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A PALAVRA DE DEUS LIBERTA E DÁ VIDA
Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007
* LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL *
ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 15° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE
I. INTRODUÇÃO GERAL
1. Mais do que nunca, hoje somos convidados a refletir sobre
a força da Palavra de Deus. Sabemos que o projeto do Pai é li-
berdade e vida para todos. E a Palavra é a ferramenta mais im-
portante para chegarmos à realização desse projeto. Ela tem po-
der de libertar dos mecanismos de opressão, conduzindo as co-
munidades para fora, porque é a Palavra que mostra quem é
Deus (1ª leitura: Is 55,10-11). Ela, manifestada plenamente em
Jesus, provoca as pessoas à decisão: a favor ou contra. Posicio-
nando-se a favor, as pessoas vencem os riscos e superam os
conflitos, fazendo crescer e frutificar o Reino (evangelho: Mt
13,1-23), que é tensão constante em direção ao mundo novo (2ª
leitura: Rm 8,18-23).
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1ª leitura (Is 55,10-11): A Palavra que liberta e dá vida
2. A tônica do Segundo Isaías (Is 40-55) é o sentido de espe-
rança que incute nos exilados em Babilônia, preparando as pes-
soas para o dia da libertação e do retorno à pátria. É por isso
que o Segundo Isaías é também chamado de "livro da consola-
ção de Israel". A tarefa desse profeta anônimo é suscitar espe-
rança e confiança nos oprimidos e exilados.
3. Os dois versículos do texto de hoje são o final do Segundo
Isaías. Por meio do profeta Deus garante que a libertação irá
acontecer em breve, pois a Palavra de Javé não falha. Essa Pa-
lavra é comparada à chuva e à neve que, antes de evaporar, for-
necem condições de vida à terra, pondo em movimento o ciclo
da vegetação e da vida.
4. A imagem é muito eloqüente, sobretudo se levarmos em
conta as condições climáticas de Israel. Durante o período da
seca (junho-outubro) tudo se torna árido e a maior parte da ve-
getação morre por falta de água. Ao iniciar o período das chu-
vas, tudo renasce e volta à vida.
5. Na concepção dos semitas daquele tempo, a água tem uma
força capaz de fecundar a terra (o texto diz, literalmente, que a
água "engravida" o solo). Ela é princípio de vida, desencadean-
do o ciclo dos vegetais e das colheitas que proporcionam ali-
mento e vida (v. 10). O Segundo Isaías utilizou uma imagem
arcaica do ciclo de fecundação da natureza dos cultos cananeus,
onde a chuva era considerada o elemento masculino (esperma)
da divindade, capaz de fecundar a terra, o elemento feminino.
6. Para esse profeta anônimo, a verdadeira força capaz de ge-
rar vida para um povo estéril e exilado é a Palavra de Javé. Essa
Palavra é muito mais que um som vocálico, pois manifesta a
própria essência de Deus: ele fala libertando. De fato, a Pala-
vra (dabar, em hebraico) na mentalidade semita é bem mais
que a pronúncia de sons; esse termo significa o que está por de-
trás, ou seja, o coração, a força, a essência de quem fala. A Pa-
lavra de Javé, portanto, é a própria essência de Deus que age
nos acontecimentos, transformando tudo em libertação e vida.
Ele é capaz de, mediante sua Palavra, criar o mundo, pondo or-
dem no caos (cf. Gn 1). Muito mais agora, quando o povo vive
uma situação de morte (exílio), bem pior que a terra árida, sua
Palavra fecundará novamente a vida desse povo, resgatando-o
da situação de não-vida em que se encontra.
7. A Palavra de Javé realizou o que anunciava. Mais uma vez
demonstrou que Javé é o Deus libertador pois, passado algum
tempo, o povo voltou à terra e à vida. Contudo, a libertação do
exílio era apenas um germe que anunciava e preparava a pleni-
tude dos tempos: "A Palavra se fez homem e habitou entre nós.
