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Gilberto Cotrim 2
História
Global
Global
MANUAL DO PROFESSOR
COMPONENTE
CURRICULAR
HISTîRIA
2º ANO
ENSINO MÉDIO
2
Gilberto Cotrim
Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP)
Licenciado em História pela Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo (USP)
Mestre em Educação, Arte e História da Cultura
pela Universidade Mackenzie
Professor de História na rede particular de ensino
Advogado
História
Global
3ª
- edição
São Paulo, 2016
Componente
CurriCular
HISTÓRIA
2º ano
EnSIno mÉdIo
Manual do Professor
Diretora editorial Lidiane Vivaldini Olo
Gerente editorial Luiz Tonolli
Editor responsável Kelen L. Giordano Amaro
Editores Luciana Martinez, Ana Pelegrini, Carlos Eduardo de Almeida Ogawa
Editor assistente Adele Motta
Assessoria técnico-pedagógica Gabriel Farias Rodrigues, Giordana Cotrim
Gerente de produção editorial Ricardo de Gan Braga
Gerente de revisão Hélia de Jesus Gonsaga
Coordenador de revisão Camila Christi Gazzani
Revisores Carlos Eduardo Sigrist, Cesar G. Sacramento, Luciana Azevedo, Sueli Bossi
Produtor editorial Roseli Said
Supervisor de iconografia Sílvio Kligin
Coordenador de iconografia Cristina Akisino
Pesquisa iconográfica Daniela Ribeiro, Angelita Cardoso
Licenciamento de textos Erica Brambila, Paula Claro
Coordenador de artes José Maria de Oliveira
Capa Carlos Magno
Design Luis Vassalo
Edição de arte Carlos Magno
Diagramação Estúdio Anexo
Assistente Bárbara de Souza
Cartografia Sidnei Moura, Studio Caparroz
Tratamento de imagens Emerson de Lima
Protótipos Magali Prado
077642.003.001 Impressão e acabamento
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo utilizado apenas para fins didáticos,
não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.
História Global, 2o
ano (Ensino Médio)
© Gilberto Cotrim
Direitos desta edição: Saraiva Educação Ltda., São Paulo, 2016
Todos os direitos reservados
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Cotrim, Gilberto
História global 2 / Gilberto Cotrim. -- 3. ed. --
São Paulo : Saraiva, 2016.
Obra em 3 v.
Suplementado pelo manual do professor.
Bibliografia.
ISBN 978-85-472-0567-6 (aluno)
ISBN 978-85-472-0568-3 (professor)
1. História (Ensino médio) I. Título.
16-03506 CDD-907
Índices para catálogo sistemático:
1. História : Ensino médio 907
Avenida das Nações Unidas, 7221 – 1º andar – Setor C – Pinheiros – CEP 05425-902
Pedestres caminham na
região do Pelourinho, em
Salvador, Bahia. Fotografia
de 2013 de Sérgio Pedreira
(Pulsar Imagens).
2
Esta obra apresenta uma visão geral de alguns con-
teúdos históricos sobre diversas sociedades e culturas,
com destaque para aqueles sobre o Brasil. A proposta é
convidá-lo a refletir sobre o fazer histórico e dele parti-
cipar ativamente.
Nos vários percursos desta obra, foi realizada uma
seleção de temas e interpretações históricas. No entan-
to, outros caminhos podem ser trilhados. Por isso, este
livro deve ser debatido, questionado e aprimorado por
suas pesquisas.
Espero que, ao estudar História, você possa am-
pliar a consciência do que fomos para transformar o
que somos.
O autor
Caro estudante
3
Abertura de unidade
Apresenta texto e imagem,
sempre acompanhada de
legenda, que conversam
com temas abordados nos
capítulos da unidade, por
vezes estabelecendo relações
entre o passado e o presente.
As atividades da seção
Conversando dialogam
com o tema da abertura,
muitas vezes trabalhando os
conhecimentos prévios e as
vivências dos estudantes.
Abertura de capítulo
Procura atrair a atenção dos
estudantes para o tema histórico
que será estudado. Apresenta
um breve texto que sintetiza o
conteúdo do capítulo, uma imagem
acompanhada de legenda e a seção
Treinando o olhar, que propõe
atividades de leitura da imagem,
muitas vezes estabelecendo relações
com História da Arte.
Conheça o livro
Vendedores de capim e de leite, obra de Jean-Baptiste Debret, produzida entre 1834 e
1839. Na imagem, um escravo, à esquerda, carrega um pesado feixe de capim-de-
-angola, que era muito utilizado para alimentar os cavalos no Brasil Colonial. À direita,
três escravos vendem leite, bebida amplamente consumida com café e chá.
UNIDADE
1
O trabalho é uma atividade típica do ser hu-
mano e está profundamente ligado à história
de cada sociedade. Por meio dele, construímos
culturas, produzindo bens materiais e não ma-
teriais. No entanto, o trabalho também pode
ser fonte de castigo e sofrimento.
No Brasil Colônia, milhões de africanos, afro-
descendentes e indígenas foram submetidos à
escravidão, que é uma das formas mais extremas
de exploração humana. Mas eles resistiram a
esta dominação e se rebelaram de vários modos.
A presença dos africanos e indígenas foi de-
cisiva na construção do Brasil. Eles produziram
saberes, artes e ofícios que estão presentes na
cultura brasileira.
A escravidão foi abolida, mas a cidadania
precisa ser ampliada.
1. “O trabalho está associado a ter, ser e
valer.” Reflita sobre essa frase e procure
explicar por que, no Brasil atual, existem
alguns trabalhos que têm mais prestígio
social do que outros.
2. Qual profissão você quer ter no futuro?
Procure explicar os motivos de sua escolha.
Trabalho e
sociedade
JEAN-BAPTISTE
DEBRET.
VENDEDORES
DE
CAPIM
E
DE
LEITE.
1834-1839/COLEÇÃO
PARTICULAR
8 9
Revolução Francesa e
Era Napoleônica
Liberdade, igualdade e fraternidade foram princípios da Revolução Francesa, que se
difundiram pelo mundo como bandeira de vários movimentos sociais.
Será que esses princípios tornaram-se direitos conquistados ou permanecem como
objetivos a serem atingidos?
• Observando essa obra, é possível notar a presença dos vários grupos sociais
que atuaram na Revolução Francesa? Justifique.
A guarda nacional de Paris em armas em setembro de 1792. Óleo sobre tela, de Léon Cogniet, 1834. Pertence ao acervo do
Museu Nacional do Palácio de Versalhes, na França.
COGNIET
LÉON.
LA
GARDE
NATIONALE
DE
PARIS,
RASSEMBLÉE
SUR
LE
PONT
NEUF,
PART
POUR
L’ARMÉE
EN
SEPTEMBRE
1792.
1833-1836.
133
CAPÍTULO 11 Revolução Francesa e Era Napoleônica
CAPÍTULO
11
sabotavam a produção, quebrando ferramentas ou
incendiando plantações. Na produção do açúcar, por
exemplo, a sabotagem dos escravos era uma ameaça
constante. Pedaços de madeira em brasa lançados nos
canaviais provocavam incêndios; pedaços de ossos,
ferro ou pedra jogados na moenda do engenho por
vezes inutilizavam o maquinário, comprometendo a
produção e até mesmo arruinando a safra.
• Negociações – as “negociações” entre senhores e
escravos também faziam parte do cotidiano escravis-
ta. Segundo os historiadores João José Reis e Eduardo
Silva, muitos escravos faziam acordos de cumprir as
exigências de obediência e trabalho em troca de um
melhor padrão de sobrevivência (alimentos, vestuá-
rios, saúde) e da conquista de espaço para a expressão
de sua cultura, organização de festas etc.5
Luta dos africanos
As diversas formas de resistência à escravidão
Os africanos trazidos para o Brasil e seus des-
cendentes não ficaram passivos à condição escrava.
Analisando as formas de resistência empregadas pe-
los cativos, autores de obras mais recentes mostram
que os africanos reagiram à escravidão na medida de
suas possibilidades, ora promovendo uma luta aberta
contra o sistema, ora até mesmo se “adaptando” a
certas condições, mas propondo formas de minimizar
seus aspectos mais perversos mediante negociações
com os senhores.
Vejamos algumas das formas de resistência viven-
ciadas por eles:
• Violência contra si mesmos – algumas mulheres,
por exemplo, provocavam abortos para evitar que
seus filhos também fossem escravos; outros cativos
chegavam a praticar o suicídio, enforcando-se ou
envenenando-se.
• Fugas individuais e coletivas –
as fugas eram constantes. Alguns
escravos fugidos buscavam a pro-
teção de negros livres que viviam
nas cidades; outros, para dificultar
a captura e garantir a subsistência,
formavam comuni-
dades, chamadas
quilombos, com
organização social
própria e uma rede
de alianças com di-
versos grupos da
sociedade.
• Confrontação, boicote e sabota-
gem – alguns se rebelavam e agiam
com violência contra senhores e fei-
tores; boicotavam os trabalhos, redu-
zindo ou paralisando as atividades;
5 Cf. REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
Quilombo:
palavra
de origem
africana que
significa
população,
união.
Comunidade remanescente de quilombo Kalunga Vão do Moleque durante um festejo.
A comunidade está localizada no município de Cavalcante (GO). Fotografia de 2015.
RICARDO
TELES/PULSAR
IMAGENS
Investigando
 No mundo atual, existem casos de trabalhadores submetidos a condições análogas à de escravidão. Que
mecanismos podem ser acionados para acabar com essa situação de violência? Há organizações e projetos
que combatem o trabalho escravo em nosso país? Pesquise.
50 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
• Observe o mapa e identifique
em quais dos atuais estados se
concentrou a criação de gado,
contribuindo para o seu povoa-
mento durante o século XVIII.
Observar o mapa
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel
Maurício de et al. Atlas histórico
escolar. 8. ed. Rio de Janeiro:
MEC/Fename, 1986. p. 32.
SIDNEI
MOURA
Expansão territorial provocada
pela pecuária (século XVIII)
Investigando
• Você consome leite e seus derivados? Observe a embalagem desses alimentos e responda: em que cidade são
produzidos? Quais são os principais nutrientes encontrados no leite?
A propósito da importância da produção de couro no período da expansão da
pecuária, o historiador Capistrano de Abreu (1853-1927) fala da existência de uma
“época do couro”:
De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro,
e mais tarde a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha
para carregar água, o mocó ou alforje para levar comida, a maca para
guardar roupa, a mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em
viagem, as bainhas de faca, [...] surr›es, a roupa de entrar no mato [...].
ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988. p. 170.
Posteriormente, por volta de 1780, surgiu a indústria do charque, que abriu no-
vas possibilidades ao comércio da carne. Essa indústria desenvolveu-se rapidamente,
impulsionada pelo crescente consumo. Suas instalações constituíam-se basicamente
de um galpão, onde se preparava e salgava a carne, e de secadores ao ar livre.
A produção de leite era pouco desenvolvida e estava longe de rivalizar com a
existente em Minas Gerais. Em compensação, o sul, favorecido pelas baixas tem-
peraturas, era a única região produtora e consumidora de manteiga.
Além do gado bovino, foi significativa no Rio Grande do Sul a criação de
cavalos e, principalmente, de mulas (muares). Muito exportadas para a região de
Minas Gerais, as mulas tornaram-se importante meio de transporte nos terrenos
acidentados e montanhosos das áreas mineradoras.
Rio Amazonas
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Rio Japurá
Rio Pu
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Jacuí
Rio Solimões
60º O
10º S
Área de pecuária
Limite atual do
território brasileiro
Meridiano
de
Tordesilhas
0 239 km
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
PACÍFICO
Mocó: bolsa de tiracolo
para guardar pequenas
provisões.
Alforje: saco duplo para
transportar objetos.
Peia: corda para prender
o cavalo.
Surrão: bolsa ou saco de
couro usado para guar-
dar alimentos.
Charque: nome sulino
da carne bovina cortada
em mantas, salgada e
seca ao sol (o mesmo
que jabá ou carne-seca).
78 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Glossário
Pequenas notas explicam os
significados de termos em
destaque no texto.
Textos e imagens
Procuram organizar e promover
alguns conhecimentos históricos.
Os temas abordados devem ser
investigados, debatidos e ampliados.
As imagens complementam o texto
principal e explicitam aspectos dele.
Investigando
As atividades deste boxe
aproximam os temas históricos
das vivências dos estudantes,
promovendo a cidadania e o
convívio solidário.
Observar o mapa
Esta seção apresenta atividades
que trabalham a leitura dos mapas
apresentados no capítulo.
4
Interpretar fonte
Esta seção propõe a análise de fonte
histórica escrita ou não escrita,
estimulando a interpretação e a
reflexão. Procura aproximar os
estudantes do ofício do historiador.
Em destaque
Esta seção apresenta
textos que ampliam os
assuntos estudados e/ou
que apresentam diferentes
versões históricas. Em
muitos casos, os textos são
acompanhados por imagens
contextualizadas.
Oficina de História
Localizada ao final de cada capítulo, reúne
diferentes tipos de atividades que visam promover
a autonomia e o pensamento crítico dos
estudantes. As atividades estão agrupadas em:
Vivenciar e refletir – propõe atividades de
pesquisa, experimentação e debate.
Diálogo interdisciplinar – propõe atividades
que realizam diálogos entre a História e outros
componentes curriculares.
De olho na universidade – apresenta questões
de vestibulares de diferentes regiões do país e do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
No último capítulo de cada unidade, o Para
saber mais indica livros, sites e filmes relacionados
a conteúdos trabalhados na unidade. As
indicações são acompanhadas de atividades.
Projeto temático
Encontra-se ao final do volume e propõe atividades experimentais e/ou
interdisciplinares, que trabalham com procedimentos de pesquisa. Pode ser
desenvolvido no decorrer do ano e está relacionado a assuntos abordados ao
longo do livro.
este livro não é consumível.
Faça todas as atividades
em seu caderno.
NÃO ESCREVA NO LIVRO
FA‚A NO
Oficina de História
Vivenciar e refletir
1. Leia um trecho do documento chamado “Carta de
Jamaica”, escrito por Simón Bolívar em 1815.
Os acontecimentos de Terra Firme nos
provaram que as instituições verdadeira-
mente representativas não são adequadas
ao nosso caráter, costumes e conhecimen-
tos atuais. Em Caracas, o espírito de parti-
do teve sua origem nas sociedades, assem-
bleias e eleições populares, e estes partidos
nos levaram à escravidão. Assim como a
Venezuela tem sido a república america-
na que mais tem aperfeiçoado suas insti-
tuições políticas, também tem sido o mais
claro exemplo da ineficácia da forma de-
mocrática e federal para nossos nascentes
Estados. [...] Enquanto nossos compatrio-
tas não adquirirem os talentos e as vir-
tudes políticas que distinguem os nossos
irmãos do norte, temo que os sistemas
inteiramente populares, longe de nos se-
rem favoráveis, venham a ser nossa ruína.
Infelizmente estas qualidades, na medida
requerida, parecem estar muito distantes
de nós; pelo contrário, estamos dominados
pelos vícios que se contraem sob a direção
de uma nação como a espanhola, que ape-
nas se tem sobressaído em crueldade, am-
bição, vingança e cobiça.
BOLÍVAR, Simón. “Carta de Jamaica”.
In: Simón Bolívar: política. São Paulo: Ática, 1983. p. 84.
a) Pela leitura do texto, Bolívar era favorável à im-
plantação de sistemas inteiramente populares
na América Espanhola? Como Bolívar justifica
sua posição?
b) A quem Bolívar se refere com a expressão “ir-
mãos do norte”?
2. No texto seguinte, a historiadora Maria Ligia Prado
analisa as diferentes concepções de liberdade dos di-
versos agentes que participaram das independências:
Liberdade [...] não é um conceito en-
tendido de forma única; tem significados
diversos, apropriados também de formas
particulares pelos diversos segmentos da
Diálogo interdisciplinar
4. Observe acima a escultura Mão, do arquiteto Oscar
Niemeyer (1907-2012) e responda:
a) Descreva a escultura, atentando-se para todos
os detalhes. Procure responder: O que seria essa
forma em vermelho que se encontra no meio da
obra e vai até o chão?
b) Segundo Niemeyer, “suor, sangue e pobreza
marcaram a história desta América Latina tão
desarticulada e oprimida. Agora urge reajustá-la
num monobloco intocável, capaz de fazê-la inde-
pendente e feliz”. (Disponível em: http://www.
memorial.sp.gov.br/memorial/AgendaDetalhe.
do?agendaId=1897. Acesso em: 10 dez. 2015.)
Que relações podemos estabelecer entre essa
frase e a escultura? Comente.
c) Inspirado nas imagens do capítulo, crie uma re-
presentação artística (desenho, música, escultu-
ra, montagem com fotografias etc.) sobre a in-
dependência das colônias espanholas e do Haiti.
De olho na universidade
5. (UFJF) A respeito do processo de independência na
América espanhola, é incorreto afirmar que:
a) a invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas
levou à reorganização do comércio das colônias,
favorecendo a desarticulação do pacto colonial e
a implantação de práticas comerciais mais livres.
b) a Inglaterra ofereceu apoio à independência das
colônias espanholas, pois via na região uma pos-
sibilidade de ampliação dos mercados para seus
produtos industrializados.
c) os índios lutaram contra a independência e para
a manutenção do trabalho forçado, pois viam
no sistema colonial a única maneira de preser-
vação de suas atividades econômicas.
d) os criollos pretendiam romper o exclusivo colo-
nial, mas não pretendiam encaminhar uma alte-
ração na estrutura social das colônias.
e) a emergência de uma revolução liberal na Espa-
nha dificultou o envio de tropas para as colô-
nias, favorecendo o processo de independência.
sociedade. Para um representante da classe
dominante venezuelana, Simón Bolívar, li-
berdade era sinônimo de rompimento com
a Espanha, para a criação de fulgurantes
nações livres que seriam exemplos para o
resto do universo. Mas, principalmente,
nações livres para comerciar com todos
os países, livres para produzir, única pos-
sibilidade, segundo essa visão, do desabro-
char do Novo Mundo.
Já para Dessalines, o líder da revolução
escrava do Haiti [...], a liberdade, antes de
tudo, queria dizer o fim da escravidão, mas
também carregava um conteúdo radical de
ódio aos opressores franceses. [...]
Para outros dominados e oprimidos,
como os índios mexicanos, a liberdade pas-
sava distante da Espanha e muito próxima
da questão da terra. Na década de 1810, os
líderes da rebelião camponesa mexicana
[...] clamavam por terra para os deserda-
dos. Seus exércitos [...] lutaram para que a
terra, inclusive a da Igreja, fosse dividida
entre os pobres.
PRADO, Maria Ligia. A formação das nações
latino-americanas. São Paulo:
Atual, 1997. p. 13-14.
De acordo com a interpretação de Maria Ligia Pra-
do, qual era o significado de “liberdade” para Simón
Bolívar? E para Dessalines? E para os indígenas mexi-
canos? Compare as diversas concepções e indique as
semelhanças e as diferenças entre elas.
3. Pesquise em diferentes meios de comunicação
imagens de um mesmo movimento popular. Apre-
sente e debata com seus colegas a maneira como
o movimento popular que você escolheu foi re-
presentado em cada órgão de imprensa. Em segui-
da, com base no que estudamos neste capítulo e
nos anteriores, reflita sobre o seguinte tema:
“Os papéis das elites dominantes (políticas e econô-
micas) e dos movimentos populares nos processos
históricos. Qual é a diferença?”.
Depois, participe de um debate sobre o assunto, ou-
vindo a opinião dos colegas e expressando a sua visão.
Escultura Mão, de Oscar Niemeyer, localizada no Memorial da
América Latina, em São Paulo (SP). Fotografia de 2009.
G.
EVANGELISTA/OPÇÃO
BRASIL
IMAGENS
Para saber mais
Na internet
• A história da energia: https://www.youtube.com/
watch?v=U3-OsY4C39o
Vídeo-documentário da série Ordem e desordem, produzida
pela BBC. Narra as descobertas e invenções relacionadas ao
conceito de energia.
Em grupos, elaborem um relatório sobre o vídeo destacando os
usos e aplicações da energia a partir da Revolução Industrial.
(Acesso em: 10 dez. 2015.)
Nos livros
• FORTES, Luiz R. Salinas. O Iluminismo e os reis filó-
sofos. São Paulo: Brasiliense, 1993.
Escrito por um filósofo brasileiro especialista no pensamento
de Jean-Jacques Rousseau, o livro analisa os significados e o
alcance do Iluminismo, bem como sua influência na política
no século XVIII.
Em grupos, elaborem um breve texto dissertativo relacionan-
do as ideias de um pensador iluminista a um dos temas abor-
dados nesta unidade.
Nos filmes
• Libertador. Direção de Alberto Arvelo. Venezuela/
Espanha, 2014, 123 min.
Filme sobre a vida do líder militar e político Simón Bolívar.
Assista ao filme procurando analisar algumas características
atribuídas ao protagonista. Em seguida, debata com seus
colegas: Simón Bolívar foi representado como um “herói
nacional”?
158 159
UNIDADE 2 Súdito e cidadão CAPÍTULO 12 Independências na América Latina
O mural A Guerra da Independência do México foi criado pelo artista Diego Rivera em 1910. Em
suas obras, Rivera procurava representar os indígenas e as pessoas mais pobres como protagonistas e
não apenas como espectadores de sua história.
Na parte superior do mural, há uma faixa com o lema “Tierra y Libertad” (Terra e Liberdade), que
foi usado por camponeses e indígenas tanto nas lutas pela independência como na Revolução Mexica-
na de 1910. Com isso, o artista estabeleceu relações entre as lutas do passado e as lutas de sua época.
Na parte inferior do mural, há uma grande águia, que simboliza a fundação de Tenochtitlán. Essa
cidade era sede do império asteca e sobre ela foi construída a atual Cidade do México.
Interpretar fonte A Guerra da Independência do México
Detalhe do afresco A Guerra da Independência do México, que se encontra no Palácio Nacional, na
Cidade do México.
THE
BRIDGEMAN
ART
LIBRARY/KEYSTONE
BRASIL
 Com suas palavras, explique a frase: “Rivera procurava representar os indígenas e as pessoas mais pobres
como protagonistas e não apenas como espectadores de sua história”.
154 UNIDADE 2 Súdito e cidadão
OCEANO
ATLÂNTICO
50º O
10º S
Em 1500
Em 2008
Atual divisão política do Brasil
Limites atuais do Brasil
0 328 km
Em destaque Devastação ambiental
A devastação do meio ambiente começou cedo no território do país onde vivemos. Teve início
com a extração de pau-brasil, logo nos primeiros anos de colonização. Como resultado da intensa
extração, em poucas décadas o pau-brasil começou a escassear. O mesmo destino tiveram muitas
árvores frutíferas, derrubadas sem preocupação com o replantio. Para a historiadora Laima Mesgravis,
[...] o maravilhoso patrimônio da natureza, onde os índios viviam em harmonia com seu
espaço e que tanto deslumbrou os primeiros observadores, incentivou, até certo ponto, a
crença da abundância fácil, sem trabalho, infindável.
MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 1989. p. 62.
Atualmente, temos consciência
de que, apesar de imensos, os recur-
sos florestais brasileiros não são ines-
gotáveis. Calcula-se que, em 1500, a
mata Atlântica ocupava uma faixa de
1 milhão de quilômetros quadrados.
Atualmente, restam apenas 8% dessa
área, espalhados em matas que, em
boa parte, se localizam em proprieda-
des particulares.
Estima-se que somente no século
XVI tenham sido derrubados aproxi-
madamente 2 milhões de árvores, de-
vastando cerca de 6 mil quilômetros
quadrados da mata Atlântica.
Depois [da extração do pau-
-brasil] vieram cinco séculos de
queimada. A cana, o pasto, o
café, tudo foi plantado nas cin-
zas da Mata Atlântica. Dela saiu
a lenha para os fornos dos en-
genhos de açúcar, locomotivas,
termelétricas e siderúrgicas.
CORREIA, Marcos Sá. In: Veja. São Paulo: Abril,
n. 51, 24 dez. 1997. p. 81. Suplemento Especial.
