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RUSSELL P. SHEDD
RUSSELL P. SHEDD 
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA
Copyright © 1984 — Russell P. Shedd 
Primeira Edição: 1984 
Impresso nas oficinas da 
Associação Religiosa 
Imprensa da Fé 
C . P. 18918 
São Paulo - Brasil 
C.G.C. 62.202.S28/0001-09 
Todos os direitos reservados pela 
SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA 
Caixa Postal 21486 — São Paulo SP 
04698 BRASIL
PREFÁCIO 
Duas notas são dominantes na espístola aos Filipenses: a 
alegria em todas as circunstâncias - quer agradáveis, que desa­gradáveis 
- e a união da igreja, baseada num comportamento 
semelhante ao do Senhor Jesus - que assumiu a forma de servo . . . 
Essas duas notas são extremamente necessárias em nossas igrejas 
na atualidade. Com a crise que enfrentamos, em todas as áreas 
da vida do país, é muito fácil perdermos a alegria e ganharmos 
ansiedade, temor, frustração. Por outro lado, a fragmentação 
das igrejas evangélicas, por diversas razões - morais, doutrinárias, 
políticas - é um fato crescente e preocupante. 
Nestas pregações, agora em forma escrita, o Dr. Shedd 
apresenta com clareza e simplicidade a mensagem de Paulo aos 
filipenses, de forma que nós, brasileiros, também possamos enten­dê- 
la e aplicá-la às nossas vidas e igrejas. Muitos são os desafios 
que esta espístola coloca diante do povo de Deus, interessado em 
cumprir a Sua vontade, e esses desafios são tornados claros nesta 
exposição da carta. Alegria, humildade, comunhão, firmeza 
doutrinária, esforço missionário - são temas apresentados pelo 
autor de maneira atraente e desafiadora, procurando recuperar 
o mesmo espírito que movia Paulo e as igrejas do primeiro século. 
Que o leitor destas mensagens possa, pelo poder do Espírito 
Santo, colocar em ação os aspectos do Cristianismo nelas expostos. 
Júlio Paulo T. Zabatiero
CONTEÚDO 
PREFÁCIO................................................................................................. 5 
AS BASES DA NOSSA SEGURANÇA .................................................. 9 
UMA ORAÇÃO MODELO....................................................................... 21 
A FILOSOFIA DE VIDA DO CRISTÃO ................................................ 31 
OS CIDADÃOS DO CÉU EM COMUNIDADE........................... 42 
O CENTRO DA HISTÓRIA.................................................................... 53 
DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO.................................................... 63 
HOMENS DE D EU S................................................................................. 73 
PERDENDO PARA GANHAR............................................................... 80 
A AMBIÇÃO DE PAULO . ............................................................... 89 
O CORPO........................................................................................... .. 96 
O CONTENTAMENTO........................................................................ 104 
O DEUS DA PAZ SERÃ CONVOSCO................. .. ................ 112 
A NECESSIDADE E O SUPRIMENTO.................................................. 121 
n o ta s ................................................................................................ 128
AS BASES DA NOSSA SEGURANÇA 
Filipenses 1:1-8 
Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos 
em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos, que vivem em 
Filipos: 2 — Graça e paz a vós outros da parte de Deus nosso 
Pai e do Senhor Jesus Cristo. 3 — Dou graças ao meu Deus por 
tudo que recordo de vós, 4 - fazendo sempre, com alegria, sú­plicas 
por todos vós, em todas as minhas orações, 5 - pela 
vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora. 
6 - Estou plenamente certo de que aquele que começou boa 
obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. 
7 - Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos 
trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e con­firmação 
do evangelho, pois todos sois participantes da graça 
comigo. 8 — Pois minha testemunha é Deus, da saudade que 
tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus. 
Creio que o leitor logo vai perceber que os quatro capítulos que for­mam 
o livro de Filipenses me são muito caros, contando-se entre aquelas por­ções 
bíblicas pelas quais tenho maior predileção. Nunca estive na prisão, nunca 
fui acorrentado, e por isso não sei como reagiria se tivesse que enfrentar essa si­tuação. 
Mas Paulo conseguiu escrever cinco de suas cartas quando estava preso, 
uma delas sendo à igreja de Filipos, na Macedônia, norte da Grécia. 
Vamos começar o nosso estudo examinando só os oito primeiros versí­culos 
desta porção tão conhecida da Palavra de Deus. 
Oração: Pai, pedimos-Te agora, pelo Espírito Santo, que sintonizes 
nossos corações à música verdadeiramente celestial; e que retires as barreiras 
que nos impedem de ouvir Tua voz, e nos atrapalham a obedecer. Em nome de 
Jesus. Amém. 
Introdução 
Os estudiosos, eruditos, peritos da matéria, são uma classe desafiante 
porque entendem de tudo que se pode saber sobre sua área de estudo. 
Apesar da perícia, entretanto, existem assuntos nos quais reinam dúvidas em 
lugar de dogmatismo. Há ocasiões em que os entendidos caminham na corda 
bamba entre duas posições, simplesmente porque não há provas suficientes 
para se decidirem pela certa. Por este motivo, ainda ficam indecisos quanto 
ao lugar onde Paulo estava quando escreveu sua carta aos Filipenses. O pon­to 
de vista tradicional é que se encontrava em Roma, assim como quando 
compôs as cartas aos Colossenses, aos Efésios e a Filemon. Mais recentemen­te, 
porém, eruditos britânicos e alemães, como George Duncan e Michaelis, 
descobriram certos sinais indicando que possivelmente Paulo não estava na 
capital do Império.
Um dos motivos que tradicionalmente têm levado os intérpretes a 
pensarem que Paulo se achava em Roma é sua menção à guarda pretoriana 
em Fp 1:13. Ali ele fala “de toda a guarda pretoriana e de todos os demais”. 
No fim do capítulo 4, refere-se aos “da casa de César”. Mas descobertas ar­queológicas 
recentes indicam que isso não é uma prova decisiva, já que havia 
guardas pretorianas além de Roma. Esta guarda era uma tropa de elite de 
cerca de 9.000 guardas imperiais: os soldados mais dignos de confiança de 
todos os que o imperador possuía. Eram cuidadosamente treinados e selecio­nados 
para defender o imperador contra qualquer golpe do estado. Além 
de serem uma força de segurança, também cuidavam dos prisioneiros que 
eram cidadãos romanos, e que tinham apelado para César com a finalidade 
de conseguirem justiça, tal como Paulo havia feito. Visto que a maioria da 
guarda pretoriana servia em Roma, era natural pensar que Paulo estivesse na 
capital quando escreveu Filipenses. 
Mas há algumas objeções à teoria dessa carta ter sido escrita em Roma. 
A dificuldade mais séria é que, num período relativamente curto, quatro ou 
cinco viagens devem ter sido realizadas entre o escritor e os leitores. Alguém 
informou aos filipenses que Paulo estava na prisão. A oferta que Epafrodito 
trouxe (leremos a respeito no capítulo 2) exigiu outra viagem. A notícia de 
que Epafrodito tinha ficado doente, e o conhecimento que Paulo tivera de 
que os filipenses lamentavam profundamente a doença de Epafrodito, exigi­ram 
ainda que outras duas viagens (ver 2:19-30). São muitas idas e voltas en­tre 
as cidades de Roma e Filipos, consumindo talvez 7 ou 8 semanas cada 
uma. 
Se Paulo não estava em Roma, então a melhor alternativa para o lugar 
de composição seria a cidade de Éfeso, onde o apóstolo exerceu ministério 
entre os anos 54 e 56 A.D.. Essa tese ganha força quando examinamos ou­tras 
cartas de Paulo compostas na mesma época, ou seja, 1 e 2 Coríntios e 
Romanos: o modo de falar do autor em Filipenses é mais próximo ao lingua­jar 
dessas três cartas, do que ao de Efésios, Colossenses e Filemon. Observe­mos 
também que algumas das referências, por exemplo, aquelas feitas aos 
“maus obreiros” , “falsa circuncisão” e cães (3:2), fazem lembrar as cartas 
aos Coríntios. Outro problema determinante da situação em Filipos é o da 
falta de união (e recorde-se que esta foi a principal razão de Paulo ter escrito 
1 Coríntios). É bem provável que Filipos e Corinto fossem objetos de preo­cupação 
de Paulo durante os dois anos e meio em que ele trabalhou em 
Éfeso (para conhecer a situação, leia At 20:18-35). 
O problema que se levanta contra essa tese de que a carta aos Filipen­ses 
foi escrita em Éfeso é que não temos conhecimento, pela leitura de Atos, 
de que Paulo tenha sido preso ali em alguma ocasião. Em 2 Co 11:23 há uma 
breve referência ao fato de ele ter estado em prisão mais de uma vez, e isso 
oferece uma base para a possibilidade de sua liberdade ter sido tolhida em 
Éfeso. 
Há outros motivos, entretanto, que me levam a pensar que Filipenses
fica melhor no quadro da vida e do ministério de Paulo em Éfeso, do que em 
Roma seis ou sete anos mais tarde. Em 1 Co 15, o capítulo da ressurreição, 
uma parte do argumento de Paulo em favor da ressurreição é que ela explica 
porque o apóstolo devia passar por todo o sofrimento que vinha provando. 
Vejamos 1 Co 15:30-31: ”E porque nós também nos expomos a perigos a 
toda hora? Dia após dia morro!”. Isto indica que ele estava sendo ameaçado 
continuamente. No v. 32, Paulo diz: “lutei em Éfeso com feras”. Sabemos 
que Paulo não poderia ter lutado literalmente com animais selvagens. Não se 
permitia que um cidadão romano fosse lançado na arena. Paulo se referia a 
inimigos tão ferozes que se assemelhavam a leões soltos na arena, e que a 
qualquer momento poderiam matá-lo. 
O primeiro capítulo de Filipenses apresenta Paulo enfrentando esse ti­po 
de situação. Além do mais, Paulo escreveu 2 Coríntios menos de seis 
meses depois de haver escapado de Éfeso, de onde escrevera 1 Coríntios. Na 
Macedônia, a poucos dias de viagem de Éfeso, ele se encontrou com Tito, 
que lhe trazia boas notícias de Corinto. Escrevendo aos Coríntios, na segun­da 
carta, Paulo diz: “Irmãos, queremos que saibam das dificuldades que tive­mos 
na Ásia (Éfeso). O sofrimento que suportamos foi tão grande e tão duro 
que já não tínhamos esperança de escapar de lá com vida. Nós nos sentíamos 
como condenados à morte. Mas isto aconteceu para nos ensinar a confiar 
não em nós mesmos, e sim em Deus, que ressuscita os mortos. Ele nos sal­vou 
e nos salvará desses terríveis perigos de morte” (2 Co 1:8-10 — Novo 
Testamento na Linguagem de Hoje). 
Filipenses também revela que Paulo achava que tanto poderia ser mor­to 
como libertado da prisão. (Fp. 2:23). Contudo, ele está muito confiante 
de que, por causa das orações dos cristãos filipenses, será solto. É possível 
que Paulo esteja se referindo à mesma ameaça em 2 Co 1 e Fp 1. Se for 
assim, então devemos concluir que está escrevendo de Éfeso aos filipenses. 
Filipos era uma colônia romana e então os membros da igreja eram ci­dadãos 
romanos. Por não haver muitas colônias romanas, os naturais de Fili­pos 
eram cidadãos altamente privilegiados de Roma. A cidade foi conquista­da 
primeiramente por Filipe da Macedônia, pai de Alexandre,o Grande, em 
360 A.C., recebendo o seu nome. Foi ali em Filipos que Otávio, o mesmo 
que seria mais tarde o grande imperador Augusto (que estabeleceu a Pax 
Romana), venceu a batalha de Actium. Numa planície perto da cidade, 
Augusto derrotou seus rivais, Antônio e Cleópatra, no ano de 42 A.C.. Por 
causa daquela vitória muito importante para a conquista da coroa, Augusto 
deu aos seus valorosos soldados tanto terras como posição, elevando a cida­de 
à condição de colônia romana. Isso explica por que havia tão poucos ju­deus 
em Filipos. Se houvesse judeus no exército de Augusto, seriam tão pou­cos 
que não haveria número suficiente para fundar uma sinagoga. 
Quando Paulo iniciou uma igreja em Filipos, fez seus primeiros con­tatos 
num “lugar de oração”, perto de um ribeirão. Há uns anos atrás, tive o 
privilégio de visitar Filipos (que agora é uma ruína) e fiquei emocionado ao
conhecer o lugar onde Paulo e Lídia se encontraram, junto com outros ju­deus, 
para adorar ao Senhor. Os filipenses eram cidadãos de Roma, e por 
isso Paulo empregou duas vezes no original o termo “cidadão” (1:27; 3 :20), 
palavra que não aparece em nenhum lugar em suas epístolas. Na primeira 
passagem escreveu: “que sua maneira de vida (literalmente, sua cidadania) 
seja digna do evangelho de Cristo” (1:27), assim como a conduta dos ci­dadãos 
de Filipos devia ser digna de verdadeiros romanos. Em todos os sen­tidos, 
os cidadãos daquela colônia eram iguais aos cidadãos da própria 
Roma. Gozavam dos mesmos privilégios, bem como da autoridade e pro­teção 
que a cidade de Roma estendia aos cidadãos da urbe. Naturalmente, 
sentiam bastante orgulho desse status. Analogicamente, Paulo apelava aos 
leitores como “cidadãos do céu ”, no capítulo 3: “Nossa cidadania está nos 
céus”, de onde aguardamos, não o imperador que vem visitar nossa cidade, 
mas “o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”, que nos transformará em Sua 
semelhança. 
Consideremos, por um momento, o quadro de origem desses cidadãos 
dos céus. A igreja se compunha de uma variedade incomum de pessoas. Or­ganizadores 
de igrejas não recomendam que se inicie um trabalho com 
pessoas como as que formavam a congregação embriônica de Filipos. Primei­ramente, 
aquela igreja começou com uma mulher. As igrejas que eu já ajudei 
a iniciar dependeram de homens, mas a igreja em Filipos foi fundada em 
aproximadamente 50 A.D., com Lídia, uma mulher de negócios. Mais tarde, 
haveria duas mulheres brigando naquela mesma igreja (4:2, 3). É claro que 
há quem diga que a raiz de tal desentendimento está no modo como se ini­ciou 
a igreja. Lídia de Tiatira, na Ásia, era comerciante, (At 16:14). Vendia 
um corante vermelho, caro, que era produzido em Tiatira, onde uma das se­te 
igrejas da Ásia foi organizada (Ap 2:18-29). Depois que ela se converteu 
naquela reunião de oração junto ao riacho que passava na periferia da cida­de, 
convidou a Paulo e seus companheiros, Silas e Timóteo, para virem à sua 
casa a fim de terem onde se hospedar, e para continuar seu ministério. 
O outro membro fundador foi uma jovem escrava, que tinha sido 
possuída por demônios. Paulo expeliu dela os demônios, suscitando a ira dos 
donos, que dela se utilizavam para tirar lucros financeiros através de feiti­çaria 
e profecias sobre o futuro (leia At 16:16-23). Suponho que ela se tenha 
tomado cristã, membro ativo da igreja. 
Paulo e Silas foram açoitados e jogados na cadeia por terem feito este 
ato de misericórdia. Naquela mesma noite, por causa de um terremoto divi­namente 
marcado para aquela hora, o carcereiro se assustou o suficiente pa­ra 
pedir aos missionários que lhe mostrassem a maneira de ser salvo, em vez 
de suicidar-se (At 16:27-34). Assim ele se converteu, juntamente com sua fa­mília. 
Portanto, um carcereiro, uma escrava, e uma comerciante foram es­colhidos 
por Deus para formarem o núcleo da igreja em Filipos. 
Não temos notícia de quem mais entrou para o rol. Sabemos que hou­ve 
um certo Clemente, e um homem cujo nome pode ter sido Sízigue
(“companheiro de jugo” 4:2, 3), bem como as senhoras que não falavam, 
mas que tinham ajudado a Paulo. Seus nomes eram Evódia e Síntique. Esse 
grupo nada promissor de crentes formou a pequena igreja. Mas não podemos 
esquecer que esta foi uma das igrejas prediletas de Paulo. O apóstolo não 
tinha a preocupação de ver se eram as pessoas importantes da cidade que se 
convertiam, como foi em Tessalônica (At 17:14), ou se Deus chamava a Si 
aqueles que menos se esperava ver na igreja. “Deus escolheu as coisas humil­des 
do mundo, e as desprezadas e aquelas que não são, para reduzir a nada as 
que são ” (1 Co 1:28). Deus se alegra em formar sua igreja de todas as cama­das 
da sociedade, unindo os membros ao corpo. 
Ora, por que será que esta igreja era uma das preferidas de Paulo? Um 
ponto positivo foi o modo em que Deus a iniciou. Acho que qualquer pessoa 
que passasse por um lugar onde começasse apanhando e depois visse a mão 
poderosa de Deus quebrando o prédio com um terremoto, e as portas se 
abrindo de vez, seria levado a concluir que Deus tem uma preocupação mui­to 
especial por aquela cidade e seus habitantes. A seqüência dos eventos, e a 
maneira em que o mal cooperou para o bem, devem ter dado a Paulo a cer­teza 
de que esta igreja iria ser uma expressão significante da graça de Deus. 
Outra razão pela qual Paulo tinha uma consideração toda especial por 
esta igreja foi o amor dos crentes de Filipos para com ele. Até então, era a 
única igreja que se preocupou com o apóstolo a ponto de mandar auxilio 
financeiro. Paulo dependia dos donativos, além daquilo que podia ganhar 
com o trabalho. Ao ler o cap. 4, vemos que havia ocasiões em que Paulo es­tava 
pobre de recursos materiais, quando não tinha mais que uma moeda no 
bolso (se é que tinha...). O apóstolo ficava comovido ao ver que esta igreja 
lhe queria bem o suficiente para associar-se materialmente na sua tribulação. 
Sentia-se muito agradecido. Teriam mandado mais, se houvesse outras opor­tunidades. 
