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[object Object],N esse momento do filme, percebemos a força que tem a escrita como fator de inclusão e prestígio social, pois aquele que fora desprezado e banido do convívio em sociedade torna-se um líder por ser alfabetizado, ou seja, passa a ter certo poder e regalias sobre os outros.
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N o primeiro relato, o personagem Vicentino afirma que o fundador de Javé é Indalécio, um guerreiro em retirada que, juntamente com seus companheiros de guerra, encontrou ali um lugar seguro.  Já na versão de Deodora, a heroína é Maria Dina, uma figura feminina bastante batalhadora que trouxe para a fundação da cidade a importância e a grandeza da mulher. Mas para um antigo morador de uma comunidade negra o fundador de Javé é Indalêo, um africano. P ara Firmino – o personagem mais questionador e zombeteiro do enredo – a versão contada pelos moradores, na qual Indalécio é posto como o grande fundador e líder que levou o povo em retirada é transformada na imagem de um Indalécio “cagador”, assim como transforma a figura da Maria Dina em uma louca incumbida de guiar o povo rumo à terra prometida.
O utro discurso apresentado e que destoa de todos é o dos Gêmeos, no qual o tema da fundação do povoado é relegado pela história de seus pais e a origem duvidosa de um dos irmãos, “o outro”.  E ssa variedade de versões reinventadas a cada discurso revela a interferência do narrador na história, ou seja, ao escrever ou narrar um fato, a pessoa insere nele suas próprias emoções e interpretações, seus sentimentos e experiências de vida, inventa dados e “floreia” fatos, pois, de acordo com o famoso ditado popular, “quem conta um conto aumenta um ponto”. Daí a grande dificuldade que Antônio Biá encontra em organizar as idéias ditas em um suporte escrito, conforme revela em sua fala: “quanto às histórias, melhor que as fique na boca porque na mão não há quem lhe dê razão”.
A ssim, é no grande embate travado entre o discurso oral e o escrito que se pode observar claramente que somente o fato escrito é considerado capaz de preservar a memória do povo de Javé. Já o fato ocorrido e comentado não tem valia para fins de prova, uma vez que o mesmo pode ser alterado de acordo com as crenças, com as necessidades, com a verdade de cada um. É nesse modo de interferir no fato acontecido que se percebe a grande chave do filme: o paralelismo entre verdade – invenção, memória – história. É  interessante observar que todo o episódio acontecido em Javé é narrado por Zaqueu, personagem que esteve ausente durante a maioria dos acontecimentos. Portanto podemos concluir que a versão dos fatos é a dele próprio, ou seja, o fato narrado por ele pode estar repleto de exageros, desvios, intenções próprias.
A o final do filme, o “Livro da Salvação” com a grande história do Vale do Javé não é escrito, pois ao tentar resgatar a memória dos moradores do vilarejo, o que prevalece é um relato individual. Assim, a luta para salvar o povoado vai, literalmente, por água abaixo. A represa é construída, Vale do Javé é inundado.
E ntretanto, mesmo o objetivo não tendo sido alcançado a tempo, Antônio Biá resolve escrever com seriedade a história do povoado, não mais para tentar salvá-lo, mas sim para eternizar esse povo e mostrar como a inundação do Vale do Javé interferiu no movimento de suas vidas.
O  filme  “Narradores de Javé”  é repleto de aspectos que merecem destaque, como a predominância da memória mítica dos moradores do povoado, registrada apenas pela oralidade, de maneira dinâmica e não distante, confrontando a memória coletiva com a memória individual, jogando com a mudança temporal, para que se perceba a importância entre os dois.   O utro aspecto relevante é o fato da comunidade de Javé ser essencialmente oral, a apropriação das terras é feita de forma cantada, isto é, não se faz necessária a escritura das terras, o canto é suficiente para assegurar a posse delas. Contudo, em dado momento, os moradores precisam documentar tudo aquilo que até então só havia sido contado, gerando uma grande confusão, pois a oralidade permite um refazer constante dos fatos, enquanto que a escrita concretiza o fato de uma vez por todas, evitando, assim, pluralidade de versões a cerca do fato acontecido.
A   variedade linguística também é retratada no filme através dos falares dos personagens, impregnados por expressões que demarcam diferenças dialetais (diferenças de região e classe social) e diferenças de registro (língua falada, coloquialismo), como é o caso dos apelidos que Biá aplica aos moradores: “manicure de lacraia”, “abelha menstruada”, “queixo de galinha”. São essas variações que nos aproximam bastante da vida dos personagens.     D iante do exposto, podemos concluir que o filme  Narradores de Javé  trata de assuntos polêmicos, atuais e dignos de serem discutidos. Mas vale ressaltar que a problemática que norteia o enredo do filme, apesar de trazer questões dramáticas, o faz de uma maneira leve, inteligente, bem humorada, evitando, assim, cair na mesmice do cinema brasileiro que, normalmente, ao filmar o Nordeste, conta a história de uma pequena cidade cheia de misérias e desigualdades sociais.  Narradores de Javé  é um filme impressionante e bastante agradável de assistir, quer por sua trilha sonora alegre e inovadora, quer pela capacidade dos atores, quer pelo cenário suave e divertido gerado pelo desenrolar dos fatos.