Fonte: Mapas SOS Mata Atlântica.
Disponível em: http://mapas.sosma.org.br.
Acesso em: 27 out. 2015.
Distribuição da mata Atlântica
(1500-2008)
SIDNEI
MOURA
1. De acordo com o texto, quais foram as principais consequências da exploração econômica indiscrimina-
da realizada pelos europeus nas áreas litorâneas do Brasil?
2. Identifique, no mapa, as regiões que apresentavam áreas cobertas pela mata Atlântica em 1500 e as que
não possuem mais essa cobertura.
14 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Projeto temático
Dimensões do trabalho
280 281
Nos projetos temáticos, vocês irão realizar atividades experimentais que problema-
tizam a realidade e ajudam a pensar historicamente.
O tema deste projeto é o trabalho e suas dimensões. Para desenvolvê-lo, propõe-se
a elaboração de uma revista sobre as dimensões do trabalho no Brasil.
Reúnam-se em grupos e leiam as orientações a seguir.
1. A revista deve contar com seis seções: capa, matéria, entrevista, charge, resenha de
filme e editorial.
2. Utilizando as sugestões de pesquisa encontradas nas próximas páginas, redijam uma
matéria (texto jornalístico) sobre um dos temas listados a seguir:
• alguns marcos dos direitos trabalhistas no Brasil, como o surgimento da Consoli-
dação das Leis Trabalhistas (CLT);
• o ingresso dos jovens no mercado de trabalho – possibilidades e dificuldades;
• as mulheres no mercado de trabalho;
• formas de trabalho escravo no mundo contemporâneo;
• a escolha da profissão e a construção da identidade.
4. Criem uma charge inspirando-se em uma cena de trabalho da sua cidade.
5. Escrevam uma resenha sobre um filme que aborde o tema do trabalho. Há diversas
sugestões de vídeos e filmes nas páginas 282 e 283. Para elaborar a resenha:
• apresentem uma ficha técnica do filme contendo título, local e ano de produção,
diretor, atores principais, livro em que o roteiro se baseou (se for o caso), entre
outras informações;
• analisem como o mundo do trabalho foi representado no filme. Procurem obser-
var elementos como personagens, cenários e trilha sonora, caso se trate de ficção,
ou entrevistas e imagens de arquivo, se for um documentário.
6. Elaborem um editorial inspirando-se nas seguintes questões:
• qual é a visão de vocês a respeito do mundo do trabalho?;
• por que é importante refletir sobre o mundo do trabalho?
7. Criem uma capa com os seguintes elementos: nome da revista, manchete e imagem
que atraia a atenção do leitor para um de seus conteúdos.
8. Montem a revista reunindo capa, editorial e miolo (matéria, entrevista, charge e
resenha do filme).
9. Apresentem a revista aos colegas e expliquem o que vocês aprenderam com esse
projeto.
Feirante trabalhando na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 2006.
ISABEL
SÓ/OPÇÃO
BRASIL
IMAGENS
Três advogados se reúnem para examinar documentos.
CAIAIMAGE/GETTY
IMAGES
3. Entrevistem uma pessoa adulta que já tenha alguma
experiência no mercado de trabalho e explorem a
compreensão da relação das pessoas com o mundo
do trabalho. As perguntas abaixo podem ser utiliza-
das como roteiro para a entrevista:
• qual é seu nome, sua idade, sua nacionalidade e sua
escolaridade?;
• você trabalha ou já trabalhou? Com o quê? Você
sempre quis trabalhar com isso?;
• quando você começou a trabalhar? Por quê?;
• você já ficou desempregado? Por quanto tempo?
Como se sentiu nessa época?;
• como costuma passar seu tempo livre? Gostaria de
ter mais tempo livre? Por quê?;
• você se sente feliz com seu trabalho? Você se sente va-
lorizado em seu ambiente de trabalho? Exemplifique.;
• além do seu sustento, o que esse trabalho pode
proporcionar para você?;
• que conselho você daria para um jovem que vai co-
meçar a trabalhar?;
• você já pensou na aposentadoria? O que pretende
fazer quando se aposentar?;
• que história relacionada ao seu trabalho você con-
sidera marcante?
280 281
5
Sumário
Unidade 1
Trabalho e sociedade
Capítulo 1 - Mercantilismo e colonização 10
Mercantilismo: Política econômica do Estado moderno 11
Colonialismo: A dominação das metrópoles sobre as colônias 11
Primeiras expedições: Reconhecimento das terras e das gentes 12
Colonização: A decisão de ocupar a terra 15
Oficina de História 18
Capítulo 2 - Estado e religião 20
Capitanias hereditárias: Início da administração colonial 21
Governo-geral: A busca da centralização administrativa 23
Alternâncias na administração: Centralizações e descentralizações do
governo 25
Padroado: Vínculos entre governo e Igreja Católica 27
Oficina de História 30
Capítulo 3 - Sociedade açucareira 32
Açúcar: A implantação de um negócio lucrativo 33
Engenho: Núcleo econômico e social 33
Mercado interno na colônia: A pecuária e produções agrícolas
variadas 35
Mão de obra: A escravização de milhões de africanos 36
Oficina de História 38
Capítulo 4 - Escravidão e resistência 40
Tráfico negreiro: O comércio de vidas humanas 41
Diversidade: Povos africanos e suas condições de vida 47
Luta dos africanos: As diversas formas de resistência à escravidão 50
Oficina de História 54
Capítulo 5 - Holandeses no Brasil 56
União Ibérica: Portugal e Espanha sob a mesma Coroa 57
Invasões holandesas: Lutas pelo controle do negócio açucareiro 59
Portugal após a União Ibérica: Problemas econômicos e
sociais 64
Oficina de História 66
Capítulo 6 - Expansão territorial 68
Povoamento: A marcha da colonização 69
Expedições militares: Expansão patrocinada pelo governo 70
Bandeirismo: Expansão patrocinada por particulares 71
Jesuítas: A fundação de aldeamentos no interior 74
Pecuária: O povoamento do sertão nordestino e do sul 77
Tratados e fronteiras: Os acordos internacionais sobre o território
colonial 79
Oficina de História 80
Capítulo 7 - Sociedade mineradora 82
Enfim, muito ouro: A realização do velho sonho português 83
Controle: A administração das minas pelo governo 86
Sociedade do ouro: Desenvolvimento da vida urbana em Minas
Gerais 88
Crise da mineração: O declínio da produção aurífera 89
Oficina de História 92
Unidade 2
Súdito e cidadão
Capítulo 8 - Antigo Regime e Iluminismo 96
O Antigo Regime: Vida social e política na Europa
moderna 97
Iluminismo: A razão em busca de liberdade 100
Pensadores iluministas: Diversidade de ideias e objetivos 102
Despotismo esclarecido: Absolutismo e algumas reformas
sociais 106
Oficina de História 108
Capítulo 9 - Inglaterra e Revolução Industrial 110
Revolução Inglesa: Do absolutismo à monarquia
parlamentar 111
Revolução Industrial: Da produção artesanal à produção nas
fábricas 113
Impactos: As sociedades urbanas e industriais 116
Oficina de História 120
Capítulo 10 - Formação dos Estados Unidos 122
As 13 colônias: Ocupação inglesa na América do Norte 123
Emancipação: O nascimento dos Estados Unidos 126
Oficina de História 131
Capítulo 11 - Revolução Francesa e
Era Napoleônica 133
Crise do Antigo Regime: A França às vésperas da
Revolução 134
Revolução: A longa trama revolucionária 136
Era Napoleônica: Conquistas e tragédias 142
Congresso de Viena: A reação conservadora de governos
europeus 146
Oficina de História 148
Capítulo 12 - Independências na América Latina 150
Crise colonial: Raízes do processo emancipatório 151
Rompimento: Lutas pela independência 152
Oficina de História 158
6
Frederic
Soltan/corbiS/Fotoarena
inStitUto
HiStÓrico
e
GeoGrÁFico
braSileiro,
rio
de
Janeiro,
braSil
Capítulo 13 - Independência do Brasil 162
Crise colonial: Contradições e declínio de um sistema de
exploração 163
Rebeliões coloniais: Conflitos entre colonos e
colonizadores 165
A corte no Brasil: Caminhos da emancipação brasileira 168
Ruptura: O resultado das pressões portuguesas 171
Oficina de História 174
Capítulo 14 - Primeiro Reinado 176
O novo país: Lutas internas e negociações internacionais 177
Primeira Constituição: As lutas políticas pelo controle do
poder 179
Confederação do Equador: O projeto de uma república no
nordeste 182
Abdicação do trono: A conjuntura do Final do Primeiro
Reinado 184
Oficina de História 188
Capítulo 15 - Período regencial 190
Cenário político: Os grupos partidários do período
regencial 191
Período regencial: As regências que governaram o
império 192
Revoltas provinciais: Contestações ao governo central e às
condições de vida 196
Oficina de História 204
Capítulo 16 - Segundo Reinado 205
Política interna: O jogo político entre liberais e
conservadores 206
Praieira: A revolta liberal pernambucana 208
Modernização: O impacto das transformações
econômicas 209
Oficina de História 216
Capítulo 17 - Crise do império 218
Política externa: Conflitos internacionais no Segundo
Reinado 219
Abolicionismo: A luta pelo fim da escravidão no Brasil 226
Queda da monarquia: Condições que levaram à instituição da
República 231
Oficina de História 234
Capítulo 18 - Europa no século XIX 240
Onda de revoltas: Nacionalismo, liberalismo, socialismo e
anarquismo 241
França: Revoltas liberais repercutem na Europa 244
Unificação da Itália: A formação do Estado italiano 249
Unificação da Alemanha: A formação de uma nova potência
econômica 251
Oficina de História 253
Capítulo 19 - Imperialismo na África e na Ásia 255
Avanço capitalista: O surgimento de grandes potências 256
Neocolonialismo: Um mundo partilhado entre as grandes
potências 258
África e Ásia: A dominação neocolonial em dois continentes
259
Oficina de História 264
Capítulo 20 - América no século XIX 266
América Anglo-saxônica: O desenvolvimento dos Estados
Unidos 267
América Latina: Diferenças e elementos históricos
comuns 273
Imperialismo: A dominação da América Latina pelos Estados
Unidos 275
Oficina de História 277
Unidade 3
Liberdade e independência
Unidade 4
Tecnologia e dominação
Cronologia 284
Bibliografia 287
Manual do Professor – Orientações didáticas 289
Projeto Temático: Dimensões do trabalho 280
JoHn
cHarleS
readY
coloMb.
1886.
7
unidade
1
O trabalho é uma atividade típica do ser hu-
mano e está profundamente ligado à história
de cada sociedade. Por meio dele, construímos
culturas, produzindo bens materiais e não ma-
teriais. No entanto, o trabalho também pode
ser fonte de castigo e sofrimento.
No Brasil Colônia, milhões de africanos, afro-
descendentes e indígenas foram submetidos à
escravidão, que é uma das formas mais extremas
de exploração humana. Mas eles resistiram a
esta dominação e se rebelaram de vários modos.
A presença dos africanos e indígenas foi de-
cisiva na construção do Brasil. Eles produziram
saberes, artes e ofícios que estão presentes na
cultura brasileira.
A escravidão foi abolida, mas a cidadania
precisa ser ampliada.
1. “O trabalho está associado a ter, ser e
valer.” Reflita sobre essa frase e procure
explicar por que, no Brasil atual, existem
alguns trabalhos que têm mais prestígio
social do que outros.
2. Qual profissão você quer ter no futuro?
Procure explicar os motivos de sua escolha.
Trabalho e
sociedade
8
Vendedores de capim e de leite, obra de Jean-Baptiste Debret, produzida entre 1834 e
1839. Na imagem, um escravo, à esquerda, carrega um pesado feixe de capim-de-
-angola, que era muito utilizado para alimentar os cavalos no Brasil Colonial. À direita,
três escravos vendem leite, bebida amplamente consumida com café e chá.
Jean-Baptiste
DeBret.
VenDeDores
De
capim
e
De
leite.
1834-1839/coleção
particular
9
Mercantilismo e
colonização
O Brasil possui uma das maiores áreas florestais do planeta, com destaque para a flo-
resta Amazônica. Todavia, o país ainda apresenta níveis significativos de desmatamen-
to e práticas inadequadas de exploração que são responsáveis por danos ambientais.
Quais são as raízes desse processo?
1. Que personagens aparecem no mapa? Como eles foram representados?
2. Que instrumento é utilizado por um dos personagens? De que material ele é
feito? Levante hipóteses.
3. Esse instrumento pode simbolizar o contato entre indígenas e portugueses?
Explique.
Detalhe de mapa
publicado no Atlas de
Sebastião Lopes em
cerca de 1565. Nesse
mapa, foi representada
a exploração de
pau-brasil.
seBastião
lopes.
carta
Do
Brasil
c.
1565/BiBlioteca
newBerry,
chicago,
eua.
10 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
capítulo
1
Investigando
1. Qual o sentido da expressão “concorrência econômica”? Você sabe como essa concorrência pode afetar os
valores dos produtos que você consome? Pesquise.
2. Na sua opinião, a economia de um Estado só pode se desenvolver à custa de outras economias? Debata esse
assunto com seus colegas.
Mercantilismo
Política econômica do Estado moderno
Colonialismo
A dominação das metrópoles sobre as colônias
O termo mercantilismo é utilizado por alguns eco-
nomistas e historiadores para designar um conjunto de
práticas econômicas que vigoraram em países da Europa
ocidental entre os séculos XV e XVIII. Essas práticas varia-
vam de país para país, mas tinham o objetivo comum de
fortalecer o Estado, em aliança com setores comerciais.
Segundo historiadores, o termo mercantilismo te-
ria sido empregado pela primeira vez pelo economista
escocês Adam Smith (1723-1790) para se referir, de
maneira depreciativa, às políticas econômicas interven-
cionistas dos governos de sua época e propor, em seu
lugar, políticas liberais.
Práticas mercantilistas
No início da Idade Moderna, a riqueza de um
Estado também foi medida pela quantidade de me-
tais preciosos (ouro e prata) que ele possuía dentro
de suas fronteiras. Assim, aumentar a quantidade de
metais preciosos tornou-se um dos objetivos funda-
mentais dos governos mercantilistas. Esse pensamen-
to econômico foi chamado de metalismo.
A fim de acumular riquezas, o Estado procurava,
entre outras coisas, manter uma balança comercial
favorável, isto é, o valor das exportações do país
devia superar as importações (gerando superávit).
Para isso, o Estado adotava uma série de medidas
protecionistas, como incentivar a produção interna
de artigos manufaturados que pudessem concorrer
vantajosamente nos mercados internacionais.
Além disso, o Estado dificultava a entrada de al-
guns produtos estrangeiros, para resguardar seu mer-
cado interno e o de suas colônias. O protecionismo se
fazia por meio da política alfandegária (aumento ou
redução dos tributos sobre importação e exportação).
Investigando
1. Em sua opinião, quais são os bens econômicos mais valorizados na sociedade brasileira atual? Justifique.
2. Pesquise notícias atuais que apresentem as expressões: “balança comercial favorável”, “protecionismo” ou “in-
tervencionismo estatal”. Depois, analise com seus colegas em que contexto essas expressões foram utilizadas.
A adoção das práticas mercantilistas por diversos
Estados europeus gerou choque de interesses entre
eles. A concorrência econômica se acirrou com dispu-
tas de mercados.
Nesse cenário, Estados como Portugal e Espanha
(chamados metrópoles) passaram a exercer um domí-
nio peculiar sobre suas colônias de modo que pudes-
sem obter vantagens comerciais, se possível exclusivas.
Segundo a interpretação do historiador Fernando
Novais, foi no contexto do colonialismo mercantilista
que se desenvolveu, como peça fundamental, um sis-
tema de exploração colonial.1
1 Cf. NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1983. p. 57-92; VAINFAS, Ronaldo. Mercantilismo.
In: Dicionário do Brasil colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 392-393.
11
CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
AMÉRICA
DO NORTE
BAHAMAS
PORTO RICO
HAITI
GUIANAS
AMÉRICA
DO SUL
Açores
Ilha da Madeira
Ilhas
Canárias
I. Cabo
Verde
INGLATERRA
FRANÇA
HOLANDA
EUROPA
ESPANHA
ÍNDIA
MOÇAMBIQUE
ANGOLA
MADAGÁSCAR
Diu
Bombaim
Goa
Calicute
CEILÃO MÁLACA
ÁSIA
São Jorge da Mina
ÁFRICA
Forte James
St. Louis
Agadir
PORTUGAL
Tânger
FILIPINAS
São
Tomé
JAPÃO
20º N
40º L
OCEANO
ATLÂNTICO
OCEANO
ÍNDICO
OCEANO
PACÍFICO
OCEANO
PACÍFICO
Império espanhol
Império francês
Império holandês
Império inglês
Império português 0 2 210 km
1. Identifique quais metrópoles tinham colônias na América, na África e na Ásia.
2. Pelo que você pode observar nesse mapa, os governos de França, Inglaterra e Holanda respeitaram a determi-
nação do Tratado de Tordesilhas? Explique.
Observar o mapa
Impérios coloniais europeus (século XVII)
Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas da história moderna. São Paulo: Verbo/Edusp, 1979. p. 53.
Características gerais
No colonialismo mercantilista, o relacionamento
entre metrópole e colônia obedecia a certas linhas
gerais.
A economia da colônia era organizada em fun-
ção da metrópole, de tal maneira que a colônia
deveria atender ou complementar a produção da
metrópole.
Primeiras expedições
Reconhecimento das terras e das gentes
Com a descoberta do novo caminho para as Ín-
dias, o comércio de especiarias passou a ser uma das
fontes de riqueza de Portugal. A cidade de Lisboa,
capital desse lucrativo comércio, destacava-se pela
agitada vida econômica.
Nessa época em que as atenções de setores da
sociedade portuguesa estavam voltadas para o co-
mércio oriental, ocorreu a chegada às terras que
mais tarde formariam o Brasil.
Nas primeiras expedições às novas terras, os
enviados da Coroa encontraram grande quanti-
dade de pau-brasil no litoral. Mas não descobriram
Além disso, a metrópole impunha o “direito ex-
clusivo” de fazer comércio com a região colonizada,
comprando os produtos dela pelo preço mais baixo e
vendendo-lhe mercadorias pelo valor mais alto.
Nesse contexto histórico, diversas nações euro-
peias formaram verdadeiros impérios coloniais, entre
os quais se destacaram Portugal e Espanha.
as desejadas jazidas de ouro. Com isso, o governo
português percebeu que não seria possível obter
lucros fáceis e imediatos na região, pois o lucro ge-
rado pela exploração da madeira seria menor do
que o então vantajoso comércio de produtos afri-
canos e asiáticos.
Por esse motivo, durante 30 anos (1500-1530),
o governo português limitou-se a enviar para o Brasil
algumas expedições marítimas destinadas principal-
mente ao reconhecimento da terra e à preservação
de sua posse. O efetivo processo de colonização só
ocorreu posteriormente.
selma
caparroZ
12 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
As principais expedições marítimas portuguesas
enviadas nesse período, chamado por historiadores
de “pré-colonizador”, foram:
• Expedição comandada por Gaspar de Lemos
(1501) – explorou grande parte do litoral brasilei-
ro e deu nome aos principais acidentes geográficos
então encontrados (ilhas, cabos, rios, baías).
• Expedição comandada por Gonçalo Coelho
(1503) – organizada por conta de um contrato assi-
nado entre o rei de Portugal e um grupo de comer-
ciantes interessados na exploração do pau-brasil,
dentre os quais se destacava Fernão de Noronha.
• Expedições comandadas por Cristóvão Jacques
(1516 e 1520) – foram organizadas para deter o
contrabando de pau-brasil feito por outros comer-
ciantes europeus. Não foram bem-sucedidas pela
extensão do litoral.
Extração do pau-brasil
A primeira riqueza explorada pelos europeus em
terras brasileiras foi o pau-brasil (Caesalpinia echinata)
— árvore assim denominada devido à cor de brasa
do interior de seu tronco. Os indígenas a chamavam
ibirapitanga ou arabutã, que significa “madeira ou
pau vermelho”.
Ao ser informado sobre a existência de pau-brasil
nestas terras, o rei de Portugal declarou que a explo-
ração dessa árvore era monopólio da Coroa, ou seja,
ninguém poderia retirá-la das matas brasileiras sem
permissão do governo português e sem pagamento
do tributo correspondente. Essa declaração, no en-
tanto, não foi respeitada por ingleses, espanhóis e,
principalmente, franceses.
A primeira concessão da Coroa para a exploração
do pau-brasil foi dada ao comerciante português Fernão
de Noronha, em 1503. Seus navios foram os primeiros a
chegar à ilha que mais tarde recebeu seu nome.
As pessoas que tinham como ocupação o comér-
cio do pau-brasil eram chamadas brasileiros — ter-
mo que, com o tempo, perdeu o sentido original e
passou a ser utilizado para designar os colonos nas-
cidos no Brasil. Observe que o sufixo -eiro é utilizado
para designar ofício ou ocupação, como ocorre em
engenheiro, marceneiro, livreiro.
Trabalho indígena
A extração de pau-brasil nesse período dependia
da mão de obra dos indígenas — eles derrubavam as
árvores, cortavam-nas em toras e carregavam-nas até
os locais de armazenamento (feitorias), de onde eram
levadas para os navios. Esse trabalho era conseguido
de forma amigável, por meio do escambo. Em troca
de uma série de objetos (como pedaços de tecido,
anzóis, espelhos e, às vezes, facas e canivetes), os in-
dígenas eram aliciados a derrubar as árvores com os
machados fornecidos pelos europeus.
Por seu caráter predatório, a extração de pau-
-brasil demandava que os exploradores se deslocas-
sem pelas matas litorâneas à medida que a madeira ia
se esgotando. Por isso, essa atividade não deu origem
a núcleos significativos de povoamento. Foram cons-
truídas feitorias apenas em pontos da costa onde a
madeira era mais abundante.
Escambo: câmbio de
bens ou serviços sem in-
termediação de dinheiro.
Aliciado: seduzido,
envolvido, incitado.
Pau-brasil no parque do
Ibirapuera, na cidade
de São Paulo. Essa
árvore, que tem madeira
resistente e costuma
medir entre 8 e 12 metros
de altura, encontra-se
ameaçada de extinção.
Fotografia de 2015.
FaBio
colomBini
13
CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
OCEANO
ATLÂNTICO
50º O
10º S
Em 1500
Em 2008
Atual divisão política do Brasil
Limites atuais do Brasil
0 328 km
Em destaque Devastação ambiental
A devastação do meio ambiente começou cedo no território do país onde vivemos. Teve início
com a extração de pau-brasil, logo nos primeiros anos de colonização. Como resultado da intensa
extração, em poucas décadas o pau-brasil começou a escassear. O mesmo destino tiveram muitas
árvores frutíferas, derrubadas sem preocupação com o replantio. Para a historiadora Laima Mesgravis,
[...] o maravilhoso patrimônio da natureza, onde os índios viviam em harmonia com seu
espaço e que tanto deslumbrou os primeiros observadores, incentivou, até certo ponto, a
crença da abundância fácil, sem trabalho, infindável.
MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 1989. p. 62.
Atualmente, temos consciência
de que, apesar de imensos, os recur-
sos florestais brasileiros não são ines-
gotáveis. Calcula-se que, em 1500, a
mata Atlântica ocupava uma faixa de
1 milhão de quilômetros quadrados.
Atualmente, restam apenas 8% dessa
área, espalhados em matas que, em
boa parte, se localizam em proprieda-
des particulares.
Estima-se que somente no século
XVI tenham sido derrubados aproxi-
madamente 2 milhões de árvores, de-
vastando cerca de 6 mil quilômetros
quadrados da mata Atlântica.
Depois [da extração do pau-
-brasil] vieram cinco séculos de
queimada. A cana, o pasto, o
café, tudo foi plantado nas cin-
zas da Mata Atlântica. Dela saiu
a lenha para os fornos dos en-
genhos de açúcar, locomotivas,
termelétricas e siderúrgicas.
