SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
Acta Pediatr. Port., 2003; N° 4; Vol. 34: 307-308
RECOMENDAÇÕES DAS SECÇÕES
Abordagem Prática da Amigdalite - Faringite na Criança
PAULA CORREIA, JOSÉ GONÇALO MARQUES, CARLOS CANHOTA, TERESA LIBÓRIO, PAULA VALENTE
Secção de Infecciologia Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria
e Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral
Etiologia e Epidemiologia
A maioria dos casos de faringite e amigdalite na cri-
ança são de causa viral. O predomínio da infecção viral é
ainda maior abaixo dos 3 anos de idade, um grupo onde a
infecção faríngea de causa bacteriana é pouco frequente.
Adenovirus, enterovírus, Epstein-Barr, influenza e parain-
fluenza são os vírus mais frequentemente envolvidos nesta
infecção. A etiologia bacteriana mais comum é por
Streptococcus pyogenes (j3-hemolítico do grupo A). Esta
apresenta uma distribuição etária bimodal, com um
primeiro pico de incidência entre os 5 e os 7 anos e um
segundo pico entre os 12 e os 13 anos.
A infecção estreptocócica dissemina-se através do
contacto directo com as secreções da garganta ou nariz de
pessoas infectadas, propagando-se rapidamente em comu-
nidades fechadas tais como escolas, infantários ou lares.
Excepcionalmente, pode haver infecção por contacto com
portadores assintomáticos. As crianças têm um papel
importante na transmissão da infecção, tanto no seio familiar
como na comunidade.
Clínica
A amigdalo-faringite estreptocócica clássica ocorre em
crianças em idade escolar e caracteriza-se pelo início
súbito de febre, odinofagia, adenopatias cervicais anteriores
dolorosas, cefaleias, náuseas e dor abdominal, na ausência
de sintomas típicos de infecção viral das vias respiratórias
altas tais como rinorreia, tosse ou conjuntivite. A oro-
faringe tem aspecto francamente eritematoso, vermelho
vivo, podendo associar-se ou não à presença de petéquias
no palato ou de exsudado purulento. O ponteado esbran-
quiçado não é patognomónico da infecção estreptocócica e
encontra-se em muitos casos de amigdalite virai no
lactente. A presença de escarlatina é o sinal mais fiável de
etiologia estreptocócica. Na criança menor de 3 anos de
idade, a infecção respiratória estreptocócica é menos fre-
quente, manifestando-se preferencialmente como rino-
faringite, raramente como amigdalite, e o risco de febre
reumática é quase inexistente.
A infecção por enterovirus pode apresentar-se como
herpangina, com lesões aftosas ou vesiculares no palato. O
quadro de faringo-conjuntivite com adenopatia pré-auricu-
lar é típico da infecção por adenovirus.
Diagnóstico
O principal desafio diagnóstico é o da distinção entre
faringite/amigdalite viral e estreptocócica. Baseada apenas
na clínica, é frequentemente imprecisa quer por os porta-
dores de infecção estreptocócica nem sempre apresentarem
o quadro clássico quer, e sobretudo, por este quadro poder
ser mimetizado por outros agentes.
Contudo, em crianças com idade superior a 3 anos com
faringite/amigdalite, a presença de febre e de odinofagia
intensa, na ausência de rinite, tosse, conjuntivite ou diar-
reia, são fortemente sugestivos de etiologia estreptocócica.
Esta probabilidade aumenta no decurso de uma epidemia
ou se outros membros da família têm faringite estreptocó-
cica confirmada bacteriologicamente.
Os exames bacteriológicos (cultura ou método de
detecção rápida) devem ser utilizados quando há sinais dis-
cordantes de etiologia estreptocócica, na criança com
amigdalites de repetição ou nos contactos com antecedentes
de febre reumática, glomerulonefrite aguda pós-estreptocó-
cica ou síndrome do choque tóxico estreptocócico.
O exame cultural do exsudado faringo-amigdalino é o
método diagnóstico de referência. O resultado é obtido, em
média, dois dias depois.