Isto sugere que a igreja realmente amava a Paulo. Naqueles dias, 
não era fácil enviar dinheiro, visto que era preciso mandar alguém junto e 
havia sempre a possibilidade de essa pessoa sofrer a mesma sorte do homem 
que caiu nas mãos de salteadores, como na parábola do Bom Samaritano. 
Epafrodito era um homem especial. Ele não se importou em arrriscar a sua 
vida para sair de casa a fim de ser portador dos filipenses, e assim suprir a 
necessidade de Paulo (Fp 2:25). Esta carta aos filipenses foi escrita, em par­te, 
a fim de expressar a gratidão profunda que Paulo sentia para com a igreja 
que tanto se preocupava com seu ministério. 
A Saudação (1:1) 
Agora, vejamos de perto o que Paulo tinha a dizer para esta igreja. É 
bem diferente do que imaginamos. Em vez de dizer: “São Paulo e São Ti­móteo, 
aos servos do Senhor em Filipos, com os bispos e diáconos”, ele es­creve 
o oposto. Nosso texto diz: “escravo Paulo e escravo Timóteo, escravos
de Jesus Cristo, aos santos de Cristo Jesus que moram em Filipos”. Parece 
estar invertido, não é mesmo? 
Dr. Harry Ironside, o famoso pastor da igreja de Moody em Chicago, 
contou de uma viagem de trem de três dias que havia feito em certa ocasião, 
do litoral do Pacífico até Chicago. Havia duas freiras católicas no seu vagão, 
e ele, então, quis divertir-se um pouco às suas custas. Depois de ter travado 
conhecimento com elas, perguntou-lhes: “Já viram um santo?”. Elas respon­deram 
que nunca tinham visto, pensavam que seria maravilhoso ver um san­to 
de verdade. “Eu gostaria que vocês conhecessem um santo”, ele disse. 
Ficaram entusiasmadas! Onde, como poderiam conhecer esse santo? Estaria 
viajando num caixão de ouro, ou seria visto descendo do céu? (Segundo o 
pensamento popular católico-romano, os santos têm que morrer primeiro.) 
Dr. Ironside disse: “Eu sou Santo Harry” . Conheceram Santo Harry, mas 
isso pouco as impressionou. 
Não sei se foi exatamente bíblico, chamar-se de santo. É verdade que a 
igreja de Filipos era composta de santos, mas não sei se havia ali alguém que 
fosse mesmo um santo. Existe uma diferença. No Novo Testamento, Paulo 
nunca é chamado de São Paulo. E a Bíblia sempre usa “santos” no plural 
quando se refere a pessoas. A razão disso, acredito, é que o plural “santos”, 
“pessoas santas”, comunica o conceito do Corpo de Cristo, que é a Igreja 
santa (universal ou local) de Jesus Cristo: todos que estão na igreja, ou 
“em Cristo”, compartilham de Sua santidade e tomam-se, portanto, pessoas 
santas. É isso que significa a palavra “santo”. 
Por outro lado, nenhuma pessoa desse mundo é individualmente um 
santo, no sentido de ser santo e perfeito, tal como Deus o é. Nós temos o 
mandamento para sermos santos (1 Pe 1:16), mas nenhum ser humano é 
realmente santo. Nós somos todos pecadores regenerados. E a ordem que re­cebemos 
é de mantermos a santidade como meta do nosso viver e mover-nos 
nesta direção (Hb 12:14). Jesus mandou “sede vós perfeitos como perfeito 
é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48). Por este motivo, creio que Paulo não se 
sentisse bem com o título “São Paulo”. Não há dúvida de que ele fazia parte 
da igreja de Jesus Cristo, que é a igreja “dos santos do Altíssimo” (Dn 7:18 e 
seg.). O termo do Velho Testamento. Em Ex. 19:6, o povo de Israel, ao qual 
Deus tinha escolhido, também foi chamado de nação santa, apesar dos seus 
muitos fracassos em praticar a santidade. O título se refere antes ao relacio­namento 
da aliança pela qual Deus ligou Israel a si. 
Aqui em Filipenses, os santos são assim chamados por causa de seu re­lacionamento 
com Deus, e porque estão “em” Jesus Cristo. Em contraste 
com isto, Paulo e Timóteo são apenas escravos, um termo bastante apro­priado 
para descrever um cristão. Um cristão é um escravo. Ora, o que faz 
um cristão ser um escravo? 
Antigamente, havia quatro maneiras pelas quais uma pessoa podia tor­nar- 
se escrava: (1) Podia-se ser escravo por nascer na família de escravos. Se 
os pais eram escravos, a pessoa automaticamente era escrava, e nada se podia
fazer para evitar que isso acontecesse. (2) Podia-se ser escravo por conquis­tas. 
Quando o exército romano conquistava novas terras, o povo derrotado 
automaticamente se tornava escravo. Aqueles que não eram mortos ficavam 
sendo propriedades do estado romano e dos seus cidadãos. Foi assim que o 
Império Romano obteve mais de 50% de sua população composta de escra­vos 
durante o primeiro século quando Paulo estava escrevendo. (3) Podia-se 
ser escravo por compra em leilões de escravos como os que se tornaram 
conhecidos nos seriados da TV. Um escravo que era comprado e depois liberto 
era um escravo “redimido”. (4) Podia-se ser escravo por livre escolha. Se 
um senhor concordasse, um homem que tinha esperança de receber alimen­to, 
proteção e bons tratos, entregàva-se voluntariamente a ele para ser seu 
escravo. 
Como Paulo e Timóteo tornaram-se escravos de Jesus Cristo? Por com­pra. 
1 Co 6:20 esclarece que todos os cristãos foram comprados por preço. 
Se você realmente conhece a Deus, então você é escravo dele — não porque 
você quis sê-lo, nem porque nasceu na escravidão, ou foi tomado na batalha, 
mas sim porque você foi redimido por Seu sangue precioso (Ef. 1:7). Sim, 
você foi comprado do seu antigo dono, que era “o pecado”. Outrora, diz 
Rm 6:17, você foi escravo do pecado. Mas agora que foi comprado por 
Jesus Cristo mediante um preço elevadíssimo, glorifique a Deus em seu cor­po. 
Seja um escravo genuíno de Cristo Jesus, porque ele o comprou, com­prou- 
nos todos. Não comprou apenas a sua mente, ou sua alma, só para le­vá- 
lo ao céu numa data futura incerta. Comprou-o e fez de você Seu escravo 
aqui na terra, para que cada um de nós possa servi-Lo na plena extensão da 
vida terrena e do potencial que tem. 
Como os filipenses se tomaram santos? Se um escravo cristão entra 
nesta condição por ser comprado pelo preço da morte de Cristo na cruz, os 
santos se tornam santos sendo colocados “em Cristo Jesus”. O conceito 
é um pouco difícil de se compreender. Não entendemos como uma pessoa 
pode estar “em” uma Pessoa como Cristo Jesus. Será que você fica “em 
Cristo” assim como nós estamos imersos ou dentro da atmosfera da Terra? 
Visto que todos respiramos o ar, nós estamos dentro da atmosfera e o ar es­tá 
em nós. Um estudante da Bíblia procurou comunicar a idéia espiritual de 
estar em Cristo, e Ele em nós, dessa maneira. Estar em Cristo, para ele, era 
algo impessoal? Não creio que tenha sido esta a idéia de Paulo, de modo 
nenhum. Qual seria então o significado dessa expressão que aparece mais de 
100 vezes nas Epístolas Paulinas? 
Talvez devamos captar esta realidade de estar “em Cristo”, dentro dos 
moldes do pensamento hebreu. Estar em uma pessoa, segundo a mente he­braica, 
é estar tão intimamente ligado a ela que tudo que se refere a ela, e 
tudo que se refere a você, submete-se ao pleno controle dela. Visto que to­dos 
estão em Adão (1 Co 15:22), a natureza adâmica caracteriza o homem 
que é totalmente dominado por ela. Essa existência “em Adão” explica a 
corrupção do homem tanto no sentido moral, como no sentido físico
(1 Co 15:22, 45). É inútil você tentar sair disso, a não ser que se converta e 
conheça a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Mas quando você se 
transfere de Adão, deixando a personalidade, a natureza e o controle dele 
para trás, e se coloca em Jesus Cristo, então é Ele que vai afetar sua nova 
vida. O sinal e símbolo dessa transferência é o batismo. Quando você confia 
em Jesus Cristo como seu Salvador, e o recebe como seu Senhor, você então 
já está comprado, torna-se membro de Sua família, do Seu Corpo, e se entre­ga 
livremente ao Seu controle. Portanto, se você está completamente rendi­do 
a Jesus Cristo, então está “em Cristo”.. 
Observemos que estes cristãos estão “em” Cristo Jesus e vivem “em” 
Filipos. O primeiro “em” indica um posicionamento; o segundo, um lugar 
geográfico. São diferentes. É estar “em” Jesus Cristo que os torna santos. 
Você não é santo, como já vimos, quando é melhor do que os outros. Você 
deve mesmo ser melhor do que os outros, e ter personalidade santa, admirá­vel, 
se o Senhor perfeito está exercendo um controle efetivo sobre sua vida. 
Mas você não passa a ser santo por se tornar uma pessoa melhor. Só será san­to 
entrando para o Corpo do Santo Filho de Deus, pela fé pessoal, mediante 
a qual Ele o regenera. Toma-se santo porque é santificado, consagrado, sepa­rado 
pelo Espírito Santo em união com Cristo (1 Co 12:12, 13). Sendo 
assim, os santos de Filipos, e os escravos de Deus em Roma ou Éfeso, estão 
se comunicando através de sua participação no mesmo Senhor ressurreto. 
Os bispos e diáconos são mencionados especificamente por Paulo, 
como receptores desta carta. “Bispos” significa simplesmente supervisores. 
No primeiro século eles eram supervisores da igreja assim como hoje há su­pervisores 
numa fábrica, para verificar se tudo está em bom andamento. Só 
que esses “bispos” (episkopoi) eram supervisores de pessoas. A palavra “diá­conos”, 
por sua vez, significa servos, trabalhadores. Os bispos eram líderes 
que desempenhavam o ministério pastoral do ensino, organização e discipli­na 
eclesiástica. Os diáconos serviam à igreja como assistentes dos pastores-bispos, 
e como evangelistas (cf. At 20:17, 28). 
A igreja no período neo-testamentário não era uma igreja a não ser 
que já tivesse os líderes nomeados. Igreja é mais do que um estudo bíblico, 
onde todos discutem uma determinada passagem das Escrituras. Esse grupo 
de estudo não é igreja, assim como amigos que se reúnem num dia marcado 
para divertir-se e conversar não constituem uma família. Um grupo de estu­do 
informal não possui a liderança divinamente instituída nem a responsabi­lidade, 
como também lhe faltam as ordenanças do batismo e da Ceia do 
Senhor. Contudo, os títulos que os líderes da igreja devem ter, bem como o 
número deles em cada comunidade, não ficam claramente estipulados no 
Novo Testamento. Na verdade, os termos “bispo”, “pastor” e “presbítero” 
são usados alternadamente nos textos. Dão ênfase aos diversos aspectos do 
ministério, qualquer que seja o título recebido por esses líderes eclesiásticos.
A Segurança de Paulo (1:2-8) 
Vejamos o que esta passagem diz sobre a segurança. Que certeza 
você tem hoje de que irá para o céu quando Jesus Cristo voltar, ou quando 
você morrer (se isso acontecer antes da segunda vinda)? 
Paulo nos apresenta as bases de uma perfeita confiança a respeito de 
nosso destino eterno. Existem cinco razões a garantir que, se você se conver­teu 
e conhece a Jesus Cristo, você irá para o céu: 
1. Graça. Em primeiro lugar, está & graça. O v.2 diz “Graça e paz a vo­cês 
da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Se você não rece­beu 
a graça de Deus, e se você não tem a paz dele em seu coração, é simples­mente 
impossível ter a segurança de que Paulo fala. Graça e paz vêm pri­meiro, 
não só como saudação, mas como alicerce. 
2. Obra de Deus. Vejamos o v.6: “Estou plenamente certo de que 
aquele que começou boa obra em você há de completá-la até ao dia de Cris­to 
Jesus”. Esta é a segunda garantia de que você é salvo: a obra de Deus. Se o 
Senhor começou boa obra em você, então agora Ele está trabalhando e com­pletando- 
a eficientemente (ver 2:13). 
C.S. Lewis, no seu livro Surprised by Joy (Surpreendido pela Alegria), 
descreve vivamente sua conversão. Em certa noite de 1929, ele era o conver­tido 
mais relutante, mais infeliz e abatido de toda Inglaterra. Sua situação 
era pior que a do filho pródigo, pois este caminhou espontaneamente de vol­ta 
para o lar, ao contrário de Lewis que entrou na casa depois de muita resis­tência, 
dando socos e pontapés no pai. E então mais tarde, Lewis escreve pa­ra 
um amigo da América que ainda não era cristão: “Suponho que o Espírito 
Santo o tenha apanhado e que você já esteja preso na sua rede. Não adianta 
relutar mais. Deus começou um trabalho em você”. Sim, e em você, leitor, 
Deus já começou uma obra? Você reconhece o poder com o qual Ele o está 
chamando, não só para a comunhão, não só tornando agradável a participa­ção 
nos cultos da igreja, mas principalmente atraindo-o para Si? Ele deseja 
realizar aquela obra da graça no seu coração. Se Deus já começou a operar 
em você, cuidado, pois é muito difícil escapar de Seus braços insistentes e 
amorosos (cf. Hb 12:4-11). 
3. Amor Fraternal. Há uma terceira base para a grande esperança que 
Paulo tem referente à igreja: o fato de ele se encontrar num relacionamento 
especial com a igreja filipense. O apóstolo expressou em oração a gratidão 
que sentia por esse amor mútuo: “Dou graças ao meu Deus por tudo que re­cordo 
de vocês” (v. 3). 
Paulo possuía uma mente aberta ao Espírito Santo. Em vez de estar à 
televisão e aos jornais de cada dia, ou à revista Veja, ou ainda a todo o tra­balho 
que ele estava fazendo, sua mente estava continuamente recebendo 
alertas do Espírito Santo. Ele era capaz de reconhecer imediatamente qual­quer 
coisa que viesse à sua mente por iniciativa do Espírito. E uma das 
coisas que Deus trazia à sua mente na prisão era a igreja de Filipos. Então
Paulo concluía que aqueles crentes deviam ser filhos de Deus, porque senão 
nunca teria se lembrado deles com tanto ímpeto ou freqüência. Continua­mente, 
Paulo confessa “eu penso em vocês e oro por vocês” (v.4). Seus pe­didos 
eram oferecidos a Deus com alegria, porque a igreja naquela cidade 
lhe fazia feliz, era sua “coroa de regozijo” (4:1 em uma tradução). 
4. Cooperação. Paulo não só ora por seus filhos no evangelho, como 
também agradece a Deus a cooperação deles neste evangelho (v.5). A palavra 
“cooperação” representa a koinonia do grego, que significa comunhão ou 
participação. O apóstolo se refere aqui ao auxílio financeiro que a igreja lhe 
enviou pelas mão de Epafrodito (2:25). Este compartilhar de coisas materi­ais 
com Paulo, mostrava que os filipenses estavam cooperando na propa­gação 
do evangelho, que faziam isso “desde o primeiro dia até agora”. 
Sabemos que é preciso ser salvo pelo evangelho. Entretanto, se você 
assumiu algum compromisso com o evangelho sem ainda ter sido salvo, isto 
é, você acreditou, mas não se entregou inteiramente a Jesus Cristo, sua ati­tude 
vai denunciar isso. Algumas pessoas crêem no evangelho somente em 
conseqüência de terem nascido em lares cristãos, mas não têm um compro­misso 
do coração com o evangelho, porque nunca nasceram realmente do 
Espírito Santo de Deus. O principal problema de tal pessoa, provavelmente, 
será a dificuldade de viver o evangelho em sua vida! Como ela está na igreja, 
espera-se que faça o que os filipenses estavam fazendo, que era contribuir 
(ver também 2 Co 8:1-5). Mas ela detesta dar dinheiro. O pior detalhe da 
igreja com o qual ela precisa conviver, é a pressão que sente sobre si para que 
dê sacrificialmente, com um coração cheio de amor. 
Mas esse não era o caso dos filipenses. Sua cooperação no evangelho 
não era apenas uma koinonia de fé, e oração pela missão de Paulo; era uma 
cooperação prática, na qual tinham prazer em dar. É difícil uma prova maior 
da operação do Espírito de Deus no coração, do que o desejo de contribuir 
para suprir as necessidades daqueles a quem Deus ama. É somente o poder 
sobrenatural de Deus que pode ajudá-lo a compreender que é mais aben­çoado 
dar do que receber (At 20:35). Este, portanto, é o quarto sinal da 
obra redentora do Espírito nas vidas dos filipenses. 
5. Intercessão do Pastor a favor dos crentes. No versículo 7, Paulo 
aponta mais uma razão da segurança que ele tem nos crentes a quem está es­crevendo: 
“Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago 
no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evan­gelho, 
pois todos sois participantes da graça comigo”. Não só o Espírito os 
traz sempre à memória (v.3), não só eles começaram a dar ofertas provando 
que são realmente convertidos, mas também eles têm no coração de Paulo 
um lugar especial que só os verdadeiros irmãos e irmãs em Jesus Cristo po­dem 
ter. O apóstolo acrescenta: “Não só vocês se uniram a mim na minha 
prisão e na defesa e confirmação do evangelho, como também Deus é minha 
testemunha da saudade que tenho de vocês todos”. Esta última frase nos faz 
lembrar o carinho que as mães têm pelos seus bebês. Se separarmos uma mãe
de sua criancinha, ela sentirá muitas “saudades” . A palavra descreve os sen­timentos 
de Paulo para com esta igreja. 
É difícil para um pastor nutrir por sua igreja um sentimento tio pro­fundo 
a ponto de poder assegurar que todos os membros são salvos, são san­tos 
de verdade e não apenas de aparência. Mas é possível ver alguns indícios: 
a alegria com que participam nos cultos da igreja, a cooperação no evangelho 
através de suas ofertas. Vê-se a prova do esforço unido em oração, e o resul­tado 
é o pastor lembrar-se de todos continuamente. 
