O documento é um relato de primeira pessoa de um idoso que está em um abrigo para o Natal. Ele fala sobre as dificuldades de lidar com as crianças barulhentas, o calor e sua vontade de voltar para casa para descansar.
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CORÉ-CORÉ, Evandro Affonso Ferreira
Ora, dezembro estava chegando, pensei, vou topar o convite; principalmente por causa do dinheiro; depois porque
a barba é minha mesma, original de fábrica por assim dizer; finalmente porque vivo só, solidão-solidão, sozinho no
mundo qual bicho do mato, conforme escreveu certa vez um poeta cujo nome é… quem consegue lembrar nome
de poeta depois que aqueles psiquiatras da Santa Casa empanturram a gente de Rivotril Ludiomil Puta-Que-Pariu;
reatando o fio da conversa, topei o convite; cheguei no primeiro dia e, meia horinha depois que me instalaram
naquela poltrona vermelha ridícula, a maldita fila já parecia com a outra, aquela fila filha da mãe que eu enfrento
todo mês pra receber a minha aposentadoria de merda; a criançada gritava sem parar como sempre, puh, cheguei a
pensar em Herodes, ora veja; o calor estava insuportável como sempre, e a vontade de mijar vinha fora de hora
também como sempre; no começo pensei em abandonar tudo, cair no oco do mundo, sair correndo gritando, não
me chamo Nicolau titica nenhuma, meu nome é outro, sei lá qual, esqueci, psiquiatras da Santa Casa me
empanturram de remédios, para os quintos todo mundo, principalmente esses compristas brocoiós; qual, fiz nada
disso, foi só um lampejo de revolta, fiquei mudinho da Silva, não disse palavra; tanto, que ainda estou aqui até
hoje, véspera de Natal, mas não me acostumei com esse senta levanta ininterrupto de menino menina, tanto faz;
toda tarde é a mesma coisa sempre, blábláblá balinhas cafunés sons onomatopéicos; situação humilhante, santo
Deus, oitenta e dois anos na cacunda, em vez de sombra água fresca varanda rede Sinatra na vitrola… sou um
velho bisbórria, comendo insosso e bebendo salgado, mas tenho palavra, vou até o fim; amanhã, último dia,
quando chegar em casa tiro de vez estas botas apertadas, este chapeuzinho ridículo, esta calça horrorosa, este
cinturão jeca, esta barba grotesca e este travesseiro encharcado; travesseiro sim, barriga falsa, tenho apenas
sessenta quilos; ufa, falei demais, licença amigo, agora que esvaziei a bexiga vou sentar mais uma hora naquela
poltrona vermelha ridícula, ih, mijei nas calças como sempre, diacho.
NARRATIVA
estrutura mínima
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NARRATIVA
estrutura mínima
exposição ou ancoragem ambienta história apresenta personagens início da ação
complicador ou detonador início do conflito obstáculo a ser superado
clímax ponto de tensão
desfecho ou desenlace solução do conflito repouso da ação [triunfo do herói]
conflito máximo de ação
personagem ou ação
coda ou moral da história moral da história é facultativa [fábulas]
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NARRATIVA
a narração objetiva
Goiana morreu após três meses na Espanha
Quando aceitou uma proposta para ir trabalhar na Espanha, em 1996, a goiana Simone Borges Felipe, 25,
imaginava que poderia voltar ao Brasil após alguns meses com um bom dinheiro para ajudar a família e financiar
seu casamento.
Em vez do prometido trabalho como garçonete ou babysitter, porém, ela foi obrigada a se prostituir num clube da
cidade de Bilbao, no país Basco. Em menos de três meses, ela estava morta, em circunstâncias que até hoje a
família procura esclarecer.
análise da estrutura
narrador onisciente neutro distanciamento objetividade
não comenta ordena fatos objetivamente
personagens superficiais limita-se a contar os fatos ausência de emoções
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NARRATIVA
a narração subjetiva
O alienista, Machado de Assis [fragmento]
A Casa Verde foi o nome dado ao asilo, por alusão à cor das janelas, que pela primeira vez apareciam verdes em
Itaguaí. Inaugurou-se com imensa pompa; de todas as vilas e povoações próximas, e até remotas, e da própria
cidade do Rio de Janeiro, correu gente para assistir às cerimônias, que duraram sete dias. Muitos dementes já
estavam recolhidos; e os parentes tiveram ocasião de ver o carinho paternal e a caridade cristã com que eles iam
ser tratados. D. Evarista, contentíssima com a glória do marido, vestiu-se luxuosamente, cobriu-se de jóias, flores
e sedas. Ela foi uma verdadeira rainha naqueles dias memoráveis; ninguém deixou de ir visitá-la duas e três vezes,
apesar dos costumes caseiros e recatados do século, e não só a cortejavam como a louvavam; porquanto, − e este
fato é um documento altamente honroso para a sociedade do tempo, − porquanto viam nela a feliz esposa de um
alto espírito, de um varão ilustre, e, se lhe tinham inveja, era a santa e nobre inveja dos admiradores.
análise da estrutura
narrador onisciente intruso conhece sentimento apresenta suas impressões s/ eventos
apresenta fatos, emoções e sentimentos posição sensível e emocional
faz-se análise psicológica é subjetivo e parcial comenta a narrativa