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Carolina Pereira Vala   História 2011/2012




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Carolina Pereira Vala                             História 2011/2012




             Introdução………………………………………………………………………………….pág. 3


             Entrevista……………………………………………………………………………………pág. 5


             Conclusão…………………………………………………………………………………..pág. 18




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Carolina Pereira Vala                                            História 2011/2012




        No âmbito da Disciplina de História foi-me proposto a elaboração de um
trabalho, cujo tema incidia essencialmente no período do Estado Novo. O objetivo era
realizar uma entrevista a alguém que tenha vivido no período em que Salazar foi
Presidente do Conselho em Portugal (1932-1968) e obter algumas informações
importantes e relevantes, pois são muitas vezes são as vivências de uma população
que fazem a história e relatam os acontecimentos. Portanto, nada melhor do que
entrevistar alguém que durante essa época tenha vivido em Portugal ou nas Colónias
Portuguesas. Poderia entrevistar uma dona de casa, um soldado que fora para a guerra
colonial, ou um emigrante que me pudesse relatar os acontecimentos e
principalmente descrever como era viver no Estado Novo, sob alçada do regime
Salazarista.

         No entanto, para abordar esta temática é necessário algum conhecimento
acerca dos acontecimentos mais importantes e das ideologias do regime. Como esta
matéria faz parte dos objetivos para o 12º ano, e já a abordámos nas aulas o que
facilita assim a organização da entrevista.

       Contudo, é importante relembrar que a 28 de Maio de 1926, deu-se um golpe
de Estado que derrubou a primeira República parlamentar e implementou um longo
processo de Ditadura Militar, que mais tarde deu lugar ao Estado Novo (1933-1974).

       Em Portugal a instabilidade politica, económica e social era gigantesca, o que
fez com que em 1932, Salazar tenha sido nomeado Presidente do Conselho, pois
anteriormente como Ministro das Finanças conseguiu a redução do défice e das
despesas públicas. Deste modo, implementou-se um modelo económico fortemente
intervencionista, onde todas as atividades se submetiam aos interesses da nação. É
então neste contexto que se propaga o slogan motivador: “Trabalhar e poupar, manda
Salazar”.

        Salazar defendia o uni-partidarismo, com a justificação de que os partidos
políticos apenas representavam as opiniões e interesses particulares, impedindo deste
modo a realização de eleições livres. Criou ainda alguns organismos de defesa do
Estado, de entre eles a PIDE (Policia Internacional e de Defesa do Estado) que tinha
como principal função a repressão de qualquer forma de oposição ao regime,
utilizando perseguição, repressão, prisão e tortura, do qual é exemplo o Forte de
Peniche, onde estavam alguns dos presos políticos. Foi também criada a Legião


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Portuguesa, uma organização paramilitar que se destinava-se a defender o Estado e a
conter a ameaça bolchevique e a Mocidade Portuguesa, idealizada de acordo com os
exemplos fascistas italianos e alemães. Tinha a função de preparar a juventude para o
“engrandecimento da Nação”.

       Neste tempo, a censura era exercida sobre as publicações nacionais e
estrangeiras, emissões de rádio e televisão, pois pretendiam proteger
permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo e defender a moral e os
bons costumes. Salazar defendia incansavelmente o Nacionalismo, o Colonialismo, o
Corporativismo e a lavoura nacional, que se apresentava como característica da nação
portuguesa. Deste modo, foi publicada a lição de Salazar (livros onde era criticada a
sociedade industrial e a enaltecia a atividade rural, onde a mulher era reduzida a um
papel passivo e onde a Igreja Católica era protegida e glorificada).

        É também importante salientar a política de obras públicas do regime, da qual
resultou um grande avanço nesta área, como é o caso da construção de grandes
estradas e pontes, de que é exemplo a Ponte 25 de Abril, anteriormente chamada,
Ponte Salazar. Apesar desta política, a indústria não constituiu um papel muito
importante nas obras de Salazar, ao contrário do projeto cultural, que muito foi
promovido à custa de António Ferro que dirigiu o Secretariado da Propaganda
Nacional. Este movimento pretendia inculcar na mentalidade portuguesa o amor à
pátria, o culto do passado glorioso e dos seus heróis, a consagração da ruralidade e da
tradição, as virtudes da família, alegria no trabalho e o culto do chefe.

       Porém, a maioria da população e o exército não estava satisfeito com a
situação do país. A restauração da democracia teve lugar quando, a 25 de Abril de
1974, um movimento militar pôs fim ao autoritarismo que tinha caracterizado os
últimos 42 anos de regime totalitarista e repressivo.




