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A Divindade e a Personalidade do Espírito Santo
O Espírito Santo não é uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho
Ozeas Caldas Moura
Ideias heréticas sobre a divindade e a personalidade do Espírito Santo já vêm de longe. “Macedônio, bispo de
Constantinopla de 341 a 360 d.C., já ensinava que o Espírito Santo era ‘ministro e servo’ no mesmo nível dos anjos. Cria
que o Espírito Santo era uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Isso era uma negação da verdadeira divindade do
Espírito Santo”. Em 381 d.C., o Concílio de Constantinopla condenou essas idéias de Macedônio.No entanto, vê-se hoje
que essas velhas heresias sobre a pessoa do Espírito Santo vêm sendo ressuscitadas, seja por mera curiosidade teológica
especulativa, seja como meio de atacar a Igreja e suas doutrinas. O certo é que o conselho dado pelo apóstolo João, no I
século, continua bastante válido para os nossos dias: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os
espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I João 4:1).
Concordamos que, devido à nossa limitação humana, não nos é possível abarcar tudo o que Deus é. Em relação com a
pessoa do Espírito Santo, não é diferente: o que dEle podemos e devemos saber está revelado nas páginas das Escrituras,
quer seja lógico ou não à razão humana. Com esse cuidado em mente, analisemos o que nos diz a Palavra de Deus sobre
a Terceira Pessoa da Trindade. O que passar disso é mera especulação perigosa, que pode e tem desencaminhado da fé
aqueles que se deixam levar “por todo vento de doutrina” (Efés. 4:14).
1. O Espírito Santo é Deus, pois tem os mesmos atributos de Deus. Por exemplo: santidade – em muitas
passagens das Escrituras o adjetivo “santo” é acrescido ao nome do divino Espírito (Mar. 13:11; Tito 3:5); eternidade –
(Heb. 9:14); onisciência – (I Cor. 2:10 e 11); onipotência – (em Lucas 1:35, o Espírito Santo é chamado de “poder do
Altíssimo”; confira, ainda, a palavra “poder” ligada ao Espírito em Isa. 11:2; Miq. 3:8; Luc. 4:14 e Atos 1:8); onipresença –
(Sal. 139:7-12); Criador – (Gen. 1:2; Jó 33:4; Sal. 104:30 e Eze. 37:14). Uma vez que só Deus tem esses atributos, e o
Espírito Santo os tem, então ele é Deus, como Deus Pai e Deus Filho. Por isso Pedro disse a Ananias que mentir ao
Espírito Santo é mentir a Deus (Atos 5:3 e 4).
2. O Espírito Santo é uma Pessoa. Os que dizem que o Espírito Santo é apenas uma força e não uma pessoa,
deveriam atentar para os atributos pessoais com que a Bíblia O apresenta. Ele tem inteligência, pois “perscruta” ou
investiga (I Cor. 2:10 e 11) e “ensina” (João 14:26 e I Cor. 2:13); tem vontade, pois distribui os dons “como Lhe apraz” (I
Cor. 12:11); tem emoção, pois pode ser “contristado” (Isa. 63:10) ou “entristecido” (Efés. 4:30). Ele fala (II Sam. 23:2 e Atos
13:2); ensina (João 14:26); guia (Rom. 8:14); convence (João 16:8); contende ou age (Gên. 6:3); testifica (Rom. 8:16);
separa e envia (Atos 13:2); intercede (Rom. 8:26). A palavra grega com a qual Jesus descreve a obra do Espírito Santo é
PARÁKLETOS (João 14:16, 26; 15:26; 16:7; aparece também em I João 2:1), vocábulo cuja tradução é “Ajudador”,
“Intercessor”, “Advogado” (na Versão Almeida, o vocábulo é traduzido por “Consolador”). Esses significados de
PARÁKLETOS indicam que o Espírito Santo é uma pessoa, pois uma mera força não poderia ser um Ajudador, um
Intercessor, um Advogado e um Consolador. Deve-se dizer ainda que o fato de as Escrituras apresentarem o Espírito Santo
como uma pessoa divina, não contraria Deuteronômio 6:4: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. A
palavra “único”, no original hebraico, é Echad (pronuncia-se “errad”), a qual indica uma “unidade composta”. Em Gên. 1:5,
uma tarde e uma manhã é igual a uma echad – dia. Em Gênesis 2:24, um homem e uma mulher, mediante o casamento,
são uma (echad) só carne. Se Moisés quisesse dizer que Deus é uma só pessoa, teria empregado Yachid (pronuncia-se
“iarrid”), como se pode ver no caso de Isaque, que era filho “único” (Yachid) de Abrão e Sara (Gen. 22:2). O fato de Moisés
ter empregadoEchad e não Yachid para falar de Deus, indica que Deus é uma “unidade composta”: Pai, Filho e Espírito
Santo (Mat. 28:19). Sendo que as três pessoas da Trindade são co-iguais, coeternas, da mesma natureza, da mesma
qualidade e com os mesmos propósitos, então é correto dizer que adoramos Um Deus, que Se manifesta ou Se apresenta
em três pessoas divinas. Em outras palavras, adoramos o Deus Triúno. Isso pode não parecer lógico à nossa pobre mente
humana, limitada, finita e imperfeita, mas é o que Deus revelou acerca de Si mesmo nas páginas das Escrituras. Caberia
aqui nos lembrar do conselho divino dado em Deuteronômio 29:29: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso
Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre…”
Deveríamos também atentar para o que Ellen White escreveu sobre a pessoa do Espírito Santo: “O Consolador que
Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade… Há três pessoas vivas
pertencentes à Trindade celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que
recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus
esforços para viver a nova vida em Cristo. …Os eternos dignitários celestes – Deus, Cristo e o Espírito Santo – munindo-os
[aos discípulos] de energia sobre-humana, … avançariam com eles para a obra e convenceriam o mundo do pecado.
“Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses
terrenos. O Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. …O
Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com e com nosso espírito que
somos filhos de Deus.
Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de
Deus. “O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da
Trindade, o Espírito Santo. Cumpre-nos cooperar com os três poderes mais altos no Céu – o Pai, o Filho e o Espírito Santo
– e esses poderes operarão por meio de nós, fazendo-nos coobreiros de Deus.”3
Referências:
1. CAIRNS, E. E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 1992), pág. 109.
2. Pedro Apolinário, As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia (São Paulo: Gráfica do IAE, 1986), pp. 84 e
85.
3. Ellen White, Evangelismo. 2ª. Ed. (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1978), pp. 615-617.

A Trindade na Bíblia
“Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas” – Crença
Fundamental nº 2
Gerhard Pfandl
Ph.D., diretor associado do Instituto de Pesquisa
Bíblica da Associação Geral da IASD
A doutrina da Trindade (do latim trinitas = “triunidade” ou “três-em-unidade”) é uma das mais importantes doutrinas da
fé cristã. Mas ultimamente alguns têm questionado sua validade. Por exemplo, em uma monografia, Fred Allaback
argumenta que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia não cria na doutrina da Trindade até muito tempo depois da morte de
Ellen G. White”.1 “Os pioneiros adventistas”, escreveu ele, “acreditavam que em um ponto longínquo da eternidade somente
um Ser divino existia. Então esse Ser divino teve um Filho.” 2 Dessa forma, Cristo teve um começo. Com respeito ao Espírito
Santo, Allaback crê que Ele é o Espírito de Deus e de Cristo; não um outro Ser divino. 3
A mesma visão é adotada por Bill Stringfellow, 4 Rachel Cory-Kuehl5 e Allen Stump.6 Todos esses ensinam que em um
ponto no tempo Jesus não existia; e que o Espírito Santo é apenas uma força. Stringfellow diz: “Houve um certo e
específico dia quando Deus deu à luz Seu Filho … Houve um tempo (embora seja impossível identificá-lo precisamente no
passado) quando Cristo não existia.”7

O MISTÉRIO
Embora a palavra Trindade não seja encontrada na Bíblia (nem a palavra encarnação), o ensinamento que ela descreve
é encontrado ali. A doutrina da Trindade estabelece o conceito de que há três Seres plenamente divinos: Pai, Filho e
Espírito Santo, que formam um Deus. 8 Por sua vez, Ellen White usa o termo “Divindade” que é encontrado em Romanos
1:20 e Colossenses 2:9. Através dessa palavra ela transmite a mesma idéia contida no termo Trindade, ou seja, há três
Seres viventes na Divindade. Segundo uma de suas declarações, “há três pessoas vivas pertencentes ao Trio celeste; em
nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados,
e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo”. 9
O próprio Deus é um mistério, 10 quanto mais a encarnação ou a Trindade. Entretanto, isso não deveria nos embaraçar, já
que os diferentes aspectos desses mistérios são ensinados nas Escrituras. Embora não possamos compreender tudo sobre
a Trindade, necessitamos tentar entender, tanto quanto possamos, o ensino bíblico a seu respeito. Todas as tentativas para
explicá-la serão insuficientes, “especialmente quando refletimos sobre a relação das três pessoas com essência divina …
todas as analogias são limitadas e nós nos tornamos profundamente conscientes de que a Trindade é um mistério muito
além da nossa compreensão. É a incompreensível glória da Divindade”. 11
Portanto, é sábio admitir que o homem “não pode compreendê-la nem torná-la compreensível. É compreensível em
algumas de suas relações e modos de se manifestar, mas ininteligível em sua natureza essencial”. 12 Certos elementos se
tornarão claros, e outros permanecerão um mistério, pois “as coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém
as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deut.
29:29). Onde não temos uma palavra clara das Escrituras o silêncio é ouro. 13

NO ANTIGO TESTAMENTO
Algumas passagens do Antigo Testamento sugerem, ou implicam a existência de Deus em mais de uma pessoa.
Quando não necessariamente em uma Trindade, pelo menos em duas pessoas.
Gênesis 1. No relato da criação em Gênesis 1, a palavra traduzida como Deus é ’Elohim, a forma plural
de ’Eloha. Geralmente essa forma é interpretada como um plural de majestade ao invés da idéia de pluralidade. Entretanto,
G. A. F. Knight argumenta que essa interpretação corresponde a ler um conceito moderno no texto hebraico antigo, desde
que os reis de Israel e Judá são tratados na forma singular, no relato bíblico. 14 Knight aponta que as palavras hebraicas para
água e céu também são plurais. Os gramáticos nomeiam esse fenômeno como plural quantitativo. A água pode aparecer
em forma de pequenas gotas ou grandes oceanos. Essa diversidade quantitativa em unidade, segundo Knight, é uma
forma adequada de compreender o plural ’Elohim. E também explica por que o substantivo singular ’Adonai é escrito como
plural.15
Em Gênesis 1:26, lemos: “Também disse Deus [singular]: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme
a nossa [plural] semelhança…” O que é significativo aqui é a mudança do singular para o plural. Moisés não está usando o
verbo no plural com ’Elohim, mas Deus está usando um verbo e um pronome no plural, em referência a Si mesmo. Alguns
intérpretes acreditam que Deus está falando aqui de anjos. Mas, de acordo com as Escrituras, os anjos não participaram da
criação. A melhor explicação é que, já no primeiro capítulo de Gênesis, há uma indicação de pluralidade de pessoas em
Deus.
Deuteronômio 6:4. De acordo com Gênesis 2:24, “deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os
dois uma só [’echad] carne”. É uma união de duas pessoas distintas. Em Deuteronômio 6:4, é usada a mesma palavra em
relação a Deus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único [’echad] Senhor.” Segundo Millard J. Erickson,
“aparentemente alguma coisa está sendo afirmada aqui sobre a natureza de Deus – Ele é um organismo, isto é, uma
unidade de partes distintas”. 16 Moisés bem poderia ter usado a palavra yachid (“um”; “único”), mas o Espírito Santo escolheu
não fazê-lo.
Outros textos. Após a queda do homem, Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gên. 3:22). E
algum tempo depois, quando o homem começou a construir a torre de Babel, o Senhor ordenou: “Vinde, desçamos e
confundamos ali a sua linguagem” (Gên. 1:7). Em cada caso, a pluralidade da Divindade é enfatizada.
Em sua visão do trono de Deus, Isaías ouviu o Senhor perguntando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Isa.
6:8). Aqui encontramos Deus usando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isso como
uma referência ao Concílio Celestial. Mas, pediria Deus algum conselho às Suas criaturas? Em Isaías 40:13 e 14, Ele
parece refutar essa noção. Deus não necessita aconselhar-Se nem mesmo com criaturas celestiais. Portanto, o uso do
plural em Isaías 6:8, embora não especifique a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres no Orador.
O anjo do Senhor. A frase “anjo do Senhor” aparece 58 vezes no Antigo Testamento. “O anjo de Deus” aparece onze
vezes. A palavra hebraica para “anjo” – mal’ak – significa mensageiro. Se o “anjo do Senhor” é Seu mensageiro, então
deve ser distinto do Senhor. Todavia, em alguns textos, o “anjo do Senhor” também é chamado “Deus” ou “Senhor” (Gên.
16:7-13; Núm. 22:31-38; Juí. 2:1-4; 6:22). Os pais da Igreja identificavam esse anjo com o Logos pré-encarnado. Eruditos
modernos vêem-nO como um Ser que representa Deus, como o próprio Deus, ou como algum poder externo de Deus. Por
sua vez, eruditos conservadores geralmente aceitam que “este ‘mensageiro’ deve ter sido como uma manifestação especial
do Ser do próprio Deus”.17 Se isso é correto, temos aqui outra indicação da pluralidade de pessoas na Divindade.

NO NOVO TESTAMENTO
A verdade, na Bíblia, é progressiva. Por isso, é no Novo Testamento que encontramos um quadro mais explícito da
natureza trinitária de Deus. A declaração de que Ele é amor (I João 4:8) implica que deve haver uma pluralidade dentro da
Divindade, considerando-se que o amor só pode revelar-se em um relacionamento pluralístico.
Por ocasião do batismo de Jesus, encontramos os três membros da Divindade em ação ao mesmo tempo: “Batizado
Jesus, saiu logo da água, e eis que se Lhe abriram os Céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre
Ele. E eis uma voz dos Céus que dizia: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mat. 3:16).
Eis uma notável manifestação da doutrina da Trindade. Ali estava Cristo em forma humana, visível a todos; o Espírito
Santo desceu sobre Ele na forma de uma pomba; e a voz do Pai foi ouvida dos Céus: “Este é o Meu Filho amado, em quem
me comprazo”. Em João 10:30 Cristo fala de Sua igualdade com o Pai, e em Atos 5:3 e 4, o Espírito Santo é identificado
como Deus. É impossível explicar a cena do batismo de Jesus por qualquer outra maneira senão assumindo que há três
pessoas, iguais em natureza ou essência divina.
No batismo, o Pai referiu-Se a Jesus como “Meu Filho amado”. Essa filiação, entretanto, não é ontológica, mas
funcional. No plano da salvação, cada membro da Trindade aceitou um papel específico, com o propósito de cumprir um
alvo particular. Não se trata de mudança de essência oustatus. Millard J. Erickson o explica desta maneira:
“O Filho não Se tornou inferior ao Pai durante a encarnação, mas subordinou-Se funcionalmente à vontade do Pai.
Semelhantemente, o Espírito Santo agora está subordinado ao ministério do Filho (ver João 14-16) bem como à vontade do
Pai, mas isso não implica inferioridade em relação a Eles.”18 No pensamento ocidental, os termos “Pai” e “Filho” contêm a
idéia de origem, dependência e subordinação. Na mente oriental ou semítica, entretanto, eles enfatizam igualdade de
natureza. Assim, quando as Escrituras falam de “Filho” de Deus, estão afirmando a divindade de Cristo.
Ao terminar Seu ministério terrestre, Jesus ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mat. 28:19). Nessa comissão, nota-se claramente a
Trindade. Primeiramente, notamos que a frase “em nome” [eis to onoma] é singular, não plural (nos nomes). Ser batizado
em nome de três pessoas da Trindade significa identificar-se com tudo o que Ela representa; comprometer-se com o Pai,
Filho e Espírito Santo.19 Em segundo lugar, a união desses três nomes indica que o Filho e o Espírito Santo são iguais ao
Pai. Seria estranho, para não dizer blasfemo, unir o nome do Deus eterno com um “ser criado” e uma “força” ou “energia”
na fórmula batismal.
“Quando o Espírito Santo é colocado na mesma expressão e no mesmo nível das outras duas pessoas, é difícil evitar a
conclusão de que Ele também é visto como sendo igual ao Pai e ao Filho.”20
Paulo e outros escritores do Novo Testamento geralmente usam a palavra “Deus” para se referir ao Pai; “Senhor”, em
referência ao Filho, e “Espírito”, em referência ao Espírito Santo. Em I Coríntios 12:4-6, o apóstolo fala dos três no mesmo
texto: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o
mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.” Da mesma forma, em II
Coríntios 13:13, ele enumera as três pessoas da Trindade, ao mencionar “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus
e a comunhão do Espírito Santo”.
Embora não possamos dizer que esses textos sejam uma enunciação formal da Trindade, eles e outros como, por
exemplo, Efésios 4:4-6, são trinitarianos em caráter. E embora a Igreja tenha elaborado os detalhes dessa doutrina em
tempos posteriores, ela o fez sobre o fundamento dos escritores bíblicos.

DIVINDADE DE CRISTO
Um elemento crucial na doutrina da Trindade é a divindade de Cristo. Diante do ensinamento de que há um Deus em
três pessoas, e que cada uma dessas pessoas é plenamente divina, é importante verificarmos o que as Escrituras ensinam
sobre a divindade de Cristo. Existem passagens no Novo Testamento que confirmam a plena deidade de Cristo.
João 1:1-3;14. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A frase introdutória “no
princípio” nos leva de volta ao começo do tempo. Se o Verbo estava “no princípio”, então Ele não teve princípio, que é outra
forma de dizer que era eterno.
“O Verbo estava com Deus” nos diz que o Verbo era uma pessoa ou personalidade separada. O Verbo não estava em
(en) Deus, mas com (pros) Deus. Desde que o Pai e o Espírito Santo são Deus, a palavra “Deus” muito provavelmente
inclui esses dois outros membros da Trindade.
“E o Verbo era Deus”. O Verbo não era uma emanação de Deus, mas Deus mesmo. Embora o verso 1 não diga quem é
o Verbo, o verso 14 claramente O identifica: “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e
vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai.” Como disse Arthur W. Pink, “é impossível conceber uma afirmação
mais enfática e inequívoca da deidade absoluta do Senhor Jesus Cristo”. 21
João 20:28. “Respondeu-Lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu.” Essa é a única vez, nos evangelhos, em que alguém se
dirige a Cristo, chamando-O de “meu Deus” (ho Theos mou). É significativo que nem Cristo nem João desaprovaram a
declaração de Tomé; pelo contrário, esse episódio constituiu um ponto alto da narração do evangelista, que imediatamente
fala a seus leitores: “Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro.
Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida
em Seu nome” (vs. 30 e 31). Este evangelho, diz João, foi escrito para persuadir outros indivíduos a imitarem Tomé no
reconhecimento de Cristo como “Senhor meu e Deus meu”.
Filipenses 2:5-7. Essa passagem foi escrita para ilustrar a humildade. Mas é um dos textos de apoio à divindade de
Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma [morphé]
de Deus não julgou como usurpação [harpagmos] o ser igual a Deus; antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma
[morphé] de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana…”
Morphé, que significa “forma” ou “aparência visível’, é uma palavra descritiva da natureza genuína, a essência, de uma
coisa. “Não se refere a qualquer forma mutável, mas uma forma específica da qual dependem a identidade e
o status.”22 Morphé contrasta com schema (2:8), que também significa “forma” porém no sentido de aparência superficial, ao
invés de essência. O substantivo harpagmosaparece apenas nesse texto, no Novo Testamento, e o verbo correspondente
significa “roubar, tirar à força”. No grego secular, o substantivo significa “roubo”.
O contexto deixa claro que Jesus não cobiçou, não tentou roubar “o ser igual a Deus”; não tentou agarrar-Se à
igualdade com Deus a qual Ele possuía intrinsecamente. Em outras palavras, não tentou reter Sua igualdade com Deus
pela força. Em vez disso, “tratou-a como uma oportunidade para renunciar qualquer vantagem ou privilégio decorrentes;
como uma oportunidade para auto-empobrecimento e sacrifício próprio sem reserva”. 23 Esse é o significado da expressão
“antes a Si mesmo Se esvaziou”. Sua igualdade com Deus era algo que Ele possuía intrinsecamente; e alguém igual a
Deus deve ser Deus. Assim, essa “é uma passagem que demanda a compreensão de que Jesus era divino no mais pleno
sentido”.24
Colossenses 2:9. “Porquanto nEle habita corporalmente [somatikos] toda a plenitude [pleroma] da Divindade.” O termo
grego pleroma tem o significado básico de “plenitude”, “plenamente”. No Antigo Testamento ele é aplicado à plenitude da
Terra ou do mar (Sal. 24:1; cf. 50:12; 89:11; 96:11; 98:7), que é citada em I Coríntios 10:26. No grego
secular, pleroma referia-se à totalidade da tripulação de um navio, ou à quantia necessária para completar uma transação
financeira. Em Colossenses 1:19 e 2:9, Paulo usa a palavra para descrever a soma total de cada função da divindade. 25
Essa plenitude habita corporalmente em Cristo, mesmo durante Sua encarnação, Ele reteve todos os atributos
essenciais da divindade, embora não os empregasse em benefício próprio. “… Foi claramente visto que a divindade
habitava na humanidade, pois através do invólucro terrestre, vez após vez cintilavam lampejos de Sua glória.” 26
Tito 2:13. Paulo descreve os santos como “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso
grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. Notemos que: 1) De acordo com uma regra da gramática grega, o artigo o antes de
“Deus” e “Salvador” une esses dois substantivos como designações do mesmo objeto. Assim, Jesus Cristo é “o grande
Deus e Salvador”. 2) Todo o Novo Testamento aguarda a segunda vinda de Cristo. 3) O contexto do verso 14 fala apenas
de Cristo. 4) Essa interpretação está em harmonia com outras passagens, tais como João 20:28; Rom. 9:5; Heb. 1:8; II
Ped. 1:1, de modo que esse texto é mais uma afirmação da divindade de Cristo.
Mateus 3:3. “… Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor.” De acordo com o verso 1, esse texto de
Isaías refere-se a João Batista que era o precursor do Messias. Em Isaías 40:3, a palavra traduzida como “Senhor”
é Yahweh. Assim, o Senhor cujo caminho João prepararia não era outro senão o próprio Jeová.
Romanos 10:13. “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O contexto (vs. 6-12) deixa claro que,
ao se referir ao “nome do Senhor”, Paulo está pensando em Cristo. O texto é uma citação de Joel 2:32, onde novamente a
palavra Senhor é tradução do hebraico Yahweh.
Hebreus 1:8 e 9. “O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre… por isso Deus, o Teu Deus Te ungiu…” Neste capítulo,
são usados sete textos do Antigo Testamento para apoiar o argumento de que Cristo é superior aos anjos. O quinto texto,
citado nos versos 8 e 9, é Sal. 45:6 e 7, onde um rei da casa de Davi é mencionado como “Deus”. Seria isto uma hipérbole
poética, como algumas vezes é encontrada em cortes orientais, ou está o texto apontando para outra pessoa além do
Antigo Testamento, príncipe da casa de Davi? Para os poetas e profetas hebreus, um príncipe da casa de Davi era o viceregente do Deus de Israel; pertencente à dinastia à qual Deus fizera promessas especiais ligadas ao cumprimento de Seu
propósito no mundo. Ao lado disso, o que era apenas parcialmente verdadeiro na linhagem e no governo histórico de Davi,
ou mesmo em sua pessoa, deveria ser compreendido plenamente quando aparecesse o filho de Davi, no qual todas as
promessas e ideais associados com a dinastia deveriam ser incorporados. Agora, finalmente, o Messias aparecera. Em
sentido pleno, era possível para Davi, ou qualquer dos seus sucessores, que este Messias pudesse ser referido não
apenas como Filho de Deus (v. 5), mas como realmente Deus, pois Ele é o Messias da linhagem de Davi, a refulgente
glória de Deus e a própria imagem de Sua substância.27 Todas essas passagens indicam que Cristo e Yahweh são um.

