SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 36
Baixar para ler offline
RESISTANCE
2ª Edição                              Junho 2011




     José Rebola   Nuno Peixinho
     Entrevista    “Cometas entre Asteróides”
     página 9      página 29
Editorial
    “Ne change rien pour que tout soit différent ”
    Jean-Luc Godard


             Depois de uma primeira edição cheia de
             obstáculos e imprevistos saímos para a
             segunda com atenções redobradas. Como o            Por isso se queres colaborar connosco na
             ditado diz: O que não nos mata, só nos torna       edição, na escrita de artigos ou até na colocação
             mais fortes.                                       de publicidade nas nossas páginas contacta-
             Com a entrada de três novas colaboradoras          nos através do nosso e-mail resistancemag@
             de Engenharia Biomédica: Ana Patrícia Silva,       gmail.com.
             Ana Telma Santos e Karen Duarte, contamos          Queríamos também deixar um especial
             com novas ideias e bastante dedicação para         agradecimento a Ângela Dinis, Bruno
             que consigamos alcançar novas metas. Sendo a       Galhardo, João Domingos e a Nuno Ferreira
             prioritária a de sair das portas do Departamento   por toda a ajuda prestada no dia das eleições
             de Física. Queremos chegar mais longe...!          do NEDF/AAC.
             O nosso único objectivo é melhorar de edição       PS- Novamente, gostaríamos de agradecer a
             em edição, mas para isso precisamos da vossa       todos as pessoas que participaram nos nossos
             ajuda.                                             jantares de angariação de fundos, porque sem
                                                                elas seria impossível a distribuição em papel
                                                                da Revista.




          Errata:
          No número anterior da revista, devido a erros de edição, na décima primeira linha da décima página
          onde se lê “que outras influências poderão haver” devia ler-se “que outras influências poderá haver“.
          Pedimos desculpa pelo incómodo causado.




1    Junho 2011                                                                                                RESISTANCE
Índice
Dentro do dep...

3_”Startup weekend”. João Nogueira
4_”Depois de Coimbra”. Dora Pires
5_”Cem anos do Núcleo Atómico”. Carlos M. B. Fiolhais
7_”As desigualdades de Bell e a
computação quântica”. Fernado M. da Silva Nogueira
26_”Erasmus”. Edson Ferreia
29_”Voluntariado”.Diana Capela
31_”Cometas entre Asteróides” . Nuno V. M. Peixinho Miguel
                                                               _22
Viagens...

23_”Estado Excitado”. Adriana Leal
25_”Estado fundamental”.Manuel Soeiro

Cultura...
                                                                   _23
17_”24 frames por segundo”.
19_”78 rpm”.
21_”A gamer (re)view”
32_”Notícias”
33_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nino Hatter

Opiniões...
                                                             _25                      _26
22_”Berbequim”. João Pedro Ferreira
27_”Crónicas”.
                                                              _5                      _29
12 - Queima...




RESISTANCE                                                               Junho 2011    2
texto_João Nogueira

    Nos tempos que correm todos os dias falamos em crise,         aposto que todas as empresas gostariam de ter no seu dia-
    falta de emprego e falta de dinheiro. Então porque não        a-dia por parte dos seus trabalhadores. A ajuda dos nossos
    criar o nosso próprio emprego? Porque não pôr mãos à          mentores, que aconselham e guiam os participantes
    obra? Porque não enriquecer um pouco a nossa visão?           com a sua experiência tem uma importância extrema no
    Porque não partilhar os nossos conhecimentos com os           desenrolar do processo, permitindo-nos chegar muitas
    outros? É aqui que entra o Startup Weekend. Dos cerca de      vezes a bom porto, a achar soluções para os problemas
    350 Startups realizados pelo mundo fora, já surgiram cerca    e ultrapassar entraves que se colocam ao longo do nosso
    de 700 empresas. Em Coimbra decorreu nos dias 20, 21 e        projecto. Tivemos o prazer e a sorte de ter mentores como
    22 de Maio na sala de estudo da Associação Académica          Fred Oliveira (WeBreakStuff), Miguel Gonçalves (DITS),
    de Coimbra. Este evento caracteriza-se pelas intensas 54      e Rui Barroca, entre muitos outros. Deixo-lhes desde já um
    horas de trabalho non-stop, em que os participantes irão      grande obrigado pela ajuda dada às equipas e pela troca
    trabalhar na construção de base de um projecto, dando-        sempre interessante de ideias e conselhos. As próprias
    lhe forma e tornando-o viável para ir para além do fim-       apresentações e a sua preparação é bastante peculiar, já que
    -de-semana. Este fim-de-semana torna-se extremamente          são direccionadas a um júri, tendo formato muito diferente
    enriquecedor já que no evento e a trabalhar nas equipas       daquilo que estamos habituados a fazer a nível cientifico.
    se juntam pessoas das mais variadas áreas com as mais         Com a apresentação dos Pitchs vemos as verdadeiras
    variadas competências, o que permite não só elaborar          diferenças e a maturação que houve ao longo do fim-de-
    um óptimo plano para apresentar a investidores como           semana e vemos uma transformação espantosa e uma
    ganhar uma experiência enorme a trabalhar de forma            concretização das ideias que apenas algumas horas atrás
    exaustiva com uma equipa muito diversificada e que não        estavam em estado embrionário e de repente ganharam
    conhecemos. Os moldes de funcionamento do Startup             corpo, em alguns casos vida até. No final os júris fazem os
    Weekend são muito simples, cada pessoa que tenha              seus devidos comentários do que é preciso melhorar em
    trazido uma ideia apresenta-a ao resto dos participantes no   cada ideia, como podemos crescer e até mesmo conselhos
    inicio do evento. Depois de apresentadas todas as ideias      práticos de como fazer a ideia render mais. Em Coimbra
    os participantes votam naquelas que mais acreditam e          a vencedora foi o Lean Interface. Mas para mim, todos
    mais se identificam para trabalhar nas proximas 54h do        aqueles que tiveram o prazer de participar neste evento já
    evento. Em Coimbra tive o prazer de estar a organização e     foram de algum modo vencedores, ao terem passado por
    participar no evento, considero que foi um enorme sucesso.    esta experiência única.
    Pelo facto de estarmos em equipas multidisciplinares, as
    ideias fluíam de forma quase natural, e apesar do cansaço     Fica desde já o convite a todos para participarem numa
    éramos coroados com doses de excitação e empenho que          próxima edição do Startup Weekend em Coimbra.




3      Junho 2011                                                                                               RESISTANCE
Depois de Coimbra



O início da jornada...
texto_Dora Pires




A distância temporal entre o dia         mas tinha que contrariar esta            dedicação total ao mestrado e uma
da defesa da minha tese, que marca       tendência: um part-time num centro       conciliação de trabalho e estudo. Não
o fim do meu percurso académico,         de explicações foi a minha opção;        podia dizer “não” a uma oportunidade
e o dia de hoje, é psicologicamente      alguma matemática, física e química      profissional. Hoje, escrevo este artigo
impossível quantificar. Se por um        preenchiam dois dias da minha            depois de um dia de trabalho com a
lado sinto que ainda nem passaram        semana, restando-me ainda bastante       certeza de que quando o terminar,
dois anos, por outro lado esta certeza   tempo para a procura de um full-time.    terei disciplina e motivação para
diluiu-se quando visitei o carro         No início de 2010, resolvi mudar         ainda ir estudar algo. Actualmente,
nº16 do Cortejo da Queima das            a minha estratégia… decidi então,        não tenho dúvidas que a minha vida
Fitas deste ano. Os rostos presentes     que independentemente de ser na          académica acabou naquele Setembro.
naquele local, eram na sua grande        minha área ou não, necessitava da        Agora, piso o chão de uma Faculdade
maioria, desconhecidos para mim.         minha independência financeira para      sempre apressada e focada num único
Entre algumas bengaladas e outras        posteriormente investir na minha         objectivo: alargar o meu espectro de
tantas saudações, percebi que ali,       formação. Planeei, trabalhei, consegui   conhecimentos. A vida académica
eu e os meus, éramos simplesmente        e… despedi-me. Em Setembro de            que cada um de vós vive hoje, é
espectadores. Naquele Setembro,
envolta numa mescla de alívio,                Entre algumas bengaladas e outras tantas
alegria e melancolia, começava
a aperceber-me que a minha vida
                                         saudações, percebi que ali, eu e os meus, éramos
académica tinha terminado. “Mas          simplesmente espectadores.
e agora?!? Tenho que procurar
emprego… enviar CV’s e estar             2010, assistia à minha primeira aula     única. Coimbra, além da formação
sempre contactável!” Pensamentos         do Mestrado em Gestão da Faculdade       académica, faz-nos crescer, errar e
deste género eram recorrentes. E         de Economia da Universidade              aprender, sorrir e chorar. E, não é
assim foi… dia após dia enviava          de Coimbra, sendo esta a minha           necessário alongar-me neste ponto,
CV’s e cartas de motivação,              única ocupação na altura. Mas…           pois tenho a certeza que partilho
partilhando com os meus colegas a        passado algum tempo fui desafiada        convosco um facto: What happens in
desilusão de não receber respostas,      a visitar uma empresa de consultoria     Coimbra, stays in Coimbra!!! Invejo,
bem como as comuns dúvidas: “O           energética, aqui, em Coimbra. Não        porque sinto uma nostalgia imensa,
que é que eu estou a fazer mal?          tinha nada a perder, fui! Ironicamente   todos aqueles que enquanto lêem esta
Porque é que ninguém me contacta?”       surgiu uma proposta, e aliciante do      revista se encontram no BIF, no BM
E desta forma, estabeleceu- se           ponto de vista profissional! Em 12       ou até numa qualquer sala de aula do
uma rotina. Não queria desistir,         horas, tive que decidir entre uma        Departamento de Física.




RESISTANCE                                                                                                Junho 2011        4
CEM ANOS DO
    NÚCLEO ATÓMICO
                                    Carlos Manuel Baptista Fiolhais
    O núcleo atómico fez em 7 de Março de 2011 exactamente         dispersão de partículas electrizadas é considerada para um
    um século. Com efeito, foi nesse dia, mas do ano de            tipo de átomo que consiste de um carga eléctrica central
    1911, que o físico britânico, nascido na Nova Zelândia         concentrada num ponto e rodeada por uma distribuição
    (provavelmente o mais notável de todos os físicos nascidos     esférica uniforme de electricidade oposta igual em
    no hemisfério sul), Ernest Rutherford leu na Manchester        grandeza.” Estava descoberto o núcleo, precisamente a
    Literary and Philosophical Society a sua comunicação           “carga eléctrica central concentrada num ponto”, apesar do
    intitulada “A dispersão dos raios alfa e beta e a estrutura    erro de que a carga eléctrica negativa em redor era uniforme.
    do núcleo”. Já antes o núcleo se manifestava através dos       Daí a dois anos o jovem dinamarquês Niels Bohr, que tinha
    fenómenos da radioactiovidade, conhecidos desde 1896,          vindo estagiar a Manchester, propunha, num outro grande
    mas nessa altura ficou claro o que era o núcleo. Vale a pena   momento revolucionário da Física, a teoria quântica antiga:
    consultar o documento original e ver como o núcleo bateu       os electrões giravam, em órbitas planetárias circulares
    à porta da Física, após experiências realizadas por jovens     em redor do núcleo, que correspondiam a energias
    colaboradores de Rurtherford em finais de 1910. “Existem,      quantificadas. Portanto, em 2013 passará um século após
    porém, algumas experiências sobre dispersão que indicam        a formulação da teoria de Bohr (Prémio Nobel da Física
    que uma partícula alfa ou beta ocasionalmente sofre uma        em 1922), que, apesar de modificada pela teoria quântica
    deflexão de mais do que 90º num único encontro. Por            moderna, proposta por um notável conjunto de jovens
    exemplo, Geiger e Marsden (Proc. Roy. Soc. 82, 495,            físicos entre 1925 e 1927, tem ainda hoje um grande valor
    1909) encontraram que uma fracção pequena das partículas       conceptual. Na linguagem desconcertante de Rurtherford,
    incidentes numa película fina de ouro sofre uma defexão        o fenómeno que ele pretendia explicar com o seu novo
    superior a um ângulo recto (...) para explicar este e outros   modelo era desconcertante: tudo se passava como se um
    resultados é necessário supor que a partícula electrizada      atirador tivesse arremesssado um obus de 15 polegadas
    passa por um campo eléctrico intenso dentro do átomo. A        contra uma folha de papel e o tiro tivesse rechaçado para
                                                                                                   atingir o nariz do atirador...
                                                                                                   Rutherford já era um físico
                                                                                                   famoso quando descobriu
                                                                                                   o núcleo. Tinha ganho o
                                                                                                   Prémio Nobel da Química
                                                                                                   em 1908, pelos seus estudos
                                                                                                   dos fenómenos radioactivos,
                                                                                                   distinção que ele aceitou
                                                                                                   fazendo um comentário
                                                                                                   irónico relativo às confusões
                                                                                                   entre a Física e a Química:

                                                                                                  “Tenho      assistido     a
                                                                                                  muitas      transmutações
                                                                                                  radioactivas       bastante
                                                                                                  rápidas, mas nenhuma foi
                                                                                                  tão rápida como a que o
                                                                                                  Comité Nobel acaba de
                                                                                                  fazrer transformando-me
                                                                                                  de físico em químico”.


5      Junho 2011                                                                                                 RESISTANCE
Na época a           conclusão de que os átomos de longo alcance que surgem
                                         distinção entre      da colisão de partículas alfa com o azoto não são átomos
                                         a Física e a         de azoto mas provalmente átomos de hidrogénio, ou
                                         Química        era   átomos de massa 2. Se é este o caso, temos de concluir
                                         ainda         mais   que o átomo de azoto se deesintegra sob as forças intensas
                                         esbatida do que      desenvolvidas numa colisão próxima com uma partícula
                                         hoje. Basta para     alfa rápida e que o átomo de hidrogénio libertado é parte
                                         isso reparar que,    constituinte do núcleo de azoto”.
                                         no mesmo ano
                                         da descoberta do     O pequeno erro é que não se trata do átomo, mas sim do
                                         núcleo atómico,      núcleo de hidrogénio, ao qual mais tarde se veio a chamar
                                         o Prémio Nobel       protão. O neutrão viria a ser descoberto a seguir, por um
                                         da       Química     discípulo de Rutherford, o inglês James Chadwick, em
                                         era      atribuído   1932, feito pelo qual recebeu o Prémio Nobel escassos três
                                         à francesa de        anos depois. Nesse mesmo ano foi construído o primeiro
                                         origem polaca        acelerador circular e foi realizada a primeira reacção
Marie Sklodowska, Madame Curie, pela sua descoberta           nuclear num acelerador. A Física nuclear estava em
de novos elementos radioactivos: o rádio e o polónio.         franco desenvolvimento... Em 1934, uma filha e um genro
Esse prémio vinha somar-se ao Prémio Nobel que tinha          de Madame e Pierre Curie, os franceses Irène e Frédéric
recebido com o seu marido, o francês Pierre Curie, pelos      Joliot-Curie, descobriam a radioactividade artificial,
seus trabalhos sobre radioactividade, em 1903, e com o        conseguida através de reacções nucleares: receberam o
francês Henri Becquerel, o descobridor da radioactividade.    Nobel logo no ano seguinte Em 1938 os alemães Otto Hahn
O Ano Internacional da Química, que se celebra em 2011,       e Fritz Strassmann descobriram a cisão espontânea do
quer também assinalar o centenário do segundo Prémio          urânio. O italiano Enrico Fermi, com a suas experiências
Nobel de Madame Curie, a única pessoa laureada até à          de bombardamento de núcleos por neutrões promoveu a
data com Prémios Nobel de duas disciplinas científicas        cisão induzida desse elemento: em 1942, depois de ter
diferentes.
Em 1911, uma fotografia dos participantes do 1.º                     ...tudo se passava como se um ati-
Congresso Solvay, em Bruxelas, mostra Rutherford perto        rador tivesse arremesssado um obus de
de Madame Curie (está sentada numa posição central, em
diálogo com o matemático francês Henri Poincaré). Não
                                                              15 polegadas contra uma folha de papel
muito longe deles está o então ainda jovem suíço de origem    e o tiro tivesse rechaçado para atingir o
alemã Albert Einstein (tinha 31 anos), sobre cuja teoria      nariz do atirador..
da relatividade nem Rutherford nem Madame Curie, os
dois essencialmente experimentalistas, se interessaram. A     recebido o Nobel em 1938, conseguia a primeira reacção
primeira reacção nuclear seria efectuada oito anos depois     em cadeia do urânio debaixo da bancada de um estádio
da descoberta do núcleo,                                                                     em Chicago. E o resto é
tendo o feito pertencido                                                                     história bem conhecida:
ainda a Rutherford. Vale a                                                                   o projecto Manhattan de
pena, de novo, transcrever                                                                   construção da primeira
o resumo da comunicação                                                                      bomba atómica , as bombas
em que ele descreve o                                                                        de Hiroshima e Nagasaki
arremesso de partículas alfa                                                                 (Hahn, prémio Nobel da
(que o próprio Rutherford                                                                    Química em 1944, soube
tinha identificado como                                                                      dos eventos num campo de
núcleos de hélio) para cima                                                                  prisioneiros na Inglarerra),
de azoto, verificando-se                                                                     e o aproveitamento pacífico
que saía, como que num                                                                       da energia nuclear no pós-
acto de alquimia, oxigénio                                                                   guerra que se mantém nos
e hidrogénio. Veja- se,                                                                      dias de hoje. Rutherford
em particular, como Rutherford assinala a presença do         nunca acreditou que a energia nuclear viesse alguma vez
hidrogénio dentro do núcleo atómico:                          a ser usada para efeitos práticos. Que hoje é emprege em
                                                              larga escala em muitos países do mundo mostra que os
“Dos resultados obtidos até agora é difícil evitar a          grandes génios são também capazes de grandes erros...