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Entrevistado: Joaquim de Sousa Pereira

Idade: 72

Residência durante o Estado Novo: Atouguia da Baleia
(Peniche), Castelo Branco, Santa Margarida, Luanda,
Alemanha

Residência atual: Atouguia da Baleia (Peniche)

Entrevistador: Carolina Pereira Vala

Assunto: Vida no período Salazarista/ Estado Novo
(1933-1974)


                                                             Joaquim Pereia, 19 anos, exército
Pequeno Resumo da Vida:

        Joaquim entrou na escola aos 8 anos, onde permaneceu até à 3ª classe.
Começou a trabalhar na agricultura aos 10 anos para ajudar a sustentar a família. Até
aos seus 19 anos, continuou sempre a fazer o mesmo trabalho, até ingressar no
exército, onde foi obrigado a permanecer, sem ter qualquer contacto com a família.
Esteve no exército em Castelo Branco e mais tarde em Santa Margarida, de onde
depois partiu aos 21 anos para cumprir serviço militar em Angola, mais propriamente
em Luanda como cozinheiro oficial. Após 27 meses, regressou a Portugal para visitar a
família. Pouco depois, regressou a África como civil, onde permaneceu 1 ano e meio
trabalhando como condutor de pesados. Depois deste tempo, voltou novamente a
Portugal para vir buscar a família que cá tinha deixado (mulher e filha) e emigrou para
a Alemanha em 1965, de onde só voltou 12 anos depois, quando já tinha sido
derrubada a ditadura de Salazar.




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Infância:

   1- Quando era criança andava na escola?
      Sim, estive até à 3ª classe.

   2- Que matérias eram lecionadas?
      Matérias eram poucas… eram as cópias, os ditados e pouco mais. Também
      dávamos um pouco de matemática.

   3- Então e na escola falava-se do regime e da maneira de estar em casa?
      No tempo atrasado não se falava nessas pequenas coisas. Não era importante.

   4- E tinha um professor ou uma professora?
      Era um professor.

   5- E o professor era muito rígido?
      Era super, era sim senhor.

   6- Havia divisões entre rapazes e raparigas?
      Sim, raparigas numa escola, rapazes noutra. A escola só tinha uma sala, nem
      dava para pôr lá todos.

   7- E havia castigos?
      Super castigos. Nem era com a mão, nem com a régua, era com uma corda.

   8- Qual era a relação entre o professor e o aluno?
      A relação entre o professor e os alunos era que os alunos viviam e estudavam
      oprimidos.

   9- Existia tempos livres?
      Tinha-se 10 minutos para vir ao recreio.

   10- Durante um dia inteiro, 10 minutos no recreio?
       Era, era, não havia tempo para mais.

   11- E o almoço era em casa?
       O almoço era em casa de cada um… O almoço não, que nem almoço havia.




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   12- Durante o tempo que estava na escola trabalhava?
       Muitas vezes faltava-se à escola para ir ajudar os pais, porque a situação era
       muito critica.

   13- Critica em que sentido?
       Em termos de dinheiro, mas principalmente de alimentos.

   14- E o trabalho que fazia era onde?
       No campo, agricultura.

   15- E trabalhava porque era necessário, certo?
       Porque era necessário e porque era obrigado.

   16- Recebia alguma coisa por ajudar os seus pais?
       Não, era só a ajuda.




                          Joaquim Pereia, e família numa vindima

   17- Havia pausas para descansar?
       Só nos dias grandes para lanchar. Trabalhava de Sol a Sol e ao meio da tarde
       parava-se para comer um bocadinho de pão com azeitonas.

   18- Quantas horas trabalhava?
       De Sol a Sol.

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   19- E nesta altura tinha amigos? Ou tempo para brincar?
       Os amigos eram poucos porque ninguém tinha vagar para brincar.

Juventude

   20- A sua juventude foi fácil?
       A juventude na época nunca foi fácil, até que chegou a hora de ir para a tropa.

   21- Como eram os relacionamentos amorosos nessa altura?
       No tempo da vida amorosa, para se ter contacto com as raparigas era preciso ir
       à fonte buscar uma bilha de água. Aí é que se conseguia conversar, pois por
       contrário os pais não autorizavam. E muito de longe em longe um pouco de
       bailarico.

   22- Havia tempo para estar com os amigos?
       Não havia muito tempo, porque cada um tinha o seu papel a desempenhar.

   23- Como era o vestuário?
       Era calças rotas e pé descalço. Só quando fui para a tropa é que tive umas botas
       (19 anos).

   24- Havia mais do que uma muda de roupa?
       Era só uma muda de roupa. Lavava-se à noite para vestir de manhã. E os lençóis
       da cama eram as sacas do trigo.

   25- Como eram as condições em casa?
       Em geral, péssimas. Começando por mim e acabando nos outros. Era último
       grau, não tinha nada. À noite, para fazer as necessidades tinha que ir ao
       quintal.

   26- Por exemplo, como é que cozinhavam?
       Era com lenha verde que só fazia fumo. Porque havia pouco que cozinhar.

   27- E no que respeita às mulheres, tinham a mesma liberdade?
       Não, muito diferente.

   28- Como assim, pode especificar?
       A mulher estava muito em casa, porque os pais não a deixavam sair. Os
       homens saiam mais, para brincar e trabalhar. O rapaz namorava com uma


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       rapariga e estava o pai à janela, a mãe à porta e o irmão no postigo. Não se
       podia dar um beijo, não podia nada.



Trabalho

   29- Quando é que deixou a escola e começou a trabalhar?
       Então, comecei a trabalhar aos 10 anos, que foi quando saí da escola.

   30- Quantas horas trabalhava?
       Em geral era toda a gente de sol a sol. Não havia as oito horas.

