1. O documento discute a avaliação mediadora como uma alternativa à avaliação tradicional que valoriza mais o desenvolvimento do aluno.
2. A avaliação mediadora envolve analisar as respostas dos alunos para entender seu processo de aprendizagem, em vez de apenas encontrar respostas certas e erradas.
3. A avaliação mediadora requer uma abordagem mais individualizada e baseada no diálogo entre professor e aluno.
1. Avaliação Mediadora - Uma Prática da Pré-
Escola à Universidade
Jussara Hoffmann
Esta obra discute a avaliação numa perspectiva construtivista que se contraponha à
prática de avaliação tradicional, buscando o sentido em direção a uma escola igualitária e
libertadora desde a educação infantil, o ensino fundamental, médio, até a universidade.
O livro inicia com a discussão da escola de qualidade e sobre o compromisso de manter
na escola o aluno favorecendo-lhe de fato o acesso ao saber (não simplesmente por promovê-lo), a
outros graus de ensino, de permanência e continuidade nos estudos. Melhoria da qualidade do
ensino requer: escolaridade para todas as crianças e escolas que compreendam essas crianças a
ponto de auxiliá-las a usufruir seu direito ao ensino fundamental no sentido de sua promoção como
cidadãos participantes nesta sociedade; que perceba a educação como direito da criança consciente
desse direito.
Numa perspectiva construtivista da avaliação, a questão da qualidade do ensino deve ser
analisada em termos dos objetivos efetivamente perseguidos no sentido do desenvolvimento
máximo possível dos alunos, à aprendizagem, no seu sentido amplo, alcançada pela criança a partir
das oportunidades que o meio lhe oferece.
A qualidade do ensino na concepção classificatória, a qualidade se refere a padrões
preestabelecidos, em bases comparativas: critérios de promoção, gabaritos de respostas, padrões de
comportamento ideal. Uma qualidade que se confunde com quantidade.
Qualidade, na perspectiva mediadora da avaliação, significa desenvolvimento máximo
possível, um permanente “vir a ser”, sem limites preestabelecidos, embora com objetivos
delineados e aceitação das pré-condições socioculturais do educando.
A avaliação apresenta uma importância social e política fundamental no fazer educativo
vinculando-a a idéia de qualidade. Avaliar qualitativamente significa um julgamento mais global e
intenso, no qual o aluno é observado como um ser integral, colocado em determinada situação
relacionada às expectativas do professor e também deles mesmos.
A autora pesquisou as causas do fracasso escolar junto aos professores (30) de escolas
estaduais de educação infantil, ensino fundamental e médio, os quais responderam:
1. o aluno não se interessa pelo conteúdo da escola. (10)
2. o aluno apresenta problemas de relacionamento com professores e colegas. (10)
2. 3. o aluno não apresenta maturidade. (06)
4. o aluno não tem oportunidade de expressar suas idéias ao professor. (03)
5. o professor apresenta falta de conhecimento quanto a questões de aprendizagem. (1)
Percebe-se que alguns professores atribuem a responsabilidade a si próprios, porém a
maioria atribui a culpa aos alunos, os quais passam a ser um misto de réu e vítima.
Quem são os responsáveis pelo fracasso escolar: professores, alunos ou sociedade? O
compromisso do professor diante da criança e do jovem deve proceder diante das diferenças
individuais dos alunos em relação a todos os níveis
socioculturais. Um dos princípios da teoria construtivista é fundamental para avaliação: o indivíduo
se dá por estágios evolutivos do pensamento a partir de sua maturação e suas vivências.
Neste sentido, deve-se ter uma visão construtivista do erro em termos da correção das
tarefas feitas pelos alunos em todas as situações de aprendizagem. Os erros e as dúvidas dos alunos
são componentes significativos ao desenvolvimento da ação educacional, pois permitirá ao docente
a observação e investigação de como o aluno se coloca diante da realidade ao construir seu
conhecimento.
A autora distingue o diálogo entre professor e aluno como indicador de aprendizagem,
necessário, à reformulação de alternativas de solução para que a construção do saber aconteça. A
reflexão do professor sobre seus próprios posicionamentos metodológicos, na elaboração de
questões e na análise de respostas dos alunos deve ter sempre um caráter dinâmico.
Na avaliação mediadora o professor deve interpretar a prova não para saber o que o
aluno não sabe, mas para pensar nas estratégias pedagógicas que ele deverá utilizar para interagir
com esse aluno. Para que isso aconteça, o desenvolvimento dessa prática avaliativa deverá desvelar
a trajetória de vida do aluno durante a qual ocorrem mudanças em múltiplas dimensões.
Em relação ao processo de aprendizagem toda resposta do aluno é ponto de partida para
novas interrogações ou desafios do professor. Devem-se oportunizar aos discentes emitir idéias
sobre um assunto, para ressaltar as hipóteses em construção, ou as que já foram elaboradas. São
estas atitudes que idealizam, de fato, um processo de avaliação contínua e mediadora.