CORREIA, Marcos Sá. In: Veja. São Paulo: Abril,
n. 51, 24 dez. 1997. p. 81. Suplemento Especial.
Distribuição da mata Atlântica
(1500-2008)
1. De acordo com o texto, quais foram as principais consequências da exploração econômica indiscrimina-
da realizada pelos europeus nas áreas litorâneas do Brasil?
2. Identifique, no mapa, as regiões que apresentavam áreas cobertas pela mata Atlântica em 1500 e as que
não possuem mais essa cobertura.
Fonte: Mapas SOS Mata Atlântica.
Disponível em: http://mapas.sosma.org.br.
Acesso em: 27 out. 2015.
siDnei
moura
14 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
OCEANO
ATLÂNTICO
50º O
10º S
Chegada em
janeiro de 1531
Partida em
dezembro de 1530
BRASIL
Fundação da Vila de
São Vicente (1532)
Piratininga
Feitoria de Cabo Frio
Baía deTodos os Santos
Ilha de Cananeia
Ilha de Itamaracá
Ilha de Santa Catarina
Cabo de
Santa Maria
Meridiano
de
Tordesilhas
Limites atuais do Brasil 0 390 km
Expedição de Martim Afonso
de Souza (século XVI)
Colonização
A decisão de ocupar a terra
De acordo com o Tratado de Tordesilhas, Portugal
e Espanha eram os únicos donos das terras da Améri-
ca. Mas franceses, holandeses e ingleses não respeita-
vam esse tratado e disputavam a posse de territórios
americanos com portugueses e espanhóis.
Essa disputa intensificou-se principalmente a par-
tir da notícia de que os espanhóis haviam descoberto
ouro e prata em áreas que hoje correspondem ao Mé-
xico e ao Peru.
Nesse contexto, o governo português receava per-
der as terras americanas. As expedições que tinha envia-
do até então não conseguiam deter a atuação clandes-
tina de outros europeus, especialmente dos franceses,
que haviam estabelecido alianças com os indígenas
tupinambás para a extração do pau-brasil. Para acabar
com esse contrabando e evitar as invasões, a Coroa por-
tuguesa decidiu colonizar efetivamente o Brasil.
Além disso, a colonização da América começou a
ser vista pelos portugueses como uma alternativa para
buscar novos lucros comerciais, uma vez que o comércio
de Portugal com o Oriente havia entrado em declínio.
A expedição de Martim
Afonso de Souza
Cinco navios e uma tripulação de cerca de 400
pessoas. Assim era composta a expedição comandada
por Martim Afonso de Souza, que partiu de Lisboa em
dezembro de 1530. Segundo alguns estudiosos, essa
expedição tinha, entre seus objetivos:
• iniciar a ocupação da terra e sua exploração econô-
mica por colonos portugueses;
• combater corsários estrangeiros;
• procurar metais preciosos;
• fazer melhor reconhecimento geográfico do litoral.
Em 22 de janeiro de 1532, buscando estabelecer
núcleos de povoamento, Martim Afonso fundou a pri-
meira vila do Brasil: São Vicente. Fundou também alguns
povoados, como Santo André da Borda do Campo.
Cultivo da cana-de-açúcar
Para colonizar o Brasil, os portugueses decidiram
implantar a produção açucareira em certos trechos do
litoral, uma vez que o açúcar era um produto que ti-
nha grande procura na Europa. Por meio da cultura
da cana, seria possível promover a ocupação sistemá-
tica da colônia.
Ao implantar a empresa açucareira na colônia,
Portugal deixava a atividade meramente extrativista
e predatória (a exploração de pau-brasil) e iniciava a
montagem de uma organização produtiva dentro das
diretrizes do sistema colonial. A produção de açúcar
para o mercado europeu marcaria a história colonial
do Brasil.
No Brasil, o primeiro estabelecimento de produ-
ção de açúcar (engenho) foi instalado na região de
São Vicente.
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas
histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1986. p. 14.
siDnei
moura
15
CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
Monopólio comercial português
No início do século XVI, época da instalação dos primeiros engenhos e núcleos
de povoamento, o comércio do açúcar era relativamente livre. A Coroa concedia
terras a portugueses que tivessem recursos para a instalação de engenhos.
Entre 1560 e 1570, a economia açucareira apresentou crescimento expressivo.
Percebendo a expansão do negócio do açúcar, o governo de Portugal decidiu esta-
belecer normas mais rígidas para a concessão de terras. Em 1571, decretou que o
comércio colonial com o Brasil deveria ser feito exclusivamente por navios portugue-
ses. O governo pretendia implantar o monopólio comercial (que era chamado, na
época, de exclusivo metropolitano) nas transações do açúcar.
Com o monopólio, os produtos coloniais eram comprados pelos preços mais
baixos do mercado, enquanto os artigos metropolitanos eram vendidos para os
colonos do Brasil pelos preços mais altos.
Escravização dos indígenas
O relacionamento entre os colonos portugueses e os vários povos indígenas foi
se tornando conflituoso à medida que os nativos resistiam ao processo de coloni-
zação. Os colonos, no entanto, para satisfazer suas necessidades, usaram violência
contra os indígenas e passaram a escravizá-los.
A escravização indígena estabeleceu-se a partir da década de 1530, principal-
mente quando os colonos portugueses necessitaram de mão de obra para a produ-
ção açucareira. Os portugueses e alguns aliados nativos guerreavam contra os “in-
dígenas inimigos”, e os prisioneiros eram distribuídos ou vendidos como escravos.
No século XVII, a escravização indígena continuou ligada à expansão açuca-
reira pelo litoral, mas se estendeu também para as áreas dos atuais estados de
São Paulo, Maranhão, Pará, entre outros. Nessas regiões, os nativos trabalhavam
em atividades como o cultivo de milho, feijão, arroz e mandioca e a extração das
chamadas “drogas do sertão” (guaraná, cravo, castanha, baunilha, plantas aro-
máticas e medicinais).
Além disso, o escravo indígena foi utilizado para o transporte de mercadorias.
De São Paulo a Santos, por exemplo, o carregador nativo descia a Serra do Mar
transportando nos ombros cargas de aproximadamente 30 quilos.
Cacho de guaraná na cidade
de Camamu, Bahia. Foram os
indígenas Sateré-Mawé que, há
mais de 500 anos, domesticaram
a planta do guaraná, cujo nome
científico é Paullinia cupana.
Esse povo, que vive no atual
Amazonas, possibilitou que
o guaraná fosse conhecido e
consumido no mundo inteiro.
Fotografia de 2015.
inacio
teixeira/pulsar
imagens
16 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Investigando
• Em sua opinião, alguma guerra pode ser considerada justa? Reflita.
“Guerras justas”
Apesar de o governo português ter defendido, em princípio, a liberdade in-
dígena, os colonos recorreram por diversas vezes à “guerra justa” para conseguir
escravos entre os povos nativos. Assim se chamava a guerra contra os indígenas
autorizada pelo governo português ou seus representantes.
As “guerras justas” podiam ocorrer quando os indígenas não se conver-
tiam à fé cristã – imposta pelos colonizadores – ou impediam a divulgação
dessa religião; quebravam acordos ou agiam com hostilidade em relação aos
portugueses.
No entanto, os colonos burlavam as normas oficiais sobre a “guerra justa”,
alegando, por exemplo, que eram atacados ou ameaçados pelos indígenas.
Sucessivas guerras contra povos indígenas marcaram a conquista das regiões
litorâneas pelos europeus no século XVI. Foi o caso, por exemplo, das guerras
contra os indígenas caetés, tupinambás, carijós, tupiniquins, guaranis, tabajaras
e potiguares.
Gravura de Thomas Marie Hippolyte Taunay e Ferdinand-Jean Denis, datada de 1822, representando ritual dos tupinambás com
feiticeiros soprando o espírito de força do povo.
thomas
marie
hippolyte
taunay
e
FerDinanD-Jean
Denis.
1822.
coleção
itaú
De
iconograFia
Brasileira.
17
CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
Oficina de História
Vivenciar e refletir
1. Alguns indígenas queriam saber por que portugueses
e franceses, desde a chegada às suas terras, precisavam
tirartantamadeiradasflorestas.Leiaumtrechodotexto
do francês Jean de Léry, que esteve no Brasil em 1558,
narrandoodiálogoquetevecomumvelhotupinambá.
Por que vindes vós outros, maírs e pêros
(franceses e portugueses), buscar lenha de tão
longe para vos aquecer? Não tendes madeira
em vossa terra? Respondi que tínhamos mui-
ta, mas não daquela qualidade, e que não a
queimávamos, como ele o supunha, mas dela
extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam
eles com os seus cordões de algodão e suas
plumas. Retrucou o velho tupinambá imedia-
tamente: e porventura precisais de muito? —
Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem
negociantes que possuem mais panos, facas,
tesouras, espelhos e outras mercadorias do
que podeis imaginar e um só deles compra
todo o pau-brasil com que muitos navios vol-
tam carregados.—Ah! Retrucou o selvagem,tu
me contas maravilhas, acrescentando depois
de bem compreeender o que eu lhe dissera:
Mas esse homem tão rico de que me falas não
morre? — Sim,disse eu,morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursa-
dores e costumam ir em qualquer assunto
até o fim, por isso perguntou-me de novo: e
quando morrem para quem fica o que dei-
xam? — Para seus filhos se os têm, respondi!
— Na verdade, continuou o velho, […] agora
vejo que vós outros maírs sois grandes loucos,
pois atravessais o mar e sofreis grandes in-
cômodos, como dizeis quando aqui chegais,
e trabalhais tanto para amontoar riquezas
para vossos filhos ou para aqueles que vos
sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu
suficiente para alimentá-los também? Temos
pais, mães e filhos a quem amamos; mas es-
tamos certos de que, depois de nossa morte,
a terra que nos nutriu também os nutrirá, por
isso descansamos sem maiores cuidados.
LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil.
Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1980. p. 170.
a) Por que o indígena tupinambá não entendia a ne-
cessidade de extrair tanta madeira das florestas?
b) Que diferença cultural é possível perceber entre o
mododevidaeuropeueomododevidaindígena?
Diálogo interdisciplinar
2. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 472 espé-
cies de árvores estão ameaçadas de extinção no Brasil
contemporâneo. É o caso do pau-brasil, da cerejeira,
da castanheira, do jacarandá, do mogno, da imbuia e
da araucária. Crie um cartaz sobre uma dessas espé-
cies. Para isso, em grupos, façam o que se pede.
a) Escolham uma árvore e pesquisem: nome cien-
tífico, outros nomes pelos quais é conhecida, al-
tura máxima que atinge, biomas em que ocorre,
motivos pelos quais corre risco de extinção e o
que tem sido feito para preservá-la.
b) Elaborem uma ficha sobre a árvore resumindo
as informações pesquisadas.
c) Com base na pesquisa, criem um título chamati-
vo para seu cartaz.
d) Selecionem fotografias da árvore e escrevam le-
gendas para as imagens.
e) Organizem a ficha, o título e as fotografias em um
cartaz. Depois, apresentem o cartaz para seus co-
legas e debatam com eles as medidas de preser-
vação das espécies ameaçadas de extinção.
3. O historiador Warren Dean comenta que as facas
e os machados de aço que os europeus davam
aos indígenas
[…] encurtavam em cerca de oito vezes o
tempo gasto para derrubar árvores e escul-
pir canoas. Além disso, anzóis de ferro inau-
guravam uma nova maneira de explorar os
recursos alimentícios dos estuários. É difícil
imaginar […] o quanto isso foi transforma-
dor de sua cultura [dos indígenas] e o quanto
foi destrutivo para a floresta.
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da
mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 65.
Diálogo interdisciplinar com Biologia.
Diálogo interdisciplinar com Biologia e Sociologia.
Estuário: desembocadura de um rio, formando um “bra-
ço de mar”.
a) De acordo com Warren Dean, os instrumentos
europeus causaram grande impacto em duas
esferas. Quais são elas? Por quê?
b) Em sua opinião, que objetos causaram maior
impacto social e ambiental no mundo contem-
porâneo? Reflita sobre o assunto e dê exemplos.
18 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
4. Examine a cena da tirinha de Calvin e Haroldo. Qual é a crítica da tirinha? Com os
colegas, relacione a tirinha ao conteúdo do capítulo.
Diálogo interdisciplinar com Arte e Geografia.
De olho na universidade
5. (Fuvest-SP)
O ouro e a prata que os reis incas tiveram em grande quantidade
não eram avaliados [por eles] como tesouro porque, como se sabe,
não vendiam nem compravam coisa alguma por prata nem por ouro,
nem por eles pagavam os soldados, nem os gastavam com alguma
necessidade que lhes aparecesse; tinham-nos como supérfluos, por-
que não eram de comer. Somente os estimavam por sua formosura e
esplendor e para ornamento [das casas reais e ofícios religiosos].
Garcilaso de la Vega. Comentários reais, 1609.
Com base no texto, aponte:
a) As principais diferenças entre o conjunto das ideias expostas no texto e a vi-
são dos conquistadores espanhóis sobre a importância dos metais preciosos
na colonização.
b) Os princípios básicos do mercantilismo.
6. (UFRJ)
A primeira coisa que os moradores desta costa do Brasil preten-
dem são índios escravizados para trabalharem nas suas fazendas,
pois sem eles não se podem sustentar na terra.
GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado descritivo da terra do Brasil.
São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982. p. 42 [1576] (adaptado pela instituição).
Nesse trecho percebe-se a adesão do cronista ao ideário dos colonos lusos no Brasil
de fins do século XVI.
Com base no texto, e considerando que em Portugal prevalecia uma hierarquia so-
cial aristocrática e católica, explique por que, ao desembarcarem na América portugue-
sa da época, os colonos imediatamente procuravam lançar mão do trabalho escravo.
Tirinha dos personagens
Calvin e Haroldo, criados
pelo artista Bill Watterson.
calVin

hoBBes,
Bill
watterson
©
1989
watterson/Dist.
By
uniVersal
uclick
19
CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
Estado e religião
Liberdade de crença e livre exercício de culto religioso são direitos fundamentais
garantidos na Constituição Federal. Essa liberdade religiosa decorre da separa-
ção entre Estado e Igreja, que vigora no Brasil desde o início da República (1889).
Mas nem sempre foi assim.
Como era a relação entre o Estado e a Igreja Católica no período colonial?
• Observe o painel de Candido Portinari, intitulado A primeira missa no Brasil.
Depois, leia o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, relatando episódios
da chegada dos portugueses ao Brasil:
E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as
mãos levantadas, eles [os indígenas] se levantaram conosco, e alçaram as
mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar,
como nós [...] e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que
nos fez muita devoção.
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
DetalheObraForm.do?select_action=co_obra=2003. Acesso em: 28 out. 2015.
Na sua compreensão, há algum ponto em comum entre o relato de Pero Vaz
de Caminha e a pintura de Portinari? Comente.
A primeira missa no Brasil. Painel de Candido Portinari, de 1948.
A obra faz parte do acervo do Instituto Brasileiro de Museus.
Candido Portinari. a Primeira missa no Brasil. 1948/museu naCional de Belas artes/rj
20 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
capítulo
2
• Observe o mapa e compare-o com um mapa da
atual divisão política do Brasil. Depois, identifique:
a) a capitania mais setentrional (ao norte) e o(s)
estado(s) do(s) qual(is) faz parte atualmente;
b) a capitania mais meridional (ao sul) e o(s)
estado(s) do(s) qual(is) faz parte atualmente;
c) caso seja possível, a capitania em cujo territó-
rio está situada a cidade onde você vive.
Observar o mapa
Capitanias hereditárias
Início da administração colonial
O governo português não dispunha de recursos
suficientes para investir na colonização do Brasil. A
solução encontrada no começo desse processo foi
transferir a tarefa para particulares, geralmente pes-
soas da pequena nobreza lusitana.
Assim, em 1534, o rei D. João III ordenou a divisão
do território da colônia em grandes porções de ter-
ra — 15 capitanias ou donatárias — e as entregou a
pessoas que se habilitaram ao empreendimento, cha-
madas capitães ou donatários.
Nomeado pelo rei, o donatário era a autorida-
de máxima dentro da capitania. Com sua morte, em
princípio, a administração passava para seus descen-
dentes. Por esse motivo, as terras eram chamadas de
capitanias hereditárias.
Direitos e deveres dos
donatários
O vínculo jurídico entre o rei de Portugal e os do-
natários era estabelecido em dois documentos básicos:
• Carta de Doação – conferia ao donatário a posse
hereditária da capitania. Os donatários não eram
proprietários das capitanias, apenas de uma parce-
la das terras. A eles era transferido, entretanto, o
direito de administrar toda a capitania e explorá-la
economicamente.
• Carta Foral – estabelecia os direitos e os deveres
dos donatários, relativos à exploração da terra.
Vejamos alguns deles no quadro a seguir:
Alguns direitos Alguns deveres
• Criar vilas e distribuir terras (sesmarias) a quem desejasse e
pudesse cultivá-las.
• Exercer plena autoridade judicial e administrativa.
• Por meio da chamada “guerra justa”, escravizar os indígenas
considerados inimigos, obrigando-os a trabalhar na lavoura.
• Receber 5% dos lucros sobre o comércio do pau-brasil.
Assegurar ao rei de Portugal:
• 10% dos lucros sobre todos os produtos da terra;
• 25% dos lucros sobre os metais e as pedras preciosas que fos-
sem encontrados;
• o monopólio da exploração do pau-brasil.
OCEANO
ATLÂNTICO
10º S
40º O
MARANHÃO (2o
lote)
MARANHÃO (1o
lote)
CEARÁ
RIO GRANDE
ITAMARACÁ
BAHIA
PERNAMBUCO
ILHÉUS
PORTO SEGURO
ESPÍRITO SANTO
SÃO TOMÉ
SANTANA
SANTO AMARO
Meridiano
de
Tordesilhas
SÃO VICENTE
SÃO VICENTE
0 390 km
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício
de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de
Janeiro: MEC/Fename, 1986. p. 14.
Capitanias hereditárias (1534)
sidnei
moura
21
CAPÍTULO 2 Estado e religião
Dificuldades com as capitanias
Do ponto de vista econômico, o sistema de capita-
nias não alcançou os resultados esperados pelo governo
português. Entre as poucas capitanias que progrediram
e obtiveram lucros, principalmente com a produção de
açúcar, estavam a de Pernambuco e a de São Vicente.
Como veremos a seguir, as demais capitanias não pros-
peraram em decorrência de várias condições.
As capitanias eram muito extensas, e os donatários
geralmente não tinham recursos suficientes para explo-
rá-las. Muitos perderam o interesse pelas capitanias,
acreditando que o retorno financeiro não compensaria o
trabalho empenhado e o capital investido na produção.
Alguns nem chegaram a tomar posse de suas terras.
Os colonos também tinham de enfrentar a hostilida-
de dos grupos indígenas que resistiam à dominação por-
tuguesa. Para muitos nativos, a luta era a única forma
de se defender da invasão de suas terras e da escravidão
que o conquistador queria impor.
Havia também problemas de comunicação entre as
capitanias: separadas por grandes distâncias e sob as
Mulheres na administração
Algumas mulheres de origem portuguesa chega-
ram a participar da administração de capitanias he-
reditárias. Brites de Carvalho, por exemplo, assumiu
o controle de uma sesmaria no norte da Bahia em
1583, depois da morte de seu marido.
A esposa de Duarte Coelho, donatário da capitania
de Pernambuco, também se destacou. Brites Mendes
de Albuquerque assumiu o governo da capitania após
a morte do marido. De acordo com pesquisadores:
precárias condições dos meios de transporte da época,
elas ficavam isoladas umas das outras e em relação a
Portugal. Por exemplo, uma viagem de navio da Bahia
a Lisboa levava em média dois meses.
Além disso, nem todas as capitanias tinham solo
propício ao cultivo de cana-de-açúcar, produção que
mais interessava aos objetivos da Coroa e dos comer-
ciantes envolvidos no comércio colonial. Restava aos
donatários a exploração do pau-brasil, atividade que
gerava pouco lucro para os donatários.
Apesar dessas dificuldades, historiadores apontam
que o sistema de capitanias lançou as bases da colo-
nização da América portuguesa, estimulando a for-
mação e o desenvolvimento dos primeiros núcleos de
povoamento, como São Vicente (1532), Porto Seguro
(1535), Ilhéus (1536), Olinda (1537) e Santos (1545).
Contribuiu, também, em relação aos colonizadores
lusos, para preservar a posse das terras e revelar as
possibilidades de exploração econômica da colônia.
Durante o governo de Brites, Pernambuco
era a mais desenvolvida capitania do Brasil.
Tinha mais de mil colonos e mais de mil es-
cravos. [...] nos anos 1570 havia na capitania
cerca de 66 engenhos, que produziam 200 mil
arrobas de açúcar anuais. [...]
BRAZIL, Érico Vital; SCHUMAHER, Schuma (Orgs.). Dicionário mulheres do
Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p. 122.
Fundação de São Vicente, óleo sobre tela de Benedito Calixto, de 1900. Historiador e artista, Calixto destacou-se na pintura religiosa e
paisagística. A obra pertence ao acervo do Museu Paulista da USP, em São Paulo.
Benedito
Calixto.
Fundação
de
são
VCiente
.
1900.
22 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Governo-geral
A busca da centralização administrativa
Os problemas das capitanias hereditárias levaram
a Coroa portuguesa a procurar soluções diferentes
para administrar sua colônia na América. Foi assim
que, ainda no reinado de D. João III, instituiu o gover-
no-geral, conduzido por um funcionário do governo
português, denominado governador-geral. Este daria
ajuda aos donatários e interferiria mais diretamente
no processo de colonização do Brasil.
Portanto, o governo-geral coexistiu com o siste-
ma das capitanias hereditárias. Essa coexistência per-
durou até 1759, quando as últimas capitanias here-
ditárias foram extintas e o território brasileiro passou
Já Ana Pimentel participou da administração da
capitania de São Vicente. Ela era esposa do donatário
Martim Afonso de Souza.
Após um breve período em terras brasileiras, Mar-
tim Afonso retornou a Portugal para ocupar o cargo
de capitão-mor da armada da Índia. Ana Pimentel
tornou-se, então, a responsável pelo governo da ca-
pitania. Em sua administração, ela organizou o cultivo
de laranja, de arroz e de trigo, além de introduzir a
criação de gado naquelas terras.
a ser efetivamente administrado pelos representantes
da Coroa portuguesa, não mais por particulares.
O governo português escolheu a capitania da
Bahia como sede do governo-geral, que, então, foi
retomada pela Coroa. A escolha foi motivada por inte-
resses administrativos, pois essa capitania localizava-se
em um ponto central da costa, o que facilitava a co-
municação com as demais capitanias. Ali foi erguida a
primeira capital do Brasil — Salvador —, cujas obras de
construção tiveram início no dia 1o
de maio de 1549,
em um terreno elevado e de frente para o mar. Essa
localização facilitava a defesa militar da cidade.
Investigando
1. Qual é a capital do estado onde
você mora? Que serviços públi-
cos são encontrados na capital
do seu estado?
2. Você já ouviu expressões como
“capital do samba”, “capital do
acarajé”, “capital da moda”? O
que a palavra “capital” pode sig-
nificar nessas expressões?
Investigando
• No Brasil Colonial algumas mulheres chegaram a assumir cargos importantes no governo das capitanias he-
reditárias. No entanto, essa prática não era tão comum na época. Foi só a partir do século XX que aumentou
a participação das mulheres no mercado de trabalho e o acesso delas a cargos de prestígio. Em sua opinião,
quais são os principais desafios enfrentados atualmente pelas mulheres no mercado de trabalho? Pesquise.
Vista da cidade de Salvador do século
XVI. Litografia do cartógrafo escocês
John Ogilby. Na imagem, pode-se
observar a muralha que cercava a
parte alta da capital colonial.
Coleção
luiz
Viana
Filho/salVador.
23
CAPÍTULO 2 Estado e religião
Regimento do governo-geral
Embora tenham existido diferentes regimentos
para estabelecer o papel dos governadores-gerais,
quase todos possuíam itens relativos à defesa da terra
contra ataques estrangeiros, ao incentivo à busca de
metais preciosos, ao apoio à religião católica e à luta
contra a resistência indígena.
