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A DINÂMICA DOS FLUXOS DOS 
CANAIS ARTIFICIAIS E A 
QUALIDADE DAS ÁGUAS NO 
BAIXO CURSO DO RIO PARAÍBA 
DO SUL 
José Maria Ribeiro Miro 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense 
jmiro.geo@hotmail.com 
Leidiana Alonso Alves 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense 
leididialves@hotmail.com 
Victor dos Santos Souza 
Universidade Federal Fluminense 
vssgeografia@gmail.com 
APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 
A rede hidrográfica brasileira é relativamente conhecida e estudada em diferentes 
aspectos e escalas. A bibliografia encontrada sobre o tema é ampla, porém escassa quando se 
referem a canais artificiais. Dentre os autores que discutem o tema, podem-se destacar as 
contribuições de Sandra Baptista da Cunha e Carlos Eduardo Morelli Tucci. 
Cunha (2009) propõe que a discussão é abrangente sobre a dinâmica das águas no 
território brasileiro. Ela nos conta que as águas superficiais constituem parte da riqueza dos 
recursos naturais e, por tratar-se de um país com grande extensão continental, a rede fluvial 
possui relevante importância ambiental, econômica e social. 
Os principais rios brasileiros resultam de três grandes centros dispersores de águas: 
o Planalto das Guianas, a Cordilheira dos Andes e o Planalto Brasileiro. Estes rios possuem 
diferentes regimes hidrológicos, muitos deles barrados para produzir energia, abastecer as 
populações ou outros corpos hídricos e irrigar terras; como acontece no baixo curso do rio 
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Paraíba dos Sul, conforme descrito por Miro et al. (2013), quando discutem os conflitos e os usos 
da água na região Norte Fluminense. 
A primeira classificação de bacias hidrográficas brasileira foi realizada por Eduardo 
José de Morais em 1894 e baseou-se em critérios específicos como a navegabilidade e a 
situação geográfica. Já a mais difundida foi a que dividiu o país em quatro bacias hidrográficas: 
Amazonas, São Francisco, Platina (Paraná, Paraguai e Uruguai) e um grupo de bacias de porte 
menor chamado de Bacias Orientais (CUNHA, 2009). 
Sobre este tema, Ab’Sáber (1956 apud CUNHA, 2009) considerou as linhas mestras 
do relevo, ou seja, os divisores de água, para apresentar uma classificação na qual propôs cinco 
bacias autônomas para o território brasileiro, que são: Amazonas, São Francisco, Paraná, 
Paraguai e Uruguai. 
Atualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014) têm como 
critérios a posição geográfica e extensão territorial para estabelecer as grandes bacias e sub-bacias 
brasileiras, diferenciando-as das menores, que são as costeiras. Assim, muitas bacias 
não tem seu comportamento totalmente conhecido, pois a sistematização dos dados 
fluviométricos coletados é relativamente recente, datados da década de 1930, a partir da criação 
da Divisão de Águas, do Ministério da Agricultura (CUNHA, 2009). 
Quando a autora discute gestão de bacias hidrográficas, leva em conta os múltiplos 
usos da água e sua distribuição no território. Ela ainda relata que: 
A gestão de bacias hidrográficas é realizada através da criação de comitês de 
bacias, peça chave do sistema de gestão de recursos hídricos que tem como 
objetivo integrar institucionalmente os diferentes interesses existentes na bacia, 
servindo como órgão mediador de conflitos, arbitrando em primeira instância e 
gerando acordos que permitam explorar os recursos hídricos de forma harmônica 
(CUNHA, 2009). 
Nesse sentido, trabalhos estão sendo realizados com o intuito de propor uma gestão 
participativa dos recursos hídricos no baixo curso do rio Paraíba do Sul, tais como os estudos de 
Alves et al. (2013) e Souza et al. (2014). Vale ressaltar que um diagnóstico dos ambientes 
encontrados nas bacias, levando em consideração a preservação e conservação dos recursos 
hídricos regionais, torna-se importante para a gestão de bacias hidrográficas. 
Botelho e Silva (2012) indicam elementos de análise para a discussão sobre a 
qualidade desses ambientes, sugerindo que eles devem ser entendidos como células básicas de 
reflexão e que “[...] permite conhecer e avaliar seus diversos componentes e os processos e 
interações que neles ocorrem”. Sendo assim, admitem uma visão sistêmica e integrada das 
Regiões Hidrográficas. De acordo com os autores, ao identificar-se as condições dos elementos 
que compõem o sistema hidrológico, tais como solo, água, ar, vegetação e os processos 
relacionados a eles (infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação, contaminação) é 
possível fazer uma avaliação do equilíbrio do sistema ou bacia, e até mesmo dimensionar sua 
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qualidade ambiental. 
O estado do ar, da água, do solo, e dos ecossistemas, relaciona-se aos efeitos da 
ação humana, com reflexo no espaço geográfico. Vale ressaltar que a qualidade do ambiente 
deve ser observada não só como o somatório das qualidades de cada componente do meio, 
mas como condição necessária à vida das populações. Eles revelam, ainda, que os estudos 
sobre erosão, manejo e conservação do solo, da água e planejamento ambiental, são os temas 
mais utilizados no recorte espacial de bacias hidrográficas como unidade de análise (BOTELHO 
& SILVA, 2012). 
A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, contém 39 municípios no estado de São 
Paulo, 88 em Minas Gerais e 53 no Rio de Janeiro. Em 1996 foi criado um comitê visando 
integrar a região devido às demandas existentes, onde vivem mais de 5 milhões de pessoas. O 
rio abastece mais de 13 milhões de pessoas, das quais 9 milhões estão na Região Metropolitana 
do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que a área de estudo está contida no baixo curso do rio, 
composta pelos municípios de Campos dos Goytacazes (463.731 habitantes), São Francisco do 
Itabapoana (41.354 habitantes) e São João da Barra (32.747 habitantes) (IBGE, 2014). A Figura 
1 apresenta a demarcação da bacia hidrográfica junto aos três estados onde ela se encontra. 
Figura 1: Bacia do Rio Paraíba do Sul 
Fonte: CIDADE et al. 2014. 
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Para Santos, estudar uma região significa aprofundar-se num mar de relações, 
formas, funções, organizações, estruturas etc., com seus mais distintos níveis de interação. Ele 
ainda revela que: “[...] a região torna-se uma importante categoria de análise, para que possa 
captar a maneira como uma mesma forma de produzir se realiza em pontos específicos do 
planeta ou dentro de um país, associando a nova dinâmica às condições preexistentes” 
(SANTOS, 1994). 
