O documento é um jornal mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores da região de São Paulo. Resume os eventos da X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada Nacional da Sobrames e VI Sobramíada, incluindo 40 escritores e 113 trabalhos literários apresentados. Também descreve a organização dos eventos e premiações entregues.
1. Jornal
O Bandeirante
Ano XVIII - no 203 - Outubro de 2009
Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP
São Paulo dos Paulistas e dos
Brasileiros*
“Non Ducor Duco – Não sou Conduzido, Conduzo”.
(Divisa do município de São Paulo)
Helio Begliomini
Médico urologista
Presidente da SOBRAMES-SP (2009-2010).
trabalhar, passear, divertir-se, mas
também a nós que nascemos ou que
nela vivemos.
São Paulo assusta pela sua gran-
deza: são 10,5 milhões de pessoas
apenas no município e 19.616.000 na
região metropolitana, cujo entorno é
formado por 39 municípios interliga-
dos – inextrincáveis geograficamente
– que perfazem conjuntamente a
grande São Paulo, tornando-a a sexta
maior aglomeração urbana do mun-
do (!), superada apenas por Tóquio,
Cidade do México, Nova Iorque, Seul
e Bombaim.
Contudo, diferentemente dessas
Confesso que a delegação paulista De início surgiu um impasse: Qual megalópoles, São Paulo possui a
composta por 8 participantes que cidade do interior seria mais propí- maior floresta urbana nativa do mun-
prestigiou o XXII Congresso Brasilei- cia? Após muita pesquisa e discussão, do! – O Parque Estadual da Cantareira
ro da Sociedade Brasileira de Médicos chegou-se a um consenso de que este tem 7.916 hectares, que equivalem
Escritores (Sobrames), realizado de 4 a evento, por ter conotação nacional, a 8 mil campos de futebol, onde se
7 de junho de 2008, na belíssima cida- deveria ser mesmo realizado na pau- encontram três opções saudáveis de
de de Fortaleza, ficou muito surpresa e liceia. Isso tudo decidido ainda em lazer.
envaidecida quando foi sugerido que novembro do ano passado. São Paulo também assusta pelo
a regional de São Paulo da Sobrames Daí para frente, a comissão organi- trânsito caótico e congestionado em
organizasse, em 2009, a V Jornada zadora trabalhou árdua e ininterrupta- decorrência dos seis milhões de carros
Nacional da Sobrames, evento esse mente, desdobrando-se em múltiplas que aqui trafegam e, como consequên-
que já tinha sido bem realizado nas reuniões para que tudo acontecesse da cia, pelo elevado número de acidentes
cidades em Salvador (2001), Belém melhor forma possível. que nele ocorre, particularmente com
(2003), Fortaleza (2005) e Curitiba (...) motoqueiros que dirigem alucinada-
(2007). A cidade de São Paulo amedron- mente. Assusta pelo tempo em que
(...) ta não somente aos que aqui vêm se perde nos deslocamentos internos;
(continua na última página)
* Discurso proferido na condição de presidente da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores do Estado de São Paulo (Sobrames
– SP) por ocasião da abertura da V Jornada Nacional da Sobrames, X Jornada Médico-Literária Paulista e VI Sobramíada, even-
tos realizados conjuntamente de 17 a 19 de setembro de 2009, no Green Place Flat, situado na Vila Mariana da capital paulista
(Publicação parcial).
2. 2 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada
EXPEDIENtE Nacional da Sobrames e VI Sobramíada
Jornal O Bandeirante
ANO XVIII - no 203 - Outubro 2009 Realizaram-se, de 17 a 19 de setembro deste ano, no Green
Place Flat, localizado na Vila Mariana, em São Paulo (SP) a
Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos X Jornada Médico-Literária Paulista, a V Jornada Nacional
Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP .
Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros da Sobrames e a VI Sobramíada, tendo sido um sucesso de
- São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editor: público e participação. Foram seis sessões literárias de duas
Helio Begliomini. Jornalista Responsável e revisora: Ligia
Terezinha Pezzuto (MTb 17.671 - SP). Colaboradores desta horas cada uma, em que 40 escritores apresentaram um total
edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão, Flerts Nebó, José de 113 trabalhos de variados gêneros literários: contos, crôni-
Alberto Vieira, José Rodrigues Louzã, Ligia Terezinha
Pezzuto, Luiz Jorge Ferreira, Sergio Perazzo.Tiragem desta cas e poesias. Além dos autores, também estiveram presentes
edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares
PDF enviados por e-mail.
16 convidados, o que veio abrilhantar os eventos.
Diretoria - Gestão 2009/2010 - Presidente: Helio
Desde o início, a Diretoria foi cumprimentada pela notável
Begliomini. Vice-Presidente: Josyanne Rita de Arruda organização, exemplo disso, os Anais distribuídos logo na chegada dos participan-
Franco. Primeiro-Secretário: Ligia Terezinha Pezzuto.
Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã.
tes, junto com o material organizado em uma pasta conseguida pela sócia Maria
Primeiro-Tesoureiro: Marcos Gimenes Salun. Segundo- do Céu Coutinho Louzã. Os Anais impressos e fornecidos também em CD no
Tesoureiro: Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal
Efetivos: Flerts Nebó, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Luiz formato PDF, a emissão de Certificados e todo o suporte necessário para o bom
Jorge Ferreira. Conselho Fiscal Suplentes: Geovah Paulo andamento dos trabalhos deveu-se ao associado Marcos Gimenes Salun, que em
da Cruz; Rodolpho Civile; Helmut Adolf Mataré.
conjunto com a Diretoria – cada um realizando o seu melhor –, contribuíram para
a realização dos eventos e acolheram os participantes como anfitriões.
Matérias assinadas são de responsabilidade de seus As Jornadas contaram com o apoio institucional de seis entidades: Academia
autores e não representam, necessariamente, a
opinião da Sobrames-SP Paulista de História, Associação Médica Brasileira, Academia Ribeirãopretana
de Letras, Academia Paulista de Letras, Associação Paulista de Medicina e Mo-
vimento Poético Nacional, tendo este último sido convidado e aceitado julgar os
Editores de O Bandeirante trabalhos para a premiação, que contou com 1o, 2o e 3o lugares e duas menções
Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992
honrosas nas categorias poesia, conto e prosa, além de um prêmio oferecido
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994 pela Sobrames Nacional, a VI Sobramíada, para cada categoria.
Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996 Foi um momento único de congraçamento e enlevo, no qual pessoas de vários
Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000
Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009
Estados (Minas Gerais, Bahia, Ceará, Alagoas, Santa Catarina, Pernambuco, Rio
Helio Begliomini – maio de 2009 - de Janeiro e São Paulo) e de outros países como Argentina e Angola brindaram
os eventos com textos de excelente qualidade. Nesse encontro cultural em que
Presidentes da Sobrames – SP pessoas de regiões tão diversas colocaram em comum sua arte, seu estilo e sua
1 Flerts Nebó (1988-1990;1990-1992 e out/2005 a dez/2006)
o
sensibilidade literária, fica a certeza de fazermos parte de um todo que vem
2o Helio Begliomini (1992-1994; 2007-2008 e 2009-2010) crescendo, desenvolvendo-se e contribuindo para engrandecer a produção
3o Carlos Luiz Campana (1994-1996) cultural de nosso Brasil.
4o Paulo Adolpho Leierer (1996-1998) Ligia Terezinha Pezzuto
5o Walter Whitton Harris (1999-2000)
6o Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)
Jornalista e revisora em São Paulo
7o Luiz Giovani (2003-2004)
Walter Whitton Harris
8o Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)
Cirurgia do Pé e Tornozelo
Ortopedia e Traumatologia Geral
Editor: Helio Begliomini CRM 18317
Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto Av. República do Líbano, 344 Rua Luverci Pereira de Souza, 1797 - Sala 3
Diagramação: Mateus Marins Cardoso 04502-000 - São Paulo - SP Cidade Universitária - Campinas (19) 3579-3833
Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica Tel. 3885 8535 www.veridistec.com.br
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Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante Ginecologia
receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)
Obstetrícia
*Disponível para o público em geral e para não-sócios da SOBRAMES-SP
Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal a SOBRAMES-SP para REDAÇÃO
Mastologia
“O Bandeirante” R. Bias, 234 - Tremembé - CEP 02371-020 - São Paulo - SP
Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega (11) 2215-2951
3. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 3
Poesia
José Alberto Vieira
Médico anestesista em São Paulo
Meditando
Poesia. Não vivamos sem ela
A poesia está dentro de nossa alma
José Rodrigues Louzã E nos nutre.
Médico aposentado em São Paulo Com música então;
É como morrer e
À medida que passam os anos Acordar no paraíso sem fim.
e as inflorescências da existência são menos fecundas, O mundo sem poesia
tornam-se maiores as saudades É um deserto onde nada germina.
e mais fortes as lembranças do tempo que passou. Poesia é a ciência da alma
Que a desnuda e por vezes a consola.
Sentado calmamente na varanda, Nos permite ser a criança que vive dentro de
na cômoda cadeira de balanço,
nós.
numa tarde quente de primavera
Jamais deixemos que ela adormeça.
quando todas as flores do jardim
exalam um perfume embriagador, Poeta é aquele que não tem vergonha de amar,
penso!...recordo!...medito!...sonho!... de chorar,
De errar, de beijar, de abraçar
Sonho como o velho jangadeiro que, cansado da lida, De mostrar-se frágil.
agora só se aventura a enfrentar o mar, Poeta é a alma que desvenda a alma
quando este é manso e calmo. Que atormenta e incomoda
Nos outros dias, fica a cismar balouçando tranquilamente na rede.
