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PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE
             COMO TER UMA VISÃO GLOBAL DOS PRINCÍPIOS CONTÁBEIS
                                  PARTE 2

                        CONSTRUINDO AS PAREDES DO EDIFÍCIO

          Na reflexão do capítulo anterior, iniciamos a construção de um prédio, cujo
              Alicerce eram os postulados ambientais (entidade e continuidade).

As paredes desta construção, apoiadas nos alicerces, representam os princípios contábeis
propriamente ditos que são os preceitos básicos orientados dos registros contábeis.

Um dos principais compartimentos no nível das paredes é o princípio do custo histórico como
base de valor; talvez o mais utilizado na Contabilidade de Custos. Esse princípio diz que os
registros contábeis serão realizados ao custo de aquisição ou ao custo de fabricação (como,
por exemplo, os estoques).

Esta proposta só será válida para uma pessoa (entidade) que está em continuidade. Como já
vimos, não estando em continuidade não seria adequado trabalhar a valores de entradas
(custo). Em outras palavras, estando a entidade em descontinuidade, tira-se o pilar da
continuidade e todo o edifício desmorona. Todavia, o custo histórico não é plenamente aceito.
A própria legislação societária admite a reavaliação para bens do ativo.

Aperfeiçoamentos e mudanças nos princípios são possíveis, já que esses não são como
verdades inquestionáveis. Assim, pode-se dizer que os princípios são mutáveis. Mudar
paredes, compartimentos, não é tarefa simples, porém é possível fazê-lo sem que a estrutura
seja destruída. Assim, os princípios se encontram numa hierarquia de menor importância que
os postulados. Porém, um aspecto importante é que as paredes não podem ser modificadas
fora dos limites do telhado. O telhado limita-se em duas dimensões, na estrutura do edifício.
Veremos no próximo capítulo que o telhado representa as convenções, que são restrições ou
limitações aos princípios contábeis. Por exemplo, no telhado, temos a convenção da
objetividade que diz que ao registrar pelo valor do custo temos que ter um documento (nota
fiscal, escritura, laudo etc.).

No nível de ajustar paredes, novos compartimentos poderão ser construídos, desde que em
cima das colunas (postulados) e abrigados pelo telhado (convenções). Por exemplo, um novo
princípio está sendo construído na estrutura conceitual básica da Contabilidade – a essência
econômica prevalecendo sobre a forma jurídica. A estrutura conceitual básica da Contabilidade
mostra que a Contabilidade possui um grande relacionamento com os aspectos jurídicos que
cercam o patrimônio, mas, não raro, a forma jurídica pode deixar de retratar a essência
econômica. Nessas ocasiões, deve a Contabilidade guiar-se pelos seus objetivos de bem
informar, seguindo, se necessário, a essência em vez de forma.

Um outro princípio existente que orienta os registros contábeis para a consecução do objetivo
da Contabilidade é o denominador comum monetário. Por meio desse princípio, temos a
avaliação monetária que homogeneíza e agrega diferentes itens em um denominador comum
monetário, num único relatório.

Terminando as paredes, a Contabilidade de custos irá usar muito os princípios da realização da
receita e da confrontação da despesa. Ambos os princípios detalham e explicam o que
chamamos de regime de competência. Poderíamos dizer que há duas formas distintas de se
fazer Contabilidade. Uma, considerada não científica, que é o regime de caixa, em que, na
apuração do resultado, levamos em consideração somente a receita recebida e a despesa
paga. A outra, convencionada como a melhor, é o regime de competência, onde a receita
considerada é gerada no período (não importando se foi recebida) e a despesa considerada é

                                                                                            1
a recebida no período (não importando se foi paga). O regime de caixa nada tem a ver com o
arcabouço contábil em estudo. Aliás, ele é a anti-contabilidade dentro de um rigor científico,
embora seja útil em determinadas circunstâncias. Por outro lado, o regime de competência é o
estilo contábil onde todo o arcabouço proposto se ajusta perfeitamente.

O princípio da realização da receita mostra o momento de se reconhecer a receita,
contabilizando-a. De maneira geral, é o momento da transferência do bem ou serviço para o
cliente. Após a identificação exata da receita, faz-se um esforço de associar (confrontar) toda a
despesa sacrificada para a obtenção daquela receita, fato esse que chamamos de princípio da
confrontação da despesa. Desta comparação (receitas e despesas) obteremos o resultado de
um período.

Há despesas ou deduções facilmente identificáveis, como as receitas. Outras precisarão ser
estimadas como o caso de provisão para devedores duvidosos decorrentes de duplicatas ainda
não recebidas e geradas pela receita já reconhecida. Outras ainda, por características
independentes, serão deduzidas da receita na condição de despesa do período, como é o caso
de despesas administrativas que não possuem nenhuma relação com receita.

Todavia, o fato de se apurar resultado só por ocasião da venda limitaria demais os relatórios
contábeis em certos tipos de atividades com estoque de longa maturação, como a pecuária, a
construção civil, o envelhecimento de bebidas etc. Nesses casos, seria possível reconhecer a
receita antes da venda, considerando o ganho da manutenção desses estoques. Algumas
exceções, portanto, serão encontradas neste princípio. Como não se trata de postulados, os
princípios são limitados e passíveis de ajustes e mudanças, como já dissemos.




