O documento analisa João do Morro, um sambista de Pernambuco que se tornou uma voz importante da periferia através de suas letras. Apesar de ser elogiado por alguns por dar visibilidade à cultura popular, ele também é criticado por outros que acham que se apropria demais da imagem de líder das comunidades. O texto discute os conceitos de liderança midiática, mediações culturais e ressignificação cultural no contexto do trabalho de João do Morro.
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Bora catucar? Análise folkcomunicacional do samba-brega periférico de João do Morro na perspectiva do desenvolvimento local
1. VOZ DAS CARROCINHAS, CRONISTA DA
COMUNIDADE OU REI? ANÁLISE
FOLKCOMUNICACIONAL DO SAMBA-BREGA
PERIFÉRICO DE JOÃO DO MORRO
Marcelo Sabbatini
Universidade Federal de Pernambuco
Rede Folkcom
2. Conceitos
● Líder de opinião / ativismo midiático
● Mediações culturais
● Ressignificação
● Desenvolvimento local
3. Uma polêmica tem assombrado os portais
e editorias de conteúdo cultural da cidade
do Recife. (...) A controvertida bola da vez
enverga uma tez achocolatada distribuída
em 1,86 m de altura e atende pela alcunha
carinhosa de João do Morro, um homem
que faz questão de não renegar sua
origens.
Sambista debochado e
despretensiosamente pagodeiro de
comunidade, o artista é egresso de Casa
Amarela, um dos maiores bairros e
aglomerados populacionais do Recife,
cidade que se orgulha da profícua
produção cultural que enverga desde
tempos imemoriais
4. Conceitos
● Líder de opinião / ativismo midiático
● Mediações culturais
● Ressignificação
● Espaços e fluxos hegemônicos/populares
● Desenvolvimento local
5. Relações de consumo
● Não adianta comprar um celular /que bate foto, filma,
baixa jogos na internet / com bluetooth, slim, 3G...Pra
ligar 3 segundos?! / Já virou moda ter um celular /
você encontra em qualquer lugar / seja um mendigo,
carroceiro, papeleiro / maloqueiro, maconheiro / tem
um celular / A moda agora é ter um celular / pra bater
foto ou então filmar / mas no fim do mês / bota 10 ou 5
conto / e não gasta 1 centavo na hora de telefonar / 3
segundos.../ - Alô, amor, tas aonde? / - To saindo de
casa pra ir pro pagode. Oh, não liga / pra mim pra
falar 3 segundos, porque celular e mulher / é coisa pra
quem pode.
6. Símbolos de identidade
● Atenção quem dá chapinha, escova, henê,
hairfly / Babosa, kolene, easy, biocolor,
frizacolor, megahair / Guarnitina, banho zezé,
óleo de tingir, anabel, gesebel / Banho de mel,
escova de chocolate, progressiva, definitiva, / O
gel de netinho, bobe, biliro, o lencinho dona
florinda, / Quando chove é um corre, corre, tem
mulher que levanta a blusa / Mostra o peito
mas cobre o cabelo,
7. Sexualidade e GLSBT
● a galera viajou / no babado dos boyzinho / teve
caso que acabou / outros tão no sapatinho / se
encontrando nas boates / em qual delas eu não
sei / eu não tenho preconceito / se você olhar
direito / hoje em dia o mundo é gay / é
boyzinho com boyzinho / e boyzinha com
boyzinha / é todo mundo se beijando / se
amando, se abraçando e fazendo / frentinha.
8. "Dupla Exploração"
● Papa frango / Ei boyzinho, você é papa
frango! / Ei boyzinho, olha, deixa do teu caor!
(sic)/ Ei boyzinho, essa camisa, essa
bermuda! / Ei boyzinho, foi o seu frango que
comprou! / Eu boyzinho, olha, não diga que é
mentira! / Ei boyzinho, porque o frango me
contou / Ei boyzinho, que você além de papa
frango / Ei boyzinho, é papa frango e gigolô!
9. Problemas sociais
● Chegado, espera mais um pouco pra gente
ficar noiado, / eu tô esperando chegar o avião,
que saiu de bike / pra comprar faz um tempão. /
É sempre assim, seja em santo amaro ou na
ilha do maruim, / nos coelhos la no coque ou no
alto do pascoal, / é talco quento brita e sucesso
na moral,
10. ● Dizem que negão gosta de galega / e que a
galega adora um negão / quem quiser ficar
comigo, não tem isso não / Entre um casal tem
que haver respeito / não importa a raça, não
importa a cor / pois o que vale na vida é o amor
/ O que mais se vê é falta de respeito / muito
preconceito, o povo a falar / escuta essa
história que eu vou contar / Uma mulher branca
engravidou de um negro / o povo da rua a se
perguntar: esse menino, como será? / Pegue
uma galega e misture com um negão / Não vai
nascer uma zebra, Você vai ver no que vai dar /
Vai nascer, vai nascer um sarará / sarará,
sarará, um menino sarará / (…) / E o nome dele
é biro-biro / biro-biro, biro-biro, biro, é biro-biro.
11. Economia da comunicação
● Deixa os meninos trabalhar com dignidade /
Deixa que a carroça da galera é o ganha pão /
Olha se os caras não vendessem meu CD / Se
os caras não botasse pra moer / Eu não tava
nessa mídia que eu to hoje não
12. "Midiologia"
● A turma passa anos e anos estudando numa
faculdade / pra ser um jornalista / daquele que
dá notícia, fala mal ou bem (...) o jornalista tem
uma vida babada, é muita fechação / nos
bastidores da mídia, é vida louca, rola groove e
rola pegação / e a putaria começa quando a
turma se reúne e sai pra beber a turma fuma
um charubeck pra tirar o stress e espairecer /
(...) eu tô tirando essa onda, / só espero que
ninguém se queixe / jornal ou revista, o destino
é limpar bunda ou enrolar peixe.