Outro conceito importante para a compreensão da Baixada Campista é o de canais, 
já que ela dispõe de mais de 1.300 km construídos, em sua maior parte pelo extinto 
Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). 
A ideia da criação de canais não é recente, no Egito antigo já existia essa prática. Na 
Europa eles apresentam-se como solução para dominar as paisagens naturais pantanosas, 
inóspitas a ocupação humana. Os holandeses desenvolveram um sistema eficiente de 
drenagem, fazendo parte de um plano urbanístico e de saneamento, no qual servem também 
como vias de circulação fluvial (CEZARIO & SOUZA, 2012). 
Para Guerra e Guerra (2008) canais “São locais por onde escoam as águas fluviais 
e apresentam-se em diferentes formas na superfície da terra”. Quanto a sua classificação, eles 
podem ser dos seguintes tipos: 
Tabela 1: Classificação de canais fluviais 
Tipo de canal Características 
Meandrantes Frequentemente são encontrados nas áreas úmidas cobertas por vegetação ciliar, 
composto de curvas sinuosas e semelhantes entre si. 
Anastomosados 
Apresenta grande volume de carga de fundo que, junto às flutuações das descargas, 
ocasionam inúmeras ramificações, ou múltiplos canais que se subdividem e se 
reencontram separados por ilhas assimétricas e barras arenosas como se vê no Rio 
Paraíba do Sul. 
Retilíneos São canais naturais retos, pouco frequentes, que são controlados pelos cordões 
arenosos ou em planícies deltaicas. 
Artificiais 
Construídos pelo homem para atender os mais diversos objetivos, tais como: drenagem 
de áreas, prevenção de enchentes e inundações, irrigação, dessedentação humanas e 
de animais e laser. 
Fonte: Adaptado de Cunha, 2009. 
Observa-se ainda, que os primeiros canais da Baixada Campista foram construídos 
no início do século XIX, que tinham como função inicial o escoamento da produção agrícola e de 
madeira de lei, que eram extraídas dos Tabuleiros Terciários para abastecer as cidades de 
Campos e do Rio de Janeiro (LAMEGO, 1946). 
Outra função atribuída aos canais da Baixada Campista, é a de drenagem urbana. 
Mas para que eles atingissem esse objetivo, deveriam obedecer a critérios determinados por 
estudos sistemáticos de toda à área, realizados em diferentes escalas e o estabelecimento de 
projetos urbanísticos para o seu entorno, tais como: determinação de gabarito para pontes e 
tubulações; identificação de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) na sua planície de 
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inundação; e a articulação do plano de drenagem com outros projetos municipais, como o de 
transporte público, abastecimento de águas, entre outros. Além disso, para o sucesso do projeto 
é necessário garantir transparência das decisões atuais e futuras, observar critérios técnicos e 
políticos na execução de obras, e privilegiar as ações preventivas, que são mais baratas e de 
maior alcance (TUCCI et al. 2007). 
Um sistema de drenagem deve atender a esses princípios para possibilitar a 
melhoria da qualidade de vida no meio urbano, o que preserva a planície de inundações, pois 
além de favorecer o escoamento e armazenamento de águas, preserva ecossistemas, cria áreas 
verdes e oportunidades de recreação para a população. Para Tucci et al. (2007), “Todo problema 
de drenagem é um problema de alocação de espaço, quantidade e qualidade da água”. Ele 
ainda nos conta que 
[...] Em áreas onde a qualidade da água está deteriorada, as consequências das 
inundações são mais graves e medidas como, por exemplo, a construção de 
reservatórios de amortecimento podem-se tornar inviáveis. Ao contrário, águas 
pluviais de boa qualidade constituem recursos potencialmente utilizáveis para a 
irrigação, abastecimento industrial, recarga de aquíferos, reservatórios de recreação, 
combate a incêndios, etc. (TUCCI et al. 2007). 
Para isso, ele sugere que um projeto eficiente de drenagem urbana deve ter peso 
político, por exemplo, atribuir força de lei ao planejamento e buscar apoio da comunidade, obtida 
através de campanhas de Comunicação Social e projetos de Educação Ambiental. 
Pode-se definir hidrologia urbana como o estudo dos processos hidrológicos 
afetados pela urbanização. Definição que permite correlacionar às dinâmicas gerais que afetam 
os canais urbanos, incluindo o canal Coqueiros, com o crescimento das cidades (GETIRANA, 
2005). 
A região do baixo curso do rio Paraíba do Sul (Região Hidrográfica IX), tem área de 
aproximadamente 14.000 km² e população estimada de 960.262 habitantes (INEA, 2011), e o 
canal Coqueiros uma “área de influência drenada” de 290 km², abrangendo espaços urbanos e 
rurais no município de Campos dos Goytacazes (GETIRANA, 2005). 
Cabe ressaltar, ainda, que o canal tem cota de adução de 4,42 metros de altitude e 
uma declividade média de 0,11 m/km. Ele é o principal canal de drenagem da área urbana da 
cidade de Campos dos Goytacazes, que pelo Censo 2010 do IBGE, estimou que 41% da 
população não têm acesso à rede de esgoto ou fossa séptica, conduzindo esses resíduos a 
canais de drenagem, lagoas, fossas negras, lançamento em valas a céu aberto, rios ou direto no 
mar (CEZARIO & SOUZA, 2012). 
Atualmente, para falar sobre as condições ambientais da área urbana do canal 
Coqueiros é preciso observar que ao deixar a cidade, ele drena áreas agricultáveis, conectando 
a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul ao sistema Lagoa Feia e que as intervenções 
realizadas pelo DNOS resultaram numa complexa rede hídrica (Figura 2), que com a extinção 
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desse órgão (1989), favoreceu a desordem na gestão dos recursos hídricos regionais 
(SOFIATTI, 1998; CARNEIRO, 2003; SOUZA et al. 2014). 
Figura 2: Canais da Baixada Campista 
Elaborado pelos autores. 
A Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) propõe a gestão compartilhada 
das águas, promovendo o ordenamento territorial a partir da articulação dos usuários, que na 
região seria efetivada a partir de um Sistema de Gerenciamento de Comportas dos Canais. 
Instrumentalizar esse processo favoreceria todos os atores sociais, pois o modelo se caracteriza 
por suas dimensões: física, cultural, política, ecológica, econômica e social, podendo ser 
aplicado para diferentes escalas geográficas, refletindo as facetas do “viver” no espaço físico 
(MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2005). 