   31- E fazia o quê?
       Trabalhava no campo, na agricultura e por vezes com os animais.

   32- E recebia algum dinheiro?
       Não ganhava nada. Como trabalhava com os pais ganhava o comer.

   33- Como era um dia de trabalho?
       Trabalhava-se de Sol a Sol. Havia a pausa para almoçar, jantar e para a
       merenda.




                        Vindima onde estava o pai de Joaquim a trabalhar




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   34- E o que é que se comia nestas refeições?
       Era feijão com batatas e batatas com feijão. Não havia carne, não havia nada.
       Uma galinha era só uma vez por ano na Festa de Nossa Senhora.



   35- Qual era o nível de exigência do trabalho?
       Tinha poucas exigências porque trabalhava para os pais. Era só a
       responsabilidade do serviço que estava a desempenhar.

   36- E as mulheres também faziam o mesmo trabalho?
       Não, as mulheres nessa época trabalhavam mais como donas de casa. Só lá iam
       levar o almoço.

   37- As mulheres que trabalhavam sem ser em casa, tinha o mesmo ordenado que o
       homem?
       Não, não. Era menor, sempre menor. A mulher era inferior ao homem nessa
       época.

Família

   38- Como é que era a relação família?
       Pobre mas boa.

   39- E teve filhos?
       Sim, duas filhas.

   40- Neste caso as suas filhas andavam na escola?
       Andavam as duas.

   41- Era fácil tê-las na escola?
       Nessa época já era mais fácil, porque estava na Alemanha.

   42- A sua mulher trabalhava?
       Sim, em casa a tomar conta das crianças. Isto numa primeira fase de casados
       porque depois foi para uma fábrica na Alemanha.




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                        Joaquim Pereia e a mulher num carro de um amigo
Cidadania

   43- Sabendo que na altura o Salazar era o chefe de Estado, sentia-se pressionado
       pelo regime?
       Eu não porque era criança, mas os adultos sim, porque havia muitos
       informadores da PIDE e tinham medo de ir para a prisão.

   44- Reparou se nessa altura existiam campanhas a favor de Salazar. Ou seja a favor
       do regime?
       Havia essa política sim.

   45- E as pessoas podiam falar abertamente sobre tudo o que queriam?
       O indispensável ou nada. Não se podiam abrir a boca, senão eram logo presos.
       Havia muito medo.



   46- Podia votar?
       Não havia votos, o Salazar ocupou o poder 40 anos.

   47- Esteve inscrito em alguma associação do regime, como por exemplo a
       Mocidade Portuguesa?
       Não, não estive em nada disso.

   48- Tem conhecimento do que se passava na prisão de Peniche?


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       Agora tenho, mas quando era mais novo não me apercebia. Só depois de velho,
       quando voltei a Portugal é que soube, porque quando era “cachoupo” não dei
       por isso, nem íamos muitas vezes a Peniche.

   49- Em Peniche ou na Atouguia existia alguma dessas instituições?
       Não, não havia.

   50- Qual era a sua opinião sobre Salazar?
       Em geral poucos gostavam dele porque Salazar queria só para ele e não se
       importava que os outros passassem fome. Arrecadou muito ouro ao abrigo
       daqueles que passaram muita muita fome. Era tudo contra ele. Não nos
       deixava ir para as colónias e estava tudo em Portugal a passar fome.

   51- E pessoalmente gostava dele?
       Eu em principio não, tinha a barriga vazia.



Vida militar

   52- Esteve no exército?
       Sim, não posso é dizer quantas namoradas
       tive em África.

   53- Entrou quando?
       Aos 19 anos.

   54- E manteve-se lá até que ano?
       Até 1963, tinha 23 anos.

   55- Esteve nas colónias?
       Estive em Angola, mais propriamente em
       Luanda.


                                                     Um dos percursos do exército
   56- Quanto recebia por mês?                       em Angola
       Enquanto estive em Portugal 100 escudos (50 cêntimos), mas quando fui para
       Angola 600 escudos (3 euros).

   57- Qual é ou era a sua opinião quanto à guerra colonial?
       É que não teve qualquer jeito.


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     58- Porquê?
         Porque aquilo era dos Africanos, mas foi mal entregue (1975). Foram precisos
         morrer milhares de soldados, que se podia ter evitado.

     59- Quando partiu para África deixou família em Portugal?
         Sim, só namorada.

     60- Que trabalho desempenhava enquanto estava em Angola?
         Em todo o tempo fui cozinheiro.




Joaquim Pereia em Angola a cozinhar                   Soldados em Angola à espera do almoço


     61- Esteve na frente de combate?
         Não.

     62- Apesar de não ter estado na frente de combate viu pessoas morrerem?
         Algumas. Os pretos tinham na ideia que depois de morrerem ressuscitavam e o
         meu capitão, cortou cinco cabeças e pendurou-as lá num pau, para eles verem
         como não saiam de lá.

     63- Para além de ter visto os negros a morrerem, também viu alguns dos seus
         companheiros, certo?
         Sim, uns quantos.

     64- Qual era a relação entre os soldados e os habitantes das colónias?
         Era boa com as pessoas normais das cidades, porque com os terroristas era má.


