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EDUCAÇÃO E
DIVERSIDADE
SEXUAL
ISSN 1982 - 0283
Ano XXI Boletim 04 - Maio 2011
Sumário
Educação e Diversidade Sexual
Apresentação da série .................................................................................................	 3
Rosa Helena Mendonça
Introdução ................................................................................................................	 4
Alexandre Martins Joca, Marco Antonio Torres e Marina Reidel
Texto 1: Direitos humanos e diversidade sexual
Pelo direito à educação e à diversidade na escola ......................................................	 12
Alexandre Martins Joca
Texto 2: Orientação sexual e identidade de gênero
Enfrentamentos possíveis à homofobia: orientação sexual e identidade de gênero
no contexto da educação............................................................................................	 22
Marco Antonio Torres
Texto 3: Educação para a diversidade
Desafios e possibilidades para trabalhar a diversidade sexual na escola.....................	 31
Marina Reidel
Anexo 1: Indicações de filmes/vídeos, livros e sites ....................................................	 39
3
Educação e Diversidade Sexual
APRESENTAÇÃO DA SÉRIE
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos
nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, lín-
gua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social,
riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (Declaração Universal dos
Direitos Humanos - Artigo II).
Entre as temáticas no âmbito dos Direitos
Humanos que a sociedade brasileira coloca
em discussão, em especial nas últimas déca-
das, estão as questões relacionadas à orien-
tação sexual e à identidade de gênero. Este
debate é urgente e necessário.
Assunto de grande relevância no cenário
educacional, a discussão no âmbito da for-
mação de professores e professoras é hoje
parte das políticas públicas que contemplam
as diversidades.
O direito à educação a pessoas LGBT visa ga-
rantir que o espaço escolar seja efetivamente
um lócus privilegiado de combate à homo-
fobia e a todas as formas de discriminação.
Paralelamente ao cenário de violência explí-
cita contra as pessoas LGBT que temos acom-
panhado pela mídia, é frequente nas escolas
e em outros espaços sociais um outro tipo
de violência, dita simbólica, tão ou mais de-
vastadora que a agressão física, uma vez que
atinge a autoestima e, por conseguinte, os
direitos mais básicos do ser humano, como o
respeito, a confiança e a autodeterminação.
É com o objetivo de colocar em pauta es-
sas questões que a TV Escola, por meio do
programa Salto para o Futuro, apresenta a
série Educação e diversidade sexual, que con-
ta com a consultoria de Alexandre Martins
Joca, Marco Antonio Torres e Marina Reidel
(membros do Plano Nacional de Promoção
da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT
no âmbito do Ministério da Educação).
Os textos que compõem esta publicação e os
programas televisivos da série evidenciam,
por meio de reportagens e entrevistas, o pa-
norama de reflexões e experiências que vêm
sendo desenvolvidas em vários espaços edu-
cativos no país.
Esperamos, assim, contribuir para que uma
educação para a diversidade seja um ponto
de partida para a construção de uma socie-
dade livre de preconceitos e atenta às dife-
renças.
Rosa Helena Mendonça2
1	 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
4
A sociedade brasileira, especialmente nas
últimas décadas, vem discutindo e ques-
tionando valores, normas, conceitos e pre-
conceitos relacionados à vivência da se-
xualidade humana, numa perspectiva de
vislumbrar possibilidades de superação das
desigualdades de direitos nesse campo. Des-
se modo, reivindicam-se políticas públicas
afirmativas no sentido do enfrentamento de
preconceitos e discriminações em virtude
da orientação sexual e identidade de gênero,
especificamente como esses orientadores
têm elaborado nos fóruns nacionais e inter-
nacionais onde se reúnem saberes e faze-
res da academia, dos governos e dos movi-
mentos sociais. A elaboração dos Princípios
de Yogyakarta (CORRÊA; MUNTARBHORN,
2006) diz um pouco deste contexto. Esses
princípios, encaminhados às Nações Uni-
das, definem orientação sexual e identidade
de gênero:
COMPREENDENDO “orientação sexual”
como estando referida à capacidade de
cada pessoa de experimentar uma pro-
funda atração emocional, afetiva ou se-
xual por indivíduos de gênero diferente,
do mesmo gênero ou de mais de um gê-
nero, assim como de ter relações íntimas
e sexuais com essas pessoas; ENTEN-
DENDO “identidade de gênero” como
estando referida à experiência interna,
individual e profundamente sentida que
cada pessoa tem em relação ao gênero,
que pode, ou não, corresponder ao sexo
atribuído no nascimento, incluindo-se aí
Educação e Diversidade Sexual1
	 				
Introdução			
Alexandre Martins Joca2
Marco Antonio Torres3
Marina Reidel4
1	 Texto elaborado por membros do Grupo de Trabalho de acompanhamento do programa Brasil sem
Homofobia (2004-2009) e do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT no âmbito do
Ministério da Educação.
2	 Mestre e doutorando em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e membro do Grupo de
Resistência Asa Branca – GRAB. Consultor da série.
3	 Professor da Universidade Federal de Ouro Preto, atuando nas licenciaturas e formação continuada de
professores/as e doutorando no Programa de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor da
série.
4	 Professora da educação básica na região de Porto Alegre e mestranda no Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultora da série.
5
o sentimento pessoal do corpo (que pode
envolver, por livre escolha, modificação
da aparência ou função corporal por
meios médicos, cirúrgicos ou outros) e
outras expressões de gênero, inclusive o
modo de vestir-se, o modo de falar e ma-
neirismos (CORRÊA; MUNTARBHORN,
2006, p. 9).
Sabemos que esse documento não garante a
efetivação de quaisquer direitos nas comuni-
dades políticas específicas, porém pesquisa-
dores e ativistas, ao articularem um discur-
so desse modo, subsidiam jurisprudências,
identificam relações identitárias baseadas
nas hierarquias sexuais e elaboram novas
lógicas do empoderamento de identidades
sexuais definidas como desordenadas ou pa-
tológicas, ainda que se apresentem questões
a serem desenvolvidas.
Assim, as temáticas acerca da diversidade
de orientação sexual e das perfomances das
identidades de gênero, que podemos enten-
der como “diversidade sexual”, têm estado
cada mais presentes na pauta das políticas
educacionais brasileiras. Nesse contexto, a
escola, enquanto instituição de formação de
crianças e adolescentes para o exercício da
cidadania, assume um papel central para a
transformação social. No entanto, diversas
pesquisas e estudos têm apontado a escola
como um ambiente de intolerância e vio-
lência dirigida a lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais e constatado a fragi-
lidade dos/as profissionais de educação para
a abordagem educativa da e sobre a sexuali-
dade no espaço escolar, chegando a afirmar
que, por muitas vezes, a escola apresenta-se
enquanto espaço de produção e reprodução
da homofobia. Encontramos nesses debates
o termo ‘homofobia’ usado de diversos mo-
dos: como um dispositivo de vigilância do
gênero; como violência simbólica da domi-
nação masculina (BOURDIEU, 1998, 2005);
como modo de organização e constituição
do masculino (CORNNELL, 1997; KIMMEL,
1997, apud SMIGAY, 2002); como produção da
cultura e dos saberes ocidentais que aparece
na discriminação afetiva, intelectual e polí-
tica por lógicas heterossexistas (BORRILLO,
2010), entre outros. Desse modo, pelo pre-
conceito, seres humanos são hierarquizados
como subcidadãos por serem identificados
como homossexuais (PRADO; MACHADO,
2008). Atualmente, diversos movimentos
sociais LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, tra-
vestis e transexuais) têm elaborado novos
termos na tentativa de explicitar as especifi-
cidades da violência e/ou discriminação, as-
sim surgem a lesbofobia, homofobia, bifobia
e transfobia como indexadores daquilo que
se deve enfrentar. Na escola, por meio de
formas explícitas ou pelo currículo oculto, o
preconceito contribui para a inferiorização
individual. A atenção a situações cotidianas
possibilita uma análise crítica do mito da li-
beralidade dos brasileiros em relação à sexu-
alidade e mostra as dificuldades para pôr em
diálogo os contextos formais e não formais
6
de educação (por exemplo, ONGs LGBT), o
que poderia resultar em avanços na constru-
ção de uma escola menos preconceituosa
(TORRES, 2010).
Além desses aspectos, temos uma opinião
pública que está muito aquém desses deba-
tes. Uma pesquisa de opinião pública reali-
zada recentemente pelas Fundações Perseu
Abramo e Rosa Luxemburg (Fundação Per-
seu Abramo, 2008) aponta alguns dados que
revelam que uma maioria da sociedade bra-
sileira, principalmente educadores, concor-
da que os papéis sexuais são definidos pelo
sexo biológico. Em menor escala aparecem
discursos médicos e outras formas de sa-
beres se articulando em afirmações morais
que não valorizam a diversidade sexual e in-
feriorizam por vezes a comunidade LGBT.
Em pesquisa realizada por Mary Castro, Mi-
riam Abramovay e Lorena Bernadette da Sil-
va (2004), em 14 capitais do Brasil, tendo por
objetivo contribuir para o debate sobre as
relações existentes entre sexualidade e ju-
ventude na escola, constatou-se um quadro
dramático de como o ambiente escolar tem
visto os saberes sobre a diversidade sexual
e os sujeitos a ela pertencentes. Nessa pes-
quisa, jovens estudantes do Ensino Funda-
mental e do Ensino Médio, quando solicita-
dos a indicar em sequência de gravidade as
formas de violência, “bater em homossexu-
ais” foi considerado, pelos meninos, menos
grave que atirar em alguém, estuprar, usar
drogas, roubar e andar armado.
Na Pesquisa Nacional “Diversidade na Es-
cola” (FIPE/INEP/SECAD, 2009) os dados
demonstram 87,3% dos pesquisados com
algum nível de preconceito em relação à
orientação sexual e 98,5% com algum nível
de distância social. Dos pesquisados, 26,6%
dos/as alunos/as, 20,5% dos/as funcionários/
as e 10,6% dos/as professores/as concordam
com a frase “eu não aceito a homossexua-
lidade” e 23,2% dos/as alunos/as, 23,4% dos/
as funcionários/as e 11,8% dos/as professo-
res/as concordam que a homossexualidade
é uma doença.
Louro (1997) afirma que “a negação dos/as
homossexuais no espaço legitimado da sala
de aula acaba por confiná-los a ‘gozações’
e aos ‘insultos’ dos recreios e dos jogos, fa-
zendo com que, desse modo, jovens gays e
lésbicas só possam se reconhecer como des-
viantes, indesejados ou ridículos”. Para Joca
(2008) os sujeitos LGBT estão fadados à pers-
pectiva de um “problema”, ao observar que
“a palavra problema” aparece de maneira
recorrente nos discursos docentes, sempre
que estes se referem às questões e aos su-
jeitos pertencentes à diversidade sexual. No
entanto, alerta que “nem as questões sobre
a diversidade sexual, nem os próprios LGBT
devem ser vistos ou entendidos exclusiva-
mente sob uma perspectiva de um proble-
ma, da abjeção” e conclui que “de fato, há
a existência de problemas no encontro da
sexualidade com as práticas educativas es-
colares, problema que consiste em o educa-
7
dor não saber o que fazer. Problema que, no
contexto escolar da prática pedagógica, deve
voltar-se não às atitudes dos jovens, mas às
posturas e abordagens do educador frente às
manifestações da sexualidade” (JOCA, 2008).
Na escola, o preconceito possui nuanças e
perspectivas que atingem de alunos/as a
professores/as como várias análises têm de-
monstrado (JUNQUEIRA, 2009), uma especí-
fica refere-se à ausência de referências para
alunos/as que fazem parte da população
LGBT (LIONÇO, T.; DINIZ., 2009). O desafio é
traduzir todas essas questões nos domínios
da sala de aula, no ambiente escolar etc.
Desse modo, o programa Salto para o Fu-
turo - Educação e Diversidade Sexual - vem
contribuir para esse debate, visando aten-
der a esse cenário educacional que vem se
constituindo em demandas para a educa-
ção. Nesse contexto, observa-se o conteú-
do de alguns planos que traduzem as dire-
trizes para a educação: o Programa “Brasil
Sem Homofobia: Programa de Combate à
Violência e à Discriminação contra GLBT e
de Promoção da Cidadania Homossexual”
(2004); no II Plano de Educação em Direitos
Humanos (2006); na Conferência Nacional
GLBT (2008); II Plano Nacional de Política
para as Mulheres (2009); no Plano Nacional
de Promoção da Cidadania e Direitos Huma-
nos LGBT (2009). Tais demandas foram sis-
tematizadas recentemente na Conferência
Nacional de Educação (CONAE), e entre elas
procura-se:
•	 Introduzir e garantir a discussão de gêne-
ro e diversidade sexual na política de va-
lorização e formação inicial e continuada
dos/das profissionais da educação nas es-
feras federal, estadual, distrital e munici-
pal, visando ao combate do preconceito
e da discriminação de pessoas lésbicas,
gays, bissexuais, travestis, transexuais,
mulheres, ao estudo de gênero, diversida-
de sexual e orientação sexual, no currícu-
lo do ensino superior, levando-se em con-
ta o Plano Nacional de Políticas Públicas
para a Cidadania LGBT e o Programa Brasil
sem Homofobia.
•	 Inserir e implementar na política de valo-
rização e formação dos/ das profissionais
da educação, a partir da reorganização da
proposta curricular nacional, a discussão
de gênero e diversidade sexual, na pers-
pectiva dos direitos humanos, quebrando
os paradigmas hoje instituídos e adotan-
do para o currículo de todos os cursos de
formação de professores/as um discurso
de superação da dominação do masculi-
no sobre o feminino, para que se afirme
a constituição de uma educação não se-
xista. (…)
•	 Elaborar, implantar e implementar políti-
cas e programas de formação continuada,
de pós-graduação, acerca de gênero, di-
versidade sexual e orientação sexual para
todos/as os/as profissionais da área da
saúde, educação, serviço social, esporte e
lazer (CONAE, 2010, p. 143-145).
8
O programa Salto para o Futuro - Educação e
Diversidade Sexual - visa gerar subsídios para
os processos de formação continuada dos/
as profissionais da educação contribuindo,
por meio do acesso a saberes acerca da di-
versidade sexual, para o desenvolvimento
de habilidades e competências no campo da
educação de enfrentamento a preconceitos
e discriminações por orientação sexual. Para
isso a série abordará a educação e sua inter-
face com a orientação sexual na perspectiva de
sua diversidade a partir das potencialidades e
fragilidades das escolas brasileiras (e profis-
sionais de educação) para a abordagem edu-
cativa no espaço escolar. Temáticas como:
•	 processos socioculturais de construção
da homofobia e suas repercussões na es-
cola (heteronormatividade, identidade de
gênero, identidade sexual, naturalização
da homofobia etc.);
•	 demandas sociais de LGBT por igualdade
de direitos na educação;
•	 resultados de pesquisas e estudos acerca
da educação sexual e da homofobia na es-
cola;
•	 as nuances das violências decorrentes da
homofobia na escola e suas consequên-
cias para a formação de lésbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais (ex:
bullying homofóbico);
•	 as potencialidades e fragilidades das po-
líticas educacionais para a implementa-
ção de uma educação de enfrentamento
a preconceitos e discriminações na pers-
pectiva do enfrentamento à homofobia e
reconhecimento das diferenças e diversi-
dade sexual;
•	 experiências exitosas em andamento (em
sistemas de ensino e escolas);
•	 desafios à educação para o aprimora-
mento de uma educação afirmativa para
a diversidade sexual (formação inicial e
continuada de professores/as; currículo,
produção de conhecimento, material di-
dático etc.), que aborde as possibilidades
de enfrentamento a preconceitos e discri-
minações ainda existentes em nossa so-
ciedade e nas escolas brasileiras).
A partir do exposto, entende-se que as temá-
ticas relacionadas à abordagem educativa so-
bre orientação sexual e identidade de gênero
são de extrema relevância para os espaços de
formação inicial e continuada de educadores/
as indo, portanto, ao encontro da proposta
pedagógica do programa Salto para o Futuro.
A proposta da série Educação e Diversidade Se-
xual objetiva mobilizar educadores/as do país
inteiro para a adoção de práticas pedagógicas
de enfrentamento a preconceitos e discrimi-
nações por orientação sexual e a efetivação
de uma educação afirmativa voltada para a
valorização e o reconhecimento das diferen-
ças e diversidades sexuais.
9
Textos da série Educação e diversidade sexual5
A série pretende discutir a responsabilidade dos sistemas de ensino quanto ao enfrentamento
de preconceitos e discriminações por orientação sexual, respaldando-se na garantia constitu-
cional de educação enquanto direito fundamental de todos e todas. Nesse sentido, os progra-
mas irão discutir os processos de formação (inicial e continuada) de profissionais da educação
sobre sexualidade e diversidade sexual; debater sobre o atual cenário de violências vividas por
LGBT no ambiente escolar a partir de pesquisas e estudos realizados nesse campo; refletir acer-
ca das estratégias (metodológicas e pedagógicas) de abordagem da sexualidade na escola na
perspectiva do reconhecimento e da valorização da diversidade sexual; apresentar experiências
exitosas, ressaltando os obstáculos, fragilidades e potencialidades das escolas brasileiras para
a inserção da temática no currículo escolar. Ao longo da série, são apresentadas as questões
específicas do campo educacional articuladas aos processos socioculturais de construção da
homofobia nos demais espaços da sociedade, de modo a dialogar com conceitos como hetero-
normatividade, identidade de gênero, identidade sexual, naturalização da homofobia, igualda-
de de direitos, movimentos sociais etc.
Texto 1: Direitos humanos e diversidade sexual
Este texto traz como questão central a discussão em torno dos mecanismos de interferência
da homofobia no direito à educação de LGBT. Assim, apresenta os processos socioculturais de
construção de sentidos e significados acerca das sexualidades de modo a trazer informações
sobre violência, preconceitos e discriminações dirigidas a LGBT, os processos de reivindicação
empreendidos pela população LGBT e a política educacional em e sobre direitos humanos no
Brasil. O texto mostra a importância de desnaturalizar a homofobia e de promover ações afir-
mativas de desconstrução de valores e práticas homofóbicas nos espaços sociais, com enfoque
na escola. Para isso, aborda a educação e sua interface com a orientação sexual na perspectiva
de sua diversidade, instigando a reflexão sobre o papel da educação e seus profissionais (espe-
cialmente professores/as) nesse processo de enfrentamento às desigualdades ocasionadas pela
homofobia.
5	 Estes textos são complementares à série Educação e diversidade sexual, com veiculação no programa Salto
para o Futuro/TV Escola de 09/05/2011 a 13/05/2011.
10
Texto 2: Orientação sexual e identidade de gênero
Este texto apresenta o atual cenário vivido por LGBT nos espaços escolares, no sentido de
aproximar as temáticas aos profissionais de educação. Aborda as nuances das violências decor-
rentes da homofobia na escola e suas consequências para a formação (intelectual e humana)
de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (ex: bullying homofóbico), baseando-se em
resultados de pesquisas e estudos que devem ser apresentados e debatidos com foco nas reali-
dades das escolas brasileiras: suas potencialidades e fragilidades. Na base desse debate devem
estar dimensões importantes da educação, como a formação inicial e continuada de profes-
sores/as, currículo, produção de conhecimento e material didático. Experiências positivas em
acesso e permanência de LGBT em escolas também são apresentadas.
Texto 3: Educação para a diversidade
Este texto apresenta as ações empreendidas no campo da política educacional de enfrentamen-
to à homofobia. Experiências exitosas de formação continuada de profissionais da educação,
experiências de escolas na abordagem da temática e a produção de conhecimento sobre me-
todologias e práticas pedagógicas de enfrentamento à homofobia na escola são apresentadas
e debatidas.
Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4: Outros olhares
sobre Educação e diversidade sexual e do PGM 5: Educação e diversidade sexual em debate.
Referências Bibliográficas
ABRAMOVAY, M.; CASTRO, M. G.; SILVA, L. B.
Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO
Brasil, 2004.
BORRILLO, D. Homofobia. História e crítica
de um preconceito. Belo Horizonte: Ed. Au-
têntica, 2000/2010. 144p.
BOURDIEU, P. A dominação masculina. Trad.
Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Ber-
trand Brasil, 1998/2005. 160 p.
CORRÊA, S. O.; MUNTARBHORN, V. (orgs.).
Princípios de Yogyakarta: princípios sobre a
aplicação da legislação internacional de direi-
tos humanos em relação à orientação sexual e
identidade de gênero. Yogyakarta/Indonésia,
2006. Disponível em: <http://www.clam.org.
br/pdf/principios_de_yogyakarta.pdf >. Aces-
so em: 12/11/2007.
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO (2008). Diversi-
dade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerân-
cia à diversidade sexual.
11
JOCA, Alexandre Martins. Diversidade Sexual
na Escola: um “problema” posto à mesa. Dis-
sertação de Mestrado. UFC, 2008.
JUNQUEIRA, R. D. (org.). Diversidade Sexual
na Educação: problematizações sobre homo-
fobia nas escolas, v. 32. Brasília: Ministério
da Educação/UNESCO, 2009.
LIONÇO, T.; DINIZ, D. (orgs.). Homofobia e
Educação: um desafio ao silêncio. Brasília:
Editora UNB, 2009. 196 p.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e
educação: Uma perspectiva pós-estruturalis-
ta. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.
MAZZON, J. A. (coord.). Pesquisa Nacional Di-
versidade na Escola. Fundação de Estudos e
Pesquisas Econômicas, 2009.
PRADO, M. A. M.; MACHADO, F. V. Precon-
ceito contra homossexualidades: a hierarquia
da invisibilidade. São Paulo: Editora Cortez,
2008. 144 p.
SMIGAY, K. E. von. (2002). Sexismo, homo-
fobia e outras expressões correlatas de vio-
lência: desafios para a psicologia política.
Psicologia em Revista, 8(11), p. 32-46, 2002.
Disponível no SciELO (Scientific Electronic
Library Online), <http://www.scielo.br/ptp>
Acesso em 21 nov. 2007.
TORRES, M. A. A diversidade sexual na educa-
ção e os direitos de cidadania LGBT na Escola.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010. v. 1. 72 p.
12
texto 1
Direitos humanos e diversidade sexual
Pelo direito à educação e à diversidade na escola
Alexandre Martins Joca1
Introdução
“A sexualidade é um nó para a escola”. Essa
afirmativa, de uma professora da Rede Es-
tadual de Ensino Público do Ceará, duran-
te o encerramento de um curso de forma-
ção continuada sobre gênero e diversidade
sexual, foi provocadora, no sentido de nos
despertar para reflexões acerca dos motivos
que nos condicionam a olhar para a sexu-
alidade, na perspectiva de sua diversidade,
como uma dimensão humana problemáti-
ca, “um nó”, “um problema”, para a prática
educativa e para o convívio escolar.
Nosso objetivo principal neste texto é puxar
alguns dos fios desse “nó” que se tornaram
as tentativas de inserção das temáticas re-
lacionadas à diversidade sexual nas escolas
brasileiras, apontando algumas pistas que
nos permitam compreender os mecanismos
de interferência da homofobia no direito à
educação escolar de lésbicas, gays, bissexu-
ais, travestis e transexuais - LGBT.