AUTOCONSCIÊNCIA DE JESUS
Cristo nunca afirmou diretamente Sua divindade, mas dizia ser o Filho de Deus (Mat. 24:36; Luc. 10:22; João 11:4). E,
de acordo com a idéia hebraica de filiação, tudo o que o pai é o filho também é. Os judeus entenderam que assim Ele
estava reivindicando igualdade com o Pai: “Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente
violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (João 5:18; cf. 10:33).
Repetidas vezes Cristo disse possuir o que só pertence a Deus. “Ele falou dos anjos de Deus (Luc.12: 8 e 9; 15:10)
como Seus anjos (Mat. 13:41). Referiu-Se ao reino de Deus (Mat. 12:28; 19:14 e 24; 21:31 e 34) e aos eleitos de Deus
(Mar. 13:20) como Suas propriedades.” 28 Em Lucas 5:20 Jesus perdoou os pecados do paralítico, e os judeus, com base em
Isaías 43:25, argumentaram: “Quem pode perdoar pecados senão Deus?” Dessa forma, a ação perdoadora de Jesus O
identificava como Deus.
A divindade de Cristo também é indicada no uso que fez do tempo presente em Sua resposta aos judeus: “Antes que
Abraão existisse [genesthai] Eu sou [ego eimi]” (João 8:58). Ao usar o termogenesthai – “nascesse” ou “se tornasse” –
e ego eimi – “Eu sou” –, Jesus contrasta Sua existência eterna com o início histórico da existência de Abraão. Pelo menos
os judeus compreenderam dessa maneira, ou seja, que Jesus reivindicava ser Yahweh, o “Eu sou” da sarça ardente (Êxo.
3:14); por isso, apanharam pedras para matá-Lo (João 8:59).
Finalmente, o fato de que Jesus aceitou adoração evidencia que Ele próprio reconhecia Sua divindade. Depois que
Jesus apareceu aos discípulos andando sobre as águas, “eles O adoraram” (Mat. 14:33). O cego que teve a visão
restaurada, depois de lavar-se no tanque de Siloé, “O adorou” (João 9:38). Após a ressurreição, os discípulos foram para a
Galiléia onde Cristo lhes apareceu. E eles “O adoraram” (Mat. 28:17).
E Ellen White assegura: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. ‘Quem tem o Filho tem a vida.’ I
João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente.“29
“Falando de Sua preexistência, Cristo conduz a mente através de séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve
tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus.” 30

TEXTOS DIFÍCEIS
Os antitrinitarianos usam alguns textos para apoiar a idéia de que Jesus, em algum tempo na eternidade, foi gerado, isto
é, que Ele teve um começo e que não é absolutamente igual a Deus.
Apocalipse 3:14. Aqui, Jesus, “a Testemunha fiel e verdadeira”, é mencionado como “o princípio da criação de Deus”, o
que leva alguns a interpretarem que Ele foi criado em algum ponto no passado, sendo assim a primeira obra de Deus.
Mas a palavra grega traduzida como “princípio” é arché. Além de “princípio”, ela também significa “causa primeira ou
principal”, “soberano”, “regente”. O próprio Pai também é chamado “princípio”, em Apoc. 21:6.
O mesmo título é novamente aplicado a Cristo em Apoc. 22:13. Embora a palavra arché possa ter um sentido passivo, o
que poderia fazer de Jesus o primeiro ser criado, o sentido ativo do termo O torna a “causa principal” o “criador”. Que Jesus
não é o primeiro ser criado, mas o próprio criador, é o testemunho de outras passagens do Novo Testamento (João 1:3;
Col. 1:16; Heb. 1:2).
Provérbios 8:22-31. “Eu nasci…” (v. 24). Argumenta-se que esse verso se refere a Jesus, ensinando que Ele foi nascido
ou criado. Mas o contexto da passagem fala da sabedoria, não sobre Jesus. A personificação da sabedoria é uma figura
literária que ocorre também em outras partes das Escrituras. Em Salmo 85:10-13, temos “misericórdia e verdade”
encontrando-se, “justiça e paz” se beijando. Em Salmo 96:12, “os campos” se alegram, e “todas as árvores dos bosques
regozijarão diante do Senhor”. (Ver também I Crôn. 16:33; Isa. 52:9; Apoc. 20:13 e 14). Esse tipo de alegoria não deve ser
interpretada literalmente. “A personificação é uma figura literária e poética que serve para criar atmosfera e para avivar
idéias abstratas e objetos inanimados, ao representá-los como se fossem seres humanos.”31
A personificação do divino atributo da sabedoria começa no capítulo 1: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a
sua voz” (v. 20). No capítulo 3, é-nos dito que ela “mais preciosa é do que pérolas” e “os seus caminhos são… paz” (vs. 15
e 17). No capítulo 7 ela é chamada “irmã” (7:4); e no capítulo 8, a sabedoria mora junto com a prudência (8:12). Sabedoria
personificada também é o tema de Provérbios 9:1-5. Aplicar tais passagens a Cristo exige um modelo alegórico de
interpretação que nos leva a métodos incompatíveis com outras passagens. Foi justamente esse tipo de hermenêutica que
suscitou a rejeição do método alegórico de interpretação pelos reformadores. É importante notar que nenhum verso dessa
passagem é citado no Novo Testamento.
Provérbios 8:22-31 contém imagens poéticas que necessitam ser bem interpretadas. A primeira frase no verso 22 pode
ser traduzida como “o Senhor me possuiu”, “o Senhor me criou”, ou “o Senhor me gerou”. O significado básico do
verbo qanah é “comprar”, “adquirir” e “possuir”. Mas as outras duas traduções são também possíveis. Além de qanah, duas
outras palavras referem-se à sabedoria nesse texto: nasak = “estabelecer” (v. 23) e chil = “nascer” (vs. 24 e 25). O
pensamento básico é sempre o mesmo, isto é, a sabedoria estava com Deus antes do início da criação. Se Deus a criou,
se foi gerada ou simplesmente possuída, não é o foco. O que é central não é o modo de sua origem, mas sua antiguidade e
precedência dentro da criação de Deus. Considerando a linguagem poética e metafórica da passagem, ela não deve ser
usada para estabelecimento de qualquer doutrina sobre uma suposta origem de Cristo.
Ellen White, às vezes, aplicou homileticamente Provérbios 8 a Cristo; mas ela usou o texto para apoiar Sua
preexistência eterna. Antes de usar Provérbios 8, ela disse que “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus.
Estava Ele com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre”. 32
Colossenses 1:15. Cristo é “o primogênito de toda a criação”. Considerando que Ele é chamado primogênito
(prototokos), argumenta-se que deve ter tido um começo. Mas o termo “primogênito”, nesse texto, é um título e não a
definição de uma condição biológica. Segundo 1:16, tudo foi criado por Jesus. Portanto, Ele não poderia criar a Si mesmo.
A palavra “primogênito” tem um significado especial para os hebreus. Em geral, o primogênito era o líder de um grupo
de pessoas ou uma tribo, o sacerdote na família, e o único que recebia a herança duas vezes mais que seus irmãos. Ele
tinha certos privilégios e responsabilidades. Algumas vezes, entretanto, o fato de que alguém fosse o primogênito não
importava aos olhos de Deus. Por exemplo, embora Davi fosse o filho mais novo, Deus o chamou de “Meu primogênito”
(Sal. 89:20 e 27). A segunda linha do paralelismo no verso 27 nos diz que isso significava que Davi devia se tornar o rei
mais exaltado. Vejamos também as experiências de Jacó (Gên. 25:25 e 26; Êxo. 4:22) e Efraim (Gên. 41:50-22; Jer. 31:9).
Nesses casos, “primeiro”, no sentido de tempo, foi desconsiderado. O importante era apenas a distinção e a dignidade de
quem era chamado primogênito. No caso de Jesus, esse termo também se refere à Sua posição exaltada e não a um ponto
no tempo no qual Ele tenha sido criado.
Em Colossenses 1:18, Cristo é chamado “o primogênito de entre os mortos”, embora não o tenha sido
cronologicamente. Sabemos que Moisés e outros O precederam. O sentido é que Ele é o preeminente.
João 1:1-3. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” Alguns dizem que aqui há uma
distinção entre Deus o Pai, que é o Deus, e Jesus, que é apenas um deus. O termo grego para Deus (theos) é encontrado
com artigo (ho), “o Deus”, ou sem artigo, “deus” ou “Deus”. Em João 1:1-3, o Pai é chamado ho theos ao passo que o Filho
é chamado theos. Será que isso justifica a argumentação de que o Pai é Deus Todo-poderoso, enquanto o Filho é apenas
um deus menor?
O termo theos sem artigo freqüentemente também é usado para o Pai, inclusive no mesmo capítulo (João 1:6, 13 e 18;
Luc. 2:14; Atos 5:39; I Tess. 2:5; I João 4:12; II João 9).
Jesus também é chamado o Deus (Heb. 1:8 e 9; João 20:28). Em outras palavras, o uso do termo Deus, com ou sem
artigo, não pode ser argumento para se fazer distinção entre Deus o Pai e Deus o Filho. Deus o Pai é theos e ho theos,
assim como o Filho.
Muitas vezes, a ausência do artigo, no idioma grego, denota qualidade especial. Nesse caso, o substantivo não deveria
ser traduzido com o artigo indefinido “um”.
Se João tivesse usado o artigo definido cada vez em que aparece theos, ele estaria indicando a existência de apenas
uma pessoa divina. Mas João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o verbo era theos.” Caso
tivesse usado apenas ho theos, deveríamos ler: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com ho theos, e o Verbo era ho
theos.” Segundo João 1:14, o Verbo é Jesus. Portanto, substituindo “Verbo” por “Jesus” temos a sentença “no princípio era
Jesus e Jesus estava com ho theos, e Jesus era ho theos.” Ho theos refere-se claramente ao Pai. O texto modificado seria:
“No princípio era o Verbo e o Verbo estava com o Pai, e o Verbo era o Pai.” Isso é teologicamente errado. Falando de duas
pessoas da Divindade, João não teve escolha senão usar ho theos uma vez e, na seguinte vez, usar theos. A ausência de
artigo no segundo caso não pode ser usada como argumento contra a igualdade entre Pai e Filho.
João 1:14 e 18; 3:16 e 18; I João 4:9. Esses versos falam de Jesus como o Filho unigênito (monogenes) do Pai. Em
razão disso, algumas pessoas sugerem que a palavra grega monogenes indica que Jesus foi gerado literalmente.
A palavra monogenes significa “único de uma espécie”. Seu uso ocorre nove vezes no Novo Testamento. Três vezes
em Lucas (7:12; 8:42; 9:38) sempre se referindo a um único filho. Nos escritos de João, ela aparece cinco vezes (1:14 e 18;
3:16 e 18; I João 4:9), como uma designação do relacionamento de Cristo com o Pai. Em Hebreus 11:17, ela se refere a
Isaque como o filho unigênito de Abraão. Sabemos, entretanto, que Isaque não era o único filho do patriarca. Era o único
filho da promessa. A ênfase aqui não é sobre o nascimento, mas sobre a unicidade do filho.
O termo normalmente traduzido como “gerado” é gennao. Ele aparece em Hebreus 1:5 e pode estar se referindo à
ressurreição ou à encarnação de Cristo. Na versão Septuaginta, a palavra monogenes é a tradução da palavra
hebraica yachid, cujo significado é “único” ou “amado” (cf. Mar. 1:11, em conexão com o batismo de Jesus).
Não é claro se monogenes se refere apenas ao Senhor ressuscitado, histórico, ou também ao Senhor preexistente. Mas
é interessante notar que nem João 1:1-14, nem 8:58 e nem o capítulo 17 usam o termo Filho para o Senhor preexistente.
Mateus 14:33. “És Filho de Deus!”. Esse é um título messiânico (Sal. 2:7; Atos 13:33; Heb. 1:5), que enfatiza a deidade
de Jesus. Embora seja um dos muitos títulos que possuía, Ele o usava muito raramente para referir-Se a Si mesmo (João
11:4). Na tentativa de compreender quem era Cristo, todos esses títulos necessitam ser investigados para termos um
quadro coerente. Que o título “Filho de Deus” salienta a divindade de Jesus é evidente em João 10:29-36. Isso é apoiado
posteriormente pelo fato de que o Filho é a exata imagem de Deus, sendo igual ao Pai (Col. 1:15; Heb. 1:3; Filip. 2:6)
A palavra “Filho” tem um amplo significado na linguagem original. Portanto, não é possível reduzi-la aos limites de
idiomas modernos, dando-lhe um significado literal. A filiação de Jesus é atestada em conexão com o Seu nascimento (Luc.
1:35), batismo (Luc. 3:22), transfiguração (Luc. 9:35) e ressurreição (Atos 13:32 e 33). A Bíblia silencia quanto a se esses
títulos descrevem o eterno relacionamento entre Pai e Filho. Em qualquer caso, as Escrituras atribuem existência eterna a
Jesus (Isa. 9:6; Apoc. 1:17 e 18). Durante a encarnação, Jesus subordinou-Se voluntariamente ao Pai, sendo o Filho de
Deus. Isso incluiu a entrega de prerrogativas, mas não a natureza da deidade. O Senhor ressuscitado, ao ser entronizado
como Rei e Sacerdote, também aceitou voluntariamente a prioridade do Pai, mas Ele e o Pai são, conforme a Escritura,
personalidades iguais e coeternas da Divindade.

O ESPÍRITO SANTO
Que o Espírito Santo é uma pessoa divina, igual em substância, poder e glória com o Pai e o Filho, podemos observar
nas Escrituras.
É um Ser pessoal. Alguns crêem que o Espírito Santo é um “poder” ou uma “energia” de Deus. Mas há muitos versos
onde o Ele é mencionado junto com o Pai e o Filho (Mat. 28:19; I Cor. 12:4-6; II Cor. 13:14). Isso indica que o Pai e o Filho
são pessoas; portanto, o Espírito Santo deve também ser uma pessoa. Freqüentemente, o pronome masculino “Ele” é
usado em referência ao Espírito Santo (João 14:26; 15:26; 16:13 e 14), embora a palavra grega para Espírito ( pneuma)
seja neutra e não masculina. A palavra “consolador” ou “confortador” (parakletos) refere-se a uma pessoa, não a uma força.
O Espírito Santo fala (Atos 8:29), ensina (João 14:26), dá testemunho (João 15:26), intercede por outros (Rom. 8:26 e
27), distribui dons (I Cor. 12:11) e proíbe ou permite certas coisas (Atos 16:6 e 7). De acordo com Efés. 4:30, o Espírito
Santo pode também ser entristecido. Essas atividades são características de uma pessoa, não de uma força.
É Deus. As Escrituras vêem o Espírito Santo como Deus. Desde a eternidade de Deus o Espírito Santo participa da
Divindade como Seu terceiro componente. Em Mat. 28:19, os discípulos foram ordenados a batizar “em nome do Pai, do
Filho e do Espírito Santo”. Esse verso coloca o Espírito Santo em igualdade com o Pai e o Filho. Ao repreender Ananias,
Pedro lhe disse que mentindo ao Espírito Santo, ele tinha mentido “não a homens mas a Deus” (Atos 5:3 e 4).
“O Espírito Santo é onipotente. Ele distribui dons espirituais ‘como Lhe apraz, a cada um individualmente’ (I Cor. 12:11).
Ele é onipresente; habitará com Seu povo para sempre (João 14:16). Ninguém pode fugir à Sua influência (Sal. 139:7-10).
Ele também é onisciente, porque ‘a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus’ e ‘as coisas de Deus
ninguém conhece, senão o Espírito de Deus’ (I Cor. 2:10 e 11).” 33
Ellen White acreditava na personalidade do Espírito Santo: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto
uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.” 34
Vimos então que a Divindade existe em uma pluralidade; que Jesus é Deus, coexistente desde a eternidade com o Pai,
e que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade. Há muitos outros detalhes sobre o tema, os quais somente no Céu
entenderemos plenamente.
Textos difíceis da Bíblia são melhor compreendidos em harmonia com o restante da Escritura. Embora o mistério da
Trindade nunca possa ser completamente entendido pelo homem finito, é uma doutrina bíblica, apoiada por escritos de
Ellen White e é uma das 27 crenças fundamentais da Igreja.

Referências:
1. Fred Allaback, No Leaders … No New Gods (Creal Spring, Ill, 1966), pág. 11.
2. Ibidem, pág. 15.
3. Ibidem, pág. 30.
4. Bill Stringfellow, Tue Red Flag Is Waving (Spencer, TN: Concerned Publications, s/d).
5. Rachel Cory-Kuehl, The Persons of God (Aggelia Publications, 1966).
6. Allen Stump, The Foundation of Our Faith (Smyma Gospel Ministry, s/d).
7. Bill Stringfellow, Op. Cit., pág. 15.
8. W. Grudem, Systematic Theology (Zondervan, 1994), pág. 226.
9. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 615.
10.Testimonies For the Church, vol. 8, pág. 295.
11. Louis Berkhof, Systematic Theology (Eerdmans, 1941), pág. 88.
12. Ibidem, pág. 89.
13. Escreveu Ellen White: “Há muitos mistérios que não busco compreender nem explicar; eles são muito elevados para
mim e para vocês. Em alguns desses pontos, o silêncio é ouro” (Manuscrito 14,pág. 179).
14. G. A. F. Knight, A Biblical Approach to the Doctrine of the Trinity (Edimburgo, 1953), pág. 20.
15. Ibidem.
16. Millard J. Erickson, Christian Theology (Baker, 1983), vol. 1, pág. 329.
17. G. Ch. Aalders, Genesis (Zondervan, 1981), pág. 300.
18. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 338.
19. Alguns comentaristas acreditam que atrás desta fórmula está a linguagem utilizada para transferência de dinheiro,
na era helenista. Desse modo, a fórmula expressa figuradamente que a pessoa batizada é “transferida” para a conta do
Senhor e se torna Sua possessão. Outros interpretam “nome” como “autoridade”. Nesse caso, a pessoa é batizada pela
autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
20. W. Grudem, Op. Cit., pág. 320.
21. Arthur W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Zondervan, 1945), pág. 22.
22. W. Poehlmann, Exegetical Dictionary of the New Testament (Eerdmans, 1981), vol. 2, pág. 443.
23. F. F. Bruce, Philippians, Hendrickson, 1989), pág. 69.
24. Leon Morris, The Lord from Heaven: A Study of the New Testament Teaching in the Deity and Humanity of
Jesus (Eerdmans, 1958), pág. 74.
25. Alguns comentaristas definem pleroma em termos do pensamento gnóstico, segundo o qual essa palavra significa
uma nova emanação que se tem encarnado no Redentor.
26. John Eadie, Colossians, Classic Commentary Library (Zondervan, 1957), pág. 145.
27. F. F. Bruce, Hebrews (Eerdmans, 1964), págs. 19 e 20.
28. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 326.
29. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 530.
30. Evangelismo, pág. 615.
31. Kenneth T. Aitken, Proverbs (Westminster Press, 1986), pág. 85.
32. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247.
33. Seventh-day Adventists Believe (Hagerstown, 1988), pág. 60.
34. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 616.

A Trindade nas Escrituras
Gerhard Pfandl, Ph.D.
Diretor associado do Biblical Research Institute
da Associação Geral da IASD, Silver Spring, Maryland, EUA
Resumo: O presente artigo provê uma investigação das evidências bíblicas que apóiam a doutrina da Trindade. Várias
referências, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, são consideradas em seus respectivos contextos linguísticos
hebraicos e/ou gregos. O autor aponta, ainda, os erros mais comuns na interpretação de alguns desses textos.
Introdução
Embora a palavra Trindade (do lat. trinitas, “tri-unidade” ou “tri-unicidade”) não se encontre na Bíblia (tampouco a
palavra “encarnação”), o ensinamento que ela descreve está claramente contido nas Escrituras. 1 Brevemente definida, a
doutrina da Trindade compreende o conceito de que “Deus existe eternamente como três pessoas: Pai, Filho e Espírito
Santo; cada pessoa é plenamente Deus; e há um só Deus.”2
O próprio Deus é um mistério – quanto mais a encarnação ou a Trindade! Contudo, embora não sejamos capazes de
compreender logicamente os vários aspectos da Trindade, precisamos tentar entender o melhor possível o ensino
escriturístico a ela concernente. Todas as tentativas para explicar a Trindade não atingirão o seu objetivo, “especialmente
quando refletimos sobre a relação das três pessoas com a divina essência [...] todas as analogias falham e nos tornamos
plenamente cônscios do fato de que a Trindade é um mistério muito além do nosso entendimento. É a incompreensível
glória da Divindade.”3 Portanto, procedemos melhor em admitir que “o homem não pode compreendê-la e torná-la inteligível.
É inteligível em algumas de suas relações e modos de manifestações, mas ininteligível em sua natureza essencial.” 4
Precisamos conscientizar-nos de que podemos atingir apenas uma compreensão parcial do que é a Trindade. Ao
ouvirmos a Palavra de Deus, certos elementos da Trindade se tornarão claros, enquanto outros permanecerão um mistério.
“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos,
para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29).

A Trindade no Antigo Testamento
Várias passagens do Antigo Testamento sugerem ou mesmo implicam que Deus existe em mais do que uma pessoa,
não necessariamente em uma Trindade, mas ao menos em uma relação binária.
GÊNESIS 1
No relato da Criação em Gênesis 1, a palavra hebraica para Deus é ‘Elohim, a forma plural de‘Eloha. Geralmente, este
plural tem sido interpretado como um plural majestático, em vez de uma pluralidade. Todavia, G. A. F. Knight tem
argumentado corretamente que tomar esta forma como um plural majestático é ler no antigo texto hebraico um conceito
moderno, desconsiderando que os reis de Israel e de Judá são todos tratados no singular no texto bíblico. 5 Além disso,
Knight ressalta que as palavras hebraicas para “água” e “céu” são ambas plurais. Os gramáticos têm denominado este
fenômeno de plural quantitativo. A água pode aparecer em forma de pequenas gotas ou grandes oceanos. Esta diversidade
quantitativa em unidade, diz Knight, é uma maneira adequada de compreender o plural ‘Elohim. Também explica por que o
substantivo singular ‘Adonai é escrito como um plural.6
Lemos em Gênesis 1:26: “Também disse [singular] Deus: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme
a nossa [plural] semelhança.” Moisés não está usando um verbo plural com ‘Elohim, mas Deus, em sua fala, usa um verbo
plural e pronomes plurais com referência a Si mesmo. Alguns intérpretes crêem que Deus aqui está falando aos anjos. No
entanto, segundo as Escrituras, os anjos não participaram da Criação. A melhor explicação, portanto, é a de que já no
primeiro capítulo de Gênesis há uma indicação de uma pluralidade de pessoas na própria Divindade.
GÊNESIS 2:24
De acordo com Gênesis 2:24, o homem e a mulher devem tornar-se “uma só [heb. ‘echad] carne”, uma união de duas
pessoas distintas, individuais. Em Deuteronômio 6:4, a mesma palavra é empregada para Deus: “Ouve, Israel, o SENHOR,
nosso Deus, é o único [‘echad] SENHOR.” Diz Millard J. Erickson: “Parece que aqui algo está sendo afirmado acerca da
natureza de Deus – Ele é um organismo, isto é, uma unidade de partes distintas.” 7 Moisés poderia ter usado a
palavra yachid (somente um, singular) em Deuteronômio 6:4, mas o Espírito Santo preferiu que assim não fosse.