OBJETIVOS 
O objetivo geral desta pesquisa é compreender a dinâmica hídrica superficial dos 
canais da Baixada Campista e seu reflexo no rio Paraíba do Sul. Nesta etapa, teve como 
objetivo específico à caracterização morfométrica e análise do uso e ocupação da terra no 
entorno do canal Coqueiros em seu perímetro urbano. 
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METODOLOGIA EMPREGADA 
Utilizou-se o método indutivo para as análises da vazão e direção do fluxo do canal 
Coqueiros, como proposto por Cunha (2006). O que significa dizer que a partir do conhecimento 
do caso particular observado, pode-se chegar ao entendimento do universo de comportamento 
dos demais canais da Baixada Campista. Além disso, realizou-se levantamento bibliográfico e 
entrevistas com representantes dos produtores rurais, pescadores, moradores da área urbana 
do canal e do Instituto Estadual do Ambiente. A região apresenta recursos hídricos significativos 
na forma de corpos lóticos e lênticos, observados numa extensa malha de rios, canais artificiais 
e lagoas. Os canais foram planejados para a drenagem do excedente hídrico do rio Paraíba do 
Sul, em direção ao Sistema lagoa Feia, para posterior descarga no oceano. Sua qualidade 
ambiental muitas vezes apresenta-se com baixos níveis de conservação devido ao despejo de 
efluentes domésticos, industriais e agrícolas in natura nos corpos d’água, o que acelera os 
processos de eutrofização e assoreamento (CEZARIO & SOUZA, 2012). 
Para avaliar a morfologia do canal buscaram-se medições da Seção Transversal e 
cálculo de Vazão por meio de 5 Trabalhos de Campo, onde foram realizados registros 
fotográficos em quatro pontos coordenados: 1º: 21°45'41.59" S e 41°18'7.68" O, 2º: 21°46'10.64" 
S e 41°18'8.43" O; 3º: 21°46'45.41" S e 41°18'7.13" O; 4º: 21°47'32.47" S e 41°17'39.62" O. 
Para determinar a Vazão do Canal foi necessário obter-se dados de largura, 
profundidade e velocidade do fluxo nos diferentes pontos, utilizando-se das técnicas propostas 
por Cunha (2013), e descritas pela fórmula Q = L x P x V, onde Q: (descarga); L: (Largura); P: 
(Profundidade Média); V: (Velocidade Média). Para construção do gráfico os dados foram 
plotados no software Excel como se vê na Figura 3. 
Figura 3: Perfil morfométrico do canal Coqueiros 
Elaborado pelos autores. 
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Para a elaboração dos três mapas, com escalas de 1:400.000, 1:250.000 e 
1:50.000, utilizou-se o Software ArcGIS 10.2. Os dados vetoriais foram organizados após a 
criação de um projeto no SIG já citado. Ele foi composto pelos seguintes dados: o Plano de 
Informação (PI) de Geomorfologia e adquirido de forma gratuita no site do Instituto Estadual do 
Ambiente (INEA/RJ), no formato shapefile (shp) em escala 1:100.000, possibilitando inserir 
dados nos mapas elaborados. Já os shapefiles das lagoas e canais, foram criados a partir de 
Ortofotos de escala de 1:25.000 do Projeto RJ-25, disponibilizadas no site do Instituto Brasileiro 
de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), com resolução final de 1 metro. Em seguida foram 
adicioandos os layers relacionados à Hidrografia, Geomorfologia e Área Urbana. Eles foram 
categorizados tematicamente na aba Simbology. 
Todos os dados foram ajustados para a projeção Transversa de Mercator (UTM), 
Datum WGS 84 e Fuso 24 S. Após a organização de todas as informações, o projeto foi 
exportado para o formato JPEG. 
PRINCIPAIS RESULTADOS 
A velocidade das águas em canais apresenta sempre um caráter dinâmico, em 
função da posição ao longo do canal, seu perfil longitudinal. Espera-se que no alto curso ela seja 
maior, o que proporciona processos erosivos mais intensos, diminuindo no médio curso, 
facilitando o transporte de materiais, e que decline no baixo curso até a foz, onde predominam 
os processos deposicionais. Segundo Cunha (2009), obras de engenharia como canalização, 
barramentos, diques artificiais podem causar a degradação de canais fluviais, mudando sua 
dinâmica. Como observado na Figura 4 o canal Coqueiros, assim como os outros grandes 
canais da Baixada Campista, foram construídos para drenar a Planície Fluvial do rio Paraíba do 
Sul em direção ao canal da Flecha e depois ao oceano Atlântico. 
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Figura 4: Localização geomorfológica dos canais da Baixada Campista 
Elaborado pelos autores. 
A análise da paisagem do canal Coqueiros observaram-se diversos níveis de 
estabilidades do referido canal em função de seus usos. Encontraram seguimentos de margens 
pavimentadas, com solo exposto, vegetação rasteira e até trechos com árvores de dez metros de 
altura, como se vê na Figura 5. Em relação à qualidade da água verificaram o despejo de esgoto 
doméstico e industrial in natura, descarte de lixo doméstico pela população, e recepção de 
águas pluviais e de defluentes de canais secundários que drenam outras áreas da cidade. 
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Figura 5: Alterações observadas às margens do canal Coqueiros 
Organizado pelos autores. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos. 
Considerando que a descarga líquida do rio Paraíba do Sul, nas proximidades de 
sua desembocadura, varia sazonalmente entre 300 e 1.650 m³s-1, com descarga mínima nos 
meses de inverno (Figura 6) e máxima no verão. Observou-se e mediu-se experimentalmente 
que nos períodos de estiagem prolongada, há mudança na direção do fluxo superficial do canal 
Coqueiros na direção inversa projetada. Esta intervenção é realizada pela Prefeitura de Campos 
sempre que o rio fica com o nível abaixo da cota de adução para levar água ao canal Coqueiros. 
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Figura 6: Abertura de canal no rio Paraíba do Sul para adução do canal Coqueiros 
Foto: Arquivo Sala Verde IFF. 
Este fenômeno provoca a descarga de águas servidas da área urbana da cidade de 
Campos dos Goytacazes no rio, o que compromete a qualidade de suas águas e o 
abastecimento dos municípios à jusante, fenômeno que pode ocorrer em outros canais. O mapa 
abaixo (Figura 7) ilustra esse fenômeno. 
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Figura 7: Inversão de fluxo do canal Coqueiros na área urbana de Campos 
Elaborado pelos autores. 
