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A VIVÊNCIA DO TRATAMENTO DE UM CÂNCER DE COLO UTERINO:
um relato de experiência
CLEMENTE, Adriana Dutra1
SILVA, Jefferson da
FERREIRA, Karen de Oliveira
SANTOS, Márcia de Souza
CARVALHO, Viviane Ferreira
GUEDES, Cláudia Rosane
RESUMO
O objetivo deste estudo é descrever, a partir deste relato de experiência, a vivência
do tratamento de um câncer de colo uterino na perspectiva das políticas públicas de
saúde. A pesquisa é qualitativa, descritiva, na qual utilizamos um Relato de
Experiência de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) grau III. Os dados foram
organizados em eixos temáticos, a saber: as ações de prevenção e promoção ao
diagnóstico precoce; aspectos emocionais frente ao diagnóstico de câncer: rede
interligada: família e amigos, manejo do profissional de saúde frente ao paciente
com diagnóstico de câncer; resiliência; o caminho percorrido: do diagnóstico ao
tratamento proposto e a recuperação. As informações inadequadas referentes ao
acesso e tratamento estão relacionadas ao conhecimento entre as mulheres, em
relação ao exame citológico do colo uterino e à doença. Após o diagnóstico, os
pacientes costumam apresentar respostas emocionais como ansiedade, raiva e
depressão. O profissional de saúde precisa estar sensível ao sofrimento que
acomete a mulher e a família de maneira que possa atender as dificuldades geradas
pelo diagnóstico de neoplasia. A espiritualidade também ocupa um espaço
importante na vida das pessoas e é coparticipante no lidar com a doença.
Informações e esclarecimentos sobre pós-operatório para os pacientes nessa fase
são importantes, mas devem ser manifestadas de forma que a paciente possa
interagir e participar. Ao nos debruçarmos sobre a temática a partir de um relato de
experiência, pudemos mergulhar e refletir acerca da importância do diagnóstico
precoce a partir dos exames como o Papanicolau para a saúde da população
feminina do país.
Palavras-chaves: diagnóstico precoce; saúde da mulher.
ABSTRACT
It is believed that the condition of vulnerabilities and risks to the health of women may
be linked to the different roles they have played over the years in society. Among the
risks, we found high rates of cervical cancer in the country, which is the fourth most
common cancer for the female population. To describe, as of this writing experience,
the experience of treatment of a cervical cancer from the perspective of public health
policies. Methodology: Qualitative, descriptive study, which used an experience
report of a cervical intraepithelial neoplasia (CIN) grade III, experienced by one of the
authors. Data were extracted from the report and organized into themes to discuss
them in a perspective of public policy. Data were organized in thematic areas,
1
CLEMENTE; SILVA; FERREIRA; SANTOS; CARVALHO, graduandos de Enfermagem do Centro
Universitário Celso Lisboa;
GUEDES, Ms. Docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário Celso Lisboa.
24
namely: the prevention and promoting early diagnosis; emotional aspects facing the
diagnosis of cancer: the interconnected system: family and friends, the health
professional management front of the patient diagnosed with cancer; resilience: a
proposal; the path: from diagnosis to the treatment, and recovery: success after
surgery. Inadequate information regarding access and treatment are related to
knowledge among women, compared to the cytological examination of the cervix and
disease. A diagnosis generates a crisis in the individual's family. These aspects of
the disease may cause a number of reactions in the patient expectations and, as well
as their families. After diagnosis, patients often have emotional responses such as
anxiety, anger and depression. Health professionals need to be sensitive to the
suffering that affects women and the family so that it can meet the difficulties caused
by the diagnosis of cancer. Spirituality also occupies an important place in people's
lives and is co-participant in dealing with the disease. Information and clarification on
postoperative patients for this phase are important but should be raised so that the
patient can interact and participate. As we to lean over on the subject from an
experience report, we dive and reflect on the importance of early diagnosis from tests
such as the Pap test for the health of the female population of the country. This study
was made possible by one of the authors, despite being a health professional and
annually conduct examinations for prevention of cervical cancer does not stop him
from being affected by the disease.
Keywords: early diagnosis; women's health.
INTRODUÇÃO
No início dos anos 60, com a descoberta da pílula anticoncepcional, o tema
da sexualidade ganhou força em todo o mundo. E esse pensamento repercutiu no
Brasil com a entrada e funcionamento de inúmeras instituições e recursos
destinados ao controle da natalidade que não tinham o seu foco na saúde. E a
massiva distribuição de contraceptivos e realização de laqueaduras era realizada
para garantir o controle da natalidade como política de controle demográfico. Não
tinha foco na saúde da mulher (BRASIL, 2010).
Nas décadas de 60 e 70, a luta das mulheres notabilizou-se pela busca de
reconhecimento dos seus direitos. As mulheres queriam ser autônomas e decidir por
si mesmas sobre a sua vida reprodutiva. O movimento feminista passou a ser mais
visível e as reivindicações das mulheres já não podiam mais ser ignoradas.
Na década de 80, as mulheres começaram a ser ouvidas na construção de
políticas e programas criados para atendê-las. As reivindicações do movimento
feminista se integram às discussões mais amplas, originando, em 1983, o Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) (BRASIL, 1984). Hoje, uma
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), aprovada pelo
Conselho Nacional de Saúde, em 2000.
25
Estes documentos trouxeram para a população feminina a oportunidade de
ser assistida nas diversas fases da vida e a partir da integralidade, haja vista, que o
olhar governamental para as questões que envolviam a saúde da mulher era voltado
para o período da reprodução.
Apesar da valorização da reprodução, a mulher que outrora estava inserida
no espaço privado, com a revolução industrial no país, ela passou a se inserir no
espaço público em decorrência da necessidade de participação no mundo do
trabalho. Contudo, a discriminação e as perversas condições de sobrecarga das
mulheres, em decorrência do acúmulo das funções sociais na casa, no trabalho e na
comunidade, configuram as bases das desigualdades em saúde relacionadas ao
nível de renda, à escolaridade, ao local de moradia, à raça e ao gênero, e disso
decorrem vulnerabilidades e riscos diferenciados para a saúde desse grupo
populacional (BRASIL, 2010).
A condição de vulnerabilidades e riscos para a saúde das mulheres, acredita-
se, estarem atrelados aos diversos papéis que têm desempenhado ao longo dos
anos na sociedade. Dentre os riscos, encontramos elevados índices de câncer do
colo uterino no país.
Os elevados índices de incidência e mortalidade por câncer do colo do útero
no Brasil justificam a implantação de estratégias que incluam ações de promoção à
saúde, prevenção e detecção precoce, tratamento e de cuidados paliativos, quando
esses se fizerem necessários (BRASIL, 2014).
O câncer de colo uterino é o quarto tipo de câncer mais comum entre as
mulheres, de acordo com a publicação do Instituto Nacional de Câncer (INCA 2014).
Diante das contextualizações discorridas nos parágrafos acima emergem
alguns questionamentos: Como são compreendidas pelas usuárias as estratégias
voltadas para o cuidado da saúde da mulher? Quais as expectativas e anseios da
usuária sobre as políticas públicas de saúde no serviço de oncologia? Para dar
conta deste estudo traçamos como objetivo: descrever a partir deste relato de
experiência a vivência do tratamento de um câncer de colo uterino na perspectiva
das políticas públicas de saúde. Este estudo consiste em um relato de experiência
de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) grau III, vivenciado por uma das
autoras discente do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário
Celso Lisboa.
26
O processo histórico da mulher na sociedade
Faz-se necessário resgatar um pouco da história da mulher na sociedade. A
mulher em todos os estágios da humanidade teve papel relevante na produção da
riqueza social e na subsistência de sua família. Desde as fases pré-capitalistas, as
mulheres já exerciam inúmeras atividades, seja no campo, na manufatura, minas,
comércios, oficinas de tecelagem e fiação ou mesmo nas atividades domésticas.
Resumindo-se apenas em mão de obra informal (LEITE, 2004).
É no século XIX, após a Revolução Industrial, com várias mudanças no
mundo do trabalho, que houve um significativo aumento da inserção feminina no
trabalho produtivo, legitimando definitivamente o uso da força de trabalho da mulher,
que passou a ser percebida pela sociedade brasileira, a partir do momento que
estas mulheres foram inseridas nas indústrias e começaram a reivindicar o seu
reconhecimento enquanto trabalhadoras assalariadas (SCOTT, 2004).
O movimento feminista e as lutas por melhores oportunidades de trabalho e
reconhecimento profissional são desenhos dos novos rumos constitutivos da divisão
sexual do trabalho. Como o das operárias de fábricas de vestuário e indústria têxtil,
que protagonizaram uma dessas manifestações contra as más condições de
trabalho e os baixos salários, em 8 de março de 1857, em Nova York (EUA) (LEITE,
2004).
Algumas mulheres procuravam um lugar no mundo do trabalho como forma
de viabilizar a sua subsistência e de sua família; outras objetivaram complementar
as finanças domésticas adicionando algum dinheiro ao salário do marido; outras,
ainda, ocupavam posições no mercado de trabalho como forma de realizar-se em
uma profissão que lhe satisfizesse e, claro, lhes desse algum dinheiro. Diferentes
são as historias de cada uma dessas mulheres que saíram do espaço doméstico e
enfrentaram o trabalho nas fábricas, escolas e outros lugares (NOGUEIRA, 2004).
A divisão sexual da sociedade contemporânea compreendia o contexto da
naturalização do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças (além de gerá-
las) como pertencentes ao mundo feminino. Se, por um lado, o capitalismo
consolidou o trabalho da mulher entre quatro paredes, naturalizando funções como
mãe e dona de casa, por outro, tem sido esse o modo de produção no contexto do
qual, na história, mais se tem lidado com as questões das mulheres, procurando-se
sua gênese e possibilidades de superação (FONSECA, 1999).
27
Ainda convivemos com enormes situações de desigualdades em saúde
relacionadas ao nível de renda, à escolaridade, ao local de moradia, à etnia e ao
gênero. As desigualdades de sexo, ou seja, aquelas que se expressam quando se
compara situações de saúde entre homens e mulheres, ainda são enormes em
nosso País. Na maioria dos casos, são desfavoráveis às mulheres e precisam ser
consideradas para orientar os planos e as ações de saúde (BRASIL, 2010).
A discriminação e as perversas condições de sobrecarga das mulheres, em
decorrência do acúmulo das funções sociais na casa, no trabalho e na comunidade,
configuram as bases dessa desigualdade entre homens e mulheres, e disso
decorrem vulnerabilidades e riscos diferenciados para a saúde destas (BRASIL,
2010).
Políticas públicas na saúde da mulher
No final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, com a crise do sistema
econômico mundial, surgiram as políticas de controle da natalidade, que propunham
a redução do número de filhos das mulheres dos países subdesenvolvidos. Essa
política tinha como linha mestra a redução da pobreza através do controle do corpo
das mulheres (BRASIL, 1984).
Descrito por Costa (2009), o tema planejamento familiar mostrou-se
recorrente nas conferências sobre população em 1974, em Bucareste; 1984, no
México e em 1994, no Cairo. Nessas conferências, a posição formal do Brasil esteve
identificada pela defesa do livre arbítrio das pessoas e dos casais em relação ao
número de filhos, desatrelando práticas contraceptivas dos interesses relativos a
controle demográfico. A conferência do Cairo, diferente das demais, contou com
grande participação da sociedade civil brasileira, especialmente do movimento
feminista.
No Brasil, em 1984, o Ministério da Saúde, pressionado pelos movimentos de
mulheres, formulou uma política que reorientava toda a atenção à saúde das
mulheres: o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, conhecido como
PAISM, rompendo com a visão curativa, e avançando para o entendimento mais
ampliado da saúde, que incluiria ações no âmbito das práticas educativas e
preventivas, bem como o diagnóstico, tratamento e recuperação da saúde (BRASIL,
1984).
Esse programa inovava o conceito da integralidade, ou seja, as mulheres
passaram a ser contempladas em todas as faixas etárias, em todos os ciclos de
28
vida, em todos os seus papéis na sociedade e, naturalmente, em todos os seus
problemas e necessidades de saúde. Esse novo olhar para a saúde das mulheres
rompeu definitivamente com a oferta apenas das ações relacionadas à gravidez e ao
parto preconizadas pelo antigo Programa de Saúde Materno Infantil (PSMI)
(BRASIL, 2010).