Os métodos de detecção rápida de antigénio do
Streptococcus 0-hemolítico do grupo A têm uma boa
especificidade (cerca de 90%) e razoável sensibilidade. Ou
seja, quando são positivos pode tratar-se como amigdalite
etiologia
estreptocócica
provável
Amigdalite/Faringite
febre >38°C
odinofagia intensa
sem rinite/tosse
idade 3A
sinais discordantes
de etiologia
estreptocócica
Não
*1'
etiologia ex. bacteriológico
estreptocócica do exsudado
improvável faringeo
1
antibioticoterapia
de acordo com
resultado
amoxicilina oral
ou
penicilina G benzatinica
terapêutica
sintomática
Sim
308 Abordagem Prática da Amigdalite - Faringite na Criança
estreptocócica, dispensando o exame cultural, quando nega-
tivos deve aguardar-se o resultado da cultura para a decisão
de antibioticoterapa.
* Em casos de alergia ver opções no texto
1.200.000 U. Como regra prática, podem usar-se 600.000 U
abaixo dos 15 Kg e 1.200.000 U acima dos 15 Kg de peso.
Se há história de alergia à penicilina mas não às
cefalosporinas podem utilizar-se cefalosporinas de 1a geração
como cefradina (25 mg/kg/dia em 3 tomas) ou cefadroxil
(30 mg/kg/dia em 2 tomas), durante 7 a 10 dias. Se houver
história de reacção anafilática grave deve optar-se pelos
macrólidos.
Na criança, a elevada percentagem de estirpes
resistentes aos macrólidos em Portugal (>20%) contraria a
utilização sistemática destes fármacos, que devem ser
reservados para situações de alergia aos [3-lactâmicos. É
recomendada a seguinte posologia: eritromicina 40-50
mg/kg/dia em 3 tomas; miocamicina 40-50 mg/kg/dia em
2-3 tomas; claritromicina 15 mg/kg/dia em 2 tomas (todos
durante 10 dias); azitromicina 20mg/kg/dia em 1 toma (o
dobro da dose habitual, durante 3 dias). A presença de
abcesso faringe° ou amigdalino obriga a referenciar a otor-
rinolaringologista.
Evicção escolar
A evicção escolar deve ser mantida até 24h após o iní-
cio de terapêutica adequada, período após o qual o doente
deixa de ser contagioso.
Bibliografia
Complicações
A amígdalo-faringite estreptocócica pode complicar-
-se com abcesso amigdalino ou faringe°, adenite cervical
ou, raramente, bacteriemia ou síndrome de choque tóxico.
Pode também causar complicações não supurativas, como
febre reumática ou glomerulonefrite aguda pós-estreptocó-
cica.
Terapêutica
Na criança com amigdalite ou faringite, a terapêutica
antibiótica deve ser iniciada quando o quadro clínico é
muito sugestivo de etiologia estreptocócica ou quando o
exame bacteriológico é positivo. O atraso no início da te-
rapêutica até 9 dias de doença não aumenta o risco de febre
reumática pelo que, nos outros casos, se deve adoptar uma
atitude expectante até se saber o resultado do estudo micro-
biológico.
A terapêutica de eleição continua a ser a penicilina,
não sendo conhecidas resistências. Em Portugal não existe
a formulação oral da penicilina pelo que se recorre à amo-
xicilina na dose de 50 mg/Kg/dia em 2-3 tomas durante 7-
10 dias. Podem ser utilizadas apenas duas tomas diárias de
amoxicilina porque a Concentração Inibitória Mínima
(CIM) deste fármaco para o Streptococcus f3-hemolítico do
grupo A é muito baixa. Se há dúvidas na aderência à terapêu-
tica ou não existe via oral optamos pela penicilina G ben-
zatínica na dose de 50.000 U/Kg IM até ao máximo de
1.Cherry JD: Pharyngitis (Pharyngitis, Tonsillitis, Tonsillopharyngitis,
and Nasopharyngitis). In Feigin RD: Textbook of Pediatric
Infectious Diseases, 4th ed. Saunders Company, 1998, 2; 148-56.
2. J-C Pechére (ed): Acute Bacterial Pharyngitis. Cambridge Medical
Publication, 1994, Wellingborough.
3. Wald ER, Green MD, Schwartz B, Barbadora K: A streptococcal
score card revisited. Pediatric Emergency Care 1998; 14(2): 109-11.
4. Upper respiratory tract infections-World Health Organization. In
http:/www.who.com