Olhe para seu próprio coração. Deus já começou Sua boa obra em vo­cê? 
Você nota que Ele já o está lapidando, polindo e trabalhando todos os 
dias? Se está, então pode tomar para si o que Paulo disse: “Estou plenamen­te 
certo de que Deus, que começou boa obra em mim, há de completá-la até 
ao dia de Cristo Jesus”. O maior desejo de Deus é ter santos no céu que se­jam 
semelhantes ao Seu próprio Filho. 
Rm 8:29 nos garante que haverá milhões de cópias de Jesus Cristo, 
moldadas segundo Sua imagem e semelhança. O Senhor está trabalhando 
na vida dos crentes, cada um deles com personalidades, pontos de vista, expe­riências, 
raízes sócio-culturais e racionais diferentes, afim de transformar ma­ravilhosamente 
todos os seus filhos, de modo que sejam semelhantes a Jesus 
Cristo. Assim será a população do céu: formada por cidadãos que Deus co­meçou 
a moldar nas experiências que resultaram em conversão, e continua a 
modelar constantemente ao longo da vida cristã, para que tomem o formato 
da perfeição de Jesus. 
Conclusão 
Pense em um homem como John Newton, que viveu há anos atrás, 
no século 18. Começou a vida num lar cristão onde viveu por uns seis anos. 
Ficou órfão e então foi criado por uma família não-crente, em que o evan­gelho 
e o Cristianismo eram ridicularizados. Como nessa casa ele era perse­guido, 
fugiu para o taar, porque o pai tinha sido marinheiro na Marinha Bri­tânica 
por algum tempo. Alguma coisa não deu certo, e ele fugiu novamente, 
escolhendo a África como um bom lugar para esconder-se. Tornou-se sócio 
de um português, traficante de escravos. 
A esta altura ele estava longe, bem longe de Deus. A péssima vida que 
levava colocou-o em algumas situações horríveis. Chegou até ao ponto de ser 
obrigado pela esposa do traficante a comer no chão. Foi até mesmo forçado 
a ser um escravo, mas fugiu para o litoral, onde deu sinais a um navio que 
passava, e que o acolheu por compaixão. Quando estava a bordo, o capitão 
descobriu que ele entendia de navegação e puseram-no como imediato do 
navio. 
Para mostrar como Newton era irresponsável, devo acrescentar que ele 
roubou o estoque de rum, distribuiu-o a todos os companheiros e, na bebe­
deira, caiu no mar. Um marinheiro o apanhou com o arpão e o puxou para 
o convés. Daquela arpoada ele ficou com uma cicatriz do tamanho de um 
punho, mas ainda não sentiu Deus operando em sua vida. Porém, naquela 
mesma viagem, quando se aproximavam da costa da Escócia, uma tempesta­de 
violenta apanhou o navio. Ele teve que manejar as bombas junto com os 
marinheiros, para evitar o naufrágio. Trabalhando nas bombas, foi domi­nado 
pelo medo da morte. Foi nessa crise que começou a recordar os versí­culos 
que havia memorizado antes dos seis anos de idade. Ao repetir essas 
Escrituras, Deus lhe falou ao coração, e ele se converteu de forma mara­vilhosa. 
Não só se converteu, como também tornou-se um pregador pode­roso 
e compositor de hinos. Foi ele quem escreveu o hino tão apreciado, 
“Amazing Grace” (“Maravilhosa Graça”). Quando o fez, ele já sabia que, du­rante 
toda sua vida, e através de todas as circunstâncias pelas quais tinha 
passado, Deus o tivera em Sua mão. É maravilhoso o Senhor converter um 
homem como Newton. E com a mesma alegria Deus vai salvá-lo se você 
assim lhe pedir. 
Oração: Pai celestial, tu conheces as necessidades de nossos corações. 
São profundas. Contudo, sabemos que és Deus maravilhoso, e que não nos 
deixará para sempre em nosso caminho de pecado. Agradecemos-Te pela vi­da 
de John Newton. Muito obrigado pela maneira como o salvaste e o inspi-raste 
a escrever hinos maravilhosos. Louvamos o Teu nome pela segurança 
que podemos ter, quando tantos neste mundo estão cheios de dúvidas, e não 
conseguem encontrar algo certo para esta vida e muito menos para o futuro. 
Por causa dos sinais de Tua graça operante, podemos saber que nossos no­mes 
estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro. Pai, que todos os Teus 
possam ter essa segurança de conhecer-Te realmente. E se têm dúvidas, se 
lhes falta segurança, que possam chegar-se a Cristo humildemente, receben-do- 
0 como Senhor e Salvador. Muito obrigado, Senhor. Em nome de 
Jesus. Amém.
Filipenses 1:9-11 
9 - E também faço esta oração: que o vosso amor aumente 
mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, 10 — pa­ra 
aprovardes as cousas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis 
para o dia de Cristo, 11 — cheios do fruto de justiça, o qual è 
mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus. 
Oração: Senhor, chegamos novamente à Tua presença, recordando a 
promessa que deste aos discípulos, de que o Espírito Santo os conduziria a 
toda a verdade. Pai eterno, as palavras que queremos ler na Tua presença 
agora são “em tudo verdade”. Rogamos-Te que nos ensines as verdades so­bre 
a oração que ainda não descobrimos, ou que talvez não estejamos colo­cando 
em prática, pois é em nome de Jesus que nos aproximamos de Ti. 
Amém. 
Introdução 
Poucas pessoas tiveram o privilégio que eu tive, de crescer num lar cuja 
primeira lembrança é a de mamãe ajoelhada junto à sua cama. Nunca vou es­quecer 
o seu vulto ajoelhado, embora eu não tivesse mais de quatro anos de 
idade quando a cena me impressionou pela primeira vez. Durante várias 
ocasiões, em silêncio, intercedendo por nós, os filhos, e pela igreja da Bolí­via, 
minha mãe criava em volta de si uma atmosfera sagrada. Não havia a luz 
de uma auréola, nenhuma halo, mas nós crianças sempre passávamos quie-tinhos 
quando mamãe orava. Foi uma experiência que se repetiu todos os 
dias, um privilégio que teve realmente um papel importante na formação de 
meus primeiros ideais com respeito à oração. Embora ela intercedesse muito 
silenciosamente, sabíamos o que ela estava pedindo. Nós crianças estávamos 
no topo da lista. Sabíamos quais os principais assuntos das suas orações por­que 
a nossa família sempre se reunia para orar antes do café da manhã. As 
orações de meus pais eram muito longas para um garotinho: eu já acordava 
com fome, e o culto doméstico atrasava o café. Dr. Donald Barnhouse (pas­tor 
da Filadélfia, mundialmente conhecido, já falecido) costumava dizer: 
“Sem Bíblia não há café!” Nossos pais se mantiveram firmes naquele moto, 
que incluía também a oração. 
Paulo também aprovava essa espécie de piedade cristã. Orava incessan­temente. 
Exortou os leitores de sua carta em Tessalônica a que orassem sem 
cessar (1 Ts 5:17). Mas Paulo não estava tão sintonizado com o céu a ponto 
de supor que os cristãos que liam suas epístolas soubessem automaticamente 
o que pedir a Deus. Embora já tivesse escrito que estava “sempre fazendo 
súplicas por eles”... “em todas as minhas orações” (v. 4), o apóstolo ocupa 
algumas preciosas linhas desta “carta de agradecimento” para contar aos fili­penses 
como é que orava, a fim de ensinar-lhes (e a nós) como se deve orar.
E não se esquece de encorajá-los, dando-lhes uma lista dos resultados da 
oração fervorosa que pede a Deus um abundante e crescente amor. 
O Professor Stewart, da Universidade de Edinburgo, na Escócia, agora 
aposentado, dizia sempre que as orações das cartas de Paulo, particularmen­te 
as de Filipenses, Efésios e Colossenses, foram o ponto alto de sua corres­pondência. 
Portanto, veja hoje, que petição os filipenses deviam fazer. De­dique 
alguns instantes para oferecer esta oração com toda a sinceridade. 
Você vai descobrir um novo nível de benção impregnando sua vida, visto 
que o próprio Senhor Jesus garante que se você pedir alguma coisa em Seu 
nome, segundo a Sua vontade, Ele o ouvirá (Jo 14:13,14; 1 Jo 5:14). 
Observe que neste parágrafo a oração de Paulo é a continuação de sua 
ação de graças. Assim, ele aponta um fato importante sobre a oração, sem 
ensiná-lo declaradamente. 
A primeira verdade encontra-se no v.6: “Estou plenamente certo de 
que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de 
Cristo Jesus”. Desta certeza apostólica seria possível concluir que você não 
precisa fazer nada além de render-se passivamente, porque Deus faz toda a 
parte ativa. Você poderia relaxar, dormir, descansar, em vez de orar. E nem 
precisaria voltar à igreja à noite. Você poderia ir para o Guarujá ou Copaca­bana, 
apreciar a praia e as ondas, porque Deus que começou a boa obra em 
você, prometeu completá-la. Não haveria necessidade de você se preocupar 
com a comunhão e o culto da igreja, nem com a leitura da Bíblia e a oração 
pelas crianças, vizinhos ou mundo, nem tampouco com o seu testemunho. 
Muito facilmente e com grande prazer poderíamos concluir: “já que Deus 
promete que vai estar operando, e Ele é mais poderoso do que quaisquer de 
nossas orações fracas e cheias de dúvidas; é só deixar que ele faça tudo!” 
Isso, porém, é bem diferente daquilo que Paulo pensou ou ensinou. À me­dida 
que você lê a oração dele, percebe claramente que o próprio Paulo es­tá 
envolvido e profundamente empenhado numa cooperação espiritual com 
Deus. De fato, Paulo afirma que Deus nos manda participar ativamente em 
sua obra: “Desenvolvam a sua salvação com temor e tremor” (2:12). 
A oração pode ser considerada um trabalho, até mesmo uma luta 
(Cl 1:29: 2:1). Deus está fazendo a Sua obra, mas a oração envolve aquele 
que intercede na operação de Deus (cf. 1 Co 3:9). Mas, e se eu não pedir a 
Deus que intervenha? Ele vai parar de operar? Paulo não responde tão clara­mente 
a esta questão complexa como Tiago o faz (Tg 4:2). Visto que Deus 
não ordena, clara e insistentemente, que oremos, não é necessário fazer es­peculações 
sobre a razão pela qual ele exige que Seus filhos orem. Isto expli­ca 
porque Paulo podia exigir de si o máximo esforço em prosseguir para o alvo 
e prêmio de sua soberana vocação, ou alto chamado, por um lado, ao mesmo 
tempo em que mostra tolerância para com aqueles que têm atitude diferen­te, 
preferindo esperar que Deus lhe revele quais são as suas exigências 
(3:13-15).
Vejamos agora o incentivo que levava Paulo a interceder pelos fili­penses, 
no v.8. Ele ansiava de tal maneira (epipothõ) ver a igreja e confrater­nizar 
com eles, que descreve seu afeto como localizado nos “intestinos” 
(splagchnoi) de Cristo Jesus. Foi a maneira grega primitiva de expressar 
como estava emocionado no seu desejo de visitar os filipenses, seus amados 
filhos na fé. De fato, um pastor que ama profundamente cada membro da 
sua igreja, achará que orar por eles não é tarefa difícil, pelo contrário, é um 
prazer. 
Um Pedido pelo Amor Crescente 
Agora examinemos esta oração. Pelo que Paulo ora? Primeiro, ele roga 
que Deus conceda aos filipenses um amor que aumente mais e mais (v.9). 
Amor para com Deus e o próximo nunca chega a um ponto em que o cristão 
pode descansar e dizer: “Bem, agora eu amo tão fervorosamente como sou 
mandado amar! Esse amor agape que Deus exige de mim já é completamente 
meu”. Paulo pode ter sentido que os filipenses eram as pessoas mais queridas 
que ele conhecia. Ele os amava tanto que o seu amor por eles parecia o amor 
de uma mãe por seus filhos (v.8): “Tenho por vocês um afeto e saudades tão 
fortes que me emociono por dentro, nas próprias vísceras!” Mas isso não 
significa que Paulo tinha alcançado o amor perfeito, ou que seu amor não 
podia crescer mais ainda. Ele não estava tão influenciado pelo seu amor para 
com a igreja de Filipos a ponto de concluir que eles não pudessem amar mais 
intensamente do que quando mandaram o dinheiro tão oportuno para o 
apóstolo aprisionado. 
Você também é pessoa amorosa, mesmo que não seja possível medir 
seu amor por nenhum sistema. O amor não pode ser medido de maneira ma­temática 
concreta. Por ser dinâmico e relacionai, o amor cresce à medida em 
que é testado. Os pais que mais amam seus filhos são aqueles que mais sofre­ram 
por causa dos filhos. Talvez um filho de uma certa família possua algum 
problema mais grave, de ordem física ou mental: pois é por aquela criança 
que o pai e a mãe estão mais dispostos a se sacrificar, a fim de lhe propor­cionar 
alguma coisa. Os pais que têm um filho mongolóide aman-no além do 
normal, indizivelmente. Seu amor foi muito provado e, em conseqüência, 
transborda por aquela criança. Paulo está orando por um amor assim, trans-bordante, 
que excede os limites normais da experiência, um amor que é mais 
característico de Deus do que do homem egocêntrico. Tal amor é um dom 
do Espírito de Deus que habita no crente (Rm 5:5, cf. G1 5:22) e, conse­qüentemente, 
deve surgir em nossos corações como resposta à oração 
(cf. Lc 11:13). 
Essa súplica por um amor que cresça e transborde sem limites é o úni­co 
pedido específico desta oração (w. 9-11). Tudo o mais que é mencionado 
na passagem são conseqüências. Será que você está orando por alguém, ou —
o que pode ser mais significativo — alguém estaria orando por você, rogando 
a Deus que seu amor continue a crescer e transbordar sempre? Talvez Paulo 
peça a Deus esse amor agape, crescente e dinâmico, porque sabe que um 
amor que não transborda, inevitavelmente se volta para dentro e se torna 
egoísta. Limitar nosso amor àqueles que vão nos retribuir a dívida é o opos­to 
do amor generoso e sacrificial pelo qual Paulo orou. Este é como leite 
derramado, irrecuperável, dado sacrifícialmente, sem preocupação de recom­pensa. 
Até o fim da sua vida, ou até que Cristo volte, esse amor como o de 
Cristo deve transbordar mais e mais. Na forma mais simples, essa oração pe­de 
a Deus um crescimento diário na habilidade e no anseio de amar de cada 
cristão, até o dia da formatura, quando todos passamos desta vida à outra 
através da morte ou da transformação miraculosa efetuada pela volta de 
Cristo (cf. 3:21). 
O v. 10 (parte final) focaliza nossa atenção nesse fim, porque o amor 
crescente terá o propósito de tomar os filipenses puros e imaculados, prontos 
para o Dia de Cristo. Quando Jesus Cristo voltar/ele irá examinar os crentes 
quanto à perfeição atingida em matéria de amor crescente e transbordante 
para com os irmãos e para com Deus. É crucial reconhecer se seu amor cres­ce 
dia a dia. Ou será que ele tem diminuído, como o primeiro amor da igreja 
de Éfeso (Ap 2:4)? 
Esse amor não é sentimental, não é verbal, mas é prático, encontra 
expressões concretas através de ações. Certamente, desejamos que essa espé­cie 
de amor transborde em nós, mas quem sabe não temos confiança de que 
é possível receber um amor tão extraordinário assim, simplesmente pedindo 
a Deus. Paulo nos dá algumas dicas importantes sobre como ganhar esse 
amor abundante em resposta à oração. Se alguém está orando por você 
desta maneira (talvez seja esposa, marido, pai, um filho ou um membro inte­ressado 
da igreja), de tal forma que a oração dele se une à sua, espere ver 
mudanças na intensidade de seu amor. Como se uma poça parada e mal chei­rosa 
se transformasse em uma corrente de águas cristalinas, o amor narcisista 
pode ser transformado em amor semelhante ao de Deus, que o motivou a 
dar Seu Filho para nos salvar (Jo 3:16). 
Os Dois Elementos do Amor 
Paulo prossegue no v.9, dizendo que duas características são importan­tes 
nesse amor transbordante. Se omitimos esses elementos básicos, o amor 
não cresce muito e não transborda. Esses dois elementos são descritos pelas 
palavras “conhecimento” e “percepção”. 
O primeiro termo representa a palavra grega epignõsis, que se encontra 
no Novo Testamento umas vinte vezes. Normalmente usado para designar o 
conhecimento de Deus e da verdade, ou conhecimento da Bíblia e de Jesus 
Cristo, refere-se à esfera espiritual.
Ora, não me sinto bem quando divido o conhecimento humano em 
duas categorias, mas a esta altura pode ser proveitoso fazer isso. Possuímos 
dois tipos de conhecimento. 
O primeiro é o conhecimento humano, secular, orientado ao nosso vi­ver 
desta terra. Quando uma pessoa realmente sabe bastante, pode ser for­mada 
em faculdade, ou até mesmo se tomar professor, com nível de mestra­do 
ou doutorado. No contexto da vida, mostra quanto sabe pelo seu su­cesso. 
Sabe equilibrar as coisas, como planejar, como tratar as pessoas de 
modo que estas o tratem bem. Conhece a lei, e sabe como evitar as penali­dades 
impostas àqueles que deixam de cumpri-la (ver Lc 16:1-11). Elaé re­putada 
como uma pessoa bem ajustada e entendida. Para fins dessa expla­nação, 
classificaremos essa categoria de escolhas capazes como gnõsis, 
“conhecimento”. 
Mas é diferente o sentido do termo “Conhecimento” (epignõsis) que é 
usado no Novo Testamento. Esta palavra se refere à realidade espiritual. Tal 
conhecer ultrapassa o saber do dia-a-dia, atingindo a esfera espiritual, o que 
é comparável à ultrapassagem da barreira do som. As atitudes e os valores da 
vida que chamamos de “secular” são transformados pelo relacionamento 
com Deus e Seu povo através do Espírito. Não que o Espírito seja realmente 
dissociado do psiquê ou da alma humana em qualquer sentido claro, defini­do. 
