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CONTRA A VIOLÊNCIA E O EXTERMÍNIO DE JOVENS

                                                           José Aniervson Souza dos Santos1




                                                      “A Paz é como uma grande ciranda,
                                                enquanto estivermos todos de mãos dadas,
                                                        as armas permanecerão no chão”.




Falar da temática da presença da juventude no universo violento da sociedade, ou
da violência social na vida da juventude é questão fundamental para se começar
um discurso acertado sobre as causas e conseqüências dessa morte juvenil, cada
vez mais precoce. O que será mais coerente dizer, que são os jovens que mais
matam, ou são eles os que mais morrem? São os jovens vítimas das violências, ou
são eles produtores de violências? Quais fatores existentes no cenário atual da
nossa sociedade que contribui para a violência juvenil, tanto de sua produção ou
como alvo dela?

1
  Possui Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco – UPE e Pós-graduação em
Juventude no Mundo Contemporâneo pela FAJE. Atua na área de juventude há mais de 10 anos
acompanhando e assessorando grupos juvenis e instituições que trabalham com jovens. Desenvolve
acompanhamento a projetos governamentais que lidam com o público jovem. Já atuou na área social
em projetos do governo federal, lindando com famílias vulneráveis e em situação de risco, coordenando
atividades de aumento da autoestima, valorização pessoal, qualificação profissional e educacional,
reaproveitamento e tecnologia. Coordenou durante muitos anos a Pastoral da Juventude na Diocese de
Nazaré/PE,. Participou da comissão nacional de coordenação do Projeto da Pastoral da Juventude
intitulado “A Juventude quer Viver”, representando o Regional Nordeste 2 (CNBB). Foi Diretor
Presidente do Instituto de Protagonismo Juvenil – IPJ. Publicou 3 materiais de pesquisas desenvolvidos
pelo IPJ. Atuou na Fundação de Atendimento Socioeducativo (FUNASE) e no Programa ATITUDE do
Estado de Pernambuco. Foi Assessor Técnico do CMDCA e membro da Comissão Municipal Pró-Selo
Unicef em Surubim/PE. Atualmente é Development Instructor no Institute for Internacional Cooperation
and Development – IICD/Michigan/USA.
É importante, antes de tudo, fazer uma análise da conjuntura atual em relação a
produção de violência. Faz necessário de antemão, ter em pauta o produto juvenil
da contemporaneidade. A cultura industrial, as convenções que determinam a
forma “normal” de viver na sociedade, a produção bélica, a formação pessoal, e
tantas outras questões determinam a forma do indivíduo estar na sociedade. Como
temos produzido todos esses mecanismos, diz respeito diretamente como as
pessoas têm respondido a eles.

A violência não é produzida, tão somente, quando uma arma é acionada e a
mesma consegue alcançar o corpo físico de uma pessoa. Ela começa antes
mesmo dessa arma ter sido produzida. Ela começa, muitas vezes, antes mesmo
desse individuo que disparou o gatilho, ter nascido. A violência tem raízes muito
mais fincadas em nossos solos, do que mesmo a paz que pensamos em produzir.
Assim como a inclinação pela paz, ou o desejo de produzi-la, está diretamente
ligado a como temos experimentado questões essenciais na construção de nossa
cidadania, assim também a violência está diretamente ligada a essas questões e
como temos encarado a nossa presença e papel na sociedade.

De repente nos deparamos com situações marcadas notadamente com sinais de
morte. Morte do corpo, morte de esperança, morte de sentimentos, de crenças, ...
morte da vida. A vida começou a ser comercializada como um produto que pode
ser vendido ou utilizado de forma aleatória, sem compromisso, sem respeito.
Passou a ser produzida no campo mais superficial da sociedade contemporânea,
utilizando as relações interpessoais como seu mastro sustentador. A
comercialização da “vida criada” nos laboratórios sociais espalhados nos milhões
de lares desse imenso planeta e também nos locais de “acolhida” dos tantos povos
sem terra e sem teto tem configurado uma espécie de presença na sociedade
desenhada por padrões moralmente verdadeiros, sem muitas vezes terem sidos
construídos com discussões dos povos que lhe dizem respeito. Parece-me correto
dizer que, a verdade é, que os valores antes colocados como imprescindíveis para
uma boa vivência na sociedade ou ao menos a permanência nela tem se
(re)configurado ao passo que as indústrias crescem e o capitalismo toma conta do
cenário social atual. Família, educação, escola, igreja... eram valores necessários
para o que determinava a presença ou o lugar da pessoa na sociedade. Talvez
não seja correto dizer que esses valores, citados antes saíram totalmente do
cenário, porém, percebemos que alguns outros valores tomaram importância como
ou tão mais que esses últimos. Dinheiro, corpo, sexualidade, status,... são novos
valores que dizem respeito diretamente às novas formas de agregação dos
indivíduos na sociedade.

