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DUPLA REPÓRTER-FOTÓGRAFO NA REVISTA                                     O   CRUZEIRO,         E    SUA
INFLUÊNCIA NO JORNALISMO BRASILEIRO
Gleissieli Souza de Oliveira (IC) e Cicélia Pincer (Orientadora)
Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa



Resumo

O projeto pretende analisar o desenvolvimento do fotojornalismo no Brasil, por meio da revista O
Cruzeiro, e a introdução do recurso da dupla repórter-fotógrafo no jornalismo brasileiro. Tal recurso foi
primeiramente apresentado na por intermédio do fotógrafo francês Jean Manzon, quando ingressou
na revista em 1943, além de outras modificações que ele proporcionou a publicação, idealizadas com
base em suas experiências na imprensa francesa. Em O Cruzeiro formou a primeira dupla com o
repórter David Nasser. A dupla conquistou grande fama e prestígio na imprensa nacional,
principalmente, pela realização de grandes reportagens, muitas delas polêmicas. Trabalharam juntos
de 1943 a 1951, produzindo neste período reportagens históricas e recordistas em vendas. A
pesquisa é focada no primeiro ano de produção dos dois: 1943. Analisando neste período as
reportagens realizadas e as mudanças que proporcionaram à revista O Cruzeiro, que por ser a maior
e mais importante revista brasileira do século XX, influenciaram as características do jornalismo
brasileiro atual.


Palavras-chave: O Cruzeiro; repórter-fotógrafo; fotojornalismo brasileiro




Abstract

The project aims to analyze the development of photojournalism in Brazil, through the magazine O
Cruzeiro, and the introduction of the double feature reporter-photographer in Brazilian journalism. This
appeal was originally filed in through the French photographer Jean Manzon, when he joined the
magazine in 1943, and other changes that it brought the publication idealized based on his
experiences in the French press. In O Cruzeiro formed the first team with reporter David Nasser. The
duo won great fame and prestige in the national press, especially the implementation of major stories,
many of them controversial. They worked together from 1943 to 1951, this time producing reports and
historical record-breaking sales. The research is focused on the first year of the double: 1943.
Analyzing the reports made during this period and the changes it brought to the magazine O Cruzeiro,
which is the largest and most important Brazilian magazine of the twentieth century, influenced the
characteristics of Brazilian journalism today.


Key-words: O Cruzeiro; reporter-photographer; brazilian photojournalism




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Introdução

A história dos Diários Associados se confunde com a história da Imprensa no Brasil. O
primeiro conglomerado de comunicação do país revolucionou em muitos aspectos a
imprensa brasileira e a sociedade de sua época: seu primeiro veículo O Jornal, de 1924,
substituiu os textos longos, comuns nos jornais do período, por reportagens; criaram a
primeira agência de notícias por radiodifusão do país; as campanhas de “responsabilidade”
social e empresarial organizadas pelo grupo arrecadou investimentos para diversas áreas
da sociedade brasileira (aviação, saúde, transporte, cultura); foram o primeiro grupo de
comunicação a ter uma agência de publicidade própria; possuiu a primeira emissora de TV
da América Latina (TV TUPI-SP) e uma das maiores e mais importantes emissoras de rádio
do país; além de obter por 47 anos a mais importante revista semanal ilustrada brasileira do
século XX, O Cruzeiro, que inovou em muitos aspectos a imprensa nacional.

A revista ilustrada semanal O Cruzeiro surgiu em novembro de 1928 com um projeto de
“linha editorial dita como moderna” (SERPA; 2003), com o intuito de ser tornar uma revista
de circulação nacional.

“Durante vinte anos a revista não trouxe lucros aos Diários Associados [...]” (CARNEIRO;
1999), o primeiro exemplar obteve uma tiragem de 50 mil exemplares e saiu em várias
capitais brasileiras simultaneamente. O cenário mudou á partir de 1943, com a produção das
grandes reportagens pelas duplas repórter-fotógrafo, caracterizadas pela riqueza de
imagens, o que fez com que a revista esgotasse nas bancas e aumentasse sua tiragem
(ROMANCINI & LAGO; 2007).

A revista atinge seu auge quando passa a circular no exterior, fazendo sucesso em países
da América Latina. Foi a primeira publicação brasileira a conceder créditos às fotografias
publicadas, contando inclusive com um departamento e equipe de fotografia.

O fotógrafo francês Jean Manzon, foi convidado pelo sobrinho do dono dos Associados para
integrar a equipe da revista em 1943, e foi o responsável por introduzir “[...] no Brasil um
hábito da imprensa de reportagem européia: a dobradinha repórter fotógrafo. Um só
escreve, o outro só se preocupava em fotografar.” (MORAIS; 1994). Manzon foi fotógrafo da
revista Paris-Match do Paris Soir, e registrou a Segunda Guerra para a Marinha Francesa e
o governo da Inglaterra até 1942, quando veio ao Brasil, onde fez parte do Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), durante o governo Vargas, até que, Frederico Chateuabriand
o convidou para fazer parte da revista O Cruzeiro em 1943. Jean Manzon propôs mudanças
na parte gráfica da revista “[...] para mudar seu aspecto de catálogo [...]” (CARNEIRO; 1999.
p.336).

Jornalista e compositor, David Nasser trabalhou também em O Globo, e foi durante muito


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tempo companheiro de Manzon em O Cruzeiro, ganhando grande prestígio dentro e fora do
país por suas grandes reportagens. Nasser e Manzon estrearam na revista em 1943. Entre
43 e 51 fizeram reportagens que marcaram a história no jornalismo brasileiro, como a que
mostra o deputado federal Barreto Pinto de fraque e cuecas, a da aldeia dos índio xavantes,
ou ainda a que Chico Xavier foi fotografado dentro de uma banheira (CARVALHO; 2001).
Embora tenham a veracidade de algumas delas contestadas, como aborda Luiz Marklouf
Carvalho em seu livro “Cobras Criadas: David Nasser e O Cruzeiro”, a dupla se tornou uma
marca registrada da revista.

Desta maneira, este estudo pretende responder a questão “Quais mudanças e inovações as
duplas repórter-fotógrafo de O Cruzeiro proporcionaram ao fotojornalismo e imprensa
brasileira?”, buscando analisar o pioneirismo no jornalismo brasileiro da adoção da dupla
repórter-fotógrafo adotado por O Cruzeiro, utilizando como objeto de estudo a mais famosa
delas: Jean Manzon e David Nasser.

Por meio de uma pesquisa qualitativa em livros, estudos científicos, e periódicos; esta
pesquisa tem como objetivo analisar as grandes reportagens feitas pela dupla no ano de
1943, quando estão formando seu “estilo”, a maneira como foram produzidas e as
mudanças provocadas na imprensa brasileira. Busca-se atingir ainda os seguintes objetivos
específicos:

   −   Compreender a importância das grandes reportagens e inovações gráficas de O
       Cruzeiro para o desenvolvimento da imprensa nacional;

   −   Elencar as características das grandes reportagens feitas pela dupla;

   −   Destacar o pioneirismo de O Cruzeiro na dupla repórter fotógrafo;

   −   Analisar as mudanças proporcionadas por Manzon no periódico no âmbito do
       fotojornalismo;

   −   Compreender o papel das “duplas” e suas reportagens na consolidação e sucesso de
       O Cruzeiro;

A importância desta pesquisa destaca-se, ainda, quando se considera que a revista “Foi um
dos periódicos que consolidou muitas práticas do jornalismo, como a grande reportagem e o
fotojornalismo.” (SERPA; 2003), marcada por trazer inovações como a diagramação mais
atraente que priorizava a qualidade das fotos e “[...]além de ditar modas, normas e até
conceitos, num período em que o país cada vez mais se urbanizava e a sociedade passava
por transformações[...] ” (SERPA; 2003).




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Referencial Teórico

Fotojornalismo

A fotografia na imprensa mudou a visão das massas abrindo uma janela para o mundo,
inaugurando o mass media visual, quando o retrato individual é substituído pelo coletivo,
sendo atualmente impossível imaginar a imprensa sem a fotografia, “A introdução da
fotografia na imprensa foi um fenômeno de importância capital” (LIMA, 1989.p.9). Renegada
pelas artes tradicionais, a fotografia encontra no fotojornalismo a maneira de exibir toda a
sua capacidade de transmitir informação, tornando possível a escrita com imagens.

A revista O Cruzeiro foi a maior e mais importante revista da América Latina no século XX,
com grande importância para o desenvolvimento e consolidação do fotojornalismo brasileiro.
O fotojornalismo é definido por MUNTREAL e GRANDI (2005) como uma maneira de
eternizar os fatos, com a principal função de transmitir informação de forma eficiente, e a
fotorreportagem é marcada pela preponderância da imagem sobre o texto. LIMA (1989)
define a fotografia de imprensa como um meio de informação independente, e consciente
com o poder de introduzir o assunto de maneira direta e que ampliou as possibilidades para
a difusão social dos fatos cotidianos, e torna-se um canal entre o leitor e o mundo, a qual o
autor divide em três gêneros: Social; de Esporte; e Cultural.

Para PEREGRINO (1991) a fotografia como linguagem tem o poder de aproximar realidades
distintas, e foi a partir do final da Segunda Guerra Mundial que ela passou a ter tanto poder
quanto o discurso verbal. Segundo a autora, no Brasil, o papel do fotojornalismo foi
redefinido na revista O Cruzeiro a partir da década de 1930, com a mudança de direção e a
integração de Jean Manzon na redação, na década de 1940, quando a publicação passou a
integrar nas grandes reportagens a fotografia como elemento narrativo. O fotojornalismo,
portanto, seguindo SILVA (2004), é a relação da foto com o texto escrito, ocupando mais
espaço e tendo mais importância nas revistas ilustradas, apesar dos textos e legendas
também ter o poder de conduzir uma leitura específica da imagem.

O Cruzeiro

O Cruzeiro foi criada em 1928, e influenciou o fotojornalismo brasileiro por 16 anos (1944-
1960) período de maior revolução da prática no país, tanto pela utilização maciça da
fotografia como fenômeno de comunicação ou pela influência político-social da publicação
no Brasil (PEREGRINO, 1991). Segundo MAUAD (2004) a revista seguia o modelo da
revista americana Life, inaugurando uma nova tendência no jornalismo brasileiro, o que
obrigou as outras publicações a se adaptar para competir com O Cruzeiro, que agora via o
fotógrafo como testemunha ocular, e a fotografia como uma forma de narrativa.

MORAIS (1994) conta que Manzon foi convidado pelo sobrinho de Assis Chateaubriand a


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integrar a equipe da revista, implantando na imprensa brasileira, a partir daí as duplas
repórter-fotógrafo, um hábito da imprensa européia, onde um só escreve e o outro só
fotografa. E segundo CARNEIRO (1999) as mudanças propostas pelo fotógrafo francês na
parte gráfica da revista, e no modelo de trabalho foram realizadas com base em sua
experiência na imprensa européia, onde fez parte da Paris-Match e do Paris Soir, além de
registrar a Segunda Guerra para a Marinha Francesa e o governo inglês.

CARVALHO (2001) descreve a chegada de Jean Manzon na revista como decisiva para o
desenvolvimento da publicação e do fotojornalismo no país, pois as fotos de Manzon eram
de um estilo até então nunca visto no Brasil. A dupla David Nasser e Jean Manzon foi a
primeira da revista e tinha um estilo único, que geralmente começava com uma conversa
com o leitor, em tom pessoal antes do texto principal, e com fotos de página inteira.
Trabalharam juntos por nove anos, com duas interrupções, e três fases distintas, produzindo
reportagens que entraram para a história do jornalismo brasileiro.