Quando o crente ultrapassa a barreira, indo ao conhecimento dos valores 
espirituais, isso o faz perceber a realidade de uma forma que o homem secu­lar 
não vê. Paulo aqui dá ênfase à idéia de que, sem esta espécie de conheci­mento, 
o amor sacrificial não cresce — nem o amor por Deus, nem o amor 
pelo homem. O amor agape deve ter raízes no conhecimnto adquirido dire­tamente 
através da revelação e percepção do Espírito Santo. 
Em Ef 1:17, Paulo ora pelos cristãos de Éfeso na Ásia: que “Deus... o 
Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno 
conhecimento (epignõsei) dele. “Este uso que Paulo faz da mesma palavra 
esclarece que é o Espírito Santo que nos capacita a ultrapassar a barreira do 
conhecimento do mundo secular, e nos faz penetrar tal ciência. Nela alcan­çamos 
e experimentamos a presença de Deus. O Espírito Santo não trabalha 
à parte das Escrituras. Deus emprega a Bíblia para guiá-lo, quem sabe en­quanto 
você ouve a explicação do seu sentido, ou enquanto a lê na hora de-vocional 
de manhã. E assim, o solo que proporciona as condições para o 
amor crescer e transbordar tem sua origem na oração, uma Palavra de Deus, 
e produz a comunhão com Deus, que por sua vez encaminha o amor trans­bordante 
para com Deus e Sua igreja. 
Uma segunda palavra que Paulo liga ao “entendimento” do v.9 é a pa­lavra 
“percepção”. Transmite o sentido do original aisthesis. Uma pessoa 
que tem percepção tem o dom que muitas vezes é atribuído às mulheres 
com o nome de “intuição”. O homem pode trabalhar intensamente durante 
horas inteiras, lidando com os prós e contras de uma decisão importante. 
Talvez escreva todos os números, a lista de vantagens e desvantagens, ten­
tando arrazoar e chegar à melhor solução de um problema. Muitas vezes, 
consulta os colegas executivos para que o ajudem a ponderar as conseqüên­cias 
favoráveis e desfavoráveis de sua opção. Depois vai para casa, pergunta à 
esposa qual a opinião dela, e fica admirado ao descobrir que seu conselho 
está de acordo com a conclusão estudada dele. 
A intuição adianta o processo, sendo resultado da'percepção. Por 
maior que seja a lógica ou a sua racionalidade, não dá ao homem a verdade 
espiritual. Esta precisa resultar de uma revelação por parte de Deus e de uma 
percepção por parte do homem. A teoria ou a teologia se transforma em rea­lidade 
e estilo de vida cristão. A palavra de Paulo, “percepção” ou “discer­nimento”, 
trata especificamente de um juízo que é tanto moral como espi­ritual. 
As Escrituras não fazem distinção entre as esferas moral, ética e espi­ritual, 
no que diz respeito à prática. Sendo assim, portanto, viver com “per­cepção” 
e conhecimento significa agradar a Deus. 
Podemos ilustrar esse termo na vida pública-terrena de Jesus. Muitas e 
muitas vezes, Ele foi pressionado em situações onde tinha que fazer escolhas. 
Suas decisões eram importantes porque milhares de pessoas ouviam Suas ins­truções. 
Não podia, pois, ensinar uma coisa na teoria e fazer outra diferente 
na prática. Seu modo de escolher, repetidas vezes, ofendia as pessoas religio­sas 
mais respeitadas, o que não o tomava popular. O que ele percebia e de­clarava 
com franqueza contrariava a opinião da maioria da época. Ele favore­cia 
os humildes, os fracos, os pobres e necessitados, em vez dos fariseus or­gulhosos 
que eram admirados (cf. Jo 5:44). No caso dos judeus, que conhe­ciam 
minuciosamente a Bíblia, mas não tinham o Espírito, exaltavam os va­lores 
do mundo. Jesus, cheio do Espírito Santo, quando ouviu o cego Barti-meu 
clamando por misericórdia, ordenou que lhe trouxessem o homem ime­diatamente, 
apesar dos discípulos quererem silenciá-lo com a justificativa de 
que Jesus estava ocupado demais (Mc 10:46-52). Foi esse o tipo de intuição 
ou sistema dè valores que determinou as decisões de nosso Senhor. Bartimeu 
era mais importante do que a multidão, os discípulos, os dignatários religio­sos, 
ou uma programação prévia. 
Necessitamos desesperadamente de possuir esta percepção. É um dis­cernimento 
tantas vezes ausente, que explica porque nossa vida espiritual é 
fria, e nosso amor parado. Onde existem águas estagnadas e temperaturas 
momas, é quase certo haver mosquitos. Essas pestes não podem reprodu­zir- 
se em águas correntes. Quando o amor é parado, os relacionamentos fi­cam 
estragados. Em lugar do amor transbordante pelo qual Paulo ora, criam­- 
se ressentimentos irritantes, concebidos no ciúme, para atrapalhar o povo 
de Deus como se fossem pernilongos zunindo perto dos nossos ouvidos. 
Com o conhecimento experimental de Deus e o discernimento estimulado 
pelo Espírito Santo, cresce o amor, e diminui o egoísmo. 
O autor de Hebreus também emprega um substantivo relacionado com 
o termo “percepção” (aisthêsis) quando repreende os cristãos estagnados, 
que não quiseram crescer na fé além da primeira infância. Veja o apareci­
mento divinamente inspirado dessas palavras: “Vocês já deviam ser mestres, 
capazes de ensinar a Palavra de Deus, contudo têm de novo necessidade de 
alguém que lhes ensine o ABC da fé cristã. Porque todo indivíduo que ainda 
se alimenta de leite, não está cheio da Palavra da justiça, pois é criança. Mas 
o alimento sólido é para os adultos, para os que têm as suas faculdades exer­citadas 
pela prática (Hb 5:12-14). A palavra “faculdades” (aisthenia) vem da 
mesma raiz grega que o termo “percepção” em Fp 1:9. Visto que aos cris­tãos 
hebreus faltava “percepção”, não tinham a capacidade de discernir en­tre 
o bem e o mal, ou distinguir o melhor do bom. As pessoas maduras preci­sam 
tomar decisões, à luz da vontade de Deus revelada e das conseqüências 
eternas. Somente a percepção espiritual produz decisões corretas. Como é 
triste constatar com tanta freqüência que cristãos estão se tornando estagna­dos, 
sem maturidade necessária para o discernimento dos valores espirituais. 
A Conseqüência do Amor Crescente 
Quando o amor de Deus cresce em nós com vitalidade, no solo do 
conhecimento e da percepção, o que vai produzir? Paulo dá a resposta no 
v.10. Produz “aprovação”. Essa palavra interessante também foi empregada 
por Paulo na segunda carta a Timóteo. Permita-me fazer uma paráfrase: 
“Quero que você seja um trabalhador “aprovado” (gr. dokimon), quando 
chegar no dia de sua formatura, abrir seu diploma conferido por Deus, e ler 
os elogios. Espero que você se forme com prêmios, em lugar de descobrir 
que foi reprovado no dia de Jesus Cristo” (cf. 2 Tm 2:15). 
Como serão emocionantes para uns e chocantes para outros, as surpre­sas 
do juízo final! Muitas pessoas esperam a aprovação da formatura, porém 
vão descobrir tarde demais, para sua tristeza, que o prêmio esperado não 
lhes foi conferido (cf. Fp 3:14, 2 Tm 4:8). Mas podemos ter a certeza da 
aprovação de Deus se somos sinceros e inculpáveis até o Dia de Cristo”, por­que 
então será evidente em nós a boa obra de Deus (v. 6). 
A expressão “para que vocês aprovem as coisas excelentes” (v. 10) 
mostra que essa capacidade espiritual tem sua origem nas realidades do v.9. 
“Aprovar” (dokimazo) significa testar e aprovar ser autêntica alguma coisa. 
Mesmo em nossos dias, uma nota de papel-moeda precisa ser aprovada para 
ser aceita. A alta qualidade da imitação engana os “leigos”, mas é rejeitada 
pelos profissionais (veja 2:22 e a observação que Paulo faz a respeito de 
Timóteo). 
O Senhor Jesus empregou a palavra aqui traduzida por “excelente” 
{diapherò), que se refere às coisas que precisam ser “aprovadas”, quando 
procurou ensinar os discípulos a confiar em Deus, em Mt 6:26. Os lírios 
do campo são de muito mais valor (“excelência”) do que o capim, todos nós 
concordamos. Mas a comparação não é esta. “Vocês valem muito mais do 
que os lírios!” Deus cuida dos lírios do campo; mas você vale muitas vezes
mais do que os lírios do campo, então os homens são de maior valor que 
todas as flores silvestres, os cristãos amorosos irão distinguir o que realmente 
tem significação duradoura daquilo que tem boa aparência na realidade, mas 
imprescindivelmente destinados à fornalha (cf. 2 Co 4:18). 
A capacidade e o desejo de fazer esta espécie de escolhas entre valores 
e prioridades advêm de um conhecimento e perspicácia dados por Deus, mas 
prenuncia também o Dia de Cristo. É claro que nada nos fará ficar enver­gonhados, 
se cuidamos em escolher o caminho excelente (1 Co 13:31b). 
Este versículo (10) afirma a importância de aprender a distinguir o melhor 
do medíocre, “para sermos sinceros e inculpáveis” quando Cristo voltar e 
estivermos todos diante do Seu tribunal (2 Co 5:10). 
A palavra “sincero” tem seu significado numa prática comum do mun­do 
antigo. Os potes de barro eram as vasilhas domésticas habituais, usadas na 
cozinha como na sala de jantar. Uma das indústrias mais movimentadas era a 
de fazer potes e pratos, porque eles se quebravam com muita freqüência. 
Eram fabricados de barro queimado que, depois de muito assado e moldado 
na roda do oleiro, ia para o forno. Ficavam duros e quebradiços. Quando 
menino, eu olhava os oleiros fazendo potes de barro. De vez em quando, 
esses potes se rachavam ou ficavam com um buraco. Em vez de jogar fora o 
vaso inútil, alguns oleiros sem escrúpulos passavam um pouco de cera sobre 
o buraco. Quando alguém o comprava, não percebia a rachadura a não ser 
que duvidasse da qualidade do artigo. Nesse caso, bastava virá-lo para o lado 
do sol. A cera, sendo apenas opaca, dava passagem à luz. Portanto, a palavra 
grega significa “testado pelo sol”, enquanto que a palavra “sincera” do 
nosso idioma vem do latim e quer dizer “sem cera”. 
Devemos sempre fazer a pergunta para nós mesmos, e para nossos 
filhos, vizinhos e amigos: somos testados pelo sol? Observe que esse amor 
transbordante confirma nossa segurança de sermos um cristão aprovado, tes­tado 
pelo sol, no Dia do Juízo Final. 
O v.6 expressa a certeza de Paulo de que Deus há de completar a obra 
da salvação que ele principiou. Agora a oração do apóstolo proclama que a 
confiança de ser aprovado vem da prova do amor crescente, radicado no 
conhecimento e percepção. À “sinceridade”, Paulo (que gostava de usar 
dois termos paralelos) acrescenta “inculpáveis”. É a palavra que ele usou 
quando se defendia perante os acusadores judeus, incluindo o Governador 
Félix de Cesaréia: “Tenho vivido sem ofensa durante toda a vida. Minha 
consciência está limpa” (cf. At 24:16). Ora, pode ser perigoso afirmar isso se 
a consciência é meramente sua. Muitas de nossas consciências não nos estão 
acusando, o que só serve para provar que não estão muito sensíveis ou bem 
instruídas. Podemos ser muito bons em auto-defesa, justificando qualquer 
falha ou pecado de qualquer acusação interna do coração. É mais impor­tante 
estar sem acusação na vida e na conduta, para que nenhum acusador 
tenha quaisquer provas contra você, mesmo depois de examinar a fundo a 
sua vida.
Como exemplo, vejamos um contador. Ele tem um serviço interessan­te, 
porque o cômputo de impostos revela muito sobre a consciência secreta 
de seus clientes. Eles sabem quanto deviam pagar de impostos, mas resolvem 
que não, porque não há forma de um acusador provar a violação da lei. Sua 
consciência não os preocupa, visto que eles racionalizam que o governo des­perdiça 
vastas quantias de dinheiro. Mas o problema é como eles vão se sen­tir 
quando uma auditoria for feita por alguém que possui todas as provas 
para condená-lo. 
Paulo aguarda o dia do exame para o qual ninguém pode lhe trazer 
nenhuma preocupação, mesmo sendo examinados os registros oficiais e to­dos 
os documentos secretos. Para receber um veredito de isenção de culpa 
naquele dia, precisamos agora de consciência pura e sinceridade completa. 
As duas qualidades — “testado pelo sol” e “inacusável” (inculpável) no Dia 
de Jesus Cristo — resultam de se ter percepção e conhecimento, aliados ao 
amor transbordante. 
O Fruto da Justiça 
Finalmente, vejamos o versículo 11. Está aqui o tema desta mensa­gem, 
e a sua conclusão. “Cheios do fruto de justiça, que vem através de 
Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus”. Estamos acostumados com o 
fruto (singular, não plural) do Espírito, que é o amor. O amor possui todos 
os atributos de “alegria, paz, paciência, bondade, misericórdia, fidelidade, 
mansidão, domínio próprio” (G1 5:22, 23), como se fossem expressões va­riadas 
desse amor. O fruto de justiça certamente será o mesmo. Assim como 
o fruto de Gálatas 5 é produzido pelo Espírito que habita no interior, o fru­to 
da justiça é produzido pela vida de Jesus atuante em nós. A oração que 
pede muito àmor, firmado em conhecimento e percepção, irá produzir a 
capacidade de se distinguir o que há de melhor, a fim de sermos puros e in­culpáveis 
no Dia do Juízo Final. Mas esta vida, que se torna cheia do fruto 
da justiça, vem por Cristo Jesus. 
Lourenço da Arábia certa vez levou alguns de seus amigos árabes a Pa­ris. 
Queria mostrar-lhes a cidade e impressioná-los. Foi há tempos, antes que 
os xeques árabes possuíssem rios de dinheiro pelas vendas de petróleo. Não 
conheciam bem as atrações e comodidades modernas, por isso ele queria 
dar-lhes este prazer. A Torre Eifell, os lindos edifícios e pontes, o Arco do 
Triunfo, nada disso os deixou atônitos. Muitas vezes, desejamos ver os turis­tas 
interessados, mas nossos visitantes só querem voltar para o hotel, e era 
isso o que acontecia com aqueles amigos. Isso porque o que os deixou real­mente 
admirados foi a água corrente. Para ter água éra só abrir a torneira. 
Ali no seu hotel é que estava a maior maravilha do mundo. Os árabes 
abriam e fechavam a torneira extasiados diante do milagre da água a jorrar 
da parede. Um dia antes de voltarem para a Arábia, Lourenço ouviu uns sons
estranhos no banheiro. Investigando, encontrou os amigos ali com uma cha­ve 
inglesa, tentando desenroscar aquela torneira. Quando indagou o que fa­ziam, 
responderam: “Já vimos muita coisa maravilhosa em Paris, mas nada 
que se compare com essa torneira. É só abrir, sai água. Queríamos levar essa 
invenção tão importante para a Arábia”. Lourenço teve de convencê-los de 
uma verdade muito importante. Levar uma torneira para a Arábia e en­terrá- 
la em uma parede não produziria água nenhuma. Não percebiam que 
havia um cano e todo um sistema hidráulico para suprir a água desejada. Se 
os seus amigos têm o amor que transborda em fruto de justiça, baseado em 
sua ligação vital com Jesus Cristo, e as outras realidades alistadas por Paulo 
em sua oração, isso deve animá-lo a procurar que Deus faça o mesmo por 
você. Mas se você tenta produzir o fruto da justiça por seus próprios esfor­ços, 
terá tão pouco êxito quanto os amigos de Lourenço ao tentar produzir 
a água, sem cano e sem fonte. 
Conclusão 
Paulo quer fazer-nos entender que, no final, Deus será louvado e glori-ficado 
pela resposta a essa oração. Seja qual for o resultado produzido por 
Cristo em nós em termos de vida justa, inevitavelmente, Deus será honrado e 
exaltado. Bondade produzida humanamente glorifica o homem (cf. Jo 5:44)., 
mas logo que descobrimos que dentro de nós “nenhum bem habita”, somos 
forçados a dirigir-nos ao nosso Senhor em busca dessa justiça miraculosa 
que reflete o louvor e glória de Deus (v. 1 lb). Duvido que muitas orações 
tenham esta meta. É freqüente orarmos implorando alívio de aflições e do­res, 
ou o suprimento daquilo que supomos necessitar e desejar. Quando so­mos 
conscientizados para orar como Paulo orou, podemos aguardar a conse­qüência, 
maravilhosamente apresentada nesta curta passagem de Filipenses, 
além de experimentar a verdade de que Deus tem prazer em dar-nos as coisas 
que desejamos, mas não pedimos (Mt 6:33), 
Oração: Pai, Tu conheces a profundidade de nossas necessidades 
pessoais. Sabes como estamos ressequidos, estagnados, incapazes de produzir 
qualquer porção de teu amor agapê; e sabes ainda, como é impossível para 
nós ultrapassarmos a barreira do som de nossos conhecimentos terreais. Po­de 
ser que tenhamos dominado um pouco da sabedoria deste mundo, mas 
ela é tão desligada da ciência e percepção espirituais que possibilitam o amor 
abundante! Ô Pai, Tu nos amas tanto, e nós Te rogamos que, por Jesus 
Cristo, Tu nos faças todos aprovados por Ti, dando-nos aquela capacidade 
de selecionar as prioridades verdadeiras. E através de tudo isso, pedimos, por 
Jesus Cristo, que nosso Senhor seja exaltado e engrandecido. Amém.
