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BION – Estudo de Processos de Grupo
NOELIZA LIMA*
Dr. Antonio Terzis**

Nascido na Índia em 1897, Wilfred Ruprecht Bion foi estudar na Inglaterra aos 8 anos.

Durante a I Guerra Mundial ele serviu na França como comandante de um tanque, recebendo a
medalha DSO e a da Legião de Honra.
Após estudar História no Queens College, em Oxford, fez medicina na University College,
Londres.
Então iniciou seu interesse por Psicanálise e tornou-se trainee de John Rickman e mais tarde,
de Melanie Klein. Durante os anos 40 seu interesse estava totalmente voltado para o estudo
dos processos de grupo. Suas pesquisas culminaram na publicação de uma série de trabalhos
publicados na forma de livretos como Experiências em Grupos.
Abandonando seu trabalho neste campo em favor da prática psicanalítica, alcançou então a
posição de Diretor da London Clinic of Psycho-analysis (1956 a 1962). Foi Presidente da British
Psycho-analytical Society (1962 a 1965).
Em 1968 trabalhou em Los Angeles, retornando à Inglaterra dois meses antes de sua morte,
que ocorreu em 1979.




GRUPOS

Bion trabalhou como terapeuta de grupos na Clínica Tavistock de Londres, na década de 40 e
50. Sua experiência clínica levou-o a formular uma série de hipóteses e depois uma teoria.
Seus estudos se referem à atividade mental que os grupos facilitam nos indivíduos que dele
fazem parte. Estabeleceu então leis gerais e específicas dirigidas a cada tipo de configuração
grupal.
Nos grupos, assim como no indivíduo, existem dois níveis de funcionamento psíquico, inter
relacionados entre si: O nível consciente e o nível inconsciente.
                                         o Nível Consciente
  Racional, regido pelo princípio da realidade, caracterizado pelo uso do processo secundário,
                                             orientado
para a adaptação objetiva a realidade externa.
     o Nível Inconsciente - Emocional, regido pelo princípio do prazer, caracterizado pelo uso
         do princípio primário (deslocamento, condensação e deflexão). Orientado para evitar o
                                                 desprazer.

MENTALIDADE GRUPAL

É a atividade mental desenvolvida dentro de um grupo. A esta mentalidade cada um dos
indivíduos contribui, mesmo não tendo consciência disto. A mentalidade grupal não é a soma,
mas a equivalência das demandas individuais.
O 'estar em um grupo' re - atualiza as primeiras experiências de: fusão – discriminação,
encontro – separação, individualização – massificação, assim como a perda da relação dual
primitiva. É a inclusão da triangularidade e a dor edípica pela apreensão da realidade interna e
externa, dando lugar à eclosão de intensas torrentes emocionais que podem dificultar a
atividade psíquica necessária para a realização das tarefas propostas racionalmente. A este
tipo de configuração grupal, regido pela lógica, Bion chamou de grupo de trabalho.




CONCEITO DE GRUPO DE TRABALHO
No nível consciente as pessoas se unem para a realização de uma tarefa e têm consciência de
seus objetivos. Suas atividades se desenvolvem segundo o tempo cronológico, do "aquí e
agora", em espaços determinados. Cumprem papéis designados, seguem regras do grupo, são
organizados em tempo, espaço e em alguns grupos - hierarquicamente. Os membros se unem
em função de objetivos comuns, pela cooperação, estabelecendo-se relações de semelhança,
complementaridade e suplementariedade, que levam ao estabelecimento da "sociabilidade por
interação", segundo Bleger.

GRUPO DE SUPOSTO BÁSICO

Os membros de um grupo de trabalho se reúnem para realizar a nível real uma tarefa, mas
esta tarefa tem um objetivo latente que é desconhecido. Estão então sujeitos à lei do desejo, de
ordem do inconsciente, que é o sentido dado por Freud à "ilusão". É então que os sistemas
formais de comunicação são substituídos ao nível inconsciente pelos "supostos, os pre-juízos,
e os como se", que constituem a "linguagem de ação". As redes de intercâmbio social são
substituídas por comunicações baseadas em identificações projetivas e introjetivas maciças,
mecanismos de dissociação, negação, idealização e onipotência. No lugar de papéis e normas
específicas, desenvolvem-se relações parciais com objetos parciais, que suscitam intensas
ansiedades arcaicas (paranóicas e depressivas, segundo Klein , e confusionais, segundo
Bleger, com concomitantes defesas esquizóides).
Desta forma, o tempo cronológico cede lugar à atemporalidade própria do inconsciente, tempo
do imaginário, desenvolvendo-se entre os membros a sociabilidade sincrética (segundo
Bleger). O grupo se conecta por "valência", ou seja, por demandas equivalentes dentro da
mentalidade grupal.