Figura 8: Comportas da Baixada Campista 
a) Comportas do canal Coqueiros b) Comportas do canal coqueiros 
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c) Comportas do canal da Flecha d) Comportas do canal do Vigário 
e) Comportas do canal do Vigário f) Comportas do canal Cataia 
Para o manejo das águas dos canais da Baixada Campista, instalou-se um sistema 
de comportas que inicialmente era gerenciado pelo DNOS (Figura 8). Com sua extinção ele 
passou a ser manejado pelos próprios usuários, gerando conflitos relacionados ao uso da água, 
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prejudicando a população urbana por conviver em ambientes insalubres e a população rural com 
seus múltiplos usos. Atualmente, sua gerência está sob o encargo do Instituto Estadual do 
Ambiente (INEA), que pela falta de um Comitê Gestor das Comportas da Baixada Campista é 
sempre questionado quanto à sazonalidade ideal para o seu manejo. 
REFERÊNCIAS 
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Exercícios, técnicas e Aplicações. 6. ed. Rio de 
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GETIRANA, A. C. V. Análise de Soluções de Conflitos 
pelo Uso da Água no Setor Agrícola Através de 
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Dissertação (mestrado em Engenharia Civil) – 
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação 
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4.ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ABRH, 
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SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço habitado. 3. 
ed. São Paulo: Hucitec, 1994. 
SOFFIATI, A. A. Histórico Sócio-ecológico: Aspectos 
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de Janeiro In: Esteves, F. A. Ecologia das lagoas 
costeiras. Macaé: NUPEM/UFRJ, 1998. 
SOUZA, V. S.; ALVES, L. A.; MIRO, J. M. R.; CUNHA, 
S. B da. Morfologia e qualidade ambiental do 
trecho urbano do canal Coqueiros – Campos dos 
Goytacazes/RJ. In: REUNIÃO ANUAL DA 
SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O 
PROGRESSO DA CIÊNCIA, 66., 2014, Rio 
Branco/Acre. No prelo. 
15
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. 
A DINÂMICA DOS FLUXOS DOS CANAIS ARTIFICIAIS E A 
QUALIDADE DAS ÁGUAS NO BAIXO CURSO DO RIO 
PARAÍBA DO SUL 
EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional 
RESUMO 
No baixo curso do rio Paraíba do Sul há ambientes fluviais artificiais que foram construídos 
principalmente a partir da década de 1940 pelo extinto Departamento Nacional de Obras e 
Saneamento (DNOS). Eles permitiram a drenagem de áreas agricultáveis, conectando a bacia 
hidrográfica do rio Paraíba do Sul ao sistema Lagoa Feia. Essas intervenções resultaram numa 
complexa rede hídrica, que com o fim do DNOS (1989), favoreceu a desordem na gestão dos 
recursos hídricos regional. Para o manejo desses canais, instalou-se um sistema de comportas 
gerenciado pelo órgão, que com sua extinção passou a ser manejado pelos seus usuários, 
gerando conflitos relacionados ao uso da água, prejudicando a população urbana por conviver 
em ambientes insalubres e a população rural com seus múltiplos usos. A Política Nacional dos 
Recursos Hídricos (PNRH) propõe a gestão compartilhada das águas, promovendo o 
ordenamento territorial a partir da articulação dos usuários, que na região seria efetivada a partir 
de um Sistema de Gerenciamento de Comportas dos Canais. Instrumentalizar esse processo 
favoreceria todos os atores sociais, pois o modelo se caracteriza por suas dimensões: física, 
cultural, política, ecológica, econômica e social, podendo ser aplicado para diferentes escalas 
geográficas, refletindo as facetas do “viver” no espaço físico. Este trabalho teve como objetivo 
compreender a dinâmica hídrica superficial dos canais da Baixada Campista e seu reflexo no rio 
Paraíba do Sul, medido a partir da inversão de fluxo que ocorre sazonalmente, tendo como 
exemplo o canal Coqueiros. Utilizou-se o método indutivo para as análises da vazão e direção 
do fluxo do canal Coqueiros, como proposto por Cunha (2006). O que significa dizer que a partir 
do conhecimento do caso particular observado, pode-se chegar ao entendimento do universo de 
comportamento dos demais canais da Baixada Campista. Além disso, realizou-se levantamento 
bibliográfico e entrevistas com representantes dos produtores rurais, pescadores, moradores da 
16
http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. 
área urbana do canal e do Instituto Estadual do Ambiente. A região apresenta recursos hídricos 
significativos na forma de corpos lóticos e lênticos, observados numa extensa malha de rios, 
canais artificiais e lagoas. Os canais foram planejados para a drenagem do excedente hídrico do 
rio Paraíba do Sul, em direção ao Sistema lagoa Feia, para posterior descarga no oceano. Sua 
qualidade ambiental muitas vezes apresenta-se com baixos níveis de conservação devido ao 
despejo de efluentes domésticos, industriais e agrícolas in natura nos corpos d’água, o que 
acelera os processos de eutrofização e assoreamento. Considerando que a descarga líquida do 
rio Paraíba do Sul, nas proximidades de sua desembocadura, varia sazonalmente entre 300 e 
1.650 m³s-1, com descarga mínima nos meses de inverno e máxima no verão. Observou-se e 
mediu-se experimentalmente que nos períodos de estiagem prolongada, há mudança na direção 
do fluxo superficial do canal Coqueiros na direção inversa projetada. Este fenômeno provoca a 
descarga de águas servidas da área urbana da cidade de Campos dos Goytacazes no rio, o que 
compromete a qualidade de suas águas e o abastecimento dos municípios à jusante, fenômeno 
que pode ocorrer em outros canais. 
Palavras-chave: ordenamento territorial; recursos hídricos; gerenciamento de comportas. 