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             Joaquim Pereia e os seus ajudantes de cozinha negros em África, Luanda


   65- Então não havia problemas entre o exército e os habitantes?
       Não, pois havia um problema. A população tinha medo do terrorismo, por isso
       eram amigos da tropa.

   66- Tem algumas histórias que possa contar?
       Estava eu a tomar banho em Santo António do Zaire, no rio e quando dei por
       ela, estava um jacaré a abrir a boca para me engolir, e eu, ao ver aquilo
       consegui fugir para terra.
       Estava numa mata a descansar e pensando que era uma árvore cortada era
       uma jibóia que estava enrolada. E até acabo em verso.
       Onde eu estava, ao passar o jipe com os oficiais, rebentou uma mina em cada
       roda do carro e ficou tudo desfeito. Depois a tropa matou os homens todos e
       as mulheres e as crianças tive eu que ir acartá-las para uma missão.



   67- Porque é que a tropa matou esses homens?
       Porque os terroristas meteram as minas e morreram os nossos oficiais.




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   68- Mas mataram os terroristas ou as outras pessoas?
       Mataram alguns terroristas, mas depois pagou o inocente pelo pecador, tudo o
       que era homem não escapou ninguém.




               Emboscada dos terroristas contra o exército Português em Angola


   69- Não tem mais nenhuma história?
       Tinha um colega da tropa, que vivia em Angola e ao fim-de-semana foi visitar os
       pais. Quando lá chegou estava tudo cortadinho e salgado dentro de uma
       barrica. O homem ficou de tal maneira que depois não podiam ver um preto à
       frente. Cada preto que via matava-o e depois mandava-o lá para a baía, para os
       jacarés.

Vida nas Colónias

   70- Como era a vida nas colónias?
       Era um sonho, porque tive lá 8 meses sem guerra e aquilo era um paraíso. Toda
       a gente vivia bem. Depois da guerra é que apareceu os problemas.



   71- E tinha amigos?
       Tinha.

   72- Negros ou brancos?

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       Os dois. Toda a gente queria que eu lhes desse comer, então tínhamos que ser
       todos amigos.




                        Almoço com os amigos nas Colónias- Luanda

   73- Quando estava lá nas colónias, saía e divertia-se?
       Antes da guerra. Quando estive lá como civil, não se podia sair porque era
       muito perigoso.




   74- Como                                                               é que era a
       vida nas colónias quando estava alguns dos amigos em África
                      Jogo de Futebol com lá a trabalhar como civil?



                                                                                     16
Carolina Pereira Vala                                             História 2011/2012

       Era muito pior. Era uma vida mais presa, porque não se podia sair. A qualquer
       momento aparecia um terrorista.

   75- Existia relacionamentos entre os negros e os bancos?
       Em geral havia.

   76- Nesse tempo que esteve lá como civil trabalhava em quê?
       Era como chofer de pesados.

   77- Depois de trabalhar nas colónias foi para onde?
       Para a Alemanha, até 1977.

   78- Gostou de emigrar ou preferia ter ficado cá?
       Preferia ter ficado cá, se a situação do país fosse boa.

   79- Foi para lá porquê?
       Porque a vida cá era difícil e eu queria dar uma boa vida à minha família.
       O regime era difícil, as condições eram mínimas, não havia condições de viver.
       Fui eu e milhares de pessoas.

   80- Quando terminou o regime de Salazar a vida em Portugal melhorou ou não?
       Sim, a vida melhorou, porque no tempo de Salazar estava tudo parado. No
       tempo de Salazar era só pobres e pobrezinhos e quando terminou o Salazar era
       só pobres, portanto melhorou.




                                                                                17
Carolina Pereira Vala                                                     História 2011/2012




        Com este trabalho confirmei algumas das teorias e ideias que tinha acerca deste
período da vida Portugal. Apesar de eu saber que este regime era totalitarista e repressivo, sei
que existiram também algumas marcas positivas, como o equilíbrio das finanças e a
restauração de monumentos nacionais. Contudo, e com a entrevista que realizei ao Sr.
Joaquim Pereira não detetei qualquer manifestação de agrado ou apoio ao regime, o que me
fez refletir um pouco mais acerca da situação social que se vivia na altura. Dei por mim
honestamente chocada com alguns dos relatos que remetiam muitas vezes para a fome e para
a falta de condições em que se vivia, pois comparando com alguns dos países da Europa,
apesar de também terem passado por alguns regimes repressivos, Portugal encontrava-se
bastante desatualizado.

        Fiquei bastante surpreendida com algumas das informações que adquiri, pois penso
que sejam bastante relevantes para o estudo desta questão. Apesar de ter recolhido alguma
informação já conhecida é sempre interessante saber como era viver antes do 25 de Abril e
principalmente conhecer algumas das curiosidades, que particularmente me tocaram, tanto
pela surpresa, como pelo aspeto histórico, o que me ajudou bastante a compreender algumas
mentalidades também mais recentes.