Falar então, desses aspectos em nível de violência é compreender que questões,
aparentemente, que não dizem respeito diretamente a essa temática estão mais
ligados a elas do que se possa imaginar. A dimensão do trabalho na vida da
juventude, assim como o corpo e a sexualidade, tem suas características definidas
de como esses permaneceram na sociedade. A violência assim está ligada, além
de outros aspectos, ao espaço social grupal dos indivíduos. Não se pode, é claro,
determinar a violência unicamente como um fator social, mas, não se pode
esquecer que mesmo tendo características inter-relacionais e familiares o
fenômeno violento cresce no campo social como forma de garantir ou exigir que
alguns bens e benefícios que deveriam ter sido acessados desde a formação do
sujeito no seio de sua família seja, a qualquer forma, disponíveis a partir de então.

Uma questão fica dessa discussão. Quem é verdadeiramente o produtor de
violência? Os jovens que de forma não aceita pela sociedade, busca acessar bens
politicamente assegurados a toda e qualquer pessoa sem restrição de raça, cor,
credo religioso, território e etnia ou, a sociedade que em algum momento da
existência desses, restringe o acesso aos direitos sociais e assim desperta o
interesse dos jovens a esses bens que assegurado também são deles?




      (Foto dos participantes do I Seminário Nacional da Campanha Contra a Violência e o Exterminio de Jovens)




17 de dezembro de 2010
No I Seminário Nacional da Campanha Contra a Violência e o Extermínio de
Jovens
Salvador-BA