E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai,
cheio do dom da fidelidade" (Jo 1,14).
Evangelho (Mt 13,1-23): Ouvir e compreender a Palavra em
meio aos conflitos
8.O cap. 13 de Mateus é o início do discurso do terceiro livri-
nho, cujo tema é o mistério do Reino. Lendo essa parte de Mt
sentimos que, por trás de tudo, está o tema do conflito entre Je-
sus (o mestre da justiça) e as lideranças político-religiosas do
tempo (responsáveis pela injustiça que gera a morte do povo). É
sob essa ótica que devemos ler a parábola do semeador. Além
disso, é preciso ter presente a situação de crise vivida pelas co-
munidades da Síria e do norte da Palestina (de onde surgiu o
evangelho de Mt) da época em que esse evangelho foi escrito:
situação de conflito externo com o judaísmo ortodoxo e situa-
ção de desânimo dentro das comunidades que, desalentadas
pela difícil expansão da Palavra, tendem ao relaxamento.
9.Mateus situa as parábolas do cap. 13 no mesmo contexto da
polêmica do cap. 12, usando a expressão "Naquele dia" (13,1).
Jesus sai de casa e vai sentar-se junto ao mar. Sendo cercado
pelas multidões, começa a falar em parábolas, que revelam o
que é o Reino de Deus. Depois dessa breve introdução, o texto
de hoje pode ser dividido em três blocos:
a. A semente do Reino da justiça vai vingar, apesar das dificul-
dades (vv. 3b-9)
10. A insistência da parábola, dita do semeador, é posta, de
fato, na semente. A parábola tem dois níveis de compreensão: o
primeiro se refere à prática de Jesus: como irá instaurar o Reino
de Deus diante de tanta rejeição? Como evitar o fracasso? O se-
gundo nível está relacionado com as crises das comunidades
siro-palestinenses, berço do evangelho de Mateus. Elas se per-
guntavam: se o Reino de Deus está no nosso meio, como expli-
car os fracassos e conflitos?
11. A parábola da semente quer responder a essas questões.
Em primeiro lugar, é bom recordar o óbvio: a semente possui
em si todos os germes de vida. Assim é a Palavra de Jesus. As-
sim é sua prática de justiça: leva à vida, aos frutos. Jesus é o se-
meador generoso que não esconde a semente (Palavra). Apesar
do aparente fracasso, diante de tanta rejeição, o sucesso da co-
lheita será garantido. Há forças contrárias que abafam o poder
de vida da semente (pássaros, terreno pedregoso, espinhos),
mas Jesus é como o experiente lavrador: sabe que, ao semear,
um pouco se perde. Mas isso não conta diante do sucesso da co-
lheita. As possíveis perdas são compensadas no produto abun-
dante (na Palestina daquele tempo, o normal de uma colheita
não superava a proporção de dez por um. Na parábola, essa pro-
porção é incrivelmente maior). Além disso, a parábola revela
uma característica das terras na Palestina: o terreno não é com-
pletamente cultivável. E o lavrador tinha que levar isso em con-
ta. Mais ainda: na Palestina, semeava-se antes de lavrar a terra.
Era compreensível, portanto, que o lavrador já desse por perdi-
da parte da semente.
12. Às comunidades siro-palestinenses Mateus responde afir-
mando que o aparente fracasso é evitado semeando. As resis-
tências existem, os conflitos se manifestam, mas a semente do
Reino está destinada a produzir frutos. Com a justiça do Reino
acontece o mesmo que aconteceu com o semeador: o sucesso da
colheita virá passando pelo risco do insucesso e do fracasso.
