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“Espaços de dor e de esperança.”
A questão urbana
Introdução
‘Enchentes em São Paulo revelam falta de planejamento urbano’
A manchete acima, de 2010, reproduz a notícia de um
acontecimento relativamente comum e que se repete em
diversas cidades brasileiras, como mostra também a foto abaixo
(Rio de Janeiro, em março/2013) . A manchete sugere ainda uma
das causas desse problema, como é comentado nas
pág. 246 e 247 do livro didático. Vamos ler?
Vocês já passaram por situações assim? O que acham a respeito?
Diferentemente do que estamos
acostumados a presenciar em
nossos municípios, no entanto,
uma cidade secular como
Machu Picchu (Peru), construída
pela civilização inca na
Cordilheira dos Andes, sobrevive
bem ao tempo e às tempestades
até os dias de hoje. Por quê?
Será que as tragédias causadas
pelas enchentes poderiam ser
evitadas de alguma forma?
Vamos conversar um pouco
sobre isso...
ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DAS
CIDADES E DA URBANIZAÇÃO
Parte I
O termo URBANO é derivado do latim URBE, que significa
cidade, se constituindo em oposição ao termo rural. A
URBANIZAÇÃO, portanto, nasce com a sedentarização do
homem, quando ele se fixa em um determinado território e
passa a se dedicar também à agricultura. Portanto, assim
como o urbano se opõe a rural, podemos dizer que
a ideia de cidade se opõe a campo.
Nas sociedades que passaram a viver da agricultura
somente uma parcela bem pequena da população
vivia nas áreas urbanas.
Nas sociedades industriais, muitos séculos depois
(a partir do séc. XIX), essa relação se inverteu.
A URBANIZAÇÃO nasce com a sedentarização do
homem, quando ele se fixa em um determinado
território e passa a se dedicar também à agricultura.
Segundo Raquel Ronik (1988), há um paralelo entre a
construção das cidades e o aparecimento da escrita entre os
homens, como necessidade de organização do trabalho
coletivo a partir da geração de um determinado EXCEDENTE:
O excedente é, ao mesmo tempo, a possibilidade de
existência da cidade – na medida em que seus moradores
são consumidores e não produtores agrícolas –
e seu resultado – na medida em que é a partir da cidade que a
produção agrícola é impulsionada. Ali são concebidas e
administradas as grandes obras de drenagem e irrigação
que incrementam a produtividade da terra;
ali se produzem as novas tecnologias do trabalho e da guerra.
Enfim, é na cidade, e através da escrita,
que se registra a acumulação de riquezas, de conhecimentos
(ROLNIK, 1988, p. 16).
A acumulação de riquezas e de conhecimentos significou a
emergência de um “poder urbano”,
uma autoridade político-administrativa relacionada à
divisão social do trabalho entre os homens.
Esta divisão do trabalho era encarregada de gerir os
excedentes, de comandar as guerras, estabelecendo
hierarquias que se distribuíam de forma diferenciada e
desigual no espaço urbano.
Daí é podemos entender a construção de palácios suntuosos
para abrigar os imperadores e suas famílias,
templos imponentes para o culto ao sagrado,
fortalezas inabaláveis defendidas pelos guerreiros.
A divisão social do trabalho entre os homens correspondeu
à sua distribuição diferenciada e desigual no espaço urbano,
como foi o caso da Acrópole de Atenas, na Grécia Antiga.
Ruínas da cidade de Meroe, capital do Império Kush.
Pesquisas arqueológicas indicam sua localização ao sul
do Egito, próximo à Núbia, por volta de 2.500 a.C.
Mas quando teriam de fato surgido as primeiras cidades?
Diversos pesquisadores se debruçaram sobre esse tema,
obtendo respostas variadas:
Gordon Childe, por exemplo, em A evolução cultural do
homem, aponta que a intitulada Revolução Neolítica teria
cerca de 10.000 anos.
Lewis Mumford, na obra A cidade na História, identificava a
região da Mesopotâmia como sendo o local da origem das
primeiras cidades, por volta de 3.500 a.C. Anos depois, entre
2.000 e 1.500 a.C., a vida urbana teria se espalhado pelos
vales férteis do Egito, da China e da Palestina.
As pesquisas mais tradicionais sempre identificavam as
regiões banhadas pelos rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo
(chamada de Crescente Fértil) com o surgimento das
primeiras cidades da Antiguidade
Pesquisas mais recentes têm apontado para as origens da
sedentarização e da vida urbana em períodos ainda mais
antigos e em regiões distintas da África, o continente
reconhecido cientificamente como o berço da Humanidade.