RESISTANCE                                                                                               Junho 2011         6
sb 6
                                                                                                                                                         vb

    As desigualdades de Bell
    e a computação quântica
                                         Fernando Manuel da Silva Nogueira
    A Teoria Quântica é, talvez, a teoria mais espetacularmente                        Há contudo um desenvolvimento posterior deste problema
    bem sucedida dos últimos 100 anos. Graças a esse sucesso                           que vale a pena analisar. Em 1951 David Bohm publicou
    vivemos na época de mais rápido desenvolvimento                                    um livro de texto de Mecânica Quântica3 em que discutiu o
    tecnológico da História. Basta reparar em todos os                                 paradoxo EPR recorrendo a um sistema experimentalmente
    dispositivos de eletrónica de consumo que nos rodeiam                              muito acessível: dois eletrões num estado singuleto de
    hoje mas que há poucos anos seriam considerados “ficção                            spin, i.e., dois eletrões com spins correlacionados de tal         s ik
                                                                                                                                                          va
    científica”.                                                                                        s ik
                                                                                                         va
                                                                                       modo que o spin total do conjunto seja nulo. Supõe-se que
    Esta tão bem sucedida teoria é, no entanto, de difícil                             os eletrões se movem livremente em direções opostas. Se,
    compreensão, pois é, em muitos aspectos, radicalmente                        s ik
                                                                                  va                                                     s i2
                                                                                                                                          va
                                                                                       para um deles, medirmos a componente do spin segundo
    diferente da Mecânica Clássica, usada para descrever                               uma dada direção e obtivermos o valor +1 (com ℏ /2=1
    muitos fenómenos macroscópicos, e com a qual estamos                         s i2
                                                                                  va                          s i2
                                                                                                               va
                                                                                       ),sabemos que, para o outro, uma medida da componente
    muito familiarizados. Esta difícil conciliação entre a                             do spin segundo a mesma direção dará -1 e vice-versa. É
    Mecânica Quântica e a Física Clássica está na origem de                            razoável supor que, estando os dois aparelhos de medida
    inúmeros “paradoxos” e discussões no seio da comunidade                            espacialmente afastados um do outro, b 6
                                                                                                                            sa b
                                                                                                                              v orientação do
    científica. Um dos mais famosos debates foi travado                                aparelho de Stern-Gerlach usado nas medidas para uma
    em 1935, nas páginas da Physical Review, entre Albert                                                             sb 5
                                                                                                                      vc
                                                                                       dos eletrões não afeta os resultados obtidos para o outro.
    Einstein e Niels Bohr.                                                             Mas então parece ser possível prever o resultado de uma
    Einstein (com Boris Podolsky e Nathan Rosen) analisou                              medida individual para uma dos eletrões sem sobre ele
    um sistema quântico muito simples: duas partículas que                             efetuar qualquer operação de medida: basta medir a mesma
    interagiram no passado e cuja função de onda conjunta                              grandeza para o outro (o que levará ao paradoxo EPR...).
    é conhecida1. Analisando medidas da posição ou do                                  É tentador pensar, tal como Einstein, que tal se deve à
    momento de uma das partículas, EPR concluíram que                                  existência de uma descrição mais completa do sistema que
    seria possível obter duas funções de onda diferentes para                          aquela que é fornecida pela Mecânica Quântica.
    descrever a outra. Não havendo já interação entre as                               Vamos supor que assim é (esperando com isso eliminar o
    partículas, a existência de duas funções de onda diferentes                        caráter “aleatório” das medidas individuais em Mecânica
    para descrever o mesmo sistema (a “segunda” partícula)                             Quântica...). Esta descrição mais completa será fornecida
    significaria que a função de onda não podia ser uma                                por um conjunto qualquer de variáveis, discretas ou
    descrição completa de um sistema.                                                  contínuas, que representaremos como uma única variável
    Este problema ficou conhecido como “paradoxo EPR” e                                contínua λ . Então o resultado A1 da medida do spin da
    é o artigo mais citado de Einstein (foi mais vezes citado                          partícula 1 segundo a direção dada pelo vector  é      a
    que o conjunto dos 4 artigos do Annus Mirabilis...). A tese                        determinado por  e λ (não é, portanto, “aleatória”... basta
                                                                                                          a                     size 12{ hbar /2=1} {
    dos autores foi prontamente refutada por Niels Bohr2 e                             conhecer λ para a prever). Podemos escrevê-lo como A1 (
    outros. A resposta de Niels Bohr2 é bastante mordaz. Bohr                            , λ ).Do mesmo modo o resultado B2 (  , λ ) da medida
                                                                                        a                                        b
    refuta o paradoxo lembrando Einstein que o aparelho de                             do spin da partícula 2 segundo a direção dada pelo vector
    medida, em Mecânica Quântica, é indissociável do ato de                             é determinado por  e λ . Ora, com ℏ /2=1 ,
                                                                                       b                       b
    medida, tal como na sua Teoria da Relatividade o espaço
    é indissociável do tempo. Não pretendendo reproduzir
    aqui o debate sobre este paradoxo, recomendo ao leitor                                                          A1   , λ =±1
                                                                                                                         a
    interessado uma leitura atenta dos artigos originais.                                                           B   , λ =±1
                                                                                                                         b
                                                                                                                      2


    1 “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, A. Einstein, B. Podolsky e N. Rosen, Phys. Rev. 47, 777–780 (1935).
    2 “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, N. Bohr, Phys. Rev. 48, 696–702 (1935).
    3 “Quantum Theory”, David Bohm (New York: Prentice Hall, 1951). Reimpresso em 1989 (New York: Dover).




7       Junho 2011                                                                                                                                  RESISTANCE
s iki9
                 v av 8
                    s

          Sabemos também que A1 (  , λ )= - B2 (  , λ )
                                  a               b
                                                      s i9
                                                       v8
          Supondo que os parâmetros λ se distribuem de acordo com
                            s il
                            vb
          uma densidade de probabilidade conjunta de ρ(λ) , nor-
          malizada à unidade, ∫ dλ ρ(λ) =1, o valor expectável da
          medida de A1 (  , λ ) e B2 (  , λ ) é dado por:
                         a              b                                        Vemos facilmente que E(  ,  ) = -1/2, E(  ,  ) = 1/2, e
                                                                                                                  a b               a c
                             a b         s i3
                                         vc            a           b
                                                                                      ,  ) = -1/2, donde se conclui que | E(  ,  ) - E(  ,  ) |
                                                                                 E( λ A a
                        E   ,  =∫ d λρ λ  A1   , λ  B 2   , λ =−∫ d λρb c 1   , λ  A1   , λ 
                                                                                                          b                      a b        a c
                                                                                 = 1 mas que 1 + E( b c   ,  ) = 1/2 , em claro desacordo com a
                                                                                 desigualdade deduzida. Se as desigualdades de Bell forem
  λρ λ  A1   , λ  B 2   , λ =−∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ 
               a             b                           a           b
                                                                                 verificadas experimentalmente, a Mecânica Quântica é
                                                                                 posta em cheque... Mas não é isso que acontece: todas as
                                             s ib
                                              vc                                 experiências feitas até hoje estão em desacordo com as
            Se considerarmos uma terceira direção, dada pelo vector desigualdades de Bell!
              , vem :
             c
                                                                                 Que conclusões podemos então tirar? A hipótese
            E  ,b
                a              a c                         [
                                                          1 a         1 b       1   , λ  A1   , λ 
                                                                                    a            c               ]
                     −E   ,  =−∫ d λρ λ  A   , λ  A   , λ − A fundamental para obter a desigualdade foi a da existência
                                                                                 de um conjunto de variáveis (escondidas) cujos valores
                                                                                 predeterminam os resultados das várias medidas. É uma
                              [        a        b             a            c   ]
 E   ,  =−∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ − A1   , λ  A1   , λ  hipótese que vai de encontro aos desejos secretos de
     a c

            Como A1 (  , λ ) = ±1 podemos ainda escrever:
                          a                                                 s ik
                                                                             va  muitos de nós, pois a sua validade permitiria dizer que o
     s i2
     va                                                                          caráter aleatório das medidas individuais em Mecânica
                                                                                 Quântica provém simplesmente do desconhecimento dos
                               a c                [         a            b          a            λ               ]
            E   ,  −E   ,  =−∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ − A1parâmetros  ,. λSe nos fosse possível conhecer os valores
                a b                                                                 , λ  A1  c 
                          size 12{ { vec12{ { vec {b}}} {} dessas variáveis poderíamos prever com certeza os
                                          size {a}}} {}
     a c      s i7
              vd                    a
                                             s ip
                                             b
                                              vc
 E   ,  =∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ  A1   , λ  A1  , λ −1 resultados individuais das medidas. A Mecânica Quântica
                                                [         b           c               ]
                                                                                 surgiria assim apenas como uma descrição de caráter
                                                                                 estatístico, devido ao conhecimento limitado que
            E também :                                                           teríamos dos sistemas individuais. Seria até possível
   size 12{E,  −Evec ∣≤∫ dvecvec {b}} ,)=1 Int, λ  ital "λρ" ( λ ) Aem que as variáveis λ obedecessem a
           ∣E   b {  , c {a}}} {}{b}}}             [                         imaginar uma teoria
                                                                                       ]
           size 12{{ vec {a}},λρ λ  1− A1  {}λ A   {d leis do movimento e tivessem {size 12{ vec A{a}}} {}{}
                 a ( size 12{ { {
                                a                             b            c                                 rSub size
                                                                                               size 12{ { vecsignificado físico. violação
                                                                                                   size 12{ { size 12{ {{} vec {c}}}
                                                                                                                   vec {b}}} {
                                                                                                                        {a}}} {}
  8{1} } ( } { vec {a}},λ ) B rSub { size 8{2} } ( { vec {b}},λ ) = - Int {d
                                                                         size 12{ {desigualdades de Bell nosize 12{ (12{{a}}} {a}}}
                                                                                 das vec {c}}}
  ital vec {b}} A rSub {d ital "λρ" } ( } size 12{ { vec {b}}} {}{} size 12{} size 12{ vec {} {c}}{
                                                                                                                    quadro size vec {deste tipo {}
                                                                                                                           de{ vec
                                                                                                                              uma teoria {b}}}
                                                                                                                                {           { vec
}}, { "λρ" ( λ ) ) = Int { size 8{1} ( λ ) A{ vec { size ) Aexplicada por uma “comunicação” instantânea
                                                                        rSub {a}},λ ser rSub { size 8{1}
                                                                                 poderia 12{ { vec {b}}} {}{}
  { ) B rSub { ) } 8{2} } ( { vec {b}},λ ) = - Intsize aparelhos { vec {c}}}não pode haver sinais
},λvec {b}},λ size {}                                                                  {d
                                                                                 entre os
                                                                                          size 12{
                                                                                                         de medida. Mas
            Concluimos que:
 size 8{1} } ( } { vec {a}},λ ) A rSub { size 8{1} } (                        que se propaguem instantaneamente... Outra possibilidade
                                                                                 é essa comunicação entre aparelhos de medida ocorrer
                              ∣E   ,  −E   ,  ∣≤1E   ,  
                                    a b        a c                 b c           quando os aparelhos são instalados e ajustados. Nesse caso
                                                                                 não é necessária uma comunicação instantânea. Mas já
12{E{( { vec {a}}, { vec {b}} ) - E ( { vec {a}}, {feitas experiências= - que os aparelhos de medida
 12{ vec {c}}} {}
                                                                                 foram
                                                                                             vec {c}} ) em Int
                                                                                 só eram ajustados quando as partículas já estavam em voo
 l "λρ" ( λ ) left [A rSub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) A rSub { size
                                                                                 em direção a eles5... Parece portanto que não é possível
 } ( {Esta desigualdade ) - -EA rSub {John Bell, umvec({c}} ) = - Int ) A rSub {
             vec {b}},λ)foi deduzida vec size 8{1} físico de vec {a}},λ
                                                 por {a}}, { }                {
 {a}}, { vec {b}}                         ( {                                   construir uma teoria mais completa que a Mecânica
 {1} } partículas do CERN, } )19644vec hoje {} ) Acomo Quântica6. Podemos assim responder à pergunta formulada
             ( { vec 8{1} em ( right é {a}},λ
 ft [A rSub { size            {c}},λ          { , e ]} } conhecida rSub { size
 }},λ ) uma das desigualdades de Bell. ( { vec {a}},λ ) Apor Einstein no título do seu artigo: “Yes, it can... so far”.
              - A rSub { size 8{1} }                                               rSub {
            Se efetuarmos ]} } {} facilmente concluímos que a Este assunto foi amplamente discutido durante décadas,
c {c}},λ ) right                os cálculos
12{E (Mecânica vec {a}}} {}{b}} ) - E ( { vec ,{a}}, { habitualmente ) = - Int como académico ou
     size 12{ { Quântica { vecpara o valor expectável E( a sendo vec {c}} classificado
               { vec {a}}, prevê
             ) o) left [A rSub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) Ado domínio da filosofia. Mas, como tantas
 l "λρ" ( λ resultado:
            b                                                                    tido como rSub { size
 } ( { vec {b}},λ ) - A rSub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) esta investigação “fundamental” teve
                                                                                 vezes acontece, A rSub {
{a}}, { vec {b}} E   ,E =〈{ vec ⋅ 〉=−a⋅bvec {c}} ) =inesperados. Os sistemas de fotões correlacionados7
                                 ) a  (  ⋅  {a}},{
                                      - b                                        frutos
                                                                                            Int
 {1} } ( { vec {c}},λ ) rightσ]}b} {}       σ1 a 2
 Sub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) A rSub { size(“entangled”) usados em todos estes testes são hoje a base
                                                                                   8{1} } (
 [A rSub { size 8{1} } ( { vec {b}},λ ) A rSub { dos computadores quânticos...
            em que    σ é um vector cujas componentes são as matrizes size 8{1}
            de Pauli.
   - 1 right ]} } {}
ne E ( { vec {a}}, { vec {b}} ) - E ( { vec {a}}, { vec {c}} )
 t {d ital "λρ" ( λ ) left [1 - A rSub { size 8{1} } ( { vec {b}},λ )
e 8{1}4 } the Einstein-Podolsky-Rosen paradox”, J. S. Bell, Physics 1, 195–200 (1964).
         “On ( { vec {c}},λ ) right ]} } {}
          5“Experimental Test of Bell’s Inequalities Using Time-Varying Analyzers”, A. Aspect, J. Dalibard, and G. Roger, Phys. Rev. Lett. 49, 1804–1807 (1982).
          6 Há muitas e variadas deduções de desigualdades de Bell que partem de pressupostos ligeiramente diferentes. Mas todas as desigualdades deduzidas são viola-
          das…
          7 A grande maioria das experiências efetuadas recorreu a pares de fotões com polarizações correlacionadas e não a pares de eletrões.



          RESISTANCE                                                                                                                               Junho 2011            8
Entrevista


           José Eduardo Figueiredo Lima Rebola

                                                   texto_Patrícia Silva



           Qual é a sua formação              carreira no estrangeiro, acha que       portuguesa ainda é bastante limitada.
    académica?                                essa é a melhor alternativa ou acha     Uma banda que queira fazer uma
    José Rebola: Sou licenciado em            que o país ainda possui condições       tournée não consegue arranjar mais de
    Engenharia Electrotécnica, mas            para nos absorver no mercado de         vinte datas com condições para tocar.
    vim aqui parar (AIBILI) como              trabalho?                               Ainda não é facilmente sustentável
    aluno de Doutoramento na área das         José Rebola: Claro que ainda há         viver da música em Portugal, ainda
    neurociências.                            mercado de trabalho cá. Continua        há muita coisa para ultrapassar mas
                                              a haver uma oferta muito maior no       acho que estamos no caminho certo.
         O que é que o levou a optar por      estrangeiro, até porque o estrangeiro
    essa área?                                são muito mais países, 90 e muito é           Quanto aos Anaquim, como é
    José Rebola: Foi uma coisa um             estrangeiro para Portugal. É claro      que nasceu o vosso projecto?
    bocado por acaso, não estava              que há muitas ofertas no estrangeiro    José Rebola: Surgiu um bocado por
    interessado em ir para Lisboa quando      e quando a nossa formação é muito       acaso, que se calhar até é a melhor
    acabei o curso, e a maioria das ofertas   específica ainda mais ofertas há        maneira de fazer as coisas, surgiu no
    eram lá. Acabei por vir para aqui         para essa especificidade. Mas eu        fim de 2007. Na altura tinha outra
    trabalhar com dados de epilepsia e        acho que é nestas alturas de crise e    banda, comecei a fazer canções que
    gostei deste tema, principalmente da      maior dificuldade que também surge      não se enquadravam muito naquele
    integração da saúde com a engenharia      a maior motivação para querer ficar     universo, e fui fazendo só para ficarem
    e acabei por fazer o doutoramento         cá e realmente ajudar o país e a        guardadas e para não se perderem
    nesta área.                               comunidade científica portuguesa a      aquelas ideias. Depois achei que devia
                                              desenvolver-se.                         mostrar aquilo a alguém, e as pessoas
           Que conselhos dá a outros                                                  que ouviram gostaram e acabou por
    colegas que pretendam seguir esta              E relativamente ao panorama        chegar aos ouvidos do JP Simões,
    área?                                     musical nacional acha que ainda há      que estava a organizar um programa
    José Rebola: Acho que esta área tem       espaço para novos artistas? E como      no canal 2 que era o “Quilómetro
    o privilégio de ser multidisciplinar      tem sido a vossa adaptação cá?          Zero”. Um programa que depois
    e essa parte é muito interessante,        José Rebola: Nós com este projecto      não teve continuidade, com muita
    porque consegue conjugar os               só estamos há 3 anos, mas cada um       pena nossa, e que revelou muitas
    desenvolvimentos em várias áreas e        dos elementos já está na música à       boas bandas portuguesas. De repente,
    assim ser realmente inovadora. Hoje       10/15 anos, e vê-se bem a diferença     eles queriam gravar um ensaio, mas
    em dia é muito difícil inovar numa        de aceitação do público às bandas       não havia ensaio porque não havia
    determinada área, se te dedicas a         portuguesas. Boas bandas portuguesas    músicos, só ideias soltas que eu tinha
    um tema mesmo muito específico,           sempre existiram, só que agora o        gravado, então aí convidei algumas
    começas a ser um especialista numa        público começou a virar-se outra vez    pessoas para encerrarmos as músicas
    coisa cada vez mais pequena e aqui        um bocadinho mais para dentro, a        e gravarmos para o programa.
    não, aqui tens a inovação, que é na       dar valor às suas próprias bandas, a    Resultou tão bem que acabámos por
    integração das diferentes práticas e é    cantar outra vez mais em português,     ficar com essa formação, que foi
    mais rápida a evolução nesse sentido.     e é engraçado ver essa comunhão         de origem e contínua até agora, e
                                              maior entre o público e as bandas.      esperemos que continue por muitos
         Neste tempo de crise, em             Agora, isso não quer dizer que não      mais anos. Depois resolvemos levar
    que muitos jovens querem fazer            haja problemas, a indústria musical     aquilo para a estrada.


