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ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
O SUBÚRBIO, A ESCOLA E OS IMIGRANTES: Os primórdios da “Escola Preliminar
Mixta da Estação de Osasco” - 1900/1910.
Sonia Regina Martim
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP
Quando entendemos a história como a ''arte de enxergar o particular'' necessariamente
diminuímos o propósito da nossa abordagem e nos debruçamos mais sobre os detalhes. Com isso,
os dados que, a princípio nos parecem sem conotações específicas, passam a nos oferecer o
contexto para o desenvolvimento de uma história peculiar que construímos a partir de informações
fragmentadas.
‘’O fato de uma fonte não ser “objetiva” (mas nem mesmo um inventário é “objetivo”)
não significa que seja inutilizável. Uma crônica hostil pode fornecer testemunhos
preciosos sobre o comportamento de uma comunidade camponesa em revolta...Mesmo
uma documentação exígua, dispersa e renitente pode, portanto, ser aproveitada.”
Ginzburg (1987. p 21).
Sob essa ótica e, como grande parte das fontes que utilizo1
é composta por documentos
escolares -- que por serem padronizados nem sempre reproduzem fielmente a realidade dada em
sala de aula -- procuro servir-me de todas as informações que encontro. Mesmo aquelas que
aparentemente são superficiais têm oferecido a oportunidade de encontrar uma imensa gama de
detalhes e me permitido vislumbrar o cotidiano da sociedade local em que aquela escola se insere.
Tenho tentado, a partir de simples listas de chamada e atas de exames finais, fazer uma
releitura desses documentos, investigando aquilo que se oculta por detrás das aparências dadas. Este
procedimento tem a pretensão de tomar como referência à análise de Carlos Ginzburg, que busca, a
partir de peças inquisitoriais, desembaraçar os fios da trama que lhe permite ver os sujeitos, não
pelos olhos do inquisidor que produziu o inquérito, mas por sobre os ombros destes, enxergando e
desvendando os indícios que permitem uma nova visão daquele momento histórico.
Foi a partir da premissa defendida por Ginzburg de que ''... minúcias em geral consideradas
triviais e sem importância, 'aquém da atenção', fornecem a chave para as maiores conquistas do
gênio Humano'' (1991, pág 97) e de que mesmo inconscientemente cada fonte nos permite ''... saltar
de fatos aparentemente insignificantes, que podem ser observados, para uma realidade complexa, a
qual, pelo menos diretamente, não é dada à observação. E esses fatos podem ser ordenados pelo
observador de modo a proporcionar uma seqüência narrativa...'' (Pág. 100), pois ''...o conhecimento
do historiador é indireto, baseado em signos e fragmentos de evidências conjectural.'' (pág 105), que
pus me a desconstruir e construir a partir de pequenos achados -- quatro livros de chamada dos
1
Fontes utilizadas em pesquisa que realizo junto ao Programa de Pós Graduação em Educação: Historia,
Política, Sociedade, da PUC/SP.
1
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
alunos: Escola Mixta da Estação de Osasco de 1903 a 1906, Escola do Sexo Feminino da Estação
de Osasco de 1907 a 1909, Escola do Sexo Feminino da Estação de Osasco de 1909 a 1910 e
Escola Masculina da Estação de Osasco de 1907 a 1909 – buscando a ''... capacidade de saltar do
conhecido para o desconhecido por meio da inferência...'' (pág. 128), proceder o resgate do que
compunha a embrionária comunidade osasquense, entre 1900 e 1910.
Ao examinar essas listas manuscritas percebi que fatos banais da rotina de uma escola
podem nos remeter a uma experiência magnífica, principalmente, quando constatamos que durante
cerca de um século esses papeis estiveram guardados sem que, aparentemente, ninguém lhes
atribuísse maior valor. De repente, nas mãos do pesquisador essa documentação passa a ter
significado e importância, constituindo a argamassa fundamental para a reconstrução de um
momento histórico.
Como minha pesquisa visa resgatar a história da escola em Osasco, torna-se fundamental
que, paralelamente, ocorra o resgate da história dessa comunidade que começa a se formar em fins
de século XIX e começo do XX, pois seria impossível analisar a escola isoladamente.
A cidade de Osasco (hoje integrante da região metropolitana de São Paulo), até final do
século XIX, configurava-se como uma região de sítios e chácaras que compunha um cinturão
(resultado da divisão das grandes sesmarias rurais) periférico do centro da cidade de São Paulo,
onde se podia encontrar a combinação da atividade agrícola com a produção de olarias, que
utilizavam as terras da várzea do Tietê.
O início do processo de urbanização da região central de Osasco está diretamente vinculado
às transformações por que passava a cidade de São Paulo em fins do século XIX e, no plano local,
às ações individuais do imigrante italiano Antonio Agú.
Com efeito, no fim do século XIX passou a ser proibida, por lei, a construção de cortiços na
área central da cidade de São Paulo. A criação do zoneamento urbano excluiu também “casa de
operários e cubículos” (Rolnik, 1999. p.36), estabelecendo, assim, uma série de exigências que
inviabilizavam a habitação de operários na região central.
