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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL
      COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
        RAQUEL BARIANI BERNARDINO




JORNALISMO OPINATIVO NO RÁDIO BRASILEIRO:
  HERÓDOTO BARBEIRO x RICARDO BOECHAT




                SÃO PAULO
                   2009
RAQUEL BARIANI BERNARDINO




JORNALISMO OPINATIVO NO RÁDIO BRASILEIRO:
  HERÓDOTO BARBEIRO x RICARDO BOECHAT




                  Trabalho de conclusão de curso apresentado
                  como exigência parcial para a obtenção do
                  título de Bacharel em Jornalismo da
                  Universidade Cruzeiro do Sul, sob orientação
                  da Prof.ª Ms. Flávia Silveira Serralvo.




                SÃO PAULO
                   2009
Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais,
Silvio e Lázara, que me apoiaram na decisão de
cursar jornalismo.
À minha irmã Natália e aos meus amigos, que
nos momentos de maior dificuldade, durante o
desenvolvimento desta pesquisa, souberam me
respeitar.

      ii
Agradeço aos professores, que desde o primeiro
ano já nos incentivaram a não desistirmos dos
sonhos e objetivos.
A meus pais, pelo incentivo e apoio.

      iii
RESUMO


      Este trabalho pretende analisar criticamente a maneira como os âncoras
Heródoto Barbeiro, da CBN, e Ricardo Boechat, da BandNews FM, transmitem as
informações e notícias ao público. Analisaremos como são aplicados os comentários
sobre os fatos, se são claramente distintos, ou se confundem o ouvinte.


Palavras-chave: Jornalismo Opinativo; Radiojornalismo; Análise de Discurso.




                                         iv
SUMÁRIO


    INTRODUÇÃO ...............................................................................................        6
1   JORNALISMO NO RÁDIO..............................................................................                 8
2   GÊNEROS JORNALÍSTICOS........................................................................                     13
3   NOTÍCIA VERSUS COMENTÁRIO................................................................                         21
4   O ÂNCORA NO JORNALISMO......................................................................                      26
    4.1 HERÓDOTO BARBEIRO ......................................................................... 27
    4.2 RICARDO BOECHAT...............................................................................                29
5   ESTUDO DE CASO .......................................................................................            31
    5.1 UNIVERSO ..............................................................................................       31
    5.2 AMOSTRA ..............................................................................................        31
    5.3 ANÁLISE .................................................................................................     31
    CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................                   46
    REFERÊNCIAS .............................................................................................         48
    ANEXOS ........................................................................................................   51




                                                            v
6 

 

INTRODUÇÃO



      Na faculdade, aprendemos que jornalismo é a arte de informar, e que não
devemos nos posicionar favorável ou contrariamente ao fato. Devemos transmitir a
informação de forma imparcial. Porém, na observância dos veículos de comunicação
de massa, notamos que não é assim que a informação nos é dada. O
posicionamento do jornalista ou da empresa, na forma do editorial, sempre se faz
presente. Neste trabalho, propomos analisar criticamente como se dá a expressão
da opinião em cinco edições de programas jornalísticos de rádios concorrentes,
apresentados por âncoras de destaque no radiojornalismo brasileiro.
      Nosso interesse pelo rádio como veículo de informação deu origem ao tema
“jornalismo opinativo”. Buscamos, com esta pesquisa, esclarecer ao público leitor as
funções dos âncoras, analisando a maneira com que eles buscam contribuir com o
jornalismo.
      Este trabalho tem como base principal a pesquisa bibliográfica e análise de
conteúdo, a partir de livros e gravações dos programas selecionados como corpus
de análise, entre outros materiais que se mostraram relevantes ao estudo.
Caracteriza-se ainda como analítica, tendo como finalidade observar, registrar,
comparar e analisar os fenômenos que fazem parte da obra.
      Esta monografia foi dividida em cinco capítulos. O primeiro capítulo, intitulado
“Jornalismo no rádio”, traz um panorama histórico do jornalismo radiofônico no Brasil
e no mundo.
      No segundo capítulo, intitulado “Gêneros jornalísticos”, fazemos uma breve
descrição dos gêneros mais comuns no jornalismo brasileiro, bem como as
classificações dos gêneros jornalísticos na França, Alemanha e América do Norte.
      O terceiro capítulo, “Notícia versus comentário”, traz mais detalhadamente as
descrições destes dois gêneros, itens principais que compõem nosso corpus da
análise.
      No quarto capítulo, “O âncora no jornalismo”, procuramos definir o termo
‘âncora’ no sentido de apresentador. Neste capítulo, há dois subitens, em que
contamos um pouco da trajetória dos âncoras analisados.
      No quinto capítulo, “Estudo de caso”, há informações sobre os programas, o
universo e a amostra de nossa pesquisa, bem como a análise de conteúdo.
7 

 

      Por fim, nas considerações finais, observamos que independentemente da
forma como é apresentada, a opinião está presente no jornalismo. O objetivo desta
pesquisa foi alcançado, visto que respondemos às questões levantadas, que serão
apresentadas no decorrer do trabalho.
8 

 

1 JORNALISMO NO RÁDIO


      Para falarmos da história e do início do jornalismo radiofônico no Brasil, é
importante fazermos uma introdução com a história do rádio no Brasil e no mundo.
      Em 1864, o físico escocês James Clerk Maxwell lançou a teoria de que uma
onda luminosa podia ser como uma perturbação eletromagnética que se prolongava
no espaço vazio atraída pelo éter, ou seja, ondas de natureza eletromagnética
povoavam o infinito em todas as direções e a luz e o calor radiante pertenciam a
este tipo de ondas. O físico morreu e deixou apenas a ideia desta teoria
matematicamente comprovada, sem poder levá-la para o campo experimental.
      Em 1887, um jovem estudante alemão, Heinrich Rudolf Hertz, construiu um
aparelho que comprovava a teoria de Maxwell. O dispositivo produzia correntes
alternadas de período extremamente curto, que variavam muito rapidamente. As
ondas descobertas foram chamadas de “Ondas Hertzianas”.
      Em 1895, o italiano Guglielmo Marconi, após assistir à repetição da
experiência de Hertz, teve a ideia de transmitir sinais à distância. Entregou-se ao
estudo das ondas Hertzianas e, dois anos mais tarde, descobriu o princípio de
funcionamento da antena. Em 1896, ele enviou mensagens em código morse a uma
distância de 32 milhas, à velocidade de 20 palavras por minuto. Em 1903, o inventor
conseguiu enviar uma mensagem ao outro lado do oceano.
      A história do rádio no Brasil não teria sentido se não mencionássemos o
padre brasileiro Roberto Landell de Moura, que, de acordo com César (2002, p. 37)
iniciou os estudos na área científica na cidade do Rio de Janeiro, transferindo-se
para Roma, na Itália, para aprimorar seus conhecimentos, onde desenvolveu
estudos na área de ciências químicas e físicas, e onde começou a conceber as
primeiras ideias em torno de sua teoria sobre a unidade das forças físicas e a
harmonia do universo.
      Em 1892 retornou ao Brasil, dedicando-se simultaneamente às atividades
científicas e sacerdotais, promovendo as primeiras experiências de radiodifusão no
mundo. Foi renegado, considerado herege e bruxo, devido às suas experiências
científicas, com isso, transferiu-se para Nova York, onde permaneceu por três anos.
Foi lá que recebeu as patentes de seus três equipamentos, para Transmissor de
Ondas, Telefone sem Fio e Telégrafo sem fio.
9 

 

       De volta ao Brasil, pretendia doar seus inventos, com as respectivas patentes,
ao governo brasileiro, mas este recusou os dois navios da esquadra brasileira
solicitados para a demonstração na Baía de Guanabara. Conforme destaca César
(2002, p.38), se o padre Landell houvesse sido atendido, a história das transmissões
por rádio poderiam ter sido iniciadas em nosso país.
       De acordo com Ortriwano (1985, p.13), a primeira transmissão radiofônica
oficial no Brasil foi o discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, em
plena comemoração do centenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro
de 1922. Porém, experiências já eram feitas por alguns amadores, existindo
documentos que provam que o rádio, no Brasil, nasceu em Recife, no dia 6 de abril
de 1919, quando, com um transmissor importado da França, foi inaugurada a Rádio
Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, que depois se associou a Augusto
Pereira e João Cardoso Ayres.
       A data de instalação da radiodifusão no Brasil foi 20 de abril de 1923, quando
começa a funcionar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard
Roquete Pinto e Henry Morize. No início, ouvia-se uma programação muito “seleta”,
apesar de Roquette Pinto estar convencido, desde o início, de que o rádio se
transformaria num meio de comunicação de massa (ORTRIWANO, 1985, p. 13). E,
devido a essa certeza e à vontade de divulgar a ciência pelas camadas populares,
muitas iniciativas foram tomadas no sentido da implantação efetiva da radiodifusão
no Brasil.
       Com o início da Segunda Guerra Mundial, o interesse por notícias imediatas e
atualizadas aumentou, criando possibilidades para o desenvolvimento de noticiários
radiofônicos. Segundo Ortriwano (1985, p. 20), o “Repórter Esso”, teve sua primeira
transmissão às 12h45 do dia 28 de agosto de 1941, quando a voz de Romeu
Fernandez anunciou o ataque de aviões da Alemanha à Normandia, durante a 2ª
Guerra Mundial.
       Em 1942 entrou no ar o primeiro jornal do rádio brasileiro, o “Grande Jornal
Falado Tupi”, criado por Coripheu de Azevedo Marques e Armando Bertoni, com
uma hora de duração diária. Ambos os jornais foram marcos importantes para que o
radiojornalismo brasileiro fosse encontrando sua definição, os caminhos de uma
linguagem própria para o meio, deixando de ser apenas a “leitura ao microfone” das
notícias dos jornais impressos.
10 

 

                     Em determinado momento, entendeu-se que jornalismo em rádio
                     deveria ser feito apenas a partir do que as pessoas declaravam.
                     Cabia ao jornalismo impresso a parte dita “nobre”, a da investigação,
                     da interpretação, do bastidor, da informação não passada pela fonte
                     durante a entrevista coletiva. E ficou para o repórter de rádio o
                     trabalho “menor”, algo tipo relatório, ou o acompanhamento da
                     “repercussão” de algum fato explorado pelos jornais. Resignar-se a
                     cumprir este papel significa, ao longo do tempo, sucumbir. O bom
                     rádio joga no ataque sempre, levantando temas e pautando os outros
                     meios (PARADA, 2004, p. 33).


      A “época de ouro” do rádio terminou com o surgimento da televisão, que
buscou no rádio seus primeiros profissionais, imitou quadros e levou consigo a
publicidade. Para enfrentar essa concorrência, o rádio procurou por uma linguagem
mais econômica, no início, com muita música e poucos programas produzidos. “O
rádio aprendeu a trocar os astros e estrelas por discos e fitas gravadas, as novelas
pelas notícias e as brincadeiras de auditório pelos serviços de utilidade pública”,
afirma Ortriwano (1989, p. 21). Começou, então, a especialização das emissoras,
procurando por um público específico.
      Um novo tipo de programação noticiosa foi lançado pela Rádio Bandeirantes,
em 1954, impulsionando o radiojornalismo. A produção de um radiojornal mais
dinâmico, em que as notícias tinham um minuto de duração a cada 15 minutos; e
nas horas cheias, boletins de 3 minutos, influenciou a programação de outras
emissoras.
      Para Ortriwano (1985, p. 78-81), a informação no rádio vai apresentar
características próprias, sem, contudo perder sua identificação com o conteúdo
informado. Características, como ela mesma diz, “intrínsecas”, e cita:
      a)      Linguagem oral: não há necessidade de alfabetização do público
ouvinte, pois este veículo trabalha com a fala, sendo que, para que a mensagem
seja recebida, é necessário apenas ouvir. Em relação à televisão, o espectador
também não precisa saber ler, apesar de, cada dia mais, os caracteres estarem
sendo utilizados para prestar informações importantes, que escaparão ao
analfabeto.
      b)      Penetração: geograficamente, o rádio é o mais abrangente dos meios
de comunicação de massa, sendo considerado de alcance nacional. Pode também
estar presente o regionalismo, pois, tendo menos complexidade tecnológica, permite
11 

 

a existência de emissoras locais, mesmo em cidades pequenas e/ou com poucos
recursos financeiros.
      c)       Mobilidade: sob dois aspectos:
               1. Emissor: por ser menos complexo que a televisão, o rádio pode
                  estar presente com mais facilidade no local dos acontecimentos e
                  transmitir as informações mais rapidamente. Suas mensagens não
                  requerem preparo anterior, podendo ser elaboradas enquanto estão
                  sendo transmitidas.
               2. Receptor: o rádio hoje está em todo lugar. Seu tamanho torna-o
                  facilmente    transportável,   permitindo,   inclusive,   recepção
                  individualizada nos lugares públicos.
      d)       Baixo custo: o aparelho receptor é o mais barato, se comparado à
televisão e veículos impressos. O preço que o cidadão paga para receber as
mensagens não está vinculado ao consumo que ele faça dessas mensagens, mas,
sim, ao consumo que ele faça dos produtos que fazem publicidade nos veículos. A
produção radiofônica é mais barata do que a televisiva, justamente por ser menos
complexa.
      e)       Imediatismo: os fatos podem ser transmitidos no instante em que
ocorrem.
      f)       Instantaneidade: a informação é recebida no momento em que é
emitida, não sendo possível, assim, que o receptor volte à mensagem, como pode
ocorrer com a mídia impressa.
      g)       Sensorialidade: a criação de sons (e imagens, no caso da televisão)
envolve o público de forma mais impactante do que as letras garrafais do impresso.
“’Uma imagem vale por mil palavras’ é um chavão sobejamente conhecido por todos.
E o rádio realmente usa as ‘mil palavras’ para criar cada imagem”, afirma Ortriwano.
      h)       Autonomia: o rádio deixou de ser meio de recepção coletiva para
tornar-se individualizado. Essa característica faz com que o emissor possa falar para
toda a sua audiência como se estivesse falando para cada um em particular.
      Em função de suas características, o rádio ganhou campo frente aos veículos
impressos. Não morreu com o surgimento da televisão, especializou-se em sua
própria faixa de potencialidade. O rádio convive com a televisão: na hora do futebol,
por exemplo, muitos torcedores preferem unir a imagem da TV com a narração
radiofônica.
12 

 

      O rádio está em condições de transmitir a informação mais rapidamente do
que qualquer outro meio de comunicação, pois é imediato, flexível, é mais regional,
possui maior mobilidade etc. A informação apresenta características próprias, sem
perder sua identificação com o conteúdo a ser informado, o que pode ocorrer é a
aparição eventual de acontecimentos que melhor se adaptam para serem
transmitidos por um ou outro meio.
13 

 

2 GÊNEROS JORNALÍSTICOS


         “O dicionário define gênero como: ‘Classe cuja extensão se divide em outras
classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies [...]’” (BARBOSA
FILHO, 2003, p. 52). Há autores que não concordam com a divisão de gêneros no
jornalismo, como é o caso de Wolf, que afirma que a divisão dos conteúdos
televisivos – aplicável também ao rádio – em gêneros conduz a uma
estereotipização, pois definem a atitude do receptor (WOLF, 2003, p. 91).
         Para Sousa (2001, p. 230), os gêneros jornalísticos não têm fronteiras rígidas,
sendo, às vezes, difícil classificar um determinado elemento, pois, estrategicamente
esses elementos são notícias, especialmente se apresentarem alguma informação
nova. “Os gêneros jornalísticos correspondem a determinados modelos de
interpretação e apropriação da realidade através de linguagens” (SOUSA, 2001, p.
231). Segundo o autor, “há, certamente, gêneros jornalísticos que ainda não viram a
luz do dia e outros que já não se praticam”. Todorov acredita que “ocupar-se dos
gêneros pode parecer atualmente um passatempo ocioso, quiçá anacrônico” (1980,
p. 43)
         Barbosa Filho afirma que “falar em gêneros implica, invariavelmente,
incursões nos debates que o tema suscitou ao longo da história. [...] dimensionar
seu conceito tautológico é uma questão que vem atormentando os filólogos ao longo
dos tempos” (2003, p. 51). Para Luís Martinez Albertos, o jornalismo é “[...] um estilo
literário peculiar, um estilo caracterizado, basicamente, pelos fins informativos que
persegue – a transmissão de notícias – e a exigência ou expectativa do destinatário”
(ALBERTOS apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 55).


                       Os gêneros são, ainda, unidades que se podem descrever sob dois
                       pontos de vista diferentes: o da observação empírica e o da análise
                       abstrata. O primeiro – o da observação empírica – refere-se às
                       “propriedades discursivas” que tornam um texto diferente ou igual a
                       outro; e o segundo – o da análise empírica – tem a ver com a
                       conceituação dessas propriedades. Em jornalismo, a análise
                       empírica corresponde ao fazer jornalístico diário; varia conforme o
                       fato jornalístico ou o enfoque. Por exemplo, um crime policial pode
                       ter um texto meramente de relato ou tornar-se uma crônica. A
                       significação de um ou outro texto fica na esfera da análise abstrata
                       desse fazer; é o saber do jornalismo, que nada mais é que as teorias
                       de classificação do gênero (BARBOSA FILHO, 2003, p. 57).
14 

 

       Pena nos traz modelos de classificações dos gêneros utilizadas na França,
Estados Unidos e Alemanha (2005, p. 67-68), como vemos:


a) Classificação Francesa (autor: Joseph Foliet)
       Editorial;
       Artigos de fundo;
       Crônica geral (resenhas dos acontecimentos);
       Despachos (reportagens e entrevistas);
       Cobertura setorial;
       Fait divers;
       Crônica especializada (crítica);
       Folhetim;
       Fotos e legendas;
       Caricaturas;
       Comics (quadrinhos).
       Segundo Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68), há “erro na inclusão de
unidades redacionais que pertencem ao âmbito do imaginário (folhetins) e do
entretenimento (quadrinhos)”.


b) Classificação norte-americana (autor: Fraser Bond)
Noticiário:
       Notícia;
       Reportagem;
       Entrevista;
       História de interesse humano.
Página editorial:
       Editorial;
       Caricatura;
       Coluna;
       Crítica.
       Para Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68), essa classificação “não
reflete o dinamismo dos grandes jornais e revistas, nem das prósperas emissoras de
TV americanas na atividade noticiosa”.
15 

 

c) Classificação alemã (autor: Emil Dovifat)
Informativos:
              Notícia (fact-story);
              Report (act-story);
              Entrevista (quote-story).
De opinião:
              Editorial;
              Artigos curtos;
              Glosa (crônica).
Amenos1:
              Folhetim (resenha cultural);
              Crítica;
              Recreio e espelho cultural (contos, versos etc.).
              Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68) considera errada essa divisão,
pois, para ele, a crítica deveria pertencer ao conjunto de matérias de opinião, de
acordo com o critério proposto, o estilo; e o folhetim, por se tratar de um panorama
da vida cultural, deveria estar inserido no gênero notícia.
              A sistematização feita por Luiz Beltrão é da qual Marques de Melo (apud
PENA, 2005, p. 68) parte, porém, não integralmente, como veremos:
Jornalismo informativo
              Nota
              Notícia
              Reportagem
              Entrevista
Jornalismo opinativo
              Editorial
              Comentário
              Artigo
              Resenha
              Coluna
              Crônica

                                                            
1
 O termo ameno refere-se a algo “que se apresenta ou transcorre de modo suave, simples,
agradável” (DICIONÁRIO HOUAISS, on-line).
16 

 

      Caricatura
      Carta


                     Para Marques de Melo, a distinção entre nota, notícia e reportagem
                     está na progressão dos acontecimentos. “A nota corresponde ao
                     relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e
                     por isso é mais frequente no rádio e TV. A notícia é o relato integral
                     de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o
                     relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo
                     social” (MARQUES DE MELO apud PENA, 2005, p. 69).


      Alguns autores dividem os gêneros jornalísticos em nota, notícia, boletim,
reportagem, entrevista, editorial e crônica, conforme veremos a seguir:


      Nota: significa um informe sintético de um fato atual. Suas principais
      características são o tempo de irradiação, sempre curto, com quarenta
      segundos de duração, e as mensagens transmitidas são frases diretas, quase
      telegráficas (BARBOSA FILHO, 2003, p. 90).


      Notícia: para Luiz Amaral, “a notícia é a matéria-prima do jornalismo”
      (AMARAL apud PENA, 2005, p. 70), é a expressão de um fato novo, que
      desperta o interesse do público, é um relato dos fatos sem comentário nem
      interpretação. “Para o professor Luís Amaral, a notícia é ‘a informação atual,
      verdadeira, carregada de interesse humano e capaz de despertar a atenção e
      curiosidade de um grande número de pessoas’” (TRAVANCAS, 1993, p. 33).
      Caracteriza-se por uma linguagem clara, impessoal, concisa e adequada ao
      veículo. Nela, encontramos a essência do texto, o lead, que consiste num
      parágrafo que apresenta um relato dos aspectos da informação.