Outros Textos que Expressam uma Pluralidade
Disse Deus após a queda do homem: “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gn 3:22). E, algum tempo depois,
quando os homens começaram a construir a torre de Babel, disse o SENHOR: “Desçamos e confundamos ali a sua
linguagem” (Gn 11:7). Vez após outra a pluralidade da Divindade é enfatizada.
Em sua famosa visão do trono divino, Isaías ouve o SENHOR indagando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”
(Is 6:8). Aqui vemos Deus utilizando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isto como
uma referência ao concílio celestial. Mas Deus alguma vez convocou Suas criaturas para conselho? Em Isaías 40:13 e 14
Ele parece refutar esta mesma noção. Ele não precisa aconselhar-Se com Suas criaturas, nem mesmo com os seres
celestiais. Portanto, este plural, embora não prove a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres nAquele que fala.

O Anjo do Senhor
A expressão “Anjo do SENHOR” aparece cinqüenta e oito vezes no Antigo Testamento, e “o anjo de Deus”, onze vezes.
A palavra hebraica mal’ak (anjo) significa simplesmente “mensageiro”. Portanto, se o “Anjo do SENHOR” é um mensageiro
do SENHOR, ele deve ser distinto do próprio SENHOR. No entanto, em vários textos o “Anjo do Senhor” é também
chamado “Deus” ou “SENHOR” (Gn 16:7-13; Nm 22:31-38; Jz 2:1-4; 6:22). Os Pais da Igreja O identificavam com o Logos
pré-encarnado. Eruditos modernos O têm visto como um ser que representa a Deus, como o próprio Deus, ou alguma força
externa de Deus. Eruditos conservadores geralmente concordam que “esse ‘mensageiro’ deve ser visto como uma
manifestação especial da existência ou essência do próprio Deus.”8 Se isto está correto, temos aqui outro indicador da
pluralidade de pessoas na Divindade.

A Trindade no Novo Testamento
Nas Escrituras a verdade é progressiva. Quando chegamos, portanto, ao Novo Testamento, encontramos um quadro
mais explícito da natureza trinitária de Deus. O próprio fato de se dizer de Deus que Ele é amor (1Jo 4:8) implica em que
deve existir uma pluralidade dentro da Divindade, uma vez que o amor só pode existir em uma relação entre seres
diferentes.

No Evangelho de Mateus
(a) No batismo de Jesus encontramos os três membros da Divindade em atividade ao mesmo tempo:
Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba,
vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. (Mt 3:16-17)
O relato do batismo de Jesus é uma notável manifestação da doutrina da Trindade – ali estava Cristo em forma
humana, visível a todos; o Espírito Santo descendo sobre Cristo em forma corpórea, como uma pomba; e a voz do Pai
falou do céu: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” Em João 10:30, Cristo reclama igualdade com o Pai, e,
em Atos 5:3, o Espírito Santo é identificado como Deus. Portanto, é difícil, se não impossível, explicar a cena do batismo de
Cristo de qualquer outra forma a não ser admitir que há três pessoas na natureza ou essência divina.
No batismo de Jesus, o Pai O chamou de “meu Filho amado”. A filiação de Jesus, porém, não é ontológica, mas
funcional. No plano da salvação, cada membro da Trindade aceitou uma função específica. É uma função com a finalidade
de atingir um objetivo específico, não uma mudança de essência ou condição. Millard J. Erickson explica isto deste modo:
O Filho não Se tornou menos do que o Pai durante Sua encarnação terrestre, mas subordinou-Se funcionalmente à
vontade do Pai. Igualmente, o Espírito Santo está agora subordinado ao ministério do Filho (veja João 14-16), bem como à
vontade do Pai, mas isto não implica em que Ele é menos do que são Eles. 9 Os termos “Pai” e “Filho”, no pensamento
ocidental, trazem consigo as ideias de origem, dependência e subordinação. Na mentalidade semítica ou oriental, porém,
eles enfatizam igualdade ou identidade de natureza. Desse modo, quando as Escrituras falam do “Filho” de Deus, elas
afirmam Sua divindade.
No final do Seu ministério, Jesus disse aos Seus discípulos que eles deveriam ir e fazer “discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28:19). Neste, que é o rito introdutório de cada crente na
religião cristã, a doutrina da Trindade é claramente ensinada. Primeiro, notamos que “em nome” (gr. eis to onoma) é
singular, não plural (“nos nomes”). Ser batizado em nome das três pessoas da Trindade significa identificar-se a si próprio
com tudo o que a Trindade representa; confiar-se ou entregar-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. 10 Segundo, a união
destes três nomes indica que o Filho e o Espírito Santo são iguais ao Pai. Seria um tanto estranho, para não dizer
blasfemo, unir o nome do Deus eterno a um ser criado (quer tenha sido criado na eternidade ou em algum momento do
tempo), e a uma força ou poder impessoal nesta fórmula batismal.
Quando o Espírito Santo é posto na mesma expressão e no mesmo nível que as outras duas pessoas, é difícil evitar a
conclusão de que o Espírito Santo é também visto como uma pessoa e de igual posição que o Pai e o Filho. 11

Nos Escritos de Paulo
Paulo e os demais escritores do Novo Testamento geralmente usam a palavra “Deus” ao se referirem ao Pai, “Senhor”
quando se referem ao Filho, e “Espírito” referindo-se ao Espírito Santo. Em 1 Coríntios 12:4-6, Paulo se refere aos três no
mesmo texto:
Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas oSenhor é o mesmo.
E há diversidade de realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.
Semelhantemente, em 2 Coríntios 13:13, ele enumera as três pessoas da Trindade:
A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.
Conquanto não possamos dizer que estes textos sejam uma enunciação formal da Trindade, estas passagens e outras
semelhantes (p. ex., Efésios 4:4-6) são de caráter distintamente trinitariano. Foi a Igreja em tempos posteriores quem
elaborou os detalhes da Trindade, mas eles construíram sobre os fundamentos dos escritores bíblicos.

A divindade de Cristo
Um elemento decisivo na doutrina da Trindade é a divindade de Cristo. Sendo que a doutrina da Trindade ensina que há
um Deus em três pessoas, e que cada uma dessas pessoas é plenamente Deus, torna-se importante verificar o que as
Escrituras ensinam acerca da divindade de Cristo.

A divindade de Cristo no Novo Testamento
Há várias passagens no Novo Testamento que afirmam claramente a plena divindade de Cristo:
JOÃO 1:1-3, 14
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A frase introdutória “no princípio” (sem o
artigo) nos leva de volta ao início do tempo. Se o Verbo era “no princípio”, então Ele mesmo era sem princípio, que é outra
maneira de dizer que Ele era eterno.
“O Verbo estava com Deus” nos diz que o Verbo é uma pessoa ou personalidade distinta. O Verbo não estava “em”
(gr. en) Deus, mas “com” (pros) Deus.
“E o Verbo era Deus”, ou, mais lieteralmente: “e Deus era o Verbo.” O Verbo não era uma emanação de Deus, mas o
próprio Deus. Conquanto o verso 1 não nos diga quem é o Verbo, o verso 14 claramente O identifica com Cristo. “Uma
afirmação mais enfática e inequívoca da absoluta Divindade do Senhor Jesus Cristo é impossível de conceber.” 12
JOÃO 20:28
“Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!” Esta é a única ocasião nos Evangelhos em que alguém diz a Cristo
“Deus meu” (ho Theós mou). Quando Tomé viu o Cristo ressurreto, o duvidoso foi transformado num adorador. É
significativo que nem Cristo, na ocasião em que isto ocorreu, nem João ao escrever o Evangelho, tenham desaprovado o
que Tomé disse. Ao contrário, tanto quanto se referia a João, esse episódio constituiu um ponto importante em sua
narração, pois ele imediatamente diz ao leitor:
Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram
registados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. (20:30,
31)
O que João está dizendo, portanto, é que “este livro foi escrito para persuadir as pessoas a imitarem Tomé, que chamou
Jesus de ‘Senhor meu e Deus meu’”.
FILIPENSES 2:5-7
Apesar de esta passagem ter sido escrita para ilustrar a humildade, ela é um dos textos fundamentais do Novo
Testamento para apoiar a divindade de Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus,
pois ele, subsistindo em forma [gr. morfê] de Deus, não julgou como usurpação [harpagmós] o ser igual a Deus; antes, a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma [morfê] de servo, tornando-se em semelhança de homens.”
Morfê (“forma” ou “aparência visível”) descreve a natureza genuína de uma coisa, sua essência. “Não se refere a
qualquer forma mutável, mas à forma específica da qual dependem identidade e condição.” 13 Morfê contrasta
com skéma (2:7), que também significa “forma”, mas no sentido de aparência superficial em vez de essência. O
substantivo harpagmós aparece somente neste texto do Novo Testamento; o verbo correspondente significa “roubar, tomar
à força”. No grego secular o substantivo significa “roubo”. Todavia, o contexto esclarece que Jesus não cobiçou, ou não
tentou roubar a “igualdade com Deus”. Ao contrário, Ele não tentou apegar-Se à igualdade com Deus que Ele possuía de
modo intrínseco. Em outras palavras, Ele não tentou reter pela força Sua igualdade com Deus, mas “tratou-a como uma
ocasião para renunciar a cada vantagem ou privilégio que desse modo Lhe pudesse ter vindo, como uma oportunidade
para auto-empobrecimento e sacrifício de Si mesmo sem reservas.” 14 Este é o significado de “a si mesmo se esvaziou”. Sua
igualdade com Deus era algo que Ele possuía de maneira intrínseca; e alguém que é igual a Deus deve ser Deus. Por
conseguinte, Filipenses 2:5-7 “é uma passagem que exige para sua compreensão a ideia de que Jesus era divino no mais
pleno sentido.”15
COLOSSENSES 2:9
“Porquanto, nele habita, corporalmente [gr. somatikôs], toda a plenitude [pleroma] da Divindade.” A palavra pleroma tem
o significado básico de “plenitude, cumprimento”. No Antigo Testamento, ela se refere repetidamente à terra e “toda a sua
plenitude” (Sl 24:1; cf. 50:12; 89:11; 96:11; 98:7), que é citada em 1 Coríntios 1:26, 28. No grego secular, pleroma se referia
ao pleno complemento da tripulação de um navio ou à quantidade necessária para completar uma transação financeira. Em
Colossenses 1:19 e 2:9, Paulo usa a palavra para descrever a soma total de cada função da divindade. 16 Essa plenitude
habita em Cristo “corporalmente”; isto é, mesmo durante Sua encarnação, Cristo reteve todos os atributos essenciais da
divindade, embora não os utilizasse em Seu próprio proveito. A plenitude da Divindade: fez sua habitação em Sua
humanidade sem consumi-la ou deificá-la, ou mudar quaisquer de suas propriedades essenciais… Via-se facilmente que a
Divindade habitava naquela humanidade (ou natureza humana), pois lampejos de Sua glória brilhavam freqüentemente
através de sua cobertura terrestre.17
TITO 2:13
Paulo descreve os santos como “aguardando a bendita esperança e o glorioso aparecimento do nosso grande Deus e
Salvador Jesus Cristo” (NKJV [New King James Version]). A KJV traduz esta passagem como “o glorioso aparecimento do
grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo”, apresentando os santos à espera do Pai e do Filho. Conquanto esta tradução
seja possível, a NKJV deve ser preferida pelas seguintes razões: (1) Os dois substantivos “Deus” e “Salvador” estão ligados
por um só artigo, indicando que, por via de regra, os dois substantivos são duas designações para um único objeto. (2)
Todo o Novo Testamento aguarda a segunda vinda de Cristo. (3) O contexto do verso 14 fala somente de Cristo. (4) Esta
interpretação está em harmonia com outras passagens tais como João 20:28; Romanos 9:5; Hebreus 1:8; 2 Pedro 1:1. O
texto de Tito 2:13 é, portanto, é uma asserção explícita à divindade de Cristo.

O testemunho da divindade de Cristo no Antigo Testamento
Não somente é Jesus chamado Deus no Novo Testamento, mas Ele é também chamado Senhor e Deus em citações do
Antigo Testamento onde a palavra hebraica é Yahweh ou Elohim.
MATEUS 3:3
“Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor.” Segundo o verso 1, este texto de Isaías se refere a João
Batista, que foi o precursor de Jesus. Em Isaías 40:3, a palavra para Senhor éYahweh. Portanto, “o Senhor” cujo caminho
João devia preparar não era nenhum outro senão o próprio Yahweh.
ROMANOS 10:13
“Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O contexto (vs. 6-12) deixa claro que Paulo está
pensando em Cristo quando se refere ao “nome do SENHOR”. O texto é uma citação de Joel 2:32 onde a palavra para
SENHOR no hebraico é, outra vez, Yahweh.
ROMANOS 14:10
Neste texto, Paulo relembra a seus leitores que “todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo” (Versão
Almeida Revista e Corrigida). Ele, então, adiciona uma citação de Isaías 45:23 que diz: “Pela minha vida, diz o Senhor, todo
joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus.” Em Isaías o que fala é Yahweh; no livro de Romanos, o
mesmo texto é aplicado a Cristo.
HEBREUS 1:8, 9
“O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre… Deus, o teu Deus te ungiu.” Neste capítulo, sete textos do Antigo
Testamento são usados para apoiar o argumento de que Cristo é superior aos anjos. O quinto texto, citado nos versos 8 e
9, vem do Salmo 45:6, 7, no qual um rei da casa de Davi é tratado como “Deus”. Trata-se de uma hipérbole poética – como
é, às vezes, encontrada em cortes orientais – ou está esse texto apontando para uma outra pessoa além do príncipe do
Antigo Testamento da casa de Davi?
Para os poetas e profetas hebreus, um príncipe da casa de Davi era o vice-regente do Deus de Israel; ele pertencia a
uma dinastia à qual Deus havia feito promessas especiais ligadas à realização de Seu propósito no mundo. Além disso, o
que era apenas parcialmente verdade de qualquer um dos governantes históricos da linhagem de Davi, ou mesmo do
próprio Davi, seria realizado em sua plenitude quando aparecesse o Filho de Davi em quem todas as promessas e ideais
associados com a dinastia seriam incorporados. E agora, finalmente, o Messias havia surgido. Em um sentido mais amplo
do que era possível para Davi ou qualquer dos seus sucessores nos dias antigos, esse Messias pode ser tratado não
meramente como Filho de Deus (verso 5) mas realmente como Deus, pois Ele é o Messias da linhagem de Davi e também
o resplendor da glória de Deus e a própria imagem de Sua substância.18
Todas estas passagens indicam que Cristo, Deus e Yahweh são um.

Jesus e a sua consciência de Si mesmo
Jesus nunca afirmou diretamente Sua divindade; todavia, Seu ensino estava permeado de conceitos trinitarianos. De
acordo com a idéia hebraica de filiação (ou seja, tudo que o pai é, o filho é também), Jesus afirmou ser o Filho de Deus (Mt
9:27; 24:36; Lc 10:22; Jo 9:35-37; 11:4). Os judeus entenderam que pela reivindicação de ser o Filho de Deus Ele estava
reivindicando igualdade com Deus: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava
o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5:18; cf. 10:33). Repetidamente,
Jesus afirmou possuir o que propriamente só pertence a Deus. “Ele falou dos anjos de Deus (Lc 12:8-9; 15:10) como Seus
anjos (Mt 13:41). Ele considerava o reino de Deus (Mt 12:28; 19:14, 24; 21:31, 34) e os eleitos de Deus (Mc 13:20) como
Sua propriedade.”19 Em Lucas 5:20, Jesus perdoou os pecados ao paralítico, e os judeus, baseados em Isaías 43:25,
argüiram corretamente: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” Destarte, estava implícita na ação de Jesus de
perdoar a pretensão de ser Deus.
A divindade de Cristo é também indicada pelo Seu uso do tempo presente em Sua resposta aos judeus: “Antes que
Abraão existisse [genesthai], EU SOU [ego eimi]” (Jo 8:58). Usando os termosgenesthai (“nasceu” ou “se tornou”) e ego
eimi (EU SOU), Jesus contrasta Sua existência eterna com o início histórico da existência de Abraão. É a eternidade do
ser, e não simplesmente a preexistência antes de Abraão, que é expressa aqui. Ao menos os judeus entenderam isto
desse modo; perceberam que Jesus reivindicava ser Yahweh, o EU SOU da sarça ardente (Êx 3:14), e pegaram em pedras
para matá-Lo (8:59).
Finalmente, o fato de que Jesus aceitava a adoração de outros é evidência de que Ele mesmo reconhecia Sua
divindade. Após Jesus ter vindo aos discípulos andando sobre a água, eles “o adoraram” (Mt 14:33). O cego cuja vista foi
restaurada depois de lavar-se no tanque de Siloé “o adorou” (Jo 9:38). Depois da ressurreição, os discípulos foram para a
Galiléia, onde Jesus lhes apareceu e eles “o adoraram” (Mt 28:17).
Reiteradamente Jesus aceitou a adoração como algo perfeitamente correto. Ele, desse modo, demonstrou direta
pretensão à divindade.

Textos difíceis 20
Os antitrinitarianos usam vários textos bíblicos para apoiar sua alegação de que Jesus foi “gerado” em algum tempo da
eternidade (quer dizer, Ele teve um princípio e, portanto, não é absolutamente igual a Deus).
APOCALIPSE 3:14
“Jesus, o princípio da criação de Deus.” Alega-se que Jesus foi criado em algum momento no passado, que Ele foi a
primeira obra de Deus.
Resposta:
(a) A palavra grega arquê pode ser traduzida por “princípio”, “ponto de origem”, “primeira causa” ou “governante”. O
próprio Pai é chamado “princípio” em Apocalipse 21:6.
(b) O mesmo título é usado para Jesus em Apocalipse 22:13. Conquanto a palavra arquê possa ter um sentido passivo,
que faria de Jesus o primeiro ser criado, o sentido ativo da palavra torna-O a primeira causa (ou causa primária), agente
motor, ou o Criador. Que Jesus não é o primeiro ser criado, mas o próprio Criador, é o testemunho de outros textos do
Novo Testamento (veja Jo 1:3; Cl 1:16; Hb 1:2).
PROVÉRBIOS 8:22-31
“Eu fui gerada.” Afirma-se que esta passagem, se refere a Jesus e ensina que Jesus nasceu ou foi criado.
Resposta:
(a) O contexto fala acerca da “sabedoria”, não de Jesus. A personificação da sabedoria é um artifício literário que ocorre
também noutras partes das Escrituras. No Salmo 85:10-13 temos “misericórdia e verdade” se encontrando, “justiça e paz”
se beijando, e a “verdade” brotando da terra. No Salmo 96:12, “o campo” está alegre, e “todas as árvores do bosque” se
regozijam “na presença do Senhor.” (Veja também 1 Cr 16:33; Is 52:9; Ap 20:13-14). Esta espécie de linguagem não deve
ser interpretada literalmente. “A personificação é um artifício literário e poético que serve para criar atmosfera, e para avivar
idéias abstratas e objetos inanimados, representando-os como se fossem seres humanos.” 21
(b) A personificação do divino atributo da sabedoria como uma mulher inicia-se no capítulo 1. “Grita na rua a Sabedoria,
nas praças levanta a voz” (1:20). No capítulo 3 nos é dito: “Mais preciosa é do que pérolas” e “todas as suas veredas” são
“paz” (3:15, 17). No capítulo 7, ela é chamada de “irmã” (7:4), e, no capítulo 8, a sabedoria habita com a prudência, outra
persofinicação (8:12). A sabedoria personificada é também o assunto de Provérbios 9:1-5. A aplicação destas passagens a
Jesus requer um método alegórico de interpretação bíblica que conduz a pontos de vista incompatíveis com outras
passagens. Foi esta espécie de hermenêutica que levou os Reformadores a rejeitar o método alegórico de interpretação.
Também deve-se notar que nenhum verso desta passagem é citado no Novo Testamento.
(c) Provérbios 8:22-31 contém imagem poética que precisa ser cuidadosamente interpretada. A primeira frase do verso
22 pode ser traduzida por: “O SENHOR me possuía” (KJV, NIV); “O SENHOR me criou” (RSV, NEB); ou “O SENHOR me
gerou” (NAB). O significado básico do verbo qanah é “comprar, adquirir”, donde vem “possuir”; mas as duas outras
traduções são possíveis. Ao lado deqanah, duas outras palavras se referem à origem da sabedoria: nasak (“estabelecer”;
8:23), e chil(“nascer”; 8:24, 25). O pensamento básico desta passagem é sempre o mesmo: a sabedoria estava com Deus
antes do início da Criação. Quer Deus a tenha criado ou quer ela tenha sido gerada ou simplesmente possuída, não é o
ponto focal. O que é fundamental não é a maneira de sua origem, mas, antes, sua antigüidade e precedência dentro da
Criação de Deus. Sendo que a linguagem é poética e metafórica, não deve ser usada para estabelecer coisa alguma
concernente à suposta origem de Cristo.
Ellen White às vezes aplicou Provérbios 8 homileticamente a Cristo, mas ela usou o texto para sugerir Sua preexistência
eterna. Antes de citar Provérbios 8 ela diz: “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus
desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre.” 22
COLOSSENSES 1:15
“Jesus, o primogênito.” Sendo que Jesus é chamado o “primogênito” (prototokos), argumenta-se que Ele deve ter tido
um princípio.
Resposta:
(a) A expressão prototokos (“primogênito”) neste texto é um título, não uma definição de Sua condição biológica. De
acordo com 1:16, tudo foi criado por Jesus. Portanto, Ele não pode ter criado a Si mesmo.
(b) O termo “primogênito” tinha um significado especial para os hebreus. Em geral, o primogênito era o líder de um
grupo de pessoas ou de uma tribo, o sacerdote da família, e o que recebia duas vezes mais da herança do que seus
irmãos. Ele tinha certos privilégios bem como responsabilidades. Às vezes, porém, o fato de que alguém era o primogênito
não importava aos olhos de Deus. Por exemplo, embora Davi fosse o filho mais novo, Deus o chamou de “meu
primogênito” (Sl 89:20, 27). A segunda linha do paralelismo no verso 27, nos diz que isto significava que ele deveria se
tornar o rei mais exaltado. Veja também a experiência de Jacó (Gn 25:25-26 e Êx 4:22) e Efraim (Gn 41-50-52 e Jr 31:9).
Nestes casos, o elemento tempo “primeiro” foi apagado. Era importante apenas a posição especial e a dignidade da pessoa
chamada o “primogênito”. No caso de Jesus, este termo também se refere à Sua exaltada posição e não a um momento do
tempo no qual Ele nasceu. Em Colossenses 1:18, Cristo é chamado “o primogênito de entre os mortos.” Embora Ele não
fosse cronologicamente o primeiro (Moisés e outros O haviam precedido), Ele é o preeminente.
(4) João 1:1-3
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Alega-se que há uma distinção entre Deus
o Pai, que é o Deus, e Jesus, que é apenas um deus. O termo grego para Deus (theós) é encontrado com o artigo ‘o (ho),
“o Deus”, ou sem o artigo, “um deus” ou “Deus”. Em João 1:1-3 o Pai é chamado ho theós, ao passo que o Filho é
chamado theós. Justifica isto a alegação de que o Pai é o Deus Todo-poderoso, enquanto que o Filho é apenas um deus?
Resposta:
(a) O termo theós sem o artigo é freqüentemente usado também para o Pai, até no mesmo capítulo (veja Jo 1:6, 13, 18;
Lc 2:14; At 5:39; 1Ts 2:5; 1Jo 4:12 e 2Jo 9). Jesus é também “o Deus” (Hb 1:8-9; Jo 20:28). Em outras palavras, o uso do
termo Deus – com ou sem o artigo – não pode ser usado para fazer uma distinção entre Deus o Pai e Deus o Filho. Deus o
Pai é theós e ho theós, e assim também é o Filho.
Muitas vezes, a ausência do artigo em grego denota qualidade especial e não deve ser traduzido com o artigo indefinido
“um”.
(b) Se João tivesse usado o artigo definido cada vez que ocorre theós, ele estaria afirmando que há apenas uma pessoa
divina. O Pai seria o Filho. Diz João 1:1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com ho theós, e o Verbo era théos. Se
João tivesse usado apenas ho theós, ele estaria dizendo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com ho theós, e o
Verbo era ho theós. De acordo com João 1:14, o Verbo é Jesus. Portanto, substituindo “Verbo” por “Jesus” obtemos a
sentença: “No princípio era Jesus, e Jesus estava com ho theós, e Jesus era ho theós.” Ho theós se refere claramente ao
Pai. O texto modificado diria: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com o Pai, e o Verbo era o Pai.” Isso está
teologicamente errado. Falando acerca das duas pessoas da Divindade, João não tinha outra escolha senão usar uma
vez ho theós e na próxima vez theós. Portanto, a ausência do artigo no segundo caso não pode ser usada para argumentar
contra a igualdade entre o Pai e o Filho.
JOÃO 1:14, 18; 3:16, 18; 1 JOÃO 4:9
“O Filho unigênito (monoguenês).” Sugere-se que a palavra monoguenês aponta para uma geração literal de Jesus.
Resposta:
(a) A palavra monoguenês significa “único, único de uma espécie, singular”. Ocorre nove vezes no Novo Testamento.
Encontra-se três vezes em Lucas (7:12; 8:42; 9:38), onde sempre se refere a um único filho. É encontrada cinco vezes nos
escritos de João (Jo 1:14, 18; 3:16, 18; 1 Jo 4:9) como uma designação da relação de Jesus com Deus. Ocorre somente
uma vez em Hebreus 11:17, onde Isaque é chamado o filho monoguenês de Abraão. Isaque não era o filho único de
Abraão, mas era o filho singular, invulgar, o único filho da promessa. A ênfase não é sobre o nascimento, mas sobre a
singularidade do filho. Portanto, a tradução “único” ou “singular” deve ser preferida. A tradução “unigênito” pode ter se
originado com os primeiros Pais da Igreja e se encontra na Vulgata. A última, por sua vez, influenciou traduções
posteriores.
O termo normal para gerado é gennao, que se encontra em Hebreus 1:5 e pode apontar para a ressurreição ou
encarnação de Cristo.
Na LXX (Septuaginta) o termo monoguenês é a tradução do hebraico yachid, que significa “único, singular” ou “amado”
(cf. Mc 1:11, em conexão com o batismo de Cristo).
Não está claro se monoguenês se refere apenas ao Senhor histórico e ressurreto ou também ao Senhor preexistente. É
de interesse notar, porém, que nem em 1:1-14, nem em 8:58, nem no capítulo 17, João usa o termo “Filho” para o Senhor
preexistente.
(6) Mateus 14:33 “Tu és o Filho de Deus.” Pode o título “Filho de Deus” ser compreendido literalmente?
Resposta:
(a) Esse título é um título messiânico. (veja Sl 2:7; At 13:33; Hb 1:5). Enfatiza a divindade de Cristo. Jesus usou este
título muito raramente para Si mesmo (somente em João, p. ex., Jo 11:4). É um dos muitos títulos que Jesus possuía. Na
tentativa de compreender o que Jesus é, todos eles precisam ser investigados a fim de se obter uma visão coerente. Que o
título “Filho de Deus” enfatiza a divindade de Cristo é evidente de João 10:29-36. Isso é ainda mais apoiado pelo fato de
que o Filho é a imagem exata de Deus, sendo igual a Deus (Cl 1:15; Hb 1:3; Fp 2:6).
(b) A palavra “filho” tem uma ampla extensão de significados na língua original. Portanto, não é possível reduzi-la aos
estreitos limites da língua inglesa (ou portuguesa) e defini-la de uma maneira puramente literal. A filiação de Jesus é
atestada em conexão com o Seu nascimento (Lc 1:35), batismo (Lc 3:22), transfiguração (Lc 9:35) e ressurreição (At 13:3233). A Bíblia silencia quanto à questão sobre se este título descreve a relação eterna entre Pai e Filho. Em qualquer caso,
as Escrituras atribuem existência eterna a Jesus (Is 6:6; Ap 1:17, 18).
Durante Sua encarnação, Jesus subordinou-Se voluntariamente ao Pai, sendo o Filho de Deus. Isto incluía a entrega
das prerrogativas, mas não a natureza da divindade. O Senhor ressurreto, sendo entronizado como rei e sacerdote,
também aceita voluntariamente a prioridade do Pai, mas Ele e o Pai são – segundo as Escrituras – ambos Deus,
personalidades coeternas e coiguais de uma só Divindade.