Essa legislação restritiva – e de certo modo, excludente – atendia a um “mercado imobiliário
que se apresenta em explosão”, como nos define Rolnik (1999. p.37) e com isso, “proibiu-se
genericamente a presença de pobres no centro da cidade” de São Paulo.
Vivia-se o momento da “construção de uma nova imagem pública para a cidade, aquela de
um cenário limpo e ordenado que correspondia à respeitabilidade burguesa com a qual a elite do
café se identificava”, numa fase em que “o tema da higiene dominou grande parte do debate
urbanístico internacional”. (Rolnik, 1999. p. 37)”.
Nessa medida, era preciso excluir os pobres do cenário urbano e moderno da cidade, que a
elite cafeeira dominante no centro de São Paulo se propunha a criar, pois aqueles, sobretudo os que
2
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
apresentavam a imagem fortemente estigmatizada do imigrante, representavam as doenças e a
imoralidade que deveriam ser rejeitadas.
A equação era até bem simples do ponto de vista da classe dominante: a fim de promover a
limpeza, era preciso banir a promiscuidade com a qual o imigrante era identificado. Afinal, ele não
se enquadrava na nova imagem proposta -- moderna e civilizada.
É dentro desse contexto que se proliferaram os bairros populares na periferia da cidade,
normalmente constituídos por chácaras e que depois de loteadas passavam a compor pequenos
núcleos urbanos. Nessas áreas, as normas estabelecidas pela legislação para a conformação dos
lotes não eram respeitadas e bastava que a localidade dispusesse de alguma forma de acesso à
região central da cidade para que o investimento imobiliário fosse garantido.
No caso específico de Osasco, a estrada de ferro já passava por suas terras desde 1875,
bastava apenas que ali se estabelecesse um ponto de parada, o que ficou garantido com a construção
da estação em 1895.
“O mercado imobiliário, nos seus vários segmentos, representava uma das principais
possibilidades de mobilidade social para imigrantes que chegaram com pouca ou
nenhuma poupança.” (Rolnik, 1999. p. 119)
Não é difícil inferir que a região, à época, era uma grande extensão de terras, tendo sido
Antonio Agu o primeiro imigrante italiano a compra-las no local.
Como nos mostra Rolnik, era comum à época que os pequenos investidores aumentassem
seu capital fazendo reinvestimentos;
“... tratavam de comprar um terreno à prestação, depois de pago, o terreno era
hipotecado e com o dinheiro construíam pequenas casas. Cada casa, depois de paga,
também era hipotecada para formar o capital inicial de um negócio próprio. Dessa
forma, o investimento imobiliário constituía, ao mesmo tempo, uma estratégia de
sobrevivência e possibilidade de ascensão social” (1999. p. 120).
Agu começou a reinvestir nessas terras, seguindo a prática de hipotecar bens para promover
a aquisição de mais capital. Buscou parcerias que possibilitassem o desenvolvimento dos seus
negócios, além de promover uma verdadeira transformação nas formas de produção que ainda
sobreviviam na localidade. Começou por ampliar sua olaria e, em 1898, mediante contrato,
arrendou-a ao barão Evaristhe Sansaud de Lavoud, que se comprometeu a construir um forno de
fogo contínuo.
Em sociedade com Henrique Dell’Acqua instalou uma fábrica de tecidos.
Em 1892 implantou uma indústria de cartonagem em sociedade com Narciso Sturlini. Em
1908, Sturlini se associou a Nicolau Matarazzo, que serviu de intermediário para que Francisco
Matarazzo aplicasse capital na sociedade, sendo que esse investimento deveria ser pago através do
fornecimento de papel às fábricas da Cia Matarazzo. Desta forma foi criada a Sturlini & Matarazzo,
3
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
primeira fábrica de papelão da América Latina, que passou a ser conhecida como “Cartieira” em
razão de também produzir carteiras para cigarro (que em italiano tem esse nome). Essa fábrica
estava localizada ao lado do córrego Boycicaba (atual Bussocaba), numa área distante da estação
ferroviária, portanto distante do centro urbano que se formava onde logo foi construída uma vila
operária em torno da empresa.
A oportunidade decisiva para consolidação de mais um bairro operário na periferia da capital
surgiu quando, em 1895, a ferrovia Sorocabana abriu um desvio no Km 16 – desvio do Boycicaba.
Antonio Agu construiu uma estação de alvenaria e a doou à empresa ferroviária, exigindo em troca
que tivesse o nome de Osasco, denominação da localidade onde nascera, em Piemonte, na Itália.
As causas que levaram Antonio Agú a construir a estação podem ser analisadas de várias
formas, mas é indubitável que esse benefício acabou facilitando o escoamento das mercadorias ali
produzidas, valorizou em grande medida os lotes que estavam sendo vendidos a famílias de
operários e promoveu a vinda de novos produtores que também anteviam maior facilidade no
recebimento de matérias-primas, alterando significativamente o ritmo de desenvolvimento.