                     No rádio, a notícia apresenta características diversas das que se
                     observam em outros meios. Faus Belau classifica a notícia
                     radiofônica de acordo com sua forma de divulgação, seja por meio do
                     “flash” – modelo extemporâneo de intervenção informativa e que “[...]
                     interessa unicamente dar a conhecer o fato com a maior rapidez
                     possível [...]” – ou das notícias explicadas, que são as que aparecem
                     nos boletins e/ou radiojornais e enfocam o fato em si e tudo o que
                     acompanha e seja fundamental para seu entendimento (BARBOSA
                     FILHO, 2003, p. 90).
17 

 

      Para Barbosa Filho, as notícias de opinião estão próximas do comentário, a
notícia ambientada utiliza de fundos e efeitos sonoros para ambientar a notícia. A
notícia documentada é o que conhecemos como a base de programas jornalísticos,
sem a presença de opinião, esclarece os fatos (2003, p. 91).
      Encontramos, ainda, o informe, que se aproxima do programa de variedades,
conforme Belau: “[...] trata de dar uma visão completa dos acontecimentos no
desenvolvimento de uma determinada notícia não somente quanto a seus dados
estritos – presentes e passados – e sim buscando o porquê dos mesmos [...]”
(BELAU apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 91).


      Boletim: são pequenos programas jornalísticos, que, segundo Prado (2006, p.
      9), não ultrapassam três minutos, inseridos na programação, por meio de
      notas, notícias, pequenas entrevistas ou reportagens.


      Reportagem: é uma narrativa que engloba, ao máximo, as diversas variáveis
      do acontecimento, proporcionando maior aprofundamento a respeito do fato
      narrado. A reportagem, segundo Marques de Melo, “[...] é o relato ampliado
      de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu
      alterações que são percebidas pela instituição jornalística [...]” (MARQUES
      DE MELO apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 92). Porchat define a reportagem
      como “conjunto de providências necessárias à elaboração de uma matéria.
      Engloba pesquisa, entrevista e seleção de dados relacionados à mensagem a
      ser vinculada” (1989, p. 196).


      Entrevista: representa uma das principais fontes de informação de uma
      notícia, presente direta ou indiretamente na maioria das matérias jornalísticas.
      “A entrevista é formalmente um diálogo que representa uma das fórmulas
      mais atraentes da comunicação humana” (PRADO apud BARBOSA FILHO,
      2003, p. 94). A interação existente entre o entrevistado e o entrevistador,
      exerce um efeito de aproximação do ouvinte.


                      [...] é acontecimentos jornalístico eventual e normalmente se
                     apresenta inserida no corpo da notícia. A não ser em episódios
                     circunstanciais, como desastres, incêndios, manifestações, onde o
                     repórter parte em busca de informações suplementares daquele
18 

 

                    acontecimento e ali tenta apurá-las, em “som ambiental”, a entrevista
                    geralmente é “montada” na sequência de uma narrativa
                    fundamentalmente noticiosa [...] (SAMPAIO apud BARBOSA FILHO,
                    2003, p. 93).


      A diferença entre entrevista e reportagem, segundo Prado, é que a primeira é
direta, realizada “ao vivo”, enquanto a segunda, pode ser montada antes de sua
veiculação, e nos elucida, também, quanto às entrevistas de caráter, que visam a
personalidade do entrevistado, e às entrevistas noticiosas, que, como o próprio
nome diz, visam a informação (PRADO apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 94).


                    Entre as entrevistas noticiosas, Prado destaca as de “informação
                    escrita” – as mais verificadas no rádio, visto que garantem agilidade
                    à programação em virtude da brevidade – e as de “informação em
                    profundidade” – que oferecem ao ouvinte informações adicionais ao
                    fato, com o objetivo de provocar a reflexão. As peças da informação
                    em profundidade possuem, obviamente, maior duração. (BARBOSA
                    FILHO, 2003, p. 95).


      Editorial: esta peça jornalística, pouco utilizada no rádio, tem como
      característica principal o anúncio de opinião não-personalizada e retrata o
      ponto de vista da instituição radiofônica. Porchat define editorial como “texto
      opinativo, escrito de maneira impessoal, sem identificação do redator, sobre
      assunto nacional ou internacional, que define e expressa a opinião da Jovem
      Pan” (PORCHAT apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 97).


      Crônica: surge no rádio acompanhando as características conhecidas no
      jornalismo impresso. Para Beltrão a crônica é “a forma de expressão do
      jornalista/escritor para transmitir ao leitor seu juízo sobre fatos, ideias e
      estados psicológicos pessoais e coletivos. [...] O comentário é leve, concreto,
      incisivo; as conclusões oferecem normas e julgamentos específicos e diretos.
      [...] está visceralmente ligada à atualidade” (1980, p. 66). Muito presente nos
      jornais brasileiros, é considerada o formato que transita nas fronteiras do
      jornalismo e da literatura. Segundo Marques de Melo (apud BARBOSA
      FILHO, 2003, p. 99), “a crônica estrutura-se de modo temporalmente mais
      defasado; vincula-se diretamente aos fatos que estão acontecendo, mas
      segue-lhe o rastro, ou melhor, não coincide com seu momento eclosivo”.
19 

 

      O gênero comentário, que não faz parte da classificação proposta por
Barbosa Filho, é definido por Ferraretto (2001, p. 283) como “um texto opinativo em
que um jornalista ou um especialista em determinada área analisa a fundo um
assunto, explicando-o e/ou posicionando-se a respeito”.
      Charaudeau (2005, p. 175) afirma que comentar constitui uma atividade
discursiva, complementar ao relato:


                     Relato (narrativa) e comentário estão intrinsecamente ligados, a
                     ponto de os teóricos da linguagem se dividirem, ainda hoje, entre
                     duas opiniões extremas: os que sustentam que “tudo é narrativa” e
                     aqueles que afirmam que “tudo é argumentação”. Na verdade, essa
                     dupla atividade discursiva empreende a mesma busca: conhecer o
                     porquê dos fatos, dos seres e das coisas, e, com essa finalidade,
                     comenta-se contando ou conta-se comentando. Apesar dessa
                     convergência, essas duas atividades apelam para diferentes
                     faculdades da mente e para diferentes processos de discursivização
                     (CHARAUDEAU, 2009, p. 175).


      Segundo Charaudeau (2009, p. 176), a discussão entre relato e comentário
no mundo profissional das mídias vem como uma indagação sobre o papel social
das mídias, em que escolas de jornalismo e grupos de jornalistas questionam o que
deve ser fornecido pelas mídias: fatos ou comentários. Para o autor, não é possível
informar se não puder, ao mesmo tempo, garantir a veracidade das informações
transmitidas    comentando-as,   “o   comentário    jornalístico   é   uma   atividade
estreitamente ligada à descrição do acontecimento para produzir um ‘acontecimento
comentado’ (AC)”.
      A principal função do comentário reside, apropriadamente, no seu conteúdo
opinativo, que sugere conhecimento especializado. Na verdade, trata-se de um
formato jornalístico que se aproxima do editorial. A diferença entre aquele
(comentário) e este (editorial) é que o primeiro corresponde à opinião do autor, e o
segundo à da instituição, do veículo. Pode aparecer como peça independente da
programação, geralmente apresentada pelo autor, ou narrada por um locutor,
acompanhado da menção explícita de sua autoria ou ainda dentro de formatos
genéricos como o esportivo, o policial e o radiojornal. O comentário, nesses
formatos, não deve ser veiculado como notícia, mas após a informação, na voz do
comentarista.
20 

 

      Por ser um dos itens principais que compõem o corpus de análise deste
trabalho, o gênero comentário será abordado mais detalhadamente no capítulo a
seguir.
21 

 

3 NOTÍCIA VERSUS COMENTÁRIO


       As definições de notícia são muitas. Para Sodré (apud Travancas, 1992, p.
33), notícia é “todo fato social destacado em função de sua atualidade, interesse e
comunicabilidade”. Mac Neil (apud Travancas, 1992, p. 33) define notícia como “uma
compilação de fatos e eventos de interesse ou importância para os leitores do jornal
que a publica”. Luís Amaral (apud Travancas, 1992, p. 33) acredita que “a
informação atual, verdadeira, carregada de interesse humano e capaz de despertar
a atenção e curiosidade de grande número de pessoas” seja a melhor definição para
o tema.


                       A melhor definição de notícia é “aquilo que é novidade, interessante
                       e verdadeiro”. “Novidade” à medida que é um relato de eventos que o
                       ouvinte ainda não conhece – ou uma atualização de uma história que
                       lhe é familiar. “Interessante” no sentido de que é um material que lhe
                       diz respeito ou que o afeta de alguma maneira. “Verdadeiro” porque
                       a história, como foi contada, é factualmente correta (MCLEISH, 1999,
                       P. 71).


       Para Secanella (apud PRADO, 1985, p. 47), somente uma definição
permanece após todas as mudanças nos conceitos e divisões dos gêneros
informativos, de que “é notícia o que os jornais escrevem em suas colunas e o que
as emissoras de rádio e televisão emitem em seus programas informativos. Ou seja,
os tipos de notícia são infinitos”.
       Prado (1985, p. 48) afirma que a instantaneidade e simultaneidade permitidas
pelo rádio implicam em rapidez, principal vantagem da distribuição de informação.
Isso permite aos jornalistas radiofônicos pensarem nas notícias do momento, e não
do dia, como fazem os profissionais que trabalham para os veículos impressos. A
notícia radiofônica obriga o ouvinte a realizar um exercício de transformação das
ideias transmitidas pelo som em visuais, aumentando o sentido de participação nos
fatos relatados, o que resulta em maior credibilidade. Porém, a não permanência das
mensagens radiofônicas obriga o jornalista a escrever de forma clara, que possa ser
entendida na primeira vez. Em consequência disso, surge a brevidade, característica
mais importante das notícias radiofônicas.
22 

 

      “A verdade de uma notícia, baluarte de um neoliberalismo (mercado livre de
ideias) contemporâneo, se remete à fundamentação teórica do acontecimento”
(MEDINA, 1988, p. 20).


                     Propomos chamar “notícia” a um conjunto de informações que se
                     relaciona a um mesmo espaço temático, tendo um caráter de
                     novidade, proveniente de uma determinada fonte e podendo ser
                     diversamente tratado. Um mesmo espaço temático: significa que o
                     acontecimento, de algum modo, é um fato que se inscreve num certo
                     domínio do espaço público, e que pode ser reportado sob a forma de
                     um minirrelato [...] há elementos de informação que podem dar
                     origem a um novo espaço temático, mas podem também se ligar a
                     um espaço temático já circunscrito e conhecido, como no caso de um
                     conflito que se prolonga e do qual as mídias se ocupam
                     cotidianamente [...] no mesmo instante em que se dá a notícia, ela é
                     tratada sob uma forma discursiva que consiste grosso modo em:
                     descrever o que passou, reportar reações, analisar os fatos
                     (CHARAUDEAU, 2009, p. 132).


      Para Charaudeau (2009, p. 133), “a contemporaneidade midiática está no fato
de a aparição do acontecimento ser o mais consubstancial possível ao ato de
transmissão da notícia e a seu consumo”. Uma notícia é tão efêmera quanto um
relâmpago, no instante de sua aparição. Nas mídias, pode, por exemplo, ser
repetida, guardando certo frescor, mas sob a condição de que permaneça no quadro
de uma atualidade imediata.


                     As mídias têm por tarefa reportar os acontecimentos do mundo que
                     ocorreram em locais próximos ou afastados daquele em que se
                     encontra a instância de recepção. O afastamento espacial do
                     acontecimento obriga a instância midiática a se dotar de meios para
                     descobri-lo e alcançá-lo. Ela o faz utilizando as indústrias dos
                     serviços de informação (agências), mantendo pelo mundo uma rede
                     de colaboradores (correspondentes), solicitando informações da
                     parte de diversas instituições ou de grupos sociais (fontes oficiais ou
                     oficiosas), apelando para todo tipo de testemunha (CHARAUDEAU,
                     2009, p. 135).


      Segundo Charaudeau (2009, p. 137), as mídias estão presas a dois tipos de
imprensa: a regional, que se ocupa somente dos fatos que envolvem pessoas do
local (política e costumes locais), e a nacional, que se ocupa com a política de modo
geral e acontecimentos sociais. O autor sugere que, para atingir simultaneamente
esses dois públicos, seja feita uma simulação de participação cidadã, mais fácil de
ser aplicado ao rádio e televisão.
23 

 

      O acontecimento midiático constrói-se segundo três tipos de critério, conforme
nos mostra Charaudeau (2009, p. 150):
              Atualidade: dar conta do que ocorre numa temporalidade co-extensiva
              à do sujeito-informador-informado (princípio de modificação);
              Expectativa: captar o interesse-atenção do sujeito alvo, logo deve jogar
              com seu sistema de expectativa, de previsão e de imprevisão (princípio
              da saliência);
              Socialidade: tratar daquilo que surge no espaço público, cujo
              compartilhamento e visibilidade devem ser assegurados (princípio de
              pregnância).


                      Não há palavra que não seja proferida de um determinado lugar e
                      não convoque o interlocutor a ocupar um lugar correlativo; seja
                      porque essa palavra pressupõe simplesmente que a relação de
                      lugares está em vigor, seja porque o locutor espera do outro o
                      reconhecimento do lugar que lhe é próprio, ou porque obriga o
                      interlocutor a se inscrever na relação (FLAHAULT apud
                      MAINGUENEAU, 2005, p. 34).


      Para Charaudeau (2009, p. 151), o universo da informação midiática é
efetivamente um universo construído, o resultado de uma construção. Os
acontecimentos não são transmitidos em seu estado bruto, pois se tornam objeto de
racionalização. “Assim, a instância midiática impõe ao cidadão uma visão de mundo
previamente articulada, sendo que tal visão é apresentada como se fosse a visão
natural do mundo”.
      Maingueneau (2005, p. 53) afirma que “falar é uma forma de ação sobre o
outro e não apenas uma representação do mundo” e que toda enunciação constitui
um ato que visa a modificar uma situação.
      Orlandi (1999, p. 86) distingue os diferentes modos de funcionamento do
discurso, tomando como referência elementos constitutivos de suas condições de
produção e sua relação com o modo de produção de sentidos, com seus efeitos,
como segue:
24 

 

              a. Discurso autoritário: aquele em que a polissemia2 é contida, o referente
                     está apagado pela relação de linguagem que se estabelece e o locutor se
                     coloca como agente exclusivo, apagando também sua relação com o
                     interlocutor;
              b. Discurso polêmico: aquele em que a polissemia é controlada, o referente é
                     disputado pelos interlocutores, e estes se mantêm em presença, numa
                     relação tensa de disputa pelos sentidos;
              c. Discurso lúdico: aquele em que a polissemia está aberta, o referente está
                     presente como tal, sendo que os interlocutores se expõem aos efeitos
                     dessa presença inteiramente não regulando sua relação com os sentidos.
              Para a autora, não há nunca um discurso puramente autoritário, polêmico ou
lúdico, mas sim misturas, articulações de modo que podemos dizer que um discurso
tem um funcionamento dominante autoritário, ou tende para o autoritário etc.
(ORLANDI, 1999, p. 87). Afirma ainda que um modo de se evitarem essas
categorizações é dizer que o discurso em análise tende para a paráfrase, ou para a
monossemia (quando autoritário), tende para a polissemia (quando lúdico) e se
divide entre polissemia e paráfrase (quando polêmico).
              Maingueneau (20005, p. 55) afirma que “o discurso só é discurso enquanto
remete a um sujeito, um EU, que se coloca como fonte de referências pessoais,
temporais, espaciais e, ao mesmo tempo, indica que atitude está tomando em
relação àquilo que diz e ao seu co-enunciador”.
              Para Charaudeau (2009, p. 175), “comentar o mundo constitui uma atividade
discursiva, complementar ao relato, que consiste em exercer suas faculdades de
raciocínio para analisar o porquê e o como dos seres que se acham no mundo e dos
fatos que aí se produzem”. No mundo profissional das mídias, a relação entre relato
(a que também podemos chamar notícia) e comentário é “espinhosa”, conforme
afirma o autor (p. 176). Não raramente, é colocada em termos opostos,
questionando se as mídias devem fornecer fato ou comentário, e se os jornalistas
devem descrever ou comentar.



                                                            
2
  De acordo com a autora, “podemos tomar a polissemia enquanto processo que representa a tensão 
constante estabelecida pela relação homem/mundo, pela intromissão da prática e do referente enquanto tal, 
na linguagem” (1996, p.15). 
25 

 

                    Não é possível informar se não se pode, ao mesmo tempo, dar
                    garantias sobre a veracidade das informações transmitidas, logo,
                    fazer saber implica, necessariamente, um “explicar”: o comentário
                    jornalístico é uma atividade estreitamente ligada à descrição do
                    acontecimento para produzir um “acontecimento comentado”
                    (CHARAUDEAU, 2009, p. 177).


      Charaudeau (2009, p. 180) nos diz que “o comentador sabe que precisa ser
credível, mas também sabe que nenhuma análise ou argumentação terá impacto se
não despertar o interesse do consumidor de informação e se não tocar sua
afetividade”. Porém, o posicionamento do comentarista e seus modos de raciocínio
pode ser um dos problemas que o comentário coloca para as mídias.


                    O comentário midiático corre o risco constante de produzir efeitos
                    perversos de dramatização abusiva, de amálgama, de reação
                    paranóica. Assim, a instância midiática procura, para compensar tais
                    efeitos, multiplicar os pontos de vista e colocar num plano de
                    igualdade os argumentos contrários. Talvez esteja aí a especificidade
                    do comentário jornalístico: uma argumentação que, certamente,
                    bloqueia a análise crítica, mas que, pela sua própria fragmentação,
                    sua própria multiplicidade de pontos de vista, fornece elementos para
                    que se construa uma verdade mediana. É uma atitude discursiva que
                    aposta na responsabilidade do sujeito interpretante (CHARAUDEAU,
                    2009, p. 187).


      Todas essas definições de comentário e notícia, bem como a homogeneidade
na apresentação de ambos serão consideradas para fazermos o estudo de caso da
análise proposta nesta monografia, como veremos no capítulo 5.
26 

 

4 O ÂNCORA NO JORNALISMO


         O termo âncora (anchorman) no jornalismo começou a ser utilizado nos
Estados Unidos na década de 50, e representava a pessoa melhor informada, onde
todas as linhas de comunicação deveriam terminar, o estúdio onde ele estivesse
deveria ser o coração e o cérebro da cobertura (SQUIRRA, 1993, p.65).
         Hoje, os âncoras dos tele e radiojornais americanos não são somente os
apresentadores do noticiário, mas os editores-chefes. O programa é a sua própria
imagem e tem a sua marca. Basicamente, é a sua ‘propriedade’ (SQUIRRA, 1993,
p.67).
         A figura do âncora é recente na história do jornalismo brasileiro. Segundo
Mello e Souza (apud SQUIRRA, 1993, p. 118), a primeira referência a um jornalista
que supostamente teria atuado como âncora em um telejornal brasileiro foi nos
preparativos para a cobertura das eleições municipais de novembro de 1976. Nessa
ocasião, foi preparado um plano especial de trabalho na Rede Globo, que sugeria a
utilização do repórter Costa Manso como uma espécie de ‘anchorman’. No entanto,
para Cruz (apud SQUIRRA, 1993, p. 118), o primeiro âncora brasileiro foi Carlos
Monforte.
         Mello e Souza (apud SQUIRRA, 1993, p. 119) propõe uma definição do papel
do âncora, como vemos a seguir:


                      Basicamente, é um jornalista com a paciência e a curiosidade de ler,
                      com a maior isenção possível, os jornais impressos do dia; esse
                      jornalista deve ter uma visão de mundo, dispor de uma cultura
                      humanística e histórica que lhe permita descobrir, mesmo em uma
                      pequena anedota, a sua importância trágica ou sua terrível
                      comicidade; alguém em condições de estar permanentemente
                      chocado pela realidade, mas com o poder de se apresentar diante
                      dos telespectadores sem que olhos e músculos reflitam qualquer tipo
                      de comoção indesejável; alguém que acompanhe, na redação, o
                      nascimento e o desenvolvimento da notícia; uma pessoa capaz de
                      sofrer, durante dez minutos, para escrever um bom texto de duas
                      linhas e, ao mesmo tempo, improvisar com naturalidade e
                      conhecimento de causa uma locução de dois minutos sobre algum
                      acontecimento de última hora; alguém com ar de serenidade e
                      respeito pelos outros; traços corretos, boa voz, um ritmo dialogal de
                      leitura e – exigência suprema! – um ar inteligente (MELO E SOUZA
                      apud SQUIRRA, 1993, p. 119).
27 

 

      Segundo Squirra (1993, p. 179) a característica que difere o âncora brasileiro
dos demais, é o fato de emitirem opinião na forma de comentários. Como controlam
de forma extremamente cuidadosa tudo o que vai ao ar, exercem de alguma forma,
atuação opinativa, direcionando editorialmente os telejornais.