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Qualidade das águas e canais artificiais no baixo curso do rio Paraíba do Sul

  • 1. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. A DINÂMICA DOS FLUXOS DOS CANAIS ARTIFICIAIS E A QUALIDADE DAS ÁGUAS NO BAIXO CURSO DO RIO PARAÍBA DO SUL José Maria Ribeiro Miro Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense jmiro.geo@hotmail.com Leidiana Alonso Alves Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense leididialves@hotmail.com Victor dos Santos Souza Universidade Federal Fluminense vssgeografia@gmail.com APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA A rede hidrográfica brasileira é relativamente conhecida e estudada em diferentes aspectos e escalas. A bibliografia encontrada sobre o tema é ampla, porém escassa quando se referem a canais artificiais. Dentre os autores que discutem o tema, podem-se destacar as contribuições de Sandra Baptista da Cunha e Carlos Eduardo Morelli Tucci. Cunha (2009) propõe que a discussão é abrangente sobre a dinâmica das águas no território brasileiro. Ela nos conta que as águas superficiais constituem parte da riqueza dos recursos naturais e, por tratar-se de um país com grande extensão continental, a rede fluvial possui relevante importância ambiental, econômica e social. Os principais rios brasileiros resultam de três grandes centros dispersores de águas: o Planalto das Guianas, a Cordilheira dos Andes e o Planalto Brasileiro. Estes rios possuem diferentes regimes hidrológicos, muitos deles barrados para produzir energia, abastecer as populações ou outros corpos hídricos e irrigar terras; como acontece no baixo curso do rio 1
  • 2. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Paraíba dos Sul, conforme descrito por Miro et al. (2013), quando discutem os conflitos e os usos da água na região Norte Fluminense. A primeira classificação de bacias hidrográficas brasileira foi realizada por Eduardo José de Morais em 1894 e baseou-se em critérios específicos como a navegabilidade e a situação geográfica. Já a mais difundida foi a que dividiu o país em quatro bacias hidrográficas: Amazonas, São Francisco, Platina (Paraná, Paraguai e Uruguai) e um grupo de bacias de porte menor chamado de Bacias Orientais (CUNHA, 2009). Sobre este tema, Ab’Sáber (1956 apud CUNHA, 2009) considerou as linhas mestras do relevo, ou seja, os divisores de água, para apresentar uma classificação na qual propôs cinco bacias autônomas para o território brasileiro, que são: Amazonas, São Francisco, Paraná, Paraguai e Uruguai. Atualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014) têm como critérios a posição geográfica e extensão territorial para estabelecer as grandes bacias e sub-bacias brasileiras, diferenciando-as das menores, que são as costeiras. Assim, muitas bacias não tem seu comportamento totalmente conhecido, pois a sistematização dos dados fluviométricos coletados é relativamente recente, datados da década de 1930, a partir da criação da Divisão de Águas, do Ministério da Agricultura (CUNHA, 2009). Quando a autora discute gestão de bacias hidrográficas, leva em conta os múltiplos usos da água e sua distribuição no território. Ela ainda relata que: A gestão de bacias hidrográficas é realizada através da criação de comitês de bacias, peça chave do sistema de gestão de recursos hídricos que tem como objetivo integrar institucionalmente os diferentes interesses existentes na bacia, servindo como órgão mediador de conflitos, arbitrando em primeira instância e gerando acordos que permitam explorar os recursos hídricos de forma harmônica (CUNHA, 2009). Nesse sentido, trabalhos estão sendo realizados com o intuito de propor uma gestão participativa dos recursos hídricos no baixo curso do rio Paraíba do Sul, tais como os estudos de Alves et al. (2013) e Souza et al. (2014). Vale ressaltar que um diagnóstico dos ambientes encontrados nas bacias, levando em consideração a preservação e conservação dos recursos hídricos regionais, torna-se importante para a gestão de bacias hidrográficas. Botelho e Silva (2012) indicam elementos de análise para a discussão sobre a qualidade desses ambientes, sugerindo que eles devem ser entendidos como células básicas de reflexão e que “[...] permite conhecer e avaliar seus diversos componentes e os processos e interações que neles ocorrem”. Sendo assim, admitem uma visão sistêmica e integrada das Regiões Hidrográficas. De acordo com os autores, ao identificar-se as condições dos elementos que compõem o sistema hidrológico, tais como solo, água, ar, vegetação e os processos relacionados a eles (infiltração, escoamento, erosão, assoreamento, inundação, contaminação) é possível fazer uma avaliação do equilíbrio do sistema ou bacia, e até mesmo dimensionar sua 2
  • 3. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. qualidade ambiental. O estado do ar, da água, do solo, e dos ecossistemas, relaciona-se aos efeitos da ação humana, com reflexo no espaço geográfico. Vale ressaltar que a qualidade do ambiente deve ser observada não só como o somatório das qualidades de cada componente do meio, mas como condição necessária à vida das populações. Eles revelam, ainda, que os estudos sobre erosão, manejo e conservação do solo, da água e planejamento ambiental, são os temas mais utilizados no recorte espacial de bacias hidrográficas como unidade de análise (BOTELHO & SILVA, 2012). A bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, contém 39 municípios no estado de São Paulo, 88 em Minas Gerais e 53 no Rio de Janeiro. Em 1996 foi criado um comitê visando integrar a região devido às demandas existentes, onde vivem mais de 5 milhões de pessoas. O rio abastece mais de 13 milhões de pessoas, das quais 9 milhões estão na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que a área de estudo está contida no baixo curso do rio, composta pelos municípios de Campos dos Goytacazes (463.731 habitantes), São Francisco do Itabapoana (41.354 habitantes) e São João da Barra (32.747 habitantes) (IBGE, 2014). A Figura 1 apresenta a demarcação da bacia hidrográfica junto aos três estados onde ela se encontra. Figura 1: Bacia do Rio Paraíba do Sul Fonte: CIDADE et al. 2014. 3
