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O CANÁRIO E A ANDORINHA


    Um dia uma andorinha veio construir o ninho no beiral de um palácio.
    Em baixo, no alpendre, penduravam todos os dias ao sol a gaiola doirada de um canário
lindíssimo.
    O pobre encarcerado na sua casinha de palmo e meio, cantava, cantava, todo o dia e toda a
noite.
    A andorinha, no seu modesto ninho de barro de penas e por ela construído, escutava-o
deliciada, espreitando-a da sua pequenina janela deitando a cabecita de fora de vez em quando.
    Uma vez vieram à fala.
    - Bom dia, disse de cima a andorinha.
    - Ora viva, minha vizinha.
    - Estou encantada a ouvi-lo, tem uma voz do céu…
    - Favores que eu não mereço.
    - O que é pena é viver numa casa tão apertadinha, sem poder sair nunca…
    - Estou habituado; depois … como as subsistências estão caras…
    - Realmente a vida custa, em todo o caso prefiro as canseiras à clausura.
    - Tem razão, mas que hei-de fazer para me livrar daqui?
    - Não cante, já não fazem caso de si …
    - Vou seguir o seu conselho.
                                                    ***
    Passaram dias e o canário, nem pio …
    Reuniram-se à volta dele todos os da casa.
    - Com certeza o pobre passarinho tem alguma angina…
    - É melhor chamar-se o médico, alvitrou uma das meninas.
    - Aves destas, quando deixam de cantar, têm os dias contados.
    - Não me digas tal, Deus me livre desse desgosto …
    - Antes quero que ele vá acabar os dias longe daqui. Amanhã deixo a gaiola aberta.
                                                    ***
    Ao vê-las afastar o canário deu dois saltos delirante.
    - Ouviu, minha amiga? Perguntou para cima.
    - Muito bem. Logo que esteja cá fora emigramos para os países quentes, respondeu a
moradora do telhado. Aqui não se pode passar o inverno.
    O cantor apoiou a ideia satisfeitíssimo.
                                                    ***
    No dia seguinte a dona da casa veio abrir a portinha da gaiola dizendo comovidíssima: Deus vá
contigo e te livre da goela de algum gato guloso.
Quando o belo cativo a viu desaparecer, foi
para o limiar da prisão a certificar-se, se de facto
seria verdade estar livre; depois, radiante, atirou-
se vertiginosamente pelo espaço num anseio
louco de liberdade, trinando as mais lindas
canções.
    No     beiral,   as   andorinhas   olhavam-no
admiradas. Não tardou que viesse agradecer
pessoalmente à vizinha do andar de cima o seu
acertado conselho.
    - O amigo não está habituado a grandes viagens nem a pequenas, lembrou a sábia
conselheira. É melhor embarcarmos. Souberam por um pardal que morava ao lado, que no dia
imediato partia para a Índia o Adamastor.
    Combinaram seguir para o Tejo mal despontasse a aurora. Acomodaram-se cautelosamente
na verga do navio sem ninguém dar por eles.
    Daí a pouco saíam a barra.
    - Que soberbo panorama, exclamou o canário deslumbrado. Meteram para Sul, cortaram o
Algarve, passaram o estreito de Gibraltar e entraram o Mediterrâneo muito azul. Viram as costas de
África iluminadas por um sol esplendoroso.
    - A andorinha mãe pediu ao canário para dar umas lições de canto às filhas.
    Quando os marinheiros ouviram em pleno mar tais gorjeios, ficaram maravilhados.
    Toda a oficialidade veio para o convés ouvir o extraordinário canto.
    Desde essa hora a passarada teve mesa lauta.
    Traziam-lhe as melhores iguarias.
    Pararam no Cairo.
    A andorinha mãe propôs uma visita aos túmulos dos faraós. Para não se cansarem
aproveitaram o dorso do camelo em que ia o comandante.
    No dia seguinte atravessaram o canal do Suez.
    Navegaram em pleno mas da Índia.
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    O canário passados poucos dias pediu em casamento uma filha dos seus amigos.
    Resolveu fixar ali residência.
    A cerimónia foi simples mas muito alegre.
    O novo casal viveu largos anos na maior harmonia e consta que dessa união nasceram os
primeiros canários com penas escuras…