São exemplos a Núbia, entre 12.000 e 9.000 a.C., e a
localidade de Lukenya, no atual Quênia, por volta de 13.000
a.C. Tratam-se de datas ainda mais antigas do que aquelas
que as últimas pesquisas apontam para a origem da prática
da agricultura no delta do Rio Nilo entre 6.000 e 5.000 a.C.
No caso de Lukenya, o pesquisador Van Sertima apontou
que o seu “grau de sofisticação” na domesticação de animais
era tão acentuado que se estuda a sua possível expansão
exatamente para a Mesopotâmia, contradizendo a tese
consagrada desta última como a origem da
“civilização ocidental”.
Cada vez mais apresentam-se dados
que questionam a LEITURA
EUROCÊNTRICA da História que aponta
para uma origem greco-romana da
“civilização ocidental” – até
reconhecendo a contribuição do
EGITO, mas desconsiderando a sua
caracterização como uma
SOCIEDADE AFRICANA E NEGRA.
Pesquisas apontam a Núbia como a região de localização de
uma das mais antigas civilizações da
história da Humanidade.
Na imagem deste slide, núbios do império de Kush.
Participar da cidade passou a significar se submeter a regras
que deveriam ser seguidas por todos os seus habitantes.
Assim, a pólis, a cidade-estado grega, por exemplo, era
dividida em duas: acrópole – o lugar do sagrado, do religioso
– e ágora – o espaço público que reunia os cidadãos.
Entre os romanos, falar em civitas significava “a cidade no
sentido da participação dos cidadãos na vida pública”.
Portanto, os conceitos de pólis ou de civitas se
referiam mais à possibilidade de participação política do
habitante da cidade, e não ao fato dele residir na
área urbana (cf. ROLNIK, p. 22). De qualquer forma, em
Roma a cidade apresentava-se “cosmopolita e urbanizada”,
com casas divididas em vários pavimentos,
lojas, mercados, restaurantes, casas de banho
– um modelo que se expandiu pelo seu vasto Império.
“A cidade romana, com seu território ordenado e suas
instituições, contribuiu para romanização das populações
conquistadas. Seu modelo, [...] um traçado regular,
proporcionava esquemas ágeis de circulação de público e
mercadorias, indispensáveis numa economia mercantil [...]”
Na Europa, na Idade Média, a terra passa a ser o centro da
produção de bens e de riquezas, sob o controle dos senhores
feudais, que têm total autonomia em seus domínios.
As cidades eram fortificadas e constituídas de terras
comunais, nas quais os moradores se instalavam de forma
irregular dentro das muralhas, em torno da igreja e dos
castelos. O lugar de moradia coincidia com o lugar de
trabalho (como eram as corporações de ofício).
A desestruturação do antigo Império Romano significou o
abandono e a perda de importância das cidades, com o
centro da vida sendo deslocado para as grandes
propriedades rurais.
Na sociedade
feudal europeia,
as grandes
propriedades
rurais passaram
a representar o
centro da vida,
conforme
representado
na imagem ao
lado, do séc. XV
(cf. p. 250 do
livro didático).
Com o tempo, a intensificação do comércio fez surgir novas
cidades no caminho das rotas comerciais. Este fenômeno
ocorreu na Europa Medieval, mas também na Ásia e na
África. Nesta última, um exemplo importante foi a cidade de
Tombuctu, ao sul do deserto do Saara, no Mali, entreposto
do comércio com o norte do continente.
Duas curiosidades a respeito de Tombuctu: além de
entreposto comercial, ela reunia uma grande biblioteca e
serviu de inspiração para a cidade fictícia e futurista
Wakanda, que aparece no filme Pantera Negra (Black
Panter. EUA, 2018. Dir.: Ryan Coogler ). Pesquisem a respeito
e observem no filme prédios inspirados em Tombuctu.
Foi nas cidades fortificadas europeias, também conhecidas
como burgos, que a atividade comercial assumiu um novo
papel, servindo de destino para os servos, que se libertaram
dos senhores feudais. Aos poucos, as cidades começaram a
assumir um novo papel, reorganizando-se radicalmente a
partir da mercantilização do espaço urbano e a centralização
do poder político na constituição dos Estados Modernos.
Referência:
OLIVEIRA, L. F.; COSTA, R. C. R. Sociologia
para Jovens do Século XXI. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016, p. 246-
263 [Cap. 17].