  • 4. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Para Santos, estudar uma região significa aprofundar-se num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas etc., com seus mais distintos níveis de interação. Ele ainda revela que: “[...] a região torna-se uma importante categoria de análise, para que possa captar a maneira como uma mesma forma de produzir se realiza em pontos específicos do planeta ou dentro de um país, associando a nova dinâmica às condições preexistentes” (SANTOS, 1994). Outro conceito importante para a compreensão da Baixada Campista é o de canais, já que ela dispõe de mais de 1.300 km construídos, em sua maior parte pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). A ideia da criação de canais não é recente, no Egito antigo já existia essa prática. Na Europa eles apresentam-se como solução para dominar as paisagens naturais pantanosas, inóspitas a ocupação humana. Os holandeses desenvolveram um sistema eficiente de drenagem, fazendo parte de um plano urbanístico e de saneamento, no qual servem também como vias de circulação fluvial (CEZARIO & SOUZA, 2012). Para Guerra e Guerra (2008) canais “São locais por onde escoam as águas fluviais e apresentam-se em diferentes formas na superfície da terra”. Quanto a sua classificação, eles podem ser dos seguintes tipos: Tabela 1: Classificação de canais fluviais Tipo de canal Características Meandrantes Frequentemente são encontrados nas áreas úmidas cobertas por vegetação ciliar, composto de curvas sinuosas e semelhantes entre si. Anastomosados Apresenta grande volume de carga de fundo que, junto às flutuações das descargas, ocasionam inúmeras ramificações, ou múltiplos canais que se subdividem e se reencontram separados por ilhas assimétricas e barras arenosas como se vê no Rio Paraíba do Sul. Retilíneos São canais naturais retos, pouco frequentes, que são controlados pelos cordões arenosos ou em planícies deltaicas. Artificiais Construídos pelo homem para atender os mais diversos objetivos, tais como: drenagem de áreas, prevenção de enchentes e inundações, irrigação, dessedentação humanas e de animais e laser. Fonte: Adaptado de Cunha, 2009. Observa-se ainda, que os primeiros canais da Baixada Campista foram construídos no início do século XIX, que tinham como função inicial o escoamento da produção agrícola e de madeira de lei, que eram extraídas dos Tabuleiros Terciários para abastecer as cidades de Campos e do Rio de Janeiro (LAMEGO, 1946). Outra função atribuída aos canais da Baixada Campista, é a de drenagem urbana. Mas para que eles atingissem esse objetivo, deveriam obedecer a critérios determinados por estudos sistemáticos de toda à área, realizados em diferentes escalas e o estabelecimento de projetos urbanísticos para o seu entorno, tais como: determinação de gabarito para pontes e tubulações; identificação de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) na sua planície de 4
  • 5. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. inundação; e a articulação do plano de drenagem com outros projetos municipais, como o de transporte público, abastecimento de águas, entre outros. Além disso, para o sucesso do projeto é necessário garantir transparência das decisões atuais e futuras, observar critérios técnicos e políticos na execução de obras, e privilegiar as ações preventivas, que são mais baratas e de maior alcance (TUCCI et al. 2007). Um sistema de drenagem deve atender a esses princípios para possibilitar a melhoria da qualidade de vida no meio urbano, o que preserva a planície de inundações, pois além de favorecer o escoamento e armazenamento de águas, preserva ecossistemas, cria áreas verdes e oportunidades de recreação para a população. Para Tucci et al. (2007), “Todo problema de drenagem é um problema de alocação de espaço, quantidade e qualidade da água”. Ele ainda nos conta que [...] Em áreas onde a qualidade da água está deteriorada, as consequências das inundações são mais graves e medidas como, por exemplo, a construção de reservatórios de amortecimento podem-se tornar inviáveis. Ao contrário, águas pluviais de boa qualidade constituem recursos potencialmente utilizáveis para a irrigação, abastecimento industrial, recarga de aquíferos, reservatórios de recreação, combate a incêndios, etc. (TUCCI et al. 2007). Para isso, ele sugere que um projeto eficiente de drenagem urbana deve ter peso político, por exemplo, atribuir força de lei ao planejamento e buscar apoio da comunidade, obtida através de campanhas de Comunicação Social e projetos de Educação Ambiental. Pode-se definir hidrologia urbana como o estudo dos processos hidrológicos afetados pela urbanização. Definição que permite correlacionar às dinâmicas gerais que afetam os canais urbanos, incluindo o canal Coqueiros, com o crescimento das cidades (GETIRANA, 2005). A região do baixo curso do rio Paraíba do Sul (Região Hidrográfica IX), tem área de aproximadamente 14.000 km² e população estimada de 960.262 habitantes (INEA, 2011), e o canal Coqueiros uma “área de influência drenada” de 290 km², abrangendo espaços urbanos e rurais no município de Campos dos Goytacazes (GETIRANA, 2005). Cabe ressaltar, ainda, que o canal tem cota de adução de 4,42 metros de altitude e uma declividade média de 0,11 m/km. Ele é o principal canal de drenagem da área urbana da cidade de Campos dos Goytacazes, que pelo Censo 2010 do IBGE, estimou que 41% da população não têm acesso à rede de esgoto ou fossa séptica, conduzindo esses resíduos a canais de drenagem, lagoas, fossas negras, lançamento em valas a céu aberto, rios ou direto no mar (CEZARIO & SOUZA, 2012). Atualmente, para falar sobre as condições ambientais da área urbana do canal Coqueiros é preciso observar que ao deixar a cidade, ele drena áreas agricultáveis, conectando a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul ao sistema Lagoa Feia e que as intervenções realizadas pelo DNOS resultaram numa complexa rede hídrica (Figura 2), que com a extinção 5
  • 6. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. desse órgão (1989), favoreceu a desordem na gestão dos recursos hídricos regionais (SOFIATTI, 1998; CARNEIRO, 2003; SOUZA et al. 2014). Figura 2: Canais da Baixada Campista Elaborado pelos autores. A Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) propõe a gestão compartilhada das águas, promovendo o ordenamento territorial a partir da articulação dos usuários, que na região seria efetivada a partir de um Sistema de Gerenciamento de Comportas dos Canais. Instrumentalizar esse processo favoreceria todos os atores sociais, pois o modelo se caracteriza por suas dimensões: física, cultural, política, ecológica, econômica e social, podendo ser aplicado para diferentes escalas geográficas, refletindo as facetas do “viver” no espaço físico (MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, 2005). OBJETIVOS O objetivo geral desta pesquisa é compreender a dinâmica hídrica superficial dos canais da Baixada Campista e seu reflexo no rio Paraíba do Sul. Nesta etapa, teve como objetivo específico à caracterização morfométrica e análise do uso e ocupação da terra no entorno do canal Coqueiros em seu perímetro urbano. 6
