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Educação financeira: um estilo de vida
Conrado Navarro
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Menu_______________________________________________ 2
Introdução___________________________________________ 3
Afinal de contas, educação financeira faz diferença?_ _____________ 3
A desinformação piora o cenário._ ____________________________ 4
Adote a educação financeira!_________________________________ 5
Por que o futuro é tão importante?________________________ 7
Se o futuro não existe, como planejá-lo?_______________________ 7
Futuro quer dizer tempo. Para o dinheiro, tempo é tudo!___________ 8
Qualidade de vida?_ _______________________________________ 8
Qual dos dois tem mais futuro?_______________________________ 9
É possível conciliar tempo, dinheiro e família?______________ 11
O desafio de viver!_ ______________________________________ 11
Trabalhar demais é bom?_ _________________________________ 12
Utopia?_ _______________________________________________ 14
O consumo, o crédito e nossas decisões___________________ 15
Comprar é como uma droga________________________________ 16
Aprendendo com o passado para acertar o futuro_ ______________ 16
Qualquer um pode alcançar a independência financeira_______ 18
O responsável é você!_____________________________________ 18
Prioridades e sangue frio na negociação_______________________ 19
Confiança e planejamento para chegar lá______________________ 20
Sim, você pode!__________________________________________ 20
Há relação entre riqueza e qualidade de vida?______________ 22
Alguns exemplos_________________________________________ 23
Educação financeira, dinheiro, negociação e descontos_______ 25
A relação entre você, seu gerente bancário e o banco_________ 28
Interesse e informação____________________________________ 28
Quando você é cliente, não é amigo!_ ________________________ 30
Cartão de crédito: verdades, vantagens e armadilhas_________ 31
Cartão de crédito vale a pena?______________________________ 31
Cartão de crédito, uma ferramenta___________________________ 32
Exemplos rápidos_________________________________________ 33
Como não parar para rever nossas decisões diante de números e casos
como esses?_ ___________________________________________ 34
A verdadeira face dos títulos de capitalização_______________ 35
Aprendendo com um exemplo_______________________________ 36
Que detalhes são esses?___________________________________ 36
Tem mais: a carência______________________________________ 38
Mas e a chance de ganhar uma “bolada”?______________________ 38
Será que todos podem ter um carro? Não!_________________ 40
Onde focar?_____________________________________________ 41
Uma visão de negócio_____________________________________ 41
Mas a vida não é assim____________________________________ 41
Comprar é o mais fácil. E depois?____________________________ 42
Investimento, uma questão de expectativa_________________ 44
Quando o melhor investimento é guardar dinheiro___________ 47
Investir? Onde? Quanto?___________________________________ 48
Prioridades de vida_ ______________________________________ 49
Guardar dinheiro é fácil____________________________________ 49
Princípios e atitudes do investidor inteligente_______________ 51
Equilíbrio... Mas, e se?_____________________________________ 51
Todos podemos ser investidores inteligentes_ __________________ 54
Objetivos, disciplina e o poder dos investimentos____________ 55
Guardar dinheiro_________________________________________ 55
Concentre-se primeiro nas perguntas relacionadas ao seu objetivo__ 56
O investimento que você precisa_____________________________ 56
Como escolher uma corretora para investir em ações?________ 58
Analisando as possibilidades________________________________ 59
Recomendações adicionais_ ________________________________ 60
Guia de corretoras de ações________________________________ 60
Custos e aplicação mínima_ ________________________________ 60
Ferramentas adicionais____________________________________ 61
Principais erros do investidor iniciante em ações____________ 62
Investimento sustentável através do mercado de ações_______ 64
Por que optar pela bolsa de valores?__________________________ 64
Sustentabilidade no mercado de capitais_ _____________________ 65
ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial___________________ 65
Como investir e comprar ouro sem ter muito dinheiro________ 68
Por que comprar ouro?_ ___________________________________ 68
É possível comprar ouro com pouco dinheiro?_ _________________ 69
Quais os riscos relacionados ao ouro?_________________________ 70
Padrão de vida na aposentadoria: sobrevivência ou qualidade de
vida?______________________________________________ 71
E no Brasil?_____________________________________________ 72
A prática é uma aposentadoria longe da ideal___________________ 72
Sobre o autor________________________________________ 74
Sobre este livro______________________________________ 75
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
vida
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Introdução
Uma pergunta frequentemente assola meu sono: por que será que, mesmo tão
presente, o dinheiro ainda é um assunto rodeado de tabus, constantemente dominado
por discussões vazias, moralistas e, embora reconhecido como fator preponderante
para a felicidade e o sucesso familiar, tão mal administrado? A resposta óbvia é que é
muito mais fácil (e prazeroso) gastar a poupar. A resposta mais precisa, no entanto,
talvez envolva questões mais abrangentes.
Afinal de contas, educação financeira faz diferença?
Depois de alguns anos trabalhando fortemente esta questão, é meu dever afirmar
categoricamente: SIM! Educação financeira faz muita diferença. O que nem sempre
está claro para os consumidores é que não se trata de trabalhar apenas o aspecto
financeiro, caracterizado por números, planilhas e contas. É fato que a maioria
gasta mais do que ganha e não tem controle adequado. A comprovação surge
através de pesquisas específicas e números constantemente divulgados pela mídia
especializada. Veja, por exemplo, estes números de uma recente pesquisa realizada
pela TeleCheque:
64,22% dos entrevistados apontaram o descontrole financeiro como a principal causa
para sua inadimplência;
6,61% apontaram o ato de emprestar o nome como razão principal para o
endividamento excessivo;
3,34% afirmam estar em problemas por conta de erros dos bancos;
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
vida
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2,98% têm no desemprego a questão crucial para o excesso de dívidas.
Outros indicadores podem ser visualizados em matéria do portal InfoMoney que traz
os resultados desta pesquisa. A boa notícia, embora ela não possa ser comemorada,
é que o brasileiro já reconhece que a culpa não é do sistema, mas de suas atitudes e
decisões cotidianas em relação ao dinheiro. Assumir a responsabilidade é o primeiro
passo, ótimo, mas como seguir em frente sem cair nas garras do apelo de inclusão
social causado pelo exercício de possuir e demonstrar posses?
A insistência de nosso trabalho nos aspectos humano, familiar e relacionado ao
trabalho tem como objetivo despertar nos brasileiros motivos suficientemente fortes
para que eles se abram para mudanças de hábito e comportamento - que, claro,
trazem consigo a aplicação e manutenção de ferramentas de apoio (orçamento,
simuladores, planilhas, livros etc.). O problema não está no desejo de padrão de vida,
mas no parâmetro pessoal e emocional que o leva a querer distinção.
A desinformação piora o cenário.
Soma-se ao aspecto pessoal o parco acesso a informações confiáveis, porém
traduzidas e acessíveis, e o desinteresse pela mudança torna-se perigoso. Mudar, no
sentido do planejamento, não parece opção, uma vez que envolve atributos e atitudes
pessoais poucos valorizados, como objetivos definidos, leitura, disciplina, tolerância à
frustração e autoestima. Pois é, o desafio é gigantesco.
Você sabia, por exemplo, que 82% dos brasileiros não sabem a taxa de juros dos
empréstimos que tomam? Ou que 87% das famílias brasileiras não poupam para o
futuro? As informações fazem parte de uma pesquisa sobre o tema realizada em 2007
pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Interessa mencionar que muitas famílias
têm apenas o suficiente para a subsistência, mas é impossível não notar a migração
de classes e o crescente aumento do poder de compra de nossa população.
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
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Adote a educação financeira!
Se o trabalho e o destino nos reservam dias melhores, neles temos que projetar
nossos sonhos e ambições. Lamentar o que passou, justificar o que não se verificou
e apenas creditar ao acaso certas realizações só servem ao propósito cômodo
de sustentar desculpas. Cumprir com os anseios futuros, no entanto, requer
que a atenção seja dada ao momento presente, todos os dias, de forma intensa
e inspiradora. Patrimônio e riqueza não podem ser comprados, só podem ser
construídos.
Ora, se você (como muitos brasileiros) sabe que sua situação financeira não
é confortável e que se encontra assim por falta de controle, pare de adiar a
responsabilidade de rever seus objetivos e conceitos em relação ao dinheiro ou de
colocar a culpa na falta de tempo - a procrastinação é o elemento chave que sustenta
a zona de conforto.
Experimente ousar mais no trabalho;
Tente aproveitar parte do seu tempo livre para ler mais;
Procure mais informações sobre os pontos fracos de seu planejamento;
Experimente ser voluntário em sua comunidade ou entre amigos que precisam de
atenção. Só assim será possível compreender como o fator humano é essencial nas
relações com todo e qualquer assunto.
Educação financeira é muito mais que baixar uma planilha ou anotar seus gastos. É
ver nestas e em outras atitudes uma porta para a liberdade, para a criação de riquezas
pessoais (familiares, espirituais, profissionais e materiais) e qualidade de vida. Porque,
muito ou pouco, dinheiro todo mundo tem. A diferença está no que ele representa
para você e sua família. Educação financeira é, em essência, parte de um estilo de
vida. Porque dinheiro é bom e todo mundo gosta, mas nem todos são convincentes em
explicar o porquê.
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
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Que esse livro seja bastante útil e importante para seu desenvolvimento pessoal e
profissional. Meu objetivo é oferecer a chance de incluir o dinheiro, como ferramenta e
assunto, em seu dia-a-dia. Aproveite a leitura e entre em contato comigo.
Conrado Navarro
www.dinheirama.com
www.twitter.com/Dinheirama
www.twitter.com/Navarro
Educação financeira: um estilo de
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Educação financeira: um estilo de
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Por que o futuro é tão importante?
Aqui neste livro, no seu site preferido de finanças pessoais, na revista especializada
ou no portal de uma consultoria financeira, não importa, há uma mensagem
sempre marcante quando o planejamento financeiro pauta a discussão: tomar
decisões pensando no futuro, também chamado de longo prazo, é parte essencial
de uma estratégia eficiente de formação de patrimônio e construção de uma vida
mais tranquila. É consenso entre os amantes do tema, mas não entre a maioria da
população.
Se o futuro não existe, como planejá-lo?
Expressões como “O futuro a Deus pertence”, “Viva a vida no presente, único
momento possível”, ambas oriundas da sabedoria popular e “No longo prazo todos
estaremos mortos”, do famoso economista Maynard Keynes, para ficar em poucas
variantes, têm lugar garantido na agenda romântica de justificativas da grande parcela
da população que não gerencia seus recursos (financeiros, morais, profissionais etc.).
O paradoxo torna-se mais interessante quando passamos a observar o futuro como
uma consequência do presente. Não se trata de filosofia ou autoajuda, mas de uma
constatação simples: o futuro inexiste, é fato, mas só existe se, no presente (hoje),
criarmos condições para tal. É mais ou menos assim: o amanhã pode não existir,
é futuro, incerto, mas se ele acontecer, precisarei ter saldo suficiente para pagar o
cartão de crédito e o plano de saúde.
Não é tão simples. Se o problema fosse apenas nossa visão de futuro, talvez as
oportunidades de mudança fossem mais nítidas. Há a questão cultural, carregada com
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
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o peso de anos de instabilidade econômica, política e social. Porque por muito tempo
fomos manipulados, sendo obrigados a viver sob regimes autoritários, fechados e com
pífia administração para o longo prazo. A inflação, por exemplo, arruinava qualquer
desejo de planejamento.
Futuro quer dizer tempo. Para o dinheiro, tempo é tudo!
Enxergar o futuro quando estamos endividados é horrível. Dói. As contas vão
vencer, nossos nomes serão protestados ou colocados nas famosas listas de maus
pagadores. E, ao optar por não pagar o que devemos, a dívida cresce - muitas vezes
de forma incrivelmente rápida. E ao final de um, dois, cinco anos, devemos quantias
inacreditáveis. Mas devemos! Só então nos damos conta de que o futuro existe e
agora é presente. Muito presente. O futuro é ali na frente, mas depende do aqui,
agora. Filosofia básica de bar.
Felizmente, a sociedade já se prepara para viver e incentivar iniciativas sérias de
educação financeira, capazes de fazer refletir até mesmo as famílias mais humildes,
dotadas das mais diversas razões para ignorar a chance de um amanhã melhor.
Acreditar que é possível mudar o futuro, que não tem nada a ver com destino, deve
ser o primeiro passo.
Ora, quem constrói patrimônio através de um fluxo de caixa confortável, equilibrado
e que destina somas relevantes para os investimentos sabe que o poder dos juros
compostos, prática da matemática financeira que faz crescer montantes aplicados
(lado bom) ou emprestados (lado triste), é muito maior quando o tempo é usado com
sabedoria. Pequenos aportes, por muito tempo, trazem boa fortuna e qualidade de
vida.
Qualidade de vida?
Sim, pois quem aprende a poupar e investir desde cedo, aceitando que o futuro não
é apenas a certeza da morte, destina pequenos valores para os projetos de médio
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e longo prazo, podendo usar boa parte das receitas do presente para aproveitar
melhor o agora. Um outro grupo, tido como modelo de comportamento, prefere viver
“intensamente” e gasta tudo e ainda toma dinheiro emprestado. Quer ver na prática?
Formado, com seus 20 e poucos anos, o sujeito começa a trabalhar e, com a família,
estabelece algumas metas pessoais e profissionais. Então destina, todo mês, uma
quantia pequena, mas razoável, para a previdência complementar (para os 60+ anos),
para a compra do carro e entrada em uma casa própria dali 10 anos. Com estes planos
em mente, e dado o horizonte de tempo à sua frente, ele destina cerca de 30% de
suas receitas para seus sonhos. Ele investe e usa o tempo. Com o restante do que
ganha, pode fazer muita coisa. E faz;
Formado, com seus 20 e poucos anos, o sujeito tem que começar a trabalhar em
qualquer emprego porque precisa arcar com parcelas atrasadas de um carro financiado
quando ainda era universitário. Os pais pagavam uma parte e ele outra. De vez em
quando exagerava e os pais cobriam tudo ou deixavam uma ou outra parcela para
trás. Ele faz questão de ter os itens de consumo da moda, mas porque o observam
por isso e não por necessidade, e a única opção de construir patrimônio que vislumbra
é através de financiamentos. Na prática, ele não faz quase nada do que realmente
gostaria.
Qual dos dois tem mais futuro?
“Depende”. Depende das circunstâncias, depende do perfil de cada um, depende
da profissão, de seu relacionamento, disso, daquilo. “Depende” é uma resposta que
sempre funciona, especialmente quando falta coragem para assimilar certas verdades.
Então tá. Um crê no futuro como fruto de seus atos, outro crê no presente como saída
para todos os seus problemas - o que, essencialmente, cria mais problemas. Situações
assim são comuns, estão por toda parte. Infelizmente.
Ah, o futuro... Não pretendo convencê-lo de que o futuro só será mais rico,
confortante e melhor desfrutado se você se planejar. Prefiro apenas despertar em
Educação financeira: um estilo de
vida
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você o desejo de questionar-se acerca dos dias e anos que virão e suas aspirações e
motivações para mudar o presente de alguma forma. Tudo porque esses dias alguém
me perguntou: “Mas Navarro, por que o futuro é tão importante?”. Minha resposta,
óbvia como quase tudo que escrevo, foi: “Porque ele chega! Rápido!”.
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vida
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É possível conciliar tempo, dinheiro e família?
Rápido. Tudo tem acontecido muito rápido e as mudanças impostas pelas invisíveis leis
do alto desempenho recaem cada vez mais intensas sob os ombros de muitas famílias.
Participar dos momentos familiares, educar os filhos para a cidadania, praticar
exercícios, sustentar hábitos saudáveis, destacar-se no trabalho e ainda manter uma
vida social satisfatória parecem atividades impossíveis de serem realizadas de forma
complementar. Para muitos, são mesmo.
A verdade é que ninguém gostaria que fosse assim, mas, ao mesmo tempo, poucos
desligam o piloto automático por alguns instantes e se concentram em avaliar sua
situação pessoal e profissional de forma séria, determinante. Prioridade. Esta é a
palavra-chave ignorada por muitos e que gera infindáveis discussões a respeito de
carreira, dinheiro e prosperidade. Tais debates, sempre desgastantes, trazem a você
meu desabafo.
Afinal de contas, é de se esperar que alguém equilibrado, coerente, afirme que sua
prioridade é a qualidade de vida, a família e seus filhos. Não é. Estes são, cada vez
mais, apenas pretextos para desafios profissionais cada vez maiores, mais complicados
e exigentes. Está claro que trabalhar é mais do que uma opção, é um estilo de vida e
uma necessidade. Trabalhar demais, no entanto, é uma escolha.
O desafio de viver!
Confesso que abordar este assunto gera certo desconforto. Tudo porque temos como
modelo de sucesso empreendedores, profissionais e celebridades viciadas em trabalho,
com famílias destroçadas, pouquíssimos amigos e muito pouco tempo de lazer.
Educação financeira: um estilo de
vida
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Também porque certas famílias evitam tratar de tais problemas, o que significaria
mexer na sua zona de conforto.
Na era da comunicação, que ironia, presenciamos cada vez mais casamentos
“remotos”. O marido aqui, a esposa e os filhos lá e um fim de semana para os
momentos familiares. Alguns casais amigos meus afirmam, categoricamente, que o
relacionamento só funciona com a semana os separando - ou, do contrário, a saudade
seria menor e as discussões maiores e mais perigosas. E o número de separações/
divórcios, que só tem aumentado? Que modelo de família queremos construir?
Queremos construir família?
Trabalhar demais é bom?
Na raiz da questão está o cada vez mais pesado fardo do trabalho. Fardo? Pois é,
muitos brasileiros têm no trabalho sua fonte de renda para o consumo e realização de
desejos. O dinheiro decorrente do trabalho serve, na maioria dos casos, para comprar,
gastar e envolver-se na aparente sensação de liberdade e independência.
O resultado é que trabalha-se cada vez mais, com a certeza de que assim a família
terá melhores oportunidades, mais felicidade e condições de prosperar como conjunto.
E os pais dedicam-se ao trabalho durante 10, 12, 14 horas com esse nobre objetivo.
Está na moda ser viciado em trabalho, ser workaholic. Aliás, parece que não está na
moda ser “preguiçoso” segundo a visão do escritor Eduardo Cupaiolo. Certo dia, os
viciados descobrem que o filho cresceu, não os respeita como gostariam e que os
planos foram dando lugar aos gestos consumistas.
Mas a justificativa está na ponta da língua: “Se não for assim, me mandam embora
e contratam outro”, “Sem todo esse esforço, nossos concorrentes vão ter mais
destaque”, “Minha família compreende esses sacrifícios porque sabe que faço isso
para que possamos ter mais qualidade de vida”, “Só cresce na empresa quem
trabalha muito e se dedica aos jogos corporativos” e por ai vai. Você e eu poderíamos
Educação financeira: um estilo de
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preencher todo este espaço com desculpas deste tipo. Sugiro que faça uma reflexão a
partir das perguntas:
Você fica mais excitado com o seu trabalho do que ao lado de sua família e com os
momentos ao lado de amigos?
Leva trabalho para casa? Para a cama? E nos finais de semana?
Sua família ou amigos desistem de esperá-lo quando sabem que você está vindo do
trabalho?
Você fica impaciente e é pouco compreensivo com pessoas que tem outras prioridades
além do trabalho? Como é para você ouvir “As 17h não posso me reunir porque
preciso sair para fazer meu treino de corrida”?
Você fica irritado quando alguém pede para você trabalhar menos ou deixar de
trabalhar por alguns instantes?
Você trabalha ou lê durante refeições?
Qual o legado deixado?
Depois de muito trabalhar e se sacrificar, resta aceitar, já na hora de se aposentar
ou durante a terceira idade, que a vida passou rápido e que o “possível” foi feito. O
possível, que é bem diferente do importante, do relevante. O resto fica como puro
desejo. Desejo de ter economizado e investido para ter mais durante a aposentadoria,
de ter trabalhado menos para passar mais tempo com a família ou de ter praticado
exercícios para minimizar os problemas de saúde, para ficar em poucos exemplos.
Tudo isso já foi possível, mas não era relevante. Prioridade, lembra?
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
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Utopia?
Eu passei por tudo isso. Cheguei a achar que passar por privações, experiências
amargas de trabalho, ambientes corporativos recheados de tirania e problemas
de saúde eram passos obrigatórios para uma vida plena, com dinheiro em caixa e
possibilidades de realização pessoal/profissional. Fui na onda e acabei literalmente
destruído. Depois percebi que nada disso é necessário para quem quer viver sua vida
dentro dos limites do bom senso. De verdade.
Sem nenhuma vergonha, deixo aqui meu testemunho: morei cerca de 6 anos em São
Paulo, de onde viajava de quatro a cinco dias por semana. Lá, começava a trabalhar às
8h e voltava depois de 20h para casa. Então tive um colapso no trabalho e problemas
sérios de saúde. Meu casamento ruiu e veio a separação. Para alguns, eu tinha tudo
(carreira promissora, reconhecimento, emprego, isso e aquilo). Na verdade, eu não
tinha nada.
Então voltei para o sul de Minas, onde hoje programo minha agenda para no máximo
dois dias fora de casa, acordo às 8h e trabalho das 9h às 17h, corro 50 km por
semana e tenho uma alimentação balanceada. Finalmente estou vivo. Tenho tempo
para manias, família, amor, livros, amigos, viagens e o que mais você imaginar.
Como vê, não sou demagogo. Babaquice por babaquice, prefiro a visão piegas de
gente comum que encontra, na vida simples, inúmeras razões para ser feliz. Essa
coisa de sucesso a qualquer custo, trabalho escravo e dedicação total ao trabalho pode
torná-lo alguém muito influente, até rico e com muito patrimônio, está certo! Mas não
inveje minha qualidade de vida e sossego. Prioridade, de novo, lembra? Uai…
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O consumo, o crédito e nossas decisões
O texto de hoje é mais um daqueles óbvios, que trata de uma verdade que você
já conhece, mas talvez ignore: o sucesso financeiro é alcançado através de muita
dedicação e construído todos os dias através de estudo, foco e comprometimento para
com seus objetivos e metas. O insucesso financeiro, por outro lado, é resultado da
soma de diversos fatores que nos levam a realizar escolhas erradas e certamente uma
consequência da falta de interesse.
Errar não é o problema, cabe frisar. Triste é notar que muitos erram e não enumeram,
aceitam e compreendem dali lições para o futuro. O erro propriamente dito não é o
principal responsável pelo insucesso. O descuido com o aprendizado, sim.
