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Gestão Ambiental e Responsabilidade
 Social Corporativa nas Organizações
Gestão Ambiental e Responsabilidade
 Social Corporativa nas Organizações

                        Rodrigo Berté




                             Curitiba
                               2007
Gestão Ambiental e Responsabilidade
Social Corporativa nas Organizações
Rodrigo Berté
Edição do Autor
Curitiba, 2007
pg. 236
dedicatória




   Dedico esta obra primeiramente a Deus, Pai da infinita
bondade, ao meu pai Otávio Berté (in memorian) por ter de-
dicado a sua vida aos seus filhos e à educação deles. A minha
mãe Irde Araldi Berté, as minhas irmãs Luciane e Emanue-
le, bem como ao meu cunhado Pedro (Neco). Homenagem
esta que estendo aos meus sobrinhos André Berté Busnelo
(in memorian), Maria Clara e Emanuel; ao meu filhinho Rin-
co, que fez com que minha vida melhorasse muito.
  À JUSTIÇA conquistada, na qual acreditamos e por ela lu-
tamos, e cuja Honra foi lavada com lágrimas pelo meu Pai.
agradecimentos




   Agradeço aos meus amigos e colaboradores que nas
horas mais difíceis sempre estiveram presentes: à Cláudia,
Crislaine, Daiane, Diógenes, Dirceu, Edson, Guilherme,
Marlei, Márcia, ao irmão Rodrigo, à tia Zilda, aos amigos
da Petrobrás Transporte S. A, Gilmar, Mário, Tatiane, Laura,
Joice entre tantos que nos motivam a continuar.
    Aos amigos do IBPEX, à Patrícia Fernanda Santos – ana-
lista de informação, Editora, Fatec, Facinter, PUCPR e aos
alunos de pós-graduação por todo esse Brasil.
   À afilhada Letícia Kososki Rocha, ao compadre Maurício
e à comadre Taís.
  Aos amigos que integram a gestão pública administrativa
de Fazenda Rio Grande-PR, na pessoa do Prefeito Toninho.
  E aos que lutam por causas ambientais, amiga Lídia
Lukaski, e tantos outros que buscam salvar o planeta.
  Às crianças, futura geração, um compromisso ambiental
de sustentabilidade.
nota sobre o autor




   Rodrigo Berté nasceu em Colorado-RS, onde passou a
maior parte da sua adolescência. Na juventude mudou-se
com a sua família para Santa Rosa-RS. Graduou-se como
Bacharel em Ciências Biológicas, especializou-se em Bio-
tecnologia e Educação Ambiental, pela FUBRA-DF; em
Clonagem Vegetal, pela PUC-PR; é Doutor em Meio Am-
biente e atualmente está matriculado no curso de Pós-Dou-
torado pela Universidad de León – Espanha, na área do
conhecimento Ciência e Tecnologia Marinha.
   Morou por sete anos no Mato Grosso do Sul, onde exer-
ceu o trabalho de professor de escolas públicas e privadas,
desenvolveu vários trabalhos no Pantanal com comunida-
des ribeirinhas e de fiscalização ambiental, foi concursado
na UEMS – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul,
desenvolveu projetos na área da educação ambiental na
Escola Particular Santa Teresa, em Coxim. Foi perito do Mi-
nistério Público Estadual no Mato Grosso do Sul e no Rio
Grande do Sul.
Atualmente, é secretário do meio ambiente na região me-
tropolitana de Curitiba, em Fazenda Rio Grande-PR, profes-
sor de pós-graduação pelo IBPEX, INFOCO, de graduação
da FATEC e membro de banca de mestrado da UNIVILLE-
SC. É consultor da Petrobrás Transporte S. A – Transpetro,
na unidade de São Francisco do Sul-SC e no Rio Grande do
Sul, membro do parlamento mundial das Ong’s nas Nações
Unidas, professor da rede estadual de ensino nos cursos pós-
médio em meio ambiente e segurança no trabalho.
   Coordenou a implantação da Horta Comunitária no pro-
grama FOME ZERO da Petrobrás e do Governo Federal e
integra o grupo internacional de avaliações de catástrofes
ambientais globais.
   Elaborou e coordenou o projeto Educar e Transformar, em
convênio com o FNDE – Ministério da Educação, na área da
vulnerabilidade social. Integra o Fórum Social do Mercosul e
é vice-presidente do Conselho de Assistência Social.
apresentação




  Chegamos ao ponto de nossa trajetória de ocupação e
de exploração da Terra, em que sua capacidade de suporte
dá mostras inequívocas de esgotamento, sendo urgente a
necessidade de revermos as premissas do crescimento eco-
nômico, tendo em vista o alcance de índices satisfatórios de
desenvolvimento humano e de conservação ambiental.
   Esta obra busca identificar os mecanismos de gestão am-
biental brasileira, suas implicações e a responsabilidade so-
cial. Dividido em doze capítulos com exercícios propostos,
nos quais pretende-se levar o aluno dos cursos de tecno-
logias as praxes empresariais, formando uma corrente de
responsabilidade sócio-ambiental.
   Apresenta um resumo de legislação ambiental pertinente
aos processos licenciatórios, conforme a vocação e deman-
da das organizações. Em cada capítulo haverá um momen-
to de reflexão que aborda temas locais, da sociedade em
geral e a necessidade de formarmos um grande grupo de
pensadores, com visão protecionista na defesa do meio am-
biente, é o que chamamos de Tutela Ambiental.
Segundo Callisto e França*, é preciso, para tanto, que a so-
ciedade torne-se ciente de que o desenvolvimento não deve
mais ocorrer, apesar do ambiente, como se este fosse obstá-
culo, mas em concordância com ele, aproveitando-se ade-
quadamente suas potencialidades, de forma a não exaurir os
recursos naturais. Somente assim será viável a continuidade
e a permanência de nosso processo civilizador.
   Mudar radicalmente nossa concepção de desenvolvimento
é o principal desafio deste século. O conceito de sustentabili-
dade necessita urgentemente ser internalizado nos processos
produtivos e nas condutas cotidianas da sociedade, impondo-
se como condição de governabilidade para todas as nações.
   Para a execução de tamanha tarefa é indispensável à atu-
ação da gestão ambiental e a responsabilidade social, a que
chamamos de gestão sócio-ambiental. Buscar-se-á sensibili-
zar os empreendedores para que possam atingir essa gestão
que é conhecida como: a empresa deve ser socialmente justa
e ambientalmente responsável. A finalidade de tudo isso é
buscar a tão almejada qualidade de vida, garantindo com
isso a sobrevivência do homem no planeta e dos demais se-
res que integram a biosfera, esfera da vida.




                                                                  *CALLISTO;
                                                                  FRANÇA, 2004.
sumário




1	 Gestão ambiental e a responsabilidade social >> 17
   1.1	 Gestão ambiental   >> 17
   1.2	 A questão ambiental   >> 21
   1.3	 Meio social   >> 24
   1.4	 Gestão ambiental como mediação de conflitos   >> 29

2	 Uma prática de gestão participativa >> 39
   2.1	 Problemas e conflitos ambientais   >> 41
   2.2	 Estudo de um problema ambiental e do processo de
        socialização de sua existência   >> 47

3	 Instrumentos de defesa ambiental na
   gestão ambiental >> 71
   3.1	 Geologia ambiental    >> 72

4	 Vulnerabilidade ambiental >> 81

5	 Gestão ambiental em áreas urbanas >> 87

6	 Impactos ambientais >> 95
6.1	 Bioindicadores   >> 96
   6.2	 Métodos geofísicos    >> 99

7	 Estudo de impacto ambiental >> 105
   7.1	   Avaliação de impacto ambiental   >> 106

8	 Instrumentos de proteção ao meio ambiente >> 121
   8.1	 Licenciamento ambiental    >> 121

9	 Áreas degradadas com passivos ambientais >> 135
   9.1	 Tratamento de passivos ambientais      >> 139
   9.2	 PRAD – Plano de Recuperação de Área Degradada     >> 139

10	 Gerenciamento de resíduos >> 147
   10.1	 Saneamento de solos contaminados      >> 147
   10.2	 Desumidificação     >> 148
   10.3	 Recuperação de solventes     >> 148
   10.4	 Pirólise   >> 148
   10.5	 Compostagem     >> 149
   10.6	 Incineração   >> 149

11	 Certificação – série iso >> 157
   11.1	 Órgãos acreditadores e certificadores   >> 159
   11.2	 Definições e termos técnicos na gestão
          ambiental no setor empresarial   >> 161
   11.3	 Rotulagem ambiental    >> 167
Considerações finais >> 179
Referências por capítulo >> 183
Referências >> 185
Apêndices >> 191
Gabarito >> 231
capítulo 1




Gestão ambiental e a responsabilidade social



    Nesta Unidade abordaremos a problemática ambiental do
ponto de vista da relação sociedade-natureza. No primeiro
momento, examinaremos alguns aspectos relevantes desta
relação, oportunidade em que você deverá analisar a ques-
tão ambiental a partir da interação entre os meios social e
físico-natural, com uma abordagem e visão holística e sistê-
mica de mundo.
   Quando pensamos Educação Ambiental na Gestão do
Meio Ambiente, estamos desejando participação dos cida-
dãos, principalmente de forma coletiva na gestão do uso dos
recursos ambientais e nas decisões que afetam a qualidade
do meio ambiente. Como seria complicado e até impossível
viver sem os outros elementos do meio, na verdade estamos
falando de decisões que influenciam, fortemente, a qualida-
de de vida da população humana.


  1.1	   Gestão ambiental

  A gestão ambiental tem por objetivo analisar a questão
do meio ambiente a partir da interação entre os meios social
18    Rodrigo Berté




e físico-natural e identificar os principais aspectos da Ges-
tão Ambiental no Brasil e suas implicações. Neste contex-
to, buscar-se-á o entendimento do sistema nacional do meio
ambiente, o pacto federativo das atribuições estatais e, prin-
cipalmente, uma ampla discussão com a sociedade civil or-
ganizada.
   Os trabalhadores de órgãos de Gestão Ambiental (Prefei-
turas, Órgãos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos
Naturais Renováveis) e militantes de entidades da sociedade
civil, que atuam na área (organizações não-governamentais
– ONG’s ambientalistas, movimentos sociais, associações
comunitárias, entidades de classes etc.) costumam tomar
conhecimento diariamente de agressões e ameaças ao meio
ambiente. De várias formas chegam denúncias e informações
de desmatamento ilegal, aterramento de manguezais, derra-
mamento de óleo no mar, pesca predatória, tráfico de animais
silvestres, lixões, lançamento de esgotos doméstico e indus-
trial sem tratamento no mar e nos rios, destruição das nas-
centes, funcionamento de empreendimentos potencialmente
poluidores sem licença ambiental e outras ocorrências, que
põem em risco a integridade dos ecossistemas e interferem
negativamente na qualidade de vida das populações afeta-
das. Há casos em que os próprios trabalhadores observam as
agressões, no percurso diário de casa para o trabalho.
   Muitas vezes, existe um sentimento de angústia e impo-
tência frente às dificuldades e tamanho dos problemas. Os
técnicos dos Órgãos Públicos convivem com uma série de
dificuldades para agir no cumprimento de Legislação Am-
biental. São obstáculos de toda ordem, que vão desde a falta
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   19



crônica de condições de trabalho (meios materiais, equipe
técnica adequada, recursos financeiros, instalações, acesso
às informações técnicas, apoio da chefia etc.) até a ausência
pura e simples de vontade política dos governantes para tor-
nar o órgão presente e atuante na sociedade.
   Apesar de todos os esforços para vencer as barreiras e “bri-
gar para trabalhar”, muitas vezes os técnicos são rotulados
de corruptos, perseguidores dos “pequenos” (é como ouvir
comentários do tipo “eles não mexem com os grandes”), in-
competentes, omissos e descomprometidos com a causa am-
biental. Diante disso, sentimo-nos incompreendidos e injus-
tiçados, principalmente pelas críticas aos órgãos ambientais
que, em vários casos, não levam em conta as dificuldades e
os esforços dos seus servidores. “De tanto apanhar, tem horas
que dá vontade de desistir” é um discurso comum no meio.
   Quando atuamos em entidades da sociedade civil, depa-
ramo-nos, em muitos casos, tanto com omissão, incapacida-
de e às vezes conivência dos órgãos Públicos, quanto com
indiferença, incompreensão e desinteresse da população
frente a ameaças e agressões ao meio ambiente. Como se
não bastasse, há situações nas quais também as autarquias
não entendem: é o chamado “jogo de empurra”. Um órgão,
quando cobrado para tomar determinada providência, diz
que tal assunto é de competência do outro que, por sua vez,
discordando ou alegando falta de condições, “passa o pro-
blema para frente”, ou “senta em cima” ou, ainda, devolve a
“batata quente” ao remetente. Enquanto isso, nada se resolve
e o agressor vai levando vantagem e a degradação ambiental
vai crescendo cada vez mais. O pior de tudo é que há muitos
problemas ambientais cuja solução exige a participação de
20    Rodrigo Berté




vários segmentos públicos. É o caso de muitas questões da
área costeira, que pelo menos exigem a interferência da Se-
cretaria de Patrimônio da União (gestão dos terrenos de ma-
rinha), IBAMA (gestão ambiental dos bens da União) e Órgão
Estadual de Meio Ambiente (gestão ambiental em área fora
da jurisdição do IBAMA).
   Por outro lado, todos nós sabemos que nos órgãos pú-
blicos há servidores profundamente comprometidos com a
causa ambiental e que na sociedade civil há muitas entida-
des que, mesmo reconhecendo as fragilidades, limitações e
defeitos do nosso serviço público, lutam pelo seu fortaleci-
mento, e buscam o trabalho em parceria, deixando de lado
a competição.
   Afinal, não é possível visualizarmos, numa sociedade de-
mocrática, a prática da gestão ambiental sem a presença do
estado e da sociedade civil. Daí, a convicção de que, no
terreno da gestão ambiental, poder público e sociedade civil
não se opõem, mas se complementam. Portanto, devem tra-
balhar preferencialmente em ações compartilhadas, a partir
de objetivos comuns.
   A esta altura você pode estar pensando que “isto é muito
bom e muito bonito, mas, muito difícil de acontecer na re-
alidade”. Disso eu não tenho dúvidas. Entretanto, nós, tam-
bém, sabemos que há muitos lugares onde a parceria poder
público – sociedade civil acontece. Você já deve ter nota-
do que as questões abordadas até aqui apenas evidenciam
a complexidade da problemática ambiental. O caminho é
buscar modos que contribuam para processos de gestão
ambiental participativos.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   21



   Um trabalho dessa natureza não acontece em um passe
de mágica e não há receita pronta para sua realização. Sua
efetivação exige das pessoas e organizações envolvidas: ob-
jetivos comuns, compromisso com a causa ambiental, trans-
parência, humildade e postura negociadora. Tudo isso é o
que se pode considerar condições necessárias ou condições
para “início de conversa”. Todavia, mesmo que estas condi-
ções estejam estabelecidas, há ainda que considerar a neces-
sidade daqueles diretamente envolvidos nos trabalhos. São
pessoas que precisam, necessariamente, dos conhecimentos
e habilidades para realizarem a tão sonhada parceria poder
público – sociedade civil.


  1.2	   A questão ambiental


   “Era uma vez um grão de onde cresceu uma árvore que foi
   abatida por um lenhador e cortada numa serração. Um marce-
   neiro trabalhou-a a um vendedor de móveis. O móvel foi de-
   corar um apartamento e mais tarde deitaram-no fora. Foi apa-
   nhado por outras pessoas que venderam numa feira. O móvel
   estava lá no adeleiro, foi comprado barato e, finalmente houve
   quem o partisse para fazer lenha. O móvel transformou-se em
   chama, fumo e cinzas. Eu quero ter o direito de refletir sobre
   esta história, sobre o grão que se transforma em árvore que se
   torna móvel e acaba no fogo, sem ser lenhador, marceneiro,
   vendedor, que não vêem senão um segmento da história”1.

   Segundo Quintas2, a chamada questão ambiental diz res-
peito aos diferentes modos pelos quais a sociedade, através
dos tempos, se relaciona com o meio físico-natural. O ser hu-
mano sempre dependeu dele para garantir sua sobrevivência
e em nenhum momento de sua história, a humanidade viveu
22    Rodrigo Berté




sem o auxílio desse meio. O seu uso, como base material de
sustentação da existência humana, bem como as alterações
decorrentes desse uso são tão antigas quanto a própria pre-
sença do homem no planeta Terra.
    Podemos relacionar a questão ambiental a partir dos mo-
delos de gestão ambiental, pelos quais o homem e a natureza
passam por uma mudança radical de múltiplas visões: uma
vem do antropocentrismo, ou seja, homem, ser supremo, so-
bre as demais espécies e seres; a outra que defendo é uma
visão de biocentrismo na qual homem e natureza encontram-
se no mesmo nível com as suas relações e inter-relações igua-
litárias, o que comprova a afirmação de Quintas.
   Conforme Quintas3, da relação (em diferentes épocas e lu-
gares) dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural
emerge o que se denomina de meio ambiente. Diferente dos
mares, dos rios, das florestas, da atmosfera, que não necessi-
taram da ação humana para existir, o meio ambiente precisa
do trabalho dos seres humanos para ser construído e recons-
truído e, portanto, para ter existência concreta. Não existe
meio ambiente sem o trabalho dos seres humanos.
   É evidente que o meio ambiente passou por uma transfor-
mação de ordem humana. As cidades, as metrópoles, são
consideradas ecossistemas artificiais, ou seja, criados pelo
homem, mas não deixam de ser um local de interações do
homem com a natureza, mesmo modificada. Esse meio físi-
co-natural abordado por Quintas comprova o fato de que a
gestão ambiental não é um problema de administração das
relações do homem com a natureza, mas um processo de
constante mudança nos paradoxos sócio-ambientais pela
qual a essa relação necessita urgentemente de uma ruptura.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   23



  Reflexão

   Além de água doce, do ar, do solo que você deve ter in-
dicado, por serem imprescindíveis à manutenção da vida,
existem outros recursos ambientais que funcionam como
base material para atividades econômicas (pesca, maricultu-
ra, turismo, transformação de produtos florestais, cerâmica,
artesanato, etc.), na área de sua atuação?
   Segundo Quintas e Oliveira4, por tudo isso, afirma-se que
meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e
assim indissociáveis. Na medida em que o ser humano é parte
integrante da natureza, e ao mesmo tempo ser social e, por con-
seqüência, detentor de conhecimentos e valores socialmente
produzidos ao longo do processo histórico, tem ele o poder de
atuar permanentemente sobre sua base natural de sustentação
(material e espiritual), alterando suas propriedades, e sobre o
meio social provocando modificações em sua dinâmica.
   Como integrante da natureza, esse ser social citado ante-
riormente detém o conhecimento como ferramenta capaz de
modificar essa ordem sócio-ambiental. Passa por um proces-
so de transformação dos valores e competências na qual o
sujeito integra ao meio ambiente e modifica conforme a sua
própria necessidade.
   Conforme Quintas e Oliveira5, no processo de transforma-
ção do meio ambiente, de sua construção e reconstrução
pela ação coletiva dos seres humanos – são criados e re-
criados modos de relacionamento da sociedade com o meio
natural (homem-natureza) e no seio da própria sociedade
(homem-homem). Ao se relacionar com a natureza e com
outros homens, o ser humano produz cultura evidenciada
24       Rodrigo Berté




por suas manifestações, ou seja, cria bens materiais, valores,
modos de fazer, de pensar, de perceber o mundo, de intera-
gir com a própria natureza e com os outros seres humanos,
que constituem o patrimônio cultural construído pela huma-
nidade ao longo de sua história.
   Os autores ainda relatam que a concepção de que a ques-
tão ambiental diz respeito à relação sociedade-natureza não
é suficiente para direcionar um processo de análise e reflexão
que permita a compreensão deste relacionamento em toda
a sua complexidade. É necessário, ainda, assumir-se que a
construção do conhecimento sobre esta relação se realiza
sob a ótica dos processos que ocorrem na sociedade. Isso
significa que a chave do entendimento da problemática am-
biental está no mundo da cultura, ou seja, na esfera da totali-
dade da vida em sociedade. Contudo, não se está afirmando
que o conhecimento do meio físico-natural não seja impor-
tante para uma compreensão da problemática ambiental. É
mais do que importante, é fundamental para verificarmos
as implicações da ação do homem no meio natural, para
o próprio meio e para o meio social. Afinal, são as práticas
do meio social que determinam a natureza dos problemas
ambientais que afligem a humanidade. É neste contexto que
surge a necessidade de se praticar a Gestão Ambiental.


  1.3	      Meio social

  Agora que ficou claro, que são práticas do meio social que
produzem mudanças (positivas ou negativas) na qualidade
do meio ambiente, é necessário entender um pouquinho
como é este tal de meio social. Para isso é preciso dar uma
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   25



olhada nele “por dentro”. Feito isso, logo se descobre que o
meio social não é homogêneo. Da mesma forma que falamos
em biodiversidade quando nos referimos ao ambiente físico-
natural, também, podemos falar em “sócio-diversidade” para
caracterizar o meio social. Observado pela ótica de sua or-
ganização, nele podemos encontrar atores sociais na esfera
da sociedade civil e do estado, que passam a ter existência a
partir de variadas motivações (interesses, valores, necessida-
des, aspirações, ocupação do mesmo território, etc.).
   Na sociedade civil são encontrados, como atores sociais,
sindicatos (trabalhadores e patrões), federações, (trabalha-
dores e patrões) centrais sindicais, partidos políticos, grupos
organizados por gênero (mulheres), por geração (terceira ida-
de, jovens), por etnia (negros, índios, descendentes de imi-
grantes, etc.), associações (moradores, profissionais, assisten-
ciais, produtores, etc.) congregações religiosas (terreiros de
candomblé e de umbanda, católicas, evangélicas, espíritas,
etc.), clubes, blocos carnavalescos, escolas de samba, enti-
dades ambientalistas, cooperativas, empresas (rurais, comer-
ciais, industriais, etc.), bancos, comunidades de determinada
localidade sem organização formal (rua, povoado, vila, bair-
ro, etc.), movimentos sociais e outras formas que as pessoas
inventam para se agrupar e agir no mundo real.
  No caso da esfera estatal, os atores sociais são instâncias
dos poderes públicos, assim constituídos:
  ·· Executivo (União, Estados e Distrito Federal, e Municí-
     pios);
  ·· Legislativo (Câmara dos Deputados, Senado Federal,
     Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores);
26      Rodrigo Berté




     ·· Judiciário (Federal e Estadual).
   No Poder Executivo estão os órgãos que compõem as ad-
ministrações públicas federal, estadual e municipal (Ministé-
rios, Secretarias, Institutos, Fundações, Autarquias, Empresas
Públicas, Ministérios Públicos, etc.) das quais fazem parte
aqueles integrantes do SISNAMA – Sistema Nacional do
Meio Ambiente. Neste Universo, é bom lembrar a existência
dos Ministérios Públicos (Federal; dos Estados; e do Distrito
Federal e Territórios), que têm desempenhado um papel fun-
damental na proteção do meio ambiente do país.

