O documento discute a importância dos movimentos sociais para a política pública e como eles podem ser mais efetivos. Argumenta-se que os movimentos precisam empoderar as pessoas através do diálogo e da construção de identidade social, em vez de apenas atrair grandes multidões. Também defende que os líderes precisam ser formados para que entendam seu contexto social e lutem pelos objetivos certos, e não pela corrupção do sistema.
Afirmação da Identidade Juvenil a partir dos Conselhos de Juventude
Política Pública e Movimentos Sociais: uma discussão do povo, com o povo e para o povo
1. POLÍTICA PÚBLICA E MOVIMENTOS SOCIAIS: UMA DISCUSSÃO DO POVO, COM O
POVO E PARA O POVO
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José Aniervson Souza dos Santos
Para falar em Políticas Públicas antes de tudo seria necessário pensar a respeito da ascensão
dos Movimentos Sociais no formato que vemos hoje. Em nossa história, percebemos que
muitas das grandes conquistas foram fomentadas pelas lutas de classe travada pela população
que não estava satisfeita com suas condições e, em contraponto é possível também visualizar
algumas lutas que se desgastaram e perderam sentido ao longo dos seus processos, por
diversos motivos distintos.
É importante perceber o quanto alguns movimentos foram importantes para algumas
conquistas na história. Como exemplo temos a Revolução Francesa com o lema “ Liberté,
Egalité, Fraternité”, a Ditadura Militar no Brasil com uma grande ordem “Brasil, ame-o ou
deixe-o”, a I e a II Guerra Mundial envolvendo a morte de tantas pessoas e como resultado a
consolidação da Organização das Nações Unidas (ONU) e tantas outras manifestações que
tiveram menos visibilidade na mídia internacional e repercutiram apenas dentro dos seus
próprios países. Essas e tantas outras manifestações ajudaram a desejar o formato de nossas
sociedade atuais.
O que chama atenção nestes fenômenos é qual sentido cada uma dessas lutas faz na vida das
pessoas envolvidas direta ou indiretamente? Sim, pois o que parece não resolver todos os
conflitos discutidos nas grandes manifestações de massa é justamente a quantidade do público
envolvido pelos mesmos. Se só a construção do saber e a capacidade de discutir de forma
empoderada os problemas sociais é que é possível contribuir para a diminuição da
discrepância entre a participação cidadã e os fatores sociais emergentes de cada época as
manifestações de massa só podem fazer sentido quando conseguem atingir em sua totalidade
a equidade do seus objetivos a todos envolvidos, do contrário, teremos apenas um aglomerado
de pessoas e um evento de grande porte que nada mais pode fazer a não ser aumentar os
números de todo tipo de violência, desde física como institucional, pois se agride até mesmo a
totalidade das instituições consolidadas pela história, como exemplo da escola, família,
religiões... e o próprio governo.
Pensar então em como garantir uma manifestação que seja capaz de produzir resultados
efetivos é uma tarefa um tanto quanto delicada e difícil de ser elaborada, visto estarmos
acostumados a presenciar discussões vazias a respeito de assuntos importantes. Isso porque,
por um lado alguns líderes estão muito preocupados com o tamanho do barulho e da atenção
que precisam causar para que se voltem o olhar para aquela discussão que para aquele
específico grupo de pessoas se tornou importante, embora para outra grande massa da
população tal discussão não faz diferença alguma. Por outro, devido em nossa cultura
contemporânea estarmos mais preocupados com o que chama atenção pela quantidade do
que pelo peso e sabedoria das palavras discutidas. Dessa forma, essa garantia de efetividade
exigida aos movimentos sociais que surgem nas sociedades em todo o mundo se baseia na
necessidade de pautar discussões que sejam capazes de construir nas pessoas um olhar
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Possui Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco – UPE e Pós-Graduação em
Juventude no Mundo Contemporâneo pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE. Ativista de
movimentos sociais e líder de organizações juvenis. Coordenador da Escola de Educadores de Jovens
online do Instituto de Protagonismo Juvenil – IPJ.
2. crítico a realidade e o sentimento de pertença e responsabilização social para em segundo
momento fomentá-las para o ativismo. Percebemos então que muitas vezes esse processo
acontece ao contrário.
Corremos o risco de perder o foco das nossas lutas quando lutamos sem ter os objetivos claros
e a direção certa. É sabendo para onde vai e o que se deseja fazer ao chegar lá é que
tomaremos as iniciativas para preencher o espaço vazio entre a ponto de saída e o de chegada
chamado conquista. Uma luta ou causa social só pode fazer sentido quando é modelada nos
princípios básicos da empoderação/formação do povo, onde se constrói pensadores capazes
de dialogar a respeito de si próprios e do sistema a qual fazem parte e dessa forma são
capazes de se colocarem diante dos fatos e transformá-los.
Assim, acredito, que a partir de grandes mobilizações, a exemplo dos “Caras Pintadas” no
Brasil é que se pode contribuir na modelação da identidade social do povo, porém esse mesmo
processo pode surgir de forma ineficaz quando não se modela seus protagonistas no contexto
social ao qual está inserido e o insere apenas como número catalizador e somador de plateia
corroborando para a futura violação dos direitos quando tais pessoas assumem cadeiras
públicas. Não é possível que seja eficaz um sistema que consegue atrair seus líderes para a
corrupção de papeis e de sistemas se estas mesmas pessoas diziam lutar pela renovação da
história e da política. Uma coisa parece certa e eficaz nessa discussão. Ou tratamos de formar
nossos líderes e empoderá-los de seus próprios objetivos para que consigam à luz de sua
própria visão enxergar quais passos e motivos da caminhada ou não teremos um sistema que
seja capaz de transformar a sociedade, mas apenas consiga interferir um pouco no curso da
história.
Pois, se não for possível nossas lutas transformar a história e mudar por completo o rumo da
mesma de nada adianta se só conseguimos interferir momentaneamente no percurso do
sistema se mais adiante ele será mais uma vez corrompido tendo ajuda daqueles que gritavam
ser contra ele. Os nossos esforços serão tanto quanto positivo e/ou negativo tanto quanto for
nossa capacidade de discutir a seu respeito, não como se fossemos máquinas humanas, mas
como pessoas sociais que são capazes de estarem inseridas no contexto social e se visualizar
no percurso da história.
Contudo, a Política Pública a qual sonhamos que seja capaz de tornar todos iguais perante as
indiferenças e diferentes perante as desigualdades, só será construída efetivamente quando as
pessoas se derem conta que precisamos não são de lutas mais de gente que pertençam ao
seu território, que o ame e o respeite e que sejam capazes de compreender sua diversidade e
a preservar. Apenas com pessoas empoderadas de si mesmas e do seu papel na sociedade é
possível construir uma Política que seja do Povo, com o Povo e para o Povo.