Para o urbanista Angelo Melli, Secretário de Planejamento e Gestão de Osasco “o trem tinha
dupla função: ele transportava gente e também matéria-prima para as primeiras fábricas que se
construíam nas cidades” (Figueiredo. 1996, p. 164).
Entre 1893 e 1907 a empresa de Antonio Agú realizou diversas vendas de terrenos nos
arredores da estação. Pudemos verificar que a maioria dos terrenos foi vendida a famílias italianas,
exceto os adquiridos por: Dr.Victor Ayrosa (dono de um grande sítio da região); família do barão
Sansaud de Lavoud (proprietária da Companhia cerâmica arrendada de Antonio Agu); irmãos Levy
(sócios de Sansaud de Lavoud na Companhia de Cerâmica) e a Companhia Sorocabana. Essas
vendas foram realizadas para trinta e seis famílias e uma empresa; dessas famílias, trinta e três eram
italianas e dentre estas, trinta e uma representavam pequenos investidores que, aproveitando o preço
acessível e as facilidades de pagamento, compravam lotes para a construção de moradias ou para
estabelecer um pequeno negócio.
“Ao contrário dos loteamentos residenciais exclusivos, que procuravam predefinir o tipo
de uso ao estabelecer um tamanho de lote e, posteriormente, garantir uma forma de
implantação através de lei, o loteamento no subúrbio popular era o que Victor da Silva
Freire denominava “lote para o que der e vier”.” (Rolnik, 1999, p. 116).
Isso fica claramente demonstrado em historiamara2
:
“Uma das características desses lotes que a cidade de Osasco, em sua divisão urbana
central, carrega ainda hoje são as quadras e ruas irregulares. Isso ocorre porque, na
época, o centro de Osasco era um enorme alagado. E essa condição natural fazia com
2
Site www.osasco.com.br/osasco/históriamara
4
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
que os moradores escolhessem lugares menos encharcados para construir suas casas. No
escolhe aqui, afasta dali, os lotes ficaram irregulares em suas formas geométricas.
Não havia projeto de loteamento antes da venda ou da construção da moradia. Primeiro
se fazia a casa, depois é que se media e demarcava o lote.”
E conforme relato do sr. Manoel Coutinho:
‘’... mas o pouco dinheiro que as pessoas conseguiam economizar era para pagar o
terreninho que haviam comprado ou pretendiam comprar. Quando um morador
conseguia comprar o seu terreno, que seria pago em prestações, ele fazia um barracão de
madeira coberto de sapé e mudava-se para lá com a família. Na parte de trás ele plantava
verduras e criava galinhas, patos, porcos. Aos poucos, ele ia construindo a sua casa de
alvenaria, fazendo um cômodo por vez. Mas havia igualdade: éramos todos pobres,
todos começávamos do nada e nos ajudávamos uns aos outros’’ (Oliveira. 1992, p. 130)
Por sua vez, os administradores públicos de São Paulo empenhavam-se em encerrar o velho
e inaugurar uma nova cidade, onde o futuro era concebido como melhoramento e progresso, e o
homem comum passava a ser visto como ser individual e social.
“A partir do ponto de vista das classes sociais superiores, os ideólogos produzem um
discurso sobre a vida pública e, apoiados na idéia de progresso, fabricam uma hierarquia das
culturas” (Monarcha. 1999, p.75). Dentro desse ideário intensificam–se as discussões em torno da
segurança, da propriedade e da instrução, criando-se instituições de repressão e de persuasão, a
polícia e a instrução pública, respectivamente.
A função da polícia era identificar e “punir toda sorte de atos considerados intoleráveis à
ordem pública e fora dos limites da civilidade”. (Monarcha. 1999, p. 80)
Por outro lado, era necessário difundir a instrução como uma das estratégias possíveis de
combate à criminalidade e como meio eficaz para a defesa da civilização – idéia que passou a ser
confundida com domínio da leitura e da escrita. Assim, se a sociedade apresentava-se dividida entre
alfabetizados e incultos, a escola atuaria junto às camadas inferiores da sociedade, promovendo a
felicidade do povo.
A partir dessa premissa e já contando com a estação para a parada do trem, foi criada, em
1900, a ‘’Escola Preliminar Mixta do Bairro do Mutinga’’. Em 1901, essa escola passou a
denominar-se “Escola Preliminar Mixta da Estação de Osasco” e, em 1907, foi desmembrada em
duas: “Seção Masculina” e “Seção Feminina”.
É incrível como pequenas coisas nos revelam tanto sobre o passado, pois foi a partir das
burocráticas listas de chamada dos alunos daquela escola que pude ter contato com os primeiros
moradores da embrionária ‘’Vila Osasco’’.
No princípio as aulas eram ministradas na casa da professora, que ficava na Rua da Estação,
e somente em 1901 a escola passou a funcionar em uma sala destinada à essa finalidade.