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

2011 02 doenças exantemáticas na infância
2011 02 doenças exantemáticas na infância2011 02 doenças exantemáticas na infância
2011 02 doenças exantemáticas na infânciaLeonardo Savassi
 
Coqueluche: situação vacinal
Coqueluche: situação vacinalCoqueluche: situação vacinal
Coqueluche: situação vacinalDouglas Tedesco
 
OTITES & AMIGDALITES
OTITES & AMIGDALITESOTITES & AMIGDALITES
OTITES & AMIGDALITESBrenda Lahlou
 
Otimização no tratamento das infecções respiratórias
Otimização no tratamento das infecções respiratóriasOtimização no tratamento das infecções respiratórias
Otimização no tratamento das infecções respiratóriasblogped1
 
Doenças+exantemática
Doenças+exantemáticaDoenças+exantemática
Doenças+exantemáticablogped1
 
Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...
Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...
Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...Vagner Machado
 
Amigdalites e otites na pediatria
Amigdalites e otites na pediatriaAmigdalites e otites na pediatria
Amigdalites e otites na pediatriaAmanda Thomé
 
1º curso de doenças exantemáticas
1º curso de doenças exantemáticas1º curso de doenças exantemáticas
1º curso de doenças exantemáticasLuciano Rodrigues
 
Folder das Doenças Exantemáticas
Folder das Doenças ExantemáticasFolder das Doenças Exantemáticas
Folder das Doenças ExantemáticasProfessor Robson
 
Doenças exantemáticas nessa
Doenças exantemáticas  nessaDoenças exantemáticas  nessa
Doenças exantemáticas nessaVanessa Boeira
 
Difteria e Tétano - Imunização
Difteria e Tétano - ImunizaçãoDifteria e Tétano - Imunização
Difteria e Tétano - ImunizaçãoJulio Cesar Matias
 
Doenças exantemáticas
 Doenças exantemáticas Doenças exantemáticas
Doenças exantemáticasKarina Pereira
 
Resumo doenças exantemáticas
Resumo doenças exantemáticasResumo doenças exantemáticas
Resumo doenças exantemáticasLívia Zadra
 

Mais procurados (20)

Coqueluche
CoquelucheCoqueluche
Coqueluche
 
2011 02 doenças exantemáticas na infância
2011 02 doenças exantemáticas na infância2011 02 doenças exantemáticas na infância
2011 02 doenças exantemáticas na infância
 
Coqueluche: situação vacinal
Coqueluche: situação vacinalCoqueluche: situação vacinal
Coqueluche: situação vacinal
 
OTITES & AMIGDALITES
OTITES & AMIGDALITESOTITES & AMIGDALITES
OTITES & AMIGDALITES
 
Doenças frequentes da infancia - pediatria
Doenças frequentes da infancia - pediatriaDoenças frequentes da infancia - pediatria
Doenças frequentes da infancia - pediatria
 
Otimização no tratamento das infecções respiratórias
Otimização no tratamento das infecções respiratóriasOtimização no tratamento das infecções respiratórias
Otimização no tratamento das infecções respiratórias
 
Doenças+exantemática
Doenças+exantemáticaDoenças+exantemática
Doenças+exantemática
 
Amigdalite ppt
Amigdalite pptAmigdalite ppt
Amigdalite ppt
 
Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...
Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...
Precaução (isolamento) em casos suspeitos ou confirmados de infecção por víru...
 
Doenças comuns em crianças.
Doenças comuns em crianças.Doenças comuns em crianças.
Doenças comuns em crianças.
 
Amigdalites e otites na pediatria
Amigdalites e otites na pediatriaAmigdalites e otites na pediatria
Amigdalites e otites na pediatria
 
Pneumonias - Aula de Microbiologia
Pneumonias - Aula de MicrobiologiaPneumonias - Aula de Microbiologia
Pneumonias - Aula de Microbiologia
 
1º curso de doenças exantemáticas
1º curso de doenças exantemáticas1º curso de doenças exantemáticas
1º curso de doenças exantemáticas
 
Folder das Doenças Exantemáticas
Folder das Doenças ExantemáticasFolder das Doenças Exantemáticas
Folder das Doenças Exantemáticas
 
Doenças exantemáticas nessa
Doenças exantemáticas  nessaDoenças exantemáticas  nessa
Doenças exantemáticas nessa
 
Coqueluche doença
Coqueluche doença Coqueluche doença
Coqueluche doença
 
Difteria e Tétano - Imunização
Difteria e Tétano - ImunizaçãoDifteria e Tétano - Imunização
Difteria e Tétano - Imunização
 
Trabalho pronto
Trabalho prontoTrabalho pronto
Trabalho pronto
 
Doenças exantemáticas
 Doenças exantemáticas Doenças exantemáticas
Doenças exantemáticas
 
Resumo doenças exantemáticas
Resumo doenças exantemáticasResumo doenças exantemáticas
Resumo doenças exantemáticas
 