Enaltece e desafia,
Já está por completar-se a sua missão.
Passou quase toda sua vida a lançar a rede ao mar. Questiona mas não responde
A buscar, nas águas sossegadas ou revoltas, o sustento para os seus. Simula e por vezes dissimula.
Fechando os olhos, o velho jangadeiro revê e novamente sente É o ser forte que se mostra fraco.
as emoções das procelas que teve que suportar, Diz o que não pode ser dito,
o medo que sentia nas ocasiões em que o mar parecia tragá-lo, Não diz o que sente.
a felicidade que experimentava ao rever sua família, E até quando o poeta finge ser o que não é
esperando por ele temerosa, na praia, ao pôr do sol. Mostra aquilo que os outros são.
E lembra-se dos seus primeiros amores...
Poeta...poesia...
do calor daquele beijo quente, roubado às escondidas...
e daquele abraço tão apertado... que ele ainda hoje sente. Que será deste mundo
Como o velho jangadeiro... também sonho... Se um dia perecerem?
também revivo ilusões... também relembro tristezas...
também recordo as alegrias e a felicidade...
Mas é preciso despertar! A vida continua!
Não se pode permanecer inerte!
Enquanto vivemos, precisamos, e muito, ficar acordados...
estar alerta para enfrentarmos o futuro...
meditando sempre sobre o nosso porvir...
O que nos reservam os tempos que virão?
As flores ficarão, certamente, cada vez mais raras e menos perfumadas,
os obstáculos parecer-nos-ão cada vez maiores... intransponíveis...
mas devemos manter sempre a esperança
como farol aceso a aclarar o nosso futuro,
a iluminar a nossa trajetória.
E quando para nós cerrar-se definitivamente a cortina da existência,
iremos para um novo porvir, levando como única e rica bagagem
a certeza de termos seguido, com coragem, o nosso destino!
4. 4 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
SUPLEMENTO LITERÁRIO
O Forro e o Avesso
Sergio Perazzo
Médico Psiquiatra em São Paulo
Ao que à primeira vista possa parecer, forro e avesso não são, rua, bem em frente da casa da minha avó, aquela casa de pedra em estilo
aqui, sinônimos. Muito pelo contrário. Forro como estofo, substância, normando (por sinal, esperei a vida inteira para encaixar estilo normando
base, calor e acolhimento. Avesso, o outro lado, a questão e a crítica, no meio de uma frase e a oportunidade chegou aqui; na verdade, não
a exposição nua da costura, do chuleio, o contraponto da bainha, da sei qual é o estilo normando nem se esse estilo combina com uma casa
linha e do nó que sustentam a face oculta do botão que escancara a face de pedra ou de madeira, nem sei se uma casa é colonial, neoclássica ou
oculta da lua, que a encaixa na casa reta fechando as duas metades da pós-moderna, quero mesmo é que vocês acreditem que sou um especia-
vestimenta. Avesso que revela o risco do bordado. lista em estilos arquitetônicos, faz parte da minha realidade suplementar
Sei não, forro e avesso apenas partes distintas do mesmo casaco que escancarando minha verdade psicodramática e poética).
me agasalha e me protege do frio das convicções vazias e das palavras vãs E assim vivíamos na mesma rua, entre a Lagoa e o Corcovado, entre
que nada dizem do que eu vejo e do que eu sinto. Sinalização do nada. pipas, bolas de gude e piões, e eu transitava inteiramente à vontade
Placas enferrujadas de beira-estrada, apontando caminhos sem volta. entre as casinhas de fundos, assim como era a em que eu morava, mas
com jardim e alguma flor, a casa de pedra e a do menino rico, e a casa
INCONCLUSÕES de cômodos das famílias do Mário e do Valtinho, as mães eram lava-
deiras, que fazia parede com a minha casa. Meu trânsito sociométrico
A culpa é do Monteiro Lobato. Quando aprendi a ler, como todo dessa minha infância democrática, criança às vezes é democrática e às
mundo da minha geração, ganhei a coleção completa de seus livros vezes ditadora, todo mundo de pé descalço no chão. Casa de avó com
infantis. Devorei todos, a ponto de repetir a leitura do começo ao galinheiro e porão. Aliás Seu Joca era o rei desse porão. Tinha nele
fim, cinco vezes, de Reinações de Narizinho, O Minotauro e Os doze a sua oficina de sapateiro. Não tinha dia em que não carimbássemos
trabalhos de Hércules. uma visitinha ao sapateiro. Batíamos o ponto religiosamente. Não vão
Passeava com a Emília, aquela contestadora que abria a todo mo- pensar que era pelas barbas do Seu Joca ou por alguma perversão,
mento a sua torneirinha de asneiras, torneirinha da sua espontaneidade, fetiche por salto alto ou chulé. Não. Era pelo calendário da Marilyn
entendi muito depois, pelo terreiro do Sítio do Pica-pau-amarelo, pelos Monroe peladona, pendurado atrás do velho safado com a boca cheia
anéis de Saturno, pelas ruínas gregas ou pelo País da Gramática. Só ela de tachinhas e as mãos cheias de calos. O ano do calendário devia ser
mesmo para apelidar Hércules de Lelé e de fazê-lo chorar na hora da de dez anos antes. Quem teria coragem de tirar a Marilyn dali? Botar
despedida. Aquele brutamontes de coração de batata frita, que a tia no lixo? Nem pensar.