NETTO (1990) diz que foi na publicação que os repórteres ganharam status de heróis, o que
provocou uma revolução no jornalismo brasileiro. Descreve as fotografias de Manzon como
tão impressionantes que poderiam ser comparadas aos quadros da série negra de Goya, e
a dupla que formou com Nasser era de grande fama, fazendo parte do chamado “esquadrão
de ouro” da revista, com a filosofia de que “a verdade fica mais verdadeira quando exposta
com uma razoável dose de fantasia” (NETTO, 1998.p.108). MORAIS (1994) afirma que a
dupla formada com David Nasser tornou-se marca registrada da revista com matérias
aguardadas com ansiedade pelos leitores.

A importância da publicação para o desenvolvimento do fotojornalismo no país é indiscutível
para grande parte dos autores, tal qual SERPA (2003) a descreve como um dos periódicos
que consolidou a grande reportagem e o fotojornalismo como práticas no jornalismo
nacional, principalmente por trazer inovações como a diagramação mais atraente e
priorização da qualidade das fotografias. Para SILVA (2004), A dupla Nasser e Manzon
inaugurou a era das grandes reportagens, e fizeram escola ao tratar de assuntos que
atingem o gosto do leitor, apostando na aventura para cativar a emoção do público.

O Cruzeiro foi a primeira publicação brasileira a dar créditos às fotografias publicadas, o que
alterou substancialmente a vida profissional da fotografia que passou a ter maior
importância, e ser valorizados como repórteres-fotográficos (BARBOSA, 2002; CAMARGO,
2005; CARNEIRO, 1999; CARVALHO, 2001; COSTA, 1998; LIMA, 1989; MAUAD, 2004;
MIRA, 1997; MORAIS, 1994; MUNTREAL e GRANDI, 2005; NETTO, 1990; PEREGRINO,
1991; SCALZO, 2006; SERPA, 2003; SILVA, 2004; SOUSA, 2002; TACCA, 2006).




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VII Jornada de Iniciação Científica - 2011


Método

A presente pesquisa é baseada em pesquisa bibliográfica e análise de exemplares.
Inicialmente foi preciso compreender a linguagem do fotojornalismo e a importância da
fotografia para a comunicação de imprensa, com base em autores como Jorge Pedro
Sousa, que traça uma História Crítica do Fotojornalismo no século XX, resumindo as
mudanças proporcionadas nos meios de comunicação pelo desenvolvimento do
fotojornalismo, prática que destacou-se e evoluiu com as principais coberturas de Guerra.

Em segundo lugar, partiu-se para a história dos Diários Associados, com base em livros
como Chatô, o Rei do Brasil (MORAIS, 2004) e Brasil, Primeiro: A História dos diários
Associados (CARNEIRO, 1999). O que levou à intensa pesquisa sobre a história da mais
importante do conglomerado de comunicação, a revista O Cruzeiro, sobre a qual foi
estudado o pioneirismo em estilo fotográfico e gráfico, além do modelo de trabalho, o qual
se centra a pesquisa, com duplas entre repórteres-fotógrafos, em que um só escrevia e o
outro só fotografava. Tal modelo foi implantado pelo francês Jean Manzon, que trouxe
inovações de suas experiências na imprensa européia, e formou a primeira dupla com David
Nasser. O estilo consolidado por ambos alavancou o sucesso da revista, e promoveu uma
mudança na forma de fazer jornalismo de revista no país.

A partir daí, foi escolhido o primeiro ano 1943 como foco de estudo, por ser o ano de estréia
da dupla, e assim concluir como foram impressas as mudanças conforme suas primeiras
matérias publicadas. Durante o período de agosto a dezembro de 1943 um total de seis
matérias foram selecionadas como objeto de estudo, por serem produzidas com o modelo
de trabalho dupla repórter-fotógrafo, e apresentar maior destaque as fotos. São elas: Uma
Festa de Arte, 16 de outubro de 1943; O Destino de uma fazenda, 23 de outubro de 1943;
Madame Butterfly, 30 de outubro de 1943; Sete dias em O Cruzeiro, 6 de novembro de
1943; e a primeira grande reportagem propriamente dita, Os loucos serão felizes?, 17 de
novembro de 1943.

Os exemplares originais das revistas foram encontrados, cinco no acervo da biblioteca do
Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP), e um, no Arquivo Público do Estado de São
Paulo. Com as fotografias das matérias em mãos, a análise foi feita com base na
comparação em um exemplar anterior ao analisado (14 de agosto de 1943), e na bibliografia
consultada, que também apresenta a discussão dos formatos de outras publicações
contemporâneas à revista, e analisam as próprias inovações do objeto de estudo, como
PEREGRINO (1991), em O Cruzeiro: A Revolução da Fotorreportagem.




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Resultados e Discussão

Revista O Cruzeiro

Criada no ano de 1928, a revista O Cruzeiro foi a maior e mais importante revista semanal
de notícias da América Latina no século XX, considerada uma espécie de TV Globo da
época. Fazia parte de um grande conglomerado de comunicação, Os Diários Associados,
que em 1956 contava com 31 jornais, 5 revistas, 21 emissoras de rádio, 3 estações de
televisão, 1 agência telegráfica, 2 agências de representações, e 2 empresas industriais
(CARVALHO, 2001).

O Cruzeiro saia semanalmente as terças-feiras, e representava um forte ponto de referência
para jornalistas, público leitor e opinião pública da época (PEREGRINO, 1991). A publicação
deu grande espaço para a fotorreportagem, proporcionando para a fotografia uma
importância até então inexistente na imprensa brasileira. Os primeiros repórteres-
fotográficos do país surgiram na década de 1920, através dos contínuos ou amigos dos
donos de jornais, com maior tempo livre e com uma câmera na mão, ou vontade de subir de
categoria (LIMA, 1989).

O uso da fotografia de imprensa se consolidou após o fim da II Guerra, propondo uma nova
forma ao texto jornalístico, e a revista O Cruzeiro redefiniu o papel da imagem fotográfica
com um efeito revigorador (PEREGRINO, 1991), as grandes reportagens amplamente
ilustradas por fotografias se tornaram uma marca registrada da revista, já em 1930, quando
passou a publicar as primeiras fotos aéreas estampadas em folhas duplas. A valorização da
linguagem fotográfica introduziu um novo conceito de editoração que rompia com as
fórmulas que usavam o discurso verbal como principal fonte de informação; “A
preponderância da imagem sobre o texto demonstra que a fotorreportagem não é uma
simples reportagem verbal ilustrada, mas, na verdade, uma reportagem visual auxiliada por
texto” (MUNTREAL; GRANDI; 2005.p.49).

Com a mudança de direção, e a chegada de Frederico Chateaubriand a partir da década de
1940, que a revista passou a adotar a linha de reportagens com o uso da fotografia de uma
forma mais integrada, incorporando a foto como elemento narrativo, incorporando o padrão
de qualidade das publicações internacionais, como Life e Paris Match (SILVA, 2004). Esse
estilo amplia as possibilidades para a difusão social dos fatos do cotidiano, pois “dá ao leitor,
no primeiro olhar, o assunto da informação de maneira direta” (LIMA, 1989.p.18), além
disso, fixa um acontecimento e suas impressões, relatados pelo fotógrafo “o intermediário
visual entre a notícia e o público”.

O fotógrafo francês Jean Manzon, convidado pelo sobrinho do dono dos Associados para
integrar a equipe da revista em 1943, foi quem introduziu no Brasil a dobradinha repórter


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fotógrafo (MORAIS; 1994). Baseado em sua experiência na imprensa européia, o que
provocou mudanças expressivas no aspecto da revista.

A reportagem fotográfica era praticamente inexistente no Brasil naquela época. Após folhear
algumas edições, o fotógrafo declarou que a revista parecia um catálogo, de retratos fixos,
posados, idênticos, e de paginação atrasada (CARVALHO, 2001).

                                  Quando cheguei em O Cruzeiro, a reportagem fotográfica
                                  no Brasil era inexistente. Havia um atraso muito grande, a
                                  paginação era confusa e [havia] sobretudo muito receio
                                  de mudar. Comecei com minhas matérias sem ninguém
                                  que escrevesse os textos, nem mesmo as legendas.
                                  (MANZON apud CARVALHO, 2001,p.63)
As mudanças propostas por Manzon seguiam o rumo do processo de modernização das
grandes revistas ilustradas do mundo, que procuravam valorizar a fotografia tanto quanto o
texto, e segundo o próprio fotógrafo, a utilização da fotografia de página inteira foi uma
revolução dentro da revista (MANZON apud PEREGRINO, 1991.p.38). A primeira dupla foi
formada por Manzon e o repórter David Nasser, que juntos produziram muitas matérias
famosas e polêmicas, tornando-se marca registrada da revista durante os nove anos em que
trabalharam juntos.

O Cruzeiro foi a primeira publicação a conceder créditos às fotografias publicadas, contando
inclusive com um departamento e equipe de fotografia que continha profissionais além de
Jean Manzon, Edgar Medina, Salomão Scliar, Lutero Avila, Peter Scheir, Flávio Damm, José
Medeiros entre outros, encarregados de introduzir a linguagem fotográfica do fotojornalismo
nas reportagens (MAUAD; 2004). Com essa nova linguagem as fotografias ganharam um
caráter didático na matéria criando uma correlação texto/imagem.

A decadência da revista começou na década de 1960 com a mudança de direção e linha
editorial, os dirigentes simplesmente haviam ignorado ou minimizando a importância dos
fotógrafos, além de aumentar o número de reportagens fúteis, o que diminuiu a credibilidade
da revista com parte do público (PEREGRINO,1991). Entretanto, foi na publicação, que os
repórteres ganharam status de heróis, alcançando condições de estrelas, “enobrecendo a
classe e provocando uma verdadeira revolução no jornalismo nacional” (NETTO,
1998.p.106). Foi a partir da atuação pioneira da revista, e do número crescente de novas
publicações surgindo, que se estabeleceu um mercado de trabalho em expansão para o
fotógrafo de imprensa no Brasil. Em seu auge, a revista alcançava todos os tipos de leitores,
com a “fórmula de revista da família brasileira”, abrangência de temas e valorização de
imagens que influenciaram outras publicações da época (SILVA, 2004).

O Cruzeiro fechou em julho de 1975, depois de 47 anos de circulação ininterrupta. O título
foi cedido como forma de pagamento de dívidas, as máquinas vendidas a preço de ferro


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velho e os arquivos da revista entregues à guarda do Estado de Minas, único jornal do grupo
dos Diários Associados com dinheiro suficiente para arrematá-los (NETTO, 1998).

Dupla Repórter-Fotógrafo: Jean Manzon e David Nasser

David Nasser e Jean Manzon formaram a primeira dupla da revista, abrindo caminho para
outras como: José Leal e José Medeiros, Ubiratan Lemos e Indalécio Wanderley, etc; que
apesar de vinculadas, não impediam seus autores de trabalharem separados. Manzon e
Nasser foram a mais célebre dupla de O Cruzeiro, com um estilo único (CARVALHO, 2001).
Faziam cobertura de assuntos inusitados, e geralmente as matérias da dupla se iniciavam
com uma conversa com o leitor, em tom pessoal antes do texto e em letra maior, e com fotos
de página inteira. Logo se tornaram favoritos do público, fizeram parte do “esquadrão de
ouro” da revista, e o slogan “Texto David Nasser, Fotografia Jean Manzon” passou a ser
aguardado ansiosamente pelos leitores (MORAIS, 1994).

                                    A fórmula foi um sucesso. As reportagens da dupla logo
                                    passaram a ocupar as primeiras páginas da revista, com
                                    as sensacionais fotos de Manzon e o texto atraente de
                                    David Nasser, que parecia sempre seguir o rumo
                                    desejado pelos leitores. Eles buscavam sempre casos
                                    sensacionais, que a imprensa daquela época abordava
                                    de forma insossa. (NETTO, 1998)
Jean Manzon foi fotógrafo da revista Paris-Match e do Paris Soir, registrou a Segunda
Guerra sendo membro do Serviço fotográfico e Cinematográfico da Marinha Francesa e do
serviço cinematográfico de guerra inglês até 1942 quando veio ao Brasil (MORAIS; 1994),
onde fez parte do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante o governo
Vargas, até que, Frederico Chateaubriand o convidou para fazer parte da revista O Cruzeiro
em 1943. Manzon propôs mudanças na parte gráfica da revista “[...] para mudar seu aspecto
de catálogo[...]” (CARNEIRO;1999.P.336) e a parceria repórter-fotógrafo, baseado em sua
experiência na imprensa francesa.