Tal é o desafio que Jesus lança aos cristãos: "Quem tem ouvi-
dos, ouça!" (v. 9).
b. "Vocês são felizes" (vv. 10-17)
13. Entre a parábola e sua explicação há um diálogo de Jesus
com os discípulos. A pergunta dos discípulos: "Por que usas pa-
rábolas para falar com eles?" (v. 10) revela a preocupação das
primeiras comunidades cristãs e prepara a revelação definitiva
de Jesus e seu projeto. A resposta de Jesus (vv. 11-15) denota
que não há cisão entre o que ele diz e faz. E só há uma forma de
compreender os mistérios do Reino (= a prática de Jesus): tor-
nando-se seu discípulo. Só quem o aceita como o Messias é que
reconhece em sua prática o projeto de Deus se realizando. A
ação de Jesus provoca o julgamento de Deus: quem se posicio-
na a favor dele vai percebendo Deus agindo na história ("ao que
tem será dado ainda mais, será dado em abundância", v. 12a);
quem o rejeita vai perdendo aos poucos não só a percepção do
Deus que age nos acontecimentos bons ou ruins, como também
a própria capacidade de um compromisso maior ("do homem
que não tem, será tirado até o pouco que tem", v. 12b).
14. Os vv. 14-15 citam Is 6,9-10 e confirmam o que foi dito
até agora. Quem não adere a Jesus e sua prática se torna insen-
sível, porque não tem o senso das coisas que tem Jesus. Essa in-
sensibilidade no ouvir, ver e compreender tem sua raiz mais
profunda na insensibilidade do coração, sede das opções de
vida. Ao endurecimento do coração (= rejeição de Jesus) segue-
se o fechar os olhos e ouvidos, culminando na incompreensão.
Só uma grande sensibilidade em relação à prática de Jesus será
capaz de reverter esse processo de rejeição. E essa sensibilidade
não descarta a possibilidade do risco e do fracasso.
15. O v. 16 proclama a bem-aventurança dos que, desde agora,
vêem e entendem, ou seja, fizeram o discernimento e superaram
a crise, o risco e o fracasso. Estes são mais felizes do que os
profetas e justos que ansiaram por este momento (v. 17). Profe-
tas e justos são duas dimensões do povo de Deus, e ambas fa-
zem pensar num único tema: a justiça. De fato, a busca da justi-
ça foi a mais importante causa dos profetas. Em Jesus essa cau-
sa chegou ao ponto mais alto. E são felizes os que, descobrindo
nele a realização do projeto do Pai, se comprometem fielmente
com a causa da justiça.
c. Compreender a Palavra nos conflitos (vv. 18-23)
16. A explicação da parábola desloca a atenção da semente
para o tipo de terreno. Com grande probabilidade, essa explica-
ção é uma adaptação pastoral da parábola à crise das comunida-
des siro-palestinenses, ameaçadas de desânimo. Se até agora o
foco de atenção se concentrava nos conflitos externos às comu-
nidades, a partir daqui procura-se olhar para dentro. Em outras
palavras, Mateus pergunta às comunidades: "E vocês, como
acolhem a Palavra de Jesus? Será que vocês ainda mantêm seu
compromisso com a justiça do Reino? Que tipo de terreno são
vocês? Quais os obstáculos que vocês põem à Palavra?"
17. O primeiro obstáculo é a superficialidade ou a insensibili-
dade (estrada de chão batido, onde a semente não nasce). A op-
ção por Jesus não foi suficientemente forte a ponto de "amole-
cer" a insensibilidade; não atingiu a profundidade, ficou só na
superfície. O Maligno rouba e leva embora (v. 19).
18. O segundo obstáculo são as perseguições (vv. 20-21). Di-
ante delas surge facilmente o desânimo. Não se trata, todavia,
de qualquer tipo de perseguição. São as perseguições "por cau-
sa da Palavra". É o testemunho que provoca conflito e rejeição,
exatamente como aconteceu com Jesus.
