O documento discute a literatura na era digital e suas relações com a sociedade. Aborda como a linguagem literária carrega mais significado do que a linguagem não literária e como a literatura pode forçar o leitor a encarar novas perspectivas através da distância estética. Também cita pensadores como Baudelaire, Emerson e outros sobre a função social da literatura.
1. A literatura na era digital Raul Ferreira (1982 – em breve, como todos; plagiador brasileiro de Valéry) “A linguagem não literária está para a linguagem literária assim como a caminhada está para o forró.” Cultura, Literatura e Sociedade.
2. Literatura e sociedade, entendimentos: As relações da literatura com a sociedade em função de seus vínculos com um determinado contexto de produção. A função social da literatura (o papel que ela cumpre na vida coletiva de um determinado corpo social).
3. O que é literatura? A literatura é linguagem (comunicação e expressão). Linguagem não literária: transmissão de conceitos de maneira econômica e eficiente (comunicatio, compartilhamento de informações). Linguagem literária: expressão significativa do mundo (expressio, pressão do sumo das coisas).
4. Erza Pound ( 1885 – 1972; poeta e crítico norte americano). “A literatura é a linguagem carregada de significado. Grande literatura é simplesmente a linguagem carregada de signficado até o máximo grau possível” Em ABC da literatura.
5. Paul Valéry (1871 – 1945 Poeta e crítico francês). “A prosa está para a poesia assim como a marcha está para a dança” Em Varietè Fernando Pessoa “Eu não escrevo em português. Escrevo eu mesmo.”
6. Carga de expressão X carga de comunicação. Fernando Pessoa (1888 – 1935; pensador e poeta português). “O importante da arte é exprimir, o que exprime não é importante”. Gradações da carga expressiva. Fala prosaica-cotidiana. Fala proverbal. Fala poética.
7. Sorriso interior. O ser que é ser e que jamais vacila Nas guerras imortais entra sem susto, Leva consigo esse brasão augusto Do grande amor, da nobre fé tranqüila.Os abismos carnais da triste argila Ele os vence sem ânsias e sem custo... Fica sereno, num sorriso justo, Enquanto tudo em derredor oscila.Ondas interiores de grandeza Dão-lhe essa glória em frente à Natureza, Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.O ser que é ser tranforma tudo em flores... E para ironizar as próprias dores Canta por entre as águas do Dilúvio! (Cruz e Sousa, 1861 – 1898, poeta brasileiro)
8. Relações entre literatura e sociedade: tendências de investigação: 1ª tendência: análise da medida em que a obra de arte espelha um contexto social. 2ª análise da medida social da literatura (i.e. Do quão ela é interessada em questões sociais). Crítica 1: a literatura é um produto do imaginário. Crítica 2: a literatura não pode ser ideologicamente aprisionada.
9. Sainte-Beuve (1804 – 1869 crítico literário francês). “O poeta não é uma resultante, nem mesmo um simples foco refletor; possui o seu próprio espelho, a sua mônada individual e única. Tem o seu núcleo e o seu órgão, através do qual tudo o que passa se transforma, porque ele combina e cria ao devolver à realidade”.
10. Lírica e sociedade. Roland Barthes (1915 – 1980 crítico literário francês). “A linguagem não é mero instrumento do homem; é ela que constitui o homem. As línguas carregam uma história, trazem nelas marcas de usos anteriores, e essa carga de significado entrava a renovação do homem e as mudanças em sua história”
11. Charles Baudelaire, O ideal. Nunca serão as belas desses folhetins,Produtos sem valor de um século plebeu,Dedos de castanhola, pés nos borzeguins,Que irão seduzir um homem como eu.Deixo com Gavarni, poeta da anemia,O gorjeio infantil das belas de hospital,Pois não posso encontrar em tanta rosa friaUma flor que recorde meu rubro ideal.Meu coração, profundo como abismo, querLady Macbeth, no crime tão grande mulher,De um Ésquilo o sonho na bruma saxã;Ou bem, de Michelangelo, tu, Noite enorme,Torcendo devagar numa pose disformeTeu corpo burilado em boca de Titã!
12. Baudelaire Projetos de prefácios às Flores do Mal. Não é para minhas mulheres, filhas ou irmãs que este livro foi escrito; não mais que para as mulheres, filhas ou irmãs de meu vizinho. Eu deixo esta função àqueles que possuem o interesse em confundir boas ações com bela linguagem. Eu sei que o amante passional do belo estilo se expõe ao ódio das multidões. Mais nenhum respeito humano, nenhum falso pudor, nenhuma coalizão, nenhum sufrágio universal me constrangerão de falar o dialeto incomparável deste século, nem confundir a cinza com a virtude. Poetas ilustres compartilharam desde muito tempo as províncias mais floridas do domínio poético. Pareceu-me divertido, e tanto mais agradável quanto a tarefa se tornava mais difícil, de extrair a beleza do Mal. Este livro, essencialmente inútil e absolutamente inocente, não foi feito com outro fim que o de me divertir e de exercer meu apaixonado gosto pelo obstáculo. (BAUDELAIRE 1994:363)
13. A função social da literatura. Aristóteles: A poesia cumpriria a função de purgar os sentimentos negativos do indivíduos da pólis. Emerson: O poeta permite enxergar os significados ocultos dos elementos da natureza que a maioria de nós é incapaz. Vitor Chlovski: A literatura, mediante a sua linguagem estranha, proporciona a substituição do mero reconhecimento pela visão profunda das coisas. H.R. Jaus: A literatura força o leitor a encarar uma distância estética, ela proporciona uma nova percepção das coisas, diferente da qual fomos acostumados pela nossa linguagem social. Presenciar uma distância estética possibilita o nosso alargamento de humanidade.
14. R. W. Emerson (poeta e pensador norte-americano). “Com que alegria eu começo a ler um poema, em que eu confio como uma inspiração! E agora minhas correntes estão para serem quebradas; eu elevarei-me acima destas nuvens e ares opacos nos quais eu vivo, - opacos, apesar de parecerem transparentes, - e do céu da verdade eu enxergarei e compreenderei todas as minhas relações. Isto irá me reconciliar com a vida, e renovará a a natureza, enxergarei ninharias animadas por uma tendência, e eu saberei o que eu estou fazendo. A vida não mais será um barulho. Agora eu enxergarei os homens e as mulheres, e saberei os sinais pelos quais eles podem ser discernidos de tolos e demônios. Este dia será melhor do que o dia de meu nascimento: naquele momento eu tornei-me um animal: agora eu sou convidado à ciência do real.” Em The poet.