       O que mais me entusiasmou, foi de facto a realização da entrevista, na medida em que
considero que o desenrolar da conversa, que tentei tornar o mais informal possível, foi
bastante interessante e enriquecedor, tanto para mim, como para a pessoa entrevistada que
me revelou estar bastante satisfeita com o interesse dos mais jovens para esta problemática,
que considero que não deva ser esquecida, ou relativizada.

        Concluo extremamente satisfeita a elaboração deste pequeno trabalho, pois apesar de
ter sido bastante interessante e divertido de realizar (principalmente a entrevista), também
contribuiu em muito para o meu maior à vontade no que respeita falar do Estado Novo e de
como era viver nesse período concreto da História.




                                                                                          18

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Viver no estado novo(carolina vala)

  • 1. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 1
  • 2. Carolina Pereira Vala História 2011/2012  Introdução………………………………………………………………………………….pág. 3  Entrevista……………………………………………………………………………………pág. 5  Conclusão…………………………………………………………………………………..pág. 18 2
  • 3. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 No âmbito da Disciplina de História foi-me proposto a elaboração de um trabalho, cujo tema incidia essencialmente no período do Estado Novo. O objetivo era realizar uma entrevista a alguém que tenha vivido no período em que Salazar foi Presidente do Conselho em Portugal (1932-1968) e obter algumas informações importantes e relevantes, pois são muitas vezes são as vivências de uma população que fazem a história e relatam os acontecimentos. Portanto, nada melhor do que entrevistar alguém que durante essa época tenha vivido em Portugal ou nas Colónias Portuguesas. Poderia entrevistar uma dona de casa, um soldado que fora para a guerra colonial, ou um emigrante que me pudesse relatar os acontecimentos e principalmente descrever como era viver no Estado Novo, sob alçada do regime Salazarista. No entanto, para abordar esta temática é necessário algum conhecimento acerca dos acontecimentos mais importantes e das ideologias do regime. Como esta matéria faz parte dos objetivos para o 12º ano, e já a abordámos nas aulas o que facilita assim a organização da entrevista. Contudo, é importante relembrar que a 28 de Maio de 1926, deu-se um golpe de Estado que derrubou a primeira República parlamentar e implementou um longo processo de Ditadura Militar, que mais tarde deu lugar ao Estado Novo (1933-1974). Em Portugal a instabilidade politica, económica e social era gigantesca, o que fez com que em 1932, Salazar tenha sido nomeado Presidente do Conselho, pois anteriormente como Ministro das Finanças conseguiu a redução do défice e das despesas públicas. Deste modo, implementou-se um modelo económico fortemente intervencionista, onde todas as atividades se submetiam aos interesses da nação. É então neste contexto que se propaga o slogan motivador: “Trabalhar e poupar, manda Salazar”. Salazar defendia o uni-partidarismo, com a justificação de que os partidos políticos apenas representavam as opiniões e interesses particulares, impedindo deste modo a realização de eleições livres. Criou ainda alguns organismos de defesa do Estado, de entre eles a PIDE (Policia Internacional e de Defesa do Estado) que tinha como principal função a repressão de qualquer forma de oposição ao regime, utilizando perseguição, repressão, prisão e tortura, do qual é exemplo o Forte de Peniche, onde estavam alguns dos presos políticos. Foi também criada a Legião 3
  • 4. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Portuguesa, uma organização paramilitar que se destinava-se a defender o Estado e a conter a ameaça bolchevique e a Mocidade Portuguesa, idealizada de acordo com os exemplos fascistas italianos e alemães. Tinha a função de preparar a juventude para o “engrandecimento da Nação”. Neste tempo, a censura era exercida sobre as publicações nacionais e estrangeiras, emissões de rádio e televisão, pois pretendiam proteger permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo e defender a moral e os bons costumes. Salazar defendia incansavelmente o Nacionalismo, o Colonialismo, o Corporativismo e a lavoura nacional, que se apresentava como característica da nação portuguesa. Deste modo, foi publicada a lição de Salazar (livros onde era criticada a sociedade industrial e a enaltecia a atividade rural, onde a mulher era reduzida a um papel passivo e onde a Igreja Católica era protegida e glorificada). É também importante salientar a política de obras públicas do regime, da qual resultou um grande avanço nesta área, como é o caso da construção de grandes estradas e pontes, de que é exemplo a Ponte 25 de Abril, anteriormente chamada, Ponte Salazar. Apesar desta política, a indústria não constituiu um papel muito importante nas obras de Salazar, ao contrário do projeto cultural, que muito foi promovido à custa de António Ferro que dirigiu o Secretariado da Propaganda Nacional. Este movimento pretendia inculcar na mentalidade portuguesa o amor à pátria, o culto do passado glorioso e dos seus heróis, a consagração da ruralidade e da tradição, as virtudes da família, alegria no trabalho e o culto do chefe. Porém, a maioria da população e o exército não estava satisfeito com a situação do país. A restauração da democracia teve lugar quando, a 25 de Abril de 1974, um movimento militar pôs fim ao autoritarismo que tinha caracterizado os últimos 42 anos de regime totalitarista e repressivo. 4