Em Cobras Criadas (2001), Luiz Marklouf Carvalho afirma que as fotos de Manzon eram de
um estilo até então nunca visto no Brasil, o que provocou uma reformulação estética em O
Cruzeiro, com fotografias de ângulos diferentes, mudando a relação texto imagem, que
elaboravam uma narrativa dos fatos com o texto escrito acompanhando as imagens como
apoio. Os temas das matérias passaram a ser caracterizados pela preferência do fotógrafo,
e as de Manzon traziam “em seu bojo um forte traço de sensacionalismo, com a exploração
de atitudes chocantes, hábitos exóticos ou aspectos incomuns” (PEREGRINO, 1991.p.67).

Em 1944, o quadro de repórteres-fotográficos em O Cruzeiro era praticamente inexistente,
pois só havia na empresa o fotógrafo Edgar Medina, encarregado de fotografar as
solenidades mais formais. Como repórter-fotográfico, Jean Manzon teve papel pioneiro



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dentro da revista, o estilo de reportagem que veio implantar até 1951, tem o sentido de uma
demarcação de fronteiras e, desta forma, está ligado à deflagração de um conjunto de ideias
no qual surgiram os trabalhos dos diversos repórteres-fotográficos que, pouco a pouco,
foram entrando na revista (PEREGRINO, 1991). Após sua chegada, os padrões editoriais
que passaram a surgir na publicação, são evidenciados pela maior valorização da fotografia
em suas páginas, e a questão que o francês fazia de assinar suas fotos, o que provocou
“uma maior importância do fotógrafo, que passaria a assumir suas fotos” (MUNTREAL;
GRANDI, 2005.p.75), e proporcionou a saída do anonimato por parte desses profissionais
que passaram a ser valorizados na nova condição de repórteres-fotográficos.

O jornalista David Nasser, antes de O Cruzeiro, trabalhou no Diário da Noite e em O Globo.
Ficou conhecido como o mais famoso jornalista dos anos 1950 (CARVALHO, 2001).
Trabalhou na revista por trinta anos (1942 a 1974), fazendo dupla com Manzon nos
primeiros nove anos (1943 a 1951), produzindo neste período reportagens que entraram
para a história do jornalismo brasileiro, algumas delas com repercussão internacional, como
foi o caso da “Enfrentando os Chavantes”, índios isolados na Amazônia, que apareciam pela
primeira vez na imprensa.

A primeira reportagem de Jean Manzon na revista obteve duas páginas, publicada em
agosto de 1943, “Portinari Íntimo”. São onze fotografias, com texto de Franklin de Oliveira. O
primeiro texto de David Nasser em O Cruzeiro, no entanto, saiu em 1935, “Laurence da
Arábia”, como enviado especial. A estréia dos dois como dupla ocorreu com “Uma Festa de
Arte”, a primeira matéria dos dois publicada em outubro de 1943.

Com o nome de “O Destino de uma fazenda”, a segunda matéria foi publicada em 23 de
outubro do mesmo ano, era sobre a Escola de Pesca D. Darcy Vargas, em Ilha dos Breves.
Na edição seguinte de 30 de outubro, Manzon aparece com três matérias. Uma assina
sozinho (sobre um programa musical da rádio Tupi-SP), a outra com texto de Big Thomas
(“Escola de Girls”), e a terceira com David Nasser, “Butterfly’, a olho nu” era sobre os
bastidores de uma peça de teatro, “Madame Burttefly”, encenada no Teatro Municipal.

Na edição de 6 de novembro, assinam uma matéria comemorativa do aniversário de quinze
anos da revista, “Sete dias em O Cruzeiro” (CARVALHO,2001), que retrata uma semana
de trabalho na redação.        “Os loucos serão felizes?”, é a primeira reportagem
propriamente dita da dupla, publicada em 17 de novembro, e segundo Paulo Marklouf de
Carvalho (2001), é muito parecida com outra que Manzon havia feito para a revista Vu, e
estabelece um novo padrão gráfico na revista no mesmo estilo de Life e Match.
Apresentando:

                                   abertura de página dupla; prioridade absoluta para a



                                                                                               10
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                                    imagem, com foto sangrada na página ímpar; titulação de
                                    impacto no tamanho e no conteúdo, geralmente
                                    sensacionalista. Os chamados 'boxes'- textos de apoio a
                                    matéria principal- aparecem pela primeira vez. Subtítulos
                                    e linhas finas completam as novidades. (CARVALHO,
                                    2001.p.90)
Mesmo com todas as inovações e propriedades desta matéria, a mesma não consolida a
dupla, o que só ocorreria em 1944, quando foi publicada a matéria sobre a “morte” de
Manzon (na verdade uma mentira, que resultaria na matéria “ficcionista” “A Vida dos
Mortos”), desde então eles publicavam de duas a três matérias por semana em O Cruzeiro
(CARVALHO, 2001). O primeiro furo de reportagem, e uma das mais contestadas matérias
da dupla foi “Enfrentando os Chavantes” (no original com “ch”), em que fotos de uma aldeia
xavante desconhecida do homem branco foram tiradas de um helicóptero. A matéria teve
repercussão internacional, tendo fotos publicadas em veículos estrangeiros como a Life.
Considerada até os dias atuais como um marco na consolidação das grandes reportagens,
“ocupando    a    capa    e    18     páginas    inteiras    com     26    fotos    da    tribo”
(MUNTREAL&GRANDI,2005.p.75), as dúvidas em relação a matéria consistem quanto a
veracidade das fotografias, possíveis fotomontagens da dupla.

Jean Manzon e David Nasser formaram uma dupla de grande fama em O Cruzeiro, “cuja
filosofia podia ser resumida na seguinte frase: a verdade fica mais verdadeira quando
exposta com uma razoável dose de fantasia” (NETTO, 1998.p.108).               Muitas vezes as
grandes reportagens que transformavam esses repórteres em heróis, não apenas misturam
realidade e sonho como são produto de ficção, como afirmam os autores CARVALHO (2001)
e SILVA (2004), usando como exemplo algumas matérias, como ocorreu na série Amazônia,
produzida no jardim botânico do Rio de Janeiro, e a já citada matéria sobre os Xavantes.
Havia matérias com maneirismos fotográficos usados sem moderação, Manzon criava
imagens não convencionais utilizando meios tradicionais com conotações estranhas, e
raramente utilizava o flagrante, tendo na pose um elemento fundamental de sua fotografia,
“Em suas reportagens ficava evidente que ele preparava antecipadamente as cenas a serem
fotografadas, onde mobilizava um grande aparato técnico: câmaras, flashes e tripés”
(PEREGRINO, 1991.p.88).

Em O Império de Papel: Os Bastidores de O Cruzeiro (1998), Accioly Netto, afirma que
Nasser e Manzon pareciam ter um estranho poder sobre os personagens das histórias que
contavam, “como se os hipnotizassem” (p.115), citando como exemplo famoso a fotografia
do deputado Barreto Pinto, posada apenas de casaca e cueca, provocando um escândalo
que resultou no processo de cassação do parlamentar, por falta de decoro. E ao ser
questionado sobre esse “poder” que exerciam sobre seus personagens, Manzon declarou:




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                                  A objetiva da máquina tem um efeito hipnótico sobre as
                                  pessoas. Diante dela geralmente elas fazem qualquer
                                  coisa que lhes é pedida. Nunca se lembram de que por
                                  trás da lente existe um filme, que vai eternizar aquele
                                  instante, seja ele qual for. (MAZON apud NETTO,
                                  1998.p.116)
O Fotojornalismo para o fotógrafo francês era “a conjugação de procurar o interesse
jornalístico, de ter a sensibilidade de enxergar e interpretar criativamente o evento”
(MANZON apud PEREGRINO,1991.p. 90), de modo que o uso de aparato técnico reforça a
presença do fotógrafo e “a ansiedade do retratado, como parte de            uma idealização
formulada na base da apreensão se sua própria imagem” (PEREGRINO, 1991.p.91). Sua
obra era impregnada de caráter didático, explicitado no encadeamento lógico e cronológico
de suas ideias a cada fato, o conteúdo é, sobretudo, dramático, e bastante diversificado “de
onde emergem assuntos históricos, sociais, políticos e femininos” (PEREGRINO,
1991.p.94), de linguagem marcada pela composição carregada por um tratamento especial,
à organização premeditada dos elementos no espaço de representação.

A dupla trabalhou ininterruptamente até setembro do ano de 1945, com um total de 91
reportagens até então. Sua primeira separação coincidiu com o a queda Vargas e o Estado
Novo, mas em dezembro do mesmo ano a dupla se reconcilia, “os primeiro frutos dessa fase
são reportagens sobre as eleições gerais de 2 de dezembro” (CARVALHO, 2001.p.146).
Houve uma segunda ruptura no final dos anos 1940, em que a dupla ficou 8 meses sem
produzir nada juntos, até julho de 1949. Nessa terceira e última fase, a dupla faria 57
matérias, parte delas resultantes de viagens internacionais. “O estilo continuava o mesmo:
show de fotos posadas, texto fluente, mas completamente descompromissado com os fatos”
(CARVALHO, 2001.p.247).

A última matéria dos dois foi “O Rei que Nostradamus previu” realizada na Europa, e
publicada em agosto de 1951. Jean Manzon foi para a revista Manchete onde ficou pouco
tempo, e logo foi fazer documentários comerciais e cinema. David Nasser continuou na
revista até seu fechamento, e apesar da separação permaneceu amigo de Manzon até
morrer no Rio de Janeiro, aos 63 anos, em 10 de dezembro de 1980, “rico e ainda influente
como articulista da revista Manchete” (CARVALHO, 2001.p.19).

Análise de Matérias

De acordo com LIMA (1989), a fotografia jornalística pode ser separada em três gêneros:
Sociais (foto política informa sobre economia, e chama atenção aos fatos gerais); de
Esporte (função estética, e transmissão de emoção); Culturais (ilustrativa); Assim, as fotos
apresentadas nas matérias analisadas encaixam-se no gênero descrito como Social, visto
que, ilustra grandes reportagens de temas que chamam a atenção do público a fatos gerais,



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como é o caso da vida de internos no hospício. “A fotografia de imprensa se transformou
num meio de informação independente, consciente, agitador e emocionante” (LIMA,
1989.p.22).

“Uma Festa de Arte”, publicada em outubro de 1943, foi a de estréia da dupla. A matéria
era sobre um evento promovido pela esposa do ministro da Viação, Mendonça Lima, com
três páginas e onze fotos. O texto aparece como um complemento às imagens, em um box,
e nas legendas. As fotografias eram a matéria-prima na edição das reportagens ilustradas e
eram a base para a elaboração de legendas e textos, “A preponderância da imagem sobre o
texto demonstra que a fotorreportagem não é uma simples reportagem verbal ilustrada, mas,
na verdade, uma reportagem visual auxiliada por texto” (MUNTREAL; GRANDI, 2005.p.49).

Com a mesma temática social, com seis páginas, “O Destino de uma fazenda”, a segunda
matéria de Manzon e Nasser, foi publicada em 23 de outubro. Consistia na propaganda da
Escola de Pesca D. Darcy Vargas, mantida pelo governo na Ilha dos Breves, próximo a
Angra dos Reis. Assis Chateaubriand, ao qual a revista pertencia, era partidário do governo
e costumava encomendar matérias que fortalecesse seus laços políticos. A terceira matéria
é sobre os bastidores da peça “Madame Burttefly” encenada no Teatro Municipal, com o
título de “Butterfly’, a olho nu”, possui cinco páginas: quatro de fotografias, e mais uma
com a conclusão do texto em um box, como descrito no parágrafo anterior. São sete
fotografias, as seis primeiras divididas em duas páginas, com três em cada e dividindo
espaço com um box de texto, enquanto a última é apresentada em página inteira.