O PAISM abrangia a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-
natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, doenças
sexualmente transmissíveis, câncer de colo de útero e de mama, além de outras
necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres. Com
princípios e diretrizes: descentralização, hierarquização e regionalização dos
serviços, integralidade e a equidade da atenção, paralelamente, no âmbito do
Movimento Sanitário, se concebia o arcabouço conceitual que embasaria a
formulação do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1984).
O Ministro da Saúde Humberto Costa, em 28 de maio de 2004, lançou a
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). Princípios e
Diretrizes, construída a partir dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS),
respeitando as características da nova política de saúde.
Essa Política de Atenção à Saúde da Mulher reconhece a importância do
processo de descentralização e das diferenças dos níveis de gestão dos municípios,
da sua organização dos sistemas de saúde e seu desenvolvimento tecnológico.
Dessa forma, a proposta é que a Política seja um instrumento de apoio aos Estados
e municípios na implementação de ações de saúde da mulher, que respeitem os
seus direitos humanos e sua situação social e econômica (BRASIL, 2007b).
As interfaces da atenção integral à saúde da mulher com a efetivação do
“SUS que queremos” são muitas. Verifica-se neste momento a coexistência de
processos de implantação e implementação de políticas e Pactos que, direta ou
indiretamente, relacionam-se com a saúde da mulher, a saber: a Política de Atenção
à Saúde da Mulher, o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e
Neonatal, o Pacto pela Vida e a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL,
2007b).
As mudanças de hábito, aliadas ao estresse gerado pelo estilo de vida do
mundo moderno, contribuem para que as doenças crônico-degenerativas estejam
entre as principais causas de morte na população feminina. Tipo de alimentação,
sedentarismo, tabagismo, sobrecarga de responsabilidades (como o aumento
29
considerável do número de mulheres chefes de família), competitividade e assédio
moral e sexual no mundo do trabalho são fatores com relevância destacada na
mudança do perfil epidemiológico da saúde das mulheres (BRASIL, 2007b).
Políticas públicas na saúde da mulher no serviço de oncologia.
O Programa de Oncologia do Instituto Nacional de Câncer / Ministério da
Saúde (Pro-Onco) foi criado em 1986 como estrutura técnico-administrativa da
extinta Campanha Nacional de Combate ao Câncer. Em 1990, o Pro-Onco tornou-se
Coordenação de Programas de Controle de Câncer. Suas linhas básicas de trabalho
eram a informação e a educação sobre os quatro tipos de câncer mais incidentes,
dentre eles o do colo do útero e o de mama (ABREU, 1997).
O Ministério da Saúde reconheceu a necessidade de um Programa Nacional
de Controle do Câncer do Colo do Útero (PNCCCU). Uma equipe de técnicos do
(MS), em parceria com organismos nacionais e internacionais, elaborou um projeto-
piloto, denominado Viva Mulher, que foi implantado entre janeiro de 1997 e junho de
1998 em seis localidades (Curitiba, Brasília, Recife, Rio de Janeiro, Belém e estado
de Sergipe) priorizando mulheres entre 35 e 49 anos que nunca haviam feito o
exame preventivo ou que estavam sem fazê-lo há mais de três anos (BRASIL,
2011).
O Programa Nacional de Combate ao Câncer de Colo do Útero foi instituído
através da Portaria GM/MS nº 3040/98, em 21 de junho de 1998. A coordenação do
programa foi oficialmente transferida para o Instituto Nacional de Câncer (INCA) por
meio da Portaria GM/MS nº 788/99, de 23 de junho de 1999. Neste mesmo ano foi
instituído o Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero – SISCOLO - para
monitoramento e gerenciamento das ações pela Portaria nº 408, de 30/08/1999.
As estratégias de prevenção e controle do câncer do colo do útero e da mama
têm por objetivo reduzir a incidência, a mortalidade e as repercussões físicas,
psíquicas e sociais desses tipos de câncer, por meio da oferta de serviços para
prevenção e detecção em estágios iniciais da doença e para o tratamento e
reabilitação das mulheres. Desde 2003 a Área Técnica de Saúde da Mulher (ATSM)
trabalha em parceria com o INCA para reduzir a morbimortalidade por câncer
(BRASIL, 2007b).
O Plano de Ação está fundamentado na Política Nacional de Atenção
Oncológica (PNAO), instituída pela Portaria GM n.º 2.439, de 8 de dezembro de
2005 e em acordo com os objetivos e metas prioritárias do Pacto pela Vida. O Plano
30
de Ação apresenta seis diretrizes estratégicas: (1) Aumento da Cobertura da
População-Alvo; (2) Garantia da Qualidade; (3) Fortalecimento do Sistema de
Informação; (4) Desenvolvimento de Capacitações; (5) Desenvolvimento de
Pesquisas; (6) Mobilização Social, composta por ações a serem desenvolvidas, a
partir do ano de 2005, nos distintos níveis de atenção à saúde (BRASIL, 2007b).
A Política Nacional de Atenção Oncológica reconhece que o câncer é um
problema de saúde pública e determina que as ações para o seu controle no Brasil
sejam realizadas através de uma Rede de Atenção Oncológica (RAO), com a
participação direta e indireta do Governo Federal, das Secretarias Estaduais e
Municipais de Saúde, das universidades, dos serviços de saúde, dos centros de
pesquisa, das organizações não governamentais e da sociedade de forma geral
(BRASIL, 2013).
METODOLOGIA
Segundo Minayo (2003), a pesquisa é a atividade básica das ciências na sua
indagação e descoberta da realidade num processo intrinsecamente inacabado e
permanente. É uma combinação particular entre teoria e dados, com uma atividade
de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota.
Para a fundamentação do presente estudo, procuramos desenvolver a
pesquisa descritiva, numa abordagem qualitativa. O objetivo primordial das
pesquisas descritivas é levantar as características de determinada população ou
fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 2002).
Segundo Minayo (2003) uma abordagem qualitativa aprofunda-se no universo
dos significados das ações e interações humanas. Há um vínculo indissociável entre
o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em
números (GIL, 2002).
Esta pesquisa é fruto de um relato de experiência que é um tipo de fonte de
informação dedicada à coleta de depoimentos e registro de situações e casos
relevantes que ocorreram durante a implementação de um programa, projeto ou em
uma dada situação problema. O objetivo é registrar experiências de ensino,
pesquisa e extensão que sirvam de referência para outros profissionais (POLIT e
BECK, 2011).
Os dados obtidos neste estudo propiciaram aos autores a refletir acerca da
vivência de um Câncer de Colo Uterino. Os dados foram obtidos a partir da
descrição das etapas percorridas por uma das autoras, no ano de 2013.
31
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As ações de prevenção e promoção ao diagnóstico precoce versus a
construção social do indivíduo acerca do processo saúde-doença
O sucesso histórico do modelo convencional de prevenção, baseado no
rastreio citológico de lesões precursoras, na redução da incidência e da mortalidade
por câncer do colo do útero é inegável (QUINN et al.,1999 apud CORRÊA;
RUSSOMANO, 2012).
Todavia, atualmente essa estratégia de prevenção está sofrendo importantes
questionamentos, sendo objeto de estudos que buscam aperfeiçoá-la ou confrontá-
la com novas alternativas (CORRÊA; RUSSOMANO, 2012).
No Brasil, o controle do câncer do colo do útero é considerado uma das
prioridades em saúde. Em 2011, o Plano para o Fortalecimento das Ações de
Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer do Colo do Útero, que tem como
objetivos prioritários garantir o acesso ao exame preventivo com qualidade as
mulheres de 25 a 64 anos de idade e qualificar o diagnóstico e o tratamento das
lesões precursoras do câncer do colo do útero (BRASIL, 2011).
Entretanto, a realização do exame preventivo de rotina para o rastreamento
conforme preconiza o Ministério da Saúde (MS) seria a repetição do exame
Papanicolaou a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados
com um intervalo de um ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como
objetivo reduzir a possibilidade de um resultado falso-negativo na primeira rodada do
rastreamento (BRASIL, 2014).
A periodicidade de três anos tem como base a recomendação da
Organização Mundial de Saúde (OMS) e as diretrizes da maioria dos países com
programa de rastreamento organizado. Tais diretrizes justificam-se pela ausência de
evidências de que o rastreamento anual seja significativamente mais efetivo do que
se realizado em intervalo de três anos (BRASIL, 2011).
“...A suspeita do diagnóstico surgiu após preventivo que realizava
anualmente. Já estava bastante estressada visto que já havia realizado o
exame por duas vezes, e o laboratório responsável não só perdeu a
primeira amostra como o funcionário misturou e se confundiu no segundo
exame com o resultado de outros pacientes. Por esse motivo tive dúvidas
quanto ao suspeito diagnóstico (células sugestivas de carcinoma)...”
Frente ao relato do parágrafo acima nos cabe pensar e trazer uma reflexão
acerca das responsabilidades do indivíduo quanto à sua própria saúde. Partindo da
premissa que segundo a Lei nº 8080/90 (Lei Orgânica da Saúde), que traz como
32
dever do Estado a oferta de saúde, mas não exime a responsabilidade do indivíduo
em mantê-la.
Ainda é alta a percentagem de mulheres que não têm como hábito a
realização do exame preventivo, o diagnóstico muitas vezes ainda é feito em
estádios mais avançados da doença. Esse diagnóstico tardio pode estar relacionado
com: a dificuldade de acesso da população feminina aos serviços e programas de
saúde, a baixa capacitação dos recursos humanos envolvidos na atenção
oncológica (principalmente em municípios de pequeno e médio porte) e a
capacidade do Sistema Público de Saúde para absorver a demanda que chega às
unidades de saúde (BRASIL, 2014).
As informações inadequadas referentes ao acesso e tratamento estão
relacionadas à falta de conhecimento entre as mulheres, em relação ao exame
citológico do colo uterino e a patologia. Pelloso, Carvalho e Higarashi (2004),
afirmam que a partir do momento em que a mulher compreende o câncer, e quais os
riscos que ele pode trazer a sua saúde é que o controle da patologia é possível,
porque ela passa a ter atitudes de cuidado próprio voluntariamente e não como um
ato imposto.
Um estudo qualitativo realizado em um Centro de Saúde Escola com
mulheres que estavam realizando o Papanicolaou pela primeira vez detectou que
são muitos os motivos que as influenciam a não realizar o exame. Entre eles estão:
desconhecimento do câncer de colo uterino, da técnica e da importância do exame
preventivo, medo na realização do exame, medo de se deparar com resultado
positivo para o câncer, sentimento de vergonha e constrangimento e, por fim,
dificuldades para realizar o exame, sendo destacados tanto a dificuldade de acesso
ao serviço quanto motivos relacionados ao papel da mulher no cuidado com a casa
e os filhos (FERREIRA, 2009).
Os aspectos emocionais frente ao diagnóstico de câncer
O câncer desencadeia reações devastadoras tanto no âmbito orgânico como
no emocional, provocando sentimentos, desequilíbrios e conflitos internos, além de
causar um sofrimento tão intenso capaz de resultar em desorganização psíquica,
consequências que vão depender da localização, do estágio da doença e do
tratamento. (PENNA, 2004).
33
Uma rede interligada: família e amigos
Um diagnóstico positivo de câncer pode gerar ampla crise na família do
indivíduo, dependendo, inclusive, da estrutura familiar no momento em que a doença
aparece. Além disso, a situação exige muito mais do que uma mudança de postura
dos entes próximos, pois amigos e colegas de trabalho acabam se envolvendo de
alguma maneira. Nessa hora, cada um tem um papel importante, agindo de forma
positiva para evitar que o processo se agrave (CARVALHO, 2008).
Para o autor a inclusão de familiares e amigos nos dispositivos de cuidado
pode contribuir para minimizar o sofrimento que a situação inflige em todo o
sistema familiar, tornando mais tolerável o convívio com a dor, a incerteza, a
instabilidade e o imprevisível.