Ainda conforme esses regimentos, o governador
tinha funções:
• militares – comando e defesa militar da colônia;
• administrativas – relacionamento com os gover-
nadores das capitanias e controle dos assuntos liga-
dos às finanças;
• judiciárias – direito de nomear funcionários da Jus-
tiça e alterar penas;
• eclesiásticas – indicação de sacerdotes para
as paróquias.
Para o desempenho de suas funções, o governa-
dor-geral contava com três auxiliares principais:
• o ouvidor-mor, encarregado dos negócios da Jus-
tiça;
• o provedor-mor, encarregado dos assuntos
da Fazenda;
• o capitão-mor, encarregado da defesa do litoral.
Os governadores-gerais tiveram, no entanto, pro-
blemas no cumprimento de suas funções. Além da
dificuldade de comunicação entre as capitanias, o
governo-geral muitas vezes enfrentava a oposição de
poderes locais, especificamente dos “homens-bons”.
Essa expressão era aplicada aos homens de posses,
proprietários de terra, de gado e de escravos. Nas vilas
e cidades em que residiam, eram eles que formavam
as câmaras municipais.
As câmaras municipais, encarregadas da admi-
nistração local, foram sendo estruturadas paralela-
mente à formação das primeiras vilas. Sua atuação
abrangia setores como o abastecimento, a tributa-
ção e a execução das leis. Além disso, organizavam
expedições contra os indígenas, determinavam a
construção de povoados e estabeleciam os preços
das mercadorias.
Os três primeiros governadores-gerais do Bra-
sil foram Tomé de Sousa, Duarte da Costa e Mem
de Sá.
Primeiro governo-geral
Tomé de Sousa foi o primeiro governador-geral
do Brasil. Em seu governo (1549-1553) ocorreram a
fundação de Salvador (1549), primeira cidade e ca-
pital do Brasil; a criação do primeiro bispado brasi-
leiro (1551); a implantação da pecuária; o incentivo
ao cultivo da cana-de-açúcar; e a organização de
expedições para explorar o território à procura de
metais preciosos.
Aculturação dos indígenas
Com Tomé de Sousa vieram seis jesuítas, chefiados
pelo padre português Manuel da Nóbrega, com a mis-
são de catequizar os indígenas.
Os jesuítas faziam parte de um mundo regula-
do pelas normas e pelos costumes das sociedades
católicas europeias e não aceitavam ou compre-
endiam diversos aspectos das culturas indígenas
como a nudez, a poligamia, a antropofagia e as
crenças próprias.
Iniciou-se, assim, um processo de modificação da
cultura dos indígenas (aculturação). Para transmitir-
-lhes os valores europeus e do cristianismo, os jesuí-
tas reuniram as populações indígenas em aldeias ou
aldeamentos.
Investigando
1. Compare o papel das câmaras municipais na época do Brasil Colônia com o das câmaras municipais na
atualidade. Qual é a função típica das câmaras municipais atuais? Pesquise.
2. Em sua interpretação, em que medida o poder econômico e o poder político estão associados no Brasil
atual? Reflita e dê exemplos.
3. O que você sabe sobre a história de sua cidade? Pesquise elementos como a data de fundação, a po-
pulação atual, características da arquitetura local, opções públicas de lazer e cultura, características da
economia etc.
24 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Segundo governo-geral
Duarte da Costa foi o segundo governador-geral
do Brasil. Em seu governo (1553-1558), vieram mais
jesuítas para a colônia, entre os quais se destacou
José de Anchieta.
Em janeiro de 1554, Anchieta e Manuel da Nó-
brega fundaram o Colégio de São Paulo, junto ao
qual surgiu a vila que deu origem à cidade de São
Paulo, no planalto de Piratininga.
Foi também no governo de Duarte da Costa que
os franceses, contando com o apoio de grupos indí-
genas (como os tupinam-
bás), invadiram a baía de
Guanabara, no atual Rio
de Janeiro, e fundaram
um povoamento que re-
cebeu o nome de França
Antártica (1555-1567).
Alternâncias na administração
Centralizações e descentralizações do governo
Historiadores consideram que a administração
colonial da América portuguesa apresentava duas
tendências que se revezaram: a centralização (uni-
ficação) e a descentralização (divisão) do governo.
A centralização era praticada quando a metrópo-
le queria controlar e fiscalizar melhor a colônia. Já a
descentralização era preferida quando a metrópole
pretendia ocupar regiões despovoadas, impulsionar o
desenvolvimento local e adaptar o governo às neces-
sidades dos colonos.
Com os governos-gerais, a administração do
Brasil Colônia foi centralizada. Porém, no final do
governo de Mem de Sá, o rei de Portugal resolveu
dividir a administração da colônia entre os governos
do Norte e do Sul.
O governo do Norte, com sede na cidade de Sal-
vador, era chefiado pelo conselheiro Luís de Brito de
Almeida (1573-1578). O do Sul, com sede na cidade
do Rio de Janeiro, era chefiado pelo desembargador
Antônio Salema (1574-1578).
Entretanto, em 1578, insatisfeito com os resulta-
dos práticos da experiência, o rei de Portugal decidiu
voltar atrás e estabeleceu novamente um único cen-
tro administrativo no Brasil, com sede em Salvador.
Terceiro governo-geral
Mem de Sá foi o terceiro governador-geral do
Brasil. Em seu governo (1558-1572), os franceses
foram expulsos do Rio de Janeiro, com a ajuda do
chefe militar Estácio de Sá (seu sobrinho).
Além de expulsar os franceses (1567), o tercei-
ro governo-geral reuniu forças para lutar contra os
indígenas que resistiam à conquista colonial por-
tuguesa. As ações do governo levaram à destrui-
ção de centenas de aldeias do litoral brasileiro no
século XVI.
Vista do Pátio do Colégio,
ao lado do Museu Padre
Anchieta. Esse local é
considerado o marco da
fundação da cidade
de São Paulo.
daniel
CymBalista/Pulsar
imagens
25
CAPÍTULO 2 Estado e religião
Em destaque Confederação dos Tamoios
Vejamos um texto do filósofo Benedito Prezia e do historiador Eduardo Hoornaert, em que apresen-
tam suas interpretações do que foi a chamada Confederação dos Tamoios.
Para combater a escravização dos indígenas, feita em grande escala pela família de João
Ramalho que vivia no planalto de Piratininga, e como protesto contra as aldeias dos padres
jesuítas, várias nações indígenas resolveram se unir.
Assim, os tupinambás, parte dos tupiniquins, os carijós e os guayanás das regiões de São
Paulo e Rio de Janeiro, com o apoio dos franceses, fizeram uma grande aliança de guerra,
que recebeu o nome de Confederação dos Tamoios.
Tamoio ou tamuya, na língua tupi, significa nativo, velho, do lugar. Era portanto uma
guerra dos antigos do lugar, isto é, dos donos da terra, contra os portugueses, os invasores
e inimigos dos indígenas.
Esta guerra durou cinco anos, de 1562 a 1567. Vários líderes tupinambás se destacaram,
principalmente Cunhambebe e Aimberê. Os ataques tiveram altos e baixos e o grande aliado
dos portugueses foi certamente a varíola. Por volta de 1564 uma forte epidemia atacou todo
o litoral, de norte a sul. Centenas de indígenas morreram, inclusive o grande Cunhambebe.
Com a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, a Confederação dos Tamuya foi enfra-
quecendo, pois já não tinha de quem receber armas de fogo. Os portugueses jogaram pe-
sado, não só enviando de Portugal um grande reforço militar como também envolvendo os
jesuítas nessa guerra violenta.
A participação do padre Manuel da Nóbrega e do padre José de Anchieta foi decisiva para
a vitória lusitana. Através deles aconteceu o Tratado de Paz de Iperoig, que na realidade
tornou-se um tratado de morte para os tupinambás.
O final da guerra foi desigual e violento. Três mil sobreviventes desta campanha militar
foram levados para algumas aldeias dirigidas pelos jesuítas, no Rio de Janeiro e na Bahia.
PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. Esta terra tinha dono. 4. ed. São Paulo: FTD, 1995. p. 81-82.
• De acordo com os autores, em que contexto histórico ocorreu a união de várias nações indígenas nas
regiões de São Paulo e Rio de Janeiro?
O último tamoio, pintura
criada por Rodolfo
Amoedo em 1883. Nessa
obra, o indígena Aimberê,
líder dos tamoios, aparece
morto em uma praia
enquanto é amparado pelo
padre Anchieta. Embora
os dois personagens
tenham participado
da Confederação dos
Tamoios, essa cena nunca
aconteceu. A obra faz
parte do acervo do Museu
Nacional de Belas Artes, no
Rio de Janeiro.
rodolFo
amoedo.
o
último
tamoio
.
1883.
26 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Padroado
Vínculos entre governo e Igreja Católica
Na época da colonização, o catolicismo era a
religião oficial de Portugal. Assim, os súditos portu-
gueses deveriam ser católicos obrigatoriamente, caso
contrário estariam sujeitos a perseguição.
Além disso, diversos religiosos católicos participa-
ram do processo de colonização, em um esforço con-
junto com representantes da Coroa portuguesa. Essa
participação ocorreu porque o governo de Portugal e
a Igreja estavam ligados pelo regime do padroado,
um acordo entre o papa e o rei que estabelecia uma
série de deveres e direitos da Coroa portuguesa em
relação à Igreja. Entre os principais deveres, estavam:
garantir a expansão do catolicismo em todas as terras
conquistadas pelos portugueses; construir igrejas e
cuidar de sua conservação; e remunerar os sacerdotes
por seu trabalho religioso. Já entre os principais direi-
tos, podem ser citados: nomear bispos e criar dioceses
(regiões eclesiásticas administradas pelos bispos); e
recolher o dízimo (a décima parte dos ganhos) ofertado
pelos fiéis à Igreja.
A Igreja e o Estado português atuavam em re-
lativa harmonia. As autoridades políticas deveriam
administrar a colônia, decidindo, por exemplo, sobre
as formas de ocupação do território, povoamento e
produção econômica. Os religiosos eram responsáveis
pela tarefa de ensinar a obediência a Deus e ao rei,
defendendo o trono por meio do altar.
Houve, no entanto, vários momentos de conflito
entre sacerdotes católicos e autoridades da Coroa.
Nesse sentido, podemos dizer que se tornou fre-
quente, por exemplo, a participação de padres em
rebeliões coloniais.
Investigando
• No período colonial, a Igreja Católica foi uma instituição que, além do campo especificamente religioso,
exercia influência ampla na sociedade, na política e na cultura em geral. Pesquise sobre a influência da Igreja
Católica e de outras instituições religiosas na atualidade.
Em destaque Vivência religiosa
No texto, o historiador Luiz Mott descreve alguns aspectos religiosos observados entre a popula-
ção brasileira da época colonial.
No Brasil colonial, seguindo o costume português, desde o despertar, o cristão se via ro-
deado de lembranças do Reino dos Céus. Na parede contígua à cama, havia sempre algum
símbolo visível da fé cristã: um quadrinho ou caixilho com gravura do anjo da guarda ou do
santo; uma pequena concha com água-benta; o rosário dependurado na cabeceira da cama.
Antes de levantar-se da cama, da esteira ou da rede, todo cristão devia fazer imediata-
mente o sinal da cruz completo, recitando a jaculatória [oração curta]: pelo sinal da santa
cruz, livrai-nos, Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Padre, do Filho e do
Espírito Santo, amém. Os mais devotos, ajoelhados no chão, quando menos recitavam o
bê-á-bá do devocionário popular: a ave-maria, o pai-nosso, o credo e a salve-rainha. Orações
que via de regra todos sabiam de cor. [...]
Na parede da sala de muitas casas coloniais, saindo do quarto, lá estavam para ser vene-
rados e saudados os quadros dos santos. [...]
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In: SOUZA, Laura de Mello e (Org.). História da vida privada no Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1997. v. 1. p. 164-166.
1. Com base no texto, como você definiria a vivência religiosa dos colonos? Justifique com exemplos.
2. Na sua opinião, qual é a intensidade das vivências religiosas na sociedade atual? Comente o tema.
27
CAPÍTULO 2 Estado e religião
Cristão-novo: judeu
obrigado a se converter
ao catolicismo em Portu-
gal, em 1497. Na Espanha
aconteceu um processo
semelhante; ali os judeus
convertidos à força ao
catolicismo eram conhe-
cidos como marranos.
Blasfêmia: palavra que
ofende a divindade ou a
religião cristã.
Inquisição no Brasil
Nem tudo estava sob o domínio do catolicismo oficial na América portugue-
sa. No cotidiano, parte da população colonial resistia ou escapava à obrigação
de seguir a religião católica, praticando outras formas de religiosidade, nascidas
do sincretismo de crenças e ritos provenientes de tradições culturais indígenas,
africanas e europeias. Catimbós, calundus, candomblé, benzimentos e simpatias
são exemplos dessas manifestações religiosas que, mesmo condenadas pela Igreja,
eram praticadas na vida privada por diversos grupos sociais.
Para combater essas práticas — os chamados “crimes contra as verdades da fé
cristã” —, as autoridades da Igreja Católica e da Coroa portuguesa enviaram para
o Brasil representantes do Tribunal da Inquisição (reativado na Europa em meados
do século XVI). Eram as chamadas visitações, em que o sacerdote representante da
Inquisição (visitador) abria processo punitivo contra as pessoas acusadas de crime
contra a fé católica. Muitos acusados foram levados para Portugal para julgamento.
Nas visitações realizadas em Pernambuco e na Bahia (1591, 1618 e 1627), no
sul da colônia (1605 e 1627) e no Pará (1763 a 1769), a Inquisição perseguiu gran-
de número de cristãos-novos que tinham vindo de Portugal para a colônia. Eles
eram acusados de praticar, em segredo, a religião judaica. A Inquisição também
perseguiu muitas outras pessoas, acusadas, por exemplo, de feitiçaria, blasfêmia
e práticas sexuais então proibidas (prostituição, homossexualidade).
Culto de candomblé da nação Ketu, na cidade de Lauro de Freitas, Bahia. Fotografia de 2014.
sergio
Pedreira/Pulsar
imagens
28 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
Em destaque Círio de Nazaré
O Círio de Nazaré é uma celebração religiosa realizada há mais de dois séculos no Brasil. Trata-se
de uma celebração católica criada em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré. Em função de sua
importância cultural, o Círio foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco.
Ao longo do tempo, o Círio tornou-se uma tradição cultural ampla, mesclando aspectos religio-
sos, artísticos e alimentares. Assim, festas, feiras, apresentações artísticas e rituais alimentares foram
sendo incorporados ao Círio. Dentre as apresentações destaca-se o arrastão do boi da pavulagem,
cortejo que reúne pessoas em torno da brincandeira do bumba meu boi.
Além disso, dois pratos de origem indígena (a maniçoba e o pato ao tucupi) são as comidas mais
tradicionais do almoço do Círio. Em Belém do Pará, a procissão do Círio já chegou a reunir mais de
2 milhões de pessoas.
• Por que é importante preservar o patrimônio histórico brasileiro? Comente.
Além da procissão principal
do Círio de Nazaré, são
realizadas outras procissões,
feitas a pé, de carro, de
bicicleta, de barco e de moto.
Nessa imagem, embarcações
acompanham o navio que
conduzia a imagem da Nossa
Senhora de Nazaré nas
águas da baía do Guajará.
Fotografia de 2015.
Procissão do Círio de Nazaré
nas ruas de Belém, Pará,
em 2014. Na fotografia,
milhares de pessoas festejam
a passagem da berlinda que
protege a imagem da Nossa
Senhora de Nazaré, que no
catolicismo é um dos nomes
dados à mãe de Jesus Cristo.
antonio
CiCero/Fotoarena
antonio
CiCero/Fotoarena
29
CAPÍTULO 2 Estado e religião
Oficina de História
Vivenciar e refletir
1. Formem grupos e leiam o texto da historiadora Mary Del Priore. Depois, façam o
que se pede:
Uma das atividades de maior importância desenvolvidas pela Igre-
ja Católica na colônia foi a educação escolar. Nessa atividade, a Com-
panhia de Jesus desempenhou o papel principal, entre todas as con-
gregações e ordens religiosas. [...]
Na Bahia, a escola onde se davam o ensino e a catequese era, se-
gundo as cartas escritas pelos próprios jesuítas, uma pequena cons-
trução térrea, com um dormitório, uma área de estudo, um corredor
e uma sacristia. Dormiam aí padres e irmãos “assaz apertados”. A
cozinha, o refeitório e a despensa serviam aos jesuítas e às crianças.
Em salas separadas, lia-se gramática e ensinava-se a ler e escrever.
DEL PRIORE, Mary. Religião e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1997. p. 59-60.
a) Descrevam a organização espacial da sua escola e comparem-na com a da
escola jesuíta descrita no texto.
b) Você modificaria a organização espacial de sua escola? Pense nas áreas ocupa-
das pela biblioteca, salas de aula, pátios, quadras etc. Explique sua resposta.
2. A conquista do território indígena se fez à custa de guerras e destruições.
a) Essa situação de hostilidade aos indígenas tornou-se diferente no Brasil dos
últimos tempos? Pesquise a extensão atual de terras indígenas em seu estado.
b) Com base em sua pesquisa e no conteúdo do capítulo, escreva um texto
sobre a relação entre os indígenas e o poder público na atualidade.
Diálogo interdisciplinar
3. Os jesuítas também aprenderam algumas línguas dos nativos e as utilizaram em
sua tarefa evangelizadora. Foi o caso do padre jesuíta José de Anchieta, que pro-
duziu uma obra poética e dramática em língua tupi. Eram textos simples, de gos-
to popular, que se distribuíam aos indígenas para serem cantados ou encenados,
de preferência com música e dança. Seu objetivo era conquistá-los para a fé cristã,
mesclando elementos das culturas indígenas e espirituais do catolicismo.
Leia e interprete o seguinte trecho de um dos poemas de José de Anchieta:
Vinde, crianças, receber
o bondoso Jesus.
Meninos, rapazes,
guardai-o em vossos corações.
Alegre-me eu ao vos alimentardes dele.
In: MARTINS, M. L. P. Poesia: José de Anchieta S. J. São Paulo:
Comissão IV Centenário de São Paulo/Museu Paulista, 1954. p. 570 e 646.
Depois, em resposta a esses versos, crie um poema que promova uma reflexão sobre
o projeto de aculturação dos indígenas.
Diálogo interdisciplinar com Língua Portuguesa e Arte.
30 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
4. Analise a imagem e faça as atividades a seguir:
Diálogo interdisciplinar com Arte.
a) Na obra de Victor Meirelles, a figura do frade Henrique de Coimbra, vestido
de branco, com uma enorme cruz, marca o centro da pintura. Como os indí-
genas foram representados nessa obra? E de que forma o artista representou
o ambiente em que se passa a primeira missa?
b) Retome o painel intitulado A primeira missa no Brasil, de Candido Portinari
(página 20). Depois, compare as obras de Victor Meirelles e Portinari. Que
elementos da pintura de Candido Portinari não se encaixam na representação
presente na obra de Victor Meirelles?
De olho na universidade
5. (Mackenzie-SP) Entre as funções desempenhadas pela Igreja Católica no Período
Colonial, destaca-se:
a) o incentivo à escravização dos nativos, pelos colonos, por meio da qualifica-
ção de todos os índios como criaturas sem alma;
b) a tentativa de restringir a utilização de mão de obra escrava indígena apenas
aos serviços agrícolas nas áreas de extração do ouro e da prata;
c) a orientação da educação indígena, no sentido de estimular a formação, na
colônia, de uma elite intelectual católica;
d) a imposição dos princípios cristãos por meio da catequese, favorecendo o
avanço do processo colonizador.
A primeira missa no Brasil, obra de Victor Meirelles, produzida em 1860. A obra pertence ao
acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.
ViCtor
meirelles.
a
Primeira
missa
no
Brasil
.
1860.
31
CAPÍTULO 2 Estado e religião
Sociedade açucareira
No Brasil contemporâneo, uma minoria de 1% de proprietários rurais é dona
de, aproximadamente, 45% das terras cultiváveis.1
A concentração de terras
ocorre desde o período colonial, quando o governo português favorecia pou-
cas pessoas, concedendo-lhes grandes áreas rurais destinadas à construção de
engenhos e outros estabelecimentos.
Quais foram os interesses envolvidos na implantação dessas grandes proprie-
dades rurais?
• Descreva a imagem. Quais instrumentos são utilizados na produção da cana-
-de-açúcar?
1 Cf. Atlas do espaço rural brasileiro. Rio de Janeiro: IBGE, 2011.
A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil há mais de 400 anos. Desse modo, é possível dizer que a história
do país está intimamente ligada à agricultura dessa planta. Atualmente, o Brasil é o maior produtor
mundial de cana-de-açúcar. Na imagem, colheita mecanizada de cana-de-açúcar no interior do estado
de São Paulo. Fotografia de 2014.
ErnEsto
rEghran/Pulsar
ImagEns
32 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
capítulo
3
dições de riqueza, poder, prestígio e nobreza do Brasil
colonial”.2
Os seus proprietários ficaram conhecidos
como senhores de engenho. Eram geralmente pesso-
as cuja autoridade ultrapassava os limites de suas ter-
ras, estendendo-se às vilas e aos povoados vizinhos.
No começo do século XVIII, o padre jesuíta Anto-
nil traçou o seguinte perfil dos senhores de engenho
da Bahia:
Engenho
Núcleo econômico e social
No Brasil Colonial, a maioria da população vivia no
campo, trabalhando em propriedades rurais ligadas à
produção agrícola e à pecuária. Essas propriedades
rurais tornaram-se também núcleos sociais, adminis-
trativos e culturais, como foi o caso de muitos enge-
nhos (estabelecimentos onde se produzia o açúcar).
Para alguns historiadores, “o engenho de açúcar
é a unidade produtiva que melhor caracteriza as con-
Açúcar
A implantação de um negócio lucrativo
Os colonos que vieram com Martim Afonso de
Souza plantaram as primeiras mudas de cana-de-
-açúcar e instalaram o primeiro engenho da colônia
em São Vicente, no ano de 1533, na região do atual
estado de São Paulo.
A partir dessa época, os engenhos multiplicaram-
-se pela costa brasileira. A maior concentração deles
ocorreu no Nordeste, principalmente nas regiões dos
atuais estados de Pernambuco e da Bahia.
Em pouco tempo, a produção açucareira superou
em importância a atividade extrativa do pau-brasil,
embora a exploração intensa dessa madeira tenha
continuado até o início do século XVII.
Por que produzir açúcar
Diversos motivos levaram a Coroa portuguesa a im-
plantar a produção açucareira em sua colônia americana.
Havia, em certas regiões do Brasil, condições na-
turais favoráveis ao desenvolvimento da lavoura ca-
Investigando
1. Você sabe qual é a principal atividade econômica do seu estado? Ela gera algum impacto ambiental? Qual?
Pesquise.
2. Atualmente, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. Que produtos são fabricados a partir
da cana? Pesquise.
2 FARIA, Sheila de Castro. Engenho. In: VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil colonial.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 190.
navieira, como o clima quente e úmido e o solo de
massapê do litoral do nordeste.
Além disso, os portugueses dominavam o cultivo
da cana e a produção do açúcar, implantados com
sucesso em suas colônias na ilha da Madeira e no ar-
quipélago dos Açores. Assim, a metrópole sabia que
poderia obter lucros com a produção do açúcar, con-
siderado então um produto de luxo, uma especiaria,
que alcançava altos preços no mercado europeu.
O negócio açucareiro contou também com a
participação dos holandeses. Enquanto os portugue-
ses dominaram a etapa de produção do açúcar, os
holandeses controlaram sua distribuição comercial
(transporte, refino e venda no mercado europeu). Al-
guns historiadores afirmam que o trabalho de produ-
zir açúcar trazia menos lucros do que comercializar
o produto. Considerando isso, o negócio do açúcar
acabou sendo mais lucrativo para os holandeses do
que para os portugueses.