Vivemos atualmente em um Brasil de oportunidades. Certo, mas elas não estão
à disposição como em uma prateleira de supermercado. Ora, é preciso arregaçar
as mangas e partir para a luta. Essa nova realidade, com estabilidade econômica
e inflação sob controle, precisa ser amplamente discutida, pois grande parte da
população ainda não se acostumou a lidar com essa nova vida e com as características
de um país em crescimento.
Nesse contexto, um erro muito comum e que passa despercebido no dia-a-dia de
muitas famílias é justamente a forma como lidamos com o crédito, o dinheiro dos
outros que usamos para consumir e adquirir bens. Será que recorrer a ele para
consumir sem planejamento e sem ter dinheiro é uma atitude inteligente?
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
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Comprar é como uma droga
Segunda uma pesquisa recente, o prazer de comprar pode ser comparado ao prazer
que viciados sentem ao consumir drogas. A sensação de poder adquirir aquele bem é
indescritível e faz bem ao ego, mas muitas vezes faz (muito) mal ao bolso - e depois à
família, ao ego e à autoestima. Mas, naquele momento, com o crédito disponível, não
“saiu” dinheiro da conta, e o prazer se tornou maior ainda.
No entanto, toda a ilusão é desfeita no dia em que a fatura chega ou quando o cheque
pré-datado bate na conta (e volta). Porque a conta vai chegar e com ela a negação de
que o responsável pela compra sejamos nós e que o problema financeiro exista. Ao
óbvio, de novo: crédito não é dinheiro grátis. Muito pelo contrário, os juros são muito
altos - embora não possamos considerá-los desonestos, já que concordamos em pagá-
los.
Depois do erro cometido por conta da falta de planejamento, o comum é culpar a
ferramenta de crédito e a facilidade na obtenção do dinheiro emprestado. Costumo
dizer que temos a tendência de culpar o sistema. Falta olhar o próprio umbigo e
admitir que o culpado é quem fez a compra, gastando o que não tinha e não podia.
Aprendendo com o passado para acertar o futuro
A razão para alguns erros na gestão do dinheiro está também em nosso passado.
Quando crianças, observávamos atentamente nossos pais cometerem os mesmo
erros, péssimas escolhas e dando pouco incentivo pela educação de uma forma geral.
Quando o assunto era dinheiro, pior ainda! Pouco se falava, e ainda se fala, nas
famílias e os exemplos são quase sempre negativos.
Como será que um adolescente vai lidar com as finanças se os pais são, via de regra,
endividados e sem metas para o futuro? A tendência é a perpetuação dos problemas.
No começo do artigo chamei a atenção para a forma como lidamos com os erros.
Assim, quando aproveitamos a experiência para tomar decisões mais acertadas no
Educação financeira: um estilo de
vida
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futuro, ótimo. Muito cuidado, porque dinheiro não aceita desaforo e o crédito nesse
caso pode ser uma corda que mais cedo ou mais tarde vai lhe apertar o pescoço.
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Qualquer um pode alcançar a independência
financeira
Sempre que exaltamos o planejamento financeiro como instrumento indispensável
para que as pessoas consigam atingir a independência financeira, muitas pessoas
entram em contato para dizer que é muito fácil falar em planejamento para quem
possui as contas e a vida financeira em dia. Argumentam que, para as pessoas
endividadas e descontroladas, a independência financeira é uma meta muito mais
difícil, senão impossível.
De fato, milhares de pessoas no Brasil passam pela realidade do descontrole
financeiro. Pensando e mirando apenas a satisfação imediata, a grande maioria mete
os pés pelas mãos e nem percebe que pode estar entrando no arenoso terreno das
dívidas, da procrastinação. Desnecessário dizer que poucos avaliam que, para sair
desta situação, será necessário um grande esforço. É neste momento que muitos
preferem justificar, criar desculpas.
O responsável é você!
Se você está nessa situação, o mais sensato a fazer é encarar a situação e analisar
onde está o erro. Admitir que os responsáveis pelo erro não são somente os juros
exorbitantes dos produtos financeiros, nem o cartão de crédito – que estava ali
“pedindo para ser usado“ – e nem mesmo a mídia (competente) que colocou em sua
cabeça que esse era o momento certo para se endividar e comprar algo.
Educação financeira: um estilo de
vida
Educação financeira: um estilo de
vida
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Não, o primeiro e principal passo é assumir, aceitar, que o grande responsável pela
situação é você! Você decidiu entrar nesse poço, seja porque deu de ombros aos
parâmetros envolvidos na negociação ou porque simplesmente afogou-se em produtos
sem sequer considerar sua real capacidade de pagá-los.
A hora é de ser adulto, gente grande. Deixe as desculpas e o “blábláblá” de lado e
tenha atitude! Por pior que seja a verdade, o passo crucial é descobrir o tamanho
do buraco. Faça um levantamento detalhado de suas dívidas, levantando os valores
devidos, quem são os credores, as taxas usadas nas correções etc. Faça um dossiê e
tenha sempre tudo anotado.
De posse desse levantamento, vamos discutir as possibilidades para sair dessa
incômoda situação de uma vez por todas. Você deve ter em mente que a
independência financeira só é possível quando não sustentamos dívidas que
prejudiquem nosso fluxo de caixa e o potencial de investimentos. Cabe ressaltar
também que todo controle deve ser feito com base em sua renda, em seu padrão de
vida.
Prioridades e sangue frio na negociação
Vamos eleger prioridades! Aquelas contas que são mais antigas e com juros maiores
merecem um pouco mais de cuidado e devem ser definidas como ponto de partida
dessa verdadeira operação de guerra. Guerra contra as dívidas. Nesse momento, não
adianta dar um passo maior do que a perna. Traduzindo, existem despesas mensais
que não podem ser desprezadas, como as contas de luz, água, aluguel, entre outras.
Ah, outro compromisso importante que deve já ser considerado é o investimento
no futuro. Ainda que esteja super apertado(a), experimente separar um percentual,
mesmo que simbólico, para o grande sonho de ser independente financeiramente.
Sinta o poder de guardar com um propósito, de adiar uma decisão de consumo porque
seu objetivo maior é mais valioso. Valorize este momento ao lado de sua família.
Educação financeira: um estilo de
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Confiança e planejamento para chegar lá
Durante a negociação, é importante buscar alternativas para as dívidas. Um bom
exemplo é a troca de dívidas de juros maiores por outras de menores juros. Trocar os
juros do cartão de crédito por empréstimos pessoais, como o crédito consignado, pode
ser uma ótima saída. Como? Você pega o dinheiro emprestado considerando os juros
menores, negocia uma parcela que caiba no seu orçamento e usa o montante para
quitar o saldo devedor do cartão. E para de usá-lo.
É bom lembrar que o credor tem todo o interesse em receber o valor atrasado. Assim,
seja paciente em algumas oportunidades, anote tudo e não dê uma resposta imediata.
Coloque tudo no papel e, antes de assinar qualquer acordo, veja se ele é realmente
interessante para o seu bolso, se o valor das parcelas esta dentro do planejado. Afinal,
não é hora de dar outro passo maior que a perna, certo?
Ameaças, tentações e opiniões confusas (muitas vezes ignorantes) de amigos
e familiares podem surgir. Tenha a serenidade necessária para não deixar o seu
planejamento ruir. Mantenha-se firme no propósito de reverter o quadro e passar de
devedor a poupador.
Sim, você pode!
Como pode ver, as coisas não são tão difíceis assim. Tudo depende de sua capacidade
de tomar a frente da situação e não delegar essa responsabilidade para outros. Tenha
em mente que, quando se trata de endividamento, você deve resolver o problema
e então se preparar para não cair outra vez na mesma cilada. Você! Tudo começa e
termina com você! Você!
Seja mais persistente e menos suscetível a toda e qualquer frustração. Busque
inspiração em cursos, livros, sites e desenvolva o hábito de planejar suas futuras
aquisições. Comece de uma forma simples e inteligente: experimente comprar sempre
à vista e com desconto. Faça o teste. Seu futuro será muito melhor e você poderá
Educação financeira: um estilo de
vida
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ajudar seus amigos e familiares que passam pelas mesmas dificuldades que você já
começou e decidiu superar.
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Há relação entre riqueza e qualidade de vida?
Não adianta, quase sempre a brincadeira com alguém que trabalha com finanças
passa pela pergunta “Você já ficou rico?” e termina com “Porque, veja, para ensinar
as pessoas a ganhar dinheiro você tem que ter chegado lá”. O raciocínio é válido, tem
fundamento, mas é simplista, para não dizer leviano e superficial.
Ensinar a ganhar dinheiro? Rico? Aproveite que o texto ainda está em seu começo
e reflita: são apenas essas as métricas que motivam você a procurar informações,
textos e material relacionado aos investimentos e às finanças pessoais? Então a única
razão para lidar bem com seu cotidiano financeiro é ficar rico e ter muito dinheiro?
Sem dúvida, muitos dirão “SIM” de forma bastante efusiva. Normal. Mas eu prefiro
sempre abordar o tema com mais cuidado, ainda que de forma provocativa:
Como fica a qualidade de vida e o bem estar quando só se pensa em enriquecer,
comprar isso e aquilo e estar sempre na última moda?
Ter tudo e não ter tempo para usufruir de tanta coisa é qualidade de vida?
Impressionar através de bens materiais é viver o bem estar em sua melhor forma?
Como de costume, tenho muito mais perguntas que respostas. Experimente questionar
certas atitudes automatizadas de seu dia a dia e garanto que vai se impressionar com
o quão pouco você valoriza sua real capacidade de desfrutar de momentos felizes,
simples e descomplicados. Felicidade nos pequenos detalhes, já viu? Temos o péssimo
hábito de complicar o que é bom para temperar ainda mais a sensação de realização.
Surreal.
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Em geral, noto famílias vivendo momentos terríveis, mas sempre com a justificativa
de que tudo é para garantir qualidade de vida no lar. Logo, começo a desconfiar que
a definição de qualidade de vida esteja deturpada ou erroneamente interpretada por
grande parte da população. Começo com você, caro leitor: o que você considera ser
qualidade de vida?
Alguns exemplos
Imagine aquele profissional que trabalha demais, que está sempre correndo contra
o tempo para dar conta de seus afazeres, que tem muitos compromissos e julga
impossível ter tempo para praticar exercícios. Seu salário é alto, as recompensas
financeiras são generosas e ele é tido como grande modelo de sucesso profissional.
Você certamente conhece alguém assim.
Agora pense no profissional que trabalha em uma cidade menor, mais tranquila,
onde naturalmente seus horários são mais flexíveis, seus benefícios extra-salário são
relacionados também ao tempo livre e de forma que ele consiga praticar seus hobbies,
passar mais tempo com a família e cultivar suas manias. Já usei meu exemplo pessoal
algumas páginas atrás.
Quem tem mais qualidade de vida? A resposta está na ponta da língua, não é mesmo?
Ora, então qualidade de vida significa ter vida fora do trabalho, cultivar momentos
fora da empresa, respirar o ar dos amigos e da família e fazer deles razão para dias
menos estressantes e de pouco ou nenhum trabalho até altas horas da noite. Se
quiser conhecer melhor minha opinião neste sentido, recomendo a leitura do artigo “É
possível conciliar tempo, dinheiro e família?”.
Certo, qualidade de vida é um conceito relativamente simples, óbvio. Agora vamos
levar em conta a remuneração direta de cada um dos profissionais citados. O que
trabalha muito está em uma empresa com proposta agressiva e tem bônus polpudos
relacionados às suas metas de vendas e contratos fechados. O que trabalha menos
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e vive no interior recebe um salário menor e tem no 13º salário e no plano de PLR
(Participação nos Lucros e Resultados) seu extra anual.
Quem é mais rico? Para alguns, a resposta ainda é fácil. No entanto, começo a ouvir
um coro dizendo “Depende”. Depende de quê? Rico não é ter mais dinheiro, ter
mais isso e aquilo, andar de carrão e morar em um belo apartamento? Sim? Não?
Experimente observar a situação dos profissionais de outro ângulo: qual dos dois leva
uma vida mais rica em realizações, amor, saúde e, adivinhe, qualidade de vida?
Portanto, profissionais sérios que abordam finanças pessoais e investimentos propõem
a seus amigos e clientes uma vida equilibrada, com trabalho sério, mas também
momentos de lazer e planejamento para desfrutar de qualidade de vida hoje e sempre.
Ficar rico é consequência de uma vida rica, próspera, pautada no bom senso, respeito
e suporte familiar.
O dinheiro, então, é um aliado e não uma meta final. Quando estiver próximo de
algum falso rico - o típico workaholic que adora falar dos inúmeros contratos fechados
em pleno happy hour - experimente comentar sobre sua rotina de prazer ao lado de
sua(seu) esposa(o) e do plano de abrir um negócio assim que os investimentos já
realizados alcançarem a meta programada. Repare na sua reação.
Ele vai te achar um babaca. Sorria, afinal sua vida não depende disso para existir. Ela
já existe. Enquanto isso, ele vai seguir achando que babacas como você são a razão
para tanto sucesso de pessoas como ele. Tudo bem, é a vida. Uns escolhem ficar ricos
enquanto outros escolhem ser ricos. Eu sou rico! E você?
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Educação financeira, dinheiro, negociação e
descontos
Dê uma boa olhada em torno da mesa ou local onde está atualmente lendo este
artigo. Repare nos objetos, produtos, bens e tudo mais que está ao alcance das mãos.
Agora pense também no que está quase que onipresente em seu dia-a-dia. A casa
onde mora, o carro que dirige ou os gastos cotidianos com lanches fora de hora e
pequenos mimos. Quanto custou tudo isso? Quanto vale tudo isso para você e sua
família?
Tudo tem uma relação custo/benefício particular, difícil de avaliar e impossível de
julgar. Verdade, mas antes do apego emocional subjetivo ligado à compra, uma
decisão econômica teve de ser tomada e aspectos financeiros importantes certamente
estiveram em jogo. Experimente avaliar novamente os objetos e tente se lembrar da
oportunidade em que os comprou e como e por que tais compras ocorreram. Exercício
interessante, não?
Negociação! A vida nunca esteve tão ligada ao conceito de negociação. Leve em conta
algumas questões e frases comuns ouvidas por ai:
“Compro isso agora ou procuro marcas alternativas?”;
“Se você levar este chocolate, hoje não vamos comprar sorvete”;
“O pagamento à vista tem 10% de desconto, mas posso parcelar em até 12 vezes. O
que é melhor?”;
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“Vou fazer uma contra-proposta interessante e tentar pagar um preço mais realista
para meu orçamento”.
O festival de banalidades e situações corriqueiras poderia ser muito mais extenso,
mas você já entendeu onde quero chegar. Você vai passar por situações deste tipo
durante toda a sua vida. Seu conhecimento a respeito das alternativas de pagamento,
o interesse pelas finanças e o bom senso é que farão toda a diferença. O dinheiro,
pasme, é o detalhe.
Se nossas ações geram consequências, experimente focar nas perguntas ao invés de
apenas se aborrecer com algumas de suas atitudes. Ao respondê-las, liste algumas
ações capazes de fazê-lo alguém financeiramente mais inteligente e menos suscetível
aos ditames consumistas. Você sabe o que precisa fazer, acredite, mas ainda não teve
coragem de assumir essa responsabilidade.
Você se considera um bom negociador?
Geralmente paga o preço anunciado ou sempre luta por descontos, especialmente para
o pagamento à vista?
Costuma pagar mais à vista ou parcelado? Por quê?
Pesquisa preços e paga de acordo com as melhores condições para o seu bolso, seu
orçamento financeiro familiar?
Costumar acreditar e se deixar enganar pelos pagamentos “sem juros” e parcelas a
perder de vista?
Procura o combustível mais barato, faz questão de comprar quando aparecem
promoções, mas paga por isso usando cheque especial ou dinheiro emprestado?
Recorra novamente ao ambiente à sua volta. Encare fixamente um objeto mais
caro, de maior valor pessoal, e experimente analisá-lo de acordo com as simples
perguntas oferecidas acima. Você pagou o preço justo? Precisava mesmo daquilo?
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O parcelamento em excesso prejudicou seu fluxo de caixa? Quanta dúvida não é
mesmo? Não pretendo respondê-las; quero mesmo é provocá-lo.
Educação financeira não é somente ser bom em matemática e sustentar vasto
conhecimento de finanças em geral. São muitos os economistas, matemáticos e
administradores em apuros financeiros. Prefira atitude simples, comece de forma
ordenada e através de muito diálogo. Gaste menos do que ganha, mantenha um
controle das receitas e despesas, sonhe e defina objetivos. Viva sem hipocrisia.
Afinal, lidar bem com o dinheiro é assumir que ele está mais presente em nossas
vidas do que queremos admitir. É decidir de acordo com o bom senso, respeitando as
diferenças e objetivos de cada integrante da família. É ver na capacidade de controle
um aspecto libertador. É, acima de tudo, reconhecer que se o dinheiro está ai e faz
parte da vida, melhor viver em harmonia com ele. Educação financeira é só (tudo?)
isso.
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A relação entre você, seu gerente bancário e o
banco
Caro leitor, você certamente já notou que é crescente o número de brasileiros com
acesso a produtos bancários, ainda que simples, como conta corrente e cartão de
crédito/débito. O crescimento econômico sustentável, alvo das muitas ações do
governo nos últimos anos, traz consigo a oportunidade de inserir as alternativas
financeiras - e também seus desafios de gestão e planejamento - na vida de mais e
mais brasileiros. E o ciclo pretende se perpetuar. Ponto para a cidadania.
Interesse e informação
No entanto, a informação, ativo essencial para a boa tomada de decisão, ainda parece
“se esconder” do grande público e insiste em apegar-se apenas ao lado mais forte nas
negociações. Se há possibilidades, é importante que também existam programas de
conscientização mais eficientes, capazes de oferecer explicações didáticas à população
bancarizada. Porque, não raro, aquele que detém o conhecimento arma-se de mais e
melhores argumentos, o que torna sua atuação mais persuasiva e convincente. Além
disso, seu trabalho é pautado por metas de todos os tipos.
O gerente de contas encontra-se, quase sempre, em visível vantagem em relação
ao cliente que lhe procura. Sua aparência, assim como seu bom treinamento e
extenso interesse pela leitura especializada, oferece um nível de confiança elevado
e que lhe outorga autoridade para decidir sobre o futuro financeiro daquele à sua
frente. Autoridade que ele, na realidade, não tem. Porque confiança é uma coisa,
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autoridade é outra. Entro no mérito da autoridade porque é muito comum encontrar
clientes intrigados com a atuação de seus gerentes. Dois exemplos clássicos merecem
destaque:
O gerente movimenta a conta e o dinheiro do cliente com base na confiança. Final de
mês, algumas metas foram batidas, outras não. Ainda dá tempo. O gerente decide
provisionar um montante de algumas contas correntes, alocando-as para produtos
cujas metas ainda não se cumpriram. Muitas vezes, o faz sem comunicar os titulares
das contas. Quando o cliente finalmente repara, ele tenta lhe convencer da qualidade
da escolha e explica que o dinheiro está disponível, basta pedir para resgatá-lo.
Aconteceu comigo, pode acontecer com você. Encerrei imediatamente minha conta no
banco e fiz uma reclamação formal;
Um oculto jogo de influências pauta a relação cliente-banco. Aqueles cujas atividades
profissionais exigem pequenos empréstimos para o capital de giro ou mesmo os
“endividados de carteirinha” costumam ser os mais afetados por esta situação. O
gerente vive prometendo liberações mais rápidas de dinheiro, juros um pouco menores
que os das vezes passadas, mais prazo e etc. E cumpre sua promessa, gerando a
sensação que chamo de “favor devido” em seus clientes. Estes, com interesse genuíno
em retribuir as “gentilezas”, acabam aceitando as ofertas de produtos feitas pelo
“amigo” do banco.
Você já se viu em situação semelhante? Conhece alguém que passou por isso? Pois
é, infelizmente ainda são muitos os profissionais e clientes que não valorizam esse
relacionamento. Assim são vendidos milhares de títulos de capitalização e realizados
milhões de empréstimos pessoais para pessoas que possuem dinheiro aplicado,
para ficar em apenas duas péssimas escolhas. A verdade é que a decisão tomada
influenciará diretamente no futuro financeiro do cliente - fato pouco valorizado no
momento, mas comumente observado no futuro como razão do insucesso financeiro.
Repare que a culpa não é só dos bancos e de sua força de trabalho. Não. Como
cidadãos, temos que aprender a buscar, por conta própria, a educação para o
consumo, além de deixar claros os limites entre os papéis envolvidos em qualquer
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negociação. Trocar conhecimento, argumentar, oferecer possibilidades e formar
opinião. E aproveitar, fazer bons negócios e investimentos, porque são muitos os bons
profissionais na área, que atuam com lisura, bom senso e muita transparência.
Quando você é cliente, não é amigo!
Temos a impressão errada sobre a profissão de gerente bancário. Ele não é um
consultor financeiro. Ele é um profissional qualificado, cuja profissão merece muito
respeito e admiração, mas que deve atuar de forma a dirimir as dúvidas financeiras
de seus clientes ou, usando uma ótica mais pró-ativa, sendo capaz de explicar-lhes o
real funcionamento dos produtos e alternativas financeiras disponibilizadas pelo seu
banco. Ele deveria auxiliar no processo de tomada de decisão, com informações claras,
explícitas. Ele não é seu amigo, mas pode vir a ser, desde que fora do ambiente de
trabalho.
Em suma, você precisa chegar mais bem preparado à mesa do gerente. Fazer a lição
de casa. Pretende tomar um empréstimo? Avalie as condições dos concorrentes, os
juros a pagar e as outras opções de crédito disponíveis (CDC, consignado e etc.).
Pretende investir seu dinheiro? Leia mais sobre as alternativas disponíveis, o perfil dos
investidores e discuta o planejamento e as metas com a família. Aprenda a decidir-se
mediante seu próprio julgamento, aceitando de forma construtiva as opiniões alheias,
críticas e sugestões. O gerente tem que participar da sua decisão, mas não pode ser a
única justificativa para ela.
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Cartão de crédito: verdades, vantagens e
armadilhas
As discussões relacionadas ao uso do cartão de crédito são sempre bastante
acaloradas e frequentemente terminam de forma pouco amistosa. Tudo porque, em
muitos casos, o cartão de crédito e seu uso são interpretados de forma incorreta. Para
que o texto faça sentido, é importante ressaltar a importância do cartão enquanto
ferramenta e meio de pagamento e então abordar suas limitações e implicações na
vida dos menos organizados. Leia até o final e entenda porque usar o cartão não é tão
simples como parece.