  • 5. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Entrevistado: Joaquim de Sousa Pereira Idade: 72 Residência durante o Estado Novo: Atouguia da Baleia (Peniche), Castelo Branco, Santa Margarida, Luanda, Alemanha Residência atual: Atouguia da Baleia (Peniche) Entrevistador: Carolina Pereira Vala Assunto: Vida no período Salazarista/ Estado Novo (1933-1974) Joaquim Pereia, 19 anos, exército Pequeno Resumo da Vida: Joaquim entrou na escola aos 8 anos, onde permaneceu até à 3ª classe. Começou a trabalhar na agricultura aos 10 anos para ajudar a sustentar a família. Até aos seus 19 anos, continuou sempre a fazer o mesmo trabalho, até ingressar no exército, onde foi obrigado a permanecer, sem ter qualquer contacto com a família. Esteve no exército em Castelo Branco e mais tarde em Santa Margarida, de onde depois partiu aos 21 anos para cumprir serviço militar em Angola, mais propriamente em Luanda como cozinheiro oficial. Após 27 meses, regressou a Portugal para visitar a família. Pouco depois, regressou a África como civil, onde permaneceu 1 ano e meio trabalhando como condutor de pesados. Depois deste tempo, voltou novamente a Portugal para vir buscar a família que cá tinha deixado (mulher e filha) e emigrou para a Alemanha em 1965, de onde só voltou 12 anos depois, quando já tinha sido derrubada a ditadura de Salazar. 5
  • 6. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Infância: 1- Quando era criança andava na escola? Sim, estive até à 3ª classe. 2- Que matérias eram lecionadas? Matérias eram poucas… eram as cópias, os ditados e pouco mais. Também dávamos um pouco de matemática. 3- Então e na escola falava-se do regime e da maneira de estar em casa? No tempo atrasado não se falava nessas pequenas coisas. Não era importante. 4- E tinha um professor ou uma professora? Era um professor. 5- E o professor era muito rígido? Era super, era sim senhor. 6- Havia divisões entre rapazes e raparigas? Sim, raparigas numa escola, rapazes noutra. A escola só tinha uma sala, nem dava para pôr lá todos. 7- E havia castigos? Super castigos. Nem era com a mão, nem com a régua, era com uma corda. 8- Qual era a relação entre o professor e o aluno? A relação entre o professor e os alunos era que os alunos viviam e estudavam oprimidos. 9- Existia tempos livres? Tinha-se 10 minutos para vir ao recreio. 10- Durante um dia inteiro, 10 minutos no recreio? Era, era, não havia tempo para mais. 11- E o almoço era em casa? O almoço era em casa de cada um… O almoço não, que nem almoço havia. 6
  • 7. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 12- Durante o tempo que estava na escola trabalhava? Muitas vezes faltava-se à escola para ir ajudar os pais, porque a situação era muito critica. 13- Critica em que sentido? Em termos de dinheiro, mas principalmente de alimentos. 14- E o trabalho que fazia era onde? No campo, agricultura. 15- E trabalhava porque era necessário, certo? Porque era necessário e porque era obrigado. 16- Recebia alguma coisa por ajudar os seus pais? Não, era só a ajuda. Joaquim Pereia, e família numa vindima 17- Havia pausas para descansar? Só nos dias grandes para lanchar. Trabalhava de Sol a Sol e ao meio da tarde parava-se para comer um bocadinho de pão com azeitonas. 18- Quantas horas trabalhava? De Sol a Sol. 7
  • 8. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 19- E nesta altura tinha amigos? Ou tempo para brincar? Os amigos eram poucos porque ninguém tinha vagar para brincar. Juventude 20- A sua juventude foi fácil? A juventude na época nunca foi fácil, até que chegou a hora de ir para a tropa. 21- Como eram os relacionamentos amorosos nessa altura? No tempo da vida amorosa, para se ter contacto com as raparigas era preciso ir à fonte buscar uma bilha de água. Aí é que se conseguia conversar, pois por contrário os pais não autorizavam. E muito de longe em longe um pouco de bailarico. 22- Havia tempo para estar com os amigos? Não havia muito tempo, porque cada um tinha o seu papel a desempenhar. 23- Como era o vestuário? Era calças rotas e pé descalço. Só quando fui para a tropa é que tive umas botas (19 anos). 24- Havia mais do que uma muda de roupa? Era só uma muda de roupa. Lavava-se à noite para vestir de manhã. E os lençóis da cama eram as sacas do trigo. 25- Como eram as condições em casa? Em geral, péssimas. Começando por mim e acabando nos outros. Era último grau, não tinha nada. À noite, para fazer as necessidades tinha que ir ao quintal. 26- Por exemplo, como é que cozinhavam? Era com lenha verde que só fazia fumo. Porque havia pouco que cozinhar. 27- E no que respeita às mulheres, tinham a mesma liberdade? Não, muito diferente. 28- Como assim, pode especificar? A mulher estava muito em casa, porque os pais não a deixavam sair. Os homens saiam mais, para brincar e trabalhar. O rapaz namorava com uma 8