“...A chegada em casa e contar para meus filhos foi um processo difícil, eles
sempre me viram como a líder da família, guerreira, forte, sempre otimista
por pior que fosse a situação. E assim contei para eles, me mantendo sob
controle.”
“...Confesso que o desespero, o medo e a angústia, tomaram conta
de mim no primeiro momento. Pensava nos meus filhos, na faculdade que
desejava concluir, que ficaria sem cabelo, que emagreceria por conta da
quimioterapia e outras coisas mais que passaram pela minha cabeça
naquele momento”.
Estes aspectos da doença podem provocar uma série de expectativas
e reações no paciente, bem como em seus familiares. Após o choque inicial do
diagnóstico, os pacientes costumam apresentar respostas emocionais como
ansiedade, raiva e depressão (PENNA, 2004).
Segundo Knapp (2004) a atividade cognitiva, ativada com o diagnóstico de
uma doença crônica como o câncer, pode influenciar o comportamento e as
emoções do paciente, alterando a forma como ele se sente, e podendo resultar em
transtornos psicológicos decorrentes das distorções cognitivas de um modo
desvirtuado de se perceber os acontecimentos.
Podem se apresentar, numa mesma situação, de diversas maneiras: por
“catastrofização” (pensar sempre que o pior vai acontecer), por abstração seletiva
(focar a atenção em um aspecto negativo da situação), por adivinhação (antecipar
problemas, ter expectativas negativas em relação a fatos, que talvez nem venham a
existir), por personalização (assumir a culpa por acontecimentos negativos), entre
outras (KNAPP, 2004).
34
“...Fui acompanhada de uma das minhas melhores amigas. Embora
seja uma profissional de saúde, na fila enquanto aguardava a realização
ouvi muitas coisas (que o exame era doloroso, que ficaria dias sangrando, e
que o bisturi me deixaria queimada e dolorida, etc.), o que me deixou com
muito medo. Entrei só, minha amiga ficou aguardando”.
“...Falei com a enfermeira, e fui liberada na mesma hora, desde que
aguardasse minha outra melhor amiga. Nesse momento minhas colegas de
trabalho já haviam ligado para ela e ela pediu para que não me deixassem
sair”.
“...Com a chegada da minha amiga fomos ao consultório. Eu tentava
manter o controle, o que não foi fácil. Ao chegarmos ao consultório, minha
amiga decidiu entrar comigo”.
“...Enquanto eu aguardava na fila minha amiga foi até Botafogo pegar
as lâminas. Quando ela chegou por volta das 8:30h foi possível a realização
da abertura do prontuário e minha primeira consulta naquele mesmo dia”.
O câncer acomete não só a paciente, mas todos que estão a sua volta. É
imprescindível que a família se estruture, pois o tratamento pode ser longo e ter
consequências em vários aspectos (CARVALHO, 2008).
Ainda, segundo a autora, é importante o apoio e a orientação não somente
para as pacientes, mas também para a família, que é parte essencial no tratamento,
pois, se o suporte emocional for de qualidade, será bastante significativa na
recuperação da mulher, ajudando-a na melhora da autoestima e consequentemente
contribuindo na recuperação da autoimagem.
O manejo do profissional de saúde frente ao paciente com diagnóstico de
câncer
O profissional de saúde precisa estar sensível ao sofrimento da mulher
acometida e à dor emocional dos familiares de maneira que possa atender as
dificuldades geradas pelo diagnóstico de câncer, pois, apesar dos avanços
tecnológicos na medicina, e resultados cada vez mais surpreendentes em relação ao
tratamento, o câncer permanece como um dos grandes desafios da saúde da
mulher. A adoção de estratégias de enfrentamento adequadas é um dos fatores que
contribuem para a qualidade de vida das pacientes e familiares (AMBRÓSIO;
SANTOS, 2011).
“...Orientada por meu ginecologista a realizar um exame chamado de
Colposcopia com biópsia, procurei uma profissional por indicação de meu
ginecologista para realização do exame, pois a mesma também aceitava
meu plano de saúde. Até aí ainda duvidava, acreditava que poderia haver
um erro no diagnóstico”.
“...a doutora muito otimista e gentil confirmou o diagnóstico do
carcinoma NIC III. Explicou que era um dos mais agressivos, comum em
portadores do HPV, ou melhor, causado por ele, muito comum também em
35
mulheres multíparas, e que pela lesão que se apresentava eu já havia sido
acometida por ele há uns dois anos”.
Existem três tipos de lesões precursoras chamadas de Neoplasia Intraepitelial
Cervical (NIC) que dependendo de sua gravidade tenderá ou não a evoluir para o
câncer. Quando ocorre uma mudança celular nas camadas basais do epitélio
estratificado do colo do útero, que na maioria dos casos (80%) tem regressão
espontânea é conhecido como NIC I (displasia leve), se houver um desarranjo
celular em até três quartos da espessura do epitélio com preservação das camadas
mais superficiais chama-se de NIC II (displasia moderada), porém se o desarranjo
das células acometerem todas as camadas do epitélio, sem que haja invasão do
tecido conjuntivo subjacente (displasia acentuada), tem-se NIC III (BRASIL, 2013).
Entre diversas infecções sexualmente transmitidas a que tem maior destaque,
é a infecção por HPV, pois esta tem uma forte relação com o surgimento do câncer
do colo uterino, porém, mesmo o HPV sendo o fator de risco mais importante torna-
se necessário outros cofatores para o desenvolvimento da doença (BRASIL, 2013).
A baixa imunidade, promiscuidade, vários parceiros sexuais, início precoce da
atividade sexual, alterações nutricionais (em especial no que se refere aos índices
de vitamina A, E e Betacarotenos), hábitos tabagistas, infecções cervicais pelo vírus
do herpes simples tipo 2 (HSV2) e pela clamídia dentre outras, o uso de
contraceptivos orais, são considerados como fatores de risco na etiologia do câncer
do útero (BRASIL, 2013).
“...Durante a consulta contei para o médico tudo o que havia ouvido
até ali, externei todas as minhas dúvidas e ansiedades, tudo que cada
médico pelo qual passei tinha como proposta para meu diagnóstico”.
“...No dia seguinte 30 de agosto de 2012. [eu] estava trabalhando e
por volta das 09h30minhs no Centro Cirúrgico quando meu celular tocou,
era a secretária da minha doutora pedindo que comparecesse ao
consultório naquele dia. Fiquei estática. Não sabia o que fazer, para onde ir,
o que pensar. Mas lá no fundo tinha certeza que o resultado do exame tinha
sido positivo para o carcinoma e que a doutora mandara me chamar para
me dizer pessoalmente. Chorei muito”.
Esta doença, vista pelo indivíduo, como uma ameaça do destino, desencadeia
uma série de sentimentos como impotência, desesperança, temor e apreensão,
levando o diagnóstico a ser, frequentemente, acompanhada de depressão,
consequência ocorrida pelo fato do paciente não conseguir aceitar sua doença
(AMBRÓSIO; SANTOS, 2011).
36
Resiliência: uma proposta
A resiliência trata-se de uma tomada de decisão quando alguém depara com
um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões
propiciam forças na pessoa para enfrentar a adversidade. Entendemos que se pode
considerar a resiliência como uma combinação de fatores que propiciam ao ser
humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades (BARBOSA,
2006; JOB, 2003).
“...Dei seguimento à minha vida normalmente, trabalho, faculdade,
lazer, enquanto aguardava ser chamada para a mesa redonda onde são
realizados os planos cirúrgicos. Não acreditava que seria rápido, as
pessoas sempre diziam que demorava muito”.
“...Para minha surpresa mais uma vez, recebi um telefonema do INCA
me comunicando no dia 30 de novembro de 2012, uma sexta-feira, que
deveria me internar no sábado dia 1 de dezembro de 2012”.
“...Estava trabalhando e em prova na faculdade. Não tinha como
pensar duas vezes, comuniquei à chefia, me despedi das colegas, o que
gerou uma grande choradeira, por conta de tudo o que vinha passando
naqueles dois últimos meses”.
“...E assim aconteceu, compareci na manhã seguinte acompanhada
de meu companheiro, familiares, e minha melhor amiga para internação”.
“...Dormi muito bem à noite [após a cirurgia]. Ao acordar pela manhã
tomei banho sem auxílio da enfermagem, pois me sentia muito bem, até me
foi oferecida ajuda”.
O caminho percorrido: do diagnóstico ao tratamento proposto
A obtenção de acesso aos serviços é uma das etapas a serem vencidas pelos
usuários quando partem em busca da satisfação de suas necessidades de saúde e
configura-se em um dos problemas que dificultam a assistência. Acesso é uma
categoria potente e estratégica para o planejamento, organização e produção de
ações e serviços de saúde, consistindo em um dos elementos centrais de
qualificação da atenção à saúde (LIMA et al., 2007; SOUZA et al., 2008).
A facilidade de acesso propicia a satisfação do usuário com o atendimento,
determinando a escolha do serviço de saúde e estabelecendo, frequentemente, um
bom vínculo (LIMA et al., 2007).
Alguns dos fatores que interferem no acesso aos serviços de saúde
compreendem: a distância entre a unidade de saúde e o local de moradia do
indivíduo; tempo e meios utilizados para o deslocamento; dificuldades enfrentadas
para a obtenção do atendimento (filas, local e tempo de espera); tratamento
recebido pelo usuário; priorização de situações de risco; respostas obtidas para
37
demandas individuais e coletivas; e, a possibilidade de agendamento prévio (LIMA et
al., 2007).
“...Peguei o telefone na internet, liguei e fui informada de que deveria
procurar o INCA II, que se localiza atrás da rodoviária Novo Rio, de segunda
à quinta-feira bem cedo, pois só distribuíam dez números”.
“...Uma coisa que facilitou e agilizou muito minha vida foi chegar ao
INCA com todos os exames (Hemograma completo, urina, fezes, ECG,
ressonância, etc.)”.
“...Conforme orientação pelo telefone cheguei às 4:30h da manhã, e
nem precisava ser tão cedo, 5h estaria de bom tamanho. Infelizmente não
pude ser atendida e nem abrir o prontuário porque era preciso a
apresentação das lâminas. Parti dali então para o laboratório em busca das
lâminas. Chegando lá fui comunicada de que demoraria uma semana para
que pudesse pegá-las. Deixei o pedido e fui para casa. Para minha surpresa
no final da tarde recebi um telefonema do laboratório de que as lâminas
estavam à minha disposição”.
“...No dia seguinte voltei a unidade de saúde terciária bem cedo”.
Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) são aqueles que
oferecem assistência especializada e integral aos pacientes com câncer, atuando na
área de prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento do paciente. De
acordo com a Portaria GM/MS nº 3.535, são classificados como: Centro de Alta
Complexidade em Oncologia I, Centro de Alta Complexidade em Oncologia II e
Centro de Alta Complexidade em Oncologia III.
Os Centro de Alta Complexidade em Oncologia I são hospitais gerais em que
se procede ao diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas mais frequentes no
Brasil (de pele, mama, colo uterino, pulmão, estômago, intestino e próstata, além
dos tumores linfohematopoéticos e da infância e adolescência). Caracterizam-se por
disporem de todos os recursos humanos e equipamentos instalados dentro de uma
mesma estrutura organizacional e prestarem atendimento ao paciente sempre numa
perspectiva multiprofissional integrada.
Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia II são instituições dedicadas
prioritariamente ao controle do câncer, para o que desenvolvem ações de
prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas
mais frequentes no Brasil, e caracterizam-se por possuírem todos os recursos
humanos e equipamentos instalados dentro de uma mesma estrutura
organizacional, pelos quais são diretamente responsáveis;
Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia III são instituições dedicadas
exclusivamente ao controle do câncer, para o que desenvolvem ações de
38
prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento de qualquer tipo e
localização de neoplasia maligna, e caracterizam-se por possuírem todos os
recursos humanos e equipamentos próprios.
A prestação da assistência ao paciente deve abranger sete modalidades
integradas: a) Diagnóstico; b) Cirurgia oncológica; c) Oncologia clínica; d)
Radioterapia; e) Medidas de suporte; f) Reabilitação; g) Cuidados paliativos
(BRASIL, 1998).