Antonil: pseudônimo do padre italiano
Giovanni Antonio Andreoni (1649-1716),
que dirigiu o Colégio de Salvador.
33
CAPÍTULO 3 Sociedade açucareira
Casa-grande e senzala
Casa-grande e senzala é o título de um livro rele-
vante e polêmico da historiografia brasileira, escrito pelo
sociólogo e antropólogo pernambucano Gilberto Freyre
(1900-1987). Foi publicado pela primeira vez em 1933.
O título é uma referência às duas construções
mais características dos engenhos. A casa-grande era
o casarão onde moravam o senhor de engenho e sua
família. Constituía também o centro administrativo
do engenho. A senzala era a construção onde viviam
os escravos africanos e seus descendentes, alojados
de maneira precária. Além dessas moradias, o enge-
nho tinha outras construções, entre elas:
• casa do engenho – com instalações como a moen-
da e as fornalhas;
• casa de purgar – onde o açúcar, depois de resfria-
do e condensado, era branqueado;
• galpões – onde os blocos de açúcar eram quebrados
em várias partes e reduzidos a pó;
• capela – onde a comunidade local reunia-se aos
domingos e em dias festivos.
Investigando
• Em sua opinião, quais construções arquitetônicas são representativas da cidade onde você vive? Justifique.
O senhor de engenho é título a que mui-
tos aspiram, porque traz consigo o ser ser-
vido, obedecido e respeitado de muitos. [...]
Servem ao senhor do engenho, em vários
ofícios, além de escravos [...] nas fazendas
e na moenda [...], barqueiros, canoeiros [...],
carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pes-
cadores. [...] cada senhor destes, necessaria-
mente, [tem] um mestre de açúcar [...], um
purgador, um caixeiro no engenho e outro
na cidade, feitores, e para o espiritual um
sacerdote.
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1997. p. 75.
A sociedade colonial não era formada apenas por
senhores de engenho e pessoas escravizadas. Além
deles, havia pessoas de diversas ocupações, como:
comerciantes, pescadores, ferreiros, carpinteiros, fei-
tores, mestres de açúcar, purgadores, agregados,
padres, alguns funcionários do rei (governadores, ju-
ízes, militares) e profissionais liberais (médicos, advo-
gados, engenheiros).
Mestre de açúcar: aquele que, no engenho, dá o ponto ao açúcar.
Purgador: o encarregado de purgar (purificar) o açúcar.
Agregado: morador do engenho que prestava serviços ao senhor em troca de favores.
Engenho, pintura criada pelo artista holandês Frans Post (1612-1680), que representou diversas paisagens brasileiras.
Frans
Post.
EngEnho
.
século
XVII/PalácIo
do
Itamaraty
–
mInIstérIo
das
rElaçõEs
EXtErIorEs,
BrasílIa
34 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
História Global 2o ano: trabalho e sociedade no Brasil colonial
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  • 1. Gilberto Cotrim 2 História Global Global MANUAL DO PROFESSOR COMPONENTE CURRICULAR HISTîRIA 2º ANO ENSINO MÉDIO
  • 2.
  • 3. 2 Gilberto Cotrim Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP) Licenciado em História pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie Professor de História na rede particular de ensino Advogado História Global 3ª - edição São Paulo, 2016 Componente CurriCular HISTÓRIA 2º ano EnSIno mÉdIo Manual do Professor
  • 4. Diretora editorial Lidiane Vivaldini Olo Gerente editorial Luiz Tonolli Editor responsável Kelen L. Giordano Amaro Editores Luciana Martinez, Ana Pelegrini, Carlos Eduardo de Almeida Ogawa Editor assistente Adele Motta Assessoria técnico-pedagógica Gabriel Farias Rodrigues, Giordana Cotrim Gerente de produção editorial Ricardo de Gan Braga Gerente de revisão Hélia de Jesus Gonsaga Coordenador de revisão Camila Christi Gazzani Revisores Carlos Eduardo Sigrist, Cesar G. Sacramento, Luciana Azevedo, Sueli Bossi Produtor editorial Roseli Said Supervisor de iconografia Sílvio Kligin Coordenador de iconografia Cristina Akisino Pesquisa iconográfica Daniela Ribeiro, Angelita Cardoso Licenciamento de textos Erica Brambila, Paula Claro Coordenador de artes José Maria de Oliveira Capa Carlos Magno Design Luis Vassalo Edição de arte Carlos Magno Diagramação Estúdio Anexo Assistente Bárbara de Souza Cartografia Sidnei Moura, Studio Caparroz Tratamento de imagens Emerson de Lima Protótipos Magali Prado 077642.003.001 Impressão e acabamento O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo utilizado apenas para fins didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora. História Global, 2o ano (Ensino Médio) © Gilberto Cotrim Direitos desta edição: Saraiva Educação Ltda., São Paulo, 2016 Todos os direitos reservados Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Cotrim, Gilberto História global 2 / Gilberto Cotrim. -- 3. ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016. Obra em 3 v. Suplementado pelo manual do professor. Bibliografia. ISBN 978-85-472-0567-6 (aluno) ISBN 978-85-472-0568-3 (professor) 1. História (Ensino médio) I. Título. 16-03506 CDD-907 Índices para catálogo sistemático: 1. História : Ensino médio 907 Avenida das Nações Unidas, 7221 – 1º andar – Setor C – Pinheiros – CEP 05425-902 Pedestres caminham na região do Pelourinho, em Salvador, Bahia. Fotografia de 2013 de Sérgio Pedreira (Pulsar Imagens). 2
  • 5. Esta obra apresenta uma visão geral de alguns con- teúdos históricos sobre diversas sociedades e culturas, com destaque para aqueles sobre o Brasil. A proposta é convidá-lo a refletir sobre o fazer histórico e dele parti- cipar ativamente. Nos vários percursos desta obra, foi realizada uma seleção de temas e interpretações históricas. No entan- to, outros caminhos podem ser trilhados. Por isso, este livro deve ser debatido, questionado e aprimorado por suas pesquisas. Espero que, ao estudar História, você possa am- pliar a consciência do que fomos para transformar o que somos. O autor Caro estudante 3
  • 6. Abertura de unidade Apresenta texto e imagem, sempre acompanhada de legenda, que conversam com temas abordados nos capítulos da unidade, por vezes estabelecendo relações entre o passado e o presente. As atividades da seção Conversando dialogam com o tema da abertura, muitas vezes trabalhando os conhecimentos prévios e as vivências dos estudantes. Abertura de capítulo Procura atrair a atenção dos estudantes para o tema histórico que será estudado. Apresenta um breve texto que sintetiza o conteúdo do capítulo, uma imagem acompanhada de legenda e a seção Treinando o olhar, que propõe atividades de leitura da imagem, muitas vezes estabelecendo relações com História da Arte. Conheça o livro Vendedores de capim e de leite, obra de Jean-Baptiste Debret, produzida entre 1834 e 1839. Na imagem, um escravo, à esquerda, carrega um pesado feixe de capim-de- -angola, que era muito utilizado para alimentar os cavalos no Brasil Colonial. À direita, três escravos vendem leite, bebida amplamente consumida com café e chá. UNIDADE 1 O trabalho é uma atividade típica do ser hu- mano e está profundamente ligado à história de cada sociedade. Por meio dele, construímos culturas, produzindo bens materiais e não ma- teriais. No entanto, o trabalho também pode ser fonte de castigo e sofrimento. No Brasil Colônia, milhões de africanos, afro- descendentes e indígenas foram submetidos à escravidão, que é uma das formas mais extremas de exploração humana. Mas eles resistiram a esta dominação e se rebelaram de vários modos. A presença dos africanos e indígenas foi de- cisiva na construção do Brasil. Eles produziram saberes, artes e ofícios que estão presentes na cultura brasileira. A escravidão foi abolida, mas a cidadania precisa ser ampliada. 1. “O trabalho está associado a ter, ser e valer.” Reflita sobre essa frase e procure explicar por que, no Brasil atual, existem alguns trabalhos que têm mais prestígio social do que outros. 2. Qual profissão você quer ter no futuro? Procure explicar os motivos de sua escolha. Trabalho e sociedade JEAN-BAPTISTE DEBRET. VENDEDORES DE CAPIM E DE LEITE. 1834-1839/COLEÇÃO PARTICULAR 8 9 Revolução Francesa e Era Napoleônica Liberdade, igualdade e fraternidade foram princípios da Revolução Francesa, que se difundiram pelo mundo como bandeira de vários movimentos sociais. Será que esses princípios tornaram-se direitos conquistados ou permanecem como objetivos a serem atingidos? • Observando essa obra, é possível notar a presença dos vários grupos sociais que atuaram na Revolução Francesa? Justifique. A guarda nacional de Paris em armas em setembro de 1792. Óleo sobre tela, de Léon Cogniet, 1834. Pertence ao acervo do Museu Nacional do Palácio de Versalhes, na França. COGNIET LÉON. LA GARDE NATIONALE DE PARIS, RASSEMBLÉE SUR LE PONT NEUF, PART POUR L’ARMÉE EN SEPTEMBRE 1792. 1833-1836. 133 CAPÍTULO 11 Revolução Francesa e Era Napoleônica CAPÍTULO 11 sabotavam a produção, quebrando ferramentas ou incendiando plantações. Na produção do açúcar, por exemplo, a sabotagem dos escravos era uma ameaça constante. Pedaços de madeira em brasa lançados nos canaviais provocavam incêndios; pedaços de ossos, ferro ou pedra jogados na moenda do engenho por vezes inutilizavam o maquinário, comprometendo a produção e até mesmo arruinando a safra. • Negociações – as “negociações” entre senhores e escravos também faziam parte do cotidiano escravis- ta. Segundo os historiadores João José Reis e Eduardo Silva, muitos escravos faziam acordos de cumprir as exigências de obediência e trabalho em troca de um melhor padrão de sobrevivência (alimentos, vestuá- rios, saúde) e da conquista de espaço para a expressão de sua cultura, organização de festas etc.5 Luta dos africanos As diversas formas de resistência à escravidão Os africanos trazidos para o Brasil e seus des- cendentes não ficaram passivos à condição escrava. Analisando as formas de resistência empregadas pe- los cativos, autores de obras mais recentes mostram que os africanos reagiram à escravidão na medida de suas possibilidades, ora promovendo uma luta aberta contra o sistema, ora até mesmo se “adaptando” a certas condições, mas propondo formas de minimizar seus aspectos mais perversos mediante negociações com os senhores. Vejamos algumas das formas de resistência viven- ciadas por eles: • Violência contra si mesmos – algumas mulheres, por exemplo, provocavam abortos para evitar que seus filhos também fossem escravos; outros cativos chegavam a praticar o suicídio, enforcando-se ou envenenando-se. • Fugas individuais e coletivas – as fugas eram constantes. Alguns escravos fugidos buscavam a pro- teção de negros livres que viviam nas cidades; outros, para dificultar a captura e garantir a subsistência, formavam comuni- dades, chamadas quilombos, com organização social própria e uma rede de alianças com di- versos grupos da sociedade. • Confrontação, boicote e sabota- gem – alguns se rebelavam e agiam com violência contra senhores e fei- tores; boicotavam os trabalhos, redu- zindo ou paralisando as atividades; 5 Cf. REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. Quilombo: palavra de origem africana que significa população, união. Comunidade remanescente de quilombo Kalunga Vão do Moleque durante um festejo. A comunidade está localizada no município de Cavalcante (GO). Fotografia de 2015. RICARDO TELES/PULSAR IMAGENS Investigando No mundo atual, existem casos de trabalhadores submetidos a condições análogas à de escravidão. Que mecanismos podem ser acionados para acabar com essa situação de violência? Há organizações e projetos que combatem o trabalho escravo em nosso país? Pesquise. 50 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade • Observe o mapa e identifique em quais dos atuais estados se concentrou a criação de gado, contribuindo para o seu povoa- mento durante o século XVIII. Observar o mapa Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1986. p. 32. SIDNEI MOURA Expansão territorial provocada pela pecuária (século XVIII) Investigando • Você consome leite e seus derivados? Observe a embalagem desses alimentos e responda: em que cidade são produzidos? Quais são os principais nutrientes encontrados no leite? A propósito da importância da produção de couro no período da expansão da pecuária, o historiador Capistrano de Abreu (1853-1927) fala da existência de uma “época do couro”: De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e mais tarde a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água, o mocó ou alforje para levar comida, a maca para guardar roupa, a mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas de faca, [...] surr›es, a roupa de entrar no mato [...]. ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988. p. 170. Posteriormente, por volta de 1780, surgiu a indústria do charque, que abriu no- vas possibilidades ao comércio da carne. Essa indústria desenvolveu-se rapidamente, impulsionada pelo crescente consumo. Suas instalações constituíam-se basicamente de um galpão, onde se preparava e salgava a carne, e de secadores ao ar livre. A produção de leite era pouco desenvolvida e estava longe de rivalizar com a existente em Minas Gerais. Em compensação, o sul, favorecido pelas baixas tem- peraturas, era a única região produtora e consumidora de manteiga. Além do gado bovino, foi significativa no Rio Grande do Sul a criação de cavalos e, principalmente, de mulas (muares). Muito exportadas para a região de Minas Gerais, as mulas tornaram-se importante meio de transporte nos terrenos acidentados e montanhosos das áreas mineradoras. Rio Amazonas R i o X i n g u R i o A r a g u a i a R i o T o c a n t i n s R i o P a rnaíba Rio Ja g u a r i b e R i o S ão Francisco R i o Jequitinhonha R i o Paranaíba R i o Pa r a n á Rio Iguaçu R i o P a r a g u a i Rio Paraíba do Sul R i o U ruguai RioTietê Rio Grande Rio Negr o Rio M a d e i r a R i o T a p aj ó s Rio Japurá Rio Pu r u s R i o Jacuí Rio Solimões 60º O 10º S Área de pecuária Limite atual do território brasileiro Meridiano de Tordesilhas 0 239 km OCEANO ATLÂNTICO OCEANO PACÍFICO Mocó: bolsa de tiracolo para guardar pequenas provisões. Alforje: saco duplo para transportar objetos. Peia: corda para prender o cavalo. Surrão: bolsa ou saco de couro usado para guar- dar alimentos. Charque: nome sulino da carne bovina cortada em mantas, salgada e seca ao sol (o mesmo que jabá ou carne-seca). 78 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade Glossário Pequenas notas explicam os significados de termos em destaque no texto. Textos e imagens Procuram organizar e promover alguns conhecimentos históricos. Os temas abordados devem ser investigados, debatidos e ampliados. As imagens complementam o texto principal e explicitam aspectos dele. Investigando As atividades deste boxe aproximam os temas históricos das vivências dos estudantes, promovendo a cidadania e o convívio solidário. Observar o mapa Esta seção apresenta atividades que trabalham a leitura dos mapas apresentados no capítulo. 4
  • 7. Interpretar fonte Esta seção propõe a análise de fonte histórica escrita ou não escrita, estimulando a interpretação e a reflexão. Procura aproximar os estudantes do ofício do historiador. Em destaque Esta seção apresenta textos que ampliam os assuntos estudados e/ou que apresentam diferentes versões históricas. Em muitos casos, os textos são acompanhados por imagens contextualizadas. Oficina de História Localizada ao final de cada capítulo, reúne diferentes tipos de atividades que visam promover a autonomia e o pensamento crítico dos estudantes. As atividades estão agrupadas em: Vivenciar e refletir – propõe atividades de pesquisa, experimentação e debate. Diálogo interdisciplinar – propõe atividades que realizam diálogos entre a História e outros componentes curriculares. De olho na universidade – apresenta questões de vestibulares de diferentes regiões do país e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No último capítulo de cada unidade, o Para saber mais indica livros, sites e filmes relacionados a conteúdos trabalhados na unidade. As indicações são acompanhadas de atividades. Projeto temático Encontra-se ao final do volume e propõe atividades experimentais e/ou interdisciplinares, que trabalham com procedimentos de pesquisa. Pode ser desenvolvido no decorrer do ano e está relacionado a assuntos abordados ao longo do livro. este livro não é consumível. Faça todas as atividades em seu caderno. NÃO ESCREVA NO LIVRO FA‚A NO Oficina de História Vivenciar e refletir 1. Leia um trecho do documento chamado “Carta de Jamaica”, escrito por Simón Bolívar em 1815. Os acontecimentos de Terra Firme nos provaram que as instituições verdadeira- mente representativas não são adequadas ao nosso caráter, costumes e conhecimen- tos atuais. Em Caracas, o espírito de parti- do teve sua origem nas sociedades, assem- bleias e eleições populares, e estes partidos nos levaram à escravidão. Assim como a Venezuela tem sido a república america- na que mais tem aperfeiçoado suas insti- tuições políticas, também tem sido o mais claro exemplo da ineficácia da forma de- mocrática e federal para nossos nascentes Estados. [...] Enquanto nossos compatrio- tas não adquirirem os talentos e as vir- tudes políticas que distinguem os nossos irmãos do norte, temo que os sistemas inteiramente populares, longe de nos se- rem favoráveis, venham a ser nossa ruína. Infelizmente estas qualidades, na medida requerida, parecem estar muito distantes de nós; pelo contrário, estamos dominados pelos vícios que se contraem sob a direção de uma nação como a espanhola, que ape- nas se tem sobressaído em crueldade, am- bição, vingança e cobiça. BOLÍVAR, Simón. “Carta de Jamaica”. In: Simón Bolívar: política. São Paulo: Ática, 1983. p. 84. a) Pela leitura do texto, Bolívar era favorável à im- plantação de sistemas inteiramente populares na América Espanhola? Como Bolívar justifica sua posição? b) A quem Bolívar se refere com a expressão “ir- mãos do norte”? 2. No texto seguinte, a historiadora Maria Ligia Prado analisa as diferentes concepções de liberdade dos di- versos agentes que participaram das independências: Liberdade [...] não é um conceito en- tendido de forma única; tem significados diversos, apropriados também de formas particulares pelos diversos segmentos da Diálogo interdisciplinar 4. Observe acima a escultura Mão, do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) e responda: a) Descreva a escultura, atentando-se para todos os detalhes. Procure responder: O que seria essa forma em vermelho que se encontra no meio da obra e vai até o chão? b) Segundo Niemeyer, “suor, sangue e pobreza marcaram a história desta América Latina tão desarticulada e oprimida. Agora urge reajustá-la num monobloco intocável, capaz de fazê-la inde- pendente e feliz”. (Disponível em: http://www. memorial.sp.gov.br/memorial/AgendaDetalhe. do?agendaId=1897. Acesso em: 10 dez. 2015.) Que relações podemos estabelecer entre essa frase e a escultura? Comente. c) Inspirado nas imagens do capítulo, crie uma re- presentação artística (desenho, música, escultu- ra, montagem com fotografias etc.) sobre a in- dependência das colônias espanholas e do Haiti. De olho na universidade 5. (UFJF) A respeito do processo de independência na América espanhola, é incorreto afirmar que: a) a invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas levou à reorganização do comércio das colônias, favorecendo a desarticulação do pacto colonial e a implantação de práticas comerciais mais livres. b) a Inglaterra ofereceu apoio à independência das colônias espanholas, pois via na região uma pos- sibilidade de ampliação dos mercados para seus produtos industrializados. c) os índios lutaram contra a independência e para a manutenção do trabalho forçado, pois viam no sistema colonial a única maneira de preser- vação de suas atividades econômicas. d) os criollos pretendiam romper o exclusivo colo- nial, mas não pretendiam encaminhar uma alte- ração na estrutura social das colônias. e) a emergência de uma revolução liberal na Espa- nha dificultou o envio de tropas para as colô- nias, favorecendo o processo de independência. sociedade. Para um representante da classe dominante venezuelana, Simón Bolívar, li- berdade era sinônimo de rompimento com a Espanha, para a criação de fulgurantes nações livres que seriam exemplos para o resto do universo. Mas, principalmente, nações livres para comerciar com todos os países, livres para produzir, única pos- sibilidade, segundo essa visão, do desabro- char do Novo Mundo. Já para Dessalines, o líder da revolução escrava do Haiti [...], a liberdade, antes de tudo, queria dizer o fim da escravidão, mas também carregava um conteúdo radical de ódio aos opressores franceses. [...] Para outros dominados e oprimidos, como os índios mexicanos, a liberdade pas- sava distante da Espanha e muito próxima da questão da terra. Na década de 1810, os líderes da rebelião camponesa mexicana [...] clamavam por terra para os deserda- dos. Seus exércitos [...] lutaram para que a terra, inclusive a da Igreja, fosse dividida entre os pobres. PRADO, Maria Ligia. A formação das nações latino-americanas. São Paulo: Atual, 1997. p. 13-14. De acordo com a interpretação de Maria Ligia Pra- do, qual era o significado de “liberdade” para Simón Bolívar? E para Dessalines? E para os indígenas mexi- canos? Compare as diversas concepções e indique as semelhanças e as diferenças entre elas. 3. Pesquise em diferentes meios de comunicação imagens de um mesmo movimento popular. Apre- sente e debata com seus colegas a maneira como o movimento popular que você escolheu foi re- presentado em cada órgão de imprensa. Em segui- da, com base no que estudamos neste capítulo e nos anteriores, reflita sobre o seguinte tema: “Os papéis das elites dominantes (políticas e econô- micas) e dos movimentos populares nos processos históricos. Qual é a diferença?”. Depois, participe de um debate sobre o assunto, ou- vindo a opinião dos colegas e expressando a sua visão. Escultura Mão, de Oscar Niemeyer, localizada no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP). Fotografia de 2009. G. EVANGELISTA/OPÇÃO BRASIL IMAGENS Para saber mais Na internet • A história da energia: https://www.youtube.com/ watch?v=U3-OsY4C39o Vídeo-documentário da série Ordem e desordem, produzida pela BBC. Narra as descobertas e invenções relacionadas ao conceito de energia. Em grupos, elaborem um relatório sobre o vídeo destacando os usos e aplicações da energia a partir da Revolução Industrial. (Acesso em: 10 dez. 2015.) Nos livros • FORTES, Luiz R. Salinas. O Iluminismo e os reis filó- sofos. São Paulo: Brasiliense, 1993. Escrito por um filósofo brasileiro especialista no pensamento de Jean-Jacques Rousseau, o livro analisa os significados e o alcance do Iluminismo, bem como sua influência na política no século XVIII. Em grupos, elaborem um breve texto dissertativo relacionan- do as ideias de um pensador iluminista a um dos temas abor- dados nesta unidade. Nos filmes • Libertador. Direção de Alberto Arvelo. Venezuela/ Espanha, 2014, 123 min. Filme sobre a vida do líder militar e político Simón Bolívar. Assista ao filme procurando analisar algumas características atribuídas ao protagonista. Em seguida, debata com seus colegas: Simón Bolívar foi representado como um “herói nacional”? 158 159 UNIDADE 2 Súdito e cidadão CAPÍTULO 12 Independências na América Latina O mural A Guerra da Independência do México foi criado pelo artista Diego Rivera em 1910. Em suas obras, Rivera procurava representar os indígenas e as pessoas mais pobres como protagonistas e não apenas como espectadores de sua história. Na parte superior do mural, há uma faixa com o lema “Tierra y Libertad” (Terra e Liberdade), que foi usado por camponeses e indígenas tanto nas lutas pela independência como na Revolução Mexica- na de 1910. Com isso, o artista estabeleceu relações entre as lutas do passado e as lutas de sua época. Na parte inferior do mural, há uma grande águia, que simboliza a fundação de Tenochtitlán. Essa cidade era sede do império asteca e sobre ela foi construída a atual Cidade do México. Interpretar fonte A Guerra da Independência do México Detalhe do afresco A Guerra da Independência do México, que se encontra no Palácio Nacional, na Cidade do México. THE BRIDGEMAN ART LIBRARY/KEYSTONE BRASIL Com suas palavras, explique a frase: “Rivera procurava representar os indígenas e as pessoas mais pobres como protagonistas e não apenas como espectadores de sua história”. 