5
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
Dessas relações de nomes pude perceber como se transformava a composição dos habitantes
da vila, naquele período, e deduzir o fluxo migratório para a região. Pois se podemos afirmar que a
escola reflete a sociedade na qual está inserida, ao analisarmos os nomes dos alunos dessa década,
podemos concluir, então, que o grande fluxo de imigração italiana para Osasco ocorreu a partir de
1906, conforme o que segue:
ALUNOS DA ‘’ESCOLA PRELIMINAR DA ESTAÇÃO DE OSASCO’’ -- de 1901 a 1910
ANO 1901 1902 1903 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910(*)
TOTAL 30 14 31 36 39 46 88 103 111 52
Não italianos 17 08 16 23 22 23 28 31 26 15
ITALIANOS 13 06 15 13 17 23 60 72 85 37
PORCENTAGEM 43% 43% 48% 36% 43,5% 50% 68% 70% 76,5% 71%
(*) – no ano de 1910 consta somente a escola feminina.
- De 1901 a 1905 – varia entre 36% e 48% - tendo uma média de 42,7%
- De 1906 atinge os 50%
- No final da década gira em torno de 70% (sendo que em 1909 é de 76,5%)
Em 1906, dos 46 alunos da escola, somente a metade deles eram de origem italiana (23). No
entanto, no ano seguinte a escola passou a ter 88 estudantes, ou seja, um crescimento total de 91%
(quase o dobro) e o número de alunos de origem não italiana passa de 23 para somente 28,
representando um crescimento de apenas 21%, o que, se comparado ao crescimento total de 91%, é
pouco significativo.
1906 1907 1908 1909
TOTAL 46 88 103 111
NÃO ITALIANOS 23 28 031 026
ITALIANOS 23 60 072 085
CRESCIMENTO
ESCOLA
ITALIANOS
91%
160%
17%
20%
7%
18%
Desta relação podemos concluir que a partir de 1907 intensificou-se, consideravelmente, o
número de italianos que passaram a freqüentar a escola e que, provavelmente, se estabeleceram na
localidade. O crescimento percentual do número dos alunos imigrantes é sempre maior que o
crescimento percentual da escola, confirmando, assim, que a escola desse período crescia,
principalmente, em função do número de italianos que ali se estabeleciam.
6
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
7
O gráfico a seguir reflete claramente esta relação:
ALUNOS DA ESCOLA PRELIMINAR DA ESTAÇÃO DE OSASCO – 1901/1909
1901
1902
1903
Instalados nos arredores da Estação de Osasco, os italianos criaram um novo pólo de
desenvolvimento. Além de trabalhar duro, essa comunidade se divertia nadando e pescando nas
águas limpas do rio Tietê, caçando nas imediações da vila, dançando nos ‘’bailinhos’’ realizados
nas casas comerciais do centro (animados por gramofone, pois em Osasco ainda não havia luz
elétrica), fazendo serenatas defronte a casa das moças, ou ainda, jogando futebol e bocha, jogo
muito comum entre os imigrantes italianos. Enfim, como dizia o sr. Chiquinho Pavão (Germano
Pavão), que foi aluno da Escola preliminar da Estação de Osasco:
“A vida aqui em Osasco, naquela época, não era fácil, mas era muito divertida”
(Oliveira. 1992, p. 112)
Buscando recuperar as relações socioculturais existentes entre a escola e a comunidade, foi
possível -- a partir das listas de chamada da escola local -- fazer uma projeção do fluxo migratório
na primeira década do século XX, em Osasco.
Ao fazer este mesmo tipo de analise três décadas depois, pude perceber que em 1938 -- após
o fluxo migratório que o Brasil viveu ao final da Primeira Guerra Mundial -- o percentual de alunos
descendentes das famílias italianas que em 1909 era de 76,5%, é sensivelmente reduzido (36,75%),
demonstrando que, no final da década de 30, Osasco não se enquadrava mais na condição de
sociedade majoritariamente italiana. Naquele momento a sociedade osasquense era composta de
uma mescla de descendentes de diversas origens.
0
50
100
150 1904
1905
1901
1904
1907
1906
1907
1908
TOTAL italianos não
italianos
1909
ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
8
osasco/historiamara/historia.htm, em 9/11/1999.
FIGUEIREDO,Rubens e Lamounier, Bolívar. As cidades que dão certo: experiências
inovadoras na administração pública brasileira. Brasília: MH Comunicação,
1996.
GINZBURG, Carlo. 4. Chaves do mistério: Morelli, Freud e Sherlock Holmes. in: O Signo
de três. São Paulo, Editora Perspectiva, 1991.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido
pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
MONARCHA, Carlos. Escola normal da praça: o lado noturno das luzes. Campinas: Editora
da Unicamp, 1999.
OLIVEIRA, Neyde Collino de e NEGRELLI, Ana Lucia M. Rocha. Osasco e sua História. São
Paulo: CG Editora, 1992.
PAVÃO, Themistocles (conhecido como Lucas). Texto datilografado das Memórias de Lucas
Pavão. Acervo particular de Cândida Maria Morosoff. 1955.
ROLNIK, Raquel. A Cidade e a Lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São
Paulo. São Paulo. Studio Nobel: Fapesp, 1999.