O Espírito Santo como a terceira pessoa da Trindade
Que o Espírito Santo é uma pessoa divina, igual ao Pai e ao Filho em poder, substância e glória, manifesta-se através
das Escrituras.

O Espírito Santo como ser pessoal
Alguns têm indagado se o Espírito Santo é uma pessoa distinta ou apenas o “poder” ou a “força” de Deus. Há vários
versos onde o Espírito Santo é mencionado junto com o Pai e o Filho (Mt 28:19; 1Co 12:4-6; 2Co 13:13). Uma vez que o
Pai e o Filho são pessoas, isto indica que o Espírito Santo deve ser também uma pessoa.
Freqüentemente, o pronome masculino “ele” é usado com referência ao Espírito Santo (Jo 14:26; 15:26; 16:13, 14)
apesar do fato de que a palavra para Espírito em grego (pneuma) é neutra e não masculina.
A palavra “conselheiro” ou “consolador” (parakletos) uniformemente se refere a uma pessoa, não a uma força.
É dito que o Espírito Santo fala (At 8:29), ensina (Jo 14:26), dá testemunho (Jo 15:26), intercede em favor de outros
(Rm 8:26-27), distribui dons a outros (1Co 12:11), e proíbe ou permite certas coisas (At 16:6-7). De acordo com Efésios
4:30, o Espírito Santo pode ser também entristecido pelas pessoas. Todas estas atividades são características de uma
pessoa, não de uma força.

O Espírito Santo como Deus
Vários textos das Escrituras descrevem o Espírito Santo como Deus:
(a) Mateus 28:19 “…batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Este texto coloca o Espírito Santo
em um nível igual ao do Pai e do Filho.
(b) Pedro disse a Ananias que, mentindo ao Espírito Santo, ele havia mentido não “aos homens, mas a Deus” (At 5:3-4).
(c) O Espírito Santo é onipotente. Ele distribui dons espirituais “a cada um individualmente como lhe apraz” (1Co 12:11).
Ele é onipresente. Habitará com o Seu povo “para sempre” (Jo 14:6). Ninguém pode furtar-se à Sua influência (Sl 139:710). Ele é também onisciente, “porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” e “as
cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1Co 2:10, 11). 23
(d) Ellen White cria firmemente na personalidade do Espírito Santo. “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é
tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.” 24

Conclusão
Embora com a doutrina da Trindade haja certas dificuldades textuais e conceituais, nosso estudo do Antigo e do Novo
Testamento tem produzido algumas possíveis respostas. Temos visto que a Divindade existe em uma pluralidade, que
Jesus é Deus, coexistente com o Pai desde a eternidade, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade.
Os textos difíceis da Bíblia são melhor compreendidos em harmonia com o restante das Escrituras. É de pouco valor
para a Igreja causar divisão por causa de diferentes compreensões de alguns aspectos da Divindade. Conquanto o mistério
da Trindade jamais possa ser plenamente compreendido pelo homem finito, é uma doutrina bíblica que faz parte da Fé
Cristã.
Referências:
1. Artigo traduzido do original em inglês por Francisco Alves de Pontes. Salvo indicação diversa, os textos bíblicos
utilizados na tradução são extraídos da Versão Almeida Revista e Atualizada.
2. W. Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2002), 165.
3. Louis Berkhof, Systematic Theology (Eerdmans, 1994), 88.
4. Ibid.
5. G. A. F. Knight , A Biblical Approach to the Doctrine of the Trinity (Edinburgh, 1953), 20.
6. Ibid.
7. Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids, MI: Baker, 1983), 1:329.
8. G. Ch. Aalders, Genesis (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1981), 300.
9. Erickson, 1:338.
10. Alguns comentaristas crêem que por trás da fórmula está a linguagem das transferências de dinheiro da era
helenística, de sorte que a fórmula expressa figurativamente que a pessoa batizada é “transferida” para a conta do Senhor
e assim se torna Sua propriedade. Outros interpretam “nome” como “autoridade”. Destarte, alguém é batizado pela
autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
11. Grudem, 230.
12. Arthur W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1945), 22.
13. W. Poehlmann, “Morfê”, Exegetical Dictionary of the New Testament, 3 vols., eds. H. Balz e G. Schneider (Grand
Rapids, MI: Eerdmans, 1981), 2:443.
14. F. F. Bruce, Philippians, NIBC (Peabody, MA: Hendrickson, 1989), 69.
15. Leon Morris, The Lord from Heaven: A Study of the New Testament Teaching in the Deity and Humanity of
Jesus (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1958), 74.
16. Alguns comentaristas definem pleroma em função do pensamento gnóstico, pelo qual pleromasignifica o
novo éon (ou emanação gnóstica) que encarnou-se no Redentor (Kaeseman, Essays on New Testament Themes [Londres,
1964], 158). C. F. D. Moule, porém, tem ressaltado que pleroma era uma palavra tão comum na LXX que seria preciso forte
evidência para levar alguém a procurar em uma fonte externa seu significado primário em um escritor tão imergido no
Antigo Testamento como Paulo (The Epistles to the Colossians and to Philemon, Cambridge Greek Testament Commentary
[Cambridge, 1957], 166).
17. John Eadie, Colossians, Classic Commentary Library (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1957), 145.
18. F. F. Bruce, Hebrews, NICNT (Grand Rapids, MI: Eerdmans,. 1964), 19, 20.
19. Erickson, 326.
20. Sou grato ao meu colega Ekkehardt Mueller pelo material deste parágrafo.
21. Kenneth T. Aitken, Proverbs (Westminster Press, 1986), 85.
22. Mensagens Escolhidas, 1:247.
23. Nisto Cremos: 27 ensinos bíblicos dos adventistas do sétimo dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 90.
24. Evangelismo, 616.

A Trindade sem Mistério – I
Alberto Ronald Timm
Em contraste com a filosofia grega, cuja base repousa no conhecimento de si mesmo, o Cristianismo tem como
fundamento o conhecimento de Deus. Esse conhecimento é o “principio da sabedoria” (Prov. 9:1) e a condição para a “vida
eterna” (João 17:3). Somente através da revelação divina, conforme expressa em Sua Palavra, poderemos chegar a uma
correta compreensão de Deus. Entretanto, ao estudarmos a respeito de Deus não nos devemos olvidar de que estamos em
terreno sagrado.
Muito embora a palavra “Trindade” não se encontre na Bíblia, a ideia por ela expressa é uma das verdades
fundamentais das Escrituras. Na Bíblia, as prerrogativas divinas são atribuídas a três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Todos os demais conceitos teológicos são afetados direta ou indiretamente pela noção que tivermos dessa
doutrina.

Evidência da Trindade no Antigo Testamento
Ainda que o Antigo Testamento não apresente provas tão claras para a doutrina da Trindade quanto às do Novo
Testamento, nele podem ser encontradas grande número de evidências que atestam a existência de uma pluralidade na
Divindade.
Em Gênesis 1, o nome hebraico para Deus é Elohim. Esse nome ocorre ao todo cerca de 2.500 vezes no Antigo
Testamento, sendo ele a forma plural de El, que é o nome comum para Deus entre os semitas. Para alguns, o fato
de Elohim ser um nome plural não prova a Trindade, mas apenas indica “a riqueza e a plenitude do Ser Divino”. 1 Porém A.
H. Strong nos adverte que “o fato de Elohim ser algumas vezes usado num sentido restrito, como aplicável ao Filho (Sal.
45:6; cf. Heb. 1:8), não nos deve impedir de crer que o termo era originalmente considerado como contendo uma alusão a
certa pluralidade na natureza divina”.2 E João 1:1-3 lança luz sobre o fato de que o Pai e o Filho estavam unidos na obra da
Criação do mundo, e em Gênesis 1:2 temos o Espírito Santo também envolvido nessa obra.
No Antigo Testamento, encontramos ainda referências nas quais Deus fala de Si mesmo no plural, como por exemplo:
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gên. 1:26). Há quem interprete o plural como
incluindo os anjos, “mas qualquer inferência de que outros tenham tomado parte em nossa criação é completamente alheia
ao capítulo como um todo e ao desafio presente em Isaías 40:14: ‘Com quem tomou Ele conselho?’ Trata-se antes do
plural de plenitude, que … haveria de ser revelado como tri-unidade, nos posteriores ‘nós’ e ‘nossa’ de São João 14:23
(com 14:17)”.3Encontramos, portanto, na peculiar fraseologia de Gênesis 1:26 “uma alusão a um sublime concílio entre as
pessoas da Divindade”.4 (Ver também Gênesis 3:22; 11:7; Isa. 6:8.).
Outra evidência importante encontramos nos textos que se referem às manifestações do “Anjo do Senhor” (Gên. 16:713; 18:1-13; 19:1-28; 22:11-16; 31:11-13; etc.), os quais apresentam “uma indicação de distinções pessoais em Deus”. 5 Em
Malaquias 3:1 e Atos 7:35-38 o “Anjo do Senhor” é identificado como sendo Cristo, o Filho de Deus, que em Gênesis 31:1113 é declarado ser Deus. Portanto, “exatamente como ‘o Espírito de Deus’ era uma expressão veterotestamentária
aguardando seu esclarecimento completo no Pentecostes, assim ‘o Anjo do Senhor’, como expressão referente ao próprio
Senhor, ganha significado somente à luz dAquele ‘que o Pai… enviou ao mundo’, o Filho preexistente”. 6
Segundo John Bright, “a religião de Israel não se fundamentava em proposições teológicas abstratas, mas na memória
de uma experiência histórica interpretada e correspondida… Israel acreditava que Iahweh, seu Deus, o havia livrado do
Egito pelo poder de Sua onipotência e que, mediante uma aliança o havia constituído Seu povo” .7 Entretanto, mesmo nas
profecias messiânicas encontramos indícios de uma pluralidade na Divindade. Em Isaías 9:6 o Messias é chamado “Deus
Forte, Pai da Eternidade”, e no Salmo 45:6 e 7 o “Ungido de Deus” é dito ser Deus, à semelhança dAquele que O ungiu. No
Salmo 33:4-6 e em Provérbios 8:12-31, aparecem a “Palavra” e a “Sabedoria” de Deus sendo personificadas como uma
antecipação ao “Verbo” de Deus de São João 1:1-14.
Já em Isaías 48:16 aparece uma distinta referência à Trindade: “Agora o Senhor Deus (o Pai) Me enviou a Mim (o Filho)
e o Seu Espírito (o Espírito Santo).” Há também quem considere as palavras do rei Nabucodonosor, encontradas em Daniel
2:47, como uma referência à trindade: “Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses (o Pai), e o Senhor dos reis (o Filho),
e o Revelador dos mistérios (o Espírito Santo)”. Portanto, reconhecemos que “o Velho Testamento contém uma clara
antecipação da plena revelação da Trindade no Novo Testamento”.8

A Trindade no Novo Testamento
Uma vez que a revelação da verdade é progressiva, encontramos no Novo Testamento provas concretas da doutrina da
Trindade, que lançam luz sobre as evidências encontradas no Antigo Testamento. O cumprimento das profecias
messiânicas e a promessa do Espírito Santo são sumamente elucidativas para a compreensão deste tema.
Na promessa feita pelo anjo a respeito do nascimento de Jesus, encontramos uma referência distinta aos membros da
Trindade (Luc. 1:35), que viria a tornar-se ainda mais notória por ocasião do Seu batismo. Nessa ocasião, o Filho de Deus
foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como uma pomba, e o Pai falou: “Este é o Meu Filho
amado, em quem Me comprazo” (Mat. 3:16 e 17; Mar. 1:10 e 11; Luc. 3:21 e 22; João 1:32 e 33).
Os ensinos de Cristo são igualmente de natureza a enfatizar essa distinção. Na promessa do espírito Santo, Ele fala a
respeito de “outro Consolador” (João 14:16 e 26), e todos os que viessem a crer deveriam também ser batizados “em nome
do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mat. 28:19).
Igualmente na bênção apostólica aparece novamente referida a Trindade: “A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de
Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (II Cor. 13:13). O apóstolo São Pedro inicia a sua primeira
epístola com uma clara referência à Trindade (I Ped. 1:2), e em São Judas 20 e 21 ela também é mencionada.
Portanto o Novo Testamento reconhece o Pai como Deus (João 6:27, Efé. 6:23; I Pedro 1:2; etc.), aJesus Cristo como
Deus (João 1:1 e 18; 20:28; Rom. 9:5; Col. 2:2 e 9; Tito 2:13; Heb. 1:8; I João 5:20; etc.), e ao Espírito Santo como Deus
(Atos 5:3 e 4; I Cor. 2:10 e 11; I Cor. 3:16; etc.).

A Distinção Entre os Membros da Trindade
Muito embora a expressão “porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três
são um”, que algumas versões da Bíblia trazem em I São João 5:7 e 8, provavelmente não fazia parte do original e tenha
sido acrescentada posteriormente,9 isto não invalida em nada a doutrina bíblica da Trindade. Alegar que o Pai, o Filho e o
Espírito Santo são simplesmente três aspectos diferentes de um único Ser Divino Se manifestar, é confundir o conceito
bíblico a respeito. Se assim fosse, a quem Jesus Cristo estaria Se dirigindo ao orar ao Pai? Por que então deveriam ser
mencionados separadamente os membros da Trindade tanto na fórmula do batismo (Mat. 28:19), como na bênção
apostólica (II Cor. 13:13) e em outros textos? A Bíblia não apenas reclama natureza espiritual para os membros da
Trindade, como também personalidades distintas entre o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Isto é claro não apenas nas
características pessoais atribuídas aos três, como também no fato de o Pai ter enviado o Filho (João 14:24; 20:21) e o Pai e
o Filho enviarem o Espírito Santo (João 14:16 e 26; 16:7). Alguns têm tido dúvidas quanto ao Espírito Santo, imaginando
ser Ele apenas um poder despersonalizado proveniente de Deus; porém os ensinos de Cristo não deixam dúvidas a esse
respeito. Ao prometer o Espírito Santo, Ele disse: “Convém-vos que Eu vá, porque se Eu não for, o Consolador não virá
para vós outros; se, porém, Eu for, eu vo-lo enviarei” (João 16:7). A palavra “Consolador” é a tradução do termo
grego Paracleto, que em São João 14:26 é identificado como sendo o Espírito Santo.
De acordo com James Robertson, “do ensino de Jesus, não resta a menor dúvida que o outro Paracleto é uma pessoa.
A cada passo, Jesus fala desta maneira: ‘Ele vos ensinará todas as coisas’; ‘Ele Me glorificará’. Personalidade está
implicada no título ‘Paracleto’, o qual, em algumas versões, é traduzido impropriamente “Confortador”. A palavra significa
‘um que é chamado para ficar ao nosso lado, especialmente em ocasiões de dificuldade e conflito’. É, portanto, a palavra
que designa um advogado, e é assim usada a respeito de Jesus mesmo, em I João 2:1, onde lemos: ‘Nós temos
umParacleto (advogado) com o Pai, Jesus Cristo, o justo.’ “Está implicada também, no ensino de Jesus, que o
outro Paracleto é uma pessoa divina. Jesus não poderia dizer que era melhor que Ele fosse, se o Seu substituto fosse
menos do que divino. Nem poderia ter dito que ‘ao que disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será
perdoado; porém, ao lhe falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro’ (Mat.
12:32). Também não poderia ter juntado ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo’, como faz na fórmula do batismo (Mat. 28:19), se
todos os três não fossem divinos”.10
Portanto, a doutrina da Trindade não está baseada em especulações e conjeturas humanas, mas na própria Revelação
Divina – a Sua Palavra. Porém, uma vez que tenhamos compreendido a distinção que a Bíblia estabelece entre as pessoas
da Trindade, deveremos também analisar o relacionamento existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Referências:
1. Herman Bavinck, The Doctrine of God. (Edinburg: The Banner of Truth Trust, 1979), p. 256.
2. Augustus H. Strong, Systematic Theology. (Valley Forge: Judson Press, 1979), p. 318.
3. Derek Kidner, Genêsis – Introdução e Comentário. (São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1979), pp. 48 e 49.
4. The Pulpit Commentary. (Gran Rapids:Wm. B. Eerdmans Publ. Co., 1975), vol. 1, The Book of Genesis, p. 29.
5. Louis Berkhof, Systematic Theology. (Edinburg: The Banner of Truth Trust, 1976), p. 86.
6. Kidner. op. cit., p. 32.
7. Jonh Bright, História de Israel. (São Paulo: Edições Paulinas, 1978), p. 190.
8. Berkhof. op. cit., p. 86.
9. Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament. (London: United Bible Societies,
1975), pp. 715-717.
10. James Robertson, Ensinos de Jesus. (São Paulo: União Cultural Editora Ltda., 1952), pp. 146 e 147.

A Trindade sem Mistério – II
Alberto Ronald Timm
Uma vez que a Bíblia atribui as prerrogativas divinas tanto ao Pai quanto ao Filho e ao Espírito Santo, passaremos a
analisar, à luz da Palavra de Deus, o relacionamento existente entre os membros da Trindade. Este aspecto é muito
importante, porque dele dependerá os demais conceitos da teologia cristã, os quais são por ele afetados.
Para uma correta compreensão a respeito, deveremos fazer a distinção entre a unidade essencial e a subordinação
funcional existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo; isto é, entre o modo divino de existir e a maneira funcional como
tem sido revelado através da Criação e da Redenção. Confundir esses dois aspectos distintos, levar-nos-ia a conclusões
totalmente distorcidas a respeito da doutrina de Deus.