A objetividade e a subjetividade em geral refere-se a forma de elaboração das questões,
mas é pela correção que as questões se caracterizam em “objetivas” ou “subjetivas”.
A partir das considerações, apontamos alguns princípios coerentes à ação avaliativa
mediadora:
- oportunizar aos alunos muitos momentos de expressar suas idéias – as tarefas são elementos
essenciais para a observação das hipóteses construída pelos alunos ao longo do processo;
- oportunizar discussões entre os alunos a partir de situações desencadeadoras - os trabalhos em
grupo são “gatilhos” para a reflexão de cada aluno, para o desenvolvimento do conhecimento em
3. sua perspectiva de compreensão;
- realizar várias tarefas individuais, menores e sucessivas, investigando teoricamente, procurando
entender razões para as respostas apresentadas pelos estudantes – a avaliação mediadora exige a
observação individual, ou seja uma relação direta com o aluno a partir de muitas tarefas (orais ou
escritas), interpretando-as (respeito a subjetividade), refletindo e investigando teoricamente razões
para soluções apresentadas de acordo com os estágios
e as experiências do aluno;
- em vez do certo/errado e da atribuição de pontos, fazer comentários sobre as tarefas dos alunos,
auxiliando-os a localizar as dificuldades, oferecendo-lhes oportunidades de descobrirem melhores
soluções – é preciso ultrapassar a sistemática tradicional de buscar certos e errados em relação às
respostas do aluno e atribuir significado ao que se
observa em sua tarefa, valorizando idéia e dando importância a suas dificuldades. O respeito e a
valorização de cada tarefa favorecem a expressão de crenças verdadeiramente espontâneas.
- transformar os registros de avaliação em anotações significativas sobre o acompanhamento dos
alunos em seu processo de construção de conhecimento – os registros do professor devem responder
às questões: O aluno aprendeu? Ainda não aprendeu? Por que não aprendeu? Quais os
encaminhamentos feitos ou por fazer nesse sentido?
Em relação à correção há duas posturas que se opõem naturalmente:
Av
Avalia
aliação
ção Mediadora
Classificatória
Cor Analis
rigir tarefas e ar Teoricamente
provas do as várias
aluno para manifestações dos
verificar alunos em
respostas certas situações de
e erradas e, aprendizagem
com base nesta (verbais ou
verificação escritas, outra
periódica, produções), para
tomar decisões acompanhar as
quanto ao seu hipóteses que vem
aproveitamento formulando a
4. respeito de
determinados
assuntos, em
diferentes áreas
de conhecimento,
de forma a
exercer uma ação
educativa que lhes
favoreça a
descoberta de
escolar, sua
melhores soluções
aprovação em
ou reformulação
cada série ou
de hipóteses
grau de ensino
preliminarmente
(prática
formuladas.
Avaliativa).
Acompanhamento
esse que visa ao
acesso gradativo
do aluno a um
saber competente
na escola e,
portanto, sua
promoção a outras
séries e graus de
ensino
As diferentes posturas também se revelam nas expectativas dos alunos (pedindo para
professor dar nota em toda atividade; não aceitando que sua tarefa tenha erro), dos pais ( não
aceitando que não se corrija o caderno de seu filho), dos professores (corrijo tudo, não corrijo, o que
fazer?).
Na concepção mediadora a correção se faz presente pensando na evolução do
conhecimento de forma dinâmica, de descoberta por ensaio e erro, de tomada de consciência sobre
o fazer, muito mais que a preocupação com resultados imediatos ou fórmulas definitivas de solução
apresentadas pelo professor.
Não significa aceitar tudo o que a criança faz. Considerar, valorizar, não significa
5. observar e deixar como está. Ao contrário exige do professor a reflexão teórica necessária para o
planejamento de situações provocativas ao aluno que favoreçam a sua descoberta. As tarefas de
aprendizagem são pontos de partida do professor no sentido de gerar conflitos entre as crianças pela
confrontação entre elas a respeito de diferentes soluções pensadas em evolução.
A ação mediadora do professor, a sua intervenção pedagógica, desafiadora, não pode ser
uniforme em todas as situações de tarefas dos alunos. Os erros que a criança apresenta podem ser de
natureza diversa. Nenhum extremo é válido: considerar que sempre devemos dizer a resposta certa
ou no outro extremo, considerar que todo e qualquer erro que o aluno cometa tenha o caráter
construtivo e que ele poderá descobrir todas as respostas.
A tarefa do aluno está presente entre uma tarefa do aluno e a posterior. A tarefa do
professor consiste em favorecer a este aluno o alcance de um saber competente e a aproximação
com a verdade científica.