1. Da educação por direito ao
direito à educação
Uma questão central para pensarmos o direi-
to à educação a LGBT está em olhar a edu-
cação formal e, consequentemente, a insti-
tuição escolar como um direito de todos e
todas, articulando a relação entre “Educação”
e “Direito”, a partir de duas perspectivas: “a
educação como um direito de todos e todas”
e “o direito à educação a todos e todas”.
No campo legislativo, a perspectiva da edu-
cação como um “direito de todo cidadão” está
garantida constitucionalmente no Brasil des-
de a Constituição de 1934. No intuito de al-
cançar a universalização do ensino público,
o acesso a todos e todas à instituição escolar
foi, durante muito tempo, uma bandeira dos
movimentos pela educação no Brasil e sinô-
nimo de exercício da cidadania e de demo-
cracia. No entanto, com o passar do tempo,
percebeu-se que o desejado acesso à escola
não garantia a todos e todas a permanência
e o êxito escolar. Isso porque a desejada uni-
1	 Mestre e doutorando em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e membro do Grupo de
Resistência Asa Branca – GRAB. Consultor da série.
13
versalização do ensino não garantiu, de fato,
a equidade no direito à educação.
Portanto, a perspectiva da educação como
um “direito de todos e todas” viu-se ameaça-
da pelo bicho-papão que ronda o universo
escolar – a exclusão, a segregação, a domi-
nação e o poder hegemônicos – resultantes
das relações hierarquizadas e desiguais que
caracterizam nossa sociedade e violam os
princípios iluministas da modernidade. Esse
bicho-papão determina a cor, o sexo, a clas-
se social e a orientação sexual que condu-
zem as práticas e relações vividas na esco-
la e define quem deve ou não permanecer
nesse espaço. Nesse contexto, põe-se em
xeque a suposta universalidade da educação
escolar, denunciando a negação do direito
à educação a uma parcela considerável da
sociedade, que inclui as pessoas que não se
enquadram nos padrões e normas da hete-
ronormatividade. Isso porque a garantia do
direito à educação, para além do acesso à
escola, exige desta e de seus profissionais a
capacidade de atender às demandas dos(as)
estudantes, de modo que o cotidiano e a
vida na escola propiciem aos sujeitos em
formação o sentimento de pertencimento,
de acolhimento e o reconhecimento de suas
singularidades e subjetividades, proporcio-
nando uma formação além da aprendiza-
gem cognitiva conteudista e disciplinar.
É inegável que a escola sempre foi, e ainda o
é, conduzida por princípios, valores e atitu-
des marcadoras de desigualdades de gênero,
de classe, de raça/etnia e de orientação se-
xual. Talvez, por isso, durante muito tempo,
a educação brasileira, focada na ênfase ao
ensino propedêutico, omitiu-se, negou-se a
inserir nos currículos, nas formações (inicial
e continuada) de educadore(a)s, nos livros di-
dáticos, e nos demais campos de atuação da
educação, as temáticas relacionadas à diver-
sidade cultural. Esta omissão findou por legi-
timar a hegemonia heteronormativa e essen-
cialista da sexualidade, afirmando a escola
enquanto o não-lugar para as pessoas LGBT.
2. A educação e sua interface
com a orientação sexual
A compreensão essencialista do sexual, há
séculos, conduz os saberes e as relações
sociais sexuais dos sujeitos, determinando
seus desejos, prazeres e ditando as condutas
sexuais aceitáveis ou negadas no âmbito so-
cial, findando por limitar e impor fronteiras
à sexualidade humana e a submeter os su-
jeitos à condição de seres sexuais predefini-
dos, fixos e acabados, sem possibilidades de
novas descobertas e prazeres, num processo
de normalização2
do sexual. Isso tem gera-
do profundas inquietações em decorrência
das desigualdades ocasionadas pela com-
2	 Adoto aqui o conceito trazido por Thomaz Tadeu da Silva (2000), que define normalização como um
dos processos mais sutis pelo qual o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença, compreendendo
que “normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma identidade específica como parâmetro em relação ao
qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a essa identidade todas
as características positivas possíveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser avaliadas de forma
negativa” (SILVA, 2000, p. 83).
14
preensão da sexualidade através do prisma
da dominação masculina e da hegemonia da
heterossexualidade3
(JOCA, 2009).
É o que vem acontecendo com lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais -
LGBT a partir dos processos de produção e
reprodução da homofobia4
, fonte de desi-
gualdades de direitos e obstáculo à vivência
e convivência harmoniosa com a diversida-
de sexual. A homofobia em nossa sociedade
tem ocasionado profundas desigualdades e
violências configuradas numa linha tênue
de preconceitos e discriminações, que vão
das manifestações mais sutis do cotidiano
aos perversos crimes contra homossexuais
em todo o Brasil. Para Borrillo,
(…) como toda forma de exclusão, a ho-
mofobia não se limita a constatar as di-
ferenças: ela interpreta e tira conclusões
materiais. Assim, se o homossexual é
culpado do pecado, sua condenação mo-
ral aparece como necessária e a purifi-
cação pelo fogo inquisitorial é uma con-
sequência lógica (BORRILLO, 2009, p. 18).
Contrária ao essencialismo, a concepção
construcionista – ou a teoria da construção
social – no campo da sexualidade, baseia-
se em uma abordagem histórica, no senti-
do de compreendê-la como um construto
sócio-histórico e cultural, pois “a sexuali-
dade é construída de forma diferente atra-
vés da cultura e do tempo” (PARKER, 2001).
Na perspectiva pós-estruturalista, o que
está em jogo é o embate entre a associação
sexo/gênero, ou melhor, entre o sexo bio-
lógico e identidade de gênero e orientação
sexual. Essa distinção apresenta-se ainda
bastante confusa, pois os conflitos e desi-
gualdades decorrentes da homofobia conti-
nuam presentes nos mais diversos espaços
de sociabilidade dos sujeitos, de modo que,
no âmbito da educação formal, as escolas
brasileiras e os/as profissionais da educação
têm demonstrado bastante dificuldade em
estabelecer relações sociais positivas com
os jovens LGBT, configurando um cenário de
práticas discriminatórias5
de violação/nega-
ção de um direito constitucional fundamen-
tal: a educação.
3	 Butler (2001), referindo-se ao que chama, no campo do sexual, de imperativo heterossexual, ressalta que
“esta matriz excludente pela qual os sujeitos são formados exige, pois, a produção simultânea de um domínio
de seres abjetos, aqueles que ainda não são ‘sujeitos’ mas que formam o exterior constitutivo, relativamente ao
domínio do sujeito (…). Neste sentido, o sujeito é construído através da força da exclusão e da abjeção (…). A
formação de um sujeito exige uma identificação com o fantasma normativo do sexo” (Butler, 2001, p. 155-156).
4	 Termo comumente utilizado para definir o medo, o desprezo, a desconfiança e a aversão em relação à
homossexualidade e às pessoas homossexuais ou identificadas como tais. A homofobia não diz respeito apenas
ao universo variado de manifestações psicológicas negativas em relação à homossexualidade. Ela está na base de
preconceitos, discriminações e violências contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e todas as pessoas
cujas sexualidades ou expressão de gênero não se dão em conformidade com a heteronormatividade e as normas de
gênero (CARVALHO, ANDRADE & JUNQUEIRA, 2009, p. 24).
5	 Lionço e Diniz (2009) entendem práticas discriminatórias “como a valorização das diferenças de modo a
promover desigualdades ou prejuízos para as partes desqualificadas” (LIONÇO e DINIZ, 2009).
15
Instituição de formação e sociabilidade, es-
pecialmente dos/as jovens, a escola tem se
configurado como um espaço de produção
e reprodução das diferenças. E, com sua
dinâmica institucional centrada no disci-
plinamento, insiste em padronizar currícu-
los, práticas educativas, espaço geográfico,
arquitetônico e os sujeitos, reafirmando as
relações sexuais hegemônicas, principal-
mente, no âmbito das questões de gênero
e de orientação sexual. Um exemplo são as
dificuldades demonstradas por educadores/
as sobre o convívio
com LGBT nos am-
bientes escolares, de
modo que preconcei-
tos e atos de discri-
minação contra a po-
pulação LGBT muitas
vezes são naturaliza-
dos e banalizados. Os
próprios educadores/
as, comumente, con-
sideram estes casos como “brincadeiras”,
“coisas sem importância”. Daí, não apenas
silenciam, mas colaboram ativamente na
produção e reprodução da homofobia (LOU-
RO, 1997; LOIOLA, 2005; JOCA, 2008, entre
outros).
Vale lembrar que na década de 1980, com o
surgimento da Aids, outras questões sobre a
sexualidade foram incorporadas ao cenário
educacional. No entanto, a discussão sobre
a sexualidade na escola parece não romper
com a lógica até então empreendida, pois a
abordagem educativa concentrou-se em uma
perspectiva cada vez mais biológica, voltada
ao repasse de informações sobre saúde e pre-
venção, rejeitando ou
ignorando as subjeti-
vidades dos desejos e
prazeres implicados
na vivência das diver-
sas possibilidades do
sexual.
As diversas pesquisas
sobre homossexuali-
dade6
apontam para
uma tríade da violência: rua-escola-família.
A rua, espaço público onde os sujeitos exer-
cem a cidadania, é negada para os homosse-
xuais expressarem seus afetos, por diferirem
Instituição de formação
e sociabilidade,
especialmente dos/as
jovens, a escola tem se
configurado como um
espaço de produção e
reprodução das diferenças.
6	 Para maiores informações sobre as manifestações de homofobia na escola, consultar:
	 ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete. Juventudes e Sexualidade. Brasília:
UNESCO Brasil, 2004.
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br/o-que-fazemos/pesquisas-de-opiniao-publica).
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%93+2009.&btnG=Pesquisar&hl=pt-R&source=hp&aq=f&aqi=&aql=& oq=
	 Política, Direitos, Violência e Homossexualidade (Disponível em: http://www.clam.org.br/publiqu)
16
da heterossexualidade; a família, espaço pri-
mário da formação e da afetividade, ainda
se mantém presa às normas culturais que
regem o que é “normal” e “diferente”; a es-
cola, por sua vez, é a instituição responsável
pela transmissão da cultura, numa função
conteudística, e
(…) no campo da sexualidade esta cul-
tura determinou a heterossexualidade
como hegemônica – síntese do machis-
mo, selecionando as características in-
dividuais para cada sujeito mediante o
gênero a que pertence, causando sérias
implicações para as relações sociais e se-
xuais. De modo que, ao nascer, o indiví-
duo já leva impresso consigo um roteiro
definido para seu comportamento de ho-
mem ou de mulher” (LOIOLA, 2008, p. 32).
No tocante às manifestações homofóbicas
no ambiente escolar, Louro (1997) alerta
para o processo de “fabricação” dos sujeitos
e das diferenças, de identidades e corpos es-
colarizados, segundo as práticas cotidianas
em que estes estão envolvidos, destacando
a necessidade de estarmos atentos ao pro-
cesso de banalização de palavras e gestos
do cotidiano, tomados como naturais, pois
essas, muitas vezes, camuflam as manifes-
tações homofóbicas direcionadas a LGBT.
É a negação da possibilidade da vivência e
convivência desses jovens com a diversida-
de sexual e, por conseguinte, a negação aos/
às jovens homossexuais do direito à educa-
ção escolarizada, pois “a negação dos/as ho-
mossexuais no espaço legitimado da sala de
aula acaba por confiná-los a ‘gozações’ e aos
‘insultos’ dos recreios e dos jogos, fazendo
com que, deste modo, jovens gays e lésbicas
só possam se reconhecer como desviantes,
indesejados ou ridículos” (LOURO, 1997, p.
68). Desse modo, evidenciam a permanência
das manifestações homofóbicas nas escolas,
revelando ainda a existência de obstáculos
enfrentados por homossexuais nas relações
sociais vividas nesse espaço.
A carência de ações educativas programa-
das7
sobre sexualidade e diversidade sexual,
na perspectiva do enfrentamento à homofo-
bia nos espaços escolares, torna-se eviden-
te, de modo que são o(a)s jovens LGBT, no
acaso8
escolar, que têm incluído as temáti-
cas da diversidade sexual. No entanto, nas
últimas décadas, as políticas de EDH no Bra-
sil vêm empreendendo ações no intuito de
garantir a LGBT o direito à educação e ao
espaço escolar.
7	 Denomino aqui de ‘programados’ as ações ou atividades educativas previamente programadas a serem
desenvolvidas pela escola no processo de ensino-aprendizagem dos/as jovens estudantes. Tais atividades estão de
acordo com o que se espera da instituição escolar em relação à formação do/a cidadão/ãs (JOCA, 2008, p. 99).
8	 “O acaso são os acontecimentos oriundos da sociabilidade dos sujeitos no espaço escolar. (...). Ao
proporcionar a ocorrência do acaso, a sociabilidade dos/as jovens muitas vezes é confundida com ou designada
como indisciplina, má conduta, pois essas experiências não são legitimadas nem reconhecidas, pela escola, como
aprendizagens significativas, nem positivas para seu desenvolvimento individual e coletivo” (JOCA, 2008, p. 105-106).
17
3. Direitos sexuais como
direitos humanos na
educação
Desde os anos de 1990, e com maior inten-
sidade na primeira década do século XX, o
Estado brasileiro (nas esferas municipais,
estaduais e federal) vem discutindo e procu-
rando responder às demandas de camadas
da sociedade historicamente excluídas, por
meio do que se convencionou chamar de
“políticas afirmativas”9
.
Quanto à política educacional brasileira, po-
demos citar alguns avanços, como também
alguns desafios. O primeiro avanço consiste
na criação dos Parâmetros Curriculares Na-
cionais (PCN) que, desde 1997, propõem a
inclusão, no currículo do Ensino Fundamen-
tal e do Ensino Médio, das questões aqui
discutidas, numa perspectiva de abordagem
transversal nos tópicos intitulados “Plurali-
dade Cultural” e “Orientação Sexual”10
. Ape-
sar do reconhecido avanço representado pe-
los PCN, uma das críticas a esta proposta
consiste na não obrigatoriedade da inserção
dessas temáticas no currículo escolar, pelo
caráter de recomendação atribuído aos
PCN; na carência de materiais didáticos e
paradidáticos voltados a essas questões e,
durante muito tempo, a carência de forma-
ção continuada de educadores/as tendo em
vista o desenvolvimento de competências e
habilidades para uma abordagem educativa
desses temas. Figueiró (2006), Loiola (2006)
e Joca (2008), entre outros, apontam, tam-
bém, para uma suposta inoperância dessa
proposta, uma vez que os temas transver-
sais acabam por serem postos em segundo
plano na dinâmica escolar, especialmente
as questões que envolvem conflitos morais
e éticos como a homossexualidade (JOCA,
2008).
As políticas educacionais afirmativas de en-
frentamento ao sexismo e à homofobia re-
alizadas pelo Ministério da Educação - MEC
concentram-se, especialmente, na realiza-
ção, desde 2005, de formação continuada
de educadores/as sobre gênero e diversidade
sexual, em parceria com Instituições de En-
sino Superior. A implementação dessas polí-
9	 Conquistas importantes no campo das questões étnico-raciais e de gênero foram: a Lei n. 7.716/89, que
define os crimes ocasionados pelo preconceito de raça e cor; e a Lei n. 11.340/2006, Lei Maria da Penha, que estabelece
punições à violência contra a mulher. No entanto, o Legislativo, num intenso conflito de poder ideológico entre
a “banca fundamentalista”, “religiosa” e conservadora e os legisladores conhecidos comumente como “bancada
progressista”, ainda não caracteriza a homofobia enquanto um ato criminoso nem legitima a união civil entre
pessoas do mesmo sexo. Vale lembrar que o Projeto de Lei n. 122/2006 tramita, atualmente no Legislativo, propondo
alterar a Lei n. 7.716/1989. A alteração consiste em incluir os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de
gênero, sexo, orientação sexual, e identidade de gênero e indica, dessa maneira, sanções às práticas discriminatórias
dirigidas aos/às homossexuais. O projeto foi aprovado no Congresso Nacional, em 2007, e atualmente tramita no
Senado Federal.
10	 A expressão “Orientação Sexual” é entendida no texto dos PCN como “educação sexual”, não estando,
portanto, relacionada especificamente às temáticas de identidade de gênero e diversidade sexual.
18
ticas no âmbito educacional perpassa pelos
conflitos epistemológicos, ideológicos e po-
líticos, numa arena de interesses e relações
de poder, como exemplo, as dificuldades do
MEC e demais órgãos governamentais em
instituir, enquanto política pública, uma
educação sexual na qual a abordagem peda-
gógica da sexualidade humana tenha como
um de seus pilares o enfrentamento ao se-
xismo e à homofobia. Nessa última, a vio-
lação do princípio constitucional, garantido
pela Constituição de
1988, de laicidade
do Estado brasilei-
ro, pela influência e
poder das institui-
ções religiosas so-
bre as políticas do
Estado, constitui-se,
significativamente,
enquanto um obstá-
culo a ser superado
(COSTA, JOCA, FILHO, 2011).
A partir da primeira década do século XXI,
essas questões encontraram espaço no âm-
bito das políticas educacionais brasileiras
como temáticas contempladas nas políticas
de Educação em Direitos Humanos (EDH)11
.
O Plano de ação da 1ª fase do Plano Mun-
dial de Educação em Direitos Humanos de-
fine EDH como “o conjunto de atividades de
educação, capacitação e difusão de informa-
ções orientadas a criar uma cultura universal
no campo dos direitos humanos mediante a
transmissão de conhecimento, o ensino de téc-
nicas e a formação de atitudes”12
.
Um dos focos da Educação em Direitos Hu-
manos – EDH está
em garantir a efeti-
vação da “educação
como um direito de
todos e todas”. Para
isso, além de garan-
tir o acesso univer-
sal à escola, cabe
ao Estado fazer do
ambiente escolar,
um espaço de aco-
lhimento a todos e todas, isento de precon-
ceitos e discriminações. Nessa perspectiva,
a EDH traz novos desafios aos educadores/
as, pesquisadores/as e gestores/as, acres-
centando à pauta da educação o desafio de
construir alternativas de políticas voltadas
11	 Podemos citar o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH); o Programa Nacional
de Direitos Humanos (PNDH), o Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), a Conferência
Nacional de Educação (CONAE) como documentos de referência para a EDH. Esses documentos constituem-se em
diretrizes e propostas para a educação voltadas à efetivação da vivência de valores como a Vida e a integridade
pessoal, Dignidade humana, Identidade, Liberdade e responsabilidade, Igualdade e não discriminação, Justiça e
equidade, Solidariedade e cooperação, Participação, Pluralismo, Desenvolvimento humano, Paz e segurança,
Diversidade, entre outros.
12	 Plano de ação da 1ª fase do Plano Mundial de Educação em Direitos Humanos. p. 18. Tradução livre.
portanto, relacionada especificamente às temáticas de identidade de gênero e diversidade sexual.
Um dos focos da Educação
em Direitos Humanos –
EDH está em garantir a
efetivação da “educação
como um direito de todos e
todas”.
19
ao enfrentamento de violências e desigual-
dades sociais que se refletem, também, no
cotidiano escolar. Exige-se, portanto, da
educação e de seus profissionais um reorde-
namento, uma reorganização das estruturas
e das políticas educacionais, dos currículos,
da formação docente, das práticas educati-
vas; um reordenamento do vivido na escola,
em resposta à histórica exclusão que carac-
terizou a educação escolar no Brasil.
4. Breves considerações
A pretensão em trazer algumas questões que
implicam desvelar os processos de negação
do direito à educação a pessoas LGBT consis-
te em contribuir para as reflexões acerca da
função social da escola e dos/as educadores/
as no que diz respeito ao enfrentamento de
preconceitos e discriminações por orienta-
ção sexual. Além de reflexões, torna-se ne-
cessário, nesse momento, que nós, educa-
dores e educadoras, passemos a questionar
nossas práticas e atitudes, muitas vezes na-
turalizadas no cotidiano escolar; a duvidar,
questionar e problematizar algumas “verda-
des” sobre as sexualidades e gênero. Não há
dúvida que esse exercício exige de nós a dis-
ponibilidade para a mudança, a reconstru-
ção de valores e princípios, a disponibilidade
para olhar o outro e a nós mesmos a partir
de outras perspectivas, vislumbrando outras
possibilidades de ser e estar no mundo. Essa
disponibilidade ao novo, ao que outrora pu-
desse parecer “estranho”, “incomum”, longe
da lógica que já nos é tão familiar, permite
que nos tornemos educadores e educandos
simultaneamente, expondo-se às diferenças,
e como afirma Freire (1996), “disponibilidade
a tocar e a ser tocado, a perguntar e a respon-
der, a concordar e a discordar. Disponibilidade
à vida e a seus contratempos”.
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22
texto 2	
Orientação sexual e identidade de gênero
Enfrentamentos possíveis à homofobia:
orientação sexual e identidade de gênero
no contexto da educação
Marco Antonio Torres 1
Introdução
No presente texto são analisados os argu-
mentos da matriz heterossexista e seus des-
dobramentos entre educadores e educado-
ras na escola, desde as diversas formas de
currículos até as emoções que perpassam o
ambiente escolar. Apresentamos as noções
de identidade de gênero e de orientação se-
xual como possibilidades de compreensão
das sexualidades, além dos argumentos des-
ta matriz. Por fim, nomeamos algumas ela-
borações na política de Direitos Humanos
que emergem na contemporaneidade e que
questionam as lógicas de discriminação da
população LGBT (lésbicas, gays, travestis e
transexuais) nas políticas educacionais.
1. A Insuficiência do Modelo
Heterossexista para
Compreensão da Orientação
Sexual e Identidade de Gênero na
Contemporaneidade
Tanto as crenças quanto as contingências
que se relacionam com a sexualidade fo-
ram formadas em nosso processo de socia-
lização. A socialização que temos nas rela-
ções cotidianas possibilita a construção de
conhecimentos. Poderíamos citar muitas
crenças questionadas pelas contingências
na contemporaneidade, principalmente pe-
los movimentos sociais de estudantes, de
mulheres; movimentos contra a discrimina-
ção etnorracial, em defesa da ecologia e dos
direitos de LGBT (lésbicas, gays, travestis e
transexuais). Essas lutas é que colocam em
xeque crenças e valores na sociedade em
geral, e adentram a comunidade escolar
para questionar supostas verdades tomadas
como absolutas, isto é, naturais. São lutas
fundamentais para efetivar o reconhecimen-
to das sexualidades pela noção de diversida-
de sexual. Vejamos a questão específica das
sexualidades e do preconceito na comunida-
de escolar.
As formas de expressão da sexualidade e a
variedade de práticas sexuais que experimen-
tamos durante a vida também são frutos
de processos de socialização e são contin-
1	 Professor da Universidade Federal de Ouro Preto, atuando nas licenciaturas e formação continuada de
professores/as e doutorando no Programa de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor da série.