PRESSUPOSTOS BÁSICOS DE BION

Todo grupo simboliza para a pessoa a pertinência, a família primal, sendo então um continente
onde surgem reações regressivas de busca e perda de afeto.
Os sentimentos mais arcaicos são despertados, vivendo então o grupo os supostos básicos,
que são: dependência, luta – fuga e acasalamento. Nunca pode haver mais de um em
andamento.
Quando um suposto básico predomina, os outros ficam depositados no que Bion chamou de
"aparato proto-mental ". Neste sistema o somático e o psíquico são indiferenciados.
Quando um processo de aprendizagem desencadeia uma dor (acerca de si mesmo ou do
mundo externo), e as defesas do grupo não conseguem mitigar este sofrimento, o sistema
proto-mental emitirá sintomas defensivos por parte do corpo e da mente ( acidentes, desmaios,
crises epilépticas). Estes acontecimentos serão obstáculos a continuação da tarefa grupal, e
serão fonte de ansiedades impossíveis de serem resolvidas pelos "supostos básicos".

DEPENDÊNCIA
O grupo é a possibilidade da renovação e muito mais que isto. O grupo é o objeto de desejo,
a representação do seio bom (Melanie Klein), que sustenta todas as fantasias dos participantes. É
um espaço de salvação, e o líder é o Messias que vai levar o grupo a satisfação plena. Sente-se que
tudo pode ser realizado, não há medo nem ameaça nenhuma. É um momento de projeção
de esperança e satisfação.




LUTA – FUGA
Crença inconsciente de que a solução dos seus problemas se dará na medida em que consigam
evitar o perigo certo proveniente de um objeto persecutório – interno ou externo ao grupo – o qual
deverão enfrentar, fugindo ou atacando, liderados por seu terapeuta ou coordenador.
Qualquer investimento da libido no grupo, se sentido como mal correspondido, desperta na pessoa
a ansiedade de perda e/ou fantasias de perseguição.
A solução desejada se apresenta não como uma conquista, mas como a evitação clara da dor,
por meio de uma ansiedade baseada em temores paranóides referentes a fantasia de objeto mau.
É comum que ocorra este suposto básico após uma situação de total pertinência como no caso
da dependência, onde a angústia de ser possuído por alguém mau desencadeia temores de
destruição




ACASALAMENTO
Crença de que o objeto salvador ainda deverá ser criado, e que esta atividade será executada por
membros voluntários do grupo, que facilitarão o descanso dos demais, ou então pelo próprio
coordenador. A ênfase aquí não é sobre quem trará a salvação, e sim que a solução desejada de
fato virá a qualquer momento.Haverá então uma dupla ( de mesmo sexo ou sexo diferente) que
produzirá o "grand finale" por meio de uma cópula fecunda, sendo então o restante do grupo os
herdeiros e beneficiários do produto final. O desejo se veste de esperança, e o objeto desejado
tem características messiânicas. A ansiedade subjacente aparece como a contrapartida do
otimismo e se remete a : temor da morte do bebê Messias, temor de mal formação do feto,
ansiedade desesperançada frente à pulsão de morte.




OUTRAS FORMAS
Bion assinala que além das estruturas assinaladas como ‘pressupostos básicos" há outras formas
do grupo lidar com ansiedades arcaicas.
Refere-se aquí as formas aberrantes dos supostos básicos e as formas duais.
Exemplo
Enquanto no suposto de dependência o terapeuta é visto como alguém que alimenta o grupo com
ensinamentos e acolhida, dando-lhes a chave mágica da cura, a forma "dual" seria o grupo como
fonte de alimento para um terapeuta com pouco treino e habilidade.




CONCLUSÕES




Todos estes tipos de defesas utilizadas buscam evitar o compromisso de auto prover-se no
caminho do trabalho, dor, erro e reparação, do alimento necessário para o crescimento físico,
psíquico e espiritual.
As categorias desagradáveis são vividas como exigências desmedidas e injustas que devem
ser evitadas a qualquer custo.
Segundo Bion, os pressupostos básicos também se encontram em grupos organizados ou não
dnossa sociedade.


REFERENCIAS

(Contracapa de “Cogitations”, edited by Francesca Bion, Karnac Books, London-New York,
1992)
ROUSSEAU, M., Grupo, Esa Posible-Inpossibilidad..., B. Aires, Colección Psicologia y
Psicoanalisis, Tekné, 1995, cap. 3º
LIMA, N. Bion, Seminários de grupo, supervisão prof. Dr. Antonios Terzis, pós graduação em
Psicologia Clínica, PUCCAMP, 1999, mimeo.