Cartão de crédito vale a pena?
A principal vantagem do cartão de crédito está na possibilidade de se aproveitar sua
característica de cobrança futura para adquirir, agora, um produto ou serviço. Ao
comprar algo com o cartão, levamos imediatamente o bem para casa e o pagamento
só acontecerá na chegada da(s) fatura(s), podendo ainda o valor total ser parcelado,
no ato da compra, junto à loja ou prestador de serviço.
Em suma, isso significa consumir antes, pagar depois. Tal constatação deveria ser
vista como bastante interessante, já que representa a chance de consumo contínuo,
desde que planejado e organizado, aliado a um controle fixo de pagamentos (data de
vencimento da fatura). Pense no quanto isso facilita o controle de fluxo de caixa e sua
manutenção. Certo, mas não é bem assim que as coisas acontecem, não é mesmo?
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Cartão de crédito, uma ferramenta
O que aconteceria se deixássemos uma criança pequena se aventurar com um martelo
e alguns pregos? Ela certamente se machucaria, simplesmente porque não está
preparada para usar a ferramenta martelo para lidar com o produto prego. Algum
problema com a ferramenta em si? Não. E com o produto? Também não. Fica óbvio,
até para os que não têm filhos (meu caso), que o problema não é a ferramenta, nem o
produto, mas a falta de prática e conhecimento para usá-los.
Ao optar pelo cartão de crédito para realizar um negócio, precisamos estar cientes de
que o valor negociado será cobrado e, portanto, precisa estar programado em nosso
controle financeiro. O crédito associado ao cartão é parte da ferramenta e não significa
dinheiro extra, mas simplesmente poder comprar, consumir e deixar o pagamento para
uma data futura - que deverá ser respeitada.
Indivíduos organizados frequentemente centralizam seus gastos no cartão de crédito.
Fazem isso por razões simples:
Porque simplificam seus pagamentos e mantém datas estabelecidas para pagamento
de suas despesas, pagando a(s) fatura(s) sempre em dia;
Porque lançam estas transações em seu caderno (ou planilha) de controle financeiro e
mantém à vista o saldo disponível para o restante do mês;
Porque aproveitam os programas de recompensa (pontos, milhagem ou descontos)
e acumulam benefícios depois usados nas férias, em viagens ou mesmo em novas
oportunidades de consumo.
“Ah, Navarro, então o cartão de crédito é uma maravilha?” Não, não é. Longe disso.
Como toda ferramenta, o cartão também tem seus problemas. Não por acaso,
seu maior atrativo é também sua maior armadilha. As facilidades impostas pelo
uso diário do cartão implicam em uma das mais altas taxas de juros cobradas no
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sistema financeiro mundial. Usar o crédito disponível e não honrá-lo integralmente no
vencimento da fatura significa dar início a uma espiral perigosa de endividamento.
Confira uma lista simples dos juros cobrados por alguns dos muitos cartões disponíveis
hoje em dia:
Exemplos rápidos
Suponha que você tem uma fatura de cerca de R$ 1.500,00, valor que extrapolou seu
orçamento - e você nem percebeu por aproveitar a comodidade do cartão nas compras
- e então você decide que pagará, neste mês do estouro, R$ 500,00. O problema é
que você está descontrolado e vai continuar gastando, sem conseguir quitar os R$
1.000,00 devidos nos próximos meses. “Vou tentar parar de gastar e quando tiver
dinheiro pago os R$ 1.000,00 que ficaram para trás”, é o que você pensa.
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A próxima reflexão passa a ser: “Se pagar um valor mínimo é possível, então é assim
que farei até conseguir levantar todo o montante devido”. Então você passa a dever
R$ 1.000,00 no chamado crédito rotativo, valor este que será corrigido mensalmente
por uma das taxas demonstradas na tabela presente neste artigo. Usemos o exemplo
intermediário de 13,42% ao mês. Se você ficar “arrastando” a dívida de R$ 1.000,00
por um ano (12 meses), o valor devido ao final deste período será de R$ 4.581,35. Se
deixar rolar e esperar 2 anos (24 meses), o valor subirá para R$ 20.537,68.
Conclusão: usar o crédito rotativo oferecido pelos bancos emissores dos cartões é
um dos erros mais perigosos que um cidadão pouco informado pode cometer. Se é
esse o seu caso, pare imediatamente de usar o cartão, ligue para o banco e negocie o
pagamento do saldo devedor em parcelas - de forma a pararem a cobrança de juros.
Se não der certo, faça um empréstimo consignado ou pessoal (CDC) do valor devido,
pague a dívida e inutilize seu cartão até que o empréstimo seja quitado - ou para
sempre, se for essa a solução.
Como não parar para rever nossas decisões diante de números e
casos como esses?
Se quiser simular estes simples cálculos, use a planilha de simulação de juros
compostos para endividamento com taxa fixa para ‘n’ períodos disponibilizada no
blog Dinheirama.com. A verdade é que o cartão de crédito não é para todo mundo.
Porque é simples, é caro. Porque é caro, deve ser motivo de muita análise. O cartão
de crédito pode ser seu aliado? Pode. Pode arruiná-lo? Pode. A diferença? Educação
financeira!
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A verdadeira face dos títulos de capitalização
Ainda é alto o número de clientes e pessoas que buscam e “investem” seu dinheiro
em títulos de capitalização. Até aqui, nenhuma novidade. Pois bem, em 2010 tive
a oportunidade de participar de uma entrevista ao vivo sobre o tema no programa
“Compras e mais” da Rádio BandNews FM, apresentado pela jornalista Aiana. Ela
lançou algumas perguntas bastante interessantes que merecem nossa atenção.
Prometo um pouco mais de esforço de minha parte para mostrar, de uma vez por
todas, que título de capitalização não pode ser considerado um investimento.
Começamos o papo debatendo a ação dos bancos e instituições financeiras, que
apelam para um argumento bastante discutível e superficial: algo como “opte por um
título de capitalização, você poupará dinheiro para projetos futuros e ainda concorrerá
a diversos prêmios” é o que se pode deduzir de suas campanhas. A realidade é outra:
eles estão oferecendo um produto com rentabilidade mínima para o cliente, mas muito
interessante para sua própria operação.
Explicar os pormenores de tudo isso é a proposta do artigo de hoje. Por que, afinal, o
título de capitalização é tão ruim para nós e excelente para os bancos? Espero que ao
ler este texto você só entre em um produto deste tipo se acreditar que poderá ser o
sorteado, sabendo que a chance é mínima e que, se isso não ocorrer, seu dinheiro terá
rendimento pífio ao longo de alguns meses/anos. Como já disse, titulo de capitalização
é furada!
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/7536
Aprendendo com um exemplo
Para facilitar o entendimento das afirmações aqui realizadas, proponho o debate a
partir de um exemplo real de título de capitalização. Escolhi para este fim o produto
Ourocap Multi Sorte 36 meses, oferecido pelo Banco do Brasil. Você vai entender como
o produto funciona e a lógica que o torna tão lucrativo para os bancos - e péssimo
para o seu bolso.
O primeiro problema surge na contratação do pacote. Na maioria dos casos, o cliente
é induzido pelo gerente a “investir” no produto, sem que detalhes do contrato sejam
devidamente explicados. Trata-se de um produto que compõe a cesta de metas de
todo gerente, o que faz dele alvo de fortes campanhas e ações por parte da equipe
bancária. A verdade é que ou você já entrou nessa por insistência ou já esteve prestes
a fazê-lo.
Que detalhes são esses?
Todo produto financeiro registrado junto às autoridades deve ter um prospecto que
detalhe seu funcionamento. Com a Internet, ficou fácil acessá-los e sua leitura é muito
importante para que a decisão final seja tomada com plena convicção. O prospecto
do Multi Sorte 36 meses (PDF) traz algumas informações relevantes, que merecem
destaque:
“Capital - é o montante constituído por percentuais, apresentados na tabela a seguir,
aplicáveis sobre os pagamentos efetuados, e que será mensalmente capitalizado pela
taxa de 0,5% a.m., e atualizado pela taxa de remuneração básica aplicada à caderneta
de poupança, gerando o valor de resgate do título.”
Este é basicamente o discurso apresentado nos caixas e nas propagandas do título
de capitalização. Seu dinheiro será capitalizado e atualizado pela taxa básica de
poupança. Você, é claro, imagina que assim está tranquilo e que a “poupança forçada”
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faz todo o sentido - especialmente porque há uma possibilidade de ganhar uma
bolada. Ledo engano. Veja a tabela a que o texto se refere:
Atenção, porque aqui mora a “grande jogada” do produto. Uma legenda simples nos
auxiliará pelas explicações:
A coluna “Pagamento” refere-se ao mês do depósito que você fará para manter o
produto;
A “Cota de Sorteio %” representa quanto do dinheiro que você deposita mensalmente
será destinado ao montante que será sorteado para os clientes;
A “Cota de Carregamento %” refere-se ao percentual do total depositado que ficará
para o banco, como sendo para administração do produto, encargos, operação e,
claro, lucro, muito lucro;
A “Cota de Capitalização %” é quanto do seu dinheiro será efetivamente controlado
pelo banco dentro do objetivo passado pelo gerente. Ou seja, quanto do depósito
mensal será capitalizado, corrigido e devolvido no vencimento do contrato.
Você, leitor inteligente que é, já percebeu o detalhe, certo? Observando a tabela, vê-
se facilmente que, no primeiro mês, quase todo o depósito realizado (87,7%) ficará
para o banco, enquanto apenas 10% serão colocados na reserva a ser corrigida e
devolvida. A partir do segundo mês, 4,1% serão dados ao banco e 93,5% do depósito
serão usados para a capitalização. Os 2,2% restantes são para os prêmios. Então
vejamos: o banco fica com quase 90% do capital depositado no primeiro mês, além de
4,1% nos 35 meses seguintes e capitaliza parte de seu dinheiro com 0,5% ao mês e
TR da data de aniversário.
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Para se ter uma ideia, a TR diária média está próxima de 0,05. Em outras palavras,
parte de seu dinheiro (lembre-se que não é todo o depósito que é capitalizado)
renderá juros de poupança (pouco mais de 0,55% ao mês), enquanto você dá 4,1%
para a instituição. Ora, na prática isso significa pagar 4,1% ao mês daquilo que você
depositou e receber apenas 0,55% (em média) “de volta” por ter optado pelo produto.
Viu só? Trata-se de um belo negócio para o banco.
Portanto, saiba que se aplicar diretamente na caderneta de poupança o mesmo valor
destinado às parcelas do título de capitalização, seu saldo ao final dos 36 meses
(nosso exemplo) será muito maior. Eu disse: a intenção aqui é causar polêmica, mas a
favor do seu bolso. Crie a disciplina necessária para tomar conta do seu dinheiro e use
as opções de investimento (agora sim) de forma inteligente, e não preguiçosa. Esse
negócio de “poupança forçada” não cola!
Tem mais: a carência
É preciso entender o que significa carência para este produto: o percentual disponível
correspondente para resgate só estará disponível a partir do 12º mês (Multi Sorte
36). Quanto você poderá resgatar está detalhado na tabela “RESGATE”, disponível no
prospecto. É importante saber também que você só receberá todo o montante de volta
se esperar até o final do prazo contratado - a tabela é clara neste sentido.
Mas e a chance de ganhar uma “bolada”?
É mínima, e você sabe disso. No entanto, o argumento dos participantes e dos bancos
é sempre o mesmo: sempre um vai ser sorteado. Pois é, como acontece na loteria. A
diferença é que jogando na loteria você usa um valor modesto, que não compromete
sua rentabilidade possível nos meses e anos subsequentes; você não mexe com um
dinheiro que pode e deve estar rendendo muito mais em produtos selecionados com
dedicação, estudo e inteligência.
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/7539
Então estamos combinados que títulos de capitalização são para os que gostam de
apostar e jogar - e não investir, poupar e formar patrimônio. Certo? Se você já ganhou
uma bolada com um TC, considere-se um sortudo. Assim como um familiar que já
ganhou na loteria. Acontece. Mas, cuidado, pois com o futuro não se aposta - se
acreditar que os títulos de capitalização são uma opção neste sentido você vai arruinar
suas finanças.
Este texto trouxe um exemplo. Os bancos oferecem inúmeros títulos de capitalização,
cujos percentuais de carregamento, capitalização e carências variam bastante. Fique
atento e valorize sua capacidade de poupar e planejar o futuro - não transfira essa
responsabilidade para os gerentes e/ou parentes. Você está no comando! Ou não está?
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/7540
Será que todos podem ter um carro? Não!
Carro ultimamente tem sido (apenas) sinônimo de diferenciação social. Para a maioria
das pessoas ele é um eficiente sinal de status, um instrumento de conforto. Não há
absolutamente nada de errado nisso, desde que sejam respeitadas as realidades de
cada um. Eu sou eu, você é você e o Ronaldinho é o Ronaldinho.
Não interessa se a concessionária oferece pagamentos em “enésimas prestações”.
Você precisa ter condições de manter esse sonho ou corre o risco de vê-lo
transformar-se em um pesadelo. Algumas perguntas elaboradas pela especialista
Elaine Toledo demonstram como é fácil exercitar sua capacidade de raciocínio ao
decidir pela compra de um novo automóvel. Experimente respondê-las:
Por que eu preciso de um carro?
Quanto dinheiro tenho disponível para comprar um carro?
Qual a reserva mensal que tenho disponível para as parcelas de um financiamento?
Que tipo de carro quero comprar?
A compra será à vista ou financiada?
Se a compra for financiada, qual o valor final do automóvel?
Tenho consciência das despesas que passarei a ter após a aquisição de um carro?
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/7541
Onde focar?
As perguntas de 1 a 5 são bastante pessoais e justamente por isso, são as mais
importantes. Sugiro que passe mais tempo se preocupando com essas primeiras
questões e por consequência o valor final do carro (6) e as despesas de manutenção
(7) serão mais interessantes para o seu bolso. Carro não é algo que todo mundo
pode ter e comprá-lo com inteligência não significa apenas saber se as parcelas do
financiamento caberão ou não no seu bolso. Comprar um carro é ótimo. Melhor que
isso é poder aproveitá-lo por completo.
Uma visão de negócio
Fulano comprou um carro e paga uma parcela mensal de R$ 500,00 de seu
financiamento. Além disso, ele gasta outros R$ 500,00 mensais com despesas gerais
e de combustível. O carro foi comprado para que ele pudesse levar seus produtos
até uma nova clientela e com este movimento poder aumentar sua receita em R$
1500,00. Deixando de lado a entrada e o prazo do financiamento, vemos que o retorno
com a compra do carro será suficiente para cobrir seus juros despesas.
Ainda que o carro se desvalorize, ele trouxe resultado ao negócio do Fulano. O valor
residual poderá servir de entrada para um novo veículo, maior quem sabe. Isso, caro
leitor, chama-se inteligência financeira. Peço aos chatos de plantão que me poupem.
Não entrem em detalhes e perguntas sobre quanto custou isso, aquilo, quanto tempo
ele terá para pagar, riscos e incertezas do negócio etc. Tenho certeza de que todos
entenderam o recado. Obrigado.
Mas a vida não é assim
Sabendo que para um cidadão comum carro não é investimento, você precisa prestar
ainda mais atenção às premissas do negócio e aos resultados dele provenientes. Por
que é que as pessoas entram em tantos detalhes quando é para comprar um carro
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para a empresa e compra seu carro particular com tanto descaso? Carro não é só o
dinheiro gasto para colocá-lo na garagem. Com o carro, aparecem algumas “coisinhas”
extras:
Licenciamento: todo ano você terá que pagar IPVA, taxa de licenciamento e seguro
obrigatório. São as boas vindas do Brasil aos proprietários de carros.
Seguro: claro que você não quer que seu carro seja roubado, não é mesmo? Algumas
pessoas arriscam e podem ficar sem o carro. Pior, o carro pode sumir, mas o carnê
não. Já pensou?
Manutenção periódica: as revisões normalmente não são baratas, mesmo naquele
seu amigo da rua de trás. Tudo custa dinheiro. Um barulhinho aqui, uma peça que
desgasta ali, um pneu careca, o óleo que acabou. Quem vai dar um jeito isso?
Estacionamento: a rua nem sempre tem lugar. As vezes ela é perigosa. Enquanto
trabalha, você precisa deixar seu carro estacionado com segurança. Quem sabe não
falta uma garagem em sua casa e o carro acaba por ter que “dormir” acompanhado.
Esses serviços não são gratuitos.
Comprar é o mais fácil. E depois?
A concessionária e o crédito são a parte fácil. O resto é quem são elas (acho que ouvi
isso em alguma novela). Todos estes novos gastos terão que (agora sim) “caber” no
seu orçamento mensal. Suas despesas de telefone, água, luz e supermercado vão
continuar acontecendo. Não se iluda com a impressão de que o carro pode ser muito
interessante em relação ao aperto do ônibus ou do metrô. Faça muito bem as contas,
ou poderá trocar o aperto e a dor nas ancas do transporte público pela dor no bolso.
Se não é hora de ter um carro, contenha-se.
Recomendo que você: esqueça o vizinho que tem o carro que você tanto quer, deixe
pra lá o tesão momentâneo pelo novo modelo que acaba de ser lançado e combata o
imediatismo doente dos dias de hoje. Prefira aprender com o vizinho (“é ruim hein”?).
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Poupe, crie uma reserva financeira confortável e negocie sempre à vista. Carro novo
ou carro usado, isso não vem ao caso agora.
Preste atenção. Se comprar um carro de R$ 30.000,00 para uma pessoa que ganha
R$ 500,00 é algo muito difícil, o mesmo vale para quem quer comprar um carro de
R$ 300.000,00 e ganha R$ 5.000,00. A comparação pode parecer idiota, mas reflete
o tamanho do passo que algumas pessoas insistem em dar. Sim, existem prestações
possíveis para ambos os casos, mas onde fica a inteligência emocional e financeira?
Como os milhões de especialistas não cansam de dizer: o importante não é quanto
você ganha, mas quanto você gasta. Esses dias ouvi até a Gisele Bündchen falando
isso. Se ela acredita nisso, imagina eu. Além disso, e com todo o respeito, uma moto
ou uma bicicleta podem muito bem resolver o seu problema. Nem por isso o raciocínio
será diferente. Compre a moto ou a bike usando o mesmo pensamento disposto neste
artigo. Pense bem e coloque as contas na ponta do lápis.
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Investimento, uma questão de expectativa
A grande dúvida dos leitores e clientes continua a ser objetiva e provocante: “Qual o
melhor investimento hoje em dia?” é lugar comum nos muitos e-mails que recebemos
e nos papos de escritório e bar. Abordei a questão de forma preliminar no artigo
“Existe mesmo o melhor investimento?”, em abril de 2007, onde alertei para a
importante relação entre risco e retorno. Volto ao tema com uma abordagem mais
explícita, talvez capaz de suscitar-lhe alguma reflexão.
Vamos começar com um pequeno teste. Suponha que você tenha R$ 15 mil para
investir, neste momento, e precisa escolher entre uma das alternativas abaixo, sem
poder usar o montante para consumir (gastar) ou diversificar. Você precisa escolher
entre:
Caderneta de poupança: rentabilidade de 6,5% ao ano, isenta de taxas e de Imposto
de Renda. A rentabilidade sobre o valor aplicado só ocorre nas datas de aniversário da
poupança, conforme explico no artigo “Poupança faz aniversário? Como assim?”;
Títulos Públicos com vencimento em abril de 2014: NTN-F, rentabilidade média de
11,2%, com taxa de negociação de 0,10% sobre o valor da operação, taxa de custódia
da BM&F Bovespa de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos e taxa do agente de
custódia (clique aqui para baixar um ranking das taxas). O Imposto de Renda incide
sobre os rendimentos e varia de acordo com o período aplicado, sendo de 22,5% para
aplicações com até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15%
acima de 720 dias;
Fundo de ações de empresas que pagam dividendos: rentabilidade média de 30% ao
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ano, considerando últimos cinco anos com cobrança de 15% de Imposto de Renda
sobre os ganhos no momento do resgate.
Observe novamente as alternativas e pense! Você tem R$ 15 mil para investir e
precisa escolher uma das opções acima. Qual a sua decisão? O que você levou em
conta para decidir? Por que escolheu tal alternativa? Já fiz esta “brincadeira” inúmeras
vezes e os resultados foram bem interessantes. Repare no que posso resumir sobre o
teste e avalie sua opção:
O investidor “trava”! Alguns participantes simplesmente travam ao ter que pensar na
proposta apresentada. “Eu, R$ 15 mil, ah, ahn, não sei o que fazer com esse dinheiro”.
Fica implícita a própria dúvida em relação ao poder de atingir tal soma e o que fazer
quando (e se) este dia chegar. Pois, prepare-se, porque pode surgir uma herança, um
bônus no trabalho ou coisa semelhante. E ai?
O investidor escolhe a caderneta de poupança porque as demais alternativas parecem
muito complexas. Muitos simplesmente não conhecem o Tesouro Direto ou as
alternativas de investimento em ações através de fundos. Além disso, na caderneta
de poupança o dinheiro estará mais acessível, o que possibilita que o dinheiro quase
não seja encarado como investimento. Muitos optam por esta alternativa para usar a
poupança como conta corrente. Em pouco tempo, o dinheiro desaparece;
O investidor observa apenas a rentabilidade, escolhendo o fundo de ações sem
pestanejar. O histórico de retorno é considerado como algo quase certo, sem que a
dose de risco ou volatilidade seja considerada de forma sensata. Não raro, ao notar
seu dinheiro oscilando de forma acentuada, este tipo decide sair na hora errada (muito
cedo ou em uma queda) e perde dinheiro;
O investidor primeiro define sua prioridade e analisa as alternativas do ponto de vista
de risco, retorno e tempo de aplicação. Comprar um imóvel, trocar de carro, formar
capital para a aposentadoria, investir em um negócio próprio, o investidor sabe o
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que quer. Define a prioridade, o prazo e só então vai avaliar as possibilidades e fazer
contas. Inteligência financeira colocada em prática significa investir com objetivos
definidos e respeitar o prazo e as características do produto escolhido. Este tipo
consegue realizar seus sonhos e chega lá, ainda que demore um pouco.