Ambas as matérias são marcadas pelo crescente destaque da fotografia em relação ao
texto, pois as imagens são apresentadas em ordem sequencial, seguindo uma narrativa de
fatos, enquanto o texto restringe-se às legendas e a boxes, com a ordem quebrada, pois é
concluído em outras páginas diferentes da matéria original, geralmente em outros pequenos
boxes no meio de propagandas, marcado por legendas: “Continua na pág. 70”;
“Continuação da pág. 61”; “Conclusão da pág. 70”. As fotografias em ordem seqüencial, e
uma fotografia de página inteira marcando o fim ou o inicio da reportagem, são marcas das
mudanças propostas por Manzon (PEREGRINO, 1991), pois até o início da década de 1940,
O Cruzeiro mantinha a mesma fórmula de suas concorrentes, com fotos de pequenos
formatos agrupadas sem nenhum critério aparente (SILVA, 2004).

Em comemoração ao aniversário de quinze anos da revista, foi publicada em 6 de
novembro, a matéria “Sete dias em O Cruzeiro”, em quatro páginas, com fotos do trabalho
na redação, seguindo os moldes da última reportagem, com maior destaque e espaço para a
fotografia. A matéria “Os Loucos serão Felizes?” foi a primeira grande reportagem da
dupla, resume o conceito que consolidaria o estilo de ambos. Uma matéria de capa, com



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muitas fotografias de página inteira, retratando a história como uma aventura vivida pela
dupla, que nesse caso representa uma visita de onze horas ao Hospital Nacional dos
Alienados na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Nessa matéria são retratadas a vida de
doentes mentais dentro do hospício, onde encontram histórias pessoais dramáticas,
descrevendo o tratamento desumano recebido pelos internos, com texto de Nasser
descrevendo-os “como figuras patéticas que circulavam pelos pátios como postas de carne
ambulante”, e “as fotografias de Jean Manzon, que se esmerou mais do que nunca nas
imagens, eram tão impressionantes que poderiam ser comparadas aos quadros de Goya,
em sua imortal Série negra.”(NETTO,1998.p.114).

A matéria é iniciada com uma foto de página inteira, de um homem solitário, sentando,
pensativo em uma grande escada, acompanhada de um pequeno box de texto, que é
finalizado com uma apresentação da reportagem que virá: “O leitor se imagina encontrar
uma narrativa cheia de histórias curiosas onde o drama dessas pobres vidas surgisse em
lances pitorescos, vire 7 páginas dessa reportagem” (NASSER in O CRUZEIRO, Nov. 1943.
p. 32). Nas duas páginas seguintes cinco novas fotografias em tamanho grande completam
as páginas, acompanhadas de um trecho de texto na terceira página da reportagem, e um
Box explicativo sobre as possíveis causas da loucura. O que se repete nas páginas
seguintes é um maior destaque às fotografias, com maior espaço que o texto, concluído em
uma página dedicada à propaganda. Um fator comum observado nessas imagens é o
destaque às pessoas, retratadas em primeiro plano, ou em poses que remetem ao
sofrimento e à solidão do lugar onde estão, como uma em que um homem se apóia numa
parede que tem a frase “Este hospício é uma sucursal do inferno”. A abordagem da dupla
representa, como “a fotografia no Brasil se mostrou, ao longo da história recente, uma
importante linguagem no processo de conscientização e informação da sociedade [...]”
(MUNTREAL;GRANDI, 2005.p.9).

Essas inovações marcaram as fotorreportagens nas décadas seguintes, com valorização da
fotografia, temáticas variadas, e apresentação gráfica diferenciada com fotos de diferentes
tamanhos. “O formato da ampliação da fotografia é importante para se ressaltar ou se
diminuir a importância da notícia. Um detalhe é certo: as notícias com fotografias são mais
lidas” (LIMA, 1989.p.64).

A partir de 1944, observou-se de forma mais clara, as sensíveis modificações em uma nova
concepção, e estruturação da fotografia como forma de exprimir na revista os
acontecimentos do mundo, tornando as grandes reportagens um gênero jornalístico que
expressava as mudanças ocorridas na sociedade a partir do trabalho do fotógrafo. “O
Cruzeiro alterou substancialmente a vida profissional do repórter fotográfico, oferecendo
condições para criação de um espaço de trabalho muito peculiar e criando assim um novo


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universo editorial para a fotografia de imprensa” (PEREGRINO, 1991.p.104). A revista
seguia uma linha de produção influenciada pela revista internacional Life, inaugurando uma
nova tendência no jornalismo brasileiro, obrigando “uma reformulação geral nas publicações
já existentes obrigando-as a modernizar a estética de sua comunicação”, o fotojornalismo de
O Cruzeiro criou um estilo que via o fotógrafo como “‘testemunha ocular' associada à ideia
de que a imagem fotográfica podia elaborar uma narrativa obre os fatos” (MAUAD,
2003.p.3).

A fotografia de Manzon era baseada no uso consciente da linguagem fotográfica, e suas
imagens são na maioria resultados de montagens e encenações (PEREGRINO, 1991).
Apesar do estilo de Manzon ter se impregnado nas reportagens produzidas pelos fotógrafos
de O Cruzeiro, é possível afirmar, segundo a autora Nadja Peregrino (1991), que houve a
“existência de outras duas linhas em torno das quais vai estar centrada a concepção
fotográfica jornalística da década de 50” (p.94), a primeira com ênfase na qualidade técnica,
em que as fotos são produzidas em detrimento da qualidade, sem muitos momentos de
flagrante (mais fiel ao usado pelo fotógrafo francês). A outra é marcada pela ruptura dos
repórteres-fotográficos, com o modelo tradicional, em que a foto tem ênfase na
espontaneidade de personagens e situações, mais comum nos trabalhos de José Medeiros,
mas independente dos estilos, “O mais importante no fotojornalismo é a eficiência da foto
em transmitir a informação” (MUNTREAL;GRANDI, 2005.p.10).



Conclusão

O estudo buscou sintetizar a importância da revista O Cruzeiro, para o desenvolvimento do
jornalismo brasileiro e principalmente do fotojornalismo, com base na mudança de seu
padrão estético iniciado com a chegada do fotógrafo francês Jean Manzon, que trouxe
tendências das revistas internacionais, com base em sua experiência na imprensa francesa.
A revista O Cruzeiro tinha os mais modernos equipamentos de impressão de sua época. “As
grandes reportagens eram uma de suas marcas, algumas merecendo até mesmo números
especiais. A utilização de fotografias buscava a inovação com as primeiras fotos aéreas
estampadas em folhas duplas, já em 1930” (MUNTREAL;GRANDI, 2005.p.62). Foi na
publicação que os repórteres ganharam status de heróis (NETTO,1991), os fotógrafos
passaram a assinar suas fotos, e profissão de repórter-fotográfico ganhou reconhecimento.

As grandes reportagens da revista marcaram o jornalismo nacional, e levaram a revista a
recordes de tiragem, e a tornar-se a maior revista ilustrada brasileira no século XX,
chegando a 700mil exemplares, na década de 1960 e circulando por 47 anos ininterruptos
(1928-1975). Essas matérias eram geralmente produzidas por duplas, de repórteres-



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fotógrafos, onde um só fotografava, enquanto o outro só escrevia. Outra modificação
implantada pelo francês, que formou a primeira dupla com o repórter David Nasser. Ambos
produziram algumas das mais famosas reportagens da história do jornalismo brasileiro, e
formaram o esquadrão de outro da revista, onde outras duplas também se firmaram, e
alavancaram o sucesso da publicação, principalmente entre as décadas de 1940 e 1950.

O estilo da dupla ficou marcado por se iniciar com um box de texto, em tom pessoal, em tom
de conversa com o leitor, antes do texto principal, e geralmente em letra maior. As
fotografias eram o foco narrativo da história, e as de página inteira iniciavam ou finalizavam
as matérias. Exerciam um poder sobre seus personagens, e seu estilo era marcado por dar
uma dose de fantasia a realidade, com “texto atraente e fotos sensacionais” (NETTO, 1991),
o que conquistou os leitores, que esperavam ansiosamente por suas matérias, as quais
produziram juntos até 1951. Por fim, a chegada de Jean Manzon na revista significou uma
revolução no padrão gráfico e fotográfico da revista, que segundo ele parecia um catálogo,
até sua chegada. Por fazer questão de assinar suas fotografias, o fotógrafo abriu caminho
para a valorização do profissional de imagem nas publicações, inexistente até então. Criou o
departamento de fotografia na revista, e mudou a maneira de diagramar as fotografias, que
passaram a ter mais espaço e a ser organizadas de forma mais harmônica. O que com o
tempo passou a influenciar outras publicações ilustradas no país.



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  23. SERPA, Leoní; A Máscara da modernidade: A mulher na revista O Cruzeiro
      (1928-1945). 2003. Artigo (Mestre em História e Jornalista). Disponível
      em:<http://www.eca.usp.br/ pjbr/arquivos/artigos7_b.htm> Acesso em: 19 de out.
      2009

  24. SILVA, Silvana Louzada da. Fotojornalismo em Revista: O fotojornalismo em O
      Cruzeiro e Manchete nos governos Juscelino Kubistchek e João Goulart.
      (Dissertação de Mestrado) Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2004.
      Disponível em:< http//WWW.bdtd.ndc.uff.br> Acesso em: 27 de out. De 2009

  25. SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: Uma introdução á história, ás técnicas e á
      linguagem     da     fotografia     na    imprensa.       2002.    Disponível   em:
      <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-fotojornalismo.pdf > Acesso em: 23 de
      out.2009

  26. ________________. Uma história crítica do fotojornalismo no ocidente. 1998.
      Disponível       em:      <http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=sousa-jorge-
      pedrohistoria_fotojorn1.html> Acesso em: 26 de out. 2009

  27. TACCA, Fernando de. O Cruzeiro versus Paris Match e Life Magazine: um jogo
      espetacular. In: LÍBERO. Ano IX. Nº17. SP: Jun. 2006. Disponível em:
      <.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/.../R0317-1.pdf > Acesso em: 29 de
      abril.2010.