A FILOSOFIA DE VIDA DO CRISTÃO 
Filipenses 1:12-26 
12 - Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas 
que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso 
do evangelho; 13 — de maneira que as minhas cadeias, em Cris­to, 
se tomaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de 
todos os demais; 14 - e a maioria dos irmãos, estimulados no 
Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassom-bro 
a palavra de Deus. 15 — Alguns efetivamente proclamam a 
Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa von­tade; 
16 - estes, por amor, sabendo que estou incumbido da 
defesa do evangelho; 17 - aqueles, contudo, pregam a Cristo, 
por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às 
minhas cadeias. 18 - Todavia, que importa? Uma vez que Cris­to, 
de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, 
quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre 
me regozijarei. 19 - Porque estou certo de que isto mesmo, 
pela vossa súplica e pela provisão do Espirito de Jesus Cristo, 
me redundará em libertação, 20 - segundo a minha ardente 
expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; 
antes, com tôda a ousadia, como sempre, também agora, será 
Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela 
morte. 21 - Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer 
é lucro. 22 - Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o 
meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. 23 - Ora, de 
um e outro lado estou constrangido, tendo o desejo de par­tir 
e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. 
24 - Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na 
carne. 25 — E, convencido disto, estou certo de que ficarei, e 
permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da 
fé. 26 - A fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de 
vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença de novo 
convosco. 
Introdução 
Uma biografia, para valer a pena, tem de contar mais do que os sim­ples 
fatos da vida de uma pessoa. Lendo Filipenses, capítulo 1, versos 12a 
26, é preciso compreender que há mais do que meros fatos naquilo que o 
apóstolo conta. Nestes versículos vemos, primeiramente, atitudes, um modo 
de ver, uma maneira de avaliar as circunstâncias e as pessoas. 
Confiamos no Pai, autor dessas palavras preciosas, para que ele faça 
brilhar em nossos corações a glória de uma vida que lhe foi totalmente dedi­cada, 
a fim de podermos imitar este seu servo, Paulo, compreendendo como 
tornar nossas as suas atitudes e o seu modo de pensar. Que Deus desafie a
nossa vontade enquanto estudamos a Palavra e abrimos os corações ao mi­nistério 
do Espírito. 
Os versículos 1 a 11 que já examinamos, revelam como Paulo agrade­cia 
e orava a Deus pelos cristãos de Filipos. Os versículos 12-26, no entanto, 
são seu testemunho pessoal. Aqui, vemos Paulo erguendo os olhos para o 
mundo ao redor, para seu passado, seu presente e seu futuro. Ele os examina 
de um certo ponto de vista. 
A avaliação correta da vida e até mesmo a pessoa que somos, não de­pende 
do que nos aconteceu durante a vida, nem de onde temos morado. 
Depende basicamente da atitude com que encaramos a nossa vida - nosso 
passado, presente e futuro. Creio que foi Elton Trueblood quem disse: “Es­tou 
plenamente convencido de que a humanidade não mudou nem um til. O 
que tem mudado, naturalmente, são as circunstâncias que lhe cercam a vida. 
Mas o homem é o mesmo. Reage de modo igual; pensa de modo igual; dadas 
as mesmas oportunidades, deseja de modo igual; há de cobiçar as mesmas 
coisas, como sempre fez”. 
Acredito que seja uma observação perspicaz e verdadeira. Paulo não só 
nos conta aqui quais eram as circunstâncias em que se achava, mas também 
nos mostra como uma pessoa age e reage, uma vez que colocou Cristo no 
centro absoluto de sua vida. E. Stanley Jones denominou-o de “hipótese 
central de sua vida”. Se você faz com que Cristo seja o eixo giratório, o vér­tice 
de tudo — a pessoa para quem todos os aspectos de sua vida são volta­dos, 
o alvo a quem todos os minutos de sua vida consciente apontam, então 
as conseqüências, inevitavelmente, aparecerão em sua vida e atitudes, como 
aconteceu com Paulo. Comecemos por um exame das perspectivas múlti­plas 
com que Paulo enxergava suas circunstâncias e adversários. 
Paulo Avaliava os seus Sofrimentos Positivamente 
Primeiramente, vejamos com Paulo o seu passado. Nos versículos 12 e 
13 encontramos o apóstolo dizendo: “Quero que percebam que o sofrimen­to 
pelo que passei, o meu sofrimento pessoal, não é nada que deva nos en­tristecer 
Ou desanimar”. A prisão e as aflições que sofreu não o fizeram sen­tir 
que devia reclamar bem alto e esperar que os outros tivessem pena dele 
pelos maus-tratos que recebera. Sabemos como podemos nos sentir quando 
alguém nos trata com injustiça. Acho que Paulo poderia muito bem ter-se 
considerado a pessoa mais injustiçada de todo o mundo. Era um homem que 
não tinha feito nenhum mal, que dedicara sua vida somente para servir os 
outros. Entretanto, estava confinado sob acusação falsa. Por inveja e ódio 
diabólicos, planos foram arquitetados para se livrarem dele; de fato, mais de 
quarenta homens chegaram a jurar que se não o pudessem matar, comete­riam 
o suicídio com greve de fome (At 23:12-21). Tal foi a intensidade do 
ódio dirigido contra a sua pessoa. Estivera preso por dois anos em Cesaréia
(aceitando que Filipenses foi escrito de Roma), pelo simples motivo de que 
ninguém aparecera com dinheiro suficiente para subornar o governador a 
fim de que o soltasse. 
O tratamento injusto do passado continuava no presente. Paulo ainda 
estava preso em Roma porque tinha apelado para César. Mais dois anos se 
passariam antes que fosse solto, durante os quais Paulo pagaria o aluguel da 
casa que lhe servia de prisão, acorrentado dia e noite a um guarda pretoria-no. 
Contudo, com o tempo ficou provado que todas essas coisas que lhe 
aconteceram no passado, mesmo os naufrágios, visavam o bem. Vamos para 
2 Co 11, por um momento, onde se pode ver uma série de experiências às 
quais Paulo tinha sobrevivido nos versículos 23 a 28. Diz ele: “Falo como 
louco (como fora de mim) — muito mais trabalhamos, muito mais apri-sionamentos, 
com incontáveis açoites (Paulo diz: “Já esqueci quantas vezes 
fui açoitado, todas as cicatrizes praticamente se uniram”), muitas vezes em 
perigos de morte. Cinco vezes recebi das mãos dos judeus os “quarenta açoi­tes 
menos um” (sempre menos um, para que a pessoa não morresse, pois 
nenhum judeu queria ser julgado diante de Deus pela morte da pessoa fusti­gada). 
Três vezes apanhei de vara (referindo-se ao modo como os romanos 
açoitavam); uma vez fui apedrejado. Três vezes sofri naufrágio; uma noite e 
um dia fiquei à deriva no mar; em viagens muitas vezes, em perigos de rios, 
em perigos de ladrões e salteadores (tudo, diz Paulo, contribuiu para o 
bem)”.P 
ara esclarecer: se você tem o ponto de vista de Paulo sobre o que lhe 
acontece na vida, você já avançou bastante na estrada da maturidade cristã 
ou santificação. A santidade não é aquele ideal religioso elevado, pelo qual a 
pessoa se torna um religioso solitário fanático ou um eremita que passa o 
tempo todo num cubículo, com as mãos cruzadas e as costas cada vez mais 
curvadas num arco santificado. Isso pode ter muito pouco a ver com a santi­dade 
que pode ser descrita como um ponto de vista, uma maneira cristã 
(de Cristo) de avaliar o que está acontecendo com você. 
Nas palavras de Rm 8:28, Paulo escreveu o conhecido “Biotônico Fon­toura” 
do crente, como podemos denominá-lo. O crente tem a Palavra in­violável 
e eterna de Deus para assegurar-lhe que, se realmente ama a Deus e 
foi chamado para compartilhar de seu divino propósito, só o bem poderá re­sultar 
de todas as circunstâncias exteriores que afetam a sua vida. É se­melhante 
ao que Isaías diz: “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai, nós somos 
o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos” (Is 64:8). À 
medida que Paulo observava seu mundo e experimentava tudo que lhe acon­tecia, 
reconheceu o maravilhoso trabalho do oleiro que formava e moldava a 
massa flexível e receptiva do seu coração. Ele se regozijava então nos seus 
sofrimentos (Cl 1:24), reagindo sempre com atitude de aceitação positiva e 
nunca com amargura ou auto-piedade com relação àquilo que Deus estava fa­zendo 
em sua vida.
Olhemos agora, mais uma vez, para o versículo 12: “As coisas que me 
acontecem têm antes contribuído para o progresso do evangelho”. Paulo 
não disse que gostou de suas circunstâncias. Não estava dizendo: “Eu estou 
completamente louco e por isso gosto desses acontecimentos dolorosos, 
ruins, pois minha mente não está funcionando bem.” Porém, o que Paulo 
afirmou foi o seguinte: “Eu avalio as coisas más que têm acontecido em 
minha vida em termos de como elas contribuem para o bem superior, o que 
realmente faz valer a pena e torna o investimento compensador. Esse bem é 
o progresso do evangelho”. 
No original, a palavra traduzida por “progresso” é um termo militar 
que retrata trabalhadores com machetes e machados abrindo caminho atra­vés 
da mata, a fim de preparar a passagem para o exército. Era de máxima 
importância abrir caminho para o exército avançar. Paulo estaria dizendo 
assim: “Já estive ali na frente, sofrendo os ferimentos bem como a oposição 
do inimigo, mas louvo a Deus porque o nosso exército está avançando — o 
Evangelho tem progredido porque o caminho foi aberto. Esta palavra que 
ele usa novamente um pouco adiante, fornece uma chave para compreender­mos 
o entusiasmo de Paulo. No versículo 25, o “progresso” que Paulo espe­ra 
ver na igreja filipense se refere ao crescimento deles na fé e na maturidade 
espiritual. Aqui ele fala no “progresso do evangelho” no sentido de o evan­gelho 
“se tornar conhecido em toda a guarda pretoriana” (v. 13). 
Antes que a arqueologia nos informasse melhor sobre esta palavra, 
pensávamos que o pretório se referisse somente ao palácio do imperador 
em Roma ou do governador na capital de uma província (At 23:35; Mt 
27:27). Através de algumas inscrições descobrimos agora que o pretório tam­bém 
pode referir-se à guarda, que era especialmente os “olhos e ouvidos” do 
imperador nas principais cidades em todo o mundo romano. É possível 
mesmo que Filipenses tivesse sido escrito em Éfeso porque devem ter havido 
componentes da guarda pretoriana para zelar pelos interesses do imperador 
ali. Fm Roma, a guarda pretoriana se compunha de cerca de nove mil ho­mens, 
escolhidos dentre a elite das tropas de todo o império. Não sò tinham 
de ter o porte físico correto — altos, de ombros largos, fortes — também 
tinham que ter a lealdade de coração e ser homens dignos de confiança, 
mesmo sob pressão. Recebiam salário duplo, para assegurar que trabalhassem 
satisfeitos. Eram responsáveis pela guarda dos prisioneiros do imperador, in­cluindo 
Paulo nesta ocasião. 
Imagine um guarda pretoriano sendo algemado com Paulo. Tinha que 
dormir ao lado desse homem para garantir que ele não escapasse. É possível 
que Paulo nem sempre dormisse bem. Imagine o guarda ter que escutar a 
Paulo na escuridão silenciosa da noite. E Paulo falava sobre Jesus, outro 
Senhor, outro kúrios, em lugar do imperador. Mas esse soldado pretoriano 
estava lá justamente para proteger a posição ímpar e autoridade suprema da­quele 
único imperador através de todo o mundo civilizado. Contudo ali esta­va 
Paulo falando em outro Senhor (kúrios, no grego) cujo nome era Jesus
Cristo. Aqueles guardas militares devem ter saído de perto dele meneando a 
cabeça. Devem ter considerado Paulo um obcecado, visto que ele falava so­bre 
este Senhor dia e noite. Certamente, pensavam em quem seria esse Jesus, 
o que lhe aconteceu, por que Paulo tinha tanta certeza da sua ressurreição. 
Naturalmente teriam aguçado os ouvidos quando Paulo contava do julga­mento 
e crucificação dele sob Pilatos, um governador romano. Talvez, a 
princípio, nada disso lhes fizesse sentido, mas no outro dia teriam um pouco 
mais clara desta vez, e assim, um por um, ouviam as boas novas do evangelho. 
É possível que não haja lugar mais propício para proclamar o evangelho do 
que uma prisão, o público cativo não podia escapar nem forçar o evangelista 
a silenciar-se. Pobres guardas pretorianos! Se não quisessem receber a Cristo 
como seu Senhor, deviam então pedir demissão da força. Sem dúvida, alguns 
deles se renderam ao kúrios de Paulo. 
Além disso, veja o final de Filipenses, onde o texto diz: “Todos os san­tos 
vos saúdam, especialmente os da casa de César” (4:22). Paulo estava se 
referindo ao lugar onde estava preso, onde tinha tido o privilégio de procla­mar 
o evangelho e ver o seu progresso entre aqueles que estavam algemados 
com ele, aqui descritos como sendo da casa do imperador. 
Notemos que as algemas a que Paulo se refere são suas “cadeias, em 
Cristo, que se tomaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos 
os demais” — as cadeias são em Cristo e sua prisão é por Cristo, e esta é uma 
segunda conseqüência dos sofrimentos de Paulo que ele considera positiva­mente. 
Não só os guardas pretorianos aprendiam sobre Jesus e sobre o evan­gelho, 
como também, ele acrescenta, “todos os demais” : as outras pessoas 
também ficavam sabendo disso. O povo em geral não estava separado dos 
guardas. Os escravos e a população da cidade estavam logo discutindo sobre 
Paulo e suas “boas novas”. 
A terceira conseqüência afetava os cristãos de Roma ou Éfeso, que cjo-meçavam 
a falar sobre o Senhor mais ousada e livremente (v. 14). Além dos 
guardas que tinham de ouvir a Paulo, além da difusão das novas pelos guar­das 
e todas as pessoas da casa de César, os cristãos também começavam a dar 
testemunho do amor e da graça salvadora de Deus. Você deve saber, por cer­to, 
que a maioria dos cristãos não testemunha, pelo menos a maior parte do 
tempo. Um membro “normal” de uma igreja não percebe que na sua vida 
diária deve ser um missionário, considerando a causa missionária como sua 
própria missão. Algumas poucas pessoas são assim, mas não existem muitas. 
Era o que acontecia na cidade onde Paulo estava preso. Nesse aspecto, não 
havia nada de realmente fora do comum que diferenciasse a igreja de Roma 
ou Éfeso das nossas igrejas hoje. Muitos cristãos escolhem um método de dar 
testemunho que podemos chamar “método silencioso”. Não dizem nada. Vi­vem 
sua vida cristã tão calma e prazeirosamente quanto possível. E as 
pessoas que vivem acima deles, as que moram em baixo ou ao lado deles no 
seu prédio de apartamentos nem suspeitam que aqueles cristãos possam ser 
estrangeiros, cidadãos de outro país chamado céu (cf. 1:27; 3:20). Como
poderiam saber? Entretanto, quando Paulo estava na prisão por amor ao 
evangelho, correu a notícia de que esse homem era diferente; ele não conse­guia 
deixar de anunciar a boa nova sobre o Salvador. 
Em 1 Co 9, Paulo revela uma parte do segredo sobre a obrigação que 
pesava sobre ele e o impulsionava. Ele estava sob uma maldição, um tipo es­tranho 
de maldição, é lógico, porque não dá para sabermos quem a pronun­ciava. 
É possível que fosse Paulo amaldiçoando a si mesmo. Ele dizia: “Ai de 
mim se não pregar o evangelho” (v.16); quer dizer, que um “ai” (maldição) 
o alcançaria no caso de ele deixar de falar sobre Jesus Cristo a todos com 
quem estivesse em contato íntimo. Quando aqueles cristãos do primeiro sé­culo'viam 
alguém sofrer pelo evangelho, a consciência de cada um começava a 
apertá-lo tanto, a ponto de não conseguir ficar calado acerca de Cristo. Não 
se limitavam a falar a respeito dele, mas como Paulo faz questão de frisar no 
v.l4, comunicavam a Palavra de Deus ousadamente e com desassombro. An­tes 
de Paulo ser preso, haviam sido derrotados pelo medo de serem presos 
por promover a causa de outro Rei. Mas a experiência de Paulo na prisão 
não lhes parecia assim tão má. Ele não parecia nada infeliz ou deprimido. 
Uma das principais razões para temermos a prisão é, naturalmente, o medo 
de ficarmos tristes e detestarmos muito o lugar. Paulo, porém, parecia pros­perar 
naquela situação. Avaliava as circunstâncias de um modo tão diferente, 
que os cristãos estavam chegando a conclusão: “É, não deve ser tão ruim 
como eu pensava”. Então se inflamavam com o fogo ardente do amor pelo 
Senhor. Em toda parte, na cidade de Roma ou Éfeso, podia-se encontrar 
cristãos que estavam testemunhando sobre o Senhorio, a Soberania de Jesus 
Cristo, ousadamente e com desassombro. 
Se alguém fosse avaliar os eventos propriamente ditos que cercavam 
o apóstolo, não compreenderia a situação. Mas como Paulo tinha uma ati­tude 
que podemos chamar de positiva, otimista, missionária, isso estimulou 
o surgimento desse tipo de cristianismo, primeiro na casa de César e mais 
tarde através de toda a cidade. 
Paulo Reagiu Diante da Oposição dos Cristãos Positivamente 
Dessa consideração das circunstâncias passadas e presentes de Paulo, 
com a interpretação que ele lhes dava, voltamo-nos a uma apreciação da ati­tude 
de Paulo para com uma igreja dividida. Às vezes, não obstante nosso 
desejo e esforço de evitá-lo, uma igreja pode dividir-se. Lendo os versículos 
15 a 18 podemos observar que havia uma comunidade cristã dividida na ci­dade 
onde Paulo estava preso. Ele escreve: “Alguns efetivamente proclamam 
a Cristo por inveja e porfia”. 