23
gências que passaram a ser tomadas como
verdades no processo histórico. As noções
do judaísmo e do helenismo, por meio da
cultura cristã, negaram e rechaçaram ou-
tras formas de compreensão da sexualidade
humana. Essas noções, sem questionamen-
tos, elaboraram a crença de que homem e
mulher não poderiam expressar e praticar
sua sexualidade, a não ser pelo padrão hete-
rossexista, ou seja, homens comandavam a
sociedade e as relações
sexuais somente eram
aceitas dentro de uma
união conjugal entre
homem e mulher. Tais
noções estão nos cur-
rículos, nos saberes e
fazeres da comunidade
escolar. Por isso, mui-
tas vezes, ao pensar-
mos sobre identidade
de gênero e orientação
sexual, os sentimentos
que temos em relação
às pessoas que expres-
sam sexualidades diferentes do padrão hete-
rossexista são emocionalmente perpassados
pela constelação de discursos que aprende-
mos e repetimos nas configurações sociais.
O conceito de figuração ou configuração
em Norbert Elias (1970) pode ser tomado na
análise dos posicionamentos de indivíduos
e grupos no contexto educacional. O autor
explica o conceito de figuração por meio do
exemplo de um baile, no qual vários indiví-
duos, dependentes do movimento coletivo
e orientados uns pelos outros, movem-se
cadenciados pela música que toca, com sua
letra, seus instrumentos, seu ritmo, enfim,
uma complexidade dinâmica de elementos
diferentes que aparecem como se formas-
sem um todo. Desse modo, Elias elabora
uma sociologia processual e busca fugir das
antíteses no uso dos conceitos de indivíduo
e sociedade, en-
tendendo que as
pessoas estão em
um fluxo nem
sempre planeja-
do ou previsível.
Essa noção pode
nos ajudar a en-
tender as escolas
como uma figu-
ração, ou con-
figuração, onde
os significados
da sexualidade
são disputados por muitos discursos: mé-
dicos, morais, religiosos etc. Quando pen-
samos a sexualidade, podemos pensar que
atualmente têm emergido algumas tendên-
cias. Uma bastante clara e definida: contra
qualquer tema, assunto, referência etc. que
aponte a legitimidade de demandas LGBT
na escola, como, por exemplo, o respeito
ao nome social de travestis e transgêneros.
Outra tendência ainda esmaecida tem sido
Na contemporaneidade,
as noções de identidade
de gênero e orientação
sexual têm sido articuladas
pelo movimento LGBT e
compreendem a escola
como lugar importante
para divulgação dessas
noções.
24
a de professores/as, alunos/as, gestores/as,
funcionários/as etc. que defendem e às ve-
zes até se engajam em ações favoráveis aos
LGBT. Esta tendência de apoio não é muito
forte nem publicamente definida, muitas
vezes ainda está “trancada no armário”. Po-
rém aquelas/es que são contrários aos LGBT
estão apoiadas/os no machismo presente
em nossa educação.
Na contemporaneidade, as noções de identi-
dade de gênero e orientação sexual têm sido
articuladas pelo movimento LGBT e compre-
endem a escola como lugar importante para
divulgação dessas noções. Na Indonésia, es-
tudiosos e ativistas se reuniram e prepara-
ram um documento encaminhado às Nações
Unidas, denominado Princípios de Yogyakarta
(nome da cidade onde ocorreu o encontro),
cuja proposta, já apresentada no texto da In-
trodução, define orientação sexual e identi-
dade de gênero:
COMPREENDENDO “orientação sexual”
como estando referida à capacidade de
cada pessoa de experimentar uma pro-
funda atração emocional, afetiva ou se-
xual por indivíduos de gênero diferente,
do mesmo gênero ou de mais de um gê-
nero, assim como de ter relações íntimas
e sexuais com essas pessoas;
ENTENDENDO “identidade de gênero”
como estando referida à experiência in-
terna, individual e profundamente sen-
tida que cada pessoa tem em relação
ao gênero, que pode, ou não, correspon-
der ao sexo atribuído no nascimento,
incluindo-se aí o sentimento pessoal do
corpo (que pode envolver, por livre esco-
lha, modificação da aparência ou função
corporal por meios médicos, cirúrgicos
ou outros) e outras expressões de gêne-
ro, inclusive o modo de vestir-se, o modo
de falar e maneirismos (INDONÉSIA,
2006, p. 9).
As noções desse documento se propõem
a subverter o modelo heterossexista e, ao
mesmo tempo, revelar a força desse mode-
lo. Quando se faz necessário um documento
que afirme um direito, o documento revela
que esse direito tem sido negado, ou seja, de-
clarar direitos é reconhecer primeiramente
que esse direito não é evidente para todos os
homens, que eles têm essa garantia (CHAUÍ,
1989). Assim, podemos considerar os Princí-
pios de Yogyakarta como reveladores de que
esses direitos não são um fato óbvio às co-
munidades políticas, pois se afirma a hete-
rossexualidade como única via possível do
desejo sexual (orientação sexual) e da auto-
percepção do sujeito (identidade de gênero).
Quando falamos sobre transexuais, pessoas
que desejam mudar o nome, a aparência (re-
alizando ou não cirurgias), para se adequar
anatomicamente como homem ou como
mulher, falamos de identidade de gênero.
Todavia um transexual (masculino ou femi-
25
nino) pode ser homossexual, heterossexual
ou bissexual, termos que indicam sua orien-
tação sexual. Assim, uma pessoa que nasceu
com pênis pode, ao longo da vida, se sentir
e se perceber como mulher; poderá, ou não
fazer cirurgia e/ou outros tratamentos para
adequação dos genitais. Outra pessoa que
nasceu com vagina e não se sente uma mu-
lher, mas sim um homem, não será lésbica,
mas vive a transexualidade e poderá, em al-
guns países como o Brasil, retirar seus seios
e colocar uma prótese peniana. Contudo
mesmo após essa al-
teração essa pessoa
poderá ter relações
sexuais com homens
e/ou com mulheres
(bissexual), ou ter
relações somente
com alguém do sexo
oposto (heterossexu-
al), ou ainda ter so-
mente relações com pessoas do mesmo sexo
(homossexual). Segundo muitos ativistas e
estudiosos, o sexo oposto para uma pessoa
que nasceu com pênis e se sente mulher é o
homem, não uma mulher. Os gays e as lés-
bicas seriam pessoas que compreendem seu
corpo como adequado e desejam sexualmen-
te pessoas do mesmo sexo.
A identidade de gênero não necessariamente
coincide com a orientação do desejo sexual,
conforme as definições vistas anteriormen-
te. Podemos, aqui, pensar em muitas rela-
ções possíveis entre orientação sexual e iden-
tidade de gênero. Por isso, como muitos têm
feito, preferimos pensar que existem sexua-
lidades, homossexualidades, heterossexuali-
dades, lesbianidades, bissexualidades, tran-
sexualidades, etc. Dessa forma, a sexualidade
pode ser compreendida como uma varieda-
de de expressões e práticas sexuais que vão
além do padrão heterossexual. Para maiores
esclarecimentos sobre questões específicas
sobre a transexualidade e travestilidade já
existem várias pesquisas e estudos no Brasil
que podem demons-
trar a complexidade
dessa temática e o
quanto ela comple-
xifica a diversidade
sexual (BENEDETTI,
2005; BENTO, 2006;
PELÚCIO, 2009; KULI-
CK, 2008)
As sexualidades têm
sido tratadas com base em crenças morais,
provenientes de discursos religiosos, cientí-
ficos, educacionais, entre outros. Essas cren-
ças só serão questionadas quando passarem
por um debate fundamentado nos direitos
de cidadania. O que deve ser definido ou não
como direito sexual, assim como todos os di-
reitos de cidadania, é decidido em disputas
e lutas humanas durante a história da socie-
dade. Esses direitos devem informar educan-
dos/as e educadores/as e servir de orientação
para uma educação que os prepare para os
As sexualidades têm
sido tratadas com base
em crenças morais,
provenientes de discursos
religiosos, científicos,
educacionais, entre outros.
26
direitos de cidadania relacionados à diversi-
dade sexual.
2. A articulação do
preconceito contra a
população LGBT na escola
O preconceito contra a população LGBT tem
sido denominado de homofobia. Esse termo
denota tudo que, na produção da cultura e
dos saberes ocidentais, implica discrimina-
ção afetiva, intelectual e política, sejam as
lógicas heterossexistas (Borrillo, 2001), ou
outras. Podemos afirmar que, no Ocidente,
os argumentos religiosos foram fundamen-
tais na constituição da homofobia, das for-
mas de violência que figuram na comuni-
dade escolar, pois foram esses argumentos,
seguidos pelos discursos médicos na mo-
dernidade, que elaboraram e sustentaram a
matriz heterossexista. A homofobia também
aparece na ausência de representações da
população LGBT nos materiais didáticos e
nos currículos da educação (LIONÇO; DINIZ,
2009).
Devemos notar que o preconceito atinge
toda a comunidade escolar — dos funcioná-
rios ao/à diretor/a. Enquanto o preconceito
não for reconhecido como um sistema que
regula as relações educacionais de toda a co-
munidade escolar, ficaremos procurando a
homofobia nas pessoas. Por isso, nas ações
contra todas as formas de preconceito, es-
pecificamente o preconceito baseado no he-
terossexismo, é preciso repetir que as dife-
renças de identidade de gênero e orientação
sexual são direitos a ser reconhecidos.
Surgem, então, várias questões em relação a
educadores/as e educandos/as LGBT: até que
ponto as políticas públicas e a produção aca-
dêmica podem contribuir para o reconheci-
mento da orientação sexual e da identidade
de gênero na comunidade escolar? Quais
recursos são mobilizados pelos educadores
e pelas educadoras nas figurações da sexua-
lidade na comunidade escolar? Certamente
essas questões são importantes para pen-
sarmos uma educação menos excludente e
mais democrática.
Toda educação fica prejudicada com o pre-
conceito, segundo afirma a pesquisa “Pre-
conceito e discriminação no ambiente es-
colar”, da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe). Conforme a pesquisa,
podemos afirmar que o preconceito esta-
belece limites aos grupos atingidos por ele,
por meio da pressão social e da violência a
que são submetidos os alvos das discrimina-
ções. No ambiente escolar, o preconceito,
a discriminação e as práticas discriminató-
rias ofensivas se relacionam diretamente
com o desempenho dos/as alunos/as e dos
professores/as. As notas mais baixas esta-
vam relacionadas às escolas com maior ín-
dice de preconceito. Outro resultado obtido
pelo estudo da Fipe é que alunos com forte
participação religiosa (católicos, 65%; evan-
gélicos, 31,2%) apresentam tendência a ser
27
mais preconceituosos, especificamente em
relação aos homossexuais (termo usado na
pesquisa), mostrando a presença dos discur-
sos religiosos na articulação da homofobia.
Desde 2004, com o Programa Brasil Sem Ho-
mofobia (2004-2009), o Plano Nacional de
Direitos Humanos e Promoção da Cidadania
LGBT (2009), a oferta de cursos de aperfei-
çoamento/especialização para educadoras/
es que conjugam as temáticas de gênero,
étnico-racial e sexualidade/diversidade etc.
as noções sobre orientação sexual e identi-
dade de gênero têm
se articulado à edu-
cação via posições
identitárias LGBT.
Nos contextos da
educação, essas re-
afirmações identitá-
rias disputam com
as críticas elabora-
das pela perspectiva
queer, como é pos-
sível perceber pelos trabalhos de Guacira
Lopes Louro (2001). Seria a desconstrução
identitária, ou seja, as identidades LGBT em
vista da diversidade sexual, um caminho
possível para a população de transexuais e/
ou travestis nos terrenos da educação no
atual contexto? Para Almeida (2010), essa
lógica queer não seria viável para determi-
nadas regiões do mundo, entre elas América
Latina e segmentos populares do Ocidente
em geral, lugar das educadoras que pesqui-
samos. Consideramos que mesmo reconhe-
cendo a validade da perspectiva queer, em
sua crítica às identidades essencializadas,
parece ainda não consumado um modo de
positivar direitos aquém das identidades,
ainda que transitórias.
Na análise de Almeida (2010, p. 36) é nes-
sa complexidade que as sobreposições das
agendas de cidadania, dos direitos humanos,
das políticas das identidades são destaca-
das como assuntos de grande importância,
sendo a orientação
sexual um fator
que demonstra as
contradições da so-
breposição dessas
agendas.
Essas questões es-
tão relacionadas
à possibilidade de
empoderamento de
sujeitos submetidos
a uma estigmatização grupal, inferiorizados
coletivamente por pertencerem a um grupo
(Elias, 2000, p. 23), no caso, o grupo LGBT.
Essas figurações aparecem em vários domí-
nios do mundo contemporâneo, entre eles,
a educação, território no qual as pedagogias
formatam corpos pela sexualidade enquanto
dispositivo do poder de controlar, estilizar
e fazer confessar questões relacionadas ao
sexo (Louro, 2001).
Certamente, a educação
e a escola precisam
assimilar melhor as noções
de orientação sexual e
identidade de gênero para
combater a homofobia em
todas as suas dimensões.
28
Considerações finais
Esses dispositivos do preconceito, mesmo
quando superados teoricamente na educa-
ção, persistem nas práticas pedagógicas que,
pelo pacto do silêncio, negam a existência de
hierarquizações sexuais. Analisar as figura-
ções da sexualidade na escola pode ser um
dos modos para (des)construir formas de in-
tervenção, de crítica e de geração de conhe-
cimentos no amplo debate sobre identidade
de gênero e orientação sexual. Certamente, a
educação e a escola precisam assimilar me-
lhor as noções de orientação sexual e identi-
dade de gênero para combater a homofobia
em todas as suas dimensões. Infelizmente,
constatamos que faltam metodologias, pes-
quisas e informações para reconhecer a le-
gitimidade e as estratégias desses espaços.
Essa discussão pode ser analisada no livro
organizado por Rogério Diniz Junqueira, que
discute as consequências deste fato da se-
guinte maneira.
Ao mesmo tempo em que nós, profissio-
nais da educação, estamos conscientes
de que nosso trabalho se relaciona com
o quadro dos direitos humanos e pode
contribuir para ampliar os seus hori-
zontes, precisamos também reter que
estamos envolvidos na tessitura de uma
trama em que sexismo, homofobia e ra-
cismo produzem efeitos e que, apesar de
nossas intenções, terminamos muitas
vezes por promover sua perpetuação
(JUNQUEIRA, 2009, p. 13).
A entrada da escola no debate sobre identi-
dade de gênero e orientação sexual por meio
de políticas públicas, ações empreendidas
pelos movimentos sociais, pela militância
em geral e pela academia, tem ocorrido con-
comitantemente com o recrudescimento de
outros setores sociais, de diversas origens
(CORRÊA; PARKER, 2007).
Sem dúvida, a população LGBT, e especifi-
camente aqueles que trazem de maneiras
explícitas em seus corpos o pertencimento
a essa população têm sido historicamente
alvos da crueldade e da violência na comu-
nidade escolar. Para isso, é necessário espe-
cificar dentro dos Direitos Humanos a vio-
lência social e institucional praticada contra
os direitos humanos LGBT. Especificar essa
questão é questionar como travestis, gays
e lésbicas são humilhados e constrangidos
sem que os agentes desses atos reconheçam
essa situação.
Assim, podemos reconhecer que existem
práticas preconceituosas, denominadas ho-
mofóbicas e/ou heterossexistas que ferem a
dignidade de seres humanos dentro e fora da
escola. Lembramos também que podemos
dizer que são práticas orientadas pela matriz
heterossexista presente nas configurações
sociais da educação. Essas práticas, orien-
tadas por discursos sedimentados historica-
mente e repetidos no cotidiano, promovem a
exclusão da população LGBT dos direitos de
cidadania, constituindo um grave problema
29
a ser enfrentado na educação e na democra-
tização da sociedade brasileira.
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Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-
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tórias no âmbito escolar, organizadas de acor-
do com áreas temáticas, a saber, étnico-racial,
gênero, orientação sexual, geracional, territo-
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PELÚCIO, L. Abjeção e desejo: uma etnografia
travesti sobre o modelo preventivo de Aids.
São Paulo: Annablume/Fapesp, 2009.
31
texto 3
Educação para a diversidade
Desafios e possibilidades para trabalhar a
diversidade sexual na escola
Marina (Mário) Reidel1
Esse texto analisa como o contexto da es-
cola apresenta desafios para a inserção do
tema ‘diversidade sexual’, especialmente
pelo modo como a sexualidade tem sido
abordada neste contexto, e faz um breve re-
lato de outras possibilidades de abordagem
da temática no ambiente escolar. Em 1997,
quando o MEC lançou com os PCN o tema
transversal “orientação sexual”, as discus-
sões sobre sexualidade humana encontra-
ram espaço quase que exclusivamente nas
aulas de Ciências e Biologia e no trabalho
isolado destes/as professores e professo-
ras. A Educação Sexual não constitui uma
disciplina especifica, de caráter curricular
obrigatório e tornou-se insuficiente quando
restrita a estas disciplinas. Fortemente as-
sociada ao corpo humano e aos aparelhos
reprodutores, esta educação sexual baseava-
se e ainda se baseia, em grande parte, nos
conteúdos disponíveis em livros didáticos
de Ciências. Hoje, com esta transversalida-
de assumida por muitas escolas, o livro di-
dático de Ciências tem sido incorporado a
outros aliados, como os livros paradidáticos
e o diálogo com organizações não governa-
mentais. É sobre algumas dessas articula-
ções que o presente texto irá discorrer.
Análise crítica da educação
sexual
Todos os livros didáticos, além de se cons-
tituírem artefatos de cultura no espaço
escolar, podem ser considerados como ele-
mentos das pedagogias e dos currículos,
produzindo conhecimentos e contribuindo
para produzir identidades culturais. Essa
produção dá-se em meio a determinadas
relações de poder e baseia-se em certas
representações dos gêneros e das sexuali-
dades, marcando identidades e diferenças.
Tais representações regulam estilos de vida
e práticas individuais. Potencialmente in-
seridos nos currículos escolares, os livros
paradidáticos são, também, instrumentos
de uma política educacional que inclui sa-
ber e certas identidades, tornando suas re-
1	 Professora da educação básica na região de Porto Alegre e mestranda no Programa de Pós- Graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultora da série.
32
presentações visíveis. Atualmente, podemos
observar tais questões em várias mídias,
contrapondo estilos e marcando diferenças,
como por exemplo, na vida de artistas con-
sagrados como Cazuza (BONASSI, 2004) e
suas canções (ARAUJO NETO, 1984). Porém,
geralmente, ausentam-se da produção dos
livros didáticos, mesmo que circulem de ou-
tros modos pelo ambiente escolar.
Para Furlani (2005), o livro pode ser consi-
derado um produto
cultural e pedagó-
gico importante. O
livro é o local onde
os significados de
gênero e de sexuali-
dade são marcados,
contestados e rear-
ticulados. Profes-
sores e professoras
podem olhar para as
representações buscando discutir seus pos-
síveis efeitos, tanto nas produções de iden-
tidades culturais, quanto nas discussões
sobre Educação Sexual. Crianças, jovens e
adultos da comunidade escolar poderão se
expressar como gays, lésbicas, bissexuais,
travestis e transexuais a partir de determi-
nadas garantias sociais. Diante da violência
promovida pelo heterossexismo, é preciso
assegurar que esses/as cidadãos/ãs não se-
rão submetidos/as à humilhação, à violência
ou algo similar. Assim, com base na noção
de diversidade sexual, as crenças sobre as
sexualidades precisam ser continuamente
questionadas. Para isso, é necessário reafir-
mar o princípio de laicidade do Estado, algo
que nos permite entender a escola de uma
forma específica.
Entendemos que a escola, estatal ou não,
pertence ao público, é lugar de discursos
que lutam para influenciar o processo de
ensino e aprendizagem dos cidadãos e das
cidadãs. Isso quer
dizer que mesmo
uma escola particu-
lar (não estatal) no
Brasil e nas demais
comunidades que se
afirmam democráti-
cas estabelece seus
critérios educacio-
nais a partir desses
discursos, pois to-
dos os grupos sociais deveriam ter o direito
de se manifestar na comunidade política.
Essas lutas – entre as quais temos grupos
contrários e favoráveis aos direitos de LGBT
– podem alargar a esfera civil, enquanto per-
tencerem ao público, ou limitar essa esfera,
se ficarem ocultas pelo pacto do silêncio.
Os temas da sexualidade reduzidos a aulas
específicas, orientados de modo a negar a
diversidade sexual, contribuem para a nega-
ção dos direitos de cidadania e direitos hu-
manos LGBT (BRASIL, 2009).
Entendemos que a escola,
estatal ou não, pertence
ao público, é lugar de
discursos que lutam para
influenciar o processo de
ensino e aprendizagem dos
cidadãos e das cidadãs.
33
Os discursos que promovem ou praticam a
humilhação, a exclusão e a violência contra
a população LGBT opõem-se aos direitos de
cidadania, pois impedem que alguns des-
frutem desses direitos. Essa constatação
denuncia a concepção de cidadania como
privilégio de alguns em detrimento de ou-
tros e a existência do preconceito na comu-
nidade democrática. Essa forma de exclusão
permanece, muitas vezes, invisibilizada nas
hierarquizações do preconceito social (MA-
CHADO; PRADO, 2008). Isso impede a mui-
tos/as de usufruírem
direitos, como aquele
relacionado ao direito
de estabelecer con-
tratos conjugais com
pessoas do mesmo
sexo (REIS; HARRAD,
1996). Essas e outras
questões relaciona-
das à diversidade
sexual podem ser ex-
cluídas da escola pelo silêncio dos materiais
didáticos (LIONÇO; DINIZ, 2009), o que se
coloca como um grande desafio à comuni-
dade escolar.
Essas hierarquizações podem ser observadas
nas piadas que depreciam a população LGBT,
na ausência de personagens LGBT nos livros
didáticos, nas agressões físicas e psicológi-
cas cometidas devido à orientação homos-
sexual e bissexual, entre outras. Essa hierar-
quização atinge de forma diferente os LGBT.
Um jovem gay e outro que seja transexual
serão atingidos de maneiras diferentes; uma
jovem lésbica que assumiu publicamente
seu namoro será mais aviltada do que aque-
la que se privar da expressão de sua orien-
tação sexual. O preconceito é moldado de
acordo com as hierarquizações sociais, in-
clusive étnico-raciais, de classe econômica,
de gênero, entre outras. Dentro desta pers-
pectiva percebe-se que ainda há um gran-
de déficit no que diz respeito à produção
de materiais que
possam dar supor-
te aos professores
para as discussões
em torno da sexua-
lidade e das formas
com que ela se
apresenta na esco-
la, principalmente
nos processos de
desenvolvimento
nas questões de gênero, orientação sexual,
preconceito e discriminação.
Os processos relacionados à sexualidade, ao
gênero, aos relacionamentos e ao corpo re-
configuram-se e recompõem-se, formando
arranjos e assumindo significados diversos.
Não existem abordagens únicas, o leque de
análises sobre esses temas na contempora-
neidade é bastante amplo e diversificado.