Semelhante a Abordagem Prática da Amigdalite na Criança

fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptxRaqueli Viecili
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdffisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdfRaqueli Viecili
 
1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...
1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...
1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...Pelo Siro
 
Instituto Politécnico Médio de Moçambique.pptx
Instituto Politécnico Médio de Moçambique.pptxInstituto Politécnico Médio de Moçambique.pptx
Instituto Politécnico Médio de Moçambique.pptxLucasMarage1
 
Seminário tópicos integradores
Seminário tópicos integradoresSeminário tópicos integradores
Seminário tópicos integradoresLaíz Coutinho
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptxRaqueli Viecili
 
1. pneumonias (06 jan2015)
1. pneumonias (06 jan2015)1. pneumonias (06 jan2015)
1. pneumonias (06 jan2015)Mônica Firmida
 
pneumonia-7c2b0.ppt
pneumonia-7c2b0.pptpneumonia-7c2b0.ppt
pneumonia-7c2b0.pptcarlasuzane2
 
Pneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICID
Pneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICIDPneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICID
Pneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICIDLiga De Pediatria Med Unicid
 
Meningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULA
Meningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULAMeningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULA
Meningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULArafaelileus1
 
Pneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.pptPneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.pptLavniaSantana4
 
Lactente sibilante 2014 husp
Lactente sibilante 2014 huspLactente sibilante 2014 husp
Lactente sibilante 2014 huspAmilcare Vecchi
 
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+emDiretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+emArquivo-FClinico
 
Protocolo do herpes
Protocolo do herpesProtocolo do herpes
Protocolo do herpestvf
 
Distúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmática
Distúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmáticaDistúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmática
Distúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmáticaLaped Ufrn
 
Artigo ivas2
Artigo ivas2Artigo ivas2
Artigo ivas2Dâmaris
 

Semelhante a Abordagem Prática da Amigdalite na Criança (20)

Pneumonias.pdf
Pneumonias.pdfPneumonias.pdf
Pneumonias.pdf
 
Cachumba
Cachumba Cachumba
Cachumba
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress (1).pptx
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdffisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pdf
 
1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...
1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...
1188746976 saude reprodutiva-doencas_infecciosas_e_gravidez_orientacoes_tecni...
 
Instituto Politécnico Médio de Moçambique.pptx
Instituto Politécnico Médio de Moçambique.pptxInstituto Politécnico Médio de Moçambique.pptx
Instituto Politécnico Médio de Moçambique.pptx
 
Seminário tópicos integradores
Seminário tópicos integradoresSeminário tópicos integradores
Seminário tópicos integradores
 
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptxfisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
fisioterapia-em-neonatologia-e-pediatria_compress.pptx
 
1. pneumonias (06 jan2015)
1. pneumonias (06 jan2015)1. pneumonias (06 jan2015)
1. pneumonias (06 jan2015)
 
pneumonia-7c2b0.ppt
pneumonia-7c2b0.pptpneumonia-7c2b0.ppt
pneumonia-7c2b0.ppt
 
Pneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICID
Pneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICIDPneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICID
Pneumonias na Infância - Liga de Pediatria UNICID
 
Toxoplasmose na Gestação
Toxoplasmose na GestaçãoToxoplasmose na Gestação
Toxoplasmose na Gestação
 
Meningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULA
Meningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULAMeningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULA
Meningite na Infancia Pediatria Sanar Flix AULA
 
Pneumonia
PneumoniaPneumonia
Pneumonia
 
Pneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.pptPneumonia-afebril-do-lactente.ppt
Pneumonia-afebril-do-lactente.ppt
 
Lactente sibilante 2014 husp
Lactente sibilante 2014 huspLactente sibilante 2014 husp
Lactente sibilante 2014 husp
 
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+emDiretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
Diretrizes+brasileiras+em+pneumonia+adquirida+na+comunidade+em
 
Protocolo do herpes
Protocolo do herpesProtocolo do herpes
Protocolo do herpes
 
Distúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmática
Distúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmáticaDistúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmática
Distúrbios respiratórios agudos no P.S. infantil: laringite x crise asmática
 
Artigo ivas2
Artigo ivas2Artigo ivas2
Artigo ivas2
 

Mais de Thiago Bezerra

5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-201409155109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915Thiago Bezerra
 
Patologia benigna do corpo uterino
Patologia benigna do corpo uterinoPatologia benigna do corpo uterino
Patologia benigna do corpo uterinoThiago Bezerra
 
Centrada na pessoa idosa
Centrada na pessoa idosaCentrada na pessoa idosa
Centrada na pessoa idosaThiago Bezerra
 