Será possível existir isso? Ali alguns cristãos não estavam pregando a 
Cristo porque o amavam, mas por rivalidade, por inveja de Paulo e daqueles 
que eram a seu favor. Em outras palavras, sua idéia era que pregar o evan­
gelho fazia parte de um jogo político. Provavelmente, irritavam-se com a 
fama e o êxito de Paulo no piogresso do evangelho, e por isso escolhiam ser 
da oposição e considerar a Paulo como rival. Se eram legalistas, certamente 
criticavam o seu evangelho de salvação pela graça. Podemos reconstruir seus 
pensamentos da seguinte forma: “Paulo diz que você deve receber a Jesus 
Cristo sem obras e sem a necessidade de observar a lei, pois a cerimônia e o 
ritual nada significam para ele. Veja o que vai acontecer ao cristianismo se as 
pessoas o seguirem. Cairá por terra por falta de substância, regras e rituais 
definidos”. Essas pessoas não viam nenhum problema em seguir a Cristo. Es­tes 
sim, tinham acertado porque falaram favoravelmente da lei, como pode­mos 
ver em Mateus, mas Paulo parecia ter-se tornado um antinomiano. 
• Podemos então entender porque os adversários estavam transtornados 
com a maneira em que Paulo avançava, mesmo estando na prisão. Podemos 
comparar a situação de Paulo com a de uma pessoa que está contra o gover­no, 
e é colocada na cadeia por isso, mas enquanto ela está lá o seu partido 
cresce. Assim os críticos, os inimigos de Paulo, decidiram fazer uma cam­panha 
contra ele. Ficamos admirados ao ver que o melhor modo que acha­ram 
para diminuir a Paulo ou vencê-lo, foi pregar o evangelho, tentar conver­ter 
mais pessoas do que Paulo convertia. 
O desejo de realizar uma campanha dessa natureza veio da inveja e ri­validade 
ou porfia. Há várias palavras aqui para descrever sua motivação: 
“por discórdia”, “insinceramente” (v.17), “por pretexto” (v.18). Todos os 
motivos que tinham p"ara pregar o evangelho estavam errados, contudo esta­vam 
pregando a Cristo (v. 18). 
E a reação de Paulo, qual devia ser? Muitos pregadores de hoje acon­selhariam 
assim: “Paulo, se eu fosse você, acabaria com essa raça. Colocaria 
uma propaganda de página inteira na Folha de Roma e contaria a todo mun­do 
seus defeitos; faria propaganda de todos os seus pontos negativos; fulano 
e sicrano são hereges, não acreditam no evangelho verdadeiro, pregam a 
Cristo por motivos falsos”. Mas Paulo não seguiu esse caminho de modo al­gum. 
Por que Paulo não os condenou como carnais? Por que não começou a 
pregar contra irmãos tão sem amor, tão críticos, causadores de dissensões? 
Por que não apelou à autoridade suprema de sua apostolicidade? Afinal de 
contas, ele era o “papa” daquela cidade, pelo menos na ocasião, porque era 
o único apóstolo presente ali, ainda que seu trono fosse provavelmente uma 
velha esteira no chão da prisão. Por que não os excomungava a todos de uma 
vez? Entretanto não encontramos esse tipo de espírito em Paulo, por causa 
de sua atitude missionária positiva e encantadora. 
Vamos parar e examinar por um minuto uma das expressões mais 
admiráveis de Filipenses. Paulo, em uma passagem singular, mostTa sua ati­tude 
despreocupada. Uma frase curta revela seu ponto de vista: “Todavia, 
que importa?” (v. 18). “Que importa o que acham de mim contanto que 
Jesus Cristo esteja sendo pregado? Eu sou feliz como um pássaro. Ficaria 
contente em ter todo mundo como rival, se isso incentivasse mais pessoas a
proclamarem a boa nova de Jesus Cristo. Pensam que estão contra mim, mas 
na verdade estão a meu favor. Pensam que vão salgar minhas feridas, mas 
quando a questão é pregar o evangelho, eu não tenho feridas”. Uma atitude 
assim só pode ser demonstrada por um cristão maduro. Quando você não se 
importa com o que as pessoas pensam ou dizem sobre você, quando a opo­sição 
e os insultos delas não o incomodam de maneira nenhuma, você che­gou 
então a um ponto que o Dr. Hans Bürk chama de “integração” num ní­vel 
tal que suas preocupações principais se focalizam em tudo menos em si 
próprio. 
Paulo estava imitando o exemplo de Jesus que demonstrava uma in­tegração 
perfeita ao ser falsamente acusado, insultado e finalmente condena­do 
(cf. 1 Pe 1:18-24). Quando as pessoas eram invejosas, críticas, insinceras, 
buscando “suscitar tribulação” às suas cadeias (v. 17), isso se tornava uma 
oportunidade para o apóstolo mostrar sua “moderação ” (4:5) a todos. Paulo 
sabia alegrar-se voluntária e espontaneamente nas circunstâncias presentes 
(“me regozijo” v. 18b) e ter certeza de que qualquer dificuldade futura não 
haveria de afetar sua alegria em Cristo (“sim, sempre me regozijarei” v. 18). 
E só podia mesmo regozijar-se com o fato de que o nome de Jesus estava 
sendo proclamado e o evangelho apresentado. 
Paulo Encarava o Futuro Positivamente 
Vamos observar agora o modo como Paulo encarava o futuro.Tinha 
muita confiança em relação ao futuro, embora não soubesse se Deus o per­mitiria 
sobreviver à crise presente. No passado, muitas vezes fora colocado 
diante da morte, e em cada uma dessas ocasiões Deus o havia resguardado. 
Mas, neste trecho de Filipenses, ele abriu o coração aos leitores, revelando 
seu pensamento maduro sobre a morte em si. A expressão chave de sua ava­liação 
do futuro encontra-se no v.21: “Porquanto, para mim o viver é Cristo, 
e o morrer é lucro”. Devemos voltar ao cap. 3 onde Paulo apresentou o 
mesmo ponto de vista novamente, num testemunho bastante pessoal que se 
encontra no v.8: “Perdi todas as coisas e as considero como refugo, para 
ganhar a Cristo ”. Quando Paulo olhou seu futuro tão incerto, ele desconhe­cia 
o número de dias ou meses de sua prisão, não sabia que sentença lhe da-riam 
quando seu caso fosse julgado, mas sabia uma coisa: conhecia a Cristo. 
E porque conhecia a Cristo, para ele faria muito pouca diferença o ser solto 
ou decapitado, pois qualquer dos dois caminhos iria manter sua “hipótese 
central”, que era a comunhão contínua com seu amado Senhor. Continuaria 
uma pessoa bem realizada e alegre, acontecesse o que acontecesse, pois é 
assim que se deve enfrentar o futuro. Quando a pessoa tem sua confiança to­tal 
no Deus onipotente, nada de ruim pode sobrevir, porque os eventos e as 
circunstâncias são controlados por Ele. Só haviam duas opções, e qualquer de­las 
que Deus escolhesse para Paulo tinha que ser a melhor.
Vamos fazer agora uma paráfrase do versículo 19: “Regozijo-me — es­tou 
feliz da vida mesmo nessa prisão. Primeiramente sei que suas orações vão 
trazer-me um suprimento do Espírito de Jesus Cristo”. É uma frase difícil, 
esta última. Não sabemos se Paulo queria dizer: “Serei mais cheio do Es­pírito”, 
ou se ele afirma: “O Espírito Santo vai me dar tudo de que necessi­to 
para enfrentar qualquer provação que terei de enfrentar, a fim de que eu 
atravesse sem perder nem um pouco da minha alegria no Senhor”. Além do 
mais, esse “suprimento do Espírito” que viria em resposta às orações dos 
filipenses redundaria em sua “libertação” ou salvação. Paulo não tem certeza 
se será libertado, livrado da morte, mas ele tem certeza de sua salvação (v.6). 
Se ele for solto, será salvação no nível humano. Se for para a glória, será sal­vação 
na dimensão celestial. 
A expressão “minha ardente expectativa ” (v.20), descreve uma pessoa 
que aguarda com a mesma emoção e antecipação de uma criancinha que sa­be 
que vai participar da melhor experiência imaginável, quem sabe um pi­quenique 
ou uma visita ao zoológico. Paulo reconhece que o Espírito es­tá 
operando seu salvamento, acompanhado pela expectativa e esperança do 
apóstolo de que em nada será “envergonhado”. Não que Paulo se enver­gonharia 
de Cristo, mas contemplava a possibilidade de perder sua coragem 
na hora crucial. Poderia dizer algo ou agir de alguma maneira que levasse as 
pessoas a crer que Jesus Cristo não era real. Se ele estivesse no banco dos 
réus durante seu julgamento e o promotor público lhe pedisse seu depoi­mento, 
poderia, por algum motivo, calar-se ou deixar de dar testemunho cla­ro 
e destemido em favor de seu Senhor. Afinal de contas, Pedro negou seu 
Mestre, não só uma vez, mas três vezes. Que vergonha terrível deve ter opri­mido 
o apóstolo veterano quando confessou seu ato covarde a Paulo. Por 
isso, Paulo pede as orações fervorosas de seus amigos de Filipos, para que 
não fique envergonhado quando chegar o momento de tomar posição 
por Cristo, a fim de que o faça da maneira mais perfeita possível. E assim 
continua seu pensamento: “Em nada serei envergonhado; antes, com toda a 
ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu cor­po, 
quer pela vida quer pela morte ” (v. 20). 
O importante é que aqui se ensina como devemos encarar o corpo, 
aquela nossa parte que valorizamos tanto. Sem dúvida alguma, ele é muito im­portante. 
A maior parte do tempo, trabalhamos e lutamos pelo corpo, para 
que ele esteja vestido, alimentado, bem agasalhado debaixo de um teto, 
aquecido, subimos e descemos as ruas da cidade como também pagamos 
bem para transportá-lo aos lugares mais lindos e confortáveis do mundo. 
Não se pode negar que o corpo seja importante. Mas Paulo tinha apreen­dido 
na prisão outra coisa sobre o corpo, que influenciava seu ponto de vis­ta. 
Ele descobrira que o mais importante com relação a seu corpo não era 
nenhuma das coisas que nos preocupam a maior parte do tempo. A grande 
preocupação dele é que seu corpo seja um sacrifício sem mácula, perfeito, 
para Jesus Cristo. Se o seu sangue fosse derramado no altar de mártir e sua
cabeça rolasse no pó, não seria nenhuma tragédia. Antes, sua morte haveria 
de glorificar a Deus de modo maravilhoso. Através da morte e através de 
meu corpo sacrificado, afirma Paulo, Cristo será exaltado. Ora, esta é real­mente 
a coisa mais importante do mundo, que todo corpo seja um sacrifício 
na morte ou na vida (Rm 12:1). 
Mas, e se Deus o deixar viver? Nesse caso, esse corpo terá que viajar 
um pouco mais. O apóstolo tinha muita vontade de ver de novo os filipen­ses. 
Se Deus o levasse nessa direção, uma série de bênçãos viriam a aconte­cer. 
Em primeiro lugar, Paulo aguarda um trabalho frutífero (v.22), que 
nesse caso seria o crescimento espiritual e numérico da igreja em Filipos. 
Paulo precisa de seu corpo lá na Macedônia para que isso se realize. Em se­gundo 
lugar, ele diz: “Poderei dar-lhes mais assistência” (v.24). E em tercei­ro 
lugar, ele tem esperança de estimulá-los no progresso na fé e incrementar 
sua alegria em Cristo. A igreja filipense amava muito a Paulo, então esperava 
ansiosamente que ele viesse visitá-la e lhe pregasse outra vez as maravilhosas 
verdades de Jesus Cristo. 
Mas, e se ele morrer? Será lucro para o apóstolo. Cristo será ganho 
completamente (cf. 3:7,8). Paulo reconhecia que após a morte estaria com 
Cristo. João nos dá a certeza de que seremos como Ele (1 Jo 3:2). Por fim, 
Paulo diz que é bem melhor estar na companhia de Cristo. 
Conclusão 
Nesse pequeno resumo autobiográfico, temos o retrato de um homem 
que tem um ponto de vista cristão integrado sobre a vida e a morte. Já foi 
dito, e é verdade, que quem não tem o ponto de vista certo sobre a morte, 
não terá também o conceito correto sobre a vida. 
E. Stanley Jones nos deixou um exemplo de uma atitude correta para 
com a vida e a morte, quando viajava num avião que sobrevoava o aeroporto 
de Saint Louis nos Estados Unidos. 0 aeroporto estava fechado, e o avião 
dava voltas por duas horas. Temos aqui o que o veterano missionário escre­veu 
quando pensou que estava vivendo os últimos instantes de sua vida: “Es­tou 
em paz espiritualmente, sem tensões, porque creio que a hipótese cen­tral 
de minha vida está correta. A vida é só uma longa verificação desta hi­pótese 
central. Esse fato me dá um senso de estabilidade. Estou aqui em ci­ma, 
neste avião. Há duas horas o avião dá voltas acima destas nuvens. Se não 
aterrisarmos com segurança, gostaria de deixar meu último testamento para 
meus amigos e companheiros seguidores de Cristo. Ei-lo: Existe paz, a per­feita 
paz, independente de minha fidelidade ao Soberano. Não tenho pesares 
ou remorsos sobre o curso geral de minha vida. A vida com Cristo é a manei­ra 
de viver. Nesta hora, há segurança, há Deus por fundamento, debaixo de 
todas as incertezas da existência humana. Portanto, descanso em Deus. Que 
ele dê o melhor para todos vocês. Vivendo ou morrendo, eu sou dele, só dele.
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As bases da nossa segurança

  • 1.
  • 2.
  • 4.
  • 5. RUSSELL P. SHEDD SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA
  • 6. Copyright © 1984 — Russell P. Shedd Primeira Edição: 1984 Impresso nas oficinas da Associação Religiosa Imprensa da Fé C . P. 18918 São Paulo - Brasil C.G.C. 62.202.S28/0001-09 Todos os direitos reservados pela SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA Caixa Postal 21486 — São Paulo SP 04698 BRASIL
  • 7. PREFÁCIO Duas notas são dominantes na espístola aos Filipenses: a alegria em todas as circunstâncias - quer agradáveis, que desa­gradáveis - e a união da igreja, baseada num comportamento semelhante ao do Senhor Jesus - que assumiu a forma de servo . . . Essas duas notas são extremamente necessárias em nossas igrejas na atualidade. Com a crise que enfrentamos, em todas as áreas da vida do país, é muito fácil perdermos a alegria e ganharmos ansiedade, temor, frustração. Por outro lado, a fragmentação das igrejas evangélicas, por diversas razões - morais, doutrinárias, políticas - é um fato crescente e preocupante. Nestas pregações, agora em forma escrita, o Dr. Shedd apresenta com clareza e simplicidade a mensagem de Paulo aos filipenses, de forma que nós, brasileiros, também possamos enten­dê- la e aplicá-la às nossas vidas e igrejas. Muitos são os desafios que esta espístola coloca diante do povo de Deus, interessado em cumprir a Sua vontade, e esses desafios são tornados claros nesta exposição da carta. Alegria, humildade, comunhão, firmeza doutrinária, esforço missionário - são temas apresentados pelo autor de maneira atraente e desafiadora, procurando recuperar o mesmo espírito que movia Paulo e as igrejas do primeiro século. Que o leitor destas mensagens possa, pelo poder do Espírito Santo, colocar em ação os aspectos do Cristianismo nelas expostos. Júlio Paulo T. Zabatiero
  • 8.
  • 9. CONTEÚDO PREFÁCIO................................................................................................. 5 AS BASES DA NOSSA SEGURANÇA .................................................. 9 UMA ORAÇÃO MODELO....................................................................... 21 A FILOSOFIA DE VIDA DO CRISTÃO ................................................ 31 OS CIDADÃOS DO CÉU EM COMUNIDADE........................... 42 O CENTRO DA HISTÓRIA.................................................................... 53 DESENVOLVENDO A SALVAÇÃO.................................................... 63 HOMENS DE D EU S................................................................................. 73 PERDENDO PARA GANHAR............................................................... 80 A AMBIÇÃO DE PAULO . ............................................................... 89 O CORPO........................................................................................... .. 96 O CONTENTAMENTO........................................................................ 104 O DEUS DA PAZ SERÃ CONVOSCO................. .. ................ 112 A NECESSIDADE E O SUPRIMENTO.................................................. 121 n o ta s ................................................................................................ 128
  • 10.
  • 11. AS BASES DA NOSSA SEGURANÇA Filipenses 1:1-8 Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos, que vivem em Filipos: 2 — Graça e paz a vós outros da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. 3 — Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós, 4 - fazendo sempre, com alegria, sú­plicas por todos vós, em todas as minhas orações, 5 - pela vossa cooperação no evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6 - Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus. 7 - Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e con­firmação do evangelho, pois todos sois participantes da graça comigo. 8 — Pois minha testemunha é Deus, da saudade que tenho de todos vós, na terna misericórdia de Cristo Jesus. Creio que o leitor logo vai perceber que os quatro capítulos que for­mam o livro de Filipenses me são muito caros, contando-se entre aquelas por­ções bíblicas pelas quais tenho maior predileção. Nunca estive na prisão, nunca fui acorrentado, e por isso não sei como reagiria se tivesse que enfrentar essa si­tuação. Mas Paulo conseguiu escrever cinco de suas cartas quando estava preso, uma delas sendo à igreja de Filipos, na Macedônia, norte da Grécia. Vamos começar o nosso estudo examinando só os oito primeiros versí­culos desta porção tão conhecida da Palavra de Deus. Oração: Pai, pedimos-Te agora, pelo Espírito Santo, que sintonizes nossos corações à música verdadeiramente celestial; e que retires as barreiras que nos impedem de ouvir Tua voz, e nos atrapalham a obedecer. Em nome de Jesus. Amém. Introdução Os estudiosos, eruditos, peritos da matéria, são uma classe desafiante porque entendem de tudo que se pode saber sobre sua área de estudo. Apesar da perícia, entretanto, existem assuntos nos quais reinam dúvidas em lugar de dogmatismo. Há ocasiões em que os entendidos caminham na corda bamba entre duas posições, simplesmente porque não há provas suficientes para se decidirem pela certa. Por este motivo, ainda ficam indecisos quanto ao lugar onde Paulo estava quando escreveu sua carta aos Filipenses. O pon­to de vista tradicional é que se encontrava em Roma, assim como quando compôs as cartas aos Colossenses, aos Efésios e a Filemon. Mais recentemen­te, porém, eruditos britânicos e alemães, como George Duncan e Michaelis, descobriram certos sinais indicando que possivelmente Paulo não estava na capital do Império.