O preconceito é moldado
de acordo com as
hierarquizações sociais,
inclusive étnico-raciais,
de classe econômica, de
gênero, entre outras.
34
além do enfoque biológico,
pensando a partir da
Cidadania e dos Direitos
Humanos LGBT
A teoria cultural tem sido fundamental para
a construção de uma política de identidade,
no sentido de que põe em questão determi-
nados saberes sobre homens e mulheres e
sobre a sua sexualidade, ao mesmo tempo
em que constrói e disponibiliza novas for-
mas de viver o masculino e o feminino e a
sexualidade desses e dessas, que não sejam
somente as formas hegemônicas.
Como exemplo disso, uma escola estadual
em Porto Alegre desenvolveu um projeto
com adolescentes entre 11 e 17 anos nas dis-
ciplinas de Artes e Ética, contemplando pro-
postas relacionadas ao tema deste programa
e que sintetizam um processo que pode ser
implantado em outras escolas brasileiras.
Este exemplo traz aspectos direcionados ao
tema e, em síntese, o projeto tinha como
titulo “Diga não à Homofobia escolar, valo-
rizando as singularidades e as diferenças”,
sendo que desenvolveu propostas de Educa-
ção e Direitos Humanos, trazendo para o co-
tidiano da sala de aula temas como Gênero,
Sexualidade, Orientação Sexual, Homofobia,
Preconceito e Cidadania, numa visão con-
temporânea, onde o aluno foi sujeito das
ações.
Na busca de uma melhor qualidade de vida
para o ser humano e por acreditar que atra-
vés da educação conseguiremos atingir e
conquistar direitos humanos igualitários
e respeito às singularidades, bem como a
promoção da cidadania, este projeto visou
oportunizar experiências na área de educa-
ção sexual e de gênero, em que as atividades
desenvolvidas partiram das temáticas traba-
lhadas como eixo transversal, nas discipli-
nas de Artes e Ética e Cidadania. No ambien-
te escolar, o preconceito, a discriminação
e as práticas discriminatórias ofensivas se
relacionam diretamente com o desempe-
nho dos/as alunos/as. Quanto maior o índi-
ce de preconceito menor o Ideb (Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica) (Bra-
sil, 2009b). Educadores/as podem analisar
em sua experiência como as ações de sua
comunidade escolar podem se tornar parte
da luta pela Cidadania e Direitos Humanos
LGBT, ainda não efetivados no cotidiano
escolar. As assembleias, fóruns com pais e
mães, espaço de diálogo com alunos, com
alunas e demais membros da comunidade
escolar são iniciativas de democratização da
escola, passo necessário à socialização da
cultura de paz. O grande desafio é levar para
a escola uma compreensão de que os Direi-
tos Humanos são universais, portanto to-
dos/as – idosos/as, crianças, mulheres e ho-
mens – são sujeitos de direitos e, portanto,
a população LGBT não pode ser excluída da
escola. Essa exclusão se dá muitas formas,
35
por piadas depreciativas, agressões físicas e
verbais, falta de apoio, etc. A violência física
contra LGBT na educação pode estar relacio-
nada ao fato de ser o Brasil um dos países
com os maiores índices de assassinatos de
homossexuais no mundo (MOTT, 2002).
A escola é um espaço onde a sexualidade se
manifesta, e mais, onde se produzem com-
portamentos, onde se instigam ou superam
preconceitos, onde se difundem conheci-
mentos e valores e, como parte de seu pa-
pel formativo, tem a responsabilidade de
superar os precon-
ceitos e a defesa ir-
restrita dos direitos
humanos. Diante do
anseio de construir-
mos uma sociedade
e uma escola mais
justas, solidárias,
livres de preconcei-
tos e discriminação,
é necessário identi-
ficar e enfrentar as
dificuldades que temos tido para promover
os direitos humanos e, especialmente, pro-
blematizar, desestabilizar e subverter a ho-
mofobia. São dificuldades que se tramam e
se alimentam, radicadas em nossas realida-
des sociais, culturais, institucionais, históri-
cas e em cada nível da experiência cotidiana.
(JUNQUEIRA, 2009).
Assim, dentro desta visão e da consciência
de que a escola e os profissionais da educa-
ção têm em relação ao trabalho direcionado
aos direitos humanos e à contribuição para
ampliar os horizontes, temos que também
ter o cuidado para que isso não desenvolva
uma rede ainda maior de preconceito e dis-
criminação, reforçando as ideias sexistas, ra-
cistas em homofóbicas.
Mesmo assim a escola é um espaço para as
construções de novas aprendizagens, con-
vivências, produções de conhecimentos,
sobretudo se os professores e alunos fo-
rem ali provocados a desenvolver temas e
discussões sobre as
diferentes culturas,
valores, representa-
ções e práticas liga-
dos à homofobia, ao
preconceito e a vio-
lências de todas as
ordens.
Dentro deste propó-
sito de elaboração
de ações pedagógi-
cas que irão contribuir e garantir a efetiva
inclusão de conteúdos em um eixo interdis-
ciplinar, tendo como pauta as questões liga-
das aos direitos humanos e à diversidade se-
xual, faz-se necessário pautar que o objetivo
principal é o de inclusão e criação de um am-
biente de respeito às diferenças, bem como o
convívio e a valorização dos grupos indepen-
dentemente da sua cultura, crença ou orien-
tação sexual. Tudo isto também pode contri-
buir para que a escola torne-se um ambiente
A violência física contra
LGBT na educação pode
estar relacionada ao fato
de ser o Brasil um dos
países com os maiores
índices de assassinatos de
homossexuais no mundo
36
de socialização em Direitos Humanos (Dias,
2007), aqui, especificamente, a Cidadania e
os Direitos Humanos LGBT. Assim, é neces-
sário que se afirmem estas questões ligadas
ao tema dentro do Projeto Político Pedagógi-
co (PPP) da escola, reforçando e levando as
discussões à comunidade escolar, dando um
enfoque de visibilidade e com uma aprova-
ção muito maior.
A metodologia aplicada propôs intervenções
a partir de experiências, considerando as
idéias de Piaget (1994) e Vygotsky (1988), em
que o aluno é o sujeito de interação e cons-
trução do aprendizado.
As ações pedagógicas desenvolvidas foram
planejadas e executadas com as séries fi-
nais (5ª a 8ª) do Ensino Fundamental nas
disciplinas de Artes e Ética e Cidadania (an-
teriormente denominado Ensino Religioso)
no período de dois anos (agosto de 2008 a
julho de 2010), sendo que algumas propos-
tas eram aplicadas para turmas específicas,
devido à idade dos/as alunos/as. O período
semanal das aulas para aplicação das ati-
vidades do projeto era de cinquenta a cem
minutos, aproximadamente um a dois perí-
odos por turma, num total de 400 alunos/as
envolvidos/as.
Algumas ações também foram desenvolvi-
das em parceria com grupos de movimentos
sociais e pessoas convidadas. Em especial, o
grupo SOMOS – Comunicação, Saúde e Se-
xualidade. As propostas foram realizadas en-
volvendo a formação de professores/as, os
encontros com alunos/as e o lançamento da
Cartilha de Educação Sexual elaborada pela
ONG. No que diz respeito à Avaliação, o tra-
balho não tinha como proposta uma avalia-
ção quantitativa apontando para um resulta-
do satisfatório, e sim qualitativa e inclusiva.
Considerações finais
Com este projeto percebe-se uma mudan-
ça progressiva de comportamentos e atitu-
des diante do tema especificamente tratado
em diversas atividades – a Homofobia e o
preconceito com as minorias e os ditos “di-
ferentes”. Conforme relatos de pessoas da
escola onde ocorreu o projeto, ao menos
a curto e médio prazo, não se perceberam
grupos de meninos agredindo fisicamente
ou verbalmente meninos gays como era fre-
quente. Também se notou uma diminuição
de palavrões com ofensas homofóbicas que
causavam mal-estar. As brincadeiras ditas
“arreganhos” simplesmente acabaram, no
sentido preconceituoso e homofóbico. Um
novo olhar abriu-se nas aulas, onde se ini-
ciou um respeito maior pelo outro e onde os
supostos diferentes foram incluídos e eles
permaneceram neste espaço, pretendido
democrático, chamado sala de aula. Acre-
ditamos que estes/as alunos/as estão mais
instrumentalizados/as para evitar e/ou gerar
violência contra pessoas LGBT ou as mino-
rias, ditas pela sociedade.
37
A temática e as propostas não foram inter-
rompidas nesta escola, pois em educação ja-
mais conseguiremos parar com estas discus-
sões que lidam com o dia a dia das pessoas,
da sociedade e da vida em geral. Haverá ou-
tros/as alunos/as, bem como novos grupos
se formarão e a proposta seguirá incansável
e infinita.
Com trabalhos como este, citado anterior-
mente, acreditamos que ao irmos além de
uma educação sexual restrita a determina-
das disciplinas possibilitamos colocá-la na
ótica da Cidadania e dos Direitos Humanos.
Assim, possibilitamos que a comunidade
escolar possa analisar a sexualidade da po-
pulação LGBT além do biológico. Ganhamos
sabedoria, valores, respeito e consciência de
que o mundo, tanto dentro da escola ou fora
dela, é a soma da diversidade e da plurali-
dade e que, ao respeitar as singularidades e
valorizar a vida, estamos construindo um
mundo melhor para todos/as, sem exclusão,
pois todos nós usufruímos da dignidade hu-
mana. Ou não?
Referências bibliográficas
ARAUJO NETO, Agenor de Miranda (Cazuza).
“Exagerado”- Música. 1985.
BONASSI, Fernando; NAVAS, Victor (rot.);
WERNECK, Sandra; CARVALHO, Walter (dir.).
Filme “Cazuza o tempo não para.” 2004.
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio-
nais. Projeto de estudo sobre ações discrimina-
tórias no âmbito escolar, organizadas de acor-
do com áreas temáticas, a saber, étnico-racial,
gênero, orientação sexual, geracional, territo-
rial, pessoas com necessidades especiais (de-
ficiência) e socioeconômica. São Paulo: FIPE/
MEC/INEP, 2009b.
BRASIL. Secretaria Especial de Direitos Hu-
manos. Plano Nacional de Promoção da Cida-
dania e dos Direitos Humanos LGBT. Brasília:
Secretaria Especial de Direitos Humanos,
2009.
DIAS, Adelaide Alves. A escola como espaço
de socialização da cultura em direitos huma-
nos. In: ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares;
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy; DIAS, Adelaide
Alves (orgs.). Direitos Humanos: capacitação
de educadores - Fundamentos culturais e edu-
cacionais da Educação em Direitos Humanos.
1ª ed. João Pessoa: Editora Universitária da
UFPB, 2008, v. 2, p. 155-160.
JUNQUEIRA, Rogério Diniz (org.). Diversida-
de Sexual na Educação: problematizações so-
bre homofobia nas escolas. Brasília: Minis-
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Continuada, Alfabetização e Diversidade/
UNESCO, 2009.
LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e
educação: uma perspectiva pós-estruturalista.
Petrópolis: Vozes, 1997.
38
MOTT, Luiz. O crime anti-homossexual no Bra-
sil. Salvador: Ed. Grupo gay da Bahia, 2002.
PIAGET, Jean. O Juízo Moral na Criança. São
Paulo: Summus, 1994.
PRADO, M. A. M.; Machado, F. V. Preconceito
contra homossexualidades - A hierarquia da in-
visibilidade. São Paulo: Cortez, 2008.
REIS, Toni; HARRAD, David. Direito de amar: a
história de um casal gay. Curitiba: Ed. T. Reis,
1996.
STRICKLAND, Carol. Arte Comentada da Pré-
História ao Pós- Moderno. Ediouro - Paradida-
ta, 1999.
VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvol-
vimento intelectual na idade escolar. In:
VYGOTSKY, L. S. et al. Linguagem, desenvol-
vimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/
EDUSP, 1988.
39
Anexo 1: Indicações de filmes/vídeos, livros e sites
Filmes/Vídeos:
1.	 MILK - A voz da igualdade é uma história real dos anos 70. Narra a vida de Harvey Milk (Sean
Penn) com seu namorado Scott (James Franco). Quando se mudam para San Francisco,
numa época repleta de preconceitos, eles enfrentam a violência e a discriminação sexu-
al. (MILK. Direção: Gus Van Sant. Estados Unidos: Paramount Pictures/UIP, 2008. 1 DVD
(128 min.) son. color., legendado em português).
2.	 PRISCILLA, a rainha do deserto conta a história de duas drag queens e um transexual que
viajam para fazer um show. Eles partem de Sydney a bordo de Priscilla, um ônibus muito
especial, e enfrentam o deserto australiano. Quando chegam a seu destino, após sofrer
as agruras da viagem, descobrem que quem contratou o show foi a ex-mulher de um
deles. (PRISCILLA. Direção: Stephan Elliott. Estados Unidos, 1994. 1 DVD (104 min.) son.
color., legendado em português).
3.	 LATTER DAYS – Christian tem 20 e poucos anos, vive em um condomínio em Los Angeles
e adora curtir a noite. Suas conquistas sexuais são apenas para uma noitada. Elder Aaron
Davis chega à cidade com três missionários mórmons para se hospedar no mesmo con-
domínio de Chris. Mundos antagônicos irão se chocar, trazendo graves consequências
para ambos. (Latter days. Direção: C. Jay Cox. Estados Unidos: TLA Releasing, 2003. 1 DVD
(107 min.) son. color., legendado em português.)
4.	 TRANSAMÉRICA: um homem prestes a fazer a cirurgia de mudança de sexo descobre que
possui um filho e que este quer conhecê-lo. Em uma longa viagem, tentarão descobrir
um ao outro. (TRANSAMÉRICA. Direção: Duncan Tucker. Estados Unidos: IFC Films, 2005.
1 DVD (103 min) son. cor. legendado em português).
5.	 MINHA VIDA EM COR-DE-ROSA relata a história de Ludovic, um menino que acredita ter
nascido no corpo errado. Lutando para ser reconhecido como uma menina, ele desper-
tará o mal-estar dos vizinhos, que começam a fazê-lo passar por muitos sofrimentos.
(Minha vida em cor-de-rosa. Direção: Alain Berliner. França/Bélgica/Inglaterra: Sony, 1998.
1 DVD (88 min.) son. color., legendado em português).
40
6.	 PRA QUE TIME ELE JOGA?. (Vídeo produzido pelo Ministério da Saúde, com duração de
20 min.). Pedro, um adolescente craque do time de futebol na escola e excelente aluno
de matemática, tem orientação sexual revelada na escola. Daí em diante, tanto Pedro
quanto seus/suas colegas vivem uma série de fatos, sentimentos e dúvidas sobre as possi-
bilidades de convivência com as diferenças na escola e na vida. Disponível no site: http://
www.youtube.com.
7.	 AMANDA E MONICK é um breve documentário sobre uma professora e uma profissional
do sexo; elas se aproximam por se definirem como travestis e mostrarem a luta para
construir suas vidas. O depoimento da companheira de Monick e do pai de Amanda sur-
preende, emociona e nos faz questionar as noções de gênero, o preconceito e a amizade.
AMANDA E MONICK. Direção: André da Costa Pinto: Brasil: Produção independente (19
min), 2007/2008, Curta-Metragem, Distribuidora: Não definida.
Livros:
1.	 ALMEIDA, M. V. A chave do armário, homossexualidade, casamento e família. Florianó-
polis: Ed. da UFSC, 2010.
2.	 BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio
de Janeiro: Garamond, 2006.
3.	 BORRILLO, D. Homofobia. História e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Ed. Au-
têntica, 2000/2010.
4.	 CARRARA, S.; VIANNA, A. R. B. “Tá lá o corpo estendido no chão...”: a violência letal contra
travestis no município do Rio de Janeiro. Physis, v. 16, n. 2, p.233-249, 2006.
5.	 CORRÊA, S. O.; MUNTARBHORN, V. (orgs.). Princípios de Yogyakarta: princípios sobre a
aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual
e identidade de gênero. Yogyakarta/Indonésia, 2006. Disponível em: <http://www.clam.
org.br/pdf/principios_de_yogyakarta.pdf >. Acesso em: 12/11/2007.
6.	 FACCHINI, R. Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades
coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2005.
41
7.	 GROSSI, M. P. et al. Movimentos sociais, educação e sexualidades. Rio de Janeiro: Gara-
mond/CEPESC, 2005.
8.	 JUNQUEIRA, R. D. (org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a
homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Con-
tinuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. Esse livro traz 16 artigos que ana-
lisam questões polêmicas na educação e especificam debates, como a questão da de-
ficiência e os padrões de normalidade, os direitos humanos, da transexualidade, entre
outras. Ele se encontra livre na internet no sítio eletrônico: http://unesdoc.unesco.org/
images/0018/001871/187191por.pdf.
9.	 LEERS, B.; TRANSFERETTI, J. Homossexuais e a ética cristã. Campinas: Átomo, 2002. 199
p.
10.	LIONÇO, T.; DINIZ, D. (orgs.). Homofobia e educação: um desafio ao silêncio. Brasília:
Ed. UnB, 2009. Este livro aprofunda a análise sobre materiais didáticos e a questão da ho-
mofobia por meio de uma pesquisa esclarecedora. Ele consegue desvelar como o silêncio
sobre a questão LGBT na educação pode ser um modo de sustentação da homofobia. Ele
se encontra livre na internet no sítio eletrônico: http://www.anis.org.br/letras_livres/ca-
pas/homofobia_e_educacao_introducao.pdf
11.	 LOURO, G. L. Pedagogias da sexualidade. In: Louro, G. L. (org.). O corpo educado: pedago-
gias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 7- 34.
12.	LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Rev.
Estud. Fem., v. 9, n. 2, p.541-553, 2001.
13.	PRADO, M. A. M.; MACHADO, F. V. Preconceito contra homossexualidades - a hierarquia
da invisibilidade. São Paulo: Cortez, 2008.
14.	SEARS, J. (ed.) Gay, Lesbian, and Transgender Issues in Education: Programs, Policies
and Practices. New York: Haworth Press, 2004. 209 p.
15.	SPENCER, C. Homossexualidade: uma história. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.
42
16.	TORRES, A. A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na Escola.
Belo Horizonte: Autêntica, 2010.
Sites:
1.	 Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Desenvolvido
por ABGLT, 2006. Rede nacional de 220 organizações afiliadas. É a maior rede LGBT na
América Latina. Disponível em <http://www.abglt.org.br>. Acesso em 10/08/2009.
2.	 Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Disponível em < http://www.abiaids.org.
br>. Acesso em: 10/08/2009.
3.	 Banco de Teses da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior.
O banco disponibiliza teses e dissertações sobre os mais variados temas. Disponível em:
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/Teses.do.
4.	 Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos – CLAM. Instituto de Medi-
cina Social – IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. O CLAM tem como
finalidade principal produzir, organizar e difundir conhecimentos sobre a sexualidade na
perspectiva dos direitos humanos, buscando, assim, contribuir para a diminuição das
desigualdades de gênero e para o fortalecimento da luta contra a discriminação das mi-
norias sexuais na região. Disponível em: http://www.clam.org.br.
5.	 Comunicação em Sexualidade. Organização não-governamental com 20 anos de atuação
consolidada na defesa dos direitos humanos, com ênfase nos direitos sexuais e direitos
reprodutivos, em especial de adolescentes e jovens, com a perspectiva de erradicar as
discriminações relativas a gênero, orientação sexual, idade, raça/etnia, existência de de-
ficiências, classe social. Disponível em <http://www.ecos.org.br>. Acesso em 10/07/2009.
6.	 Diversidade Católica. Grupo de leigos católicos que compreende ser possível viver duas
identidades aparentemente antagônicas: ser católico e ser gay, numa ampla acepção
desse termo, incluindo toda a diversidade sexual (LGBT). Disponível em <http://www.
diversidadecatolica.com.br>. Acesso em 25/08/2009.
43
7.	 Diversidade sexual nas escolas. Trabalho elaborado pela Associação Brasileira Interdisci-
plinar de AIDS (ABIA) como resultado das oficinas de formação continuada para profis-
sionais de educação e saúde (2006-2007) de Nova Iguaçu, Caxias, Araruama e Cabo Frio.
Disponível em: <http://www.abiaids.org.br/_img/media/Cartilha_Diversidade_sexual_Es-
colas.pdf>. Acesso em 07/08/2009.
8.	 Grupos de Pais e Mães de Homossexuais. Primeira ONG brasileira fundada para acolher
pais que desconfiam ter ou têm filhos homossexuais. Disponível em <http://www.gph.
org.br>. Acesso em 27/08/2009.
9.	 Leões do Norte. Entidade de defesa e promoção dos direitos humanos, na luta pela defe-
sa do meio ambiente e da ecologia, pelo fim da exploração do homem pelo homem, em
defesa de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Disponível em <http://www.
leoesdonorte.org.br/>. Acesso em 15/08/2009.
10.	Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT. Desenvolvido por NUH - Núcleo de Di-
reitos Humanos e Cidadania GLBT, 2010. Núcleo da Faculdade de Filosofia e Ciências
Humanas da UFMG, que tem como propósito congregar pesquisadores e desenvolver
atividades de pesquisa, ensino e extensão voltadas para o reconhecimento dos direitos,
da cidadania, das identidades e das práticas culturais, políticas e sociais de indivíduos e
grupos LGBT. Disponível em <http://www.fafich.ufmg.br/dhglbt/>. Acesso em 10/08/2009.
11.	 O Portal do Professor é um espaço para troca de experiências entre professores/as do en-
sino fundamental e médio. É um ambiente virtual com recursos educacionais que facili-
tam e dinamizam o trabalho dos/as professores/as. O conteúdo do portal inclui sugestões
de aulas de acordo com o currículo de cada disciplina e recursos como vídeos, fotos, ma-
pas, áudio e textos. Nele, o/a professor/a poderá preparar a aula, ficará informado sobre
os cursos de capacitação oferecidos em municípios e estados e na área federal e sobre a
legislação específica. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html.
12.	Observatório de Sexualidade e Política (SPW na sigla em inglês). Fórum global composto
de pesquisadores/as e ativistas de vários países e regiões do mundo. Lançado em 2002
como o Grupo de Trabalho Internacional sobre Sexualidade e Políticas Sociais (IWGSSP na
sigla em inglês), o fórum mudou o seu nome em 2006 para Observatório de Sexualidade
e Política. Disponível em: <http://www.sxpolitics.org>. Acesso em 25/08/2009.
44
13.	Seminário Internacional Fazendo Gênero. Realizado pela Universidade Federal de Santa
Catarina e tem seu foco central em temas como gênero, educação, cultura, diversidade
sexual etc. O evento reúne uma série de trabalhos sobre a abordagem da diversidade
sexual na escola. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/.