Contato: gleissieli.souza@gmail.com e cicelia@mackenzie.br




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A influência da dupla repórter-fotógrafo de O Cruzeiro no jornalismo brasileiro

  • 1. Universidade Presbiteriana Mackenzie DUPLA REPÓRTER-FOTÓGRAFO NA REVISTA O CRUZEIRO, E SUA INFLUÊNCIA NO JORNALISMO BRASILEIRO Gleissieli Souza de Oliveira (IC) e Cicélia Pincer (Orientadora) Apoio: PIBIC Mackenzie/MackPesquisa Resumo O projeto pretende analisar o desenvolvimento do fotojornalismo no Brasil, por meio da revista O Cruzeiro, e a introdução do recurso da dupla repórter-fotógrafo no jornalismo brasileiro. Tal recurso foi primeiramente apresentado na por intermédio do fotógrafo francês Jean Manzon, quando ingressou na revista em 1943, além de outras modificações que ele proporcionou a publicação, idealizadas com base em suas experiências na imprensa francesa. Em O Cruzeiro formou a primeira dupla com o repórter David Nasser. A dupla conquistou grande fama e prestígio na imprensa nacional, principalmente, pela realização de grandes reportagens, muitas delas polêmicas. Trabalharam juntos de 1943 a 1951, produzindo neste período reportagens históricas e recordistas em vendas. A pesquisa é focada no primeiro ano de produção dos dois: 1943. Analisando neste período as reportagens realizadas e as mudanças que proporcionaram à revista O Cruzeiro, que por ser a maior e mais importante revista brasileira do século XX, influenciaram as características do jornalismo brasileiro atual. Palavras-chave: O Cruzeiro; repórter-fotógrafo; fotojornalismo brasileiro Abstract The project aims to analyze the development of photojournalism in Brazil, through the magazine O Cruzeiro, and the introduction of the double feature reporter-photographer in Brazilian journalism. This appeal was originally filed in through the French photographer Jean Manzon, when he joined the magazine in 1943, and other changes that it brought the publication idealized based on his experiences in the French press. In O Cruzeiro formed the first team with reporter David Nasser. The duo won great fame and prestige in the national press, especially the implementation of major stories, many of them controversial. They worked together from 1943 to 1951, this time producing reports and historical record-breaking sales. The research is focused on the first year of the double: 1943. Analyzing the reports made during this period and the changes it brought to the magazine O Cruzeiro, which is the largest and most important Brazilian magazine of the twentieth century, influenced the characteristics of Brazilian journalism today. Key-words: O Cruzeiro; reporter-photographer; brazilian photojournalism 1
  • 2. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Introdução A história dos Diários Associados se confunde com a história da Imprensa no Brasil. O primeiro conglomerado de comunicação do país revolucionou em muitos aspectos a imprensa brasileira e a sociedade de sua época: seu primeiro veículo O Jornal, de 1924, substituiu os textos longos, comuns nos jornais do período, por reportagens; criaram a primeira agência de notícias por radiodifusão do país; as campanhas de “responsabilidade” social e empresarial organizadas pelo grupo arrecadou investimentos para diversas áreas da sociedade brasileira (aviação, saúde, transporte, cultura); foram o primeiro grupo de comunicação a ter uma agência de publicidade própria; possuiu a primeira emissora de TV da América Latina (TV TUPI-SP) e uma das maiores e mais importantes emissoras de rádio do país; além de obter por 47 anos a mais importante revista semanal ilustrada brasileira do século XX, O Cruzeiro, que inovou em muitos aspectos a imprensa nacional. A revista ilustrada semanal O Cruzeiro surgiu em novembro de 1928 com um projeto de “linha editorial dita como moderna” (SERPA; 2003), com o intuito de ser tornar uma revista de circulação nacional. “Durante vinte anos a revista não trouxe lucros aos Diários Associados [...]” (CARNEIRO; 1999), o primeiro exemplar obteve uma tiragem de 50 mil exemplares e saiu em várias capitais brasileiras simultaneamente. O cenário mudou á partir de 1943, com a produção das grandes reportagens pelas duplas repórter-fotógrafo, caracterizadas pela riqueza de imagens, o que fez com que a revista esgotasse nas bancas e aumentasse sua tiragem (ROMANCINI & LAGO; 2007). A revista atinge seu auge quando passa a circular no exterior, fazendo sucesso em países da América Latina. Foi a primeira publicação brasileira a conceder créditos às fotografias publicadas, contando inclusive com um departamento e equipe de fotografia. O fotógrafo francês Jean Manzon, foi convidado pelo sobrinho do dono dos Associados para integrar a equipe da revista em 1943, e foi o responsável por introduzir “[...] no Brasil um hábito da imprensa de reportagem européia: a dobradinha repórter fotógrafo. Um só escreve, o outro só se preocupava em fotografar.” (MORAIS; 1994). Manzon foi fotógrafo da revista Paris-Match do Paris Soir, e registrou a Segunda Guerra para a Marinha Francesa e o governo da Inglaterra até 1942, quando veio ao Brasil, onde fez parte do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante o governo Vargas, até que, Frederico Chateuabriand o convidou para fazer parte da revista O Cruzeiro em 1943. Jean Manzon propôs mudanças na parte gráfica da revista “[...] para mudar seu aspecto de catálogo [...]” (CARNEIRO; 1999. p.336). Jornalista e compositor, David Nasser trabalhou também em O Globo, e foi durante muito 2
  • 3. Universidade Presbiteriana Mackenzie tempo companheiro de Manzon em O Cruzeiro, ganhando grande prestígio dentro e fora do país por suas grandes reportagens. Nasser e Manzon estrearam na revista em 1943. Entre 43 e 51 fizeram reportagens que marcaram a história no jornalismo brasileiro, como a que mostra o deputado federal Barreto Pinto de fraque e cuecas, a da aldeia dos índio xavantes, ou ainda a que Chico Xavier foi fotografado dentro de uma banheira (CARVALHO; 2001). Embora tenham a veracidade de algumas delas contestadas, como aborda Luiz Marklouf Carvalho em seu livro “Cobras Criadas: David Nasser e O Cruzeiro”, a dupla se tornou uma marca registrada da revista. Desta maneira, este estudo pretende responder a questão “Quais mudanças e inovações as duplas repórter-fotógrafo de O Cruzeiro proporcionaram ao fotojornalismo e imprensa brasileira?”, buscando analisar o pioneirismo no jornalismo brasileiro da adoção da dupla repórter-fotógrafo adotado por O Cruzeiro, utilizando como objeto de estudo a mais famosa delas: Jean Manzon e David Nasser. Por meio de uma pesquisa qualitativa em livros, estudos científicos, e periódicos; esta pesquisa tem como objetivo analisar as grandes reportagens feitas pela dupla no ano de 1943, quando estão formando seu “estilo”, a maneira como foram produzidas e as mudanças provocadas na imprensa brasileira. Busca-se atingir ainda os seguintes objetivos específicos: − Compreender a importância das grandes reportagens e inovações gráficas de O Cruzeiro para o desenvolvimento da imprensa nacional; − Elencar as características das grandes reportagens feitas pela dupla; − Destacar o pioneirismo de O Cruzeiro na dupla repórter fotógrafo; − Analisar as mudanças proporcionadas por Manzon no periódico no âmbito do fotojornalismo; − Compreender o papel das “duplas” e suas reportagens na consolidação e sucesso de O Cruzeiro; A importância desta pesquisa destaca-se, ainda, quando se considera que a revista “Foi um dos periódicos que consolidou muitas práticas do jornalismo, como a grande reportagem e o fotojornalismo.” (SERPA; 2003), marcada por trazer inovações como a diagramação mais atraente que priorizava a qualidade das fotos e “[...]além de ditar modas, normas e até conceitos, num período em que o país cada vez mais se urbanizava e a sociedade passava por transformações[...] ” (SERPA; 2003). 3
  • 4. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Referencial Teórico Fotojornalismo A fotografia na imprensa mudou a visão das massas abrindo uma janela para o mundo, inaugurando o mass media visual, quando o retrato individual é substituído pelo coletivo, sendo atualmente impossível imaginar a imprensa sem a fotografia, “A introdução da fotografia na imprensa foi um fenômeno de importância capital” (LIMA, 1989.p.9). Renegada pelas artes tradicionais, a fotografia encontra no fotojornalismo a maneira de exibir toda a sua capacidade de transmitir informação, tornando possível a escrita com imagens. A revista O Cruzeiro foi a maior e mais importante revista da América Latina no século XX, com grande importância para o desenvolvimento e consolidação do fotojornalismo brasileiro. O fotojornalismo é definido por MUNTREAL e GRANDI (2005) como uma maneira de eternizar os fatos, com a principal função de transmitir informação de forma eficiente, e a fotorreportagem é marcada pela preponderância da imagem sobre o texto. LIMA (1989) define a fotografia de imprensa como um meio de informação independente, e consciente com o poder de introduzir o assunto de maneira direta e que ampliou as possibilidades para a difusão social dos fatos cotidianos, e torna-se um canal entre o leitor e o mundo, a qual o autor divide em três gêneros: Social; de Esporte; e Cultural. Para PEREGRINO (1991) a fotografia como linguagem tem o poder de aproximar realidades distintas, e foi a partir do final da Segunda Guerra Mundial que ela passou a ter tanto poder quanto o discurso verbal. Segundo a autora, no Brasil, o papel do fotojornalismo foi redefinido na revista O Cruzeiro a partir da década de 1930, com a mudança de direção e a integração de Jean Manzon na redação, na década de 1940, quando a publicação passou a integrar nas grandes reportagens a fotografia como elemento narrativo. O fotojornalismo, portanto, seguindo SILVA (2004), é a relação da foto com o texto escrito, ocupando mais espaço e tendo mais importância nas revistas ilustradas, apesar dos textos e legendas também ter o poder de conduzir uma leitura específica da imagem. O Cruzeiro O Cruzeiro foi criada em 1928, e influenciou o fotojornalismo brasileiro por 16 anos (1944- 1960) período de maior revolução da prática no país, tanto pela utilização maciça da fotografia como fenômeno de comunicação ou pela influência político-social da publicação no Brasil (PEREGRINO, 1991). Segundo MAUAD (2004) a revista seguia o modelo da revista americana Life, inaugurando uma nova tendência no jornalismo brasileiro, o que obrigou as outras publicações a se adaptar para competir com O Cruzeiro, que agora via o fotógrafo como testemunha ocular, e a fotografia como uma forma de narrativa. MORAIS (1994) conta que Manzon foi convidado pelo sobrinho de Assis Chateaubriand a 4
  • 5. Universidade Presbiteriana Mackenzie integrar a equipe da revista, implantando na imprensa brasileira, a partir daí as duplas repórter-fotógrafo, um hábito da imprensa européia, onde um só escreve e o outro só fotografa. E segundo CARNEIRO (1999) as mudanças propostas pelo fotógrafo francês na parte gráfica da revista, e no modelo de trabalho foram realizadas com base em sua experiência na imprensa européia, onde fez parte da Paris-Match e do Paris Soir, além de registrar a Segunda Guerra para a Marinha Francesa e o governo inglês. CARVALHO (2001) descreve a chegada de Jean Manzon na revista como decisiva para o desenvolvimento da publicação e do fotojornalismo no país, pois as fotos de Manzon eram de um estilo até então nunca visto no Brasil. A dupla David Nasser e Jean Manzon foi a primeira da revista e tinha um estilo único, que geralmente começava com uma conversa com o leitor, em tom pessoal antes do texto principal, e com fotos de página inteira. Trabalharam juntos por nove anos, com duas interrupções, e três fases distintas, produzindo reportagens que entraram para a história do jornalismo brasileiro. NETTO (1990) diz que foi na publicação que os repórteres ganharam status de heróis, o que provocou uma revolução no jornalismo brasileiro. Descreve as fotografias de Manzon como tão impressionantes que poderiam ser comparadas aos quadros da série negra de Goya, e a dupla que formou com Nasser era de grande fama, fazendo parte do chamado “esquadrão de ouro” da revista, com a filosofia de que “a verdade fica mais verdadeira quando exposta com uma razoável dose de fantasia” (NETTO, 1998.p.108). MORAIS (1994) afirma que a dupla formada com David Nasser tornou-se marca registrada da revista com matérias aguardadas com ansiedade pelos leitores. A importância da publicação para o desenvolvimento do fotojornalismo no país é indiscutível para grande parte dos autores, tal qual SERPA (2003) a descreve como um dos periódicos que consolidou a grande reportagem e o fotojornalismo como práticas no jornalismo nacional, principalmente por trazer inovações como a diagramação mais atraente e priorização da qualidade das fotografias. Para SILVA (2004), A dupla Nasser e Manzon inaugurou a era das grandes reportagens, e fizeram escola ao tratar de assuntos que atingem o gosto do leitor, apostando na aventura para cativar a emoção do público. O Cruzeiro foi a primeira publicação brasileira a dar créditos às fotografias publicadas, o que alterou substancialmente a vida profissional da fotografia que passou a ter maior importância, e ser valorizados como repórteres-fotográficos (BARBOSA, 2002; CAMARGO, 2005; CARNEIRO, 1999; CARVALHO, 2001; COSTA, 1998; LIMA, 1989; MAUAD, 2004; MIRA, 1997; MORAIS, 1994; MUNTREAL e GRANDI, 2005; NETTO, 1990; PEREGRINO, 1991; SCALZO, 2006; SERPA, 2003; SILVA, 2004; SOUSA, 2002; TACCA, 2006). 5