4.1 HERÓDOTO BARBEIRO


      Heródoto Barbeiro nasceu em São Paulo, em 1946. Foi office boy, mecânico,
borracheiro e professor de inglês. É graduado e mestre em História pela
Universidade de São Paulo, onde lecionou por 12 anos. Também se formou em
Direito e passou pelo curso de Japonês, na USP. Cerca de 20 anos mais tarde,
decidiu trocar o corpo docente pelo discente, cedendo ao desejo de se tornar
jornalista, “deixei de falar e escrever no passado e aprendi a falar e escrever com os
verbos no presente. Deixei a história e passei para o jornalismo” (BARBEIRO, on-
line). Atualmente é gerente de jornalismo da Rádio CBN e apresentador do
programa Roda Viva, na TV Cultura.


      Livros e capítulos publicados:
      Meu velho centro, histórias do coração de São Paulo. Boitempo, 2007;
      Fora do ar. Ediouro, 2007;
      A história do consumo no Brasil – do mercantilismo à era do foco no cliente.
      Campus, 2007;
      CBN mundo corporativo. Futura, 2006;
      Manual do jornalismo esportivo. Contexto, 2006;
      O relatório da CIA – como será o mundo em 2020. Ediouro, 2006;
      Buda: o mito e a realidade. Madras, 2005;
      Falar para liderar. Futura, 2003;
      Manual de telejornalismo. Elsevier, 2005;
      Você na telinha. Futura, 2002;
      Liberdade de expressão. Futura, 2003;
      Liberdade de expressão 2. Futura, 2004;
      Doutor Bolinha, In AMATO NETO, V. & PASTERNAK, J. Do parto ao Infarto –
      coletânea de contos médico-policiais. Segmento, 2008;
28 

 

      Os caminhos do jornalismo, In TABACOF, D. 60 dias que mudaram o Oriente
      Médio. Kadimah, 2007;
      Somos milhares, In GOMES, A. L. Z. Na boca do rádio – o radialista e as
      políticas públicas. Hucitec, 2007;
      Paz Interior, In MENDES, J. Bolinha Muletas. Vozes, 2006;
      Esportes (Celeiro de Craques), In PINSKY, J. (org.) O Brasil no contexto
      1987-2007. Contexto, 2007;
      No Lombo do Burro, In VOLPI. A. História do comércio no Brasil - do
      mercantilismo à era do Foco no Cliente. Campus, 2007;
      Panorama de História, com Bruna Cantele e Carlos A. Schneeberger. IBEP,
      2006;
      O desafio da ancoragem In CBN – a rádio que toca notícia. Senac, 2006;
      Ancoragem, In RODRIGUES, E. (org) No próximo bloco. PUC, 2005;
      História de olho no mundo do trabalho. com Bruna Cantele e Carlos A.
      Schneeberger. Scipione, 2005, 3vols;
      História de olho no mundo do trabalho. com Bruna Cantele e Carlos A.
      Schneeberger. Scipione, 2005, 3vols;
      Jornalismo In GOYZUETA, V. e OGIER, T. Guerra e jornalismo. Summus,
      2003;
      Os Ambiciosos. Ed. Brasil, 2003;
      Prefácio, In GOYZUETA, V e OGIER, T. Guerra e Imprensa. Summus, 2003;
      Os Ambiciosos. Ed. Brasil, 2003;
      Ensaio Geral - Brasil 500 Anos. Nacional, 2000;
      Curso de História Geral, S.Paulo, 1985;
      Curso de História da América. Harbra, 1984;
      Curso de História do Brasil. Harbra, 1984;
      Curso de História da América. Harbra, 1984;
      Curso de História do Brasil. Harbra, 1984;
      História da América. Moderna, 1982;
      História do Brasil. Moderna, 1981;
      História Geral. Moderna, 1980;
      O Diário de Viagem do Tenente G.H. Preeble. R. de História, 1975.


    Prêmios:
29 

 

       1992 - Libero Badaró - Destaque do Ano;
       1999 - APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – Âncora de rádio;
       2000 - Prêmio Unesco de Jornalismo;
       2000 - Ateneu Rotário;
       2001 - Ayrton Senna - Grande Prêmio de Jornalismo;
       2001 - Ateneu Rotário;
       2002 - APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – Âncora de rádio;
       2002 - PNBE - Destaque Jornalístico do Ano;
       2003 - Comunique-se – Categoria Âncora de rádio;
       2005 - Comunique-se – Categoria Âncora de rádio;
       2005 - Troféu Keiko Ogura Buralli;
       2006 - Troféu Dia da Imprensa;
       2007- Prêmio Keiko Ogura de Jornalismo;
       2007 - Prêmio Comunique-se – Categoria Âncora de rádio;
       2007 - Prêmio Comunique-se – Mestre de Jornalismo;
       2008 - 13º Prêmio Nacional de Seguridade Social – Comunicação;
       2008 - Prêmio Comunique-se 2008 - Melhor âncora de televisão;
       2009 - Prêmio Economista do Ano – Jornalismo econômico;
       Membro do Conselho Editorial do Le Monde Diplomatique –Brasil.



4.2 RICARDO BOECHAT


       Ricardo Eugênio Boechat nasceu em Buenos Aires em 13 de julho de 1952.
Começou sua carreira em 1970 como repórter do extinto jornal Diário de Notícias, na
cidade do Rio de Janeiro. Também na década de 70, iniciou-se como colunista,
colaborando com a equipe de Ibrahim Sued. Em 1987 foi para o jornal O Globo, do
qual foi demitido após trinta anos de trabalho, depois de uma matéria publicada na
revista Veja3 o acusar de revelar o conteúdo das matérias que seriam publicadas a
um jornalista do jornal concorrente, o Jornal do Brasil, no qual assumiu a “Coluna
Boechat”.


                                                            
3
  A matéria está disponível em http://veja.abril.com.br/270601/p_038.html. Acesso dia 23/10/2009 
30 

 

      Atualmente apresenta o Jornal da Band, ancora um jornal matutino na rede
BandNews FM, assina uma coluna diária no jornal O Dia desde 2006 e escreve,
semanalmente, para a revista IstoÉ. Foi diretor de jornalismo da TV Bandeirantes do
Rio de Janeiro e trabalhou para o SBT carioca.


      Livros:
             Copacabana Palace: Um hotel e sua história. DBA, 1998.


      Prêmios:
             1989 – Prêmio Esso de Jornalismo. Categoria Reportagem;
             1992 – Prêmio Esso de Jornalismo. Categoria Informação Política;
             2001 – Prêmio Esso de Jornalismo. Categoria Informação Econômica;
             2006 – Prêmio Comunique-se. Categoria Âncora de rádio;
             2007 – Prêmio Comunique-se. Categoria Apresentador de TV;
             2008 – Prêmio Comunique-se. Categorias Âncora de rádio e Colunista
             de notícias;
             Prêmio White Martins de Imprensa.
31 

 

5 ESTUDO DE CASO


      O presente trabalho configura-se como uma pesquisa descritiva, sendo o
corpus de análise composto por cinco edições dos programas Jornal da Band
(transmitido pela BandNews FM de segunda a sexta das 7h às 9h, apresentado por
Ricardo Boechat) e Jornal da CBN (transmitido pela Rádio CBN FM de segunda a
sábado das 6h às 9h30m, apresentado por Heródoto Barbeiro).
      Optamos por não estudar a edição de sábado do programa Jornal da CBN,
pois o objetivo deste trabalho é fazer uma análise comparativa entre os âncoras com
base nas notícias em comum apresentadas na mesma data.


5.1 UNIVERSO


      Mensalmente são veiculados em média 25 programas apresentados por
Heródoto Barbeiro na CBN e 21 programas apresentados por Ricardo Boechat na
BandNews FM.


5.2 AMOSTRA


      Neste trabalho foram analisadas cinco edições de cada um dos programas
selecionados, o que corresponde a 20% dos programas veiculados pela CBN e
23,8% dos programas veiculados pela BandNews FM.
      A análise dos programas será feita a partir das notícias em comum
apresentadas por ambos os âncoras. Para tanto, realizamos a gravação dos
radiojornais nos dias 27, 28, 29 e 30 de outubro e 3 de novembro. As manchetes
que foram encontradas em ambos os programas estão elencadas no quadro do
subitem 5.3, assim como a transcrição das falas de Heródoto e Boechat, analisadas
com base nas teorias apresentadas anteriormente neste trabalho.


5.3 ANÁLISE


      A análise dos conteúdos será feita a partir das notícias em comum
apresentadas por ambos os âncoras. Para tanto, gravamos e expusemos no quadro
a seguir as manchetes do período de 27 de outubro a 3 de novembro encontradas
32 

 

em ambos os programas. Posteriormente, transcrevemos as falas de Heródoto e
Boechat, e as analisamos com base nas teorias utilizadas anteriormente neste
trabalho.


                                        Pautas                 Jornal da CBN4     Jornal da Band5
1. Câncer de mama masculino                                         28/10             28/10
                                                                   28/10 –
                                                                  somente
2. Conselho Nacional de Justiça quer pôr                        introdução à
fim ao regime semi-aberto (tornozeleiras                           notícia            28/10
eletrônicas)                                                       29/11 –
                                                               entrevista sobre
                                                                   o tema
3. Aluna da Uniban hostilizada pelos
                                                                    30/10             30/10
colegas


Pauta 1: Câncer de mama masculino (dia 28/10/09)


Transcrição


Jornal da CBN:
- Heródoto Barbeiro: “A Associação Brasileira de gays e lésbicas divulgou uma nota
criticando a difamação do governador do Paraná, Roberto Requião. Durante o
evento, que reuniu integrantes do governo, ontem, ao apresentar o secretário da
saúde, Requião fez o seguinte comentário, ouça aí: ‘Eu chamaria o Gilberto Martins,
que vai, num espaço reduzido de tempo, anunciar a implementação de ações
estratégicas para o controle do câncer. A ação do governo não é só em defesa do
interesse público, é da saúde da mulher também. Embora hoje, câncer de mama
seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas

                                                            
4
 Apresentado por Heródoto Barbeiro, transmitido pela rádio CBN de segunda a sexta das 6h às
9h30, sábados e domingos das 6h às 9h.
5
 Apresentado por Ricardo Boechat, transmitido pela rádio BandNews FM de segunda a sexta das 7h
às 9h.
33 

 

gay’. A Associação Brasileira de gays e lésbicas afirmou que piadinhas desse tipo
reforçam o preconceito e a discriminação. A entidade lembrou que muitas pessoas
foram assassinadas no ano passado, 19 no Paraná, e que nos últimos 15 anos
foram 160 pessoas mortas”.


Jornal da Band:
- Repórter Luiz Megale: “A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays e Bissexuais
pede uma audiência com o governador do Paraná Roberto Requião. O grupo quer
explicações sobre a declaração feita por ele na TV Educativa do Estado, associando
o câncer de mama às passeatas gays. ‘A ação do governo não é só em defesa do
interesse público, é da saúde da mulher também. Embora hoje, câncer de mama
seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas
gay’”.
- Ricardo Boechat: “Bom, câncer de mama de fato acontece em homens, claro.
Homens têm mama, e têm o câncer de mama também, numa incidência menor que
a das mulheres, mas não desprezível. Aliás, numa entrevista que eu fiz com uma
cancerologista no Rio [de Janeiro] sobre o câncer de mama, ela diz que prevenção,
o auto-exame é exatamente o mesmo, apalpar, ver se tem nódulo, se tem dores
localizadas, eu estou até fazendo este movimento aqui agora, porque não faço há
muito tempo, tem que fazer. E aí o detalhe é o seguinte: associar isso, fazer uma
caricatura disso ou tentar fazer uma piada em cima disso é típico de uma cabeça de
jerico, não há mais o que dizer”.
- Ricardo Boechat, 49 minutos depois: “O Fernando Vieira de Melo, nosso
companheiro aqui do Primeiro Jornal, me mandou uma informação curiosa a
propósito das declarações do governador Requião, fazendo uma associação com o
câncer de mama masculino às paradas gays. Uma brincadeira, uma ironia, está
sendo alvo de críticas lá no Paraná, de grupos homossexuais, lésbicas e tudo mais.
‘Seguem’, diz Fernando Vieira de Melo, ‘algumas informações que me foram
passadas pelo médico A. C. Camargo, que é meu amigo, sobre a sábia declaração
do governador Requião’. Quer botar aí, vamos botar? Bota aí, olha o que o Requião
falou: ‘A ação do governo não é só em defesa do interesse público, é da saúde da
mulher também. Embora hoje, câncer de mama seja uma doença masculina
também. Deve ser consequência dessas passeatas gay’. Bom, o câncer de mama
sempre foi também uma doença masculina. O que disse o médico A. C. Camargo,
34 

 

aqui de São Paulo? Duzentos casos de câncer de mama entre homens desde 1953
foram registrados no Hospital do Câncer A. C. Camargo, perdão, o médico é do A.
C. Camargo, e não o médico A. C. Camargo, desculpe, falei uma besteira aqui. Um
médico amigo do Fernando Vieira de Melo, do Hospital do Câncer A. C. Camargo,
então, 200 casos de câncer masculino foram registrados neste hospital desde 1953.
Entre os 200 casos de câncer masculino, Barão, não havia um único homossexual,
nenhum dos homens com essa patologia usou qualquer hormônio feminino ou
anabolizante. De cada 100 mulheres que têm câncer de mama, um homem poderá
ter câncer de mama. As informações, agora sim, são do médico Mário Mourão,
diretor do departamento de mastologia do Hospital do Câncer A. C. Camargo de São
Paulo”.


Análise


      Notamos que algumas informações estatísticas apresentadas no programa
Jornal da CBN não são encontradas no Jornal da Band. Porém, a ausência de tais
informações não interfere diretamente no conteúdo informativo. Os trechos
mostrados nos programas remetem a um teor informativo maior, quando transmitido
por Heródoto, pois contextualiza o ouvinte quanto à situação em que a declaração
foi feita, diferentemente de Boechat, que somente comunica o fato sem
contextualizá-lo.
      Charaudeau (2009, p. 175) afirma que “comentar o mundo constitui uma
atividade discursiva, complementar ao relato, que consiste em exercer suas
faculdades de raciocínio para analisar o porquê e o como dos seres que se acham
no mundo e dos fatos que aí se produzem”. Essa complementação a que o autor se
refere é claramente observada no programa da BandNews FM, enquanto no outro,
somente encontramos a transmissão da notícia.
      Notamos em Boechat um certo sarcasmo no trecho em que ele fala da
informação passada por Luiz Vieira de Melo, em que diz “sobre a sábia declaração
do governador Requião”, ironizando a palavra “sábia”.




Pauta 2: Uso de tornozeleiras eletrônicas (28/10/09)
35 

 

Transcrição


Jornal da CBN: No dia 28/10, Heródoto fez uma introdução à notícia. No dia 29/10
conduziu uma entrevista com o professor de direito penal da Universidade Federal
do Rio de Janeiro e conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária, Doutor Carlos Eduardo Adriano Japiassú6 sobre o tema.
28/10
- Heródoto Barbeiro: “Com a notícia que o Conselho Nacional de Justiça estuda
propor mudança aqui na lei penal. Entre as novidades estaria o monitoramento
eletrônico dos presos em regime aberto, e a concessão de incentivos a empresas
que contratassem detentos ou ex-detentos”.
- Repórter Liziane Cardoso: “O Conselho Nacional de Justiça pretende avaliar na
semana que vem propostas de mudanças na legislação penal. Se aprovadas, elas
serão enviadas para votação no Congresso Nacional. Um dos projetos modifica o
regime aberto de prisão. Hoje o preso pode trabalhar de dia, mas precisa dormir nas
chamadas casas de albergados. Como isso pode aumentar a criminalidade, a
sugestão é que o preso vá para casa desde que concorde em ser monitorado
eletronicamente, com tornozeleiras ou pulseiras, por exemplo. O CNJ também
sugere que as empresas que oferecem emprego para detentos ou ex-detentos
tenham incentivos fiscais. Já os presidiários que trabalharem deverão receber algum
tipo de remuneração. O conselheiro do CNJ, Valter Nunes, afirma que isso contribui
para reintegração do detento na sociedade. ‘Ninguém pode ser obrigado a trabalhar
sem receber nenhuma remuneração, mesmo o preso. As formas de se buscar a
recuperação de alguém, grande parte das pessoas que ingressam no sistema
criminal, são pessoas ou que não estejam no mercado de trabalho, ou mesmo que
estejam no mercado de trabalho, mas estão com problemas comportamentais. Uma
das formas de recuperar alguém necessariamente passa pela inserção dele,
reinserção dele no mercado de trabalho. Então isso é uma questão de dignificação
profissional’. O CNJ quer que a justiça eleitoral providencie meios para que os
presos provisórios votem. O pacote também prevê que as visitas ou ligações
telefônicas recebidas por presos no regime disciplinar diferenciado sejam gravadas,

                                                            
6
  Nota da autora: Currículo disponível em 
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4774685Y8 Acessado dia 07/11/09 
36 

 

para evitar novos crimes ou a circulação de informações entre membros de grupos
criminosos. Uma resolução do CNJ, que não precisa de aprovação no Congresso,
cria um sistema de proteção e assistência a juízes em situação de risco, e o
conselho também estuda disponibilizar o sistema de videoconferência para
depoimentos em todo o país”.
29/10
- Heródoto: “Bom dia, doutor Japiassú”.
- Dr. Japiassú: “Bom dia, Heródoto”.
- Heródoto: “Doutor Japiassú, o Conselho Nacional de Justiça analisa aqui na
próxima semana uma proposta para alterar o regime aberto para regime domiciliar, e
com essa mudança adotada, aqui também se cria o monitoramento eletrônico. Esse
monitoramento eletrônico seria aquela tornozeleira que se comentou há algum
tempo?”
- Dr. Japiassú: “Exatamente, a ideia do monitoramento é essa. Eu até, eu confesso
que não li a proposta do CNJ, o que eu sei é pela imprensa, e chega a se comentar
que poderia ser bracelete, essas coisas, o modelo normal, tradicional que se
encontra pelo mundo é uma tornozeleira e mais um transmissor que fica na cintura,
em geral, como um celular”.
- Heródoto: “Como um celular. Isso impediria que aquelas pessoas que estão no
chamado regime semi-aberto, por exemplo, fugissem, ou aquelas que ganham a
possibilidade de passar um feriado com a sua família também desaparecessem, não
voltassem nunca mais?”
- Dr. Japiassú: “Não impede porque as pessoas, o que acontece é o seguinte, a
tornozeleira não pode ser retirada, ela só pode ser rompida. Então, a pessoa fica
sendo monitorada, impedir que ela desapareça não, meramente ela cria uma forma
de controle sobre onde ela está localizada e como vai. Se ela rompeu a tornozeleira
ou se ela descumprir a área onde ela tem que estar, fica sendo informado
automaticamente. O que o CNJ está mencionando é que o regime semi-aberto, a
pessoa sai da prisão-albergue, e a partir daí só tem controle quando ela retornar.
Assim haveria alguma forma de controle. De qualquer maneira, muitos países
adotam o sistema de monitoramento, tem uma pesquisa específica na Inglaterra que
foi feita com pessoas que utilizavam, e outros presos disseram que usar a
tornozeleira fazia com que eles se lembrassem o tempo todo da obrigação, e isso
teria gerado resultados positivos”.
37 

 

- Heródoto: “Esse é o sistema britânico? Nos Estados Unidos é a mesma coisa ou
não?”
- Dr. Japiassú: “Na realidade o modelo é mais ou menos parecido. Ele começa nos
Estados Unidos depois se expande pelo mundo. Ele começou em 83 nos Estados
Unidos. Em todos os lugares, geral, ele é tornozeleira, porque fica escondido
debaixo da calça, pra pessoa não ser identificada longe que está com a tornozeleira,
e o modelo basicamente são dois, ou é por telefone, que fica mandando sinais pra
indicar que a pessoa está perto a cada meia hora, ou um sistema mais caro que é o
sistema por GPS, como se fosse um celular mesmo”.
- Heródoto: “Entendo, agora se a pessoa se recusar a receber isso ela perde a
progressividade da pena? Ela perde o benefício?”
- Dr. Japiassú: “Na realidade, o monitoramento no mundo inteiro só pode ser
implementado com o consentimento da pessoa. A pessoa tem que aceitar ingressar
num programa de...”
- Heródoto: “Mas ela não aceitando, ela pode perder o benefício ou não?”
- Dr. Japiassú: “Na realidade, em geral você escolhe, ou você ingressa no
monitoramento ou você permanece preso. O monitoramento é no mundo inteiro uma
medida pra desencarcerar. Não é justamente como está se propondo aqui, que é pra
controlar quem já vai estar fora”.
- Heródoto: “É uma maneira, então, de colocar ou de facilitar a reintegração do
cidadão na sociedade, é isso?”
- Dr. Japiassú: “Exatamente, na realidade no mundo inteiro o monitoramento é
entendido, pelo menos essa é a principal bandeira, como instrumento pra reduzir
superlotação carcerária, um problema grave no Brasil. Aqui está se propondo pra
controlar quem vai estar em regime aberto, não é exatamente essa a proposta de
quem defende no mundo o monitoramento, em geral eles preferem... o problema de
superlotação, que é um problema mundial, e que no Brasil é muito grave”.
- Heródoto: “Perfeitamente. Professor Japiassú, muito obrigado. Professor Carlos
Eduardo Adriano Japiassú, professor de direito penal da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Olha que interessante. Então isso não é pra monitorar quem já está
fora, mas sim para permitir que pessoas que estão presas possam ficar nesse
regime progressivo. Eu acho que isso é interessantíssimo, essa observação feita
aqui pelo professor Japiassú”.
38 