As reações ao exercício são indicativas de momentos financeiros distintos e que
merecem discussão. Torço para que todo este esforço faça sentido e sirva para elucidar
a questão do “melhor” investimento. Apenas torço, porque sei que a questão é
abrangente e perfeita para abordagens do tipo “use tal estratégia e vença” ou “prefira
os produtos assim porque são menos arriscados”. O que você realmente quer e aonde
quer chegar? Muita gente opina, mas só nós temos a resposta; e pouco fazemos para
colocá-la em prática.
Logo, o problema não é o tal “melhor” investimento, mas apenas investir em
propósitos claros e bem definidos. “Porque nunca temos tempo para estudar as
alternativas”, “Porque a hora certa para começar a poupar ainda vai chegar” e “Porque
com o atual salário fica impossível pensar em investir alguma coisa” são as desculpas
mais comuns. A dura realidade mostra que falta compromisso com o que realmente
importa. Nisso, perdemos tempo querendo saber o que há de melhor no mercado
enquanto sequer conseguimos fazer sobrar algum dinheiro.
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Quando o melhor investimento é guardar
dinheiro
Em 2009 tive a oportunidade de conversar com o amigo e também entusiasta da
educação financeira Reinaldo Domingos - autor dos livros “Terapia Financeira” e “O
Menino do Dinheiro” e criador da Metodologia DSOP. Conversávamos sobre a situação
dos brasileiros aposentados e do que é possível fazer para que possamos viver melhor,
durante mais tempo e com mais dinheiro. O que fazer? A resposta, ele insistiu, é
simples: “Basta que as pessoas guardem dinheiro. Só isso”.
Acredite, a situação dos nossos idosos é mesmo muito triste. Segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
46% dos aposentados brasileiros dependem de parentes para viver;
28% dependem de caridade (Programas Sociais ou ajuda de terceiros);
25% têm que continuar trabalhando mesmo depois de aposentar-se;
Apenas 1% deles conseguem se manter e são independentes financeiramente;
Qual sua imediata reação ao tomar conhecimento destes números? Você ainda
acredita que o sistema previdenciário oficial será capaz de sustentar o número
crescente de idosos? Com a expectativa de vida crescendo (o que é ótimo) e a
aposentadoria oficial fadada ao fracasso, como garantir um futuro digno e ainda
repleto de alegrias, realizações e saúde?
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A sensação da maioria ao se defrontar com estas questões passa pela questão da
necessidade de planejamento e investimento para o futuro. Não raro, ouço amigos
e parentes dizendo que precisam investir seu dinheiro para garantir que ele possa
sustentá-los no futuro, mas que o momento é difícil e que tal atividade será realizada
assim que “sobrar uma graninha”. Pensam no investimento, sabem desta necessidade,
mas, adivinhe, não têm sequer um objetivo. E, claro, o dinheiro nunca “sobra”.
Investir? Onde? Quanto?
A conversa prosseguiu e trouxe luz para a oportunidade de escrever sobre a realidade
dos brasileiros. Experimentei fazer a pergunta “na sua opinião, qual é o melhor
investimento?” para o Reinaldo e aguardei ansioso por sua resposta: “Guardar
dinheiro” ele respondeu sem titubear. Segundo ele, o melhor investimento chama-se
guardar dinheiro.
Como assim? Vamos compreender a razão de sua insistente colocação com uma
boa conversa. Você sabia que o Brasil tem mais de 80 milhões de endividados?
Considerando-se o tamanho da população, o número é bem assustador. Mais que isso,
já vimos que por aqui não se vive a aposentadoria de forma decente e que apenas 1%
dos nossos velhinhos e velhinhas podem realmente viver com mínima dignidade.
Então lhe pergunto: qual é passo fundamental para se investir? Ora, ter dinheiro! Mas,
cá entre nós, você guarda dinheiro? Quem guarda dinheiro? Pois é, a esta altura você
já deve ter concluído que são muito poucos os brasileiros que conseguem guardar
dinheiro. São mesmo! E por que alguém decide (ou decidiria) guardar dinheiro? Para
realizar algum sonho ou atingir objetivos, é óbvio.
Hum, então será que os brasileiros sonham pouco e almejam menos ainda? Ou será
que miram nos alvos errados e vivem uma vida aparentemente saudável e completa,
mas incoerente com sua realidade financeira e incapaz de sustentar seu padrão de
vida? Feliz ou infelizmente, a resposta você já sabe – e a situação se complica.
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Prioridades de vida
Se uma grande maioria vive além daquilo que suas receitas permitem (estão
endividados) e outra parte apenas sobrevive, qual deve ser a saída? Lembre-se da
resposta do Reinaldo: “Guardar dinheiro. Só isso”. O brasileiro em geral precisa definir
importantes razões para manter-se sempre motivado a valorizar e respeitar seu
dinheiro, mas com inteligência e percepção.
Portanto, não se apresse em aprender as inúmeras alternativas de investimento
disponíveis nas redes bancárias ou no mercado. Primeiro, aprenda a guardar dinheiro
– pode ser na caderneta de poupança, em casa ou em uma conta bancária separada.
Crie o hábito de precificar seus objetivos e aprenda a separar parte de sua renda
mensal para alcançá-los. Só quando esta atitude realmente se incorporar ao seu
cotidiano é que você deverá correr atrás dos meios e formas de acelerar a conquista
de seus sonhos.
Guardar dinheiro é fácil
Definidas as prioridades de sua vida, passe a guardar dinheiro como forma de valorizar
tudo aquilo que você deseja e pretende conquistar. Sua aposentadoria, por exemplo,
deve ser um importante pilar desta filosofia de vida. Logo, coloque-a como parte de
seus objetivos futuros e separe parte dos seus rendimentos para construí-la de forma
constante e inteligente. Mas comece isso hoje, agora!
Lembre-se que se você optar pelo crédito fácil (financiamentos, empréstimos etc.),
suas metas serão influenciadas e distorcidas. Tenha paciência e coloque-se diante de
objetivos palpáveis e com prazos muito bem estabelecidos. Pode ser que você demore
a conquistar algum bem, mas ainda assim prefira contar com o tempo a aproveitar-
se do dinheiro fácil, porém caríssimo, oferecido por ai. Respeite suas condições e não
conte com o crédito para enriquecer – os juros lhe farão mal.
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Cuidado com a justificativa idiota de que guardar dinheiro é bobagem. Aqueles que
dizem que “a vida se vive no presente” ou que “dinheiro guardado só servirá de
herança” nunca admitem que são muito menos do que poderiam ser e que terão
problemas no futuro por conta da falta de disciplina e atitude. E terão. Eles se
escondem na desculpa como forma de transportar o problema para fora de suas
responsabilidades – vivem uma realidade material incoerente com o que ganham
(razão para o ego inflado), mas veem o tempo passar sem nenhum propósito.
Você também sabe que ganhar dinheiro é uma atividade difícil, que exige tempo e
esforço. Gastá-lo, por outro lado, normalmente leva poucos minutos e não é nada
complicado. Valorize seu esforço e passe a ver a tarefa de guardar dinheiro como
algo simples e essencial para que seu amanhã lhe traga prosperidade – e não dívidas
e problemas financeiros. Livre-se da necessidade imediata de consumir em prol da
independência financeira futura. Reinaldo, que chegou lá colocando em prática estas
atitudes, garante que vale a pena.
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Princípios e atitudes do investidor inteligente
Concordamos que investir pressupõe ter dinheiro sobrando. Ótimo, mas sejamos
sinceros: aqui no Brasil, o raciocínio relacionado ao ato de fazer sobrar dinheiro não
favorece a cultura do investimento. A autodefesa contra o sistema traz à tona a figura
do “se”. Ora, se está sobrando, por que não consumir um pouco mais? Por que não
dar entrada naquela tão sonhada TV LCD? Por que não comprar uma e outra peça de
roupa e valorizar a aparência? Se sobra, então é porque eu posso mais.
Equilíbrio... Mas, e se?
A palavra resume bem o que é necessário para que um simples cidadão possa se
transformar em um poupador e, então, em um investidor. Ironica e felizmente,
equilíbrio também diz respeito ao “se” (frequente em quase todas as nossas decisões).
Se eu deixar de comprar a TV agora, posso guardar o dinheiro para comprá-la com
desconto depois do Mundial. Se eu evitar tantas baladas, talvez tenha dinheiro para a
viagem de navio que tanto gostaria de fazer. O que muda?
Se não somos bons com o “se” que nos faz consumir, também não somos com o “se”
que deveria nos levar à reflexão. Logo, o equilíbrio - que pressupõe disciplina - não é
a chave. Ajuda, mas não resolve. A diferença mesmo quem faz é o comprometimento
e o amor. Comprometimento com a melhora, com a possibilidade de crescer, agregar
valor e construir patrimônio. Amor próprio, que se reflete na autoestima e na
capacidade de, ai sim, tomar partido e avaliar com mais inteligência as alternativas
disponíveis.
Iniciada minha contribuição, listo abaixo dez princípios e atitudes que considero
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especiais em investidores inteligentes e que sabem fazer seu dinheiro realmente
trabalhar:
1.	 Não considera títulos de capitalização como investimento. Pagar caro para que uma
simples poupança seja acumulada e, ainda assim, apresente retorno menor que o da
caderneta de poupança não faz parte do dia a dia de investidores conscientes. Você já
leu sobre isso neste livro.
2.	 Não transfere a responsabilidade de gerenciar suas finanças para outra pessoa ou
instituição. As melhores alternativas de investimento são aquelas que ele compreende
e é capaz de associar às suas metas pessoais, profissionais e familiares. Ponto.
As indicações (do amigo, do gerente etc.) são analisadas com o devido respeito e
atenção, mas a decisão é sempre consciente e parte de um processo. O mesmo
acontece com o dinheiro do cotidiano.
3.	 Mantém um orçamento atualizado e que contempla gastos, receitas e investimentos.
Controla, mede e avalia para que possa usar as ferramentas financeiras como fator
de libertação e independência. Sabe se está exagerando e quando pode exagerar.
Conhece seus limites e os respeita.
4.	 É coerente com a realidade familiar. Vive o padrão de vida possível, com plena
consciência de que evoluir significa ter, antes de tudo, um meio de vida sustentável
e compatível. Não guarda por guardar, mas porque quer garantir possibilidade de
consumo e qualidade de vida hoje e sempre. O futuro não é apenas romântico, mas
parte de sua programação financeira.
5.	 Assume o papel de cidadão e negocia com firmeza. Ao entrar em uma loja, sabe que o
interesse deve ser muito maior por parte do vendedor. Assim, prefere não demonstrar
euforia e emoção e avalia os produtos/preços de forma racional, fria. Planeja a compra
com antecedência, exige desconto e prefere pagar à vista.
6.	 Tem objetivos claros que faz questão de respeitar. Dica recorrente, presente em todo
trabalho de bons planejadores financeiros, definir objetivos significativos faz com que
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Educação financeira: um estilo de
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o investidor exercite a automotivação. Quando o que ele quer tem valor, é relevante
para si, ele é capaz de deixar outros pequenos desejos, supérfluos ou não, na fila de
espera.
7.	 Valoriza a qualidade de vida. Vive de acordo com suas possibilidades, mas com
momentos de lazer, tempo para a família, hobbies e prática de esportes. E faz questão
de destinar parte de seus recursos para o cultivo da qualidade de vida, consciente
de que inesquecíveis são os momentos, as pessoas e os acontecimentos, e não um
produto ou bem material.
8.	 Faz uso da matemática financeira básica para tomar decisões. Primeiro, sabe que não
existe o tal “juro zero”. Segundo, sabe usar simuladores simples para avaliar uma
compra financiada, parcelada e a contra-partida da compra à vista com o apoio do
tempo. O que é melhor? Gosto muito do exemplo usado pelo amigo e autor best seller
Gustavo Cerbasi em relação à compra da casa própria quando ainda somos jovens:
“Os jovens que compram seu imóvel quando ainda ganham pouco acabam por
comprometer excessivamente o orçamento familiar com uma prestação maior do que
pagariam pelo aluguel de um apartamento mais simples e adequado para o momento.
Falta dinheiro para seu lazer, para seus planos de curto e médio prazo. (...) Com um
orçamento apertado por uma pesada prestação, qualquer imprevisto leva o jovem a
contrair pequenas dívidas” - A vantagem da compra própria, por Gustavo Cerbasi em
07/06/2010 - Folha de S. Paulo.
9.	 Comemora pequenas vitórias e aprende com seus erros. A vida não é só sombra e
água fresca, mas tem seus momentos de grande alegria. Os desafios trazem consigo o
sentimento de realização e também experiências frustrantes. O investidor de sucesso
aceita essa realidade e convive com ela de forma cordial, com humildade e muita
vontade de aprender. Aprende porque quer, não porque precisa.
10.	Diversifica, investindo em produtos conservadores e em alternativas mais agressivas.
Como define bem seus objetivos de curto, médio e longo prazo, aloca seu capital em
investimentos de características próprias, sempre os alinhando com seu horizonte de
Educação financeira: um estilo de
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Educação financeira: um estilo de
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tempo e interesse. Assim, mantém uma boa reserva de emergência, deixa a maior
parte de seu dinheiro em produtos conservadores, mas também participa do mercado
de ações (fundos, home broker etc.).
Todos podemos ser investidores inteligentes
Porque se for importante para você, você é capaz de fazer. Se for valer a pena, você
segue adiante. Se realmente representar uma possibilidade de novos rumos na
profissão, você arrisca. Porque se for por você e por aqueles que ama de verdade,
você é capaz de aprender e fazer diferente. Engraçado, o “se” apareceu novamente.
Pois é, o investidor inteligente tem no “se” seu maior trunfo: as respostas são
consequência e o que realmente importa são as perguntas. Causa e efeito. Afinal, se
dependesse de mim, você seria rico, feliz e cercado de boas decisões. Se...
Educação financeira: um estilo de
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Objetivos, disciplina e o poder dos
investimentos
Recebi uma dúvida por e-mail muito interessante e decidi compartilhá-la com você,
caro leitor. Acompanhe: “Sempre tive uma vida financeira controlada. Durante a
juventude, meus pais cuidavam de tudo e possibilitaram que eu pudesse ter uma
boa formação e ainda construíram, dentro de seus padrões, uma poupança que me
garante tranquilidade. Mesmo com esse know-how, me sinto inseguro, pois minha
renda é relativamente alta e não sei ao certo qual o melhor investimento. Detalhe:
tenho 29 anos. Alguma dica?”.
Primeiro, fico muito feliz por observar que seus pais fizeram bem a “lição de
casa”, indo justamente no caminho da organização financeira e brindando-o com o
beneficio do exemplo, ponto chave das conquistas. Para você, com certeza é muito
fácil respeitar seu padrão de vida e buscar, a partir dessa realidade, os melhores
investimentos. A dúvida em relação ao como e às alternativas é normal, especialmente
porque você tem um fluxo de caixa favorável e consegue poupar. Vejamos como o
artigo se desenrola.
Guardar dinheiro
Em primeiro lugar, existe uma pergunta que você e os leitores que pensam em
investir devem se fazer: por que eu vou poupar, guardar dinheiro? Essa pergunta
é muito importante. A partir da resposta ficará mais fácil programar e encontrar a
melhor opção de investimento. A resposta será seu grande objetivo. Obviamente,
Educação financeira: um estilo de
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Educação financeira: um estilo de
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essa resposta não precisa ser única. Afinal, você pode ter diversas respostas que se
tornarão, então, diversos objetivos.
Concentre-se primeiro nas perguntas relacionadas ao seu objetivo
Vamos supor que hoje, aos 29 anos, você faça essa análise e defina que seu
objetivo seja parar de trabalhar aos 50 anos. Você terá 20 anos até o momento da
“aposentadoria”. Nesse momento, algumas outras perguntas deverão ser feitas, como:
quanto vou precisar acumular nesses 20 anos para garantir uma vida tranqüila e
sem preocupações? Qual a minha expectativa de vida a partir dessa data? Quais os
investimentos que são mais indicados para cada momento dessa trajetória, daqui até
lá e depois dos 50 anos?
“Engraçado!”, você deve estar pensando, ao invés de lhe dar respostas, estou
propondo ainda mais perguntas. Sim, você tem razão. Mas veja que essas perguntas
são diretas e só você será capaz de respondê-las, começando justamente pelo
básico: o que você pretende alcançar e quais são seus objetivos que podem receber
colaboração financeira? Uma viagem? Patrimônio? Viver de renda? Publicar um livro?
Estudar fora? De objetivo em objetivo você aprende a separar e investir.
O investimento que você precisa
Existem milhares de produtos bancários destinado aos investidores, alguns muito bons
e outros nem tanto, mas o melhor é aquele que se encaixa dentro de sua necessidade.
A escolha deve ser capaz de criar condições reais para transformar seu sonho em
realidade. Partindo deste princípio, toda alternativa de investimento é boa ou ruim,
o que nos leva a discutir prazo, aportes, processo de formação do investimento e
resgate:
Um dos principais componentes que precisa ser muito bem avaliado é o componente
tempo. O tempo tem que ser seu aliado, por isso quanto mais cedo começar a se
programar e projetar os seus sonhos, melhor será sua condição, principalmente
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quando os sonhos são referentes à aposentadoria. O tempo maior lhe permite correr
mais riscos e fazer aportes menores ao longo dos meses e anos;
Os aportes precisam ser constantes e sempre corrigidos pela inflação. Determinar um
objetivo no tempo (curto, médio ou longo prazo) o ajudará a escolher o produto mais
interessante (menor risco para o curto prazo e mais arriscado para o longo prazo).
Se começar logo e mantiver a disciplina, conseguirá ir muito mais longe com valores
mensais menores. Experimente;
O processo de formação do investimento é justamente a relação entre tempo,
investimento escolhido e aporte. É simples: se vai pensar na aposentadoria e tem
muito tempo pela frente, pode começar com aportes pequenos em aplicações mistas
(renda fixa e variável, por exemplo). Se pretende trocar de carro em dois anos, deve
escolher um produto mais conservador (poupança ou Tesouro Direto, por exemplo) e
fazer aportes maiores;
Quanto ao resgate, a questão principal se refere à liquidez. Como usará o dinheiro
aplicado? Ele precisa estar disponível mediante suas necessidades. Se decidir comprar
imóveis para construir patrimônio, poderá viver da renda de aluguéis, mas se precisar
vendê-los para usar o dinheiro, pode demorar a ter o capital na mão. Então, o resgate
diz respeito a como você terá o montante necessário para seguir adiante.
Fique atento ao seu futuro. Não alocar corretamente seu dinheiro pode ser um erro
extremamente cruel, principalmente quando percebemos que teríamos condições de
conseguir melhores resultados e a partir deles grandes oportunidades para ter uma
vida mais feliz. Por outro lado, não existe certo ou errado porque os objetivos sempre
são diferentes de pessoa para pessoa. O importante é tê-los, respeitá-los e alimentá-
los.
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Como escolher uma corretora para investir em
ações?
Escolher uma dentre as 57 corretoras que oferecem a ferramenta home broker para
operar no mercado de ações não é tarefa fácil. Por outro lado, a enorme quantidade de
opções traz diversos benefícios para atuais e futuros clientes: diferenciais, ferramentas
exclusivas, preços diferenciados (às vezes até custo zero em algumas transações),
promoções, inovações, atendimento personalizado, relatórios, carteiras sugeridas etc.
Com a explosão no cadastro de pessoas físicas ocorrida em 2006, 2007, 2010 e o
grande número de corretoras concorrentes, é possível que encontremos serviços
de ótima qualidade a preços e condições interessantes. Antes de listar os principais
passos que sigo ao escolher uma corretora, vou abordar dois erros comuns que devem
ser evitados quando pensamos em contratar seus serviços.
Erro 1: Pensar somente no preço. As possibilidades trazidas pela Internet,
representadas através do home broker, vão muito além da simples atitude mercenária.
Diversas corretoras cobram preços maiores, mas oferecem ferramentas exclusivas
bastante interessantes;
Erro 2: Subestimar a importância dos serviços “extra-Internet”. Só uma ótima
plataforma de home broker não resolve. Preocupe-se com o background técnico dos
corretores e administradores da empresa e leve em conta as facilidades oferecidas fora
da Internet. Gráficos, análise de risco, carteiras sugeridas, chat e relatórios diários,
por exemplo, são alguns extras interessantes que podem ser muito úteis.
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Analisando as possibilidades
Depois de apresentar os deslizes cometidos por alguns investidores, sinto-me mais
confortável para detalhar meu processo de avaliação de corretoras:
Passo 1: Faça um diagnóstico de sua necessidade. Se você não tem condições de
operar lotes, pretende usar o mercado fracionário e(ou) possui pouco capital inicial,
nem todas as corretoras poderão atendê-lo. Conheça bem seu perfil, defina e liste as
premissas relacionadas para que seu trabalho de busca seja facilitado.
Passo 2: Faça uma seleção de cinco alternativas, usando as premissas do primeiro
passo, e descarte todo o resto. Como? Acompanhe o noticiário especializado por
alguns dias, repare no histórico de atividade das corretoras e procure investigar,
em seus próprios sites, um pouco da história, condições comerciais e ferramentas
disponíveis por cada uma delas. Selecione as cinco alternativas que se encaixam
dentro de sua expectativa de custos de corretagem, custódia, depósito inicial mínimo
etc.;
Passo 3: Telefone para as cinco opções. Ligue para o telefone 0800 de cada uma
das opções e veja quanto tempo de espera você terá que enfrentar para chegar até
um atendente. Se quiser ir mais além, ligue mais de uma vez, em horários e dias
diferentes.
Faça algumas perguntas, como: Como faço para comprar e vender ações? Quanto
tempo preciso para poder entrar no mercado e começar a operar? O que é o sistema
de home broker e como ele funciona? Quanto custa operar através da sua corretora?
O que sua corretora tem que os concorrentes não oferecem? Depois de ouvir algumas
respostas você vai entender a razão para tantas perguntas.
Passo 4: Escolha! Agora você já tem uma ideia de como cada uma pode atendê-lo e
pode escolher com mais calma. Boa sorte.
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Recomendações adicionais
Prefira sistemas que sejam amigáveis e ofereçam ferramentas ao alcance de poucos
cliques;
Prefira corretoras estabelecidas e com bom histórico de operação também fora da
Internet;
Prefira corretoras que ofereçam relatórios diários e mensais, assim você pode ver a
opinião dos especialistas que contratou;
Prefira optar por corretoras que ofereçam test-drive. Experimentar a plataforma pode
facilitar sua decisão;
Evite basear-se apenas nas recomendações de amigos. Faça a sua análise;
Evite ferramentas e sistemas de home broker confusos. Se você não entender sua
interface e operação durante o test-drive, caia fora.