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  • 1. EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE SEXUAL ISSN 1982 - 0283 Ano XXI Boletim 04 - Maio 2011
  • 2. Sumário Educação e Diversidade Sexual Apresentação da série ................................................................................................. 3 Rosa Helena Mendonça Introdução ................................................................................................................ 4 Alexandre Martins Joca, Marco Antonio Torres e Marina Reidel Texto 1: Direitos humanos e diversidade sexual Pelo direito à educação e à diversidade na escola ...................................................... 12 Alexandre Martins Joca Texto 2: Orientação sexual e identidade de gênero Enfrentamentos possíveis à homofobia: orientação sexual e identidade de gênero no contexto da educação............................................................................................ 22 Marco Antonio Torres Texto 3: Educação para a diversidade Desafios e possibilidades para trabalhar a diversidade sexual na escola..................... 31 Marina Reidel Anexo 1: Indicações de filmes/vídeos, livros e sites .................................................... 39
  • 3. 3 Educação e Diversidade Sexual APRESENTAÇÃO DA SÉRIE Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, lín- gua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (Declaração Universal dos Direitos Humanos - Artigo II). Entre as temáticas no âmbito dos Direitos Humanos que a sociedade brasileira coloca em discussão, em especial nas últimas déca- das, estão as questões relacionadas à orien- tação sexual e à identidade de gênero. Este debate é urgente e necessário. Assunto de grande relevância no cenário educacional, a discussão no âmbito da for- mação de professores e professoras é hoje parte das políticas públicas que contemplam as diversidades. O direito à educação a pessoas LGBT visa ga- rantir que o espaço escolar seja efetivamente um lócus privilegiado de combate à homo- fobia e a todas as formas de discriminação. Paralelamente ao cenário de violência explí- cita contra as pessoas LGBT que temos acom- panhado pela mídia, é frequente nas escolas e em outros espaços sociais um outro tipo de violência, dita simbólica, tão ou mais de- vastadora que a agressão física, uma vez que atinge a autoestima e, por conseguinte, os direitos mais básicos do ser humano, como o respeito, a confiança e a autodeterminação. É com o objetivo de colocar em pauta es- sas questões que a TV Escola, por meio do programa Salto para o Futuro, apresenta a série Educação e diversidade sexual, que con- ta com a consultoria de Alexandre Martins Joca, Marco Antonio Torres e Marina Reidel (membros do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT no âmbito do Ministério da Educação). Os textos que compõem esta publicação e os programas televisivos da série evidenciam, por meio de reportagens e entrevistas, o pa- norama de reflexões e experiências que vêm sendo desenvolvidas em vários espaços edu- cativos no país. Esperamos, assim, contribuir para que uma educação para a diversidade seja um ponto de partida para a construção de uma socie- dade livre de preconceitos e atenta às dife- renças. Rosa Helena Mendonça2 1 Supervisora pedagógica do programa Salto para o Futuro/TV ESCOLA (MEC).
  • 4. 4 A sociedade brasileira, especialmente nas últimas décadas, vem discutindo e ques- tionando valores, normas, conceitos e pre- conceitos relacionados à vivência da se- xualidade humana, numa perspectiva de vislumbrar possibilidades de superação das desigualdades de direitos nesse campo. Des- se modo, reivindicam-se políticas públicas afirmativas no sentido do enfrentamento de preconceitos e discriminações em virtude da orientação sexual e identidade de gênero, especificamente como esses orientadores têm elaborado nos fóruns nacionais e inter- nacionais onde se reúnem saberes e faze- res da academia, dos governos e dos movi- mentos sociais. A elaboração dos Princípios de Yogyakarta (CORRÊA; MUNTARBHORN, 2006) diz um pouco deste contexto. Esses princípios, encaminhados às Nações Uni- das, definem orientação sexual e identidade de gênero: COMPREENDENDO “orientação sexual” como estando referida à capacidade de cada pessoa de experimentar uma pro- funda atração emocional, afetiva ou se- xual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gê- nero, assim como de ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas; ENTEN- DENDO “identidade de gênero” como estando referida à experiência interna, individual e profundamente sentida que cada pessoa tem em relação ao gênero, que pode, ou não, corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo-se aí Educação e Diversidade Sexual1 Introdução Alexandre Martins Joca2 Marco Antonio Torres3 Marina Reidel4 1 Texto elaborado por membros do Grupo de Trabalho de acompanhamento do programa Brasil sem Homofobia (2004-2009) e do Plano Nacional de Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT no âmbito do Ministério da Educação. 2 Mestre e doutorando em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e membro do Grupo de Resistência Asa Branca – GRAB. Consultor da série. 3 Professor da Universidade Federal de Ouro Preto, atuando nas licenciaturas e formação continuada de professores/as e doutorando no Programa de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor da série. 4 Professora da educação básica na região de Porto Alegre e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultora da série.
  • 5. 5 o sentimento pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gênero, inclusive o modo de vestir-se, o modo de falar e ma- neirismos (CORRÊA; MUNTARBHORN, 2006, p. 9). Sabemos que esse documento não garante a efetivação de quaisquer direitos nas comuni- dades políticas específicas, porém pesquisa- dores e ativistas, ao articularem um discur- so desse modo, subsidiam jurisprudências, identificam relações identitárias baseadas nas hierarquias sexuais e elaboram novas lógicas do empoderamento de identidades sexuais definidas como desordenadas ou pa- tológicas, ainda que se apresentem questões a serem desenvolvidas. Assim, as temáticas acerca da diversidade de orientação sexual e das perfomances das identidades de gênero, que podemos enten- der como “diversidade sexual”, têm estado cada mais presentes na pauta das políticas educacionais brasileiras. Nesse contexto, a escola, enquanto instituição de formação de crianças e adolescentes para o exercício da cidadania, assume um papel central para a transformação social. No entanto, diversas pesquisas e estudos têm apontado a escola como um ambiente de intolerância e vio- lência dirigida a lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e constatado a fragi- lidade dos/as profissionais de educação para a abordagem educativa da e sobre a sexuali- dade no espaço escolar, chegando a afirmar que, por muitas vezes, a escola apresenta-se enquanto espaço de produção e reprodução da homofobia. Encontramos nesses debates o termo ‘homofobia’ usado de diversos mo- dos: como um dispositivo de vigilância do gênero; como violência simbólica da domi- nação masculina (BOURDIEU, 1998, 2005); como modo de organização e constituição do masculino (CORNNELL, 1997; KIMMEL, 1997, apud SMIGAY, 2002); como produção da cultura e dos saberes ocidentais que aparece na discriminação afetiva, intelectual e polí- tica por lógicas heterossexistas (BORRILLO, 2010), entre outros. Desse modo, pelo pre- conceito, seres humanos são hierarquizados como subcidadãos por serem identificados como homossexuais (PRADO; MACHADO, 2008). Atualmente, diversos movimentos sociais LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, tra- vestis e transexuais) têm elaborado novos termos na tentativa de explicitar as especifi- cidades da violência e/ou discriminação, as- sim surgem a lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia como indexadores daquilo que se deve enfrentar. Na escola, por meio de formas explícitas ou pelo currículo oculto, o preconceito contribui para a inferiorização individual. A atenção a situações cotidianas possibilita uma análise crítica do mito da li- beralidade dos brasileiros em relação à sexu- alidade e mostra as dificuldades para pôr em diálogo os contextos formais e não formais
  • 6. 6 de educação (por exemplo, ONGs LGBT), o que poderia resultar em avanços na constru- ção de uma escola menos preconceituosa (TORRES, 2010). Além desses aspectos, temos uma opinião pública que está muito aquém desses deba- tes. Uma pesquisa de opinião pública reali- zada recentemente pelas Fundações Perseu Abramo e Rosa Luxemburg (Fundação Per- seu Abramo, 2008) aponta alguns dados que revelam que uma maioria da sociedade bra- sileira, principalmente educadores, concor- da que os papéis sexuais são definidos pelo sexo biológico. Em menor escala aparecem discursos médicos e outras formas de sa- beres se articulando em afirmações morais que não valorizam a diversidade sexual e in- feriorizam por vezes a comunidade LGBT. Em pesquisa realizada por Mary Castro, Mi- riam Abramovay e Lorena Bernadette da Sil- va (2004), em 14 capitais do Brasil, tendo por objetivo contribuir para o debate sobre as relações existentes entre sexualidade e ju- ventude na escola, constatou-se um quadro dramático de como o ambiente escolar tem visto os saberes sobre a diversidade sexual e os sujeitos a ela pertencentes. Nessa pes- quisa, jovens estudantes do Ensino Funda- mental e do Ensino Médio, quando solicita- dos a indicar em sequência de gravidade as formas de violência, “bater em homossexu- ais” foi considerado, pelos meninos, menos grave que atirar em alguém, estuprar, usar drogas, roubar e andar armado. Na Pesquisa Nacional “Diversidade na Es- cola” (FIPE/INEP/SECAD, 2009) os dados demonstram 87,3% dos pesquisados com algum nível de preconceito em relação à orientação sexual e 98,5% com algum nível de distância social. Dos pesquisados, 26,6% dos/as alunos/as, 20,5% dos/as funcionários/ as e 10,6% dos/as professores/as concordam com a frase “eu não aceito a homossexua- lidade” e 23,2% dos/as alunos/as, 23,4% dos/ as funcionários/as e 11,8% dos/as professo- res/as concordam que a homossexualidade é uma doença. Louro (1997) afirma que “a negação dos/as homossexuais no espaço legitimado da sala de aula acaba por confiná-los a ‘gozações’ e aos ‘insultos’ dos recreios e dos jogos, fa- zendo com que, desse modo, jovens gays e lésbicas só possam se reconhecer como des- viantes, indesejados ou ridículos”. Para Joca (2008) os sujeitos LGBT estão fadados à pers- pectiva de um “problema”, ao observar que “a palavra problema” aparece de maneira recorrente nos discursos docentes, sempre que estes se referem às questões e aos su- jeitos pertencentes à diversidade sexual. No entanto, alerta que “nem as questões sobre a diversidade sexual, nem os próprios LGBT devem ser vistos ou entendidos exclusiva- mente sob uma perspectiva de um proble- ma, da abjeção” e conclui que “de fato, há a existência de problemas no encontro da sexualidade com as práticas educativas es- colares, problema que consiste em o educa-
  • 7. 7 dor não saber o que fazer. Problema que, no contexto escolar da prática pedagógica, deve voltar-se não às atitudes dos jovens, mas às posturas e abordagens do educador frente às manifestações da sexualidade” (JOCA, 2008). Na escola, o preconceito possui nuanças e perspectivas que atingem de alunos/as a professores/as como várias análises têm de- monstrado (JUNQUEIRA, 2009), uma especí- fica refere-se à ausência de referências para alunos/as que fazem parte da população LGBT (LIONÇO, T.; DINIZ., 2009). O desafio é traduzir todas essas questões nos domínios da sala de aula, no ambiente escolar etc. Desse modo, o programa Salto para o Fu- turo - Educação e Diversidade Sexual - vem contribuir para esse debate, visando aten- der a esse cenário educacional que vem se constituindo em demandas para a educa- ção. Nesse contexto, observa-se o conteú- do de alguns planos que traduzem as dire- trizes para a educação: o Programa “Brasil Sem Homofobia: Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra GLBT e de Promoção da Cidadania Homossexual” (2004); no II Plano de Educação em Direitos Humanos (2006); na Conferência Nacional GLBT (2008); II Plano Nacional de Política para as Mulheres (2009); no Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Huma- nos LGBT (2009). Tais demandas foram sis- tematizadas recentemente na Conferência Nacional de Educação (CONAE), e entre elas procura-se: • Introduzir e garantir a discussão de gêne- ro e diversidade sexual na política de va- lorização e formação inicial e continuada dos/das profissionais da educação nas es- feras federal, estadual, distrital e munici- pal, visando ao combate do preconceito e da discriminação de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, mulheres, ao estudo de gênero, diversida- de sexual e orientação sexual, no currícu- lo do ensino superior, levando-se em con- ta o Plano Nacional de Políticas Públicas para a Cidadania LGBT e o Programa Brasil sem Homofobia. • Inserir e implementar na política de valo- rização e formação dos/ das profissionais da educação, a partir da reorganização da proposta curricular nacional, a discussão de gênero e diversidade sexual, na pers- pectiva dos direitos humanos, quebrando os paradigmas hoje instituídos e adotan- do para o currículo de todos os cursos de formação de professores/as um discurso de superação da dominação do masculi- no sobre o feminino, para que se afirme a constituição de uma educação não se- xista. (…) • Elaborar, implantar e implementar políti- cas e programas de formação continuada, de pós-graduação, acerca de gênero, di- versidade sexual e orientação sexual para todos/as os/as profissionais da área da saúde, educação, serviço social, esporte e lazer (CONAE, 2010, p. 143-145).
  • 8. 8 O programa Salto para o Futuro - Educação e Diversidade Sexual - visa gerar subsídios para os processos de formação continuada dos/ as profissionais da educação contribuindo, por meio do acesso a saberes acerca da di- versidade sexual, para o desenvolvimento de habilidades e competências no campo da educação de enfrentamento a preconceitos e discriminações por orientação sexual. Para isso a série abordará a educação e sua inter- face com a orientação sexual na perspectiva de sua diversidade a partir das potencialidades e fragilidades das escolas brasileiras (e profis- sionais de educação) para a abordagem edu- cativa no espaço escolar. Temáticas como: • processos socioculturais de construção da homofobia e suas repercussões na es- cola (heteronormatividade, identidade de gênero, identidade sexual, naturalização da homofobia etc.); • demandas sociais de LGBT por igualdade de direitos na educação; • resultados de pesquisas e estudos acerca da educação sexual e da homofobia na es- cola; • as nuances das violências decorrentes da homofobia na escola e suas consequên- cias para a formação de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (ex: bullying homofóbico); • as potencialidades e fragilidades das po- líticas educacionais para a implementa- ção de uma educação de enfrentamento a preconceitos e discriminações na pers- pectiva do enfrentamento à homofobia e reconhecimento das diferenças e diversi- dade sexual; • experiências exitosas em andamento (em sistemas de ensino e escolas); • desafios à educação para o aprimora- mento de uma educação afirmativa para a diversidade sexual (formação inicial e continuada de professores/as; currículo, produção de conhecimento, material di- dático etc.), que aborde as possibilidades de enfrentamento a preconceitos e discri- minações ainda existentes em nossa so- ciedade e nas escolas brasileiras). A partir do exposto, entende-se que as temá- ticas relacionadas à abordagem educativa so- bre orientação sexual e identidade de gênero são de extrema relevância para os espaços de formação inicial e continuada de educadores/ as indo, portanto, ao encontro da proposta pedagógica do programa Salto para o Futuro. A proposta da série Educação e Diversidade Se- xual objetiva mobilizar educadores/as do país inteiro para a adoção de práticas pedagógicas de enfrentamento a preconceitos e discrimi- nações por orientação sexual e a efetivação de uma educação afirmativa voltada para a valorização e o reconhecimento das diferen- ças e diversidades sexuais.
  • 9. 9 Textos da série Educação e diversidade sexual5 A série pretende discutir a responsabilidade dos sistemas de ensino quanto ao enfrentamento de preconceitos e discriminações por orientação sexual, respaldando-se na garantia constitu- cional de educação enquanto direito fundamental de todos e todas. Nesse sentido, os progra- mas irão discutir os processos de formação (inicial e continuada) de profissionais da educação sobre sexualidade e diversidade sexual; debater sobre o atual cenário de violências vividas por LGBT no ambiente escolar a partir de pesquisas e estudos realizados nesse campo; refletir acer- ca das estratégias (metodológicas e pedagógicas) de abordagem da sexualidade na escola na perspectiva do reconhecimento e da valorização da diversidade sexual; apresentar experiências exitosas, ressaltando os obstáculos, fragilidades e potencialidades das escolas brasileiras para a inserção da temática no currículo escolar. Ao longo da série, são apresentadas as questões específicas do campo educacional articuladas aos processos socioculturais de construção da homofobia nos demais espaços da sociedade, de modo a dialogar com conceitos como hetero- normatividade, identidade de gênero, identidade sexual, naturalização da homofobia, igualda- de de direitos, movimentos sociais etc. Texto 1: Direitos humanos e diversidade sexual Este texto traz como questão central a discussão em torno dos mecanismos de interferência da homofobia no direito à educação de LGBT. Assim, apresenta os processos socioculturais de construção de sentidos e significados acerca das sexualidades de modo a trazer informações sobre violência, preconceitos e discriminações dirigidas a LGBT, os processos de reivindicação empreendidos pela população LGBT e a política educacional em e sobre direitos humanos no Brasil. O texto mostra a importância de desnaturalizar a homofobia e de promover ações afir- mativas de desconstrução de valores e práticas homofóbicas nos espaços sociais, com enfoque na escola. Para isso, aborda a educação e sua interface com a orientação sexual na perspectiva de sua diversidade, instigando a reflexão sobre o papel da educação e seus profissionais (espe- cialmente professores/as) nesse processo de enfrentamento às desigualdades ocasionadas pela homofobia. 5 Estes textos são complementares à série Educação e diversidade sexual, com veiculação no programa Salto para o Futuro/TV Escola de 09/05/2011 a 13/05/2011.
  • 10. 10 Texto 2: Orientação sexual e identidade de gênero Este texto apresenta o atual cenário vivido por LGBT nos espaços escolares, no sentido de aproximar as temáticas aos profissionais de educação. Aborda as nuances das violências decor- rentes da homofobia na escola e suas consequências para a formação (intelectual e humana) de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (ex: bullying homofóbico), baseando-se em resultados de pesquisas e estudos que devem ser apresentados e debatidos com foco nas reali- dades das escolas brasileiras: suas potencialidades e fragilidades. Na base desse debate devem estar dimensões importantes da educação, como a formação inicial e continuada de profes- sores/as, currículo, produção de conhecimento e material didático. Experiências positivas em acesso e permanência de LGBT em escolas também são apresentadas. Texto 3: Educação para a diversidade Este texto apresenta as ações empreendidas no campo da política educacional de enfrentamen- to à homofobia. Experiências exitosas de formação continuada de profissionais da educação, experiências de escolas na abordagem da temática e a produção de conhecimento sobre me- todologias e práticas pedagógicas de enfrentamento à homofobia na escola são apresentadas e debatidas. Os textos 1, 2 e 3 também são referenciais para as entrevistas e debates do PGM 4: Outros olhares sobre Educação e diversidade sexual e do PGM 5: Educação e diversidade sexual em debate. Referências Bibliográficas ABRAMOVAY, M.; CASTRO, M. G.; SILVA, L. B. Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO Brasil, 2004. BORRILLO, D. Homofobia. História e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Ed. Au- têntica, 2000/2010. 144p. BOURDIEU, P. A dominação masculina. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro: Ber- trand Brasil, 1998/2005. 160 p. CORRÊA, S. O.; MUNTARBHORN, V. (orgs.). Princípios de Yogyakarta: princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direi- tos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Yogyakarta/Indonésia, 2006. Disponível em: <http://www.clam.org. br/pdf/principios_de_yogyakarta.pdf >. Aces- so em: 12/11/2007. FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO (2008). Diversi- dade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerân- cia à diversidade sexual.
  • 11. 11 JOCA, Alexandre Martins. Diversidade Sexual na Escola: um “problema” posto à mesa. Dis- sertação de Mestrado. UFC, 2008. JUNQUEIRA, R. D. (org.). Diversidade Sexual na Educação: problematizações sobre homo- fobia nas escolas, v. 32. Brasília: Ministério da Educação/UNESCO, 2009. LIONÇO, T.; DINIZ, D. (orgs.). Homofobia e Educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Editora UNB, 2009. 196 p. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalis- ta. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MAZZON, J. A. (coord.). Pesquisa Nacional Di- versidade na Escola. Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas, 2009. PRADO, M. A. M.; MACHADO, F. V. Precon- ceito contra homossexualidades: a hierarquia da invisibilidade. São Paulo: Editora Cortez, 2008. 144 p. SMIGAY, K. E. von. (2002). Sexismo, homo- fobia e outras expressões correlatas de vio- lência: desafios para a psicologia política. Psicologia em Revista, 8(11), p. 32-46, 2002. Disponível no SciELO (Scientific Electronic Library Online), <http://www.scielo.br/ptp> Acesso em 21 nov. 2007. TORRES, M. A. A diversidade sexual na educa- ção e os direitos de cidadania LGBT na Escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. v. 1. 72 p.
  • 12. 12 texto 1 Direitos humanos e diversidade sexual Pelo direito à educação e à diversidade na escola Alexandre Martins Joca1 Introdução “A sexualidade é um nó para a escola”. Essa afirmativa, de uma professora da Rede Es- tadual de Ensino Público do Ceará, duran- te o encerramento de um curso de forma- ção continuada sobre gênero e diversidade sexual, foi provocadora, no sentido de nos despertar para reflexões acerca dos motivos que nos condicionam a olhar para a sexu- alidade, na perspectiva de sua diversidade, como uma dimensão humana problemáti- ca, “um nó”, “um problema”, para a prática educativa e para o convívio escolar. Nosso objetivo principal neste texto é puxar alguns dos fios desse “nó” que se tornaram as tentativas de inserção das temáticas re- lacionadas à diversidade sexual nas escolas brasileiras, apontando algumas pistas que nos permitam compreender os mecanismos de interferência da homofobia no direito à educação escolar de lésbicas, gays, bissexu- ais, travestis e transexuais - LGBT. 1. Da educação por direito ao direito à educação Uma questão central para pensarmos o direi- to à educação a LGBT está em olhar a edu- cação formal e, consequentemente, a insti- tuição escolar como um direito de todos e todas, articulando a relação entre “Educação” e “Direito”, a partir de duas perspectivas: “a educação como um direito de todos e todas” e “o direito à educação a todos e todas”. No campo legislativo, a perspectiva da edu- cação como um “direito de todo cidadão” está garantida constitucionalmente no Brasil des- de a Constituição de 1934. No intuito de al- cançar a universalização do ensino público, o acesso a todos e todas à instituição escolar foi, durante muito tempo, uma bandeira dos movimentos pela educação no Brasil e sinô- nimo de exercício da cidadania e de demo- cracia. No entanto, com o passar do tempo, percebeu-se que o desejado acesso à escola não garantia a todos e todas a permanência e o êxito escolar. Isso porque a desejada uni- 1 Mestre e doutorando em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará e membro do Grupo de Resistência Asa Branca – GRAB. Consultor da série.