  • 6. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 Método A presente pesquisa é baseada em pesquisa bibliográfica e análise de exemplares. Inicialmente foi preciso compreender a linguagem do fotojornalismo e a importância da fotografia para a comunicação de imprensa, com base em autores como Jorge Pedro Sousa, que traça uma História Crítica do Fotojornalismo no século XX, resumindo as mudanças proporcionadas nos meios de comunicação pelo desenvolvimento do fotojornalismo, prática que destacou-se e evoluiu com as principais coberturas de Guerra. Em segundo lugar, partiu-se para a história dos Diários Associados, com base em livros como Chatô, o Rei do Brasil (MORAIS, 2004) e Brasil, Primeiro: A História dos diários Associados (CARNEIRO, 1999). O que levou à intensa pesquisa sobre a história da mais importante do conglomerado de comunicação, a revista O Cruzeiro, sobre a qual foi estudado o pioneirismo em estilo fotográfico e gráfico, além do modelo de trabalho, o qual se centra a pesquisa, com duplas entre repórteres-fotógrafos, em que um só escrevia e o outro só fotografava. Tal modelo foi implantado pelo francês Jean Manzon, que trouxe inovações de suas experiências na imprensa européia, e formou a primeira dupla com David Nasser. O estilo consolidado por ambos alavancou o sucesso da revista, e promoveu uma mudança na forma de fazer jornalismo de revista no país. A partir daí, foi escolhido o primeiro ano 1943 como foco de estudo, por ser o ano de estréia da dupla, e assim concluir como foram impressas as mudanças conforme suas primeiras matérias publicadas. Durante o período de agosto a dezembro de 1943 um total de seis matérias foram selecionadas como objeto de estudo, por serem produzidas com o modelo de trabalho dupla repórter-fotógrafo, e apresentar maior destaque as fotos. São elas: Uma Festa de Arte, 16 de outubro de 1943; O Destino de uma fazenda, 23 de outubro de 1943; Madame Butterfly, 30 de outubro de 1943; Sete dias em O Cruzeiro, 6 de novembro de 1943; e a primeira grande reportagem propriamente dita, Os loucos serão felizes?, 17 de novembro de 1943. Os exemplares originais das revistas foram encontrados, cinco no acervo da biblioteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP), e um, no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Com as fotografias das matérias em mãos, a análise foi feita com base na comparação em um exemplar anterior ao analisado (14 de agosto de 1943), e na bibliografia consultada, que também apresenta a discussão dos formatos de outras publicações contemporâneas à revista, e analisam as próprias inovações do objeto de estudo, como PEREGRINO (1991), em O Cruzeiro: A Revolução da Fotorreportagem. 6
  • 7. Universidade Presbiteriana Mackenzie Resultados e Discussão Revista O Cruzeiro Criada no ano de 1928, a revista O Cruzeiro foi a maior e mais importante revista semanal de notícias da América Latina no século XX, considerada uma espécie de TV Globo da época. Fazia parte de um grande conglomerado de comunicação, Os Diários Associados, que em 1956 contava com 31 jornais, 5 revistas, 21 emissoras de rádio, 3 estações de televisão, 1 agência telegráfica, 2 agências de representações, e 2 empresas industriais (CARVALHO, 2001). O Cruzeiro saia semanalmente as terças-feiras, e representava um forte ponto de referência para jornalistas, público leitor e opinião pública da época (PEREGRINO, 1991). A publicação deu grande espaço para a fotorreportagem, proporcionando para a fotografia uma importância até então inexistente na imprensa brasileira. Os primeiros repórteres- fotográficos do país surgiram na década de 1920, através dos contínuos ou amigos dos donos de jornais, com maior tempo livre e com uma câmera na mão, ou vontade de subir de categoria (LIMA, 1989). O uso da fotografia de imprensa se consolidou após o fim da II Guerra, propondo uma nova forma ao texto jornalístico, e a revista O Cruzeiro redefiniu o papel da imagem fotográfica com um efeito revigorador (PEREGRINO, 1991), as grandes reportagens amplamente ilustradas por fotografias se tornaram uma marca registrada da revista, já em 1930, quando passou a publicar as primeiras fotos aéreas estampadas em folhas duplas. A valorização da linguagem fotográfica introduziu um novo conceito de editoração que rompia com as fórmulas que usavam o discurso verbal como principal fonte de informação; “A preponderância da imagem sobre o texto demonstra que a fotorreportagem não é uma simples reportagem verbal ilustrada, mas, na verdade, uma reportagem visual auxiliada por texto” (MUNTREAL; GRANDI; 2005.p.49). Com a mudança de direção, e a chegada de Frederico Chateaubriand a partir da década de 1940, que a revista passou a adotar a linha de reportagens com o uso da fotografia de uma forma mais integrada, incorporando a foto como elemento narrativo, incorporando o padrão de qualidade das publicações internacionais, como Life e Paris Match (SILVA, 2004). Esse estilo amplia as possibilidades para a difusão social dos fatos do cotidiano, pois “dá ao leitor, no primeiro olhar, o assunto da informação de maneira direta” (LIMA, 1989.p.18), além disso, fixa um acontecimento e suas impressões, relatados pelo fotógrafo “o intermediário visual entre a notícia e o público”. O fotógrafo francês Jean Manzon, convidado pelo sobrinho do dono dos Associados para integrar a equipe da revista em 1943, foi quem introduziu no Brasil a dobradinha repórter 7
  • 8. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 fotógrafo (MORAIS; 1994). Baseado em sua experiência na imprensa européia, o que provocou mudanças expressivas no aspecto da revista. A reportagem fotográfica era praticamente inexistente no Brasil naquela época. Após folhear algumas edições, o fotógrafo declarou que a revista parecia um catálogo, de retratos fixos, posados, idênticos, e de paginação atrasada (CARVALHO, 2001). Quando cheguei em O Cruzeiro, a reportagem fotográfica no Brasil era inexistente. Havia um atraso muito grande, a paginação era confusa e [havia] sobretudo muito receio de mudar. Comecei com minhas matérias sem ninguém que escrevesse os textos, nem mesmo as legendas. (MANZON apud CARVALHO, 2001,p.63) As mudanças propostas por Manzon seguiam o rumo do processo de modernização das grandes revistas ilustradas do mundo, que procuravam valorizar a fotografia tanto quanto o texto, e segundo o próprio fotógrafo, a utilização da fotografia de página inteira foi uma revolução dentro da revista (MANZON apud PEREGRINO, 1991.p.38). A primeira dupla foi formada por Manzon e o repórter David Nasser, que juntos produziram muitas matérias famosas e polêmicas, tornando-se marca registrada da revista durante os nove anos em que trabalharam juntos. O Cruzeiro foi a primeira publicação a conceder créditos às fotografias publicadas, contando inclusive com um departamento e equipe de fotografia que continha profissionais além de Jean Manzon, Edgar Medina, Salomão Scliar, Lutero Avila, Peter Scheir, Flávio Damm, José Medeiros entre outros, encarregados de introduzir a linguagem fotográfica do fotojornalismo nas reportagens (MAUAD; 2004). Com essa nova linguagem as fotografias ganharam um caráter didático na matéria criando uma correlação texto/imagem. A decadência da revista começou na década de 1960 com a mudança de direção e linha editorial, os dirigentes simplesmente haviam ignorado ou minimizando a importância dos fotógrafos, além de aumentar o número de reportagens fúteis, o que diminuiu a credibilidade da revista com parte do público (PEREGRINO,1991). Entretanto, foi na publicação, que os repórteres ganharam status de heróis, alcançando condições de estrelas, “enobrecendo a classe e provocando uma verdadeira revolução no jornalismo nacional” (NETTO, 1998.p.106). Foi a partir da atuação pioneira da revista, e do número crescente de novas publicações surgindo, que se estabeleceu um mercado de trabalho em expansão para o fotógrafo de imprensa no Brasil. Em seu auge, a revista alcançava todos os tipos de leitores, com a “fórmula de revista da família brasileira”, abrangência de temas e valorização de imagens que influenciaram outras publicações da época (SILVA, 2004). O Cruzeiro fechou em julho de 1975, depois de 47 anos de circulação ininterrupta. O título foi cedido como forma de pagamento de dívidas, as máquinas vendidas a preço de ferro 8
  • 9. Universidade Presbiteriana Mackenzie velho e os arquivos da revista entregues à guarda do Estado de Minas, único jornal do grupo dos Diários Associados com dinheiro suficiente para arrematá-los (NETTO, 1998). Dupla Repórter-Fotógrafo: Jean Manzon e David Nasser David Nasser e Jean Manzon formaram a primeira dupla da revista, abrindo caminho para outras como: José Leal e José Medeiros, Ubiratan Lemos e Indalécio Wanderley, etc; que apesar de vinculadas, não impediam seus autores de trabalharem separados. Manzon e Nasser foram a mais célebre dupla de O Cruzeiro, com um estilo único (CARVALHO, 2001). Faziam cobertura de assuntos inusitados, e geralmente as matérias da dupla se iniciavam com uma conversa com o leitor, em tom pessoal antes do texto e em letra maior, e com fotos de página inteira. Logo se tornaram favoritos do público, fizeram parte do “esquadrão de ouro” da revista, e o slogan “Texto David Nasser, Fotografia Jean Manzon” passou a ser aguardado ansiosamente pelos leitores (MORAIS, 1994). A fórmula foi um sucesso. As reportagens da dupla logo passaram a ocupar as primeiras páginas da revista, com as sensacionais fotos de Manzon e o texto atraente de David Nasser, que parecia sempre seguir o rumo desejado pelos leitores. Eles buscavam sempre casos sensacionais, que a imprensa daquela época abordava de forma insossa. (NETTO, 1998) Jean Manzon foi fotógrafo da revista Paris-Match e do Paris Soir, registrou a Segunda Guerra sendo membro do Serviço fotográfico e Cinematográfico da Marinha Francesa e do serviço cinematográfico de guerra inglês até 1942 quando veio ao Brasil (MORAIS; 1994), onde fez parte do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante o governo Vargas, até que, Frederico Chateaubriand o convidou para fazer parte da revista O Cruzeiro em 1943. Manzon propôs mudanças na parte gráfica da revista “[...] para mudar seu aspecto de catálogo[...]” (CARNEIRO;1999.P.336) e a parceria repórter-fotógrafo, baseado em sua experiência na imprensa francesa. Em Cobras Criadas (2001), Luiz Marklouf Carvalho afirma que as fotos de Manzon eram de um estilo até então nunca visto no Brasil, o que provocou uma reformulação estética em O Cruzeiro, com fotografias de ângulos diferentes, mudando a relação texto imagem, que elaboravam uma narrativa dos fatos com o texto escrito acompanhando as imagens como apoio. Os temas das matérias passaram a ser caracterizados pela preferência do fotógrafo, e as de Manzon traziam “em seu bojo um forte traço de sensacionalismo, com a exploração de atitudes chocantes, hábitos exóticos ou aspectos incomuns” (PEREGRINO, 1991.p.67). Em 1944, o quadro de repórteres-fotográficos em O Cruzeiro era praticamente inexistente, pois só havia na empresa o fotógrafo Edgar Medina, encarregado de fotografar as solenidades mais formais. Como repórter-fotográfico, Jean Manzon teve papel pioneiro 9