                                                       In O Raul – Contos, Sarah Beirão

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O canário e a andorinha

  • 1. O CANÁRIO E A ANDORINHA Um dia uma andorinha veio construir o ninho no beiral de um palácio. Em baixo, no alpendre, penduravam todos os dias ao sol a gaiola doirada de um canário lindíssimo. O pobre encarcerado na sua casinha de palmo e meio, cantava, cantava, todo o dia e toda a noite. A andorinha, no seu modesto ninho de barro de penas e por ela construído, escutava-o deliciada, espreitando-a da sua pequenina janela deitando a cabecita de fora de vez em quando. Uma vez vieram à fala. - Bom dia, disse de cima a andorinha. - Ora viva, minha vizinha. - Estou encantada a ouvi-lo, tem uma voz do céu… - Favores que eu não mereço. - O que é pena é viver numa casa tão apertadinha, sem poder sair nunca… - Estou habituado; depois … como as subsistências estão caras… - Realmente a vida custa, em todo o caso prefiro as canseiras à clausura. - Tem razão, mas que hei-de fazer para me livrar daqui? - Não cante, já não fazem caso de si … - Vou seguir o seu conselho. *** Passaram dias e o canário, nem pio … Reuniram-se à volta dele todos os da casa. - Com certeza o pobre passarinho tem alguma angina… - É melhor chamar-se o médico, alvitrou uma das meninas. - Aves destas, quando deixam de cantar, têm os dias contados. - Não me digas tal, Deus me livre desse desgosto … - Antes quero que ele vá acabar os dias longe daqui. Amanhã deixo a gaiola aberta. *** Ao vê-las afastar o canário deu dois saltos delirante. - Ouviu, minha amiga? Perguntou para cima. - Muito bem. Logo que esteja cá fora emigramos para os países quentes, respondeu a moradora do telhado. Aqui não se pode passar o inverno. O cantor apoiou a ideia satisfeitíssimo. *** No dia seguinte a dona da casa veio abrir a portinha da gaiola dizendo comovidíssima: Deus vá contigo e te livre da goela de algum gato guloso.
  • 2. Quando o belo cativo a viu desaparecer, foi para o limiar da prisão a certificar-se, se de facto seria verdade estar livre; depois, radiante, atirou- se vertiginosamente pelo espaço num anseio louco de liberdade, trinando as mais lindas canções. No beiral, as andorinhas olhavam-no admiradas. Não tardou que viesse agradecer pessoalmente à vizinha do andar de cima o seu acertado conselho. - O amigo não está habituado a grandes viagens nem a pequenas, lembrou a sábia conselheira. É melhor embarcarmos. Souberam por um pardal que morava ao lado, que no dia imediato partia para a Índia o Adamastor. Combinaram seguir para o Tejo mal despontasse a aurora. Acomodaram-se cautelosamente na verga do navio sem ninguém dar por eles. Daí a pouco saíam a barra. - Que soberbo panorama, exclamou o canário deslumbrado. Meteram para Sul, cortaram o Algarve, passaram o estreito de Gibraltar e entraram o Mediterrâneo muito azul. Viram as costas de África iluminadas por um sol esplendoroso. - A andorinha mãe pediu ao canário para dar umas lições de canto às filhas. Quando os marinheiros ouviram em pleno mar tais gorjeios, ficaram maravilhados. Toda a oficialidade veio para o convés ouvir o extraordinário canto. Desde essa hora a passarada teve mesa lauta. Traziam-lhe as melhores iguarias. Pararam no Cairo. A andorinha mãe propôs uma visita aos túmulos dos faraós. Para não se cansarem aproveitaram o dorso do camelo em que ia o comandante. No dia seguinte atravessaram o canal do Suez. Navegaram em pleno mas da Índia. Quando ouviram que estava à vista Goa, ficaram entusiasmados. Não se contiveram e abalaram num voo arrojado. Arranjaram casa numa velha palmeira. O canário passados poucos dias pediu em casamento uma filha dos seus amigos. Resolveu fixar ali residência. A cerimónia foi simples mas muito alegre. O novo casal viveu largos anos na maior harmonia e consta que dessa união nasceram os primeiros canários com penas escuras… In O Raul – Contos, Sarah Beirão