9      Junho 2011                                                                                              RESISTANCE
Entrevista




     Quais as influências musicais?     temática vai continuar a ser a mesma,   eles não falam português, não
José Rebola: O nosso som vai            de crítica social, de histórias, de     entendem as letras e nós pensámos
buscar muito aos ritmos mais folk, à    personagens, do quotidiano, mas         que, fazendo uma introdução em
música francesa, ao jazz manouche -     o som está um bocadinho mais            inglês, íamos compor as coisas, e se
jazz cigano, ao folclore balcânico, e   intervencionista.                       calhar eles iam perceber os temas e
também ao folclore americano, que é                                             as ideias. Chegámos lá e percebemos
o country e o dixie. Portanto, acaba            Quando é que a música           que eles também não falam inglês,
por ter um cariz popular. Mas pessoas   apareceu na sua vida? Tem               e é engraçado, que apesar disso a
não devem confundir, às vezes           formação musical?                       comunicação fez-se e a empatia
quando se fala de músicas de cariz      José Rebola: Tenho, todos temos         criou-se. Ao fim, já estavam a curtir
popular, pensam em rancho, mas para     formação musical na banda. Eu fui       as músicas como o nosso público,
já a música popular portuguesa não é    aluno do conservatório
                                        desde os meus 12                  ...mas a parte musical também
só rancho e a música popular também
não é necessariamente portuguesa.       anos, comecei a tocar transmite muito, que vai para além
                                        guitarra mais cedo
                                        com o meu pai e desde dessa barreira da linguagem...”
Portanto, as nossas principais
influências musicais são a música
popular europeia com algumas            muito cedo que a música está na claro a um nível um bocadinho
influências também americanas.          minha vida. Mas acho que também menor, mas a parte musical também
                                        está na vida de todos, o virar do transmite muito, que vai para além
     E o segundo álbum, já está em      radar para ai é que se calhar não é dessa barreira da linguagem.
estúdio?                                tão presente nalgumas pessoas como
                                        noutras, mas a música faz, e bem,            Como surgiu e o que achou da
José Rebola: Em estúdio ainda não,
                                        parte do presente de cada um.           colaboração com a Ana Bacalhau?
estamos agora a começar a trabalhar
os temas mais a sério, a deixarem de                                            José Rebola: A Ana é espectacular,
ser esboços para passarem a ser mais         Vão continuar sempre a cantar acho que isso é uma opinião unânime
audíveis. É uma fase que gostamos       em Português?                           de toda a gente que trabalha e
muito, é engraçada, há muitas ideias,   José Rebola: Em princípio sim, o interage com ela. Aquilo começou
boas e más, e é a fase em que se vê     plano é esse, o segundo álbum está por um elogio no MySpace do Pedro,
desenvolver as músicas. Para nós é      dirigido nesse sentido. Mas já tivemos o guitarrista dos Deolinda, a que nós
tão, ou mais, engraçada pela parte da   outras bandas onde cantávamos em respondemos, e depois surgiu a ideia
criação activa, é claro que também      inglês. Acho que não é uma questão de a convidar. Como ela gostava do
é engraçado ver-mo-la registada em      de moda, é uma questão de contexto. som e se mostrou muito receptiva
estúdio e vermos depois a aceitação     Esta sonoridade e os temas que são a essa ideia fez-se o tema, ela veio
que o publico tem, ou não, a esses      tratados fazem sentido cantados em cá e gravou-se numa tarde. E foi
temas.                                  português.                              engraçado! O encaixar das duas
                                                                                personagens dessa música foi quase
        Vão continuar no mesmo                Quais os planos da banda no como o nosso encaixar também,
género musical?                         exterior do país?                       nós demo-nos logo bem e isso
José Rebola: Acho que este álbum        José Rebola: Nós já tocámos na transpareceu para a música. Foi uma
vai ser um bocadinho mais agressivo,    Hungria. Foi uma experiência experiência muito positiva e só tenho
um bocadinho mais rockeiro. A           bastante curiosa porque, obviamente coisas boas a dizer da Ana.


RESISTANCE                                                                                            Junho 2011        10
Entrevista
           Neste momento o que é que          5 elementos todos trabalhadores de   letra e maneira de estar. É engraçado
     não dispensa ouvir?                      outras áreas. É com algum esforço,   ver que tudo isso transparece para o
     José Rebola: A música do Django          sacrifício de horas vagas e também   público. Há público para essas duas
     Reinhardt, que é o expoente máximo       com alguma tolerância das pessoas    vertentes.
     do jazz cigano francês. Não só pela      que trabalham connosco.
     música, mas também pela sua história                                                    A música dos Deolinda
     de vida. Django viveu nos anos 30 –            A médio/longo prazo vê-se arrastou a manifestação toda em
     40, e é engraçado porque ele era um    como músico ou engenheiro?               Lisboa. Acham que a vossa música
     guitarrista espectacular, que aos 18   José Rebola: É difícil. Em Portugal é já teve algum impacto do mesmo
     anos teve um fogo na caravana e ficou  difícil saber o que vai acontecer, quem nível?
     sem os dedos anelar e mindinho da      é que sabe se de hoje para amanhã o José Rebola: A música dos Deolinda
     mão esquerda, revolucionando toda a    FMI não nos corta as tranches todas, foi um fenómeno e não sei se vão
     técnica da guitarra. Ele acaba por ser e temos mesmo que fazer pela vida existir muitos paralelos. Mas é
     não só uma figura musical mas quase    de outra maneira. Neste momento, as engraçado, quando a nossa música
     mística no mundo do jazz. Tudo o que   duas áreas são muito interessantes e vem referida em blogs, colunas de
     tenha ritmos marcados eu gosto, Tom    enquanto for possível vou conciliá-- jornal e colunas de opinião. Mas se
                                                                     las. Agora no as pessoas simplesmente ouvirem a
             “Acabei por vir para aqui trabalhar futuro depende música e gostarem, para nós está tudo
     com dados de epilepsia e gostei deste                           também       do bem.
                                                                     que nos vai ser
     tema, principalmente da integração da                           exigido a nível      Vocês já se conheciam antes de
     saúde com a engenharia...”                                      profissional na se juntarem? Eram já amigos?
                                                                     música.         José Rebola: Amigos se calhar não,
     Waits, Gogol Bordello, Severino, etc.                                           mas conhecidos. Quando estás a
     Também ouço o que se vai fazendo             A vossa música retrata gente. convidar pessoas para uma iniciativa
     em Portugal. Como é mais pequeno, É mais pela musicalidade ou pela deste género se calhar não é a melhor
     dá para ouvir quase tudo.              integração pública?                      abordagem convidares alguém só
                                            José Rebola: O engraçado no nosso porque é um grande músico. Deves
          Como é que consegue conciliar público é que é muito heterogéneo. convidar alguém que se insere na tua
     as duas carreiras?                     Se calhar se formos ver um concerto maneira de estar, com quem te dês a
     José Rebola: Não é fácil, vai- numa Queima das Fitas estão lá conviver, 80% a 90% do tempo que
     -se roubando algum tempo ao mais                  pessoas
     doutoramento, que já por si é difícil  que        querem             “Ele acaba por ser não só uma
     acabar no prazo, e contando também s i m p l e s m e n t e figura musical mas quase mística no
     com a tolerância das pessoas, neste estar a ouvir a
     caso do orientador e da agência que música, a saltar
                                                                 mundo do jazz.”
     nos gere a carreira musical. Esta sabe e a divertir-se. Noutros concertos uma banda passa é fora do palco.
     que nem sempre podemos ter todas em auditórios, se calhar temos lá O único critério não pode ser só
     as datas disponíveis porque somos várias pessoas de 40/50 anos que as habilidades musicais, porque é
                                                                 estão a ouvir necessário criar empatia e conseguir
                                                                 não só a música, criar alguma coisa em conjunto. São
                                                                 mas também as todos pessoas em quem eu vejo valor
                                                                 mensagens e a musical e pessoal, por isso é que as
                                                                 perceber a música coisas também resultam tão bem.
                                                                 a outro nível... Mesmo quando as coisas resultam
                                                                 E o engraçado é menos bem, esse menos bem é o
                                                                 isso, no fim dos melhor.
                                                                 concertos às vezes
                                                                 estamos a falar          Quais são os seus hobbies?
                                                                 com as pessoas e José Rebola: Acaba por não haver
                                                                 elas vêm-nos dar grande tempo, o pouco tempo que
                                                                 os parabéns, não tenho é a tocar guitarra, a aprender
                                                                 só pela música piano, agora queria comprar um
                                                                 mas também pela contrabaixo mas é caro...

11     Junho 2011                                                                                         RESISTANCE
RESISTANCE   Junho 2011   12
Queima

                       Serenata Monumental
     Na vida de todos os Estudantes Universitários de            deste ano e digo: valeu a pena a hora e meia de espera;
     Coimbra, existem momentos marcantes; uns pela               pelo espirito, pelo simbolismo, pelo manto negro que se
     positiva, outros pela negativa: mas todos eles nos ajudam   erguia a minha volta! A partir do momento em que o meu
     nesta caminhada que temos a percorrer. Estou aqui hoje      padrinho me traçou a capa, eu senti que estava a entrar
     para relatar a minha vivência de um momento muito           numa nova fase da minha vida. Senti que estava a crescer.
     especial, principalmente para dois grupos: os caloiros      E de que maneira! Será certamente um dos momentos
     e os finalistas (no meu caso, como caloiro). A Serenata     que gravarei para sempre na minha memória e que, com
     Monumental da Queima da Fitas 2011. De tudo aquilo          ajuda de todos, perdurará para sempre nas tradições desta
     que ja me tinha sido proporcionado este ano, nada se
     compara a este momento de pura magia. Fui priveligiado      velha mas   grande cidade de Coimbra!
     pelo facto de ter acompanhado de muito perto a serenata     texto_André Silva




     A Serenata Monumental para um            tentou acomodar como podia, sempre     entre outros temas. No final, para
     finalista começa bem cedo, lá para       com a preocupação de conseguir ver     honra de todos os finalistas presentes,
     meio do fim da tarde.                    os nossos colegas músicos que          A Balada de Despedida do Ano
     As capas negras que forram o chão        protagonizariam o espectáculo.         Médico 2010-2011 estreou-se em
     servem de toalha a um piquenique         De capas traçadas sob um céu           chave de ouro para se imortalizar
     onde os bidões de gelo arrefecem a       limpo azul-escuro, numa atmosfera      na já vasta tradição de canções das
     calorosa partilha entre as dezenas, ou   carregada de nervosismos miudinhos,    serenatas da nossa academia. Seguiu-
     talvez centenas de estudantes que        lá se começaram a ouvir os primeiros   se o inevitável Éférreá, gritado em
     começam a encher a Praça da Sé           acordes das guitarras cujo dedilhado   uníssono com o agitar das capas no
     Velha. Entre um e outro gole, a meio     nos embalou a todos durante uns        ar, lançadas por cima dos sorrisos
     de uma sandes, entoaram-se gritos        quase eternos sessenta minutos.        abertos que denunciavam o início
     e hinos de curso numa recordação         Por todo o lado, uma ou outra          da festa. As fitas agitadas acima das
     daquilo que tinham sido os tempos        lágrima teimou em lavar os rostos      cabeças deram um colorido especial
     de caloiro, pastrano, grelado, fitado,   entristecidos pela saudade e o         a todas as recordações e aos segredos
     veterano…                                Fado, que nos juntou ali a todos       que todo levaremos, certamente,
     O cair da noite trouxe consigo o         para daqui a uns meses nos trair       daqui para a vida!
     negro intenso que agitou as últimas      com a derradeira despedida, foi
     horas de espera, onde cada um se         intercalado com baladas, trovas,
                                                                                     texto_Tatiana Oliveira

13     Junho 2011                                                                                             RESISTANCE
Queima
Baile de Gala
texto_Ângela Dinis
Exótico e misterioso, o Baile de       com Vaidade.
Gala da Queima das Fitas decorria       Em tons de vermelho e preto e
Sábado e tinha como tema os            ao som da Orquestra Ligeira do
“Sete Pecados”. Esperava-se assim      Quartel, fomos tirando as fotos
uma noite memorável e cheia de         iniciais nos cenários recriados a     presentes dispostos a dar de um
glamour nos claustros do Quartel       rigor pela organização. A cada        pezinho de dança ao som de músicas
de Santanna, onde todas nós nos        passo, a cada relance de olhar,       dos twenties aos sixties, garantindo
sentiríamos verdadeiras Princesas.     crescia a sensação de pertença ao     que a Preguiça não descansaria
Foi assim que essa noite de            mundo encantado que invadia aquele    nas molduras vermelhas. Com o
primavera começou, com um Guloso       espaço. As paredes eram preenchidas   passar do tempo o salão esvaziava-
jantar no “Giuseppe & Joaquim”         por quadros enormes com molduras      se, chegando a altura de dar como
com o Prince Charming. Aí, fomos       vermelhas de esferovite que           terminados a fantasia e o requinte
deliciados tanto com o dourado da      correspondiam aos pecados e,          com que fomos inebriados durante
decoração como com os lombinhos        os tectos, por candeeiros pretos      toda a noite. À saída, olhei mais uma
de porco grelhados com gambas          gigantes. Também de esferovite        vez para a decoração, e o quadro
e ananás. No fim, a Inveja de ver      eram os bancos que se encontravam     da Ira resolveu piscar-me o olho.
passar “aquela” fatia de bolo de       pelos corredores e na divisão do      Sorri-lhe e pensei: “Voltaremos a
chocolate, fez com que não saísse de   bar, onde, talvez por Avareza, não    encontrar-nos dentro em breve!”.
lá sem ter uma para saborear!          me quis aventurar nas delícias mais   Estava ansiosa por regressar. No
 Seguiu-se então uma volta pela        peculiares de Baco. Fiquei-me         Chá Dançante, pela primeira vez,
nossa bela cidade, rendidos à          pela doce caipirinha, qual princesa   saberia de antemão que pedaços da
Luxúria de uma limousine pérola        moderna. Divertidas, as senhas        decoração traria para casa comigo!
onde, de janela aberta, brindávamos    das bebidas brancas não podiam         O meu “sapatinho” ficou pelas
com quem, por mais uma noite,          deixar de se enquadrar na temática    escadas do quartel... Mas o meu
se encontrava animado no Largo         e encontravam-se impressas no         Orgulho em ser finalista da
da Portagem. Um hora depois,           formato de notas mexicanas.           Universidade de Coimbra e poder ter
rendemo-nos à passadeira vermelha       Foi então que os “The Lucky          vivido este ambiente mágico durante
que se estendia escadas acima até à    Duckies” subiram ao palco,            5 anos, esse ficará comigo para
entrada do Quartel, as quais subimos   animando as centenas de estudantes    sempre!



                                Chá Dancante
                                          texto_Joana Melo
O conhecido Chá Dançante é                   foi tal, que destruímos tudo em poucos
considerado uma festa de despedida           minutos, acabando por não sobrar nada
para os cartolados no mesmo ambiente         para quem optou por chegar mais tarde.
decorativo do Baile de Gala, este ano        Após a calma estar restabelecida e,
com o tema “7 pecados”. No entanto,          apesar da saudade daqueles que vivem
esta tradição proporciona a todos os         esta tradição como a última, a Fanfarra
estudantes uma noite de diversão.            e José Malhoa animaram ainda mais o
Quando cheguei ao Quartel de Sant’Anna       evento. Houve dança, mas não houve
deparei-me com uma multidão de               Chá. O importante é a algazarra dos
fitados e cartolados ansiosos por            estudantes, o divertimento e a festa.
entrar. Entre algumas cotoveladas e          No final, os estudantes saíram em massa
empurrões, o espaço foi-se enchendo          para o Queimódromo. Uns levaram os
com muitos estudantes. Poucos minutos        cortinados enrolados ao traje, outros,
depois de entrar, um grupo de amigos         mais criativos, levaram os grandes
apreçados iniciaram a típica destruição      quadros e os cartolados, como sempre,
da esferovite, quadros e cortinados          a esferovite na bengala. Levamos
do cenário. Nem mesmo os tapetes             também na memória uma das noites mais
escaparam na tentativa de levarmos           marcantes da queima das fitas, onde o
alguma recordação para casa. A euforia       chá nunca existiu.


RESISTANCE                                                                                         Junho 2011        14
Queima

            Garraiada
                                                                   noite anterior dentro da pasta; a minha vez de ser empurrada
                                                                   para que todos possam caber dentro da pequena antecâmara
                                                                   onde se juntam os estudantes da faculdade antes de entrar na
                                                                   arena; a minha vez de, ao entrar, olhar para o lado e indagar
     Capas negras estendidas na praia; estudantes a dormir,        sobre o que fazer a seguir - descobrindo rapidamente que
     outros a cantar, outros a refrescar-se. Nem todos irão mais   o suposto é levantar o braço com a pasta e agitar as fitas
     tarde ao Coliseu Figueirense; atrevo-me a dizer até que a     enquanto toca uma música que só mais tarde me apercebi
     maior parte não irá mais longe que a zona do areal (que       que existia, ao ver a “parada” das outras faculdades; a
     por si já é distante da estação onde chegam os comboios       minha vez de descobrir que além de a faculdade de ciências
     apinhados desta “espécie” que durante um dia invade a         e tecnologias ter poucos representantes cartolados nas
     Figueira da Foz). Mas há quem meta pés a caminho na           bancadas, a presença de estudantes do departamento de
     jornada que para alguns não acaba na praia. Satisfação,       física nesta tradição é praticamente inexistente; a minha vez
     cansaço, alegria, confusão, orgulho:                                                de entoar o “F-R-A” juntamente com
     são talvez as palavras que melhor                                                   os vários alunos da minha faculdade
     descrevam esta ida à garraiada. É certo                                             presentes (sendo que estou convicta
     que não era a primeira a que ia, mas era                                            de que a maior parte nunca tinha posto
     “a minha”. A minha vez de ficar ao sol                                              os olhos em cima), e de no fim ter
     à espera para entrar antes de chamarem                                              dúvidas sobre se também haveria de
     os alunos fitados da minha faculdade                                                mandar a pasta ao ar - como se faz com
     (é portanto a terceira a “passear-se”                                               a capa - ou se simplesmente o haveria
     pela arena, atrás das de Medicina e                                                 de fingir (pois iria decerto ser muito
     Direito como manda a hierarquia das                                                 difícil agarrar a mesma, dado o seu já
     faculdades); a minha vez de não pagar                                               referido volume anormal naquele dia);
     - pois ia devidamente apetrechada da                                                e por fim, a minha vez de ser mandada
     pasta com as fitas (talvez ja não em número correto) e da     embora por uma portinha minúscula e de ficar com aquele
     Capa e Batina; a minha vez de passar pelos seguranças         sabor no pensamento... aquele sabor de quando acaba algo
     que, além de verificarem se levamos objetos estranhos         muito ansiado e nem se dá conta que começou... Por isso,
     (nomeadamente chapéus de uma bebida que dá o nome a           no caminho de regresso, quando caí em mim, além de ter
     uma tenda bem conhecida de grande parte dos estudantes        reposto um pouco o sono em dia, recordei com alguma
     do Departamento de Física), nos podem perguntar (ao           nostalgia os bons momentos que passei com os amigos que
     notarem uns fios vermelhos nos cabelos) “Chá?”, ao que se     partilharam a arena comigo nesse dia e com todos aqueles
     responde: “Sim”, e passamos orgulhosamente com alguns         que conheci em Coimbra e que espero poder sempre guardar
     metros de tecido vermelho proveniente do Chá Dançante da      na memória com alegria. texto_Diana Amaro




     Três horas de sono, duas mil e
                                                Cortejo
                                               a acelerar (reduzindo a nossa visão a    república, e o sentimento de que está
     quinhentas cervejas carregadas e dois     fumo preto), até por cima da rotunda     a acabar já se apoderou de mim. Daí
     cafés. São ainda 09h30. Estamos até       do Papa passámos! Pudemos observar       até chegar ao cemitério pareceram
     por volta das onze no Quartel onde,       as primeiras gargalhadas e rostos        cinco minutos, nunca esta distância
     apesar de todo o cansaço estampado        corados dos presentes a um carro que     me pareceu tão curta. Ao olhar para o
     nas caras alheias, a folia prevalece.     era no mínimo caricato. Uma sandes       carro destruído com uma lágrimita no
     Os carros vão arrancando, e sente-se      de leitão e umas cervejinhas depois,     olho (vá, várias), sinto que dois anos
     cada vez mais o ambiente de festa;        ouve-se a nossa buzina! O desfile vai    de trabalho e uma semana de esforço
     o Cortejo começa aqui. Chega a            começar! Subo rapidamente e tento        em que praticamente vivíamos no
     nossa vez de arrancar. A viagem do        aproveitar ao máximo um cortejo          quartel valeram totalmente a pena.
     Quartel para o Departamento foi           que já se adivinhava rápido. Quando      Questiono-me: posso repetir?
     uma aventura: o condutor a apitar e       me dou conta já estou na praça da
                                                                                        texto_Joana Faria




15      Junho 2011                                                                                                RESISTANCE
Queima

JANTAR RESISTANCE
                                 texto_Margarida Matos & Sara Barbosa

Já a Queima das Fitas ia a meio quando um grupo de            de uma boa causa, nos podemos juntar e descobrir que
estudantes aleatório do DF se decidiu juntar para partilhar   afinal temos mais em comum com pessoas com quem
a noite mais animada da nossa semana. Tudo isto tinha um      não costumamos conviver, ao contrário do que à partida
propósito: angariar fundos para que possam ler este texto!    poderíamos pensar.
Entre copos, febras, dados e cartas, fomos partilhando        Se esta Revista conseguiu juntar um grupo tão díspar de
histórias e interesses que não sabíamos existir. Apesar       pessoas, e proporcionar-nos uma noite tão animada, com
de todos os dias nos cruzarmos nos mesmos corredores          certeza que este será o primeiro passo de uma grande
e muitas vezes partilharmos salas de aulas, só nesta          caminhada! Assim, esperamos que esta causa volte sempre
noite tivemos a oportunidade de verificar que em nome         a juntar-nos.