  • 13. 13 versalização do ensino não garantiu, de fato, a equidade no direito à educação. Portanto, a perspectiva da educação como um “direito de todos e todas” viu-se ameaça- da pelo bicho-papão que ronda o universo escolar – a exclusão, a segregação, a domi- nação e o poder hegemônicos – resultantes das relações hierarquizadas e desiguais que caracterizam nossa sociedade e violam os princípios iluministas da modernidade. Esse bicho-papão determina a cor, o sexo, a clas- se social e a orientação sexual que condu- zem as práticas e relações vividas na esco- la e define quem deve ou não permanecer nesse espaço. Nesse contexto, põe-se em xeque a suposta universalidade da educação escolar, denunciando a negação do direito à educação a uma parcela considerável da sociedade, que inclui as pessoas que não se enquadram nos padrões e normas da hete- ronormatividade. Isso porque a garantia do direito à educação, para além do acesso à escola, exige desta e de seus profissionais a capacidade de atender às demandas dos(as) estudantes, de modo que o cotidiano e a vida na escola propiciem aos sujeitos em formação o sentimento de pertencimento, de acolhimento e o reconhecimento de suas singularidades e subjetividades, proporcio- nando uma formação além da aprendiza- gem cognitiva conteudista e disciplinar. É inegável que a escola sempre foi, e ainda o é, conduzida por princípios, valores e atitu- des marcadoras de desigualdades de gênero, de classe, de raça/etnia e de orientação se- xual. Talvez, por isso, durante muito tempo, a educação brasileira, focada na ênfase ao ensino propedêutico, omitiu-se, negou-se a inserir nos currículos, nas formações (inicial e continuada) de educadore(a)s, nos livros di- dáticos, e nos demais campos de atuação da educação, as temáticas relacionadas à diver- sidade cultural. Esta omissão findou por legi- timar a hegemonia heteronormativa e essen- cialista da sexualidade, afirmando a escola enquanto o não-lugar para as pessoas LGBT. 2. A educação e sua interface com a orientação sexual A compreensão essencialista do sexual, há séculos, conduz os saberes e as relações sociais sexuais dos sujeitos, determinando seus desejos, prazeres e ditando as condutas sexuais aceitáveis ou negadas no âmbito so- cial, findando por limitar e impor fronteiras à sexualidade humana e a submeter os su- jeitos à condição de seres sexuais predefini- dos, fixos e acabados, sem possibilidades de novas descobertas e prazeres, num processo de normalização2 do sexual. Isso tem gera- do profundas inquietações em decorrência das desigualdades ocasionadas pela com- 2 Adoto aqui o conceito trazido por Thomaz Tadeu da Silva (2000), que define normalização como um dos processos mais sutis pelo qual o poder se manifesta no campo da identidade e da diferença, compreendendo que “normalizar significa eleger – arbitrariamente – uma identidade específica como parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a essa identidade todas as características positivas possíveis, em relação às quais as outras identidades só podem ser avaliadas de forma negativa” (SILVA, 2000, p. 83).
  • 14. 14 preensão da sexualidade através do prisma da dominação masculina e da hegemonia da heterossexualidade3 (JOCA, 2009). É o que vem acontecendo com lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais - LGBT a partir dos processos de produção e reprodução da homofobia4 , fonte de desi- gualdades de direitos e obstáculo à vivência e convivência harmoniosa com a diversida- de sexual. A homofobia em nossa sociedade tem ocasionado profundas desigualdades e violências configuradas numa linha tênue de preconceitos e discriminações, que vão das manifestações mais sutis do cotidiano aos perversos crimes contra homossexuais em todo o Brasil. Para Borrillo, (…) como toda forma de exclusão, a ho- mofobia não se limita a constatar as di- ferenças: ela interpreta e tira conclusões materiais. Assim, se o homossexual é culpado do pecado, sua condenação mo- ral aparece como necessária e a purifi- cação pelo fogo inquisitorial é uma con- sequência lógica (BORRILLO, 2009, p. 18). Contrária ao essencialismo, a concepção construcionista – ou a teoria da construção social – no campo da sexualidade, baseia- se em uma abordagem histórica, no senti- do de compreendê-la como um construto sócio-histórico e cultural, pois “a sexuali- dade é construída de forma diferente atra- vés da cultura e do tempo” (PARKER, 2001). Na perspectiva pós-estruturalista, o que está em jogo é o embate entre a associação sexo/gênero, ou melhor, entre o sexo bio- lógico e identidade de gênero e orientação sexual. Essa distinção apresenta-se ainda bastante confusa, pois os conflitos e desi- gualdades decorrentes da homofobia conti- nuam presentes nos mais diversos espaços de sociabilidade dos sujeitos, de modo que, no âmbito da educação formal, as escolas brasileiras e os/as profissionais da educação têm demonstrado bastante dificuldade em estabelecer relações sociais positivas com os jovens LGBT, configurando um cenário de práticas discriminatórias5 de violação/nega- ção de um direito constitucional fundamen- tal: a educação. 3 Butler (2001), referindo-se ao que chama, no campo do sexual, de imperativo heterossexual, ressalta que “esta matriz excludente pela qual os sujeitos são formados exige, pois, a produção simultânea de um domínio de seres abjetos, aqueles que ainda não são ‘sujeitos’ mas que formam o exterior constitutivo, relativamente ao domínio do sujeito (…). Neste sentido, o sujeito é construído através da força da exclusão e da abjeção (…). A formação de um sujeito exige uma identificação com o fantasma normativo do sexo” (Butler, 2001, p. 155-156). 4 Termo comumente utilizado para definir o medo, o desprezo, a desconfiança e a aversão em relação à homossexualidade e às pessoas homossexuais ou identificadas como tais. A homofobia não diz respeito apenas ao universo variado de manifestações psicológicas negativas em relação à homossexualidade. Ela está na base de preconceitos, discriminações e violências contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e todas as pessoas cujas sexualidades ou expressão de gênero não se dão em conformidade com a heteronormatividade e as normas de gênero (CARVALHO, ANDRADE & JUNQUEIRA, 2009, p. 24). 5 Lionço e Diniz (2009) entendem práticas discriminatórias “como a valorização das diferenças de modo a promover desigualdades ou prejuízos para as partes desqualificadas” (LIONÇO e DINIZ, 2009).
  • 15. 15 Instituição de formação e sociabilidade, es- pecialmente dos/as jovens, a escola tem se configurado como um espaço de produção e reprodução das diferenças. E, com sua dinâmica institucional centrada no disci- plinamento, insiste em padronizar currícu- los, práticas educativas, espaço geográfico, arquitetônico e os sujeitos, reafirmando as relações sexuais hegemônicas, principal- mente, no âmbito das questões de gênero e de orientação sexual. Um exemplo são as dificuldades demonstradas por educadores/ as sobre o convívio com LGBT nos am- bientes escolares, de modo que preconcei- tos e atos de discri- minação contra a po- pulação LGBT muitas vezes são naturaliza- dos e banalizados. Os próprios educadores/ as, comumente, con- sideram estes casos como “brincadeiras”, “coisas sem importância”. Daí, não apenas silenciam, mas colaboram ativamente na produção e reprodução da homofobia (LOU- RO, 1997; LOIOLA, 2005; JOCA, 2008, entre outros). Vale lembrar que na década de 1980, com o surgimento da Aids, outras questões sobre a sexualidade foram incorporadas ao cenário educacional. No entanto, a discussão sobre a sexualidade na escola parece não romper com a lógica até então empreendida, pois a abordagem educativa concentrou-se em uma perspectiva cada vez mais biológica, voltada ao repasse de informações sobre saúde e pre- venção, rejeitando ou ignorando as subjeti- vidades dos desejos e prazeres implicados na vivência das diver- sas possibilidades do sexual. As diversas pesquisas sobre homossexuali- dade6 apontam para uma tríade da violência: rua-escola-família. A rua, espaço público onde os sujeitos exer- cem a cidadania, é negada para os homosse- xuais expressarem seus afetos, por diferirem Instituição de formação e sociabilidade, especialmente dos/as jovens, a escola tem se configurado como um espaço de produção e reprodução das diferenças. 6 Para maiores informações sobre as manifestações de homofobia na escola, consultar: ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary Garcia; SILVA, Lorena Bernadete. Juventudes e Sexualidade. Brasília: UNESCO Brasil, 2004. Pesquisa Nacional Diversidade na Escola - Sumário Executivo. (Disponível em: http://www.fpabramo.org. br/o-que-fazemos/pesquisas-de-opiniao-publica). Panorama dos Estudos sobre Violência nas Escolas no Brasil: 1980 – 2009. (Disponível em: http://www. google.com.br/search?q=Panorama+dos+Estudos+sobre+Viol%C3%AAncia+nas+Esclas+no+Brasil%3A+1980+%E2%80 %93+2009.&btnG=Pesquisar&hl=pt-R&source=hp&aq=f&aqi=&aql=& oq= Política, Direitos, Violência e Homossexualidade (Disponível em: http://www.clam.org.br/publiqu)
  • 16. 16 da heterossexualidade; a família, espaço pri- mário da formação e da afetividade, ainda se mantém presa às normas culturais que regem o que é “normal” e “diferente”; a es- cola, por sua vez, é a instituição responsável pela transmissão da cultura, numa função conteudística, e (…) no campo da sexualidade esta cul- tura determinou a heterossexualidade como hegemônica – síntese do machis- mo, selecionando as características in- dividuais para cada sujeito mediante o gênero a que pertence, causando sérias implicações para as relações sociais e se- xuais. De modo que, ao nascer, o indiví- duo já leva impresso consigo um roteiro definido para seu comportamento de ho- mem ou de mulher” (LOIOLA, 2008, p. 32). No tocante às manifestações homofóbicas no ambiente escolar, Louro (1997) alerta para o processo de “fabricação” dos sujeitos e das diferenças, de identidades e corpos es- colarizados, segundo as práticas cotidianas em que estes estão envolvidos, destacando a necessidade de estarmos atentos ao pro- cesso de banalização de palavras e gestos do cotidiano, tomados como naturais, pois essas, muitas vezes, camuflam as manifes- tações homofóbicas direcionadas a LGBT. É a negação da possibilidade da vivência e convivência desses jovens com a diversida- de sexual e, por conseguinte, a negação aos/ às jovens homossexuais do direito à educa- ção escolarizada, pois “a negação dos/as ho- mossexuais no espaço legitimado da sala de aula acaba por confiná-los a ‘gozações’ e aos ‘insultos’ dos recreios e dos jogos, fazendo com que, deste modo, jovens gays e lésbicas só possam se reconhecer como desviantes, indesejados ou ridículos” (LOURO, 1997, p. 68). Desse modo, evidenciam a permanência das manifestações homofóbicas nas escolas, revelando ainda a existência de obstáculos enfrentados por homossexuais nas relações sociais vividas nesse espaço. A carência de ações educativas programa- das7 sobre sexualidade e diversidade sexual, na perspectiva do enfrentamento à homofo- bia nos espaços escolares, torna-se eviden- te, de modo que são o(a)s jovens LGBT, no acaso8 escolar, que têm incluído as temáti- cas da diversidade sexual. No entanto, nas últimas décadas, as políticas de EDH no Bra- sil vêm empreendendo ações no intuito de garantir a LGBT o direito à educação e ao espaço escolar. 7 Denomino aqui de ‘programados’ as ações ou atividades educativas previamente programadas a serem desenvolvidas pela escola no processo de ensino-aprendizagem dos/as jovens estudantes. Tais atividades estão de acordo com o que se espera da instituição escolar em relação à formação do/a cidadão/ãs (JOCA, 2008, p. 99). 8 “O acaso são os acontecimentos oriundos da sociabilidade dos sujeitos no espaço escolar. (...). Ao proporcionar a ocorrência do acaso, a sociabilidade dos/as jovens muitas vezes é confundida com ou designada como indisciplina, má conduta, pois essas experiências não são legitimadas nem reconhecidas, pela escola, como aprendizagens significativas, nem positivas para seu desenvolvimento individual e coletivo” (JOCA, 2008, p. 105-106).
  • 17. 17 3. Direitos sexuais como direitos humanos na educação Desde os anos de 1990, e com maior inten- sidade na primeira década do século XX, o Estado brasileiro (nas esferas municipais, estaduais e federal) vem discutindo e procu- rando responder às demandas de camadas da sociedade historicamente excluídas, por meio do que se convencionou chamar de “políticas afirmativas”9 . Quanto à política educacional brasileira, po- demos citar alguns avanços, como também alguns desafios. O primeiro avanço consiste na criação dos Parâmetros Curriculares Na- cionais (PCN) que, desde 1997, propõem a inclusão, no currículo do Ensino Fundamen- tal e do Ensino Médio, das questões aqui discutidas, numa perspectiva de abordagem transversal nos tópicos intitulados “Plurali- dade Cultural” e “Orientação Sexual”10 . Ape- sar do reconhecido avanço representado pe- los PCN, uma das críticas a esta proposta consiste na não obrigatoriedade da inserção dessas temáticas no currículo escolar, pelo caráter de recomendação atribuído aos PCN; na carência de materiais didáticos e paradidáticos voltados a essas questões e, durante muito tempo, a carência de forma- ção continuada de educadores/as tendo em vista o desenvolvimento de competências e habilidades para uma abordagem educativa desses temas. Figueiró (2006), Loiola (2006) e Joca (2008), entre outros, apontam, tam- bém, para uma suposta inoperância dessa proposta, uma vez que os temas transver- sais acabam por serem postos em segundo plano na dinâmica escolar, especialmente as questões que envolvem conflitos morais e éticos como a homossexualidade (JOCA, 2008). As políticas educacionais afirmativas de en- frentamento ao sexismo e à homofobia re- alizadas pelo Ministério da Educação - MEC concentram-se, especialmente, na realiza- ção, desde 2005, de formação continuada de educadores/as sobre gênero e diversidade sexual, em parceria com Instituições de En- sino Superior. A implementação dessas polí- 9 Conquistas importantes no campo das questões étnico-raciais e de gênero foram: a Lei n. 7.716/89, que define os crimes ocasionados pelo preconceito de raça e cor; e a Lei n. 11.340/2006, Lei Maria da Penha, que estabelece punições à violência contra a mulher. No entanto, o Legislativo, num intenso conflito de poder ideológico entre a “banca fundamentalista”, “religiosa” e conservadora e os legisladores conhecidos comumente como “bancada progressista”, ainda não caracteriza a homofobia enquanto um ato criminoso nem legitima a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Vale lembrar que o Projeto de Lei n. 122/2006 tramita, atualmente no Legislativo, propondo alterar a Lei n. 7.716/1989. A alteração consiste em incluir os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de gênero, sexo, orientação sexual, e identidade de gênero e indica, dessa maneira, sanções às práticas discriminatórias dirigidas aos/às homossexuais. O projeto foi aprovado no Congresso Nacional, em 2007, e atualmente tramita no Senado Federal. 10 A expressão “Orientação Sexual” é entendida no texto dos PCN como “educação sexual”, não estando, portanto, relacionada especificamente às temáticas de identidade de gênero e diversidade sexual.
  • 18. 18 ticas no âmbito educacional perpassa pelos conflitos epistemológicos, ideológicos e po- líticos, numa arena de interesses e relações de poder, como exemplo, as dificuldades do MEC e demais órgãos governamentais em instituir, enquanto política pública, uma educação sexual na qual a abordagem peda- gógica da sexualidade humana tenha como um de seus pilares o enfrentamento ao se- xismo e à homofobia. Nessa última, a vio- lação do princípio constitucional, garantido pela Constituição de 1988, de laicidade do Estado brasilei- ro, pela influência e poder das institui- ções religiosas so- bre as políticas do Estado, constitui-se, significativamente, enquanto um obstá- culo a ser superado (COSTA, JOCA, FILHO, 2011). A partir da primeira década do século XXI, essas questões encontraram espaço no âm- bito das políticas educacionais brasileiras como temáticas contempladas nas políticas de Educação em Direitos Humanos (EDH)11 . O Plano de ação da 1ª fase do Plano Mun- dial de Educação em Direitos Humanos de- fine EDH como “o conjunto de atividades de educação, capacitação e difusão de informa- ções orientadas a criar uma cultura universal no campo dos direitos humanos mediante a transmissão de conhecimento, o ensino de téc- nicas e a formação de atitudes”12 . Um dos focos da Educação em Direitos Hu- manos – EDH está em garantir a efeti- vação da “educação como um direito de todos e todas”. Para isso, além de garan- tir o acesso univer- sal à escola, cabe ao Estado fazer do ambiente escolar, um espaço de aco- lhimento a todos e todas, isento de precon- ceitos e discriminações. Nessa perspectiva, a EDH traz novos desafios aos educadores/ as, pesquisadores/as e gestores/as, acres- centando à pauta da educação o desafio de construir alternativas de políticas voltadas 11 Podemos citar o Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH); o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), o Programa Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), a Conferência Nacional de Educação (CONAE) como documentos de referência para a EDH. Esses documentos constituem-se em diretrizes e propostas para a educação voltadas à efetivação da vivência de valores como a Vida e a integridade pessoal, Dignidade humana, Identidade, Liberdade e responsabilidade, Igualdade e não discriminação, Justiça e equidade, Solidariedade e cooperação, Participação, Pluralismo, Desenvolvimento humano, Paz e segurança, Diversidade, entre outros. 12 Plano de ação da 1ª fase do Plano Mundial de Educação em Direitos Humanos. p. 18. Tradução livre. portanto, relacionada especificamente às temáticas de identidade de gênero e diversidade sexual. Um dos focos da Educação em Direitos Humanos – EDH está em garantir a efetivação da “educação como um direito de todos e todas”.
  • 19. 19 ao enfrentamento de violências e desigual- dades sociais que se refletem, também, no cotidiano escolar. Exige-se, portanto, da educação e de seus profissionais um reorde- namento, uma reorganização das estruturas e das políticas educacionais, dos currículos, da formação docente, das práticas educati- vas; um reordenamento do vivido na escola, em resposta à histórica exclusão que carac- terizou a educação escolar no Brasil. 4. Breves considerações A pretensão em trazer algumas questões que implicam desvelar os processos de negação do direito à educação a pessoas LGBT consis- te em contribuir para as reflexões acerca da função social da escola e dos/as educadores/ as no que diz respeito ao enfrentamento de preconceitos e discriminações por orienta- ção sexual. Além de reflexões, torna-se ne- cessário, nesse momento, que nós, educa- dores e educadoras, passemos a questionar nossas práticas e atitudes, muitas vezes na- turalizadas no cotidiano escolar; a duvidar, questionar e problematizar algumas “verda- des” sobre as sexualidades e gênero. Não há dúvida que esse exercício exige de nós a dis- ponibilidade para a mudança, a reconstru- ção de valores e princípios, a disponibilidade para olhar o outro e a nós mesmos a partir de outras perspectivas, vislumbrando outras possibilidades de ser e estar no mundo. Essa disponibilidade ao novo, ao que outrora pu- desse parecer “estranho”, “incomum”, longe da lógica que já nos é tão familiar, permite que nos tornemos educadores e educandos simultaneamente, expondo-se às diferenças, e como afirma Freire (1996), “disponibilidade a tocar e a ser tocado, a perguntar e a respon- der, a concordar e a discordar. Disponibilidade à vida e a seus contratempos”. Referências Bibliográficas BORRILLO, Daniel. A Homofobia. In: Homofo- bia e educação: um desafio ao silêncio. Tatiana Lionço; Débora Diniz (orgs.). Brasília: Letras- Livres/Ed.UnB, 2009. BOZON, Michel. Sociologia da sexualidade. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamen- tal. Parâmetros Curriculares Nacionais: tercei- ro e quarto ciclos: Apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF, 1998. BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: peda- gogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autên- tica, 2001. _______________. Problemas de gênero: femi- nismo e subversão da identidade. Rio de Janei- ro, 2003. COSTA, Adriano Henrique Caetano; JOCA, Alexandre Martins; FILHO, Francisco Xavier Ramos Pedrosa. Introdução - Educação e Se-
  • 20. 20 xualidades: entre encontros e desencontros. In: Recortes das Sexualidades: encontros e de- sencontros com a educação. Fortaleza: Edito- ra UFC, 2011. CARVALHO, Maria Eulina; ANDRADE, Fer- nando Cezar Bezerra e JUNQUEIRA, Rogé- rio Diniz. In: Gênero e Diversidade Sexual: um glossário. João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB. 56p. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: sa- beres necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura). FIGUEIRÓ, Mary Neide Damico. Formação de educadores sexuais: adiar não é mais possível. Campinas, SP: Mercado de Letras; Londrina, PR: Eduel, 2006. JOCA, Alexandre Martins. Diversidade Sexual na Escola: Um “problema” posto à mesa. Dis- sertação de Mestrado. UFC, 2008. _______________. Educação escolarizada e diversidade sexual: problemas, conflitos e expectativas. In: Desatando Nós: Fundamen- tos para a práxis educativa sobre gênero e di- versidade sexual. Adriano Henrique Caetano Costa; Alexandre Martins Joca; Luís Palhano Loiola (orgs.). Fortaleza: Edições UFC, 2009. LIONÇO, Tatiana e DINIZ, Débora. Homofo- bia, silêncio e naturalização: por uma narra- tiva da diversidade sexual. In: Homofobia e educação: um desafio ao silêncio. Tatiana Lionço; Débora Diniz (orgs.). Brasília: Letras- Livres/Ed. UnB, 2009. LOIOLA, Luís Palhano. Diversidade Sexual: para além de uma educação escolarizada. 2005. 189 f. Tese (Doutorado em Educação). Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação – FACED, Univer- sidade Federal do Ceará, 2005. _______________. Diversidade Sexual: perspec- tivas educacionais. Fortaleza: Edições UFC, 2006. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. _______________. Um corpo estranho: Ensaios sobre a sexualidade e a teoria queer. Belo Ho- rizonte: Autêntica, 2004. PARKER, Richard. Cultura, economia política e construção social da sexualidade. In: LOU- RO, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. Plano de Ação da Primeira etapa do Progra- ma Mundial de Educação em Direitos Hu- manos (2009). UNESCO e UN OHCHR. Site. Disponível em <http://www.ohchr.org/Do-
  • 21. 21 cuments/Publications/PActionEducationsp. pdf>. Acesso em: janeiro. 2011. SILVA, Thomaz Tadeu da. Identidade e dife- rença: A perspectiva dos estudos culturais. Pe- trópolis, RJ: Vozes, 2000. WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (org.). O corpo educa- do: pedagogias da sexualidade. Belo Horizon- te: Autêntica, 2001.
  • 22. 22 texto 2 Orientação sexual e identidade de gênero Enfrentamentos possíveis à homofobia: orientação sexual e identidade de gênero no contexto da educação Marco Antonio Torres 1 Introdução No presente texto são analisados os argu- mentos da matriz heterossexista e seus des- dobramentos entre educadores e educado- ras na escola, desde as diversas formas de currículos até as emoções que perpassam o ambiente escolar. Apresentamos as noções de identidade de gênero e de orientação se- xual como possibilidades de compreensão das sexualidades, além dos argumentos des- ta matriz. Por fim, nomeamos algumas ela- borações na política de Direitos Humanos que emergem na contemporaneidade e que questionam as lógicas de discriminação da população LGBT (lésbicas, gays, travestis e transexuais) nas políticas educacionais. 1. A Insuficiência do Modelo Heterossexista para Compreensão da Orientação Sexual e Identidade de Gênero na Contemporaneidade Tanto as crenças quanto as contingências que se relacionam com a sexualidade fo- ram formadas em nosso processo de socia- lização. A socialização que temos nas rela- ções cotidianas possibilita a construção de conhecimentos. Poderíamos citar muitas crenças questionadas pelas contingências na contemporaneidade, principalmente pe- los movimentos sociais de estudantes, de mulheres; movimentos contra a discrimina- ção etnorracial, em defesa da ecologia e dos direitos de LGBT (lésbicas, gays, travestis e transexuais). Essas lutas é que colocam em xeque crenças e valores na sociedade em geral, e adentram a comunidade escolar para questionar supostas verdades tomadas como absolutas, isto é, naturais. São lutas fundamentais para efetivar o reconhecimen- to das sexualidades pela noção de diversida- de sexual. Vejamos a questão específica das sexualidades e do preconceito na comunida- de escolar. As formas de expressão da sexualidade e a variedade de práticas sexuais que experimen- tamos durante a vida também são frutos de processos de socialização e são contin- 1 Professor da Universidade Federal de Ouro Preto, atuando nas licenciaturas e formação continuada de professores/as e doutorando no Programa de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Consultor da série.