  FIGURA 1.3.1 – Sistema nacional do meio ambiente – SISNAMA




                               MMA


                              IBAMA
                                           SIS
                        A M




                                              NA
                       NA




                                                 M
                    SIS




                                               A




                               SEMA


                               OCA



   Segundo Santos6, uma outra evidência da heterogeneidade
do meio social são os conflitos sociais e políticos que ocor-
rem no seu cotidiano. Os autores Bobbio, Matteucci e Pas-
quino7 afirmam que conflito (social e político) é uma forma
de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coleti-
vidades que implica choques para o acesso e a distribuição
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   27



de recursos escassos. Obviamente, o Conflito é apenas uma
das possíveis formas de interação entre indivíduos, grupos,
organizações e coletividades. Uma outra forma possível de
interação é a cooperação.
   Na tomada de decisão percebe-se que a sociedade, de
uma forma geral, gera conflitos a partir de interesses pessoais
que eventualmente tornam-se coletivos. É claro que, quando
a sociedade é organizada, prevalecerá o interesse da maioria,
caso em que os mesmos dependerão de fatos motivadores,
a exemplo uma eleição, ou uma grande obra com inúmeros
impactos ambientais.
   Conforme Santos8, de acordo com este entendimento,
todo conflito tem como objeto a disputa de algum tipo de
recurso escasso. No caso de uma eleição, exemplo de um
conflito político, as organizações (partidos políticos) intera-
gem disputando recursos escassos (cargos de Presidente da
República, Governador, Prefeito, Deputados, etc.). Nas si-
tuações de conflitos fronteiriços entre dois países, a disputa
é geralmente pelo controle do território e a interação entre
eles pode se efetivar por via pacífica (negociação) ou por
meio da violência (guerra). Em um campeonato de futebol,
em uma luta de boxe, em uma Olimpíada, ou mesmo numa
partida de futebol, os recursos escassos em disputa são tí-
tulos, medalhas classificações, etc. Via de regra, o controle
dos recursos escassos está associado ao poder, à riqueza e
ao prestígio. Também, na área ambiental, a idéia de conflito
está associada ao controle de recursos que hoje sabe-se que
são limitados e não podem ser usados indiscriminadamente.
São eles os recursos ambientais cujo uso intensivo tem pro-
28      Rodrigo Berté




vocado tanto a sua escassez quanto o comprometimento da
qualidade ambiental.
  À época em vivemos encontramos uma série de campa-
nhas que motivam a sociedade para evitar o desperdício, a
era do reutilizar, do reciclar, do dar destinação adequada,
de evitar certos consumos e identificar os produtos que pos-
suem uma melhor qualidade de vida.
   Conforme Santos9, um outro aspecto importante a ser con-
siderado, quando se analisa conflitos sociais e políticos, é ter
em mente que eles são inerentes à própria existência do meio
social. Não se tem notícia de sociedade sem conflitos. De
acordo com Quintas e Gualda10, a sociedade não é lugar da
harmonia, mas, sobretudo, o lugar dos conflitos e confrontos
que ocorrem em suas diferentes esferas (da política, da eco-
nomia, das relações sociais, dos valores, etc.). Para Bobbio,
Matteucci e Pasquino11:

     ”um Conflito social e político pode ser suprimido, isto é, bloqueado
     em sua expressão pela força, coercitivamente, como é o caso de
     muitos sistemas autoritários e totalitários, exceto o caso em que se
     reapresente com redobrada intensidade num segundo tempo. A su-
     pressão é, contudo, relativamente rara. Assim como, relativamente
     rara, é a plena resolução dos Conflitos, isto é, a eliminação das cau-
     sas, das tensões, dos contrastes que originaram os conflitos (quase
     por definição, um Conflito social não pode ser resolvido)”.


   Visto que não se pode acabar com conflitos no meio so-
cial, segundo estes autores, “o processo ou a tentativa mais
freqüente é o proceder à sua regulamentação, isto é, à formu-
lação de regras aceitas pelos participantes, que estabelecem
determinados limites aos conflitos. A tentativa consiste não
em pôr fim a eles, mas regulamentar suas formas de modo
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   29



que suas manifestações sejam menos destrutivas para todos
os atores envolvidos. O ponto crucial é que as regras devem
ser aceitas por todos os participantes e, se mudadas, devem
ser mudadas por recíproco acordo. Quando um conflito se
desenvolve segundo regras aceitas, sancionadas e observa-
das, há a sua institucionalização”. Dessa forma, a disputa
pelo uso e acesso aos recursos ambientais, é um conflito
institucionalizado, quando ela ocorre segundo as regras que
estão estabelecidas na legislação ambiental.


  1.4	 Gestão ambiental como mediação de conflitos

   A Constituição Federal de 1988, art n. 22512, ao consagrar
o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito
de todos, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade
de vida, atribuiu a responsabilidade de sua preservação e de-
fesa não apenas ao Poder Público, mas também à coletivida-
de. Em suma, a essencial qualidade de vida para a geração
presente sem comprometer a geração futura.
   Segundo Brinckmann13, entretanto, mesmo conferindo à
coletividade, também, a obrigação de proteger o meio am-
biente, a Constituição de 1988 fez do poder público o princi-
pal responsável pela garantia a todos os brasileiros, do direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para isso, ela
determina sete incumbências para assegurar a efetividade
desse direito. Mas, a mesma sociedade (coletividade) que
deve ter assegurado o seu direito de viver num ambiente que
lhe proporcione uma sadia qualidade de vida, também preci-
sa utilizar os recursos ambientais para satisfazer suas necessi-
dades básicas. E, como sabemos, não é possível vida digna e
30    Rodrigo Berté




saudável sem o atendimento a estas necessidades. De acordo
com Quintas14, na vida prática, o processo de apropriação e
uso dos recursos ambientais não acontece de forma tranqüi-
la. Há interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre
atores sociais, que atuam de alguma forma sobre os meios
físico-natural e construídos, visando o seu controle ou sua
defesa e proteção.
   Como principal responsável pela proteção ambiental no
Brasil, cabe ao poder público, por meio de suas diferentes
esferas, intervir neste processo, de modo a evitar que os inte-
resses de determinados atores sociais (madeireiros, empresá-
rios de construção civil, industriais, agricultores, moradores,
etc.) provoquem alterações no meio ambiente que ponham
em risco a qualidade de vida da população.
   Segundo Quinta15, gestão ambiental, portanto, é vista aqui
como o processo de mediação de interesses e conflitos (po-
tenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre
os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, con-
forme determina a Constituição Federal.
   Uma relação de conflito entre a sociedade é conhecida
a partir de um processo de degradação ambiental, ou seja,
quando a qualidade de vida é comprometida, vem o direito
explicitado na Constituição Federal art. 225 na qual garante o
restabelecimento do meio ambiente degradado, evitando os
conflitos entre sociedade e poder público. O poder público,
neste caso, como gestor da qualidade de vida.
  Conforme Quintas16, como mediador principal deste pro-
cesso, o poder público é detentor de poderes e obrigações
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   31



estabelecidos na legislação, que lhe permitem promover des-
de o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais
(incluindo a criação de incentivos fiscais na área ambiental)
até a reparação e a prisão de indivíduos pelo dano ambiental.
Neste sentido, o poder público estabelece padrões de quali-
dade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa
atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a
ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e
gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano am-
biental pelo agente causador, promove o monitoramento, a
fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações
necessárias ao cumprimento da sua função mediadora.
   A atribuição dada ao poder público como gestor do meio
ambiente e da qualidade de vida, mensurada anteriormente,
necessita de uma mudança radical de estruturas efetivando e
garantido o direito que a sociedade tem a um ambiente eco-
logicamente equilibrado (Constituição Federal art. 225). Esse
exercício de poder e direitos contemplados, eleitos para o po-
der público na gestão ambiental, requer uma visão estratégica
e planejada com o intuito de preservar, cada vez mais, as áre-
as protegidas e condicionar nos casos de infração e penalida-
des ambientais a imediata reparação do dano pelo infrator.
    De acordo com Quintas17, por outro lado observa-se, no
Brasil, que o poder de decidir e intervir para transformar o
ambiente (ou mesmo para evitar sua transformação), seja ele
físico, natural ou construído, e os benefícios e custos dele (do
uso do poder) decorrentes, estão distribuídos socialmente e
geograficamente na sociedade, de modo assimétrico. Por se-
rem detentores de poder econômico ou de poderes outor-
gados pela sociedade, determinados atores sociais possuem,
32    Rodrigo Berté




por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar
direta ou indiretamente na transformação (de modo positi-
vo ou negativo) da qualidade do meio ambiental. É o caso
dos empresários (poder do capital); dos políticos (poder de
legislar); dos juízes (poder de condenar e absolver etc); dos
membros do Ministério Público (o poder de investigar e acu-
sar); dos dirigentes de órgãos ambientais (poder de embargar,
licenciar, multar); jornalistas e professores (poder de influen-
ciar na formação da “opinião pública”); agências estatais de
desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de in-
fra-estrutura) e de outros atores sociais cujos atos podem ter
grande repercussão na qualidade ambiental e, conseqüente-
mente, na qualidade de vida das populações.
   Se o papel dos atores sociais com a garantia dada pelo Di-
reito Constitucional no exercício pleno da cidadania, acredito
que as relações entre os gestores do meio ambiente, neste
caso, o poder público constituído e a sociedade civil organi-
zada, com plenos poderes de denunciar, opinar e julgar no
caso estatal, teremos a certeza e a garantia de que o meio
ambiente violado do seu direito seja recuperado.
   Conforme Quintas18, entretanto, esses atores, ao tomarem
suas decisões, nem sempre levam em conta os interesses e
necessidades das diferentes camadas sociais direta ou indi-
retamente afetadas. As decisões tomadas podem representar
benefícios para uns, prejuízos para outros. Um determinado
empreendimento pode representar lucro para empresários,
emprego para trabalhadores, conforto pessoal para morado-
res de certas áreas, votos para políticos, aumento de arreca-
dação para Governos, melhoria da qualidade de vida para
parte da população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   33



para outros empresários, desemprego para outros trabalha-
dores, perda de propriedade, empobrecimento dos habitan-
tes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição at-
mosférica e hídrica, desagregação social e outros problemas
que caracterizam a degradação ambiental.
   Neste caso, a sociedade civil deve ter pleno acesso às in-
formações de empreendimentos com vistas a causas e con-
seqüências da instalação ou não, sendo que a mera descul-
pa de geração de emprego poderá no futuro, conforme o
empreendimento, neste caso, potencialmente poluidor, gerar
um problema social quando este sofrer uma penalização do
poder público. É importante que a sociedade construa fóruns
permanentes de discussões temáticas sobre o seu entorno e
as inter-relações dela com o meio.
    Segundo Quintas19, portanto, a prática da gestão ambien-
tal não é neutra. O estado, ao tomar determinada decisão
no campo ambiental, está de fato definindo quem ficará, na
sociedade e no país, com os custos e quem ficará com os
benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele,
físico, natural ou construído. Daí a importância de se praticar
uma gestão ambiental participativa. Somente assim é possí-
vel se avaliar custos e benefícios de forma transparente.

  Reflexão

   Você conhece comunidades da sua região que sofreram
impactos ambientais? Sabe a razão dos impactos? Existem
unidades de conservação na região onde você atua? Você
lembra quais são? Você sabe quais são os órgãos públicos
responsáveis por elas?
34    Rodrigo Berté




           Síntese

   Em se tratando de gestão ambiental e responsabilidade
social o que abordou o capítulo, entende-se que o referido
processo podemos denominar de ecologização da adminis-
tração pública, na qual vem aumentando nestas duas últimas
décadas, mas ainda permanece uma visão pré-ambientalista,
pré-sustentalista, em parte pela falta de uma internalização
dessa cultura institucional nova, e porque o modelo de ad-
ministração atual é menos profissional e mais político. Os
ministérios, assim como as secretarias, tanto no governo es-
tadual como municipal, são loteamentos políticos e há uma
necessidade urgente de mudar essa conjuntura. A reforma
não ensejou o novo pacto federativo. O que se tem são ainda
desenhos precários. A área de gestão ambiental e a respon-
sabilidade social ainda explicita essa incompletude do pacto
mais do que outras, pois tem por vocação a ordenação do
território e do desenvolvimento.


           Atividades


1)	 Relacione as colunas:
     a)	 Questão Ambiental
     b)	 Meio Social
     c)	 Gestão Ambiental como mediação de conflitos
     I	      A união entre ser humano e meio físico-natural re-
             sulta no próprio meio ambiente.
     II	     Para entender é preciso dar uma olhada “por den-
             tro”, descobrindo assim que não é homogêneo.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   35



     III	 Como não se pode acabar com os conflitos, o pro-
          cesso ou a tentativa mais freqüente é o proceder à
          regulamentação.
     IV	 Processo de mediação de interesses e conflitos entre
         atores sociais que agem sobre o meio físico-natural.
     V	    Produzem mudanças tanto positivas como negati-
           vas na qualidade do meio ambiente.
     VI	 A Constituição de 1988 fez o poder público o prin-
         cipal responsável pela garantia a todos os brasilei-
         ros, do direito ao meio ambiente ecologicamente
         equilibrado.
     VII	 Diferença de métodos em que a sociedade, ao lon-
          go do tempo, interage com o meio físico-natural.
     VIII	 Não é neutra, é participativa, pois somente assim
           é possível avaliar custos e benefícios de forma
           transparente.
     IX	 A relação sociedade-natureza não é suficiente para
         direcionar um processo de análise e reflexão que
         permita uma compreensão.


2)	 Ao referir-se à questão ambiental, assinale (V) para as
    proposições verdadeiras e (F) para as falsas:
     I	    A chave do entendimento da problemática am-
           biental está no mundo da cultura, ou seja, na esfe-
           ra da totalidade da vida em sociedade. Não esque-
           cendo do meio físico-natural que também possui
           um papel na vida em sociedade.
     II	   Em toda a história, a humanidade nunca precisou
           do auxílio do meio físico-natural.
36    Rodrigo Berté




     III	 O ser humano, detentor de conhecimentos e valo-
          res socialmente produzidos ao longo do processo
          histórico, tem o poder de atuar permanentemente
          sobre sua base natural de sustentação, alterando
          suas propriedades.
     IV	 Na ação coletiva dos seres humanos são criados e
         recriados modos de relacionamento da sociedade
         com o meio social e cultural (meio físico) e no seio
         da própria sociedade (homem-natureza).
     V	    A chave do entendimento da problemática am-
           biental está no mundo da cultura, ou seja, na esfe-
           ra da totalidade da vida em sociedade. Afirmando
           assim, que o meio físico-natural não é importante
           para a compreensão da problemática ambiental.


3)	 Em relação ao meio social, conforme os itens acima, po-
    demos afirmar:
     a)	 Somente as alternativas I e II são verdadeiras;
     b)	 Somente as alternativas I, III e IV são verdadeiras;
     c)	 Somente as alternativas II e III são falsas;
     d)	 Somente as alternativas II e III são verdadeiras;
     e)	 Somente as alternativas III, IV e V são falsas.


4)	 Marque a(s) alternativa(s) incorreta(s):
     a)	 É responsabilidade da coletividade e do poder pú-
         blico preservar e defender o meio ambiente para
         as presentes e futuras gerações.
     b)	 Apesar de ser responsabilidade pela proteção e
         defesa ambiental no Brasil, o poder público não
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   37



           pode intervir em processos que provoquem alte-
           rações no meio ambiente que coloque em risco a
           qualidade de vida da população.
     c)	 O poder público é detentor de poderes e obriga-
         ções estabelecidas na legislação.
     d)	 As decisões dos atores sociais sempre levam em
         conta os interesses e necessidades das diferentes
         camadas sociais direta ou indiretamente afetadas.
     e)	 As decisões dos atores sociais levam em conta os
         interesses e necessidades de uma mesma camada
         social direta e representando só benefícios.


5)	 Com base na Gestão Ambiental e Responsabilidade So-
    cial é correto afirmar que:
     a)	 São práticas do meio social que determinam a
         natureza dos problemas ambientais que afligem a
         humanidade, surgindo assim uma necessidade de
         se praticar a Gestão Ambiental.
     b)	 No caso da esfera estatal, os atores sociais são ins-
         tâncias dos poderes públicos, como o Executivo
         que compreende a União, Estados, Senado Fede-
         ral, Municípios, Câmara de Vereadores.
     c)	 A sociedade é um lugar de harmonia, com conflitos
         e confrontos que ocorrem em diferentes esferas.
     d)	 Um conflito social e político pode ser bloquea-
         do em sua expressão pela força, coercitivamente,
         como é o caso de muitos sistemas autoritários e
         totalitários.
38   Rodrigo Berté




     e)	 No Brasil, o poder de decidir e intervir para trans-
         formar o ambiente (ou evitar a transformação) seja
         ele físico, natural ou construído, e os benefícios e
         custos dele (de uso do poder) decorrentes, estão
         distribuídos socialmente e geograficamente na so-
         ciedade de modo assimétrico.
capítulo 2




Uma prática de gestão participativa


  A gestão participativa relacionada com as questões am-
bientais vai muito além de discussões, fóruns sociais ou do
meio acadêmico. Há uma mudança nos paradigmas onde a
sociedade busca a mobilização com a finalidade de alcan-
çar objetivos em diferentes esferas do poder. Este capítulo
tem como objetivo levar os alunos dos cursos de tecnologia
experiências a partir de uma situação problema, apontando
causas e suas conseqüências restabelecendo o ambiente de-
gradado através da mobilização da sociedade.
   Quem atua no campo ambiental sabe da dificuldade das
pessoas em visualizarem as causas e conseqüências relacio-
nadas com a ação humana no meio ambiente. Conforme
Quintas1, o processo de contaminação de um rio, por exem-
plo, muitas vezes está distante dos indivíduos no espaço (os
lançamentos dos dejetos são feitos muitos quilômetros rio
acima do lugar onde a pessoa mora) e no tempo (começou
há muitos anos e ninguém lembra quando). Para complicar,
este processo não apresenta um efeito visível e imediato (a
água não muda de gosto e nem de cor, mas pode estar con-
taminada com metal pesado, por exemplo).
40    Rodrigo Berté




   Um outro complicador é a tendência das pessoas em as-
sumir uma idéia de que certos recursos ambientais são infini-
tos. É comum ouvir que um grande rio jamais vai secar (até
que fique visível a diminuição do volume de suas águas) ou,
ainda, que uma floresta tão imensa não vai acabar ou que
os peixes continuarão abundantes todos os anos, até que a
realidade mostre o contrário.
   A postura do “sou igual a São Tomé, só acredito vendo”
provoca um imenso desafio para a Educação Ambiental: a
necessidade de desenvolver atitudes preventivas na nossa so-
ciedade frente às questões ambientais.
   A outra dificuldade para as pessoas se envolverem com as
questões ambientais está na sensação de impotência frente
a elas. A ocupação desordenada do litoral, que resulta em
destruição de dunas, aterramento de mangues, expulsão das
comunidades, e privatização de praias, por exemplo, envolve
grandes interesses de grupos econômicos e políticos e faz o
indivíduo se sentir “pequenininho”, frente ao poder dos ato-
res sociais responsáveis pela degradação daquele ambiente.
   Em razão da complexidade da questão ambiental, é que
há necessidade dos processos educativos proporcionarem
condições para as pessoas adquirirem conhecimentos, ha-
bilidades e desenvolverem atitudes para poderem intervir de
forma participativa em processos decisórios que implicam a
alteração, para melhor ou pior, da qualidade ambiental.
  Nesse sentido, após a realização das atividades programa-
das, você passa a dominar um instrumento que lhe facilite
caracterizar um problema ambiental e envolver outras pes-
soas na sua discussão. Isto quer dizer que, a partir de um
problema ambiental observado, você deverá:
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   41



  a)	 Identificar os principais atores sociais envolvidos e suas
      formas de organização.
  b)	 Relacionar os efeitos sobre o meio físico-natural com
      ameaça à qualidade de vida dos grupos sociais afetados.
  c)	 Identificar o posicionamento da comunidade envolvida
      ou afetada.
  d)	 Identificar os aspectos da legislação ambiental federal
      relacionados ao problema e as possibilidades de sua
      utilização pelo órgão ambiental e por organizações da
      sociedade civil.
  e)	 Aplicar procedimentos que facilitem a participação dos
      diferentes segmentos sociais no seu estudo (do proble-
      ma), bem como na difusão dos resultados encontrados.
   Provavelmente, no seu dia-a-dia, você tem lidado com a
maioria dos conteúdos abordados aqui. Na verdade, o que
faremos será uma sistematização, uma forma mais clara de
se visualizar o problema como um todo. Além disso facilitar
a nossa compreensão, possibilita o envolvimento de outras
pessoas para estudarem o problema. O ideal é que esta ati-
vidade seja realizada em grupo (colegas dos vários órgãos
ambientais que atuam no local e de ONG’s, se existirem),
para que haja a possibilidade da socialização dos resultados
desde o início. Caso não seja possível, a tarefa poderá ser
cumprida individualmente.