19. O terceiro obstáculo é caracterizado como "as preocupa-
ções do mundo e a ilusão da riqueza" (v. 22). Isso denota que o
cristão vive num contexto concreto: em meio a estruturas políti-
cas e econômicas que fascinam e seduzem. Elas têm poder de
anestesiar (sufocar), de tornar estéril e ineficaz o poder da Pala-
vra.
20. O tipo de cristão ideal é identificado com o terreno bom (v.
23). Ele compreende a Palavra; e porque assim age é terra boa.
É a única alternativa para o ser cristão. Será que ele compreen-
de a Palavra porque é bom terreno, ou é bom terreno enquanto
vai compreendendo a Palavra e a faz frutificar? Cuidado, por-
tanto, para não cair no determinismo. Devemos ser bons para
acolher a Palavra, ou começamos a ser bons quando a acolhe-
mos e a pomos em prática?
2ª leitura (Rm 8,18-23): Rumo ao mundo novo
21. O capítulo 8 de Romanos explica o que é a vida no Espíri-
to. Para isso, Paulo apresenta os dois princípios que orientam a
vida do cristão: o Espírito que comunica a vida (vv. 1-13) e o
fato de sermos filhos de Deus (vv. 14-30). Os versículos da lei-
tura de hoje pertencem ao segundo princípio orientador da vida
do cristão.
22. Paulo corrige uma distorção de forte impacto sobre a co-
munidade. Eles se deixavam guiar pela idéia de que somos to-
dos devedores do fatalismo, vítimas do destino. Paulo afirma
que, por causa da morte-ressurreição de Jesus e da efusão do
Espírito Santo, todos poderão ter acesso ao projeto de Deus,
que é liberdade e vida. Não somos, portanto, escravos do fata-
lismo. Desde já possuímos os primeiros frutos do Espírito (v.
23a). Abre-se, pois, para os cristãos, uma perspectiva nova: a da
vida no Espírito de Jesus, que levará à plenitude a sua obra.
23. Mas os cristãos de Roma viviam tempos de crise e sofri-
mento. E se perguntavam: Se Jesus é o Salvador, por que temos
de sofrer? Por que a libertação não se concretiza para nós? Pau-
lo lhes mostra que ser cristão é viver em tensão para o futuro da
humanidade e do universo em Deus. Essa tensão se manifesta
agora, nos sofrimentos da comunidade, como anseio de liberta-
ção (v. 18). Manifesta-se também na própria criação, que aguar-
da a revelação dos filhos de Deus (v. 19).
24. A tensão para o mundo novo, para o projeto de Deus, é
descrita por Paulo com a imagem do parto. A criação e os filhos
de Deus sentem constantemente as dores do parto. A natureza e
a humanidade estão envolvidas nesse processo de dar à luz o
mundo novo, o projeto de Deus. Portanto, pensa Paulo, o sofri-
mento presente não é estéril quando entendido como parto do
mundo novo. A filiação divina e a vida no Espírito não dispen-
sam o cristão de viver em contínua tensão pela vida, pela trans-
formação e libertação definitivas; pelo contrário, ser filho de
Deus e possuir os primeiros frutos do Espírito é gerar e dar à
luz constantemente o mundo novo.
25. O que possuímos desde já são as primícias (primeiros fru-
tos) do Espírito. Essas primícias prometem boa colheita e ga-
rantem que os frutos do Espírito são da melhor qualidade. Con-
tudo, não se chega lá sem esforço, nem o Espírito gera o mundo
novo sem a nossa participação. A libertação dos filhos de Deus
passa pelo esforço (dores de parto) dos que lutam por um mun-
do novo e libertado.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
26. A Palavra é fonte de vida e libertação. Por ser Palavra de Deus, tem força para fazer pessoas e comu-
nidades saírem de todas as formas de escravidão e exílio, conduzindo à liberdade e vida (1ª leitura/; Is
55,10-11).
27. A Palavra gera conflitos porque revela a prática de Jesus, que fala libertando. A Palavra provoca
confrontos: os que não são a favor da vida para todos a rejeitam, sufocam e tentam eliminar os que amam
e vivem a Palavra (evangelho/; Mt 13,1-23).