 

Jornal da Band:
- Ricardo Boechat: “Estou lendo a matéria da Mariana Garuti, n’O Estado de
S.Paulo, que o Conselho Nacional de Justiça quer pôr fim ao regime aberto. Esse
regime aberto, semi-aberto, enfim, tem várias modalidades, que pressupõem-se
previstas no regime de progressão de penas, o criminoso é condenado a um x de
tempo na cadeia, e dependendo da forma como cumpra essa pena, sem
transgressões disciplinares, sem tentativa de fuga, ele consegue sair em um sexto
da pena. Então o cara é condenado a 30 anos, ele sai em cinco anos, é isso? Cinco
vezes seis, 30, exatamente. O cara condenado a 20, ele sai em um sexto da pena, e
por aí vai. Isso vai progredindo, primeiro o cara consegue sair de manhã e voltar à
noite, depois ele tem direito a ficar o tempo que... isso se ele conseguir emprego, se
conseguir algum trabalho, alguma ocupação; ele tem direito a sair nas datas
festivas, Dia dos Pais, Dia das Mães, Natal, coisa do gênero, com o compromisso:
sair de manhã, voltar à noite. Depois ele pode ficar fora, mas ele tem que ficar um
período numa quarentena, sem cometer nenhum delito, lálálálá... O que acontece?
Dezessete por cento dos presos beneficiados com esse tipo de indulto, de benefício,
de progressão de pena, não voltam. Não voltam e são exatamente dos dezessete
por cento que acabam voltando pra bandidagem mais pesada. A reincidência entre
oriundos do sistema penal também é muito grande, e o Conselho Nacional de
Justiça agora começa a discutir a possibilidade de criar regras mais rigorosas para
esses benefícios. Uma dessas regras, que está em discussão aí, muito preliminar, é
colocar algum tipo de monitoramento eletrônico no preso beneficiado com a saída
provisória. Você bota lá uma pulseira eletrônica, bota lá um chip na canela do cara
preso a uma espécie de sei lá o quê, uma argola, uma coisinha e tal, e ele passa a
ser monitorado, onde ele estiver ele estará sendo monitorado. Já existem
equipamentos pra isso, já há experiências fora do Brasil, desse tipo, presos que têm
benefícios dessa forma e saem com... olha lembrem-se que os bispos da Igreja
Renascer usaram esse tipo de coleira eletrônica, sei lá que nome tem, pra poder
serem monitorados e não saírem do país, dos Estados Unidos, com o qual foram
condenados por entrar com dinheiro na Bíblia, dinheiro não declarado, então, existe
esse tipo de coisa, aqui no Brasil tem uma visão, de criminalistas, de juristas que
acham que isso bestializa o direito à liberdade, enfim, por aí vai. Agora, que a
sociedade   quer   que     essas   coisas   mudem,   e   mudem     pra   mais   vigor,
indiscutivelmente quer”.
39 

 

- Repórter Thiago Rogério (13 minutos depois): “Boechat, mais cedo você falava
sobre a implantação do uso de tornozeleiras eletrônicas aqui no Brasil, em Minas foi
firmado um termo de cooperação entre o governo, o Tribunal de Justiça e o
Ministério Público, a expectativa é de que até o fim do ano o uso das tornozeleiras já
seja implantado em alguns presídios da região metropolitana de Belo Horizonte”.
- Ricardo Boechat: “As tornozeleiras de que falamos agora, você ouviu aí o Thiago
Rogério, são tornozeleiras eletrônicas, pra monitorar a saída de presos beneficiados
com aquelas saídas temporárias, pra Dia dos Pais, Natal, ou mesmo por regime
semi-aberto, eles saem com as tornozeleiras, ficam sendo eletronicamente
monitorados pra que se possam vigiar seus passos”.


Análise


      Durante a introdução feita por Heródoto à notícia, que ocorreu no dia 28/10,
não encontramos qualquer forma de expressão de opinião, que é claramente
exposta por Boechat. Porém, durante a entrevista conduzida pelo âncora da CBN,
no dia 29/10, notamos que Barbeiro tenta conduzir o convidado a dizer o que
interessa aos ouvintes do Jornal da CBN.
      Ao final da entrevista, notamos que Heródoto faz uma síntese do que foi dito
pelo doutor Japiassú, e usa da hipérbole para chamar a atenção do ouvinte em
“interessante (...) interessantíssimo”. Ele também mostra que, no Brasil, o uso das
tornozeleiras, como está sendo proposto fazer, se dá de forma errônea, pois “isso
não é pra monitorar quem já está fora, mas sim para permitir que pessoas que estão
presas possam ficar nesse regime progressivo”.
      Boechat relembra fatos anteriores no comentário dele, como vemos em
“lembrem-se que os bispos da Igreja Renascer usaram esse tipo de coleira
eletrônica, sei lá que nome tem, pra poder serem monitorados e não saírem do país,
dos Estados Unidos”. Ele não fala se é bom ou ruim, mascara sua opinião,
transferindo-a para a sociedade no trecho “agora, que a sociedade quer que essas
coisas mudem, e mudem pra mais vigor, indiscutivelmente quer”. Usa uma
linguagem mais informal, facilitando o entendimento do ouvinte, chamando sua
atenção como em “você bota lá uma pulseira eletrônica, bota lá um chip na canela
do cara preso a uma espécie de sei lá o quê, uma argola, uma coisinha e tal”.
      No programa Jornal da CBN encontramos uma linguagem mais formal.
40 

 




Pauta 3: Aluna da Uniban hostilizada pelos colegas (dia 30/10/09)


Transcrição


Jornal da CBN:
- Heródoto Barbeiro: “Bem, cerca de 700 alunos numa faculdade em São Paulo,
chamada Uniban, Universidade Bandeirante, campus de São Bernardo, na região do
ABC, pararam as aulas do noturno para perseguir, xingar, tocar, fotografar, ameaçar
de estupro, cuspir, tudo isso contra uma aluna do primeiro ano do curso de turismo
que compareceu à escola com um micro-vestido rosa-choque, maquiagem de
balada, na quinta-feira da semana passada. Ela só conseguiu sair da escola sob
escolta de cinco policiais militares, duas mulheres inclusive, que tiveram que usar
spray de pimenta para conter os estudantes mais exaltados e abrir caminho entre a
massa. Vídeos de ataque circulam pela rede [internet], uns ofendendo a dignidade
da estudante. Estou aqui com o médico, doutor João Augusto Figueiró7, que é
psicoterapeuta do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP,
presidente do Instituto Zero a Seis, dedicado à criança da primeira infância. Bom dia,
doutor João Augusto”.
- Dr. João Augusto: “Bom dia, Heródoto, é um prazer falar com você e com seus
ouvintes”.
- Heródoto: “Doutor João Augusto, como se pode entender uma manifestação
coletiva como essa de se perseguir uma pessoa dentro de uma universidade, aqui,
no caso, chamada Uniban, e ameaçar de quase linchamento porque uma pessoa
estava vestida de maneira não convencional para uma escola?”
- Dr. João Augusto: “Esse fenômeno já foi bastante estudado na psicologia e na
psiquiatria, e principalmente na área da psicologia das massas, e isso decorre
principalmente dos fenômenos que ocorreram durante o período do Nazismo, que
começou a ser estudado em profundidade pela Hannah Arendt, que é o seguinte
fenômeno: as pessoas normais, que têm uma vida normal, não têm uma história

                                                            
7
  Nota da autora: Currículo disponível em 
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4775849H6 Acessado dia 07/11/09 
41 

 

prévia de crimes, elas, mobilizadas por uma ou mais pessoas que têm
características psicopáticas, ou são psicopatas, ou têm personalidade deserta,
essas pessoas, elas sofrem aquilo que a gente chama de um contágio psíquico e
são mobilizadas num fenômeno que a gente poderia chamar, um fenômeno de
prótons, um fenômeno de massa, são mobilizadas em direção a um determinado
objetivo. Isso é uma coisa bastante visível e infelizmente nós tivemos várias
experiências, e é rapidamente esse contágio que faz essa contaminação
comportamental se faz rapidamente, por exemplo, nas torcidas de futebol, pessoas
habitualmente normais que são capazes de cometer atos de vandalismo, de
criminalidade, de transgressão, de agressão, com violência”.
- Heródoto: “Professor João Augusto, quando a gente diz fenômeno de massa então
ele pode ocorrer tanto num campo de futebol quanto numa universidade?”
- Dr. João Augusto: “Sim, sim. Pode ocorrer. São informações que percorrem
rapidamente um conjunto ou um grupo e essas informações são lideradas por uma
ou mais pessoas com características mais perversas e que são induzidas, elas
servem à sua capacidade de auto-controle e abandonam seus valores, e adquirem
aquele valor do guia, da coordenação, do líder. Então, esse é um fenômeno que foi,
infelizmente, depois testado nos Estados Unidos, foram feitas algumas experiências,
com pessoas que foram submetidas a processos de testes artificiais, e essas
experiências, basicamente duas delas pelo menos, tiveram que ser interrompidas
dado a gravidade do contágio e da violência que se criava com essas pessoas.
Talvez você conheça uma das experiências, é aquela em que se colocou pessoas
no papel de prisioneiros, que não eram prisioneiros, eram alunos universitários
normais, e outras pessoas no papel de policiais, fardados, com píndulos, com
palavras de ordem, pra verificar como que essa relação se estabelecia ao longo do
prazo, a havia um tempo previsto pra que essa experiência fosse feita. A surpresa
era que foi interrompida rapidamente depois de poucos dias, dado o grau de
violência que se instaurava entre esses dois grupos. Um segundo processo
interessante de abordar nesse aspecto em particular que você está trazendo, do
grupo da Uniban, é a questão do bullying, o bullying é exatamente isso, um grupo de
alunos numa escola que reúne, liderados frequentemente por uma, duas ou mais
pessoas, um grupo menor, e atacam sistematicamente, com violência progressiva,
um determinado indivíduo que é escolhido por alguma característica que o diferencia
dos outros. Ou ele é mais gordo, mais magro, mais alto, mais baixo, mais bonito,
42 

 

mais inteligente, ou mais bobo, enfim, alguma característica que o distingue, e a
turma o elege”.
- Heródoto: “Isso é o quê? É a ressurreição da ação medieval do bode espiatório?”
- Dr. João Augusto: “É, é. Ele serve como bode espiatório, nele são colocadas
qualidades que o tornam... o Chico Buarque acho que refletiu isso muito bem em
“Geni”. A Geni foi escolhida porque era uma pessoa que não era aceita pelo grupo, e
aí joga-se tudo na Geni, não é mesmo? Então, é fenômeno. E uma outra
modernização do bullying é o que hoje nós nos convencionamos chamar de cyber
bullying, que é o uso do bullying na internet pra promover esses ataques à honra,
dignidade do alunos. Isso é muito comum hoje, você faz circular com uma certa
velocidade fotos, informação, acusações falsas em relação a um determinado aluno
e isso incide com uma frequência bastante elevada em depressão grave e inclusive
suicídio”.
- Heródoto: “Muito obrigado aqui ao médico, doutor João Augusto Figueiró, que é do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da USP, conversando um pouco
conosco a respeito dessa ação coletiva de alunos que barraram, interromperam a
aula do curso noturno, perseguiram, xingaram, tocaram, fotografaram, ameaçaram
de estupro e cuspiram numa aluna que havia chegado na escola, do primeiro ano do
curso de turismo, com roupas não convencionais para a faculdade”.


Jornal da Band:
- Ricardo Boechat: “Uma luta entre o faminto e o poeta em torno da sereia na areia,
acabam dilacerando a sereia, cada qual pelo seu motivo de amor, de afeto, o
faminto querendo comer a sereia literalmente, e o poeta querendo contemplá-la,
contemplar sua beleza, e tal. Por isso ontem essa moça de minissaia fez com que
talvez quatro mil... olha, gente, é uma multidão, vocês não acreditam, as imagens
serão exibidas hoje novamente no Jornal da Band [na TV Bandeirantes], que a gente
vai tentar entender um pouco, e eu estou contando essa história pra vocês pra dizer
o seguinte: há mais ou menos dois anos, um professor da Universidade Federal da
Bahia, disse, a propósito da degradação, da perda de qualidade do aluno brasileiro,
e ele referia-se especificamente a um aluno baiano, ele usou uma piada, uma
caricatura que vivem fazendo pra provocar os baianos, dizendo que ‘por que’, ele
falou ‘por que o berimbau tem uma corda só?’, disse o professor lá daquela
Universidade Federal da Bahia, ‘porque se tivesse duas o baiano não tocava’. E
43 

 

houve uma reação natural, compreensiva, é só uma caricatura absurda feita ainda
mais por um professor da Universidade Federal da Bahia, deu uma comoção
enorme, foi afastado, foi objeto de muitas discussões, e tal, e na verdade a frase
dele foi infeliz, mas ela pretendia expressar um sentimento que precisa ser discutido
entre nós, e bastante. No que se transformou a tal juventude brasileira? Ou no que
boa parte dela está se transformando? Não será nem melhor, talvez, nem pior do
que a juventude em outras gerações, especialmente a minha, mas cá entre nós, a
gente não vê na rua quatro mil estudantes pra protestar contra rigorosamente nada
do grande elenco de barbaridades com que somos afrontados todos os dias. Eu não
os vejo na rua com frequência praticamente alguma, fazendo protestos significativos,
sequer quando cancelam a prova do ENEM, que afetou a quatro milhões deles.
Agora, pra juntar cinco mil, pra chamar de prostituta, ofender, gritar, acuar,
perseguir, quase linchar uma moça que estava com uma minissaia. E uma menina lá
disse para o Jornal da Band ‘ela estava vestida como uma prostituta’. E se fosse
uma prostituta? Não poderia frequentar uma universidade e dali sair para o seu
trabalho? Qual é o problema? E mais: diante do que se viu ali ontem, o crime maior
é a prostituição?”


- No dia 03/11, diante da notícia que a estudante voltaria às aulas, mas de calça
comprida, blusa e salto alto, conforme noticiou Luiz Megale, Boechat proferiu o
seguinte:
- Ricardo Boechat: “É lamentável. Deveria voltar com o mesmo vestido. Não é ela
quem tem que mudar de atitude, não é ela quem tem que mudar de atitude. Quem
tem que mudar de atitude são aqueles bobalhões lá, filhinhos de papai, e
professores daquela... Uniban, né? Uniban que chama? Até disseram aí, fizeram
uma piada que não é Uniban, é Talibã. Um negócio horroroso que fizeram com essa
moça, e a atitude dela, é claro, pra se proteger, mas eu queria ver qual seria hoje a
reação daquele bando de paspalhões diante da mesma moça com o mesmo
vestido”.


Análise


       Nessa pauta, o que mais nos chama a atenção é o uso da hipérbole, por
Boechat, ao dizer a quantidade de alunos envolvidos no caso, bem como a
44 

 

incerteza, com o uso da palavra “talvez” dentro da notícia, e não do comentário. A
fala de Heródoto - “cerca de 700 alunos” - nos faz acreditar que houve uma
apuração da informação antes de transmiti-la a seus ouvintes.
      Boechat inicia a notícia fazendo uma intertextualidade com a música “A
Novidade”, de Gilberto Gil:


                     A novidade veio dar à praia, na qualidade rara de sereia
                     Metade o busto de uma deusa Maia, metade um grande rabo de
                     baleia
                     A novidade era o máximo, do paradoxo estendido na areia
                     Alguns a desejar seus beijos de deusa
                     Outros a desejar seu rabo pra ceia
                     Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual, ô ô ô ô ô
                     De um lado este carnaval, de outro a fome total, ô
                     E a novidade que seria um sonho, o milagre risonho da sereia
                     Virava um pesadelo tão medonho, ali naquela praia, ali na areia
                     A novidade era a guerra entre o feliz poeta e o esfomeado
                     Estraçalhando uma sereia bonita, despedaçando o sonho pra cada
                     lado


      O âncora do Jornal da Band usa da pergunta retórica para manifestar sua
opinião, seus comentários, como vemos em “no que se transformou a tal juventude
brasileira? Ou no que boa parte dela está se transformando?”, em que ele critica a
juventude com o uso da palavra “tal”, que transmite ideia de negativismo.
Posteriormente ele ameniza a generalização (“boa parte”), no entanto ele utiliza a
conjunção adversiativa “mas”, e nos faz pensar que, na opinião dele, “essa tal
juventude” é pior sim, quando diz que não saem às ruas para protestar, o que nos
remete ao movimento dos caras-pintadas, que protestaram na década de 90 contra
o então presidente Fernando Collor de Mello.
       Boechat termina sua reflexão em 30/10 com uma pergunta retórica, em “e se
fosse uma prostituta? Não poderia frequentar uma universidade e dali sair para o
seu trabalho? Qual é o problema? E mais: diante do que se viu ali ontem, o crime
maior é a prostituição?”, que finaliza a notícia estimulando uma reflexão do ouvinte.
      Diferentemente das outras duas pautas analisadas, Boechat usa adjetivos,
como “bobalhões”, “filhinhos de papai” e “paspalhões”, no trecho transmitido em
03/11, deixando claro que esta é a sua opinião, e não da sociedade, como vimos
nas análises anteriores. Além disso, reproduz um termo que foi usado, segundo ele,
pela sociedade em “até disseram aí, fizeram uma piada que não é Uniban, é Talibã”.
45 

 

      Charaudeau (2009, p. 176) diz que no mundo profissional há um
questionamento se os jornalistas devem ou não comentar. Em contrapartida,
analisando Charaudeau (2009, p. 180), ao dizer que “o comentador sabe que
precisa ser credível, mas também sabe que nenhuma análise ou argumentação terá
impacto se não despertar o interesse do consumidor de informação e se não tocar
sua afetividade”, nos leva a crer que Boechat busca chamar a atenção do público
para um fato que, segundo a entrevista do doutor João Augusto ao Jornal da CBN,
tem tomado proporções absurdas ultimamente.
46 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS



      Neste trabalho, contamos um pouco a história do rádio, como veículo de
comunicação, bem como o início do radiojornalismo no Brasil. Em seguida,
estudamos os diversos gêneros jornalísticos, utilizados em todas as mídias, não
somente no rádio. Por serem peças-chave desta monografia, estudamos com mais
cautela e detalhes os gêneros “notícia” e “comentário”, por serem fundamentais para
a análise proposta. Vimos, também, qual a função do âncora, encontrado no tele e
radiojornalismo, bem como um pouco da história dos profissionais estudados e
analisados nesta pesquisa.
      O problema, que gerou esta análise, é a presença do comentário no
radiojornalismo. Há expressão de opinião por parte dos âncoras? Os âncoras do
radiojornalismo têm como função informar, sem induzir o ouvinte a concordar com
seus princípios. Isso realmente ocorre?
      Ao analisar os programas Jornal da Band, apresentado por Ricardo Boechat,
e Jornal da CBN, apresentado por Heródoto Barbeiro, notamos que o primeiro
expressa sua opinião na maior parte das notícias, muitas vezes conduzindo o
ouvinte a seguir pelo mesmo pensamento, em alguns casos, expressa seus
sentimentos, de raiva, indignação etc., enquanto Heródoto busca noticiar, informar
sem comentar, leva ao ouvinte a opinião de um profissional da área, não sua opinião
de jornalista, formador de opinião.
      Com isso, podemos concluir que os profissionais analisados têm maneiras
distintas de transmitir a notícia ao público, conforme sua formação acadêmica.
Existe, sim, a expressão de opinião dos âncoras, mas não se pode generalizar, pois,
conforme vimos, cada profissional tem sua maneira de fazê-lo, seja durante a
programação, através da preparação do radiojornal, ou durante a transmissão das
informações.
      Este trabalho nos mostrou que a imparcialidade total não existe - seja de
forma sutil ou não, a opinião é expressa pelo profissional, mesmo que não seja
transmitida, pois, conforme vimos com Squirra (1993, p. 179), o âncora brasileiro
exerce atuação opinativa, seja na forma de comentários ou controlando de forma
extremamente cuidadosa tudo o que vai ao ar.
47 

 

       Sabemos que ainda há muito a ser estudado sobre o tema, porém, devido ao
curto espaço de tempo para desenvolver esta monografia, propomos dar
continuidade à pesquisa posteriormente, durante a pós-graduação, em que
pretendemos desenvolver um trabalho mais amplo e detalhado sobre a opinião no
radiojornalismo brasileiro.
48 

 

REFERÊNCIAS


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História do rádio e jornalismo no Brasil