 

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Narradores De Javé

  • 1.
  • 2.
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  • 4.
  • 5.
  • 6. N o primeiro relato, o personagem Vicentino afirma que o fundador de Javé é Indalécio, um guerreiro em retirada que, juntamente com seus companheiros de guerra, encontrou ali um lugar seguro. Já na versão de Deodora, a heroína é Maria Dina, uma figura feminina bastante batalhadora que trouxe para a fundação da cidade a importância e a grandeza da mulher. Mas para um antigo morador de uma comunidade negra o fundador de Javé é Indalêo, um africano. P ara Firmino – o personagem mais questionador e zombeteiro do enredo – a versão contada pelos moradores, na qual Indalécio é posto como o grande fundador e líder que levou o povo em retirada é transformada na imagem de um Indalécio “cagador”, assim como transforma a figura da Maria Dina em uma louca incumbida de guiar o povo rumo à terra prometida.
  • 7. O utro discurso apresentado e que destoa de todos é o dos Gêmeos, no qual o tema da fundação do povoado é relegado pela história de seus pais e a origem duvidosa de um dos irmãos, “o outro”. E ssa variedade de versões reinventadas a cada discurso revela a interferência do narrador na história, ou seja, ao escrever ou narrar um fato, a pessoa insere nele suas próprias emoções e interpretações, seus sentimentos e experiências de vida, inventa dados e “floreia” fatos, pois, de acordo com o famoso ditado popular, “quem conta um conto aumenta um ponto”. Daí a grande dificuldade que Antônio Biá encontra em organizar as idéias ditas em um suporte escrito, conforme revela em sua fala: “quanto às histórias, melhor que as fique na boca porque na mão não há quem lhe dê razão”.
  • 8. A ssim, é no grande embate travado entre o discurso oral e o escrito que se pode observar claramente que somente o fato escrito é considerado capaz de preservar a memória do povo de Javé. Já o fato ocorrido e comentado não tem valia para fins de prova, uma vez que o mesmo pode ser alterado de acordo com as crenças, com as necessidades, com a verdade de cada um. É nesse modo de interferir no fato acontecido que se percebe a grande chave do filme: o paralelismo entre verdade – invenção, memória – história. É interessante observar que todo o episódio acontecido em Javé é narrado por Zaqueu, personagem que esteve ausente durante a maioria dos acontecimentos. Portanto podemos concluir que a versão dos fatos é a dele próprio, ou seja, o fato narrado por ele pode estar repleto de exageros, desvios, intenções próprias.
  • 9. A o final do filme, o “Livro da Salvação” com a grande história do Vale do Javé não é escrito, pois ao tentar resgatar a memória dos moradores do vilarejo, o que prevalece é um relato individual. Assim, a luta para salvar o povoado vai, literalmente, por água abaixo. A represa é construída, Vale do Javé é inundado.
  • 10. E ntretanto, mesmo o objetivo não tendo sido alcançado a tempo, Antônio Biá resolve escrever com seriedade a história do povoado, não mais para tentar salvá-lo, mas sim para eternizar esse povo e mostrar como a inundação do Vale do Javé interferiu no movimento de suas vidas.
  • 11. O filme “Narradores de Javé” é repleto de aspectos que merecem destaque, como a predominância da memória mítica dos moradores do povoado, registrada apenas pela oralidade, de maneira dinâmica e não distante, confrontando a memória coletiva com a memória individual, jogando com a mudança temporal, para que se perceba a importância entre os dois.   O utro aspecto relevante é o fato da comunidade de Javé ser essencialmente oral, a apropriação das terras é feita de forma cantada, isto é, não se faz necessária a escritura das terras, o canto é suficiente para assegurar a posse delas. Contudo, em dado momento, os moradores precisam documentar tudo aquilo que até então só havia sido contado, gerando uma grande confusão, pois a oralidade permite um refazer constante dos fatos, enquanto que a escrita concretiza o fato de uma vez por todas, evitando, assim, pluralidade de versões a cerca do fato acontecido.
  • 12. A variedade linguística também é retratada no filme através dos falares dos personagens, impregnados por expressões que demarcam diferenças dialetais (diferenças de região e classe social) e diferenças de registro (língua falada, coloquialismo), como é o caso dos apelidos que Biá aplica aos moradores: “manicure de lacraia”, “abelha menstruada”, “queixo de galinha”. São essas variações que nos aproximam bastante da vida dos personagens.     D iante do exposto, podemos concluir que o filme Narradores de Javé trata de assuntos polêmicos, atuais e dignos de serem discutidos. Mas vale ressaltar que a problemática que norteia o enredo do filme, apesar de trazer questões dramáticas, o faz de uma maneira leve, inteligente, bem humorada, evitando, assim, cair na mesmice do cinema brasileiro que, normalmente, ao filmar o Nordeste, conta a história de uma pequena cidade cheia de misérias e desigualdades sociais. Narradores de Javé é um filme impressionante e bastante agradável de assistir, quer por sua trilha sonora alegre e inovadora, quer pela capacidade dos atores, quer pelo cenário suave e divertido gerado pelo desenrolar dos fatos.
  • 13.