Anastácia cozinhou para ele. Como contraponto desse compromisso com o descompromisso
Tudo isso sob as vistas circunspectas do Visconde de Sabugosa, a da vida que nos cercava, os dois loucos daquele pedaço de rua. Um, o
erudição conservada naquele corpo rígido e duro de sabugo de milho, Carlinhos, epilético com convulsão e tudo, já demenciado, sempre de
encimado por uma cartola formal e fora de época. cabeça raspada como os egressos do manicômio do Engenho de Dentro,
Não era à toa que, aos três anos de idade, sentado em uma cadeira uma estação distante e suburbana da Central do Brasil.
de braços, eu apoiava a cabeça na mão direita e minha tia perguntava: Provocávamos e caíamos na risada só pra vê-lo disparar atrás da
O que você está fazendo, Serginho? E eu: Estou pensando na vida. A gente, com todo o tipo de palavrão. Uma crueldade inofensiva que já
vida pra mim, desde cedo, já era uma questão. Ou repetição. Nascia fazia parte da paisagem diária. Tanto ele demonstrava gostar da gente
ali o que existe em mim de pensador. apesar das risadas, afinal éramos o seu contato com o mundo, como a
Não só de Monteiro Lobato eu me alimentava. Nem só de histórias gente corria dele de mentirinha sem sentir medo de verdade.
vive o homem.Todo dia era dia de bicicleta e de futebol no meio da rua A outra louca, seis casas depois, era a mãe do Pedrinho, coitado.
(quase não passava carro; quando passava, a gente parava segurando Um menino triste que só podia ser triste. Um desastre no futebol que
a bola com o pé). sempre sobrava pra goleiro. Vivia humilhado pelos surtos delirantes e
No final da tarde, chegava o pai de todo mundo: Meninos, pra alucinatórios da mãe. Ninguém queria estar na pele dele. O pai, um
dentro. Depois da sobremesa, de novo na rua. Dessa vez com as meninas homem resignado. Era tudo. Tínhamos um certo medo, pra não dizer
pra brincar de estátua, de pera, uva ou maçã, de batatinha-frita-um- um medo danado de passar pela porta dela. Ninguém entrava na casa
dois-três, com as cigarras cantando o verão. do Pedrinho. De repente, ela saía de lá berrando, doida varrida como
Foi nessa que senti bater no peito minhas primeiras paixões pla- a mãe do Anthony Perkins em Psicose do Hitchcock. Só faltava a faca
tônicas. Primeiro a Regina, não sei que fim levou, depois a Silvinha, e o sangue.
hoje avó e arquiteta. Era assim. A loucura também fazia parte da rua. Como todo o
O Mário seguiu carreira de açougueiro e até hoje vive cercado de resto.
contra-filés e alcatras, enquanto eu fui fazer medicina e me cerquei Foi nesse caldo de cultura que nasci e cresci. Gravitando entre pobres
de pedaços formolizados de gente nas aulas de anatomia. Uma outra e ricos, entre a irreverência da Emília e a formalidade do Visconde.
espécie de açougue. Sim, o que eu queria dizer é que tive mesmo uma infância muito, muito
O Marcinho, que ganhava todas no botão, perdeu-se no mundo. feliz, apesar dos inevitáveis acidentes de percurso.
O Beto virou repórter, o irmão do Valtinho saiu por aí roubando tudo A música entrava pelas frestas, meu pai e minha tia cantavam tan-
o que podia, afanando mesmo, acabou preso e alcoólatra, morrendo gos pela sala. Gardel reverberava nas paredes. Não havia aniversário
literalmente na sarjeta. O Tião, o craque do nosso time, que me ensinou que não se dançasse ao som das big-bands dos anos 40. Glenn Miller.
a colocar a bola no ângulo, bem a salvo do goleiro, foi o mais coerente. Tommy Dorsey. Duke Ellington. E a Rádio Nacional o dia inteiro na
Migrou pras Gerais e acabou ponta esquerda do Atlético Mineiro. Vi cozinha da minha avó.
um dia na tevê o Tião fazer um gol de placa com camisa listrada preta Um pouco mais tarde, no colégio de elite onde passei a estudar (meu
e branca por cima do coração carioca. pai se matava em horas extras para pagar a mensalidade), tive como
E como era mesmo o nome daquele menino rico e entediado? colegas o Edu Lobo, o Marcos e o Paulo Sergio Valle, o Cacá Diegues,
Aquele que, por falta do que fazer, vivia estilhaçando os tomates-cerejas o Nelsinho Motta, o Sidney Miller, o Francis Hime, o Arnaldo Jabor e
da horta da sua mãe, no fundo do quintal daquela casa enorme e super- o Pedro Malan. Antes de se revelarem as vocações artísticas, literárias
moderna, cheia de tapetes, a mais nova da rua, com a sua espingarda e políticas, a gente queria mesmo era jogar futebol ou basquete. A
de ar comprimido que nos fazia babar de inveja? fama veio depois.