  2.1 Problemas e conflitos ambientais

   No processo de apropriação e uso dos recursos ambien-
tais, estão sempre em jogo interesses da coletividade, cuja
42    Rodrigo Berté




responsabilidade pela defesa é do poder público, e interesses
específicos de atores sociais que, mesmo quando legítimos,
nem sempre coincidem com os da coletividade.
   Estes atores sociais podem possuir grande capacidade para
influir (a seu favor) nas decisões dos órgãos de meio am-
biente, sobre a destinação dos recursos ambientais, seja pela
via da pressão política direta, seja por meio da divulgação à
sociedade sobre a importância econômica e social do seu
empreendimento (geração de empregos é um dos fortes ar-
gumentos), ou pelas duas formas.
   A disputa pelo controle de qualquer recurso escasso é pró-
prio da natureza da sociedade. Portanto, o importante é que
o órgão de meio ambiente, no exercício de sua competência
mediadora, proporcione condições para que os diferentes ato-
res sociais envolvidos tenham oportunidade de expor a outros
e ao conjunto da sociedade, os argumentos que fundamen-
tam a posição de cada um, quanto à destinação dos recursos
ambientais em disputa. As audiências públicas surgem como
elemento de transição entre os conflitos gerados e a autono-
mia de cada cidadão participativo e fomentando a cidadania.
   Entretanto, entre os envolvidos, há aqueles que dispõem
de conhecimentos e habilidades sobre a problemática em
discussão (os empreendedores, por exemplo), que lhes per-
mitem argumentarem a seu favor. Ao mesmo tempo, há ou-
tros que, apesar de afetados pelas decisões (por exemplo,
comunidades costeiras, no caso da construção de um porto),
não têm acesso aos conhecimentos e habilidades necessárias
para poderem defender seus interesses. Em muitas situações,
caso tais interesses sejam contrariados, este fato ameaça a
própria sobrevivência da comunidade envolvida.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   43



   A experiência dos educadores tem mostrado que uma fer-
ramenta importante para compreender a complexidade da
questão ambiental, é o “estudo de caso”, no qual o caso pode
ser um problema, conflito ou potencialidade ambiental. Em
virtude do pouco tempo disponível, trabalharemos somente
com a análise de problemas ambientais. Entretanto, o roteiro
adotado para o estudo de problemas e socialização do seu
resultado poderá, com alguma adaptação, ser utilizado no
estudo de conflitos e potencialidades ambientais.

    O que é um problema ou conflito ambiental? Ou
    melhor, o que nós aqui chamaremos de problema
    ou conflito ambiental? Há diferença entre os dois?


   O termo problema, no nosso dia-a-dia, assume vários sig-
nificados. Quando alguém fala de um problema financeiro,
em geral está se referindo a idéias do tipo falta de dinheiro,
dificuldades de pagar contas, etc. Da mesma forma, se uma
pessoa fala de um problema de saúde, pode estar queren-
do transmitir a idéia de risco ou ameaça (esta doença pode
deixar fulano sem poder andar pelo resto da vida), de dano
temporário ou permanente ao organismo (tal enfermidade
deixou fulano com o pulmão comprometido para o resto da
vida; a fratura deixou sicrano sem poder usar a mão direita
por uns tempos, etc.). Há também casos, em que o termo
está associado ao desafio de realizar uma tarefa prática (o
problema da construção de uma ponte) e, ainda, há muitos
outros sentidos.
  Como pessoas envolvidas com o campo da gestão do meio
ambiente, quando usamos o termo problema ambiental, tam-
44    Rodrigo Berté




bém, atribuímos a ele vários sentidos. Ao usar este termo em
nossas falas, podemos estar nos referindo a dificuldades (o
problema da fiscalização em alto mar), a carência (o pro-
blema da falta de embarcações para fiscalizar em alto mar),
a tarefas práticas (o problema da criação de uma Unidade
de Conservação) ou a outros significados. Estaremos enten-
dendo problema ambiental como “aquelas situações onde
há riscos e/ou dano social/ambiental, mas, não há nenhum
tipo de reação por parte dos atingidos ou de outros atores da
sociedade civil face ao problema”2.
  De acordo com esta concepção emergem os problemas
ambientais nos quais destacamos: a ameaça ou extinção de
espécies da fauna e da flora; lixões; desmatamentos; rios e
águas subterrâneas contaminadas por metais pesados, cho-
rume, esgotos domésticos e industriais, agrotóxicos etc.; uso
de agrotóxicos; contaminação de praias; poluição do ar; e
outras formas de poluição.

  Reflexão

   Apesar dos problemas administrativos dos órgãos ambien-
tais (falta de pessoal, de recursos materiais e financeiros, etc.)
influírem negativamente na qualidade ambiental, aqui eles
não são considerados problemas ambientais.
  Em termos, além de ser uma situação na qual se observa
dano e/ou risco à qualidade de vida das pessoas (em decor-
rência da ação de atores sociais sobre os meios físico-natural
e/ou construído), o problema ambiental caracteriza-se tam-
bém, pela ausência de qualquer tipo de reação dos atingidos
ou de outros atores sociais, face a sua existência. Segundo
Carvalho e Scotto3 “são freqüentes os casos onde existe ape-
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   45



nas uma construção técnico-científica do problema – exa-
mes de laboratório concluem que o rio está contaminado por
metais pesados, por exemplo. Outras vezes, há sugestões de
solução ou de encaminhamento para uma ação de governo,
ou seja, uma política ambiental”. Evidentemente, condutas
do tipo sugerir solução ao governo não podem ser caracte-
rizadas como uma ação contrária (reação) àquela que está
provocando risco e/ou dano ao meio ambiente.
   É como se a existência de um esgoto a céu aberto, que um
dia foi rio, se transformasse num fato tão banal no cotidiano
da comunidade, que as pessoas passassem a aceitar o seu
mau-cheiro, o seu mau aspecto e o risco de contaminação por
doenças transmitidas por vetores diversos, como algo “nor-
mal”. O fato do rio contaminado “estar lá”, parece que não in-
comoda, não interessa, ou seja, não “mexe” com as pessoas.
   Diferente do problema ambiental, o conflito ambiental é
aqui entendido como “aquelas situações onde há confronto
de interesses representados por diferentes atores sociais, em
torno da utilização e/ou gestão do meio ambiente”4.
   De saída, o conflito ambiental ocorre porque atores sociais
reagem em defesa dos seus interesses, pela utilização e/ou
gestão dos recursos ambientais. É o caso de moradores que
se organizam para evitar a reativação de um aterro sanitário
ou a construção de um incinerador de lixo pela Prefeitura;
de pescadores que contestam o período de defeso decretado
pelo IBAMA e exigem participar da elaboração de sua Porta-
ria; de grupos ambientalistas se mobilizando para contestar a
construção de uma hidrelétrica, de uma estrada; de seringuei-
ros do Acre, que nos anos 1970 impediram a transformação
46    Rodrigo Berté




da floresta em pastagens, em defesa de sua potencialidade, e
conseguiram a criação de Reservas Extrativistas pelo Gover-
no Federal; de grandes fazendeiros de soja que lutam pela
construção de uma hidrovia, que vai facilitar o escoamento
de sua produção; e de outros atores sociais que se organizam
para lutarem por seus interesses, ou da coletividade.
  Portanto, podemos dizer que muitos conflitos ambientais
envolvem um problema ambiental, mas nem todo problema
ambiental envolve um conflito.
   Estabelecida a diferença entre problema e conflito ambien-
tal, vamos praticar agora o modo de proceder a sua análise e
de envolver o maior número de pessoas na sua discussão. A
idéia é que as pessoas, durante o processo de estudo do pro-
blema ambiental, percebam os danos e/ou riscos e se motivem
para participar do encaminhamento de sua solução. Assim,
partindo-se do exame de um problema ambiental, espera-se
atingir o estágio de conflito ambiental institucionalizado.
  Em muitos casos, é necessário que aconteça uma situação de
conflito explícito na sociedade civil, entre atores que represen-
tam interesses coletivos e atores que defendem interesses priva-
dos, para que o Poder Público perceba a existência de dano e/
ou risco ao meio ambiente e tome as providências cabíveis.

     Como você pode notar, um conflito ocorre quando
     atores sociais tomam consciência de dano e/ou risco
     ao meio ambiente, se mobilizam e agem no intuito
     de interromper ou eliminar o processo de ameaça.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   47



  2.2	 Estudo de um problema ambiental e do
       processo de socialização de sua existência
  O caso de destinação do óleo lubrificante queimado

  Um problema ambiental muito presente no nosso dia-a-
dia e, que poucas pessoas têm conhecimento e noção de
sua gravidade (provavelmente somente os especialistas) é “o
pepino” da destinação do óleo lubrificante queimado.
   Por ser usado nos carros de todos os tipos, o óleo lubrifi-
cante queimado é um personagem que só aparece para uma
pessoa, quando ela vai a um posto de gasolina e faz a troca
de óleo. Nessa hora, quando é retirado do motor pelo fun-
cionário do posto, acredito que raramente alguém pergunta
ou se pergunta, para onde vai aquele “óleo vencido”, que
“não presta mais”. Como todas as pessoas que têm carro,
periodicamente, também, eu vou a um posto de gasolina fa-
zer a troca de óleo. Até ler a matéria abaixo jamais tinha me
perguntado para onde o óleo queimado ia e qual o seu efeito
sobre o meio ambiente.

  O óleo e o mico: o triste fim do lubrificante queimado

   Os óleos lubrificantes básicos são obtidos diretamente
   a partir do petróleo bruto ou então são reciclados a
   partir de óleos já usados, aos quais adicionam-se obri-
   gatoriamente, aditivos especiais, altamente poluentes
   (antioxidantes, anticorrosivos, dispersantes, antides-
   gastantes, antiespumantes, reguladores de viscosida-
   de, etc.). Quando utilizados, contaminam-se ainda
   mais com poluentes diversos, como metais pesados,
   por exemplo. Portanto, quando se dirige um carro, ca-
48     Rodrigo Berté




     minhão, ônibus, não se está lançando apenas gases e
     até fumaça (particulados) no ambiente, mas utilizando,
     passivamente, poluentes altamente tóxicos na lubrifica-
     ção forçada das peças metálicas do motor. Essas peças
     fatalmente se desgastam, somando então mais conta-
     minantes perigosos aos componentes dos aditivos.
     Esse óleo contaminado (óleo vencido), importante re-
     curso econômico para uma nação e não um lixo qual-
     quer, que você substitui por “óleo novo” (rerrefinando
     ou não), tem três destinos bem diversos. Um deles
     é a queima, geralmente descontrolada, em caldeiras
     industriais, podendo dar a sua contribuição negativa
     à atmosfera (5 litros podem conter até 20 gramas).
     O outro é o econômico e ecologicamente correto, o
     rerrefino. Por fim, o outro tipo de destino é o simples
     descarte no meio ambiente, tremendo desperdício.
     Só para se ter uma noção quantitativa do problema, que
     normalmente escapa até ao mais fanático “ecólogo-de-
     passeata”, a PETROBRÁS, através de seu relatório “Rer-
     refino de óleos no Brasil”. Araújo (1992), aponta uma
     situação dramática, conforme estimativa a seguir, em
     números redondos (dados atualizados em 1997):
     Deste total disponível no Brasil somente 1/3 é coleta-
     do, contra mais de 2/3 em países civilizados. A Ale-
     manha coleta quase todo o seu óleo usado.
     O agravante dessa situação fica, portanto, por conta
     do volume não coletado para o processamento do
     rerrefino, conforme determina a legislação. Segundo
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações                  49




      estudos e dados disponíveis no Sindicato Nacional da
      Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais, o volume
      não coletado é mais de 246 milhões de litros.(...)

Fonte: CUSTÓDIO, F. N. O Óleo e o Mico: o triste fim do lubrificante queimado. A Folha do Meio
Ambiente. Brasília: Cultura Viva Editora, ano 10, n. 99, nov. 1999.



  Após ler a matéria, um grupo de 3 jovens estudantes do
Ensino Médio (2º grau) ficaram bastante preocupados com
o destino dado pelos postos de gasolina de um determina-
do município brasileiro ao “óleo vencido” que eles recolhem
quando fazem a sua troca.
   O município está situado na área litorânea e em seu terri-
tório há grande extensão de praias margeadas por coqueirais
e vegetação de mata atlântica, inclusive próximo ao perí-
metro urbano. Em várias praias encontram-se pequenos nú-
cleos populacionais que vivem da atividade pesqueira e da
lavoura de subsistência.
  A sede do município está localizada na margem do rio
que desemboca no mar. Na foz forma-se um extenso man-
guezal, onde está instalada uma comunidade com cerca de
500 habitantes que vivem basicamente da pesca e da cata
do caranguejo.
   Por estar localizada na área do Projeto de Desenvolvimento
Turístico do Estado, o município foi incluído entre aqueles be-
neficiados com a implantação de saneamento básico (abaste-
cimento de água e esgoto), construção de hospital, postos de
saúde, coleta de lixo e obras de infra-estrutura viária (pavimen-
tação de ruas, iluminação pública, construção de calçadões na
beira do rio, de acesso às praias e à rodovia litorânea, etc.).
50    Rodrigo Berté




   Após a ligação com a rodovia litorânea, a comunicação
por via terrestre, do município com a capital e com o resto
do país ficou bastante facilitada. Com a estrada, foi criada
uma linha de ônibus diária entre a sede do município e a ca-
pital, permitindo que uma viagem, que anteriormente demo-
rava até dois dias, seja realizada, atualmente, em oito horas.
   Com o asfalto, cresceu bastante o fluxo turístico, que qua-
se duplica a população em um município na época de alta
estação. Com o turismo, a economia local, principalmente
na alta estação, ficou bastante dinamizada. Neste processo
surgiram hotéis, pousadas, loteamentos para residências de
praia, bares, quiosques e várias outras atividades econômi-
cas, até então desconhecidas na cidade. Com o turismo tam-
bém cresceu o número de Postos de Gasolina na Sede do
município, e nas suas redondezas.

  2.2.1	    Por onde começar

  Conversando sobre o problema da destinação do óleo
queimado, os jovens se perguntaram: o que fazer?

     “Deixar pra lá” ou denunciar a alguma autoridade?
     Mas qual a autoridade? O Delegado de Polícia, o
     Juiz, o Promotor, o Prefeito, o Órgão de Meio Am-
     biente do Estado, do Município? O IBAMA?


 Alguém lembrou que não existia órgão de meio ambiente
municipal e que as representações do órgão estadual e do IBA-
MA ficam na capital, a cerca de 600 quilômetros de distância.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   51



   Resolveram, então, antes de qualquer outra ação, procurar
alguns professores do colégio em que suas aulas têm mos-
trado preocupação com o meio ambiente. Os professores
de Química, Biologia, História e Geografia se interessaram
pelo problema (também não tinham “se tocado”) e entraram
na discussão do que fazer e por onde começar. Concluíram
que não adiantaria procurar as autoridades antes de saberem
como “a coisa” acontece por ali. Por onde começar?
   Mas como fazer isto, se todos têm pouco tempo para se
dedicar? Os jovens estudam, ajudam seus pais, os professores
dão aulas em dois turnos e têm as suas famílias. Combinou-
se que, primeiramente, todos procurariam indagar nos postos
de gasolina do município (cerca de 10), da “forma mais natu-
ral possível”; o que eles faziam com o “óleo vencido”, depois
da troca dos carros.
   Constatou-se que todos jogavam o óleo queimado no rio,
diretamente ou pela rede de esgoto pluvial. A maioria não sa-
bia que o óleo poderia ser vendido na capital para ser refina-
do novamente e nem tinha noção do risco que ele representa
para a saúde das pessoas e para o ambiente. Um único dono
de posto conhecia a possibilidade de vender o óleo vencido
para ser refinado e reutilizado. Porém, achava que a pouca
quantidade coletada semanalmente (média de 200 litros) não
dava para pagar o valor do frete do transporte, por caminhão
tanque. Ele também não tinha lugar para armazenar mais do
que 300 litros de óleo, e por isso, tinha que fazer seu despejo
no rio toda semana.
  A partir daí, resolveram atrair mais gente para discutir o
problema. Ficou acertado que cada um tentaria trazer o má-
52     Rodrigo Berté




ximo de amigos para uma reunião no fim de semana, na qual
os jovens fariam uma apresentação, sobre o que, até então,
se sabia do problema.
   Na reunião, além dos quatro professores e dos três jovens,
compareceram 10 estudantes entre moças e rapazes. Após
a apresentação dos dados publicados na Folha do Meio
Ambiente e da informação sobre o modo como é feito o
descarte do óleo pelos postos de gasolina do município, o
grupo passou a discutir uma linha de ação para conseguir
interromper o processo de contaminação das águas do rio.
Os professores sugeriram que fosse feito um estudo de caso,
com a realização de uma análise mais detalhada possível da
situação. Porém, foi consenso no grupo que o estudo de caso
seria um meio (instrumento) para a elaboração coletiva do
conhecimento sobre o problema e sua solução.
   Por isso, previu-se a realização das duas tarefas iniciais,
deixando-se a definição das outras para o futuro, quando se
teria a participação de outros atores sociais. Na execução da
primeira tarefa, tentaria-se identificar os atores sociais direta-
mente atingidos pelo problema, o modo como eles são afeta-
dos, a situação deles em termos de organização e, ainda, os
riscos e/ou danos visíveis, sobre o meio físico natural. Na ou-
tra, o desafio seria encontrar estratégias para envolver estes
atores no processo de busca de solução para o problema.
   Neste momento todo esforço está em se obter as melhores
respostas possíveis para perguntas do tipo:


     Quem são os afetados pelo descarte do óleo queima-
     do? Como vivem? Onde vivem? De que vivem? De
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   53




   que modo o problema ameaça a qualidade de vida
   dos afetados (saúde, economia, renda, lazer, etc.)?
   Estas pessoas estão formalmente organizadas? Estão
   iniciando ou reiniciando algum tipo de organização
   formal? Mesmo não possuindo organização formal,
   apresentam outros tipos? (grupos de oração, rodas
   de samba, grupos de dominó, grupo de elaboração e
   conserto de instrumentos de trabalho, grupo respon-
   sável pela festa de Padroeiro ou Padroeira, etc.).


    Portanto, a primeira fase do trabalho seria fazer a iden-
tificação dos atores sociais diretamente atingidos pelo pro-
blema, do modo como são afetados, da situação deles em
termos de organização, bem como dos riscos e/ou danos vi-
síveis sobre o meio físico-natural. Inicialmente, discutiu-se o
que caracterizaria um ator social como diretamente afetado
pelo lançamento do óleo queimado no rio.
   Alguns sugeriram que, em princípio, todas as pessoas que
usassem de alguma forma o rio em locais abaixo (a jusante)
do ponto de lançamento do óleo, como as praias e o man-
guezal da foz, sofreriam os efeitos do seu descarte. Outros
ponderaram que este critério não diferenciava, por exemplo,
quem tomava banho de vez em quando no rio ou nas praias,
de quem consumia diariamente a água, os peixes, o caran-
guejo e as ostras. Havia, ainda, o caso dos que consumiam
os produtos pesqueiros eventualmente (turistas, por exemplo)
e aqueles que dependiam da sua extração para sobreviver
(alimentando-se e/ou comercializando).
54    Rodrigo Berté




     Como fazer? Definiu-se, então como atores sociais
     diretamente afetados aqueles que tivessem sua saú-
     de (pelo uso constante dos produtos contaminados)
     e/ou sua situação econômica sob ameaça, em de-
     corrência do descarte do óleo queimado no rio.


   Com este critério, excluiu-se os usuários de água encana-
da (a captação é feita acima dos pontos de lançamento), os
eventuais freqüentadores das praias e consumidores dos pro-
dutos pesqueiros obtidos no mangue e em outros pontos da
foz. Definido o critério, o grupo decidiu identificar os lugares
de lançamento do óleo queimado e, partindo do ponto de
descarte mais distante da foz descer o rio até ela e, ainda,
visitar a comunidade situada na sua desembocadura.
   Em conversas com vários moradores da comunidade da
foz, o grupo ficou sabendo que, de vez em quando, os pes-
cadores observam peixes e caranguejos mortos, manchas de
óleo na água e árvores do mangue com “cara de que está
morrendo”. Eles comentaram, ainda, que às vezes notam um
“gosto esquisito” nas ostras, caranguejos e peixes.
  Disseram ainda, que na época “de muito turista” aparecem
mais caranguejos e ostras com gostos esquisitos. Várias vezes
os donos dos quiosques (que compram o peixe, caranguejo
e ostras dos pescadores) se queixaram que, ao cozinharem
caranguejo e ostras, notaram óleo na água e um gosto ruim
neles. Por conta disso, os donos dos quiosques ameaçaram
comprar peixe, caranguejo e ostra em outros municípios
mesmo sabendo que serão mais caros. Em razão disso, os
pescadores estão indo pescar cada vez mais longe da foz
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   55



(demora mais e é muito arriscado com nossos barcos pe-
quenos, dizem eles) e os catadores cada vez entrando mais
mangue adentro (cansa muito e demora mais). Perguntados
a partir de quando começaram a notar as mudanças, vários
moradores disseram que “foi de uns anos para cá”.
  O médico do posto de saúde do povoado (atende duas
vezes por semana) apesar de já ter ouvido comentários so-
bre o assunto não observou nenhuma doença na população
que pudesse associar ao consumo de alimentos contaminado
com óleo queimado.
   Visitaram o padre que desenvolve no salão paroquial, várias
atividades com idosos, casais, mulheres e jovens, ele também
disse já ter ouvido comentários sobre o problema, mas não ti-
nha noção de sua gravidade. Se dispôs a colaborar com o gru-
po na mobilização dos moradores, oferecendo, inclusive, o
salão paroquial para as reuniões de discussão do problema.
  Retornando à sede do município, os jovens se dividiram
em dois grupos e visitaram os donos dos quiosques situados
nas praias urbanas e das pousadas. Todos ficaram preocupa-
dos quando ficaram sabendo do problema. Lembraram de ter
ouvido turistas e moradores comentarem que se sujaram de
óleo quando tomavam banho nas praias próximas da cidade.
Entretanto, não desconfiando da verdadeira razão, atribuíam
a presença do óleo aos navios que, de vez em quando, viam
no horizonte. Os comerciantes também comentaram que
“então é por isto que de vez em quando se encontra óleo na
água onde os caranguejos e as ostras são cozidos”.
 O grupo não detectou nenhum tipo de organização for-
mal entre os moradores da comunidade, donos de quios-
56    Rodrigo Berté




ques e de pousadas. Também não foi observado qualquer
processo indicativo de início ou reinício de organização
destes atores sociais.

