidária aqui - Porque nós, também estamos lá! – Inserir ova- ção fervorosa! Eu sei o que vocês estão a pensar: “É pá, isso é incrível!” Ao que eu respondo: “Pois é!” E reiteram: “ Há aqui qualquer coisa errada, pá!” E eu digo: “Cala-te Armando! Não há nada errado! É verdade mesmo!” E o Sócrates diz: “Porreiro pá!” e faz “fixe” assim com o dedo. Citando o filósofo e grande poeta “It’s going to be legen… Wait for it…” Portanto já sabem, se querem apanhar a “garota de programa” (peço desculpa mas o Word forçou-se a usar o novo acordo ortográfico “Brasileirês”); provar o exclusivo e já mítico “shot pastel de nata” ou simplesmente serem atendidas por jo- vens saudáveis e espadaúdos, não precisam procurar mais! Di- rijam-se á barraquinha T.F.P., i.e. Temos Fígados Potentes. Numa Queima das Fitas perto de si! Procurando preencher o número mínimo de palavras, vamos dissertar acerca das inúmeras actividades em que a T.F.P. têm vindo a participar. Porque isto de tuna, não é só copos, se- renatas, donzelas, rambóiada e javardanço. Não, não é! Tam- bém… Diz-se por aí, que se viaja por esse lindo e maravilhoso Portugal, de norte a sul, cantando e encantando com a nossa música. A Tuna contou nestes últimos dois meses com uma pa- nóplia de actuações, algumas das quais em festivais, onde já ganhou inclusive (e por mais uma vez, apesar de muitos ele- mentos não se lembrarem sequer de terem subido ao palco) o primoroso prémio Tuna mais Tuna. Prova de que a T.F.P. está para as tunas como o Tide está para a roupa: Tuna mais Tuna (que a T.F.P.) não há! Entre os inúmeros palcos em que a T.F.P. teve a oportu- nidade de actuar, houve um que se destacou: a actuação em Foz Côa! (Fomos com as Sirigaitas! Dormirmos na mesma divisão e tudo! Tivemos que as proteger dos elementos das restantes Tu- nas masculinas, que ao contrário de nós não são nada refinados nem cavalheirescos). E assim, aqui fica um apelo àqueles que ainda não des- cobriram que querem entrar para a Tuna, por não terem a com- pleta noção do Universo que isto é: a T.F.P. foi e voltou de Foz Côa sem pagar um único tostão. Bebeu, comeu, e bebeu ainda mais, tudo gratuitamente! Actuámos nas ruas para as gentes galhofeiras do nosso Portugal, que nos presentearam com gen- tis donativos (posso desde já adiantar que o vinho de Foz Côa é bastante bom) e os habituais gestos e palavras de apreço e carinho. A senhora da mercearia local até nos ofereceu uma al- face! (apenas por não estarmos na época dos ananases) – Que de certo, caso estejam familiarizados com o trabalho poético do colectivo intitulado “Ukurralle”, saberão da importância que depreende “não renunciarem a alface”! Despeço-me com isto e despede-se também a Tuna de Farmácia do Porto, por agora. Não se esqueçam que a T.F.P. tem ensaios todas as semanas, às segundas e quartas às 21 horas no átrio da FFUP. Por isso se querem entrar para a Tuna (ou se são o Milheiro), apareçam! Isac Novo TFP
  • 36. 36 Grupos Académicos O Grupo de Fados da Faculdade de Farmácia da Uni- versidade do Porto devia fazer um franchising! Entre Erasmus, Farmácias, Hospitais, Laboratórios, aulas, tra- balhos e afins, aqui permanece, percorrendo o seu caminho, alargando repertório e ganhando experiência. Um complexo processo sináptico de maturação de ideias decorre nas nossas cabeças e esperamos poder brindar a nossa comunidade estudantil com alguns projectos num fu- turo breve. Tão breve quanto possível. Perdoar-me-ão que não desvende, ainda, nenhum deles, mas julgo que compreenderão que anunciar projectos antes que estejam definitivamente pro- gramados, poderá levar várias agências de "rating" a baixar o escalão do nosso pobre país caso não se concretizem da forma que prevemos, ou até a que nos apaguem as luzes durante os aplausos no final de uma qualquer actuação. Nesta edição da Substância Activa parece-me perti- nente dar a conhecer a faceta irreverente, intervencionista e reivindicativa do GF FFUP. É um grito de revolta, contra as inú- meras ilusões que são apresentadas aos milhares de jovens do ensino superior (e ao futuro do país, no fundo), em favor de uma Verdade Estudantil. Queremos que todos os leitores da Substância Activa se sintam tranquilos, pelo menos, em relação a algumas coi- sas que a todos nós pertencem. A identidade, os valores e os dogmas que defendemos como Grupo de Estudantes, são pre- ceitos imutáveis. E estes ninguém nos tira. Agência de "rating" nenhuma! Nenhuma classe política decadente, nem qualquer pranto desportivo violento ou vingativo nos pode roubar este Porto de Abrigo, a nossa Torre dos Clérigos, as nossas pontes, a nossa Viela, o nosso Recanto, o nosso Fado. Esta cultura que nos define não é volátil, não depende de especulações, nem das telenovelas de comunicação social. Ainda há motivos para termos orgulho em sermos Portugueses e por termos a sorte de estudar na cidade que, no seu nome, tem dependurado o nome do nosso país. Melhores dias virão, caríssimos. Até lá contem com o nosso Fado de Coimbra. Estou certo que estes dias negros e sem esperança darão lugar a longos e Verdes Anos. Saudações Académicas! O Grão-mestre do GF FFUP Alexandre Pereira GRUPO DE FADOS