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A Palavra de Deus liberta e dá vida

  • 1. A PALAVRA DE DEUS LIBERTA E DÁ VIDA Pe. José Bortoline – Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulos, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: A – TEMPO LITÚRGICO: 15° DOMINGO TEMPO COMUM – COR: VERDE I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Mais do que nunca, hoje somos convidados a refletir sobre a força da Palavra de Deus. Sabemos que o projeto do Pai é li- berdade e vida para todos. E a Palavra é a ferramenta mais im- portante para chegarmos à realização desse projeto. Ela tem po- der de libertar dos mecanismos de opressão, conduzindo as co- munidades para fora, porque é a Palavra que mostra quem é Deus (1ª leitura: Is 55,10-11). Ela, manifestada plenamente em Jesus, provoca as pessoas à decisão: a favor ou contra. Posicio- nando-se a favor, as pessoas vencem os riscos e superam os conflitos, fazendo crescer e frutificar o Reino (evangelho: Mt 13,1-23), que é tensão constante em direção ao mundo novo (2ª leitura: Rm 8,18-23). II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1ª leitura (Is 55,10-11): A Palavra que liberta e dá vida 2. A tônica do Segundo Isaías (Is 40-55) é o sentido de espe- rança que incute nos exilados em Babilônia, preparando as pes- soas para o dia da libertação e do retorno à pátria. É por isso que o Segundo Isaías é também chamado de "livro da consola- ção de Israel". A tarefa desse profeta anônimo é suscitar espe- rança e confiança nos oprimidos e exilados. 3. Os dois versículos do texto de hoje são o final do Segundo Isaías. Por meio do profeta Deus garante que a libertação irá acontecer em breve, pois a Palavra de Javé não falha. Essa Pa- lavra é comparada à chuva e à neve que, antes de evaporar, for- necem condições de vida à terra, pondo em movimento o ciclo da vegetação e da vida. 4. A imagem é muito eloqüente, sobretudo se levarmos em conta as condições climáticas de Israel. Durante o período da seca (junho-outubro) tudo se torna árido e a maior parte da ve- getação morre por falta de água. Ao iniciar o período das chu- vas, tudo renasce e volta à vida. 5. Na concepção dos semitas daquele tempo, a água tem uma força capaz de fecundar a terra (o texto diz, literalmente, que a água "engravida" o solo). Ela é princípio de vida, desencadean- do o ciclo dos vegetais e das colheitas que proporcionam ali- mento e vida (v. 10). O Segundo Isaías utilizou uma imagem arcaica do ciclo de fecundação da natureza dos cultos cananeus, onde a chuva era considerada o elemento masculino (esperma) da divindade, capaz de fecundar a terra, o elemento feminino. 6. Para esse profeta anônimo, a verdadeira força capaz de ge- rar vida para um povo estéril e exilado é a Palavra de Javé. Essa Palavra é muito mais que um som vocálico, pois manifesta a própria essência de Deus: ele fala libertando. De fato, a Pala- vra (dabar, em hebraico) na mentalidade semita é bem mais que a pronúncia de sons; esse termo significa o que está por de- trás, ou seja, o coração, a força, a essência de quem fala. A Pa- lavra de Javé, portanto, é a própria essência de Deus que age nos acontecimentos, transformando tudo em libertação e vida. Ele é capaz de, mediante sua Palavra, criar o mundo, pondo or- dem no caos (cf. Gn 1). Muito mais agora, quando o povo vive uma situação de morte (exílio), bem pior que a terra árida, sua Palavra fecundará novamente a vida desse povo, resgatando-o da situação de não-vida em que se encontra. 