  2.2.2	    Estratégia para o envolvimento dos atores sociais
            diretamente afetados

   Após conhecer os atores sociais diretamente afetados, o
grupo (estudantes e professores) discutiu qual seria a melhor
estratégia para o envolvimento deles nas próximas etapas do
trabalho. Todos concordaram que, caso os atores diretamente
atingidos pelo óleo queimado não se motivassem a defender
seus interesses, ficaria muito difícil sensibilizar outros atores so-
ciais para participarem da busca de solução para o problema.
   Os estudantes e professores, levando em conta a diferen-
ça entre os grupos de comerciantes (donos de pousada e
quiosques) e a comunidade de pescadores, planejaram fazer
uma reunião na cidade com o pessoal das pousadas e dos
quiosques, e uma reunião no salão paroquial com os mora-
dores da foz. Antes da marcação das reuniões definiu-se que
seria feita uma consulta rápida a alguns donos de quiosques
e de pousadas, e ao padre da comunidade da foz sobre o dia
e horário mais conveniente para os participantes. No caso
do grupo de comerciantes, seria solicitado que alguns deles
sugerissem o local e ajudassem na divulgação da reunião,
visitando as pousadas e quiosques em conjunto com alguns
estudantes e professores em seus horários disponíveis. O gru-
po de professores e estudantes tinham clareza de sendo um
trabalho voluntário, sua execução teria de ser feita, de acor-
do com a disponibilidade de horário de todos os envolvidos
(inclusive eles).
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   57



   No caso da comunidade da foz, combinou-se que parte
do grupo, em conjunto com o padre, visitaria no domingo
(dia de folga dos pescadores) casas de pessoas, cujas opi-
niões são respeitadas na comunidade. O padre também se
prontificou a avisar sobre a reunião durante a missa.
  Os comerciantes elegeram cinco pessoas (entre donos de
pousadas e de quiosques) e os moradores da foz dez (pen-
sando em se revezarem) para se integrarem ao grupo de es-
tudantes e professores, formando o que eles chamaram de
“grupão”. Estas pessoas, além de atuarem no ”grupão”, de-
veriam manter seu grupo de origem informado sobre todas
as atividades programadas e mobilizado para participar da
realização delas.

  2.2.3 Os próximos passos

   A primeira tarefa do “grupão” foi definir os próximos pas-
sos. Todos concordavam sobre a importância de se conversar
com os donos dos postos de gasolina. Apesar de responsáveis
diretos pelo problema, a opinião geral era de que estes em-
presários não tinham consciência da gravidade de seus atos.
  Acharam que era hora de expor o problema ao promotor
de justiça, ao juiz de direito e ao prefeito do município, visto
não haver na região nenhum órgão que tratasse especifica-
mente do meio ambiente para se recorrer.
   Resolveram também conversar com o representante da Or-
dem dos Advogados do Brasil (OAB), no município, para que
a entidade proporcionasse assessoramento sobre os aspectos
legais da questão durante os encontros com os donos dos
postos e com as autoridades. Na conversa com os advogados
58      Rodrigo Berté




da OAB ficou claro que tanto os postos quanto a prefeitura
estavam descumprindo a legislação ambiental.
  Aplicação da Lei.
  No caso dos postos, poderiam ser enquadrados:
  a)	 no Art. 14 da Lei Federal n° 6.938/815:

     “Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, es-
     tadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à
     preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela
     degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:

     I – à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no míni-
     mo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis
     do Tesouro Nacional – ORTNs, agravada em casos de reincidência
     específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança
     pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Ter-
     ritórios ou pelos Municípios;

     IV – à suspensão de sua atividade.

     §1º - Sem obter a aplicação das penalidades previstas neste artigo,
     é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa a
     indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e tercei-
     ros, efetuados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos
     Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil
     e criminal por danos causados ao meio ambiente”.


  b) no Art. 54 da Lei 9605/986:

     “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem
     ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a
     mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:

     Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa.

     §2º - Se o crime:
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   59



   IV – dificultar ou impedir o uso público das praias;

   V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqüidos ou gasosos,
   ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exi-
   gências estabelecidas em leis ou regulamentos:

   Pena – reclusão, de um a cinco anos”.
   Verificou-se, também, que os postos estavam descumprin-
do a Resolução CONAMA 09/937 que estabelece, entre ou-
tros:

   Art. 3º - “Ficam proibidos:

   I – quaisquer descartes de óleos lubrificantes usados em solos, águas
   superficiais, subterrâneas, no mar territorial e em sistemas de esgoto
   ou evacuação de águas residenciais;

   II – qualquer forma de eliminação de óleos lubrificantes usados que
   provoque contaminação atmosférica superior ao nível estabelecido na
   legislação sobre proteção ao ar atmosférico”.

   Art. 10 – “Obrigações dos receptores de óleos lubrificantes usados:

   I – alienar o óleo lubrificante contaminado regenerável exclusiva-
   mente para o coletor ou rerrefinador autorizado;

   II – divulgar, em local visível ao consumidor, a destinação discipli-
   nada nesta Resolução, indicando a obrigatoriedade do retorno dos
   óleos lubrificantes usados e locais de recebimento;

   III – colocar, no prazo de 60 (sessenta) dias, a partir da publicação
   desta Resolução, à disposição de sua própria clientela, instalações ou
   sistemas, próprios ou de terceiros, para troca de óleos lubrificantes e
   armazenagem de óleos lubrificantes usados;

   IV – reter e armazenar os óleos usados de forma segura, em lugar
   acessível à coleta, em recipientes adequados e resistentes a vaza-
   mentos, no caso de instalações próprias”.
60     Rodrigo Berté




   Já a prefeitura, como órgão responsável pelo “Licenciamen-
to ambiental de empreendimentos e atividades de impacto
ambiental local” (art. 6º da Resolução CONAMA 237/978),
no caso dos postos de gasolina, deveria ter exigido deles,
como “receptores de óleos lubrificantes”, o cumprimento dos
art. 3º e 10º da Resolução CONAMA 09/93. O prefeito, por
ter se omitido (a prefeitura não tem órgão de meio ambien-
te), pode ser enquadrado na Lei dos Crimes Ambientais, que
estabelece em seu Art. 68:

     “Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de
     cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:
     Pena – detenção, de um a três anos, e multa”.


   O grupo, acrescido por representantes da OAB, teve um
encontro com o representante do Ministério Público Estadual
(promotor de justiça) em que expôs todo o problema e suas
conseqüências para a qualidade ambiental.
  O promotor explicou que, como se tratava de dano ao
meio ambiente, o Ministério Público (MP) poderia propor
uma Ação Civil Pública que, pela Lei 7.347/859, “poderá ter
por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer” (art. 3º).
  Na situação exposta, o MP poderia desde logo propor
uma ação cautelar na própria comarca, objetivando inter-
romper as atividades dos postos até que se provasse que ti-
nham resolvido a questão conforme determina a Resolução
CONAMA nº 09/93.
  De posse das informações coletadas, o grupo foi conversar
com o prefeito, chamando atenção para a importância de a
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   61



prefeitura se envolver na solução do problema, considerando
que cabe a ela o licenciamento ambiental para o funciona-
mento dos postos de gasolina. O prefeito esclareceu que não
tinha idéia da gravidade do problema do descarte do óleo
queimado e muito menos que cabia à prefeitura a responsa-
bilidade pelo licenciamento ambiental para funcionamento
de postos de gasolina. Pensou que a prefeitura tinha obriga-
ção apenas de conceder os Alvarás de Construção e de Fun-
cionamento, de acordo com o Plano Diretor do Município.
Declarou que estava disposto a tomar todas as providências
de responsabilidade da prefeitura. Entretanto, antes de apli-
car a legislação, declarou que gostaria de buscar uma solu-
ção negociada com os donos de postos, com a participação
de todos os envolvidos e afetados. Ficou acertado que ele
convocaria os proprietários de postos para uma reunião na
prefeitura, com o “grupão”, a OAB e o MP, com o objetivo de
solucionar a questão da forma mais rápida possível.
   Após o encontro com o prefeito, o “grupão”, em conjunto
com a OAB, fez uma avaliação das atividades e concluiu que
era hora de fazer uma “prestação de contas” aos comercian-
tes afetados e aos moradores da comunidade da foz e discu-
tirem também os próximos encaminhamentos.
  Na ocasião, levantaram-se as indagações:


   O que se exigirá dos donos dos postos? Como nos
   organizamos para evitar (poder público e sociedade
   civil) outros problemas ambientais? Que atividades
   devem ser desenvolvidas para que a preocupação
   com o meio ambiente não seja passageira? Que ou-
62     Rodrigo Berté




     tros atores sociais da esfera da sociedade civil e do
     estado devem ser envolvidos nesta nova fase para se
     ampliar e manter permanentemente a discussão sobre
     a problemática ambiental do município? Como apro-
     veitar o momento para fazer isso?


   O que tivemos foi uma situação problema idealizada e
montada com objetivos didáticos. Como sabemos, a situação
vivida é mais complexa do que a situação pensada. Entretan-
to, isso não invalida o exercício, que, longe de explorar toda
riqueza da complexidade do mundo, não deixa de fornecer
elementos importantes para a prática de uma gestão ambien-
tal que aposta na ação da cidadania com o antídoto ao clien-
telismo político, à corrupção, ao descompromisso e muitos
outros males que afetam o nosso serviço público.
  Nessa Unidade, apresentamos, por meio de um estudo de
caso, alguns procedimentos que podem facilitar seu traba-
lho no sentido de instaurar processos participativos de ges-
tão ambiental. Devido ao tempo disponível, não foi possível
aprofundar e ampliar conceitos, princípios e metodologias
(Pesquisa-ação, Pesquisa-participante, etc.) necessários ao
desenvolvimento de processos educativos com comunidades
de diferentes contextos culturais no Brasil.
   Esta prática configura o que a equipe de educadores do
IBAMA denomina Educação no Processo de Gestão Am-
biental, ou Educação Ambiental, ou Educação Ambiental na
Gestão do Meio Ambiente. Seu objetivo é proporcionar con-
dições para produção e aquisição de conhecimentos e habi-
lidades e o desenvolvimento de atitudes, visando à participa-
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   63



ção individual e coletiva, tanto na gestão do uso dos recursos
ambientais, quanto na concepção e aplicação de decisões
que afetam a qualidade dos meios físico-natural e social.
    Pela sua complexidade, a prática da Educação no Processo
de Gestão Ambiental exige profissionais especialmente habi-
litados para esse fim.
   Finalmente, ao se falar em Educação no Processo de Ges-
tão Ambiental, não nos referimos a outra Educação Ambiental,
mas a uma prática que, inspirando-se nas Orientações da Con-
ferência de Tbilisi10 “a primeira conferência intergovernamental
sobre educação ambiental, convocada pela UNESCO – Or-
ganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura, o marco da educação ambiental”, vem se produzindo
no espaço da gestão ambiental desenvolvida pelo IBAMA.
   É habitual se encontrar em documentos oficiais, nacionais
e internacionais, inclusive na lei que dispõe sobre a Política
Nacional de Educação Ambiental, a denominação de Edu-
cação Ambiental não-formal para processos educativos pra-
ticados fora do currículo escolar. Definir a galinha como a
ave que não é pato não diz nada sobre ela. Podemos saber
tudo sobre patos, mas por esta definição, continuamos não
sabendo nada sobre galinhas. Do mesmo modo, podemos
conhecer bastante sobre Educação Ambiental Formal, mas
continuamos ignorando o que qualifica a chamada Educação
Ambiental não-Formal.
  Concordando com a afirmação de que “negar o que um
objeto é” não é a melhor forma de caracterizá-lo, preferimos
qualificar nossa prática a partir do espaço em que ela se pro-
duz: o da Gestão Ambiental.
64    Rodrigo Berté




        Síntese

   A mobilização social tem ganhado um espaço nos conse-
lhos, sejam eles municipais, estaduais ou federais. É a garan-
tia do pleno exercício de cidadania, na qual a organização
destes grupos encontra soluções para os problemas que são
comuns, de ordem coletiva e não individual. Um exemplo
neste capítulo foi a luta de uma comunidade em relação à
destinação de óleo combustível. Neste contexto aparecem
os conselhos do meio ambiente em que, a exemplo do Con-
selho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, há a afetiva
participação da sociedade na elaboração de resoluções que
buscam uma melhor qualidade de vida. Por fim, acredito que
os governos que se dizem de esquerda, populares, não po-
dem deixar de usar plenamente os mecanismos de participa-
ção popular e transparência que estão disponíveis.


        Atividades


1)	 Em razão da complexidade ambiental, ocorre a necessi-
    dade dos processos educativos proporcionarem condi-
    ções para as pessoas adquirirem conhecimentos, habi-
    lidades e desenvolverem atitudes para poderem intervir
    de forma participativa em processos decisórios. Após
    a realização das atividades programadas, você passa a
    dominar um instrumental que facilite caracterizar um
    problema ambiental e envolver outras pessoas na sua
    discussão. Isso quer dizer que, a partir de um problema
    ambiental observado, você deverá:
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   65



     I	     Identificar os principais atores sociais envolvidos e
            suas formas de identificação.
     II	    Relacionar os efeitos sobre o meio físico-natural
            com ameaça direta à qualidade cultural e esporti-
            va dos grupos afetados.
     III	 Identificar o posicionamento dos atores sociais en-
          volvidos afetados.
     IV	 Aplicar procedimentos que facilitem a participa-
         ção dos diferentes atores sociais no seu estudo,
         bem como na difusão dos resultados.
  Com base nos dados acima, podemos informar:
     a)	 Somente as alternativas I e II estão corretas.
     b)	 Somente a alternativa IV é correta.
     c)	 Somente a alternativa II é incorreta.
     d)	 Somente a alternativa IV é incorreta.
     e)	 Todas as alternativas estão corretas.


2) Relacione as colunas:
     a)	 Problema Financeiro.
     b)	 Problema de Saúde.
     c)	 Problema.
     d)	 Problema Ambiental.
     e)	 Conflito Ambiental.
     f)	    Audiências Públicas.
     g)	 Estudo de Caso.
66    Rodrigo Berté




     I	    Pode ser um problema, conflito ou potencialidade
           ambiental.
     II	   Idéia do tipo falta de dinheiro, dificuldades de
           pagar contas.
     III	 Dificuldade na criação de uma Unidade de Con-
          servação.
     IV	 Proporciona condições para que diferentes atores
         sociais envolvidos tenham oportunidade de expor
         a outros atores sociais, argumentos que fundamen-
         tam a posição de cada um.
     V	    Transmite a idéia de risco ou ameaça de doença.
     VI	 Desafio de realizar uma tarefa prática.
     VII	 Dificuldades em fiscalização, como por exemplo,
          em alto mar.
     VIII	 Situação onde há confronto de interesses repre-
           sentados por diferentes atores sociais, em torno da
           utilização e/ou gestão do meio ambiente.
     IX	 Compreende a complexidade da questão ambiental.
     X	    Difícil de explicar ou resolver. Questão de dúvida.
     XI	 Dano temporário ou permanente ao organismo.


3)	 Relacione A para Problemas Ambientais, B para Confli-
    tos Ambientais e C para as alternativas que não se refe-
    rem a A ou B.
     I	    Rios e águas subterrâneas contaminados por me-
           tais pesados, chorume, esgoto doméstico e indus-
           triais, etc.
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   67



     II	   Organização para evitar a reativação de um aterro
           sanitário.
     III	 Criação de uma Unidade de Conservação.
     IV	 Responsabilidade individual e social com as nos-
         sas atitudes.
     V	    Pescadores contestando o período de defeso de-
           cretado pelo IBAMA, exigindo participar da elabo-
           ração da Portaria.
     VI	 Ameaça ou extinção de espécies da fauna e da
         flora.
     VII	 Compromisso com a construção do desenvolvi-
          mento sustentável, em uma perspectiva presente e
          futura.
     VIII	 Elaboração de um Plano de Gerenciamento de Re-
           síduos Sólidos.
     IX	 Poluição do ar e poluição sonora.
     X	    Atores sociais que se organizam para lutarem por
           seus interesses.
     XI	 Uso de agrotóxicos; contaminação de praias.
     XII	 Mobilização de grupos ambientalistas para contestar
          a criação de uma hidrelétrica, de uma estrada, etc.
     XIII	 Criação de Decreto Municipal, através da Câmara
           de Vereadores.
     XIV	 Comprometimento com os direitos humanos, de-
          mocracia, paz, justiça e amor.


4)	 Um problema muito presente no nosso dia-a-dia e, que
    poucas pessoas têm conhecimento e noção de sua gra-
68    Rodrigo Berté




     vidade é o “pepino” da destinação do óleo lubrificante
     queimado. Este é um personagem que só aparece para
     uma pessoa, quando ela vai a um posto de gasolina e
     faz a troca do óleo. Com base no texto acima, e seus
     conhecimentos assinale a(s) alternativa(s) correta(s):
     a)	 A única maneira de se obter o óleo lubrificante
         básico é a partir do petróleo bruto.
     b)	 Quando utilizados, os óleos lubrificantes contami-
         nam-se ainda mais com poluentes diversos, como
         metais pesados, por exemplo.
     c)	 Um destino para o óleo contaminado é o rerrefino,
         além de ser econômico é ecologicamente correto.
     d)	 O rerrefino de óleos no Brasil aponta uma situ-
         ação dramática, do total disponível no Brasil so-
         mente 2/3 é coletado, contra mais de 3/2 em pa-
         íses civilizados.
     e)	 O rerrefino de óleos no Brasil aponta uma situação
         dramática, do total disponível no Brasil somente 1/3 é
         coletado, contra mais de 2/3 em países civilizados.
     f)	   Segundo estudos e dados disponíveis no Sindicato
           Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Mine-
           rais, o volume não coletado de óleo é mais de 256
           milhões de litros.


5)	 Na aplicação da Lei para postos, verificamos que:
     I	    No art.14 da Lei Federal n° 6.938/81 o não cum-
           primento das medidas necessárias à preservação
           ou correção dos inconvenientes e danos causados
           pela degradação da qualidade ambiental sujeitará
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   69



         os transgressores à multa simples ou diária e/ou
         suspensão de sua atividade.
   II	   No art.54 da Lei Federal n° 6.938/81 causar polui-
         ção de qualquer natureza em níveis tais que resul-
         tem ou possam resultar em danos à saúde humana,
         ou que provoquem a mortandade de animais ou a
         destruição significativa da flora: pena – reclusão
         de um a quatro anos, e multa.
   III	 No art. 3° da Resolução CONAMA n° 09/1992
        ficam proibidos quaisquer descartes de óleos lu-
        brificantes usados em solos, águas superficiais,
        subterrâneas, no mar territorial e em sistemas de
        esgoto ou evacuação de águas residenciais.
   IV	 No art. 10 da Resolução CONAMA n° 09/1992 os
       receptores de óleos lubrificantes usados tem obri-
       gações de reter e armazenar os óleos usados de
       forma segura, em lugar acessível à coleta, em reci-
       pientes adequados e resistentes a vazamentos, no
       caso de instalações próprias.
Com as informações acima, é correto afirmar:
   a)	 Somente as alternativas I e III estão corretas.
   b)	 Somente as alternativas I e IV estão corretas.
   c)	 Somente as alternativas I e II estão incorretas.
   d)	 Todas as alternativas estão incorretas.
   e)	 Todas as alternativas estão corretas.
capítulo 3




Instrumentos de defesa ambiental na
gestão ambiental



   Neste capítulo conheceremos os instrumentos de defesa
ambiental que tem por objetivo estabelecer um elo entre o
meio ambiente degradado e a sua reparação. Serão apresen-
tados técnicas e mecanismos aplicados nas diferentes áreas
do conhecimento integrando diferentes conteúdos de forma
interdisciplinar.
   A Geologia aplicada integra o conhecimento geológico
para a solução de problemas. Flawn1 define Geologia Am-
biental como o ramo da Ecologia que trata das relações entre
o homem e seu habitat geológico; ela se ocupa dos proble-
mas do homem com o uso da terra – a reação da terra a
este uso. O autor afirma que a Geologia Ambiental inclui os
ramos tradicionais da Geologia de Engenharia e da Geologia
Econômica, ou uma pequena parte desta última, referente
aos recursos minerais.
  A consolidação da Geologia Ambiental no Brasil se deu
nas décadas de 1960 e 1970, em razão de suas atividades
de construção de barragens e obras viárias de grande porte.
Nos anos 1980, embora haja desaceleração da construção
de grandes obras de engenharia, crescem as preocupações
72          Rodrigo Berté




com os impactos ambientais intensificando os trabalhos de
Geologia Ambiental, cuja demanda é estimulada por deter-
minações legais e as que estabelecem a exigência de estudos
de impacto ambiental (EIA/RIMA 2 – Estudo de Impacto Am-
biental e Relatório de Impacto Ambiental), promulgadas pelo
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente.
  Como podemos analisar o meio ambientais, utilizando a
geologia?
     ·· Fenômenos geológicos naturais que afetam o meio am-
        biente: tectonismo, vulcanismo, abalos sísmicos, varia-
        ção do nível do mar.
     ·· Interferência do homem em acidentes ambientais natu-
        rais: escorregamentos de solo, erosão e enchentes.


     3.1	      Geologia ambiental

  É o estudo da migração de contaminantes através do solo e
da interação solo-contaminante e seus efeitos no comporta-
mento mecânico do solo, com ênfase em solos tropicais.
     Estudo de tecnologias de disposição de resíduos sólidos.
  Estudo de alternativas de monitoração e remediação de
solos contaminados, com ênfase em técnicas de estabiliza-
ção físico-química e de bio-remediação.