                                   Último dia
                                   texto_Ricardo Martins




Depois da serenata, cortejo, chá         se as baterias (if you know what i       Contudo não encaro isso com tristeza,
dançante e das noites do parque,         mean :P ) . Esvaziadas as garrafas ,     pois tudo tem o fim e se é para acabar,
chega o fim desta fantástica semana      estou agora nas condições ideais de      que seja a “bombar”. Tento derramar
da Queima das Fitas. A bengala           entrar no recinto. Um recinto que        umas lágrimas (diz que parece bem),
e a cartola apresentam-se já             praticamente desconheço por inteiro,     mas simplesmente não consigo. Sim
completamente deformadas, o cansaço      pois durante toda a semana o spot é      hoje é o último dia, mas o sentimento
acumula-se, o meu pé continua            sempre o mesmo: tenda do beirão.         mais presente é a alegria e não a
inchado (apesar de não doer, pois o      Depois de mais uma noite típica, com     tristeza. Sei que não será um adeus,
álcool é uma excelente anestesia) e      a habitual diversão, palhaçadas, copos   pois tenho a certeza que serei sempre
já para não falar da tese que continua   e momentos insólitos, o fim da noite     muito bem recebido nesta cidade,
por escrever! Tudo isto leva a que       aproxima-se. Podem-me perguntar          por todos vós. Semanas como esta
a euforia desvaneça um pouco. A          se esta noite é diferente das outras.    são sagradas, por isso aproveitem ao
solução? Um pouco de whisky para         Talvez. Começa a crescer alguma          máximo, lembrem-se que o tempo
me elucidar e, assim lá vou a caminho    nostalgia, mas que facilmente é          não volta atrás. Aproveitem enquanto
do queimódromo. Mas antes disso,         disfarçada. Vão ficar saudades? Vão,     podem!
como é já praticamente tradição, uma     muitas mesmas. Memórias também           Para o ano há mais? Há, mas é para
paragem na portagem. Aqui carregam-      (algumas um pouco enubladas).            vocês, caros colegas, aproveitarem!


RESISTANCE                                                                                               Junho 2011         16
16 Frames por segundo
                                                                   Fonte da Juventude, por mares revoltos e
                   “Piratasdas                                     sob encantos de malévolas sirenas, sempre
                                                                   escutando a fé do Senhor pela voz de um
                   Caraíbas 4”                                     marinheiro, que terá sido contagiado pelas
                                                                   novas tendências da época assentes no
                   “Por Estranhas Marés”                           Cristianismo. Mas Sparrow acreditando na
                                                                   salvação da sua alma? Não nos parece, pois
                   texto_Joana Paiva                               não? Sparrow, sim, acreditando que poderá
                   A Fonte da Juventude: não, não se fala em       salvar a sua pele, tirando-lhe alguns anos e
                   Medicina Regenerativa, em elixires da           arrumando-os na algibeira de um desgraçado
                   rejuvenescência, nem sequer no Santo Graal,     qualquer, motivação que, aliada à sua
                   mas sim na nova saga de Jack Sparrow, o         incessante sede de velejar por mares quer
                   pirata desmedido, que por estranhas marés,      de água salgada, quer de rum, decide desde
                   descobre que a palavra “sentimentos” até lhe    “jogar” ao críquete humano, em Londres,
                   soa a algo familiar … e que adquire contornos   com um ou dois guardas reais; tornar árvores
                   reais e bem afeminados, surgindo na pele da     alavancas contra Espanhóis; ou até brincar à
                   voluptuosa Penélope Cruz, que dá a vida a       magia negra com bonecos de trapos, só para
                   Angelica, antiga paixão do ex-comandante        avistar as refrescantes gotas da fonte profana
                   de Black Pearl, e filha do temível Barba        … conseguirá ele fazê-lo antes que os
                   Negra, o terror dos mares personificado. Não    restantes candidatos à vida eterna? Um filme
                   deixando para trás o fervor latino, Angelica    em que Johnny Depp surge esplendidamente,
                   desperta em Sparrow um misto de paixão          interpretando o pirata mítico só como ele o
                   e despique; desejo e revolta; protecção e       sabe fazer. Resta esperares para saber o resto
                   júbilo, levando-o, consigo, em busca da         do enredo, numa sala perto de ti… “Topas?”




                   “Tree of life”
                   texto_Joana Melo
                   The Tree of Life é um filme americano           da vida humana, não é um filme de fácil
                   escrito e dirigido por Terrence Malick que      interpretação. Terrence Malick mostra-
                   se estreou no Festival de Cannes,               nos um conjunto de imagens da natureza
                   vencendo a Palma de Ouro de Melhor              em bruto, do universo e do milagre da
                   Filme e que conta com mais uma grande           vida absolutamente incríveis e, como
                   interpretação de Sean Penn (apesar de           estas dão forma à nossa vida, quer como
                   aparecer poucas vezes), de Brad Pitt            seres individuais, quer com os outros.
                   e Jessica Chastain. A Árvore da Vida            Com tudo isto e uma trilha sonora muito
                   acompanha o crescimento do filho mais           bem enquadrada leva-nos dentro da nossa
                   velho de uma família americana. Com uma         consciência e memórias. Leva-nos a pensar
                   mãe carinhosa, que aborda vários valores        e a questionar a pureza com que vemos o
                   importantes na educação de uma criança,         mundo, nas nossas dúvidas existenciais
                   Jack vê-se obrigado a partilhar esse amor       e nas contradições religiosas. Por não
                   incondicional com mais dois irmãos e a          conhecer nada de Malick, não esperava que
                   suportar a obsessão do pai em os preparar       o filme tivesse tanta voz-off e nos levasse
                   para a vida adulta de uma forma bastante        continuamente às nossas experiências
                   autoritária. Até ao dia em que um trágico       pessoais e memórias. Contudo não fiquei
                   acontecimento cai sobre esta família. Como      desiludida, aliás bastante surpreendida e
                   uma tese sobre o crescimento e a condição       curiosa sobre os seus restantes filmes.


17    Junho 2011                                                                                   RESISTANCE
16 Frames por segundo
                                                 timer), uma jovem proveniente de uma famíl-

“Match Point”
texto_Joana Paiva
                                                 ia rica, com a qual inicia um relacionamento
                                                 sério. Um pouco antes, apaixona-se por Nola
                                                 (Scarlett Johansson), namorada do irmão de
“Match Point”: um filme sobre o que que-         Chloe e, não resistindo aos encantos desta es-
remos conquistar, ou melhor, sobre o que é       trondosa mulher, mantém com ela um caso,
possível perder, em que a ironia e o estilo      enquanto permanece casado. Porém, Nola
atípicos de Woody Allen triunfam brilhante-      engravida de Chris, e este, receando perder
mente. Um melodrama com uma história co-         tudo o que adquiriu advindo da fortuna da
mum, em que A ama B e, por sua vez, B ama        família de Chloe, sente-se desnorteado e sem
C, confluindo num jogo de mentiras, capri-       saber o que fazer para evitar o desmoronar da
chos e superficialidades que, mais uma vez,      sua vida de luxúria… E é neste momento que
torna o nome do realizador imortal, cumprin-     se questiona: será que o jogo da vida ben-
do com o seu desejo, pois este terá escrito,     eficiará o lado da razão ou do coração? Só
em tempos: “Não quero conquistar a imortal-      o lado para o qual a bola tombará na rede o
idade através do meu trabalho… Quero con-        dirá…
quistá-la não morrendo.” Falando de eterni-               “Match Point”: uma prova evidente
dade, o amor surge destoando neste cenário,      que a vida é feita de infortúnios e deleites;
sendo isto que se prova no enredo de “Match      dias cinzentos e dias claros; de vitórias e der-
Point”. Chris, professor de ténis (Jonathan      rotas; e, sobretudo, de prontidão, do repen-
Rhys Meyers), conhece Chloe (Emily Mor-          tino com que as fatalidades acontecem…
                                                 de Berlin, correrias constantes, e lutas corpo a

“Unknown”                                        corpo o que torna um bom filme para os amantes
                                                 do género. Para outros pode-se tornar deveras
texto_João Nogueira                              irritante devido ás suas incongruências na
Depois de Taken (2008) Liam Neeson mostra-       história. O facto de contar com actores como
se mais uma vez como (improvável) estrela        Bruno Ganz, Frank Langella e Diane Kruger
de acção, a correr contra o tempo e a tirania.   trás uma certa riqueza ao plot. Certas partes
Este filme realizado por Jaume Collet-Serra      do filme são mesmo coroadas com muitos
(Orphan) é mais um thriller engraçado que        boas interpretações que interrompem a acção
retrata a história de Dr. Harris (Liam Neeson)   estonteante, estamos sempre á espera que uma
que após aterrar em Berlim na companhia          porta vá pelos ares ou um carro expluda sabe-
da sua mulher (January Jones) perde a sua        se lá vindo de onde. Dos poucos momentos
memória e a sua vida, já que aparentemente       ricos que o filme tem, em conjunto com o
nem a sua própria mulher o reconhece. O          puzzle montado á volta da trama, mostram
filme é característico pela sua acção visual,    o potencial de realização de Thrillers por
com perseguições a alta velocidade pelas ruas    Collet-Serra

                 “Piratas das                                 “Match
                                     “Tree of Life”                              “Unknown”
                  caraíbas”                                   Point”
Joana
Paiva

Joana
Melo

João
Nogueira



RESISTANCE                                                                                          Junho 2011   18
78 rotações por minuto


                    Tame Impala

                                                                              Mayra Andrade
     Innerspeaker


                                                                    Stória,
                                                                    stória...
     Os Tame Impala são um quarteto composto por baixo,
     bateria e duas guitarras, que está no activo desde 2007. O
     nome é uma referência ao antílope australiano, continente
     de onde são originários. Descrevem-se como uma banda
     de “psychadelic hypno-groove melodic rock music” e             Em ocasião de digressão mundial e de passagem por
     apostam na profundidade e textura de um som que nos            Portugal, é oportuno chamar a atenção para Mayra
     transporta para um ambiente sonhador e aéreo.                  Andrade. Para quem ainda não conhece, é boa altura para
     Innerspeaker é o seu álbum de estreia, lançado em              ouvir esta cantora cabo-verdiana baseada em Paris, que
     finais de 2010. A sonoridade da parte instrumental é           ganhou muito recentemente o prémio BBC Radio 3 World
     reminiscente das décadas 60/70 o que, aliado ao timbre         Music na categoria Revelação. Já é hábito vermos surgir
     e harmonizações das vozes, quase nos deixam fora de            grandes talentos deste acolhedor arquipélago, e é com
     época, numa nostalgia feliz. É, aliás, a intrusão entre        Mayra Andrade que se testemunha a riqueza do património
     os instrumentos que reforçam a sonoridade vintage do           musical africano, português e brasileiro. Mas não só: o
     álbum.                                                         timbre enrouquecido da sua voz traz um certo romantismo
     Para uma breve ideia do que isto pode significar, ouçam-       francês como ingrediente extra e a óptima prestação dos
     se os primeiros riffs de “Solitude is Bliss”, e dificilmente   músicos satisfaz qualquer amante de jazz. O seu último
     não se terá vontade de ouvir até ao fim; ouça-se também        trabalho de originais, “Stória, stória…” é já o seu segundo
     “Desire Be Desire Go” com uma melodia em devaneio,             álbum editado, e conta com temas em português, francês,
     ou a viagem de ritmo pulsante de “Alter Ego”.                  mas sobretudo crioulo. Todas as raízes africanas misturadas
     Comparações com The Doors, Jefferson Airplane                  com influências do seu percurso no Senegal, Alemanha e
     e principalmente com os The Beatles tornaram-se                França, criam uma mistura de ritmos brasileiros, melodias
     inevitáveis pelos críticos do meio. Mas os fãs acreditam       cubanas (onde nasceu), harmonias trabalhadas e um groove
     que o grupo tem uma assinatura própria, apesar de numa         quente e sensual, como quem tem o ambiente de Cabo
     primeira impressão parecerem pouco aventureiros, e             Verde no sangue. Temas como a balada envolvente “Odjus
     esperam-se grandes coisas deste quarteto no futuro.            Fitchádu”, ou o encontro entre a clave cubana, a bossa nova
     Têm andado em digressão pelo mundo, e como não podia           e o samba, “Turbulensa”, aliados à forte presença em palco
     deixar de ser, passam por Portugal no dia 14 de Julho,         da belíssima cantora, são razões de sobra para assistir às
     no palco EDP do festival Super Bock Super Rock. A não          suas actuações em Portugal (dias 8, 9 e 10 de Junho, em
     perder!                                                        Serpa, Figueira da Foz e Tróia, respectivamente).
     texto_Inês Ochoa                                               texto_Inês Ochoa




19     Junho 2011                                                                                                RESISTANCE
78 rotações por minuto

                                              Foo Fighters
                                              Wasting Light
                                              texto_João Borba
                                                Após um interregno de cerca de 4 anos desde o último trabalho (Echoes,
                                                Silence, Patience & Grace, 2007), os americanos Foo Fighters voltam
                                                ao activo com um novo álbum: Wasting Light. Dave Grohl, já antes
                                                do lançamento deste, prometeu que Wasting Light seria o álbum mais
pesado da banda até à data, e que não existiriam baladas neste. O que acabou a ser um comentário que despertou alguma
curiosidade e expectativa, em saber até quando e como o potencial da banda em termos de barulho seria espremido.
E Wasting Light não engana, é hard rock, puro e duro. Desde logo a primeira faixa, “Bridge Burning” é uma óptima
maneira de começar o álbum, ao mesmo tempo que funciona como um prenúncio do caminho que o álbum leva. “White
Limo”, eventualmente, é a música mais pesada da banda, com o riff roubado aos Metallica e uma voz imperceptível,
mas cheia de garra. Sem dúvida, um dos melhores momentos do álbum. Mas sem desligar os amplificadores, ainda
temos as melódicas “Dear Rosemary” e “These Days”, o cheiro a bom single de “Back and Forth”, a raiva de “A Matter
Of Time” e os poros de psicadelismo presentes em “I Should Have Known”. Ainda de destacar o tema “Walk”, não só
pelo trabalho lírico, como também pela maneira encorajadora em como acaba o álbum. Pena o álbum também possuir
momentos menos bons, como “Rope”, um filler que apela ao mainstream e as desgarradas “Arlandria” e “Miss The
Misery”. No final das contas, Wasting Light parece o método mais eficiente por parte dos Foo Fighters de partir os
pratos, de libertar todas as energias acumuladas durante estes últimos 15 anos. Mas Wasting Light também continua a
ser aquilo a que os Foo Fighters sempre nos habituaram: sólidos, energéticos e razoavelmente consistentes. E enquanto
for assim, será difícil ficar insatisfeito.
PS: Queria relembrar que a tour de promoção ao álbum já está em andamento, e os Foo Fighters serão cabeças-de-
cartaz no segundo dia do festival de Verão Optimus Alive! ’11 (6 a 9 de Julho), a ser realizado em em Algés.




Pat Metheny & Charlie
Haden
Beyond the Missouri Sky
texto_Nuno Ferreira
Um disco totalmente acústico e instrumental repleto de sonoridades
paisagísticas e de histórias à volta da fogueira. Os dois autores e intérpretes
encontram-se num registo diferente do que lhes é mais familiar, mas a
diferença é talvez mais acentuada no que diz respeito a Pat Metheny que
é mais conhecido pelo som da sua guitarra eléctrica no Jazz de Fusão. A faixa “Our Spanish Love Song” é um dos
pontos altos do disco, trazendo uma calma arrepiante, que só o som do contrabaixo de Haden consegue transmitir,
aliada ao fraseado característico de Metheny que apesar de tudo não consegue evitar algumas das suas malhas mais
conhecidas (4:39 é o exemplo perfeito com a Pat Metheny Lick do “All The Things You Are”). A não perder também é
a interpretação do tema de Ennio Morricone “Cinema Paradisio (Love Theme)”.