Contudo, em termos de saúde pública, há de se ressaltar que a esmagadora
maioria das necessidades de saúde da população é satisfeita na atenção primária
em saúde, razão pela qual os investimentos nesse nível têm impacto muito maior
nos indicadores de saúde, que aqueles feitos na atenção terciária (BRASIL, 2007).
Obviamente, a disponibilidade de atenção terciária em saúde é
imprescindível, sobretudo porque a garantia do direito à saúde no Brasil está
permeada pelo princípio da integralidade. O que se quer destacar, entretanto, é que
a atenção terciária é necessária para um número restrito de necessidades em
saúde, deve ser acessado por meio de outros níveis de atenção e suas tecnologias
devem ser empregadas quando existentes evidências científicas de eficácia e
segurança para os usuários (BRASIL, 2007a).
Como ressalta Braga et al. (2009), uma rede de atenção à saúde que se
proponha a dispensar atenção integral aos indivíduos e populações deve assegurar
que os usuários tenham acesso aos recursos necessários no tempo certo, no lugar
certo, com o custo certo e a qualidade certa.
“...A cirurgia só se realizaria na segunda-feira, mas havia a
necessidade do preparo. O intestino precisava estar limpo, por isso, a
ingesta era só de líquido e no domingo dois comprimidos para esvaziar trato
intestinal a cada 4 horas. As cólicas até o intestino ficar limpo eram muito
dolorosas, mas enquanto as fezes não apresentaram uma cor amarelo
florescente a enfermagem não se deu por satisfeita”.
“...A cirurgia foi realizada em dezembro de 2012. Graças a Deus
muito bem, sem nenhum incomodo pelo Cateter Vesical de Demora (CVD),
e com cinco pequenos furos no abdômen e a língua meio mole, afinal fui
entubada por conta da necessidade de ser anestesia geral devido ao tempo
longo do procedimento cirúrgico”.
O diagnóstico do câncer pode afetar a espiritualidade do paciente. O uso da
fé como suporte para se conviver com a doença, pode representar uma importante
fonte de base e conforto para muitas pessoas, durante um período de sofrimento,
proporcionando um maior equilíbrio diante das adversidades da doença (LINARD;
SILVA; SILVA, 2002).
39
A espiritualidade ocupa um espaço importante na vida das pessoas e é
coparticipante no lidar com a doença. Crer em algo superior torna o tratamento
menos penoso e renova as forças de quem está em uma luta diária para sobreviver.
A convivência com sentimentos de desesperança leva muitas vezes à reflexão sobre
a atual situação e possibilidades futuras (FERREIRA; CHICO; HAYASHI, 2005).
A fé é muitas vezes vista como um “remédio” muito poderoso para os clientes
com câncer, pois estes mantêm a esperança em busca de um significado e de
confiança em um ser superior. Isto propicia fortalecimento e serenidade para aceitar
a doença. Por isso, pode-se dizer que a espiritualidade, a fé é uma ferramenta
fundamental, para lidar com a doença e ter uma melhor qualidade de vida, tanto
para o cliente oncológico quanto para a família (TEIXEIRA; LEFÈVRE, 2008).
Recuperação: êxito após a cirurgia
A reabilitação deve ser proposta juntamente com a opção terapêutica,
considerando-se hoje a expectativa de vida com qualidade dada pelos modernos
tratamentos (BRASIL, 2008).
A aplicação da cirurgia robótica em ginecologia se tornou uma alternativa
cirúrgica que oferece cirurgia minimamente invasiva, apresentando uma visão
tridimensional, posição ergonômica ideal e instrumentos laparoscópicos com
articulação. Conforme Berlinger (2006) é baseada principalmente sobre as
desvantagens da cirurgia ginecológica aberta (ampla incisão abdominal), como:
hospitalização prolongada, analgesia pós-operatória e aumento da morbidade.
“...Fui comunicada que estava de alta, recebi as orientações quanto
aos cuidados pós-operatório, fui encaminhada para pegar todas as
medicações na farmácia, o material para realização dos pequenos curativos
nas incisões e ao chegar a casa ligar para marcar retorno para uma
semana. E assim foi realizado”.
“...Não precisei ficar os 28 dias de CVD (Cateterismo vesical de
demora), na segunda consulta de pós operatório a enfermeira conversou
comigo e optamos por fazer o teste para ver se depois daqueles quinze dias
de sonda vesical eu conseguiria urinar sem ela. A enfermeira marcou para o
dia seguinte, me explicou que tiraria o CVD e que eu deveria no período de
uma hora beber dois copos de 200ml de água a cada 20 minutos e só urinar
quando eu não estivesse mais suportando, que eu procurasse me sentar e
relaxar no vaso sanitário. Após tudo isso retornar e ela repassaria o CVD.
Se nós tivéssemos uma produção de até 100 ml de urina eu iria sem a
sonda para casa, e se saísse um volume maior continuaria em uso da
sonda vesical”.
“...Sem a sonda eu fui para casa, o processo foi difícil, durante
quase um mês eu tive dificuldade, sentia vontade, mas nem sempre
conseguia urinar, sabia que seria assim. Retirei os pontos com 21 dias,
realizava minhas coisas em casa sem dor, sem incômodo, fiquei com o
abdômen muito cheio de equimose, que logo desapareceram. Segui as
40
orientações pós operatórias como não pegar peso, não falar muito e
relações sexuais só depois de três meses”.
O processo de cuidar concomitante à qualidade de vida no pós-operatório,
independente da classe social da paciente, é uma condição relevante para a total
recuperação das mulheres histerectomizadas. Quando uma mulher é submetida a
este tipo de cirurgia se faz necessário que ela tenha conhecimento e
esclarecimentos dos efeitos que ela causa no corpo feminino (SALIMENA; SOUZA,
2008).
Informações e esclarecimentos sobre pós-operatório para os pacientes nessa
fase são importantes, mas devem ser manifestadas de forma que o paciente possa
interagir e participar. Contemplando a mulher de forma humanizada, enfocando
assim a prática do autocuidado como aporte para atingir a satisfação da cliente
histerectomizada (SALIMENA; SOUZA, 2008; NETTINA, 2007).
“...Um mês depois fui a consulta e recebi o resultado da patologia.
Não havia mais nada comprometido, não precisaria fazer quimioterapia,
radioterapia, a braquiterapia que me deixaria toda queimada segundo uma
das médicas que me consultei antes de procurar a unidade de saúde
terciária”.
“...Continuo sendo acompanhada unidade de saúde terciária. No
início de três em três meses agora de seis em seis meses, já realizei dois
preventivos, graças a Deus tudo bem sem comprometimento da doença”.
Fator importante a ser considerado em relação ao tratamento conservador da
NIC II ou III é a recidiva. Cerca de 10% das mulheres tratadas por conização
apresentarão recidiva histologicamente comprovada. A infecção pelo HPV é
frequentemente eliminada após o tratamento da NIC II ou III, sendo que a
persistência viral é o principal fator associado à recorrência da doença. O
seguimento pós-conização deve ser realizado por cerca de cinco anos, a cada seis
meses, com citologia e colposcopia. (SARIAN, 2004).
CONCLUSÃO
Ao nos debruçarmos sobre a temática a partir de um relato de experiência
pudemos mergulhar e refletir acerca da importância do diagnóstico precoce a partir
dos exames como o Papanicolau para a saúde da população feminina do país. Este
estudo foi possível devido a uma das autoras, apesar de ser profissional de saúde e
de realizar anualmente os exames para prevenção do Câncer de Colo de Útero não
impediu de ser acometida pela doença.
41
Após organizarmos os dados em eixos temáticos que nos proporcionou
algumas reflexões. Percebemos que as ações de prevenção e promoção ao
diagnóstico precoce estão estabelecidas na política pública de saúde no país, mas
ainda são necessários esforços para uma sensibilização da população feminina, a
fim de aderirem aos programas de controle e prevenção.
Ao nos depararmos com os aspectos emocionais que compõem o diagnóstico
de câncer compreendemos que há uma necessidade de considerar a história de vida
de cada paciente e seus familiares, bem como os contextos socioeconômico e
cultural em que vivem, face às demandas de assistência à saúde que se colocam
em função da doença e tratamento quando instalados.
Este estudo também mostrou ganhos secundários. Ou seja, da importância de
uma rede interligada que envolveu família e amigos, ajudou na adesão ao
tratamento e a autoestima. Contribuiu para que a autora passasse por todo o
processo desde o diagnóstico ao tratamento.
Identificamos que é de suma importância para o paciente que o manejo do
profissional de saúde em lidar com o paciente com diagnóstico de câncer,
principalmente por que cada indivíduo pode responder de maneira diferente e nem
sempre encontrar na resiliência um proposta para percorrer um caminho que é
doloroso; quando o diagnóstico, tratamento, recuperação e a possibilidade de êxito
podem não acontecer.
Compreendemos que o conhecimento que a paciente possuía não a isentou
do percurso, mais ajudou na busca pelo acesso ao serviço de saúde por excelência
que o país oferece aos indivíduos acometidos pelo Câncer.
O relato de experiência de uma mulher acometida por neoplasia uterina nos
ofereceu subsídios para algumas discussões e reflexões acerca das propostas
voltadas ao diagnóstico precoce do câncer de colo uterino.
O que nos chamou atenção foi o fato do intervalo entre os exames realizados
por uma das autoras serem de um ano, ou seja, um intervalo inferior ao preconizado
pelo Ministério da Saúde que seria um intervalo de três anos a cada dois resultados
negativos. A periodicidade de três anos recomendada pela Organização Mundial de
Saúde não foi suficiente para a paciente que adquiriu a neoplasia em um intervalo
de dois anos após o último exame negativo. Evidenciando que o rastreamento anual
seja mais efetivo do que se realizado em intervalo de três anos.
42
Sugerimos que novos trabalhos sejam realizados a partir desta discussão.
Onde o Ministério da Saúde estabelece um intervalo para a realização dos exames
que poderão detectar de maneira precoce este tipo de neoplasia, entretanto este
não deve ser um caso isolado.
REFERÊNCIAS
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ng=pt&nr Acesso em: 12 nov. 2014.

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  • 1. 23 A VIVÊNCIA DO TRATAMENTO DE UM CÂNCER DE COLO UTERINO: um relato de experiência CLEMENTE, Adriana Dutra1 SILVA, Jefferson da FERREIRA, Karen de Oliveira SANTOS, Márcia de Souza CARVALHO, Viviane Ferreira GUEDES, Cláudia Rosane RESUMO O objetivo deste estudo é descrever, a partir deste relato de experiência, a vivência do tratamento de um câncer de colo uterino na perspectiva das políticas públicas de saúde. A pesquisa é qualitativa, descritiva, na qual utilizamos um Relato de Experiência de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) grau III. Os dados foram organizados em eixos temáticos, a saber: as ações de prevenção e promoção ao diagnóstico precoce; aspectos emocionais frente ao diagnóstico de câncer: rede interligada: família e amigos, manejo do profissional de saúde frente ao paciente com diagnóstico de câncer; resiliência; o caminho percorrido: do diagnóstico ao tratamento proposto e a recuperação. As informações inadequadas referentes ao acesso e tratamento estão relacionadas ao conhecimento entre as mulheres, em relação ao exame citológico do colo uterino e à doença. Após o diagnóstico, os pacientes costumam apresentar respostas emocionais como ansiedade, raiva e depressão. O profissional de saúde precisa estar sensível ao sofrimento que acomete a mulher e a família de maneira que possa atender as dificuldades geradas pelo diagnóstico de neoplasia. A espiritualidade também ocupa um espaço importante na vida das pessoas e é coparticipante no lidar com a doença. Informações e esclarecimentos sobre pós-operatório para os pacientes nessa fase são importantes, mas devem ser manifestadas de forma que a paciente possa interagir e participar. Ao nos debruçarmos sobre a temática a partir de um relato de experiência, pudemos mergulhar e refletir acerca da importância do diagnóstico precoce a partir dos exames como o Papanicolau para a saúde da população feminina do país. Palavras-chaves: diagnóstico precoce; saúde da mulher. ABSTRACT It is believed that the condition of vulnerabilities and risks to the health of women may be linked to the different roles they have played over the years in society. Among the risks, we found high rates of cervical cancer in the country, which is the fourth most common cancer for the female population. To describe, as of this writing experience, the experience of treatment of a cervical cancer from the perspective of public health policies. Methodology: Qualitative, descriptive study, which used an experience report of a cervical intraepithelial neoplasia (CIN) grade III, experienced by one of the authors. Data were extracted from the report and organized into themes to discuss them in a perspective of public policy. Data were organized in thematic areas, 1 CLEMENTE; SILVA; FERREIRA; SANTOS; CARVALHO, graduandos de Enfermagem do Centro Universitário Celso Lisboa; GUEDES, Ms. Docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário Celso Lisboa.