  • 1. UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO RAQUEL BARIANI BERNARDINO JORNALISMO OPINATIVO NO RÁDIO BRASILEIRO: HERÓDOTO BARBEIRO x RICARDO BOECHAT SÃO PAULO 2009
  • 2. RAQUEL BARIANI BERNARDINO JORNALISMO OPINATIVO NO RÁDIO BRASILEIRO: HERÓDOTO BARBEIRO x RICARDO BOECHAT Trabalho de conclusão de curso apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul, sob orientação da Prof.ª Ms. Flávia Silveira Serralvo. SÃO PAULO 2009
  • 3. Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais, Silvio e Lázara, que me apoiaram na decisão de cursar jornalismo. À minha irmã Natália e aos meus amigos, que nos momentos de maior dificuldade, durante o desenvolvimento desta pesquisa, souberam me respeitar. ii
  • 4. Agradeço aos professores, que desde o primeiro ano já nos incentivaram a não desistirmos dos sonhos e objetivos. A meus pais, pelo incentivo e apoio. iii
  • 5. RESUMO Este trabalho pretende analisar criticamente a maneira como os âncoras Heródoto Barbeiro, da CBN, e Ricardo Boechat, da BandNews FM, transmitem as informações e notícias ao público. Analisaremos como são aplicados os comentários sobre os fatos, se são claramente distintos, ou se confundem o ouvinte. Palavras-chave: Jornalismo Opinativo; Radiojornalismo; Análise de Discurso. iv
  • 6. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................... 6 1 JORNALISMO NO RÁDIO.............................................................................. 8 2 GÊNEROS JORNALÍSTICOS........................................................................ 13 3 NOTÍCIA VERSUS COMENTÁRIO................................................................ 21 4 O ÂNCORA NO JORNALISMO...................................................................... 26 4.1 HERÓDOTO BARBEIRO ......................................................................... 27 4.2 RICARDO BOECHAT............................................................................... 29 5 ESTUDO DE CASO ....................................................................................... 31 5.1 UNIVERSO .............................................................................................. 31 5.2 AMOSTRA .............................................................................................. 31 5.3 ANÁLISE ................................................................................................. 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 46 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 48 ANEXOS ........................................................................................................ 51 v
  • 7. 6    INTRODUÇÃO Na faculdade, aprendemos que jornalismo é a arte de informar, e que não devemos nos posicionar favorável ou contrariamente ao fato. Devemos transmitir a informação de forma imparcial. Porém, na observância dos veículos de comunicação de massa, notamos que não é assim que a informação nos é dada. O posicionamento do jornalista ou da empresa, na forma do editorial, sempre se faz presente. Neste trabalho, propomos analisar criticamente como se dá a expressão da opinião em cinco edições de programas jornalísticos de rádios concorrentes, apresentados por âncoras de destaque no radiojornalismo brasileiro. Nosso interesse pelo rádio como veículo de informação deu origem ao tema “jornalismo opinativo”. Buscamos, com esta pesquisa, esclarecer ao público leitor as funções dos âncoras, analisando a maneira com que eles buscam contribuir com o jornalismo. Este trabalho tem como base principal a pesquisa bibliográfica e análise de conteúdo, a partir de livros e gravações dos programas selecionados como corpus de análise, entre outros materiais que se mostraram relevantes ao estudo. Caracteriza-se ainda como analítica, tendo como finalidade observar, registrar, comparar e analisar os fenômenos que fazem parte da obra. Esta monografia foi dividida em cinco capítulos. O primeiro capítulo, intitulado “Jornalismo no rádio”, traz um panorama histórico do jornalismo radiofônico no Brasil e no mundo. No segundo capítulo, intitulado “Gêneros jornalísticos”, fazemos uma breve descrição dos gêneros mais comuns no jornalismo brasileiro, bem como as classificações dos gêneros jornalísticos na França, Alemanha e América do Norte. O terceiro capítulo, “Notícia versus comentário”, traz mais detalhadamente as descrições destes dois gêneros, itens principais que compõem nosso corpus da análise. No quarto capítulo, “O âncora no jornalismo”, procuramos definir o termo ‘âncora’ no sentido de apresentador. Neste capítulo, há dois subitens, em que contamos um pouco da trajetória dos âncoras analisados. No quinto capítulo, “Estudo de caso”, há informações sobre os programas, o universo e a amostra de nossa pesquisa, bem como a análise de conteúdo.
  • 8. 7    Por fim, nas considerações finais, observamos que independentemente da forma como é apresentada, a opinião está presente no jornalismo. O objetivo desta pesquisa foi alcançado, visto que respondemos às questões levantadas, que serão apresentadas no decorrer do trabalho.
  • 9. 8    1 JORNALISMO NO RÁDIO Para falarmos da história e do início do jornalismo radiofônico no Brasil, é importante fazermos uma introdução com a história do rádio no Brasil e no mundo. Em 1864, o físico escocês James Clerk Maxwell lançou a teoria de que uma onda luminosa podia ser como uma perturbação eletromagnética que se prolongava no espaço vazio atraída pelo éter, ou seja, ondas de natureza eletromagnética povoavam o infinito em todas as direções e a luz e o calor radiante pertenciam a este tipo de ondas. O físico morreu e deixou apenas a ideia desta teoria matematicamente comprovada, sem poder levá-la para o campo experimental. Em 1887, um jovem estudante alemão, Heinrich Rudolf Hertz, construiu um aparelho que comprovava a teoria de Maxwell. O dispositivo produzia correntes alternadas de período extremamente curto, que variavam muito rapidamente. As ondas descobertas foram chamadas de “Ondas Hertzianas”. Em 1895, o italiano Guglielmo Marconi, após assistir à repetição da experiência de Hertz, teve a ideia de transmitir sinais à distância. Entregou-se ao estudo das ondas Hertzianas e, dois anos mais tarde, descobriu o princípio de funcionamento da antena. Em 1896, ele enviou mensagens em código morse a uma distância de 32 milhas, à velocidade de 20 palavras por minuto. Em 1903, o inventor conseguiu enviar uma mensagem ao outro lado do oceano. A história do rádio no Brasil não teria sentido se não mencionássemos o padre brasileiro Roberto Landell de Moura, que, de acordo com César (2002, p. 37) iniciou os estudos na área científica na cidade do Rio de Janeiro, transferindo-se para Roma, na Itália, para aprimorar seus conhecimentos, onde desenvolveu estudos na área de ciências químicas e físicas, e onde começou a conceber as primeiras ideias em torno de sua teoria sobre a unidade das forças físicas e a harmonia do universo. Em 1892 retornou ao Brasil, dedicando-se simultaneamente às atividades científicas e sacerdotais, promovendo as primeiras experiências de radiodifusão no mundo. Foi renegado, considerado herege e bruxo, devido às suas experiências científicas, com isso, transferiu-se para Nova York, onde permaneceu por três anos. Foi lá que recebeu as patentes de seus três equipamentos, para Transmissor de Ondas, Telefone sem Fio e Telégrafo sem fio.
  • 10. 9    De volta ao Brasil, pretendia doar seus inventos, com as respectivas patentes, ao governo brasileiro, mas este recusou os dois navios da esquadra brasileira solicitados para a demonstração na Baía de Guanabara. Conforme destaca César (2002, p.38), se o padre Landell houvesse sido atendido, a história das transmissões por rádio poderiam ter sido iniciadas em nosso país. De acordo com Ortriwano (1985, p.13), a primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil foi o discurso do Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, em plena comemoração do centenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1922. Porém, experiências já eram feitas por alguns amadores, existindo documentos que provam que o rádio, no Brasil, nasceu em Recife, no dia 6 de abril de 1919, quando, com um transmissor importado da França, foi inaugurada a Rádio Clube de Pernambuco por Oscar Moreira Pinto, que depois se associou a Augusto Pereira e João Cardoso Ayres. A data de instalação da radiodifusão no Brasil foi 20 de abril de 1923, quando começa a funcionar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada por Edgard Roquete Pinto e Henry Morize. No início, ouvia-se uma programação muito “seleta”, apesar de Roquette Pinto estar convencido, desde o início, de que o rádio se transformaria num meio de comunicação de massa (ORTRIWANO, 1985, p. 13). E, devido a essa certeza e à vontade de divulgar a ciência pelas camadas populares, muitas iniciativas foram tomadas no sentido da implantação efetiva da radiodifusão no Brasil. Com o início da Segunda Guerra Mundial, o interesse por notícias imediatas e atualizadas aumentou, criando possibilidades para o desenvolvimento de noticiários radiofônicos. Segundo Ortriwano (1985, p. 20), o “Repórter Esso”, teve sua primeira transmissão às 12h45 do dia 28 de agosto de 1941, quando a voz de Romeu Fernandez anunciou o ataque de aviões da Alemanha à Normandia, durante a 2ª Guerra Mundial. Em 1942 entrou no ar o primeiro jornal do rádio brasileiro, o “Grande Jornal Falado Tupi”, criado por Coripheu de Azevedo Marques e Armando Bertoni, com uma hora de duração diária. Ambos os jornais foram marcos importantes para que o radiojornalismo brasileiro fosse encontrando sua definição, os caminhos de uma linguagem própria para o meio, deixando de ser apenas a “leitura ao microfone” das notícias dos jornais impressos.
  • 11. 10    Em determinado momento, entendeu-se que jornalismo em rádio deveria ser feito apenas a partir do que as pessoas declaravam. Cabia ao jornalismo impresso a parte dita “nobre”, a da investigação, da interpretação, do bastidor, da informação não passada pela fonte durante a entrevista coletiva. E ficou para o repórter de rádio o trabalho “menor”, algo tipo relatório, ou o acompanhamento da “repercussão” de algum fato explorado pelos jornais. Resignar-se a cumprir este papel significa, ao longo do tempo, sucumbir. O bom rádio joga no ataque sempre, levantando temas e pautando os outros meios (PARADA, 2004, p. 33). A “época de ouro” do rádio terminou com o surgimento da televisão, que buscou no rádio seus primeiros profissionais, imitou quadros e levou consigo a publicidade. Para enfrentar essa concorrência, o rádio procurou por uma linguagem mais econômica, no início, com muita música e poucos programas produzidos. “O rádio aprendeu a trocar os astros e estrelas por discos e fitas gravadas, as novelas pelas notícias e as brincadeiras de auditório pelos serviços de utilidade pública”, afirma Ortriwano (1989, p. 21). Começou, então, a especialização das emissoras, procurando por um público específico. Um novo tipo de programação noticiosa foi lançado pela Rádio Bandeirantes, em 1954, impulsionando o radiojornalismo. A produção de um radiojornal mais dinâmico, em que as notícias tinham um minuto de duração a cada 15 minutos; e nas horas cheias, boletins de 3 minutos, influenciou a programação de outras emissoras. Para Ortriwano (1985, p. 78-81), a informação no rádio vai apresentar características próprias, sem, contudo perder sua identificação com o conteúdo informado. Características, como ela mesma diz, “intrínsecas”, e cita: a) Linguagem oral: não há necessidade de alfabetização do público ouvinte, pois este veículo trabalha com a fala, sendo que, para que a mensagem seja recebida, é necessário apenas ouvir. Em relação à televisão, o espectador também não precisa saber ler, apesar de, cada dia mais, os caracteres estarem sendo utilizados para prestar informações importantes, que escaparão ao analfabeto. b) Penetração: geograficamente, o rádio é o mais abrangente dos meios de comunicação de massa, sendo considerado de alcance nacional. Pode também estar presente o regionalismo, pois, tendo menos complexidade tecnológica, permite
  • 12. 11    a existência de emissoras locais, mesmo em cidades pequenas e/ou com poucos recursos financeiros. c) Mobilidade: sob dois aspectos: 1. Emissor: por ser menos complexo que a televisão, o rádio pode estar presente com mais facilidade no local dos acontecimentos e transmitir as informações mais rapidamente. Suas mensagens não requerem preparo anterior, podendo ser elaboradas enquanto estão sendo transmitidas. 2. Receptor: o rádio hoje está em todo lugar. Seu tamanho torna-o facilmente transportável, permitindo, inclusive, recepção individualizada nos lugares públicos. d) Baixo custo: o aparelho receptor é o mais barato, se comparado à televisão e veículos impressos. O preço que o cidadão paga para receber as mensagens não está vinculado ao consumo que ele faça dessas mensagens, mas, sim, ao consumo que ele faça dos produtos que fazem publicidade nos veículos. A produção radiofônica é mais barata do que a televisiva, justamente por ser menos complexa. e) Imediatismo: os fatos podem ser transmitidos no instante em que ocorrem. f) Instantaneidade: a informação é recebida no momento em que é emitida, não sendo possível, assim, que o receptor volte à mensagem, como pode ocorrer com a mídia impressa. g) Sensorialidade: a criação de sons (e imagens, no caso da televisão) envolve o público de forma mais impactante do que as letras garrafais do impresso. “’Uma imagem vale por mil palavras’ é um chavão sobejamente conhecido por todos. E o rádio realmente usa as ‘mil palavras’ para criar cada imagem”, afirma Ortriwano. h) Autonomia: o rádio deixou de ser meio de recepção coletiva para tornar-se individualizado. Essa característica faz com que o emissor possa falar para toda a sua audiência como se estivesse falando para cada um em particular. Em função de suas características, o rádio ganhou campo frente aos veículos impressos. Não morreu com o surgimento da televisão, especializou-se em sua própria faixa de potencialidade. O rádio convive com a televisão: na hora do futebol, por exemplo, muitos torcedores preferem unir a imagem da TV com a narração radiofônica.
  • 13. 12    O rádio está em condições de transmitir a informação mais rapidamente do que qualquer outro meio de comunicação, pois é imediato, flexível, é mais regional, possui maior mobilidade etc. A informação apresenta características próprias, sem perder sua identificação com o conteúdo a ser informado, o que pode ocorrer é a aparição eventual de acontecimentos que melhor se adaptam para serem transmitidos por um ou outro meio.
  • 14. 13    2 GÊNEROS JORNALÍSTICOS “O dicionário define gênero como: ‘Classe cuja extensão se divide em outras classes, as quais, em relação à primeira, são chamadas espécies [...]’” (BARBOSA FILHO, 2003, p. 52). Há autores que não concordam com a divisão de gêneros no jornalismo, como é o caso de Wolf, que afirma que a divisão dos conteúdos televisivos – aplicável também ao rádio – em gêneros conduz a uma estereotipização, pois definem a atitude do receptor (WOLF, 2003, p. 91). Para Sousa (2001, p. 230), os gêneros jornalísticos não têm fronteiras rígidas, sendo, às vezes, difícil classificar um determinado elemento, pois, estrategicamente esses elementos são notícias, especialmente se apresentarem alguma informação nova. “Os gêneros jornalísticos correspondem a determinados modelos de interpretação e apropriação da realidade através de linguagens” (SOUSA, 2001, p. 231). Segundo o autor, “há, certamente, gêneros jornalísticos que ainda não viram a luz do dia e outros que já não se praticam”. Todorov acredita que “ocupar-se dos gêneros pode parecer atualmente um passatempo ocioso, quiçá anacrônico” (1980, p. 43) Barbosa Filho afirma que “falar em gêneros implica, invariavelmente, incursões nos debates que o tema suscitou ao longo da história. [...] dimensionar seu conceito tautológico é uma questão que vem atormentando os filólogos ao longo dos tempos” (2003, p. 51). Para Luís Martinez Albertos, o jornalismo é “[...] um estilo literário peculiar, um estilo caracterizado, basicamente, pelos fins informativos que persegue – a transmissão de notícias – e a exigência ou expectativa do destinatário” (ALBERTOS apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 55). Os gêneros são, ainda, unidades que se podem descrever sob dois pontos de vista diferentes: o da observação empírica e o da análise abstrata. O primeiro – o da observação empírica – refere-se às “propriedades discursivas” que tornam um texto diferente ou igual a outro; e o segundo – o da análise empírica – tem a ver com a conceituação dessas propriedades. Em jornalismo, a análise empírica corresponde ao fazer jornalístico diário; varia conforme o fato jornalístico ou o enfoque. Por exemplo, um crime policial pode ter um texto meramente de relato ou tornar-se uma crônica. A significação de um ou outro texto fica na esfera da análise abstrata desse fazer; é o saber do jornalismo, que nada mais é que as teorias de classificação do gênero (BARBOSA FILHO, 2003, p. 57).
  • 15. 14    Pena nos traz modelos de classificações dos gêneros utilizadas na França, Estados Unidos e Alemanha (2005, p. 67-68), como vemos: a) Classificação Francesa (autor: Joseph Foliet) Editorial; Artigos de fundo; Crônica geral (resenhas dos acontecimentos); Despachos (reportagens e entrevistas); Cobertura setorial; Fait divers; Crônica especializada (crítica); Folhetim; Fotos e legendas; Caricaturas; Comics (quadrinhos). Segundo Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68), há “erro na inclusão de unidades redacionais que pertencem ao âmbito do imaginário (folhetins) e do entretenimento (quadrinhos)”. b) Classificação norte-americana (autor: Fraser Bond) Noticiário: Notícia; Reportagem; Entrevista; História de interesse humano. Página editorial: Editorial; Caricatura; Coluna; Crítica. Para Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68), essa classificação “não reflete o dinamismo dos grandes jornais e revistas, nem das prósperas emissoras de TV americanas na atividade noticiosa”.
  • 16. 15    c) Classificação alemã (autor: Emil Dovifat) Informativos: Notícia (fact-story); Report (act-story); Entrevista (quote-story). De opinião: Editorial; Artigos curtos; Glosa (crônica). Amenos1: Folhetim (resenha cultural); Crítica; Recreio e espelho cultural (contos, versos etc.). Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68) considera errada essa divisão, pois, para ele, a crítica deveria pertencer ao conjunto de matérias de opinião, de acordo com o critério proposto, o estilo; e o folhetim, por se tratar de um panorama da vida cultural, deveria estar inserido no gênero notícia. A sistematização feita por Luiz Beltrão é da qual Marques de Melo (apud PENA, 2005, p. 68) parte, porém, não integralmente, como veremos: Jornalismo informativo Nota Notícia Reportagem Entrevista Jornalismo opinativo Editorial Comentário Artigo Resenha Coluna Crônica                                                              1 O termo ameno refere-se a algo “que se apresenta ou transcorre de modo suave, simples, agradável” (DICIONÁRIO HOUAISS, on-line).
  • 17. 16    Caricatura Carta Para Marques de Melo, a distinção entre nota, notícia e reportagem está na progressão dos acontecimentos. “A nota corresponde ao relato de acontecimentos que estão em processo de configuração e por isso é mais frequente no rádio e TV. A notícia é o relato integral de um fato que já eclodiu no organismo social. A reportagem é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social” (MARQUES DE MELO apud PENA, 2005, p. 69). Alguns autores dividem os gêneros jornalísticos em nota, notícia, boletim, reportagem, entrevista, editorial e crônica, conforme veremos a seguir: Nota: significa um informe sintético de um fato atual. Suas principais características são o tempo de irradiação, sempre curto, com quarenta segundos de duração, e as mensagens transmitidas são frases diretas, quase telegráficas (BARBOSA FILHO, 2003, p. 90). Notícia: para Luiz Amaral, “a notícia é a matéria-prima do jornalismo” (AMARAL apud PENA, 2005, p. 70), é a expressão de um fato novo, que desperta o interesse do público, é um relato dos fatos sem comentário nem interpretação. “Para o professor Luís Amaral, a notícia é ‘a informação atual, verdadeira, carregada de interesse humano e capaz de despertar a atenção e curiosidade de um grande número de pessoas’” (TRAVANCAS, 1993, p. 33). Caracteriza-se por uma linguagem clara, impessoal, concisa e adequada ao veículo. Nela, encontramos a essência do texto, o lead, que consiste num parágrafo que apresenta um relato dos aspectos da informação. No rádio, a notícia apresenta características diversas das que se observam em outros meios. Faus Belau classifica a notícia radiofônica de acordo com sua forma de divulgação, seja por meio do “flash” – modelo extemporâneo de intervenção informativa e que “[...] interessa unicamente dar a conhecer o fato com a maior rapidez possível [...]” – ou das notícias explicadas, que são as que aparecem nos boletins e/ou radiojornais e enfocam o fato em si e tudo o que acompanha e seja fundamental para seu entendimento (BARBOSA FILHO, 2003, p. 90).