  • 9. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 rapariga e estava o pai à janela, a mãe à porta e o irmão no postigo. Não se podia dar um beijo, não podia nada. Trabalho 29- Quando é que deixou a escola e começou a trabalhar? Então, comecei a trabalhar aos 10 anos, que foi quando saí da escola. 30- Quantas horas trabalhava? Em geral era toda a gente de sol a sol. Não havia as oito horas. 31- E fazia o quê? Trabalhava no campo, na agricultura e por vezes com os animais. 32- E recebia algum dinheiro? Não ganhava nada. Como trabalhava com os pais ganhava o comer. 33- Como era um dia de trabalho? Trabalhava-se de Sol a Sol. Havia a pausa para almoçar, jantar e para a merenda. Vindima onde estava o pai de Joaquim a trabalhar 9
  • 10. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 34- E o que é que se comia nestas refeições? Era feijão com batatas e batatas com feijão. Não havia carne, não havia nada. Uma galinha era só uma vez por ano na Festa de Nossa Senhora. 35- Qual era o nível de exigência do trabalho? Tinha poucas exigências porque trabalhava para os pais. Era só a responsabilidade do serviço que estava a desempenhar. 36- E as mulheres também faziam o mesmo trabalho? Não, as mulheres nessa época trabalhavam mais como donas de casa. Só lá iam levar o almoço. 37- As mulheres que trabalhavam sem ser em casa, tinha o mesmo ordenado que o homem? Não, não. Era menor, sempre menor. A mulher era inferior ao homem nessa época. Família 38- Como é que era a relação família? Pobre mas boa. 39- E teve filhos? Sim, duas filhas. 40- Neste caso as suas filhas andavam na escola? Andavam as duas. 41- Era fácil tê-las na escola? Nessa época já era mais fácil, porque estava na Alemanha. 42- A sua mulher trabalhava? Sim, em casa a tomar conta das crianças. Isto numa primeira fase de casados porque depois foi para uma fábrica na Alemanha. 10
  • 11. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Joaquim Pereia e a mulher num carro de um amigo Cidadania 43- Sabendo que na altura o Salazar era o chefe de Estado, sentia-se pressionado pelo regime? Eu não porque era criança, mas os adultos sim, porque havia muitos informadores da PIDE e tinham medo de ir para a prisão. 44- Reparou se nessa altura existiam campanhas a favor de Salazar. Ou seja a favor do regime? Havia essa política sim. 45- E as pessoas podiam falar abertamente sobre tudo o que queriam? O indispensável ou nada. Não se podiam abrir a boca, senão eram logo presos. Havia muito medo. 46- Podia votar? Não havia votos, o Salazar ocupou o poder 40 anos. 47- Esteve inscrito em alguma associação do regime, como por exemplo a Mocidade Portuguesa? Não, não estive em nada disso. 48- Tem conhecimento do que se passava na prisão de Peniche? 11
  • 12. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Agora tenho, mas quando era mais novo não me apercebia. Só depois de velho, quando voltei a Portugal é que soube, porque quando era “cachoupo” não dei por isso, nem íamos muitas vezes a Peniche. 49- Em Peniche ou na Atouguia existia alguma dessas instituições? Não, não havia. 50- Qual era a sua opinião sobre Salazar? Em geral poucos gostavam dele porque Salazar queria só para ele e não se importava que os outros passassem fome. Arrecadou muito ouro ao abrigo daqueles que passaram muita muita fome. Era tudo contra ele. Não nos deixava ir para as colónias e estava tudo em Portugal a passar fome. 51- E pessoalmente gostava dele? Eu em principio não, tinha a barriga vazia. Vida militar 52- Esteve no exército? Sim, não posso é dizer quantas namoradas tive em África. 53- Entrou quando? Aos 19 anos. 54- E manteve-se lá até que ano? Até 1963, tinha 23 anos. 55- Esteve nas colónias? Estive em Angola, mais propriamente em Luanda. Um dos percursos do exército 56- Quanto recebia por mês? em Angola Enquanto estive em Portugal 100 escudos (50 cêntimos), mas quando fui para Angola 600 escudos (3 euros). 57- Qual é ou era a sua opinião quanto à guerra colonial? É que não teve qualquer jeito. 12
  • 13. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 58- Porquê? Porque aquilo era dos Africanos, mas foi mal entregue (1975). Foram precisos morrer milhares de soldados, que se podia ter evitado. 59- Quando partiu para África deixou família em Portugal? Sim, só namorada. 60- Que trabalho desempenhava enquanto estava em Angola? Em todo o tempo fui cozinheiro. Joaquim Pereia em Angola a cozinhar Soldados em Angola à espera do almoço 61- Esteve na frente de combate? Não. 62- Apesar de não ter estado na frente de combate viu pessoas morrerem? Algumas. Os pretos tinham na ideia que depois de morrerem ressuscitavam e o meu capitão, cortou cinco cabeças e pendurou-as lá num pau, para eles verem como não saiam de lá. 63- Para além de ter visto os negros a morrerem, também viu alguns dos seus companheiros, certo? Sim, uns quantos. 64- Qual era a relação entre os soldados e os habitantes das colónias? Era boa com as pessoas normais das cidades, porque com os terroristas era má. 13