7. A Palavra de Javé realizou o que anunciava. Mais uma vez demonstrou que Javé é o Deus libertador pois, passado algum tempo, o povo voltou à terra e à vida. Contudo, a libertação do exílio era apenas um germe que anunciava e preparava a pleni- tude dos tempos: "A Palavra se fez homem e habitou entre nós. E nós contemplamos a sua glória: glória do Filho único do Pai, cheio do dom da fidelidade" (Jo 1,14). Evangelho (Mt 13,1-23): Ouvir e compreender a Palavra em meio aos conflitos 8.O cap. 13 de Mateus é o início do discurso do terceiro livri- nho, cujo tema é o mistério do Reino. Lendo essa parte de Mt sentimos que, por trás de tudo, está o tema do conflito entre Je- sus (o mestre da justiça) e as lideranças político-religiosas do tempo (responsáveis pela injustiça que gera a morte do povo). É sob essa ótica que devemos ler a parábola do semeador. Além disso, é preciso ter presente a situação de crise vivida pelas co- munidades da Síria e do norte da Palestina (de onde surgiu o evangelho de Mt) da época em que esse evangelho foi escrito: situação de conflito externo com o judaísmo ortodoxo e situa- ção de desânimo dentro das comunidades que, desalentadas pela difícil expansão da Palavra, tendem ao relaxamento. 9.Mateus situa as parábolas do cap. 13 no mesmo contexto da polêmica do cap. 12, usando a expressão "Naquele dia" (13,1). Jesus sai de casa e vai sentar-se junto ao mar. Sendo cercado pelas multidões, começa a falar em parábolas, que revelam o que é o Reino de Deus. Depois dessa breve introdução, o texto de hoje pode ser dividido em três blocos: a. A semente do Reino da justiça vai vingar, apesar das dificul- dades (vv. 3b-9) 10. A insistência da parábola, dita do semeador, é posta, de fato, na semente. A parábola tem dois níveis de compreensão: o primeiro se refere à prática de Jesus: como irá instaurar o Reino de Deus diante de tanta rejeição? Como evitar o fracasso? O se- gundo nível está relacionado com as crises das comunidades siro-palestinenses, berço do evangelho de Mateus. Elas se per- guntavam: se o Reino de Deus está no nosso meio, como expli- car os fracassos e conflitos? 11. A parábola da semente quer responder a essas questões. Em primeiro lugar, é bom recordar o óbvio: a semente possui em si todos os germes de vida. Assim é a Palavra de Jesus. As- sim é sua prática de justiça: leva à vida, aos frutos. Jesus é o se- meador generoso que não esconde a semente (Palavra). Apesar do aparente fracasso, diante de tanta rejeição, o sucesso da co- lheita será garantido. Há forças contrárias que abafam o poder de vida da semente (pássaros, terreno pedregoso, espinhos), mas Jesus é como o experiente lavrador: sabe que, ao semear, um pouco se perde. Mas isso não conta diante do sucesso da co- lheita. As possíveis perdas são compensadas no produto abun- dante (na Palestina daquele tempo, o normal de uma colheita não superava a proporção de dez por um. Na parábola, essa pro- porção é incrivelmente maior). Além disso, a parábola revela uma característica das terras na Palestina: o terreno não é com- pletamente cultivável. E o lavrador tinha que levar isso em con- ta. Mais ainda: na Palestina, semeava-se antes de lavrar a terra. Era compreensível, portanto, que o lavrador já desse por perdi- da parte da semente. 12. Às comunidades siro-palestinenses Mateus responde afir- mando que o aparente fracasso é evitado semeando. As resis- tências existem, os conflitos se manifestam, mas a semente do Reino está destinada a produzir frutos. Com a justiça do Reino acontece o mesmo que aconteceu com o semeador: o sucesso da colheita virá passando pelo risco do insucesso e do fracasso. Tal é o desafio que Jesus lança aos cristãos: "Quem tem ouvi- dos, ouça!" (v. 9). b. "Vocês são felizes" (vv. 10-17)