  • 18. 17    Para Barbosa Filho, as notícias de opinião estão próximas do comentário, a notícia ambientada utiliza de fundos e efeitos sonoros para ambientar a notícia. A notícia documentada é o que conhecemos como a base de programas jornalísticos, sem a presença de opinião, esclarece os fatos (2003, p. 91). Encontramos, ainda, o informe, que se aproxima do programa de variedades, conforme Belau: “[...] trata de dar uma visão completa dos acontecimentos no desenvolvimento de uma determinada notícia não somente quanto a seus dados estritos – presentes e passados – e sim buscando o porquê dos mesmos [...]” (BELAU apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 91). Boletim: são pequenos programas jornalísticos, que, segundo Prado (2006, p. 9), não ultrapassam três minutos, inseridos na programação, por meio de notas, notícias, pequenas entrevistas ou reportagens. Reportagem: é uma narrativa que engloba, ao máximo, as diversas variáveis do acontecimento, proporcionando maior aprofundamento a respeito do fato narrado. A reportagem, segundo Marques de Melo, “[...] é o relato ampliado de um acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações que são percebidas pela instituição jornalística [...]” (MARQUES DE MELO apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 92). Porchat define a reportagem como “conjunto de providências necessárias à elaboração de uma matéria. Engloba pesquisa, entrevista e seleção de dados relacionados à mensagem a ser vinculada” (1989, p. 196). Entrevista: representa uma das principais fontes de informação de uma notícia, presente direta ou indiretamente na maioria das matérias jornalísticas. “A entrevista é formalmente um diálogo que representa uma das fórmulas mais atraentes da comunicação humana” (PRADO apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 94). A interação existente entre o entrevistado e o entrevistador, exerce um efeito de aproximação do ouvinte. [...] é acontecimentos jornalístico eventual e normalmente se apresenta inserida no corpo da notícia. A não ser em episódios circunstanciais, como desastres, incêndios, manifestações, onde o repórter parte em busca de informações suplementares daquele
  • 19. 18    acontecimento e ali tenta apurá-las, em “som ambiental”, a entrevista geralmente é “montada” na sequência de uma narrativa fundamentalmente noticiosa [...] (SAMPAIO apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 93). A diferença entre entrevista e reportagem, segundo Prado, é que a primeira é direta, realizada “ao vivo”, enquanto a segunda, pode ser montada antes de sua veiculação, e nos elucida, também, quanto às entrevistas de caráter, que visam a personalidade do entrevistado, e às entrevistas noticiosas, que, como o próprio nome diz, visam a informação (PRADO apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 94). Entre as entrevistas noticiosas, Prado destaca as de “informação escrita” – as mais verificadas no rádio, visto que garantem agilidade à programação em virtude da brevidade – e as de “informação em profundidade” – que oferecem ao ouvinte informações adicionais ao fato, com o objetivo de provocar a reflexão. As peças da informação em profundidade possuem, obviamente, maior duração. (BARBOSA FILHO, 2003, p. 95). Editorial: esta peça jornalística, pouco utilizada no rádio, tem como característica principal o anúncio de opinião não-personalizada e retrata o ponto de vista da instituição radiofônica. Porchat define editorial como “texto opinativo, escrito de maneira impessoal, sem identificação do redator, sobre assunto nacional ou internacional, que define e expressa a opinião da Jovem Pan” (PORCHAT apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 97). Crônica: surge no rádio acompanhando as características conhecidas no jornalismo impresso. Para Beltrão a crônica é “a forma de expressão do jornalista/escritor para transmitir ao leitor seu juízo sobre fatos, ideias e estados psicológicos pessoais e coletivos. [...] O comentário é leve, concreto, incisivo; as conclusões oferecem normas e julgamentos específicos e diretos. [...] está visceralmente ligada à atualidade” (1980, p. 66). Muito presente nos jornais brasileiros, é considerada o formato que transita nas fronteiras do jornalismo e da literatura. Segundo Marques de Melo (apud BARBOSA FILHO, 2003, p. 99), “a crônica estrutura-se de modo temporalmente mais defasado; vincula-se diretamente aos fatos que estão acontecendo, mas segue-lhe o rastro, ou melhor, não coincide com seu momento eclosivo”.
  • 20. 19    O gênero comentário, que não faz parte da classificação proposta por Barbosa Filho, é definido por Ferraretto (2001, p. 283) como “um texto opinativo em que um jornalista ou um especialista em determinada área analisa a fundo um assunto, explicando-o e/ou posicionando-se a respeito”. Charaudeau (2005, p. 175) afirma que comentar constitui uma atividade discursiva, complementar ao relato: Relato (narrativa) e comentário estão intrinsecamente ligados, a ponto de os teóricos da linguagem se dividirem, ainda hoje, entre duas opiniões extremas: os que sustentam que “tudo é narrativa” e aqueles que afirmam que “tudo é argumentação”. Na verdade, essa dupla atividade discursiva empreende a mesma busca: conhecer o porquê dos fatos, dos seres e das coisas, e, com essa finalidade, comenta-se contando ou conta-se comentando. Apesar dessa convergência, essas duas atividades apelam para diferentes faculdades da mente e para diferentes processos de discursivização (CHARAUDEAU, 2009, p. 175). Segundo Charaudeau (2009, p. 176), a discussão entre relato e comentário no mundo profissional das mídias vem como uma indagação sobre o papel social das mídias, em que escolas de jornalismo e grupos de jornalistas questionam o que deve ser fornecido pelas mídias: fatos ou comentários. Para o autor, não é possível informar se não puder, ao mesmo tempo, garantir a veracidade das informações transmitidas comentando-as, “o comentário jornalístico é uma atividade estreitamente ligada à descrição do acontecimento para produzir um ‘acontecimento comentado’ (AC)”. A principal função do comentário reside, apropriadamente, no seu conteúdo opinativo, que sugere conhecimento especializado. Na verdade, trata-se de um formato jornalístico que se aproxima do editorial. A diferença entre aquele (comentário) e este (editorial) é que o primeiro corresponde à opinião do autor, e o segundo à da instituição, do veículo. Pode aparecer como peça independente da programação, geralmente apresentada pelo autor, ou narrada por um locutor, acompanhado da menção explícita de sua autoria ou ainda dentro de formatos genéricos como o esportivo, o policial e o radiojornal. O comentário, nesses formatos, não deve ser veiculado como notícia, mas após a informação, na voz do comentarista.
  • 21. 20    Por ser um dos itens principais que compõem o corpus de análise deste trabalho, o gênero comentário será abordado mais detalhadamente no capítulo a seguir.
  • 22. 21    3 NOTÍCIA VERSUS COMENTÁRIO As definições de notícia são muitas. Para Sodré (apud Travancas, 1992, p. 33), notícia é “todo fato social destacado em função de sua atualidade, interesse e comunicabilidade”. Mac Neil (apud Travancas, 1992, p. 33) define notícia como “uma compilação de fatos e eventos de interesse ou importância para os leitores do jornal que a publica”. Luís Amaral (apud Travancas, 1992, p. 33) acredita que “a informação atual, verdadeira, carregada de interesse humano e capaz de despertar a atenção e curiosidade de grande número de pessoas” seja a melhor definição para o tema. A melhor definição de notícia é “aquilo que é novidade, interessante e verdadeiro”. “Novidade” à medida que é um relato de eventos que o ouvinte ainda não conhece – ou uma atualização de uma história que lhe é familiar. “Interessante” no sentido de que é um material que lhe diz respeito ou que o afeta de alguma maneira. “Verdadeiro” porque a história, como foi contada, é factualmente correta (MCLEISH, 1999, P. 71). Para Secanella (apud PRADO, 1985, p. 47), somente uma definição permanece após todas as mudanças nos conceitos e divisões dos gêneros informativos, de que “é notícia o que os jornais escrevem em suas colunas e o que as emissoras de rádio e televisão emitem em seus programas informativos. Ou seja, os tipos de notícia são infinitos”. Prado (1985, p. 48) afirma que a instantaneidade e simultaneidade permitidas pelo rádio implicam em rapidez, principal vantagem da distribuição de informação. Isso permite aos jornalistas radiofônicos pensarem nas notícias do momento, e não do dia, como fazem os profissionais que trabalham para os veículos impressos. A notícia radiofônica obriga o ouvinte a realizar um exercício de transformação das ideias transmitidas pelo som em visuais, aumentando o sentido de participação nos fatos relatados, o que resulta em maior credibilidade. Porém, a não permanência das mensagens radiofônicas obriga o jornalista a escrever de forma clara, que possa ser entendida na primeira vez. Em consequência disso, surge a brevidade, característica mais importante das notícias radiofônicas.
  • 23. 22    “A verdade de uma notícia, baluarte de um neoliberalismo (mercado livre de ideias) contemporâneo, se remete à fundamentação teórica do acontecimento” (MEDINA, 1988, p. 20). Propomos chamar “notícia” a um conjunto de informações que se relaciona a um mesmo espaço temático, tendo um caráter de novidade, proveniente de uma determinada fonte e podendo ser diversamente tratado. Um mesmo espaço temático: significa que o acontecimento, de algum modo, é um fato que se inscreve num certo domínio do espaço público, e que pode ser reportado sob a forma de um minirrelato [...] há elementos de informação que podem dar origem a um novo espaço temático, mas podem também se ligar a um espaço temático já circunscrito e conhecido, como no caso de um conflito que se prolonga e do qual as mídias se ocupam cotidianamente [...] no mesmo instante em que se dá a notícia, ela é tratada sob uma forma discursiva que consiste grosso modo em: descrever o que passou, reportar reações, analisar os fatos (CHARAUDEAU, 2009, p. 132). Para Charaudeau (2009, p. 133), “a contemporaneidade midiática está no fato de a aparição do acontecimento ser o mais consubstancial possível ao ato de transmissão da notícia e a seu consumo”. Uma notícia é tão efêmera quanto um relâmpago, no instante de sua aparição. Nas mídias, pode, por exemplo, ser repetida, guardando certo frescor, mas sob a condição de que permaneça no quadro de uma atualidade imediata. As mídias têm por tarefa reportar os acontecimentos do mundo que ocorreram em locais próximos ou afastados daquele em que se encontra a instância de recepção. O afastamento espacial do acontecimento obriga a instância midiática a se dotar de meios para descobri-lo e alcançá-lo. Ela o faz utilizando as indústrias dos serviços de informação (agências), mantendo pelo mundo uma rede de colaboradores (correspondentes), solicitando informações da parte de diversas instituições ou de grupos sociais (fontes oficiais ou oficiosas), apelando para todo tipo de testemunha (CHARAUDEAU, 2009, p. 135). Segundo Charaudeau (2009, p. 137), as mídias estão presas a dois tipos de imprensa: a regional, que se ocupa somente dos fatos que envolvem pessoas do local (política e costumes locais), e a nacional, que se ocupa com a política de modo geral e acontecimentos sociais. O autor sugere que, para atingir simultaneamente esses dois públicos, seja feita uma simulação de participação cidadã, mais fácil de ser aplicado ao rádio e televisão.
  • 24. 23    O acontecimento midiático constrói-se segundo três tipos de critério, conforme nos mostra Charaudeau (2009, p. 150): Atualidade: dar conta do que ocorre numa temporalidade co-extensiva à do sujeito-informador-informado (princípio de modificação); Expectativa: captar o interesse-atenção do sujeito alvo, logo deve jogar com seu sistema de expectativa, de previsão e de imprevisão (princípio da saliência); Socialidade: tratar daquilo que surge no espaço público, cujo compartilhamento e visibilidade devem ser assegurados (princípio de pregnância). Não há palavra que não seja proferida de um determinado lugar e não convoque o interlocutor a ocupar um lugar correlativo; seja porque essa palavra pressupõe simplesmente que a relação de lugares está em vigor, seja porque o locutor espera do outro o reconhecimento do lugar que lhe é próprio, ou porque obriga o interlocutor a se inscrever na relação (FLAHAULT apud MAINGUENEAU, 2005, p. 34). Para Charaudeau (2009, p. 151), o universo da informação midiática é efetivamente um universo construído, o resultado de uma construção. Os acontecimentos não são transmitidos em seu estado bruto, pois se tornam objeto de racionalização. “Assim, a instância midiática impõe ao cidadão uma visão de mundo previamente articulada, sendo que tal visão é apresentada como se fosse a visão natural do mundo”. Maingueneau (2005, p. 53) afirma que “falar é uma forma de ação sobre o outro e não apenas uma representação do mundo” e que toda enunciação constitui um ato que visa a modificar uma situação. Orlandi (1999, p. 86) distingue os diferentes modos de funcionamento do discurso, tomando como referência elementos constitutivos de suas condições de produção e sua relação com o modo de produção de sentidos, com seus efeitos, como segue:
  • 25. 24    a. Discurso autoritário: aquele em que a polissemia2 é contida, o referente está apagado pela relação de linguagem que se estabelece e o locutor se coloca como agente exclusivo, apagando também sua relação com o interlocutor; b. Discurso polêmico: aquele em que a polissemia é controlada, o referente é disputado pelos interlocutores, e estes se mantêm em presença, numa relação tensa de disputa pelos sentidos; c. Discurso lúdico: aquele em que a polissemia está aberta, o referente está presente como tal, sendo que os interlocutores se expõem aos efeitos dessa presença inteiramente não regulando sua relação com os sentidos. Para a autora, não há nunca um discurso puramente autoritário, polêmico ou lúdico, mas sim misturas, articulações de modo que podemos dizer que um discurso tem um funcionamento dominante autoritário, ou tende para o autoritário etc. (ORLANDI, 1999, p. 87). Afirma ainda que um modo de se evitarem essas categorizações é dizer que o discurso em análise tende para a paráfrase, ou para a monossemia (quando autoritário), tende para a polissemia (quando lúdico) e se divide entre polissemia e paráfrase (quando polêmico). Maingueneau (20005, p. 55) afirma que “o discurso só é discurso enquanto remete a um sujeito, um EU, que se coloca como fonte de referências pessoais, temporais, espaciais e, ao mesmo tempo, indica que atitude está tomando em relação àquilo que diz e ao seu co-enunciador”. Para Charaudeau (2009, p. 175), “comentar o mundo constitui uma atividade discursiva, complementar ao relato, que consiste em exercer suas faculdades de raciocínio para analisar o porquê e o como dos seres que se acham no mundo e dos fatos que aí se produzem”. No mundo profissional das mídias, a relação entre relato (a que também podemos chamar notícia) e comentário é “espinhosa”, conforme afirma o autor (p. 176). Não raramente, é colocada em termos opostos, questionando se as mídias devem fornecer fato ou comentário, e se os jornalistas devem descrever ou comentar.                                                              2  De acordo com a autora, “podemos tomar a polissemia enquanto processo que representa a tensão  constante estabelecida pela relação homem/mundo, pela intromissão da prática e do referente enquanto tal,  na linguagem” (1996, p.15). 
  • 26. 25    Não é possível informar se não se pode, ao mesmo tempo, dar garantias sobre a veracidade das informações transmitidas, logo, fazer saber implica, necessariamente, um “explicar”: o comentário jornalístico é uma atividade estreitamente ligada à descrição do acontecimento para produzir um “acontecimento comentado” (CHARAUDEAU, 2009, p. 177). Charaudeau (2009, p. 180) nos diz que “o comentador sabe que precisa ser credível, mas também sabe que nenhuma análise ou argumentação terá impacto se não despertar o interesse do consumidor de informação e se não tocar sua afetividade”. Porém, o posicionamento do comentarista e seus modos de raciocínio pode ser um dos problemas que o comentário coloca para as mídias. O comentário midiático corre o risco constante de produzir efeitos perversos de dramatização abusiva, de amálgama, de reação paranóica. Assim, a instância midiática procura, para compensar tais efeitos, multiplicar os pontos de vista e colocar num plano de igualdade os argumentos contrários. Talvez esteja aí a especificidade do comentário jornalístico: uma argumentação que, certamente, bloqueia a análise crítica, mas que, pela sua própria fragmentação, sua própria multiplicidade de pontos de vista, fornece elementos para que se construa uma verdade mediana. É uma atitude discursiva que aposta na responsabilidade do sujeito interpretante (CHARAUDEAU, 2009, p. 187). Todas essas definições de comentário e notícia, bem como a homogeneidade na apresentação de ambos serão consideradas para fazermos o estudo de caso da análise proposta nesta monografia, como veremos no capítulo 5.
  • 27. 26    4 O ÂNCORA NO JORNALISMO O termo âncora (anchorman) no jornalismo começou a ser utilizado nos Estados Unidos na década de 50, e representava a pessoa melhor informada, onde todas as linhas de comunicação deveriam terminar, o estúdio onde ele estivesse deveria ser o coração e o cérebro da cobertura (SQUIRRA, 1993, p.65). Hoje, os âncoras dos tele e radiojornais americanos não são somente os apresentadores do noticiário, mas os editores-chefes. O programa é a sua própria imagem e tem a sua marca. Basicamente, é a sua ‘propriedade’ (SQUIRRA, 1993, p.67). A figura do âncora é recente na história do jornalismo brasileiro. Segundo Mello e Souza (apud SQUIRRA, 1993, p. 118), a primeira referência a um jornalista que supostamente teria atuado como âncora em um telejornal brasileiro foi nos preparativos para a cobertura das eleições municipais de novembro de 1976. Nessa ocasião, foi preparado um plano especial de trabalho na Rede Globo, que sugeria a utilização do repórter Costa Manso como uma espécie de ‘anchorman’. No entanto, para Cruz (apud SQUIRRA, 1993, p. 118), o primeiro âncora brasileiro foi Carlos Monforte. Mello e Souza (apud SQUIRRA, 1993, p. 119) propõe uma definição do papel do âncora, como vemos a seguir: Basicamente, é um jornalista com a paciência e a curiosidade de ler, com a maior isenção possível, os jornais impressos do dia; esse jornalista deve ter uma visão de mundo, dispor de uma cultura humanística e histórica que lhe permita descobrir, mesmo em uma pequena anedota, a sua importância trágica ou sua terrível comicidade; alguém em condições de estar permanentemente chocado pela realidade, mas com o poder de se apresentar diante dos telespectadores sem que olhos e músculos reflitam qualquer tipo de comoção indesejável; alguém que acompanhe, na redação, o nascimento e o desenvolvimento da notícia; uma pessoa capaz de sofrer, durante dez minutos, para escrever um bom texto de duas linhas e, ao mesmo tempo, improvisar com naturalidade e conhecimento de causa uma locução de dois minutos sobre algum acontecimento de última hora; alguém com ar de serenidade e respeito pelos outros; traços corretos, boa voz, um ritmo dialogal de leitura e – exigência suprema! – um ar inteligente (MELO E SOUZA apud SQUIRRA, 1993, p. 119).
  • 28. 27    Segundo Squirra (1993, p. 179) a característica que difere o âncora brasileiro dos demais, é o fato de emitirem opinião na forma de comentários. Como controlam de forma extremamente cuidadosa tudo o que vai ao ar, exercem de alguma forma, atuação opinativa, direcionando editorialmente os telejornais. 4.1 HERÓDOTO BARBEIRO Heródoto Barbeiro nasceu em São Paulo, em 1946. Foi office boy, mecânico, borracheiro e professor de inglês. É graduado e mestre em História pela Universidade de São Paulo, onde lecionou por 12 anos. Também se formou em Direito e passou pelo curso de Japonês, na USP. Cerca de 20 anos mais tarde, decidiu trocar o corpo docente pelo discente, cedendo ao desejo de se tornar jornalista, “deixei de falar e escrever no passado e aprendi a falar e escrever com os verbos no presente. Deixei a história e passei para o jornalismo” (BARBEIRO, on- line). Atualmente é gerente de jornalismo da Rádio CBN e apresentador do programa Roda Viva, na TV Cultura. Livros e capítulos publicados: Meu velho centro, histórias do coração de São Paulo. Boitempo, 2007; Fora do ar. Ediouro, 2007; A história do consumo no Brasil – do mercantilismo à era do foco no cliente. Campus, 2007; CBN mundo corporativo. Futura, 2006; Manual do jornalismo esportivo. Contexto, 2006; O relatório da CIA – como será o mundo em 2020. Ediouro, 2006; Buda: o mito e a realidade. Madras, 2005; Falar para liderar. Futura, 2003; Manual de telejornalismo. Elsevier, 2005; Você na telinha. Futura, 2002; Liberdade de expressão. Futura, 2003; Liberdade de expressão 2. Futura, 2004; Doutor Bolinha, In AMATO NETO, V. & PASTERNAK, J. Do parto ao Infarto – coletânea de contos médico-policiais. Segmento, 2008;