Mais de Thiago Bezerra (6)

Apresentacao.pptx
Apresentacao.pptxApresentacao.pptx
Apresentacao.pptx
 
Slides quedas
Slides quedasSlides quedas
Slides quedas
 
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-201409155109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
5109 texto do trabalho-13124-1-10-20140915
 
Patologia benigna do corpo uterino
Patologia benigna do corpo uterinoPatologia benigna do corpo uterino
Patologia benigna do corpo uterino
 
Centrada na pessoa idosa
Centrada na pessoa idosaCentrada na pessoa idosa
Centrada na pessoa idosa
 
Diabetes 2014
Diabetes 2014Diabetes 2014
Diabetes 2014
 

Abordagem Prática da Amigdalite na Criança

  • 1. Acta Pediatr. Port., 2003; N° 4; Vol. 34: 307-308 RECOMENDAÇÕES DAS SECÇÕES Abordagem Prática da Amigdalite - Faringite na Criança PAULA CORREIA, JOSÉ GONÇALO MARQUES, CARLOS CANHOTA, TERESA LIBÓRIO, PAULA VALENTE Secção de Infecciologia Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Pediatria e Associação Portuguesa dos Médicos de Clínica Geral Etiologia e Epidemiologia A maioria dos casos de faringite e amigdalite na cri- ança são de causa viral. O predomínio da infecção viral é ainda maior abaixo dos 3 anos de idade, um grupo onde a infecção faríngea de causa bacteriana é pouco frequente. Adenovirus, enterovírus, Epstein-Barr, influenza e parain- fluenza são os vírus mais frequentemente envolvidos nesta infecção. A etiologia bacteriana mais comum é por Streptococcus pyogenes (j3-hemolítico do grupo A). Esta apresenta uma distribuição etária bimodal, com um primeiro pico de incidência entre os 5 e os 7 anos e um segundo pico entre os 12 e os 13 anos. A infecção estreptocócica dissemina-se através do contacto directo com as secreções da garganta ou nariz de pessoas infectadas, propagando-se rapidamente em comu- nidades fechadas tais como escolas, infantários ou lares. Excepcionalmente, pode haver infecção por contacto com portadores assintomáticos. As crianças têm um papel importante na transmissão da infecção, tanto no seio familiar como na comunidade. Clínica A amigdalo-faringite estreptocócica clássica ocorre em crianças em idade escolar e caracteriza-se pelo início súbito de febre, odinofagia, adenopatias cervicais anteriores dolorosas, cefaleias, náuseas e dor abdominal, na ausência de sintomas típicos de infecção viral das vias respiratórias altas tais como rinorreia, tosse ou conjuntivite. A oro- faringe tem aspecto francamente eritematoso, vermelho vivo, podendo associar-se ou não à presença de petéquias no palato ou de exsudado purulento. O ponteado esbran- quiçado não é patognomónico da infecção estreptocócica e encontra-se em muitos casos de amigdalite virai no lactente. A presença de escarlatina é o sinal mais fiável de etiologia estreptocócica. Na criança menor de 3 anos de idade, a infecção respiratória estreptocócica é menos fre- quente, manifestando-se preferencialmente como rino- faringite, raramente como amigdalite, e o risco de febre reumática é quase inexistente. A infecção por enterovirus pode apresentar-se como herpangina, com lesões aftosas ou vesiculares no palato. O quadro de faringo-conjuntivite com adenopatia pré-auricu- lar é típico da infecção por adenovirus. Diagnóstico O principal desafio diagnóstico é o da distinção entre faringite/amigdalite viral e estreptocócica. Baseada apenas na clínica, é frequentemente imprecisa quer por os porta- dores de infecção estreptocócica nem sempre apresentarem o quadro clássico quer, e sobretudo, por este quadro poder ser mimetizado por outros agentes. Contudo, em crianças com idade superior a 3 anos com faringite/amigdalite, a presença de febre e de odinofagia intensa, na ausência de rinite, tosse, conjuntivite ou diar- reia, são fortemente sugestivos de etiologia estreptocócica. Esta probabilidade aumenta no decurso de uma epidemia ou se outros membros da família têm faringite estreptocó- cica confirmada bacteriologicamente. Os exames bacteriológicos (cultura ou método de detecção rápida) devem ser utilizados quando há sinais dis- cordantes de etiologia estreptocócica, na criança com amigdalites de repetição ou nos contactos com antecedentes de febre reumática, glomerulonefrite aguda pós-estreptocó- cica ou síndrome do choque tóxico estreptocócico. O exame cultural do exsudado faringo-amigdalino é o método diagnóstico de referência. O resultado é obtido, em média, dois dias depois. Os métodos de detecção rápida de antigénio do Streptococcus 0-hemolítico do grupo A têm uma boa especificidade (cerca de 90%) e razoável sensibilidade. Ou seja, quando são positivos pode tratar-se como amigdalite