BIBLIOGRAFIA
DANUSA, Mara. Historiamara. Texto disponível na Internet em: http://www.osasco.com.br/

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O subúrbio, a escola e os imigrantes

  • 1. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. O SUBÚRBIO, A ESCOLA E OS IMIGRANTES: Os primórdios da “Escola Preliminar Mixta da Estação de Osasco” - 1900/1910. Sonia Regina Martim Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP Quando entendemos a história como a ''arte de enxergar o particular'' necessariamente diminuímos o propósito da nossa abordagem e nos debruçamos mais sobre os detalhes. Com isso, os dados que, a princípio nos parecem sem conotações específicas, passam a nos oferecer o contexto para o desenvolvimento de uma história peculiar que construímos a partir de informações fragmentadas. ‘’O fato de uma fonte não ser “objetiva” (mas nem mesmo um inventário é “objetivo”) não significa que seja inutilizável. Uma crônica hostil pode fornecer testemunhos preciosos sobre o comportamento de uma comunidade camponesa em revolta...Mesmo uma documentação exígua, dispersa e renitente pode, portanto, ser aproveitada.” Ginzburg (1987. p 21). Sob essa ótica e, como grande parte das fontes que utilizo1 é composta por documentos escolares -- que por serem padronizados nem sempre reproduzem fielmente a realidade dada em sala de aula -- procuro servir-me de todas as informações que encontro. Mesmo aquelas que aparentemente são superficiais têm oferecido a oportunidade de encontrar uma imensa gama de detalhes e me permitido vislumbrar o cotidiano da sociedade local em que aquela escola se insere. Tenho tentado, a partir de simples listas de chamada e atas de exames finais, fazer uma releitura desses documentos, investigando aquilo que se oculta por detrás das aparências dadas. Este procedimento tem a pretensão de tomar como referência à análise de Carlos Ginzburg, que busca, a partir de peças inquisitoriais, desembaraçar os fios da trama que lhe permite ver os sujeitos, não pelos olhos do inquisidor que produziu o inquérito, mas por sobre os ombros destes, enxergando e desvendando os indícios que permitem uma nova visão daquele momento histórico. Foi a partir da premissa defendida por Ginzburg de que ''... minúcias em geral consideradas triviais e sem importância, 'aquém da atenção', fornecem a chave para as maiores conquistas do gênio Humano'' (1991, pág 97) e de que mesmo inconscientemente cada fonte nos permite ''... saltar de fatos aparentemente insignificantes, que podem ser observados, para uma realidade complexa, a qual, pelo menos diretamente, não é dada à observação. E esses fatos podem ser ordenados pelo observador de modo a proporcionar uma seqüência narrativa...'' (Pág. 100), pois ''...o conhecimento do historiador é indireto, baseado em signos e fragmentos de evidências conjectural.'' (pág 105), que pus me a desconstruir e construir a partir de pequenos achados -- quatro livros de chamada dos 1 Fontes utilizadas em pesquisa que realizo junto ao Programa de Pós Graduação em Educação: Historia, Política, Sociedade, da PUC/SP. 1
  • 2. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. alunos: Escola Mixta da Estação de Osasco de 1903 a 1906, Escola do Sexo Feminino da Estação de Osasco de 1907 a 1909, Escola do Sexo Feminino da Estação de Osasco de 1909 a 1910 e Escola Masculina da Estação de Osasco de 1907 a 1909 – buscando a ''... capacidade de saltar do conhecido para o desconhecido por meio da inferência...'' (pág. 128), proceder o resgate do que compunha a embrionária comunidade osasquense, entre 1900 e 1910. Ao examinar essas listas manuscritas percebi que fatos banais da rotina de uma escola podem nos remeter a uma experiência magnífica, principalmente, quando constatamos que durante cerca de um século esses papeis estiveram guardados sem que, aparentemente, ninguém lhes atribuísse maior valor. De repente, nas mãos do pesquisador essa documentação passa a ter significado e importância, constituindo a argamassa fundamental para a reconstrução de um momento histórico. Como minha pesquisa visa resgatar a história da escola em Osasco, torna-se fundamental que, paralelamente, ocorra o resgate da história dessa comunidade que começa a se formar em fins de século XIX e começo do XX, pois seria impossível analisar a escola isoladamente. A cidade de Osasco (hoje integrante da região metropolitana de São Paulo), até final do século XIX, configurava-se como uma região de sítios e chácaras que compunha um cinturão (resultado da divisão das grandes sesmarias rurais) periférico do centro da cidade de São Paulo, onde se podia encontrar a combinação da atividade agrícola com a produção de olarias, que utilizavam as terras da várzea do Tietê. O início do processo de urbanização da região central de Osasco está diretamente vinculado às transformações por que passava a cidade de São Paulo em fins do século XIX e, no plano local, às