  • 29. 28    Os caminhos do jornalismo, In TABACOF, D. 60 dias que mudaram o Oriente Médio. Kadimah, 2007; Somos milhares, In GOMES, A. L. Z. Na boca do rádio – o radialista e as políticas públicas. Hucitec, 2007; Paz Interior, In MENDES, J. Bolinha Muletas. Vozes, 2006; Esportes (Celeiro de Craques), In PINSKY, J. (org.) O Brasil no contexto 1987-2007. Contexto, 2007; No Lombo do Burro, In VOLPI. A. História do comércio no Brasil - do mercantilismo à era do Foco no Cliente. Campus, 2007; Panorama de História, com Bruna Cantele e Carlos A. Schneeberger. IBEP, 2006; O desafio da ancoragem In CBN – a rádio que toca notícia. Senac, 2006; Ancoragem, In RODRIGUES, E. (org) No próximo bloco. PUC, 2005; História de olho no mundo do trabalho. com Bruna Cantele e Carlos A. Schneeberger. Scipione, 2005, 3vols; História de olho no mundo do trabalho. com Bruna Cantele e Carlos A. Schneeberger. Scipione, 2005, 3vols; Jornalismo In GOYZUETA, V. e OGIER, T. Guerra e jornalismo. Summus, 2003; Os Ambiciosos. Ed. Brasil, 2003; Prefácio, In GOYZUETA, V e OGIER, T. Guerra e Imprensa. Summus, 2003; Os Ambiciosos. Ed. Brasil, 2003; Ensaio Geral - Brasil 500 Anos. Nacional, 2000; Curso de História Geral, S.Paulo, 1985; Curso de História da América. Harbra, 1984; Curso de História do Brasil. Harbra, 1984; Curso de História da América. Harbra, 1984; Curso de História do Brasil. Harbra, 1984; História da América. Moderna, 1982; História do Brasil. Moderna, 1981; História Geral. Moderna, 1980; O Diário de Viagem do Tenente G.H. Preeble. R. de História, 1975. Prêmios:
  • 30. 29    1992 - Libero Badaró - Destaque do Ano; 1999 - APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – Âncora de rádio; 2000 - Prêmio Unesco de Jornalismo; 2000 - Ateneu Rotário; 2001 - Ayrton Senna - Grande Prêmio de Jornalismo; 2001 - Ateneu Rotário; 2002 - APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – Âncora de rádio; 2002 - PNBE - Destaque Jornalístico do Ano; 2003 - Comunique-se – Categoria Âncora de rádio; 2005 - Comunique-se – Categoria Âncora de rádio; 2005 - Troféu Keiko Ogura Buralli; 2006 - Troféu Dia da Imprensa; 2007- Prêmio Keiko Ogura de Jornalismo; 2007 - Prêmio Comunique-se – Categoria Âncora de rádio; 2007 - Prêmio Comunique-se – Mestre de Jornalismo; 2008 - 13º Prêmio Nacional de Seguridade Social – Comunicação; 2008 - Prêmio Comunique-se 2008 - Melhor âncora de televisão; 2009 - Prêmio Economista do Ano – Jornalismo econômico; Membro do Conselho Editorial do Le Monde Diplomatique –Brasil. 4.2 RICARDO BOECHAT Ricardo Eugênio Boechat nasceu em Buenos Aires em 13 de julho de 1952. Começou sua carreira em 1970 como repórter do extinto jornal Diário de Notícias, na cidade do Rio de Janeiro. Também na década de 70, iniciou-se como colunista, colaborando com a equipe de Ibrahim Sued. Em 1987 foi para o jornal O Globo, do qual foi demitido após trinta anos de trabalho, depois de uma matéria publicada na revista Veja3 o acusar de revelar o conteúdo das matérias que seriam publicadas a um jornalista do jornal concorrente, o Jornal do Brasil, no qual assumiu a “Coluna Boechat”.                                                              3  A matéria está disponível em http://veja.abril.com.br/270601/p_038.html. Acesso dia 23/10/2009 
  • 31. 30    Atualmente apresenta o Jornal da Band, ancora um jornal matutino na rede BandNews FM, assina uma coluna diária no jornal O Dia desde 2006 e escreve, semanalmente, para a revista IstoÉ. Foi diretor de jornalismo da TV Bandeirantes do Rio de Janeiro e trabalhou para o SBT carioca. Livros: Copacabana Palace: Um hotel e sua história. DBA, 1998. Prêmios: 1989 – Prêmio Esso de Jornalismo. Categoria Reportagem; 1992 – Prêmio Esso de Jornalismo. Categoria Informação Política; 2001 – Prêmio Esso de Jornalismo. Categoria Informação Econômica; 2006 – Prêmio Comunique-se. Categoria Âncora de rádio; 2007 – Prêmio Comunique-se. Categoria Apresentador de TV; 2008 – Prêmio Comunique-se. Categorias Âncora de rádio e Colunista de notícias; Prêmio White Martins de Imprensa.
  • 32. 31    5 ESTUDO DE CASO O presente trabalho configura-se como uma pesquisa descritiva, sendo o corpus de análise composto por cinco edições dos programas Jornal da Band (transmitido pela BandNews FM de segunda a sexta das 7h às 9h, apresentado por Ricardo Boechat) e Jornal da CBN (transmitido pela Rádio CBN FM de segunda a sábado das 6h às 9h30m, apresentado por Heródoto Barbeiro). Optamos por não estudar a edição de sábado do programa Jornal da CBN, pois o objetivo deste trabalho é fazer uma análise comparativa entre os âncoras com base nas notícias em comum apresentadas na mesma data. 5.1 UNIVERSO Mensalmente são veiculados em média 25 programas apresentados por Heródoto Barbeiro na CBN e 21 programas apresentados por Ricardo Boechat na BandNews FM. 5.2 AMOSTRA Neste trabalho foram analisadas cinco edições de cada um dos programas selecionados, o que corresponde a 20% dos programas veiculados pela CBN e 23,8% dos programas veiculados pela BandNews FM. A análise dos programas será feita a partir das notícias em comum apresentadas por ambos os âncoras. Para tanto, realizamos a gravação dos radiojornais nos dias 27, 28, 29 e 30 de outubro e 3 de novembro. As manchetes que foram encontradas em ambos os programas estão elencadas no quadro do subitem 5.3, assim como a transcrição das falas de Heródoto e Boechat, analisadas com base nas teorias apresentadas anteriormente neste trabalho. 5.3 ANÁLISE A análise dos conteúdos será feita a partir das notícias em comum apresentadas por ambos os âncoras. Para tanto, gravamos e expusemos no quadro a seguir as manchetes do período de 27 de outubro a 3 de novembro encontradas
  • 33. 32    em ambos os programas. Posteriormente, transcrevemos as falas de Heródoto e Boechat, e as analisamos com base nas teorias utilizadas anteriormente neste trabalho. Pautas Jornal da CBN4 Jornal da Band5 1. Câncer de mama masculino 28/10 28/10 28/10 – somente 2. Conselho Nacional de Justiça quer pôr introdução à fim ao regime semi-aberto (tornozeleiras notícia 28/10 eletrônicas) 29/11 – entrevista sobre o tema 3. Aluna da Uniban hostilizada pelos 30/10 30/10 colegas Pauta 1: Câncer de mama masculino (dia 28/10/09) Transcrição Jornal da CBN: - Heródoto Barbeiro: “A Associação Brasileira de gays e lésbicas divulgou uma nota criticando a difamação do governador do Paraná, Roberto Requião. Durante o evento, que reuniu integrantes do governo, ontem, ao apresentar o secretário da saúde, Requião fez o seguinte comentário, ouça aí: ‘Eu chamaria o Gilberto Martins, que vai, num espaço reduzido de tempo, anunciar a implementação de ações estratégicas para o controle do câncer. A ação do governo não é só em defesa do interesse público, é da saúde da mulher também. Embora hoje, câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas                                                              4 Apresentado por Heródoto Barbeiro, transmitido pela rádio CBN de segunda a sexta das 6h às 9h30, sábados e domingos das 6h às 9h. 5 Apresentado por Ricardo Boechat, transmitido pela rádio BandNews FM de segunda a sexta das 7h às 9h.
  • 34. 33    gay’. A Associação Brasileira de gays e lésbicas afirmou que piadinhas desse tipo reforçam o preconceito e a discriminação. A entidade lembrou que muitas pessoas foram assassinadas no ano passado, 19 no Paraná, e que nos últimos 15 anos foram 160 pessoas mortas”. Jornal da Band: - Repórter Luiz Megale: “A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays e Bissexuais pede uma audiência com o governador do Paraná Roberto Requião. O grupo quer explicações sobre a declaração feita por ele na TV Educativa do Estado, associando o câncer de mama às passeatas gays. ‘A ação do governo não é só em defesa do interesse público, é da saúde da mulher também. Embora hoje, câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay’”. - Ricardo Boechat: “Bom, câncer de mama de fato acontece em homens, claro. Homens têm mama, e têm o câncer de mama também, numa incidência menor que a das mulheres, mas não desprezível. Aliás, numa entrevista que eu fiz com uma cancerologista no Rio [de Janeiro] sobre o câncer de mama, ela diz que prevenção, o auto-exame é exatamente o mesmo, apalpar, ver se tem nódulo, se tem dores localizadas, eu estou até fazendo este movimento aqui agora, porque não faço há muito tempo, tem que fazer. E aí o detalhe é o seguinte: associar isso, fazer uma caricatura disso ou tentar fazer uma piada em cima disso é típico de uma cabeça de jerico, não há mais o que dizer”. - Ricardo Boechat, 49 minutos depois: “O Fernando Vieira de Melo, nosso companheiro aqui do Primeiro Jornal, me mandou uma informação curiosa a propósito das declarações do governador Requião, fazendo uma associação com o câncer de mama masculino às paradas gays. Uma brincadeira, uma ironia, está sendo alvo de críticas lá no Paraná, de grupos homossexuais, lésbicas e tudo mais. ‘Seguem’, diz Fernando Vieira de Melo, ‘algumas informações que me foram passadas pelo médico A. C. Camargo, que é meu amigo, sobre a sábia declaração do governador Requião’. Quer botar aí, vamos botar? Bota aí, olha o que o Requião falou: ‘A ação do governo não é só em defesa do interesse público, é da saúde da mulher também. Embora hoje, câncer de mama seja uma doença masculina também. Deve ser consequência dessas passeatas gay’. Bom, o câncer de mama sempre foi também uma doença masculina. O que disse o médico A. C. Camargo,
  • 35. 34    aqui de São Paulo? Duzentos casos de câncer de mama entre homens desde 1953 foram registrados no Hospital do Câncer A. C. Camargo, perdão, o médico é do A. C. Camargo, e não o médico A. C. Camargo, desculpe, falei uma besteira aqui. Um médico amigo do Fernando Vieira de Melo, do Hospital do Câncer A. C. Camargo, então, 200 casos de câncer masculino foram registrados neste hospital desde 1953. Entre os 200 casos de câncer masculino, Barão, não havia um único homossexual, nenhum dos homens com essa patologia usou qualquer hormônio feminino ou anabolizante. De cada 100 mulheres que têm câncer de mama, um homem poderá ter câncer de mama. As informações, agora sim, são do médico Mário Mourão, diretor do departamento de mastologia do Hospital do Câncer A. C. Camargo de São Paulo”. Análise Notamos que algumas informações estatísticas apresentadas no programa Jornal da CBN não são encontradas no Jornal da Band. Porém, a ausência de tais informações não interfere diretamente no conteúdo informativo. Os trechos mostrados nos programas remetem a um teor informativo maior, quando transmitido por Heródoto, pois contextualiza o ouvinte quanto à situação em que a declaração foi feita, diferentemente de Boechat, que somente comunica o fato sem contextualizá-lo. Charaudeau (2009, p. 175) afirma que “comentar o mundo constitui uma atividade discursiva, complementar ao relato, que consiste em exercer suas faculdades de raciocínio para analisar o porquê e o como dos seres que se acham no mundo e dos fatos que aí se produzem”. Essa complementação a que o autor se refere é claramente observada no programa da BandNews FM, enquanto no outro, somente encontramos a transmissão da notícia. Notamos em Boechat um certo sarcasmo no trecho em que ele fala da informação passada por Luiz Vieira de Melo, em que diz “sobre a sábia declaração do governador Requião”, ironizando a palavra “sábia”. Pauta 2: Uso de tornozeleiras eletrônicas (28/10/09)
  • 36. 35    Transcrição Jornal da CBN: No dia 28/10, Heródoto fez uma introdução à notícia. No dia 29/10 conduziu uma entrevista com o professor de direito penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro e conselheiro do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, Doutor Carlos Eduardo Adriano Japiassú6 sobre o tema. 28/10 - Heródoto Barbeiro: “Com a notícia que o Conselho Nacional de Justiça estuda propor mudança aqui na lei penal. Entre as novidades estaria o monitoramento eletrônico dos presos em regime aberto, e a concessão de incentivos a empresas que contratassem detentos ou ex-detentos”. - Repórter Liziane Cardoso: “O Conselho Nacional de Justiça pretende avaliar na semana que vem propostas de mudanças na legislação penal. Se aprovadas, elas serão enviadas para votação no Congresso Nacional. Um dos projetos modifica o regime aberto de prisão. Hoje o preso pode trabalhar de dia, mas precisa dormir nas chamadas casas de albergados. Como isso pode aumentar a criminalidade, a sugestão é que o preso vá para casa desde que concorde em ser monitorado eletronicamente, com tornozeleiras ou pulseiras, por exemplo. O CNJ também sugere que as empresas que oferecem emprego para detentos ou ex-detentos tenham incentivos fiscais. Já os presidiários que trabalharem deverão receber algum tipo de remuneração. O conselheiro do CNJ, Valter Nunes, afirma que isso contribui para reintegração do detento na sociedade. ‘Ninguém pode ser obrigado a trabalhar sem receber nenhuma remuneração, mesmo o preso. As formas de se buscar a recuperação de alguém, grande parte das pessoas que ingressam no sistema criminal, são pessoas ou que não estejam no mercado de trabalho, ou mesmo que estejam no mercado de trabalho, mas estão com problemas comportamentais. Uma das formas de recuperar alguém necessariamente passa pela inserção dele, reinserção dele no mercado de trabalho. Então isso é uma questão de dignificação profissional’. O CNJ quer que a justiça eleitoral providencie meios para que os presos provisórios votem. O pacote também prevê que as visitas ou ligações telefônicas recebidas por presos no regime disciplinar diferenciado sejam gravadas,                                                              6  Nota da autora: Currículo disponível em  http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4774685Y8 Acessado dia 07/11/09 
  • 37. 36    para evitar novos crimes ou a circulação de informações entre membros de grupos criminosos. Uma resolução do CNJ, que não precisa de aprovação no Congresso, cria um sistema de proteção e assistência a juízes em situação de risco, e o conselho também estuda disponibilizar o sistema de videoconferência para depoimentos em todo o país”. 29/10 - Heródoto: “Bom dia, doutor Japiassú”. - Dr. Japiassú: “Bom dia, Heródoto”. - Heródoto: “Doutor Japiassú, o Conselho Nacional de Justiça analisa aqui na próxima semana uma proposta para alterar o regime aberto para regime domiciliar, e com essa mudança adotada, aqui também se cria o monitoramento eletrônico. Esse monitoramento eletrônico seria aquela tornozeleira que se comentou há algum tempo?” - Dr. Japiassú: “Exatamente, a ideia do monitoramento é essa. Eu até, eu confesso que não li a proposta do CNJ, o que eu sei é pela imprensa, e chega a se comentar que poderia ser bracelete, essas coisas, o modelo normal, tradicional que se encontra pelo mundo é uma tornozeleira e mais um transmissor que fica na cintura, em geral, como um celular”. - Heródoto: “Como um celular. Isso impediria que aquelas pessoas que estão no chamado regime semi-aberto, por exemplo, fugissem, ou aquelas que ganham a possibilidade de passar um feriado com a sua família também desaparecessem, não voltassem nunca mais?” - Dr. Japiassú: “Não impede porque as pessoas, o que acontece é o seguinte, a tornozeleira não pode ser retirada, ela só pode ser rompida. Então, a pessoa fica sendo monitorada, impedir que ela desapareça não, meramente ela cria uma forma de controle sobre onde ela está localizada e como vai. Se ela rompeu a tornozeleira ou se ela descumprir a área onde ela tem que estar, fica sendo informado automaticamente. O que o CNJ está mencionando é que o regime semi-aberto, a pessoa sai da prisão-albergue, e a partir daí só tem controle quando ela retornar. Assim haveria alguma forma de controle. De qualquer maneira, muitos países adotam o sistema de monitoramento, tem uma pesquisa específica na Inglaterra que foi feita com pessoas que utilizavam, e outros presos disseram que usar a tornozeleira fazia com que eles se lembrassem o tempo todo da obrigação, e isso teria gerado resultados positivos”.
  • 38. 37    - Heródoto: “Esse é o sistema britânico? Nos Estados Unidos é a mesma coisa ou não?” - Dr. Japiassú: “Na realidade o modelo é mais ou menos parecido. Ele começa nos Estados Unidos depois se expande pelo mundo. Ele começou em 83 nos Estados Unidos. Em todos os lugares, geral, ele é tornozeleira, porque fica escondido debaixo da calça, pra pessoa não ser identificada longe que está com a tornozeleira, e o modelo basicamente são dois, ou é por telefone, que fica mandando sinais pra indicar que a pessoa está perto a cada meia hora, ou um sistema mais caro que é o sistema por GPS, como se fosse um celular mesmo”. - Heródoto: “Entendo, agora se a pessoa se recusar a receber isso ela perde a progressividade da pena? Ela perde o benefício?” - Dr. Japiassú: “Na realidade, o monitoramento no mundo inteiro só pode ser implementado com o consentimento da pessoa. A pessoa tem que aceitar ingressar num programa de...” - Heródoto: “Mas ela não aceitando, ela pode perder o benefício ou não?” - Dr. Japiassú: “Na realidade, em geral você escolhe, ou você ingressa no monitoramento ou você permanece preso. O monitoramento é no mundo inteiro uma medida pra desencarcerar. Não é justamente como está se propondo aqui, que é pra controlar quem já vai estar fora”. - Heródoto: “É uma maneira, então, de colocar ou de facilitar a reintegração do cidadão na sociedade, é isso?” - Dr. Japiassú: “Exatamente, na realidade no mundo inteiro o monitoramento é entendido, pelo menos essa é a principal bandeira, como instrumento pra reduzir superlotação carcerária, um problema grave no Brasil. Aqui está se propondo pra controlar quem vai estar em regime aberto, não é exatamente essa a proposta de quem defende no mundo o monitoramento, em geral eles preferem... o problema de superlotação, que é um problema mundial, e que no Brasil é muito grave”. - Heródoto: “Perfeitamente. Professor Japiassú, muito obrigado. Professor Carlos Eduardo Adriano Japiassú, professor de direito penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Olha que interessante. Então isso não é pra monitorar quem já está fora, mas sim para permitir que pessoas que estão presas possam ficar nesse regime progressivo. Eu acho que isso é interessantíssimo, essa observação feita aqui pelo professor Japiassú”.
  • 39. 38    Jornal da Band: - Ricardo Boechat: “Estou lendo a matéria da Mariana Garuti, n’O Estado de S.Paulo, que o Conselho Nacional de Justiça quer pôr fim ao regime aberto. Esse regime aberto, semi-aberto, enfim, tem várias modalidades, que pressupõem-se previstas no regime de progressão de penas, o criminoso é condenado a um x de tempo na cadeia, e dependendo da forma como cumpra essa pena, sem transgressões disciplinares, sem tentativa de fuga, ele consegue sair em um sexto da pena. Então o cara é condenado a 30 anos, ele sai em cinco anos, é isso? Cinco vezes seis, 30, exatamente. O cara condenado a 20, ele sai em um sexto da pena, e por aí vai. Isso vai progredindo, primeiro o cara consegue sair de manhã e voltar à noite, depois ele tem direito a ficar o tempo que... isso se ele conseguir emprego, se conseguir algum trabalho, alguma ocupação; ele tem direito a sair nas datas festivas, Dia dos Pais, Dia das Mães, Natal, coisa do gênero, com o compromisso: sair de manhã, voltar à noite. Depois ele pode ficar fora, mas ele tem que ficar um período numa quarentena, sem cometer nenhum delito, lálálálá... O que acontece? Dezessete por cento dos presos beneficiados com esse tipo de indulto, de benefício, de progressão de pena, não voltam. Não voltam e são exatamente dos dezessete por cento que acabam voltando pra bandidagem mais pesada. A reincidência entre oriundos do sistema penal também é muito grande, e o Conselho Nacional de Justiça agora começa a discutir a possibilidade de criar regras mais rigorosas para esses benefícios. Uma dessas regras, que está em discussão aí, muito preliminar, é colocar algum tipo de monitoramento eletrônico no preso beneficiado com a saída provisória. Você bota lá uma pulseira eletrônica, bota lá um chip na canela do cara preso a uma espécie de sei lá o quê, uma argola, uma coisinha e tal, e ele passa a ser monitorado, onde ele estiver ele estará sendo monitorado. Já existem equipamentos pra isso, já há experiências fora do Brasil, desse tipo, presos que têm benefícios dessa forma e saem com... olha lembrem-se que os bispos da Igreja Renascer usaram esse tipo de coleira eletrônica, sei lá que nome tem, pra poder serem monitorados e não saírem do país, dos Estados Unidos, com o qual foram condenados por entrar com dinheiro na Bíblia, dinheiro não declarado, então, existe esse tipo de coisa, aqui no Brasil tem uma visão, de criminalistas, de juristas que acham que isso bestializa o direito à liberdade, enfim, por aí vai. Agora, que a sociedade quer que essas coisas mudem, e mudem pra mais vigor, indiscutivelmente quer”.