RESISTANCE                                                                                            Junho 2011         20
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo
Depois da tese, a procura de um rumo

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

N.º 18 o ideias abril 98 ano iii digital
N.º 18 o ideias   abril 98 ano iii digitalN.º 18 o ideias   abril 98 ano iii digital
N.º 18 o ideias abril 98 ano iii digitalAAA_ESGTS
 
Tcc 2015 húldo tréfzger cândido júnior
Tcc 2015 húldo tréfzger cândido júniorTcc 2015 húldo tréfzger cândido júnior
Tcc 2015 húldo tréfzger cândido júniorAcervo_DAC
 
Revista
RevistaRevista
Revistaiurdpt
 
N.º 00 o ideias dezembro 95 ano ii
N.º 00 o ideias   dezembro 95 ano iiN.º 00 o ideias   dezembro 95 ano ii
N.º 00 o ideias dezembro 95 ano iiAAA_ESGTS
 
E-Revista 02 - Carreira - Portal Educação
E-Revista 02 - Carreira - Portal EducaçãoE-Revista 02 - Carreira - Portal Educação
E-Revista 02 - Carreira - Portal Educaçãoportaleducacao
 
Apresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certo
Apresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certoApresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certo
Apresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certolanahana
 

Mais procurados (11)

Internet&ensino
Internet&ensinoInternet&ensino
Internet&ensino
 
Paulo freire10
Paulo freire10Paulo freire10
Paulo freire10
 
N.º 18 o ideias abril 98 ano iii digital
N.º 18 o ideias   abril 98 ano iii digitalN.º 18 o ideias   abril 98 ano iii digital
N.º 18 o ideias abril 98 ano iii digital
 
Tcc 2015 húldo tréfzger cândido júnior
Tcc 2015 húldo tréfzger cândido júniorTcc 2015 húldo tréfzger cândido júnior
Tcc 2015 húldo tréfzger cândido júnior
 
Humangext Magazine - Julho 2015
Humangext Magazine - Julho 2015Humangext Magazine - Julho 2015
Humangext Magazine - Julho 2015
 
Revista
RevistaRevista
Revista
 
100+brincadeiras
100+brincadeiras100+brincadeiras
100+brincadeiras
 
N.º 00 o ideias dezembro 95 ano ii
N.º 00 o ideias   dezembro 95 ano iiN.º 00 o ideias   dezembro 95 ano ii
N.º 00 o ideias dezembro 95 ano ii
 
E-Revista 02 - Carreira - Portal Educação
E-Revista 02 - Carreira - Portal EducaçãoE-Revista 02 - Carreira - Portal Educação
E-Revista 02 - Carreira - Portal Educação
 
Apresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certo
Apresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certoApresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certo
Apresentaã§ã£o completa trancriã§ã£o slide certo
 
Janeiro 2011
Janeiro 2011Janeiro 2011
Janeiro 2011
 

Destaque (10)

Resistance (9ª)
Resistance (9ª)Resistance (9ª)
Resistance (9ª)
 
Resistance8ª
Resistance8ªResistance8ª
Resistance8ª
 
Resistance(4ª edição)
Resistance(4ª edição)Resistance(4ª edição)
Resistance(4ª edição)
 
Resistance (3ªedição)
Resistance (3ªedição)Resistance (3ªedição)
Resistance (3ªedição)
 
Resistance(5ªedição)
Resistance(5ªedição)Resistance(5ªedição)
Resistance(5ªedição)
 
Resistance (6ª)
Resistance (6ª)Resistance (6ª)
Resistance (6ª)
 
Resistance(7ª)
Resistance(7ª)Resistance(7ª)
Resistance(7ª)
 
Musica Portuguesa
Musica PortuguesaMusica Portuguesa
Musica Portuguesa
 
Resistance(2ªed.)
Resistance(2ªed.)Resistance(2ªed.)
Resistance(2ªed.)
 
Fado
FadoFado
Fado
 

Semelhante a Depois da tese, a procura de um rumo

Jornal A Coluna Edição de Junho'13
Jornal A Coluna Edição de Junho'13Jornal A Coluna Edição de Junho'13
Jornal A Coluna Edição de Junho'13AE ISCAP
 
Newsletter d.r.e.a.m. 3
Newsletter d.r.e.a.m. 3Newsletter d.r.e.a.m. 3
Newsletter d.r.e.a.m. 3Ana Paulo
 
Profissoes do futuro voce esta no jogo
Profissoes do futuro voce esta no jogoProfissoes do futuro voce esta no jogo
Profissoes do futuro voce esta no jogokatiagomide
 
Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14
Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14
Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14Gabriel Coelho
 
Sociedade criativa, novos processos e impactos
Sociedade criativa, novos processos e impactosSociedade criativa, novos processos e impactos
Sociedade criativa, novos processos e impactosNelson Zagalo
 
Design Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA Cidade
Design Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA CidadeDesign Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA Cidade
Design Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA CidadeGabriel Coelho
 
Y2b apresentacao
Y2b apresentacaoY2b apresentacao
Y2b apresentacaoCAOS Focado
 
A felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivaA felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivasusuhka
 
A felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivaA felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivauniplangestaorh
 
A felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivaA felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivauniplangestaorh
 
Projecto fractional ownership
Projecto fractional ownershipProjecto fractional ownership
Projecto fractional ownershipPedro Nogueira
 
Espaço SINDIMETAL 81
Espaço SINDIMETAL 81 Espaço SINDIMETAL 81
Espaço SINDIMETAL 81 SINDIMETAL RS
 
Newletter - 5 de Junho
Newletter - 5 de JunhoNewletter - 5 de Junho
Newletter - 5 de Junhoaiesecbhmkt
 

Semelhante a Depois da tese, a procura de um rumo (20)

Jornal A Coluna Edição de Junho'13
Jornal A Coluna Edição de Junho'13Jornal A Coluna Edição de Junho'13
Jornal A Coluna Edição de Junho'13
 
Newsletter d.r.e.a.m. 3
Newsletter d.r.e.a.m. 3Newsletter d.r.e.a.m. 3
Newsletter d.r.e.a.m. 3
 
Vontade de vencer
Vontade de vencerVontade de vencer
Vontade de vencer
 
Profissoes do futuro voce esta no jogo
Profissoes do futuro voce esta no jogoProfissoes do futuro voce esta no jogo
Profissoes do futuro voce esta no jogo
 
Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14
Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14
Design thinking weekend+sua jornada 14.10.14
 
Filosofia enxuta textos
Filosofia enxuta   textosFilosofia enxuta   textos
Filosofia enxuta textos
 
Filosofia enxuta textos
Filosofia enxuta   textosFilosofia enxuta   textos
Filosofia enxuta textos
 
Resistance
ResistanceResistance
Resistance
 
Sociedade criativa, novos processos e impactos
Sociedade criativa, novos processos e impactosSociedade criativa, novos processos e impactos
Sociedade criativa, novos processos e impactos
 
Design Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA Cidade
Design Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA CidadeDesign Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA Cidade
Design Thinking Weekend + SUA Jornada agora na SUA Cidade
 
Y2b apresentacao
Y2b apresentacaoY2b apresentacao
Y2b apresentacao
 
A felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivaA felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitiva
 
A felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivaA felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitiva
 
A felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitivaA felicidade é uma vantagem competitiva
A felicidade é uma vantagem competitiva
 
Projecto fractional ownership
Projecto fractional ownershipProjecto fractional ownership
Projecto fractional ownership
 
Espaço SINDIMETAL 81
Espaço SINDIMETAL 81 Espaço SINDIMETAL 81
Espaço SINDIMETAL 81
 
Relatorio ap
Relatorio apRelatorio ap
Relatorio ap
 
Relatorio A.P
Relatorio A.PRelatorio A.P
Relatorio A.P
 
Message Of Founders Pt[1]
Message Of Founders Pt[1]Message Of Founders Pt[1]
Message Of Founders Pt[1]
 
Newletter - 5 de Junho
Newletter - 5 de JunhoNewletter - 5 de Junho
Newletter - 5 de Junho
 