O tema correção envolve essencialmente o respeito à criança em suas etapas de
desenvolvimento e, por isso é urgente incluir o termo “ainda” no seu vocabulário. Ao invés de
analisar os exercícios dos alunos para responder quem errou ou quem acertou, analisá-los para
observar quem aprendeu e quem “ainda” não aprendeu.
Os registros de avaliação refletem a concepção de educação do professor. Relatórios de
avaliação devem expressar avanços, conquistas, descobertas, bem como relatar o processo vivido
em sua evolução, em seu desenvolvimento, dirigindose aos encaminhamentos, às sugestões de
cooperação entre todos que participam do processo. Ao relatarmos um processo efetivamente
vivido, encontraremos as representações que lhes dêem verdadeiro sentido.
Há muitas crenças que a avaliação mediadora é restrita aos professores das séries
iniciais do ensino fundamental, mas a autora revela o desenvolvimento desta perspectiva no ensino
médio e no ensino universitário através de pesquisas realizadas.
O modelo que se instala em cursos de formação, é um modelo reprodutivista sendo
muito mais forte que qualquer teoria que o aluno possa adquirir, pois é vivida em seu cotidiano.
Em sua pesquisa no curso universitário a autora aponta algumas concepções
apresentadas pelos professores resistentes à avaliação mediadora e assinala caminhos para reflexão :
1. alunos desinteressados e desatentos – observa-se , nesta visão, um compromisso do educador
alienado de uma relação de aproximação com o pensar do aluno: o professor “dá” a aula e o aluno
“pega” as explicações. Na avaliação mediadora despertaria, então, o educador para a relação
dialógica da avaliação, buscando alternativas para estabelecer sua aproximação e descoberta dos
diferentes modos de pensar.
2. tempos e disponibilidade: entraves do processo – a avaliação mediadora opõe-se ao
modelo “transmitir-verificar-registrar” e evolui no sentido de uma ação reflexiva e desafiadora do
6. educador em termos de contribuir, elucidar, favorecer a troca de idéias entre e com seus alunos.
3. o diálogo professor/aluno – o diálogo entendido a partir da relação epistemológica,
não se processa obrigatoriamente através da conversa, enquanto comunicação verbal com o
estudante.
Refletir em conjunto com o aluno sobre o objeto do conhecimento, para encaminhar-se
à superação, significa desenvolver uma relação dialógica, princípio fundamental da avaliação
mediadora.
4. acompanhamento individualizado – o diálogo, compreendido como leitura curiosa e
investigativa do professor das tarefas de aprendizagem, poderá se estabelecer mesmo se o educador
trabalhar com muitos alunos, no sentido de permitir lhe, senão a proximidade corpo a corpo com o
estudante, o debruçar-se sobre suas idéias e as do grupo para acompanhar seus argumentos e vir a
discuti-los ou enriquecê-los.
Portanto, o maior desafio é favorecer a descoberta pelos professores do significado da
avaliação mediadora para a formação de um profissional competente.
Confirmando a hipótese da autora que experiências em avaliação mediadora possam
provocar espontaneamente um reestudo do currículo, realizou um trabalho junto a uma universidade
e constatou que a prática avaliativa foi sendo reformulada e explicitada em seu desenvolvimento
através de reflexões constantes e ajustes necessários.
Os professores participantes do projeto no Ensino Médio relataram algumas conclusões:
- o processo de transformação inicia de forma lenta com muitas resistências dos alunos. Uma vez
compreendido, o processo alcança bons resultados; · a proposta exige a reflexão permanente do
grupo e ajustes freqüentes;
- a cooperação entre os alunos e destes com a professora é um dos resultados alcançados. Os alunos
passam a mostrar-se mais interessados em vencer suas dificuldades e a refazer seus trabalhos; · a
não-atribuição de notas à tarefas e situações não-declaradas de “prova” causam menor pressão e
resultados mais favoráveis de aprendizagem;
- o processo provoca naturalmente a revisão do currículo pelos professores e o repensar de sua
metodologia;
- percebe-se com maior clareza a dimensão das dificuldades dos alunos.
Nesta perspectiva, avaliação mediadora é uma postura de vida e os fundamentos de uma
ação avaliativa mediadora ultrapassam estudos sobre teorias de avaliação e exigem o
aprofundamento em teorias de conhecimento bem como estudos referentes a áreas específicas de
trabalho do professor.
A ação avaliativa mediadora se desenvolve em benefício ao educando e dá-se
fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educado. Pela curiosidade de
7. conhecer a quem educa e conhecendo, a descoberta de si
próprio. Conhecimento das possibilidades dos educandos de contínuo vir a ser, desde que lhe sejam
oferecidas as oportunidades de viver muitas e desafiadoras situações de vida.
Resumo elaborado por
Martha Sirlene da Silva