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Planejamento urbano e enchentes

  • 1. “Espaços de dor e de esperança.” A questão urbana
  • 3. ‘Enchentes em São Paulo revelam falta de planejamento urbano’ A manchete acima, de 2010, reproduz a notícia de um acontecimento relativamente comum e que se repete em diversas cidades brasileiras, como mostra também a foto abaixo (Rio de Janeiro, em março/2013) . A manchete sugere ainda uma das causas desse problema, como é comentado nas pág. 246 e 247 do livro didático. Vamos ler? Vocês já passaram por situações assim? O que acham a respeito?
  • 4. Diferentemente do que estamos acostumados a presenciar em nossos municípios, no entanto, uma cidade secular como Machu Picchu (Peru), construída pela civilização inca na Cordilheira dos Andes, sobrevive bem ao tempo e às tempestades até os dias de hoje. Por quê? Será que as tragédias causadas pelas enchentes poderiam ser evitadas de alguma forma? Vamos conversar um pouco sobre isso...
  • 5. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES E DA URBANIZAÇÃO Parte I
  • 6. O termo URBANO é derivado do latim URBE, que significa cidade, se constituindo em oposição ao termo rural. A URBANIZAÇÃO, portanto, nasce com a sedentarização do homem, quando ele se fixa em um determinado território e passa a se dedicar também à agricultura. Portanto, assim como o urbano se opõe a rural, podemos dizer que a ideia de cidade se opõe a campo. Nas sociedades que passaram a viver da agricultura somente uma parcela bem pequena da população vivia nas áreas urbanas. Nas sociedades industriais, muitos séculos depois (a partir do séc. XIX), essa relação se inverteu.
  • 7. A URBANIZAÇÃO nasce com a sedentarização do homem, quando ele se fixa em um determinado território e passa a se dedicar também à agricultura.
  • 8. Segundo Raquel Ronik (1988), há um paralelo entre a construção das cidades e o aparecimento da escrita entre os homens, como necessidade de organização do trabalho coletivo a partir da geração de um determinado EXCEDENTE: O excedente é, ao mesmo tempo, a possibilidade de existência da cidade – na medida em que seus moradores são consumidores e não produtores agrícolas – e seu resultado – na medida em que é a partir da cidade que a produção agrícola é impulsionada. Ali são concebidas e administradas as grandes obras de drenagem e irrigação que incrementam a produtividade da terra; ali se produzem as novas tecnologias do trabalho e da guerra. Enfim, é na cidade, e através da escrita, que se registra a acumulação de riquezas, de conhecimentos (ROLNIK, 1988, p. 16).
  • 9. A acumulação de riquezas e de conhecimentos significou a emergência de um “poder urbano”, uma autoridade político-administrativa relacionada à divisão social do trabalho entre os homens. Esta divisão do trabalho era encarregada de gerir os excedentes, de comandar as guerras, estabelecendo hierarquias que se distribuíam de forma diferenciada e desigual no espaço urbano. Daí é podemos entender a construção de palácios suntuosos para abrigar os imperadores e suas famílias, templos imponentes para o culto ao sagrado, fortalezas inabaláveis defendidas pelos guerreiros.
  • 10. A divisão social do trabalho entre os homens correspondeu à sua distribuição diferenciada e desigual no espaço urbano, como foi o caso da Acrópole de Atenas, na Grécia Antiga.
  • 11. Ruínas da cidade de Meroe, capital do Império Kush. Pesquisas arqueológicas indicam sua localização ao sul do Egito, próximo à Núbia, por volta de 2.500 a.C.
  • 12. Mas quando teriam de fato surgido as primeiras cidades? Diversos pesquisadores se debruçaram sobre esse tema, obtendo respostas variadas: Gordon Childe, por exemplo, em A evolução cultural do homem, aponta que a intitulada Revolução Neolítica teria cerca de 10.000 anos. Lewis Mumford, na obra A cidade na História, identificava a região da Mesopotâmia como sendo o local da origem das primeiras cidades, por volta de 3.500 a.C. Anos depois, entre 2.000 e 1.500 a.C., a vida urbana teria se espalhado pelos vales férteis do Egito, da China e da Palestina.
