1. Conclusão
“Se a virtude pode ser ensinada, como creio, é mais pelo
exemplo do que pelos livros. Então, para que um tratado das
virtudes? Para isto, talvez: tentar compreender o que
deveríamos fazer, ou ser, ou viver, e medir com isso, pelo menos
intelectualmente, o caminho que daí nos separa. Tarefa
modesta, tarefa insuficiente, mas necessária. Os filósofos são
alunos (só os sábios são mestres), e alunos precisam de livros;
é por isso que eles às vezes escrevem livros, quando os que têm
à mão não os satisfazem ou sufocam. Ora, que livro é mais
urgente, para cada um de nós, do que um tratado de moral? E o
que é mais digno de interesse, na moral, do que as virtudes?
Assim como Spinoza, não creio haver utilidade em denunciar os
vícios, o mal, o pecado. Para que sempre acusar, sempre
denunciar? É a moral dos tristes, e uma triste moral. Quanto ao
bem, ele só existe na pluralidade irredutível das boas ações,
que excedem todos os livros, e das boas disposições, também
elas plurais, mas sem dúvida menos numerosas, que a tradição
designa pelo nome de virtudes, isto é (este é o sentido em grego
da palavra arete, que os latinos traduziram por virtus), de
excelências.”
(André Comte-Sponville)