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  • 1. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE COMO TER UMA VISÃO GLOBAL DOS PRINCÍPIOS CONTÁBEIS PARTE 2 CONSTRUINDO AS PAREDES DO EDIFÍCIO Na reflexão do capítulo anterior, iniciamos a construção de um prédio, cujo Alicerce eram os postulados ambientais (entidade e continuidade). As paredes desta construção, apoiadas nos alicerces, representam os princípios contábeis propriamente ditos que são os preceitos básicos orientados dos registros contábeis. Um dos principais compartimentos no nível das paredes é o princípio do custo histórico como base de valor; talvez o mais utilizado na Contabilidade de Custos. Esse princípio diz que os registros contábeis serão realizados ao custo de aquisição ou ao custo de fabricação (como, por exemplo, os estoques). Esta proposta só será válida para uma pessoa (entidade) que está em continuidade. Como já vimos, não estando em continuidade não seria adequado trabalhar a valores de entradas (custo). Em outras palavras, estando a entidade em descontinuidade, tira-se o pilar da continuidade e todo o edifício desmorona. Todavia, o custo histórico não é plenamente aceito. A própria legislação societária admite a reavaliação para bens do ativo. Aperfeiçoamentos e mudanças nos princípios são possíveis, já que esses não são como verdades inquestionáveis. Assim, pode-se dizer que os princípios são mutáveis. Mudar paredes, compartimentos, não é tarefa simples, porém é possível fazê-lo sem que a estrutura seja destruída. Assim, os princípios se encontram numa hierarquia de menor importância que os postulados. Porém, um aspecto importante é que as paredes não podem ser modificadas fora dos limites do telhado. O telhado limita-se em duas dimensões, na estrutura do edifício. Veremos no próximo capítulo que o telhado representa as convenções, que são restrições ou limitações aos princípios contábeis. Por exemplo, no telhado, temos a convenção da objetividade que diz que ao registrar pelo valor do custo temos que ter um documento (nota fiscal, escritura, laudo etc.). No nível de ajustar paredes, novos compartimentos poderão ser construídos, desde que em cima das colunas (postulados) e abrigados pelo telhado (convenções). Por exemplo, um novo princípio está sendo construído na estrutura conceitual básica da Contabilidade – a essência econômica prevalecendo sobre a forma jurídica. A estrutura conceitual básica da Contabilidade mostra que a Contabilidade possui um grande relacionamento com os aspectos jurídicos que cercam o patrimônio, mas, não raro, a forma jurídica pode deixar de retratar a essência econômica. Nessas ocasiões, deve a Contabilidade guiar-se pelos seus objetivos de bem informar, seguindo, se necessário, a essência em vez de forma. Um outro princípio existente que orienta os registros contábeis para a consecução do objetivo da Contabilidade é o denominador comum monetário. Por meio desse princípio, temos a avaliação monetária que homogeneíza e agrega diferentes itens em um denominador comum monetário, num único relatório. Terminando as paredes, a Contabilidade de custos irá usar muito os princípios da realização da receita e da confrontação da despesa. Ambos os princípios detalham e explicam o que chamamos de regime de competência. Poderíamos dizer que há duas formas distintas de se fazer Contabilidade. Uma, considerada não científica, que é o regime de caixa, em que, na apuração do resultado, levamos em consideração somente a receita recebida e a despesa paga. A outra, convencionada como a melhor, é o regime de competência, onde a receita considerada é gerada no período (não importando se foi recebida) e a despesa considerada é 1
  • 2. a recebida no período (não importando se foi paga). O regime de caixa nada tem a ver com o arcabouço contábil em estudo. Aliás, ele é a anti-contabilidade dentro de um rigor científico, embora seja útil em determinadas circunstâncias. Por outro lado, o regime de competência é o estilo contábil onde todo o arcabouço proposto se ajusta perfeitamente. O princípio da realização da receita mostra o momento de se reconhecer a receita, contabilizando-a. De maneira geral, é o momento da transferência do bem ou serviço para o cliente. Após a identificação exata da receita, faz-se um esforço de associar (confrontar) toda a despesa sacrificada para a obtenção daquela receita, fato esse que chamamos de princípio da confrontação da despesa. Desta comparação (receitas e despesas) obteremos o resultado de um período. Há despesas ou deduções facilmente identificáveis, como as receitas. Outras precisarão ser estimadas como o caso de provisão para devedores duvidosos decorrentes de duplicatas ainda não recebidas e geradas pela receita já reconhecida. Outras ainda, por características independentes, serão deduzidas da receita na condição de despesa do período, como é o caso de despesas administrativas que não possuem nenhuma relação com receita. Todavia, o fato de se apurar resultado só por ocasião da venda limitaria demais os relatórios contábeis em certos tipos de atividades com estoque de longa maturação, como a pecuária, a construção civil, o envelhecimento de bebidas etc. Nesses casos, seria possível reconhecer a receita antes da venda, considerando o ganho da manutenção desses estoques. Algumas exceções, portanto, serão encontradas neste princípio. Como não se trata de postulados, os princípios são limitados e passíveis de ajustes e mudanças, como já dissemos. 2