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Contra a violência juvenil

  • 1. CONTRA A VIOLÊNCIA E O EXTERMÍNIO DE JOVENS José Aniervson Souza dos Santos1 “A Paz é como uma grande ciranda, enquanto estivermos todos de mãos dadas, as armas permanecerão no chão”. Falar da temática da presença da juventude no universo violento da sociedade, ou da violência social na vida da juventude é questão fundamental para se começar um discurso acertado sobre as causas e conseqüências dessa morte juvenil, cada vez mais precoce. O que será mais coerente dizer, que são os jovens que mais matam, ou são eles os que mais morrem? São os jovens vítimas das violências, ou são eles produtores de violências? Quais fatores existentes no cenário atual da nossa sociedade que contribui para a violência juvenil, tanto de sua produção ou como alvo dela? 1 Possui Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco – UPE e Pós-graduação em Juventude no Mundo Contemporâneo pela FAJE. Atua na área de juventude há mais de 10 anos acompanhando e assessorando grupos juvenis e instituições que trabalham com jovens. Desenvolve acompanhamento a projetos governamentais que lidam com o público jovem. Já atuou na área social em projetos do governo federal, lindando com famílias vulneráveis e em situação de risco, coordenando atividades de aumento da autoestima, valorização pessoal, qualificação profissional e educacional, reaproveitamento e tecnologia. Coordenou durante muitos anos a Pastoral da Juventude na Diocese de Nazaré/PE,. Participou da comissão nacional de coordenação do Projeto da Pastoral da Juventude intitulado “A Juventude quer Viver”, representando o Regional Nordeste 2 (CNBB). Foi Diretor Presidente do Instituto de Protagonismo Juvenil – IPJ. Publicou 3 materiais de pesquisas desenvolvidos pelo IPJ. Atuou na Fundação de Atendimento Socioeducativo (FUNASE) e no Programa ATITUDE do Estado de Pernambuco. Foi Assessor Técnico do CMDCA e membro da Comissão Municipal Pró-Selo Unicef em Surubim/PE. Atualmente é Development Instructor no Institute for Internacional Cooperation and Development – IICD/Michigan/USA.
  • 2. É importante, antes de tudo, fazer uma análise da conjuntura atual em relação a produção de violência. Faz necessário de antemão, ter em pauta o produto juvenil da contemporaneidade. A cultura industrial, as convenções que determinam a forma “normal” de viver na sociedade, a produção bélica, a formação pessoal, e tantas outras questões determinam a forma do indivíduo estar na sociedade. Como temos produzido todos esses mecanismos, diz respeito diretamente como as pessoas têm respondido a eles. A violência não é produzida, tão somente, quando uma arma é acionada e a mesma consegue alcançar o corpo físico de uma pessoa. Ela começa antes mesmo dessa arma ter sido produzida. Ela começa, muitas vezes, antes mesmo desse individuo que disparou o gatilho, ter nascido. A violência tem raízes muito mais fincadas em nossos solos, do que mesmo a paz que pensamos em produzir. Assim como a inclinação pela paz, ou o desejo de produzi-la, está diretamente ligado a como temos experimentado questões essenciais na construção de nossa cidadania, assim também a violência está diretamente ligada a essas questões e como temos encarado a nossa presença e papel na sociedade. De repente nos deparamos com situações marcadas notadamente com sinais de morte. Morte do corpo, morte de esperança, morte de sentimentos, de crenças, ... morte da vida. A vida começou a ser comercializada como um produto que pode ser vendido ou utilizado de forma aleatória, sem compromisso, sem respeito. Passou a ser produzida no campo mais superficial da sociedade contemporânea, utilizando as relações interpessoais como seu mastro sustentador. A comercialização da “vida criada” nos laboratórios sociais espalhados nos milhões de lares desse imenso planeta e também nos locais de “acolhida” dos tantos povos sem terra e sem teto tem configurado uma espécie de presença na sociedade desenhada por padrões moralmente verdadeiros, sem muitas vezes terem sidos construídos com discussões dos povos que lhe dizem respeito. Parece-me correto dizer que, a verdade é, que os valores antes colocados como imprescindíveis para uma boa vivência na sociedade ou ao menos a permanência nela tem se (re)configurado ao passo que as indústrias crescem e o capitalismo toma conta do cenário social atual. Família, educação, escola, igreja... eram valores necessários para o que determinava a presença ou o lugar da pessoa na sociedade. Talvez não seja correto dizer que esses valores, citados antes saíram totalmente do cenário, porém, percebemos que alguns outros valores tomaram importância como ou tão mais que esses últimos. Dinheiro, corpo, sexualidade, status,... são novos valores que dizem respeito diretamente às novas formas de agregação dos indivíduos na sociedade. Falar então, desses aspectos em nível de violência é compreender que questões, aparentemente, que não dizem respeito diretamente a essa temática estão mais ligados a elas do que se possa imaginar. A dimensão do trabalho na vida da juventude, assim como o corpo e a sexualidade, tem suas características definidas de como esses permaneceram na sociedade. A violência assim está ligada, além
  • 3. de outros aspectos, ao espaço social grupal dos indivíduos. Não se pode, é claro, determinar a violência unicamente como um fator social, mas, não se pode esquecer que mesmo tendo características inter-relacionais e familiares o fenômeno violento cresce no campo social como forma de garantir ou exigir que alguns bens e benefícios que deveriam ter sido acessados desde a formação do sujeito no seio de sua família seja, a qualquer forma, disponíveis a partir de então. Uma questão fica dessa discussão. Quem é verdadeiramente o produtor de violência? Os jovens que de forma não aceita pela sociedade, busca acessar bens politicamente assegurados a toda e qualquer pessoa sem restrição de raça, cor, credo religioso, território e etnia ou, a sociedade que em algum momento da existência desses, restringe o acesso aos direitos sociais e assim desperta o interesse dos jovens a esses bens que assegurado também são deles? (Foto dos participantes do I Seminário Nacional da Campanha Contra a Violência e o Exterminio de Jovens) 17 de dezembro de 2010 No I Seminário Nacional da Campanha Contra a Violência e o Extermínio de Jovens Salvador-BA