Guia de corretoras de ações
A edição de fevereiro/2008 da revista Estadão Investimentos trouxe um verdadeiro
mapa das corretoras brasileiras. Leitura obrigatória para quem pretende seguir
esse caminho, a reportagem detalha custos de operação, adicionais, ferramentas e
características de 45 corretoras que oferecem home broker. Confira alguns retratos do
mercado trazidos pela pesquisa:
Custos e aplicação mínima
87% das corretoras não exigem aplicação mínima;
64% adotam a Tabela Bovespa para os custos de operação;
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56% não cobram adicional para atendimento pessoal;
10% não cobram taxa para compra e venda de títulos públicos;
19% não cobram taxa de custódia.
Ferramentas adicionais
40% têm sistema home broker próprio;
24% enviam relatórios setoriais;
50% têm sistema de avaliação de riscos;
42% promovem chats.
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  • 1. Educação financeira: um estilo de vida Conrado Navarro
  • 2. /752 Menu Menu_______________________________________________ 2 Introdução___________________________________________ 3 Afinal de contas, educação financeira faz diferença?_ _____________ 3 A desinformação piora o cenário._ ____________________________ 4 Adote a educação financeira!_________________________________ 5 Por que o futuro é tão importante?________________________ 7 Se o futuro não existe, como planejá-lo?_______________________ 7 Futuro quer dizer tempo. Para o dinheiro, tempo é tudo!___________ 8 Qualidade de vida?_ _______________________________________ 8 Qual dos dois tem mais futuro?_______________________________ 9 É possível conciliar tempo, dinheiro e família?______________ 11 O desafio de viver!_ ______________________________________ 11 Trabalhar demais é bom?_ _________________________________ 12 Utopia?_ _______________________________________________ 14 O consumo, o crédito e nossas decisões___________________ 15 Comprar é como uma droga________________________________ 16 Aprendendo com o passado para acertar o futuro_ ______________ 16 Qualquer um pode alcançar a independência financeira_______ 18 O responsável é você!_____________________________________ 18 Prioridades e sangue frio na negociação_______________________ 19 Confiança e planejamento para chegar lá______________________ 20 Sim, você pode!__________________________________________ 20 Há relação entre riqueza e qualidade de vida?______________ 22 Alguns exemplos_________________________________________ 23 Educação financeira, dinheiro, negociação e descontos_______ 25 A relação entre você, seu gerente bancário e o banco_________ 28 Interesse e informação____________________________________ 28 Quando você é cliente, não é amigo!_ ________________________ 30 Cartão de crédito: verdades, vantagens e armadilhas_________ 31 Cartão de crédito vale a pena?______________________________ 31 Cartão de crédito, uma ferramenta___________________________ 32 Exemplos rápidos_________________________________________ 33 Como não parar para rever nossas decisões diante de números e casos como esses?_ ___________________________________________ 34 A verdadeira face dos títulos de capitalização_______________ 35 Aprendendo com um exemplo_______________________________ 36 Que detalhes são esses?___________________________________ 36 Tem mais: a carência______________________________________ 38 Mas e a chance de ganhar uma “bolada”?______________________ 38 Será que todos podem ter um carro? Não!_________________ 40 Onde focar?_____________________________________________ 41 Uma visão de negócio_____________________________________ 41 Mas a vida não é assim____________________________________ 41 Comprar é o mais fácil. E depois?____________________________ 42 Investimento, uma questão de expectativa_________________ 44 Quando o melhor investimento é guardar dinheiro___________ 47 Investir? Onde? Quanto?___________________________________ 48 Prioridades de vida_ ______________________________________ 49 Guardar dinheiro é fácil____________________________________ 49 Princípios e atitudes do investidor inteligente_______________ 51 Equilíbrio... Mas, e se?_____________________________________ 51 Todos podemos ser investidores inteligentes_ __________________ 54 Objetivos, disciplina e o poder dos investimentos____________ 55 Guardar dinheiro_________________________________________ 55 Concentre-se primeiro nas perguntas relacionadas ao seu objetivo__ 56 O investimento que você precisa_____________________________ 56 Como escolher uma corretora para investir em ações?________ 58 Analisando as possibilidades________________________________ 59 Recomendações adicionais_ ________________________________ 60 Guia de corretoras de ações________________________________ 60 Custos e aplicação mínima_ ________________________________ 60 Ferramentas adicionais____________________________________ 61 Principais erros do investidor iniciante em ações____________ 62 Investimento sustentável através do mercado de ações_______ 64 Por que optar pela bolsa de valores?__________________________ 64 Sustentabilidade no mercado de capitais_ _____________________ 65 ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial___________________ 65 Como investir e comprar ouro sem ter muito dinheiro________ 68 Por que comprar ouro?_ ___________________________________ 68 É possível comprar ouro com pouco dinheiro?_ _________________ 69 Quais os riscos relacionados ao ouro?_________________________ 70 Padrão de vida na aposentadoria: sobrevivência ou qualidade de vida?______________________________________________ 71 E no Brasil?_____________________________________________ 72 A prática é uma aposentadoria longe da ideal___________________ 72 Sobre o autor________________________________________ 74 Sobre este livro______________________________________ 75 Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 3. /753 Introdução Uma pergunta frequentemente assola meu sono: por que será que, mesmo tão presente, o dinheiro ainda é um assunto rodeado de tabus, constantemente dominado por discussões vazias, moralistas e, embora reconhecido como fator preponderante para a felicidade e o sucesso familiar, tão mal administrado? A resposta óbvia é que é muito mais fácil (e prazeroso) gastar a poupar. A resposta mais precisa, no entanto, talvez envolva questões mais abrangentes. Afinal de contas, educação financeira faz diferença? Depois de alguns anos trabalhando fortemente esta questão, é meu dever afirmar categoricamente: SIM! Educação financeira faz muita diferença. O que nem sempre está claro para os consumidores é que não se trata de trabalhar apenas o aspecto financeiro, caracterizado por números, planilhas e contas. É fato que a maioria gasta mais do que ganha e não tem controle adequado. A comprovação surge através de pesquisas específicas e números constantemente divulgados pela mídia especializada. Veja, por exemplo, estes números de uma recente pesquisa realizada pela TeleCheque: 64,22% dos entrevistados apontaram o descontrole financeiro como a principal causa para sua inadimplência; 6,61% apontaram o ato de emprestar o nome como razão principal para o endividamento excessivo; 3,34% afirmam estar em problemas por conta de erros dos bancos; Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 4. /754 2,98% têm no desemprego a questão crucial para o excesso de dívidas. Outros indicadores podem ser visualizados em matéria do portal InfoMoney que traz os resultados desta pesquisa. A boa notícia, embora ela não possa ser comemorada, é que o brasileiro já reconhece que a culpa não é do sistema, mas de suas atitudes e decisões cotidianas em relação ao dinheiro. Assumir a responsabilidade é o primeiro passo, ótimo, mas como seguir em frente sem cair nas garras do apelo de inclusão social causado pelo exercício de possuir e demonstrar posses? A insistência de nosso trabalho nos aspectos humano, familiar e relacionado ao trabalho tem como objetivo despertar nos brasileiros motivos suficientemente fortes para que eles se abram para mudanças de hábito e comportamento - que, claro, trazem consigo a aplicação e manutenção de ferramentas de apoio (orçamento, simuladores, planilhas, livros etc.). O problema não está no desejo de padrão de vida, mas no parâmetro pessoal e emocional que o leva a querer distinção. A desinformação piora o cenário. Soma-se ao aspecto pessoal o parco acesso a informações confiáveis, porém traduzidas e acessíveis, e o desinteresse pela mudança torna-se perigoso. Mudar, no sentido do planejamento, não parece opção, uma vez que envolve atributos e atitudes pessoais poucos valorizados, como objetivos definidos, leitura, disciplina, tolerância à frustração e autoestima. Pois é, o desafio é gigantesco. Você sabia, por exemplo, que 82% dos brasileiros não sabem a taxa de juros dos empréstimos que tomam? Ou que 87% das famílias brasileiras não poupam para o futuro? As informações fazem parte de uma pesquisa sobre o tema realizada em 2007 pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Interessa mencionar que muitas famílias têm apenas o suficiente para a subsistência, mas é impossível não notar a migração de classes e o crescente aumento do poder de compra de nossa população. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 5. /755 Adote a educação financeira! Se o trabalho e o destino nos reservam dias melhores, neles temos que projetar nossos sonhos e ambições. Lamentar o que passou, justificar o que não se verificou e apenas creditar ao acaso certas realizações só servem ao propósito cômodo de sustentar desculpas. Cumprir com os anseios futuros, no entanto, requer que a atenção seja dada ao momento presente, todos os dias, de forma intensa e inspiradora. Patrimônio e riqueza não podem ser comprados, só podem ser construídos. Ora, se você (como muitos brasileiros) sabe que sua situação financeira não é confortável e que se encontra assim por falta de controle, pare de adiar a responsabilidade de rever seus objetivos e conceitos em relação ao dinheiro ou de colocar a culpa na falta de tempo - a procrastinação é o elemento chave que sustenta a zona de conforto. Experimente ousar mais no trabalho; Tente aproveitar parte do seu tempo livre para ler mais; Procure mais informações sobre os pontos fracos de seu planejamento; Experimente ser voluntário em sua comunidade ou entre amigos que precisam de atenção. Só assim será possível compreender como o fator humano é essencial nas relações com todo e qualquer assunto. Educação financeira é muito mais que baixar uma planilha ou anotar seus gastos. É ver nestas e em outras atitudes uma porta para a liberdade, para a criação de riquezas pessoais (familiares, espirituais, profissionais e materiais) e qualidade de vida. Porque, muito ou pouco, dinheiro todo mundo tem. A diferença está no que ele representa para você e sua família. Educação financeira é, em essência, parte de um estilo de vida. Porque dinheiro é bom e todo mundo gosta, mas nem todos são convincentes em explicar o porquê. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 6. /756 Que esse livro seja bastante útil e importante para seu desenvolvimento pessoal e profissional. Meu objetivo é oferecer a chance de incluir o dinheiro, como ferramenta e assunto, em seu dia-a-dia. Aproveite a leitura e entre em contato comigo. Conrado Navarro www.dinheirama.com www.twitter.com/Dinheirama www.twitter.com/Navarro Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 7. /757 Por que o futuro é tão importante? Aqui neste livro, no seu site preferido de finanças pessoais, na revista especializada ou no portal de uma consultoria financeira, não importa, há uma mensagem sempre marcante quando o planejamento financeiro pauta a discussão: tomar decisões pensando no futuro, também chamado de longo prazo, é parte essencial de uma estratégia eficiente de formação de patrimônio e construção de uma vida mais tranquila. É consenso entre os amantes do tema, mas não entre a maioria da população. Se o futuro não existe, como planejá-lo? Expressões como “O futuro a Deus pertence”, “Viva a vida no presente, único momento possível”, ambas oriundas da sabedoria popular e “No longo prazo todos estaremos mortos”, do famoso economista Maynard Keynes, para ficar em poucas variantes, têm lugar garantido na agenda romântica de justificativas da grande parcela da população que não gerencia seus recursos (financeiros, morais, profissionais etc.). O paradoxo torna-se mais interessante quando passamos a observar o futuro como uma consequência do presente. Não se trata de filosofia ou autoajuda, mas de uma constatação simples: o futuro inexiste, é fato, mas só existe se, no presente (hoje), criarmos condições para tal. É mais ou menos assim: o amanhã pode não existir, é futuro, incerto, mas se ele acontecer, precisarei ter saldo suficiente para pagar o cartão de crédito e o plano de saúde. Não é tão simples. Se o problema fosse apenas nossa visão de futuro, talvez as oportunidades de mudança fossem mais nítidas. Há a questão cultural, carregada com Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 8. /758 o peso de anos de instabilidade econômica, política e social. Porque por muito tempo fomos manipulados, sendo obrigados a viver sob regimes autoritários, fechados e com pífia administração para o longo prazo. A inflação, por exemplo, arruinava qualquer desejo de planejamento. Futuro quer dizer tempo. Para o dinheiro, tempo é tudo! Enxergar o futuro quando estamos endividados é horrível. Dói. As contas vão vencer, nossos nomes serão protestados ou colocados nas famosas listas de maus pagadores. E, ao optar por não pagar o que devemos, a dívida cresce - muitas vezes de forma incrivelmente rápida. E ao final de um, dois, cinco anos, devemos quantias inacreditáveis. Mas devemos! Só então nos damos conta de que o futuro existe e agora é presente. Muito presente. O futuro é ali na frente, mas depende do aqui, agora. Filosofia básica de bar. Felizmente, a sociedade já se prepara para viver e incentivar iniciativas sérias de educação financeira, capazes de fazer refletir até mesmo as famílias mais humildes, dotadas das mais diversas razões para ignorar a chance de um amanhã melhor. Acreditar que é possível mudar o futuro, que não tem nada a ver com destino, deve ser o primeiro passo. Ora, quem constrói patrimônio através de um fluxo de caixa confortável, equilibrado e que destina somas relevantes para os investimentos sabe que o poder dos juros compostos, prática da matemática financeira que faz crescer montantes aplicados (lado bom) ou emprestados (lado triste), é muito maior quando o tempo é usado com sabedoria. Pequenos aportes, por muito tempo, trazem boa fortuna e qualidade de vida. Qualidade de vida? Sim, pois quem aprende a poupar e investir desde cedo, aceitando que o futuro não é apenas a certeza da morte, destina pequenos valores para os projetos de médio Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 9. /759 e longo prazo, podendo usar boa parte das receitas do presente para aproveitar melhor o agora. Um outro grupo, tido como modelo de comportamento, prefere viver “intensamente” e gasta tudo e ainda toma dinheiro emprestado. Quer ver na prática? Formado, com seus 20 e poucos anos, o sujeito começa a trabalhar e, com a família, estabelece algumas metas pessoais e profissionais. Então destina, todo mês, uma quantia pequena, mas razoável, para a previdência complementar (para os 60+ anos), para a compra do carro e entrada em uma casa própria dali 10 anos. Com estes planos em mente, e dado o horizonte de tempo à sua frente, ele destina cerca de 30% de suas receitas para seus sonhos. Ele investe e usa o tempo. Com o restante do que ganha, pode fazer muita coisa. E faz; Formado, com seus 20 e poucos anos, o sujeito tem que começar a trabalhar em qualquer emprego porque precisa arcar com parcelas atrasadas de um carro financiado quando ainda era universitário. Os pais pagavam uma parte e ele outra. De vez em quando exagerava e os pais cobriam tudo ou deixavam uma ou outra parcela para trás. Ele faz questão de ter os itens de consumo da moda, mas porque o observam por isso e não por necessidade, e a única opção de construir patrimônio que vislumbra é através de financiamentos. Na prática, ele não faz quase nada do que realmente gostaria. Qual dos dois tem mais futuro? “Depende”. Depende das circunstâncias, depende do perfil de cada um, depende da profissão, de seu relacionamento, disso, daquilo. “Depende” é uma resposta que sempre funciona, especialmente quando falta coragem para assimilar certas verdades. Então tá. Um crê no futuro como fruto de seus atos, outro crê no presente como saída para todos os seus problemas - o que, essencialmente, cria mais problemas. Situações assim são comuns, estão por toda parte. Infelizmente. Ah, o futuro... Não pretendo convencê-lo de que o futuro só será mais rico, confortante e melhor desfrutado se você se planejar. Prefiro apenas despertar em Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 10. /7510 você o desejo de questionar-se acerca dos dias e anos que virão e suas aspirações e motivações para mudar o presente de alguma forma. Tudo porque esses dias alguém me perguntou: “Mas Navarro, por que o futuro é tão importante?”. Minha resposta, óbvia como quase tudo que escrevo, foi: “Porque ele chega! Rápido!”. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 11. /7511 É possível conciliar tempo, dinheiro e família? Rápido. Tudo tem acontecido muito rápido e as mudanças impostas pelas invisíveis leis do alto desempenho recaem cada vez mais intensas sob os ombros de muitas famílias. Participar dos momentos familiares, educar os filhos para a cidadania, praticar exercícios, sustentar hábitos saudáveis, destacar-se no trabalho e ainda manter uma vida social satisfatória parecem atividades impossíveis de serem realizadas de forma complementar. Para muitos, são mesmo. A verdade é que ninguém gostaria que fosse assim, mas, ao mesmo tempo, poucos desligam o piloto automático por alguns instantes e se concentram em avaliar sua situação pessoal e profissional de forma séria, determinante. Prioridade. Esta é a palavra-chave ignorada por muitos e que gera infindáveis discussões a respeito de carreira, dinheiro e prosperidade. Tais debates, sempre desgastantes, trazem a você meu desabafo. Afinal de contas, é de se esperar que alguém equilibrado, coerente, afirme que sua prioridade é a qualidade de vida, a família e seus filhos. Não é. Estes são, cada vez mais, apenas pretextos para desafios profissionais cada vez maiores, mais complicados e exigentes. Está claro que trabalhar é mais do que uma opção, é um estilo de vida e uma necessidade. Trabalhar demais, no entanto, é uma escolha. O desafio de viver! Confesso que abordar este assunto gera certo desconforto. Tudo porque temos como modelo de sucesso empreendedores, profissionais e celebridades viciadas em trabalho, com famílias destroçadas, pouquíssimos amigos e muito pouco tempo de lazer. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 12. /7512 Também porque certas famílias evitam tratar de tais problemas, o que significaria mexer na sua zona de conforto. Na era da comunicação, que ironia, presenciamos cada vez mais casamentos “remotos”. O marido aqui, a esposa e os filhos lá e um fim de semana para os momentos familiares. Alguns casais amigos meus afirmam, categoricamente, que o relacionamento só funciona com a semana os separando - ou, do contrário, a saudade seria menor e as discussões maiores e mais perigosas. E o número de separações/ divórcios, que só tem aumentado? Que modelo de família queremos construir? Queremos construir família? Trabalhar demais é bom? Na raiz da questão está o cada vez mais pesado fardo do trabalho. Fardo? Pois é, muitos brasileiros têm no trabalho sua fonte de renda para o consumo e realização de desejos. O dinheiro decorrente do trabalho serve, na maioria dos casos, para comprar, gastar e envolver-se na aparente sensação de liberdade e independência. O resultado é que trabalha-se cada vez mais, com a certeza de que assim a família terá melhores oportunidades, mais felicidade e condições de prosperar como conjunto. E os pais dedicam-se ao trabalho durante 10, 12, 14 horas com esse nobre objetivo. Está na moda ser viciado em trabalho, ser workaholic. Aliás, parece que não está na moda ser “preguiçoso” segundo a visão do escritor Eduardo Cupaiolo. Certo dia, os viciados descobrem que o filho cresceu, não os respeita como gostariam e que os planos foram dando lugar aos gestos consumistas. Mas a justificativa está na ponta da língua: “Se não for assim, me mandam embora e contratam outro”, “Sem todo esse esforço, nossos concorrentes vão ter mais destaque”, “Minha família compreende esses sacrifícios porque sabe que faço isso para que possamos ter mais qualidade de vida”, “Só cresce na empresa quem trabalha muito e se dedica aos jogos corporativos” e por ai vai. Você e eu poderíamos Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 13. /7513 preencher todo este espaço com desculpas deste tipo. Sugiro que faça uma reflexão a partir das perguntas: Você fica mais excitado com o seu trabalho do que ao lado de sua família e com os momentos ao lado de amigos? Leva trabalho para casa? Para a cama? E nos finais de semana? Sua família ou amigos desistem de esperá-lo quando sabem que você está vindo do trabalho? Você fica impaciente e é pouco compreensivo com pessoas que tem outras prioridades além do trabalho? Como é para você ouvir “As 17h não posso me reunir porque preciso sair para fazer meu treino de corrida”? Você fica irritado quando alguém pede para você trabalhar menos ou deixar de trabalhar por alguns instantes? Você trabalha ou lê durante refeições? Qual o legado deixado? Depois de muito trabalhar e se sacrificar, resta aceitar, já na hora de se aposentar ou durante a terceira idade, que a vida passou rápido e que o “possível” foi feito. O possível, que é bem diferente do importante, do relevante. O resto fica como puro desejo. Desejo de ter economizado e investido para ter mais durante a aposentadoria, de ter trabalhado menos para passar mais tempo com a família ou de ter praticado exercícios para minimizar os problemas de saúde, para ficar em poucos exemplos. Tudo isso já foi possível, mas não era relevante. Prioridade, lembra? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 14. /7514 Utopia? Eu passei por tudo isso. Cheguei a achar que passar por privações, experiências amargas de trabalho, ambientes corporativos recheados de tirania e problemas de saúde eram passos obrigatórios para uma vida plena, com dinheiro em caixa e possibilidades de realização pessoal/profissional. Fui na onda e acabei literalmente destruído. Depois percebi que nada disso é necessário para quem quer viver sua vida dentro dos limites do bom senso. De verdade. Sem nenhuma vergonha, deixo aqui meu testemunho: morei cerca de 6 anos em São Paulo, de onde viajava de quatro a cinco dias por semana. Lá, começava a trabalhar às 8h e voltava depois de 20h para casa. Então tive um colapso no trabalho e problemas sérios de saúde. Meu casamento ruiu e veio a separação. Para alguns, eu tinha tudo (carreira promissora, reconhecimento, emprego, isso e aquilo). Na verdade, eu não tinha nada. Então voltei para o sul de Minas, onde hoje programo minha agenda para no máximo dois dias fora de casa, acordo às 8h e trabalho das 9h às 17h, corro 50 km por semana e tenho uma alimentação balanceada. Finalmente estou vivo. Tenho tempo para manias, família, amor, livros, amigos, viagens e o que mais você imaginar. Como vê, não sou demagogo. Babaquice por babaquice, prefiro a visão piegas de gente comum que encontra, na vida simples, inúmeras razões para ser feliz. Essa coisa de sucesso a qualquer custo, trabalho escravo e dedicação total ao trabalho pode torná-lo alguém muito influente, até rico e com muito patrimônio, está certo! Mas não inveje minha qualidade de vida e sossego. Prioridade, de novo, lembra? Uai… Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 15. /7515 O consumo, o crédito e nossas decisões O texto de hoje é mais um daqueles óbvios, que trata de uma verdade que você já conhece, mas talvez ignore: o sucesso financeiro é alcançado através de muita dedicação e construído todos os dias através de estudo, foco e comprometimento para com seus objetivos e metas. O insucesso financeiro, por outro lado, é resultado da soma de diversos fatores que nos levam a realizar escolhas erradas e certamente uma consequência da falta de interesse. Errar não é o problema, cabe frisar. Triste é notar que muitos erram e não enumeram, aceitam e compreendem dali lições para o futuro. O erro propriamente dito não é o principal responsável pelo insucesso. O descuido com o aprendizado, sim. Vivemos atualmente em um Brasil de oportunidades. Certo, mas elas não estão à disposição como em uma prateleira de supermercado. Ora, é preciso arregaçar as mangas e partir para a luta. Essa nova realidade, com estabilidade econômica e inflação sob controle, precisa ser amplamente discutida, pois grande parte da população ainda não se acostumou a lidar com essa nova vida e com as características de um país em crescimento. Nesse contexto, um erro muito comum e que passa despercebido no dia-a-dia de muitas famílias é justamente a forma como lidamos com o crédito, o dinheiro dos outros que usamos para consumir e adquirir bens. Será que recorrer a ele para consumir sem planejamento e sem ter dinheiro é uma atitude inteligente? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 16. /7516 Comprar é como uma droga Segunda uma pesquisa recente, o prazer de comprar pode ser comparado ao prazer que viciados sentem ao consumir drogas. A sensação de poder adquirir aquele bem é indescritível e faz bem ao ego, mas muitas vezes faz (muito) mal ao bolso - e depois à família, ao ego e à autoestima. Mas, naquele momento, com o crédito disponível, não “saiu” dinheiro da conta, e o prazer se tornou maior ainda. No entanto, toda a ilusão é desfeita no dia em que a fatura chega ou quando o cheque pré-datado bate na conta (e volta). Porque a conta vai chegar e com ela a negação de que o responsável pela compra sejamos nós e que o problema financeiro exista. Ao óbvio, de novo: crédito não é dinheiro grátis. Muito pelo contrário, os juros são muito altos - embora não possamos considerá-los desonestos, já que concordamos em pagá- los. Depois do erro cometido por conta da falta de planejamento, o comum é culpar a ferramenta de crédito e a facilidade na obtenção do dinheiro emprestado. Costumo dizer que temos a tendência de culpar o sistema. Falta olhar o próprio umbigo e admitir que o culpado é quem fez a compra, gastando o que não tinha e não podia. Aprendendo com o passado para acertar o futuro A razão para alguns erros na gestão do dinheiro está também em nosso passado. Quando crianças, observávamos atentamente nossos pais cometerem os mesmo erros, péssimas escolhas e dando pouco incentivo pela educação de uma forma geral. Quando o assunto era dinheiro, pior ainda! Pouco se falava, e ainda se fala, nas famílias e os exemplos são quase sempre negativos. Como será que um adolescente vai lidar com as finanças se os pais são, via de regra, endividados e sem metas para o futuro? A tendência é a perpetuação dos problemas. No começo do artigo chamei a atenção para a forma como lidamos com os erros. Assim, quando aproveitamos a experiência para tomar decisões mais acertadas no Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 17. /7517 futuro, ótimo. Muito cuidado, porque dinheiro não aceita desaforo e o crédito nesse caso pode ser uma corda que mais cedo ou mais tarde vai lhe apertar o pescoço. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 18. /7518 Qualquer um pode alcançar a independência financeira Sempre que exaltamos o planejamento financeiro como instrumento indispensável para que as pessoas consigam atingir a independência financeira, muitas pessoas entram em contato para dizer que é muito fácil falar em planejamento para quem possui as contas e a vida financeira em dia. Argumentam que, para as pessoas endividadas e descontroladas, a independência financeira é uma meta muito mais difícil, senão impossível. De fato, milhares de pessoas no Brasil passam pela realidade do descontrole financeiro. Pensando e mirando apenas a satisfação imediata, a grande maioria mete os pés pelas mãos e nem percebe que pode estar entrando no arenoso terreno das dívidas, da procrastinação. Desnecessário dizer que poucos avaliam que, para sair desta situação, será necessário um grande esforço. É neste momento que muitos preferem justificar, criar desculpas. O responsável é você! Se você está nessa situação, o mais sensato a fazer é encarar a situação e analisar onde está o erro. Admitir que os responsáveis pelo erro não são somente os juros exorbitantes dos produtos financeiros, nem o cartão de crédito – que estava ali “pedindo para ser usado“ – e nem mesmo a mídia (competente) que colocou em sua cabeça que esse era o momento certo para se endividar e comprar algo. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 19. /7519 Não, o primeiro e principal passo é assumir, aceitar, que o grande responsável pela situação é você! Você decidiu entrar nesse poço, seja porque deu de ombros aos parâmetros envolvidos na negociação ou porque simplesmente afogou-se em produtos sem sequer considerar sua real capacidade de pagá-los. A hora é de ser adulto, gente grande. Deixe as desculpas e o “blábláblá” de lado e tenha atitude! Por pior que seja a verdade, o passo crucial é descobrir o tamanho do buraco. Faça um levantamento detalhado de suas dívidas, levantando os valores devidos, quem são os credores, as taxas usadas nas correções etc. Faça um dossiê e tenha sempre tudo anotado. De posse desse levantamento, vamos discutir as possibilidades para sair dessa incômoda situação de uma vez por todas. Você deve ter em mente que a independência financeira só é possível quando não sustentamos dívidas que prejudiquem nosso fluxo de caixa e o potencial de investimentos. Cabe ressaltar também que todo controle deve ser feito com base em sua renda, em seu padrão de vida. Prioridades e sangue frio na negociação Vamos eleger prioridades! Aquelas contas que são mais antigas e com juros maiores merecem um pouco mais de cuidado e devem ser definidas como ponto de partida dessa verdadeira operação de guerra. Guerra contra as dívidas. Nesse momento, não adianta dar um passo maior do que a perna. Traduzindo, existem despesas mensais que não podem ser desprezadas, como as contas de luz, água, aluguel, entre outras. Ah, outro compromisso importante que deve já ser considerado é o investimento no futuro. Ainda que esteja super apertado(a), experimente separar um percentual, mesmo que simbólico, para o grande sonho de ser independente financeiramente. Sinta o poder de guardar com um propósito, de adiar uma decisão de consumo porque seu objetivo maior é mais valioso. Valorize este momento ao lado de sua família. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 20. /7520 Confiança e planejamento para chegar lá Durante a negociação, é importante buscar alternativas para as dívidas. Um bom exemplo é a troca de dívidas de juros maiores por outras de menores juros. Trocar os juros do cartão de crédito por empréstimos pessoais, como o crédito consignado, pode ser uma ótima saída. Como? Você pega o dinheiro emprestado considerando os juros menores, negocia uma parcela que caiba no seu orçamento e usa o montante para quitar o saldo devedor do cartão. E para de usá-lo. É bom lembrar que o credor tem todo o interesse em receber o valor atrasado. Assim, seja paciente em algumas oportunidades, anote tudo e não dê uma resposta imediata. Coloque tudo no papel e, antes de assinar qualquer acordo, veja se ele é realmente interessante para o seu bolso, se o valor das parcelas esta dentro do planejado. Afinal, não é hora de dar outro passo maior que a perna, certo? Ameaças, tentações e opiniões confusas (muitas vezes ignorantes) de amigos e familiares podem surgir. Tenha a serenidade necessária para não deixar o seu planejamento ruir. Mantenha-se firme no propósito de reverter o quadro e passar de devedor a poupador. Sim, você pode! Como pode ver, as coisas não são tão difíceis assim. Tudo depende de sua capacidade de tomar a frente da situação e não delegar essa responsabilidade para outros. Tenha em mente que, quando se trata de endividamento, você deve resolver o problema e então se preparar para não cair outra vez na mesma cilada. Você! Tudo começa e termina com você! Você! Seja mais persistente e menos suscetível a toda e qualquer frustração. Busque inspiração em cursos, livros, sites e desenvolva o hábito de planejar suas futuras aquisições. Comece de uma forma simples e inteligente: experimente comprar sempre à vista e com desconto. Faça o teste. Seu futuro será muito melhor e você poderá Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 21. /7521 ajudar seus amigos e familiares que passam pelas mesmas dificuldades que você já começou e decidiu superar. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 22. /7522 Há relação entre riqueza e qualidade de vida? Não adianta, quase sempre a brincadeira com alguém que trabalha com finanças passa pela pergunta “Você já ficou rico?” e termina com “Porque, veja, para ensinar as pessoas a ganhar dinheiro você tem que ter chegado lá”. O raciocínio é válido, tem fundamento, mas é simplista, para não dizer leviano e superficial. Ensinar a ganhar dinheiro? Rico? Aproveite que o texto ainda está em seu começo e reflita: são apenas essas as métricas que motivam você a procurar informações, textos e material relacionado aos investimentos e às finanças pessoais? Então a única razão para lidar bem com seu cotidiano financeiro é ficar rico e ter muito dinheiro? Sem dúvida, muitos dirão “SIM” de forma bastante efusiva. Normal. Mas eu prefiro sempre abordar o tema com mais cuidado, ainda que de forma provocativa: Como fica a qualidade de vida e o bem estar quando só se pensa em enriquecer, comprar isso e aquilo e estar sempre na última moda? Ter tudo e não ter tempo para usufruir de tanta coisa é qualidade de vida? Impressionar através de bens materiais é viver o bem estar em sua melhor forma? Como de costume, tenho muito mais perguntas que respostas. Experimente questionar certas atitudes automatizadas de seu dia a dia e garanto que vai se impressionar com o quão pouco você valoriza sua real capacidade de desfrutar de momentos felizes, simples e descomplicados. Felicidade nos pequenos detalhes, já viu? Temos o péssimo hábito de complicar o que é bom para temperar ainda mais a sensação de realização. Surreal. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 23. /7523 Em geral, noto famílias vivendo momentos terríveis, mas sempre com a justificativa de que tudo é para garantir qualidade de vida no lar. Logo, começo a desconfiar que a definição de qualidade de vida esteja deturpada ou erroneamente interpretada por grande parte da população. Começo com você, caro leitor: o que você considera ser qualidade de vida? Alguns exemplos Imagine aquele profissional que trabalha demais, que está sempre correndo contra o tempo para dar conta de seus afazeres, que tem muitos compromissos e julga impossível ter tempo para praticar exercícios. Seu salário é alto, as recompensas financeiras são generosas e ele é tido como grande modelo de sucesso profissional. Você certamente conhece alguém assim. Agora pense no profissional que trabalha em uma cidade menor, mais tranquila, onde naturalmente seus horários são mais flexíveis, seus benefícios extra-salário são relacionados também ao tempo livre e de forma que ele consiga praticar seus hobbies, passar mais tempo com a família e cultivar suas manias. Já usei meu exemplo pessoal algumas páginas atrás. Quem tem mais qualidade de vida? A resposta está na ponta da língua, não é mesmo? Ora, então qualidade de vida significa ter vida fora do trabalho, cultivar momentos fora da empresa, respirar o ar dos amigos e da família e fazer deles razão para dias menos estressantes e de pouco ou nenhum trabalho até altas horas da noite. Se quiser conhecer melhor minha opinião neste sentido, recomendo a leitura do artigo “É possível conciliar tempo, dinheiro e família?”. Certo, qualidade de vida é um conceito relativamente simples, óbvio. Agora vamos levar em conta a remuneração direta de cada um dos profissionais citados. O que trabalha muito está em uma empresa com proposta agressiva e tem bônus polpudos relacionados às suas metas de vendas e contratos fechados. O que trabalha menos Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 24. /7524 e vive no interior recebe um salário menor e tem no 13º salário e no plano de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) seu extra anual. Quem é mais rico? Para alguns, a resposta ainda é fácil. No entanto, começo a ouvir um coro dizendo “Depende”. Depende de quê? Rico não é ter mais dinheiro, ter mais isso e aquilo, andar de carrão e morar em um belo apartamento? Sim? Não? Experimente observar a situação dos profissionais de outro ângulo: qual dos dois leva uma vida mais rica em realizações, amor, saúde e, adivinhe, qualidade de vida? Portanto, profissionais sérios que abordam finanças pessoais e investimentos propõem a seus amigos e clientes uma vida equilibrada, com trabalho sério, mas também momentos de lazer e planejamento para desfrutar de qualidade de vida hoje e sempre. Ficar rico é consequência de uma vida rica, próspera, pautada no bom senso, respeito e suporte familiar. O dinheiro, então, é um aliado e não uma meta final. Quando estiver próximo de algum falso rico - o típico workaholic que adora falar dos inúmeros contratos fechados em pleno happy hour - experimente comentar sobre sua rotina de prazer ao lado de sua(seu) esposa(o) e do plano de abrir um negócio assim que os investimentos já realizados alcançarem a meta programada. Repare na sua reação. Ele vai te achar um babaca. Sorria, afinal sua vida não depende disso para existir. Ela já existe. Enquanto isso, ele vai seguir achando que babacas como você são a razão para tanto sucesso de pessoas como ele. Tudo bem, é a vida. Uns escolhem ficar ricos enquanto outros escolhem ser ricos. Eu sou rico! E você? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 25. /7525 Educação financeira, dinheiro, negociação e descontos Dê uma boa olhada em torno da mesa ou local onde está atualmente lendo este artigo. Repare nos objetos, produtos, bens e tudo mais que está ao alcance das mãos. Agora pense também no que está quase que onipresente em seu dia-a-dia. A casa onde mora, o carro que dirige ou os gastos cotidianos com lanches fora de hora e pequenos mimos. Quanto custou tudo isso? Quanto vale tudo isso para você e sua família? Tudo tem uma relação custo/benefício particular, difícil de avaliar e impossível de julgar. Verdade, mas antes do apego emocional subjetivo ligado à compra, uma decisão econômica teve de ser tomada e aspectos financeiros importantes certamente estiveram em jogo. Experimente avaliar novamente os objetos e tente se lembrar da oportunidade em que os comprou e como e por que tais compras ocorreram. Exercício interessante, não? Negociação! A vida nunca esteve tão ligada ao conceito de negociação. Leve em conta algumas questões e frases comuns ouvidas por ai: “Compro isso agora ou procuro marcas alternativas?”; “Se você levar este chocolate, hoje não vamos comprar sorvete”; “O pagamento à vista tem 10% de desconto, mas posso parcelar em até 12 vezes. O que é melhor?”; Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 26. /7526 “Vou fazer uma contra-proposta interessante e tentar pagar um preço mais realista para meu orçamento”. O festival de banalidades e situações corriqueiras poderia ser muito mais extenso, mas você já entendeu onde quero chegar. Você vai passar por situações deste tipo durante toda a sua vida. Seu conhecimento a respeito das alternativas de pagamento, o interesse pelas finanças e o bom senso é que farão toda a diferença. O dinheiro, pasme, é o detalhe. Se nossas ações geram consequências, experimente focar nas perguntas ao invés de apenas se aborrecer com algumas de suas atitudes. Ao respondê-las, liste algumas ações capazes de fazê-lo alguém financeiramente mais inteligente e menos suscetível aos ditames consumistas. Você sabe o que precisa fazer, acredite, mas ainda não teve coragem de assumir essa responsabilidade. Você se considera um bom negociador? Geralmente paga o preço anunciado ou sempre luta por descontos, especialmente para o pagamento à vista? Costuma pagar mais à vista ou parcelado? Por quê? Pesquisa preços e paga de acordo com as melhores condições para o seu bolso, seu orçamento financeiro familiar? Costumar acreditar e se deixar enganar pelos pagamentos “sem juros” e parcelas a perder de vista? Procura o combustível mais barato, faz questão de comprar quando aparecem promoções, mas paga por isso usando cheque especial ou dinheiro emprestado? Recorra novamente ao ambiente à sua volta. Encare fixamente um objeto mais caro, de maior valor pessoal, e experimente analisá-lo de acordo com as simples perguntas oferecidas acima. Você pagou o preço justo? Precisava mesmo daquilo? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 27. /7527 O parcelamento em excesso prejudicou seu fluxo de caixa? Quanta dúvida não é mesmo? Não pretendo respondê-las; quero mesmo é provocá-lo. Educação financeira não é somente ser bom em matemática e sustentar vasto conhecimento de finanças em geral. São muitos os economistas, matemáticos e administradores em apuros financeiros. Prefira atitude simples, comece de forma ordenada e através de muito diálogo. Gaste menos do que ganha, mantenha um controle das receitas e despesas, sonhe e defina objetivos. Viva sem hipocrisia. Afinal, lidar bem com o dinheiro é assumir que ele está mais presente em nossas vidas do que queremos admitir. É decidir de acordo com o bom senso, respeitando as diferenças e objetivos de cada integrante da família. É ver na capacidade de controle um aspecto libertador. É, acima de tudo, reconhecer que se o dinheiro está ai e faz parte da vida, melhor viver em harmonia com ele. Educação financeira é só (tudo?) isso. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 28. /7528 A relação entre você, seu gerente bancário e o banco Caro leitor, você certamente já notou que é crescente o número de brasileiros com acesso a produtos bancários, ainda que simples, como conta corrente e cartão de crédito/débito. O crescimento econômico sustentável, alvo das muitas ações do governo nos últimos anos, traz consigo a oportunidade de inserir as alternativas financeiras - e também seus desafios de gestão e planejamento - na vida de mais e mais brasileiros. E o ciclo pretende se perpetuar. Ponto para a cidadania. Interesse e informação No entanto, a informação, ativo essencial para a boa tomada de decisão, ainda parece “se esconder” do grande público e insiste em apegar-se apenas ao lado mais forte nas negociações. Se há possibilidades, é importante que também existam programas de conscientização mais eficientes, capazes de oferecer explicações didáticas à população bancarizada. Porque, não raro, aquele que detém o conhecimento arma-se de mais e melhores argumentos, o que torna sua atuação mais persuasiva e convincente. Além disso, seu trabalho é pautado por metas de todos os tipos. O gerente de contas encontra-se, quase sempre, em visível vantagem em relação ao cliente que lhe procura. Sua aparência, assim como seu bom treinamento e extenso interesse pela leitura especializada, oferece um nível de confiança elevado e que lhe outorga autoridade para decidir sobre o futuro financeiro daquele à sua frente. Autoridade que ele, na realidade, não tem. Porque confiança é uma coisa, Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 29. /7529 autoridade é outra. Entro no mérito da autoridade porque é muito comum encontrar clientes intrigados com a atuação de seus gerentes. Dois exemplos clássicos merecem destaque: O gerente movimenta a conta e o dinheiro do cliente com base na confiança. Final de mês, algumas metas foram batidas, outras não. Ainda dá tempo. O gerente decide provisionar um montante de algumas contas correntes, alocando-as para produtos cujas metas ainda não se cumpriram. Muitas vezes, o faz sem comunicar os titulares das contas. Quando o cliente finalmente repara, ele tenta lhe convencer da qualidade da escolha e explica que o dinheiro está disponível, basta pedir para resgatá-lo. Aconteceu comigo, pode acontecer com você. Encerrei imediatamente minha conta no banco e fiz uma reclamação formal; Um oculto jogo de influências pauta a relação cliente-banco. Aqueles cujas atividades profissionais exigem pequenos empréstimos para o capital de giro ou mesmo os “endividados de carteirinha” costumam ser os mais afetados por esta situação. O gerente vive prometendo liberações mais rápidas de dinheiro, juros um pouco menores que os das vezes passadas, mais prazo e etc. E cumpre sua promessa, gerando a sensação que chamo de “favor devido” em seus clientes. Estes, com interesse genuíno em retribuir as “gentilezas”, acabam aceitando as ofertas de produtos feitas pelo “amigo” do banco. Você já se viu em situação semelhante? Conhece alguém que passou por isso? Pois é, infelizmente ainda são muitos os profissionais e clientes que não valorizam esse relacionamento. Assim são vendidos milhares de títulos de capitalização e realizados milhões de empréstimos pessoais para pessoas que possuem dinheiro aplicado, para ficar em apenas duas péssimas escolhas. A verdade é que a decisão tomada influenciará diretamente no futuro financeiro do cliente - fato pouco valorizado no momento, mas comumente observado no futuro como razão do insucesso financeiro. Repare que a culpa não é só dos bancos e de sua força de trabalho. Não. Como cidadãos, temos que aprender a buscar, por conta própria, a educação para o consumo, além de deixar claros os limites entre os papéis envolvidos em qualquer Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 30. /7530 negociação. Trocar conhecimento, argumentar, oferecer possibilidades e formar opinião. E aproveitar, fazer bons negócios e investimentos, porque são muitos os bons profissionais na área, que atuam com lisura, bom senso e muita transparência. Quando você é cliente, não é amigo! Temos a impressão errada sobre a profissão de gerente bancário. Ele não é um consultor financeiro. Ele é um profissional qualificado, cuja profissão merece muito respeito e admiração, mas que deve atuar de forma a dirimir as dúvidas financeiras de seus clientes ou, usando uma ótica mais pró-ativa, sendo capaz de explicar-lhes o real funcionamento dos produtos e alternativas financeiras disponibilizadas pelo seu banco. Ele deveria auxiliar no processo de tomada de decisão, com informações claras, explícitas. Ele não é seu amigo, mas pode vir a ser, desde que fora do ambiente de trabalho. Em suma, você precisa chegar mais bem preparado à mesa do gerente. Fazer a lição de casa. Pretende tomar um empréstimo? Avalie as condições dos concorrentes, os juros a pagar e as outras opções de crédito disponíveis (CDC, consignado e etc.). Pretende investir seu dinheiro? Leia mais sobre as alternativas disponíveis, o perfil dos investidores e discuta o planejamento e as metas com a família. Aprenda a decidir-se mediante seu próprio julgamento, aceitando de forma construtiva as opiniões alheias, críticas e sugestões. O gerente tem que participar da sua decisão, mas não pode ser a única justificativa para ela. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 31. /7531 Cartão de crédito: verdades, vantagens e armadilhas As discussões relacionadas ao uso do cartão de crédito são sempre bastante acaloradas e frequentemente terminam de forma pouco amistosa. Tudo porque, em muitos casos, o cartão de crédito e seu uso são interpretados de forma incorreta. Para que o texto faça sentido, é importante ressaltar a importância do cartão enquanto ferramenta e meio de pagamento e então abordar suas limitações e implicações na vida dos menos organizados. Leia até o final e entenda porque usar o cartão não é tão simples como parece. Cartão de crédito vale a pena? A principal vantagem do cartão de crédito está na possibilidade de se aproveitar sua característica de cobrança futura para adquirir, agora, um produto ou serviço. Ao comprar algo com o cartão, levamos imediatamente o bem para casa e o pagamento só acontecerá na chegada da(s) fatura(s), podendo ainda o valor total ser parcelado, no ato da compra, junto à loja ou prestador de serviço. Em suma, isso significa consumir antes, pagar depois. Tal constatação deveria ser vista como bastante interessante, já que representa a chance de consumo contínuo, desde que planejado e organizado, aliado a um controle fixo de pagamentos (data de vencimento da fatura). Pense no quanto isso facilita o controle de fluxo de caixa e sua manutenção. Certo, mas não é bem assim que as coisas acontecem, não é mesmo? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 32. /7532 Cartão de crédito, uma ferramenta O que aconteceria se deixássemos uma criança pequena se aventurar com um martelo e alguns pregos? Ela certamente se machucaria, simplesmente porque não está preparada para usar a ferramenta martelo para lidar com o produto prego. Algum problema com a ferramenta em si? Não. E com o produto? Também não. Fica óbvio, até para os que não têm filhos (meu caso), que o problema não é a ferramenta, nem o produto, mas a falta de prática e conhecimento para usá-los. Ao optar pelo cartão de crédito para realizar um negócio, precisamos estar cientes de que o valor negociado será cobrado e, portanto, precisa estar programado em nosso controle financeiro. O crédito associado ao cartão é parte da ferramenta e não significa dinheiro extra, mas simplesmente poder comprar, consumir e deixar o pagamento para uma data futura - que deverá ser respeitada. Indivíduos organizados frequentemente centralizam seus gastos no cartão de crédito. Fazem isso por razões simples: Porque simplificam seus pagamentos e mantém datas estabelecidas para pagamento de suas despesas, pagando a(s) fatura(s) sempre em dia; Porque lançam estas transações em seu caderno (ou planilha) de controle financeiro e mantém à vista o saldo disponível para o restante do mês; Porque aproveitam os programas de recompensa (pontos, milhagem ou descontos) e acumulam benefícios depois usados nas férias, em viagens ou mesmo em novas oportunidades de consumo. “Ah, Navarro, então o cartão de crédito é uma maravilha?” Não, não é. Longe disso. Como toda ferramenta, o cartão também tem seus problemas. Não por acaso, seu maior atrativo é também sua maior armadilha. As facilidades impostas pelo uso diário do cartão implicam em uma das mais altas taxas de juros cobradas no Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 33. /7533 sistema financeiro mundial. Usar o crédito disponível e não honrá-lo integralmente no vencimento da fatura significa dar início a uma espiral perigosa de endividamento. Confira uma lista simples dos juros cobrados por alguns dos muitos cartões disponíveis hoje em dia: Exemplos rápidos Suponha que você tem uma fatura de cerca de R$ 1.500,00, valor que extrapolou seu orçamento - e você nem percebeu por aproveitar a comodidade do cartão nas compras - e então você decide que pagará, neste mês do estouro, R$ 500,00. O problema é que você está descontrolado e vai continuar gastando, sem conseguir quitar os R$ 1.000,00 devidos nos próximos meses. “Vou tentar parar de gastar e quando tiver dinheiro pago os R$ 1.000,00 que ficaram para trás”, é o que você pensa. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 34. /7534 A próxima reflexão passa a ser: “Se pagar um valor mínimo é possível, então é assim que farei até conseguir levantar todo o montante devido”. Então você passa a dever R$ 1.000,00 no chamado crédito rotativo, valor este que será corrigido mensalmente por uma das taxas demonstradas na tabela presente neste artigo. Usemos o exemplo intermediário de 13,42% ao mês. Se você ficar “arrastando” a dívida de R$ 1.000,00 por um ano (12 meses), o valor devido ao final deste período será de R$ 4.581,35. Se deixar rolar e esperar 2 anos (24 meses), o valor subirá para R$ 20.537,68. Conclusão: usar o crédito rotativo oferecido pelos bancos emissores dos cartões é um dos erros mais perigosos que um cidadão pouco informado pode cometer. Se é esse o seu caso, pare imediatamente de usar o cartão, ligue para o banco e negocie o pagamento do saldo devedor em parcelas - de forma a pararem a cobrança de juros. Se não der certo, faça um empréstimo consignado ou pessoal (CDC) do valor devido, pague a dívida e inutilize seu cartão até que o empréstimo seja quitado - ou para sempre, se for essa a solução. Como não parar para rever nossas decisões diante de números e casos como esses? Se quiser simular estes simples cálculos, use a planilha de simulação de juros compostos para endividamento com taxa fixa para ‘n’ períodos disponibilizada no blog Dinheirama.com. A verdade é que o cartão de crédito não é para todo mundo. Porque é simples, é caro. Porque é caro, deve ser motivo de muita análise. O cartão de crédito pode ser seu aliado? Pode. Pode arruiná-lo? Pode. A diferença? Educação financeira! Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 35. /7535 A verdadeira face dos títulos de capitalização Ainda é alto o número de clientes e pessoas que buscam e “investem” seu dinheiro em títulos de capitalização. Até aqui, nenhuma novidade. Pois bem, em 2010 tive a oportunidade de participar de uma entrevista ao vivo sobre o tema no programa “Compras e mais” da Rádio BandNews FM, apresentado pela jornalista Aiana. Ela lançou algumas perguntas bastante interessantes que merecem nossa atenção. Prometo um pouco mais de esforço de minha parte para mostrar, de uma vez por todas, que título de capitalização não pode ser considerado um investimento. Começamos o papo debatendo a ação dos bancos e instituições financeiras, que apelam para um argumento bastante discutível e superficial: algo como “opte por um título de capitalização, você poupará dinheiro para projetos futuros e ainda concorrerá a diversos prêmios” é o que se pode deduzir de suas campanhas. A realidade é outra: eles estão oferecendo um produto com rentabilidade mínima para o cliente, mas muito interessante para sua própria operação. Explicar os pormenores de tudo isso é a proposta do artigo de hoje. Por que, afinal, o título de capitalização é tão ruim para nós e excelente para os bancos? Espero que ao ler este texto você só entre em um produto deste tipo se acreditar que poderá ser o sorteado, sabendo que a chance é mínima e que, se isso não ocorrer, seu dinheiro terá rendimento pífio ao longo de alguns meses/anos. Como já disse, titulo de capitalização é furada! Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 36. /7536 Aprendendo com um exemplo Para facilitar o entendimento das afirmações aqui realizadas, proponho o debate a partir de um exemplo real de título de capitalização. Escolhi para este fim o produto Ourocap Multi Sorte 36 meses, oferecido pelo Banco do Brasil. Você vai entender como o produto funciona e a lógica que o torna tão lucrativo para os bancos - e péssimo para o seu bolso. O primeiro problema surge na contratação do pacote. Na maioria dos casos, o cliente é induzido pelo gerente a “investir” no produto, sem que detalhes do contrato sejam devidamente explicados. Trata-se de um produto que compõe a cesta de metas de todo gerente, o que faz dele alvo de fortes campanhas e ações por parte da equipe bancária. A verdade é que ou você já entrou nessa por insistência ou já esteve prestes a fazê-lo. Que detalhes são esses? Todo produto financeiro registrado junto às autoridades deve ter um prospecto que detalhe seu funcionamento. Com a Internet, ficou fácil acessá-los e sua leitura é muito importante para que a decisão final seja tomada com plena convicção. O prospecto do Multi Sorte 36 meses (PDF) traz algumas informações relevantes, que merecem destaque: “Capital - é o montante constituído por percentuais, apresentados na tabela a seguir, aplicáveis sobre os pagamentos efetuados, e que será mensalmente capitalizado pela taxa de 0,5% a.m., e atualizado pela taxa de remuneração básica aplicada à caderneta de poupança, gerando o valor de resgate do título.” Este é basicamente o discurso apresentado nos caixas e nas propagandas do título de capitalização. Seu dinheiro será capitalizado e atualizado pela taxa básica de poupança. Você, é claro, imagina que assim está tranquilo e que a “poupança forçada” Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 37. /7537 faz todo o sentido - especialmente porque há uma possibilidade de ganhar uma bolada. Ledo engano. Veja a tabela a que o texto se refere: Atenção, porque aqui mora a “grande jogada” do produto. Uma legenda simples nos auxiliará pelas explicações: A coluna “Pagamento” refere-se ao mês do depósito que você fará para manter o produto; A “Cota de Sorteio %” representa quanto do dinheiro que você deposita mensalmente será destinado ao montante que será sorteado para os clientes; A “Cota de Carregamento %” refere-se ao percentual do total depositado que ficará para o banco, como sendo para administração do produto, encargos, operação e, claro, lucro, muito lucro; A “Cota de Capitalização %” é quanto do seu dinheiro será efetivamente controlado pelo banco dentro do objetivo passado pelo gerente. Ou seja, quanto do depósito mensal será capitalizado, corrigido e devolvido no vencimento do contrato. Você, leitor inteligente que é, já percebeu o detalhe, certo? Observando a tabela, vê- se facilmente que, no primeiro mês, quase todo o depósito realizado (87,7%) ficará para o banco, enquanto apenas 10% serão colocados na reserva a ser corrigida e devolvida. A partir do segundo mês, 4,1% serão dados ao banco e 93,5% do depósito serão usados para a capitalização. Os 2,2% restantes são para os prêmios. Então vejamos: o banco fica com quase 90% do capital depositado no primeiro mês, além de 4,1% nos 35 meses seguintes e capitaliza parte de seu dinheiro com 0,5% ao mês e TR da data de aniversário. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 38. /7538 Para se ter uma ideia, a TR diária média está próxima de 0,05. Em outras palavras, parte de seu dinheiro (lembre-se que não é todo o depósito que é capitalizado) renderá juros de poupança (pouco mais de 0,55% ao mês), enquanto você dá 4,1% para a instituição. Ora, na prática isso significa pagar 4,1% ao mês daquilo que você depositou e receber apenas 0,55% (em média) “de volta” por ter optado pelo produto. Viu só? Trata-se de um belo negócio para o banco. Portanto, saiba que se aplicar diretamente na caderneta de poupança o mesmo valor destinado às parcelas do título de capitalização, seu saldo ao final dos 36 meses (nosso exemplo) será muito maior. Eu disse: a intenção aqui é causar polêmica, mas a favor do seu bolso. Crie a disciplina necessária para tomar conta do seu dinheiro e use as opções de investimento (agora sim) de forma inteligente, e não preguiçosa. Esse negócio de “poupança forçada” não cola! Tem mais: a carência É preciso entender o que significa carência para este produto: o percentual disponível correspondente para resgate só estará disponível a partir do 12º mês (Multi Sorte 36). Quanto você poderá resgatar está detalhado na tabela “RESGATE”, disponível no prospecto. É importante saber também que você só receberá todo o montante de volta se esperar até o final do prazo contratado - a tabela é clara neste sentido. Mas e a chance de ganhar uma “bolada”? É mínima, e você sabe disso. No entanto, o argumento dos participantes e dos bancos é sempre o mesmo: sempre um vai ser sorteado. Pois é, como acontece na loteria. A diferença é que jogando na loteria você usa um valor modesto, que não compromete sua rentabilidade possível nos meses e anos subsequentes; você não mexe com um dinheiro que pode e deve estar rendendo muito mais em produtos selecionados com dedicação, estudo e inteligência. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 39. /7539 Então estamos combinados que títulos de capitalização são para os que gostam de apostar e jogar - e não investir, poupar e formar patrimônio. Certo? Se você já ganhou uma bolada com um TC, considere-se um sortudo. Assim como um familiar que já ganhou na loteria. Acontece. Mas, cuidado, pois com o futuro não se aposta - se acreditar que os títulos de capitalização são uma opção neste sentido você vai arruinar suas finanças. Este texto trouxe um exemplo. Os bancos oferecem inúmeros títulos de capitalização, cujos percentuais de carregamento, capitalização e carências variam bastante. Fique atento e valorize sua capacidade de poupar e planejar o futuro - não transfira essa responsabilidade para os gerentes e/ou parentes. Você está no comando! Ou não está? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 40. /7540 Será que todos podem ter um carro? Não! Carro ultimamente tem sido (apenas) sinônimo de diferenciação social. Para a maioria das pessoas ele é um eficiente sinal de status, um instrumento de conforto. Não há absolutamente nada de errado nisso, desde que sejam respeitadas as realidades de cada um. Eu sou eu, você é você e o Ronaldinho é o Ronaldinho. Não interessa se a concessionária oferece pagamentos em “enésimas prestações”. Você precisa ter condições de manter esse sonho ou corre o risco de vê-lo transformar-se em um pesadelo. Algumas perguntas elaboradas pela especialista Elaine Toledo demonstram como é fácil exercitar sua capacidade de raciocínio ao decidir pela compra de um novo automóvel. Experimente respondê-las: Por que eu preciso de um carro? Quanto dinheiro tenho disponível para comprar um carro? Qual a reserva mensal que tenho disponível para as parcelas de um financiamento? Que tipo de carro quero comprar? A compra será à vista ou financiada? Se a compra for financiada, qual o valor final do automóvel? Tenho consciência das despesas que passarei a ter após a aquisição de um carro? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 41. /7541 Onde focar? As perguntas de 1 a 5 são bastante pessoais e justamente por isso, são as mais importantes. Sugiro que passe mais tempo se preocupando com essas primeiras questões e por consequência o valor final do carro (6) e as despesas de manutenção (7) serão mais interessantes para o seu bolso. Carro não é algo que todo mundo pode ter e comprá-lo com inteligência não significa apenas saber se as parcelas do financiamento caberão ou não no seu bolso. Comprar um carro é ótimo. Melhor que isso é poder aproveitá-lo por completo. Uma visão de negócio Fulano comprou um carro e paga uma parcela mensal de R$ 500,00 de seu financiamento. Além disso, ele gasta outros R$ 500,00 mensais com despesas gerais e de combustível. O carro foi comprado para que ele pudesse levar seus produtos até uma nova clientela e com este movimento poder aumentar sua receita em R$ 1500,00. Deixando de lado a entrada e o prazo do financiamento, vemos que o retorno com a compra do carro será suficiente para cobrir seus juros despesas. Ainda que o carro se desvalorize, ele trouxe resultado ao negócio do Fulano. O valor residual poderá servir de entrada para um novo veículo, maior quem sabe. Isso, caro leitor, chama-se inteligência financeira. Peço aos chatos de plantão que me poupem. Não entrem em detalhes e perguntas sobre quanto custou isso, aquilo, quanto tempo ele terá para pagar, riscos e incertezas do negócio etc. Tenho certeza de que todos entenderam o recado. Obrigado. Mas a vida não é assim Sabendo que para um cidadão comum carro não é investimento, você precisa prestar ainda mais atenção às premissas do negócio e aos resultados dele provenientes. Por que é que as pessoas entram em tantos detalhes quando é para comprar um carro Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 42. /7542 para a empresa e compra seu carro particular com tanto descaso? Carro não é só o dinheiro gasto para colocá-lo na garagem. Com o carro, aparecem algumas “coisinhas” extras: Licenciamento: todo ano você terá que pagar IPVA, taxa de licenciamento e seguro obrigatório. São as boas vindas do Brasil aos proprietários de carros. Seguro: claro que você não quer que seu carro seja roubado, não é mesmo? Algumas pessoas arriscam e podem ficar sem o carro. Pior, o carro pode sumir, mas o carnê não. Já pensou? Manutenção periódica: as revisões normalmente não são baratas, mesmo naquele seu amigo da rua de trás. Tudo custa dinheiro. Um barulhinho aqui, uma peça que desgasta ali, um pneu careca, o óleo que acabou. Quem vai dar um jeito isso? Estacionamento: a rua nem sempre tem lugar. As vezes ela é perigosa. Enquanto trabalha, você precisa deixar seu carro estacionado com segurança. Quem sabe não falta uma garagem em sua casa e o carro acaba por ter que “dormir” acompanhado. Esses serviços não são gratuitos. Comprar é o mais fácil. E depois? A concessionária e o crédito são a parte fácil. O resto é quem são elas (acho que ouvi isso em alguma novela). Todos estes novos gastos terão que (agora sim) “caber” no seu orçamento mensal. Suas despesas de telefone, água, luz e supermercado vão continuar acontecendo. Não se iluda com a impressão de que o carro pode ser muito interessante em relação ao aperto do ônibus ou do metrô. Faça muito bem as contas, ou poderá trocar o aperto e a dor nas ancas do transporte público pela dor no bolso. Se não é hora de ter um carro, contenha-se. Recomendo que você: esqueça o vizinho que tem o carro que você tanto quer, deixe pra lá o tesão momentâneo pelo novo modelo que acaba de ser lançado e combata o imediatismo doente dos dias de hoje. Prefira aprender com o vizinho (“é ruim hein”?). Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 43. /7543 Poupe, crie uma reserva financeira confortável e negocie sempre à vista. Carro novo ou carro usado, isso não vem ao caso agora. Preste atenção. Se comprar um carro de R$ 30.000,00 para uma pessoa que ganha R$ 500,00 é algo muito difícil, o mesmo vale para quem quer comprar um carro de R$ 300.000,00 e ganha R$ 5.000,00. A comparação pode parecer idiota, mas reflete o tamanho do passo que algumas pessoas insistem em dar. Sim, existem prestações possíveis para ambos os casos, mas onde fica a inteligência emocional e financeira? Como os milhões de especialistas não cansam de dizer: o importante não é quanto você ganha, mas quanto você gasta. Esses dias ouvi até a Gisele Bündchen falando isso. Se ela acredita nisso, imagina eu. Além disso, e com todo o respeito, uma moto ou uma bicicleta podem muito bem resolver o seu problema. Nem por isso o raciocínio será diferente. Compre a moto ou a bike usando o mesmo pensamento disposto neste artigo. Pense bem e coloque as contas na ponta do lápis. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 44. /7544 Investimento, uma questão de expectativa A grande dúvida dos leitores e clientes continua a ser objetiva e provocante: “Qual o melhor investimento hoje em dia?” é lugar comum nos muitos e-mails que recebemos e nos papos de escritório e bar. Abordei a questão de forma preliminar no artigo “Existe mesmo o melhor investimento?”, em abril de 2007, onde alertei para a importante relação entre risco e retorno. Volto ao tema com uma abordagem mais explícita, talvez capaz de suscitar-lhe alguma reflexão. Vamos começar com um pequeno teste. Suponha que você tenha R$ 15 mil para investir, neste momento, e precisa escolher entre uma das alternativas abaixo, sem poder usar o montante para consumir (gastar) ou diversificar. Você precisa escolher entre: Caderneta de poupança: rentabilidade de 6,5% ao ano, isenta de taxas e de Imposto de Renda. A rentabilidade sobre o valor aplicado só ocorre nas datas de aniversário da poupança, conforme explico no artigo “Poupança faz aniversário? Como assim?”; Títulos Públicos com vencimento em abril de 2014: NTN-F, rentabilidade média de 11,2%, com taxa de negociação de 0,10% sobre o valor da operação, taxa de custódia da BM&F Bovespa de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos e taxa do agente de custódia (clique aqui para baixar um ranking das taxas). O Imposto de Renda incide sobre os rendimentos e varia de acordo com o período aplicado, sendo de 22,5% para aplicações com até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15% acima de 720 dias; Fundo de ações de empresas que pagam dividendos: rentabilidade média de 30% ao Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 45. /7545 ano, considerando últimos cinco anos com cobrança de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos no momento do resgate. Observe novamente as alternativas e pense! Você tem R$ 15 mil para investir e precisa escolher uma das opções acima. Qual a sua decisão? O que você levou em conta para decidir? Por que escolheu tal alternativa? Já fiz esta “brincadeira” inúmeras vezes e os resultados foram bem interessantes. Repare no que posso resumir sobre o teste e avalie sua opção: O investidor “trava”! Alguns participantes simplesmente travam ao ter que pensar na proposta apresentada. “Eu, R$ 15 mil, ah, ahn, não sei o que fazer com esse dinheiro”. Fica implícita a própria dúvida em relação ao poder de atingir tal soma e o que fazer quando (e se) este dia chegar. Pois, prepare-se, porque pode surgir uma herança, um bônus no trabalho ou coisa semelhante. E ai? O investidor escolhe a caderneta de poupança porque as demais alternativas parecem muito complexas. Muitos simplesmente não conhecem o Tesouro Direto ou as alternativas de investimento em ações através de fundos. Além disso, na caderneta de poupança o dinheiro estará mais acessível, o que possibilita que o dinheiro quase não seja encarado como investimento. Muitos optam por esta alternativa para usar a poupança como conta corrente. Em pouco tempo, o dinheiro desaparece; O investidor observa apenas a rentabilidade, escolhendo o fundo de ações sem pestanejar. O histórico de retorno é considerado como algo quase certo, sem que a dose de risco ou volatilidade seja considerada de forma sensata. Não raro, ao notar seu dinheiro oscilando de forma acentuada, este tipo decide sair na hora errada (muito cedo ou em uma queda) e perde dinheiro; O investidor primeiro define sua prioridade e analisa as alternativas do ponto de vista de risco, retorno e tempo de aplicação. Comprar um imóvel, trocar de carro, formar capital para a aposentadoria, investir em um negócio próprio, o investidor sabe o Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 46. /7546 que quer. Define a prioridade, o prazo e só então vai avaliar as possibilidades e fazer contas. Inteligência financeira colocada em prática significa investir com objetivos definidos e respeitar o prazo e as características do produto escolhido. Este tipo consegue realizar seus sonhos e chega lá, ainda que demore um pouco. As reações ao exercício são indicativas de momentos financeiros distintos e que merecem discussão. Torço para que todo este esforço faça sentido e sirva para elucidar a questão do “melhor” investimento. Apenas torço, porque sei que a questão é abrangente e perfeita para abordagens do tipo “use tal estratégia e vença” ou “prefira os produtos assim porque são menos arriscados”. O que você realmente quer e aonde quer chegar? Muita gente opina, mas só nós temos a resposta; e pouco fazemos para colocá-la em prática. Logo, o problema não é o tal “melhor” investimento, mas apenas investir em propósitos claros e bem definidos. “Porque nunca temos tempo para estudar as alternativas”, “Porque a hora certa para começar a poupar ainda vai chegar” e “Porque com o atual salário fica impossível pensar em investir alguma coisa” são as desculpas mais comuns. A dura realidade mostra que falta compromisso com o que realmente importa. Nisso, perdemos tempo querendo saber o que há de melhor no mercado enquanto sequer conseguimos fazer sobrar algum dinheiro. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 47. /7547 Quando o melhor investimento é guardar dinheiro Em 2009 tive a oportunidade de conversar com o amigo e também entusiasta da educação financeira Reinaldo Domingos - autor dos livros “Terapia Financeira” e “O Menino do Dinheiro” e criador da Metodologia DSOP. Conversávamos sobre a situação dos brasileiros aposentados e do que é possível fazer para que possamos viver melhor, durante mais tempo e com mais dinheiro. O que fazer? A resposta, ele insistiu, é simples: “Basta que as pessoas guardem dinheiro. Só isso”. Acredite, a situação dos nossos idosos é mesmo muito triste. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): 46% dos aposentados brasileiros dependem de parentes para viver; 28% dependem de caridade (Programas Sociais ou ajuda de terceiros); 25% têm que continuar trabalhando mesmo depois de aposentar-se; Apenas 1% deles conseguem se manter e são independentes financeiramente; Qual sua imediata reação ao tomar conhecimento destes números? Você ainda acredita que o sistema previdenciário oficial será capaz de sustentar o número crescente de idosos? Com a expectativa de vida crescendo (o que é ótimo) e a aposentadoria oficial fadada ao fracasso, como garantir um futuro digno e ainda repleto de alegrias, realizações e saúde? Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 48. /7548 A sensação da maioria ao se defrontar com estas questões passa pela questão da necessidade de planejamento e investimento para o futuro. Não raro, ouço amigos e parentes dizendo que precisam investir seu dinheiro para garantir que ele possa sustentá-los no futuro, mas que o momento é difícil e que tal atividade será realizada assim que “sobrar uma graninha”. Pensam no investimento, sabem desta necessidade, mas, adivinhe, não têm sequer um objetivo. E, claro, o dinheiro nunca “sobra”. Investir? Onde? Quanto? A conversa prosseguiu e trouxe luz para a oportunidade de escrever sobre a realidade dos brasileiros. Experimentei fazer a pergunta “na sua opinião, qual é o melhor investimento?” para o Reinaldo e aguardei ansioso por sua resposta: “Guardar dinheiro” ele respondeu sem titubear. Segundo ele, o melhor investimento chama-se guardar dinheiro. Como assim? Vamos compreender a razão de sua insistente colocação com uma boa conversa. Você sabia que o Brasil tem mais de 80 milhões de endividados? Considerando-se o tamanho da população, o número é bem assustador. Mais que isso, já vimos que por aqui não se vive a aposentadoria de forma decente e que apenas 1% dos nossos velhinhos e velhinhas podem realmente viver com mínima dignidade. Então lhe pergunto: qual é passo fundamental para se investir? Ora, ter dinheiro! Mas, cá entre nós, você guarda dinheiro? Quem guarda dinheiro? Pois é, a esta altura você já deve ter concluído que são muito poucos os brasileiros que conseguem guardar dinheiro. São mesmo! E por que alguém decide (ou decidiria) guardar dinheiro? Para realizar algum sonho ou atingir objetivos, é óbvio. Hum, então será que os brasileiros sonham pouco e almejam menos ainda? Ou será que miram nos alvos errados e vivem uma vida aparentemente saudável e completa, mas incoerente com sua realidade financeira e incapaz de sustentar seu padrão de vida? Feliz ou infelizmente, a resposta você já sabe – e a situação se complica. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 49. /7549 Prioridades de vida Se uma grande maioria vive além daquilo que suas receitas permitem (estão endividados) e outra parte apenas sobrevive, qual deve ser a saída? Lembre-se da resposta do Reinaldo: “Guardar dinheiro. Só isso”. O brasileiro em geral precisa definir importantes razões para manter-se sempre motivado a valorizar e respeitar seu dinheiro, mas com inteligência e percepção. Portanto, não se apresse em aprender as inúmeras alternativas de investimento disponíveis nas redes bancárias ou no mercado. Primeiro, aprenda a guardar dinheiro – pode ser na caderneta de poupança, em casa ou em uma conta bancária separada. Crie o hábito de precificar seus objetivos e aprenda a separar parte de sua renda mensal para alcançá-los. Só quando esta atitude realmente se incorporar ao seu cotidiano é que você deverá correr atrás dos meios e formas de acelerar a conquista de seus sonhos. Guardar dinheiro é fácil Definidas as prioridades de sua vida, passe a guardar dinheiro como forma de valorizar tudo aquilo que você deseja e pretende conquistar. Sua aposentadoria, por exemplo, deve ser um importante pilar desta filosofia de vida. Logo, coloque-a como parte de seus objetivos futuros e separe parte dos seus rendimentos para construí-la de forma constante e inteligente. Mas comece isso hoje, agora! Lembre-se que se você optar pelo crédito fácil (financiamentos, empréstimos etc.), suas metas serão influenciadas e distorcidas. Tenha paciência e coloque-se diante de objetivos palpáveis e com prazos muito bem estabelecidos. Pode ser que você demore a conquistar algum bem, mas ainda assim prefira contar com o tempo a aproveitar- se do dinheiro fácil, porém caríssimo, oferecido por ai. Respeite suas condições e não conte com o crédito para enriquecer – os juros lhe farão mal. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 50. /7550 Cuidado com a justificativa idiota de que guardar dinheiro é bobagem. Aqueles que dizem que “a vida se vive no presente” ou que “dinheiro guardado só servirá de herança” nunca admitem que são muito menos do que poderiam ser e que terão problemas no futuro por conta da falta de disciplina e atitude. E terão. Eles se escondem na desculpa como forma de transportar o problema para fora de suas responsabilidades – vivem uma realidade material incoerente com o que ganham (razão para o ego inflado), mas veem o tempo passar sem nenhum propósito. Você também sabe que ganhar dinheiro é uma atividade difícil, que exige tempo e esforço. Gastá-lo, por outro lado, normalmente leva poucos minutos e não é nada complicado. Valorize seu esforço e passe a ver a tarefa de guardar dinheiro como algo simples e essencial para que seu amanhã lhe traga prosperidade – e não dívidas e problemas financeiros. Livre-se da necessidade imediata de consumir em prol da independência financeira futura. Reinaldo, que chegou lá colocando em prática estas atitudes, garante que vale a pena. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 51. /7551 Princípios e atitudes do investidor inteligente Concordamos que investir pressupõe ter dinheiro sobrando. Ótimo, mas sejamos sinceros: aqui no Brasil, o raciocínio relacionado ao ato de fazer sobrar dinheiro não favorece a cultura do investimento. A autodefesa contra o sistema traz à tona a figura do “se”. Ora, se está sobrando, por que não consumir um pouco mais? Por que não dar entrada naquela tão sonhada TV LCD? Por que não comprar uma e outra peça de roupa e valorizar a aparência? Se sobra, então é porque eu posso mais. Equilíbrio... Mas, e se? A palavra resume bem o que é necessário para que um simples cidadão possa se transformar em um poupador e, então, em um investidor. Ironica e felizmente, equilíbrio também diz respeito ao “se” (frequente em quase todas as nossas decisões). Se eu deixar de comprar a TV agora, posso guardar o dinheiro para comprá-la com desconto depois do Mundial. Se eu evitar tantas baladas, talvez tenha dinheiro para a viagem de navio que tanto gostaria de fazer. O que muda? Se não somos bons com o “se” que nos faz consumir, também não somos com o “se” que deveria nos levar à reflexão. Logo, o equilíbrio - que pressupõe disciplina - não é a chave. Ajuda, mas não resolve. A diferença mesmo quem faz é o comprometimento e o amor. Comprometimento com a melhora, com a possibilidade de crescer, agregar valor e construir patrimônio. Amor próprio, que se reflete na autoestima e na capacidade de, ai sim, tomar partido e avaliar com mais inteligência as alternativas disponíveis. Iniciada minha contribuição, listo abaixo dez princípios e atitudes que considero Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 52. /7552 especiais em investidores inteligentes e que sabem fazer seu dinheiro realmente trabalhar: 1. Não considera títulos de capitalização como investimento. Pagar caro para que uma simples poupança seja acumulada e, ainda assim, apresente retorno menor que o da caderneta de poupança não faz parte do dia a dia de investidores conscientes. Você já leu sobre isso neste livro. 2. Não transfere a responsabilidade de gerenciar suas finanças para outra pessoa ou instituição. As melhores alternativas de investimento são aquelas que ele compreende e é capaz de associar às suas metas pessoais, profissionais e familiares. Ponto. As indicações (do amigo, do gerente etc.) são analisadas com o devido respeito e atenção, mas a decisão é sempre consciente e parte de um processo. O mesmo acontece com o dinheiro do cotidiano. 3. Mantém um orçamento atualizado e que contempla gastos, receitas e investimentos. Controla, mede e avalia para que possa usar as ferramentas financeiras como fator de libertação e independência. Sabe se está exagerando e quando pode exagerar. Conhece seus limites e os respeita. 4. É coerente com a realidade familiar. Vive o padrão de vida possível, com plena consciência de que evoluir significa ter, antes de tudo, um meio de vida sustentável e compatível. Não guarda por guardar, mas porque quer garantir possibilidade de consumo e qualidade de vida hoje e sempre. O futuro não é apenas romântico, mas parte de sua programação financeira. 5. Assume o papel de cidadão e negocia com firmeza. Ao entrar em uma loja, sabe que o interesse deve ser muito maior por parte do vendedor. Assim, prefere não demonstrar euforia e emoção e avalia os produtos/preços de forma racional, fria. Planeja a compra com antecedência, exige desconto e prefere pagar à vista. 6. Tem objetivos claros que faz questão de respeitar. Dica recorrente, presente em todo trabalho de bons planejadores financeiros, definir objetivos significativos faz com que Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 53. /7553 o investidor exercite a automotivação. Quando o que ele quer tem valor, é relevante para si, ele é capaz de deixar outros pequenos desejos, supérfluos ou não, na fila de espera. 7. Valoriza a qualidade de vida. Vive de acordo com suas possibilidades, mas com momentos de lazer, tempo para a família, hobbies e prática de esportes. E faz questão de destinar parte de seus recursos para o cultivo da qualidade de vida, consciente de que inesquecíveis são os momentos, as pessoas e os acontecimentos, e não um produto ou bem material. 8. Faz uso da matemática financeira básica para tomar decisões. Primeiro, sabe que não existe o tal “juro zero”. Segundo, sabe usar simuladores simples para avaliar uma compra financiada, parcelada e a contra-partida da compra à vista com o apoio do tempo. O que é melhor? Gosto muito do exemplo usado pelo amigo e autor best seller Gustavo Cerbasi em relação à compra da casa própria quando ainda somos jovens: “Os jovens que compram seu imóvel quando ainda ganham pouco acabam por comprometer excessivamente o orçamento familiar com uma prestação maior do que pagariam pelo aluguel de um apartamento mais simples e adequado para o momento. Falta dinheiro para seu lazer, para seus planos de curto e médio prazo. (...) Com um orçamento apertado por uma pesada prestação, qualquer imprevisto leva o jovem a contrair pequenas dívidas” - A vantagem da compra própria, por Gustavo Cerbasi em 07/06/2010 - Folha de S. Paulo. 9. Comemora pequenas vitórias e aprende com seus erros. A vida não é só sombra e água fresca, mas tem seus momentos de grande alegria. Os desafios trazem consigo o sentimento de realização e também experiências frustrantes. O investidor de sucesso aceita essa realidade e convive com ela de forma cordial, com humildade e muita vontade de aprender. Aprende porque quer, não porque precisa. 10. Diversifica, investindo em produtos conservadores e em alternativas mais agressivas. Como define bem seus objetivos de curto, médio e longo prazo, aloca seu capital em investimentos de características próprias, sempre os alinhando com seu horizonte de Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 54. /7554 tempo e interesse. Assim, mantém uma boa reserva de emergência, deixa a maior parte de seu dinheiro em produtos conservadores, mas também participa do mercado de ações (fundos, home broker etc.). Todos podemos ser investidores inteligentes Porque se for importante para você, você é capaz de fazer. Se for valer a pena, você segue adiante. Se realmente representar uma possibilidade de novos rumos na profissão, você arrisca. Porque se for por você e por aqueles que ama de verdade, você é capaz de aprender e fazer diferente. Engraçado, o “se” apareceu novamente. Pois é, o investidor inteligente tem no “se” seu maior trunfo: as respostas são consequência e o que realmente importa são as perguntas. Causa e efeito. Afinal, se dependesse de mim, você seria rico, feliz e cercado de boas decisões. Se... Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 55. /7555 Objetivos, disciplina e o poder dos investimentos Recebi uma dúvida por e-mail muito interessante e decidi compartilhá-la com você, caro leitor. Acompanhe: “Sempre tive uma vida financeira controlada. Durante a juventude, meus pais cuidavam de tudo e possibilitaram que eu pudesse ter uma boa formação e ainda construíram, dentro de seus padrões, uma poupança que me garante tranquilidade. Mesmo com esse know-how, me sinto inseguro, pois minha renda é relativamente alta e não sei ao certo qual o melhor investimento. Detalhe: tenho 29 anos. Alguma dica?”. Primeiro, fico muito feliz por observar que seus pais fizeram bem a “lição de casa”, indo justamente no caminho da organização financeira e brindando-o com o beneficio do exemplo, ponto chave das conquistas. Para você, com certeza é muito fácil respeitar seu padrão de vida e buscar, a partir dessa realidade, os melhores investimentos. A dúvida em relação ao como e às alternativas é normal, especialmente porque você tem um fluxo de caixa favorável e consegue poupar. Vejamos como o artigo se desenrola. Guardar dinheiro Em primeiro lugar, existe uma pergunta que você e os leitores que pensam em investir devem se fazer: por que eu vou poupar, guardar dinheiro? Essa pergunta é muito importante. A partir da resposta ficará mais fácil programar e encontrar a melhor opção de investimento. A resposta será seu grande objetivo. Obviamente, Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 56. /7556 essa resposta não precisa ser única. Afinal, você pode ter diversas respostas que se tornarão, então, diversos objetivos. Concentre-se primeiro nas perguntas relacionadas ao seu objetivo Vamos supor que hoje, aos 29 anos, você faça essa análise e defina que seu objetivo seja parar de trabalhar aos 50 anos. Você terá 20 anos até o momento da “aposentadoria”. Nesse momento, algumas outras perguntas deverão ser feitas, como: quanto vou precisar acumular nesses 20 anos para garantir uma vida tranqüila e sem preocupações? Qual a minha expectativa de vida a partir dessa data? Quais os investimentos que são mais indicados para cada momento dessa trajetória, daqui até lá e depois dos 50 anos? “Engraçado!”, você deve estar pensando, ao invés de lhe dar respostas, estou propondo ainda mais perguntas. Sim, você tem razão. Mas veja que essas perguntas são diretas e só você será capaz de respondê-las, começando justamente pelo básico: o que você pretende alcançar e quais são seus objetivos que podem receber colaboração financeira? Uma viagem? Patrimônio? Viver de renda? Publicar um livro? Estudar fora? De objetivo em objetivo você aprende a separar e investir. O investimento que você precisa Existem milhares de produtos bancários destinado aos investidores, alguns muito bons e outros nem tanto, mas o melhor é aquele que se encaixa dentro de sua necessidade. A escolha deve ser capaz de criar condições reais para transformar seu sonho em realidade. Partindo deste princípio, toda alternativa de investimento é boa ou ruim, o que nos leva a discutir prazo, aportes, processo de formação do investimento e resgate: Um dos principais componentes que precisa ser muito bem avaliado é o componente tempo. O tempo tem que ser seu aliado, por isso quanto mais cedo começar a se programar e projetar os seus sonhos, melhor será sua condição, principalmente Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 57. /7557 quando os sonhos são referentes à aposentadoria. O tempo maior lhe permite correr mais riscos e fazer aportes menores ao longo dos meses e anos; Os aportes precisam ser constantes e sempre corrigidos pela inflação. Determinar um objetivo no tempo (curto, médio ou longo prazo) o ajudará a escolher o produto mais interessante (menor risco para o curto prazo e mais arriscado para o longo prazo). Se começar logo e mantiver a disciplina, conseguirá ir muito mais longe com valores mensais menores. Experimente; O processo de formação do investimento é justamente a relação entre tempo, investimento escolhido e aporte. É simples: se vai pensar na aposentadoria e tem muito tempo pela frente, pode começar com aportes pequenos em aplicações mistas (renda fixa e variável, por exemplo). Se pretende trocar de carro em dois anos, deve escolher um produto mais conservador (poupança ou Tesouro Direto, por exemplo) e fazer aportes maiores; Quanto ao resgate, a questão principal se refere à liquidez. Como usará o dinheiro aplicado? Ele precisa estar disponível mediante suas necessidades. Se decidir comprar imóveis para construir patrimônio, poderá viver da renda de aluguéis, mas se precisar vendê-los para usar o dinheiro, pode demorar a ter o capital na mão. Então, o resgate diz respeito a como você terá o montante necessário para seguir adiante. Fique atento ao seu futuro. Não alocar corretamente seu dinheiro pode ser um erro extremamente cruel, principalmente quando percebemos que teríamos condições de conseguir melhores resultados e a partir deles grandes oportunidades para ter uma vida mais feliz. Por outro lado, não existe certo ou errado porque os objetivos sempre são diferentes de pessoa para pessoa. O importante é tê-los, respeitá-los e alimentá- los. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 58. /7558 Como escolher uma corretora para investir em ações? Escolher uma dentre as 57 corretoras que oferecem a ferramenta home broker para operar no mercado de ações não é tarefa fácil. Por outro lado, a enorme quantidade de opções traz diversos benefícios para atuais e futuros clientes: diferenciais, ferramentas exclusivas, preços diferenciados (às vezes até custo zero em algumas transações), promoções, inovações, atendimento personalizado, relatórios, carteiras sugeridas etc. Com a explosão no cadastro de pessoas físicas ocorrida em 2006, 2007, 2010 e o grande número de corretoras concorrentes, é possível que encontremos serviços de ótima qualidade a preços e condições interessantes. Antes de listar os principais passos que sigo ao escolher uma corretora, vou abordar dois erros comuns que devem ser evitados quando pensamos em contratar seus serviços. Erro 1: Pensar somente no preço. As possibilidades trazidas pela Internet, representadas através do home broker, vão muito além da simples atitude mercenária. Diversas corretoras cobram preços maiores, mas oferecem ferramentas exclusivas bastante interessantes; Erro 2: Subestimar a importância dos serviços “extra-Internet”. Só uma ótima plataforma de home broker não resolve. Preocupe-se com o background técnico dos corretores e administradores da empresa e leve em conta as facilidades oferecidas fora da Internet. Gráficos, análise de risco, carteiras sugeridas, chat e relatórios diários, por exemplo, são alguns extras interessantes que podem ser muito úteis. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 59. /7559 Analisando as possibilidades Depois de apresentar os deslizes cometidos por alguns investidores, sinto-me mais confortável para detalhar meu processo de avaliação de corretoras: Passo 1: Faça um diagnóstico de sua necessidade. Se você não tem condições de operar lotes, pretende usar o mercado fracionário e(ou) possui pouco capital inicial, nem todas as corretoras poderão atendê-lo. Conheça bem seu perfil, defina e liste as premissas relacionadas para que seu trabalho de busca seja facilitado. Passo 2: Faça uma seleção de cinco alternativas, usando as premissas do primeiro passo, e descarte todo o resto. Como? Acompanhe o noticiário especializado por alguns dias, repare no histórico de atividade das corretoras e procure investigar, em seus próprios sites, um pouco da história, condições comerciais e ferramentas disponíveis por cada uma delas. Selecione as cinco alternativas que se encaixam dentro de sua expectativa de custos de corretagem, custódia, depósito inicial mínimo etc.; Passo 3: Telefone para as cinco opções. Ligue para o telefone 0800 de cada uma das opções e veja quanto tempo de espera você terá que enfrentar para chegar até um atendente. Se quiser ir mais além, ligue mais de uma vez, em horários e dias diferentes. Faça algumas perguntas, como: Como faço para comprar e vender ações? Quanto tempo preciso para poder entrar no mercado e começar a operar? O que é o sistema de home broker e como ele funciona? Quanto custa operar através da sua corretora? O que sua corretora tem que os concorrentes não oferecem? Depois de ouvir algumas respostas você vai entender a razão para tantas perguntas. Passo 4: Escolha! Agora você já tem uma ideia de como cada uma pode atendê-lo e pode escolher com mais calma. Boa sorte. Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 60. /7560 Recomendações adicionais Prefira sistemas que sejam amigáveis e ofereçam ferramentas ao alcance de poucos cliques; Prefira corretoras estabelecidas e com bom histórico de operação também fora da Internet; Prefira corretoras que ofereçam relatórios diários e mensais, assim você pode ver a opinião dos especialistas que contratou; Prefira optar por corretoras que ofereçam test-drive. Experimentar a plataforma pode facilitar sua decisão; Evite basear-se apenas nas recomendações de amigos. Faça a sua análise; Evite ferramentas e sistemas de home broker confusos. Se você não entender sua interface e operação durante o test-drive, caia fora. Guia de corretoras de ações A edição de fevereiro/2008 da revista Estadão Investimentos trouxe um verdadeiro mapa das corretoras brasileiras. Leitura obrigatória para quem pretende seguir esse caminho, a reportagem detalha custos de operação, adicionais, ferramentas e características de 45 corretoras que oferecem home broker. Confira alguns retratos do mercado trazidos pela pesquisa: Custos e aplicação mínima 87% das corretoras não exigem aplicação mínima; 64% adotam a Tabela Bovespa para os custos de operação; Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida
  • 61. /7561 56% não cobram adicional para atendimento pessoal; 10% não cobram taxa para compra e venda de títulos públicos; 19% não cobram taxa de custódia. Ferramentas adicionais 40% têm sistema home broker próprio; 24% enviam relatórios setoriais; 50% têm sistema de avaliação de riscos; 42% promovem chats. A facilidade encontrada nos sistemas de home broker é igualmente proporcional ao tempo que você deve dedicar para realizar bons trades e definir sua estratégia. Sua corretora sozinha não é nada. Você sozinho não é nada. Dedique algum tempo ao processo de escolha de sua corretora! Ah, não tente encontrar a melhor corretora, mas sim aquela que melhor atende aos seus anseios e necessidades. Mãos à obra e bons negócios! Educação financeira: um estilo de vida Educação financeira: um estilo de vida