  • 23. 23 gências que passaram a ser tomadas como verdades no processo histórico. As noções do judaísmo e do helenismo, por meio da cultura cristã, negaram e rechaçaram ou- tras formas de compreensão da sexualidade humana. Essas noções, sem questionamen- tos, elaboraram a crença de que homem e mulher não poderiam expressar e praticar sua sexualidade, a não ser pelo padrão hete- rossexista, ou seja, homens comandavam a sociedade e as relações sexuais somente eram aceitas dentro de uma união conjugal entre homem e mulher. Tais noções estão nos cur- rículos, nos saberes e fazeres da comunidade escolar. Por isso, mui- tas vezes, ao pensar- mos sobre identidade de gênero e orientação sexual, os sentimentos que temos em relação às pessoas que expres- sam sexualidades diferentes do padrão hete- rossexista são emocionalmente perpassados pela constelação de discursos que aprende- mos e repetimos nas configurações sociais. O conceito de figuração ou configuração em Norbert Elias (1970) pode ser tomado na análise dos posicionamentos de indivíduos e grupos no contexto educacional. O autor explica o conceito de figuração por meio do exemplo de um baile, no qual vários indiví- duos, dependentes do movimento coletivo e orientados uns pelos outros, movem-se cadenciados pela música que toca, com sua letra, seus instrumentos, seu ritmo, enfim, uma complexidade dinâmica de elementos diferentes que aparecem como se formas- sem um todo. Desse modo, Elias elabora uma sociologia processual e busca fugir das antíteses no uso dos conceitos de indivíduo e sociedade, en- tendendo que as pessoas estão em um fluxo nem sempre planeja- do ou previsível. Essa noção pode nos ajudar a en- tender as escolas como uma figu- ração, ou con- figuração, onde os significados da sexualidade são disputados por muitos discursos: mé- dicos, morais, religiosos etc. Quando pen- samos a sexualidade, podemos pensar que atualmente têm emergido algumas tendên- cias. Uma bastante clara e definida: contra qualquer tema, assunto, referência etc. que aponte a legitimidade de demandas LGBT na escola, como, por exemplo, o respeito ao nome social de travestis e transgêneros. Outra tendência ainda esmaecida tem sido Na contemporaneidade, as noções de identidade de gênero e orientação sexual têm sido articuladas pelo movimento LGBT e compreendem a escola como lugar importante para divulgação dessas noções.
  • 24. 24 a de professores/as, alunos/as, gestores/as, funcionários/as etc. que defendem e às ve- zes até se engajam em ações favoráveis aos LGBT. Esta tendência de apoio não é muito forte nem publicamente definida, muitas vezes ainda está “trancada no armário”. Po- rém aquelas/es que são contrários aos LGBT estão apoiadas/os no machismo presente em nossa educação. Na contemporaneidade, as noções de identi- dade de gênero e orientação sexual têm sido articuladas pelo movimento LGBT e compre- endem a escola como lugar importante para divulgação dessas noções. Na Indonésia, es- tudiosos e ativistas se reuniram e prepara- ram um documento encaminhado às Nações Unidas, denominado Princípios de Yogyakarta (nome da cidade onde ocorreu o encontro), cuja proposta, já apresentada no texto da In- trodução, define orientação sexual e identi- dade de gênero: COMPREENDENDO “orientação sexual” como estando referida à capacidade de cada pessoa de experimentar uma pro- funda atração emocional, afetiva ou se- xual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gê- nero, assim como de ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas; ENTENDENDO “identidade de gênero” como estando referida à experiência in- terna, individual e profundamente sen- tida que cada pessoa tem em relação ao gênero, que pode, ou não, correspon- der ao sexo atribuído no nascimento, incluindo-se aí o sentimento pessoal do corpo (que pode envolver, por livre esco- lha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos ou outros) e outras expressões de gêne- ro, inclusive o modo de vestir-se, o modo de falar e maneirismos (INDONÉSIA, 2006, p. 9). As noções desse documento se propõem a subverter o modelo heterossexista e, ao mesmo tempo, revelar a força desse mode- lo. Quando se faz necessário um documento que afirme um direito, o documento revela que esse direito tem sido negado, ou seja, de- clarar direitos é reconhecer primeiramente que esse direito não é evidente para todos os homens, que eles têm essa garantia (CHAUÍ, 1989). Assim, podemos considerar os Princí- pios de Yogyakarta como reveladores de que esses direitos não são um fato óbvio às co- munidades políticas, pois se afirma a hete- rossexualidade como única via possível do desejo sexual (orientação sexual) e da auto- percepção do sujeito (identidade de gênero). Quando falamos sobre transexuais, pessoas que desejam mudar o nome, a aparência (re- alizando ou não cirurgias), para se adequar anatomicamente como homem ou como mulher, falamos de identidade de gênero. Todavia um transexual (masculino ou femi-
  • 25. 25 nino) pode ser homossexual, heterossexual ou bissexual, termos que indicam sua orien- tação sexual. Assim, uma pessoa que nasceu com pênis pode, ao longo da vida, se sentir e se perceber como mulher; poderá, ou não fazer cirurgia e/ou outros tratamentos para adequação dos genitais. Outra pessoa que nasceu com vagina e não se sente uma mu- lher, mas sim um homem, não será lésbica, mas vive a transexualidade e poderá, em al- guns países como o Brasil, retirar seus seios e colocar uma prótese peniana. Contudo mesmo após essa al- teração essa pessoa poderá ter relações sexuais com homens e/ou com mulheres (bissexual), ou ter relações somente com alguém do sexo oposto (heterossexu- al), ou ainda ter so- mente relações com pessoas do mesmo sexo (homossexual). Segundo muitos ativistas e estudiosos, o sexo oposto para uma pessoa que nasceu com pênis e se sente mulher é o homem, não uma mulher. Os gays e as lés- bicas seriam pessoas que compreendem seu corpo como adequado e desejam sexualmen- te pessoas do mesmo sexo. A identidade de gênero não necessariamente coincide com a orientação do desejo sexual, conforme as definições vistas anteriormen- te. Podemos, aqui, pensar em muitas rela- ções possíveis entre orientação sexual e iden- tidade de gênero. Por isso, como muitos têm feito, preferimos pensar que existem sexua- lidades, homossexualidades, heterossexuali- dades, lesbianidades, bissexualidades, tran- sexualidades, etc. Dessa forma, a sexualidade pode ser compreendida como uma varieda- de de expressões e práticas sexuais que vão além do padrão heterossexual. Para maiores esclarecimentos sobre questões específicas sobre a transexualidade e travestilidade já existem várias pesquisas e estudos no Brasil que podem demons- trar a complexidade dessa temática e o quanto ela comple- xifica a diversidade sexual (BENEDETTI, 2005; BENTO, 2006; PELÚCIO, 2009; KULI- CK, 2008) As sexualidades têm sido tratadas com base em crenças morais, provenientes de discursos religiosos, cientí- ficos, educacionais, entre outros. Essas cren- ças só serão questionadas quando passarem por um debate fundamentado nos direitos de cidadania. O que deve ser definido ou não como direito sexual, assim como todos os di- reitos de cidadania, é decidido em disputas e lutas humanas durante a história da socie- dade. Esses direitos devem informar educan- dos/as e educadores/as e servir de orientação para uma educação que os prepare para os As sexualidades têm sido tratadas com base em crenças morais, provenientes de discursos religiosos, científicos, educacionais, entre outros.
  • 26. 26 direitos de cidadania relacionados à diversi- dade sexual. 2. A articulação do preconceito contra a população LGBT na escola O preconceito contra a população LGBT tem sido denominado de homofobia. Esse termo denota tudo que, na produção da cultura e dos saberes ocidentais, implica discrimina- ção afetiva, intelectual e política, sejam as lógicas heterossexistas (Borrillo, 2001), ou outras. Podemos afirmar que, no Ocidente, os argumentos religiosos foram fundamen- tais na constituição da homofobia, das for- mas de violência que figuram na comuni- dade escolar, pois foram esses argumentos, seguidos pelos discursos médicos na mo- dernidade, que elaboraram e sustentaram a matriz heterossexista. A homofobia também aparece na ausência de representações da população LGBT nos materiais didáticos e nos currículos da educação (LIONÇO; DINIZ, 2009). Devemos notar que o preconceito atinge toda a comunidade escolar — dos funcioná- rios ao/à diretor/a. Enquanto o preconceito não for reconhecido como um sistema que regula as relações educacionais de toda a co- munidade escolar, ficaremos procurando a homofobia nas pessoas. Por isso, nas ações contra todas as formas de preconceito, es- pecificamente o preconceito baseado no he- terossexismo, é preciso repetir que as dife- renças de identidade de gênero e orientação sexual são direitos a ser reconhecidos. Surgem, então, várias questões em relação a educadores/as e educandos/as LGBT: até que ponto as políticas públicas e a produção aca- dêmica podem contribuir para o reconheci- mento da orientação sexual e da identidade de gênero na comunidade escolar? Quais recursos são mobilizados pelos educadores e pelas educadoras nas figurações da sexua- lidade na comunidade escolar? Certamente essas questões são importantes para pen- sarmos uma educação menos excludente e mais democrática. Toda educação fica prejudicada com o pre- conceito, segundo afirma a pesquisa “Pre- conceito e discriminação no ambiente es- colar”, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Conforme a pesquisa, podemos afirmar que o preconceito esta- belece limites aos grupos atingidos por ele, por meio da pressão social e da violência a que são submetidos os alvos das discrimina- ções. No ambiente escolar, o preconceito, a discriminação e as práticas discriminató- rias ofensivas se relacionam diretamente com o desempenho dos/as alunos/as e dos professores/as. As notas mais baixas esta- vam relacionadas às escolas com maior ín- dice de preconceito. Outro resultado obtido pelo estudo da Fipe é que alunos com forte participação religiosa (católicos, 65%; evan- gélicos, 31,2%) apresentam tendência a ser
  • 27. 27 mais preconceituosos, especificamente em relação aos homossexuais (termo usado na pesquisa), mostrando a presença dos discur- sos religiosos na articulação da homofobia. Desde 2004, com o Programa Brasil Sem Ho- mofobia (2004-2009), o Plano Nacional de Direitos Humanos e Promoção da Cidadania LGBT (2009), a oferta de cursos de aperfei- çoamento/especialização para educadoras/ es que conjugam as temáticas de gênero, étnico-racial e sexualidade/diversidade etc. as noções sobre orientação sexual e identi- dade de gênero têm se articulado à edu- cação via posições identitárias LGBT. Nos contextos da educação, essas re- afirmações identitá- rias disputam com as críticas elabora- das pela perspectiva queer, como é pos- sível perceber pelos trabalhos de Guacira Lopes Louro (2001). Seria a desconstrução identitária, ou seja, as identidades LGBT em vista da diversidade sexual, um caminho possível para a população de transexuais e/ ou travestis nos terrenos da educação no atual contexto? Para Almeida (2010), essa lógica queer não seria viável para determi- nadas regiões do mundo, entre elas América Latina e segmentos populares do Ocidente em geral, lugar das educadoras que pesqui- samos. Consideramos que mesmo reconhe- cendo a validade da perspectiva queer, em sua crítica às identidades essencializadas, parece ainda não consumado um modo de positivar direitos aquém das identidades, ainda que transitórias. Na análise de Almeida (2010, p. 36) é nes- sa complexidade que as sobreposições das agendas de cidadania, dos direitos humanos, das políticas das identidades são destaca- das como assuntos de grande importância, sendo a orientação sexual um fator que demonstra as contradições da so- breposição dessas agendas. Essas questões es- tão relacionadas à possibilidade de empoderamento de sujeitos submetidos a uma estigmatização grupal, inferiorizados coletivamente por pertencerem a um grupo (Elias, 2000, p. 23), no caso, o grupo LGBT. Essas figurações aparecem em vários domí- nios do mundo contemporâneo, entre eles, a educação, território no qual as pedagogias formatam corpos pela sexualidade enquanto dispositivo do poder de controlar, estilizar e fazer confessar questões relacionadas ao sexo (Louro, 2001). Certamente, a educação e a escola precisam assimilar melhor as noções de orientação sexual e identidade de gênero para combater a homofobia em todas as suas dimensões.
  • 28. 28 Considerações finais Esses dispositivos do preconceito, mesmo quando superados teoricamente na educa- ção, persistem nas práticas pedagógicas que, pelo pacto do silêncio, negam a existência de hierarquizações sexuais. Analisar as figura- ções da sexualidade na escola pode ser um dos modos para (des)construir formas de in- tervenção, de crítica e de geração de conhe- cimentos no amplo debate sobre identidade de gênero e orientação sexual. Certamente, a educação e a escola precisam assimilar me- lhor as noções de orientação sexual e identi- dade de gênero para combater a homofobia em todas as suas dimensões. Infelizmente, constatamos que faltam metodologias, pes- quisas e informações para reconhecer a le- gitimidade e as estratégias desses espaços. Essa discussão pode ser analisada no livro organizado por Rogério Diniz Junqueira, que discute as consequências deste fato da se- guinte maneira. Ao mesmo tempo em que nós, profissio- nais da educação, estamos conscientes de que nosso trabalho se relaciona com o quadro dos direitos humanos e pode contribuir para ampliar os seus hori- zontes, precisamos também reter que estamos envolvidos na tessitura de uma trama em que sexismo, homofobia e ra- cismo produzem efeitos e que, apesar de nossas intenções, terminamos muitas vezes por promover sua perpetuação (JUNQUEIRA, 2009, p. 13). A entrada da escola no debate sobre identi- dade de gênero e orientação sexual por meio de políticas públicas, ações empreendidas pelos movimentos sociais, pela militância em geral e pela academia, tem ocorrido con- comitantemente com o recrudescimento de outros setores sociais, de diversas origens (CORRÊA; PARKER, 2007). Sem dúvida, a população LGBT, e especifi- camente aqueles que trazem de maneiras explícitas em seus corpos o pertencimento a essa população têm sido historicamente alvos da crueldade e da violência na comu- nidade escolar. Para isso, é necessário espe- cificar dentro dos Direitos Humanos a vio- lência social e institucional praticada contra os direitos humanos LGBT. Especificar essa questão é questionar como travestis, gays e lésbicas são humilhados e constrangidos sem que os agentes desses atos reconheçam essa situação. Assim, podemos reconhecer que existem práticas preconceituosas, denominadas ho- mofóbicas e/ou heterossexistas que ferem a dignidade de seres humanos dentro e fora da escola. Lembramos também que podemos dizer que são práticas orientadas pela matriz heterossexista presente nas configurações sociais da educação. Essas práticas, orien- tadas por discursos sedimentados historica- mente e repetidos no cotidiano, promovem a exclusão da população LGBT dos direitos de cidadania, constituindo um grave problema
  • 29. 29 a ser enfrentado na educação e na democra- tização da sociedade brasileira. Referências bibliográficas ALMEIDA, M. V. A chave do armário, homosse- xualidade, casamento e família. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2010. 225 p. BENEDETTI, M. Toda feita: o corpo e o gêne- ro das travestis. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Ja- neiro: Garamond, 2006. 256 p. BORRILLO, D. Homofobia. Barcelona: Bella- terra, 2001. BRASIL. Conselho Nacional de Combate à Discriminação. Brasil sem homofobia: Progra- ma de Combate à Violência e à Discrimina- ção contra GLBT e de Promoção à Cidadania Homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- nais. Projeto de estudo sobre ações discrimina- tórias no âmbito escolar, organizadas de acor- do com áreas temáticas, a saber, étnico-racial, gênero, orientação sexual, geracional, territo- rial, pessoas com necessidades especiais (defi- ciência) e socioeconômicas. São Paulo: FIPE/ MEC/INEP, 2009. BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. CHAUÍ, M. Direitos humanos e medo. In: Fes- ter, A. C. R. (orgs.). Direitos humanos: um de- bate necessário. São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 15-36. CORRÊA, S.; Parker, R. Preface. In: Parker, R.; Petchesky, R.; Sember, R. (eds.). Reports from the front lines. Sexual Policy Watch, 2007. p. 5-7. Em: <http://www.sxpolitics.org>. Acesso em: 17/02/2008. ELIAS, N. Introdução à sociologia. Tradução de Maria Luisa Ribeiro. Lisboa: Edições 70, 1970. ELIAS, N.; Scotson, J. L. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2000. INDONÉSIA (2006). Princípios de Yogyakarta. Princípios sobre a aplicação da legislação in- ternacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Tra- dução de Jones de Freitas. 2007. Retirado em 03/02/2008, do Observatório de Sexualidade e Política. http://www.sxpolitics.org/frontlines/book/ pdf/sexpolitics.pdf. JUNQUEIRA, R. D. (org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homo- fobia nas escolas. Brasília: Ministério da Edu-
  • 30. 30 cação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade/UNESCO, 2009. KULICK, D. Travesti: prostituição, sexo, gê- nero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2008. LIONÇO, T.; DINIZ, D. (orgs.). Homofobia e educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Ed. UnB, 2009. Louro, G. L. Pedagogias da sexualidade. In: Louro, Guacira Lopes (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 7-34. PELÚCIO, L. Abjeção e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de Aids. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2009.
  • 31. 31 texto 3 Educação para a diversidade Desafios e possibilidades para trabalhar a diversidade sexual na escola Marina (Mário) Reidel1 Esse texto analisa como o contexto da es- cola apresenta desafios para a inserção do tema ‘diversidade sexual’, especialmente pelo modo como a sexualidade tem sido abordada neste contexto, e faz um breve re- lato de outras possibilidades de abordagem da temática no ambiente escolar. Em 1997, quando o MEC lançou com os PCN o tema transversal “orientação sexual”, as discus- sões sobre sexualidade humana encontra- ram espaço quase que exclusivamente nas aulas de Ciências e Biologia e no trabalho isolado destes/as professores e professo- ras. A Educação Sexual não constitui uma disciplina especifica, de caráter curricular obrigatório e tornou-se insuficiente quando restrita a estas disciplinas. Fortemente as- sociada ao corpo humano e aos aparelhos reprodutores, esta educação sexual baseava- se e ainda se baseia, em grande parte, nos conteúdos disponíveis em livros didáticos de Ciências. Hoje, com esta transversalida- de assumida por muitas escolas, o livro di- dático de Ciências tem sido incorporado a outros aliados, como os livros paradidáticos e o diálogo com organizações não governa- mentais. É sobre algumas dessas articula- ções que o presente texto irá discorrer. Análise crítica da educação sexual Todos os livros didáticos, além de se cons- tituírem artefatos de cultura no espaço escolar, podem ser considerados como ele- mentos das pedagogias e dos currículos, produzindo conhecimentos e contribuindo para produzir identidades culturais. Essa produção dá-se em meio a determinadas relações de poder e baseia-se em certas representações dos gêneros e das sexuali- dades, marcando identidades e diferenças. Tais representações regulam estilos de vida e práticas individuais. Potencialmente in- seridos nos currículos escolares, os livros paradidáticos são, também, instrumentos de uma política educacional que inclui sa- ber e certas identidades, tornando suas re- 1 Professora da educação básica na região de Porto Alegre e mestranda no Programa de Pós- Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Consultora da série.
  • 32. 32 presentações visíveis. Atualmente, podemos observar tais questões em várias mídias, contrapondo estilos e marcando diferenças, como por exemplo, na vida de artistas con- sagrados como Cazuza (BONASSI, 2004) e suas canções (ARAUJO NETO, 1984). Porém, geralmente, ausentam-se da produção dos livros didáticos, mesmo que circulem de ou- tros modos pelo ambiente escolar. Para Furlani (2005), o livro pode ser consi- derado um produto cultural e pedagó- gico importante. O livro é o local onde os significados de gênero e de sexuali- dade são marcados, contestados e rear- ticulados. Profes- sores e professoras podem olhar para as representações buscando discutir seus pos- síveis efeitos, tanto nas produções de iden- tidades culturais, quanto nas discussões sobre Educação Sexual. Crianças, jovens e adultos da comunidade escolar poderão se expressar como gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais a partir de determi- nadas garantias sociais. Diante da violência promovida pelo heterossexismo, é preciso assegurar que esses/as cidadãos/ãs não se- rão submetidos/as à humilhação, à violência ou algo similar. Assim, com base na noção de diversidade sexual, as crenças sobre as sexualidades precisam ser continuamente questionadas. Para isso, é necessário reafir- mar o princípio de laicidade do Estado, algo que nos permite entender a escola de uma forma específica. Entendemos que a escola, estatal ou não, pertence ao público, é lugar de discursos que lutam para influenciar o processo de ensino e aprendizagem dos cidadãos e das cidadãs. Isso quer dizer que mesmo uma escola particu- lar (não estatal) no Brasil e nas demais comunidades que se afirmam democráti- cas estabelece seus critérios educacio- nais a partir desses discursos, pois to- dos os grupos sociais deveriam ter o direito de se manifestar na comunidade política. Essas lutas – entre as quais temos grupos contrários e favoráveis aos direitos de LGBT – podem alargar a esfera civil, enquanto per- tencerem ao público, ou limitar essa esfera, se ficarem ocultas pelo pacto do silêncio. Os temas da sexualidade reduzidos a aulas específicas, orientados de modo a negar a diversidade sexual, contribuem para a nega- ção dos direitos de cidadania e direitos hu- manos LGBT (BRASIL, 2009). Entendemos que a escola, estatal ou não, pertence ao público, é lugar de discursos que lutam para influenciar o processo de ensino e aprendizagem dos cidadãos e das cidadãs.