    * Psicóloga, CRP 6/505, trabalho para o mestrado em Psicologia Clínica – PUC-Campinas,
    1999.
    ** Prof. Dr. Antonios Terzis, psicólogo, Supervisor no mestrado desta Universidade.
    Disciplina: Psicoterapia Analítica de Grupos, 1999.
Estudo de Bion sobre Processos de Grupo

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  • 1. BION – Estudo de Processos de Grupo NOELIZA LIMA* Dr. Antonio Terzis** Nascido na Índia em 1897, Wilfred Ruprecht Bion foi estudar na Inglaterra aos 8 anos. Durante a I Guerra Mundial ele serviu na França como comandante de um tanque, recebendo a medalha DSO e a da Legião de Honra. Após estudar História no Queens College, em Oxford, fez medicina na University College, Londres. Então iniciou seu interesse por Psicanálise e tornou-se trainee de John Rickman e mais tarde, de Melanie Klein. Durante os anos 40 seu interesse estava totalmente voltado para o estudo dos processos de grupo. Suas pesquisas culminaram na publicação de uma série de trabalhos publicados na forma de livretos como Experiências em Grupos. Abandonando seu trabalho neste campo em favor da prática psicanalítica, alcançou então a posição de Diretor da London Clinic of Psycho-analysis (1956 a 1962). Foi Presidente da British Psycho-analytical Society (1962 a 1965). Em 1968 trabalhou em Los Angeles, retornando à Inglaterra dois meses antes de sua morte, que ocorreu em 1979. GRUPOS Bion trabalhou como terapeuta de grupos na Clínica Tavistock de Londres, na década de 40 e 50. Sua experiência clínica levou-o a formular uma série de hipóteses e depois uma teoria. Seus estudos se referem à atividade mental que os grupos facilitam nos indivíduos que dele fazem parte. Estabeleceu então leis gerais e específicas dirigidas a cada tipo de configuração grupal. Nos grupos, assim como no indivíduo, existem dois níveis de funcionamento psíquico, inter relacionados entre si: O nível consciente e o nível inconsciente. o Nível Consciente Racional, regido pelo princípio da realidade, caracterizado pelo uso do processo secundário, orientado para a adaptação objetiva a realidade externa. o Nível Inconsciente - Emocional, regido pelo princípio do prazer, caracterizado pelo uso do princípio primário (deslocamento, condensação e deflexão). Orientado para evitar o desprazer. MENTALIDADE GRUPAL É a atividade mental desenvolvida dentro de um grupo. A esta mentalidade cada um dos indivíduos contribui, mesmo não tendo consciência disto. A mentalidade grupal não é a soma, mas a equivalência das demandas individuais. O 'estar em um grupo' re - atualiza as primeiras experiências de: fusão – discriminação, encontro – separação, individualização – massificação, assim como a perda da relação dual primitiva. É a inclusão da triangularidade e a dor edípica pela apreensão da realidade interna e externa, dando lugar à eclosão de intensas torrentes emocionais que podem dificultar a atividade psíquica necessária para a realização das tarefas propostas racionalmente. A este tipo de configuração grupal, regido pela lógica, Bion chamou de grupo de trabalho. CONCEITO DE GRUPO DE TRABALHO
  • 2. No nível consciente as pessoas se unem para a realização de uma tarefa e têm consciência de seus objetivos. Suas atividades se desenvolvem segundo o tempo cronológico, do "aquí e agora", em espaços determinados. Cumprem papéis designados, seguem regras do grupo, são organizados em tempo, espaço e em alguns grupos - hierarquicamente. Os membros se unem em função de objetivos comuns, pela cooperação, estabelecendo-se relações de semelhança, complementaridade e suplementariedade, que levam ao estabelecimento da "sociabilidade por interação", segundo Bleger. GRUPO DE SUPOSTO BÁSICO Os membros de um grupo de trabalho se reúnem para realizar a nível real uma tarefa, mas esta tarefa tem um objetivo latente que é desconhecido. Estão então sujeitos à lei do desejo, de ordem do inconsciente, que é o sentido dado por Freud à "ilusão". É então que os sistemas formais de comunicação são substituídos ao nível inconsciente pelos "supostos, os pre-juízos, e os como se", que constituem a "linguagem de ação". As redes de intercâmbio social são substituídas por comunicações baseadas em identificações projetivas e introjetivas maciças, mecanismos de dissociação, negação, idealização e onipotência. No lugar de papéis e normas específicas, desenvolvem-se relações parciais com objetos parciais, que suscitam intensas ansiedades arcaicas (paranóicas e depressivas, segundo Klein , e confusionais, segundo Bleger, com concomitantes defesas esquizóides). Desta forma, o tempo cronológico cede lugar à atemporalidade própria do inconsciente, tempo do imaginário, desenvolvendo-se