A Unidade Essencial da Trindade
Vimos anteriormente que a Bíblia reconhece as prerrogativas divinas a três personalidades distintas. Porém, isto não
sanciona de forma alguma uma idéia triteísta de Deus; ou seja, que a Bíblia reconheça três deuses diferentes como
formando a Divindade. Esta espécie de politeísmo é totalmente contrária ao pensamento bíblico. A religião bíblica é
essencialmente monoteísta. Já na promulgação do decálogo aparecem as palavras: “Eu sou o Senhor teu Deus… Não
terás outros deuses diante de Mim” (Êxo. 20:2 e ). Também a religião judaica tinha por fundamento o texto de
Deuteronômio 6:4: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Igualmente o apóstolo São Paulo fala que “há
um só Deus” (I Cor. 8:6). Esses e outros textos nos deixam claro o fato de que existe uma unidade essencial entre os
membros da Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas que formam um só Deus, e não três
deuses.
Nesse sentido é que Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30; cf. João 17:21 e 22). É por isso que a respeito de
Cristo pode ser dito que desde o principio Ele “estava com Deus, e … era Deus” (João 1:1), que Ele é “igual a Deus” (Filip.
2:6), pois “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Col. 2:9), sendo Ele “Deus Forte, Pai da Eternidade”
(Isa. 9:6).
Mesmo o título “Filho” ao ser aplicado a Cristo não é sinônimo de inferioridade, mas sim de igualdade com o Pai. Ele
significa que o Filho participa da mesma natureza do Seu Pai. Foi por essa razão que os judeus acusaram a Jesus de
blasfêmia, ao chamar a Deus de “Meu Pai” (João 5:17 e 18). É importante considerarmos ainda que a palavra “Filho” é
sempre empregada para Cristo no contexto da Encarnação, e nunca encontraremos menção a um “Filho Eterno”. 1
Por sua vez, não apenas o fato de o Espírito Santo ser chamado de o “outro consolador” (“Paracleto”, João 14:16; etc.)
e o “Espírito de Deus” (Rom. 8:9; I Cor. 3:16; etc.) atesta Sua natureza divina, como também o fato de a Ele serem
atribuídas todas as características divinas. Isto é especialmente enfatizado em I Cor. 2:10 e 11, onde lemos: “Mas Deus nolo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque, qual
dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim as coisas de Deus ninguém as
conhece, senão o Espírito de Deus”. Neste caso, “perscruta não significa que o Espírito perscrute com vistas a obter
informação. Antes, é um modo de dizer que Ele penetra todas as coisas. Não há nada que esteja além do Seu
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  • 1. A Divindade e a Personalidade do Espírito Santo O Espírito Santo não é uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho Ozeas Caldas Moura Ideias heréticas sobre a divindade e a personalidade do Espírito Santo já vêm de longe. “Macedônio, bispo de Constantinopla de 341 a 360 d.C., já ensinava que o Espírito Santo era ‘ministro e servo’ no mesmo nível dos anjos. Cria que o Espírito Santo era uma criatura subordinada ao Pai e ao Filho. Isso era uma negação da verdadeira divindade do Espírito Santo”. Em 381 d.C., o Concílio de Constantinopla condenou essas idéias de Macedônio.No entanto, vê-se hoje que essas velhas heresias sobre a pessoa do Espírito Santo vêm sendo ressuscitadas, seja por mera curiosidade teológica especulativa, seja como meio de atacar a Igreja e suas doutrinas. O certo é que o conselho dado pelo apóstolo João, no I século, continua bastante válido para os nossos dias: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora” (I João 4:1). Concordamos que, devido à nossa limitação humana, não nos é possível abarcar tudo o que Deus é. Em relação com a pessoa do Espírito Santo, não é diferente: o que dEle podemos e devemos saber está revelado nas páginas das Escrituras, quer seja lógico ou não à razão humana. Com esse cuidado em mente, analisemos o que nos diz a Palavra de Deus sobre a Terceira Pessoa da Trindade. O que passar disso é mera especulação perigosa, que pode e tem desencaminhado da fé aqueles que se deixam levar “por todo vento de doutrina” (Efés. 4:14). 1. O Espírito Santo é Deus, pois tem os mesmos atributos de Deus. Por exemplo: santidade – em muitas passagens das Escrituras o adjetivo “santo” é acrescido ao nome do divino Espírito (Mar. 13:11; Tito 3:5); eternidade – (Heb. 9:14); onisciência – (I Cor. 2:10 e 11); onipotência – (em Lucas 1:35, o Espírito Santo é chamado de “poder do Altíssimo”; confira, ainda, a palavra “poder” ligada ao Espírito em Isa. 11:2; Miq. 3:8; Luc. 4:14 e Atos 1:8); onipresença – (Sal. 139:7-12); Criador – (Gen. 1:2; Jó 33:4; Sal. 104:30 e Eze. 37:14). Uma vez que só Deus tem esses atributos, e o Espírito Santo os tem, então ele é Deus, como Deus Pai e Deus Filho. Por isso Pedro disse a Ananias que mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus (Atos 5:3 e 4). 2. O Espírito Santo é uma Pessoa. Os que dizem que o Espírito Santo é apenas uma força e não uma pessoa, deveriam atentar para os atributos pessoais com que a Bíblia O apresenta. Ele tem inteligência, pois “perscruta” ou investiga (I Cor. 2:10 e 11) e “ensina” (João 14:26 e I Cor. 2:13); tem vontade, pois distribui os dons “como Lhe apraz” (I Cor. 12:11); tem emoção, pois pode ser “contristado” (Isa. 63:10) ou “entristecido” (Efés. 4:30). Ele fala (II Sam. 23:2 e Atos 13:2); ensina (João 14:26); guia (Rom. 8:14); convence (João 16:8); contende ou age (Gên. 6:3); testifica (Rom. 8:16); separa e envia (Atos 13:2); intercede (Rom. 8:26). A palavra grega com a qual Jesus descreve a obra do Espírito Santo é PARÁKLETOS (João 14:16, 26; 15:26; 16:7; aparece também em I João 2:1), vocábulo cuja tradução é “Ajudador”, “Intercessor”, “Advogado” (na Versão Almeida, o vocábulo é traduzido por “Consolador”). Esses significados de PARÁKLETOS indicam que o Espírito Santo é uma pessoa, pois uma mera força não poderia ser um Ajudador, um Intercessor, um Advogado e um Consolador. Deve-se dizer ainda que o fato de as Escrituras apresentarem o Espírito Santo como uma pessoa divina, não contraria Deuteronômio 6:4: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor”. A palavra “único”, no original hebraico, é Echad (pronuncia-se “errad”), a qual indica uma “unidade composta”. Em Gên. 1:5, uma tarde e uma manhã é igual a uma echad – dia. Em Gênesis 2:24, um homem e uma mulher, mediante o casamento, são uma (echad) só carne. Se Moisés quisesse dizer que Deus é uma só pessoa, teria empregado Yachid (pronuncia-se “iarrid”), como se pode ver no caso de Isaque, que era filho “único” (Yachid) de Abrão e Sara (Gen. 22:2). O fato de Moisés ter empregadoEchad e não Yachid para falar de Deus, indica que Deus é uma “unidade composta”: Pai, Filho e Espírito Santo (Mat. 28:19). Sendo que as três pessoas da Trindade são co-iguais, coeternas, da mesma natureza, da mesma qualidade e com os mesmos propósitos, então é correto dizer que adoramos Um Deus, que Se manifesta ou Se apresenta em três pessoas divinas. Em outras palavras, adoramos o Deus Triúno. Isso pode não parecer lógico à nossa pobre mente humana, limitada, finita e imperfeita, mas é o que Deus revelou acerca de Si mesmo nas páginas das Escrituras. Caberia aqui nos lembrar do conselho divino dado em Deuteronômio 29:29: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre…” Deveríamos também atentar para o que Ellen White escreveu sobre a pessoa do Espírito Santo: “O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade… Há três pessoas vivas pertencentes à Trindade celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo. …Os eternos dignitários celestes – Deus, Cristo e o Espírito Santo – munindo-os [aos discípulos] de energia sobre-humana, … avançariam com eles para a obra e convenceriam o mundo do pecado. “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos. O Espírito Santo é uma pessoa, pois dá testemunho com o nosso espírito de que somos filhos de Deus. …O Espírito Santo tem personalidade, do contrário não poderia testificar ao nosso espírito e com e com nosso espírito que somos filhos de Deus. Deve ser também uma pessoa divina, do contrário não poderia perscrutar os segredos que jazem ocultos na mente de Deus. “O príncipe da potestade do mal só pode ser mantido em sujeição pelo poder de Deus na terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo. Cumpre-nos cooperar com os três poderes mais altos no Céu – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e esses poderes operarão por meio de nós, fazendo-nos coobreiros de Deus.”3 Referências: 1. CAIRNS, E. E. O Cristianismo Através dos Séculos (São Paulo: Vida Nova, 1992), pág. 109. 2. Pedro Apolinário, As Testemunhas de Jeová e sua Interpretação da Bíblia (São Paulo: Gráfica do IAE, 1986), pp. 84 e
  • 2. 85. 3. Ellen White, Evangelismo. 2ª. Ed. (Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1978), pp. 615-617. A Trindade na Bíblia “Há um só Deus: Pai, Filho e Espírito Santo, uma unidade de três Pessoas coeternas” – Crença Fundamental nº 2 Gerhard Pfandl Ph.D., diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica da Associação Geral da IASD A doutrina da Trindade (do latim trinitas = “triunidade” ou “três-em-unidade”) é uma das mais importantes doutrinas da fé cristã. Mas ultimamente alguns têm questionado sua validade. Por exemplo, em uma monografia, Fred Allaback argumenta que “a Igreja Adventista do Sétimo Dia não cria na doutrina da Trindade até muito tempo depois da morte de Ellen G. White”.1 “Os pioneiros adventistas”, escreveu ele, “acreditavam que em um ponto longínquo da eternidade somente um Ser divino existia. Então esse Ser divino teve um Filho.” 2 Dessa forma, Cristo teve um começo. Com respeito ao Espírito Santo, Allaback crê que Ele é o Espírito de Deus e de Cristo; não um outro Ser divino. 3 A mesma visão é adotada por Bill Stringfellow, 4 Rachel Cory-Kuehl5 e Allen Stump.6 Todos esses ensinam que em um ponto no tempo Jesus não existia; e que o Espírito Santo é apenas uma força. Stringfellow diz: “Houve um certo e específico dia quando Deus deu à luz Seu Filho … Houve um tempo (embora seja impossível identificá-lo precisamente no passado) quando Cristo não existia.”7 O MISTÉRIO Embora a palavra Trindade não seja encontrada na Bíblia (nem a palavra encarnação), o ensinamento que ela descreve é encontrado ali. A doutrina da Trindade estabelece o conceito de que há três Seres plenamente divinos: Pai, Filho e Espírito Santo, que formam um Deus. 8 Por sua vez, Ellen White usa o termo “Divindade” que é encontrado em Romanos 1:20 e Colossenses 2:9. Através dessa palavra ela transmite a mesma idéia contida no termo Trindade, ou seja, há três Seres viventes na Divindade. Segundo uma de suas declarações, “há três pessoas vivas pertencentes ao Trio celeste; em nome destes três grandes poderes – o Pai, o Filho e o Espírito Santo – os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo”. 9 O próprio Deus é um mistério, 10 quanto mais a encarnação ou a Trindade. Entretanto, isso não deveria nos embaraçar, já que os diferentes aspectos desses mistérios são ensinados nas Escrituras. Embora não possamos compreender tudo sobre a Trindade, necessitamos tentar entender, tanto quanto possamos, o ensino bíblico a seu respeito. Todas as tentativas para explicá-la serão insuficientes, “especialmente quando refletimos sobre a relação das três pessoas com essência divina … todas as analogias são limitadas e nós nos tornamos profundamente conscientes de que a Trindade é um mistério muito além da nossa compreensão. É a incompreensível glória da Divindade”. 11 Portanto, é sábio admitir que o homem “não pode compreendê-la nem torná-la compreensível. É compreensível em algumas de suas relações e modos de se manifestar, mas ininteligível em sua natureza essencial”. 12 Certos elementos se tornarão claros, e outros permanecerão um mistério, pois “as coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deut. 29:29). Onde não temos uma palavra clara das Escrituras o silêncio é ouro. 13 NO ANTIGO TESTAMENTO Algumas passagens do Antigo Testamento sugerem, ou implicam a existência de Deus em mais de uma pessoa. Quando não necessariamente em uma Trindade, pelo menos em duas pessoas. Gênesis 1. No relato da criação em Gênesis 1, a palavra traduzida como Deus é ’Elohim, a forma plural de ’Eloha. Geralmente essa forma é interpretada como um plural de majestade ao invés da idéia de pluralidade. Entretanto, G. A. F. Knight argumenta que essa interpretação corresponde a ler um conceito moderno no texto hebraico antigo, desde que os reis de Israel e Judá são tratados na forma singular, no relato bíblico. 14 Knight aponta que as palavras hebraicas para água e céu também são plurais. Os gramáticos nomeiam esse fenômeno como plural quantitativo. A água pode aparecer em forma de pequenas gotas ou grandes oceanos. Essa diversidade quantitativa em unidade, segundo Knight, é uma forma adequada de compreender o plural ’Elohim. E também explica por que o substantivo singular ’Adonai é escrito como plural.15 Em Gênesis 1:26, lemos: “Também disse Deus [singular]: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme a nossa [plural] semelhança…” O que é significativo aqui é a mudança do singular para o plural. Moisés não está usando o verbo no plural com ’Elohim, mas Deus está usando um verbo e um pronome no plural, em referência a Si mesmo. Alguns intérpretes acreditam que Deus está falando aqui de anjos. Mas, de acordo com as Escrituras, os anjos não participaram da criação. A melhor explicação é que, já no primeiro capítulo de Gênesis, há uma indicação de pluralidade de pessoas em Deus. Deuteronômio 6:4. De acordo com Gênesis 2:24, “deixa o homem pai e mãe, e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só [’echad] carne”. É uma união de duas pessoas distintas. Em Deuteronômio 6:4, é usada a mesma palavra em relação a Deus: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único [’echad] Senhor.” Segundo Millard J. Erickson, “aparentemente alguma coisa está sendo afirmada aqui sobre a natureza de Deus – Ele é um organismo, isto é, uma
  • 3. unidade de partes distintas”. 16 Moisés bem poderia ter usado a palavra yachid (“um”; “único”), mas o Espírito Santo escolheu não fazê-lo. Outros textos. Após a queda do homem, Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gên. 3:22). E algum tempo depois, quando o homem começou a construir a torre de Babel, o Senhor ordenou: “Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gên. 1:7). Em cada caso, a pluralidade da Divindade é enfatizada. Em sua visão do trono de Deus, Isaías ouviu o Senhor perguntando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Isa. 6:8). Aqui encontramos Deus usando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isso como uma referência ao Concílio Celestial. Mas, pediria Deus algum conselho às Suas criaturas? Em Isaías 40:13 e 14, Ele parece refutar essa noção. Deus não necessita aconselhar-Se nem mesmo com criaturas celestiais. Portanto, o uso do plural em Isaías 6:8, embora não especifique a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres no Orador. O anjo do Senhor. A frase “anjo do Senhor” aparece 58 vezes no Antigo Testamento. “O anjo de Deus” aparece onze vezes. A palavra hebraica para “anjo” – mal’ak – significa mensageiro. Se o “anjo do Senhor” é Seu mensageiro, então deve ser distinto do Senhor. Todavia, em alguns textos, o “anjo do Senhor” também é chamado “Deus” ou “Senhor” (Gên. 16:7-13; Núm. 22:31-38; Juí. 2:1-4; 6:22). Os pais da Igreja identificavam esse anjo com o Logos pré-encarnado. Eruditos modernos vêem-nO como um Ser que representa Deus, como o próprio Deus, ou como algum poder externo de Deus. Por sua vez, eruditos conservadores geralmente aceitam que “este ‘mensageiro’ deve ter sido como uma manifestação especial do Ser do próprio Deus”.17 Se isso é correto, temos aqui outra indicação da pluralidade de pessoas na Divindade. NO NOVO TESTAMENTO A verdade, na Bíblia, é progressiva. Por isso, é no Novo Testamento que encontramos um quadro mais explícito da natureza trinitária de Deus. A declaração de que Ele é amor (I João 4:8) implica que deve haver uma pluralidade dentro da Divindade, considerando-se que o amor só pode revelar-se em um relacionamento pluralístico. Por ocasião do batismo de Jesus, encontramos os três membros da Divindade em ação ao mesmo tempo: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se Lhe abriram os Céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre Ele. E eis uma voz dos Céus que dizia: Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mat. 3:16). Eis uma notável manifestação da doutrina da Trindade. Ali estava Cristo em forma humana, visível a todos; o Espírito Santo desceu sobre Ele na forma de uma pomba; e a voz do Pai foi ouvida dos Céus: “Este é o Meu Filho amado, em quem me comprazo”. Em João 10:30 Cristo fala de Sua igualdade com o Pai, e em Atos 5:3 e 4, o Espírito Santo é identificado como Deus. É impossível explicar a cena do batismo de Jesus por qualquer outra maneira senão assumindo que há três pessoas, iguais em natureza ou essência divina. No batismo, o Pai referiu-Se a Jesus como “Meu Filho amado”. Essa filiação, entretanto, não é ontológica, mas funcional. No plano da salvação, cada membro da Trindade aceitou um papel específico, com o propósito de cumprir um alvo particular. Não se trata de mudança de essência oustatus. Millard J. Erickson o explica desta maneira: “O Filho não Se tornou inferior ao Pai durante a encarnação, mas subordinou-Se funcionalmente à vontade do Pai. Semelhantemente, o Espírito Santo agora está subordinado ao ministério do Filho (ver João 14-16) bem como à vontade do Pai, mas isso não implica inferioridade em relação a Eles.”18 No pensamento ocidental, os termos “Pai” e “Filho” contêm a idéia de origem, dependência e subordinação. Na mente oriental ou semítica, entretanto, eles enfatizam igualdade de natureza. Assim, quando as Escrituras falam de “Filho” de Deus, estão afirmando a divindade de Cristo. Ao terminar Seu ministério terrestre, Jesus ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mat. 28:19). Nessa comissão, nota-se claramente a Trindade. Primeiramente, notamos que a frase “em nome” [eis to onoma] é singular, não plural (nos nomes). Ser batizado em nome de três pessoas da Trindade significa identificar-se com tudo o que Ela representa; comprometer-se com o Pai, Filho e Espírito Santo.19 Em segundo lugar, a união desses três nomes indica que o Filho e o Espírito Santo são iguais ao Pai. Seria estranho, para não dizer blasfemo, unir o nome do Deus eterno com um “ser criado” e uma “força” ou “energia” na fórmula batismal. “Quando o Espírito Santo é colocado na mesma expressão e no mesmo nível das outras duas pessoas, é difícil evitar a conclusão de que Ele também é visto como sendo igual ao Pai e ao Filho.”20 Paulo e outros escritores do Novo Testamento geralmente usam a palavra “Deus” para se referir ao Pai; “Senhor”, em referência ao Filho, e “Espírito”, em referência ao Espírito Santo. Em I Coríntios 12:4-6, o apóstolo fala dos três no mesmo texto: “Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos.” Da mesma forma, em II Coríntios 13:13, ele enumera as três pessoas da Trindade, ao mencionar “a graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo”. Embora não possamos dizer que esses textos sejam uma enunciação formal da Trindade, eles e outros como, por exemplo, Efésios 4:4-6, são trinitarianos em caráter. E embora a Igreja tenha elaborado os detalhes dessa doutrina em tempos posteriores, ela o fez sobre o fundamento dos escritores bíblicos. DIVINDADE DE CRISTO Um elemento crucial na doutrina da Trindade é a divindade de Cristo. Diante do ensinamento de que há um Deus em três pessoas, e que cada uma dessas pessoas é plenamente divina, é importante verificarmos o que as Escrituras ensinam sobre a divindade de Cristo. Existem passagens no Novo Testamento que confirmam a plena deidade de Cristo. João 1:1-3;14. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A frase introdutória “no princípio” nos leva de volta ao começo do tempo. Se o Verbo estava “no princípio”, então Ele não teve princípio, que é outra forma de dizer que era eterno.
  • 4. “O Verbo estava com Deus” nos diz que o Verbo era uma pessoa ou personalidade separada. O Verbo não estava em (en) Deus, mas com (pros) Deus. Desde que o Pai e o Espírito Santo são Deus, a palavra “Deus” muito provavelmente inclui esses dois outros membros da Trindade. “E o Verbo era Deus”. O Verbo não era uma emanação de Deus, mas Deus mesmo. Embora o verso 1 não diga quem é o Verbo, o verso 14 claramente O identifica: “E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai.” Como disse Arthur W. Pink, “é impossível conceber uma afirmação mais enfática e inequívoca da deidade absoluta do Senhor Jesus Cristo”. 21 João 20:28. “Respondeu-Lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu.” Essa é a única vez, nos evangelhos, em que alguém se dirige a Cristo, chamando-O de “meu Deus” (ho Theos mou). É significativo que nem Cristo nem João desaprovaram a declaração de Tomé; pelo contrário, esse episódio constituiu um ponto alto da narração do evangelista, que imediatamente fala a seus leitores: “Na verdade fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu nome” (vs. 30 e 31). Este evangelho, diz João, foi escrito para persuadir outros indivíduos a imitarem Tomé no reconhecimento de Cristo como “Senhor meu e Deus meu”. Filipenses 2:5-7. Essa passagem foi escrita para ilustrar a humildade. Mas é um dos textos de apoio à divindade de Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma [morphé] de Deus não julgou como usurpação [harpagmos] o ser igual a Deus; antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma [morphé] de servo, tornando-Se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana…” Morphé, que significa “forma” ou “aparência visível’, é uma palavra descritiva da natureza genuína, a essência, de uma coisa. “Não se refere a qualquer forma mutável, mas uma forma específica da qual dependem a identidade e o status.”22 Morphé contrasta com schema (2:8), que também significa “forma” porém no sentido de aparência superficial, ao invés de essência. O substantivo harpagmosaparece apenas nesse texto, no Novo Testamento, e o verbo correspondente significa “roubar, tirar à força”. No grego secular, o substantivo significa “roubo”. O contexto deixa claro que Jesus não cobiçou, não tentou roubar “o ser igual a Deus”; não tentou agarrar-Se à igualdade com Deus a qual Ele possuía intrinsecamente. Em outras palavras, não tentou reter Sua igualdade com Deus pela força. Em vez disso, “tratou-a como uma oportunidade para renunciar qualquer vantagem ou privilégio decorrentes; como uma oportunidade para auto-empobrecimento e sacrifício próprio sem reserva”. 23 Esse é o significado da expressão “antes a Si mesmo Se esvaziou”. Sua igualdade com Deus era algo que Ele possuía intrinsecamente; e alguém igual a Deus deve ser Deus. Assim, essa “é uma passagem que demanda a compreensão de que Jesus era divino no mais pleno sentido”.24 Colossenses 2:9. “Porquanto nEle habita corporalmente [somatikos] toda a plenitude [pleroma] da Divindade.” O termo grego pleroma tem o significado básico de “plenitude”, “plenamente”. No Antigo Testamento ele é aplicado à plenitude da Terra ou do mar (Sal. 24:1; cf. 50:12; 89:11; 96:11; 98:7), que é citada em I Coríntios 10:26. No grego secular, pleroma referia-se à totalidade da tripulação de um navio, ou à quantia necessária para completar uma transação financeira. Em Colossenses 1:19 e 2:9, Paulo usa a palavra para descrever a soma total de cada função da divindade. 25 Essa plenitude habita corporalmente em Cristo, mesmo durante Sua encarnação, Ele reteve todos os atributos essenciais da divindade, embora não os empregasse em benefício próprio. “… Foi claramente visto que a divindade habitava na humanidade, pois através do invólucro terrestre, vez após vez cintilavam lampejos de Sua glória.” 26 Tito 2:13. Paulo descreve os santos como “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. Notemos que: 1) De acordo com uma regra da gramática grega, o artigo o antes de “Deus” e “Salvador” une esses dois substantivos como designações do mesmo objeto. Assim, Jesus Cristo é “o grande Deus e Salvador”. 2) Todo o Novo Testamento aguarda a segunda vinda de Cristo. 3) O contexto do verso 14 fala apenas de Cristo. 4) Essa interpretação está em harmonia com outras passagens, tais como João 20:28; Rom. 9:5; Heb. 1:8; II Ped. 1:1, de modo que esse texto é mais uma afirmação da divindade de Cristo. Mateus 3:3. “… Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor.” De acordo com o verso 1, esse texto de Isaías refere-se a João Batista que era o precursor do Messias. Em Isaías 40:3, a palavra traduzida como “Senhor” é Yahweh. Assim, o Senhor cujo caminho João prepararia não era outro senão o próprio Jeová. Romanos 10:13. “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O contexto (vs. 6-12) deixa claro que, ao se referir ao “nome do Senhor”, Paulo está pensando em Cristo. O texto é uma citação de Joel 2:32, onde novamente a palavra Senhor é tradução do hebraico Yahweh. Hebreus 1:8 e 9. “O Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre… por isso Deus, o Teu Deus Te ungiu…” Neste capítulo, são usados sete textos do Antigo Testamento para apoiar o argumento de que Cristo é superior aos anjos. O quinto texto, citado nos versos 8 e 9, é Sal. 45:6 e 7, onde um rei da casa de Davi é mencionado como “Deus”. Seria isto uma hipérbole poética, como algumas vezes é encontrada em cortes orientais, ou está o texto apontando para outra pessoa além do Antigo Testamento, príncipe da casa de Davi? Para os poetas e profetas hebreus, um príncipe da casa de Davi era o viceregente do Deus de Israel; pertencente à dinastia à qual Deus fizera promessas especiais ligadas ao cumprimento de Seu propósito no mundo. Ao lado disso, o que era apenas parcialmente verdadeiro na linhagem e no governo histórico de Davi, ou mesmo em sua pessoa, deveria ser compreendido plenamente quando aparecesse o filho de Davi, no qual todas as promessas e ideais associados com a dinastia deveriam ser incorporados. Agora, finalmente, o Messias aparecera. Em sentido pleno, era possível para Davi, ou qualquer dos seus sucessores, que este Messias pudesse ser referido não apenas como Filho de Deus (v. 5), mas como realmente Deus, pois Ele é o Messias da linhagem de Davi, a refulgente glória de Deus e a própria imagem de Sua substância.27 Todas essas passagens indicam que Cristo e Yahweh são um. AUTOCONSCIÊNCIA DE JESUS Cristo nunca afirmou diretamente Sua divindade, mas dizia ser o Filho de Deus (Mat. 24:36; Luc. 10:22; João 11:4). E, de acordo com a idéia hebraica de filiação, tudo o que o pai é o filho também é. Os judeus entenderam que assim Ele estava reivindicando igualdade com o Pai: “Por isso, os judeus ainda mais procuravam matá-Lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era Seu próprio Pai, fazendo-Se igual a Deus” (João 5:18; cf. 10:33).