Depois da tese, a procura de um rumo

  • 1. RESISTANCE 2ª Edição Junho 2011 José Rebola Nuno Peixinho Entrevista “Cometas entre Asteróides” página 9 página 29
  • 2. Editorial “Ne change rien pour que tout soit différent ” Jean-Luc Godard Depois de uma primeira edição cheia de obstáculos e imprevistos saímos para a segunda com atenções redobradas. Como o Por isso se queres colaborar connosco na ditado diz: O que não nos mata, só nos torna edição, na escrita de artigos ou até na colocação mais fortes. de publicidade nas nossas páginas contacta- Com a entrada de três novas colaboradoras nos através do nosso e-mail resistancemag@ de Engenharia Biomédica: Ana Patrícia Silva, gmail.com. Ana Telma Santos e Karen Duarte, contamos Queríamos também deixar um especial com novas ideias e bastante dedicação para agradecimento a Ângela Dinis, Bruno que consigamos alcançar novas metas. Sendo a Galhardo, João Domingos e a Nuno Ferreira prioritária a de sair das portas do Departamento por toda a ajuda prestada no dia das eleições de Física. Queremos chegar mais longe...! do NEDF/AAC. O nosso único objectivo é melhorar de edição PS- Novamente, gostaríamos de agradecer a em edição, mas para isso precisamos da vossa todos as pessoas que participaram nos nossos ajuda. jantares de angariação de fundos, porque sem elas seria impossível a distribuição em papel da Revista. Errata: No número anterior da revista, devido a erros de edição, na décima primeira linha da décima página onde se lê “que outras influências poderão haver” devia ler-se “que outras influências poderá haver“. Pedimos desculpa pelo incómodo causado. 1 Junho 2011 RESISTANCE
  • 3. Índice Dentro do dep... 3_”Startup weekend”. João Nogueira 4_”Depois de Coimbra”. Dora Pires 5_”Cem anos do Núcleo Atómico”. Carlos M. B. Fiolhais 7_”As desigualdades de Bell e a computação quântica”. Fernado M. da Silva Nogueira 26_”Erasmus”. Edson Ferreia 29_”Voluntariado”.Diana Capela 31_”Cometas entre Asteróides” . Nuno V. M. Peixinho Miguel _22 Viagens... 23_”Estado Excitado”. Adriana Leal 25_”Estado fundamental”.Manuel Soeiro Cultura... _23 17_”24 frames por segundo”. 19_”78 rpm”. 21_”A gamer (re)view” 32_”Notícias” 33_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nino Hatter Opiniões... _25 _26 22_”Berbequim”. João Pedro Ferreira 27_”Crónicas”. _5 _29 12 - Queima... RESISTANCE Junho 2011 2
  • 4. texto_João Nogueira Nos tempos que correm todos os dias falamos em crise, aposto que todas as empresas gostariam de ter no seu dia- falta de emprego e falta de dinheiro. Então porque não a-dia por parte dos seus trabalhadores. A ajuda dos nossos criar o nosso próprio emprego? Porque não pôr mãos à mentores, que aconselham e guiam os participantes obra? Porque não enriquecer um pouco a nossa visão? com a sua experiência tem uma importância extrema no Porque não partilhar os nossos conhecimentos com os desenrolar do processo, permitindo-nos chegar muitas outros? É aqui que entra o Startup Weekend. Dos cerca de vezes a bom porto, a achar soluções para os problemas 350 Startups realizados pelo mundo fora, já surgiram cerca e ultrapassar entraves que se colocam ao longo do nosso de 700 empresas. Em Coimbra decorreu nos dias 20, 21 e projecto. Tivemos o prazer e a sorte de ter mentores como 22 de Maio na sala de estudo da Associação Académica Fred Oliveira (WeBreakStuff), Miguel Gonçalves (DITS), de Coimbra. Este evento caracteriza-se pelas intensas 54 e Rui Barroca, entre muitos outros. Deixo-lhes desde já um horas de trabalho non-stop, em que os participantes irão grande obrigado pela ajuda dada às equipas e pela troca trabalhar na construção de base de um projecto, dando- sempre interessante de ideias e conselhos. As próprias lhe forma e tornando-o viável para ir para além do fim- apresentações e a sua preparação é bastante peculiar, já que -de-semana. Este fim-de-semana torna-se extremamente são direccionadas a um júri, tendo formato muito diferente enriquecedor já que no evento e a trabalhar nas equipas daquilo que estamos habituados a fazer a nível cientifico. se juntam pessoas das mais variadas áreas com as mais Com a apresentação dos Pitchs vemos as verdadeiras variadas competências, o que permite não só elaborar diferenças e a maturação que houve ao longo do fim-de- um óptimo plano para apresentar a investidores como semana e vemos uma transformação espantosa e uma ganhar uma experiência enorme a trabalhar de forma concretização das ideias que apenas algumas horas atrás exaustiva com uma equipa muito diversificada e que não estavam em estado embrionário e de repente ganharam conhecemos. Os moldes de funcionamento do Startup corpo, em alguns casos vida até. No final os júris fazem os Weekend são muito simples, cada pessoa que tenha seus devidos comentários do que é preciso melhorar em trazido uma ideia apresenta-a ao resto dos participantes no cada ideia, como podemos crescer e até mesmo conselhos inicio do evento. Depois de apresentadas todas as ideias práticos de como fazer a ideia render mais. Em Coimbra os participantes votam naquelas que mais acreditam e a vencedora foi o Lean Interface. Mas para mim, todos mais se identificam para trabalhar nas proximas 54h do aqueles que tiveram o prazer de participar neste evento já evento. Em Coimbra tive o prazer de estar a organização e foram de algum modo vencedores, ao terem passado por participar no evento, considero que foi um enorme sucesso. esta experiência única. Pelo facto de estarmos em equipas multidisciplinares, as ideias fluíam de forma quase natural, e apesar do cansaço Fica desde já o convite a todos para participarem numa éramos coroados com doses de excitação e empenho que próxima edição do Startup Weekend em Coimbra. 3 Junho 2011 RESISTANCE
  • 5. Depois de Coimbra O início da jornada... texto_Dora Pires A distância temporal entre o dia mas tinha que contrariar esta dedicação total ao mestrado e uma da defesa da minha tese, que marca tendência: um part-time num centro conciliação de trabalho e estudo. Não o fim do meu percurso académico, de explicações foi a minha opção; podia dizer “não” a uma oportunidade e o dia de hoje, é psicologicamente alguma matemática, física e química profissional. Hoje, escrevo este artigo impossível quantificar. Se por um preenchiam dois dias da minha depois de um dia de trabalho com a lado sinto que ainda nem passaram semana, restando-me ainda bastante certeza de que quando o terminar, dois anos, por outro lado esta certeza tempo para a procura de um full-time. terei disciplina e motivação para diluiu-se quando visitei o carro No início de 2010, resolvi mudar ainda ir estudar algo. Actualmente, nº16 do Cortejo da Queima das a minha estratégia… decidi então, não tenho dúvidas que a minha vida Fitas deste ano. Os rostos presentes que independentemente de ser na académica acabou naquele Setembro. naquele local, eram na sua grande minha área ou não, necessitava da Agora, piso o chão de uma Faculdade maioria, desconhecidos para mim. minha independência financeira para sempre apressada e focada num único Entre algumas bengaladas e outras posteriormente investir na minha objectivo: alargar o meu espectro de tantas saudações, percebi que ali, formação. Planeei, trabalhei, consegui conhecimentos. A vida académica eu e os meus, éramos simplesmente e… despedi-me. Em Setembro de que cada um de vós vive hoje, é espectadores. Naquele Setembro, envolta numa mescla de alívio, Entre algumas bengaladas e outras tantas alegria e melancolia, começava a aperceber-me que a minha vida saudações, percebi que ali, eu e os meus, éramos académica tinha terminado. “Mas simplesmente espectadores. e agora?!? Tenho que procurar emprego… enviar CV’s e estar 2010, assistia à minha primeira aula única. Coimbra, além da formação sempre contactável!” Pensamentos do Mestrado em Gestão da Faculdade académica, faz-nos crescer, errar e deste género eram recorrentes. E de Economia da Universidade aprender, sorrir e chorar. E, não é assim foi… dia após dia enviava de Coimbra, sendo esta a minha necessário alongar-me neste ponto, CV’s e cartas de motivação, única ocupação na altura. Mas… pois tenho a certeza que partilho partilhando com os meus colegas a passado algum tempo fui desafiada convosco um facto: What happens in desilusão de não receber respostas, a visitar uma empresa de consultoria Coimbra, stays in Coimbra!!! Invejo, bem como as comuns dúvidas: “O energética, aqui, em Coimbra. Não porque sinto uma nostalgia imensa, que é que eu estou a fazer mal? tinha nada a perder, fui! Ironicamente todos aqueles que enquanto lêem esta Porque é que ninguém me contacta?” surgiu uma proposta, e aliciante do revista se encontram no BIF, no BM E desta forma, estabeleceu- se ponto de vista profissional! Em 12 ou até numa qualquer sala de aula do uma rotina. Não queria desistir, horas, tive que decidir entre uma Departamento de Física. RESISTANCE Junho 2011 4
  • 6. CEM ANOS DO NÚCLEO ATÓMICO Carlos Manuel Baptista Fiolhais O núcleo atómico fez em 7 de Março de 2011 exactamente dispersão de partículas electrizadas é considerada para um um século. Com efeito, foi nesse dia, mas do ano de tipo de átomo que consiste de um carga eléctrica central 1911, que o físico britânico, nascido na Nova Zelândia concentrada num ponto e rodeada por uma distribuição (provavelmente o mais notável de todos os físicos nascidos esférica uniforme de electricidade oposta igual em no hemisfério sul), Ernest Rutherford leu na Manchester grandeza.” Estava descoberto o núcleo, precisamente a Literary and Philosophical Society a sua comunicação “carga eléctrica central concentrada num ponto”, apesar do intitulada “A dispersão dos raios alfa e beta e a estrutura erro de que a carga eléctrica negativa em redor era uniforme. do núcleo”. Já antes o núcleo se manifestava através dos Daí a dois anos o jovem dinamarquês Niels Bohr, que tinha fenómenos da radioactiovidade, conhecidos desde 1896, vindo estagiar a Manchester, propunha, num outro grande mas nessa altura ficou claro o que era o núcleo. Vale a pena momento revolucionário da Física, a teoria quântica antiga: consultar o documento original e ver como o núcleo bateu os electrões giravam, em órbitas planetárias circulares à porta da Física, após experiências realizadas por jovens em redor do núcleo, que correspondiam a energias colaboradores de Rurtherford em finais de 1910. “Existem, quantificadas. Portanto, em 2013 passará um século após porém, algumas experiências sobre dispersão que indicam a formulação da teoria de Bohr (Prémio Nobel da Física que uma partícula alfa ou beta ocasionalmente sofre uma em 1922), que, apesar de modificada pela teoria quântica deflexão de mais do que 90º num único encontro. Por moderna, proposta por um notável conjunto de jovens exemplo, Geiger e Marsden (Proc. Roy. Soc. 82, 495, físicos entre 1925 e 1927, tem ainda hoje um grande valor 1909) encontraram que uma fracção pequena das partículas conceptual. Na linguagem desconcertante de Rurtherford, incidentes numa película fina de ouro sofre uma defexão o fenómeno que ele pretendia explicar com o seu novo superior a um ângulo recto (...) para explicar este e outros modelo era desconcertante: tudo se passava como se um resultados é necessário supor que a partícula electrizada atirador tivesse arremesssado um obus de 15 polegadas passa por um campo eléctrico intenso dentro do átomo. A contra uma folha de papel e o tiro tivesse rechaçado para atingir o nariz do atirador... Rutherford já era um físico famoso quando descobriu o núcleo. Tinha ganho o Prémio Nobel da Química em 1908, pelos seus estudos dos fenómenos radioactivos, distinção que ele aceitou fazendo um comentário irónico relativo às confusões entre a Física e a Química: “Tenho assistido a muitas transmutações radioactivas bastante rápidas, mas nenhuma foi tão rápida como a que o Comité Nobel acaba de fazrer transformando-me de físico em químico”. 5 Junho 2011 RESISTANCE
  • 7. Na época a conclusão de que os átomos de longo alcance que surgem distinção entre da colisão de partículas alfa com o azoto não são átomos a Física e a de azoto mas provalmente átomos de hidrogénio, ou Química era átomos de massa 2. Se é este o caso, temos de concluir ainda mais que o átomo de azoto se deesintegra sob as forças intensas esbatida do que desenvolvidas numa colisão próxima com uma partícula hoje. Basta para alfa rápida e que o átomo de hidrogénio libertado é parte isso reparar que, constituinte do núcleo de azoto”. no mesmo ano da descoberta do O pequeno erro é que não se trata do átomo, mas sim do núcleo atómico, núcleo de hidrogénio, ao qual mais tarde se veio a chamar o Prémio Nobel protão. O neutrão viria a ser descoberto a seguir, por um da Química discípulo de Rutherford, o inglês James Chadwick, em era atribuído 1932, feito pelo qual recebeu o Prémio Nobel escassos três à francesa de anos depois. Nesse mesmo ano foi construído o primeiro origem polaca acelerador circular e foi realizada a primeira reacção Marie Sklodowska, Madame Curie, pela sua descoberta nuclear num acelerador. A Física nuclear estava em de novos elementos radioactivos: o rádio e o polónio. franco desenvolvimento... Em 1934, uma filha e um genro Esse prémio vinha somar-se ao Prémio Nobel que tinha de Madame e Pierre Curie, os franceses Irène e Frédéric recebido com o seu marido, o francês Pierre Curie, pelos Joliot-Curie, descobriam a radioactividade artificial, seus trabalhos sobre radioactividade, em 1903, e com o conseguida através de reacções nucleares: receberam o francês Henri Becquerel, o descobridor da radioactividade. Nobel logo no ano seguinte Em 1938 os alemães Otto Hahn O Ano Internacional da Química, que se celebra em 2011, e Fritz Strassmann descobriram a cisão espontânea do quer também assinalar o centenário do segundo Prémio urânio. O italiano Enrico Fermi, com a suas experiências Nobel de Madame Curie, a única pessoa laureada até à de bombardamento de núcleos por neutrões promoveu a data com Prémios Nobel de duas disciplinas científicas cisão induzida desse elemento: em 1942, depois de ter diferentes. Em 1911, uma fotografia dos participantes do 1.º ...tudo se passava como se um ati- Congresso Solvay, em Bruxelas, mostra Rutherford perto rador tivesse arremesssado um obus de de Madame Curie (está sentada numa posição central, em diálogo com o matemático francês Henri Poincaré). Não 15 polegadas contra uma folha de papel muito longe deles está o então ainda jovem suíço de origem e o tiro tivesse rechaçado para atingir o alemã Albert Einstein (tinha 31 anos), sobre cuja teoria nariz do atirador.. da relatividade nem Rutherford nem Madame Curie, os dois essencialmente experimentalistas, se interessaram. A recebido o Nobel em 1938, conseguia a primeira reacção primeira reacção nuclear seria efectuada oito anos depois em cadeia do urânio debaixo da bancada de um estádio da descoberta do núcleo, em Chicago. E o resto é tendo o feito pertencido história bem conhecida: ainda a Rutherford. Vale a o projecto Manhattan de pena, de novo, transcrever construção da primeira o resumo da comunicação bomba atómica , as bombas em que ele descreve o de Hiroshima e Nagasaki arremesso de partículas alfa (Hahn, prémio Nobel da (que o próprio Rutherford Química em 1944, soube tinha identificado como dos eventos num campo de núcleos de hélio) para cima prisioneiros na Inglarerra), de azoto, verificando-se e o aproveitamento pacífico que saía, como que num da energia nuclear no pós- acto de alquimia, oxigénio guerra que se mantém nos e hidrogénio. Veja- se, dias de hoje. Rutherford em particular, como Rutherford assinala a presença do nunca acreditou que a energia nuclear viesse alguma vez hidrogénio dentro do núcleo atómico: a ser usada para efeitos práticos. Que hoje é emprege em larga escala em muitos países do mundo mostra que os “Dos resultados obtidos até agora é difícil evitar a grandes génios são também capazes de grandes erros... RESISTANCE Junho 2011 6
  • 8. sb 6 vb As desigualdades de Bell e a computação quântica Fernando Manuel da Silva Nogueira A Teoria Quântica é, talvez, a teoria mais espetacularmente Há contudo um desenvolvimento posterior deste problema bem sucedida dos últimos 100 anos. Graças a esse sucesso que vale a pena analisar. Em 1951 David Bohm publicou vivemos na época de mais rápido desenvolvimento um livro de texto de Mecânica Quântica3 em que discutiu o tecnológico da História. Basta reparar em todos os paradoxo EPR recorrendo a um sistema experimentalmente dispositivos de eletrónica de consumo que nos rodeiam muito acessível: dois eletrões num estado singuleto de hoje mas que há poucos anos seriam considerados “ficção spin, i.e., dois eletrões com spins correlacionados de tal s ik va científica”. s ik va modo que o spin total do conjunto seja nulo. Supõe-se que Esta tão bem sucedida teoria é, no entanto, de difícil os eletrões se movem livremente em direções opostas. Se, compreensão, pois é, em muitos aspectos, radicalmente s ik va s i2 va para um deles, medirmos a componente do spin segundo diferente da Mecânica Clássica, usada para descrever uma dada direção e obtivermos o valor +1 (com ℏ /2=1 muitos fenómenos macroscópicos, e com a qual estamos s i2 va s i2 va ),sabemos que, para o outro, uma medida da componente muito familiarizados. Esta difícil conciliação entre a do spin segundo a mesma direção dará -1 e vice-versa. É Mecânica Quântica e a Física Clássica está na origem de razoável supor que, estando os dois aparelhos de medida inúmeros “paradoxos” e discussões no seio da comunidade espacialmente afastados um do outro, b 6 sa b v orientação do científica. Um dos mais famosos debates foi travado aparelho de Stern-Gerlach usado nas medidas para uma em 1935, nas páginas da Physical Review, entre Albert sb 5 vc dos eletrões não afeta os resultados obtidos para o outro. Einstein e Niels Bohr. Mas então parece ser possível prever o resultado de uma Einstein (com Boris Podolsky e Nathan Rosen) analisou medida individual para uma dos eletrões sem sobre ele um sistema quântico muito simples: duas partículas que efetuar qualquer operação de medida: basta medir a mesma interagiram no passado e cuja função de onda conjunta grandeza para o outro (o que levará ao paradoxo EPR...). é conhecida1. Analisando medidas da posição ou do É tentador pensar, tal como Einstein, que tal se deve à momento de uma das partículas, EPR concluíram que existência de uma descrição mais completa do sistema que seria possível obter duas funções de onda diferentes para aquela que é fornecida pela Mecânica Quântica. descrever a outra. Não havendo já interação entre as Vamos supor que assim é (esperando com isso eliminar o partículas, a existência de duas funções de onda diferentes caráter “aleatório” das medidas individuais em Mecânica para descrever o mesmo sistema (a “segunda” partícula) Quântica...). Esta descrição mais completa será fornecida significaria que a função de onda não podia ser uma por um conjunto qualquer de variáveis, discretas ou descrição completa de um sistema. contínuas, que representaremos como uma única variável Este problema ficou conhecido como “paradoxo EPR” e contínua λ . Então o resultado A1 da medida do spin da é o artigo mais citado de Einstein (foi mais vezes citado partícula 1 segundo a direção dada pelo vector  é a que o conjunto dos 4 artigos do Annus Mirabilis...). A tese determinado por  e λ (não é, portanto, “aleatória”... basta a size 12{ hbar /2=1} { dos autores foi prontamente refutada por Niels Bohr2 e conhecer λ para a prever). Podemos escrevê-lo como A1 ( outros. A resposta de Niels Bohr2 é bastante mordaz. Bohr  , λ ).Do mesmo modo o resultado B2 (  , λ ) da medida a b refuta o paradoxo lembrando Einstein que o aparelho de do spin da partícula 2 segundo a direção dada pelo vector medida, em Mecânica Quântica, é indissociável do ato de  é determinado por  e λ . Ora, com ℏ /2=1 , b b medida, tal como na sua Teoria da Relatividade o espaço é indissociável do tempo. Não pretendendo reproduzir aqui o debate sobre este paradoxo, recomendo ao leitor A1   , λ =±1 a interessado uma leitura atenta dos artigos originais. B   , λ =±1 b 2 1 “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, A. Einstein, B. Podolsky e N. Rosen, Phys. Rev. 47, 777–780 (1935). 2 “Can Quantum-Mechanical Description of Physical Reality Be Considered Complete?”, N. Bohr, Phys. Rev. 48, 696–702 (1935). 3 “Quantum Theory”, David Bohm (New York: Prentice Hall, 1951). Reimpresso em 1989 (New York: Dover). 7 Junho 2011 RESISTANCE