154 UNIDADE 2 Súdito e cidadão OCEANO ATLÂNTICO 50º O 10º S Em 1500 Em 2008 Atual divisão política do Brasil Limites atuais do Brasil 0 328 km Em destaque Devastação ambiental A devastação do meio ambiente começou cedo no território do país onde vivemos. Teve início com a extração de pau-brasil, logo nos primeiros anos de colonização. Como resultado da intensa extração, em poucas décadas o pau-brasil começou a escassear. O mesmo destino tiveram muitas árvores frutíferas, derrubadas sem preocupação com o replantio. Para a historiadora Laima Mesgravis, [...] o maravilhoso patrimônio da natureza, onde os índios viviam em harmonia com seu espaço e que tanto deslumbrou os primeiros observadores, incentivou, até certo ponto, a crença da abundância fácil, sem trabalho, infindável. MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 1989. p. 62. Atualmente, temos consciência de que, apesar de imensos, os recur- sos florestais brasileiros não são ines- gotáveis. Calcula-se que, em 1500, a mata Atlântica ocupava uma faixa de 1 milhão de quilômetros quadrados. Atualmente, restam apenas 8% dessa área, espalhados em matas que, em boa parte, se localizam em proprieda- des particulares. Estima-se que somente no século XVI tenham sido derrubados aproxi- madamente 2 milhões de árvores, de- vastando cerca de 6 mil quilômetros quadrados da mata Atlântica. Depois [da extração do pau- -brasil] vieram cinco séculos de queimada. A cana, o pasto, o café, tudo foi plantado nas cin- zas da Mata Atlântica. Dela saiu a lenha para os fornos dos en- genhos de açúcar, locomotivas, termelétricas e siderúrgicas. CORREIA, Marcos Sá. In: Veja. São Paulo: Abril, n. 51, 24 dez. 1997. p. 81. Suplemento Especial. Fonte: Mapas SOS Mata Atlântica. Disponível em: http://mapas.sosma.org.br. Acesso em: 27 out. 2015. Distribuição da mata Atlântica (1500-2008) SIDNEI MOURA 1. De acordo com o texto, quais foram as principais consequências da exploração econômica indiscrimina- da realizada pelos europeus nas áreas litorâneas do Brasil? 2. Identifique, no mapa, as regiões que apresentavam áreas cobertas pela mata Atlântica em 1500 e as que não possuem mais essa cobertura. 14 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade Projeto temático Dimensões do trabalho 280 281 Nos projetos temáticos, vocês irão realizar atividades experimentais que problema- tizam a realidade e ajudam a pensar historicamente. O tema deste projeto é o trabalho e suas dimensões. Para desenvolvê-lo, propõe-se a elaboração de uma revista sobre as dimensões do trabalho no Brasil. Reúnam-se em grupos e leiam as orientações a seguir. 1. A revista deve contar com seis seções: capa, matéria, entrevista, charge, resenha de filme e editorial. 2. Utilizando as sugestões de pesquisa encontradas nas próximas páginas, redijam uma matéria (texto jornalístico) sobre um dos temas listados a seguir: • alguns marcos dos direitos trabalhistas no Brasil, como o surgimento da Consoli- dação das Leis Trabalhistas (CLT); • o ingresso dos jovens no mercado de trabalho – possibilidades e dificuldades; • as mulheres no mercado de trabalho; • formas de trabalho escravo no mundo contemporâneo; • a escolha da profissão e a construção da identidade. 4. Criem uma charge inspirando-se em uma cena de trabalho da sua cidade. 5. Escrevam uma resenha sobre um filme que aborde o tema do trabalho. Há diversas sugestões de vídeos e filmes nas páginas 282 e 283. Para elaborar a resenha: • apresentem uma ficha técnica do filme contendo título, local e ano de produção, diretor, atores principais, livro em que o roteiro se baseou (se for o caso), entre outras informações; • analisem como o mundo do trabalho foi representado no filme. Procurem obser- var elementos como personagens, cenários e trilha sonora, caso se trate de ficção, ou entrevistas e imagens de arquivo, se for um documentário. 6. Elaborem um editorial inspirando-se nas seguintes questões: • qual é a visão de vocês a respeito do mundo do trabalho?; • por que é importante refletir sobre o mundo do trabalho? 7. Criem uma capa com os seguintes elementos: nome da revista, manchete e imagem que atraia a atenção do leitor para um de seus conteúdos. 8. Montem a revista reunindo capa, editorial e miolo (matéria, entrevista, charge e resenha do filme). 9. Apresentem a revista aos colegas e expliquem o que vocês aprenderam com esse projeto. Feirante trabalhando na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 2006. ISABEL SÓ/OPÇÃO BRASIL IMAGENS Três advogados se reúnem para examinar documentos. CAIAIMAGE/GETTY IMAGES 3. Entrevistem uma pessoa adulta que já tenha alguma experiência no mercado de trabalho e explorem a compreensão da relação das pessoas com o mundo do trabalho. As perguntas abaixo podem ser utiliza- das como roteiro para a entrevista: • qual é seu nome, sua idade, sua nacionalidade e sua escolaridade?; • você trabalha ou já trabalhou? Com o quê? Você sempre quis trabalhar com isso?; • quando você começou a trabalhar? Por quê?; • você já ficou desempregado? Por quanto tempo? Como se sentiu nessa época?; • como costuma passar seu tempo livre? Gostaria de ter mais tempo livre? Por quê?; • você se sente feliz com seu trabalho? Você se sente va- lorizado em seu ambiente de trabalho? Exemplifique.; • além do seu sustento, o que esse trabalho pode proporcionar para você?; • que conselho você daria para um jovem que vai co- meçar a trabalhar?; • você já pensou na aposentadoria? O que pretende fazer quando se aposentar?; • que história relacionada ao seu trabalho você con- sidera marcante? 280 281 5
  • 8. Sumário Unidade 1 Trabalho e sociedade Capítulo 1 - Mercantilismo e colonização 10 Mercantilismo: Política econômica do Estado moderno 11 Colonialismo: A dominação das metrópoles sobre as colônias 11 Primeiras expedições: Reconhecimento das terras e das gentes 12 Colonização: A decisão de ocupar a terra 15 Oficina de História 18 Capítulo 2 - Estado e religião 20 Capitanias hereditárias: Início da administração colonial 21 Governo-geral: A busca da centralização administrativa 23 Alternâncias na administração: Centralizações e descentralizações do governo 25 Padroado: Vínculos entre governo e Igreja Católica 27 Oficina de História 30 Capítulo 3 - Sociedade açucareira 32 Açúcar: A implantação de um negócio lucrativo 33 Engenho: Núcleo econômico e social 33 Mercado interno na colônia: A pecuária e produções agrícolas variadas 35 Mão de obra: A escravização de milhões de africanos 36 Oficina de História 38 Capítulo 4 - Escravidão e resistência 40 Tráfico negreiro: O comércio de vidas humanas 41 Diversidade: Povos africanos e suas condições de vida 47 Luta dos africanos: As diversas formas de resistência à escravidão 50 Oficina de História 54 Capítulo 5 - Holandeses no Brasil 56 União Ibérica: Portugal e Espanha sob a mesma Coroa 57 Invasões holandesas: Lutas pelo controle do negócio açucareiro 59 Portugal após a União Ibérica: Problemas econômicos e sociais 64 Oficina de História 66 Capítulo 6 - Expansão territorial 68 Povoamento: A marcha da colonização 69 Expedições militares: Expansão patrocinada pelo governo 70 Bandeirismo: Expansão patrocinada por particulares 71 Jesuítas: A fundação de aldeamentos no interior 74 Pecuária: O povoamento do sertão nordestino e do sul 77 Tratados e fronteiras: Os acordos internacionais sobre o território colonial 79 Oficina de História 80 Capítulo 7 - Sociedade mineradora 82 Enfim, muito ouro: A realização do velho sonho português 83 Controle: A administração das minas pelo governo 86 Sociedade do ouro: Desenvolvimento da vida urbana em Minas Gerais 88 Crise da mineração: O declínio da produção aurífera 89 Oficina de História 92 Unidade 2 Súdito e cidadão Capítulo 8 - Antigo Regime e Iluminismo 96 O Antigo Regime: Vida social e política na Europa moderna 97 Iluminismo: A razão em busca de liberdade 100 Pensadores iluministas: Diversidade de ideias e objetivos 102 Despotismo esclarecido: Absolutismo e algumas reformas sociais 106 Oficina de História 108 Capítulo 9 - Inglaterra e Revolução Industrial 110 Revolução Inglesa: Do absolutismo à monarquia parlamentar 111 Revolução Industrial: Da produção artesanal à produção nas fábricas 113 Impactos: As sociedades urbanas e industriais 116 Oficina de História 120 Capítulo 10 - Formação dos Estados Unidos 122 As 13 colônias: Ocupação inglesa na América do Norte 123 Emancipação: O nascimento dos Estados Unidos 126 Oficina de História 131 Capítulo 11 - Revolução Francesa e Era Napoleônica 133 Crise do Antigo Regime: A França às vésperas da Revolução 134 Revolução: A longa trama revolucionária 136 Era Napoleônica: Conquistas e tragédias 142 Congresso de Viena: A reação conservadora de governos europeus 146 Oficina de História 148 Capítulo 12 - Independências na América Latina 150 Crise colonial: Raízes do processo emancipatório 151 Rompimento: Lutas pela independência 152 Oficina de História 158 6 Frederic Soltan/corbiS/Fotoarena
  • 9. inStitUto HiStÓrico e GeoGrÁFico braSileiro, rio de Janeiro, braSil Capítulo 13 - Independência do Brasil 162 Crise colonial: Contradições e declínio de um sistema de exploração 163 Rebeliões coloniais: Conflitos entre colonos e colonizadores 165 A corte no Brasil: Caminhos da emancipação brasileira 168 Ruptura: O resultado das pressões portuguesas 171 Oficina de História 174 Capítulo 14 - Primeiro Reinado 176 O novo país: Lutas internas e negociações internacionais 177 Primeira Constituição: As lutas políticas pelo controle do poder 179 Confederação do Equador: O projeto de uma república no nordeste 182 Abdicação do trono: A conjuntura do Final do Primeiro Reinado 184 Oficina de História 188 Capítulo 15 - Período regencial 190 Cenário político: Os grupos partidários do período regencial 191 Período regencial: As regências que governaram o império 192 Revoltas provinciais: Contestações ao governo central e às condições de vida 196 Oficina de História 204 Capítulo 16 - Segundo Reinado 205 Política interna: O jogo político entre liberais e conservadores 206 Praieira: A revolta liberal pernambucana 208 Modernização: O impacto das transformações econômicas 209 Oficina de História 216 Capítulo 17 - Crise do império 218 Política externa: Conflitos internacionais no Segundo Reinado 219 Abolicionismo: A luta pelo fim da escravidão no Brasil 226 Queda da monarquia: Condições que levaram à instituição da República 231 Oficina de História 234 Capítulo 18 - Europa no século XIX 240 Onda de revoltas: Nacionalismo, liberalismo, socialismo e anarquismo 241 França: Revoltas liberais repercutem na Europa 244 Unificação da Itália: A formação do Estado italiano 249 Unificação da Alemanha: A formação de uma nova potência econômica 251 Oficina de História 253 Capítulo 19 - Imperialismo na África e na Ásia 255 Avanço capitalista: O surgimento de grandes potências 256 Neocolonialismo: Um mundo partilhado entre as grandes potências 258 África e Ásia: A dominação neocolonial em dois continentes 259 Oficina de História 264 Capítulo 20 - América no século XIX 266 América Anglo-saxônica: O desenvolvimento dos Estados Unidos 267 América Latina: Diferenças e elementos históricos comuns 273 Imperialismo: A dominação da América Latina pelos Estados Unidos 275 Oficina de História 277 Unidade 3 Liberdade e independência Unidade 4 Tecnologia e dominação Cronologia 284 Bibliografia 287 Manual do Professor – Orientações didáticas 289 Projeto Temático: Dimensões do trabalho 280 JoHn cHarleS readY coloMb. 1886. 7
  • 10. unidade 1 O trabalho é uma atividade típica do ser hu- mano e está profundamente ligado à história de cada sociedade. Por meio dele, construímos culturas, produzindo bens materiais e não ma- teriais. No entanto, o trabalho também pode ser fonte de castigo e sofrimento. No Brasil Colônia, milhões de africanos, afro- descendentes e indígenas foram submetidos à escravidão, que é uma das formas mais extremas de exploração humana. Mas eles resistiram a esta dominação e se rebelaram de vários modos. A presença dos africanos e indígenas foi de- cisiva na construção do Brasil. Eles produziram saberes, artes e ofícios que estão presentes na cultura brasileira. A escravidão foi abolida, mas a cidadania precisa ser ampliada. 1. “O trabalho está associado a ter, ser e valer.” Reflita sobre essa frase e procure explicar por que, no Brasil atual, existem alguns trabalhos que têm mais prestígio social do que outros. 2. Qual profissão você quer ter no futuro? Procure explicar os motivos de sua escolha. Trabalho e sociedade 8
  • 11. Vendedores de capim e de leite, obra de Jean-Baptiste Debret, produzida entre 1834 e 1839. Na imagem, um escravo, à esquerda, carrega um pesado feixe de capim-de- -angola, que era muito utilizado para alimentar os cavalos no Brasil Colonial. À direita, três escravos vendem leite, bebida amplamente consumida com café e chá. Jean-Baptiste DeBret. VenDeDores De capim e De leite. 1834-1839/coleção particular 9
  • 12. Mercantilismo e colonização O Brasil possui uma das maiores áreas florestais do planeta, com destaque para a flo- resta Amazônica. Todavia, o país ainda apresenta níveis significativos de desmatamen- to e práticas inadequadas de exploração que são responsáveis por danos ambientais. Quais são as raízes desse processo? 1. Que personagens aparecem no mapa? Como eles foram representados? 2. Que instrumento é utilizado por um dos personagens? De que material ele é feito? Levante hipóteses. 3. Esse instrumento pode simbolizar o contato entre indígenas e portugueses? Explique. Detalhe de mapa publicado no Atlas de Sebastião Lopes em cerca de 1565. Nesse mapa, foi representada a exploração de pau-brasil. seBastião lopes. carta Do Brasil c. 1565/BiBlioteca newBerry, chicago, eua. 10 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade capítulo 1
  • 13. Investigando 1. Qual o sentido da expressão “concorrência econômica”? Você sabe como essa concorrência pode afetar os valores dos produtos que você consome? Pesquise. 2. Na sua opinião, a economia de um Estado só pode se desenvolver à custa de outras economias? Debata esse assunto com seus colegas. Mercantilismo Política econômica do Estado moderno Colonialismo A dominação das metrópoles sobre as colônias O termo mercantilismo é utilizado por alguns eco- nomistas e historiadores para designar um conjunto de práticas econômicas que vigoraram em países da Europa ocidental entre os séculos XV e XVIII. Essas práticas varia- vam de país para país, mas tinham o objetivo comum de fortalecer o Estado, em aliança com setores comerciais. Segundo historiadores, o termo mercantilismo te- ria sido empregado pela primeira vez pelo economista escocês Adam Smith (1723-1790) para se referir, de maneira depreciativa, às políticas econômicas interven- cionistas dos governos de sua época e propor, em seu lugar, políticas liberais. Práticas mercantilistas No início da Idade Moderna, a riqueza de um Estado também foi medida pela quantidade de me- tais preciosos (ouro e prata) que ele possuía dentro de suas fronteiras. Assim, aumentar a quantidade de metais preciosos tornou-se um dos objetivos funda- mentais dos governos mercantilistas. Esse pensamen- to econômico foi chamado de metalismo. A fim de acumular riquezas, o Estado procurava, entre outras coisas, manter uma balança comercial favorável, isto é, o valor das exportações do país devia superar as importações (gerando superávit). Para isso, o Estado adotava uma série de medidas protecionistas, como incentivar a produção interna de artigos manufaturados que pudessem concorrer vantajosamente nos mercados internacionais. Além disso, o Estado dificultava a entrada de al- guns produtos estrangeiros, para resguardar seu mer- cado interno e o de suas colônias. O protecionismo se fazia por meio da política alfandegária (aumento ou redução dos tributos sobre importação e exportação). Investigando 1. Em sua opinião, quais são os bens econômicos mais valorizados na sociedade brasileira atual? Justifique. 2. Pesquise notícias atuais que apresentem as expressões: “balança comercial favorável”, “protecionismo” ou “in- tervencionismo estatal”. Depois, analise com seus colegas em que contexto essas expressões foram utilizadas. A adoção das práticas mercantilistas por diversos Estados europeus gerou choque de interesses entre eles. A concorrência econômica se acirrou com dispu- tas de mercados. Nesse cenário, Estados como Portugal e Espanha (chamados metrópoles) passaram a exercer um domí- nio peculiar sobre suas colônias de modo que pudes- sem obter vantagens comerciais, se possível exclusivas. Segundo a interpretação do historiador Fernando Novais, foi no contexto do colonialismo mercantilista que se desenvolveu, como peça fundamental, um sis- tema de exploração colonial.1 1 Cf. NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1983. p. 57-92; VAINFAS, Ronaldo. Mercantilismo. In: Dicionário do Brasil colonial (1500-1808). Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 392-393. 11 CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
  • 14. AMÉRICA DO NORTE BAHAMAS PORTO RICO HAITI GUIANAS AMÉRICA DO SUL Açores Ilha da Madeira Ilhas Canárias I. Cabo Verde INGLATERRA FRANÇA HOLANDA EUROPA ESPANHA ÍNDIA MOÇAMBIQUE ANGOLA MADAGÁSCAR Diu Bombaim Goa Calicute CEILÃO MÁLACA ÁSIA São Jorge da Mina ÁFRICA Forte James St. Louis Agadir PORTUGAL Tânger FILIPINAS São Tomé JAPÃO 20º N 40º L OCEANO ATLÂNTICO OCEANO ÍNDICO OCEANO PACÍFICO OCEANO PACÍFICO Império espanhol Império francês Império holandês Império inglês Império português 0 2 210 km 1. Identifique quais metrópoles tinham colônias na América, na África e na Ásia. 2. Pelo que você pode observar nesse mapa, os governos de França, Inglaterra e Holanda respeitaram a determi- nação do Tratado de Tordesilhas? Explique. Observar o mapa Impérios coloniais europeus (século XVII) Fonte: McEVEDY, Colin. Atlas da história moderna. São Paulo: Verbo/Edusp, 1979. p. 53. Características gerais No colonialismo mercantilista, o relacionamento entre metrópole e colônia obedecia a certas linhas gerais. A economia da colônia era organizada em fun- ção da metrópole, de tal maneira que a colônia deveria atender ou complementar a produção da metrópole. Primeiras expedições Reconhecimento das terras e das gentes Com a descoberta do novo caminho para as Ín- dias, o comércio de especiarias passou a ser uma das fontes de riqueza de Portugal. A cidade de Lisboa, capital desse lucrativo comércio, destacava-se pela agitada vida econômica. Nessa época em que as atenções de setores da sociedade portuguesa estavam voltadas para o co- mércio oriental, ocorreu a chegada às terras que mais tarde formariam o Brasil. Nas primeiras expedições às novas terras, os enviados da Coroa encontraram grande quanti- dade de pau-brasil no litoral. Mas não descobriram Além disso, a metrópole impunha o “direito ex- clusivo” de fazer comércio com a região colonizada, comprando os produtos dela pelo preço mais baixo e vendendo-lhe mercadorias pelo valor mais alto. Nesse contexto histórico, diversas nações euro- peias formaram verdadeiros impérios coloniais, entre os quais se destacaram Portugal e Espanha. as desejadas jazidas de ouro. Com isso, o governo português percebeu que não seria possível obter lucros fáceis e imediatos na região, pois o lucro ge- rado pela exploração da madeira seria menor do que o então vantajoso comércio de produtos afri- canos e asiáticos. Por esse motivo, durante 30 anos (1500-1530), o governo português limitou-se a enviar para o Brasil algumas expedições marítimas destinadas principal- mente ao reconhecimento da terra e à preservação de sua posse. O efetivo processo de colonização só ocorreu posteriormente. selma caparroZ 12 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 15. As principais expedições marítimas portuguesas enviadas nesse período, chamado por historiadores de “pré-colonizador”, foram: • Expedição comandada por Gaspar de Lemos (1501) – explorou grande parte do litoral brasilei- ro e deu nome aos principais acidentes geográficos então encontrados (ilhas, cabos, rios, baías). • Expedição comandada por Gonçalo Coelho (1503) – organizada por conta de um contrato assi- nado entre o rei de Portugal e um grupo de comer- ciantes interessados na exploração do pau-brasil, dentre os quais se destacava Fernão de Noronha. • Expedições comandadas por Cristóvão Jacques (1516 e 1520) – foram organizadas para deter o contrabando de pau-brasil feito por outros comer- ciantes europeus. Não foram bem-sucedidas pela extensão do litoral. Extração do pau-brasil A primeira riqueza explorada pelos europeus em terras brasileiras foi o pau-brasil (Caesalpinia echinata) — árvore assim denominada devido à cor de brasa do interior de seu tronco. Os indígenas a chamavam ibirapitanga ou arabutã, que significa “madeira ou pau vermelho”. Ao ser informado sobre a existência de pau-brasil nestas terras, o rei de Portugal declarou que a explo- ração dessa árvore era monopólio da Coroa, ou seja, ninguém poderia retirá-la das matas brasileiras sem permissão do governo português e sem pagamento do tributo correspondente. Essa declaração, no en- tanto, não foi respeitada por ingleses, espanhóis e, principalmente, franceses. A primeira concessão da Coroa para a exploração do pau-brasil foi dada ao comerciante português Fernão de Noronha, em 1503. Seus navios foram os primeiros a chegar à ilha que mais tarde recebeu seu nome. As pessoas que tinham como ocupação o comér- cio do pau-brasil eram chamadas brasileiros — ter- mo que, com o tempo, perdeu o sentido original e passou a ser utilizado para designar os colonos nas- cidos no Brasil. Observe que o sufixo -eiro é utilizado para designar ofício ou ocupação, como ocorre em engenheiro, marceneiro, livreiro. Trabalho indígena A extração de pau-brasil nesse período dependia da mão de obra dos indígenas — eles derrubavam as árvores, cortavam-nas em toras e carregavam-nas até os locais de armazenamento (feitorias), de onde eram levadas para os navios. Esse trabalho era conseguido de forma amigável, por meio do escambo. Em troca de uma série de objetos (como pedaços de tecido, anzóis, espelhos e, às vezes, facas e canivetes), os in- dígenas eram aliciados a derrubar as árvores com os machados fornecidos pelos europeus. Por seu caráter predatório, a extração de pau- -brasil demandava que os exploradores se deslocas- sem pelas matas litorâneas à medida que a madeira ia se esgotando. Por isso, essa atividade não deu origem a núcleos significativos de povoamento. Foram cons- truídas feitorias apenas em pontos da costa onde a madeira era mais abundante. Escambo: câmbio de bens ou serviços sem in- termediação de dinheiro. Aliciado: seduzido, envolvido, incitado. Pau-brasil no parque do Ibirapuera, na cidade de São Paulo. Essa árvore, que tem madeira resistente e costuma medir entre 8 e 12 metros de altura, encontra-se ameaçada de extinção. Fotografia de 2015. FaBio colomBini 13 CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