  • 2. 24 namely: the prevention and promoting early diagnosis; emotional aspects facing the diagnosis of cancer: the interconnected system: family and friends, the health professional management front of the patient diagnosed with cancer; resilience: a proposal; the path: from diagnosis to the treatment, and recovery: success after surgery. Inadequate information regarding access and treatment are related to knowledge among women, compared to the cytological examination of the cervix and disease. A diagnosis generates a crisis in the individual's family. These aspects of the disease may cause a number of reactions in the patient expectations and, as well as their families. After diagnosis, patients often have emotional responses such as anxiety, anger and depression. Health professionals need to be sensitive to the suffering that affects women and the family so that it can meet the difficulties caused by the diagnosis of cancer. Spirituality also occupies an important place in people's lives and is co-participant in dealing with the disease. Information and clarification on postoperative patients for this phase are important but should be raised so that the patient can interact and participate. As we to lean over on the subject from an experience report, we dive and reflect on the importance of early diagnosis from tests such as the Pap test for the health of the female population of the country. This study was made possible by one of the authors, despite being a health professional and annually conduct examinations for prevention of cervical cancer does not stop him from being affected by the disease. Keywords: early diagnosis; women's health. INTRODUÇÃO No início dos anos 60, com a descoberta da pílula anticoncepcional, o tema da sexualidade ganhou força em todo o mundo. E esse pensamento repercutiu no Brasil com a entrada e funcionamento de inúmeras instituições e recursos destinados ao controle da natalidade que não tinham o seu foco na saúde. E a massiva distribuição de contraceptivos e realização de laqueaduras era realizada para garantir o controle da natalidade como política de controle demográfico. Não tinha foco na saúde da mulher (BRASIL, 2010). Nas décadas de 60 e 70, a luta das mulheres notabilizou-se pela busca de reconhecimento dos seus direitos. As mulheres queriam ser autônomas e decidir por si mesmas sobre a sua vida reprodutiva. O movimento feminista passou a ser mais visível e as reivindicações das mulheres já não podiam mais ser ignoradas. Na década de 80, as mulheres começaram a ser ouvidas na construção de políticas e programas criados para atendê-las. As reivindicações do movimento feminista se integram às discussões mais amplas, originando, em 1983, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) (BRASIL, 1984). Hoje, uma Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde, em 2000.
  • 3. 25 Estes documentos trouxeram para a população feminina a oportunidade de ser assistida nas diversas fases da vida e a partir da integralidade, haja vista, que o olhar governamental para as questões que envolviam a saúde da mulher era voltado para o período da reprodução. Apesar da valorização da reprodução, a mulher que outrora estava inserida no espaço privado, com a revolução industrial no país, ela passou a se inserir no espaço público em decorrência da necessidade de participação no mundo do trabalho. Contudo, a discriminação e as perversas condições de sobrecarga das mulheres, em decorrência do acúmulo das funções sociais na casa, no trabalho e na comunidade, configuram as bases das desigualdades em saúde relacionadas ao nível de renda, à escolaridade, ao local de moradia, à raça e ao gênero, e disso decorrem vulnerabilidades e riscos diferenciados para a saúde desse grupo populacional (BRASIL, 2010). A condição de vulnerabilidades e riscos para a saúde das mulheres, acredita- se, estarem atrelados aos diversos papéis que têm desempenhado ao longo dos anos na sociedade. Dentre os riscos, encontramos elevados índices de câncer do colo uterino no país. Os elevados índices de incidência e mortalidade por câncer do colo do útero no Brasil justificam a implantação de estratégias que incluam ações de promoção à saúde, prevenção e detecção precoce, tratamento e de cuidados paliativos, quando esses se fizerem necessários (BRASIL, 2014). O câncer de colo uterino é o quarto tipo de câncer mais comum entre as mulheres, de acordo com a publicação do Instituto Nacional de Câncer (INCA 2014). Diante das contextualizações discorridas nos parágrafos acima emergem alguns questionamentos: Como são compreendidas pelas usuárias as estratégias voltadas para o cuidado da saúde da mulher? Quais as expectativas e anseios da usuária sobre as políticas públicas de saúde no serviço de oncologia? Para dar conta deste estudo traçamos como objetivo: descrever a partir deste relato de experiência a vivência do tratamento de um câncer de colo uterino na perspectiva das políticas públicas de saúde. Este estudo consiste em um relato de experiência de uma Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) grau III, vivenciado por uma das autoras discente do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário Celso Lisboa.
  • 4. 26 O processo histórico da mulher na sociedade Faz-se necessário resgatar um pouco da história da mulher na sociedade. A mulher em todos os estágios da humanidade teve papel relevante na produção da riqueza social e na subsistência de sua família. Desde as fases pré-capitalistas, as mulheres já exerciam inúmeras atividades, seja no campo, na manufatura, minas, comércios, oficinas de tecelagem e fiação ou mesmo nas atividades domésticas. Resumindo-se apenas em mão de obra informal (LEITE, 2004). É no século XIX, após a Revolução Industrial, com várias mudanças no mundo do trabalho, que houve um significativo aumento da inserção feminina no trabalho produtivo, legitimando definitivamente o uso da força de trabalho da mulher, que passou a ser percebida pela sociedade brasileira, a partir do momento que estas mulheres foram inseridas nas indústrias e começaram a reivindicar o seu reconhecimento enquanto trabalhadoras assalariadas (SCOTT, 2004). O movimento feminista e as lutas por melhores oportunidades de trabalho e reconhecimento profissional são desenhos dos novos rumos constitutivos da divisão sexual do trabalho. Como o das operárias de fábricas de vestuário e indústria têxtil, que protagonizaram uma dessas manifestações contra as más condições de trabalho e os baixos salários, em 8 de março de 1857, em Nova York (EUA) (LEITE, 2004). Algumas mulheres procuravam um lugar no mundo do trabalho como forma de viabilizar a sua subsistência e de sua família; outras objetivaram complementar as finanças domésticas adicionando algum dinheiro ao salário do marido; outras, ainda, ocupavam posições no mercado de trabalho como forma de realizar-se em uma profissão que lhe satisfizesse e, claro, lhes desse algum dinheiro. Diferentes são as historias de cada uma dessas mulheres que saíram do espaço doméstico e enfrentaram o trabalho nas fábricas, escolas e outros lugares (NOGUEIRA, 2004). A divisão sexual da sociedade contemporânea compreendia o contexto da naturalização do trabalho doméstico e do cuidado com as crianças (além de gerá- las) como pertencentes ao mundo feminino. Se, por um lado, o capitalismo consolidou o trabalho da mulher entre quatro paredes, naturalizando funções como mãe e dona de casa, por outro, tem sido esse o modo de produção no contexto do qual, na história, mais se tem lidado com as questões das mulheres, procurando-se sua gênese e possibilidades de superação (FONSECA, 1999).
  • 5. 27 Ainda convivemos com enormes situações de desigualdades em saúde relacionadas ao nível de renda, à escolaridade, ao local de moradia, à etnia e ao gênero. As desigualdades de sexo, ou seja, aquelas que se expressam quando se compara situações de saúde entre homens e mulheres, ainda são enormes em nosso País. Na maioria dos casos, são desfavoráveis às mulheres e precisam ser consideradas para orientar os planos e as ações de saúde (BRASIL, 2010). A discriminação e as perversas condições de sobrecarga das mulheres, em decorrência do acúmulo das funções sociais na casa, no trabalho e na comunidade, configuram as bases dessa desigualdade entre homens e mulheres, e disso decorrem vulnerabilidades e riscos diferenciados para a saúde destas (BRASIL, 2010). Políticas públicas na saúde da mulher No final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980, com a crise do sistema econômico mundial, surgiram as políticas de controle da natalidade, que propunham a redução do número de filhos das mulheres dos países subdesenvolvidos. Essa política tinha como linha mestra a redução da pobreza através do controle do corpo das mulheres (BRASIL, 1984). Descrito por Costa (2009), o tema planejamento familiar mostrou-se recorrente nas conferências sobre população em 1974, em Bucareste; 1984, no México e em 1994, no Cairo. Nessas conferências, a posição formal do Brasil esteve identificada pela defesa do livre arbítrio das pessoas e dos casais em relação ao número de filhos, desatrelando práticas contraceptivas dos interesses relativos a controle demográfico. A conferência do Cairo, diferente das demais, contou com grande participação da sociedade civil brasileira, especialmente do movimento feminista. No Brasil, em 1984, o Ministério da Saúde, pressionado pelos movimentos de mulheres, formulou uma política que reorientava toda a atenção à saúde das mulheres: o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, conhecido como PAISM, rompendo com a visão curativa, e avançando para o entendimento mais ampliado da saúde, que incluiria ações no âmbito das práticas educativas e preventivas, bem como o diagnóstico, tratamento e recuperação da saúde (BRASIL, 1984). Esse programa inovava o conceito da integralidade, ou seja, as mulheres passaram a ser contempladas em todas as faixas etárias, em todos os ciclos de
  • 6. 28 vida, em todos os seus papéis na sociedade e, naturalmente, em todos os seus problemas e necessidades de saúde. Esse novo olhar para a saúde das mulheres rompeu definitivamente com a oferta apenas das ações relacionadas à gravidez e ao parto preconizadas pelo antigo Programa de Saúde Materno Infantil (PSMI) (BRASIL, 2010). O PAISM abrangia a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré- natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, doenças sexualmente transmissíveis, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres. Com princípios e diretrizes: descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, integralidade e a equidade da atenção, paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se concebia o arcabouço conceitual que embasaria a formulação do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1984). O Ministro da Saúde Humberto Costa, em 28 de maio de 2004, lançou a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM). Princípios e Diretrizes, construída a partir dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), respeitando as características da nova política de saúde. Essa Política de Atenção à Saúde da Mulher reconhece a importância do processo de descentralização e das diferenças dos níveis de gestão dos municípios, da sua organização dos sistemas de saúde e seu desenvolvimento tecnológico. Dessa forma, a proposta é que a Política seja um instrumento de apoio aos Estados e municípios na implementação de ações de saúde da mulher, que respeitem os seus direitos humanos e sua situação social e econômica (BRASIL, 2007b). As interfaces da atenção integral à saúde da mulher com a efetivação do “SUS que queremos” são muitas. Verifica-se neste momento a coexistência de processos de implantação e implementação de políticas e Pactos que, direta ou indiretamente, relacionam-se com a saúde da mulher, a saber: a Política de Atenção à Saúde da Mulher, o Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, o Pacto pela Vida e a Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2007b). As mudanças de hábito, aliadas ao estresse gerado pelo estilo de vida do mundo moderno, contribuem para que as doenças crônico-degenerativas estejam entre as principais causas de morte na população feminina. Tipo de alimentação, sedentarismo, tabagismo, sobrecarga de responsabilidades (como o aumento