O Naldinho, irmão da Silvinha, menino estranho e calado, suicidou- Verdade é que o artista que sempre viveu em mim só deixei que
se no fim da adolescência. Graças a Deus eu não morava mais lá, senão viesse à tona depois dos meus papéis de obrigações.
teria que encarar aquela casa em que eles moravam, no outro lado da (continua na próxima página)
5. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 5
(continuação da página anterior)
Afinal de contas eu era o depositário das expectativas de duas Reconheço hoje que a minha verdade histórica naquele pedaço de
famílias de emigrantes em que se misturavam argentinos, uruguaios, meu átomo social que representava a minha rua, permitiu-me treinar
italianos, portugueses, franceses e negros, de modo que acabei sendo o papéis sociais sem saber que estava treinando.
primeiro de todo esse bando a entrar numa faculdade. Abri a porteira e Fui deixando fluir uma força vital que Moreno chamaria esponta-
segui em frente e uma fila de irmãos e de primos me seguiu depois. neidade, como diriam os Beatles, with a litlle help of my friends. O psico-
Muito depois de formado e já em São Paulo, fui aos poucos me drama foi decisivo em soltar minha criatividade em todas as direções.
permitindo ser poeta, cronista, contista, músico e cantor. De vez em Em ser Deus sem quebrar o braço (qualquer psicodramatista entende
quando me perguntava o que seria se tivesse seguido alguma carreira isso) (*) Em incorporar conscientemente esse Deus, esse brilho, essa
artística, mas olhava para trás e sempre via tanta gente que ajudei força, essa chama, essa centelha ou o que mais quisermos chamar.
nessa minha profissão (tempos de pronto-socorro e tempos de ma- Por tudo isso, que quero dizer? Que a ciência não alcança e jamais
ternidade em que ajudei a botar no mundo uns duzentos bebês) e me alcançará a criatividade. Este é o mais profundo legado de Moreno. A
orgulhava de me sentir útil. Acabei achando espaço para as duas coisas. criatividade é sempre um vir-a-ser. É um resultado. É sempre aberta.
O psicodrama foi decisivo para que eu fizesse a síntese e abarcasse a É sempre para. É intraduzível. Não é sistematizável. Nem metodolo-
minha própria dimensão humana. Daí esses retalhos de memórias que gicamente enquadrável. Por isso a inconclusão.
compartilho com vocês. Inconclusos nossos projetos dramáticos são.
E se o Mário tivesse saído da casa de cômodos direto para os Inconclusos nossos projetos dramáticos estão.
bancos da universidade? Seria mais feliz? E se o Naldinho tivesse Escravos da nossa verdade histórica determinadora das conservas
encontrado uma Regina que gostasse dele, teria puxado o gatilho? ou libertos pela criação livre de uma realidade suplementar que restaure
E se ao irmão do Valtinho fosse dada uma oportunidade de sair da a nossa mais genuína verdade psicodramática e poética. Apoderar-se
quase miséria social, teria roubado? Seria preso? Encheria o caneco? dela é o desafio a que nos lançamos.
Morreria na sarjeta? Nós que somos produtos inconclusos de nós mesmos.
Tudo depende de escolhas, é verdade, mas as escolhas transcen-
dem a simples vontade, pré-determinadas, em parte, pelas imposições
socio-culturais. Um certo jogo de cartas marcadas nesse mundo repleto São Paulo, 25 de outubro de 2009
de desigualdades que não se acertam nunca. (um domingo de primavera)
(*) O autor se refere a um episódio da vida de Moreno em que, ainda criança, brincando de ser Deus, despenca de uma pilha de cadeiras e quebra um braço.