  • 5. Repetidas vezes Cristo disse possuir o que só pertence a Deus. “Ele falou dos anjos de Deus (Luc.12: 8 e 9; 15:10) como Seus anjos (Mat. 13:41). Referiu-Se ao reino de Deus (Mat. 12:28; 19:14 e 24; 21:31 e 34) e aos eleitos de Deus (Mar. 13:20) como Suas propriedades.” 28 Em Lucas 5:20 Jesus perdoou os pecados do paralítico, e os judeus, com base em Isaías 43:25, argumentaram: “Quem pode perdoar pecados senão Deus?” Dessa forma, a ação perdoadora de Jesus O identificava como Deus. A divindade de Cristo também é indicada no uso que fez do tempo presente em Sua resposta aos judeus: “Antes que Abraão existisse [genesthai] Eu sou [ego eimi]” (João 8:58). Ao usar o termogenesthai – “nascesse” ou “se tornasse” – e ego eimi – “Eu sou” –, Jesus contrasta Sua existência eterna com o início histórico da existência de Abraão. Pelo menos os judeus compreenderam dessa maneira, ou seja, que Jesus reivindicava ser Yahweh, o “Eu sou” da sarça ardente (Êxo. 3:14); por isso, apanharam pedras para matá-Lo (João 8:59). Finalmente, o fato de que Jesus aceitou adoração evidencia que Ele próprio reconhecia Sua divindade. Depois que Jesus apareceu aos discípulos andando sobre as águas, “eles O adoraram” (Mat. 14:33). O cego que teve a visão restaurada, depois de lavar-se no tanque de Siloé, “O adorou” (João 9:38). Após a ressurreição, os discípulos foram para a Galiléia onde Cristo lhes apareceu. E eles “O adoraram” (Mat. 28:17). E Ellen White assegura: “Em Cristo há vida original, não emprestada, não derivada. ‘Quem tem o Filho tem a vida.’ I João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de vida eterna para o crente.“29 “Falando de Sua preexistência, Cristo conduz a mente através de séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve tempo em que Ele não estivesse em íntima comunhão com o eterno Deus.” 30 TEXTOS DIFÍCEIS Os antitrinitarianos usam alguns textos para apoiar a idéia de que Jesus, em algum tempo na eternidade, foi gerado, isto é, que Ele teve um começo e que não é absolutamente igual a Deus. Apocalipse 3:14. Aqui, Jesus, “a Testemunha fiel e verdadeira”, é mencionado como “o princípio da criação de Deus”, o que leva alguns a interpretarem que Ele foi criado em algum ponto no passado, sendo assim a primeira obra de Deus. Mas a palavra grega traduzida como “princípio” é arché. Além de “princípio”, ela também significa “causa primeira ou principal”, “soberano”, “regente”. O próprio Pai também é chamado “princípio”, em Apoc. 21:6. O mesmo título é novamente aplicado a Cristo em Apoc. 22:13. Embora a palavra arché possa ter um sentido passivo, o que poderia fazer de Jesus o primeiro ser criado, o sentido ativo do termo O torna a “causa principal” o “criador”. Que Jesus não é o primeiro ser criado, mas o próprio criador, é o testemunho de outras passagens do Novo Testamento (João 1:3; Col. 1:16; Heb. 1:2). Provérbios 8:22-31. “Eu nasci…” (v. 24). Argumenta-se que esse verso se refere a Jesus, ensinando que Ele foi nascido ou criado. Mas o contexto da passagem fala da sabedoria, não sobre Jesus. A personificação da sabedoria é uma figura literária que ocorre também em outras partes das Escrituras. Em Salmo 85:10-13, temos “misericórdia e verdade” encontrando-se, “justiça e paz” se beijando. Em Salmo 96:12, “os campos” se alegram, e “todas as árvores dos bosques regozijarão diante do Senhor”. (Ver também I Crôn. 16:33; Isa. 52:9; Apoc. 20:13 e 14). Esse tipo de alegoria não deve ser interpretada literalmente. “A personificação é uma figura literária e poética que serve para criar atmosfera e para avivar idéias abstratas e objetos inanimados, ao representá-los como se fossem seres humanos.”31 A personificação do divino atributo da sabedoria começa no capítulo 1: “Grita na rua a sabedoria, nas praças levanta a sua voz” (v. 20). No capítulo 3, é-nos dito que ela “mais preciosa é do que pérolas” e “os seus caminhos são… paz” (vs. 15 e 17). No capítulo 7 ela é chamada “irmã” (7:4); e no capítulo 8, a sabedoria mora junto com a prudência (8:12). Sabedoria personificada também é o tema de Provérbios 9:1-5. Aplicar tais passagens a Cristo exige um modelo alegórico de interpretação que nos leva a métodos incompatíveis com outras passagens. Foi justamente esse tipo de hermenêutica que suscitou a rejeição do método alegórico de interpretação pelos reformadores. É importante notar que nenhum verso dessa passagem é citado no Novo Testamento. Provérbios 8:22-31 contém imagens poéticas que necessitam ser bem interpretadas. A primeira frase no verso 22 pode ser traduzida como “o Senhor me possuiu”, “o Senhor me criou”, ou “o Senhor me gerou”. O significado básico do verbo qanah é “comprar”, “adquirir” e “possuir”. Mas as outras duas traduções são também possíveis. Além de qanah, duas outras palavras referem-se à sabedoria nesse texto: nasak = “estabelecer” (v. 23) e chil = “nascer” (vs. 24 e 25). O pensamento básico é sempre o mesmo, isto é, a sabedoria estava com Deus antes do início da criação. Se Deus a criou, se foi gerada ou simplesmente possuída, não é o foco. O que é central não é o modo de sua origem, mas sua antiguidade e precedência dentro da criação de Deus. Considerando a linguagem poética e metafórica da passagem, ela não deve ser usada para estabelecimento de qualquer doutrina sobre uma suposta origem de Cristo. Ellen White, às vezes, aplicou homileticamente Provérbios 8 a Cristo; mas ela usou o texto para apoiar Sua preexistência eterna. Antes de usar Provérbios 8, ela disse que “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre”. 32 Colossenses 1:15. Cristo é “o primogênito de toda a criação”. Considerando que Ele é chamado primogênito (prototokos), argumenta-se que deve ter tido um começo. Mas o termo “primogênito”, nesse texto, é um título e não a definição de uma condição biológica. Segundo 1:16, tudo foi criado por Jesus. Portanto, Ele não poderia criar a Si mesmo. A palavra “primogênito” tem um significado especial para os hebreus. Em geral, o primogênito era o líder de um grupo de pessoas ou uma tribo, o sacerdote na família, e o único que recebia a herança duas vezes mais que seus irmãos. Ele tinha certos privilégios e responsabilidades. Algumas vezes, entretanto, o fato de que alguém fosse o primogênito não importava aos olhos de Deus. Por exemplo, embora Davi fosse o filho mais novo, Deus o chamou de “Meu primogênito” (Sal. 89:20 e 27). A segunda linha do paralelismo no verso 27 nos diz que isso significava que Davi devia se tornar o rei mais exaltado. Vejamos também as experiências de Jacó (Gên. 25:25 e 26; Êxo. 4:22) e Efraim (Gên. 41:50-22; Jer. 31:9). Nesses casos, “primeiro”, no sentido de tempo, foi desconsiderado. O importante era apenas a distinção e a dignidade de quem era chamado primogênito. No caso de Jesus, esse termo também se refere à Sua posição exaltada e não a um ponto no tempo no qual Ele tenha sido criado.
  • 6. Em Colossenses 1:18, Cristo é chamado “o primogênito de entre os mortos”, embora não o tenha sido cronologicamente. Sabemos que Moisés e outros O precederam. O sentido é que Ele é o preeminente. João 1:1-3. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” Alguns dizem que aqui há uma distinção entre Deus o Pai, que é o Deus, e Jesus, que é apenas um deus. O termo grego para Deus (theos) é encontrado com artigo (ho), “o Deus”, ou sem artigo, “deus” ou “Deus”. Em João 1:1-3, o Pai é chamado ho theos ao passo que o Filho é chamado theos. Será que isso justifica a argumentação de que o Pai é Deus Todo-poderoso, enquanto o Filho é apenas um deus menor? O termo theos sem artigo freqüentemente também é usado para o Pai, inclusive no mesmo capítulo (João 1:6, 13 e 18; Luc. 2:14; Atos 5:39; I Tess. 2:5; I João 4:12; II João 9). Jesus também é chamado o Deus (Heb. 1:8 e 9; João 20:28). Em outras palavras, o uso do termo Deus, com ou sem artigo, não pode ser argumento para se fazer distinção entre Deus o Pai e Deus o Filho. Deus o Pai é theos e ho theos, assim como o Filho. Muitas vezes, a ausência do artigo, no idioma grego, denota qualidade especial. Nesse caso, o substantivo não deveria ser traduzido com o artigo indefinido “um”. Se João tivesse usado o artigo definido cada vez em que aparece theos, ele estaria indicando a existência de apenas uma pessoa divina. Mas João 1:1 diz: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus, e o verbo era theos.” Caso tivesse usado apenas ho theos, deveríamos ler: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com ho theos, e o Verbo era ho theos.” Segundo João 1:14, o Verbo é Jesus. Portanto, substituindo “Verbo” por “Jesus” temos a sentença “no princípio era Jesus e Jesus estava com ho theos, e Jesus era ho theos.” Ho theos refere-se claramente ao Pai. O texto modificado seria: “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com o Pai, e o Verbo era o Pai.” Isso é teologicamente errado. Falando de duas pessoas da Divindade, João não teve escolha senão usar ho theos uma vez e, na seguinte vez, usar theos. A ausência de artigo no segundo caso não pode ser usada como argumento contra a igualdade entre Pai e Filho. João 1:14 e 18; 3:16 e 18; I João 4:9. Esses versos falam de Jesus como o Filho unigênito (monogenes) do Pai. Em razão disso, algumas pessoas sugerem que a palavra grega monogenes indica que Jesus foi gerado literalmente. A palavra monogenes significa “único de uma espécie”. Seu uso ocorre nove vezes no Novo Testamento. Três vezes em Lucas (7:12; 8:42; 9:38) sempre se referindo a um único filho. Nos escritos de João, ela aparece cinco vezes (1:14 e 18; 3:16 e 18; I João 4:9), como uma designação do relacionamento de Cristo com o Pai. Em Hebreus 11:17, ela se refere a Isaque como o filho unigênito de Abraão. Sabemos, entretanto, que Isaque não era o único filho do patriarca. Era o único filho da promessa. A ênfase aqui não é sobre o nascimento, mas sobre a unicidade do filho. O termo normalmente traduzido como “gerado” é gennao. Ele aparece em Hebreus 1:5 e pode estar se referindo à ressurreição ou à encarnação de Cristo. Na versão Septuaginta, a palavra monogenes é a tradução da palavra hebraica yachid, cujo significado é “único” ou “amado” (cf. Mar. 1:11, em conexão com o batismo de Jesus). Não é claro se monogenes se refere apenas ao Senhor ressuscitado, histórico, ou também ao Senhor preexistente. Mas é interessante notar que nem João 1:1-14, nem 8:58 e nem o capítulo 17 usam o termo Filho para o Senhor preexistente. Mateus 14:33. “És Filho de Deus!”. Esse é um título messiânico (Sal. 2:7; Atos 13:33; Heb. 1:5), que enfatiza a deidade de Jesus. Embora seja um dos muitos títulos que possuía, Ele o usava muito raramente para referir-Se a Si mesmo (João 11:4). Na tentativa de compreender quem era Cristo, todos esses títulos necessitam ser investigados para termos um quadro coerente. Que o título “Filho de Deus” salienta a divindade de Jesus é evidente em João 10:29-36. Isso é apoiado posteriormente pelo fato de que o Filho é a exata imagem de Deus, sendo igual ao Pai (Col. 1:15; Heb. 1:3; Filip. 2:6) A palavra “Filho” tem um amplo significado na linguagem original. Portanto, não é possível reduzi-la aos limites de idiomas modernos, dando-lhe um significado literal. A filiação de Jesus é atestada em conexão com o Seu nascimento (Luc. 1:35), batismo (Luc. 3:22), transfiguração (Luc. 9:35) e ressurreição (Atos 13:32 e 33). A Bíblia silencia quanto a se esses títulos descrevem o eterno relacionamento entre Pai e Filho. Em qualquer caso, as Escrituras atribuem existência eterna a Jesus (Isa. 9:6; Apoc. 1:17 e 18). Durante a encarnação, Jesus subordinou-Se voluntariamente ao Pai, sendo o Filho de Deus. Isso incluiu a entrega de prerrogativas, mas não a natureza da deidade. O Senhor ressuscitado, ao ser entronizado como Rei e Sacerdote, também aceitou voluntariamente a prioridade do Pai, mas Ele e o Pai são, conforme a Escritura, personalidades iguais e coeternas da Divindade. O ESPÍRITO SANTO Que o Espírito Santo é uma pessoa divina, igual em substância, poder e glória com o Pai e o Filho, podemos observar nas Escrituras. É um Ser pessoal. Alguns crêem que o Espírito Santo é um “poder” ou uma “energia” de Deus. Mas há muitos versos onde o Ele é mencionado junto com o Pai e o Filho (Mat. 28:19; I Cor. 12:4-6; II Cor. 13:14). Isso indica que o Pai e o Filho são pessoas; portanto, o Espírito Santo deve também ser uma pessoa. Freqüentemente, o pronome masculino “Ele” é usado em referência ao Espírito Santo (João 14:26; 15:26; 16:13 e 14), embora a palavra grega para Espírito ( pneuma) seja neutra e não masculina. A palavra “consolador” ou “confortador” (parakletos) refere-se a uma pessoa, não a uma força. O Espírito Santo fala (Atos 8:29), ensina (João 14:26), dá testemunho (João 15:26), intercede por outros (Rom. 8:26 e 27), distribui dons (I Cor. 12:11) e proíbe ou permite certas coisas (Atos 16:6 e 7). De acordo com Efés. 4:30, o Espírito Santo pode também ser entristecido. Essas atividades são características de uma pessoa, não de uma força. É Deus. As Escrituras vêem o Espírito Santo como Deus. Desde a eternidade de Deus o Espírito Santo participa da Divindade como Seu terceiro componente. Em Mat. 28:19, os discípulos foram ordenados a batizar “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Esse verso coloca o Espírito Santo em igualdade com o Pai e o Filho. Ao repreender Ananias, Pedro lhe disse que mentindo ao Espírito Santo, ele tinha mentido “não a homens mas a Deus” (Atos 5:3 e 4). “O Espírito Santo é onipotente. Ele distribui dons espirituais ‘como Lhe apraz, a cada um individualmente’ (I Cor. 12:11). Ele é onipresente; habitará com Seu povo para sempre (João 14:16). Ninguém pode fugir à Sua influência (Sal. 139:7-10).
  • 7. Ele também é onisciente, porque ‘a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus’ e ‘as coisas de Deus ninguém conhece, senão o Espírito de Deus’ (I Cor. 2:10 e 11).” 33 Ellen White acreditava na personalidade do Espírito Santo: “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.” 34 Vimos então que a Divindade existe em uma pluralidade; que Jesus é Deus, coexistente desde a eternidade com o Pai, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade. Há muitos outros detalhes sobre o tema, os quais somente no Céu entenderemos plenamente. Textos difíceis da Bíblia são melhor compreendidos em harmonia com o restante da Escritura. Embora o mistério da Trindade nunca possa ser completamente entendido pelo homem finito, é uma doutrina bíblica, apoiada por escritos de Ellen White e é uma das 27 crenças fundamentais da Igreja. Referências: 1. Fred Allaback, No Leaders … No New Gods (Creal Spring, Ill, 1966), pág. 11. 2. Ibidem, pág. 15. 3. Ibidem, pág. 30. 4. Bill Stringfellow, Tue Red Flag Is Waving (Spencer, TN: Concerned Publications, s/d). 5. Rachel Cory-Kuehl, The Persons of God (Aggelia Publications, 1966). 6. Allen Stump, The Foundation of Our Faith (Smyma Gospel Ministry, s/d). 7. Bill Stringfellow, Op. Cit., pág. 15. 8. W. Grudem, Systematic Theology (Zondervan, 1994), pág. 226. 9. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 615. 10.Testimonies For the Church, vol. 8, pág. 295. 11. Louis Berkhof, Systematic Theology (Eerdmans, 1941), pág. 88. 12. Ibidem, pág. 89. 13. Escreveu Ellen White: “Há muitos mistérios que não busco compreender nem explicar; eles são muito elevados para mim e para vocês. Em alguns desses pontos, o silêncio é ouro” (Manuscrito 14,pág. 179). 14. G. A. F. Knight, A Biblical Approach to the Doctrine of the Trinity (Edimburgo, 1953), pág. 20. 15. Ibidem. 16. Millard J. Erickson, Christian Theology (Baker, 1983), vol. 1, pág. 329. 17. G. Ch. Aalders, Genesis (Zondervan, 1981), pág. 300. 18. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 338. 19. Alguns comentaristas acreditam que atrás desta fórmula está a linguagem utilizada para transferência de dinheiro, na era helenista. Desse modo, a fórmula expressa figuradamente que a pessoa batizada é “transferida” para a conta do Senhor e se torna Sua possessão. Outros interpretam “nome” como “autoridade”. Nesse caso, a pessoa é batizada pela autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 20. W. Grudem, Op. Cit., pág. 320. 21. Arthur W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Zondervan, 1945), pág. 22. 22. W. Poehlmann, Exegetical Dictionary of the New Testament (Eerdmans, 1981), vol. 2, pág. 443. 23. F. F. Bruce, Philippians, Hendrickson, 1989), pág. 69. 24. Leon Morris, The Lord from Heaven: A Study of the New Testament Teaching in the Deity and Humanity of Jesus (Eerdmans, 1958), pág. 74. 25. Alguns comentaristas definem pleroma em termos do pensamento gnóstico, segundo o qual essa palavra significa uma nova emanação que se tem encarnado no Redentor. 26. John Eadie, Colossians, Classic Commentary Library (Zondervan, 1957), pág. 145. 27. F. F. Bruce, Hebrews (Eerdmans, 1964), págs. 19 e 20. 28. Millard J. Erickson, Op. Cit., pág. 326. 29. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, pág. 530. 30. Evangelismo, pág. 615. 31. Kenneth T. Aitken, Proverbs (Westminster Press, 1986), pág. 85. 32. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 247. 33. Seventh-day Adventists Believe (Hagerstown, 1988), pág. 60. 34. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 616. A Trindade nas Escrituras Gerhard Pfandl, Ph.D. Diretor associado do Biblical Research Institute da Associação Geral da IASD, Silver Spring, Maryland, EUA Resumo: O presente artigo provê uma investigação das evidências bíblicas que apóiam a doutrina da Trindade. Várias referências, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento, são consideradas em seus respectivos contextos linguísticos hebraicos e/ou gregos. O autor aponta, ainda, os erros mais comuns na interpretação de alguns desses textos.