  • 7. 29 considerável do número de mulheres chefes de família), competitividade e assédio moral e sexual no mundo do trabalho são fatores com relevância destacada na mudança do perfil epidemiológico da saúde das mulheres (BRASIL, 2007b). Políticas públicas na saúde da mulher no serviço de oncologia. O Programa de Oncologia do Instituto Nacional de Câncer / Ministério da Saúde (Pro-Onco) foi criado em 1986 como estrutura técnico-administrativa da extinta Campanha Nacional de Combate ao Câncer. Em 1990, o Pro-Onco tornou-se Coordenação de Programas de Controle de Câncer. Suas linhas básicas de trabalho eram a informação e a educação sobre os quatro tipos de câncer mais incidentes, dentre eles o do colo do útero e o de mama (ABREU, 1997). O Ministério da Saúde reconheceu a necessidade de um Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero (PNCCCU). Uma equipe de técnicos do (MS), em parceria com organismos nacionais e internacionais, elaborou um projeto- piloto, denominado Viva Mulher, que foi implantado entre janeiro de 1997 e junho de 1998 em seis localidades (Curitiba, Brasília, Recife, Rio de Janeiro, Belém e estado de Sergipe) priorizando mulheres entre 35 e 49 anos que nunca haviam feito o exame preventivo ou que estavam sem fazê-lo há mais de três anos (BRASIL, 2011). O Programa Nacional de Combate ao Câncer de Colo do Útero foi instituído através da Portaria GM/MS nº 3040/98, em 21 de junho de 1998. A coordenação do programa foi oficialmente transferida para o Instituto Nacional de Câncer (INCA) por meio da Portaria GM/MS nº 788/99, de 23 de junho de 1999. Neste mesmo ano foi instituído o Sistema de Informação do Câncer do Colo do Útero – SISCOLO - para monitoramento e gerenciamento das ações pela Portaria nº 408, de 30/08/1999. As estratégias de prevenção e controle do câncer do colo do útero e da mama têm por objetivo reduzir a incidência, a mortalidade e as repercussões físicas, psíquicas e sociais desses tipos de câncer, por meio da oferta de serviços para prevenção e detecção em estágios iniciais da doença e para o tratamento e reabilitação das mulheres. Desde 2003 a Área Técnica de Saúde da Mulher (ATSM) trabalha em parceria com o INCA para reduzir a morbimortalidade por câncer (BRASIL, 2007b). O Plano de Ação está fundamentado na Política Nacional de Atenção Oncológica (PNAO), instituída pela Portaria GM n.º 2.439, de 8 de dezembro de 2005 e em acordo com os objetivos e metas prioritárias do Pacto pela Vida. O Plano
  • 8. 30 de Ação apresenta seis diretrizes estratégicas: (1) Aumento da Cobertura da População-Alvo; (2) Garantia da Qualidade; (3) Fortalecimento do Sistema de Informação; (4) Desenvolvimento de Capacitações; (5) Desenvolvimento de Pesquisas; (6) Mobilização Social, composta por ações a serem desenvolvidas, a partir do ano de 2005, nos distintos níveis de atenção à saúde (BRASIL, 2007b). A Política Nacional de Atenção Oncológica reconhece que o câncer é um problema de saúde pública e determina que as ações para o seu controle no Brasil sejam realizadas através de uma Rede de Atenção Oncológica (RAO), com a participação direta e indireta do Governo Federal, das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, das universidades, dos serviços de saúde, dos centros de pesquisa, das organizações não governamentais e da sociedade de forma geral (BRASIL, 2013). METODOLOGIA Segundo Minayo (2003), a pesquisa é a atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade num processo intrinsecamente inacabado e permanente. É uma combinação particular entre teoria e dados, com uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota. Para a fundamentação do presente estudo, procuramos desenvolver a pesquisa descritiva, numa abordagem qualitativa. O objetivo primordial das pesquisas descritivas é levantar as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis (GIL, 2002). Segundo Minayo (2003) uma abordagem qualitativa aprofunda-se no universo dos significados das ações e interações humanas. Há um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números (GIL, 2002). Esta pesquisa é fruto de um relato de experiência que é um tipo de fonte de informação dedicada à coleta de depoimentos e registro de situações e casos relevantes que ocorreram durante a implementação de um programa, projeto ou em uma dada situação problema. O objetivo é registrar experiências de ensino, pesquisa e extensão que sirvam de referência para outros profissionais (POLIT e BECK, 2011). Os dados obtidos neste estudo propiciaram aos autores a refletir acerca da vivência de um Câncer de Colo Uterino. Os dados foram obtidos a partir da descrição das etapas percorridas por uma das autoras, no ano de 2013.
  • 9. 31 RESULTADOS E DISCUSSÃO As ações de prevenção e promoção ao diagnóstico precoce versus a construção social do indivíduo acerca do processo saúde-doença O sucesso histórico do modelo convencional de prevenção, baseado no rastreio citológico de lesões precursoras, na redução da incidência e da mortalidade por câncer do colo do útero é inegável (QUINN et al.,1999 apud CORRÊA; RUSSOMANO, 2012). Todavia, atualmente essa estratégia de prevenção está sofrendo importantes questionamentos, sendo objeto de estudos que buscam aperfeiçoá-la ou confrontá- la com novas alternativas (CORRÊA; RUSSOMANO, 2012). No Brasil, o controle do câncer do colo do útero é considerado uma das prioridades em saúde. Em 2011, o Plano para o Fortalecimento das Ações de Prevenção, Diagnóstico e Tratamento do Câncer do Colo do Útero, que tem como objetivos prioritários garantir o acesso ao exame preventivo com qualidade as mulheres de 25 a 64 anos de idade e qualificar o diagnóstico e o tratamento das lesões precursoras do câncer do colo do útero (BRASIL, 2011). Entretanto, a realização do exame preventivo de rotina para o rastreamento conforme preconiza o Ministério da Saúde (MS) seria a repetição do exame Papanicolaou a cada três anos, após dois exames normais consecutivos realizados com um intervalo de um ano. A repetição em um ano após o primeiro teste tem como objetivo reduzir a possibilidade de um resultado falso-negativo na primeira rodada do rastreamento (BRASIL, 2014). A periodicidade de três anos tem como base a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e as diretrizes da maioria dos países com programa de rastreamento organizado. Tais diretrizes justificam-se pela ausência de evidências de que o rastreamento anual seja significativamente mais efetivo do que se realizado em intervalo de três anos (BRASIL, 2011). “...A suspeita do diagnóstico surgiu após preventivo que realizava anualmente. Já estava bastante estressada visto que já havia realizado o exame por duas vezes, e o laboratório responsável não só perdeu a primeira amostra como o funcionário misturou e se confundiu no segundo exame com o resultado de outros pacientes. Por esse motivo tive dúvidas quanto ao suspeito diagnóstico (células sugestivas de carcinoma)...” Frente ao relato do parágrafo acima nos cabe pensar e trazer uma reflexão acerca das responsabilidades do indivíduo quanto à sua própria saúde. Partindo da premissa que segundo a Lei nº 8080/90 (Lei Orgânica da Saúde), que traz como
  • 10. 32 dever do Estado a oferta de saúde, mas não exime a responsabilidade do indivíduo em mantê-la. Ainda é alta a percentagem de mulheres que não têm como hábito a realização do exame preventivo, o diagnóstico muitas vezes ainda é feito em estádios mais avançados da doença. Esse diagnóstico tardio pode estar relacionado com: a dificuldade de acesso da população feminina aos serviços e programas de saúde, a baixa capacitação dos recursos humanos envolvidos na atenção oncológica (principalmente em municípios de pequeno e médio porte) e a capacidade do Sistema Público de Saúde para absorver a demanda que chega às unidades de saúde (BRASIL, 2014). As informações inadequadas referentes ao acesso e tratamento estão relacionadas à falta de conhecimento entre as mulheres, em relação ao exame citológico do colo uterino e a patologia. Pelloso, Carvalho e Higarashi (2004), afirmam que a partir do momento em que a mulher compreende o câncer, e quais os riscos que ele pode trazer a sua saúde é que o controle da patologia é possível, porque ela passa a ter atitudes de cuidado próprio voluntariamente e não como um ato imposto. Um estudo qualitativo realizado em um Centro de Saúde Escola com mulheres que estavam realizando o Papanicolaou pela primeira vez detectou que são muitos os motivos que as influenciam a não realizar o exame. Entre eles estão: desconhecimento do câncer de colo uterino, da técnica e da importância do exame preventivo, medo na realização do exame, medo de se deparar com resultado positivo para o câncer, sentimento de vergonha e constrangimento e, por fim, dificuldades para realizar o exame, sendo destacados tanto a dificuldade de acesso ao serviço quanto motivos relacionados ao papel da mulher no cuidado com a casa e os filhos (FERREIRA, 2009). Os aspectos emocionais frente ao diagnóstico de câncer O câncer desencadeia reações devastadoras tanto no âmbito orgânico como no emocional, provocando sentimentos, desequilíbrios e conflitos internos, além de causar um sofrimento tão intenso capaz de resultar em desorganização psíquica, consequências que vão depender da localização, do estágio da doença e do tratamento. (PENNA, 2004).
  • 11. 33 Uma rede interligada: família e amigos Um diagnóstico positivo de câncer pode gerar ampla crise na família do indivíduo, dependendo, inclusive, da estrutura familiar no momento em que a doença aparece. Além disso, a situação exige muito mais do que uma mudança de postura dos entes próximos, pois amigos e colegas de trabalho acabam se envolvendo de alguma maneira. Nessa hora, cada um tem um papel importante, agindo de forma positiva para evitar que o processo se agrave (CARVALHO, 2008). Para o autor a inclusão de familiares e amigos nos dispositivos de cuidado pode contribuir para minimizar o sofrimento que a situação inflige em todo o sistema familiar, tornando mais tolerável o convívio com a dor, a incerteza, a instabilidade e o imprevisível. “...A chegada em casa e contar para meus filhos foi um processo difícil, eles sempre me viram como a líder da família, guerreira, forte, sempre otimista por pior que fosse a situação. E assim contei para eles, me mantendo sob controle.” “...Confesso que o desespero, o medo e a angústia, tomaram conta de mim no primeiro momento. Pensava nos meus filhos, na faculdade que desejava concluir, que ficaria sem cabelo, que emagreceria por conta da quimioterapia e outras coisas mais que passaram pela minha cabeça naquele momento”. Estes aspectos da doença podem provocar uma série de expectativas e reações no paciente, bem como em seus familiares. Após o choque inicial do diagnóstico, os pacientes costumam apresentar respostas emocionais como ansiedade, raiva e depressão (PENNA, 2004). Segundo Knapp (2004) a atividade cognitiva, ativada com o diagnóstico de uma doença crônica como o câncer, pode influenciar o comportamento e as emoções do paciente, alterando a forma como ele se sente, e podendo resultar em transtornos psicológicos decorrentes das distorções cognitivas de um modo desvirtuado de se perceber os acontecimentos. Podem se apresentar, numa mesma situação, de diversas maneiras: por “catastrofização” (pensar sempre que o pior vai acontecer), por abstração seletiva (focar a atenção em um aspecto negativo da situação), por adivinhação (antecipar problemas, ter expectativas negativas em relação a fatos, que talvez nem venham a existir), por personalização (assumir a culpa por acontecimentos negativos), entre outras (KNAPP, 2004).