  • 2. etiologia estreptocócica provável Amigdalite/Faringite febre >38°C odinofagia intensa sem rinite/tosse idade 3A sinais discordantes de etiologia estreptocócica Não *1' etiologia ex. bacteriológico estreptocócica do exsudado improvável faringeo 1 antibioticoterapia de acordo com resultado amoxicilina oral ou penicilina G benzatinica terapêutica sintomática Sim 308 Abordagem Prática da Amigdalite - Faringite na Criança estreptocócica, dispensando o exame cultural, quando nega- tivos deve aguardar-se o resultado da cultura para a decisão de antibioticoterapa. * Em casos de alergia ver opções no texto 1.200.000 U. Como regra prática, podem usar-se 600.000 U abaixo dos 15 Kg e 1.200.000 U acima dos 15 Kg de peso. Se há história de alergia à penicilina mas não às cefalosporinas podem utilizar-se cefalosporinas de 1a geração como cefradina (25 mg/kg/dia em 3 tomas) ou cefadroxil (30 mg/kg/dia em 2 tomas), durante 7 a 10 dias. Se houver história de reacção anafilática grave deve optar-se pelos macrólidos. Na criança, a elevada percentagem de estirpes resistentes aos macrólidos em Portugal (>20%) contraria a utilização sistemática destes fármacos, que devem ser reservados para situações de alergia aos [3-lactâmicos. É recomendada a seguinte posologia: eritromicina 40-50 mg/kg/dia em 3 tomas; miocamicina 40-50 mg/kg/dia em 2-3 tomas; claritromicina 15 mg/kg/dia em 2 tomas (todos durante 10 dias); azitromicina 20mg/kg/dia em 1 toma (o dobro da dose habitual, durante 3 dias). A presença de abcesso faringe° ou amigdalino obriga a referenciar a otor- rinolaringologista. Evicção escolar A evicção escolar deve ser mantida até 24h após o iní- cio de terapêutica adequada, período após o qual o doente deixa de ser contagioso. Bibliografia Complicações A amígdalo-faringite estreptocócica pode complicar- -se com abcesso amigdalino ou faringe°, adenite cervical ou, raramente, bacteriemia ou síndrome de choque tóxico. Pode também causar complicações não supurativas, como febre reumática ou glomerulonefrite aguda pós-estreptocó- cica. Terapêutica Na criança com amigdalite ou faringite, a terapêutica antibiótica deve ser iniciada quando o quadro clínico é muito sugestivo de etiologia estreptocócica ou quando o exame bacteriológico é positivo. O atraso no início da te- rapêutica até 9 dias de doença não aumenta o risco de febre reumática pelo que, nos outros casos, se deve adoptar uma atitude expectante até se saber o resultado do estudo micro- biológico. A terapêutica de eleição continua a ser a penicilina, não sendo conhecidas resistências. Em Portugal não existe a formulação oral da penicilina pelo que se recorre à amo- xicilina na dose de 50 mg/Kg/dia em 2-3 tomas durante 7- 10 dias. Podem ser utilizadas apenas duas tomas diárias de amoxicilina porque a Concentração Inibitória Mínima (CIM) deste fármaco para o Streptococcus f3-hemolítico do grupo A é muito baixa. Se há dúvidas na aderência à terapêu- tica ou não existe via oral optamos pela penicilina G ben- zatínica na dose de 50.000 U/Kg IM até ao máximo de 1.Cherry JD: Pharyngitis (Pharyngitis, Tonsillitis, Tonsillopharyngitis, and Nasopharyngitis). In Feigin RD: Textbook of Pediatric Infectious Diseases, 4th ed. Saunders Company, 1998, 2; 148-56. 2. J-C Pechére (ed): Acute Bacterial Pharyngitis. Cambridge Medical Publication, 1994, Wellingborough. 3. Wald ER, Green MD, Schwartz B, Barbadora K: A streptococcal score card revisited. Pediatric Emergency Care 1998; 14(2): 109-11. 4. Upper respiratory tract infections-World Health Organization. In http:/www.who.com