  • 2. 13. Entre a parábola e sua explicação há um diálogo de Jesus com os discípulos. A pergunta dos discípulos: "Por que usas pa- rábolas para falar com eles?" (v. 10) revela a preocupação das primeiras comunidades cristãs e prepara a revelação definitiva de Jesus e seu projeto. A resposta de Jesus (vv. 11-15) denota que não há cisão entre o que ele diz e faz. E só há uma forma de compreender os mistérios do Reino (= a prática de Jesus): tor- nando-se seu discípulo. Só quem o aceita como o Messias é que reconhece em sua prática o projeto de Deus se realizando. A ação de Jesus provoca o julgamento de Deus: quem se posicio- na a favor dele vai percebendo Deus agindo na história ("ao que tem será dado ainda mais, será dado em abundância", v. 12a); quem o rejeita vai perdendo aos poucos não só a percepção do Deus que age nos acontecimentos bons ou ruins, como também a própria capacidade de um compromisso maior ("do homem que não tem, será tirado até o pouco que tem", v. 12b). 14. Os vv. 14-15 citam Is 6,9-10 e confirmam o que foi dito até agora. Quem não adere a Jesus e sua prática se torna insen- sível, porque não tem o senso das coisas que tem Jesus. Essa in- sensibilidade no ouvir, ver e compreender tem sua raiz mais profunda na insensibilidade do coração, sede das opções de vida. Ao endurecimento do coração (= rejeição de Jesus) segue- se o fechar os olhos e ouvidos, culminando na incompreensão. Só uma grande sensibilidade em relação à prática de Jesus será capaz de reverter esse processo de rejeição. E essa sensibilidade não descarta a possibilidade do risco e do fracasso. 15. O v. 16 proclama a bem-aventurança dos que, desde agora, vêem e entendem, ou seja, fizeram o discernimento e superaram a crise, o risco e o fracasso. Estes são mais felizes do que os profetas e justos que ansiaram por este momento (v. 17). Profe- tas e justos são duas dimensões do povo de Deus, e ambas fa- zem pensar num único tema: a justiça. De fato, a busca da justi- ça foi a mais importante causa dos profetas. Em Jesus essa cau- sa chegou ao ponto mais alto. E são felizes os que, descobrindo nele a realização do projeto do Pai, se comprometem fielmente com a causa da justiça. c. Compreender a Palavra nos conflitos (vv. 18-23) 16. A explicação da parábola desloca a atenção da semente para o tipo de terreno. Com grande probabilidade, essa explica- ção é uma adaptação pastoral da parábola à crise das comunida- des siro-palestinenses, ameaçadas de desânimo. Se até agora o foco de atenção se concentrava nos conflitos externos às comu- nidades, a partir daqui procura-se olhar para dentro. Em outras palavras, Mateus pergunta às comunidades: "E vocês, como acolhem a Palavra de Jesus? Será que vocês ainda mantêm seu compromisso com a justiça do Reino? Que tipo de terreno são vocês? Quais os obstáculos que vocês põem à Palavra?" 17. O primeiro obstáculo é a superficialidade ou a insensibili- dade (estrada de chão batido, onde a semente não nasce). A op- ção por Jesus não foi suficientemente forte a ponto de "amole- cer" a insensibilidade; não atingiu a profundidade, ficou só na superfície. O Maligno rouba e leva embora (v. 19). 18. O segundo obstáculo são as perseguições (vv. 20-21). Di- ante delas surge facilmente o desânimo. Não se trata, todavia, de qualquer tipo de perseguição. São as perseguições "por cau- sa da Palavra". É o testemunho que provoca conflito e rejeição, exatamente como aconteceu com Jesus. 