  • 8. Introdução Embora a palavra Trindade (do lat. trinitas, “tri-unidade” ou “tri-unicidade”) não se encontre na Bíblia (tampouco a palavra “encarnação”), o ensinamento que ela descreve está claramente contido nas Escrituras. 1 Brevemente definida, a doutrina da Trindade compreende o conceito de que “Deus existe eternamente como três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; cada pessoa é plenamente Deus; e há um só Deus.”2 O próprio Deus é um mistério – quanto mais a encarnação ou a Trindade! Contudo, embora não sejamos capazes de compreender logicamente os vários aspectos da Trindade, precisamos tentar entender o melhor possível o ensino escriturístico a ela concernente. Todas as tentativas para explicar a Trindade não atingirão o seu objetivo, “especialmente quando refletimos sobre a relação das três pessoas com a divina essência [...] todas as analogias falham e nos tornamos plenamente cônscios do fato de que a Trindade é um mistério muito além do nosso entendimento. É a incompreensível glória da Divindade.”3 Portanto, procedemos melhor em admitir que “o homem não pode compreendê-la e torná-la inteligível. É inteligível em algumas de suas relações e modos de manifestações, mas ininteligível em sua natureza essencial.” 4 Precisamos conscientizar-nos de que podemos atingir apenas uma compreensão parcial do que é a Trindade. Ao ouvirmos a Palavra de Deus, certos elementos da Trindade se tornarão claros, enquanto outros permanecerão um mistério. “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29). A Trindade no Antigo Testamento Várias passagens do Antigo Testamento sugerem ou mesmo implicam que Deus existe em mais do que uma pessoa, não necessariamente em uma Trindade, mas ao menos em uma relação binária. GÊNESIS 1 No relato da Criação em Gênesis 1, a palavra hebraica para Deus é ‘Elohim, a forma plural de‘Eloha. Geralmente, este plural tem sido interpretado como um plural majestático, em vez de uma pluralidade. Todavia, G. A. F. Knight tem argumentado corretamente que tomar esta forma como um plural majestático é ler no antigo texto hebraico um conceito moderno, desconsiderando que os reis de Israel e de Judá são todos tratados no singular no texto bíblico. 5 Além disso, Knight ressalta que as palavras hebraicas para “água” e “céu” são ambas plurais. Os gramáticos têm denominado este fenômeno de plural quantitativo. A água pode aparecer em forma de pequenas gotas ou grandes oceanos. Esta diversidade quantitativa em unidade, diz Knight, é uma maneira adequada de compreender o plural ‘Elohim. Também explica por que o substantivo singular ‘Adonai é escrito como um plural.6 Lemos em Gênesis 1:26: “Também disse [singular] Deus: Façamos [plural] o homem à nossa [plural] imagem, conforme a nossa [plural] semelhança.” Moisés não está usando um verbo plural com ‘Elohim, mas Deus, em sua fala, usa um verbo plural e pronomes plurais com referência a Si mesmo. Alguns intérpretes crêem que Deus aqui está falando aos anjos. No entanto, segundo as Escrituras, os anjos não participaram da Criação. A melhor explicação, portanto, é a de que já no primeiro capítulo de Gênesis há uma indicação de uma pluralidade de pessoas na própria Divindade. GÊNESIS 2:24 De acordo com Gênesis 2:24, o homem e a mulher devem tornar-se “uma só [heb. ‘echad] carne”, uma união de duas pessoas distintas, individuais. Em Deuteronômio 6:4, a mesma palavra é empregada para Deus: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único [‘echad] SENHOR.” Diz Millard J. Erickson: “Parece que aqui algo está sendo afirmado acerca da natureza de Deus – Ele é um organismo, isto é, uma unidade de partes distintas.” 7 Moisés poderia ter usado a palavra yachid (somente um, singular) em Deuteronômio 6:4, mas o Espírito Santo preferiu que assim não fosse. Outros Textos que Expressam uma Pluralidade Disse Deus após a queda do homem: “Eis que o homem se tornou como um de nós” (Gn 3:22). E, algum tempo depois, quando os homens começaram a construir a torre de Babel, disse o SENHOR: “Desçamos e confundamos ali a sua linguagem” (Gn 11:7). Vez após outra a pluralidade da Divindade é enfatizada. Em sua famosa visão do trono divino, Isaías ouve o SENHOR indagando: “A quem enviarei, e quem há de ir por nós?” (Is 6:8). Aqui vemos Deus utilizando o singular e o plural na mesma sentença. Muitos eruditos modernos tomam isto como uma referência ao concílio celestial. Mas Deus alguma vez convocou Suas criaturas para conselho? Em Isaías 40:13 e 14 Ele parece refutar esta mesma noção. Ele não precisa aconselhar-Se com Suas criaturas, nem mesmo com os seres celestiais. Portanto, este plural, embora não prove a Trindade, sugere que há uma pluralidade de seres nAquele que fala. O Anjo do Senhor A expressão “Anjo do SENHOR” aparece cinqüenta e oito vezes no Antigo Testamento, e “o anjo de Deus”, onze vezes. A palavra hebraica mal’ak (anjo) significa simplesmente “mensageiro”. Portanto, se o “Anjo do SENHOR” é um mensageiro do SENHOR, ele deve ser distinto do próprio SENHOR. No entanto, em vários textos o “Anjo do Senhor” é também chamado “Deus” ou “SENHOR” (Gn 16:7-13; Nm 22:31-38; Jz 2:1-4; 6:22). Os Pais da Igreja O identificavam com o Logos pré-encarnado. Eruditos modernos O têm visto como um ser que representa a Deus, como o próprio Deus, ou alguma força externa de Deus. Eruditos conservadores geralmente concordam que “esse ‘mensageiro’ deve ser visto como uma manifestação especial da existência ou essência do próprio Deus.”8 Se isto está correto, temos aqui outro indicador da pluralidade de pessoas na Divindade. A Trindade no Novo Testamento
  • 9. Nas Escrituras a verdade é progressiva. Quando chegamos, portanto, ao Novo Testamento, encontramos um quadro mais explícito da natureza trinitária de Deus. O próprio fato de se dizer de Deus que Ele é amor (1Jo 4:8) implica em que deve existir uma pluralidade dentro da Divindade, uma vez que o amor só pode existir em uma relação entre seres diferentes. No Evangelho de Mateus (a) No batismo de Jesus encontramos os três membros da Divindade em atividade ao mesmo tempo: Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. (Mt 3:16-17) O relato do batismo de Jesus é uma notável manifestação da doutrina da Trindade – ali estava Cristo em forma humana, visível a todos; o Espírito Santo descendo sobre Cristo em forma corpórea, como uma pomba; e a voz do Pai falou do céu: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” Em João 10:30, Cristo reclama igualdade com o Pai, e, em Atos 5:3, o Espírito Santo é identificado como Deus. Portanto, é difícil, se não impossível, explicar a cena do batismo de Cristo de qualquer outra forma a não ser admitir que há três pessoas na natureza ou essência divina. No batismo de Jesus, o Pai O chamou de “meu Filho amado”. A filiação de Jesus, porém, não é ontológica, mas funcional. No plano da salvação, cada membro da Trindade aceitou uma função específica. É uma função com a finalidade de atingir um objetivo específico, não uma mudança de essência ou condição. Millard J. Erickson explica isto deste modo: O Filho não Se tornou menos do que o Pai durante Sua encarnação terrestre, mas subordinou-Se funcionalmente à vontade do Pai. Igualmente, o Espírito Santo está agora subordinado ao ministério do Filho (veja João 14-16), bem como à vontade do Pai, mas isto não implica em que Ele é menos do que são Eles. 9 Os termos “Pai” e “Filho”, no pensamento ocidental, trazem consigo as ideias de origem, dependência e subordinação. Na mentalidade semítica ou oriental, porém, eles enfatizam igualdade ou identidade de natureza. Desse modo, quando as Escrituras falam do “Filho” de Deus, elas afirmam Sua divindade. No final do Seu ministério, Jesus disse aos Seus discípulos que eles deveriam ir e fazer “discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28:19). Neste, que é o rito introdutório de cada crente na religião cristã, a doutrina da Trindade é claramente ensinada. Primeiro, notamos que “em nome” (gr. eis to onoma) é singular, não plural (“nos nomes”). Ser batizado em nome das três pessoas da Trindade significa identificar-se a si próprio com tudo o que a Trindade representa; confiar-se ou entregar-se ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. 10 Segundo, a união destes três nomes indica que o Filho e o Espírito Santo são iguais ao Pai. Seria um tanto estranho, para não dizer blasfemo, unir o nome do Deus eterno a um ser criado (quer tenha sido criado na eternidade ou em algum momento do tempo), e a uma força ou poder impessoal nesta fórmula batismal. Quando o Espírito Santo é posto na mesma expressão e no mesmo nível que as outras duas pessoas, é difícil evitar a conclusão de que o Espírito Santo é também visto como uma pessoa e de igual posição que o Pai e o Filho. 11 Nos Escritos de Paulo Paulo e os demais escritores do Novo Testamento geralmente usam a palavra “Deus” ao se referirem ao Pai, “Senhor” quando se referem ao Filho, e “Espírito” referindo-se ao Espírito Santo. Em 1 Coríntios 12:4-6, Paulo se refere aos três no mesmo texto: Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos serviços, mas oSenhor é o mesmo. E há diversidade de realizações, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos. Semelhantemente, em 2 Coríntios 13:13, ele enumera as três pessoas da Trindade: A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós. Conquanto não possamos dizer que estes textos sejam uma enunciação formal da Trindade, estas passagens e outras semelhantes (p. ex., Efésios 4:4-6) são de caráter distintamente trinitariano. Foi a Igreja em tempos posteriores quem elaborou os detalhes da Trindade, mas eles construíram sobre os fundamentos dos escritores bíblicos. A divindade de Cristo Um elemento decisivo na doutrina da Trindade é a divindade de Cristo. Sendo que a doutrina da Trindade ensina que há um Deus em três pessoas, e que cada uma dessas pessoas é plenamente Deus, torna-se importante verificar o que as Escrituras ensinam acerca da divindade de Cristo. A divindade de Cristo no Novo Testamento Há várias passagens no Novo Testamento que afirmam claramente a plena divindade de Cristo: JOÃO 1:1-3, 14 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A frase introdutória “no princípio” (sem o artigo) nos leva de volta ao início do tempo. Se o Verbo era “no princípio”, então Ele mesmo era sem princípio, que é outra maneira de dizer que Ele era eterno. “O Verbo estava com Deus” nos diz que o Verbo é uma pessoa ou personalidade distinta. O Verbo não estava “em” (gr. en) Deus, mas “com” (pros) Deus.
  • 10. “E o Verbo era Deus”, ou, mais lieteralmente: “e Deus era o Verbo.” O Verbo não era uma emanação de Deus, mas o próprio Deus. Conquanto o verso 1 não nos diga quem é o Verbo, o verso 14 claramente O identifica com Cristo. “Uma afirmação mais enfática e inequívoca da absoluta Divindade do Senhor Jesus Cristo é impossível de conceber.” 12 JOÃO 20:28 “Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!” Esta é a única ocasião nos Evangelhos em que alguém diz a Cristo “Deus meu” (ho Theós mou). Quando Tomé viu o Cristo ressurreto, o duvidoso foi transformado num adorador. É significativo que nem Cristo, na ocasião em que isto ocorreu, nem João ao escrever o Evangelho, tenham desaprovado o que Tomé disse. Ao contrário, tanto quanto se referia a João, esse episódio constituiu um ponto importante em sua narração, pois ele imediatamente diz ao leitor: Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram registados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome. (20:30, 31) O que João está dizendo, portanto, é que “este livro foi escrito para persuadir as pessoas a imitarem Tomé, que chamou Jesus de ‘Senhor meu e Deus meu’”. FILIPENSES 2:5-7 Apesar de esta passagem ter sido escrita para ilustrar a humildade, ela é um dos textos fundamentais do Novo Testamento para apoiar a divindade de Cristo. “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma [gr. morfê] de Deus, não julgou como usurpação [harpagmós] o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma [morfê] de servo, tornando-se em semelhança de homens.” Morfê (“forma” ou “aparência visível”) descreve a natureza genuína de uma coisa, sua essência. “Não se refere a qualquer forma mutável, mas à forma específica da qual dependem identidade e condição.” 13 Morfê contrasta com skéma (2:7), que também significa “forma”, mas no sentido de aparência superficial em vez de essência. O substantivo harpagmós aparece somente neste texto do Novo Testamento; o verbo correspondente significa “roubar, tomar à força”. No grego secular o substantivo significa “roubo”. Todavia, o contexto esclarece que Jesus não cobiçou, ou não tentou roubar a “igualdade com Deus”. Ao contrário, Ele não tentou apegar-Se à igualdade com Deus que Ele possuía de modo intrínseco. Em outras palavras, Ele não tentou reter pela força Sua igualdade com Deus, mas “tratou-a como uma ocasião para renunciar a cada vantagem ou privilégio que desse modo Lhe pudesse ter vindo, como uma oportunidade para auto-empobrecimento e sacrifício de Si mesmo sem reservas.” 14 Este é o significado de “a si mesmo se esvaziou”. Sua igualdade com Deus era algo que Ele possuía de maneira intrínseca; e alguém que é igual a Deus deve ser Deus. Por conseguinte, Filipenses 2:5-7 “é uma passagem que exige para sua compreensão a ideia de que Jesus era divino no mais pleno sentido.”15 COLOSSENSES 2:9 “Porquanto, nele habita, corporalmente [gr. somatikôs], toda a plenitude [pleroma] da Divindade.” A palavra pleroma tem o significado básico de “plenitude, cumprimento”. No Antigo Testamento, ela se refere repetidamente à terra e “toda a sua plenitude” (Sl 24:1; cf. 50:12; 89:11; 96:11; 98:7), que é citada em 1 Coríntios 1:26, 28. No grego secular, pleroma se referia ao pleno complemento da tripulação de um navio ou à quantidade necessária para completar uma transação financeira. Em Colossenses 1:19 e 2:9, Paulo usa a palavra para descrever a soma total de cada função da divindade. 16 Essa plenitude habita em Cristo “corporalmente”; isto é, mesmo durante Sua encarnação, Cristo reteve todos os atributos essenciais da divindade, embora não os utilizasse em Seu próprio proveito. A plenitude da Divindade: fez sua habitação em Sua humanidade sem consumi-la ou deificá-la, ou mudar quaisquer de suas propriedades essenciais… Via-se facilmente que a Divindade habitava naquela humanidade (ou natureza humana), pois lampejos de Sua glória brilhavam freqüentemente através de sua cobertura terrestre.17 TITO 2:13 Paulo descreve os santos como “aguardando a bendita esperança e o glorioso aparecimento do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (NKJV [New King James Version]). A KJV traduz esta passagem como “o glorioso aparecimento do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo”, apresentando os santos à espera do Pai e do Filho. Conquanto esta tradução seja possível, a NKJV deve ser preferida pelas seguintes razões: (1) Os dois substantivos “Deus” e “Salvador” estão ligados por um só artigo, indicando que, por via de regra, os dois substantivos são duas designações para um único objeto. (2) Todo o Novo Testamento aguarda a segunda vinda de Cristo. (3) O contexto do verso 14 fala somente de Cristo. (4) Esta interpretação está em harmonia com outras passagens tais como João 20:28; Romanos 9:5; Hebreus 1:8; 2 Pedro 1:1. O texto de Tito 2:13 é, portanto, é uma asserção explícita à divindade de Cristo. O testemunho da divindade de Cristo no Antigo Testamento Não somente é Jesus chamado Deus no Novo Testamento, mas Ele é também chamado Senhor e Deus em citações do Antigo Testamento onde a palavra hebraica é Yahweh ou Elohim. MATEUS 3:3 “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor.” Segundo o verso 1, este texto de Isaías se refere a João Batista, que foi o precursor de Jesus. Em Isaías 40:3, a palavra para Senhor éYahweh. Portanto, “o Senhor” cujo caminho João devia preparar não era nenhum outro senão o próprio Yahweh. ROMANOS 10:13 “Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” O contexto (vs. 6-12) deixa claro que Paulo está pensando em Cristo quando se refere ao “nome do SENHOR”. O texto é uma citação de Joel 2:32 onde a palavra para SENHOR no hebraico é, outra vez, Yahweh. ROMANOS 14:10 Neste texto, Paulo relembra a seus leitores que “todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo” (Versão Almeida Revista e Corrigida). Ele, então, adiciona uma citação de Isaías 45:23 que diz: “Pela minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua confessará a Deus.” Em Isaías o que fala é Yahweh; no livro de Romanos, o mesmo texto é aplicado a Cristo.
  • 11. HEBREUS 1:8, 9 “O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre… Deus, o teu Deus te ungiu.” Neste capítulo, sete textos do Antigo Testamento são usados para apoiar o argumento de que Cristo é superior aos anjos. O quinto texto, citado nos versos 8 e 9, vem do Salmo 45:6, 7, no qual um rei da casa de Davi é tratado como “Deus”. Trata-se de uma hipérbole poética – como é, às vezes, encontrada em cortes orientais – ou está esse texto apontando para uma outra pessoa além do príncipe do Antigo Testamento da casa de Davi? Para os poetas e profetas hebreus, um príncipe da casa de Davi era o vice-regente do Deus de Israel; ele pertencia a uma dinastia à qual Deus havia feito promessas especiais ligadas à realização de Seu propósito no mundo. Além disso, o que era apenas parcialmente verdade de qualquer um dos governantes históricos da linhagem de Davi, ou mesmo do próprio Davi, seria realizado em sua plenitude quando aparecesse o Filho de Davi em quem todas as promessas e ideais associados com a dinastia seriam incorporados. E agora, finalmente, o Messias havia surgido. Em um sentido mais amplo do que era possível para Davi ou qualquer dos seus sucessores nos dias antigos, esse Messias pode ser tratado não meramente como Filho de Deus (verso 5) mas realmente como Deus, pois Ele é o Messias da linhagem de Davi e também o resplendor da glória de Deus e a própria imagem de Sua substância.18 Todas estas passagens indicam que Cristo, Deus e Yahweh são um. Jesus e a sua consciência de Si mesmo Jesus nunca afirmou diretamente Sua divindade; todavia, Seu ensino estava permeado de conceitos trinitarianos. De acordo com a idéia hebraica de filiação (ou seja, tudo que o pai é, o filho é também), Jesus afirmou ser o Filho de Deus (Mt 9:27; 24:36; Lc 10:22; Jo 9:35-37; 11:4). Os judeus entenderam que pela reivindicação de ser o Filho de Deus Ele estava reivindicando igualdade com Deus: “Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5:18; cf. 10:33). Repetidamente, Jesus afirmou possuir o que propriamente só pertence a Deus. “Ele falou dos anjos de Deus (Lc 12:8-9; 15:10) como Seus anjos (Mt 13:41). Ele considerava o reino de Deus (Mt 12:28; 19:14, 24; 21:31, 34) e os eleitos de Deus (Mc 13:20) como Sua propriedade.”19 Em Lucas 5:20, Jesus perdoou os pecados ao paralítico, e os judeus, baseados em Isaías 43:25, argüiram corretamente: “Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” Destarte, estava implícita na ação de Jesus de perdoar a pretensão de ser Deus. A divindade de Cristo é também indicada pelo Seu uso do tempo presente em Sua resposta aos judeus: “Antes que Abraão existisse [genesthai], EU SOU [ego eimi]” (Jo 8:58). Usando os termosgenesthai (“nasceu” ou “se tornou”) e ego eimi (EU SOU), Jesus contrasta Sua existência eterna com o início histórico da existência de Abraão. É a eternidade do ser, e não simplesmente a preexistência antes de Abraão, que é expressa aqui. Ao menos os judeus entenderam isto desse modo; perceberam que Jesus reivindicava ser Yahweh, o EU SOU da sarça ardente (Êx 3:14), e pegaram em pedras para matá-Lo (8:59). Finalmente, o fato de que Jesus aceitava a adoração de outros é evidência de que Ele mesmo reconhecia Sua divindade. Após Jesus ter vindo aos discípulos andando sobre a água, eles “o adoraram” (Mt 14:33). O cego cuja vista foi restaurada depois de lavar-se no tanque de Siloé “o adorou” (Jo 9:38). Depois da ressurreição, os discípulos foram para a Galiléia, onde Jesus lhes apareceu e eles “o adoraram” (Mt 28:17). Reiteradamente Jesus aceitou a adoração como algo perfeitamente correto. Ele, desse modo, demonstrou direta pretensão à divindade. Textos difíceis 20 Os antitrinitarianos usam vários textos bíblicos para apoiar sua alegação de que Jesus foi “gerado” em algum tempo da eternidade (quer dizer, Ele teve um princípio e, portanto, não é absolutamente igual a Deus). APOCALIPSE 3:14 “Jesus, o princípio da criação de Deus.” Alega-se que Jesus foi criado em algum momento no passado, que Ele foi a primeira obra de Deus. Resposta: (a) A palavra grega arquê pode ser traduzida por “princípio”, “ponto de origem”, “primeira causa” ou “governante”. O próprio Pai é chamado “princípio” em Apocalipse 21:6. (b) O mesmo título é usado para Jesus em Apocalipse 22:13. Conquanto a palavra arquê possa ter um sentido passivo, que faria de Jesus o primeiro ser criado, o sentido ativo da palavra torna-O a primeira causa (ou causa primária), agente motor, ou o Criador. Que Jesus não é o primeiro ser criado, mas o próprio Criador, é o testemunho de outros textos do Novo Testamento (veja Jo 1:3; Cl 1:16; Hb 1:2). PROVÉRBIOS 8:22-31 “Eu fui gerada.” Afirma-se que esta passagem, se refere a Jesus e ensina que Jesus nasceu ou foi criado. Resposta: (a) O contexto fala acerca da “sabedoria”, não de Jesus. A personificação da sabedoria é um artifício literário que ocorre também noutras partes das Escrituras. No Salmo 85:10-13 temos “misericórdia e verdade” se encontrando, “justiça e paz” se beijando, e a “verdade” brotando da terra. No Salmo 96:12, “o campo” está alegre, e “todas as árvores do bosque” se regozijam “na presença do Senhor.” (Veja também 1 Cr 16:33; Is 52:9; Ap 20:13-14). Esta espécie de linguagem não deve ser interpretada literalmente. “A personificação é um artifício literário e poético que serve para criar atmosfera, e para avivar idéias abstratas e objetos inanimados, representando-os como se fossem seres humanos.” 21 (b) A personificação do divino atributo da sabedoria como uma mulher inicia-se no capítulo 1. “Grita na rua a Sabedoria, nas praças levanta a voz” (1:20). No capítulo 3 nos é dito: “Mais preciosa é do que pérolas” e “todas as suas veredas” são
  • 12. “paz” (3:15, 17). No capítulo 7, ela é chamada de “irmã” (7:4), e, no capítulo 8, a sabedoria habita com a prudência, outra persofinicação (8:12). A sabedoria personificada é também o assunto de Provérbios 9:1-5. A aplicação destas passagens a Jesus requer um método alegórico de interpretação bíblica que conduz a pontos de vista incompatíveis com outras passagens. Foi esta espécie de hermenêutica que levou os Reformadores a rejeitar o método alegórico de interpretação. Também deve-se notar que nenhum verso desta passagem é citado no Novo Testamento. (c) Provérbios 8:22-31 contém imagem poética que precisa ser cuidadosamente interpretada. A primeira frase do verso 22 pode ser traduzida por: “O SENHOR me possuía” (KJV, NIV); “O SENHOR me criou” (RSV, NEB); ou “O SENHOR me gerou” (NAB). O significado básico do verbo qanah é “comprar, adquirir”, donde vem “possuir”; mas as duas outras traduções são possíveis. Ao lado deqanah, duas outras palavras se referem à origem da sabedoria: nasak (“estabelecer”; 8:23), e chil(“nascer”; 8:24, 25). O pensamento básico desta passagem é sempre o mesmo: a sabedoria estava com Deus antes do início da Criação. Quer Deus a tenha criado ou quer ela tenha sido gerada ou simplesmente possuída, não é o ponto focal. O que é fundamental não é a maneira de sua origem, mas, antes, sua antigüidade e precedência dentro da Criação de Deus. Sendo que a linguagem é poética e metafórica, não deve ser usada para estabelecer coisa alguma concernente à suposta origem de Cristo. Ellen White às vezes aplicou Provérbios 8 homileticamente a Cristo, mas ela usou o texto para sugerir Sua preexistência eterna. Antes de citar Provérbios 8 ela diz: “Cristo era, essencialmente e no mais alto sentido, Deus. Estava Ele com Deus desde toda a eternidade, Deus sobre todos, bendito para todo o sempre.” 22 COLOSSENSES 1:15 “Jesus, o primogênito.” Sendo que Jesus é chamado o “primogênito” (prototokos), argumenta-se que Ele deve ter tido um princípio. Resposta: (a) A expressão prototokos (“primogênito”) neste texto é um título, não uma definição de Sua condição biológica. De acordo com 1:16, tudo foi criado por Jesus. Portanto, Ele não pode ter criado a Si mesmo. (b) O termo “primogênito” tinha um significado especial para os hebreus. Em geral, o primogênito era o líder de um grupo de pessoas ou de uma tribo, o sacerdote da família, e o que recebia duas vezes mais da herança do que seus irmãos. Ele tinha certos privilégios bem como responsabilidades. Às vezes, porém, o fato de que alguém era o primogênito não importava aos olhos de Deus. Por exemplo, embora Davi fosse o filho mais novo, Deus o chamou de “meu primogênito” (Sl 89:20, 27). A segunda linha do paralelismo no verso 27, nos diz que isto significava que ele deveria se tornar o rei mais exaltado. Veja também a experiência de Jacó (Gn 25:25-26 e Êx 4:22) e Efraim (Gn 41-50-52 e Jr 31:9). Nestes casos, o elemento tempo “primeiro” foi apagado. Era importante apenas a posição especial e a dignidade da pessoa chamada o “primogênito”. No caso de Jesus, este termo também se refere à Sua exaltada posição e não a um momento do tempo no qual Ele nasceu. Em Colossenses 1:18, Cristo é chamado “o primogênito de entre os mortos.” Embora Ele não fosse cronologicamente o primeiro (Moisés e outros O haviam precedido), Ele é o preeminente. (4) João 1:1-3 “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Alega-se que há uma distinção entre Deus o Pai, que é o Deus, e Jesus, que é apenas um deus. O termo grego para Deus (theós) é encontrado com o artigo ‘o (ho), “o Deus”, ou sem o artigo, “um deus” ou “Deus”. Em João 1:1-3 o Pai é chamado ho theós, ao passo que o Filho é chamado theós. Justifica isto a alegação de que o Pai é o Deus Todo-poderoso, enquanto que o Filho é apenas um deus? Resposta: (a) O termo theós sem o artigo é freqüentemente usado também para o Pai, até no mesmo capítulo (veja Jo 1:6, 13, 18; Lc 2:14; At 5:39; 1Ts 2:5; 1Jo 4:12 e 2Jo 9). Jesus é também “o Deus” (Hb 1:8-9; Jo 20:28). Em outras palavras, o uso do termo Deus – com ou sem o artigo – não pode ser usado para fazer uma distinção entre Deus o Pai e Deus o Filho. Deus o Pai é theós e ho theós, e assim também é o Filho. Muitas vezes, a ausência do artigo em grego denota qualidade especial e não deve ser traduzido com o artigo indefinido “um”. (b) Se João tivesse usado o artigo definido cada vez que ocorre theós, ele estaria afirmando que há apenas uma pessoa divina. O Pai seria o Filho. Diz João 1:1: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com ho theós, e o Verbo era théos. Se João tivesse usado apenas ho theós, ele estaria dizendo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com ho theós, e o Verbo era ho theós. De acordo com João 1:14, o Verbo é Jesus. Portanto, substituindo “Verbo” por “Jesus” obtemos a sentença: “No princípio era Jesus, e Jesus estava com ho theós, e Jesus era ho theós.” Ho theós se refere claramente ao Pai. O texto modificado diria: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com o Pai, e o Verbo era o Pai.” Isso está teologicamente errado. Falando acerca das duas pessoas da Divindade, João não tinha outra escolha senão usar uma vez ho theós e na próxima vez theós. Portanto, a ausência do artigo no segundo caso não pode ser usada para argumentar contra a igualdade entre o Pai e o Filho. JOÃO 1:14, 18; 3:16, 18; 1 JOÃO 4:9 “O Filho unigênito (monoguenês).” Sugere-se que a palavra monoguenês aponta para uma geração literal de Jesus. Resposta: (a) A palavra monoguenês significa “único, único de uma espécie, singular”. Ocorre nove vezes no Novo Testamento. Encontra-se três vezes em Lucas (7:12; 8:42; 9:38), onde sempre se refere a um único filho. É encontrada cinco vezes nos escritos de João (Jo 1:14, 18; 3:16, 18; 1 Jo 4:9) como uma designação da relação de Jesus com Deus. Ocorre somente uma vez em Hebreus 11:17, onde Isaque é chamado o filho monoguenês de Abraão. Isaque não era o filho único de Abraão, mas era o filho singular, invulgar, o único filho da promessa. A ênfase não é sobre o nascimento, mas sobre a singularidade do filho. Portanto, a tradução “único” ou “singular” deve ser preferida. A tradução “unigênito” pode ter se originado com os primeiros Pais da Igreja e se encontra na Vulgata. A última, por sua vez, influenciou traduções posteriores.