ações individuais do imigrante italiano Antonio Agú. Com efeito, no fim do século XIX passou a ser proibida, por lei, a construção de cortiços na área central da cidade de São Paulo. A criação do zoneamento urbano excluiu também “casa de operários e cubículos” (Rolnik, 1999. p.36), estabelecendo, assim, uma série de exigências que inviabilizavam a habitação de operários na região central. Essa legislação restritiva – e de certo modo, excludente – atendia a um “mercado imobiliário que se apresenta em explosão”, como nos define Rolnik (1999. p.37) e com isso, “proibiu-se genericamente a presença de pobres no centro da cidade” de São Paulo. Vivia-se o momento da “construção de uma nova imagem pública para a cidade, aquela de um cenário limpo e ordenado que correspondia à respeitabilidade burguesa com a qual a elite do café se identificava”, numa fase em que “o tema da higiene dominou grande parte do debate urbanístico internacional”. (Rolnik, 1999. p. 37)”. Nessa medida, era preciso excluir os pobres do cenário urbano e moderno da cidade, que a elite cafeeira dominante no centro de São Paulo se propunha a criar, pois aqueles, sobretudo os que 2
  • 3. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. apresentavam a imagem fortemente estigmatizada do imigrante, representavam as doenças e a imoralidade que deveriam ser rejeitadas. A equação era até bem simples do ponto de vista da classe dominante: a fim de promover a limpeza, era preciso banir a promiscuidade com a qual o imigrante era identificado. Afinal, ele não se enquadrava na nova imagem proposta -- moderna e civilizada. É dentro desse contexto que se proliferaram os bairros populares na periferia da cidade, normalmente constituídos por chácaras e que depois de loteadas passavam a compor pequenos núcleos urbanos. Nessas áreas, as normas estabelecidas pela legislação para a conformação dos lotes não eram respeitadas e bastava que a localidade dispusesse de alguma forma de acesso à região central da cidade para que o investimento imobiliário fosse garantido. No caso específico de Osasco, a estrada de ferro já passava por suas terras desde 1875, bastava apenas que ali se estabelecesse um ponto de parada, o que ficou garantido com a construção da estação em 1895. “O mercado imobiliário, nos seus vários segmentos, representava uma das principais possibilidades de mobilidade social para imigrantes que chegaram com pouca ou nenhuma poupança.” (Rolnik, 1999. p. 119) Não é difícil inferir que a região, à época, era uma grande extensão de terras, tendo sido Antonio Agu o primeiro imigrante italiano a compra-las no local. Como nos mostra Rolnik, era comum à época que os pequenos investidores aumentassem seu capital fazendo reinvestimentos; “... tratavam de comprar um terreno à prestação, depois de pago, o terreno era hipotecado e com o dinheiro construíam pequenas casas. Cada casa, depois de paga, também era hipotecada para formar o capital inicial de um negócio próprio. Dessa forma, o investimento imobiliário constituía, ao mesmo tempo, uma estratégia de sobrevivência e possibilidade de ascensão social” (1999. p. 120). Agu começou a reinvestir nessas terras, seguindo a prática de hipotecar bens para promover a aquisição de mais capital. Buscou parcerias que possibilitassem o desenvolvimento dos seus negócios, além de promover uma verdadeira transformação nas formas de produção que ainda sobreviviam na localidade. Começou por ampliar sua olaria e, em 1898, mediante contrato, arrendou-a ao barão Evaristhe Sansaud de Lavoud, que se comprometeu a construir um forno de fogo contínuo. Em sociedade com Henrique Dell’Acqua instalou uma fábrica de tecidos. Em 1892 implantou uma indústria de cartonagem em sociedade com Narciso Sturlini. Em 1908, Sturlini se associou a Nicolau Matarazzo, que serviu de intermediário para que Francisco Matarazzo aplicasse capital na sociedade, sendo que esse investimento deveria ser pago através do fornecimento de papel às fábricas da Cia Matarazzo. Desta forma foi criada a Sturlini & Matarazzo, 3
  • 4. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. primeira fábrica de papelão da América Latina, que passou a ser conhecida como “Cartieira” em razão de também produzir carteiras para cigarro (que em italiano tem esse nome). Essa fábrica estava localizada ao lado do córrego Boycicaba (atual Bussocaba), numa área distante da estação ferroviária, portanto distante do centro urbano que se formava onde logo foi construída uma vila operária em torno da empresa. A oportunidade decisiva para consolidação de mais um bairro operário na periferia da capital surgiu quando, em 1895, a ferrovia Sorocabana abriu um desvio no Km 16 – desvio do Boycicaba. Antonio Agu construiu uma estação de alvenaria e a doou à empresa ferroviária, exigindo em troca que tivesse o nome de Osasco, denominação da localidade onde nascera, em Piemonte, na Itália. As causas que levaram Antonio Agú a construir a estação podem ser analisadas de várias formas, mas é indubitável que esse benefício acabou facilitando o escoamento das mercadorias ali produzidas, valorizou em grande medida os lotes que estavam sendo vendidos a famílias de operários e promoveu a vinda de novos produtores que também anteviam maior facilidade no recebimento de matérias-primas, alterando significativamente o ritmo de desenvolvimento. Para o urbanista Angelo Melli, Secretário de Planejamento e Gestão de Osasco “o trem tinha dupla função: ele transportava gente e também matéria-prima para as primeiras fábricas que se construíam nas cidades” (Figueiredo. 