  • 40. 39    - Repórter Thiago Rogério (13 minutos depois): “Boechat, mais cedo você falava sobre a implantação do uso de tornozeleiras eletrônicas aqui no Brasil, em Minas foi firmado um termo de cooperação entre o governo, o Tribunal de Justiça e o Ministério Público, a expectativa é de que até o fim do ano o uso das tornozeleiras já seja implantado em alguns presídios da região metropolitana de Belo Horizonte”. - Ricardo Boechat: “As tornozeleiras de que falamos agora, você ouviu aí o Thiago Rogério, são tornozeleiras eletrônicas, pra monitorar a saída de presos beneficiados com aquelas saídas temporárias, pra Dia dos Pais, Natal, ou mesmo por regime semi-aberto, eles saem com as tornozeleiras, ficam sendo eletronicamente monitorados pra que se possam vigiar seus passos”. Análise Durante a introdução feita por Heródoto à notícia, que ocorreu no dia 28/10, não encontramos qualquer forma de expressão de opinião, que é claramente exposta por Boechat. Porém, durante a entrevista conduzida pelo âncora da CBN, no dia 29/10, notamos que Barbeiro tenta conduzir o convidado a dizer o que interessa aos ouvintes do Jornal da CBN. Ao final da entrevista, notamos que Heródoto faz uma síntese do que foi dito pelo doutor Japiassú, e usa da hipérbole para chamar a atenção do ouvinte em “interessante (...) interessantíssimo”. Ele também mostra que, no Brasil, o uso das tornozeleiras, como está sendo proposto fazer, se dá de forma errônea, pois “isso não é pra monitorar quem já está fora, mas sim para permitir que pessoas que estão presas possam ficar nesse regime progressivo”. Boechat relembra fatos anteriores no comentário dele, como vemos em “lembrem-se que os bispos da Igreja Renascer usaram esse tipo de coleira eletrônica, sei lá que nome tem, pra poder serem monitorados e não saírem do país, dos Estados Unidos”. Ele não fala se é bom ou ruim, mascara sua opinião, transferindo-a para a sociedade no trecho “agora, que a sociedade quer que essas coisas mudem, e mudem pra mais vigor, indiscutivelmente quer”. Usa uma linguagem mais informal, facilitando o entendimento do ouvinte, chamando sua atenção como em “você bota lá uma pulseira eletrônica, bota lá um chip na canela do cara preso a uma espécie de sei lá o quê, uma argola, uma coisinha e tal”. No programa Jornal da CBN encontramos uma linguagem mais formal.
  • 41. 40    Pauta 3: Aluna da Uniban hostilizada pelos colegas (dia 30/10/09) Transcrição Jornal da CBN: - Heródoto Barbeiro: “Bem, cerca de 700 alunos numa faculdade em São Paulo, chamada Uniban, Universidade Bandeirante, campus de São Bernardo, na região do ABC, pararam as aulas do noturno para perseguir, xingar, tocar, fotografar, ameaçar de estupro, cuspir, tudo isso contra uma aluna do primeiro ano do curso de turismo que compareceu à escola com um micro-vestido rosa-choque, maquiagem de balada, na quinta-feira da semana passada. Ela só conseguiu sair da escola sob escolta de cinco policiais militares, duas mulheres inclusive, que tiveram que usar spray de pimenta para conter os estudantes mais exaltados e abrir caminho entre a massa. Vídeos de ataque circulam pela rede [internet], uns ofendendo a dignidade da estudante. Estou aqui com o médico, doutor João Augusto Figueiró7, que é psicoterapeuta do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, presidente do Instituto Zero a Seis, dedicado à criança da primeira infância. Bom dia, doutor João Augusto”. - Dr. João Augusto: “Bom dia, Heródoto, é um prazer falar com você e com seus ouvintes”. - Heródoto: “Doutor João Augusto, como se pode entender uma manifestação coletiva como essa de se perseguir uma pessoa dentro de uma universidade, aqui, no caso, chamada Uniban, e ameaçar de quase linchamento porque uma pessoa estava vestida de maneira não convencional para uma escola?” - Dr. João Augusto: “Esse fenômeno já foi bastante estudado na psicologia e na psiquiatria, e principalmente na área da psicologia das massas, e isso decorre principalmente dos fenômenos que ocorreram durante o período do Nazismo, que começou a ser estudado em profundidade pela Hannah Arendt, que é o seguinte fenômeno: as pessoas normais, que têm uma vida normal, não têm uma história                                                              7  Nota da autora: Currículo disponível em  http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4775849H6 Acessado dia 07/11/09 
  • 42. 41    prévia de crimes, elas, mobilizadas por uma ou mais pessoas que têm características psicopáticas, ou são psicopatas, ou têm personalidade deserta, essas pessoas, elas sofrem aquilo que a gente chama de um contágio psíquico e são mobilizadas num fenômeno que a gente poderia chamar, um fenômeno de prótons, um fenômeno de massa, são mobilizadas em direção a um determinado objetivo. Isso é uma coisa bastante visível e infelizmente nós tivemos várias experiências, e é rapidamente esse contágio que faz essa contaminação comportamental se faz rapidamente, por exemplo, nas torcidas de futebol, pessoas habitualmente normais que são capazes de cometer atos de vandalismo, de criminalidade, de transgressão, de agressão, com violência”. - Heródoto: “Professor João Augusto, quando a gente diz fenômeno de massa então ele pode ocorrer tanto num campo de futebol quanto numa universidade?” - Dr. João Augusto: “Sim, sim. Pode ocorrer. São informações que percorrem rapidamente um conjunto ou um grupo e essas informações são lideradas por uma ou mais pessoas com características mais perversas e que são induzidas, elas servem à sua capacidade de auto-controle e abandonam seus valores, e adquirem aquele valor do guia, da coordenação, do líder. Então, esse é um fenômeno que foi, infelizmente, depois testado nos Estados Unidos, foram feitas algumas experiências, com pessoas que foram submetidas a processos de testes artificiais, e essas experiências, basicamente duas delas pelo menos, tiveram que ser interrompidas dado a gravidade do contágio e da violência que se criava com essas pessoas. Talvez você conheça uma das experiências, é aquela em que se colocou pessoas no papel de prisioneiros, que não eram prisioneiros, eram alunos universitários normais, e outras pessoas no papel de policiais, fardados, com píndulos, com palavras de ordem, pra verificar como que essa relação se estabelecia ao longo do prazo, a havia um tempo previsto pra que essa experiência fosse feita. A surpresa era que foi interrompida rapidamente depois de poucos dias, dado o grau de violência que se instaurava entre esses dois grupos. Um segundo processo interessante de abordar nesse aspecto em particular que você está trazendo, do grupo da Uniban, é a questão do bullying, o bullying é exatamente isso, um grupo de alunos numa escola que reúne, liderados frequentemente por uma, duas ou mais pessoas, um grupo menor, e atacam sistematicamente, com violência progressiva, um determinado indivíduo que é escolhido por alguma característica que o diferencia dos outros. Ou ele é mais gordo, mais magro, mais alto, mais baixo, mais bonito,
  • 43. 42    mais inteligente, ou mais bobo, enfim, alguma característica que o distingue, e a turma o elege”. - Heródoto: “Isso é o quê? É a ressurreição da ação medieval do bode espiatório?” - Dr. João Augusto: “É, é. Ele serve como bode espiatório, nele são colocadas qualidades que o tornam... o Chico Buarque acho que refletiu isso muito bem em “Geni”. A Geni foi escolhida porque era uma pessoa que não era aceita pelo grupo, e aí joga-se tudo na Geni, não é mesmo? Então, é fenômeno. E uma outra modernização do bullying é o que hoje nós nos convencionamos chamar de cyber bullying, que é o uso do bullying na internet pra promover esses ataques à honra, dignidade do alunos. Isso é muito comum hoje, você faz circular com uma certa velocidade fotos, informação, acusações falsas em relação a um determinado aluno e isso incide com uma frequência bastante elevada em depressão grave e inclusive suicídio”. - Heródoto: “Muito obrigado aqui ao médico, doutor João Augusto Figueiró, que é do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da USP, conversando um pouco conosco a respeito dessa ação coletiva de alunos que barraram, interromperam a aula do curso noturno, perseguiram, xingaram, tocaram, fotografaram, ameaçaram de estupro e cuspiram numa aluna que havia chegado na escola, do primeiro ano do curso de turismo, com roupas não convencionais para a faculdade”. Jornal da Band: - Ricardo Boechat: “Uma luta entre o faminto e o poeta em torno da sereia na areia, acabam dilacerando a sereia, cada qual pelo seu motivo de amor, de afeto, o faminto querendo comer a sereia literalmente, e o poeta querendo contemplá-la, contemplar sua beleza, e tal. Por isso ontem essa moça de minissaia fez com que talvez quatro mil... olha, gente, é uma multidão, vocês não acreditam, as imagens serão exibidas hoje novamente no Jornal da Band [na TV Bandeirantes], que a gente vai tentar entender um pouco, e eu estou contando essa história pra vocês pra dizer o seguinte: há mais ou menos dois anos, um professor da Universidade Federal da Bahia, disse, a propósito da degradação, da perda de qualidade do aluno brasileiro, e ele referia-se especificamente a um aluno baiano, ele usou uma piada, uma caricatura que vivem fazendo pra provocar os baianos, dizendo que ‘por que’, ele falou ‘por que o berimbau tem uma corda só?’, disse o professor lá daquela Universidade Federal da Bahia, ‘porque se tivesse duas o baiano não tocava’. E
  • 44. 43    houve uma reação natural, compreensiva, é só uma caricatura absurda feita ainda mais por um professor da Universidade Federal da Bahia, deu uma comoção enorme, foi afastado, foi objeto de muitas discussões, e tal, e na verdade a frase dele foi infeliz, mas ela pretendia expressar um sentimento que precisa ser discutido entre nós, e bastante. No que se transformou a tal juventude brasileira? Ou no que boa parte dela está se transformando? Não será nem melhor, talvez, nem pior do que a juventude em outras gerações, especialmente a minha, mas cá entre nós, a gente não vê na rua quatro mil estudantes pra protestar contra rigorosamente nada do grande elenco de barbaridades com que somos afrontados todos os dias. Eu não os vejo na rua com frequência praticamente alguma, fazendo protestos significativos, sequer quando cancelam a prova do ENEM, que afetou a quatro milhões deles. Agora, pra juntar cinco mil, pra chamar de prostituta, ofender, gritar, acuar, perseguir, quase linchar uma moça que estava com uma minissaia. E uma menina lá disse para o Jornal da Band ‘ela estava vestida como uma prostituta’. E se fosse uma prostituta? Não poderia frequentar uma universidade e dali sair para o seu trabalho? Qual é o problema? E mais: diante do que se viu ali ontem, o crime maior é a prostituição?” - No dia 03/11, diante da notícia que a estudante voltaria às aulas, mas de calça comprida, blusa e salto alto, conforme noticiou Luiz Megale, Boechat proferiu o seguinte: - Ricardo Boechat: “É lamentável. Deveria voltar com o mesmo vestido. Não é ela quem tem que mudar de atitude, não é ela quem tem que mudar de atitude. Quem tem que mudar de atitude são aqueles bobalhões lá, filhinhos de papai, e professores daquela... Uniban, né? Uniban que chama? Até disseram aí, fizeram uma piada que não é Uniban, é Talibã. Um negócio horroroso que fizeram com essa moça, e a atitude dela, é claro, pra se proteger, mas eu queria ver qual seria hoje a reação daquele bando de paspalhões diante da mesma moça com o mesmo vestido”. Análise Nessa pauta, o que mais nos chama a atenção é o uso da hipérbole, por Boechat, ao dizer a quantidade de alunos envolvidos no caso, bem como a
  • 45. 44    incerteza, com o uso da palavra “talvez” dentro da notícia, e não do comentário. A fala de Heródoto - “cerca de 700 alunos” - nos faz acreditar que houve uma apuração da informação antes de transmiti-la a seus ouvintes. Boechat inicia a notícia fazendo uma intertextualidade com a música “A Novidade”, de Gilberto Gil: A novidade veio dar à praia, na qualidade rara de sereia Metade o busto de uma deusa Maia, metade um grande rabo de baleia A novidade era o máximo, do paradoxo estendido na areia Alguns a desejar seus beijos de deusa Outros a desejar seu rabo pra ceia Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual, ô ô ô ô ô De um lado este carnaval, de outro a fome total, ô E a novidade que seria um sonho, o milagre risonho da sereia Virava um pesadelo tão medonho, ali naquela praia, ali na areia A novidade era a guerra entre o feliz poeta e o esfomeado Estraçalhando uma sereia bonita, despedaçando o sonho pra cada lado O âncora do Jornal da Band usa da pergunta retórica para manifestar sua opinião, seus comentários, como vemos em “no que se transformou a tal juventude brasileira? Ou no que boa parte dela está se transformando?”, em que ele critica a juventude com o uso da palavra “tal”, que transmite ideia de negativismo. Posteriormente ele ameniza a generalização (“boa parte”), no entanto ele utiliza a conjunção adversiativa “mas”, e nos faz pensar que, na opinião dele, “essa tal juventude” é pior sim, quando diz que não saem às ruas para protestar, o que nos remete ao movimento dos caras-pintadas, que protestaram na década de 90 contra o então presidente Fernando Collor de Mello. Boechat termina sua reflexão em 30/10 com uma pergunta retórica, em “e se fosse uma prostituta? Não poderia frequentar uma universidade e dali sair para o seu trabalho? Qual é o problema? E mais: diante do que se viu ali ontem, o crime maior é a prostituição?”, que finaliza a notícia estimulando uma reflexão do ouvinte. Diferentemente das outras duas pautas analisadas, Boechat usa adjetivos, como “bobalhões”, “filhinhos de papai” e “paspalhões”, no trecho transmitido em 03/11, deixando claro que esta é a sua opinião, e não da sociedade, como vimos nas análises anteriores. Além disso, reproduz um termo que foi usado, segundo ele, pela sociedade em “até disseram aí, fizeram uma piada que não é Uniban, é Talibã”.
  • 46. 45    Charaudeau (2009, p. 176) diz que no mundo profissional há um questionamento se os jornalistas devem ou não comentar. Em contrapartida, analisando Charaudeau (2009, p. 180), ao dizer que “o comentador sabe que precisa ser credível, mas também sabe que nenhuma análise ou argumentação terá impacto se não despertar o interesse do consumidor de informação e se não tocar sua afetividade”, nos leva a crer que Boechat busca chamar a atenção do público para um fato que, segundo a entrevista do doutor João Augusto ao Jornal da CBN, tem tomado proporções absurdas ultimamente.
  • 47. 46    CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho, contamos um pouco a história do rádio, como veículo de comunicação, bem como o início do radiojornalismo no Brasil. Em seguida, estudamos os diversos gêneros jornalísticos, utilizados em todas as mídias, não somente no rádio. Por serem peças-chave desta monografia, estudamos com mais cautela e detalhes os gêneros “notícia” e “comentário”, por serem fundamentais para a análise proposta. Vimos, também, qual a função do âncora, encontrado no tele e radiojornalismo, bem como um pouco da história dos profissionais estudados e analisados nesta pesquisa. O problema, que gerou esta análise, é a presença do comentário no radiojornalismo. Há expressão de opinião por parte dos âncoras? Os âncoras do radiojornalismo têm como função informar, sem induzir o ouvinte a concordar com seus princípios. Isso realmente ocorre? Ao analisar os programas Jornal da Band, apresentado por Ricardo Boechat, e Jornal da CBN, apresentado por Heródoto Barbeiro, notamos que o primeiro expressa sua opinião na maior parte das notícias, muitas vezes conduzindo o ouvinte a seguir pelo mesmo pensamento, em alguns casos, expressa seus sentimentos, de raiva, indignação etc., enquanto Heródoto busca noticiar, informar sem comentar, leva ao ouvinte a opinião de um profissional da área, não sua opinião de jornalista, formador de opinião. Com isso, podemos concluir que os profissionais analisados têm maneiras distintas de transmitir a notícia ao público, conforme sua formação acadêmica. Existe, sim, a expressão de opinião dos âncoras, mas não se pode generalizar, pois, conforme vimos, cada profissional tem sua maneira de fazê-lo, seja durante a programação, através da preparação do radiojornal, ou durante a transmissão das informações. Este trabalho nos mostrou que a imparcialidade total não existe - seja de forma sutil ou não, a opinião é expressa pelo profissional, mesmo que não seja transmitida, pois, conforme vimos com Squirra (1993, p. 179), o âncora brasileiro exerce atuação opinativa, seja na forma de comentários ou controlando de forma extremamente cuidadosa tudo o que vai ao ar.
  • 48. 47    Sabemos que ainda há muito a ser estudado sobre o tema, porém, devido ao curto espaço de tempo para desenvolver esta monografia, propomos dar continuidade à pesquisa posteriormente, durante a pós-graduação, em que pretendemos desenvolver um trabalho mais amplo e detalhado sobre a opinião no radiojornalismo brasileiro.
  • 49. 48    REFERÊNCIAS AMARAL, Luiz. A objetividade jornalística. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 1996 AMOSSY, Ruth. Imagens de si no discurso: A construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2005 BARBEIRO, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo de. Manual de radiojornalismo: Produção, ética e internet. Rio de Janeiro: Campus, 2003 _________ O desafio da ancoragem In CBN: a rádio que toca notícia. Senac, 2006 BARBOSA FILHO, Antonio. Gêneros radiofônicos. São Paulo: Paulinas, 2003 BELTRÃO, Luiz. Jornalismo opinativo. Porto Alegre: Sulina, 1980 BESPALHOK, Flavia Lucia Bazan; HEITZMANN, Patrícia Zanin. Radiojornalismo e subjetividade: Em busca de vozes singulares. (Dissertação) – Intercom - XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Belo Horizonte, MG, 2003 (http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2003/www/pdf/2003_temas_bespalhok. pdf) Acesso dia 19/05/2009 CÉSAR, Cyro. Como falar no rádio. São Paulo: Ibrasa, 2002 CHANTLER, Paul; HARRIS, Jim. Radiojornalismo. São Paulo: Summus, 1992 CHAPARRO, Manuel Carlos. Pragmáticas do jornalismo. São Paulo: Summus, 1993 CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2009 CORTINA, Arnaldo; MARCHEZAN, Renata. Razões e sensibilidades: A semiótica em foco. Araraquara: Laboratório Editorial FCL/UNESP, 2004 COSTELLA, Antonio F. Comunicação – do grito ao satélite. São Paulo: Mantiqueira, 2002 FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a história, a técnica. Porto Alegre: Sagra-Luzzatto, 2001 GOMES, Adriano Lopes. O jornalismo radiofônico e a construção da identidade profissional. (Dissertação) – Intercom - X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luis, MA, 2008.(http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2008/resumos/R12-0794- 1.pdf) Acesso dia 19/05/2009 KARAM, Francisco José. Jornalismo, ética e liberdade. São Paulo: Summus, 1997 KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo. São Paulo: Geração, 2004 KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo – Manual de comunicação (Norte e Sul). São Paulo: Edusp, 1988 LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ática, 2004 MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2005 ____________. Novas tendências em análise do discurso. [s.l.]: Pontes, 1997
  • 50. 49    MARCONDES FILHO, Ciro. O capital da notícia – Jornalismo como produção social na segunda natureza. São Paulo: Ática, 1989 MCLEISH, Robert. Produção de rádio: um guia abrangente de produção radiofônica. São Paulo: Summus, 1999 MEDINA, Cremilda. Notícia: Um produto à venda. São Paulo: Summus, 1988 MEDITSCH, Eduardo. A nova era do rádio: O discurso do radiojornalismo como produto intelectual eletrônico. In BIANCO, Nélia R. Del; MOREIRA, Sônia Virginia. Rádio no Brasil – Tendências e Perspectivas. Brasília: UnB, 1999 MELO, José Marques de. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985 _________. Jornalismo brasileiro. Porto Alegre: Sulina, 2003 _________. Jornalismo opinativo. São Paulo: Mantiqueira, 2003 MURCE, Renato. Bastidores do rádio: Fragmentos do rádio de ontem e de hoje. Rio de Janeiro: Imago, 1976 ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de discurso. Campinas: Pontes, 1999 ________. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1996 ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação no rádio. São Paulo: Summus, 1985 PARADA, Marcelo. Rádio: 24 horas de jornalismo.São Paulo:Panda Books, 2004 PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2007 PORCHAT, Maria Elisa. Manual de radiojornalismo Jovem Pan. São Paulo: Ática, 1993 PRADO, Emilio. Estrutura da informação radiofônica. São Paulo: Summus, 1985 ROSSI, Clóvis. O que é jornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1980 SILVA, Ednelson Florentino da. Narração esportiva no rádio: Subjetividade e singularidade do narrador. (Dissertação) – Mestrado em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté. Taubaté, 2008 (http://www.unitau.br/cursos/pos- graduacao/mestrado/linguistica-aplicada/dissertacoes-2/dissertacoes-2008/2006- 2008%20SILVA%20Ednelson%20Florentino%20da.pdf) Acesso dia 19/05/2009 SOUSA, Jorge Pedro de. Elementos do jornalismo impresso. Porto: s/e, 2001 SQUIRRA, Sebastião. Bóris Casoy: o âncora no telejornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1993 _________. Aprender telejornalismo. São Paulo: Brasiliense, 1990 TAVARES, Reynaldo C. Histórias que o rádio não contou. São Paulo: Harbra, 1999 TODOROV, Tzvetan. Os gêneros do discurso. São Paulo: Martins Fontes, 1980 TRAVANCAS, Isabel Siqueira. O mundo dos jornalistas. São Paulo: Summus, 1992 WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Presença, 2003