  • 9. s iki9 v av 8 s Sabemos também que A1 (  , λ )= - B2 (  , λ ) a b s i9 v8 Supondo que os parâmetros λ se distribuem de acordo com s il vb uma densidade de probabilidade conjunta de ρ(λ) , nor- malizada à unidade, ∫ dλ ρ(λ) =1, o valor expectável da medida de A1 (  , λ ) e B2 (  , λ ) é dado por: a b Vemos facilmente que E(  ,  ) = -1/2, E(  ,  ) = 1/2, e a b a c a b s i3 vc a b  ,  ) = -1/2, donde se conclui que | E(  ,  ) - E(  ,  ) | E( λ A a E   ,  =∫ d λρ λ  A1   , λ  B 2   , λ =−∫ d λρb c 1   , λ  A1   , λ  b a b a c = 1 mas que 1 + E( b c  ,  ) = 1/2 , em claro desacordo com a desigualdade deduzida. Se as desigualdades de Bell forem λρ λ  A1   , λ  B 2   , λ =−∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ  a b a b verificadas experimentalmente, a Mecânica Quântica é posta em cheque... Mas não é isso que acontece: todas as s ib vc experiências feitas até hoje estão em desacordo com as Se considerarmos uma terceira direção, dada pelo vector desigualdades de Bell!  , vem : c Que conclusões podemos então tirar? A hipótese E  ,b a a c [ 1 a 1 b 1   , λ  A1   , λ  a c ]  −E   ,  =−∫ d λρ λ  A   , λ  A   , λ − A fundamental para obter a desigualdade foi a da existência de um conjunto de variáveis (escondidas) cujos valores predeterminam os resultados das várias medidas. É uma [ a b a c ] E   ,  =−∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ − A1   , λ  A1   , λ  hipótese que vai de encontro aos desejos secretos de a c Como A1 (  , λ ) = ±1 podemos ainda escrever: a s ik va muitos de nós, pois a sua validade permitiria dizer que o s i2 va caráter aleatório das medidas individuais em Mecânica Quântica provém simplesmente do desconhecimento dos a c [ a b a λ ] E   ,  −E   ,  =−∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ − A1parâmetros  ,. λSe nos fosse possível conhecer os valores a b   , λ  A1  c  size 12{ { vec12{ { vec {b}}} {} dessas variáveis poderíamos prever com certeza os size {a}}} {} a c s i7 vd a s ip b vc E   ,  =∫ d λρ λ  A1   , λ  A1   , λ  A1   , λ  A1  , λ −1 resultados individuais das medidas. A Mecânica Quântica [ b c ] surgiria assim apenas como uma descrição de caráter estatístico, devido ao conhecimento limitado que E também : teríamos dos sistemas individuais. Seria até possível size 12{E,  −Evec ∣≤∫ dvecvec {b}} ,)=1 Int, λ  ital "λρ" ( λ ) Aem que as variáveis λ obedecessem a ∣E   b {  , c {a}}} {}{b}}}  [ imaginar uma teoria ] size 12{{ vec {a}},λρ λ  1− A1  {}λ A   {d leis do movimento e tivessem {size 12{ vec A{a}}} {}{} a ( size 12{ { { a b c rSub size size 12{ { vecsignificado físico. violação size 12{ { size 12{ {{} vec {c}}} vec {b}}} { {a}}} {} 8{1} } ( } { vec {a}},λ ) B rSub { size 8{2} } ( { vec {b}},λ ) = - Int {d size 12{ {desigualdades de Bell nosize 12{ (12{{a}}} {a}}} das vec {c}}} ital vec {b}} A rSub {d ital "λρ" } ( } size 12{ { vec {b}}} {}{} size 12{} size 12{ vec {} {c}}{ quadro size vec {deste tipo {} de{ vec uma teoria {b}}} { { vec }}, { "λρ" ( λ ) ) = Int { size 8{1} ( λ ) A{ vec { size ) Aexplicada por uma “comunicação” instantânea rSub {a}},λ ser rSub { size 8{1} poderia 12{ { vec {b}}} {}{} { ) B rSub { ) } 8{2} } ( { vec {b}},λ ) = - Intsize aparelhos { vec {c}}}não pode haver sinais },λvec {b}},λ size {} {d entre os size 12{ de medida. Mas Concluimos que: size 8{1} } ( } { vec {a}},λ ) A rSub { size 8{1} } ( que se propaguem instantaneamente... Outra possibilidade é essa comunicação entre aparelhos de medida ocorrer ∣E   ,  −E   ,  ∣≤1E   ,   a b a c b c quando os aparelhos são instalados e ajustados. Nesse caso não é necessária uma comunicação instantânea. Mas já 12{E{( { vec {a}}, { vec {b}} ) - E ( { vec {a}}, {feitas experiências= - que os aparelhos de medida 12{ vec {c}}} {} foram vec {c}} ) em Int só eram ajustados quando as partículas já estavam em voo l "λρ" ( λ ) left [A rSub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) A rSub { size em direção a eles5... Parece portanto que não é possível } ( {Esta desigualdade ) - -EA rSub {John Bell, umvec({c}} ) = - Int ) A rSub { vec {b}},λ)foi deduzida vec size 8{1} físico de vec {a}},λ por {a}}, { } { {a}}, { vec {b}} ( { construir uma teoria mais completa que a Mecânica {1} } partículas do CERN, } )19644vec hoje {} ) Acomo Quântica6. Podemos assim responder à pergunta formulada ( { vec 8{1} em ( right é {a}},λ ft [A rSub { size {c}},λ { , e ]} } conhecida rSub { size }},λ ) uma das desigualdades de Bell. ( { vec {a}},λ ) Apor Einstein no título do seu artigo: “Yes, it can... so far”. - A rSub { size 8{1} } rSub { Se efetuarmos ]} } {} facilmente concluímos que a Este assunto foi amplamente discutido durante décadas, c {c}},λ ) right os cálculos 12{E (Mecânica vec {a}}} {}{b}} ) - E ( { vec ,{a}}, { habitualmente ) = - Int como académico ou size 12{ { Quântica { vecpara o valor expectável E( a sendo vec {c}} classificado { vec {a}}, prevê  ) o) left [A rSub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) Ado domínio da filosofia. Mas, como tantas l "λρ" ( λ resultado: b tido como rSub { size } ( { vec {b}},λ ) - A rSub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) esta investigação “fundamental” teve vezes acontece, A rSub { {a}}, { vec {b}} E   ,E =〈{ vec ⋅ 〉=−a⋅bvec {c}} ) =inesperados. Os sistemas de fotões correlacionados7 ) a  (  ⋅  {a}},{ - b frutos Int {1} } ( { vec {c}},λ ) rightσ]}b} {} σ1 a 2 Sub { size 8{1} } ( { vec {a}},λ ) A rSub { size(“entangled”) usados em todos estes testes são hoje a base 8{1} } ( [A rSub { size 8{1} } ( { vec {b}},λ ) A rSub { dos computadores quânticos... em que  σ é um vector cujas componentes são as matrizes size 8{1} de Pauli. - 1 right ]} } {} ne E ( { vec {a}}, { vec {b}} ) - E ( { vec {a}}, { vec {c}} ) t {d ital "λρ" ( λ ) left [1 - A rSub { size 8{1} } ( { vec {b}},λ ) e 8{1}4 } the Einstein-Podolsky-Rosen paradox”, J. S. Bell, Physics 1, 195–200 (1964). “On ( { vec {c}},λ ) right ]} } {} 5“Experimental Test of Bell’s Inequalities Using Time-Varying Analyzers”, A. Aspect, J. Dalibard, and G. Roger, Phys. Rev. Lett. 49, 1804–1807 (1982). 6 Há muitas e variadas deduções de desigualdades de Bell que partem de pressupostos ligeiramente diferentes. Mas todas as desigualdades deduzidas são viola- das… 7 A grande maioria das experiências efetuadas recorreu a pares de fotões com polarizações correlacionadas e não a pares de eletrões. RESISTANCE Junho 2011 8
  • 10. Entrevista José Eduardo Figueiredo Lima Rebola texto_Patrícia Silva Qual é a sua formação carreira no estrangeiro, acha que portuguesa ainda é bastante limitada. académica? essa é a melhor alternativa ou acha Uma banda que queira fazer uma José Rebola: Sou licenciado em que o país ainda possui condições tournée não consegue arranjar mais de Engenharia Electrotécnica, mas para nos absorver no mercado de vinte datas com condições para tocar. vim aqui parar (AIBILI) como trabalho? Ainda não é facilmente sustentável aluno de Doutoramento na área das José Rebola: Claro que ainda há viver da música em Portugal, ainda neurociências. mercado de trabalho cá. Continua há muita coisa para ultrapassar mas a haver uma oferta muito maior no acho que estamos no caminho certo. O que é que o levou a optar por estrangeiro, até porque o estrangeiro essa área? são muito mais países, 90 e muito é Quanto aos Anaquim, como é José Rebola: Foi uma coisa um estrangeiro para Portugal. É claro que nasceu o vosso projecto? bocado por acaso, não estava que há muitas ofertas no estrangeiro José Rebola: Surgiu um bocado por interessado em ir para Lisboa quando e quando a nossa formação é muito acaso, que se calhar até é a melhor acabei o curso, e a maioria das ofertas específica ainda mais ofertas há maneira de fazer as coisas, surgiu no eram lá. Acabei por vir para aqui para essa especificidade. Mas eu fim de 2007. Na altura tinha outra trabalhar com dados de epilepsia e acho que é nestas alturas de crise e banda, comecei a fazer canções que gostei deste tema, principalmente da maior dificuldade que também surge não se enquadravam muito naquele integração da saúde com a engenharia a maior motivação para querer ficar universo, e fui fazendo só para ficarem e acabei por fazer o doutoramento cá e realmente ajudar o país e a guardadas e para não se perderem nesta área. comunidade científica portuguesa a aquelas ideias. Depois achei que devia desenvolver-se. mostrar aquilo a alguém, e as pessoas Que conselhos dá a outros que ouviram gostaram e acabou por colegas que pretendam seguir esta E relativamente ao panorama chegar aos ouvidos do JP Simões, área? musical nacional acha que ainda há que estava a organizar um programa José Rebola: Acho que esta área tem espaço para novos artistas? E como no canal 2 que era o “Quilómetro o privilégio de ser multidisciplinar tem sido a vossa adaptação cá? Zero”. Um programa que depois e essa parte é muito interessante, José Rebola: Nós com este projecto não teve continuidade, com muita porque consegue conjugar os só estamos há 3 anos, mas cada um pena nossa, e que revelou muitas desenvolvimentos em várias áreas e dos elementos já está na música à boas bandas portuguesas. De repente, assim ser realmente inovadora. Hoje 10/15 anos, e vê-se bem a diferença eles queriam gravar um ensaio, mas em dia é muito difícil inovar numa de aceitação do público às bandas não havia ensaio porque não havia determinada área, se te dedicas a portuguesas. Boas bandas portuguesas músicos, só ideias soltas que eu tinha um tema mesmo muito específico, sempre existiram, só que agora o gravado, então aí convidei algumas começas a ser um especialista numa público começou a virar-se outra vez pessoas para encerrarmos as músicas coisa cada vez mais pequena e aqui um bocadinho mais para dentro, a e gravarmos para o programa. não, aqui tens a inovação, que é na dar valor às suas próprias bandas, a Resultou tão bem que acabámos por integração das diferentes práticas e é cantar outra vez mais em português, ficar com essa formação, que foi mais rápida a evolução nesse sentido. e é engraçado ver essa comunhão de origem e contínua até agora, e maior entre o público e as bandas. esperemos que continue por muitos Neste tempo de crise, em Agora, isso não quer dizer que não mais anos. Depois resolvemos levar que muitos jovens querem fazer haja problemas, a indústria musical aquilo para a estrada. 9 Junho 2011 RESISTANCE
  • 11. Entrevista Quais as influências musicais? temática vai continuar a ser a mesma, eles não falam português, não José Rebola: O nosso som vai de crítica social, de histórias, de entendem as letras e nós pensámos buscar muito aos ritmos mais folk, à personagens, do quotidiano, mas que, fazendo uma introdução em música francesa, ao jazz manouche - o som está um bocadinho mais inglês, íamos compor as coisas, e se jazz cigano, ao folclore balcânico, e intervencionista. calhar eles iam perceber os temas e também ao folclore americano, que é as ideias. Chegámos lá e percebemos o country e o dixie. Portanto, acaba Quando é que a música que eles também não falam inglês, por ter um cariz popular. Mas pessoas apareceu na sua vida? Tem e é engraçado, que apesar disso a não devem confundir, às vezes formação musical? comunicação fez-se e a empatia quando se fala de músicas de cariz José Rebola: Tenho, todos temos criou-se. Ao fim, já estavam a curtir popular, pensam em rancho, mas para formação musical na banda. Eu fui as músicas como o nosso público, já a música popular portuguesa não é aluno do conservatório desde os meus 12 ...mas a parte musical também só rancho e a música popular também não é necessariamente portuguesa. anos, comecei a tocar transmite muito, que vai para além guitarra mais cedo com o meu pai e desde dessa barreira da linguagem...” Portanto, as nossas principais influências musicais são a música popular europeia com algumas muito cedo que a música está na claro a um nível um bocadinho influências também americanas. minha vida. Mas acho que também menor, mas a parte musical também está na vida de todos, o virar do transmite muito, que vai para além E o segundo álbum, já está em radar para ai é que se calhar não é dessa barreira da linguagem. estúdio? tão presente nalgumas pessoas como noutras, mas a música faz, e bem, Como surgiu e o que achou da José Rebola: Em estúdio ainda não, parte do presente de cada um. colaboração com a Ana Bacalhau? estamos agora a começar a trabalhar os temas mais a sério, a deixarem de José Rebola: A Ana é espectacular, ser esboços para passarem a ser mais Vão continuar sempre a cantar acho que isso é uma opinião unânime audíveis. É uma fase que gostamos em Português? de toda a gente que trabalha e muito, é engraçada, há muitas ideias, José Rebola: Em princípio sim, o interage com ela. Aquilo começou boas e más, e é a fase em que se vê plano é esse, o segundo álbum está por um elogio no MySpace do Pedro, desenvolver as músicas. Para nós é dirigido nesse sentido. Mas já tivemos o guitarrista dos Deolinda, a que nós tão, ou mais, engraçada pela parte da outras bandas onde cantávamos em respondemos, e depois surgiu a ideia criação activa, é claro que também inglês. Acho que não é uma questão de a convidar. Como ela gostava do é engraçado ver-mo-la registada em de moda, é uma questão de contexto. som e se mostrou muito receptiva estúdio e vermos depois a aceitação Esta sonoridade e os temas que são a essa ideia fez-se o tema, ela veio que o publico tem, ou não, a esses tratados fazem sentido cantados em cá e gravou-se numa tarde. E foi temas. português. engraçado! O encaixar das duas personagens dessa música foi quase Vão continuar no mesmo Quais os planos da banda no como o nosso encaixar também, género musical? exterior do país? nós demo-nos logo bem e isso José Rebola: Acho que este álbum José Rebola: Nós já tocámos na transpareceu para a música. Foi uma vai ser um bocadinho mais agressivo, Hungria. Foi uma experiência experiência muito positiva e só tenho um bocadinho mais rockeiro. A bastante curiosa porque, obviamente coisas boas a dizer da Ana. RESISTANCE Junho 2011 10
  • 12. Entrevista Neste momento o que é que 5 elementos todos trabalhadores de letra e maneira de estar. É engraçado não dispensa ouvir? outras áreas. É com algum esforço, ver que tudo isso transparece para o José Rebola: A música do Django sacrifício de horas vagas e também público. Há público para essas duas Reinhardt, que é o expoente máximo com alguma tolerância das pessoas vertentes. do jazz cigano francês. Não só pela que trabalham connosco. música, mas também pela sua história A música dos Deolinda de vida. Django viveu nos anos 30 – A médio/longo prazo vê-se arrastou a manifestação toda em 40, e é engraçado porque ele era um como músico ou engenheiro? Lisboa. Acham que a vossa música guitarrista espectacular, que aos 18 José Rebola: É difícil. Em Portugal é já teve algum impacto do mesmo anos teve um fogo na caravana e ficou difícil saber o que vai acontecer, quem nível? sem os dedos anelar e mindinho da é que sabe se de hoje para amanhã o José Rebola: A música dos Deolinda mão esquerda, revolucionando toda a FMI não nos corta as tranches todas, foi um fenómeno e não sei se vão técnica da guitarra. Ele acaba por ser e temos mesmo que fazer pela vida existir muitos paralelos. Mas é não só uma figura musical mas quase de outra maneira. Neste momento, as engraçado, quando a nossa música mística no mundo do jazz. Tudo o que duas áreas são muito interessantes e vem referida em blogs, colunas de tenha ritmos marcados eu gosto, Tom enquanto for possível vou conciliá-- jornal e colunas de opinião. Mas se las. Agora no as pessoas simplesmente ouvirem a “Acabei por vir para aqui trabalhar futuro depende música e gostarem, para nós está tudo com dados de epilepsia e gostei deste também do bem. que nos vai ser tema, principalmente da integração da exigido a nível Vocês já se conheciam antes de saúde com a engenharia...” profissional na se juntarem? Eram já amigos? música. José Rebola: Amigos se calhar não, Waits, Gogol Bordello, Severino, etc. mas conhecidos. Quando estás a Também ouço o que se vai fazendo A vossa música retrata gente. convidar pessoas para uma iniciativa em Portugal. Como é mais pequeno, É mais pela musicalidade ou pela deste género se calhar não é a melhor dá para ouvir quase tudo. integração pública? abordagem convidares alguém só José Rebola: O engraçado no nosso porque é um grande músico. Deves Como é que consegue conciliar público é que é muito heterogéneo. convidar alguém que se insere na tua as duas carreiras? Se calhar se formos ver um concerto maneira de estar, com quem te dês a José Rebola: Não é fácil, vai- numa Queima das Fitas estão lá conviver, 80% a 90% do tempo que -se roubando algum tempo ao mais pessoas doutoramento, que já por si é difícil que querem “Ele acaba por ser não só uma acabar no prazo, e contando também s i m p l e s m e n t e figura musical mas quase mística no com a tolerância das pessoas, neste estar a ouvir a caso do orientador e da agência que música, a saltar mundo do jazz.” nos gere a carreira musical. Esta sabe e a divertir-se. Noutros concertos uma banda passa é fora do palco. que nem sempre podemos ter todas em auditórios, se calhar temos lá O único critério não pode ser só as datas disponíveis porque somos várias pessoas de 40/50 anos que as habilidades musicais, porque é estão a ouvir necessário criar empatia e conseguir não só a música, criar alguma coisa em conjunto. São mas também as todos pessoas em quem eu vejo valor mensagens e a musical e pessoal, por isso é que as perceber a música coisas também resultam tão bem. a outro nível... Mesmo quando as coisas resultam E o engraçado é menos bem, esse menos bem é o isso, no fim dos melhor. concertos às vezes estamos a falar Quais são os seus hobbies? com as pessoas e José Rebola: Acaba por não haver elas vêm-nos dar grande tempo, o pouco tempo que os parabéns, não tenho é a tocar guitarra, a aprender só pela música piano, agora queria comprar um mas também pela contrabaixo mas é caro... 11 Junho 2011 RESISTANCE
  • 13. RESISTANCE Junho 2011 12
  • 14. Queima Serenata Monumental Na vida de todos os Estudantes Universitários de deste ano e digo: valeu a pena a hora e meia de espera; Coimbra, existem momentos marcantes; uns pela pelo espirito, pelo simbolismo, pelo manto negro que se positiva, outros pela negativa: mas todos eles nos ajudam erguia a minha volta! A partir do momento em que o meu nesta caminhada que temos a percorrer. Estou aqui hoje padrinho me traçou a capa, eu senti que estava a entrar para relatar a minha vivência de um momento muito numa nova fase da minha vida. Senti que estava a crescer. especial, principalmente para dois grupos: os caloiros E de que maneira! Será certamente um dos momentos e os finalistas (no meu caso, como caloiro). A Serenata que gravarei para sempre na minha memória e que, com Monumental da Queima da Fitas 2011. De tudo aquilo ajuda de todos, perdurará para sempre nas tradições desta que ja me tinha sido proporcionado este ano, nada se compara a este momento de pura magia. Fui priveligiado velha mas grande cidade de Coimbra! pelo facto de ter acompanhado de muito perto a serenata texto_André Silva A Serenata Monumental para um tentou acomodar como podia, sempre entre outros temas. No final, para finalista começa bem cedo, lá para com a preocupação de conseguir ver honra de todos os finalistas presentes, meio do fim da tarde. os nossos colegas músicos que A Balada de Despedida do Ano As capas negras que forram o chão protagonizariam o espectáculo. Médico 2010-2011 estreou-se em servem de toalha a um piquenique De capas traçadas sob um céu chave de ouro para se imortalizar onde os bidões de gelo arrefecem a limpo azul-escuro, numa atmosfera na já vasta tradição de canções das calorosa partilha entre as dezenas, ou carregada de nervosismos miudinhos, serenatas da nossa academia. Seguiu- talvez centenas de estudantes que lá se começaram a ouvir os primeiros se o inevitável Éférreá, gritado em começam a encher a Praça da Sé acordes das guitarras cujo dedilhado uníssono com o agitar das capas no Velha. Entre um e outro gole, a meio nos embalou a todos durante uns ar, lançadas por cima dos sorrisos de uma sandes, entoaram-se gritos quase eternos sessenta minutos. abertos que denunciavam o início e hinos de curso numa recordação Por todo o lado, uma ou outra da festa. As fitas agitadas acima das daquilo que tinham sido os tempos lágrima teimou em lavar os rostos cabeças deram um colorido especial de caloiro, pastrano, grelado, fitado, entristecidos pela saudade e o a todas as recordações e aos segredos veterano… Fado, que nos juntou ali a todos que todo levaremos, certamente, O cair da noite trouxe consigo o para daqui a uns meses nos trair daqui para a vida! negro intenso que agitou as últimas com a derradeira despedida, foi horas de espera, onde cada um se intercalado com baladas, trovas, texto_Tatiana Oliveira 13 Junho 2011 RESISTANCE