  • 16. OCEANO ATLÂNTICO 50º O 10º S Em 1500 Em 2008 Atual divisão política do Brasil Limites atuais do Brasil 0 328 km Em destaque Devastação ambiental A devastação do meio ambiente começou cedo no território do país onde vivemos. Teve início com a extração de pau-brasil, logo nos primeiros anos de colonização. Como resultado da intensa extração, em poucas décadas o pau-brasil começou a escassear. O mesmo destino tiveram muitas árvores frutíferas, derrubadas sem preocupação com o replantio. Para a historiadora Laima Mesgravis, [...] o maravilhoso patrimônio da natureza, onde os índios viviam em harmonia com seu espaço e que tanto deslumbrou os primeiros observadores, incentivou, até certo ponto, a crença da abundância fácil, sem trabalho, infindável. MESGRAVIS, Laima. O Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 1989. p. 62. Atualmente, temos consciência de que, apesar de imensos, os recur- sos florestais brasileiros não são ines- gotáveis. Calcula-se que, em 1500, a mata Atlântica ocupava uma faixa de 1 milhão de quilômetros quadrados. Atualmente, restam apenas 8% dessa área, espalhados em matas que, em boa parte, se localizam em proprieda- des particulares. Estima-se que somente no século XVI tenham sido derrubados aproxi- madamente 2 milhões de árvores, de- vastando cerca de 6 mil quilômetros quadrados da mata Atlântica. Depois [da extração do pau- -brasil] vieram cinco séculos de queimada. A cana, o pasto, o café, tudo foi plantado nas cin- zas da Mata Atlântica. Dela saiu a lenha para os fornos dos en- genhos de açúcar, locomotivas, termelétricas e siderúrgicas. CORREIA, Marcos Sá. In: Veja. São Paulo: Abril, n. 51, 24 dez. 1997. p. 81. Suplemento Especial. Distribuição da mata Atlântica (1500-2008) 1. De acordo com o texto, quais foram as principais consequências da exploração econômica indiscrimina- da realizada pelos europeus nas áreas litorâneas do Brasil? 2. Identifique, no mapa, as regiões que apresentavam áreas cobertas pela mata Atlântica em 1500 e as que não possuem mais essa cobertura. Fonte: Mapas SOS Mata Atlântica. Disponível em: http://mapas.sosma.org.br. Acesso em: 27 out. 2015. siDnei moura 14 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 17. OCEANO ATLÂNTICO 50º O 10º S Chegada em janeiro de 1531 Partida em dezembro de 1530 BRASIL Fundação da Vila de São Vicente (1532) Piratininga Feitoria de Cabo Frio Baía deTodos os Santos Ilha de Cananeia Ilha de Itamaracá Ilha de Santa Catarina Cabo de Santa Maria Meridiano de Tordesilhas Limites atuais do Brasil 0 390 km Expedição de Martim Afonso de Souza (século XVI) Colonização A decisão de ocupar a terra De acordo com o Tratado de Tordesilhas, Portugal e Espanha eram os únicos donos das terras da Améri- ca. Mas franceses, holandeses e ingleses não respeita- vam esse tratado e disputavam a posse de territórios americanos com portugueses e espanhóis. Essa disputa intensificou-se principalmente a par- tir da notícia de que os espanhóis haviam descoberto ouro e prata em áreas que hoje correspondem ao Mé- xico e ao Peru. Nesse contexto, o governo português receava per- der as terras americanas. As expedições que tinha envia- do até então não conseguiam deter a atuação clandes- tina de outros europeus, especialmente dos franceses, que haviam estabelecido alianças com os indígenas tupinambás para a extração do pau-brasil. Para acabar com esse contrabando e evitar as invasões, a Coroa por- tuguesa decidiu colonizar efetivamente o Brasil. Além disso, a colonização da América começou a ser vista pelos portugueses como uma alternativa para buscar novos lucros comerciais, uma vez que o comércio de Portugal com o Oriente havia entrado em declínio. A expedição de Martim Afonso de Souza Cinco navios e uma tripulação de cerca de 400 pessoas. Assim era composta a expedição comandada por Martim Afonso de Souza, que partiu de Lisboa em dezembro de 1530. Segundo alguns estudiosos, essa expedição tinha, entre seus objetivos: • iniciar a ocupação da terra e sua exploração econô- mica por colonos portugueses; • combater corsários estrangeiros; • procurar metais preciosos; • fazer melhor reconhecimento geográfico do litoral. Em 22 de janeiro de 1532, buscando estabelecer núcleos de povoamento, Martim Afonso fundou a pri- meira vila do Brasil: São Vicente. Fundou também alguns povoados, como Santo André da Borda do Campo. Cultivo da cana-de-açúcar Para colonizar o Brasil, os portugueses decidiram implantar a produção açucareira em certos trechos do litoral, uma vez que o açúcar era um produto que ti- nha grande procura na Europa. Por meio da cultura da cana, seria possível promover a ocupação sistemá- tica da colônia. Ao implantar a empresa açucareira na colônia, Portugal deixava a atividade meramente extrativista e predatória (a exploração de pau-brasil) e iniciava a montagem de uma organização produtiva dentro das diretrizes do sistema colonial. A produção de açúcar para o mercado europeu marcaria a história colonial do Brasil. No Brasil, o primeiro estabelecimento de produ- ção de açúcar (engenho) foi instalado na região de São Vicente. Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1986. p. 14. siDnei moura 15 CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
  • 18. Monopólio comercial português No início do século XVI, época da instalação dos primeiros engenhos e núcleos de povoamento, o comércio do açúcar era relativamente livre. A Coroa concedia terras a portugueses que tivessem recursos para a instalação de engenhos. Entre 1560 e 1570, a economia açucareira apresentou crescimento expressivo. Percebendo a expansão do negócio do açúcar, o governo de Portugal decidiu esta- belecer normas mais rígidas para a concessão de terras. Em 1571, decretou que o comércio colonial com o Brasil deveria ser feito exclusivamente por navios portugue- ses. O governo pretendia implantar o monopólio comercial (que era chamado, na época, de exclusivo metropolitano) nas transações do açúcar. Com o monopólio, os produtos coloniais eram comprados pelos preços mais baixos do mercado, enquanto os artigos metropolitanos eram vendidos para os colonos do Brasil pelos preços mais altos. Escravização dos indígenas O relacionamento entre os colonos portugueses e os vários povos indígenas foi se tornando conflituoso à medida que os nativos resistiam ao processo de coloni- zação. Os colonos, no entanto, para satisfazer suas necessidades, usaram violência contra os indígenas e passaram a escravizá-los. A escravização indígena estabeleceu-se a partir da década de 1530, principal- mente quando os colonos portugueses necessitaram de mão de obra para a produ- ção açucareira. Os portugueses e alguns aliados nativos guerreavam contra os “in- dígenas inimigos”, e os prisioneiros eram distribuídos ou vendidos como escravos. No século XVII, a escravização indígena continuou ligada à expansão açuca- reira pelo litoral, mas se estendeu também para as áreas dos atuais estados de São Paulo, Maranhão, Pará, entre outros. Nessas regiões, os nativos trabalhavam em atividades como o cultivo de milho, feijão, arroz e mandioca e a extração das chamadas “drogas do sertão” (guaraná, cravo, castanha, baunilha, plantas aro- máticas e medicinais). Além disso, o escravo indígena foi utilizado para o transporte de mercadorias. De São Paulo a Santos, por exemplo, o carregador nativo descia a Serra do Mar transportando nos ombros cargas de aproximadamente 30 quilos. Cacho de guaraná na cidade de Camamu, Bahia. Foram os indígenas Sateré-Mawé que, há mais de 500 anos, domesticaram a planta do guaraná, cujo nome científico é Paullinia cupana. Esse povo, que vive no atual Amazonas, possibilitou que o guaraná fosse conhecido e consumido no mundo inteiro. Fotografia de 2015. inacio teixeira/pulsar imagens 16 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 19. Investigando • Em sua opinião, alguma guerra pode ser considerada justa? Reflita. “Guerras justas” Apesar de o governo português ter defendido, em princípio, a liberdade in- dígena, os colonos recorreram por diversas vezes à “guerra justa” para conseguir escravos entre os povos nativos. Assim se chamava a guerra contra os indígenas autorizada pelo governo português ou seus representantes. As “guerras justas” podiam ocorrer quando os indígenas não se conver- tiam à fé cristã – imposta pelos colonizadores – ou impediam a divulgação dessa religião; quebravam acordos ou agiam com hostilidade em relação aos portugueses. No entanto, os colonos burlavam as normas oficiais sobre a “guerra justa”, alegando, por exemplo, que eram atacados ou ameaçados pelos indígenas. Sucessivas guerras contra povos indígenas marcaram a conquista das regiões litorâneas pelos europeus no século XVI. Foi o caso, por exemplo, das guerras contra os indígenas caetés, tupinambás, carijós, tupiniquins, guaranis, tabajaras e potiguares. Gravura de Thomas Marie Hippolyte Taunay e Ferdinand-Jean Denis, datada de 1822, representando ritual dos tupinambás com feiticeiros soprando o espírito de força do povo. thomas marie hippolyte taunay e FerDinanD-Jean Denis. 1822. coleção itaú De iconograFia Brasileira. 17 CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
  • 20. Oficina de História Vivenciar e refletir 1. Alguns indígenas queriam saber por que portugueses e franceses, desde a chegada às suas terras, precisavam tirartantamadeiradasflorestas.Leiaumtrechodotexto do francês Jean de Léry, que esteve no Brasil em 1558, narrandoodiálogoquetevecomumvelhotupinambá. Por que vindes vós outros, maírs e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos mui- ta, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho tupinambá imedia- tamente: e porventura precisais de muito? — Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios vol- tam carregados.—Ah! Retrucou o selvagem,tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreeender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim,disse eu,morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursa- dores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que dei- xam? — Para seus filhos se os têm, respondi! — Na verdade, continuou o velho, […] agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes in- cômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas es- tamos certos de que, depois de nossa morte, a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados. LÉRY, Jean de. Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1980. p. 170. a) Por que o indígena tupinambá não entendia a ne- cessidade de extrair tanta madeira das florestas? b) Que diferença cultural é possível perceber entre o mododevidaeuropeueomododevidaindígena? Diálogo interdisciplinar 2. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 472 espé- cies de árvores estão ameaçadas de extinção no Brasil contemporâneo. É o caso do pau-brasil, da cerejeira, da castanheira, do jacarandá, do mogno, da imbuia e da araucária. Crie um cartaz sobre uma dessas espé- cies. Para isso, em grupos, façam o que se pede. a) Escolham uma árvore e pesquisem: nome cien- tífico, outros nomes pelos quais é conhecida, al- tura máxima que atinge, biomas em que ocorre, motivos pelos quais corre risco de extinção e o que tem sido feito para preservá-la. b) Elaborem uma ficha sobre a árvore resumindo as informações pesquisadas. c) Com base na pesquisa, criem um título chamati- vo para seu cartaz. d) Selecionem fotografias da árvore e escrevam le- gendas para as imagens. e) Organizem a ficha, o título e as fotografias em um cartaz. Depois, apresentem o cartaz para seus co- legas e debatam com eles as medidas de preser- vação das espécies ameaçadas de extinção. 3. O historiador Warren Dean comenta que as facas e os machados de aço que os europeus davam aos indígenas […] encurtavam em cerca de oito vezes o tempo gasto para derrubar árvores e escul- pir canoas. Além disso, anzóis de ferro inau- guravam uma nova maneira de explorar os recursos alimentícios dos estuários. É difícil imaginar […] o quanto isso foi transforma- dor de sua cultura [dos indígenas] e o quanto foi destrutivo para a floresta. DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 65. Diálogo interdisciplinar com Biologia. Diálogo interdisciplinar com Biologia e Sociologia. Estuário: desembocadura de um rio, formando um “bra- ço de mar”. a) De acordo com Warren Dean, os instrumentos europeus causaram grande impacto em duas esferas. Quais são elas? Por quê? b) Em sua opinião, que objetos causaram maior impacto social e ambiental no mundo contem- porâneo? Reflita sobre o assunto e dê exemplos. 18 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 21. 4. Examine a cena da tirinha de Calvin e Haroldo. Qual é a crítica da tirinha? Com os colegas, relacione a tirinha ao conteúdo do capítulo. Diálogo interdisciplinar com Arte e Geografia. De olho na universidade 5. (Fuvest-SP) O ouro e a prata que os reis incas tiveram em grande quantidade não eram avaliados [por eles] como tesouro porque, como se sabe, não vendiam nem compravam coisa alguma por prata nem por ouro, nem por eles pagavam os soldados, nem os gastavam com alguma necessidade que lhes aparecesse; tinham-nos como supérfluos, por- que não eram de comer. Somente os estimavam por sua formosura e esplendor e para ornamento [das casas reais e ofícios religiosos]. Garcilaso de la Vega. Comentários reais, 1609. Com base no texto, aponte: a) As principais diferenças entre o conjunto das ideias expostas no texto e a vi- são dos conquistadores espanhóis sobre a importância dos metais preciosos na colonização. b) Os princípios básicos do mercantilismo. 6. (UFRJ) A primeira coisa que os moradores desta costa do Brasil preten- dem são índios escravizados para trabalharem nas suas fazendas, pois sem eles não se podem sustentar na terra. GANDAVO, Pero Magalhães. Tratado descritivo da terra do Brasil. São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982. p. 42 [1576] (adaptado pela instituição). Nesse trecho percebe-se a adesão do cronista ao ideário dos colonos lusos no Brasil de fins do século XVI. Com base no texto, e considerando que em Portugal prevalecia uma hierarquia so- cial aristocrática e católica, explique por que, ao desembarcarem na América portugue- sa da época, os colonos imediatamente procuravam lançar mão do trabalho escravo. Tirinha dos personagens Calvin e Haroldo, criados pelo artista Bill Watterson. calVin hoBBes, Bill watterson © 1989 watterson/Dist. By uniVersal uclick 19 CAPÍTULO 1 Mercantilismo e colonização
  • 22. Estado e religião Liberdade de crença e livre exercício de culto religioso são direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal. Essa liberdade religiosa decorre da separa- ção entre Estado e Igreja, que vigora no Brasil desde o início da República (1889). Mas nem sempre foi assim. Como era a relação entre o Estado e a Igreja Católica no período colonial? • Observe o painel de Candido Portinari, intitulado A primeira missa no Brasil. Depois, leia o trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, relatando episódios da chegada dos portugueses ao Brasil: E quando se veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles [os indígenas] se levantaram conosco, e alçaram as mãos, estando assim até se chegar ao fim; e então tornaram-se a assentar, como nós [...] e em tal maneira sossegados que certifico a Vossa Alteza que nos fez muita devoção. CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ DetalheObraForm.do?select_action=co_obra=2003. Acesso em: 28 out. 2015. Na sua compreensão, há algum ponto em comum entre o relato de Pero Vaz de Caminha e a pintura de Portinari? Comente. A primeira missa no Brasil. Painel de Candido Portinari, de 1948. A obra faz parte do acervo do Instituto Brasileiro de Museus. Candido Portinari. a Primeira missa no Brasil. 1948/museu naCional de Belas artes/rj 20 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade capítulo 2
  • 23. • Observe o mapa e compare-o com um mapa da atual divisão política do Brasil. Depois, identifique: a) a capitania mais setentrional (ao norte) e o(s) estado(s) do(s) qual(is) faz parte atualmente; b) a capitania mais meridional (ao sul) e o(s) estado(s) do(s) qual(is) faz parte atualmente; c) caso seja possível, a capitania em cujo territó- rio está situada a cidade onde você vive. Observar o mapa Capitanias hereditárias Início da administração colonial O governo português não dispunha de recursos suficientes para investir na colonização do Brasil. A solução encontrada no começo desse processo foi transferir a tarefa para particulares, geralmente pes- soas da pequena nobreza lusitana. Assim, em 1534, o rei D. João III ordenou a divisão do território da colônia em grandes porções de ter- ra — 15 capitanias ou donatárias — e as entregou a pessoas que se habilitaram ao empreendimento, cha- madas capitães ou donatários. Nomeado pelo rei, o donatário era a autorida- de máxima dentro da capitania. Com sua morte, em princípio, a administração passava para seus descen- dentes. Por esse motivo, as terras eram chamadas de capitanias hereditárias. Direitos e deveres dos donatários O vínculo jurídico entre o rei de Portugal e os do- natários era estabelecido em dois documentos básicos: • Carta de Doação – conferia ao donatário a posse hereditária da capitania. Os donatários não eram proprietários das capitanias, apenas de uma parce- la das terras. A eles era transferido, entretanto, o direito de administrar toda a capitania e explorá-la economicamente. • Carta Foral – estabelecia os direitos e os deveres dos donatários, relativos à exploração da terra. Vejamos alguns deles no quadro a seguir: Alguns direitos Alguns deveres • Criar vilas e distribuir terras (sesmarias) a quem desejasse e pudesse cultivá-las. • Exercer plena autoridade judicial e administrativa. • Por meio da chamada “guerra justa”, escravizar os indígenas considerados inimigos, obrigando-os a trabalhar na lavoura. • Receber 5% dos lucros sobre o comércio do pau-brasil. Assegurar ao rei de Portugal: • 10% dos lucros sobre todos os produtos da terra; • 25% dos lucros sobre os metais e as pedras preciosas que fos- sem encontrados; • o monopólio da exploração do pau-brasil. OCEANO ATLÂNTICO 10º S 40º O MARANHÃO (2o lote) MARANHÃO (1o lote) CEARÁ RIO GRANDE ITAMARACÁ BAHIA PERNAMBUCO ILHÉUS PORTO SEGURO ESPÍRITO SANTO SÃO TOMÉ SANTANA SANTO AMARO Meridiano de Tordesilhas SÃO VICENTE SÃO VICENTE 0 390 km Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. 8. ed. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1986. p. 14. Capitanias hereditárias (1534) sidnei moura 21 CAPÍTULO 2 Estado e religião
  • 24. Dificuldades com as capitanias Do ponto de vista econômico, o sistema de capita- nias não alcançou os resultados esperados pelo governo português. Entre as poucas capitanias que progrediram e obtiveram lucros, principalmente com a produção de açúcar, estavam a de Pernambuco e a de São Vicente. Como veremos a seguir, as demais capitanias não pros- peraram em decorrência de várias condições. As capitanias eram muito extensas, e os donatários geralmente não tinham recursos suficientes para explo- rá-las. Muitos perderam o interesse pelas capitanias, acreditando que o retorno financeiro não compensaria o trabalho empenhado e o capital investido na produção. Alguns nem chegaram a tomar posse de suas terras. Os colonos também tinham de enfrentar a hostilida- de dos grupos indígenas que resistiam à dominação por- tuguesa. Para muitos nativos, a luta era a única forma de se defender da invasão de suas terras e da escravidão que o conquistador queria impor. Havia também problemas de comunicação entre as capitanias: separadas por grandes distâncias e sob as Mulheres na administração Algumas mulheres de origem portuguesa chega- ram a participar da administração de capitanias he- reditárias. Brites de Carvalho, por exemplo, assumiu o controle de uma sesmaria no norte da Bahia em 1583, depois da morte de seu marido. A esposa de Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco, também se destacou. Brites Mendes de Albuquerque assumiu o governo da capitania após a morte do marido. De acordo com pesquisadores: precárias condições dos meios de transporte da época, elas ficavam isoladas umas das outras e em relação a Portugal. Por exemplo, uma viagem de navio da Bahia a Lisboa levava em média dois meses. Além disso, nem todas as capitanias tinham solo propício ao cultivo de cana-de-açúcar, produção que mais interessava aos objetivos da Coroa e dos comer- ciantes envolvidos no comércio colonial. Restava aos donatários a exploração do pau-brasil, atividade que gerava pouco lucro para os donatários. Apesar dessas dificuldades, historiadores apontam que o sistema de capitanias lançou as bases da colo- nização da América portuguesa, estimulando a for- mação e o desenvolvimento dos primeiros núcleos de povoamento, como São Vicente (1532), Porto Seguro (1535), Ilhéus (1536), Olinda (1537) e Santos (1545). Contribuiu, também, em relação aos colonizadores lusos, para preservar a posse das terras e revelar as possibilidades de exploração econômica da colônia. Durante o governo de Brites, Pernambuco era a mais desenvolvida capitania do Brasil. Tinha mais de mil colonos e mais de mil es- cravos. [...] nos anos 1570 havia na capitania cerca de 66 engenhos, que produziam 200 mil arrobas de açúcar anuais. [...] BRAZIL, Érico Vital; SCHUMAHER, Schuma (Orgs.). Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. p. 122. Fundação de São Vicente, óleo sobre tela de Benedito Calixto, de 1900. Historiador e artista, Calixto destacou-se na pintura religiosa e paisagística. A obra pertence ao acervo do Museu Paulista da USP, em São Paulo. Benedito Calixto. Fundação de são VCiente . 1900. 22 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 25. Governo-geral A busca da centralização administrativa Os problemas das capitanias hereditárias levaram a Coroa portuguesa a procurar soluções diferentes para administrar sua colônia na América. Foi assim que, ainda no reinado de D. João III, instituiu o gover- no-geral, conduzido por um funcionário do governo português, denominado governador-geral. Este daria ajuda aos donatários e interferiria mais diretamente no processo de colonização do Brasil. Portanto, o governo-geral coexistiu com o siste- ma das capitanias hereditárias. Essa coexistência per- durou até 1759, quando as últimas capitanias here- ditárias foram extintas e o território brasileiro passou Já Ana Pimentel participou da administração da capitania de São Vicente. Ela era esposa do donatário Martim Afonso de Souza. Após um breve período em terras brasileiras, Mar- tim Afonso retornou a Portugal para ocupar o cargo de capitão-mor da armada da Índia. Ana Pimentel tornou-se, então, a responsável pelo governo da ca- pitania. Em sua administração, ela organizou o cultivo de laranja, de arroz e de trigo, além de introduzir a criação de gado naquelas terras. a ser efetivamente administrado pelos representantes da Coroa portuguesa, não mais por particulares. O governo português escolheu a capitania da Bahia como sede do governo-geral, que, então, foi retomada pela Coroa. A escolha foi motivada por inte- resses administrativos, pois essa capitania localizava-se em um ponto central da costa, o que facilitava a co- municação com as demais capitanias. Ali foi erguida a primeira capital do Brasil — Salvador —, cujas obras de construção tiveram início no dia 1o de maio de 1549, em um terreno elevado e de frente para o mar. Essa localização facilitava a defesa militar da cidade. Investigando 1. Qual é a capital do estado onde você mora? Que serviços públi- cos são encontrados na capital do seu estado? 2. Você já ouviu expressões como “capital do samba”, “capital do acarajé”, “capital da moda”? O que a palavra “capital” pode sig- nificar nessas expressões? Investigando • No Brasil Colonial algumas mulheres chegaram a assumir cargos importantes no governo das capitanias he- reditárias. No entanto, essa prática não era tão comum na época. Foi só a partir do século XX que aumentou a participação das mulheres no mercado de trabalho e o acesso delas a cargos de prestígio. Em sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados atualmente pelas mulheres no mercado de trabalho? Pesquise. Vista da cidade de Salvador do século XVI. Litografia do cartógrafo escocês John Ogilby. Na imagem, pode-se observar a muralha que cercava a parte alta da capital colonial. Coleção luiz Viana Filho/salVador. 23 CAPÍTULO 2 Estado e religião