     3.1.1	       Geossistema

  Combinação de certa superfície de um geoma (rocha, ar,
água) e de uma biocenose (conjunto de organismos em inte-
ração em um mesmo biótipo; comunidade).
Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações   73



  Suas estruturas e o seu funcionamento sofrem fortes varia-
ções interanuais. O meio é “o resultado da combinação di-
nâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e
antrópicos que, ao reagir uns em relação aos outros, fazem
da paisagem um conjunto único e indivisível em evolução
perpétua”3.

  3.1.2	     Geossistema x ecossistema

   O geossistema é “um conceito territorial, uma unidade es-
pacial bem delimitada e analisada numa escala dada: o geos-
sistema é bem mais amplo que o ecossistema que vem a ser
assim uma parte do sistema geográfico natural”4.

  3.1.3	     Equilíbrio biogeocenótico

   As inter-relações entre produtores e consumidores estão
determinadas pelo seu número, pela efetividade com que a
energia é aproveitada pelos níveis tróficos inferiores, pela ve-
locidade de renovação das populações dominantes, pela ca-
pacidade dos produtores de renovar a produção consumida
e pela relação entre a energia que se precisa para a manu-
tenção e a que está disponível para a produção nas espécies
dominantes das distintas cadeias tróficas.

  3.1.4	     Agentes de influência

  ·· Diferenças entre biomas.
  ·· A influência das flutuações da população.
  ·· A influência dos consumidores sobre a produção
     primária.
74       Rodrigo Berté




     ·· Diferenças entre a ação dos consumidores homeotér-
        micos e a dos pecilotérmicos.

     3.1.5	    Equilíbrio nos Ecossistemas

   A produção de um sistema ambiental por unidade de tem-
po é proporcional à quantidade (massa) de matéria disponí-
vel, à quantidade de energia necessária para a transformação
e, visto que a fonte de matérias-primas é esgotável, à sua taxa
de renovação.
     Agentes de influência:
     ·· Energética da produção primária (autótrofos).
     ·· Equilíbrio térmico e hídrico.
     ·· Armazenamento de energia (húmus).
     ·· Energia da produção secundária (matéria orgânica por
        heterótrofos).
     ·· Interação entre autótrofos e heterótrofos (transferência
        de nutrientes).
     Significados de Estabilidade:
   Constância: ausência de mudanças nos parâmetros do
sistema ambiental, como, por exemplo, o número de espé-
cies, a composição taxonômica, a estrutura em tipos bioló-
gicos de uma comunidade, ou em alguma característica do
ambiente físico.
  Persistência: tempo de sobrevivência de um sistema am-
biental ou de alguns de seus componentes. Nesse sentido,
por exemplo, uma população poderia ser considerada mais
“estável” que outra se o tempo médio (persistência) até a sua
extinção for maior.
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Materialdeapoio