  • 12. Um dos motivos que tradicionalmente têm levado os intérpretes a pensarem que Paulo se achava em Roma é sua menção à guarda pretoriana em Fp 1:13. Ali ele fala “de toda a guarda pretoriana e de todos os demais”. No fim do capítulo 4, refere-se aos “da casa de César”. Mas descobertas ar­queológicas recentes indicam que isso não é uma prova decisiva, já que havia guardas pretorianas além de Roma. Esta guarda era uma tropa de elite de cerca de 9.000 guardas imperiais: os soldados mais dignos de confiança de todos os que o imperador possuía. Eram cuidadosamente treinados e selecio­nados para defender o imperador contra qualquer golpe do estado. Além de serem uma força de segurança, também cuidavam dos prisioneiros que eram cidadãos romanos, e que tinham apelado para César com a finalidade de conseguirem justiça, tal como Paulo havia feito. Visto que a maioria da guarda pretoriana servia em Roma, era natural pensar que Paulo estivesse na capital quando escreveu Filipenses. Mas há algumas objeções à teoria dessa carta ter sido escrita em Roma. A dificuldade mais séria é que, num período relativamente curto, quatro ou cinco viagens devem ter sido realizadas entre o escritor e os leitores. Alguém informou aos filipenses que Paulo estava na prisão. A oferta que Epafrodito trouxe (leremos a respeito no capítulo 2) exigiu outra viagem. A notícia de que Epafrodito tinha ficado doente, e o conhecimento que Paulo tivera de que os filipenses lamentavam profundamente a doença de Epafrodito, exigi­ram ainda que outras duas viagens (ver 2:19-30). São muitas idas e voltas en­tre as cidades de Roma e Filipos, consumindo talvez 7 ou 8 semanas cada uma. Se Paulo não estava em Roma, então a melhor alternativa para o lugar de composição seria a cidade de Éfeso, onde o apóstolo exerceu ministério entre os anos 54 e 56 A.D.. Essa tese ganha força quando examinamos ou­tras cartas de Paulo compostas na mesma época, ou seja, 1 e 2 Coríntios e Romanos: o modo de falar do autor em Filipenses é mais próximo ao lingua­jar dessas três cartas, do que ao de Efésios, Colossenses e Filemon. Observe­mos também que algumas das referências, por exemplo, aquelas feitas aos “maus obreiros” , “falsa circuncisão” e cães (3:2), fazem lembrar as cartas aos Coríntios. Outro problema determinante da situação em Filipos é o da falta de união (e recorde-se que esta foi a principal razão de Paulo ter escrito 1 Coríntios). É bem provável que Filipos e Corinto fossem objetos de preo­cupação de Paulo durante os dois anos e meio em que ele trabalhou em Éfeso (para conhecer a situação, leia At 20:18-35). O problema que se levanta contra essa tese de que a carta aos Filipen­ses foi escrita em Éfeso é que não temos conhecimento, pela leitura de Atos, de que Paulo tenha sido preso ali em alguma ocasião. Em 2 Co 11:23 há uma breve referência ao fato de ele ter estado em prisão mais de uma vez, e isso oferece uma base para a possibilidade de sua liberdade ter sido tolhida em Éfeso. Há outros motivos, entretanto, que me levam a pensar que Filipenses
  • 13. fica melhor no quadro da vida e do ministério de Paulo em Éfeso, do que em Roma seis ou sete anos mais tarde. Em 1 Co 15, o capítulo da ressurreição, uma parte do argumento de Paulo em favor da ressurreição é que ela explica porque o apóstolo devia passar por todo o sofrimento que vinha provando. Vejamos 1 Co 15:30-31: ”E porque nós também nos expomos a perigos a toda hora? Dia após dia morro!”. Isto indica que ele estava sendo ameaçado continuamente. No v. 32, Paulo diz: “lutei em Éfeso com feras”. Sabemos que Paulo não poderia ter lutado literalmente com animais selvagens. Não se permitia que um cidadão romano fosse lançado na arena. Paulo se referia a inimigos tão ferozes que se assemelhavam a leões soltos na arena, e que a qualquer momento poderiam matá-lo. O primeiro capítulo de Filipenses apresenta Paulo enfrentando esse ti­po de situação. Além do mais, Paulo escreveu 2 Coríntios menos de seis meses depois de haver escapado de Éfeso, de onde escrevera 1 Coríntios. Na Macedônia, a poucos dias de viagem de Éfeso, ele se encontrou com Tito, que lhe trazia boas notícias de Corinto. Escrevendo aos Coríntios, na segun­da carta, Paulo diz: “Irmãos, queremos que saibam das dificuldades que tive­mos na Ásia (Éfeso). O sofrimento que suportamos foi tão grande e tão duro que já não tínhamos esperança de escapar de lá com vida. Nós nos sentíamos como condenados à morte. Mas isto aconteceu para nos ensinar a confiar não em nós mesmos, e sim em Deus, que ressuscita os mortos. Ele nos sal­vou e nos salvará desses terríveis perigos de morte” (2 Co 1:8-10 — Novo Testamento na Linguagem de Hoje). Filipenses também revela que Paulo achava que tanto poderia ser mor­to como libertado da prisão. (Fp. 2:23). Contudo, ele está muito confiante de que, por causa das orações dos cristãos filipenses, será solto. É possível que Paulo esteja se referindo à mesma ameaça em 2 Co 1 e Fp 1. Se for assim, então devemos concluir que está escrevendo de Éfeso aos filipenses. Filipos era uma colônia romana e então os membros da igreja eram ci­dadãos romanos. Por não haver muitas colônias romanas, os naturais de Fili­pos eram cidadãos altamente privilegiados de Roma. A cidade foi conquista­da primeiramente por Filipe da Macedônia, pai de Alexandre,o Grande, em 360 A.C., recebendo o seu nome. Foi ali em Filipos que Otávio, o mesmo que seria mais tarde o grande imperador Augusto (que estabeleceu a Pax Romana), venceu a batalha de Actium. Numa planície perto da cidade, Augusto derrotou seus rivais, Antônio e Cleópatra, no ano de 42 A.C.. Por causa daquela vitória muito importante para a conquista da coroa, Augusto deu aos seus valorosos soldados tanto terras como posição, elevando a cida­de à condição de colônia romana. Isso explica por que havia tão poucos ju­deus em Filipos. Se houvesse judeus no exército de Augusto, seriam tão pou­cos que não haveria número suficiente para fundar uma sinagoga. Quando Paulo iniciou uma igreja em Filipos, fez seus primeiros con­tatos num “lugar de oração”, perto de um ribeirão. Há uns anos atrás, tive o privilégio de visitar Filipos (que agora é uma ruína) e fiquei emocionado ao
  • 14. conhecer o lugar onde Paulo e Lídia se encontraram, junto com outros ju­deus, para adorar ao Senhor. Os filipenses eram cidadãos de Roma, e por isso Paulo empregou duas vezes no original o termo “cidadão” (1:27; 3 :20), palavra que não aparece em nenhum lugar em suas epístolas. Na primeira passagem escreveu: “que sua maneira de vida (literalmente, sua cidadania) seja digna do evangelho de Cristo” (1:27), assim como a conduta dos ci­dadãos de Filipos devia ser digna de verdadeiros romanos. Em todos os sen­tidos, os cidadãos daquela colônia eram iguais aos cidadãos da própria Roma. Gozavam dos mesmos privilégios, bem como da autoridade e pro­teção que a cidade de Roma estendia aos cidadãos da urbe. Naturalmente, sentiam bastante orgulho desse status. Analogicamente, Paulo apelava aos leitores como “cidadãos do céu ”, no capítulo 3: “Nossa cidadania está nos céus”, de onde aguardamos, não o imperador que vem visitar nossa cidade, mas “o Salvador, o Senhor Jesus Cristo”, que nos transformará em Sua semelhança. Consideremos, por um momento, o quadro de origem desses cidadãos dos céus. A igreja se compunha de uma variedade incomum de pessoas. Or­ganizadores de igrejas não recomendam que se inicie um trabalho com pessoas como as que formavam a congregação embriônica de Filipos. Primei­ramente, aquela igreja começou com uma mulher. As igrejas que eu já ajudei a iniciar dependeram de homens, mas a igreja em Filipos foi fundada em aproximadamente 50 A.D., com Lídia, uma mulher de negócios. Mais tarde, haveria duas mulheres brigando naquela mesma igreja (4:2, 3). É claro que há quem diga que a raiz de tal desentendimento está no modo como se ini­ciou a igreja. Lídia de Tiatira, na Ásia, era comerciante, (At 16:14). Vendia um corante vermelho, caro, que era produzido em Tiatira, onde uma das se­te igrejas da Ásia foi organizada (Ap 2:18-29). Depois que ela se converteu naquela reunião de oração junto ao riacho que passava na periferia da cida­de, convidou a Paulo e seus companheiros, Silas e Timóteo, para virem à sua casa a fim de terem onde se hospedar, e para continuar seu ministério. O outro membro fundador foi uma jovem escrava, que tinha sido possuída por demônios. Paulo expeliu dela os demônios, suscitando a ira dos donos, que dela se utilizavam para tirar lucros financeiros através de feiti­çaria e profecias sobre o futuro (leia At 16:16-23). Suponho que ela se tenha tomado cristã, membro ativo da igreja. Paulo e Silas foram açoitados e jogados na cadeia por terem feito este ato de misericórdia. Naquela mesma noite, por causa de um terremoto divi­namente marcado para aquela hora, o carcereiro se assustou o suficiente pa­ra pedir aos missionários que lhe mostrassem a maneira de ser salvo, em vez de suicidar-se (At 16:27-34). Assim ele se converteu, juntamente com sua fa­mília. Portanto, um carcereiro, uma escrava, e uma comerciante foram es­colhidos por Deus para formarem o núcleo da igreja em Filipos. Não temos notícia de quem mais entrou para o rol. Sabemos que hou­ve um certo Clemente, e um homem cujo nome pode ter sido Sízigue
  • 15. (“companheiro de jugo” 4:2, 3), bem como as senhoras que não falavam, mas que tinham ajudado a Paulo. Seus nomes eram Evódia e Síntique. Esse grupo nada promissor de crentes formou a pequena igreja. Mas não podemos esquecer que esta foi uma das igrejas prediletas de Paulo. O apóstolo não tinha a preocupação de ver se eram as pessoas importantes da cidade que se convertiam, como foi em Tessalônica (At 17:14), ou se Deus chamava a Si aqueles que menos se esperava ver na igreja. “Deus escolheu as coisas humil­des do mundo, e as desprezadas e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são ” (1 Co 1:28). Deus se alegra em formar sua igreja de todas as cama­das da sociedade, unindo os membros ao corpo. Ora, por que será que esta igreja era uma das preferidas de Paulo? Um ponto positivo foi o modo em que Deus a iniciou. Acho que qualquer pessoa que passasse por um lugar onde começasse apanhando e depois visse a mão poderosa de Deus quebrando o prédio com um terremoto, e as portas se abrindo de vez, seria levado a concluir que Deus tem uma preocupação mui­to especial por aquela cidade e seus habitantes. A seqüência dos eventos, e a maneira em que o mal cooperou para o bem, devem ter dado a Paulo a cer­teza de que esta igreja iria ser uma expressão significante da graça de Deus. Outra razão pela qual Paulo tinha uma consideração toda especial por esta igreja foi o amor dos crentes de Filipos para com ele. Até então, era a única igreja que se preocupou com o apóstolo a ponto de mandar auxilio financeiro. Paulo dependia dos donativos, além daquilo que podia ganhar com o trabalho. Ao ler o cap. 4, vemos que havia ocasiões em que Paulo es­tava pobre de recursos materiais, quando não tinha mais que uma moeda no bolso (se é que tinha...). O apóstolo ficava comovido ao ver que esta igreja lhe queria bem o suficiente para associar-se materialmente na sua tribulação. Sentia-se muito agradecido. Teriam mandado mais, se houvesse outras opor­tunidades. Isto sugere que a igreja realmente amava a Paulo. Naqueles dias, não era fácil enviar dinheiro, visto que era preciso mandar alguém junto e havia sempre a possibilidade de essa pessoa sofrer a mesma sorte do homem que caiu nas mãos de salteadores, como na parábola do Bom Samaritano. Epafrodito era um homem especial. Ele não se importou em arrriscar a sua vida para sair de casa a fim de ser portador dos filipenses, e assim suprir a necessidade de Paulo (Fp 2:25). Esta carta aos filipenses foi escrita, em par­te, a fim de expressar a gratidão profunda que Paulo sentia para com a igreja que tanto se preocupava com seu ministério. A Saudação (1:1) Agora, vejamos de perto o que Paulo tinha a dizer para esta igreja. É bem diferente do que imaginamos. Em vez de dizer: “São Paulo e São Ti­móteo, aos servos do Senhor em Filipos, com os bispos e diáconos”, ele es­creve o oposto. Nosso texto diz: “escravo Paulo e escravo Timóteo, escravos
  • 16. de Jesus Cristo, aos santos de Cristo Jesus que moram em Filipos”. Parece estar invertido, não é mesmo? Dr. Harry Ironside, o famoso pastor da igreja de Moody em Chicago, contou de uma viagem de trem de três dias que havia feito em certa ocasião, do litoral do Pacífico até Chicago. Havia duas freiras católicas no seu vagão, e ele, então, quis divertir-se um pouco às suas custas. Depois de ter travado conhecimento com elas, perguntou-lhes: “Já viram um santo?”. Elas respon­deram que nunca tinham visto, pensavam que seria maravilhoso ver um san­to de verdade. “Eu gostaria que vocês conhecessem um santo”, ele disse. Ficaram entusiasmadas! Onde, como poderiam conhecer esse santo? Estaria viajando num caixão de ouro, ou seria visto descendo do céu? (Segundo o pensamento popular católico-romano, os santos têm que morrer primeiro.) Dr. Ironside disse: “Eu sou Santo Harry” . Conheceram Santo Harry, mas isso pouco as impressionou. Não sei se foi exatamente bíblico, chamar-se de santo. É verdade que a igreja de Filipos era composta de santos, mas não sei se havia ali alguém que fosse mesmo um santo. Existe uma diferença. No Novo Testamento, Paulo nunca é chamado de São Paulo. E a Bíblia sempre usa “santos” no plural quando se refere a pessoas. A razão disso, acredito, é que o plural “santos”, “pessoas santas”, comunica o conceito do Corpo de Cristo, que é a Igreja santa (universal ou local) de Jesus Cristo: todos que estão na igreja, ou “em Cristo”, compartilham de Sua santidade e tomam-se, portanto, pessoas santas. É isso que significa a palavra “santo”. Por outro lado, nenhuma pessoa desse mundo é individualmente um santo, no sentido de ser santo e perfeito, tal como Deus o é. Nós temos o mandamento para sermos santos (1 Pe 1:16), mas nenhum ser humano é realmente santo. Nós somos todos pecadores regenerados. E a ordem que re­cebemos é de mantermos a santidade como meta do nosso viver e mover-nos nesta direção (Hb 12:14). Jesus mandou “sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5:48). Por este motivo, creio que Paulo não se sentisse bem com o título “São Paulo”. Não há dúvida de que ele fazia parte da igreja de Jesus Cristo, que é a igreja “dos santos do Altíssimo” (Dn 7:18 e seg.). O termo do Velho Testamento. Em Ex. 19:6, o povo de Israel, ao qual Deus tinha escolhido, também foi chamado de nação santa, apesar dos seus muitos fracassos em praticar a santidade. O título se refere antes ao relacio­namento da aliança pela qual Deus ligou Israel a si. Aqui em Filipenses, os santos são assim chamados por causa de seu re­lacionamento com Deus, e porque estão “em” Jesus Cristo. Em contraste com isto, Paulo e Timóteo são apenas escravos, um termo bastante apro­priado para descrever um cristão. Um cristão é um escravo. Ora, o que faz um cristão ser um escravo? Antigamente, havia quatro maneiras pelas quais uma pessoa podia tor­nar- se escrava: (1) Podia-se ser escravo por nascer na família de escravos. Se os pais eram escravos, a pessoa automaticamente era escrava, e nada se podia
  • 17. fazer para evitar que isso acontecesse. (2) Podia-se ser escravo por conquis­tas. Quando o exército romano conquistava novas terras, o povo derrotado automaticamente se tornava escravo. Aqueles que não eram mortos ficavam sendo propriedades do estado romano e dos seus cidadãos. Foi assim que o Império Romano obteve mais de 50% de sua população composta de escra­vos durante o primeiro século quando Paulo estava escrevendo. (3) Podia-se ser escravo por compra em leilões de escravos como os que se tornaram conhecidos nos seriados da TV. Um escravo que era comprado e depois liberto era um escravo “redimido”. (4) Podia-se ser escravo por livre escolha. Se um senhor concordasse, um homem que tinha esperança de receber alimen­to, proteção e bons tratos, entregàva-se voluntariamente a ele para ser seu escravo. Como Paulo e Timóteo tornaram-se escravos de Jesus Cristo? Por com­pra. 1 Co 6:20 esclarece que todos os cristãos foram comprados por preço. Se você realmente conhece a Deus, então você é escravo dele — não porque você quis sê-lo, nem porque nasceu na escravidão, ou foi tomado na batalha, mas sim porque você foi redimido por Seu sangue precioso (Ef. 1:7). Sim, você foi comprado do seu antigo dono, que era “o pecado”. Outrora, diz Rm 6:17, você foi escravo do pecado. Mas agora que foi comprado por Jesus Cristo mediante um preço elevadíssimo, glorifique a Deus em seu cor­po. Seja um escravo genuíno de Cristo Jesus, porque ele o comprou, com­prou- nos todos. Não comprou apenas a sua mente, ou sua alma, só para le­vá- lo ao céu numa data futura incerta. Comprou-o e fez de você Seu escravo aqui na terra, para que cada um de nós possa servi-Lo na plena extensão da vida terrena e do potencial que tem. Como os filipenses se tomaram santos? Se um escravo cristão entra nesta condição por ser comprado pelo preço da morte de Cristo na cruz, os santos se tornam santos sendo colocados “em Cristo Jesus”. O conceito é um pouco difícil de se compreender. Não entendemos como uma pessoa pode estar “em” uma Pessoa como Cristo Jesus. Será que você fica “em Cristo” assim como nós estamos imersos ou dentro da atmosfera da Terra? Visto que todos respiramos o ar, nós estamos dentro da atmosfera e o ar es­tá em nós. Um estudante da Bíblia procurou comunicar a idéia espiritual de estar em Cristo, e Ele em nós, dessa maneira. Estar em Cristo, para ele, era algo impessoal? Não creio que tenha sido esta a idéia de Paulo, de modo nenhum. Qual seria então o significado dessa expressão que aparece mais de 100 vezes nas Epístolas Paulinas? Talvez devamos captar esta realidade de estar “em Cristo”, dentro dos moldes do pensamento hebreu. Estar em uma pessoa, segundo a mente he­braica, é estar tão intimamente ligado a ela que tudo que se refere a ela, e tudo que se refere a você, submete-se ao pleno controle dela. Visto que to­dos estão em Adão (1 Co 15:22), a natureza adâmica caracteriza o homem que é totalmente dominado por ela. Essa existência “em Adão” explica a corrupção do homem tanto no sentido moral, como no sentido físico
  • 18. (1 Co 15:22, 45). É inútil você tentar sair disso, a não ser que se converta e conheça a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Mas quando você se transfere de Adão, deixando a personalidade, a natureza e o controle dele para trás, e se coloca em Jesus Cristo, então é Ele que vai afetar sua nova vida. O sinal e símbolo dessa transferência é o batismo. Quando você confia em Jesus Cristo como seu Salvador, e o recebe como seu Senhor, você então já está comprado, torna-se membro de Sua família, do Seu Corpo, e se entre­ga livremente ao Seu controle. Portanto, se você está completamente rendi­do a Jesus Cristo, então está “em Cristo”.. Observemos que estes cristãos estão “em” Cristo Jesus e vivem “em” Filipos. O primeiro “em” indica um posicionamento; o segundo, um lugar geográfico. São diferentes. É estar “em” Jesus Cristo que os torna santos. Você não é santo, como já vimos, quando é melhor do que os outros. Você deve mesmo ser melhor do que os outros, e ter personalidade santa, admirá­vel, se o Senhor perfeito está exercendo um controle efetivo sobre sua vida. Mas você não passa a ser santo por se tornar uma pessoa melhor. Só será san­to entrando para o Corpo do Santo Filho de Deus, pela fé pessoal, mediante a qual Ele o regenera. Toma-se santo porque é santificado, consagrado, sepa­rado pelo Espírito Santo em união com Cristo (1 Co 12:12, 13). Sendo assim, os santos de Filipos, e os escravos de Deus em Roma ou Éfeso, estão se comunicando através de sua participação no mesmo Senhor ressurreto. Os bispos e diáconos são mencionados especificamente por Paulo, como receptores desta carta. “Bispos” significa simplesmente supervisores. No primeiro século eles eram supervisores da igreja assim como hoje há su­pervisores numa fábrica, para verificar se tudo está em bom andamento. Só que esses “bispos” (episkopoi) eram supervisores de pessoas. A palavra “diá­conos”, por sua vez, significa servos, trabalhadores. Os bispos eram líderes que desempenhavam o ministério pastoral do ensino, organização e discipli­na eclesiástica. Os diáconos serviam à igreja como assistentes dos pastores-bispos, e como evangelistas (cf. At 20:17, 28). A igreja no período neo-testamentário não era uma igreja a não ser que já tivesse os líderes nomeados. Igreja é mais do que um estudo bíblico, onde todos discutem uma determinada passagem das Escrituras. Esse grupo de estudo não é igreja, assim como amigos que se reúnem num dia marcado para divertir-se e conversar não constituem uma família. Um grupo de estu­do informal não possui a liderança divinamente instituída nem a responsabi­lidade, como também lhe faltam as ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor. Contudo, os títulos que os líderes da igreja devem ter, bem como o número deles em cada comunidade, não ficam claramente estipulados no Novo Testamento. Na verdade, os termos “bispo”, “pastor” e “presbítero” são usados alternadamente nos textos. Dão ênfase aos diversos aspectos do ministério, qualquer que seja o título recebido por esses líderes eclesiásticos.