  • 14. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Joaquim Pereia e os seus ajudantes de cozinha negros em África, Luanda 65- Então não havia problemas entre o exército e os habitantes? Não, pois havia um problema. A população tinha medo do terrorismo, por isso eram amigos da tropa. 66- Tem algumas histórias que possa contar? Estava eu a tomar banho em Santo António do Zaire, no rio e quando dei por ela, estava um jacaré a abrir a boca para me engolir, e eu, ao ver aquilo consegui fugir para terra. Estava numa mata a descansar e pensando que era uma árvore cortada era uma jibóia que estava enrolada. E até acabo em verso. Onde eu estava, ao passar o jipe com os oficiais, rebentou uma mina em cada roda do carro e ficou tudo desfeito. Depois a tropa matou os homens todos e as mulheres e as crianças tive eu que ir acartá-las para uma missão. 67- Porque é que a tropa matou esses homens? Porque os terroristas meteram as minas e morreram os nossos oficiais. 14
  • 15. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 68- Mas mataram os terroristas ou as outras pessoas? Mataram alguns terroristas, mas depois pagou o inocente pelo pecador, tudo o que era homem não escapou ninguém. Emboscada dos terroristas contra o exército Português em Angola 69- Não tem mais nenhuma história? Tinha um colega da tropa, que vivia em Angola e ao fim-de-semana foi visitar os pais. Quando lá chegou estava tudo cortadinho e salgado dentro de uma barrica. O homem ficou de tal maneira que depois não podiam ver um preto à frente. Cada preto que via matava-o e depois mandava-o lá para a baía, para os jacarés. Vida nas Colónias 70- Como era a vida nas colónias? Era um sonho, porque tive lá 8 meses sem guerra e aquilo era um paraíso. Toda a gente vivia bem. Depois da guerra é que apareceu os problemas. 71- E tinha amigos? Tinha. 72- Negros ou brancos? 15
  • 16. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Os dois. Toda a gente queria que eu lhes desse comer, então tínhamos que ser todos amigos. Almoço com os amigos nas Colónias- Luanda 73- Quando estava lá nas colónias, saía e divertia-se? Antes da guerra. Quando estive lá como civil, não se podia sair porque era muito perigoso. 74- Como é que era a vida nas colónias quando estava alguns dos amigos em África Jogo de Futebol com lá a trabalhar como civil? 16
  • 17. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Era muito pior. Era uma vida mais presa, porque não se podia sair. A qualquer momento aparecia um terrorista. 75- Existia relacionamentos entre os negros e os bancos? Em geral havia. 76- Nesse tempo que esteve lá como civil trabalhava em quê? Era como chofer de pesados. 77- Depois de trabalhar nas colónias foi para onde? Para a Alemanha, até 1977. 78- Gostou de emigrar ou preferia ter ficado cá? Preferia ter ficado cá, se a situação do país fosse boa. 79- Foi para lá porquê? Porque a vida cá era difícil e eu queria dar uma boa vida à minha família. O regime era difícil, as condições eram mínimas, não havia condições de viver. Fui eu e milhares de pessoas. 80- Quando terminou o regime de Salazar a vida em Portugal melhorou ou não? Sim, a vida melhorou, porque no tempo de Salazar estava tudo parado. No tempo de Salazar era só pobres e pobrezinhos e quando terminou o Salazar era só pobres, portanto melhorou. 17
  • 18. Carolina Pereira Vala História 2011/2012 Com este trabalho confirmei algumas das teorias e ideias que tinha acerca deste período da vida Portugal. Apesar de eu saber que este regime era totalitarista e repressivo, sei que existiram também algumas marcas positivas, como o equilíbrio das finanças e a restauração de monumentos nacionais. Contudo, e com a entrevista que realizei ao Sr. Joaquim Pereira não detetei qualquer manifestação de agrado ou apoio ao regime, o que me fez refletir um pouco mais acerca da situação social que se vivia na altura. Dei por mim honestamente chocada com alguns dos relatos que remetiam muitas vezes para a fome e para a falta de condições em que se vivia, pois comparando com alguns dos países da Europa, apesar de também terem passado por alguns regimes repressivos, Portugal encontrava-se bastante desatualizado. Fiquei bastante surpreendida com algumas das informações que adquiri, pois penso que sejam bastante relevantes para o estudo desta questão. Apesar de ter recolhido alguma informação já conhecida é sempre interessante saber como era viver antes do 25 de Abril e principalmente conhecer algumas das curiosidades, que particularmente me tocaram, tanto pela surpresa, como pelo aspeto histórico, o que me ajudou bastante a compreender algumas mentalidades também mais recentes. O que mais me entusiasmou, foi de facto a realização da entrevista, na medida em que considero que o desenrolar da conversa, que tentei tornar o mais informal possível, foi bastante interessante e enriquecedor, tanto para mim, como para a pessoa entrevistada que me revelou estar bastante satisfeita com o interesse dos mais jovens para esta problemática, que considero que não deva ser esquecida, ou relativizada. Concluo extremamente satisfeita a elaboração deste pequeno trabalho, pois apesar de ter sido bastante interessante e divertido de realizar (principalmente a entrevista), também contribuiu em muito para o meu maior à vontade no que respeita falar do Estado Novo e de como era viver nesse período concreto da História. 18