  • 1. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa nas Organizações
  • 2.
  • 3. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa nas Organizações Rodrigo Berté Curitiba 2007
  • 4. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa nas Organizações Rodrigo Berté Edição do Autor Curitiba, 2007 pg. 236
  • 5. dedicatória Dedico esta obra primeiramente a Deus, Pai da infinita bondade, ao meu pai Otávio Berté (in memorian) por ter de- dicado a sua vida aos seus filhos e à educação deles. A minha mãe Irde Araldi Berté, as minhas irmãs Luciane e Emanue- le, bem como ao meu cunhado Pedro (Neco). Homenagem esta que estendo aos meus sobrinhos André Berté Busnelo (in memorian), Maria Clara e Emanuel; ao meu filhinho Rin- co, que fez com que minha vida melhorasse muito. À JUSTIÇA conquistada, na qual acreditamos e por ela lu- tamos, e cuja Honra foi lavada com lágrimas pelo meu Pai.
  • 6.
  • 7. agradecimentos Agradeço aos meus amigos e colaboradores que nas horas mais difíceis sempre estiveram presentes: à Cláudia, Crislaine, Daiane, Diógenes, Dirceu, Edson, Guilherme, Marlei, Márcia, ao irmão Rodrigo, à tia Zilda, aos amigos da Petrobrás Transporte S. A, Gilmar, Mário, Tatiane, Laura, Joice entre tantos que nos motivam a continuar. Aos amigos do IBPEX, à Patrícia Fernanda Santos – ana- lista de informação, Editora, Fatec, Facinter, PUCPR e aos alunos de pós-graduação por todo esse Brasil. À afilhada Letícia Kososki Rocha, ao compadre Maurício e à comadre Taís. Aos amigos que integram a gestão pública administrativa de Fazenda Rio Grande-PR, na pessoa do Prefeito Toninho. E aos que lutam por causas ambientais, amiga Lídia Lukaski, e tantos outros que buscam salvar o planeta. Às crianças, futura geração, um compromisso ambiental de sustentabilidade.
  • 8.
  • 9. nota sobre o autor Rodrigo Berté nasceu em Colorado-RS, onde passou a maior parte da sua adolescência. Na juventude mudou-se com a sua família para Santa Rosa-RS. Graduou-se como Bacharel em Ciências Biológicas, especializou-se em Bio- tecnologia e Educação Ambiental, pela FUBRA-DF; em Clonagem Vegetal, pela PUC-PR; é Doutor em Meio Am- biente e atualmente está matriculado no curso de Pós-Dou- torado pela Universidad de León – Espanha, na área do conhecimento Ciência e Tecnologia Marinha. Morou por sete anos no Mato Grosso do Sul, onde exer- ceu o trabalho de professor de escolas públicas e privadas, desenvolveu vários trabalhos no Pantanal com comunida- des ribeirinhas e de fiscalização ambiental, foi concursado na UEMS – Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, desenvolveu projetos na área da educação ambiental na Escola Particular Santa Teresa, em Coxim. Foi perito do Mi- nistério Público Estadual no Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul.
  • 10. Atualmente, é secretário do meio ambiente na região me- tropolitana de Curitiba, em Fazenda Rio Grande-PR, profes- sor de pós-graduação pelo IBPEX, INFOCO, de graduação da FATEC e membro de banca de mestrado da UNIVILLE- SC. É consultor da Petrobrás Transporte S. A – Transpetro, na unidade de São Francisco do Sul-SC e no Rio Grande do Sul, membro do parlamento mundial das Ong’s nas Nações Unidas, professor da rede estadual de ensino nos cursos pós- médio em meio ambiente e segurança no trabalho. Coordenou a implantação da Horta Comunitária no pro- grama FOME ZERO da Petrobrás e do Governo Federal e integra o grupo internacional de avaliações de catástrofes ambientais globais. Elaborou e coordenou o projeto Educar e Transformar, em convênio com o FNDE – Ministério da Educação, na área da vulnerabilidade social. Integra o Fórum Social do Mercosul e é vice-presidente do Conselho de Assistência Social.
  • 11. apresentação Chegamos ao ponto de nossa trajetória de ocupação e de exploração da Terra, em que sua capacidade de suporte dá mostras inequívocas de esgotamento, sendo urgente a necessidade de revermos as premissas do crescimento eco- nômico, tendo em vista o alcance de índices satisfatórios de desenvolvimento humano e de conservação ambiental. Esta obra busca identificar os mecanismos de gestão am- biental brasileira, suas implicações e a responsabilidade so- cial. Dividido em doze capítulos com exercícios propostos, nos quais pretende-se levar o aluno dos cursos de tecno- logias as praxes empresariais, formando uma corrente de responsabilidade sócio-ambiental. Apresenta um resumo de legislação ambiental pertinente aos processos licenciatórios, conforme a vocação e deman- da das organizações. Em cada capítulo haverá um momen- to de reflexão que aborda temas locais, da sociedade em geral e a necessidade de formarmos um grande grupo de pensadores, com visão protecionista na defesa do meio am- biente, é o que chamamos de Tutela Ambiental.
  • 12. Segundo Callisto e França*, é preciso, para tanto, que a so- ciedade torne-se ciente de que o desenvolvimento não deve mais ocorrer, apesar do ambiente, como se este fosse obstá- culo, mas em concordância com ele, aproveitando-se ade- quadamente suas potencialidades, de forma a não exaurir os recursos naturais. Somente assim será viável a continuidade e a permanência de nosso processo civilizador. Mudar radicalmente nossa concepção de desenvolvimento é o principal desafio deste século. O conceito de sustentabili- dade necessita urgentemente ser internalizado nos processos produtivos e nas condutas cotidianas da sociedade, impondo- se como condição de governabilidade para todas as nações. Para a execução de tamanha tarefa é indispensável à atu- ação da gestão ambiental e a responsabilidade social, a que chamamos de gestão sócio-ambiental. Buscar-se-á sensibili- zar os empreendedores para que possam atingir essa gestão que é conhecida como: a empresa deve ser socialmente justa e ambientalmente responsável. A finalidade de tudo isso é buscar a tão almejada qualidade de vida, garantindo com isso a sobrevivência do homem no planeta e dos demais se- res que integram a biosfera, esfera da vida. *CALLISTO; FRANÇA, 2004.
  • 13. sumário 1 Gestão ambiental e a responsabilidade social >> 17 1.1 Gestão ambiental >> 17 1.2 A questão ambiental >> 21 1.3 Meio social >> 24 1.4 Gestão ambiental como mediação de conflitos >> 29 2 Uma prática de gestão participativa >> 39 2.1 Problemas e conflitos ambientais >> 41 2.2 Estudo de um problema ambiental e do processo de socialização de sua existência >> 47 3 Instrumentos de defesa ambiental na gestão ambiental >> 71 3.1 Geologia ambiental >> 72 4 Vulnerabilidade ambiental >> 81 5 Gestão ambiental em áreas urbanas >> 87 6 Impactos ambientais >> 95
  • 14. 6.1 Bioindicadores >> 96 6.2 Métodos geofísicos >> 99 7 Estudo de impacto ambiental >> 105 7.1 Avaliação de impacto ambiental >> 106 8 Instrumentos de proteção ao meio ambiente >> 121 8.1 Licenciamento ambiental >> 121 9 Áreas degradadas com passivos ambientais >> 135 9.1 Tratamento de passivos ambientais >> 139 9.2 PRAD – Plano de Recuperação de Área Degradada >> 139 10 Gerenciamento de resíduos >> 147 10.1 Saneamento de solos contaminados >> 147 10.2 Desumidificação >> 148 10.3 Recuperação de solventes >> 148 10.4 Pirólise >> 148 10.5 Compostagem >> 149 10.6 Incineração >> 149 11 Certificação – série iso >> 157 11.1 Órgãos acreditadores e certificadores >> 159 11.2 Definições e termos técnicos na gestão ambiental no setor empresarial >> 161 11.3 Rotulagem ambiental >> 167
  • 15. Considerações finais >> 179 Referências por capítulo >> 183 Referências >> 185 Apêndices >> 191 Gabarito >> 231
  • 16.
  • 17. capítulo 1 Gestão ambiental e a responsabilidade social Nesta Unidade abordaremos a problemática ambiental do ponto de vista da relação sociedade-natureza. No primeiro momento, examinaremos alguns aspectos relevantes desta relação, oportunidade em que você deverá analisar a ques- tão ambiental a partir da interação entre os meios social e físico-natural, com uma abordagem e visão holística e sistê- mica de mundo. Quando pensamos Educação Ambiental na Gestão do Meio Ambiente, estamos desejando participação dos cida- dãos, principalmente de forma coletiva na gestão do uso dos recursos ambientais e nas decisões que afetam a qualidade do meio ambiente. Como seria complicado e até impossível viver sem os outros elementos do meio, na verdade estamos falando de decisões que influenciam, fortemente, a qualida- de de vida da população humana. 1.1 Gestão ambiental A gestão ambiental tem por objetivo analisar a questão do meio ambiente a partir da interação entre os meios social
  • 18. 18 Rodrigo Berté e físico-natural e identificar os principais aspectos da Ges- tão Ambiental no Brasil e suas implicações. Neste contex- to, buscar-se-á o entendimento do sistema nacional do meio ambiente, o pacto federativo das atribuições estatais e, prin- cipalmente, uma ampla discussão com a sociedade civil or- ganizada. Os trabalhadores de órgãos de Gestão Ambiental (Prefei- turas, Órgãos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e militantes de entidades da sociedade civil, que atuam na área (organizações não-governamentais – ONG’s ambientalistas, movimentos sociais, associações comunitárias, entidades de classes etc.) costumam tomar conhecimento diariamente de agressões e ameaças ao meio ambiente. De várias formas chegam denúncias e informações de desmatamento ilegal, aterramento de manguezais, derra- mamento de óleo no mar, pesca predatória, tráfico de animais silvestres, lixões, lançamento de esgotos doméstico e indus- trial sem tratamento no mar e nos rios, destruição das nas- centes, funcionamento de empreendimentos potencialmente poluidores sem licença ambiental e outras ocorrências, que põem em risco a integridade dos ecossistemas e interferem negativamente na qualidade de vida das populações afeta- das. Há casos em que os próprios trabalhadores observam as agressões, no percurso diário de casa para o trabalho. Muitas vezes, existe um sentimento de angústia e impo- tência frente às dificuldades e tamanho dos problemas. Os técnicos dos Órgãos Públicos convivem com uma série de dificuldades para agir no cumprimento de Legislação Am- biental. São obstáculos de toda ordem, que vão desde a falta
  • 19. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 19 crônica de condições de trabalho (meios materiais, equipe técnica adequada, recursos financeiros, instalações, acesso às informações técnicas, apoio da chefia etc.) até a ausência pura e simples de vontade política dos governantes para tor- nar o órgão presente e atuante na sociedade. Apesar de todos os esforços para vencer as barreiras e “bri- gar para trabalhar”, muitas vezes os técnicos são rotulados de corruptos, perseguidores dos “pequenos” (é como ouvir comentários do tipo “eles não mexem com os grandes”), in- competentes, omissos e descomprometidos com a causa am- biental. Diante disso, sentimo-nos incompreendidos e injus- tiçados, principalmente pelas críticas aos órgãos ambientais que, em vários casos, não levam em conta as dificuldades e os esforços dos seus servidores. “De tanto apanhar, tem horas que dá vontade de desistir” é um discurso comum no meio. Quando atuamos em entidades da sociedade civil, depa- ramo-nos, em muitos casos, tanto com omissão, incapacida- de e às vezes conivência dos órgãos Públicos, quanto com indiferença, incompreensão e desinteresse da população frente a ameaças e agressões ao meio ambiente. Como se não bastasse, há situações nas quais também as autarquias não entendem: é o chamado “jogo de empurra”. Um órgão, quando cobrado para tomar determinada providência, diz que tal assunto é de competência do outro que, por sua vez, discordando ou alegando falta de condições, “passa o pro- blema para frente”, ou “senta em cima” ou, ainda, devolve a “batata quente” ao remetente. Enquanto isso, nada se resolve e o agressor vai levando vantagem e a degradação ambiental vai crescendo cada vez mais. O pior de tudo é que há muitos problemas ambientais cuja solução exige a participação de
  • 20. 20 Rodrigo Berté vários segmentos públicos. É o caso de muitas questões da área costeira, que pelo menos exigem a interferência da Se- cretaria de Patrimônio da União (gestão dos terrenos de ma- rinha), IBAMA (gestão ambiental dos bens da União) e Órgão Estadual de Meio Ambiente (gestão ambiental em área fora da jurisdição do IBAMA). Por outro lado, todos nós sabemos que nos órgãos pú- blicos há servidores profundamente comprometidos com a causa ambiental e que na sociedade civil há muitas entida- des que, mesmo reconhecendo as fragilidades, limitações e defeitos do nosso serviço público, lutam pelo seu fortaleci- mento, e buscam o trabalho em parceria, deixando de lado a competição. Afinal, não é possível visualizarmos, numa sociedade de- mocrática, a prática da gestão ambiental sem a presença do estado e da sociedade civil. Daí, a convicção de que, no terreno da gestão ambiental, poder público e sociedade civil não se opõem, mas se complementam. Portanto, devem tra- balhar preferencialmente em ações compartilhadas, a partir de objetivos comuns. A esta altura você pode estar pensando que “isto é muito bom e muito bonito, mas, muito difícil de acontecer na re- alidade”. Disso eu não tenho dúvidas. Entretanto, nós, tam- bém, sabemos que há muitos lugares onde a parceria poder público – sociedade civil acontece. Você já deve ter nota- do que as questões abordadas até aqui apenas evidenciam a complexidade da problemática ambiental. O caminho é buscar modos que contribuam para processos de gestão ambiental participativos.
  • 21. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 21 Um trabalho dessa natureza não acontece em um passe de mágica e não há receita pronta para sua realização. Sua efetivação exige das pessoas e organizações envolvidas: ob- jetivos comuns, compromisso com a causa ambiental, trans- parência, humildade e postura negociadora. Tudo isso é o que se pode considerar condições necessárias ou condições para “início de conversa”. Todavia, mesmo que estas condi- ções estejam estabelecidas, há ainda que considerar a neces- sidade daqueles diretamente envolvidos nos trabalhos. São pessoas que precisam, necessariamente, dos conhecimentos e habilidades para realizarem a tão sonhada parceria poder público – sociedade civil. 1.2 A questão ambiental “Era uma vez um grão de onde cresceu uma árvore que foi abatida por um lenhador e cortada numa serração. Um marce- neiro trabalhou-a a um vendedor de móveis. O móvel foi de- corar um apartamento e mais tarde deitaram-no fora. Foi apa- nhado por outras pessoas que venderam numa feira. O móvel estava lá no adeleiro, foi comprado barato e, finalmente houve quem o partisse para fazer lenha. O móvel transformou-se em chama, fumo e cinzas. Eu quero ter o direito de refletir sobre esta história, sobre o grão que se transforma em árvore que se torna móvel e acaba no fogo, sem ser lenhador, marceneiro, vendedor, que não vêem senão um segmento da história”1. Segundo Quintas2, a chamada questão ambiental diz res- peito aos diferentes modos pelos quais a sociedade, através dos tempos, se relaciona com o meio físico-natural. O ser hu- mano sempre dependeu dele para garantir sua sobrevivência e em nenhum momento de sua história, a humanidade viveu
  • 22. 22 Rodrigo Berté sem o auxílio desse meio. O seu uso, como base material de sustentação da existência humana, bem como as alterações decorrentes desse uso são tão antigas quanto a própria pre- sença do homem no planeta Terra. Podemos relacionar a questão ambiental a partir dos mo- delos de gestão ambiental, pelos quais o homem e a natureza passam por uma mudança radical de múltiplas visões: uma vem do antropocentrismo, ou seja, homem, ser supremo, so- bre as demais espécies e seres; a outra que defendo é uma visão de biocentrismo na qual homem e natureza encontram- se no mesmo nível com as suas relações e inter-relações igua- litárias, o que comprova a afirmação de Quintas. Conforme Quintas3, da relação (em diferentes épocas e lu- gares) dos seres humanos entre si e com o meio físico-natural emerge o que se denomina de meio ambiente. Diferente dos mares, dos rios, das florestas, da atmosfera, que não necessi- taram da ação humana para existir, o meio ambiente precisa do trabalho dos seres humanos para ser construído e recons- truído e, portanto, para ter existência concreta. Não existe meio ambiente sem o trabalho dos seres humanos. É evidente que o meio ambiente passou por uma transfor- mação de ordem humana. As cidades, as metrópoles, são consideradas ecossistemas artificiais, ou seja, criados pelo homem, mas não deixam de ser um local de interações do homem com a natureza, mesmo modificada. Esse meio físi- co-natural abordado por Quintas comprova o fato de que a gestão ambiental não é um problema de administração das relações do homem com a natureza, mas um processo de constante mudança nos paradoxos sócio-ambientais pela qual a essa relação necessita urgentemente de uma ruptura.
  • 23. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 23 Reflexão Além de água doce, do ar, do solo que você deve ter in- dicado, por serem imprescindíveis à manutenção da vida, existem outros recursos ambientais que funcionam como base material para atividades econômicas (pesca, maricultu- ra, turismo, transformação de produtos florestais, cerâmica, artesanato, etc.), na área de sua atuação? Segundo Quintas e Oliveira4, por tudo isso, afirma-se que meio natural e meio social são faces de uma mesma moeda e assim indissociáveis. Na medida em que o ser humano é parte integrante da natureza, e ao mesmo tempo ser social e, por con- seqüência, detentor de conhecimentos e valores socialmente produzidos ao longo do processo histórico, tem ele o poder de atuar permanentemente sobre sua base natural de sustentação (material e espiritual), alterando suas propriedades, e sobre o meio social provocando modificações em sua dinâmica. Como integrante da natureza, esse ser social citado ante- riormente detém o conhecimento como ferramenta capaz de modificar essa ordem sócio-ambiental. Passa por um proces- so de transformação dos valores e competências na qual o sujeito integra ao meio ambiente e modifica conforme a sua própria necessidade. Conforme Quintas e Oliveira5, no processo de transforma- ção do meio ambiente, de sua construção e reconstrução pela ação coletiva dos seres humanos – são criados e re- criados modos de relacionamento da sociedade com o meio natural (homem-natureza) e no seio da própria sociedade (homem-homem). Ao se relacionar com a natureza e com outros homens, o ser humano produz cultura evidenciada
  • 24. 24 Rodrigo Berté por suas manifestações, ou seja, cria bens materiais, valores, modos de fazer, de pensar, de perceber o mundo, de intera- gir com a própria natureza e com os outros seres humanos, que constituem o patrimônio cultural construído pela huma- nidade ao longo de sua história. Os autores ainda relatam que a concepção de que a ques- tão ambiental diz respeito à relação sociedade-natureza não é suficiente para direcionar um processo de análise e reflexão que permita a compreensão deste relacionamento em toda a sua complexidade. É necessário, ainda, assumir-se que a construção do conhecimento sobre esta relação se realiza sob a ótica dos processos que ocorrem na sociedade. Isso significa que a chave do entendimento da problemática am- biental está no mundo da cultura, ou seja, na esfera da totali- dade da vida em sociedade. Contudo, não se está afirmando que o conhecimento do meio físico-natural não seja impor- tante para uma compreensão da problemática ambiental. É mais do que importante, é fundamental para verificarmos as implicações da ação do homem no meio natural, para o próprio meio e para o meio social. Afinal, são as práticas do meio social que determinam a natureza dos problemas ambientais que afligem a humanidade. É neste contexto que surge a necessidade de se praticar a Gestão Ambiental. 1.3 Meio social Agora que ficou claro, que são práticas do meio social que produzem mudanças (positivas ou negativas) na qualidade do meio ambiente, é necessário entender um pouquinho como é este tal de meio social. Para isso é preciso dar uma
  • 25. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 25 olhada nele “por dentro”. Feito isso, logo se descobre que o meio social não é homogêneo. Da mesma forma que falamos em biodiversidade quando nos referimos ao ambiente físico- natural, também, podemos falar em “sócio-diversidade” para caracterizar o meio social. Observado pela ótica de sua or- ganização, nele podemos encontrar atores sociais na esfera da sociedade civil e do estado, que passam a ter existência a partir de variadas motivações (interesses, valores, necessida- des, aspirações, ocupação do mesmo território, etc.). Na sociedade civil são encontrados, como atores sociais, sindicatos (trabalhadores e patrões), federações, (trabalha- dores e patrões) centrais sindicais, partidos políticos, grupos organizados por gênero (mulheres), por geração (terceira ida- de, jovens), por etnia (negros, índios, descendentes de imi- grantes, etc.), associações (moradores, profissionais, assisten- ciais, produtores, etc.) congregações religiosas (terreiros de candomblé e de umbanda, católicas, evangélicas, espíritas, etc.), clubes, blocos carnavalescos, escolas de samba, enti- dades ambientalistas, cooperativas, empresas (rurais, comer- ciais, industriais, etc.), bancos, comunidades de determinada localidade sem organização formal (rua, povoado, vila, bair- ro, etc.), movimentos sociais e outras formas que as pessoas inventam para se agrupar e agir no mundo real. No caso da esfera estatal, os atores sociais são instâncias dos poderes públicos, assim constituídos: ·· Executivo (União, Estados e Distrito Federal, e Municí- pios); ·· Legislativo (Câmara dos Deputados, Senado Federal, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores);
  • 26. 26 Rodrigo Berté ·· Judiciário (Federal e Estadual). No Poder Executivo estão os órgãos que compõem as ad- ministrações públicas federal, estadual e municipal (Ministé- rios, Secretarias, Institutos, Fundações, Autarquias, Empresas Públicas, Ministérios Públicos, etc.) das quais fazem parte aqueles integrantes do SISNAMA – Sistema Nacional do Meio Ambiente. Neste Universo, é bom lembrar a existência dos Ministérios Públicos (Federal; dos Estados; e do Distrito Federal e Territórios), que têm desempenhado um papel fun- damental na proteção do meio ambiente do país. FIGURA 1.3.1 – Sistema nacional do meio ambiente – SISNAMA MMA IBAMA SIS A M NA NA M SIS A SEMA OCA Segundo Santos6, uma outra evidência da heterogeneidade do meio social são os conflitos sociais e políticos que ocor- rem no seu cotidiano. Os autores Bobbio, Matteucci e Pas- quino7 afirmam que conflito (social e político) é uma forma de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coleti- vidades que implica choques para o acesso e a distribuição
  • 27. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 27 de recursos escassos. Obviamente, o Conflito é apenas uma das possíveis formas de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades. Uma outra forma possível de interação é a cooperação. Na tomada de decisão percebe-se que a sociedade, de uma forma geral, gera conflitos a partir de interesses pessoais que eventualmente tornam-se coletivos. É claro que, quando a sociedade é organizada, prevalecerá o interesse da maioria, caso em que os mesmos dependerão de fatos motivadores, a exemplo uma eleição, ou uma grande obra com inúmeros impactos ambientais. Conforme Santos8, de acordo com este entendimento, todo conflito tem como objeto a disputa de algum tipo de recurso escasso. No caso de uma eleição, exemplo de um conflito político, as organizações (partidos políticos) intera- gem disputando recursos escassos (cargos de Presidente da República, Governador, Prefeito, Deputados, etc.). Nas si- tuações de conflitos fronteiriços entre dois países, a disputa é geralmente pelo controle do território e a interação entre eles pode se efetivar por via pacífica (negociação) ou por meio da violência (guerra). Em um campeonato de futebol, em uma luta de boxe, em uma Olimpíada, ou mesmo numa partida de futebol, os recursos escassos em disputa são tí- tulos, medalhas classificações, etc. Via de regra, o controle dos recursos escassos está associado ao poder, à riqueza e ao prestígio. Também, na área ambiental, a idéia de conflito está associada ao controle de recursos que hoje sabe-se que são limitados e não podem ser usados indiscriminadamente. São eles os recursos ambientais cujo uso intensivo tem pro-
  • 28. 28 Rodrigo Berté vocado tanto a sua escassez quanto o comprometimento da qualidade ambiental. À época em vivemos encontramos uma série de campa- nhas que motivam a sociedade para evitar o desperdício, a era do reutilizar, do reciclar, do dar destinação adequada, de evitar certos consumos e identificar os produtos que pos- suem uma melhor qualidade de vida. Conforme Santos9, um outro aspecto importante a ser con- siderado, quando se analisa conflitos sociais e políticos, é ter em mente que eles são inerentes à própria existência do meio social. Não se tem notícia de sociedade sem conflitos. De acordo com Quintas e Gualda10, a sociedade não é lugar da harmonia, mas, sobretudo, o lugar dos conflitos e confrontos que ocorrem em suas diferentes esferas (da política, da eco- nomia, das relações sociais, dos valores, etc.). Para Bobbio, Matteucci e Pasquino11: ”um Conflito social e político pode ser suprimido, isto é, bloqueado em sua expressão pela força, coercitivamente, como é o caso de muitos sistemas autoritários e totalitários, exceto o caso em que se reapresente com redobrada intensidade num segundo tempo. A su- pressão é, contudo, relativamente rara. Assim como, relativamente rara, é a plena resolução dos Conflitos, isto é, a eliminação das cau- sas, das tensões, dos contrastes que originaram os conflitos (quase por definição, um Conflito social não pode ser resolvido)”. Visto que não se pode acabar com conflitos no meio so- cial, segundo estes autores, “o processo ou a tentativa mais freqüente é o proceder à sua regulamentação, isto é, à formu- lação de regras aceitas pelos participantes, que estabelecem determinados limites aos conflitos. A tentativa consiste não em pôr fim a eles, mas regulamentar suas formas de modo
  • 29. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 29 que suas manifestações sejam menos destrutivas para todos os atores envolvidos. O ponto crucial é que as regras devem ser aceitas por todos os participantes e, se mudadas, devem ser mudadas por recíproco acordo. Quando um conflito se desenvolve segundo regras aceitas, sancionadas e observa- das, há a sua institucionalização”. Dessa forma, a disputa pelo uso e acesso aos recursos ambientais, é um conflito institucionalizado, quando ela ocorre segundo as regras que estão estabelecidas na legislação ambiental. 1.4 Gestão ambiental como mediação de conflitos A Constituição Federal de 1988, art n. 22512, ao consagrar o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, atribuiu a responsabilidade de sua preservação e de- fesa não apenas ao Poder Público, mas também à coletivida- de. Em suma, a essencial qualidade de vida para a geração presente sem comprometer a geração futura. Segundo Brinckmann13, entretanto, mesmo conferindo à coletividade, também, a obrigação de proteger o meio am- biente, a Constituição de 1988 fez do poder público o princi- pal responsável pela garantia a todos os brasileiros, do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Para isso, ela determina sete incumbências para assegurar a efetividade desse direito. Mas, a mesma sociedade (coletividade) que deve ter assegurado o seu direito de viver num ambiente que lhe proporcione uma sadia qualidade de vida, também preci- sa utilizar os recursos ambientais para satisfazer suas necessi- dades básicas. E, como sabemos, não é possível vida digna e
  • 30. 30 Rodrigo Berté saudável sem o atendimento a estas necessidades. De acordo com Quintas14, na vida prática, o processo de apropriação e uso dos recursos ambientais não acontece de forma tranqüi- la. Há interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre atores sociais, que atuam de alguma forma sobre os meios físico-natural e construídos, visando o seu controle ou sua defesa e proteção. Como principal responsável pela proteção ambiental no Brasil, cabe ao poder público, por meio de suas diferentes esferas, intervir neste processo, de modo a evitar que os inte- resses de determinados atores sociais (madeireiros, empresá- rios de construção civil, industriais, agricultores, moradores, etc.) provoquem alterações no meio ambiente que ponham em risco a qualidade de vida da população. Segundo Quinta15, gestão ambiental, portanto, é vista aqui como o processo de mediação de interesses e conflitos (po- tenciais ou explícitos) entre atores sociais que agem sobre os meios físico-natural e construído, objetivando garantir o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, con- forme determina a Constituição Federal. Uma relação de conflito entre a sociedade é conhecida a partir de um processo de degradação ambiental, ou seja, quando a qualidade de vida é comprometida, vem o direito explicitado na Constituição Federal art. 225 na qual garante o restabelecimento do meio ambiente degradado, evitando os conflitos entre sociedade e poder público. O poder público, neste caso, como gestor da qualidade de vida. Conforme Quintas16, como mediador principal deste pro- cesso, o poder público é detentor de poderes e obrigações