  • 13. O termo normal para gerado é gennao, que se encontra em Hebreus 1:5 e pode apontar para a ressurreição ou encarnação de Cristo. Na LXX (Septuaginta) o termo monoguenês é a tradução do hebraico yachid, que significa “único, singular” ou “amado” (cf. Mc 1:11, em conexão com o batismo de Cristo). Não está claro se monoguenês se refere apenas ao Senhor histórico e ressurreto ou também ao Senhor preexistente. É de interesse notar, porém, que nem em 1:1-14, nem em 8:58, nem no capítulo 17, João usa o termo “Filho” para o Senhor preexistente. (6) Mateus 14:33 “Tu és o Filho de Deus.” Pode o título “Filho de Deus” ser compreendido literalmente? Resposta: (a) Esse título é um título messiânico. (veja Sl 2:7; At 13:33; Hb 1:5). Enfatiza a divindade de Cristo. Jesus usou este título muito raramente para Si mesmo (somente em João, p. ex., Jo 11:4). É um dos muitos títulos que Jesus possuía. Na tentativa de compreender o que Jesus é, todos eles precisam ser investigados a fim de se obter uma visão coerente. Que o título “Filho de Deus” enfatiza a divindade de Cristo é evidente de João 10:29-36. Isso é ainda mais apoiado pelo fato de que o Filho é a imagem exata de Deus, sendo igual a Deus (Cl 1:15; Hb 1:3; Fp 2:6). (b) A palavra “filho” tem uma ampla extensão de significados na língua original. Portanto, não é possível reduzi-la aos estreitos limites da língua inglesa (ou portuguesa) e defini-la de uma maneira puramente literal. A filiação de Jesus é atestada em conexão com o Seu nascimento (Lc 1:35), batismo (Lc 3:22), transfiguração (Lc 9:35) e ressurreição (At 13:3233). A Bíblia silencia quanto à questão sobre se este título descreve a relação eterna entre Pai e Filho. Em qualquer caso, as Escrituras atribuem existência eterna a Jesus (Is 6:6; Ap 1:17, 18). Durante Sua encarnação, Jesus subordinou-Se voluntariamente ao Pai, sendo o Filho de Deus. Isto incluía a entrega das prerrogativas, mas não a natureza da divindade. O Senhor ressurreto, sendo entronizado como rei e sacerdote, também aceita voluntariamente a prioridade do Pai, mas Ele e o Pai são – segundo as Escrituras – ambos Deus, personalidades coeternas e coiguais de uma só Divindade. O Espírito Santo como a terceira pessoa da Trindade Que o Espírito Santo é uma pessoa divina, igual ao Pai e ao Filho em poder, substância e glória, manifesta-se através das Escrituras. O Espírito Santo como ser pessoal Alguns têm indagado se o Espírito Santo é uma pessoa distinta ou apenas o “poder” ou a “força” de Deus. Há vários versos onde o Espírito Santo é mencionado junto com o Pai e o Filho (Mt 28:19; 1Co 12:4-6; 2Co 13:13). Uma vez que o Pai e o Filho são pessoas, isto indica que o Espírito Santo deve ser também uma pessoa. Freqüentemente, o pronome masculino “ele” é usado com referência ao Espírito Santo (Jo 14:26; 15:26; 16:13, 14) apesar do fato de que a palavra para Espírito em grego (pneuma) é neutra e não masculina. A palavra “conselheiro” ou “consolador” (parakletos) uniformemente se refere a uma pessoa, não a uma força. É dito que o Espírito Santo fala (At 8:29), ensina (Jo 14:26), dá testemunho (Jo 15:26), intercede em favor de outros (Rm 8:26-27), distribui dons a outros (1Co 12:11), e proíbe ou permite certas coisas (At 16:6-7). De acordo com Efésios 4:30, o Espírito Santo pode ser também entristecido pelas pessoas. Todas estas atividades são características de uma pessoa, não de uma força. O Espírito Santo como Deus Vários textos das Escrituras descrevem o Espírito Santo como Deus: (a) Mateus 28:19 “…batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Este texto coloca o Espírito Santo em um nível igual ao do Pai e do Filho. (b) Pedro disse a Ananias que, mentindo ao Espírito Santo, ele havia mentido não “aos homens, mas a Deus” (At 5:3-4). (c) O Espírito Santo é onipotente. Ele distribui dons espirituais “a cada um individualmente como lhe apraz” (1Co 12:11). Ele é onipresente. Habitará com o Seu povo “para sempre” (Jo 14:6). Ninguém pode furtar-se à Sua influência (Sl 139:710). Ele é também onisciente, “porque o Espírito a todas as cousas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus” e “as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1Co 2:10, 11). 23 (d) Ellen White cria firmemente na personalidade do Espírito Santo. “Precisamos reconhecer que o Espírito Santo, que é tanto uma pessoa como o próprio Deus, está andando por esses terrenos.” 24 Conclusão Embora com a doutrina da Trindade haja certas dificuldades textuais e conceituais, nosso estudo do Antigo e do Novo Testamento tem produzido algumas possíveis respostas. Temos visto que a Divindade existe em uma pluralidade, que Jesus é Deus, coexistente com o Pai desde a eternidade, e que o Espírito Santo é a terceira pessoa da Divindade. Os textos difíceis da Bíblia são melhor compreendidos em harmonia com o restante das Escrituras. É de pouco valor para a Igreja causar divisão por causa de diferentes compreensões de alguns aspectos da Divindade. Conquanto o mistério
  • 14. da Trindade jamais possa ser plenamente compreendido pelo homem finito, é uma doutrina bíblica que faz parte da Fé Cristã. Referências: 1. Artigo traduzido do original em inglês por Francisco Alves de Pontes. Salvo indicação diversa, os textos bíblicos utilizados na tradução são extraídos da Versão Almeida Revista e Atualizada. 2. W. Grudem, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2002), 165. 3. Louis Berkhof, Systematic Theology (Eerdmans, 1994), 88. 4. Ibid. 5. G. A. F. Knight , A Biblical Approach to the Doctrine of the Trinity (Edinburgh, 1953), 20. 6. Ibid. 7. Millard J. Erickson, Christian Theology (Grand Rapids, MI: Baker, 1983), 1:329. 8. G. Ch. Aalders, Genesis (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1981), 300. 9. Erickson, 1:338. 10. Alguns comentaristas crêem que por trás da fórmula está a linguagem das transferências de dinheiro da era helenística, de sorte que a fórmula expressa figurativamente que a pessoa batizada é “transferida” para a conta do Senhor e assim se torna Sua propriedade. Outros interpretam “nome” como “autoridade”. Destarte, alguém é batizado pela autoridade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. 11. Grudem, 230. 12. Arthur W. Pink, Exposition of the Gospel of John (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1945), 22. 13. W. Poehlmann, “Morfê”, Exegetical Dictionary of the New Testament, 3 vols., eds. H. Balz e G. Schneider (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1981), 2:443. 14. F. F. Bruce, Philippians, NIBC (Peabody, MA: Hendrickson, 1989), 69. 15. Leon Morris, The Lord from Heaven: A Study of the New Testament Teaching in the Deity and Humanity of Jesus (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1958), 74. 16. Alguns comentaristas definem pleroma em função do pensamento gnóstico, pelo qual pleromasignifica o novo éon (ou emanação gnóstica) que encarnou-se no Redentor (Kaeseman, Essays on New Testament Themes [Londres, 1964], 158). C. F. D. Moule, porém, tem ressaltado que pleroma era uma palavra tão comum na LXX que seria preciso forte evidência para levar alguém a procurar em uma fonte externa seu significado primário em um escritor tão imergido no Antigo Testamento como Paulo (The Epistles to the Colossians and to Philemon, Cambridge Greek Testament Commentary [Cambridge, 1957], 166). 17. John Eadie, Colossians, Classic Commentary Library (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1957), 145. 18. F. F. Bruce, Hebrews, NICNT (Grand Rapids, MI: Eerdmans,. 1964), 19, 20. 19. Erickson, 326. 20. Sou grato ao meu colega Ekkehardt Mueller pelo material deste parágrafo. 21. Kenneth T. Aitken, Proverbs (Westminster Press, 1986), 85. 22. Mensagens Escolhidas, 1:247. 23. Nisto Cremos: 27 ensinos bíblicos dos adventistas do sétimo dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 90. 24. Evangelismo, 616. A Trindade sem Mistério – I Alberto Ronald Timm Em contraste com a filosofia grega, cuja base repousa no conhecimento de si mesmo, o Cristianismo tem como fundamento o conhecimento de Deus. Esse conhecimento é o “principio da sabedoria” (Prov. 9:1) e a condição para a “vida eterna” (João 17:3). Somente através da revelação divina, conforme expressa em Sua Palavra, poderemos chegar a uma correta compreensão de Deus. Entretanto, ao estudarmos a respeito de Deus não nos devemos olvidar de que estamos em terreno sagrado. Muito embora a palavra “Trindade” não se encontre na Bíblia, a ideia por ela expressa é uma das verdades fundamentais das Escrituras. Na Bíblia, as prerrogativas divinas são atribuídas a três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Todos os demais conceitos teológicos são afetados direta ou indiretamente pela noção que tivermos dessa doutrina. Evidência da Trindade no Antigo Testamento Ainda que o Antigo Testamento não apresente provas tão claras para a doutrina da Trindade quanto às do Novo Testamento, nele podem ser encontradas grande número de evidências que atestam a existência de uma pluralidade na Divindade.
  • 15. Em Gênesis 1, o nome hebraico para Deus é Elohim. Esse nome ocorre ao todo cerca de 2.500 vezes no Antigo Testamento, sendo ele a forma plural de El, que é o nome comum para Deus entre os semitas. Para alguns, o fato de Elohim ser um nome plural não prova a Trindade, mas apenas indica “a riqueza e a plenitude do Ser Divino”. 1 Porém A. H. Strong nos adverte que “o fato de Elohim ser algumas vezes usado num sentido restrito, como aplicável ao Filho (Sal. 45:6; cf. Heb. 1:8), não nos deve impedir de crer que o termo era originalmente considerado como contendo uma alusão a certa pluralidade na natureza divina”.2 E João 1:1-3 lança luz sobre o fato de que o Pai e o Filho estavam unidos na obra da Criação do mundo, e em Gênesis 1:2 temos o Espírito Santo também envolvido nessa obra. No Antigo Testamento, encontramos ainda referências nas quais Deus fala de Si mesmo no plural, como por exemplo: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gên. 1:26). Há quem interprete o plural como incluindo os anjos, “mas qualquer inferência de que outros tenham tomado parte em nossa criação é completamente alheia ao capítulo como um todo e ao desafio presente em Isaías 40:14: ‘Com quem tomou Ele conselho?’ Trata-se antes do plural de plenitude, que … haveria de ser revelado como tri-unidade, nos posteriores ‘nós’ e ‘nossa’ de São João 14:23 (com 14:17)”.3Encontramos, portanto, na peculiar fraseologia de Gênesis 1:26 “uma alusão a um sublime concílio entre as pessoas da Divindade”.4 (Ver também Gênesis 3:22; 11:7; Isa. 6:8.). Outra evidência importante encontramos nos textos que se referem às manifestações do “Anjo do Senhor” (Gên. 16:713; 18:1-13; 19:1-28; 22:11-16; 31:11-13; etc.), os quais apresentam “uma indicação de distinções pessoais em Deus”. 5 Em Malaquias 3:1 e Atos 7:35-38 o “Anjo do Senhor” é identificado como sendo Cristo, o Filho de Deus, que em Gênesis 31:1113 é declarado ser Deus. Portanto, “exatamente como ‘o Espírito de Deus’ era uma expressão veterotestamentária aguardando seu esclarecimento completo no Pentecostes, assim ‘o Anjo do Senhor’, como expressão referente ao próprio Senhor, ganha significado somente à luz dAquele ‘que o Pai… enviou ao mundo’, o Filho preexistente”. 6 Segundo John Bright, “a religião de Israel não se fundamentava em proposições teológicas abstratas, mas na memória de uma experiência histórica interpretada e correspondida… Israel acreditava que Iahweh, seu Deus, o havia livrado do Egito pelo poder de Sua onipotência e que, mediante uma aliança o havia constituído Seu povo” .7 Entretanto, mesmo nas profecias messiânicas encontramos indícios de uma pluralidade na Divindade. Em Isaías 9:6 o Messias é chamado “Deus Forte, Pai da Eternidade”, e no Salmo 45:6 e 7 o “Ungido de Deus” é dito ser Deus, à semelhança dAquele que O ungiu. No Salmo 33:4-6 e em Provérbios 8:12-31, aparecem a “Palavra” e a “Sabedoria” de Deus sendo personificadas como uma antecipação ao “Verbo” de Deus de São João 1:1-14. Já em Isaías 48:16 aparece uma distinta referência à Trindade: “Agora o Senhor Deus (o Pai) Me enviou a Mim (o Filho) e o Seu Espírito (o Espírito Santo).” Há também quem considere as palavras do rei Nabucodonosor, encontradas em Daniel 2:47, como uma referência à trindade: “Certamente, o vosso Deus é Deus dos deuses (o Pai), e o Senhor dos reis (o Filho), e o Revelador dos mistérios (o Espírito Santo)”. Portanto, reconhecemos que “o Velho Testamento contém uma clara antecipação da plena revelação da Trindade no Novo Testamento”.8 A Trindade no Novo Testamento Uma vez que a revelação da verdade é progressiva, encontramos no Novo Testamento provas concretas da doutrina da Trindade, que lançam luz sobre as evidências encontradas no Antigo Testamento. O cumprimento das profecias messiânicas e a promessa do Espírito Santo são sumamente elucidativas para a compreensão deste tema. Na promessa feita pelo anjo a respeito do nascimento de Jesus, encontramos uma referência distinta aos membros da Trindade (Luc. 1:35), que viria a tornar-se ainda mais notória por ocasião do Seu batismo. Nessa ocasião, o Filho de Deus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como uma pomba, e o Pai falou: “Este é o Meu Filho amado, em quem Me comprazo” (Mat. 3:16 e 17; Mar. 1:10 e 11; Luc. 3:21 e 22; João 1:32 e 33). Os ensinos de Cristo são igualmente de natureza a enfatizar essa distinção. Na promessa do espírito Santo, Ele fala a respeito de “outro Consolador” (João 14:16 e 26), e todos os que viessem a crer deveriam também ser batizados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mat. 28:19). Igualmente na bênção apostólica aparece novamente referida a Trindade: “A graça do Senhor Jesus Cristo e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (II Cor. 13:13). O apóstolo São Pedro inicia a sua primeira epístola com uma clara referência à Trindade (I Ped. 1:2), e em São Judas 20 e 21 ela também é mencionada. Portanto o Novo Testamento reconhece o Pai como Deus (João 6:27, Efé. 6:23; I Pedro 1:2; etc.), aJesus Cristo como Deus (João 1:1 e 18; 20:28; Rom. 9:5; Col. 2:2 e 9; Tito 2:13; Heb. 1:8; I João 5:20; etc.), e ao Espírito Santo como Deus (Atos 5:3 e 4; I Cor. 2:10 e 11; I Cor. 3:16; etc.). A Distinção Entre os Membros da Trindade Muito embora a expressão “porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um”, que algumas versões da Bíblia trazem em I São João 5:7 e 8, provavelmente não fazia parte do original e tenha sido acrescentada posteriormente,9 isto não invalida em nada a doutrina bíblica da Trindade. Alegar que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são simplesmente três aspectos diferentes de um único Ser Divino Se manifestar, é confundir o conceito bíblico a respeito. Se assim fosse, a quem Jesus Cristo estaria Se dirigindo ao orar ao Pai? Por que então deveriam ser mencionados separadamente os membros da Trindade tanto na fórmula do batismo (Mat. 28:19), como na bênção apostólica (II Cor. 13:13) e em outros textos? A Bíblia não apenas reclama natureza espiritual para os membros da Trindade, como também personalidades distintas entre o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. Isto é claro não apenas nas características pessoais atribuídas aos três, como também no fato de o Pai ter enviado o Filho (João 14:24; 20:21) e o Pai e o Filho enviarem o Espírito Santo (João 14:16 e 26; 16:7). Alguns têm tido dúvidas quanto ao Espírito Santo, imaginando ser Ele apenas um poder despersonalizado proveniente de Deus; porém os ensinos de Cristo não deixam dúvidas a esse respeito. Ao prometer o Espírito Santo, Ele disse: “Convém-vos que Eu vá, porque se Eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, Eu for, eu vo-lo enviarei” (João 16:7). A palavra “Consolador” é a tradução do termo grego Paracleto, que em São João 14:26 é identificado como sendo o Espírito Santo.
  • 16. De acordo com James Robertson, “do ensino de Jesus, não resta a menor dúvida que o outro Paracleto é uma pessoa. A cada passo, Jesus fala desta maneira: ‘Ele vos ensinará todas as coisas’; ‘Ele Me glorificará’. Personalidade está implicada no título ‘Paracleto’, o qual, em algumas versões, é traduzido impropriamente “Confortador”. A palavra significa ‘um que é chamado para ficar ao nosso lado, especialmente em ocasiões de dificuldade e conflito’. É, portanto, a palavra que designa um advogado, e é assim usada a respeito de Jesus mesmo, em I João 2:1, onde lemos: ‘Nós temos umParacleto (advogado) com o Pai, Jesus Cristo, o justo.’ “Está implicada também, no ensino de Jesus, que o outro Paracleto é uma pessoa divina. Jesus não poderia dizer que era melhor que Ele fosse, se o Seu substituto fosse menos do que divino. Nem poderia ter dito que ‘ao que disser alguma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; porém, ao lhe falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no vindouro’ (Mat. 12:32). Também não poderia ter juntado ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo’, como faz na fórmula do batismo (Mat. 28:19), se todos os três não fossem divinos”.10 Portanto, a doutrina da Trindade não está baseada em especulações e conjeturas humanas, mas na própria Revelação Divina – a Sua Palavra. Porém, uma vez que tenhamos compreendido a distinção que a Bíblia estabelece entre as pessoas da Trindade, deveremos também analisar o relacionamento existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Referências: 1. Herman Bavinck, The Doctrine of God. (Edinburg: The Banner of Truth Trust, 1979), p. 256. 2. Augustus H. Strong, Systematic Theology. (Valley Forge: Judson Press, 1979), p. 318. 3. Derek Kidner, Genêsis – Introdução e Comentário. (São Paulo: Editora Mundo Cristão, 1979), pp. 48 e 49. 4. The Pulpit Commentary. (Gran Rapids:Wm. B. Eerdmans Publ. Co., 1975), vol. 1, The Book of Genesis, p. 29. 5. Louis Berkhof, Systematic Theology. (Edinburg: The Banner of Truth Trust, 1976), p. 86. 6. Kidner. op. cit., p. 32. 7. Jonh Bright, História de Israel. (São Paulo: Edições Paulinas, 1978), p. 190. 8. Berkhof. op. cit., p. 86. 9. Bruce M. Metzger, A Textual Commentary on the Greek New Testament. (London: United Bible Societies, 1975), pp. 715-717. 10. James Robertson, Ensinos de Jesus. (São Paulo: União Cultural Editora Ltda., 1952), pp. 146 e 147. A Trindade sem Mistério – II Alberto Ronald Timm Uma vez que a Bíblia atribui as prerrogativas divinas tanto ao Pai quanto ao Filho e ao Espírito Santo, passaremos a analisar, à luz da Palavra de Deus, o relacionamento existente entre os membros da Trindade. Este aspecto é muito importante, porque dele dependerá os demais conceitos da teologia cristã, os quais são por ele afetados. Para uma correta compreensão a respeito, deveremos fazer a distinção entre a unidade essencial e a subordinação funcional existente entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo; isto é, entre o modo divino de existir e a maneira funcional como tem sido revelado através da Criação e da Redenção. Confundir esses dois aspectos distintos, levar-nos-ia a conclusões totalmente distorcidas a respeito da doutrina de Deus. A Unidade Essencial da Trindade Vimos anteriormente que a Bíblia reconhece as prerrogativas divinas a três personalidades distintas. Porém, isto não sanciona de forma alguma uma idéia triteísta de Deus; ou seja, que a Bíblia reconheça três deuses diferentes como formando a Divindade. Esta espécie de politeísmo é totalmente contrária ao pensamento bíblico. A religião bíblica é essencialmente monoteísta. Já na promulgação do decálogo aparecem as palavras: “Eu sou o Senhor teu Deus… Não terás outros deuses diante de Mim” (Êxo. 20:2 e ). Também a religião judaica tinha por fundamento o texto de Deuteronômio 6:4: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor”. Igualmente o apóstolo São Paulo fala que “há um só Deus” (I Cor. 8:6). Esses e outros textos nos deixam claro o fato de que existe uma unidade essencial entre os membros da Trindade. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas que formam um só Deus, e não três deuses. Nesse sentido é que Jesus disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30; cf. João 17:21 e 22). É por isso que a respeito de Cristo pode ser dito que desde o principio Ele “estava com Deus, e … era Deus” (João 1:1), que Ele é “igual a Deus” (Filip. 2:6), pois “nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Col. 2:9), sendo Ele “Deus Forte, Pai da Eternidade” (Isa. 9:6). Mesmo o título “Filho” ao ser aplicado a Cristo não é sinônimo de inferioridade, mas sim de igualdade com o Pai. Ele significa que o Filho participa da mesma natureza do Seu Pai. Foi por essa razão que os judeus acusaram a Jesus de blasfêmia, ao chamar a Deus de “Meu Pai” (João 5:17 e 18). É importante considerarmos ainda que a palavra “Filho” é sempre empregada para Cristo no contexto da Encarnação, e nunca encontraremos menção a um “Filho Eterno”. 1 Por sua vez, não apenas o fato de o Espírito Santo ser chamado de o “outro consolador” (“Paracleto”, João 14:16; etc.) e o “Espírito de Deus” (Rom. 8:9; I Cor. 3:16; etc.) atesta Sua natureza divina, como também o fato de a Ele serem atribuídas todas as características divinas. Isto é especialmente enfatizado em I Cor. 2:10 e 11, onde lemos: “Mas Deus nolo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”. Neste caso, “perscruta não significa que o Espírito perscrute com vistas a obter informação. Antes, é um modo de dizer que Ele penetra todas as coisas. Não há nada que esteja além do Seu