Idealismo Universal
Carlos Augusto Ferreira Galvão
Médico psiquiatra em São Paulo
Fazia algum tempo que nossos congressos e jornadas A segunda consequência é bem doméstica e tem a ver
não contavam com a presença dos “hermanitos” argenti- com a surpresa de alguns colegas sobre os critérios usados
nos. Sentíamos falta dos velhos conhecidos como o Victor para a premiação de textos em língua estrangeira. Res-
José Fryc e suas hilárias crônicas, dos amigos que sempre pondi para alguns que o critério passa a ser o conteúdo da
trazia... Mas desta vez, em nossa última Jornada, os platinos obra, tendo como limite, óbvio, o entendimento do texto
vieram com tudo. pelo julgador. Claro que se um colega alemão quisesse
O trabalho de Victor Fryc sobre uma estátua é cósmico e apresentar um texto em nossa Jornada, haveria espaço,
provocará gargalhadas em quem conseguir um mínimo de educação em ouvir, mas nenhuma exigência para que os
entendimento do texto, em qualquer lugar do mundo. Nes- julgadores lessem alemão, e dificilmente seria premiado;
te contexto, afora a elegância glamorosa que os argentinos convenhamos, no entanto, que a língua dos “hermanitos”
sempre emprestam a nossas jornadas, é um privilégio poder é de bem mais fácil entendimento num país lusófono do
entendê-los, pois é comum nos brindarem com trabalhos literá- que a língua germânica.
rios extraordinários, plenos de sensibilidade e sentimentos. Somos médicos antes de sermos escritores, portanto de
Um deles, o colega Miguel Angel Manzi, conquistou uma profissão que cuida do ser humano independente-
menção honrosa em conto e o 3o lugar em poesia, o que mente de suas características de raça ou de outra qualquer,
gerou duas consequências. A primeira é que tal premiação, inclusive da língua em que se expressa. Acredito que faz
por certo, estimulará a presença de mais colegas da nação parte dentre os ideais da SOBRAMES, e de entidades irmãs
irmã, quando um de seus filhos ganha um prêmio num espalhadas pelo mundo, a ruptura das barreiras entre os
congresso literário em uma nação de língua diferente. seres humanos; o verdadeiro ideal da paz universal. Tratan-
Não sei não... Acredito que seja algo inédito. De parabéns do como iguais os textos dos colegas argentinos, estamos
o colega e toda a nação argentina. fazendo a nossa parte.
6. 6 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
SUPLEMENTO LITERÁRIO
Agosto
Prêmio SuperPizza
Tema: Agosto, Mês de Desgosto
Flerts Nebó
Médico aposentado em São Paulo
Dizem que agosto
Valsinha É mês de desgosto.
Também que é mês
De cachorro louco
Não ligo... e até faço pouco
Mas eu... ...Fico a gosto.
Luiz Jorge Ferreira
Médico Clínico em São Paulo Agosto é mês de desgosto;
Pois nem sempre é assim,
Mas há quem diga que sim!
E se acontecer da dor acontecer Mas eu... ...Fico a gosto
E se esta dor em mim só for você
E se ela me fizer sangrar Agosto tem dia dos pais,
E se eu desmaiar Tem também os dias dos “ais”...
Tudo isto em pleno mês de agosto
E se acontecer de eu me esquecer Mas eu... ...Fico a gosto
E se você nunca se lembrar
E se de repente eu não existir Em agosto, tem dia de Maria,
E me ferir e me embriagar Disto, todo mundo já sabia;
E de manhã for eu quem não chegar Mas agosto... ...é agosto.
E eu... ...Fico bem a gosto!
E se eu espalhar demais os meus pedaços
E se você por Deus não os juntar Tem o dia do soldado,
E por acaso eu nunca mais estando Tem também o dia do namorado
E acontecer em nós da dor voltar Tem dias que nem tem gosto
Mas eu... ...Fico bem a gosto.
E finde o dia e a gente não perceba.
E a vida fuja e a gente não esteja. Ele é o oitavo mês do ano
- Como poderemos. - Ser feliz. E nele se sofre desengano.
E se nos perdermos nas esquinas É ainda mês de vento louco
E se nos escondermos entre nós Mas eu... ...Fico sempre a gosto.
E se dormirmos em noites diferentes Vamos agora dar um fim
E se for outro o nome de alguém A esta poesia chinfrim,
E se fingirmos ter saudades. Pois falamos de Agosto
E se um chegar depois Mas eu... ...Fico bem a gosto.
E se desunirem as cidades
E tudo isto é...
E se for frio na sala e o sol brilhar no hall Tão somente
E se envelhecermos no Outono Para todo o vosso
E se diminuirmos a visão Grande... ...desgosto!
E se desaparecer o seu sorriso
Pois tudo isto me deu,
E se o coração tiver razão
E porque não vou dizer,
E se você vier vestida Um grande prazer
E se houver água no mar E mesmo até, muito gosto
E se vier trazendo a vida
E se eu tiver ido banhar Por ter enchido
Vossa paciência
E se dançarmos uma valsa Em pleno mês de AGOSTO
E se o som vier do luar E eu... ...Fiquei bem a gosto!
E eu sonhar que foi um sonho.
7. SUPLEMENTO LITERÁRIO
O BANDEIRANTE - Outubro de 2009 7
Premiados nos concursos da V Jornada Nacional
da Sobrames, X Jornada Médico-Literária
Paulista e VI Sobramíada.