1996, p. 164). Entre 1893 e 1907 a empresa de Antonio Agú realizou diversas vendas de terrenos nos arredores da estação. Pudemos verificar que a maioria dos terrenos foi vendida a famílias italianas, exceto os adquiridos por: Dr.Victor Ayrosa (dono de um grande sítio da região); família do barão Sansaud de Lavoud (proprietária da Companhia cerâmica arrendada de Antonio Agu); irmãos Levy (sócios de Sansaud de Lavoud na Companhia de Cerâmica) e a Companhia Sorocabana. Essas vendas foram realizadas para trinta e seis famílias e uma empresa; dessas famílias, trinta e três eram italianas e dentre estas, trinta e uma representavam pequenos investidores que, aproveitando o preço acessível e as facilidades de pagamento, compravam lotes para a construção de moradias ou para estabelecer um pequeno negócio. “Ao contrário dos loteamentos residenciais exclusivos, que procuravam predefinir o tipo de uso ao estabelecer um tamanho de lote e, posteriormente, garantir uma forma de implantação através de lei, o loteamento no subúrbio popular era o que Victor da Silva Freire denominava “lote para o que der e vier”.” (Rolnik, 1999, p. 116). Isso fica claramente demonstrado em historiamara2 : “Uma das características desses lotes que a cidade de Osasco, em sua divisão urbana central, carrega ainda hoje são as quadras e ruas irregulares. Isso ocorre porque, na época, o centro de Osasco era um enorme alagado. E essa condição natural fazia com 2 Site www.osasco.com.br/osasco/históriamara 4
  • 5. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. que os moradores escolhessem lugares menos encharcados para construir suas casas. No escolhe aqui, afasta dali, os lotes ficaram irregulares em suas formas geométricas. Não havia projeto de loteamento antes da venda ou da construção da moradia. Primeiro se fazia a casa, depois é que se media e demarcava o lote.” E conforme relato do sr. Manoel Coutinho: ‘’... mas o pouco dinheiro que as pessoas conseguiam economizar era para pagar o terreninho que haviam comprado ou pretendiam comprar. Quando um morador conseguia comprar o seu terreno, que seria pago em prestações, ele fazia um barracão de madeira coberto de sapé e mudava-se para lá com a família. Na parte de trás ele plantava verduras e criava galinhas, patos, porcos. Aos poucos, ele ia construindo a sua casa de alvenaria, fazendo um cômodo por vez. Mas havia igualdade: éramos todos pobres, todos começávamos do nada e nos ajudávamos uns aos outros’’ (Oliveira. 1992, p. 130) Por sua vez, os administradores públicos de São Paulo empenhavam-se em encerrar o velho e inaugurar uma nova cidade, onde o futuro era concebido como melhoramento e progresso, e o homem comum passava a ser visto como ser individual e social. “A partir do ponto de vista das classes sociais superiores, os ideólogos produzem um discurso sobre a vida pública e, apoiados na idéia de progresso, fabricam uma hierarquia das culturas” (Monarcha. 1999, p.75). Dentro desse ideário intensificam–se as discussões em torno da segurança, da propriedade e da instrução, criando-se instituições de repressão e de persuasão, a polícia e a instrução pública, respectivamente. A função da polícia era identificar e “punir toda sorte de atos considerados intoleráveis à ordem pública e fora dos limites da civilidade”. (Monarcha. 1999, p. 80) Por outro lado, era necessário difundir a instrução como uma das estratégias possíveis de combate à criminalidade e como meio eficaz para a defesa da civilização – idéia que passou a ser confundida com domínio da leitura e da escrita. Assim, se a sociedade apresentava-se dividida entre alfabetizados e incultos, a escola atuaria junto às camadas inferiores da sociedade, promovendo a felicidade do povo. A partir dessa premissa e já contando com a estação para a parada do trem, foi criada, em 1900, a ‘’Escola Preliminar Mixta do Bairro do Mutinga’’. Em 1901, essa escola passou a denominar-se “Escola Preliminar Mixta da Estação de Osasco” e, em 1907, foi desmembrada em duas: “Seção Masculina” e “Seção Feminina”. É incrível como pequenas coisas nos revelam tanto sobre o passado, pois foi a partir das burocráticas listas de chamada dos alunos daquela escola que pude ter contato com os primeiros moradores da embrionária ‘’Vila Osasco’’. No princípio as aulas eram ministradas na casa da professora, que ficava na Rua da Estação, e somente em 1901 a escola passou a funcionar em uma sala destinada à essa finalidade. 5