  • 33. 33 Os discursos que promovem ou praticam a humilhação, a exclusão e a violência contra a população LGBT opõem-se aos direitos de cidadania, pois impedem que alguns des- frutem desses direitos. Essa constatação denuncia a concepção de cidadania como privilégio de alguns em detrimento de ou- tros e a existência do preconceito na comu- nidade democrática. Essa forma de exclusão permanece, muitas vezes, invisibilizada nas hierarquizações do preconceito social (MA- CHADO; PRADO, 2008). Isso impede a mui- tos/as de usufruírem direitos, como aquele relacionado ao direito de estabelecer con- tratos conjugais com pessoas do mesmo sexo (REIS; HARRAD, 1996). Essas e outras questões relaciona- das à diversidade sexual podem ser ex- cluídas da escola pelo silêncio dos materiais didáticos (LIONÇO; DINIZ, 2009), o que se coloca como um grande desafio à comuni- dade escolar. Essas hierarquizações podem ser observadas nas piadas que depreciam a população LGBT, na ausência de personagens LGBT nos livros didáticos, nas agressões físicas e psicológi- cas cometidas devido à orientação homos- sexual e bissexual, entre outras. Essa hierar- quização atinge de forma diferente os LGBT. Um jovem gay e outro que seja transexual serão atingidos de maneiras diferentes; uma jovem lésbica que assumiu publicamente seu namoro será mais aviltada do que aque- la que se privar da expressão de sua orien- tação sexual. O preconceito é moldado de acordo com as hierarquizações sociais, in- clusive étnico-raciais, de classe econômica, de gênero, entre outras. Dentro desta pers- pectiva percebe-se que ainda há um gran- de déficit no que diz respeito à produção de materiais que possam dar supor- te aos professores para as discussões em torno da sexua- lidade e das formas com que ela se apresenta na esco- la, principalmente nos processos de desenvolvimento nas questões de gênero, orientação sexual, preconceito e discriminação. Os processos relacionados à sexualidade, ao gênero, aos relacionamentos e ao corpo re- configuram-se e recompõem-se, formando arranjos e assumindo significados diversos. Não existem abordagens únicas, o leque de análises sobre esses temas na contempora- neidade é bastante amplo e diversificado. O preconceito é moldado de acordo com as hierarquizações sociais, inclusive étnico-raciais, de classe econômica, de gênero, entre outras.
  • 34. 34 além do enfoque biológico, pensando a partir da Cidadania e dos Direitos Humanos LGBT A teoria cultural tem sido fundamental para a construção de uma política de identidade, no sentido de que põe em questão determi- nados saberes sobre homens e mulheres e sobre a sua sexualidade, ao mesmo tempo em que constrói e disponibiliza novas for- mas de viver o masculino e o feminino e a sexualidade desses e dessas, que não sejam somente as formas hegemônicas. Como exemplo disso, uma escola estadual em Porto Alegre desenvolveu um projeto com adolescentes entre 11 e 17 anos nas dis- ciplinas de Artes e Ética, contemplando pro- postas relacionadas ao tema deste programa e que sintetizam um processo que pode ser implantado em outras escolas brasileiras. Este exemplo traz aspectos direcionados ao tema e, em síntese, o projeto tinha como titulo “Diga não à Homofobia escolar, valo- rizando as singularidades e as diferenças”, sendo que desenvolveu propostas de Educa- ção e Direitos Humanos, trazendo para o co- tidiano da sala de aula temas como Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual, Homofobia, Preconceito e Cidadania, numa visão con- temporânea, onde o aluno foi sujeito das ações. Na busca de uma melhor qualidade de vida para o ser humano e por acreditar que atra- vés da educação conseguiremos atingir e conquistar direitos humanos igualitários e respeito às singularidades, bem como a promoção da cidadania, este projeto visou oportunizar experiências na área de educa- ção sexual e de gênero, em que as atividades desenvolvidas partiram das temáticas traba- lhadas como eixo transversal, nas discipli- nas de Artes e Ética e Cidadania. No ambien- te escolar, o preconceito, a discriminação e as práticas discriminatórias ofensivas se relacionam diretamente com o desempe- nho dos/as alunos/as. Quanto maior o índi- ce de preconceito menor o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) (Bra- sil, 2009b). Educadores/as podem analisar em sua experiência como as ações de sua comunidade escolar podem se tornar parte da luta pela Cidadania e Direitos Humanos LGBT, ainda não efetivados no cotidiano escolar. As assembleias, fóruns com pais e mães, espaço de diálogo com alunos, com alunas e demais membros da comunidade escolar são iniciativas de democratização da escola, passo necessário à socialização da cultura de paz. O grande desafio é levar para a escola uma compreensão de que os Direi- tos Humanos são universais, portanto to- dos/as – idosos/as, crianças, mulheres e ho- mens – são sujeitos de direitos e, portanto, a população LGBT não pode ser excluída da escola. Essa exclusão se dá muitas formas,
  • 35. 35 por piadas depreciativas, agressões físicas e verbais, falta de apoio, etc. A violência física contra LGBT na educação pode estar relacio- nada ao fato de ser o Brasil um dos países com os maiores índices de assassinatos de homossexuais no mundo (MOTT, 2002). A escola é um espaço onde a sexualidade se manifesta, e mais, onde se produzem com- portamentos, onde se instigam ou superam preconceitos, onde se difundem conheci- mentos e valores e, como parte de seu pa- pel formativo, tem a responsabilidade de superar os precon- ceitos e a defesa ir- restrita dos direitos humanos. Diante do anseio de construir- mos uma sociedade e uma escola mais justas, solidárias, livres de preconcei- tos e discriminação, é necessário identi- ficar e enfrentar as dificuldades que temos tido para promover os direitos humanos e, especialmente, pro- blematizar, desestabilizar e subverter a ho- mofobia. São dificuldades que se tramam e se alimentam, radicadas em nossas realida- des sociais, culturais, institucionais, históri- cas e em cada nível da experiência cotidiana. (JUNQUEIRA, 2009). Assim, dentro desta visão e da consciência de que a escola e os profissionais da educa- ção têm em relação ao trabalho direcionado aos direitos humanos e à contribuição para ampliar os horizontes, temos que também ter o cuidado para que isso não desenvolva uma rede ainda maior de preconceito e dis- criminação, reforçando as ideias sexistas, ra- cistas em homofóbicas. Mesmo assim a escola é um espaço para as construções de novas aprendizagens, con- vivências, produções de conhecimentos, sobretudo se os professores e alunos fo- rem ali provocados a desenvolver temas e discussões sobre as diferentes culturas, valores, representa- ções e práticas liga- dos à homofobia, ao preconceito e a vio- lências de todas as ordens. Dentro deste propó- sito de elaboração de ações pedagógi- cas que irão contribuir e garantir a efetiva inclusão de conteúdos em um eixo interdis- ciplinar, tendo como pauta as questões liga- das aos direitos humanos e à diversidade se- xual, faz-se necessário pautar que o objetivo principal é o de inclusão e criação de um am- biente de respeito às diferenças, bem como o convívio e a valorização dos grupos indepen- dentemente da sua cultura, crença ou orien- tação sexual. Tudo isto também pode contri- buir para que a escola torne-se um ambiente A violência física contra LGBT na educação pode estar relacionada ao fato de ser o Brasil um dos países com os maiores índices de assassinatos de homossexuais no mundo
  • 36. 36 de socialização em Direitos Humanos (Dias, 2007), aqui, especificamente, a Cidadania e os Direitos Humanos LGBT. Assim, é neces- sário que se afirmem estas questões ligadas ao tema dentro do Projeto Político Pedagógi- co (PPP) da escola, reforçando e levando as discussões à comunidade escolar, dando um enfoque de visibilidade e com uma aprova- ção muito maior. A metodologia aplicada propôs intervenções a partir de experiências, considerando as idéias de Piaget (1994) e Vygotsky (1988), em que o aluno é o sujeito de interação e cons- trução do aprendizado. As ações pedagógicas desenvolvidas foram planejadas e executadas com as séries fi- nais (5ª a 8ª) do Ensino Fundamental nas disciplinas de Artes e Ética e Cidadania (an- teriormente denominado Ensino Religioso) no período de dois anos (agosto de 2008 a julho de 2010), sendo que algumas propos- tas eram aplicadas para turmas específicas, devido à idade dos/as alunos/as. O período semanal das aulas para aplicação das ati- vidades do projeto era de cinquenta a cem minutos, aproximadamente um a dois perí- odos por turma, num total de 400 alunos/as envolvidos/as. Algumas ações também foram desenvolvi- das em parceria com grupos de movimentos sociais e pessoas convidadas. Em especial, o grupo SOMOS – Comunicação, Saúde e Se- xualidade. As propostas foram realizadas en- volvendo a formação de professores/as, os encontros com alunos/as e o lançamento da Cartilha de Educação Sexual elaborada pela ONG. No que diz respeito à Avaliação, o tra- balho não tinha como proposta uma avalia- ção quantitativa apontando para um resulta- do satisfatório, e sim qualitativa e inclusiva. Considerações finais Com este projeto percebe-se uma mudan- ça progressiva de comportamentos e atitu- des diante do tema especificamente tratado em diversas atividades – a Homofobia e o preconceito com as minorias e os ditos “di- ferentes”. Conforme relatos de pessoas da escola onde ocorreu o projeto, ao menos a curto e médio prazo, não se perceberam grupos de meninos agredindo fisicamente ou verbalmente meninos gays como era fre- quente. Também se notou uma diminuição de palavrões com ofensas homofóbicas que causavam mal-estar. As brincadeiras ditas “arreganhos” simplesmente acabaram, no sentido preconceituoso e homofóbico. Um novo olhar abriu-se nas aulas, onde se ini- ciou um respeito maior pelo outro e onde os supostos diferentes foram incluídos e eles permaneceram neste espaço, pretendido democrático, chamado sala de aula. Acre- ditamos que estes/as alunos/as estão mais instrumentalizados/as para evitar e/ou gerar violência contra pessoas LGBT ou as mino- rias, ditas pela sociedade.
  • 37. 37 A temática e as propostas não foram inter- rompidas nesta escola, pois em educação ja- mais conseguiremos parar com estas discus- sões que lidam com o dia a dia das pessoas, da sociedade e da vida em geral. Haverá ou- tros/as alunos/as, bem como novos grupos se formarão e a proposta seguirá incansável e infinita. Com trabalhos como este, citado anterior- mente, acreditamos que ao irmos além de uma educação sexual restrita a determina- das disciplinas possibilitamos colocá-la na ótica da Cidadania e dos Direitos Humanos. Assim, possibilitamos que a comunidade escolar possa analisar a sexualidade da po- pulação LGBT além do biológico. Ganhamos sabedoria, valores, respeito e consciência de que o mundo, tanto dentro da escola ou fora dela, é a soma da diversidade e da plurali- dade e que, ao respeitar as singularidades e valorizar a vida, estamos construindo um mundo melhor para todos/as, sem exclusão, pois todos nós usufruímos da dignidade hu- mana. Ou não? Referências bibliográficas ARAUJO NETO, Agenor de Miranda (Cazuza). “Exagerado”- Música. 1985. BONASSI, Fernando; NAVAS, Victor (rot.); WERNECK, Sandra; CARVALHO, Walter (dir.). Filme “Cazuza o tempo não para.” 2004. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacio- nais. Projeto de estudo sobre ações discrimina- tórias no âmbito escolar, organizadas de acor- do com áreas temáticas, a saber, étnico-racial, gênero, orientação sexual, geracional, territo- rial, pessoas com necessidades especiais (de- ficiência) e socioeconômica. São Paulo: FIPE/ MEC/INEP, 2009b. BRASIL. Secretaria Especial de Direitos Hu- manos. Plano Nacional de Promoção da Cida- dania e dos Direitos Humanos LGBT. Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos, 2009. DIAS, Adelaide Alves. A escola como espaço de socialização da cultura em direitos huma- nos. In: ZENAIDE, Maria de Nazaré Tavares; SILVEIRA, Rosa Maria Godoy; DIAS, Adelaide Alves (orgs.). Direitos Humanos: capacitação de educadores - Fundamentos culturais e edu- cacionais da Educação em Direitos Humanos. 1ª ed. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2008, v. 2, p. 155-160. JUNQUEIRA, Rogério Diniz (org.). Diversida- de Sexual na Educação: problematizações so- bre homofobia nas escolas. Brasília: Minis- tério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade/ UNESCO, 2009. LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. Petrópolis: Vozes, 1997.
  • 38. 38 MOTT, Luiz. O crime anti-homossexual no Bra- sil. Salvador: Ed. Grupo gay da Bahia, 2002. PIAGET, Jean. O Juízo Moral na Criança. São Paulo: Summus, 1994. PRADO, M. A. M.; Machado, F. V. Preconceito contra homossexualidades - A hierarquia da in- visibilidade. São Paulo: Cortez, 2008. REIS, Toni; HARRAD, David. Direito de amar: a história de um casal gay. Curitiba: Ed. T. Reis, 1996. STRICKLAND, Carol. Arte Comentada da Pré- História ao Pós- Moderno. Ediouro - Paradida- ta, 1999. VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvol- vimento intelectual na idade escolar. In: VYGOTSKY, L. S. et al. Linguagem, desenvol- vimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/ EDUSP, 1988.
  • 39. 39 Anexo 1: Indicações de filmes/vídeos, livros e sites Filmes/Vídeos: 1. MILK - A voz da igualdade é uma história real dos anos 70. Narra a vida de Harvey Milk (Sean Penn) com seu namorado Scott (James Franco). Quando se mudam para San Francisco, numa época repleta de preconceitos, eles enfrentam a violência e a discriminação sexu- al. (MILK. Direção: Gus Van Sant. Estados Unidos: Paramount Pictures/UIP, 2008. 1 DVD (128 min.) son. color., legendado em português). 2. PRISCILLA, a rainha do deserto conta a história de duas drag queens e um transexual que viajam para fazer um show. Eles partem de Sydney a bordo de Priscilla, um ônibus muito especial, e enfrentam o deserto australiano. Quando chegam a seu destino, após sofrer as agruras da viagem, descobrem que quem contratou o show foi a ex-mulher de um deles. (PRISCILLA. Direção: Stephan Elliott. Estados Unidos, 1994. 1 DVD (104 min.) son. color., legendado em português). 3. LATTER DAYS – Christian tem 20 e poucos anos, vive em um condomínio em Los Angeles e adora curtir a noite. Suas conquistas sexuais são apenas para uma noitada. Elder Aaron Davis chega à cidade com três missionários mórmons para se hospedar no mesmo con- domínio de Chris. Mundos antagônicos irão se chocar, trazendo graves consequências para ambos. (Latter days. Direção: C. Jay Cox. Estados Unidos: TLA Releasing, 2003. 1 DVD (107 min.) son. color., legendado em português.) 4. TRANSAMÉRICA: um homem prestes a fazer a cirurgia de mudança de sexo descobre que possui um filho e que este quer conhecê-lo. Em uma longa viagem, tentarão descobrir um ao outro. (TRANSAMÉRICA. Direção: Duncan Tucker. Estados Unidos: IFC Films, 2005. 1 DVD (103 min) son. cor. legendado em português). 5. MINHA VIDA EM COR-DE-ROSA relata a história de Ludovic, um menino que acredita ter nascido no corpo errado. Lutando para ser reconhecido como uma menina, ele desper- tará o mal-estar dos vizinhos, que começam a fazê-lo passar por muitos sofrimentos. (Minha vida em cor-de-rosa. Direção: Alain Berliner. França/Bélgica/Inglaterra: Sony, 1998. 1 DVD (88 min.) son. color., legendado em português).
  • 40. 40 6. PRA QUE TIME ELE JOGA?. (Vídeo produzido pelo Ministério da Saúde, com duração de 20 min.). Pedro, um adolescente craque do time de futebol na escola e excelente aluno de matemática, tem orientação sexual revelada na escola. Daí em diante, tanto Pedro quanto seus/suas colegas vivem uma série de fatos, sentimentos e dúvidas sobre as possi- bilidades de convivência com as diferenças na escola e na vida. Disponível no site: http:// www.youtube.com. 7. AMANDA E MONICK é um breve documentário sobre uma professora e uma profissional do sexo; elas se aproximam por se definirem como travestis e mostrarem a luta para construir suas vidas. O depoimento da companheira de Monick e do pai de Amanda sur- preende, emociona e nos faz questionar as noções de gênero, o preconceito e a amizade. AMANDA E MONICK. Direção: André da Costa Pinto: Brasil: Produção independente (19 min), 2007/2008, Curta-Metragem, Distribuidora: Não definida. Livros: 1. ALMEIDA, M. V. A chave do armário, homossexualidade, casamento e família. Florianó- polis: Ed. da UFSC, 2010. 2. BENTO, B. A reinvenção do corpo: sexualidade e gênero na experiência transexual. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. 3. BORRILLO, D. Homofobia. História e crítica de um preconceito. Belo Horizonte: Ed. Au- têntica, 2000/2010. 4. CARRARA, S.; VIANNA, A. R. B. “Tá lá o corpo estendido no chão...”: a violência letal contra travestis no município do Rio de Janeiro. Physis, v. 16, n. 2, p.233-249, 2006. 5. CORRÊA, S. O.; MUNTARBHORN, V. (orgs.). Princípios de Yogyakarta: princípios sobre a aplicação da legislação internacional de direitos humanos em relação à orientação sexual e identidade de gênero. Yogyakarta/Indonésia, 2006. Disponível em: <http://www.clam. org.br/pdf/principios_de_yogyakarta.pdf >. Acesso em: 12/11/2007. 6. FACCHINI, R. Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond Universitária, 2005.
  • 41. 41 7. GROSSI, M. P. et al. Movimentos sociais, educação e sexualidades. Rio de Janeiro: Gara- mond/CEPESC, 2005. 8. JUNQUEIRA, R. D. (org.). Diversidade sexual na educação: problematizações sobre a homofobia nas escolas. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Con- tinuada, Alfabetização e Diversidade, UNESCO, 2009. Esse livro traz 16 artigos que ana- lisam questões polêmicas na educação e especificam debates, como a questão da de- ficiência e os padrões de normalidade, os direitos humanos, da transexualidade, entre outras. Ele se encontra livre na internet no sítio eletrônico: http://unesdoc.unesco.org/ images/0018/001871/187191por.pdf. 9. LEERS, B.; TRANSFERETTI, J. Homossexuais e a ética cristã. Campinas: Átomo, 2002. 199 p. 10. LIONÇO, T.; DINIZ, D. (orgs.). Homofobia e educação: um desafio ao silêncio. Brasília: Ed. UnB, 2009. Este livro aprofunda a análise sobre materiais didáticos e a questão da ho- mofobia por meio de uma pesquisa esclarecedora. Ele consegue desvelar como o silêncio sobre a questão LGBT na educação pode ser um modo de sustentação da homofobia. Ele se encontra livre na internet no sítio eletrônico: http://www.anis.org.br/letras_livres/ca- pas/homofobia_e_educacao_introducao.pdf 11. LOURO, G. L. Pedagogias da sexualidade. In: Louro, G. L. (org.). O corpo educado: pedago- gias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. p. 7- 34. 12. LOURO, Guacira Lopes. Teoria queer: uma política pós-identitária para a educação. Rev. Estud. Fem., v. 9, n. 2, p.541-553, 2001. 13. PRADO, M. A. M.; MACHADO, F. V. Preconceito contra homossexualidades - a hierarquia da invisibilidade. São Paulo: Cortez, 2008. 14. SEARS, J. (ed.) Gay, Lesbian, and Transgender Issues in Education: Programs, Policies and Practices. New York: Haworth Press, 2004. 209 p. 15. SPENCER, C. Homossexualidade: uma história. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1999.
  • 42. 42 16. TORRES, A. A diversidade sexual na educação e os direitos de cidadania LGBT na Escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. Sites: 1. Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Desenvolvido por ABGLT, 2006. Rede nacional de 220 organizações afiliadas. É a maior rede LGBT na América Latina. Disponível em <http://www.abglt.org.br>. Acesso em 10/08/2009. 2. Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS. Disponível em < http://www.abiaids.org. br>. Acesso em: 10/08/2009. 3. Banco de Teses da CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. O banco disponibiliza teses e dissertações sobre os mais variados temas. Disponível em: http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/Teses.do. 4. Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos – CLAM. Instituto de Medi- cina Social – IMS da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ. O CLAM tem como finalidade principal produzir, organizar e difundir conhecimentos sobre a sexualidade na perspectiva dos direitos humanos, buscando, assim, contribuir para a diminuição das desigualdades de gênero e para o fortalecimento da luta contra a discriminação das mi- norias sexuais na região. Disponível em: http://www.clam.org.br. 5. Comunicação em Sexualidade. Organização não-governamental com 20 anos de atuação consolidada na defesa dos direitos humanos, com ênfase nos direitos sexuais e direitos reprodutivos, em especial de adolescentes e jovens, com a perspectiva de erradicar as discriminações relativas a gênero, orientação sexual, idade, raça/etnia, existência de de- ficiências, classe social. Disponível em <http://www.ecos.org.br>. Acesso em 10/07/2009. 6. Diversidade Católica. Grupo de leigos católicos que compreende ser possível viver duas identidades aparentemente antagônicas: ser católico e ser gay, numa ampla acepção desse termo, incluindo toda a diversidade sexual (LGBT). Disponível em <http://www. diversidadecatolica.com.br>. Acesso em 25/08/2009.
  • 43. 43 7. Diversidade sexual nas escolas. Trabalho elaborado pela Associação Brasileira Interdisci- plinar de AIDS (ABIA) como resultado das oficinas de formação continuada para profis- sionais de educação e saúde (2006-2007) de Nova Iguaçu, Caxias, Araruama e Cabo Frio. Disponível em: <http://www.abiaids.org.br/_img/media/Cartilha_Diversidade_sexual_Es- colas.pdf>. Acesso em 07/08/2009. 8. Grupos de Pais e Mães de Homossexuais. Primeira ONG brasileira fundada para acolher pais que desconfiam ter ou têm filhos homossexuais. Disponível em <http://www.gph. org.br>. Acesso em 27/08/2009. 9. Leões do Norte. Entidade de defesa e promoção dos direitos humanos, na luta pela defe- sa do meio ambiente e da ecologia, pelo fim da exploração do homem pelo homem, em defesa de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais. Disponível em <http://www. leoesdonorte.org.br/>. Acesso em 15/08/2009. 10. Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania LGBT. Desenvolvido por NUH - Núcleo de Di- reitos Humanos e Cidadania GLBT, 2010. Núcleo da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, que tem como propósito congregar pesquisadores e desenvolver atividades de pesquisa, ensino e extensão voltadas para o reconhecimento dos direitos, da cidadania, das identidades e das práticas culturais, políticas e sociais de indivíduos e grupos LGBT. Disponível em <http://www.fafich.ufmg.br/dhglbt/>. Acesso em 10/08/2009. 11. O Portal do Professor é um espaço para troca de experiências entre professores/as do en- sino fundamental e médio. É um ambiente virtual com recursos educacionais que facili- tam e dinamizam o trabalho dos/as professores/as. O conteúdo do portal inclui sugestões de aulas de acordo com o currículo de cada disciplina e recursos como vídeos, fotos, ma- pas, áudio e textos. Nele, o/a professor/a poderá preparar a aula, ficará informado sobre os cursos de capacitação oferecidos em municípios e estados e na área federal e sobre a legislação específica. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/index.html. 12. Observatório de Sexualidade e Política (SPW na sigla em inglês). Fórum global composto de pesquisadores/as e ativistas de vários países e regiões do mundo. Lançado em 2002 como o Grupo de Trabalho Internacional sobre Sexualidade e Políticas Sociais (IWGSSP na sigla em inglês), o fórum mudou o seu nome em 2006 para Observatório de Sexualidade e Política. Disponível em: <http://www.sxpolitics.org>. Acesso em 25/08/2009.
  • 44. 44 13. Seminário Internacional Fazendo Gênero. Realizado pela Universidade Federal de Santa Catarina e tem seu foco central em temas como gênero, educação, cultura, diversidade sexual etc. O evento reúne uma série de trabalhos sobre a abordagem da diversidade sexual na escola. Disponível em: http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/.