  • 13. As pesquisas mais tradicionais sempre identificavam as regiões banhadas pelos rios Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo (chamada de Crescente Fértil) com o surgimento das primeiras cidades da Antiguidade
  • 14. Pesquisas mais recentes têm apontado para as origens da sedentarização e da vida urbana em períodos ainda mais antigos e em regiões distintas da África, o continente reconhecido cientificamente como o berço da Humanidade. São exemplos a Núbia, entre 12.000 e 9.000 a.C., e a localidade de Lukenya, no atual Quênia, por volta de 13.000 a.C. Tratam-se de datas ainda mais antigas do que aquelas que as últimas pesquisas apontam para a origem da prática da agricultura no delta do Rio Nilo entre 6.000 e 5.000 a.C. No caso de Lukenya, o pesquisador Van Sertima apontou que o seu “grau de sofisticação” na domesticação de animais era tão acentuado que se estuda a sua possível expansão exatamente para a Mesopotâmia, contradizendo a tese consagrada desta última como a origem da “civilização ocidental”.
  • 15. Cada vez mais apresentam-se dados que questionam a LEITURA EUROCÊNTRICA da História que aponta para uma origem greco-romana da “civilização ocidental” – até reconhecendo a contribuição do EGITO, mas desconsiderando a sua caracterização como uma SOCIEDADE AFRICANA E NEGRA.
  • 16. Pesquisas apontam a Núbia como a região de localização de uma das mais antigas civilizações da história da Humanidade. Na imagem deste slide, núbios do império de Kush.
  • 17. Participar da cidade passou a significar se submeter a regras que deveriam ser seguidas por todos os seus habitantes. Assim, a pólis, a cidade-estado grega, por exemplo, era dividida em duas: acrópole – o lugar do sagrado, do religioso – e ágora – o espaço público que reunia os cidadãos. Entre os romanos, falar em civitas significava “a cidade no sentido da participação dos cidadãos na vida pública”. Portanto, os conceitos de pólis ou de civitas se referiam mais à possibilidade de participação política do habitante da cidade, e não ao fato dele residir na área urbana (cf. ROLNIK, p. 22). De qualquer forma, em Roma a cidade apresentava-se “cosmopolita e urbanizada”, com casas divididas em vários pavimentos, lojas, mercados, restaurantes, casas de banho – um modelo que se expandiu pelo seu vasto Império.
  • 18. “A cidade romana, com seu território ordenado e suas instituições, contribuiu para romanização das populações conquistadas. Seu modelo, [...] um traçado regular, proporcionava esquemas ágeis de circulação de público e mercadorias, indispensáveis numa economia mercantil [...]”
  • 19. Na Europa, na Idade Média, a terra passa a ser o centro da produção de bens e de riquezas, sob o controle dos senhores feudais, que têm total autonomia em seus domínios. As cidades eram fortificadas e constituídas de terras comunais, nas quais os moradores se instalavam de forma irregular dentro das muralhas, em torno da igreja e dos castelos. O lugar de moradia coincidia com o lugar de trabalho (como eram as corporações de ofício). A desestruturação do antigo Império Romano significou o abandono e a perda de importância das cidades, com o centro da vida sendo deslocado para as grandes propriedades rurais.
  • 20. Na sociedade feudal europeia, as grandes propriedades rurais passaram a representar o centro da vida, conforme representado na imagem ao lado, do séc. XV (cf. p. 250 do livro didático).
  • 21. Com o tempo, a intensificação do comércio fez surgir novas cidades no caminho das rotas comerciais. Este fenômeno ocorreu na Europa Medieval, mas também na Ásia e na África. Nesta última, um exemplo importante foi a cidade de Tombuctu, ao sul do deserto do Saara, no Mali, entreposto do comércio com o norte do continente.
  • 22. Duas curiosidades a respeito de Tombuctu: além de entreposto comercial, ela reunia uma grande biblioteca e serviu de inspiração para a cidade fictícia e futurista Wakanda, que aparece no filme Pantera Negra (Black Panter. EUA, 2018. Dir.: Ryan Coogler ). Pesquisem a respeito e observem no filme prédios inspirados em Tombuctu.
  • 23. Foi nas cidades fortificadas europeias, também conhecidas como burgos, que a atividade comercial assumiu um novo papel, servindo de destino para os servos, que se libertaram dos senhores feudais. Aos poucos, as cidades começaram a assumir um novo papel, reorganizando-se radicalmente a partir da mercantilização do espaço urbano e a centralização do poder político na constituição dos Estados Modernos.
  • 24. Referência: OLIVEIRA, L. F.; COSTA, R. C. R. Sociologia para Jovens do Século XXI. 4ª ed. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2016, p. 246- 263 [Cap. 17].