Conto:
1o – Maria do Céu Coutinho Louzã (São Paulo – SP)
2o – Rodolpho Civile (São José dos Campos – SP)
3o – Vilma Clóris de Carvalho (Recife – PE) PUBLICIDADE
Menções honrosas: Fátima Calife (Recife – PE) TABELA DE PREÇOS 2009
Miguel Angel Manzi (Buenos Aires – Argentina) (valor do anúncio por edição)
1 módulo horizontal R$ 30,00
2 módulos horizontais R$ 60,00
Prosa (não conto):
3 módulos horizontais R$ 90,00
2 módulos verticais R$ 60,00
1o – Sebastião Abrão Salim (Belo Horizonte – MG) 4 módulos R$ 120,00
2o – José Warmuth Teixeira (Tubarão – SC) 6 módulos R$ 180,00
3o – José Warmuth Teixeira (Tubarão – SC) Outros tamanhos sob consulta
Menções honrosas: Nelson Jacintho (Ribeirão Preto – SP) heomini.ops@terra.com.br
Zilda Cormack (Rio de Janeiro – RJ) ligiapezzuto@terra.com.br
Poesia:
1o – José Jucovsky (São Paulo – SP) REVISÃO
2o – Josef Tock (São Paulo – SP) de textos em geral
3o – Miguel Angel Manzi (Buenos Aires – Argentina)
Menções honrosas: Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí – SP) Ligia Pezzuto
Especialista em Língua Portuguesa
Márcia Etelli (São Paulo – SP)
(11) 3864-4494 ou 8546-1725
Prêmio VI Sobramíada
Conto: 1o – Josyanne Rita de Arruda Franco (Jundiaí – SP)
ROBERTO CAETANO MIRAGLIA
Prosa: 2o – Marco Aurélio Baggio (Belo Horizonte – MG) ADVOGADO - OAB-SP 51.532
Poesia: 3o – Nelson Jacintho (Ribeirão Preto – SP)
ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS
NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO
COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICA
Gratidão da Sobrames à Empresa TELEFONES: (11) 3277-1192 – 3207-9224
Implacil de Bortoli
Terminou de
A Sobrames de São Paulo agradece à empresa de implantes dentários escrever seu
Implacil De Bortoli ao nos ter ofertado gentilmente canetas e blocos, muito
úteis nos nossos eventos e que foram distribuídos nas pastas entregues aos livro? Então
participantes da X Jornada Médico-Literária Paulista, V Jornada Nacional da publique!
Sobrames e VI Sobramíada, eventos que se realizaram em São Paulo, nos dias
17 a 19 de setembro de 2009.
Nesta hora importante, não deixe de
A Implacil De Bortoli é uma empresa que há mais de 20 anos se destaca
por oferecer o melhor em implantes dentários, instrumentais cirúrgicos e consultar a RUMO EDITORIAL.
Publicações com qualidade impecável,
componentes protéticos, e vem investindo em aprimoramento tecnológico
dedicação, cuidado artesanal e preço
em toda a sua linha de produtos. Situada à rua Vicente de Carvalho, 182, no justo. Você não tem mais desculpas
Cambuci – telefone 3203-0991, tem o e-mail: contato@implacil.com.br. para deixar seu talento na gaveta.
À Implacil De Bortoli, mais uma vez, nossos agradecimentos e os melhores
rumoeditorial@uol.com.br
votos de muito sucesso.
(11) 9182-4815
Diretoria da Sobrames – SP
8. 8 O BANDEIRANTE - Outubro de 2009
SUPLEMENTO LITERÁRIO
São Paulo dos Paulistas e dos
Brasileiros
(continuação da primeira página)
pelo número de assaltos e mortes de- ponte estaiada no mundo com duas assim como oriundos de cidades do
les decorridas; pela selva de pedras pistas em curva conectadas a um mes- interior do Estado de São Paulo.
formada com seus inúmeros edifícios; mo mastro (!), dentre tantos outros Ah! Igualmente não posso me es-
pela obsessão de trabalhar de sua gen- símbolos e cimélios. quecer de mencionar que muitos che-
te; pela maneira apressada do povo se Faz-se mister abrir parêntesis: o fes de serviços, assistentes, enfermei-
deslocar nos logradouros, sendo por lema da divisa da cidade (em epígrafe, ras e funcionários que lá trabalham
isso já chamada de “neurópolis”... non ducor duco) não sintetiza presun- são de diferentes rincões deste imenso
Por outro lado, São Paulo encanta ção, acinte, arrogância ou cabotina- país. Tenho colegas meus – contempo-
pelo convívio de antigos e novos edifí- gem de seus munícipes perante os râneos de residência médica – naturais
cios e pelo urbanismo de suas praças, demais brasileiros, mas explicita sua da Bahia e de Minas Gerais que são da
parques e avenidas; extasia pela ousa- missão, assim como enaltece a inde- atual diretoria do Conselho Regional
dia e vanguardismo de sua arquitetura pendência e a liderança que a cidade de Medicina do Estado de São Paulo,
contemporânea, bem como pelo triun- galgou, fruto do trabalho de sua gente em cujas últimas eleições participaram
fo de ter vencido a gigantesca poluição e de uma miríade de imigrantes de diversas chapas.