  • 10. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 dentro da revista, o estilo de reportagem que veio implantar até 1951, tem o sentido de uma demarcação de fronteiras e, desta forma, está ligado à deflagração de um conjunto de ideias no qual surgiram os trabalhos dos diversos repórteres-fotográficos que, pouco a pouco, foram entrando na revista (PEREGRINO, 1991). Após sua chegada, os padrões editoriais que passaram a surgir na publicação, são evidenciados pela maior valorização da fotografia em suas páginas, e a questão que o francês fazia de assinar suas fotos, o que provocou “uma maior importância do fotógrafo, que passaria a assumir suas fotos” (MUNTREAL; GRANDI, 2005.p.75), e proporcionou a saída do anonimato por parte desses profissionais que passaram a ser valorizados na nova condição de repórteres-fotográficos. O jornalista David Nasser, antes de O Cruzeiro, trabalhou no Diário da Noite e em O Globo. Ficou conhecido como o mais famoso jornalista dos anos 1950 (CARVALHO, 2001). Trabalhou na revista por trinta anos (1942 a 1974), fazendo dupla com Manzon nos primeiros nove anos (1943 a 1951), produzindo neste período reportagens que entraram para a história do jornalismo brasileiro, algumas delas com repercussão internacional, como foi o caso da “Enfrentando os Chavantes”, índios isolados na Amazônia, que apareciam pela primeira vez na imprensa. A primeira reportagem de Jean Manzon na revista obteve duas páginas, publicada em agosto de 1943, “Portinari Íntimo”. São onze fotografias, com texto de Franklin de Oliveira. O primeiro texto de David Nasser em O Cruzeiro, no entanto, saiu em 1935, “Laurence da Arábia”, como enviado especial. A estréia dos dois como dupla ocorreu com “Uma Festa de Arte”, a primeira matéria dos dois publicada em outubro de 1943. Com o nome de “O Destino de uma fazenda”, a segunda matéria foi publicada em 23 de outubro do mesmo ano, era sobre a Escola de Pesca D. Darcy Vargas, em Ilha dos Breves. Na edição seguinte de 30 de outubro, Manzon aparece com três matérias. Uma assina sozinho (sobre um programa musical da rádio Tupi-SP), a outra com texto de Big Thomas (“Escola de Girls”), e a terceira com David Nasser, “Butterfly’, a olho nu” era sobre os bastidores de uma peça de teatro, “Madame Burttefly”, encenada no Teatro Municipal. Na edição de 6 de novembro, assinam uma matéria comemorativa do aniversário de quinze anos da revista, “Sete dias em O Cruzeiro” (CARVALHO,2001), que retrata uma semana de trabalho na redação. “Os loucos serão felizes?”, é a primeira reportagem propriamente dita da dupla, publicada em 17 de novembro, e segundo Paulo Marklouf de Carvalho (2001), é muito parecida com outra que Manzon havia feito para a revista Vu, e estabelece um novo padrão gráfico na revista no mesmo estilo de Life e Match. Apresentando: abertura de página dupla; prioridade absoluta para a 10
  • 11. Universidade Presbiteriana Mackenzie imagem, com foto sangrada na página ímpar; titulação de impacto no tamanho e no conteúdo, geralmente sensacionalista. Os chamados 'boxes'- textos de apoio a matéria principal- aparecem pela primeira vez. Subtítulos e linhas finas completam as novidades. (CARVALHO, 2001.p.90) Mesmo com todas as inovações e propriedades desta matéria, a mesma não consolida a dupla, o que só ocorreria em 1944, quando foi publicada a matéria sobre a “morte” de Manzon (na verdade uma mentira, que resultaria na matéria “ficcionista” “A Vida dos Mortos”), desde então eles publicavam de duas a três matérias por semana em O Cruzeiro (CARVALHO, 2001). O primeiro furo de reportagem, e uma das mais contestadas matérias da dupla foi “Enfrentando os Chavantes” (no original com “ch”), em que fotos de uma aldeia xavante desconhecida do homem branco foram tiradas de um helicóptero. A matéria teve repercussão internacional, tendo fotos publicadas em veículos estrangeiros como a Life. Considerada até os dias atuais como um marco na consolidação das grandes reportagens, “ocupando a capa e 18 páginas inteiras com 26 fotos da tribo” (MUNTREAL&GRANDI,2005.p.75), as dúvidas em relação a matéria consistem quanto a veracidade das fotografias, possíveis fotomontagens da dupla. Jean Manzon e David Nasser formaram uma dupla de grande fama em O Cruzeiro, “cuja filosofia podia ser resumida na seguinte frase: a verdade fica mais verdadeira quando exposta com uma razoável dose de fantasia” (NETTO, 1998.p.108). Muitas vezes as grandes reportagens que transformavam esses repórteres em heróis, não apenas misturam realidade e sonho como são produto de ficção, como afirmam os autores CARVALHO (2001) e SILVA (2004), usando como exemplo algumas matérias, como ocorreu na série Amazônia, produzida no jardim botânico do Rio de Janeiro, e a já citada matéria sobre os Xavantes. Havia matérias com maneirismos fotográficos usados sem moderação, Manzon criava imagens não convencionais utilizando meios tradicionais com conotações estranhas, e raramente utilizava o flagrante, tendo na pose um elemento fundamental de sua fotografia, “Em suas reportagens ficava evidente que ele preparava antecipadamente as cenas a serem fotografadas, onde mobilizava um grande aparato técnico: câmaras, flashes e tripés” (PEREGRINO, 1991.p.88). Em O Império de Papel: Os Bastidores de O Cruzeiro (1998), Accioly Netto, afirma que Nasser e Manzon pareciam ter um estranho poder sobre os personagens das histórias que contavam, “como se os hipnotizassem” (p.115), citando como exemplo famoso a fotografia do deputado Barreto Pinto, posada apenas de casaca e cueca, provocando um escândalo que resultou no processo de cassação do parlamentar, por falta de decoro. E ao ser questionado sobre esse “poder” que exerciam sobre seus personagens, Manzon declarou: 11
  • 12. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 A objetiva da máquina tem um efeito hipnótico sobre as pessoas. Diante dela geralmente elas fazem qualquer coisa que lhes é pedida. Nunca se lembram de que por trás da lente existe um filme, que vai eternizar aquele instante, seja ele qual for. (MAZON apud NETTO, 1998.p.116) O Fotojornalismo para o fotógrafo francês era “a conjugação de procurar o interesse jornalístico, de ter a sensibilidade de enxergar e interpretar criativamente o evento” (MANZON apud PEREGRINO,1991.p. 90), de modo que o uso de aparato técnico reforça a presença do fotógrafo e “a ansiedade do retratado, como parte de uma idealização formulada na base da apreensão se sua própria imagem” (PEREGRINO, 1991.p.91). Sua obra era impregnada de caráter didático, explicitado no encadeamento lógico e cronológico de suas ideias a cada fato, o conteúdo é, sobretudo, dramático, e bastante diversificado “de onde emergem assuntos históricos, sociais, políticos e femininos” (PEREGRINO, 1991.p.94), de linguagem marcada pela composição carregada por um tratamento especial, à organização premeditada dos elementos no espaço de representação. A dupla trabalhou ininterruptamente até setembro do ano de 1945, com um total de 91 reportagens até então. Sua primeira separação coincidiu com o a queda Vargas e o Estado Novo, mas em dezembro do mesmo ano a dupla se reconcilia, “os primeiro frutos dessa fase são reportagens sobre as eleições gerais de 2 de dezembro” (CARVALHO, 2001.p.146). Houve uma segunda ruptura no final dos anos 1940, em que a dupla ficou 8 meses sem produzir nada juntos, até julho de 1949. Nessa terceira e última fase, a dupla faria 57 matérias, parte delas resultantes de viagens internacionais. “O estilo continuava o mesmo: show de fotos posadas, texto fluente, mas completamente descompromissado com os fatos” (CARVALHO, 2001.p.247). A última matéria dos dois foi “O Rei que Nostradamus previu” realizada na Europa, e publicada em agosto de 1951. Jean Manzon foi para a revista Manchete onde ficou pouco tempo, e logo foi fazer documentários comerciais e cinema. David Nasser continuou na revista até seu fechamento, e apesar da separação permaneceu amigo de Manzon até morrer no Rio de Janeiro, aos 63 anos, em 10 de dezembro de 1980, “rico e ainda influente como articulista da revista Manchete” (CARVALHO, 2001.p.19). Análise de Matérias De acordo com LIMA (1989), a fotografia jornalística pode ser separada em três gêneros: Sociais (foto política informa sobre economia, e chama atenção aos fatos gerais); de Esporte (função estética, e transmissão de emoção); Culturais (ilustrativa); Assim, as fotos apresentadas nas matérias analisadas encaixam-se no gênero descrito como Social, visto que, ilustra grandes reportagens de temas que chamam a atenção do público a fatos gerais, 12
  • 13. Universidade Presbiteriana Mackenzie como é o caso da vida de internos no hospício. “A fotografia de imprensa se transformou num meio de informação independente, consciente, agitador e emocionante” (LIMA, 1989.p.22). “Uma Festa de Arte”, publicada em outubro de 1943, foi a de estréia da dupla. A matéria era sobre um evento promovido pela esposa do ministro da Viação, Mendonça Lima, com três páginas e onze fotos. O texto aparece como um complemento às imagens, em um box, e nas legendas. As fotografias eram a matéria-prima na edição das reportagens ilustradas e eram a base para a elaboração de legendas e textos, “A preponderância da imagem sobre o texto demonstra que a fotorreportagem não é uma simples reportagem verbal ilustrada, mas, na verdade, uma reportagem visual auxiliada por texto” (MUNTREAL; GRANDI, 2005.p.49). Com a mesma temática social, com seis páginas, “O Destino de uma fazenda”, a segunda matéria de Manzon e Nasser, foi publicada em 23 de outubro. Consistia na propaganda da Escola de Pesca D. Darcy Vargas, mantida pelo governo na Ilha dos Breves, próximo a Angra dos Reis. Assis Chateaubriand, ao qual a revista pertencia, era partidário do governo e costumava encomendar matérias que fortalecesse seus laços políticos. A terceira matéria é sobre os bastidores da peça “Madame Burttefly” encenada no Teatro Municipal, com o título de “Butterfly’, a olho nu”, possui cinco páginas: quatro de fotografias, e mais uma com a conclusão do texto em um box, como descrito no parágrafo anterior. São sete fotografias, as seis primeiras divididas em duas páginas, com três em cada e dividindo espaço com um box de texto, enquanto a última é apresentada em página inteira. Ambas as matérias são marcadas pelo crescente destaque da fotografia em relação ao texto, pois as imagens são apresentadas em ordem sequencial, seguindo uma narrativa de fatos, enquanto o texto restringe-se às legendas e a boxes, com a ordem quebrada, pois é concluído em outras páginas diferentes da matéria original, geralmente em outros pequenos boxes no meio de propagandas, marcado por legendas: “Continua na pág. 70”; “Continuação da pág. 61”; “Conclusão da pág. 70”. As fotografias em ordem seqüencial, e uma fotografia de página inteira marcando o fim ou o inicio da reportagem, são marcas das mudanças propostas por Manzon (PEREGRINO, 1991), pois até o início da década de 1940, O Cruzeiro mantinha a mesma fórmula de suas concorrentes, com fotos de pequenos formatos agrupadas sem nenhum critério aparente (SILVA, 2004). Em comemoração ao aniversário de quinze anos da revista, foi publicada em 6 de novembro, a matéria “Sete dias em O Cruzeiro”, em quatro páginas, com fotos do trabalho na redação, seguindo os moldes da última reportagem, com maior destaque e espaço para a fotografia. A matéria “Os Loucos serão Felizes?” foi a primeira grande reportagem da dupla, resume o conceito que consolidaria o estilo de ambos. Uma matéria de capa, com 13