  • 6. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. Dessas relações de nomes pude perceber como se transformava a composição dos habitantes da vila, naquele período, e deduzir o fluxo migratório para a região. Pois se podemos afirmar que a escola reflete a sociedade na qual está inserida, ao analisarmos os nomes dos alunos dessa década, podemos concluir, então, que o grande fluxo de imigração italiana para Osasco ocorreu a partir de 1906, conforme o que segue: ALUNOS DA ‘’ESCOLA PRELIMINAR DA ESTAÇÃO DE OSASCO’’ -- de 1901 a 1910 ANO 1901 1902 1903 1904 1905 1906 1907 1908 1909 1910(*) TOTAL 30 14 31 36 39 46 88 103 111 52 Não italianos 17 08 16 23 22 23 28 31 26 15 ITALIANOS 13 06 15 13 17 23 60 72 85 37 PORCENTAGEM 43% 43% 48% 36% 43,5% 50% 68% 70% 76,5% 71% (*) – no ano de 1910 consta somente a escola feminina. - De 1901 a 1905 – varia entre 36% e 48% - tendo uma média de 42,7% - De 1906 atinge os 50% - No final da década gira em torno de 70% (sendo que em 1909 é de 76,5%) Em 1906, dos 46 alunos da escola, somente a metade deles eram de origem italiana (23). No entanto, no ano seguinte a escola passou a ter 88 estudantes, ou seja, um crescimento total de 91% (quase o dobro) e o número de alunos de origem não italiana passa de 23 para somente 28, representando um crescimento de apenas 21%, o que, se comparado ao crescimento total de 91%, é pouco significativo. 1906 1907 1908 1909 TOTAL 46 88 103 111 NÃO ITALIANOS 23 28 031 026 ITALIANOS 23 60 072 085 CRESCIMENTO ESCOLA ITALIANOS 91% 160% 17% 20% 7% 18% Desta relação podemos concluir que a partir de 1907 intensificou-se, consideravelmente, o número de italianos que passaram a freqüentar a escola e que, provavelmente, se estabeleceram na localidade. O crescimento percentual do número dos alunos imigrantes é sempre maior que o crescimento percentual da escola, confirmando, assim, que a escola desse período crescia, principalmente, em função do número de italianos que ali se estabeleciam. 6
  • 7. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. 7 O gráfico a seguir reflete claramente esta relação: ALUNOS DA ESCOLA PRELIMINAR DA ESTAÇÃO DE OSASCO – 1901/1909 1901 1902 1903 Instalados nos arredores da Estação de Osasco, os italianos criaram um novo pólo de desenvolvimento. Além de trabalhar duro, essa comunidade se divertia nadando e pescando nas águas limpas do rio Tietê, caçando nas imediações da vila, dançando nos ‘’bailinhos’’ realizados nas casas comerciais do centro (animados por gramofone, pois em Osasco ainda não havia luz elétrica), fazendo serenatas defronte a casa das moças, ou ainda, jogando futebol e bocha, jogo muito comum entre os imigrantes italianos. Enfim, como dizia o sr. Chiquinho Pavão (Germano Pavão), que foi aluno da Escola preliminar da Estação de Osasco: “A vida aqui em Osasco, naquela época, não era fácil, mas era muito divertida” (Oliveira. 1992, p. 112) Buscando recuperar as relações socioculturais existentes entre a escola e a comunidade, foi possível -- a partir das listas de chamada da escola local -- fazer uma projeção do fluxo migratório na primeira década do século XX, em Osasco. Ao fazer este mesmo tipo de analise três décadas depois, pude perceber que em 1938 -- após o fluxo migratório que o Brasil viveu ao final da Primeira Guerra Mundial -- o percentual de alunos descendentes das famílias italianas que em 1909 era de 76,5%, é sensivelmente reduzido (36,75%), demonstrando que, no final da década de 30, Osasco não se enquadrava mais na condição de sociedade majoritariamente italiana. Naquele momento a sociedade osasquense era composta de uma mescla de descendentes de diversas origens. 0 50 100 150 1904 1905 1901 1904 1907 1906 1907 1908 TOTAL italianos não italianos 1909
  • 8. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003. 8 osasco/historiamara/historia.htm, em 9/11/1999. FIGUEIREDO,Rubens e Lamounier, Bolívar. As cidades que dão certo: experiências inovadoras na administração pública brasileira. Brasília: MH Comunicação, 1996. GINZBURG, Carlo. 4. Chaves do mistério: Morelli, Freud e Sherlock Holmes. in: O Signo de três. São Paulo, Editora Perspectiva, 1991. GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. MONARCHA, Carlos. Escola normal da praça: o lado noturno das luzes. Campinas: Editora da Unicamp, 1999. OLIVEIRA, Neyde Collino de e NEGRELLI, Ana Lucia M. Rocha. Osasco e sua História. São Paulo: CG Editora, 1992. PAVÃO, Themistocles (conhecido como Lucas). Texto datilografado das Memórias de Lucas Pavão. Acervo particular de Cândida Maria Morosoff. 1955. ROLNIK, Raquel. A Cidade e a Lei: legislação, política urbana e territórios na cidade de São Paulo. São Paulo. Studio Nobel: Fapesp, 1999. BIBLIOGRAFIA DANUSA, Mara. Historiamara. Texto disponível na Internet em: http://www.osasco.com.br/