  • 31. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 31 estabelecidos na legislação, que lhe permitem promover des- de o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais (incluindo a criação de incentivos fiscais na área ambiental) até a reparação e a prisão de indivíduos pelo dano ambiental. Neste sentido, o poder público estabelece padrões de quali- dade ambiental, avalia impactos ambientais, licencia e revisa atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplina a ocupação do território e o uso de recursos naturais, cria e gerencia áreas protegidas, obriga a recuperação do dano am- biental pelo agente causador, promove o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora. A atribuição dada ao poder público como gestor do meio ambiente e da qualidade de vida, mensurada anteriormente, necessita de uma mudança radical de estruturas efetivando e garantido o direito que a sociedade tem a um ambiente eco- logicamente equilibrado (Constituição Federal art. 225). Esse exercício de poder e direitos contemplados, eleitos para o po- der público na gestão ambiental, requer uma visão estratégica e planejada com o intuito de preservar, cada vez mais, as áre- as protegidas e condicionar nos casos de infração e penalida- des ambientais a imediata reparação do dano pelo infrator. De acordo com Quintas17, por outro lado observa-se, no Brasil, que o poder de decidir e intervir para transformar o ambiente (ou mesmo para evitar sua transformação), seja ele físico, natural ou construído, e os benefícios e custos dele (do uso do poder) decorrentes, estão distribuídos socialmente e geograficamente na sociedade, de modo assimétrico. Por se- rem detentores de poder econômico ou de poderes outor- gados pela sociedade, determinados atores sociais possuem,
  • 32. 32 Rodrigo Berté por meio de suas ações, capacidade variada de influenciar direta ou indiretamente na transformação (de modo positi- vo ou negativo) da qualidade do meio ambiental. É o caso dos empresários (poder do capital); dos políticos (poder de legislar); dos juízes (poder de condenar e absolver etc); dos membros do Ministério Público (o poder de investigar e acu- sar); dos dirigentes de órgãos ambientais (poder de embargar, licenciar, multar); jornalistas e professores (poder de influen- ciar na formação da “opinião pública”); agências estatais de desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de in- fra-estrutura) e de outros atores sociais cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade ambiental e, conseqüente- mente, na qualidade de vida das populações. Se o papel dos atores sociais com a garantia dada pelo Di- reito Constitucional no exercício pleno da cidadania, acredito que as relações entre os gestores do meio ambiente, neste caso, o poder público constituído e a sociedade civil organi- zada, com plenos poderes de denunciar, opinar e julgar no caso estatal, teremos a certeza e a garantia de que o meio ambiente violado do seu direito seja recuperado. Conforme Quintas18, entretanto, esses atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam em conta os interesses e necessidades das diferentes camadas sociais direta ou indi- retamente afetadas. As decisões tomadas podem representar benefícios para uns, prejuízos para outros. Um determinado empreendimento pode representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto pessoal para morado- res de certas áreas, votos para políticos, aumento de arreca- dação para Governos, melhoria da qualidade de vida para parte da população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo
  • 33. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 33 para outros empresários, desemprego para outros trabalha- dores, perda de propriedade, empobrecimento dos habitan- tes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição at- mosférica e hídrica, desagregação social e outros problemas que caracterizam a degradação ambiental. Neste caso, a sociedade civil deve ter pleno acesso às in- formações de empreendimentos com vistas a causas e con- seqüências da instalação ou não, sendo que a mera descul- pa de geração de emprego poderá no futuro, conforme o empreendimento, neste caso, potencialmente poluidor, gerar um problema social quando este sofrer uma penalização do poder público. É importante que a sociedade construa fóruns permanentes de discussões temáticas sobre o seu entorno e as inter-relações dela com o meio. Segundo Quintas19, portanto, a prática da gestão ambien- tal não é neutra. O estado, ao tomar determinada decisão no campo ambiental, está de fato definindo quem ficará, na sociedade e no país, com os custos e quem ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele, físico, natural ou construído. Daí a importância de se praticar uma gestão ambiental participativa. Somente assim é possí- vel se avaliar custos e benefícios de forma transparente. Reflexão Você conhece comunidades da sua região que sofreram impactos ambientais? Sabe a razão dos impactos? Existem unidades de conservação na região onde você atua? Você lembra quais são? Você sabe quais são os órgãos públicos responsáveis por elas?
  • 34. 34 Rodrigo Berté Síntese Em se tratando de gestão ambiental e responsabilidade social o que abordou o capítulo, entende-se que o referido processo podemos denominar de ecologização da adminis- tração pública, na qual vem aumentando nestas duas últimas décadas, mas ainda permanece uma visão pré-ambientalista, pré-sustentalista, em parte pela falta de uma internalização dessa cultura institucional nova, e porque o modelo de ad- ministração atual é menos profissional e mais político. Os ministérios, assim como as secretarias, tanto no governo es- tadual como municipal, são loteamentos políticos e há uma necessidade urgente de mudar essa conjuntura. A reforma não ensejou o novo pacto federativo. O que se tem são ainda desenhos precários. A área de gestão ambiental e a respon- sabilidade social ainda explicita essa incompletude do pacto mais do que outras, pois tem por vocação a ordenação do território e do desenvolvimento. Atividades 1) Relacione as colunas: a) Questão Ambiental b) Meio Social c) Gestão Ambiental como mediação de conflitos I A união entre ser humano e meio físico-natural re- sulta no próprio meio ambiente. II Para entender é preciso dar uma olhada “por den- tro”, descobrindo assim que não é homogêneo.
  • 35. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 35 III Como não se pode acabar com os conflitos, o pro- cesso ou a tentativa mais freqüente é o proceder à regulamentação. IV Processo de mediação de interesses e conflitos entre atores sociais que agem sobre o meio físico-natural. V Produzem mudanças tanto positivas como negati- vas na qualidade do meio ambiente. VI A Constituição de 1988 fez o poder público o prin- cipal responsável pela garantia a todos os brasilei- ros, do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. VII Diferença de métodos em que a sociedade, ao lon- go do tempo, interage com o meio físico-natural. VIII Não é neutra, é participativa, pois somente assim é possível avaliar custos e benefícios de forma transparente. IX A relação sociedade-natureza não é suficiente para direcionar um processo de análise e reflexão que permita uma compreensão. 2) Ao referir-se à questão ambiental, assinale (V) para as proposições verdadeiras e (F) para as falsas: I A chave do entendimento da problemática am- biental está no mundo da cultura, ou seja, na esfe- ra da totalidade da vida em sociedade. Não esque- cendo do meio físico-natural que também possui um papel na vida em sociedade. II Em toda a história, a humanidade nunca precisou do auxílio do meio físico-natural.
  • 36. 36 Rodrigo Berté III O ser humano, detentor de conhecimentos e valo- res socialmente produzidos ao longo do processo histórico, tem o poder de atuar permanentemente sobre sua base natural de sustentação, alterando suas propriedades. IV Na ação coletiva dos seres humanos são criados e recriados modos de relacionamento da sociedade com o meio social e cultural (meio físico) e no seio da própria sociedade (homem-natureza). V A chave do entendimento da problemática am- biental está no mundo da cultura, ou seja, na esfe- ra da totalidade da vida em sociedade. Afirmando assim, que o meio físico-natural não é importante para a compreensão da problemática ambiental. 3) Em relação ao meio social, conforme os itens acima, po- demos afirmar: a) Somente as alternativas I e II são verdadeiras; b) Somente as alternativas I, III e IV são verdadeiras; c) Somente as alternativas II e III são falsas; d) Somente as alternativas II e III são verdadeiras; e) Somente as alternativas III, IV e V são falsas. 4) Marque a(s) alternativa(s) incorreta(s): a) É responsabilidade da coletividade e do poder pú- blico preservar e defender o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. b) Apesar de ser responsabilidade pela proteção e defesa ambiental no Brasil, o poder público não
  • 37. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 37 pode intervir em processos que provoquem alte- rações no meio ambiente que coloque em risco a qualidade de vida da população. c) O poder público é detentor de poderes e obriga- ções estabelecidas na legislação. d) As decisões dos atores sociais sempre levam em conta os interesses e necessidades das diferentes camadas sociais direta ou indiretamente afetadas. e) As decisões dos atores sociais levam em conta os interesses e necessidades de uma mesma camada social direta e representando só benefícios. 5) Com base na Gestão Ambiental e Responsabilidade So- cial é correto afirmar que: a) São práticas do meio social que determinam a natureza dos problemas ambientais que afligem a humanidade, surgindo assim uma necessidade de se praticar a Gestão Ambiental. b) No caso da esfera estatal, os atores sociais são ins- tâncias dos poderes públicos, como o Executivo que compreende a União, Estados, Senado Fede- ral, Municípios, Câmara de Vereadores. c) A sociedade é um lugar de harmonia, com conflitos e confrontos que ocorrem em diferentes esferas. d) Um conflito social e político pode ser bloquea- do em sua expressão pela força, coercitivamente, como é o caso de muitos sistemas autoritários e totalitários.
  • 38. 38 Rodrigo Berté e) No Brasil, o poder de decidir e intervir para trans- formar o ambiente (ou evitar a transformação) seja ele físico, natural ou construído, e os benefícios e custos dele (de uso do poder) decorrentes, estão distribuídos socialmente e geograficamente na so- ciedade de modo assimétrico.
  • 39. capítulo 2 Uma prática de gestão participativa A gestão participativa relacionada com as questões am- bientais vai muito além de discussões, fóruns sociais ou do meio acadêmico. Há uma mudança nos paradigmas onde a sociedade busca a mobilização com a finalidade de alcan- çar objetivos em diferentes esferas do poder. Este capítulo tem como objetivo levar os alunos dos cursos de tecnologia experiências a partir de uma situação problema, apontando causas e suas conseqüências restabelecendo o ambiente de- gradado através da mobilização da sociedade. Quem atua no campo ambiental sabe da dificuldade das pessoas em visualizarem as causas e conseqüências relacio- nadas com a ação humana no meio ambiente. Conforme Quintas1, o processo de contaminação de um rio, por exem- plo, muitas vezes está distante dos indivíduos no espaço (os lançamentos dos dejetos são feitos muitos quilômetros rio acima do lugar onde a pessoa mora) e no tempo (começou há muitos anos e ninguém lembra quando). Para complicar, este processo não apresenta um efeito visível e imediato (a água não muda de gosto e nem de cor, mas pode estar con- taminada com metal pesado, por exemplo).
  • 40. 40 Rodrigo Berté Um outro complicador é a tendência das pessoas em as- sumir uma idéia de que certos recursos ambientais são infini- tos. É comum ouvir que um grande rio jamais vai secar (até que fique visível a diminuição do volume de suas águas) ou, ainda, que uma floresta tão imensa não vai acabar ou que os peixes continuarão abundantes todos os anos, até que a realidade mostre o contrário. A postura do “sou igual a São Tomé, só acredito vendo” provoca um imenso desafio para a Educação Ambiental: a necessidade de desenvolver atitudes preventivas na nossa so- ciedade frente às questões ambientais. A outra dificuldade para as pessoas se envolverem com as questões ambientais está na sensação de impotência frente a elas. A ocupação desordenada do litoral, que resulta em destruição de dunas, aterramento de mangues, expulsão das comunidades, e privatização de praias, por exemplo, envolve grandes interesses de grupos econômicos e políticos e faz o indivíduo se sentir “pequenininho”, frente ao poder dos ato- res sociais responsáveis pela degradação daquele ambiente. Em razão da complexidade da questão ambiental, é que há necessidade dos processos educativos proporcionarem condições para as pessoas adquirirem conhecimentos, ha- bilidades e desenvolverem atitudes para poderem intervir de forma participativa em processos decisórios que implicam a alteração, para melhor ou pior, da qualidade ambiental. Nesse sentido, após a realização das atividades programa- das, você passa a dominar um instrumento que lhe facilite caracterizar um problema ambiental e envolver outras pes- soas na sua discussão. Isto quer dizer que, a partir de um problema ambiental observado, você deverá:
  • 41. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 41 a) Identificar os principais atores sociais envolvidos e suas formas de organização. b) Relacionar os efeitos sobre o meio físico-natural com ameaça à qualidade de vida dos grupos sociais afetados. c) Identificar o posicionamento da comunidade envolvida ou afetada. d) Identificar os aspectos da legislação ambiental federal relacionados ao problema e as possibilidades de sua utilização pelo órgão ambiental e por organizações da sociedade civil. e) Aplicar procedimentos que facilitem a participação dos diferentes segmentos sociais no seu estudo (do proble- ma), bem como na difusão dos resultados encontrados. Provavelmente, no seu dia-a-dia, você tem lidado com a maioria dos conteúdos abordados aqui. Na verdade, o que faremos será uma sistematização, uma forma mais clara de se visualizar o problema como um todo. Além disso facilitar a nossa compreensão, possibilita o envolvimento de outras pessoas para estudarem o problema. O ideal é que esta ati- vidade seja realizada em grupo (colegas dos vários órgãos ambientais que atuam no local e de ONG’s, se existirem), para que haja a possibilidade da socialização dos resultados desde o início. Caso não seja possível, a tarefa poderá ser cumprida individualmente. 2.1 Problemas e conflitos ambientais No processo de apropriação e uso dos recursos ambien- tais, estão sempre em jogo interesses da coletividade, cuja
  • 42. 42 Rodrigo Berté responsabilidade pela defesa é do poder público, e interesses específicos de atores sociais que, mesmo quando legítimos, nem sempre coincidem com os da coletividade. Estes atores sociais podem possuir grande capacidade para influir (a seu favor) nas decisões dos órgãos de meio am- biente, sobre a destinação dos recursos ambientais, seja pela via da pressão política direta, seja por meio da divulgação à sociedade sobre a importância econômica e social do seu empreendimento (geração de empregos é um dos fortes ar- gumentos), ou pelas duas formas. A disputa pelo controle de qualquer recurso escasso é pró- prio da natureza da sociedade. Portanto, o importante é que o órgão de meio ambiente, no exercício de sua competência mediadora, proporcione condições para que os diferentes ato- res sociais envolvidos tenham oportunidade de expor a outros e ao conjunto da sociedade, os argumentos que fundamen- tam a posição de cada um, quanto à destinação dos recursos ambientais em disputa. As audiências públicas surgem como elemento de transição entre os conflitos gerados e a autono- mia de cada cidadão participativo e fomentando a cidadania. Entretanto, entre os envolvidos, há aqueles que dispõem de conhecimentos e habilidades sobre a problemática em discussão (os empreendedores, por exemplo), que lhes per- mitem argumentarem a seu favor. Ao mesmo tempo, há ou- tros que, apesar de afetados pelas decisões (por exemplo, comunidades costeiras, no caso da construção de um porto), não têm acesso aos conhecimentos e habilidades necessárias para poderem defender seus interesses. Em muitas situações, caso tais interesses sejam contrariados, este fato ameaça a própria sobrevivência da comunidade envolvida.
  • 43. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 43 A experiência dos educadores tem mostrado que uma fer- ramenta importante para compreender a complexidade da questão ambiental, é o “estudo de caso”, no qual o caso pode ser um problema, conflito ou potencialidade ambiental. Em virtude do pouco tempo disponível, trabalharemos somente com a análise de problemas ambientais. Entretanto, o roteiro adotado para o estudo de problemas e socialização do seu resultado poderá, com alguma adaptação, ser utilizado no estudo de conflitos e potencialidades ambientais. O que é um problema ou conflito ambiental? Ou melhor, o que nós aqui chamaremos de problema ou conflito ambiental? Há diferença entre os dois? O termo problema, no nosso dia-a-dia, assume vários sig- nificados. Quando alguém fala de um problema financeiro, em geral está se referindo a idéias do tipo falta de dinheiro, dificuldades de pagar contas, etc. Da mesma forma, se uma pessoa fala de um problema de saúde, pode estar queren- do transmitir a idéia de risco ou ameaça (esta doença pode deixar fulano sem poder andar pelo resto da vida), de dano temporário ou permanente ao organismo (tal enfermidade deixou fulano com o pulmão comprometido para o resto da vida; a fratura deixou sicrano sem poder usar a mão direita por uns tempos, etc.). Há também casos, em que o termo está associado ao desafio de realizar uma tarefa prática (o problema da construção de uma ponte) e, ainda, há muitos outros sentidos. Como pessoas envolvidas com o campo da gestão do meio ambiente, quando usamos o termo problema ambiental, tam-
  • 44. 44 Rodrigo Berté bém, atribuímos a ele vários sentidos. Ao usar este termo em nossas falas, podemos estar nos referindo a dificuldades (o problema da fiscalização em alto mar), a carência (o pro- blema da falta de embarcações para fiscalizar em alto mar), a tarefas práticas (o problema da criação de uma Unidade de Conservação) ou a outros significados. Estaremos enten- dendo problema ambiental como “aquelas situações onde há riscos e/ou dano social/ambiental, mas, não há nenhum tipo de reação por parte dos atingidos ou de outros atores da sociedade civil face ao problema”2. De acordo com esta concepção emergem os problemas ambientais nos quais destacamos: a ameaça ou extinção de espécies da fauna e da flora; lixões; desmatamentos; rios e águas subterrâneas contaminadas por metais pesados, cho- rume, esgotos domésticos e industriais, agrotóxicos etc.; uso de agrotóxicos; contaminação de praias; poluição do ar; e outras formas de poluição. Reflexão Apesar dos problemas administrativos dos órgãos ambien- tais (falta de pessoal, de recursos materiais e financeiros, etc.) influírem negativamente na qualidade ambiental, aqui eles não são considerados problemas ambientais. Em termos, além de ser uma situação na qual se observa dano e/ou risco à qualidade de vida das pessoas (em decor- rência da ação de atores sociais sobre os meios físico-natural e/ou construído), o problema ambiental caracteriza-se tam- bém, pela ausência de qualquer tipo de reação dos atingidos ou de outros atores sociais, face a sua existência. Segundo Carvalho e Scotto3 “são freqüentes os casos onde existe ape-
  • 45. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 45 nas uma construção técnico-científica do problema – exa- mes de laboratório concluem que o rio está contaminado por metais pesados, por exemplo. Outras vezes, há sugestões de solução ou de encaminhamento para uma ação de governo, ou seja, uma política ambiental”. Evidentemente, condutas do tipo sugerir solução ao governo não podem ser caracte- rizadas como uma ação contrária (reação) àquela que está provocando risco e/ou dano ao meio ambiente. É como se a existência de um esgoto a céu aberto, que um dia foi rio, se transformasse num fato tão banal no cotidiano da comunidade, que as pessoas passassem a aceitar o seu mau-cheiro, o seu mau aspecto e o risco de contaminação por doenças transmitidas por vetores diversos, como algo “nor- mal”. O fato do rio contaminado “estar lá”, parece que não in- comoda, não interessa, ou seja, não “mexe” com as pessoas. Diferente do problema ambiental, o conflito ambiental é aqui entendido como “aquelas situações onde há confronto de interesses representados por diferentes atores sociais, em torno da utilização e/ou gestão do meio ambiente”4. De saída, o conflito ambiental ocorre porque atores sociais reagem em defesa dos seus interesses, pela utilização e/ou gestão dos recursos ambientais. É o caso de moradores que se organizam para evitar a reativação de um aterro sanitário ou a construção de um incinerador de lixo pela Prefeitura; de pescadores que contestam o período de defeso decretado pelo IBAMA e exigem participar da elaboração de sua Porta- ria; de grupos ambientalistas se mobilizando para contestar a construção de uma hidrelétrica, de uma estrada; de seringuei- ros do Acre, que nos anos 1970 impediram a transformação
  • 46. 46 Rodrigo Berté da floresta em pastagens, em defesa de sua potencialidade, e conseguiram a criação de Reservas Extrativistas pelo Gover- no Federal; de grandes fazendeiros de soja que lutam pela construção de uma hidrovia, que vai facilitar o escoamento de sua produção; e de outros atores sociais que se organizam para lutarem por seus interesses, ou da coletividade. Portanto, podemos dizer que muitos conflitos ambientais envolvem um problema ambiental, mas nem todo problema ambiental envolve um conflito. Estabelecida a diferença entre problema e conflito ambien- tal, vamos praticar agora o modo de proceder a sua análise e de envolver o maior número de pessoas na sua discussão. A idéia é que as pessoas, durante o processo de estudo do pro- blema ambiental, percebam os danos e/ou riscos e se motivem para participar do encaminhamento de sua solução. Assim, partindo-se do exame de um problema ambiental, espera-se atingir o estágio de conflito ambiental institucionalizado. Em muitos casos, é necessário que aconteça uma situação de conflito explícito na sociedade civil, entre atores que represen- tam interesses coletivos e atores que defendem interesses priva- dos, para que o Poder Público perceba a existência de dano e/ ou risco ao meio ambiente e tome as providências cabíveis. Como você pode notar, um conflito ocorre quando atores sociais tomam consciência de dano e/ou risco ao meio ambiente, se mobilizam e agem no intuito de interromper ou eliminar o processo de ameaça.
  • 47. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 47 2.2 Estudo de um problema ambiental e do processo de socialização de sua existência O caso de destinação do óleo lubrificante queimado Um problema ambiental muito presente no nosso dia-a- dia e, que poucas pessoas têm conhecimento e noção de sua gravidade (provavelmente somente os especialistas) é “o pepino” da destinação do óleo lubrificante queimado. Por ser usado nos carros de todos os tipos, o óleo lubrifi- cante queimado é um personagem que só aparece para uma pessoa, quando ela vai a um posto de gasolina e faz a troca de óleo. Nessa hora, quando é retirado do motor pelo fun- cionário do posto, acredito que raramente alguém pergunta ou se pergunta, para onde vai aquele “óleo vencido”, que “não presta mais”. Como todas as pessoas que têm carro, periodicamente, também, eu vou a um posto de gasolina fa- zer a troca de óleo. Até ler a matéria abaixo jamais tinha me perguntado para onde o óleo queimado ia e qual o seu efeito sobre o meio ambiente. O óleo e o mico: o triste fim do lubrificante queimado Os óleos lubrificantes básicos são obtidos diretamente a partir do petróleo bruto ou então são reciclados a partir de óleos já usados, aos quais adicionam-se obri- gatoriamente, aditivos especiais, altamente poluentes (antioxidantes, anticorrosivos, dispersantes, antides- gastantes, antiespumantes, reguladores de viscosida- de, etc.). Quando utilizados, contaminam-se ainda mais com poluentes diversos, como metais pesados, por exemplo. Portanto, quando se dirige um carro, ca-
  • 48. 48 Rodrigo Berté minhão, ônibus, não se está lançando apenas gases e até fumaça (particulados) no ambiente, mas utilizando, passivamente, poluentes altamente tóxicos na lubrifica- ção forçada das peças metálicas do motor. Essas peças fatalmente se desgastam, somando então mais conta- minantes perigosos aos componentes dos aditivos. Esse óleo contaminado (óleo vencido), importante re- curso econômico para uma nação e não um lixo qual- quer, que você substitui por “óleo novo” (rerrefinando ou não), tem três destinos bem diversos. Um deles é a queima, geralmente descontrolada, em caldeiras industriais, podendo dar a sua contribuição negativa à atmosfera (5 litros podem conter até 20 gramas). O outro é o econômico e ecologicamente correto, o rerrefino. Por fim, o outro tipo de destino é o simples descarte no meio ambiente, tremendo desperdício. Só para se ter uma noção quantitativa do problema, que normalmente escapa até ao mais fanático “ecólogo-de- passeata”, a PETROBRÁS, através de seu relatório “Rer- refino de óleos no Brasil”. Araújo (1992), aponta uma situação dramática, conforme estimativa a seguir, em números redondos (dados atualizados em 1997): Deste total disponível no Brasil somente 1/3 é coleta- do, contra mais de 2/3 em países civilizados. A Ale- manha coleta quase todo o seu óleo usado. O agravante dessa situação fica, portanto, por conta do volume não coletado para o processamento do rerrefino, conforme determina a legislação. Segundo
  • 49. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 49 estudos e dados disponíveis no Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Minerais, o volume não coletado é mais de 246 milhões de litros.(...) Fonte: CUSTÓDIO, F. N. O Óleo e o Mico: o triste fim do lubrificante queimado. A Folha do Meio Ambiente. Brasília: Cultura Viva Editora, ano 10, n. 99, nov. 1999. Após ler a matéria, um grupo de 3 jovens estudantes do Ensino Médio (2º grau) ficaram bastante preocupados com o destino dado pelos postos de gasolina de um determina- do município brasileiro ao “óleo vencido” que eles recolhem quando fazem a sua troca. O município está situado na área litorânea e em seu terri- tório há grande extensão de praias margeadas por coqueirais e vegetação de mata atlântica, inclusive próximo ao perí- metro urbano. Em várias praias encontram-se pequenos nú- cleos populacionais que vivem da atividade pesqueira e da lavoura de subsistência. A sede do município está localizada na margem do rio que desemboca no mar. Na foz forma-se um extenso man- guezal, onde está instalada uma comunidade com cerca de 500 habitantes que vivem basicamente da pesca e da cata do caranguejo. Por estar localizada na área do Projeto de Desenvolvimento Turístico do Estado, o município foi incluído entre aqueles be- neficiados com a implantação de saneamento básico (abaste- cimento de água e esgoto), construção de hospital, postos de saúde, coleta de lixo e obras de infra-estrutura viária (pavimen- tação de ruas, iluminação pública, construção de calçadões na beira do rio, de acesso às praias e à rodovia litorânea, etc.).
  • 50. 50 Rodrigo Berté Após a ligação com a rodovia litorânea, a comunicação por via terrestre, do município com a capital e com o resto do país ficou bastante facilitada. Com a estrada, foi criada uma linha de ônibus diária entre a sede do município e a ca- pital, permitindo que uma viagem, que anteriormente demo- rava até dois dias, seja realizada, atualmente, em oito horas. Com o asfalto, cresceu bastante o fluxo turístico, que qua- se duplica a população em um município na época de alta estação. Com o turismo, a economia local, principalmente na alta estação, ficou bastante dinamizada. Neste processo surgiram hotéis, pousadas, loteamentos para residências de praia, bares, quiosques e várias outras atividades econômi- cas, até então desconhecidas na cidade. Com o turismo tam- bém cresceu o número de Postos de Gasolina na Sede do município, e nas suas redondezas. 2.2.1 Por onde começar Conversando sobre o problema da destinação do óleo queimado, os jovens se perguntaram: o que fazer? “Deixar pra lá” ou denunciar a alguma autoridade? Mas qual a autoridade? O Delegado de Polícia, o Juiz, o Promotor, o Prefeito, o Órgão de Meio Am- biente do Estado, do Município? O IBAMA? Alguém lembrou que não existia órgão de meio ambiente municipal e que as representações do órgão estadual e do IBA- MA ficam na capital, a cerca de 600 quilômetros de distância.
  • 51. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 51 Resolveram, então, antes de qualquer outra ação, procurar alguns professores do colégio em que suas aulas têm mos- trado preocupação com o meio ambiente. Os professores de Química, Biologia, História e Geografia se interessaram pelo problema (também não tinham “se tocado”) e entraram na discussão do que fazer e por onde começar. Concluíram que não adiantaria procurar as autoridades antes de saberem como “a coisa” acontece por ali. Por onde começar? Mas como fazer isto, se todos têm pouco tempo para se dedicar? Os jovens estudam, ajudam seus pais, os professores dão aulas em dois turnos e têm as suas famílias. Combinou- se que, primeiramente, todos procurariam indagar nos postos de gasolina do município (cerca de 10), da “forma mais natu- ral possível”; o que eles faziam com o “óleo vencido”, depois da troca dos carros. Constatou-se que todos jogavam o óleo queimado no rio, diretamente ou pela rede de esgoto pluvial. A maioria não sa- bia que o óleo poderia ser vendido na capital para ser refina- do novamente e nem tinha noção do risco que ele representa para a saúde das pessoas e para o ambiente. Um único dono de posto conhecia a possibilidade de vender o óleo vencido para ser refinado e reutilizado. Porém, achava que a pouca quantidade coletada semanalmente (média de 200 litros) não dava para pagar o valor do frete do transporte, por caminhão tanque. Ele também não tinha lugar para armazenar mais do que 300 litros de óleo, e por isso, tinha que fazer seu despejo no rio toda semana. A partir daí, resolveram atrair mais gente para discutir o problema. Ficou acertado que cada um tentaria trazer o má-