  • 14. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 muitas fotografias de página inteira, retratando a história como uma aventura vivida pela dupla, que nesse caso representa uma visita de onze horas ao Hospital Nacional dos Alienados na Praia Vermelha, Rio de Janeiro. Nessa matéria são retratadas a vida de doentes mentais dentro do hospício, onde encontram histórias pessoais dramáticas, descrevendo o tratamento desumano recebido pelos internos, com texto de Nasser descrevendo-os “como figuras patéticas que circulavam pelos pátios como postas de carne ambulante”, e “as fotografias de Jean Manzon, que se esmerou mais do que nunca nas imagens, eram tão impressionantes que poderiam ser comparadas aos quadros de Goya, em sua imortal Série negra.”(NETTO,1998.p.114). A matéria é iniciada com uma foto de página inteira, de um homem solitário, sentando, pensativo em uma grande escada, acompanhada de um pequeno box de texto, que é finalizado com uma apresentação da reportagem que virá: “O leitor se imagina encontrar uma narrativa cheia de histórias curiosas onde o drama dessas pobres vidas surgisse em lances pitorescos, vire 7 páginas dessa reportagem” (NASSER in O CRUZEIRO, Nov. 1943. p. 32). Nas duas páginas seguintes cinco novas fotografias em tamanho grande completam as páginas, acompanhadas de um trecho de texto na terceira página da reportagem, e um Box explicativo sobre as possíveis causas da loucura. O que se repete nas páginas seguintes é um maior destaque às fotografias, com maior espaço que o texto, concluído em uma página dedicada à propaganda. Um fator comum observado nessas imagens é o destaque às pessoas, retratadas em primeiro plano, ou em poses que remetem ao sofrimento e à solidão do lugar onde estão, como uma em que um homem se apóia numa parede que tem a frase “Este hospício é uma sucursal do inferno”. A abordagem da dupla representa, como “a fotografia no Brasil se mostrou, ao longo da história recente, uma importante linguagem no processo de conscientização e informação da sociedade [...]” (MUNTREAL;GRANDI, 2005.p.9). Essas inovações marcaram as fotorreportagens nas décadas seguintes, com valorização da fotografia, temáticas variadas, e apresentação gráfica diferenciada com fotos de diferentes tamanhos. “O formato da ampliação da fotografia é importante para se ressaltar ou se diminuir a importância da notícia. Um detalhe é certo: as notícias com fotografias são mais lidas” (LIMA, 1989.p.64). A partir de 1944, observou-se de forma mais clara, as sensíveis modificações em uma nova concepção, e estruturação da fotografia como forma de exprimir na revista os acontecimentos do mundo, tornando as grandes reportagens um gênero jornalístico que expressava as mudanças ocorridas na sociedade a partir do trabalho do fotógrafo. “O Cruzeiro alterou substancialmente a vida profissional do repórter fotográfico, oferecendo condições para criação de um espaço de trabalho muito peculiar e criando assim um novo 14
  • 15. Universidade Presbiteriana Mackenzie universo editorial para a fotografia de imprensa” (PEREGRINO, 1991.p.104). A revista seguia uma linha de produção influenciada pela revista internacional Life, inaugurando uma nova tendência no jornalismo brasileiro, obrigando “uma reformulação geral nas publicações já existentes obrigando-as a modernizar a estética de sua comunicação”, o fotojornalismo de O Cruzeiro criou um estilo que via o fotógrafo como “‘testemunha ocular' associada à ideia de que a imagem fotográfica podia elaborar uma narrativa obre os fatos” (MAUAD, 2003.p.3). A fotografia de Manzon era baseada no uso consciente da linguagem fotográfica, e suas imagens são na maioria resultados de montagens e encenações (PEREGRINO, 1991). Apesar do estilo de Manzon ter se impregnado nas reportagens produzidas pelos fotógrafos de O Cruzeiro, é possível afirmar, segundo a autora Nadja Peregrino (1991), que houve a “existência de outras duas linhas em torno das quais vai estar centrada a concepção fotográfica jornalística da década de 50” (p.94), a primeira com ênfase na qualidade técnica, em que as fotos são produzidas em detrimento da qualidade, sem muitos momentos de flagrante (mais fiel ao usado pelo fotógrafo francês). A outra é marcada pela ruptura dos repórteres-fotográficos, com o modelo tradicional, em que a foto tem ênfase na espontaneidade de personagens e situações, mais comum nos trabalhos de José Medeiros, mas independente dos estilos, “O mais importante no fotojornalismo é a eficiência da foto em transmitir a informação” (MUNTREAL;GRANDI, 2005.p.10). Conclusão O estudo buscou sintetizar a importância da revista O Cruzeiro, para o desenvolvimento do jornalismo brasileiro e principalmente do fotojornalismo, com base na mudança de seu padrão estético iniciado com a chegada do fotógrafo francês Jean Manzon, que trouxe tendências das revistas internacionais, com base em sua experiência na imprensa francesa. A revista O Cruzeiro tinha os mais modernos equipamentos de impressão de sua época. “As grandes reportagens eram uma de suas marcas, algumas merecendo até mesmo números especiais. A utilização de fotografias buscava a inovação com as primeiras fotos aéreas estampadas em folhas duplas, já em 1930” (MUNTREAL;GRANDI, 2005.p.62). Foi na publicação que os repórteres ganharam status de heróis (NETTO,1991), os fotógrafos passaram a assinar suas fotos, e profissão de repórter-fotográfico ganhou reconhecimento. As grandes reportagens da revista marcaram o jornalismo nacional, e levaram a revista a recordes de tiragem, e a tornar-se a maior revista ilustrada brasileira no século XX, chegando a 700mil exemplares, na década de 1960 e circulando por 47 anos ininterruptos (1928-1975). Essas matérias eram geralmente produzidas por duplas, de repórteres- 15
  • 16. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 fotógrafos, onde um só fotografava, enquanto o outro só escrevia. Outra modificação implantada pelo francês, que formou a primeira dupla com o repórter David Nasser. Ambos produziram algumas das mais famosas reportagens da história do jornalismo brasileiro, e formaram o esquadrão de outro da revista, onde outras duplas também se firmaram, e alavancaram o sucesso da publicação, principalmente entre as décadas de 1940 e 1950. O estilo da dupla ficou marcado por se iniciar com um box de texto, em tom pessoal, em tom de conversa com o leitor, antes do texto principal, e geralmente em letra maior. As fotografias eram o foco narrativo da história, e as de página inteira iniciavam ou finalizavam as matérias. Exerciam um poder sobre seus personagens, e seu estilo era marcado por dar uma dose de fantasia a realidade, com “texto atraente e fotos sensacionais” (NETTO, 1991), o que conquistou os leitores, que esperavam ansiosamente por suas matérias, as quais produziram juntos até 1951. Por fim, a chegada de Jean Manzon na revista significou uma revolução no padrão gráfico e fotográfico da revista, que segundo ele parecia um catálogo, até sua chegada. Por fazer questão de assinar suas fotografias, o fotógrafo abriu caminho para a valorização do profissional de imagem nas publicações, inexistente até então. Criou o departamento de fotografia na revista, e mudou a maneira de diagramar as fotografias, que passaram a ter mais espaço e a ser organizadas de forma mais harmônica. O que com o tempo passou a influenciar outras publicações ilustradas no país. Referências 1. ANDRADE, Ana Maria Ribeiro de; CARDOSO, José Leandro Rocha. Aconteceu, virou manchete. In: Revista Brasileira de História. Vol.21. Nº41. São Paulo. 2001. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102- 01882001000200013&script=sci_arttext> Acesso em: 14 de jul. 2010. 2. ASSOCIADOS, Diários (Linha do Tempo). Disponível em: <http://www.diariosassociados.com.br/linhadotempo/abertura.html> Acesso em: 26 de out. 2009 3. BARBOSA, Marialva; O Cruzeiro: uma revista síntese de uma época da história da imprensa brasileira. 2002. (Professora Titular da Universidade Federal Fluminense/ Pós Doutorado em Comunicação pelo CRNS/LAIOS). Disponível em: <http://www.uff.br/mestcii/marial6.htm> Acesso em: 22 de out. 2009. 4. CAMARGO, Hertz Wendel de. Imagem e Seqüência: A Gramática Visual da Fotorreportagem na Revista O Cruzeiro. In: Línguas e Letras- Estudos Linguísticos. Vol.6. Nº10. 1º sem. 2005. Disponível em: <http://e- revista.unioeste.br/index.php/linguaseletras/article/.../788/669> Acesso em: 15 de jul.2010 5. CARNEIRO, Glauco; Brasil, Primeiro: História dos Diários Associados. Brasília: Fundação Assis Chateaubriand, 1999. 16
  • 17. Universidade Presbiteriana Mackenzie 6. CARVALHO, Luis Maklouf; Cobras Criadas: David Nasser e O Cruzeiro. 2. Ed. São Paulo: Editora SENAC, 2001. 7. COSTA, Helouise. Palco de uma História desejada: o retrato do Brasil por Jean Manzon. In: Revista do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (RevIPHAN). Nº27. 1998. Disponível em: <http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=Acervo01drive_nTrbsRevI PHANRevIPHAN.docpro&tam=712x1024&pesq=%20Jean%20Manzon> Acesso em: 5 de set. 2010 8. LAGO, Cláudia; BENETTI, Márcia. Metodologia de Pesquisa em Jornalismo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007; (Coleção Fazer Jornalismo) 9. MAUAD, Ana Maria; Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas ilustradas cariocas, na primeira metade do século XX. 2004. Artigo. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.phppid=S010147142005000100005&script=sci_arttex t&tlng=en> Acesso em: 24 de out. 2009 10. _________________; O olho da história: fotojornalismo e história contemporânea. In: Comciência. 2004. Disponível em:<http://www.comciencia.br/reportagens/memoria/12.shtml> Acesso em: 5 de set. 2010. 11. MIRA, Maria Celeste. O leitor e a banca de revistas: o caso da Editora Abril. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas: SP. 1997. Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/document/?code=000122361> Acesso em: 4 de fev.2009. 12. MORAIS, Fernando; Chatô: o Rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. 3. Ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. 13. NETO, Accioly; O Império de Papel: Os bastidores de O Cruzeiro. Porto alegre: Editora. Sulina, 1998. 14. O CRUZEIRO, Memória Viva Apresenta. Disponível em: <http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/> Acesso em: 19 de out. 2009 15. REVISTA O CRUZEIRO. 16 de Out. 1943- Acervo Biblioteca do MASP 16. _____________________23 de Out. 1943- Acervo Biblioteca do MASP 17. _____________________30 de Out. 1943- Acervo Biblioteca do MASP 18. _____________________06 de Nov. 1943- Acervo Biblioteca do MASP 19. _____________________27 de Nov. 1943- Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo 20. PEREGRINO, Nadja; O Cruzeiro: A Revolução da Fotorreportagem. Rio de Janeiro: Dazibao, 1991. 21. ROMANCINI, Richard; LAGO, Cláudia. História do Jornalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, 2007; 17
  • 18. VII Jornada de Iniciação Científica - 2011 22. SCALZO, Marília; Jornalismo de Revista. 3ed. São Paulo: Contexto, 2006; (Coleção Comunicação). 23. SERPA, Leoní; A Máscara da modernidade: A mulher na revista O Cruzeiro (1928-1945). 2003. Artigo (Mestre em História e Jornalista). Disponível em:<http://www.eca.usp.br/ pjbr/arquivos/artigos7_b.htm> Acesso em: 19 de out. 2009 24. SILVA, Silvana Louzada da. Fotojornalismo em Revista: O fotojornalismo em O Cruzeiro e Manchete nos governos Juscelino Kubistchek e João Goulart. (Dissertação de Mestrado) Niterói: Universidade Federal Fluminense, 2004. Disponível em:< http//WWW.bdtd.ndc.uff.br> Acesso em: 27 de out. De 2009 25. SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: Uma introdução á história, ás técnicas e á linguagem da fotografia na imprensa. 2002. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-fotojornalismo.pdf > Acesso em: 23 de out.2009 26. ________________. Uma história crítica do fotojornalismo no ocidente. 1998. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=sousa-jorge- pedrohistoria_fotojorn1.html> Acesso em: 26 de out. 2009 27. TACCA, Fernando de. O Cruzeiro versus Paris Match e Life Magazine: um jogo espetacular. In: LÍBERO. Ano IX. Nº17. SP: Jun. 2006. Disponível em: <.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/.../R0317-1.pdf > Acesso em: 29 de abril.2010. Contato: gleissieli.souza@gmail.com e cicelia@mackenzie.br 18