entre os membros a sociabilidade sincrética (segundo Bleger). O grupo se conecta por "valência", ou seja, por demandas equivalentes dentro da mentalidade grupal. PRESSUPOSTOS BÁSICOS DE BION Todo grupo simboliza para a pessoa a pertinência, a família primal, sendo então um continente onde surgem reações regressivas de busca e perda de afeto. Os sentimentos mais arcaicos são despertados, vivendo então o grupo os supostos básicos, que são: dependência, luta – fuga e acasalamento. Nunca pode haver mais de um em andamento. Quando um suposto básico predomina, os outros ficam depositados no que Bion chamou de "aparato proto-mental ". Neste sistema o somático e o psíquico são indiferenciados. Quando um processo de aprendizagem desencadeia uma dor (acerca de si mesmo ou do mundo externo), e as defesas do grupo não conseguem mitigar este sofrimento, o sistema proto-mental emitirá sintomas defensivos por parte do corpo e da mente ( acidentes, desmaios, crises epilépticas). Estes acontecimentos serão obstáculos a continuação da tarefa grupal, e serão fonte de ansiedades impossíveis de serem resolvidas pelos "supostos básicos". DEPENDÊNCIA O grupo é a possibilidade da renovação e muito mais que isto. O grupo é o objeto de desejo, a representação do seio bom (Melanie Klein), que sustenta todas as fantasias dos participantes. É um espaço de salvação, e o líder é o Messias que vai levar o grupo a satisfação plena. Sente-se que tudo pode ser realizado, não há medo nem ameaça nenhuma. É um momento de projeção de esperança e satisfação. LUTA – FUGA Crença inconsciente de que a solução dos seus problemas se dará na medida em que consigam evitar o perigo certo proveniente de um objeto persecutório – interno ou externo ao grupo – o qual deverão enfrentar, fugindo ou atacando, liderados por seu terapeuta ou coordenador. Qualquer investimento da libido no grupo, se sentido como mal correspondido, desperta na pessoa a ansiedade de perda e/ou fantasias de perseguição. A solução desejada se apresenta não como uma conquista, mas como a evitação clara da dor, por meio de uma ansiedade baseada em temores paranóides referentes a fantasia de objeto mau. É comum que ocorra este suposto básico após uma situação de total pertinência como no caso
  • 3. da dependência, onde a angústia de ser possuído por alguém mau desencadeia temores de destruição ACASALAMENTO Crença de que o objeto salvador ainda deverá ser criado, e que esta atividade será executada por membros voluntários do grupo, que facilitarão o descanso dos demais, ou então pelo próprio coordenador. A ênfase aquí não é sobre quem trará a salvação, e sim que a solução desejada de fato virá a qualquer momento.Haverá então uma dupla ( de mesmo sexo ou sexo diferente) que produzirá o "grand finale" por meio de uma cópula fecunda, sendo então o restante do grupo os herdeiros e beneficiários do produto final. O desejo se veste de esperança, e o objeto desejado tem características messiânicas. A ansiedade subjacente aparece como a contrapartida do otimismo e se remete a : temor da morte do bebê Messias, temor de mal formação do feto, ansiedade desesperançada frente à pulsão de morte. OUTRAS FORMAS Bion assinala que além das estruturas assinaladas como ‘pressupostos básicos" há outras formas do grupo lidar com ansiedades arcaicas. Refere-se aquí as formas aberrantes dos supostos básicos e as formas duais. Exemplo Enquanto no suposto de dependência o terapeuta é visto como alguém que alimenta o grupo com ensinamentos e acolhida, dando-lhes a chave mágica da cura, a forma "dual" seria o grupo como fonte de alimento para um terapeuta com pouco treino e habilidade. CONCLUSÕES Todos estes tipos de defesas utilizadas buscam evitar o compromisso de auto prover-se no caminho do trabalho, dor, erro e reparação, do alimento necessário para o crescimento físico, psíquico e espiritual. As categorias desagradáveis são vividas como exigências desmedidas e injustas que devem ser evitadas a qualquer custo. Segundo Bion, os pressupostos básicos também se encontram em grupos organizados ou não dnossa sociedade. REFERENCIAS (Contracapa de “Cogitations”, edited by Francesca Bion, Karnac Books, London-New York, 1992) ROUSSEAU, M., Grupo, Esa Posible-Inpossibilidad..., B. Aires, Colección Psicologia y Psicoanalisis, Tekné, 1995, cap. 3º LIMA, N. Bion, Seminários de grupo, supervisão prof. Dr. Antonios Terzis, pós graduação em Psicologia Clínica, PUCCAMP, 1999, mimeo. * Psicóloga, CRP 6/505, trabalho para o mestrado em Psicologia Clínica – PUC-Campinas, 1999. ** Prof. Dr. Antonios Terzis, psicólogo, Supervisor no mestrado desta Universidade. Disciplina: Psicoterapia Analítica de Grupos, 1999.