  • 7. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. METODOLOGIA EMPREGADA Utilizou-se o método indutivo para as análises da vazão e direção do fluxo do canal Coqueiros, como proposto por Cunha (2006). O que significa dizer que a partir do conhecimento do caso particular observado, pode-se chegar ao entendimento do universo de comportamento dos demais canais da Baixada Campista. Além disso, realizou-se levantamento bibliográfico e entrevistas com representantes dos produtores rurais, pescadores, moradores da área urbana do canal e do Instituto Estadual do Ambiente. A região apresenta recursos hídricos significativos na forma de corpos lóticos e lênticos, observados numa extensa malha de rios, canais artificiais e lagoas. Os canais foram planejados para a drenagem do excedente hídrico do rio Paraíba do Sul, em direção ao Sistema lagoa Feia, para posterior descarga no oceano. Sua qualidade ambiental muitas vezes apresenta-se com baixos níveis de conservação devido ao despejo de efluentes domésticos, industriais e agrícolas in natura nos corpos d’água, o que acelera os processos de eutrofização e assoreamento (CEZARIO & SOUZA, 2012). Para avaliar a morfologia do canal buscaram-se medições da Seção Transversal e cálculo de Vazão por meio de 5 Trabalhos de Campo, onde foram realizados registros fotográficos em quatro pontos coordenados: 1º: 21°45'41.59" S e 41°18'7.68" O, 2º: 21°46'10.64" S e 41°18'8.43" O; 3º: 21°46'45.41" S e 41°18'7.13" O; 4º: 21°47'32.47" S e 41°17'39.62" O. Para determinar a Vazão do Canal foi necessário obter-se dados de largura, profundidade e velocidade do fluxo nos diferentes pontos, utilizando-se das técnicas propostas por Cunha (2013), e descritas pela fórmula Q = L x P x V, onde Q: (descarga); L: (Largura); P: (Profundidade Média); V: (Velocidade Média). Para construção do gráfico os dados foram plotados no software Excel como se vê na Figura 3. Figura 3: Perfil morfométrico do canal Coqueiros Elaborado pelos autores. 7
  • 8. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Para a elaboração dos três mapas, com escalas de 1:400.000, 1:250.000 e 1:50.000, utilizou-se o Software ArcGIS 10.2. Os dados vetoriais foram organizados após a criação de um projeto no SIG já citado. Ele foi composto pelos seguintes dados: o Plano de Informação (PI) de Geomorfologia e adquirido de forma gratuita no site do Instituto Estadual do Ambiente (INEA/RJ), no formato shapefile (shp) em escala 1:100.000, possibilitando inserir dados nos mapas elaborados. Já os shapefiles das lagoas e canais, foram criados a partir de Ortofotos de escala de 1:25.000 do Projeto RJ-25, disponibilizadas no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2008), com resolução final de 1 metro. Em seguida foram adicioandos os layers relacionados à Hidrografia, Geomorfologia e Área Urbana. Eles foram categorizados tematicamente na aba Simbology. Todos os dados foram ajustados para a projeção Transversa de Mercator (UTM), Datum WGS 84 e Fuso 24 S. Após a organização de todas as informações, o projeto foi exportado para o formato JPEG. PRINCIPAIS RESULTADOS A velocidade das águas em canais apresenta sempre um caráter dinâmico, em função da posição ao longo do canal, seu perfil longitudinal. Espera-se que no alto curso ela seja maior, o que proporciona processos erosivos mais intensos, diminuindo no médio curso, facilitando o transporte de materiais, e que decline no baixo curso até a foz, onde predominam os processos deposicionais. Segundo Cunha (2009), obras de engenharia como canalização, barramentos, diques artificiais podem causar a degradação de canais fluviais, mudando sua dinâmica. Como observado na Figura 4 o canal Coqueiros, assim como os outros grandes canais da Baixada Campista, foram construídos para drenar a Planície Fluvial do rio Paraíba do Sul em direção ao canal da Flecha e depois ao oceano Atlântico. 8
  • 9. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Figura 4: Localização geomorfológica dos canais da Baixada Campista Elaborado pelos autores. A análise da paisagem do canal Coqueiros observaram-se diversos níveis de estabilidades do referido canal em função de seus usos. Encontraram seguimentos de margens pavimentadas, com solo exposto, vegetação rasteira e até trechos com árvores de dez metros de altura, como se vê na Figura 5. Em relação à qualidade da água verificaram o despejo de esgoto doméstico e industrial in natura, descarte de lixo doméstico pela população, e recepção de águas pluviais e de defluentes de canais secundários que drenam outras áreas da cidade. 9
  • 10. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Figura 5: Alterações observadas às margens do canal Coqueiros Organizado pelos autores. Foto: Arquivo Sala Verde IFF Campos. Considerando que a descarga líquida do rio Paraíba do Sul, nas proximidades de sua desembocadura, varia sazonalmente entre 300 e 1.650 m³s-1, com descarga mínima nos meses de inverno (Figura 6) e máxima no verão. Observou-se e mediu-se experimentalmente que nos períodos de estiagem prolongada, há mudança na direção do fluxo superficial do canal Coqueiros na direção inversa projetada. Esta intervenção é realizada pela Prefeitura de Campos sempre que o rio fica com o nível abaixo da cota de adução para levar água ao canal Coqueiros. 10
  • 11. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Figura 6: Abertura de canal no rio Paraíba do Sul para adução do canal Coqueiros Foto: Arquivo Sala Verde IFF. Este fenômeno provoca a descarga de águas servidas da área urbana da cidade de Campos dos Goytacazes no rio, o que compromete a qualidade de suas águas e o abastecimento dos municípios à jusante, fenômeno que pode ocorrer em outros canais. O mapa abaixo (Figura 7) ilustra esse fenômeno. 11
  • 12. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. Figura 7: Inversão de fluxo do canal Coqueiros na área urbana de Campos Elaborado pelos autores. Figura 8: Comportas da Baixada Campista a) Comportas do canal Coqueiros b) Comportas do canal coqueiros 12
  • 13. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. c) Comportas do canal da Flecha d) Comportas do canal do Vigário e) Comportas do canal do Vigário f) Comportas do canal Cataia Para o manejo das águas dos canais da Baixada Campista, instalou-se um sistema de comportas que inicialmente era gerenciado pelo DNOS (Figura 8). Com sua extinção ele passou a ser manejado pelos próprios usuários, gerando conflitos relacionados ao uso da água, 13
  • 14. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. prejudicando a população urbana por conviver em ambientes insalubres e a população rural com seus múltiplos usos. Atualmente, sua gerência está sob o encargo do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), que pela falta de um Comitê Gestor das Comportas da Baixada Campista é sempre questionado quanto à sazonalidade ideal para o seu manejo. REFERÊNCIAS ALVES, L. A.; LIMA, V. S.; MIRO, J. M. R.; COELHO, A. L. N. Classificação Geomorfológica das lagoas da Região Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul- RJ. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 15, 2013, Vitória, ES. Anais... Vitória, 2013, p. 1200-1208. CD-ROM. ISSN: 2236-5311. BOTELHO, R. G. M.; SILVA, A. S. da. Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental. In: VITTE, A. C.; GUERRA, A. J. T. (Org.). Reflexões sobre a geografia física no Brasil. 6.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012. CARNEIRO, P. R. F. Dos pântanos à escassez: uso da água e conflito na Baixada dos Goytacazes. Rio de Janeiro: Annablume, Coppe/UFRJ, 2003. CEZARIO, M. C.; SOUZA, V. dos S. A paisagem como instrumento de avaliação do Canal Coqueiros: da inversão da funcionalidade urbana a dependência rural. 