19. O terceiro obstáculo é caracterizado como "as preocupa- ções do mundo e a ilusão da riqueza" (v. 22). Isso denota que o cristão vive num contexto concreto: em meio a estruturas políti- cas e econômicas que fascinam e seduzem. Elas têm poder de anestesiar (sufocar), de tornar estéril e ineficaz o poder da Pala- vra. 20. O tipo de cristão ideal é identificado com o terreno bom (v. 23). Ele compreende a Palavra; e porque assim age é terra boa. É a única alternativa para o ser cristão. Será que ele compreen- de a Palavra porque é bom terreno, ou é bom terreno enquanto vai compreendendo a Palavra e a faz frutificar? Cuidado, por- tanto, para não cair no determinismo. Devemos ser bons para acolher a Palavra, ou começamos a ser bons quando a acolhe- mos e a pomos em prática? 2ª leitura (Rm 8,18-23): Rumo ao mundo novo 21. O capítulo 8 de Romanos explica o que é a vida no Espíri- to. Para isso, Paulo apresenta os dois princípios que orientam a vida do cristão: o Espírito que comunica a vida (vv. 1-13) e o fato de sermos filhos de Deus (vv. 14-30). Os versículos da lei- tura de hoje pertencem ao segundo princípio orientador da vida do cristão. 22. Paulo corrige uma distorção de forte impacto sobre a co- munidade. Eles se deixavam guiar pela idéia de que somos to- dos devedores do fatalismo, vítimas do destino. Paulo afirma que, por causa da morte-ressurreição de Jesus e da efusão do Espírito Santo, todos poderão ter acesso ao projeto de Deus, que é liberdade e vida. Não somos, portanto, escravos do fata- lismo. Desde já possuímos os primeiros frutos do Espírito (v. 23a). Abre-se, pois, para os cristãos, uma perspectiva nova: a da vida no Espírito de Jesus, que levará à plenitude a sua obra. 23. Mas os cristãos de Roma viviam tempos de crise e sofri- mento. E se perguntavam: Se Jesus é o Salvador, por que temos de sofrer? Por que a libertação não se concretiza para nós? Pau- lo lhes mostra que ser cristão é viver em tensão para o futuro da humanidade e do universo em Deus. Essa tensão se manifesta agora, nos sofrimentos da comunidade, como anseio de liberta- ção (v. 18). Manifesta-se também na própria criação, que aguar- da a revelação dos filhos de Deus (v. 19). 24. A tensão para o mundo novo, para o projeto de Deus, é descrita por Paulo com a imagem do parto. A criação e os filhos de Deus sentem constantemente as dores do parto. A natureza e a humanidade estão envolvidas nesse processo de dar à luz o mundo novo, o projeto de Deus. Portanto, pensa Paulo, o sofri- mento presente não é estéril quando entendido como parto do mundo novo. A filiação divina e a vida no Espírito não dispen- sam o cristão de viver em contínua tensão pela vida, pela trans- formação e libertação definitivas; pelo contrário, ser filho de Deus e possuir os primeiros frutos do Espírito é gerar e dar à luz constantemente o mundo novo. 25. O que possuímos desde já são as primícias (primeiros fru- tos) do Espírito. Essas primícias prometem boa colheita e ga- rantem que os frutos do Espírito são da melhor qualidade. Con- tudo, não se chega lá sem esforço, nem o Espírito gera o mundo novo sem a nossa participação. A libertação dos filhos de Deus passa pelo esforço (dores de parto) dos que lutam por um mun- do novo e libertado. III. PISTAS PARA REFLEXÃO 26. A Palavra é fonte de vida e libertação. Por ser Palavra de Deus, tem força para fazer pessoas e comu- nidades saírem de todas as formas de escravidão e exílio, conduzindo à liberdade e vida (1ª leitura/; Is 55,10-11). 27. A Palavra gera conflitos porque revela a prática de Jesus, que fala libertando. A Palavra provoca confrontos: os que não são a favor da vida para todos a rejeitam, sufocam e tentam eliminar os que amam e vivem a Palavra (evangelho/; Mt 13,1-23).