  • 12. 34 “...Fui acompanhada de uma das minhas melhores amigas. Embora seja uma profissional de saúde, na fila enquanto aguardava a realização ouvi muitas coisas (que o exame era doloroso, que ficaria dias sangrando, e que o bisturi me deixaria queimada e dolorida, etc.), o que me deixou com muito medo. Entrei só, minha amiga ficou aguardando”. “...Falei com a enfermeira, e fui liberada na mesma hora, desde que aguardasse minha outra melhor amiga. Nesse momento minhas colegas de trabalho já haviam ligado para ela e ela pediu para que não me deixassem sair”. “...Com a chegada da minha amiga fomos ao consultório. Eu tentava manter o controle, o que não foi fácil. Ao chegarmos ao consultório, minha amiga decidiu entrar comigo”. “...Enquanto eu aguardava na fila minha amiga foi até Botafogo pegar as lâminas. Quando ela chegou por volta das 8:30h foi possível a realização da abertura do prontuário e minha primeira consulta naquele mesmo dia”. O câncer acomete não só a paciente, mas todos que estão a sua volta. É imprescindível que a família se estruture, pois o tratamento pode ser longo e ter consequências em vários aspectos (CARVALHO, 2008). Ainda, segundo a autora, é importante o apoio e a orientação não somente para as pacientes, mas também para a família, que é parte essencial no tratamento, pois, se o suporte emocional for de qualidade, será bastante significativa na recuperação da mulher, ajudando-a na melhora da autoestima e consequentemente contribuindo na recuperação da autoimagem. O manejo do profissional de saúde frente ao paciente com diagnóstico de câncer O profissional de saúde precisa estar sensível ao sofrimento da mulher acometida e à dor emocional dos familiares de maneira que possa atender as dificuldades geradas pelo diagnóstico de câncer, pois, apesar dos avanços tecnológicos na medicina, e resultados cada vez mais surpreendentes em relação ao tratamento, o câncer permanece como um dos grandes desafios da saúde da mulher. A adoção de estratégias de enfrentamento adequadas é um dos fatores que contribuem para a qualidade de vida das pacientes e familiares (AMBRÓSIO; SANTOS, 2011). “...Orientada por meu ginecologista a realizar um exame chamado de Colposcopia com biópsia, procurei uma profissional por indicação de meu ginecologista para realização do exame, pois a mesma também aceitava meu plano de saúde. Até aí ainda duvidava, acreditava que poderia haver um erro no diagnóstico”. “...a doutora muito otimista e gentil confirmou o diagnóstico do carcinoma NIC III. Explicou que era um dos mais agressivos, comum em portadores do HPV, ou melhor, causado por ele, muito comum também em
  • 13. 35 mulheres multíparas, e que pela lesão que se apresentava eu já havia sido acometida por ele há uns dois anos”. Existem três tipos de lesões precursoras chamadas de Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) que dependendo de sua gravidade tenderá ou não a evoluir para o câncer. Quando ocorre uma mudança celular nas camadas basais do epitélio estratificado do colo do útero, que na maioria dos casos (80%) tem regressão espontânea é conhecido como NIC I (displasia leve), se houver um desarranjo celular em até três quartos da espessura do epitélio com preservação das camadas mais superficiais chama-se de NIC II (displasia moderada), porém se o desarranjo das células acometerem todas as camadas do epitélio, sem que haja invasão do tecido conjuntivo subjacente (displasia acentuada), tem-se NIC III (BRASIL, 2013). Entre diversas infecções sexualmente transmitidas a que tem maior destaque, é a infecção por HPV, pois esta tem uma forte relação com o surgimento do câncer do colo uterino, porém, mesmo o HPV sendo o fator de risco mais importante torna- se necessário outros cofatores para o desenvolvimento da doença (BRASIL, 2013). A baixa imunidade, promiscuidade, vários parceiros sexuais, início precoce da atividade sexual, alterações nutricionais (em especial no que se refere aos índices de vitamina A, E e Betacarotenos), hábitos tabagistas, infecções cervicais pelo vírus do herpes simples tipo 2 (HSV2) e pela clamídia dentre outras, o uso de contraceptivos orais, são considerados como fatores de risco na etiologia do câncer do útero (BRASIL, 2013). “...Durante a consulta contei para o médico tudo o que havia ouvido até ali, externei todas as minhas dúvidas e ansiedades, tudo que cada médico pelo qual passei tinha como proposta para meu diagnóstico”. “...No dia seguinte 30 de agosto de 2012. [eu] estava trabalhando e por volta das 09h30minhs no Centro Cirúrgico quando meu celular tocou, era a secretária da minha doutora pedindo que comparecesse ao consultório naquele dia. Fiquei estática. Não sabia o que fazer, para onde ir, o que pensar. Mas lá no fundo tinha certeza que o resultado do exame tinha sido positivo para o carcinoma e que a doutora mandara me chamar para me dizer pessoalmente. Chorei muito”. Esta doença, vista pelo indivíduo, como uma ameaça do destino, desencadeia uma série de sentimentos como impotência, desesperança, temor e apreensão, levando o diagnóstico a ser, frequentemente, acompanhada de depressão, consequência ocorrida pelo fato do paciente não conseguir aceitar sua doença (AMBRÓSIO; SANTOS, 2011).
  • 14. 36 Resiliência: uma proposta A resiliência trata-se de uma tomada de decisão quando alguém depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam forças na pessoa para enfrentar a adversidade. Entendemos que se pode considerar a resiliência como uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades (BARBOSA, 2006; JOB, 2003). “...Dei seguimento à minha vida normalmente, trabalho, faculdade, lazer, enquanto aguardava ser chamada para a mesa redonda onde são realizados os planos cirúrgicos. Não acreditava que seria rápido, as pessoas sempre diziam que demorava muito”. “...Para minha surpresa mais uma vez, recebi um telefonema do INCA me comunicando no dia 30 de novembro de 2012, uma sexta-feira, que deveria me internar no sábado dia 1 de dezembro de 2012”. “...Estava trabalhando e em prova na faculdade. Não tinha como pensar duas vezes, comuniquei à chefia, me despedi das colegas, o que gerou uma grande choradeira, por conta de tudo o que vinha passando naqueles dois últimos meses”. “...E assim aconteceu, compareci na manhã seguinte acompanhada de meu companheiro, familiares, e minha melhor amiga para internação”. “...Dormi muito bem à noite [após a cirurgia]. Ao acordar pela manhã tomei banho sem auxílio da enfermagem, pois me sentia muito bem, até me foi oferecida ajuda”. O caminho percorrido: do diagnóstico ao tratamento proposto A obtenção de acesso aos serviços é uma das etapas a serem vencidas pelos usuários quando partem em busca da satisfação de suas necessidades de saúde e configura-se em um dos problemas que dificultam a assistência. Acesso é uma categoria potente e estratégica para o planejamento, organização e produção de ações e serviços de saúde, consistindo em um dos elementos centrais de qualificação da atenção à saúde (LIMA et al., 2007; SOUZA et al., 2008). A facilidade de acesso propicia a satisfação do usuário com o atendimento, determinando a escolha do serviço de saúde e estabelecendo, frequentemente, um bom vínculo (LIMA et al., 2007). Alguns dos fatores que interferem no acesso aos serviços de saúde compreendem: a distância entre a unidade de saúde e o local de moradia do indivíduo; tempo e meios utilizados para o deslocamento; dificuldades enfrentadas para a obtenção do atendimento (filas, local e tempo de espera); tratamento recebido pelo usuário; priorização de situações de risco; respostas obtidas para
  • 15. 37 demandas individuais e coletivas; e, a possibilidade de agendamento prévio (LIMA et al., 2007). “...Peguei o telefone na internet, liguei e fui informada de que deveria procurar o INCA II, que se localiza atrás da rodoviária Novo Rio, de segunda à quinta-feira bem cedo, pois só distribuíam dez números”. “...Uma coisa que facilitou e agilizou muito minha vida foi chegar ao INCA com todos os exames (Hemograma completo, urina, fezes, ECG, ressonância, etc.)”. “...Conforme orientação pelo telefone cheguei às 4:30h da manhã, e nem precisava ser tão cedo, 5h estaria de bom tamanho. Infelizmente não pude ser atendida e nem abrir o prontuário porque era preciso a apresentação das lâminas. Parti dali então para o laboratório em busca das lâminas. Chegando lá fui comunicada de que demoraria uma semana para que pudesse pegá-las. Deixei o pedido e fui para casa. Para minha surpresa no final da tarde recebi um telefonema do laboratório de que as lâminas estavam à minha disposição”. “...No dia seguinte voltei a unidade de saúde terciária bem cedo”. Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) são aqueles que oferecem assistência especializada e integral aos pacientes com câncer, atuando na área de prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento do paciente. De acordo com a Portaria GM/MS nº 3.535, são classificados como: Centro de Alta Complexidade em Oncologia I, Centro de Alta Complexidade em Oncologia II e Centro de Alta Complexidade em Oncologia III. Os Centro de Alta Complexidade em Oncologia I são hospitais gerais em que se procede ao diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas mais frequentes no Brasil (de pele, mama, colo uterino, pulmão, estômago, intestino e próstata, além dos tumores linfohematopoéticos e da infância e adolescência). Caracterizam-se por disporem de todos os recursos humanos e equipamentos instalados dentro de uma mesma estrutura organizacional e prestarem atendimento ao paciente sempre numa perspectiva multiprofissional integrada. Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia II são instituições dedicadas prioritariamente ao controle do câncer, para o que desenvolvem ações de prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento das neoplasias malignas mais frequentes no Brasil, e caracterizam-se por possuírem todos os recursos humanos e equipamentos instalados dentro de uma mesma estrutura organizacional, pelos quais são diretamente responsáveis; Os Centros de Alta Complexidade em Oncologia III são instituições dedicadas exclusivamente ao controle do câncer, para o que desenvolvem ações de
  • 16. 38 prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento de qualquer tipo e localização de neoplasia maligna, e caracterizam-se por possuírem todos os recursos humanos e equipamentos próprios. A prestação da assistência ao paciente deve abranger sete modalidades integradas: a) Diagnóstico; b) Cirurgia oncológica; c) Oncologia clínica; d) Radioterapia; e) Medidas de suporte; f) Reabilitação; g) Cuidados paliativos (BRASIL, 1998). Contudo, em termos de saúde pública, há de se ressaltar que a esmagadora maioria das necessidades de saúde da população é satisfeita na atenção primária em saúde, razão pela qual os investimentos nesse nível têm impacto muito maior nos indicadores de saúde, que aqueles feitos na atenção terciária (BRASIL, 2007). Obviamente, a disponibilidade de atenção terciária em saúde é imprescindível, sobretudo porque a garantia do direito à saúde no Brasil está permeada pelo princípio da integralidade. O que se quer destacar, entretanto, é que a atenção terciária é necessária para um número restrito de necessidades em saúde, deve ser acessado por meio de outros níveis de atenção e suas tecnologias devem ser empregadas quando existentes evidências científicas de eficácia e segurança para os usuários (BRASIL, 2007a). Como ressalta Braga et al. (2009), uma rede de atenção à saúde que se proponha a dispensar atenção integral aos indivíduos e populações deve assegurar que os usuários tenham acesso aos recursos necessários no tempo certo, no lugar certo, com o custo certo e a qualidade certa. “...A cirurgia só se realizaria na segunda-feira, mas havia a necessidade do preparo. O intestino precisava estar limpo, por isso, a ingesta era só de líquido e no domingo dois comprimidos para esvaziar trato intestinal a cada 4 horas. As cólicas até o intestino ficar limpo eram muito dolorosas, mas enquanto as fezes não apresentaram uma cor amarelo florescente a enfermagem não se deu por satisfeita”. “...A cirurgia foi realizada em dezembro de 2012. Graças a Deus muito bem, sem nenhum incomodo pelo Cateter Vesical de Demora (CVD), e com cinco pequenos furos no abdômen e a língua meio mole, afinal fui entubada por conta da necessidade de ser anestesia geral devido ao tempo longo do procedimento cirúrgico”. O diagnóstico do câncer pode afetar a espiritualidade do paciente. O uso da fé como suporte para se conviver com a doença, pode representar uma importante fonte de base e conforto para muitas pessoas, durante um período de sofrimento, proporcionando um maior equilíbrio diante das adversidades da doença (LINARD; SILVA; SILVA, 2002).