2012. 87f. Monografia de Graduação (Licenciatura em Geografia) – Coordenação de Geografia, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense, Campus Campos-Centro, Campos dos Goytacazes, 2012. CIDADE, C. de A. S.; LIMA, V. S.; NÉTO, N. C. G.; MIRO, J. M. R. Caracterização do uso da terra e população da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEÓGRAFOS, 7, 2014. Vitória, ES. No prelo. CUNHA, S. B.; Canais fluviais e a questão ambiental. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Org.). A questão ambiental: diferentes abordagens. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. ______. Bacias Hidrográficas. In: _____; GUERRA, A. J. T. (Org.). Geomorfologia do Brasil. 5.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. ______. Geomorfologia Fluvial. In: CUNHA, S. B.; GUERRA, A. J. T. (Org.). Geomorfologia Exercícios, técnicas e Aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2013. GETIRANA, A. C. V. Análise de Soluções de Conflitos pelo Uso da Água no Setor Agrícola Através de Técnicas de Programação Linear. 2005. 146f. Dissertação (mestrado em Engenharia Civil) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. GEURRA, A. T.; GUERRA, A. J. T. Novo dicionário Geológico-Geomorfológico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Ortofotos: Projeto RJ escala 1: 25.000. Disponível em: <ftp://geoftp.ibge.gov.br/imagens_aereas/ortofoto /projeto_rj _escala_25mil/tif/>. Acesso em: 20 mar. 2013, 15h 35min. ______. Bacia Hidrográfica. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/popula cao/atlas_saneamento/pdfs/mappag99.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2014, 20h 50mim. INSTITUTO ESTADUAL DO AMBIENTE. Base Temática – O Estado do Ambiente: indicadores ambientais do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.inea.rj.gov.br/basetem atica_estadoambiente/>. Acesso em: 10 set. 2012, 19h 50min. LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a restinga. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1946. MIRO, J. M. R.; ALVES, L. A.; LIMA, V. S.; MIRO, D. O. Gestão participativa dos recursos hídricos da Bacia da Lagoa do Campelo. In: VI SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA; VII SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA; 1ª JORNADA DE GEOGRAFIA DAS ÁGUAS, 22 a 26 set. 2013, João Pessoa/PB. Anais... João Pessoa, 2013. 8. Agrohidronegócio, Conflitos e Alternativas de Gestão da Água. p. 1- 15. CD-ROM. ISBN 978-85-237-0718-7. MORAIS, E. J. de. Navegação interior do Brasil. Rio de Janeiro: Typ. Montenegro, 1894. PORTO, R.; ZAHED FILHO, K.; TUCCI, C. E. M.; 14
  • 15. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. BIDONE, F. Drenagem urbana. In: TUCCI, C. E. M. et al.(Org.). Hidrologia: ciência e aplicação. 4.ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS/ABRH, 2007. SANTOS, M. Metamorfoses do Espaço habitado. 3. ed. São Paulo: Hucitec, 1994. SOFFIATI, A. A. Histórico Sócio-ecológico: Aspectos históricos das lagoas do norte do estado do Rio de Janeiro In: Esteves, F. A. Ecologia das lagoas costeiras. Macaé: NUPEM/UFRJ, 1998. SOUZA, V. S.; ALVES, L. A.; MIRO, J. M. R.; CUNHA, S. B da. Morfologia e qualidade ambiental do trecho urbano do canal Coqueiros – Campos dos Goytacazes/RJ. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 66., 2014, Rio Branco/Acre. No prelo. 15
  • 16. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. A DINÂMICA DOS FLUXOS DOS CANAIS ARTIFICIAIS E A QUALIDADE DAS ÁGUAS NO BAIXO CURSO DO RIO PARAÍBA DO SUL EIXO 4 – Problemas socioambientais no espaço urbano e regional RESUMO No baixo curso do rio Paraíba do Sul há ambientes fluviais artificiais que foram construídos principalmente a partir da década de 1940 pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). Eles permitiram a drenagem de áreas agricultáveis, conectando a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul ao sistema Lagoa Feia. Essas intervenções resultaram numa complexa rede hídrica, que com o fim do DNOS (1989), favoreceu a desordem na gestão dos recursos hídricos regional. Para o manejo desses canais, instalou-se um sistema de comportas gerenciado pelo órgão, que com sua extinção passou a ser manejado pelos seus usuários, gerando conflitos relacionados ao uso da água, prejudicando a população urbana por conviver em ambientes insalubres e a população rural com seus múltiplos usos. A Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH) propõe a gestão compartilhada das águas, promovendo o ordenamento territorial a partir da articulação dos usuários, que na região seria efetivada a partir de um Sistema de Gerenciamento de Comportas dos Canais. Instrumentalizar esse processo favoreceria todos os atores sociais, pois o modelo se caracteriza por suas dimensões: física, cultural, política, ecológica, econômica e social, podendo ser aplicado para diferentes escalas geográficas, refletindo as facetas do “viver” no espaço físico. Este trabalho teve como objetivo compreender a dinâmica hídrica superficial dos canais da Baixada Campista e seu reflexo no rio Paraíba do Sul, medido a partir da inversão de fluxo que ocorre sazonalmente, tendo como exemplo o canal Coqueiros. Utilizou-se o método indutivo para as análises da vazão e direção do fluxo do canal Coqueiros, como proposto por Cunha (2006). O que significa dizer que a partir do conhecimento do caso particular observado, pode-se chegar ao entendimento do universo de comportamento dos demais canais da Baixada Campista. Além disso, realizou-se levantamento bibliográfico e entrevistas com representantes dos produtores rurais, pescadores, moradores da 16
  • 17. http://6cieta.org São Paulo, 8 a 12 de setembro de 2014. área urbana do canal e do Instituto Estadual do Ambiente. A região apresenta recursos hídricos significativos na forma de corpos lóticos e lênticos, observados numa extensa malha de rios, canais artificiais e lagoas. Os canais foram planejados para a drenagem do excedente hídrico do rio Paraíba do Sul, em direção ao Sistema lagoa Feia, para posterior descarga no oceano. Sua qualidade ambiental muitas vezes apresenta-se com baixos níveis de conservação devido ao despejo de efluentes domésticos, industriais e agrícolas in natura nos corpos d’água, o que acelera os processos de eutrofização e assoreamento. Considerando que a descarga líquida do rio Paraíba do Sul, nas proximidades de sua desembocadura, varia sazonalmente entre 300 e 1.650 m³s-1, com descarga mínima nos meses de inverno e máxima no verão. Observou-se e mediu-se experimentalmente que nos períodos de estiagem prolongada, há mudança na direção do fluxo superficial do canal Coqueiros na direção inversa projetada. Este fenômeno provoca a descarga de águas servidas da área urbana da cidade de Campos dos Goytacazes no rio, o que compromete a qualidade de suas águas e o abastecimento dos municípios à jusante, fenômeno que pode ocorrer em outros canais. Palavras-chave: ordenamento territorial; recursos hídricos; gerenciamento de comportas. 17