  • 15. Queima Baile de Gala texto_Ângela Dinis Exótico e misterioso, o Baile de com Vaidade. Gala da Queima das Fitas decorria Em tons de vermelho e preto e Sábado e tinha como tema os ao som da Orquestra Ligeira do “Sete Pecados”. Esperava-se assim Quartel, fomos tirando as fotos uma noite memorável e cheia de iniciais nos cenários recriados a presentes dispostos a dar de um glamour nos claustros do Quartel rigor pela organização. A cada pezinho de dança ao som de músicas de Santanna, onde todas nós nos passo, a cada relance de olhar, dos twenties aos sixties, garantindo sentiríamos verdadeiras Princesas. crescia a sensação de pertença ao que a Preguiça não descansaria Foi assim que essa noite de mundo encantado que invadia aquele nas molduras vermelhas. Com o primavera começou, com um Guloso espaço. As paredes eram preenchidas passar do tempo o salão esvaziava- jantar no “Giuseppe & Joaquim” por quadros enormes com molduras se, chegando a altura de dar como com o Prince Charming. Aí, fomos vermelhas de esferovite que terminados a fantasia e o requinte deliciados tanto com o dourado da correspondiam aos pecados e, com que fomos inebriados durante decoração como com os lombinhos os tectos, por candeeiros pretos toda a noite. À saída, olhei mais uma de porco grelhados com gambas gigantes. Também de esferovite vez para a decoração, e o quadro e ananás. No fim, a Inveja de ver eram os bancos que se encontravam da Ira resolveu piscar-me o olho. passar “aquela” fatia de bolo de pelos corredores e na divisão do Sorri-lhe e pensei: “Voltaremos a chocolate, fez com que não saísse de bar, onde, talvez por Avareza, não encontrar-nos dentro em breve!”. lá sem ter uma para saborear! me quis aventurar nas delícias mais Estava ansiosa por regressar. No Seguiu-se então uma volta pela peculiares de Baco. Fiquei-me Chá Dançante, pela primeira vez, nossa bela cidade, rendidos à pela doce caipirinha, qual princesa saberia de antemão que pedaços da Luxúria de uma limousine pérola moderna. Divertidas, as senhas decoração traria para casa comigo! onde, de janela aberta, brindávamos das bebidas brancas não podiam O meu “sapatinho” ficou pelas com quem, por mais uma noite, deixar de se enquadrar na temática escadas do quartel... Mas o meu se encontrava animado no Largo e encontravam-se impressas no Orgulho em ser finalista da da Portagem. Um hora depois, formato de notas mexicanas. Universidade de Coimbra e poder ter rendemo-nos à passadeira vermelha Foi então que os “The Lucky vivido este ambiente mágico durante que se estendia escadas acima até à Duckies” subiram ao palco, 5 anos, esse ficará comigo para entrada do Quartel, as quais subimos animando as centenas de estudantes sempre! Chá Dancante texto_Joana Melo O conhecido Chá Dançante é foi tal, que destruímos tudo em poucos considerado uma festa de despedida minutos, acabando por não sobrar nada para os cartolados no mesmo ambiente para quem optou por chegar mais tarde. decorativo do Baile de Gala, este ano Após a calma estar restabelecida e, com o tema “7 pecados”. No entanto, apesar da saudade daqueles que vivem esta tradição proporciona a todos os esta tradição como a última, a Fanfarra estudantes uma noite de diversão. e José Malhoa animaram ainda mais o Quando cheguei ao Quartel de Sant’Anna evento. Houve dança, mas não houve deparei-me com uma multidão de Chá. O importante é a algazarra dos fitados e cartolados ansiosos por estudantes, o divertimento e a festa. entrar. Entre algumas cotoveladas e No final, os estudantes saíram em massa empurrões, o espaço foi-se enchendo para o Queimódromo. Uns levaram os com muitos estudantes. Poucos minutos cortinados enrolados ao traje, outros, depois de entrar, um grupo de amigos mais criativos, levaram os grandes apreçados iniciaram a típica destruição quadros e os cartolados, como sempre, da esferovite, quadros e cortinados a esferovite na bengala. Levamos do cenário. Nem mesmo os tapetes também na memória uma das noites mais escaparam na tentativa de levarmos marcantes da queima das fitas, onde o alguma recordação para casa. A euforia chá nunca existiu. RESISTANCE Junho 2011 14
  • 16. Queima Garraiada noite anterior dentro da pasta; a minha vez de ser empurrada para que todos possam caber dentro da pequena antecâmara onde se juntam os estudantes da faculdade antes de entrar na arena; a minha vez de, ao entrar, olhar para o lado e indagar Capas negras estendidas na praia; estudantes a dormir, sobre o que fazer a seguir - descobrindo rapidamente que outros a cantar, outros a refrescar-se. Nem todos irão mais o suposto é levantar o braço com a pasta e agitar as fitas tarde ao Coliseu Figueirense; atrevo-me a dizer até que a enquanto toca uma música que só mais tarde me apercebi maior parte não irá mais longe que a zona do areal (que que existia, ao ver a “parada” das outras faculdades; a por si já é distante da estação onde chegam os comboios minha vez de descobrir que além de a faculdade de ciências apinhados desta “espécie” que durante um dia invade a e tecnologias ter poucos representantes cartolados nas Figueira da Foz). Mas há quem meta pés a caminho na bancadas, a presença de estudantes do departamento de jornada que para alguns não acaba na praia. Satisfação, física nesta tradição é praticamente inexistente; a minha vez cansaço, alegria, confusão, orgulho: de entoar o “F-R-A” juntamente com são talvez as palavras que melhor os vários alunos da minha faculdade descrevam esta ida à garraiada. É certo presentes (sendo que estou convicta que não era a primeira a que ia, mas era de que a maior parte nunca tinha posto “a minha”. A minha vez de ficar ao sol os olhos em cima), e de no fim ter à espera para entrar antes de chamarem dúvidas sobre se também haveria de os alunos fitados da minha faculdade mandar a pasta ao ar - como se faz com (é portanto a terceira a “passear-se” a capa - ou se simplesmente o haveria pela arena, atrás das de Medicina e de fingir (pois iria decerto ser muito Direito como manda a hierarquia das difícil agarrar a mesma, dado o seu já faculdades); a minha vez de não pagar referido volume anormal naquele dia); - pois ia devidamente apetrechada da e por fim, a minha vez de ser mandada pasta com as fitas (talvez ja não em número correto) e da embora por uma portinha minúscula e de ficar com aquele Capa e Batina; a minha vez de passar pelos seguranças sabor no pensamento... aquele sabor de quando acaba algo que, além de verificarem se levamos objetos estranhos muito ansiado e nem se dá conta que começou... Por isso, (nomeadamente chapéus de uma bebida que dá o nome a no caminho de regresso, quando caí em mim, além de ter uma tenda bem conhecida de grande parte dos estudantes reposto um pouco o sono em dia, recordei com alguma do Departamento de Física), nos podem perguntar (ao nostalgia os bons momentos que passei com os amigos que notarem uns fios vermelhos nos cabelos) “Chá?”, ao que se partilharam a arena comigo nesse dia e com todos aqueles responde: “Sim”, e passamos orgulhosamente com alguns que conheci em Coimbra e que espero poder sempre guardar metros de tecido vermelho proveniente do Chá Dançante da na memória com alegria. texto_Diana Amaro Três horas de sono, duas mil e Cortejo a acelerar (reduzindo a nossa visão a república, e o sentimento de que está quinhentas cervejas carregadas e dois fumo preto), até por cima da rotunda a acabar já se apoderou de mim. Daí cafés. São ainda 09h30. Estamos até do Papa passámos! Pudemos observar até chegar ao cemitério pareceram por volta das onze no Quartel onde, as primeiras gargalhadas e rostos cinco minutos, nunca esta distância apesar de todo o cansaço estampado corados dos presentes a um carro que me pareceu tão curta. Ao olhar para o nas caras alheias, a folia prevalece. era no mínimo caricato. Uma sandes carro destruído com uma lágrimita no Os carros vão arrancando, e sente-se de leitão e umas cervejinhas depois, olho (vá, várias), sinto que dois anos cada vez mais o ambiente de festa; ouve-se a nossa buzina! O desfile vai de trabalho e uma semana de esforço o Cortejo começa aqui. Chega a começar! Subo rapidamente e tento em que praticamente vivíamos no nossa vez de arrancar. A viagem do aproveitar ao máximo um cortejo quartel valeram totalmente a pena. Quartel para o Departamento foi que já se adivinhava rápido. Quando Questiono-me: posso repetir? uma aventura: o condutor a apitar e me dou conta já estou na praça da texto_Joana Faria 15 Junho 2011 RESISTANCE
  • 17. Queima JANTAR RESISTANCE texto_Margarida Matos & Sara Barbosa Já a Queima das Fitas ia a meio quando um grupo de de uma boa causa, nos podemos juntar e descobrir que estudantes aleatório do DF se decidiu juntar para partilhar afinal temos mais em comum com pessoas com quem a noite mais animada da nossa semana. Tudo isto tinha um não costumamos conviver, ao contrário do que à partida propósito: angariar fundos para que possam ler este texto! poderíamos pensar. Entre copos, febras, dados e cartas, fomos partilhando Se esta Revista conseguiu juntar um grupo tão díspar de histórias e interesses que não sabíamos existir. Apesar pessoas, e proporcionar-nos uma noite tão animada, com de todos os dias nos cruzarmos nos mesmos corredores certeza que este será o primeiro passo de uma grande e muitas vezes partilharmos salas de aulas, só nesta caminhada! Assim, esperamos que esta causa volte sempre noite tivemos a oportunidade de verificar que em nome a juntar-nos. Último dia texto_Ricardo Martins Depois da serenata, cortejo, chá se as baterias (if you know what i Contudo não encaro isso com tristeza, dançante e das noites do parque, mean :P ) . Esvaziadas as garrafas , pois tudo tem o fim e se é para acabar, chega o fim desta fantástica semana estou agora nas condições ideais de que seja a “bombar”. Tento derramar da Queima das Fitas. A bengala entrar no recinto. Um recinto que umas lágrimas (diz que parece bem), e a cartola apresentam-se já praticamente desconheço por inteiro, mas simplesmente não consigo. Sim completamente deformadas, o cansaço pois durante toda a semana o spot é hoje é o último dia, mas o sentimento acumula-se, o meu pé continua sempre o mesmo: tenda do beirão. mais presente é a alegria e não a inchado (apesar de não doer, pois o Depois de mais uma noite típica, com tristeza. Sei que não será um adeus, álcool é uma excelente anestesia) e a habitual diversão, palhaçadas, copos pois tenho a certeza que serei sempre já para não falar da tese que continua e momentos insólitos, o fim da noite muito bem recebido nesta cidade, por escrever! Tudo isto leva a que aproxima-se. Podem-me perguntar por todos vós. Semanas como esta a euforia desvaneça um pouco. A se esta noite é diferente das outras. são sagradas, por isso aproveitem ao solução? Um pouco de whisky para Talvez. Começa a crescer alguma máximo, lembrem-se que o tempo me elucidar e, assim lá vou a caminho nostalgia, mas que facilmente é não volta atrás. Aproveitem enquanto do queimódromo. Mas antes disso, disfarçada. Vão ficar saudades? Vão, podem! como é já praticamente tradição, uma muitas mesmas. Memórias também Para o ano há mais? Há, mas é para paragem na portagem. Aqui carregam- (algumas um pouco enubladas). vocês, caros colegas, aproveitarem! RESISTANCE Junho 2011 16
  • 18. 16 Frames por segundo Fonte da Juventude, por mares revoltos e “Piratasdas sob encantos de malévolas sirenas, sempre escutando a fé do Senhor pela voz de um Caraíbas 4” marinheiro, que terá sido contagiado pelas novas tendências da época assentes no “Por Estranhas Marés” Cristianismo. Mas Sparrow acreditando na salvação da sua alma? Não nos parece, pois texto_Joana Paiva não? Sparrow, sim, acreditando que poderá A Fonte da Juventude: não, não se fala em salvar a sua pele, tirando-lhe alguns anos e Medicina Regenerativa, em elixires da arrumando-os na algibeira de um desgraçado rejuvenescência, nem sequer no Santo Graal, qualquer, motivação que, aliada à sua mas sim na nova saga de Jack Sparrow, o incessante sede de velejar por mares quer pirata desmedido, que por estranhas marés, de água salgada, quer de rum, decide desde descobre que a palavra “sentimentos” até lhe “jogar” ao críquete humano, em Londres, soa a algo familiar … e que adquire contornos com um ou dois guardas reais; tornar árvores reais e bem afeminados, surgindo na pele da alavancas contra Espanhóis; ou até brincar à voluptuosa Penélope Cruz, que dá a vida a magia negra com bonecos de trapos, só para Angelica, antiga paixão do ex-comandante avistar as refrescantes gotas da fonte profana de Black Pearl, e filha do temível Barba … conseguirá ele fazê-lo antes que os Negra, o terror dos mares personificado. Não restantes candidatos à vida eterna? Um filme deixando para trás o fervor latino, Angelica em que Johnny Depp surge esplendidamente, desperta em Sparrow um misto de paixão interpretando o pirata mítico só como ele o e despique; desejo e revolta; protecção e sabe fazer. Resta esperares para saber o resto júbilo, levando-o, consigo, em busca da do enredo, numa sala perto de ti… “Topas?” “Tree of life” texto_Joana Melo The Tree of Life é um filme americano da vida humana, não é um filme de fácil escrito e dirigido por Terrence Malick que interpretação. Terrence Malick mostra- se estreou no Festival de Cannes, nos um conjunto de imagens da natureza vencendo a Palma de Ouro de Melhor em bruto, do universo e do milagre da Filme e que conta com mais uma grande vida absolutamente incríveis e, como interpretação de Sean Penn (apesar de estas dão forma à nossa vida, quer como aparecer poucas vezes), de Brad Pitt seres individuais, quer com os outros. e Jessica Chastain. A Árvore da Vida Com tudo isto e uma trilha sonora muito acompanha o crescimento do filho mais bem enquadrada leva-nos dentro da nossa velho de uma família americana. Com uma consciência e memórias. Leva-nos a pensar mãe carinhosa, que aborda vários valores e a questionar a pureza com que vemos o importantes na educação de uma criança, mundo, nas nossas dúvidas existenciais Jack vê-se obrigado a partilhar esse amor e nas contradições religiosas. Por não incondicional com mais dois irmãos e a conhecer nada de Malick, não esperava que suportar a obsessão do pai em os preparar o filme tivesse tanta voz-off e nos levasse para a vida adulta de uma forma bastante continuamente às nossas experiências autoritária. Até ao dia em que um trágico pessoais e memórias. Contudo não fiquei acontecimento cai sobre esta família. Como desiludida, aliás bastante surpreendida e uma tese sobre o crescimento e a condição curiosa sobre os seus restantes filmes. 17 Junho 2011 RESISTANCE
  • 19. 16 Frames por segundo timer), uma jovem proveniente de uma famíl- “Match Point” texto_Joana Paiva ia rica, com a qual inicia um relacionamento sério. Um pouco antes, apaixona-se por Nola (Scarlett Johansson), namorada do irmão de “Match Point”: um filme sobre o que que- Chloe e, não resistindo aos encantos desta es- remos conquistar, ou melhor, sobre o que é trondosa mulher, mantém com ela um caso, possível perder, em que a ironia e o estilo enquanto permanece casado. Porém, Nola atípicos de Woody Allen triunfam brilhante- engravida de Chris, e este, receando perder mente. Um melodrama com uma história co- tudo o que adquiriu advindo da fortuna da mum, em que A ama B e, por sua vez, B ama família de Chloe, sente-se desnorteado e sem C, confluindo num jogo de mentiras, capri- saber o que fazer para evitar o desmoronar da chos e superficialidades que, mais uma vez, sua vida de luxúria… E é neste momento que torna o nome do realizador imortal, cumprin- se questiona: será que o jogo da vida ben- do com o seu desejo, pois este terá escrito, eficiará o lado da razão ou do coração? Só em tempos: “Não quero conquistar a imortal- o lado para o qual a bola tombará na rede o idade através do meu trabalho… Quero con- dirá… quistá-la não morrendo.” Falando de eterni- “Match Point”: uma prova evidente dade, o amor surge destoando neste cenário, que a vida é feita de infortúnios e deleites; sendo isto que se prova no enredo de “Match dias cinzentos e dias claros; de vitórias e der- Point”. Chris, professor de ténis (Jonathan rotas; e, sobretudo, de prontidão, do repen- Rhys Meyers), conhece Chloe (Emily Mor- tino com que as fatalidades acontecem… de Berlin, correrias constantes, e lutas corpo a “Unknown” corpo o que torna um bom filme para os amantes do género. Para outros pode-se tornar deveras texto_João Nogueira irritante devido ás suas incongruências na Depois de Taken (2008) Liam Neeson mostra- história. O facto de contar com actores como se mais uma vez como (improvável) estrela Bruno Ganz, Frank Langella e Diane Kruger de acção, a correr contra o tempo e a tirania. trás uma certa riqueza ao plot. Certas partes Este filme realizado por Jaume Collet-Serra do filme são mesmo coroadas com muitos (Orphan) é mais um thriller engraçado que boas interpretações que interrompem a acção retrata a história de Dr. Harris (Liam Neeson) estonteante, estamos sempre á espera que uma que após aterrar em Berlim na companhia porta vá pelos ares ou um carro expluda sabe- da sua mulher (January Jones) perde a sua se lá vindo de onde. Dos poucos momentos memória e a sua vida, já que aparentemente ricos que o filme tem, em conjunto com o nem a sua própria mulher o reconhece. O puzzle montado á volta da trama, mostram filme é característico pela sua acção visual, o potencial de realização de Thrillers por com perseguições a alta velocidade pelas ruas Collet-Serra “Piratas das “Match “Tree of Life” “Unknown” caraíbas” Point” Joana Paiva Joana Melo João Nogueira RESISTANCE Junho 2011 18
  • 20. 78 rotações por minuto Tame Impala Mayra Andrade Innerspeaker Stória, stória... Os Tame Impala são um quarteto composto por baixo, bateria e duas guitarras, que está no activo desde 2007. O nome é uma referência ao antílope australiano, continente de onde são originários. Descrevem-se como uma banda de “psychadelic hypno-groove melodic rock music” e Em ocasião de digressão mundial e de passagem por apostam na profundidade e textura de um som que nos Portugal, é oportuno chamar a atenção para Mayra transporta para um ambiente sonhador e aéreo. Andrade. Para quem ainda não conhece, é boa altura para Innerspeaker é o seu álbum de estreia, lançado em ouvir esta cantora cabo-verdiana baseada em Paris, que finais de 2010. A sonoridade da parte instrumental é ganhou muito recentemente o prémio BBC Radio 3 World reminiscente das décadas 60/70 o que, aliado ao timbre Music na categoria Revelação. Já é hábito vermos surgir e harmonizações das vozes, quase nos deixam fora de grandes talentos deste acolhedor arquipélago, e é com época, numa nostalgia feliz. É, aliás, a intrusão entre Mayra Andrade que se testemunha a riqueza do património os instrumentos que reforçam a sonoridade vintage do musical africano, português e brasileiro. Mas não só: o álbum. timbre enrouquecido da sua voz traz um certo romantismo Para uma breve ideia do que isto pode significar, ouçam- francês como ingrediente extra e a óptima prestação dos se os primeiros riffs de “Solitude is Bliss”, e dificilmente músicos satisfaz qualquer amante de jazz. O seu último não se terá vontade de ouvir até ao fim; ouça-se também trabalho de originais, “Stória, stória…” é já o seu segundo “Desire Be Desire Go” com uma melodia em devaneio, álbum editado, e conta com temas em português, francês, ou a viagem de ritmo pulsante de “Alter Ego”. mas sobretudo crioulo. Todas as raízes africanas misturadas Comparações com The Doors, Jefferson Airplane com influências do seu percurso no Senegal, Alemanha e e principalmente com os The Beatles tornaram-se França, criam uma mistura de ritmos brasileiros, melodias inevitáveis pelos críticos do meio. Mas os fãs acreditam cubanas (onde nasceu), harmonias trabalhadas e um groove que o grupo tem uma assinatura própria, apesar de numa quente e sensual, como quem tem o ambiente de Cabo primeira impressão parecerem pouco aventureiros, e Verde no sangue. Temas como a balada envolvente “Odjus esperam-se grandes coisas deste quarteto no futuro. Fitchádu”, ou o encontro entre a clave cubana, a bossa nova Têm andado em digressão pelo mundo, e como não podia e o samba, “Turbulensa”, aliados à forte presença em palco deixar de ser, passam por Portugal no dia 14 de Julho, da belíssima cantora, são razões de sobra para assistir às no palco EDP do festival Super Bock Super Rock. A não suas actuações em Portugal (dias 8, 9 e 10 de Junho, em perder! Serpa, Figueira da Foz e Tróia, respectivamente). texto_Inês Ochoa texto_Inês Ochoa 19 Junho 2011 RESISTANCE
  • 21. 78 rotações por minuto Foo Fighters Wasting Light texto_João Borba Após um interregno de cerca de 4 anos desde o último trabalho (Echoes, Silence, Patience & Grace, 2007), os americanos Foo Fighters voltam ao activo com um novo álbum: Wasting Light. Dave Grohl, já antes do lançamento deste, prometeu que Wasting Light seria o álbum mais pesado da banda até à data, e que não existiriam baladas neste. O que acabou a ser um comentário que despertou alguma curiosidade e expectativa, em saber até quando e como o potencial da banda em termos de barulho seria espremido. E Wasting Light não engana, é hard rock, puro e duro. Desde logo a primeira faixa, “Bridge Burning” é uma óptima maneira de começar o álbum, ao mesmo tempo que funciona como um prenúncio do caminho que o álbum leva. “White Limo”, eventualmente, é a música mais pesada da banda, com o riff roubado aos Metallica e uma voz imperceptível, mas cheia de garra. Sem dúvida, um dos melhores momentos do álbum. Mas sem desligar os amplificadores, ainda temos as melódicas “Dear Rosemary” e “These Days”, o cheiro a bom single de “Back and Forth”, a raiva de “A Matter Of Time” e os poros de psicadelismo presentes em “I Should Have Known”. Ainda de destacar o tema “Walk”, não só pelo trabalho lírico, como também pela maneira encorajadora em como acaba o álbum. Pena o álbum também possuir momentos menos bons, como “Rope”, um filler que apela ao mainstream e as desgarradas “Arlandria” e “Miss The Misery”. No final das contas, Wasting Light parece o método mais eficiente por parte dos Foo Fighters de partir os pratos, de libertar todas as energias acumuladas durante estes últimos 15 anos. Mas Wasting Light também continua a ser aquilo a que os Foo Fighters sempre nos habituaram: sólidos, energéticos e razoavelmente consistentes. E enquanto for assim, será difícil ficar insatisfeito. PS: Queria relembrar que a tour de promoção ao álbum já está em andamento, e os Foo Fighters serão cabeças-de- cartaz no segundo dia do festival de Verão Optimus Alive! ’11 (6 a 9 de Julho), a ser realizado em em Algés. Pat Metheny & Charlie Haden Beyond the Missouri Sky texto_Nuno Ferreira Um disco totalmente acústico e instrumental repleto de sonoridades paisagísticas e de histórias à volta da fogueira. Os dois autores e intérpretes encontram-se num registo diferente do que lhes é mais familiar, mas a diferença é talvez mais acentuada no que diz respeito a Pat Metheny que é mais conhecido pelo som da sua guitarra eléctrica no Jazz de Fusão. A faixa “Our Spanish Love Song” é um dos pontos altos do disco, trazendo uma calma arrepiante, que só o som do contrabaixo de Haden consegue transmitir, aliada ao fraseado característico de Metheny que apesar de tudo não consegue evitar algumas das suas malhas mais conhecidas (4:39 é o exemplo perfeito com a Pat Metheny Lick do “All The Things You Are”). A não perder também é a interpretação do tema de Ennio Morricone “Cinema Paradisio (Love Theme)”. RESISTANCE Junho 2011 20