  • 17. 39 A espiritualidade ocupa um espaço importante na vida das pessoas e é coparticipante no lidar com a doença. Crer em algo superior torna o tratamento menos penoso e renova as forças de quem está em uma luta diária para sobreviver. A convivência com sentimentos de desesperança leva muitas vezes à reflexão sobre a atual situação e possibilidades futuras (FERREIRA; CHICO; HAYASHI, 2005). A fé é muitas vezes vista como um “remédio” muito poderoso para os clientes com câncer, pois estes mantêm a esperança em busca de um significado e de confiança em um ser superior. Isto propicia fortalecimento e serenidade para aceitar a doença. Por isso, pode-se dizer que a espiritualidade, a fé é uma ferramenta fundamental, para lidar com a doença e ter uma melhor qualidade de vida, tanto para o cliente oncológico quanto para a família (TEIXEIRA; LEFÈVRE, 2008). Recuperação: êxito após a cirurgia A reabilitação deve ser proposta juntamente com a opção terapêutica, considerando-se hoje a expectativa de vida com qualidade dada pelos modernos tratamentos (BRASIL, 2008). A aplicação da cirurgia robótica em ginecologia se tornou uma alternativa cirúrgica que oferece cirurgia minimamente invasiva, apresentando uma visão tridimensional, posição ergonômica ideal e instrumentos laparoscópicos com articulação. Conforme Berlinger (2006) é baseada principalmente sobre as desvantagens da cirurgia ginecológica aberta (ampla incisão abdominal), como: hospitalização prolongada, analgesia pós-operatória e aumento da morbidade. “...Fui comunicada que estava de alta, recebi as orientações quanto aos cuidados pós-operatório, fui encaminhada para pegar todas as medicações na farmácia, o material para realização dos pequenos curativos nas incisões e ao chegar a casa ligar para marcar retorno para uma semana. E assim foi realizado”. “...Não precisei ficar os 28 dias de CVD (Cateterismo vesical de demora), na segunda consulta de pós operatório a enfermeira conversou comigo e optamos por fazer o teste para ver se depois daqueles quinze dias de sonda vesical eu conseguiria urinar sem ela. A enfermeira marcou para o dia seguinte, me explicou que tiraria o CVD e que eu deveria no período de uma hora beber dois copos de 200ml de água a cada 20 minutos e só urinar quando eu não estivesse mais suportando, que eu procurasse me sentar e relaxar no vaso sanitário. Após tudo isso retornar e ela repassaria o CVD. Se nós tivéssemos uma produção de até 100 ml de urina eu iria sem a sonda para casa, e se saísse um volume maior continuaria em uso da sonda vesical”. “...Sem a sonda eu fui para casa, o processo foi difícil, durante quase um mês eu tive dificuldade, sentia vontade, mas nem sempre conseguia urinar, sabia que seria assim. Retirei os pontos com 21 dias, realizava minhas coisas em casa sem dor, sem incômodo, fiquei com o abdômen muito cheio de equimose, que logo desapareceram. Segui as
  • 18. 40 orientações pós operatórias como não pegar peso, não falar muito e relações sexuais só depois de três meses”. O processo de cuidar concomitante à qualidade de vida no pós-operatório, independente da classe social da paciente, é uma condição relevante para a total recuperação das mulheres histerectomizadas. Quando uma mulher é submetida a este tipo de cirurgia se faz necessário que ela tenha conhecimento e esclarecimentos dos efeitos que ela causa no corpo feminino (SALIMENA; SOUZA, 2008). Informações e esclarecimentos sobre pós-operatório para os pacientes nessa fase são importantes, mas devem ser manifestadas de forma que o paciente possa interagir e participar. Contemplando a mulher de forma humanizada, enfocando assim a prática do autocuidado como aporte para atingir a satisfação da cliente histerectomizada (SALIMENA; SOUZA, 2008; NETTINA, 2007). “...Um mês depois fui a consulta e recebi o resultado da patologia. Não havia mais nada comprometido, não precisaria fazer quimioterapia, radioterapia, a braquiterapia que me deixaria toda queimada segundo uma das médicas que me consultei antes de procurar a unidade de saúde terciária”. “...Continuo sendo acompanhada unidade de saúde terciária. No início de três em três meses agora de seis em seis meses, já realizei dois preventivos, graças a Deus tudo bem sem comprometimento da doença”. Fator importante a ser considerado em relação ao tratamento conservador da NIC II ou III é a recidiva. Cerca de 10% das mulheres tratadas por conização apresentarão recidiva histologicamente comprovada. A infecção pelo HPV é frequentemente eliminada após o tratamento da NIC II ou III, sendo que a persistência viral é o principal fator associado à recorrência da doença. O seguimento pós-conização deve ser realizado por cerca de cinco anos, a cada seis meses, com citologia e colposcopia. (SARIAN, 2004). CONCLUSÃO Ao nos debruçarmos sobre a temática a partir de um relato de experiência pudemos mergulhar e refletir acerca da importância do diagnóstico precoce a partir dos exames como o Papanicolau para a saúde da população feminina do país. Este estudo foi possível devido a uma das autoras, apesar de ser profissional de saúde e de realizar anualmente os exames para prevenção do Câncer de Colo de Útero não impediu de ser acometida pela doença.
  • 19. 41 Após organizarmos os dados em eixos temáticos que nos proporcionou algumas reflexões. Percebemos que as ações de prevenção e promoção ao diagnóstico precoce estão estabelecidas na política pública de saúde no país, mas ainda são necessários esforços para uma sensibilização da população feminina, a fim de aderirem aos programas de controle e prevenção. Ao nos depararmos com os aspectos emocionais que compõem o diagnóstico de câncer compreendemos que há uma necessidade de considerar a história de vida de cada paciente e seus familiares, bem como os contextos socioeconômico e cultural em que vivem, face às demandas de assistência à saúde que se colocam em função da doença e tratamento quando instalados. Este estudo também mostrou ganhos secundários. Ou seja, da importância de uma rede interligada que envolveu família e amigos, ajudou na adesão ao tratamento e a autoestima. Contribuiu para que a autora passasse por todo o processo desde o diagnóstico ao tratamento. Identificamos que é de suma importância para o paciente que o manejo do profissional de saúde em lidar com o paciente com diagnóstico de câncer, principalmente por que cada indivíduo pode responder de maneira diferente e nem sempre encontrar na resiliência um proposta para percorrer um caminho que é doloroso; quando o diagnóstico, tratamento, recuperação e a possibilidade de êxito podem não acontecer. Compreendemos que o conhecimento que a paciente possuía não a isentou do percurso, mais ajudou na busca pelo acesso ao serviço de saúde por excelência que o país oferece aos indivíduos acometidos pelo Câncer. O relato de experiência de uma mulher acometida por neoplasia uterina nos ofereceu subsídios para algumas discussões e reflexões acerca das propostas voltadas ao diagnóstico precoce do câncer de colo uterino. O que nos chamou atenção foi o fato do intervalo entre os exames realizados por uma das autoras serem de um ano, ou seja, um intervalo inferior ao preconizado pelo Ministério da Saúde que seria um intervalo de três anos a cada dois resultados negativos. A periodicidade de três anos recomendada pela Organização Mundial de Saúde não foi suficiente para a paciente que adquiriu a neoplasia em um intervalo de dois anos após o último exame negativo. Evidenciando que o rastreamento anual seja mais efetivo do que se realizado em intervalo de três anos.
  • 20. 42 Sugerimos que novos trabalhos sejam realizados a partir desta discussão. Onde o Ministério da Saúde estabelece um intervalo para a realização dos exames que poderão detectar de maneira precoce este tipo de neoplasia, entretanto este não deve ser um caso isolado. REFERÊNCIAS ABREU, E. Pró-Onco 10 anos. Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v.43 n.4, p.237-238. out-dez. 1997. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000080&pid=S0103- 7331201200020001700001&lng=en Acesso em 20 jul. 2014. AMBRÓSIO, D. C. M.; SANTOS, M. A. Vivências de familiares de mulheres com câncer de mama: uma compreensão fenomenológica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, dez. 2011. BARBOSA, G. S. Resiliência em professores do ensino fundamental de 5ª a 8ª Série: Validação e aplicação do questionário do índice de Resiliência. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica). São Paulo: Pontifica Universidade Católica, 2006. BERLINGER, N. T. Robotic surgery: squeezing into tight places. New England Journal of Medicine. 18 Maio 2006. 354:2099-2101. Disponível em: http://www.medigraphic.com/pdfs/ginobsmex/gom-008/gom083e.pdf Acesso em 19 nov. 2014. BRAGA N. et al. Atenção hospitalar: evolução histórica e tendências. In: GIOVANELLA, L. et al. (Org.). Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência Integral à Saúde da Mulher: Bases de ação programática. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 1984. 27p. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS Nº 3.535, de 02 de setembro de 1998. Estabelece critérios para cadastramento de centros de atendimento em oncologia. DOU n º 196-E, Seção 1, pág. 53 e 54, de 14.10.98. BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Assistência de média e alta complexidade no SUS. Brasília: Conass, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Relatório de Gestão 2003 a 2006: Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Brasília, 2007. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3ª ed. atual. amp. Rio de Janeiro: INCA, 2008.
  • 21. 43 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. Saúde da mulher: um diálogo aberto e participativo. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Programa Nacional de Controle do Câncer do Colo do Útero. Divisão de Apoio à Rede de Atenção Oncológica. Rio de Janeiro, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. 2 ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. 124p. (Cadernos de Atenção Básica, n. 13). Disponível em: http://dab.saude.gov.br/caderno_ab.php Acesso em 21 jun. de 2014. BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2014: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2014. CARVALHO, C. S. U. A necessária atenção à família do paciente oncológico. Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v.54, n.1, p.87-96. 2008. Disponível em http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v01/pdf/revisao_7_pag_97a102.pdf Acesso em 17 nov. 2014. CORRÊA, F. M.; RUSSOMANO, F. B. Novas Tecnologias de Prevenção do Câncer do Colo do Útero: Quem de Fato se Beneficia? Revista Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v.58, n.3, p.525-527. 2012. Disponível em http://www1.inca.gov.br/rbc/n_58/v03/pdf/23_artigo_novas_tecnologias_prevencao_c ancer_colo_utero_quem_fato_beneficia.pdf Acesso em 12 nov. 2014. COSTA, A. M. Participação social na conquista das políticas de saúde para mulheres no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, Brasília: DF. 1073-1083, 2009. FERREIRA, M. L. S. M. Motivos que influenciam a não realização do exame de papanicolaou segundo a percepção de mulheres. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Botucatu, SP, v. 13, n. 2, p.378-84. abr-jun 2009. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000118&pid=S1414- 8145201000010001900012&lng=en Acesso em 17 nov. 2014. FERREIRA, N. M. L.; CHICO, E.; HAYASHI, V. D. Buscando compreender a experiência do doente com câncer. Revista de Ciências Médicas, [S.l.], v.14, n.3, p.239-248. maio-junho 2005 FONSECA, R. M. G. S. Mulher, direito e saúde: repensando o nexo coesivo. Saúde e Sociedade [S.l.], v.8, n.2, p.3-32, 1999. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010412901999000200002&script=sci_arttext Acesso em 14 jun. 2014. GIL, A. C. Pesquisa metodológica: Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
  • 22. 44 JOB, F. P. P. Os sentidos do trabalho e a importância da resiliência nas organizações. Tese (Doutorado em Administração de Empresas). São Paulo: EAESP/FGV, 2003. 237p. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2535/71441.PDF?seque nce=2 Acesso em 08 jul. 2014. KNAPP, P. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed, 2004. LEITE, C. L. P. Mulheres: muito além do teto de vidro. São Paulo: Atlas, 2004. LIMA, M. A. S. et al. Acesso e acolhimento em unidades de saúde na visão dos usuários. Acta Paulista de Enfermagem, [S.l.], v.20. p.7-12. 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000127&pid=S1414- 3283200900040000600022&lng=en Acesso em 08 jul. 2014. LINARD, A. G.; SILVA, F. A. D.; SILVA, R. M. Mulheres submetidas ao tratamento para câncer de colo uterino: percepção de como enfrentam a realidade. Revista brasileira de cancerologia, [S.l.], v.48, n.4, p.493-498. 2002. Disponível em: http://monografias.brasilescola.com/enfermagem/o-enfermeiro-na-coleta-material- citopatologico.htm Acesso em 23 set. 2014. MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. NETTINA, S. M. Prática de Enfermagem. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. NOGUEIRA, C. M. A feminização no mundo do trabalho: entre a emancipação e a precarização. Campinas: Autores Associados, 2004. PENNA, T. L. M. Dinâmica Psicossocial de famílias de pacientes com câncer. In: J. Mello Filho e M. Burd (Orgs.). Doença e família. São Paulo: Casa do psicólogo, 2004. POLIT, D. F.; BECK, C. T. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: avaliação de evidências para a prática de enfermagem. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. SALIMENA, A. M. O; SOUZA, I. E. O. O sentido da sexualidade de mulheres submetidas à histerectomia: Uma contribuição da enfermagem para a integralidade da assistência ginecológica. 2008. 14p. Dissertação (tese). Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal de Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em http//:www.bibliotecavirtualemsaude.br Acesso em: 04 nov. 2014. SARIAN, L. O. et al. HPV DNA test and Pap smear in detection of residual and recurrent disease following loop electrosurgical excision procedure of high-grade cervical intraepithelial neoplasia. Gynecologic Oncologic. [S.l.], jul .2004.
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