visual há pouco ostentada em placas dentro e de fora do País. Não posso também me olvidar
e outdoors de todos os matizes que, A propósito, particularmente, esta de mencionar que a nossa querida
quando não emporcalhava, escondia metrópole fascina pela acolhida des- Sobrames do Estado de São Paulo é
seu contorno e sua beleza. São Paulo, medida não somente a uma grande muitíssimo enriquecida pela presença
outrossim, deleita por possuir uma diversidade de irmãos de todos os Esta- de profícuos e destacados escritores
das mais diversificadas e deliciosas dos da nação, como também de povos oriundos do Pará, Bahia, Maranhão,
gastronomias do planeta; maravilha de etnias dos mais remotos rincões do Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas
pelo número, dimensões e variedade planeta. Assim, São Paulo se orgulha Gerais, Amapá e até do Equador e
de seus museus, parques de diversão, por não ser provinciana, situação que de Moçambique, que escolheram as
centros de exposição e shopping cen- privilegia a poucos que estão ligados terras bandeirantes para viver e con-
ters; surpreende pela sua significativa direta ou indiretamente ao centro tribuir com seu desenvolvimento.
produção científica, tecnológica e pela do poder em muitos municípios. Ao Por fim, São Paulo também sur-
pluralidade cultural; e espanta pela contrário, dá oportunidade a ambos preende pela sua imensa genero-
sua capacidade de realizar negócios e os sexos: ao mais preparado, ao mais sidade, quer no voluntariado exer-
movimentar o comércio. competente, ao mais oportuno, ao mais cido em igrejas, organizações não
São Paulo é uma megalópole mul- trabalhador e ao mais dedicado. Ainda governamentais, clubes de serviço,
ticultural e multiétnica, constituindo- que sempre existam influências polí- quer no auxílio a vítimas de catás-
se na maior cidade japonesa fora do ticas e pessoais, naturalmente muito trofes naturais que ultimamente,
Japão; na maior cidade portuguesa de diluídas em seu oceano populacional, infelizmente, têm-se tornado muito
além-mar; na maior cidade libanesa não se vê desbragada e acintosamente frequentes em nosso país. Nesta terra
fora do Líbano e na terceira maior a discriminação a favor de seus conter- viveram e trabalharam padre José de
cidade italiana fora da Itália! râneos em detrimento de outros brasi- Anchieta (1534-1597), frei Antônio
Dentre tantos marcos que carac- leiros na disputa de empregos e cargos de Sant’Anna Galvão (1739-1822),
terizam este município sui generis como ocorre em outras plagas. madre Paulina (1865-1942), assim
têm-se o Pátio do Colégio, local de Gostaria de citar alguns exemplos como uma miríade de santas e santos
sua fundação; o Museu do Ipiranga, próximos a mim: No Hospital do Ser- anônimos que em seus 455 anos de
onde começou o Brasil independente; vidor Público de Estado de São Paulo, existência a tem fertilizado e tornado
a Estação da Luz, onde abriga o inu- hospital-escola a que muito me orgulho melhor com sua abnegação irrestrita,
sitado Museu da Língua Portuguesa; de pertencer – referência nacional no caridade produtiva e altruísmo não
o Parque do Ibirapuera, o Mercado ensino e na especialização médica –, espalhafatoso.
Municipal, o Masp (Museu de Arte a grande maioria dos internos e resi- Prezados amigos e amigas! Esta é a
de São Paulo), o Terraço Itália, a dentes que lá entram por meio de con- cidade que os acolhe de braços esten-
Pinacoteca, o Teatro Municipal, o Me- curso desprovido de favorecimento didos e de coração aberto. Sejam todos
morial da América Latina, a Catedral através de entrevistas, é formada por muito bem-vindos a este encontro de
metropolitana, o fabuloso Museu do colegas forasteiros, muitos de longín- literatura e de congraçamento frater-
Futebol, o Mosteiro de São Bento; o quas cidades e Estados. O serviço de no. Sintam-se em casa, pois a pauli-
Museu de Arte Sacra; a Santa Casa de urologia no qual sou o responsável ceia, também imortalizada na música
Misericórdia; os túneis subaquáticos; pelo departamento de endourologia “Sampa” do baianíssimo Caetano Ve-
os complexos viários, destacando-se tem dois pernambucanos, sendo um loso, gravada em 1975, não pertence
a mais paulista das avenidas; a ponte deles o diretor. O chefe da enferma- apenas a nós, paulistanos e paulistas
Octávio Frias de Oliveira, a única ria é mineiro; há assistentes do Piauí, – Ela é de todos os brasileiros!