  • 26. Regimento do governo-geral Embora tenham existido diferentes regimentos para estabelecer o papel dos governadores-gerais, quase todos possuíam itens relativos à defesa da terra contra ataques estrangeiros, ao incentivo à busca de metais preciosos, ao apoio à religião católica e à luta contra a resistência indígena. Ainda conforme esses regimentos, o governador tinha funções: • militares – comando e defesa militar da colônia; • administrativas – relacionamento com os gover- nadores das capitanias e controle dos assuntos liga- dos às finanças; • judiciárias – direito de nomear funcionários da Jus- tiça e alterar penas; • eclesiásticas – indicação de sacerdotes para as paróquias. Para o desempenho de suas funções, o governa- dor-geral contava com três auxiliares principais: • o ouvidor-mor, encarregado dos negócios da Jus- tiça; • o provedor-mor, encarregado dos assuntos da Fazenda; • o capitão-mor, encarregado da defesa do litoral. Os governadores-gerais tiveram, no entanto, pro- blemas no cumprimento de suas funções. Além da dificuldade de comunicação entre as capitanias, o governo-geral muitas vezes enfrentava a oposição de poderes locais, especificamente dos “homens-bons”. Essa expressão era aplicada aos homens de posses, proprietários de terra, de gado e de escravos. Nas vilas e cidades em que residiam, eram eles que formavam as câmaras municipais. As câmaras municipais, encarregadas da admi- nistração local, foram sendo estruturadas paralela- mente à formação das primeiras vilas. Sua atuação abrangia setores como o abastecimento, a tributa- ção e a execução das leis. Além disso, organizavam expedições contra os indígenas, determinavam a construção de povoados e estabeleciam os preços das mercadorias. Os três primeiros governadores-gerais do Bra- sil foram Tomé de Sousa, Duarte da Costa e Mem de Sá. Primeiro governo-geral Tomé de Sousa foi o primeiro governador-geral do Brasil. Em seu governo (1549-1553) ocorreram a fundação de Salvador (1549), primeira cidade e ca- pital do Brasil; a criação do primeiro bispado brasi- leiro (1551); a implantação da pecuária; o incentivo ao cultivo da cana-de-açúcar; e a organização de expedições para explorar o território à procura de metais preciosos. Aculturação dos indígenas Com Tomé de Sousa vieram seis jesuítas, chefiados pelo padre português Manuel da Nóbrega, com a mis- são de catequizar os indígenas. Os jesuítas faziam parte de um mundo regula- do pelas normas e pelos costumes das sociedades católicas europeias e não aceitavam ou compre- endiam diversos aspectos das culturas indígenas como a nudez, a poligamia, a antropofagia e as crenças próprias. Iniciou-se, assim, um processo de modificação da cultura dos indígenas (aculturação). Para transmitir- -lhes os valores europeus e do cristianismo, os jesuí- tas reuniram as populações indígenas em aldeias ou aldeamentos. Investigando 1. Compare o papel das câmaras municipais na época do Brasil Colônia com o das câmaras municipais na atualidade. Qual é a função típica das câmaras municipais atuais? Pesquise. 2. Em sua interpretação, em que medida o poder econômico e o poder político estão associados no Brasil atual? Reflita e dê exemplos. 3. O que você sabe sobre a história de sua cidade? Pesquise elementos como a data de fundação, a po- pulação atual, características da arquitetura local, opções públicas de lazer e cultura, características da economia etc. 24 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 27. Segundo governo-geral Duarte da Costa foi o segundo governador-geral do Brasil. Em seu governo (1553-1558), vieram mais jesuítas para a colônia, entre os quais se destacou José de Anchieta. Em janeiro de 1554, Anchieta e Manuel da Nó- brega fundaram o Colégio de São Paulo, junto ao qual surgiu a vila que deu origem à cidade de São Paulo, no planalto de Piratininga. Foi também no governo de Duarte da Costa que os franceses, contando com o apoio de grupos indí- genas (como os tupinam- bás), invadiram a baía de Guanabara, no atual Rio de Janeiro, e fundaram um povoamento que re- cebeu o nome de França Antártica (1555-1567). Alternâncias na administração Centralizações e descentralizações do governo Historiadores consideram que a administração colonial da América portuguesa apresentava duas tendências que se revezaram: a centralização (uni- ficação) e a descentralização (divisão) do governo. A centralização era praticada quando a metrópo- le queria controlar e fiscalizar melhor a colônia. Já a descentralização era preferida quando a metrópole pretendia ocupar regiões despovoadas, impulsionar o desenvolvimento local e adaptar o governo às neces- sidades dos colonos. Com os governos-gerais, a administração do Brasil Colônia foi centralizada. Porém, no final do governo de Mem de Sá, o rei de Portugal resolveu dividir a administração da colônia entre os governos do Norte e do Sul. O governo do Norte, com sede na cidade de Sal- vador, era chefiado pelo conselheiro Luís de Brito de Almeida (1573-1578). O do Sul, com sede na cidade do Rio de Janeiro, era chefiado pelo desembargador Antônio Salema (1574-1578). Entretanto, em 1578, insatisfeito com os resulta- dos práticos da experiência, o rei de Portugal decidiu voltar atrás e estabeleceu novamente um único cen- tro administrativo no Brasil, com sede em Salvador. Terceiro governo-geral Mem de Sá foi o terceiro governador-geral do Brasil. Em seu governo (1558-1572), os franceses foram expulsos do Rio de Janeiro, com a ajuda do chefe militar Estácio de Sá (seu sobrinho). Além de expulsar os franceses (1567), o tercei- ro governo-geral reuniu forças para lutar contra os indígenas que resistiam à conquista colonial por- tuguesa. As ações do governo levaram à destrui- ção de centenas de aldeias do litoral brasileiro no século XVI. Vista do Pátio do Colégio, ao lado do Museu Padre Anchieta. Esse local é considerado o marco da fundação da cidade de São Paulo. daniel CymBalista/Pulsar imagens 25 CAPÍTULO 2 Estado e religião
  • 28. Em destaque Confederação dos Tamoios Vejamos um texto do filósofo Benedito Prezia e do historiador Eduardo Hoornaert, em que apresen- tam suas interpretações do que foi a chamada Confederação dos Tamoios. Para combater a escravização dos indígenas, feita em grande escala pela família de João Ramalho que vivia no planalto de Piratininga, e como protesto contra as aldeias dos padres jesuítas, várias nações indígenas resolveram se unir. Assim, os tupinambás, parte dos tupiniquins, os carijós e os guayanás das regiões de São Paulo e Rio de Janeiro, com o apoio dos franceses, fizeram uma grande aliança de guerra, que recebeu o nome de Confederação dos Tamoios. Tamoio ou tamuya, na língua tupi, significa nativo, velho, do lugar. Era portanto uma guerra dos antigos do lugar, isto é, dos donos da terra, contra os portugueses, os invasores e inimigos dos indígenas. Esta guerra durou cinco anos, de 1562 a 1567. Vários líderes tupinambás se destacaram, principalmente Cunhambebe e Aimberê. Os ataques tiveram altos e baixos e o grande aliado dos portugueses foi certamente a varíola. Por volta de 1564 uma forte epidemia atacou todo o litoral, de norte a sul. Centenas de indígenas morreram, inclusive o grande Cunhambebe. Com a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, a Confederação dos Tamuya foi enfra- quecendo, pois já não tinha de quem receber armas de fogo. Os portugueses jogaram pe- sado, não só enviando de Portugal um grande reforço militar como também envolvendo os jesuítas nessa guerra violenta. A participação do padre Manuel da Nóbrega e do padre José de Anchieta foi decisiva para a vitória lusitana. Através deles aconteceu o Tratado de Paz de Iperoig, que na realidade tornou-se um tratado de morte para os tupinambás. O final da guerra foi desigual e violento. Três mil sobreviventes desta campanha militar foram levados para algumas aldeias dirigidas pelos jesuítas, no Rio de Janeiro e na Bahia. PREZIA, Benedito; HOORNAERT, Eduardo. Esta terra tinha dono. 4. ed. São Paulo: FTD, 1995. p. 81-82. • De acordo com os autores, em que contexto histórico ocorreu a união de várias nações indígenas nas regiões de São Paulo e Rio de Janeiro? O último tamoio, pintura criada por Rodolfo Amoedo em 1883. Nessa obra, o indígena Aimberê, líder dos tamoios, aparece morto em uma praia enquanto é amparado pelo padre Anchieta. Embora os dois personagens tenham participado da Confederação dos Tamoios, essa cena nunca aconteceu. A obra faz parte do acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. rodolFo amoedo. o último tamoio . 1883. 26 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 29. Padroado Vínculos entre governo e Igreja Católica Na época da colonização, o catolicismo era a religião oficial de Portugal. Assim, os súditos portu- gueses deveriam ser católicos obrigatoriamente, caso contrário estariam sujeitos a perseguição. Além disso, diversos religiosos católicos participa- ram do processo de colonização, em um esforço con- junto com representantes da Coroa portuguesa. Essa participação ocorreu porque o governo de Portugal e a Igreja estavam ligados pelo regime do padroado, um acordo entre o papa e o rei que estabelecia uma série de deveres e direitos da Coroa portuguesa em relação à Igreja. Entre os principais deveres, estavam: garantir a expansão do catolicismo em todas as terras conquistadas pelos portugueses; construir igrejas e cuidar de sua conservação; e remunerar os sacerdotes por seu trabalho religioso. Já entre os principais direi- tos, podem ser citados: nomear bispos e criar dioceses (regiões eclesiásticas administradas pelos bispos); e recolher o dízimo (a décima parte dos ganhos) ofertado pelos fiéis à Igreja. A Igreja e o Estado português atuavam em re- lativa harmonia. As autoridades políticas deveriam administrar a colônia, decidindo, por exemplo, sobre as formas de ocupação do território, povoamento e produção econômica. Os religiosos eram responsáveis pela tarefa de ensinar a obediência a Deus e ao rei, defendendo o trono por meio do altar. Houve, no entanto, vários momentos de conflito entre sacerdotes católicos e autoridades da Coroa. Nesse sentido, podemos dizer que se tornou fre- quente, por exemplo, a participação de padres em rebeliões coloniais. Investigando • No período colonial, a Igreja Católica foi uma instituição que, além do campo especificamente religioso, exercia influência ampla na sociedade, na política e na cultura em geral. Pesquise sobre a influência da Igreja Católica e de outras instituições religiosas na atualidade. Em destaque Vivência religiosa No texto, o historiador Luiz Mott descreve alguns aspectos religiosos observados entre a popula- ção brasileira da época colonial. No Brasil colonial, seguindo o costume português, desde o despertar, o cristão se via ro- deado de lembranças do Reino dos Céus. Na parede contígua à cama, havia sempre algum símbolo visível da fé cristã: um quadrinho ou caixilho com gravura do anjo da guarda ou do santo; uma pequena concha com água-benta; o rosário dependurado na cabeceira da cama. Antes de levantar-se da cama, da esteira ou da rede, todo cristão devia fazer imediata- mente o sinal da cruz completo, recitando a jaculatória [oração curta]: pelo sinal da santa cruz, livrai-nos, Deus Nosso Senhor, dos nossos inimigos. Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, amém. Os mais devotos, ajoelhados no chão, quando menos recitavam o bê-á-bá do devocionário popular: a ave-maria, o pai-nosso, o credo e a salve-rainha. Orações que via de regra todos sabiam de cor. [...] Na parede da sala de muitas casas coloniais, saindo do quarto, lá estavam para ser vene- rados e saudados os quadros dos santos. [...] MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In: SOUZA, Laura de Mello e (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. v. 1. p. 164-166. 1. Com base no texto, como você definiria a vivência religiosa dos colonos? Justifique com exemplos. 2. Na sua opinião, qual é a intensidade das vivências religiosas na sociedade atual? Comente o tema. 27 CAPÍTULO 2 Estado e religião
  • 30. Cristão-novo: judeu obrigado a se converter ao catolicismo em Portu- gal, em 1497. Na Espanha aconteceu um processo semelhante; ali os judeus convertidos à força ao catolicismo eram conhe- cidos como marranos. Blasfêmia: palavra que ofende a divindade ou a religião cristã. Inquisição no Brasil Nem tudo estava sob o domínio do catolicismo oficial na América portugue- sa. No cotidiano, parte da população colonial resistia ou escapava à obrigação de seguir a religião católica, praticando outras formas de religiosidade, nascidas do sincretismo de crenças e ritos provenientes de tradições culturais indígenas, africanas e europeias. Catimbós, calundus, candomblé, benzimentos e simpatias são exemplos dessas manifestações religiosas que, mesmo condenadas pela Igreja, eram praticadas na vida privada por diversos grupos sociais. Para combater essas práticas — os chamados “crimes contra as verdades da fé cristã” —, as autoridades da Igreja Católica e da Coroa portuguesa enviaram para o Brasil representantes do Tribunal da Inquisição (reativado na Europa em meados do século XVI). Eram as chamadas visitações, em que o sacerdote representante da Inquisição (visitador) abria processo punitivo contra as pessoas acusadas de crime contra a fé católica. Muitos acusados foram levados para Portugal para julgamento. Nas visitações realizadas em Pernambuco e na Bahia (1591, 1618 e 1627), no sul da colônia (1605 e 1627) e no Pará (1763 a 1769), a Inquisição perseguiu gran- de número de cristãos-novos que tinham vindo de Portugal para a colônia. Eles eram acusados de praticar, em segredo, a religião judaica. A Inquisição também perseguiu muitas outras pessoas, acusadas, por exemplo, de feitiçaria, blasfêmia e práticas sexuais então proibidas (prostituição, homossexualidade). Culto de candomblé da nação Ketu, na cidade de Lauro de Freitas, Bahia. Fotografia de 2014. sergio Pedreira/Pulsar imagens 28 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 31. Em destaque Círio de Nazaré O Círio de Nazaré é uma celebração religiosa realizada há mais de dois séculos no Brasil. Trata-se de uma celebração católica criada em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré. Em função de sua importância cultural, o Círio foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco. Ao longo do tempo, o Círio tornou-se uma tradição cultural ampla, mesclando aspectos religio- sos, artísticos e alimentares. Assim, festas, feiras, apresentações artísticas e rituais alimentares foram sendo incorporados ao Círio. Dentre as apresentações destaca-se o arrastão do boi da pavulagem, cortejo que reúne pessoas em torno da brincandeira do bumba meu boi. Além disso, dois pratos de origem indígena (a maniçoba e o pato ao tucupi) são as comidas mais tradicionais do almoço do Círio. Em Belém do Pará, a procissão do Círio já chegou a reunir mais de 2 milhões de pessoas. • Por que é importante preservar o patrimônio histórico brasileiro? Comente. Além da procissão principal do Círio de Nazaré, são realizadas outras procissões, feitas a pé, de carro, de bicicleta, de barco e de moto. Nessa imagem, embarcações acompanham o navio que conduzia a imagem da Nossa Senhora de Nazaré nas águas da baía do Guajará. Fotografia de 2015. Procissão do Círio de Nazaré nas ruas de Belém, Pará, em 2014. Na fotografia, milhares de pessoas festejam a passagem da berlinda que protege a imagem da Nossa Senhora de Nazaré, que no catolicismo é um dos nomes dados à mãe de Jesus Cristo. antonio CiCero/Fotoarena antonio CiCero/Fotoarena 29 CAPÍTULO 2 Estado e religião
  • 32. Oficina de História Vivenciar e refletir 1. Formem grupos e leiam o texto da historiadora Mary Del Priore. Depois, façam o que se pede: Uma das atividades de maior importância desenvolvidas pela Igre- ja Católica na colônia foi a educação escolar. Nessa atividade, a Com- panhia de Jesus desempenhou o papel principal, entre todas as con- gregações e ordens religiosas. [...] Na Bahia, a escola onde se davam o ensino e a catequese era, se- gundo as cartas escritas pelos próprios jesuítas, uma pequena cons- trução térrea, com um dormitório, uma área de estudo, um corredor e uma sacristia. Dormiam aí padres e irmãos “assaz apertados”. A cozinha, o refeitório e a despensa serviam aos jesuítas e às crianças. Em salas separadas, lia-se gramática e ensinava-se a ler e escrever. DEL PRIORE, Mary. Religião e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1997. p. 59-60. a) Descrevam a organização espacial da sua escola e comparem-na com a da escola jesuíta descrita no texto. b) Você modificaria a organização espacial de sua escola? Pense nas áreas ocupa- das pela biblioteca, salas de aula, pátios, quadras etc. Explique sua resposta. 2. A conquista do território indígena se fez à custa de guerras e destruições. a) Essa situação de hostilidade aos indígenas tornou-se diferente no Brasil dos últimos tempos? Pesquise a extensão atual de terras indígenas em seu estado. b) Com base em sua pesquisa e no conteúdo do capítulo, escreva um texto sobre a relação entre os indígenas e o poder público na atualidade. Diálogo interdisciplinar 3. Os jesuítas também aprenderam algumas línguas dos nativos e as utilizaram em sua tarefa evangelizadora. Foi o caso do padre jesuíta José de Anchieta, que pro- duziu uma obra poética e dramática em língua tupi. Eram textos simples, de gos- to popular, que se distribuíam aos indígenas para serem cantados ou encenados, de preferência com música e dança. Seu objetivo era conquistá-los para a fé cristã, mesclando elementos das culturas indígenas e espirituais do catolicismo. Leia e interprete o seguinte trecho de um dos poemas de José de Anchieta: Vinde, crianças, receber o bondoso Jesus. Meninos, rapazes, guardai-o em vossos corações. Alegre-me eu ao vos alimentardes dele. In: MARTINS, M. L. P. Poesia: José de Anchieta S. J. São Paulo: Comissão IV Centenário de São Paulo/Museu Paulista, 1954. p. 570 e 646. Depois, em resposta a esses versos, crie um poema que promova uma reflexão sobre o projeto de aculturação dos indígenas. Diálogo interdisciplinar com Língua Portuguesa e Arte. 30 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade
  • 33. 4. Analise a imagem e faça as atividades a seguir: Diálogo interdisciplinar com Arte. a) Na obra de Victor Meirelles, a figura do frade Henrique de Coimbra, vestido de branco, com uma enorme cruz, marca o centro da pintura. Como os indí- genas foram representados nessa obra? E de que forma o artista representou o ambiente em que se passa a primeira missa? b) Retome o painel intitulado A primeira missa no Brasil, de Candido Portinari (página 20). Depois, compare as obras de Victor Meirelles e Portinari. Que elementos da pintura de Candido Portinari não se encaixam na representação presente na obra de Victor Meirelles? De olho na universidade 5. (Mackenzie-SP) Entre as funções desempenhadas pela Igreja Católica no Período Colonial, destaca-se: a) o incentivo à escravização dos nativos, pelos colonos, por meio da qualifica- ção de todos os índios como criaturas sem alma; b) a tentativa de restringir a utilização de mão de obra escrava indígena apenas aos serviços agrícolas nas áreas de extração do ouro e da prata; c) a orientação da educação indígena, no sentido de estimular a formação, na colônia, de uma elite intelectual católica; d) a imposição dos princípios cristãos por meio da catequese, favorecendo o avanço do processo colonizador. A primeira missa no Brasil, obra de Victor Meirelles, produzida em 1860. A obra pertence ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. ViCtor meirelles. a Primeira missa no Brasil . 1860. 31 CAPÍTULO 2 Estado e religião
  • 34. Sociedade açucareira No Brasil contemporâneo, uma minoria de 1% de proprietários rurais é dona de, aproximadamente, 45% das terras cultiváveis.1 A concentração de terras ocorre desde o período colonial, quando o governo português favorecia pou- cas pessoas, concedendo-lhes grandes áreas rurais destinadas à construção de engenhos e outros estabelecimentos. Quais foram os interesses envolvidos na implantação dessas grandes proprie- dades rurais? • Descreva a imagem. Quais instrumentos são utilizados na produção da cana- -de-açúcar? 1 Cf. Atlas do espaço rural brasileiro. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil há mais de 400 anos. Desse modo, é possível dizer que a história do país está intimamente ligada à agricultura dessa planta. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Na imagem, colheita mecanizada de cana-de-açúcar no interior do estado de São Paulo. Fotografia de 2014. ErnEsto rEghran/Pulsar ImagEns 32 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade capítulo 3
  • 35. dições de riqueza, poder, prestígio e nobreza do Brasil colonial”.2 Os seus proprietários ficaram conhecidos como senhores de engenho. Eram geralmente pesso- as cuja autoridade ultrapassava os limites de suas ter- ras, estendendo-se às vilas e aos povoados vizinhos. No começo do século XVIII, o padre jesuíta Anto- nil traçou o seguinte perfil dos senhores de engenho da Bahia: Engenho Núcleo econômico e social No Brasil Colonial, a maioria da população vivia no campo, trabalhando em propriedades rurais ligadas à produção agrícola e à pecuária. Essas propriedades rurais tornaram-se também núcleos sociais, adminis- trativos e culturais, como foi o caso de muitos enge- nhos (estabelecimentos onde se produzia o açúcar). Para alguns historiadores, “o engenho de açúcar é a unidade produtiva que melhor caracteriza as con- Açúcar A implantação de um negócio lucrativo Os colonos que vieram com Martim Afonso de Souza plantaram as primeiras mudas de cana-de- -açúcar e instalaram o primeiro engenho da colônia em São Vicente, no ano de 1533, na região do atual estado de São Paulo. A partir dessa época, os engenhos multiplicaram- -se pela costa brasileira. A maior concentração deles ocorreu no Nordeste, principalmente nas regiões dos atuais estados de Pernambuco e da Bahia. Em pouco tempo, a produção açucareira superou em importância a atividade extrativa do pau-brasil, embora a exploração intensa dessa madeira tenha continuado até o início do século XVII. Por que produzir açúcar Diversos motivos levaram a Coroa portuguesa a im- plantar a produção açucareira em sua colônia americana. Havia, em certas regiões do Brasil, condições na- turais favoráveis ao desenvolvimento da lavoura ca- Investigando 1. Você sabe qual é a principal atividade econômica do seu estado? Ela gera algum impacto ambiental? Qual? Pesquise. 2. Atualmente, o Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo. Que produtos são fabricados a partir da cana? Pesquise. 2 FARIA, Sheila de Castro. Engenho. In: VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. p. 190. navieira, como o clima quente e úmido e o solo de massapê do litoral do nordeste. Além disso, os portugueses dominavam o cultivo da cana e a produção do açúcar, implantados com sucesso em suas colônias na ilha da Madeira e no ar- quipélago dos Açores. Assim, a metrópole sabia que poderia obter lucros com a produção do açúcar, con- siderado então um produto de luxo, uma especiaria, que alcançava altos preços no mercado europeu. O negócio açucareiro contou também com a participação dos holandeses. Enquanto os portugue- ses dominaram a etapa de produção do açúcar, os holandeses controlaram sua distribuição comercial (transporte, refino e venda no mercado europeu). Al- guns historiadores afirmam que o trabalho de produ- zir açúcar trazia menos lucros do que comercializar o produto. Considerando isso, o negócio do açúcar acabou sendo mais lucrativo para os holandeses do que para os portugueses. Antonil: pseudônimo do padre italiano Giovanni Antonio Andreoni (1649-1716), que dirigiu o Colégio de Salvador. 33 CAPÍTULO 3 Sociedade açucareira
  • 36. Casa-grande e senzala Casa-grande e senzala é o título de um livro rele- vante e polêmico da historiografia brasileira, escrito pelo sociólogo e antropólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987). Foi publicado pela primeira vez em 1933. O título é uma referência às duas construções mais características dos engenhos. A casa-grande era o casarão onde moravam o senhor de engenho e sua família. Constituía também o centro administrativo do engenho. A senzala era a construção onde viviam os escravos africanos e seus descendentes, alojados de maneira precária. Além dessas moradias, o enge- nho tinha outras construções, entre elas: • casa do engenho – com instalações como a moen- da e as fornalhas; • casa de purgar – onde o açúcar, depois de resfria- do e condensado, era branqueado; • galpões – onde os blocos de açúcar eram quebrados em várias partes e reduzidos a pó; • capela – onde a comunidade local reunia-se aos domingos e em dias festivos. Investigando • Em sua opinião, quais construções arquitetônicas são representativas da cidade onde você vive? Justifique. O senhor de engenho é título a que mui- tos aspiram, porque traz consigo o ser ser- vido, obedecido e respeitado de muitos. [...] Servem ao senhor do engenho, em vários ofícios, além de escravos [...] nas fazendas e na moenda [...], barqueiros, canoeiros [...], carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pes- cadores. [...] cada senhor destes, necessaria- mente, [tem] um mestre de açúcar [...], um purgador, um caixeiro no engenho e outro na cidade, feitores, e para o espiritual um sacerdote. ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997. p. 75. A sociedade colonial não era formada apenas por senhores de engenho e pessoas escravizadas. Além deles, havia pessoas de diversas ocupações, como: comerciantes, pescadores, ferreiros, carpinteiros, fei- tores, mestres de açúcar, purgadores, agregados, padres, alguns funcionários do rei (governadores, ju- ízes, militares) e profissionais liberais (médicos, advo- gados, engenheiros). Mestre de açúcar: aquele que, no engenho, dá o ponto ao açúcar. Purgador: o encarregado de purgar (purificar) o açúcar. Agregado: morador do engenho que prestava serviços ao senhor em troca de favores. Engenho, pintura criada pelo artista holandês Frans Post (1612-1680), que representou diversas paisagens brasileiras. Frans Post. EngEnho . século XVII/PalácIo do Itamaraty – mInIstérIo das rElaçõEs EXtErIorEs, BrasílIa 34 UNIDADE 1 Trabalho e sociedade