  • 52. 52 Rodrigo Berté ximo de amigos para uma reunião no fim de semana, na qual os jovens fariam uma apresentação, sobre o que, até então, se sabia do problema. Na reunião, além dos quatro professores e dos três jovens, compareceram 10 estudantes entre moças e rapazes. Após a apresentação dos dados publicados na Folha do Meio Ambiente e da informação sobre o modo como é feito o descarte do óleo pelos postos de gasolina do município, o grupo passou a discutir uma linha de ação para conseguir interromper o processo de contaminação das águas do rio. Os professores sugeriram que fosse feito um estudo de caso, com a realização de uma análise mais detalhada possível da situação. Porém, foi consenso no grupo que o estudo de caso seria um meio (instrumento) para a elaboração coletiva do conhecimento sobre o problema e sua solução. Por isso, previu-se a realização das duas tarefas iniciais, deixando-se a definição das outras para o futuro, quando se teria a participação de outros atores sociais. Na execução da primeira tarefa, tentaria-se identificar os atores sociais direta- mente atingidos pelo problema, o modo como eles são afeta- dos, a situação deles em termos de organização e, ainda, os riscos e/ou danos visíveis, sobre o meio físico natural. Na ou- tra, o desafio seria encontrar estratégias para envolver estes atores no processo de busca de solução para o problema. Neste momento todo esforço está em se obter as melhores respostas possíveis para perguntas do tipo: Quem são os afetados pelo descarte do óleo queima- do? Como vivem? Onde vivem? De que vivem? De
  • 53. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 53 que modo o problema ameaça a qualidade de vida dos afetados (saúde, economia, renda, lazer, etc.)? Estas pessoas estão formalmente organizadas? Estão iniciando ou reiniciando algum tipo de organização formal? Mesmo não possuindo organização formal, apresentam outros tipos? (grupos de oração, rodas de samba, grupos de dominó, grupo de elaboração e conserto de instrumentos de trabalho, grupo respon- sável pela festa de Padroeiro ou Padroeira, etc.). Portanto, a primeira fase do trabalho seria fazer a iden- tificação dos atores sociais diretamente atingidos pelo pro- blema, do modo como são afetados, da situação deles em termos de organização, bem como dos riscos e/ou danos vi- síveis sobre o meio físico-natural. Inicialmente, discutiu-se o que caracterizaria um ator social como diretamente afetado pelo lançamento do óleo queimado no rio. Alguns sugeriram que, em princípio, todas as pessoas que usassem de alguma forma o rio em locais abaixo (a jusante) do ponto de lançamento do óleo, como as praias e o man- guezal da foz, sofreriam os efeitos do seu descarte. Outros ponderaram que este critério não diferenciava, por exemplo, quem tomava banho de vez em quando no rio ou nas praias, de quem consumia diariamente a água, os peixes, o caran- guejo e as ostras. Havia, ainda, o caso dos que consumiam os produtos pesqueiros eventualmente (turistas, por exemplo) e aqueles que dependiam da sua extração para sobreviver (alimentando-se e/ou comercializando).
  • 54. 54 Rodrigo Berté Como fazer? Definiu-se, então como atores sociais diretamente afetados aqueles que tivessem sua saú- de (pelo uso constante dos produtos contaminados) e/ou sua situação econômica sob ameaça, em de- corrência do descarte do óleo queimado no rio. Com este critério, excluiu-se os usuários de água encana- da (a captação é feita acima dos pontos de lançamento), os eventuais freqüentadores das praias e consumidores dos pro- dutos pesqueiros obtidos no mangue e em outros pontos da foz. Definido o critério, o grupo decidiu identificar os lugares de lançamento do óleo queimado e, partindo do ponto de descarte mais distante da foz descer o rio até ela e, ainda, visitar a comunidade situada na sua desembocadura. Em conversas com vários moradores da comunidade da foz, o grupo ficou sabendo que, de vez em quando, os pes- cadores observam peixes e caranguejos mortos, manchas de óleo na água e árvores do mangue com “cara de que está morrendo”. Eles comentaram, ainda, que às vezes notam um “gosto esquisito” nas ostras, caranguejos e peixes. Disseram ainda, que na época “de muito turista” aparecem mais caranguejos e ostras com gostos esquisitos. Várias vezes os donos dos quiosques (que compram o peixe, caranguejo e ostras dos pescadores) se queixaram que, ao cozinharem caranguejo e ostras, notaram óleo na água e um gosto ruim neles. Por conta disso, os donos dos quiosques ameaçaram comprar peixe, caranguejo e ostra em outros municípios mesmo sabendo que serão mais caros. Em razão disso, os pescadores estão indo pescar cada vez mais longe da foz
  • 55. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 55 (demora mais e é muito arriscado com nossos barcos pe- quenos, dizem eles) e os catadores cada vez entrando mais mangue adentro (cansa muito e demora mais). Perguntados a partir de quando começaram a notar as mudanças, vários moradores disseram que “foi de uns anos para cá”. O médico do posto de saúde do povoado (atende duas vezes por semana) apesar de já ter ouvido comentários so- bre o assunto não observou nenhuma doença na população que pudesse associar ao consumo de alimentos contaminado com óleo queimado. Visitaram o padre que desenvolve no salão paroquial, várias atividades com idosos, casais, mulheres e jovens, ele também disse já ter ouvido comentários sobre o problema, mas não ti- nha noção de sua gravidade. Se dispôs a colaborar com o gru- po na mobilização dos moradores, oferecendo, inclusive, o salão paroquial para as reuniões de discussão do problema. Retornando à sede do município, os jovens se dividiram em dois grupos e visitaram os donos dos quiosques situados nas praias urbanas e das pousadas. Todos ficaram preocupa- dos quando ficaram sabendo do problema. Lembraram de ter ouvido turistas e moradores comentarem que se sujaram de óleo quando tomavam banho nas praias próximas da cidade. Entretanto, não desconfiando da verdadeira razão, atribuíam a presença do óleo aos navios que, de vez em quando, viam no horizonte. Os comerciantes também comentaram que “então é por isto que de vez em quando se encontra óleo na água onde os caranguejos e as ostras são cozidos”. O grupo não detectou nenhum tipo de organização for- mal entre os moradores da comunidade, donos de quios-
  • 56. 56 Rodrigo Berté ques e de pousadas. Também não foi observado qualquer processo indicativo de início ou reinício de organização destes atores sociais. 2.2.2 Estratégia para o envolvimento dos atores sociais diretamente afetados Após conhecer os atores sociais diretamente afetados, o grupo (estudantes e professores) discutiu qual seria a melhor estratégia para o envolvimento deles nas próximas etapas do trabalho. Todos concordaram que, caso os atores diretamente atingidos pelo óleo queimado não se motivassem a defender seus interesses, ficaria muito difícil sensibilizar outros atores so- ciais para participarem da busca de solução para o problema. Os estudantes e professores, levando em conta a diferen- ça entre os grupos de comerciantes (donos de pousada e quiosques) e a comunidade de pescadores, planejaram fazer uma reunião na cidade com o pessoal das pousadas e dos quiosques, e uma reunião no salão paroquial com os mora- dores da foz. Antes da marcação das reuniões definiu-se que seria feita uma consulta rápida a alguns donos de quiosques e de pousadas, e ao padre da comunidade da foz sobre o dia e horário mais conveniente para os participantes. No caso do grupo de comerciantes, seria solicitado que alguns deles sugerissem o local e ajudassem na divulgação da reunião, visitando as pousadas e quiosques em conjunto com alguns estudantes e professores em seus horários disponíveis. O gru- po de professores e estudantes tinham clareza de sendo um trabalho voluntário, sua execução teria de ser feita, de acor- do com a disponibilidade de horário de todos os envolvidos (inclusive eles).
  • 57. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 57 No caso da comunidade da foz, combinou-se que parte do grupo, em conjunto com o padre, visitaria no domingo (dia de folga dos pescadores) casas de pessoas, cujas opi- niões são respeitadas na comunidade. O padre também se prontificou a avisar sobre a reunião durante a missa. Os comerciantes elegeram cinco pessoas (entre donos de pousadas e de quiosques) e os moradores da foz dez (pen- sando em se revezarem) para se integrarem ao grupo de es- tudantes e professores, formando o que eles chamaram de “grupão”. Estas pessoas, além de atuarem no ”grupão”, de- veriam manter seu grupo de origem informado sobre todas as atividades programadas e mobilizado para participar da realização delas. 2.2.3 Os próximos passos A primeira tarefa do “grupão” foi definir os próximos pas- sos. Todos concordavam sobre a importância de se conversar com os donos dos postos de gasolina. Apesar de responsáveis diretos pelo problema, a opinião geral era de que estes em- presários não tinham consciência da gravidade de seus atos. Acharam que era hora de expor o problema ao promotor de justiça, ao juiz de direito e ao prefeito do município, visto não haver na região nenhum órgão que tratasse especifica- mente do meio ambiente para se recorrer. Resolveram também conversar com o representante da Or- dem dos Advogados do Brasil (OAB), no município, para que a entidade proporcionasse assessoramento sobre os aspectos legais da questão durante os encontros com os donos dos postos e com as autoridades. Na conversa com os advogados
  • 58. 58 Rodrigo Berté da OAB ficou claro que tanto os postos quanto a prefeitura estavam descumprindo a legislação ambiental. Aplicação da Lei. No caso dos postos, poderiam ser enquadrados: a) no Art. 14 da Lei Federal n° 6.938/815: “Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, es- tadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores: I – à multa simples ou diária, nos valores correspondentes, no míni- mo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTNs, agravada em casos de reincidência específica, conforme dispuser o regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Ter- ritórios ou pelos Municípios; IV – à suspensão de sua atividade. §1º - Sem obter a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente de existência de culpa a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e tercei- ros, efetuados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal por danos causados ao meio ambiente”. b) no Art. 54 da Lei 9605/986: “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: Pena – reclusão, de um a quatro anos, e multa. §2º - Se o crime:
  • 59. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 59 IV – dificultar ou impedir o uso público das praias; V – ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líqüidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou substâncias oleosas, em desacordo com as exi- gências estabelecidas em leis ou regulamentos: Pena – reclusão, de um a cinco anos”. Verificou-se, também, que os postos estavam descumprin- do a Resolução CONAMA 09/937 que estabelece, entre ou- tros: Art. 3º - “Ficam proibidos: I – quaisquer descartes de óleos lubrificantes usados em solos, águas superficiais, subterrâneas, no mar territorial e em sistemas de esgoto ou evacuação de águas residenciais; II – qualquer forma de eliminação de óleos lubrificantes usados que provoque contaminação atmosférica superior ao nível estabelecido na legislação sobre proteção ao ar atmosférico”. Art. 10 – “Obrigações dos receptores de óleos lubrificantes usados: I – alienar o óleo lubrificante contaminado regenerável exclusiva- mente para o coletor ou rerrefinador autorizado; II – divulgar, em local visível ao consumidor, a destinação discipli- nada nesta Resolução, indicando a obrigatoriedade do retorno dos óleos lubrificantes usados e locais de recebimento; III – colocar, no prazo de 60 (sessenta) dias, a partir da publicação desta Resolução, à disposição de sua própria clientela, instalações ou sistemas, próprios ou de terceiros, para troca de óleos lubrificantes e armazenagem de óleos lubrificantes usados; IV – reter e armazenar os óleos usados de forma segura, em lugar acessível à coleta, em recipientes adequados e resistentes a vaza- mentos, no caso de instalações próprias”.
  • 60. 60 Rodrigo Berté Já a prefeitura, como órgão responsável pelo “Licenciamen- to ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local” (art. 6º da Resolução CONAMA 237/978), no caso dos postos de gasolina, deveria ter exigido deles, como “receptores de óleos lubrificantes”, o cumprimento dos art. 3º e 10º da Resolução CONAMA 09/93. O prefeito, por ter se omitido (a prefeitura não tem órgão de meio ambien- te), pode ser enquadrado na Lei dos Crimes Ambientais, que estabelece em seu Art. 68: “Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental: Pena – detenção, de um a três anos, e multa”. O grupo, acrescido por representantes da OAB, teve um encontro com o representante do Ministério Público Estadual (promotor de justiça) em que expôs todo o problema e suas conseqüências para a qualidade ambiental. O promotor explicou que, como se tratava de dano ao meio ambiente, o Ministério Público (MP) poderia propor uma Ação Civil Pública que, pela Lei 7.347/859, “poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer” (art. 3º). Na situação exposta, o MP poderia desde logo propor uma ação cautelar na própria comarca, objetivando inter- romper as atividades dos postos até que se provasse que ti- nham resolvido a questão conforme determina a Resolução CONAMA nº 09/93. De posse das informações coletadas, o grupo foi conversar com o prefeito, chamando atenção para a importância de a
  • 61. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 61 prefeitura se envolver na solução do problema, considerando que cabe a ela o licenciamento ambiental para o funciona- mento dos postos de gasolina. O prefeito esclareceu que não tinha idéia da gravidade do problema do descarte do óleo queimado e muito menos que cabia à prefeitura a responsa- bilidade pelo licenciamento ambiental para funcionamento de postos de gasolina. Pensou que a prefeitura tinha obriga- ção apenas de conceder os Alvarás de Construção e de Fun- cionamento, de acordo com o Plano Diretor do Município. Declarou que estava disposto a tomar todas as providências de responsabilidade da prefeitura. Entretanto, antes de apli- car a legislação, declarou que gostaria de buscar uma solu- ção negociada com os donos de postos, com a participação de todos os envolvidos e afetados. Ficou acertado que ele convocaria os proprietários de postos para uma reunião na prefeitura, com o “grupão”, a OAB e o MP, com o objetivo de solucionar a questão da forma mais rápida possível. Após o encontro com o prefeito, o “grupão”, em conjunto com a OAB, fez uma avaliação das atividades e concluiu que era hora de fazer uma “prestação de contas” aos comercian- tes afetados e aos moradores da comunidade da foz e discu- tirem também os próximos encaminhamentos. Na ocasião, levantaram-se as indagações: O que se exigirá dos donos dos postos? Como nos organizamos para evitar (poder público e sociedade civil) outros problemas ambientais? Que atividades devem ser desenvolvidas para que a preocupação com o meio ambiente não seja passageira? Que ou-
  • 62. 62 Rodrigo Berté tros atores sociais da esfera da sociedade civil e do estado devem ser envolvidos nesta nova fase para se ampliar e manter permanentemente a discussão sobre a problemática ambiental do município? Como apro- veitar o momento para fazer isso? O que tivemos foi uma situação problema idealizada e montada com objetivos didáticos. Como sabemos, a situação vivida é mais complexa do que a situação pensada. Entretan- to, isso não invalida o exercício, que, longe de explorar toda riqueza da complexidade do mundo, não deixa de fornecer elementos importantes para a prática de uma gestão ambien- tal que aposta na ação da cidadania com o antídoto ao clien- telismo político, à corrupção, ao descompromisso e muitos outros males que afetam o nosso serviço público. Nessa Unidade, apresentamos, por meio de um estudo de caso, alguns procedimentos que podem facilitar seu traba- lho no sentido de instaurar processos participativos de ges- tão ambiental. Devido ao tempo disponível, não foi possível aprofundar e ampliar conceitos, princípios e metodologias (Pesquisa-ação, Pesquisa-participante, etc.) necessários ao desenvolvimento de processos educativos com comunidades de diferentes contextos culturais no Brasil. Esta prática configura o que a equipe de educadores do IBAMA denomina Educação no Processo de Gestão Am- biental, ou Educação Ambiental, ou Educação Ambiental na Gestão do Meio Ambiente. Seu objetivo é proporcionar con- dições para produção e aquisição de conhecimentos e habi- lidades e o desenvolvimento de atitudes, visando à participa-
  • 63. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 63 ção individual e coletiva, tanto na gestão do uso dos recursos ambientais, quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade dos meios físico-natural e social. Pela sua complexidade, a prática da Educação no Processo de Gestão Ambiental exige profissionais especialmente habi- litados para esse fim. Finalmente, ao se falar em Educação no Processo de Ges- tão Ambiental, não nos referimos a outra Educação Ambiental, mas a uma prática que, inspirando-se nas Orientações da Con- ferência de Tbilisi10 “a primeira conferência intergovernamental sobre educação ambiental, convocada pela UNESCO – Or- ganização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, o marco da educação ambiental”, vem se produzindo no espaço da gestão ambiental desenvolvida pelo IBAMA. É habitual se encontrar em documentos oficiais, nacionais e internacionais, inclusive na lei que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental, a denominação de Edu- cação Ambiental não-formal para processos educativos pra- ticados fora do currículo escolar. Definir a galinha como a ave que não é pato não diz nada sobre ela. Podemos saber tudo sobre patos, mas por esta definição, continuamos não sabendo nada sobre galinhas. Do mesmo modo, podemos conhecer bastante sobre Educação Ambiental Formal, mas continuamos ignorando o que qualifica a chamada Educação Ambiental não-Formal. Concordando com a afirmação de que “negar o que um objeto é” não é a melhor forma de caracterizá-lo, preferimos qualificar nossa prática a partir do espaço em que ela se pro- duz: o da Gestão Ambiental.
  • 64. 64 Rodrigo Berté Síntese A mobilização social tem ganhado um espaço nos conse- lhos, sejam eles municipais, estaduais ou federais. É a garan- tia do pleno exercício de cidadania, na qual a organização destes grupos encontra soluções para os problemas que são comuns, de ordem coletiva e não individual. Um exemplo neste capítulo foi a luta de uma comunidade em relação à destinação de óleo combustível. Neste contexto aparecem os conselhos do meio ambiente em que, a exemplo do Con- selho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, há a afetiva participação da sociedade na elaboração de resoluções que buscam uma melhor qualidade de vida. Por fim, acredito que os governos que se dizem de esquerda, populares, não po- dem deixar de usar plenamente os mecanismos de participa- ção popular e transparência que estão disponíveis. Atividades 1) Em razão da complexidade ambiental, ocorre a necessi- dade dos processos educativos proporcionarem condi- ções para as pessoas adquirirem conhecimentos, habi- lidades e desenvolverem atitudes para poderem intervir de forma participativa em processos decisórios. Após a realização das atividades programadas, você passa a dominar um instrumental que facilite caracterizar um problema ambiental e envolver outras pessoas na sua discussão. Isso quer dizer que, a partir de um problema ambiental observado, você deverá:
  • 65. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 65 I Identificar os principais atores sociais envolvidos e suas formas de identificação. II Relacionar os efeitos sobre o meio físico-natural com ameaça direta à qualidade cultural e esporti- va dos grupos afetados. III Identificar o posicionamento dos atores sociais en- volvidos afetados. IV Aplicar procedimentos que facilitem a participa- ção dos diferentes atores sociais no seu estudo, bem como na difusão dos resultados. Com base nos dados acima, podemos informar: a) Somente as alternativas I e II estão corretas. b) Somente a alternativa IV é correta. c) Somente a alternativa II é incorreta. d) Somente a alternativa IV é incorreta. e) Todas as alternativas estão corretas. 2) Relacione as colunas: a) Problema Financeiro. b) Problema de Saúde. c) Problema. d) Problema Ambiental. e) Conflito Ambiental. f) Audiências Públicas. g) Estudo de Caso.
  • 66. 66 Rodrigo Berté I Pode ser um problema, conflito ou potencialidade ambiental. II Idéia do tipo falta de dinheiro, dificuldades de pagar contas. III Dificuldade na criação de uma Unidade de Con- servação. IV Proporciona condições para que diferentes atores sociais envolvidos tenham oportunidade de expor a outros atores sociais, argumentos que fundamen- tam a posição de cada um. V Transmite a idéia de risco ou ameaça de doença. VI Desafio de realizar uma tarefa prática. VII Dificuldades em fiscalização, como por exemplo, em alto mar. VIII Situação onde há confronto de interesses repre- sentados por diferentes atores sociais, em torno da utilização e/ou gestão do meio ambiente. IX Compreende a complexidade da questão ambiental. X Difícil de explicar ou resolver. Questão de dúvida. XI Dano temporário ou permanente ao organismo. 3) Relacione A para Problemas Ambientais, B para Confli- tos Ambientais e C para as alternativas que não se refe- rem a A ou B. I Rios e águas subterrâneas contaminados por me- tais pesados, chorume, esgoto doméstico e indus- triais, etc.
  • 67. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 67 II Organização para evitar a reativação de um aterro sanitário. III Criação de uma Unidade de Conservação. IV Responsabilidade individual e social com as nos- sas atitudes. V Pescadores contestando o período de defeso de- cretado pelo IBAMA, exigindo participar da elabo- ração da Portaria. VI Ameaça ou extinção de espécies da fauna e da flora. VII Compromisso com a construção do desenvolvi- mento sustentável, em uma perspectiva presente e futura. VIII Elaboração de um Plano de Gerenciamento de Re- síduos Sólidos. IX Poluição do ar e poluição sonora. X Atores sociais que se organizam para lutarem por seus interesses. XI Uso de agrotóxicos; contaminação de praias. XII Mobilização de grupos ambientalistas para contestar a criação de uma hidrelétrica, de uma estrada, etc. XIII Criação de Decreto Municipal, através da Câmara de Vereadores. XIV Comprometimento com os direitos humanos, de- mocracia, paz, justiça e amor. 4) Um problema muito presente no nosso dia-a-dia e, que poucas pessoas têm conhecimento e noção de sua gra-
  • 68. 68 Rodrigo Berté vidade é o “pepino” da destinação do óleo lubrificante queimado. Este é um personagem que só aparece para uma pessoa, quando ela vai a um posto de gasolina e faz a troca do óleo. Com base no texto acima, e seus conhecimentos assinale a(s) alternativa(s) correta(s): a) A única maneira de se obter o óleo lubrificante básico é a partir do petróleo bruto. b) Quando utilizados, os óleos lubrificantes contami- nam-se ainda mais com poluentes diversos, como metais pesados, por exemplo. c) Um destino para o óleo contaminado é o rerrefino, além de ser econômico é ecologicamente correto. d) O rerrefino de óleos no Brasil aponta uma situ- ação dramática, do total disponível no Brasil so- mente 2/3 é coletado, contra mais de 3/2 em pa- íses civilizados. e) O rerrefino de óleos no Brasil aponta uma situação dramática, do total disponível no Brasil somente 1/3 é coletado, contra mais de 2/3 em países civilizados. f) Segundo estudos e dados disponíveis no Sindicato Nacional da Indústria do Rerrefino de Óleos Mine- rais, o volume não coletado de óleo é mais de 256 milhões de litros. 5) Na aplicação da Lei para postos, verificamos que: I No art.14 da Lei Federal n° 6.938/81 o não cum- primento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará
  • 69. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 69 os transgressores à multa simples ou diária e/ou suspensão de sua atividade. II No art.54 da Lei Federal n° 6.938/81 causar polui- ção de qualquer natureza em níveis tais que resul- tem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora: pena – reclusão de um a quatro anos, e multa. III No art. 3° da Resolução CONAMA n° 09/1992 ficam proibidos quaisquer descartes de óleos lu- brificantes usados em solos, águas superficiais, subterrâneas, no mar territorial e em sistemas de esgoto ou evacuação de águas residenciais. IV No art. 10 da Resolução CONAMA n° 09/1992 os receptores de óleos lubrificantes usados tem obri- gações de reter e armazenar os óleos usados de forma segura, em lugar acessível à coleta, em reci- pientes adequados e resistentes a vazamentos, no caso de instalações próprias. Com as informações acima, é correto afirmar: a) Somente as alternativas I e III estão corretas. b) Somente as alternativas I e IV estão corretas. c) Somente as alternativas I e II estão incorretas. d) Todas as alternativas estão incorretas. e) Todas as alternativas estão corretas.
  • 70.
  • 71. capítulo 3 Instrumentos de defesa ambiental na gestão ambiental Neste capítulo conheceremos os instrumentos de defesa ambiental que tem por objetivo estabelecer um elo entre o meio ambiente degradado e a sua reparação. Serão apresen- tados técnicas e mecanismos aplicados nas diferentes áreas do conhecimento integrando diferentes conteúdos de forma interdisciplinar. A Geologia aplicada integra o conhecimento geológico para a solução de problemas. Flawn1 define Geologia Am- biental como o ramo da Ecologia que trata das relações entre o homem e seu habitat geológico; ela se ocupa dos proble- mas do homem com o uso da terra – a reação da terra a este uso. O autor afirma que a Geologia Ambiental inclui os ramos tradicionais da Geologia de Engenharia e da Geologia Econômica, ou uma pequena parte desta última, referente aos recursos minerais. A consolidação da Geologia Ambiental no Brasil se deu nas décadas de 1960 e 1970, em razão de suas atividades de construção de barragens e obras viárias de grande porte. Nos anos 1980, embora haja desaceleração da construção de grandes obras de engenharia, crescem as preocupações
  • 72. 72 Rodrigo Berté com os impactos ambientais intensificando os trabalhos de Geologia Ambiental, cuja demanda é estimulada por deter- minações legais e as que estabelecem a exigência de estudos de impacto ambiental (EIA/RIMA 2 – Estudo de Impacto Am- biental e Relatório de Impacto Ambiental), promulgadas pelo CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Como podemos analisar o meio ambientais, utilizando a geologia? ·· Fenômenos geológicos naturais que afetam o meio am- biente: tectonismo, vulcanismo, abalos sísmicos, varia- ção do nível do mar. ·· Interferência do homem em acidentes ambientais natu- rais: escorregamentos de solo, erosão e enchentes. 3.1 Geologia ambiental É o estudo da migração de contaminantes através do solo e da interação solo-contaminante e seus efeitos no comporta- mento mecânico do solo, com ênfase em solos tropicais. Estudo de tecnologias de disposição de resíduos sólidos. Estudo de alternativas de monitoração e remediação de solos contaminados, com ênfase em técnicas de estabiliza- ção físico-química e de bio-remediação. 3.1.1 Geossistema Combinação de certa superfície de um geoma (rocha, ar, água) e de uma biocenose (conjunto de organismos em inte- ração em um mesmo biótipo; comunidade).
  • 73. Gestão ambiental e responsabilidade social corporativa nas organizações 73 Suas estruturas e o seu funcionamento sofrem fortes varia- ções interanuais. O meio é “o resultado da combinação di- nâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, ao reagir uns em relação aos outros, fazem da paisagem um conjunto único e indivisível em evolução perpétua”3. 3.1.2 Geossistema x ecossistema O geossistema é “um conceito territorial, uma unidade es- pacial bem delimitada e analisada numa escala dada: o geos- sistema é bem mais amplo que o ecossistema que vem a ser assim uma parte do sistema geográfico natural”4. 3.1.3 Equilíbrio biogeocenótico As inter-relações entre produtores e consumidores estão determinadas pelo seu número, pela efetividade com que a energia é aproveitada pelos níveis tróficos inferiores, pela ve- locidade de renovação das populações dominantes, pela ca- pacidade dos produtores de renovar a produção consumida e pela relação entre a energia que se precisa para a manu- tenção e a que está disponível para a produção nas espécies dominantes das distintas cadeias tróficas. 3.1.4 Agentes de influência ·· Diferenças entre biomas. ·· A influência das flutuações da população. ·· A influência dos consumidores sobre a produção primária.
  • 74. 74 Rodrigo Berté ·· Diferenças entre a ação dos consumidores homeotér- micos e a dos pecilotérmicos. 3.1.5 Equilíbrio nos Ecossistemas A produção de um sistema ambiental por unidade de tem- po é proporcional à quantidade (massa) de matéria disponí- vel, à quantidade de energia necessária para a transformação e, visto que a fonte de matérias-primas é esgotável, à sua taxa de renovação. Agentes de influência: ·· Energética da produção primária (autótrofos). ·· Equilíbrio térmico e hídrico. ·· Armazenamento de energia (húmus). ·· Energia da produção secundária (matéria orgânica por heterótrofos). ·· Interação entre autótrofos e heterótrofos (transferência de nutrientes). Significados de Estabilidade: Constância: ausência de mudanças nos parâmetros do sistema ambiental, como, por exemplo, o número de espé- cies, a composição taxonômica, a estrutura em tipos bioló- gicos de uma comunidade, ou em alguma característica do ambiente físico. Persistência: tempo de sobrevivência de um sistema am- biental ou de alguns de seus componentes. Nesse sentido, por exemplo, uma população poderia ser considerada mais “estável” que outra se o tempo médio (persistência) até a sua extinção for maior.