  • 19. A Segurança de Paulo (1:2-8) Vejamos o que esta passagem diz sobre a segurança. Que certeza você tem hoje de que irá para o céu quando Jesus Cristo voltar, ou quando você morrer (se isso acontecer antes da segunda vinda)? Paulo nos apresenta as bases de uma perfeita confiança a respeito de nosso destino eterno. Existem cinco razões a garantir que, se você se conver­teu e conhece a Jesus Cristo, você irá para o céu: 1. Graça. Em primeiro lugar, está & graça. O v.2 diz “Graça e paz a vo­cês da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo”. Se você não rece­beu a graça de Deus, e se você não tem a paz dele em seu coração, é simples­mente impossível ter a segurança de que Paulo fala. Graça e paz vêm pri­meiro, não só como saudação, mas como alicerce. 2. Obra de Deus. Vejamos o v.6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em você há de completá-la até ao dia de Cris­to Jesus”. Esta é a segunda garantia de que você é salvo: a obra de Deus. Se o Senhor começou boa obra em você, então agora Ele está trabalhando e com­pletando- a eficientemente (ver 2:13). C.S. Lewis, no seu livro Surprised by Joy (Surpreendido pela Alegria), descreve vivamente sua conversão. Em certa noite de 1929, ele era o conver­tido mais relutante, mais infeliz e abatido de toda Inglaterra. Sua situação era pior que a do filho pródigo, pois este caminhou espontaneamente de vol­ta para o lar, ao contrário de Lewis que entrou na casa depois de muita resis­tência, dando socos e pontapés no pai. E então mais tarde, Lewis escreve pa­ra um amigo da América que ainda não era cristão: “Suponho que o Espírito Santo o tenha apanhado e que você já esteja preso na sua rede. Não adianta relutar mais. Deus começou um trabalho em você”. Sim, e em você, leitor, Deus já começou uma obra? Você reconhece o poder com o qual Ele o está chamando, não só para a comunhão, não só tornando agradável a participa­ção nos cultos da igreja, mas principalmente atraindo-o para Si? Ele deseja realizar aquela obra da graça no seu coração. Se Deus já começou a operar em você, cuidado, pois é muito difícil escapar de Seus braços insistentes e amorosos (cf. Hb 12:4-11). 3. Amor Fraternal. Há uma terceira base para a grande esperança que Paulo tem referente à igreja: o fato de ele se encontrar num relacionamento especial com a igreja filipense. O apóstolo expressou em oração a gratidão que sentia por esse amor mútuo: “Dou graças ao meu Deus por tudo que re­cordo de vocês” (v. 3). Paulo possuía uma mente aberta ao Espírito Santo. Em vez de estar à televisão e aos jornais de cada dia, ou à revista Veja, ou ainda a todo o tra­balho que ele estava fazendo, sua mente estava continuamente recebendo alertas do Espírito Santo. Ele era capaz de reconhecer imediatamente qual­quer coisa que viesse à sua mente por iniciativa do Espírito. E uma das coisas que Deus trazia à sua mente na prisão era a igreja de Filipos. Então
  • 20. Paulo concluía que aqueles crentes deviam ser filhos de Deus, porque senão nunca teria se lembrado deles com tanto ímpeto ou freqüência. Continua­mente, Paulo confessa “eu penso em vocês e oro por vocês” (v.4). Seus pe­didos eram oferecidos a Deus com alegria, porque a igreja naquela cidade lhe fazia feliz, era sua “coroa de regozijo” (4:1 em uma tradução). 4. Cooperação. Paulo não só ora por seus filhos no evangelho, como também agradece a Deus a cooperação deles neste evangelho (v.5). A palavra “cooperação” representa a koinonia do grego, que significa comunhão ou participação. O apóstolo se refere aqui ao auxílio financeiro que a igreja lhe enviou pelas mão de Epafrodito (2:25). Este compartilhar de coisas materi­ais com Paulo, mostrava que os filipenses estavam cooperando na propa­gação do evangelho, que faziam isso “desde o primeiro dia até agora”. Sabemos que é preciso ser salvo pelo evangelho. Entretanto, se você assumiu algum compromisso com o evangelho sem ainda ter sido salvo, isto é, você acreditou, mas não se entregou inteiramente a Jesus Cristo, sua ati­tude vai denunciar isso. Algumas pessoas crêem no evangelho somente em conseqüência de terem nascido em lares cristãos, mas não têm um compro­misso do coração com o evangelho, porque nunca nasceram realmente do Espírito Santo de Deus. O principal problema de tal pessoa, provavelmente, será a dificuldade de viver o evangelho em sua vida! Como ela está na igreja, espera-se que faça o que os filipenses estavam fazendo, que era contribuir (ver também 2 Co 8:1-5). Mas ela detesta dar dinheiro. O pior detalhe da igreja com o qual ela precisa conviver, é a pressão que sente sobre si para que dê sacrificialmente, com um coração cheio de amor. Mas esse não era o caso dos filipenses. Sua cooperação no evangelho não era apenas uma koinonia de fé, e oração pela missão de Paulo; era uma cooperação prática, na qual tinham prazer em dar. É difícil uma prova maior da operação do Espírito de Deus no coração, do que o desejo de contribuir para suprir as necessidades daqueles a quem Deus ama. É somente o poder sobrenatural de Deus que pode ajudá-lo a compreender que é mais aben­çoado dar do que receber (At 20:35). Este, portanto, é o quarto sinal da obra redentora do Espírito nas vidas dos filipenses. 5. Intercessão do Pastor a favor dos crentes. No versículo 7, Paulo aponta mais uma razão da segurança que ele tem nos crentes a quem está es­crevendo: “Aliás, é justo que eu assim pense de todos vós, porque vos trago no coração, seja nas minhas algemas, seja na defesa e confirmação do evan­gelho, pois todos sois participantes da graça comigo”. Não só o Espírito os traz sempre à memória (v.3), não só eles começaram a dar ofertas provando que são realmente convertidos, mas também eles têm no coração de Paulo um lugar especial que só os verdadeiros irmãos e irmãs em Jesus Cristo po­dem ter. O apóstolo acrescenta: “Não só vocês se uniram a mim na minha prisão e na defesa e confirmação do evangelho, como também Deus é minha testemunha da saudade que tenho de vocês todos”. Esta última frase nos faz lembrar o carinho que as mães têm pelos seus bebês. Se separarmos uma mãe
  • 21. de sua criancinha, ela sentirá muitas “saudades” . A palavra descreve os sen­timentos de Paulo para com esta igreja. É difícil para um pastor nutrir por sua igreja um sentimento tio pro­fundo a ponto de poder assegurar que todos os membros são salvos, são san­tos de verdade e não apenas de aparência. Mas é possível ver alguns indícios: a alegria com que participam nos cultos da igreja, a cooperação no evangelho através de suas ofertas. Vê-se a prova do esforço unido em oração, e o resul­tado é o pastor lembrar-se de todos continuamente. Olhe para seu próprio coração. Deus já começou Sua boa obra em vo­cê? Você nota que Ele já o está lapidando, polindo e trabalhando todos os dias? Se está, então pode tomar para si o que Paulo disse: “Estou plenamen­te certo de que Deus, que começou boa obra em mim, há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”. O maior desejo de Deus é ter santos no céu que se­jam semelhantes ao Seu próprio Filho. Rm 8:29 nos garante que haverá milhões de cópias de Jesus Cristo, moldadas segundo Sua imagem e semelhança. O Senhor está trabalhando na vida dos crentes, cada um deles com personalidades, pontos de vista, expe­riências, raízes sócio-culturais e racionais diferentes, afim de transformar ma­ravilhosamente todos os seus filhos, de modo que sejam semelhantes a Jesus Cristo. Assim será a população do céu: formada por cidadãos que Deus co­meçou a moldar nas experiências que resultaram em conversão, e continua a modelar constantemente ao longo da vida cristã, para que tomem o formato da perfeição de Jesus. Conclusão Pense em um homem como John Newton, que viveu há anos atrás, no século 18. Começou a vida num lar cristão onde viveu por uns seis anos. Ficou órfão e então foi criado por uma família não-crente, em que o evan­gelho e o Cristianismo eram ridicularizados. Como nessa casa ele era perse­guido, fugiu para o taar, porque o pai tinha sido marinheiro na Marinha Bri­tânica por algum tempo. Alguma coisa não deu certo, e ele fugiu novamente, escolhendo a África como um bom lugar para esconder-se. Tornou-se sócio de um português, traficante de escravos. A esta altura ele estava longe, bem longe de Deus. A péssima vida que levava colocou-o em algumas situações horríveis. Chegou até ao ponto de ser obrigado pela esposa do traficante a comer no chão. Foi até mesmo forçado a ser um escravo, mas fugiu para o litoral, onde deu sinais a um navio que passava, e que o acolheu por compaixão. Quando estava a bordo, o capitão descobriu que ele entendia de navegação e puseram-no como imediato do navio. Para mostrar como Newton era irresponsável, devo acrescentar que ele roubou o estoque de rum, distribuiu-o a todos os companheiros e, na bebe­
  • 22. deira, caiu no mar. Um marinheiro o apanhou com o arpão e o puxou para o convés. Daquela arpoada ele ficou com uma cicatriz do tamanho de um punho, mas ainda não sentiu Deus operando em sua vida. Porém, naquela mesma viagem, quando se aproximavam da costa da Escócia, uma tempesta­de violenta apanhou o navio. Ele teve que manejar as bombas junto com os marinheiros, para evitar o naufrágio. Trabalhando nas bombas, foi domi­nado pelo medo da morte. Foi nessa crise que começou a recordar os versí­culos que havia memorizado antes dos seis anos de idade. Ao repetir essas Escrituras, Deus lhe falou ao coração, e ele se converteu de forma mara­vilhosa. Não só se converteu, como também tornou-se um pregador pode­roso e compositor de hinos. Foi ele quem escreveu o hino tão apreciado, “Amazing Grace” (“Maravilhosa Graça”). Quando o fez, ele já sabia que, du­rante toda sua vida, e através de todas as circunstâncias pelas quais tinha passado, Deus o tivera em Sua mão. É maravilhoso o Senhor converter um homem como Newton. E com a mesma alegria Deus vai salvá-lo se você assim lhe pedir. Oração: Pai celestial, tu conheces as necessidades de nossos corações. São profundas. Contudo, sabemos que és Deus maravilhoso, e que não nos deixará para sempre em nosso caminho de pecado. Agradecemos-Te pela vi­da de John Newton. Muito obrigado pela maneira como o salvaste e o inspi-raste a escrever hinos maravilhosos. Louvamos o Teu nome pela segurança que podemos ter, quando tantos neste mundo estão cheios de dúvidas, e não conseguem encontrar algo certo para esta vida e muito menos para o futuro. Por causa dos sinais de Tua graça operante, podemos saber que nossos no­mes estão escritos no Livro da Vida do Cordeiro. Pai, que todos os Teus possam ter essa segurança de conhecer-Te realmente. E se têm dúvidas, se lhes falta segurança, que possam chegar-se a Cristo humildemente, receben-do- 0 como Senhor e Salvador. Muito obrigado, Senhor. Em nome de Jesus. Amém.
  • 23. Filipenses 1:9-11 9 - E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, 10 — pa­ra aprovardes as cousas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o dia de Cristo, 11 — cheios do fruto de justiça, o qual è mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus. Oração: Senhor, chegamos novamente à Tua presença, recordando a promessa que deste aos discípulos, de que o Espírito Santo os conduziria a toda a verdade. Pai eterno, as palavras que queremos ler na Tua presença agora são “em tudo verdade”. Rogamos-Te que nos ensines as verdades so­bre a oração que ainda não descobrimos, ou que talvez não estejamos colo­cando em prática, pois é em nome de Jesus que nos aproximamos de Ti. Amém. Introdução Poucas pessoas tiveram o privilégio que eu tive, de crescer num lar cuja primeira lembrança é a de mamãe ajoelhada junto à sua cama. Nunca vou es­quecer o seu vulto ajoelhado, embora eu não tivesse mais de quatro anos de idade quando a cena me impressionou pela primeira vez. Durante várias ocasiões, em silêncio, intercedendo por nós, os filhos, e pela igreja da Bolí­via, minha mãe criava em volta de si uma atmosfera sagrada. Não havia a luz de uma auréola, nenhuma halo, mas nós crianças sempre passávamos quie-tinhos quando mamãe orava. Foi uma experiência que se repetiu todos os dias, um privilégio que teve realmente um papel importante na formação de meus primeiros ideais com respeito à oração. Embora ela intercedesse muito silenciosamente, sabíamos o que ela estava pedindo. Nós crianças estávamos no topo da lista. Sabíamos quais os principais assuntos das suas orações por­que a nossa família sempre se reunia para orar antes do café da manhã. As orações de meus pais eram muito longas para um garotinho: eu já acordava com fome, e o culto doméstico atrasava o café. Dr. Donald Barnhouse (pas­tor da Filadélfia, mundialmente conhecido, já falecido) costumava dizer: “Sem Bíblia não há café!” Nossos pais se mantiveram firmes naquele moto, que incluía também a oração. Paulo também aprovava essa espécie de piedade cristã. Orava incessan­temente. Exortou os leitores de sua carta em Tessalônica a que orassem sem cessar (1 Ts 5:17). Mas Paulo não estava tão sintonizado com o céu a ponto de supor que os cristãos que liam suas epístolas soubessem automaticamente o que pedir a Deus. Embora já tivesse escrito que estava “sempre fazendo súplicas por eles”... “em todas as minhas orações” (v. 4), o apóstolo ocupa algumas preciosas linhas desta “carta de agradecimento” para contar aos fili­penses como é que orava, a fim de ensinar-lhes (e a nós) como se deve orar.
  • 24. E não se esquece de encorajá-los, dando-lhes uma lista dos resultados da oração fervorosa que pede a Deus um abundante e crescente amor. O Professor Stewart, da Universidade de Edinburgo, na Escócia, agora aposentado, dizia sempre que as orações das cartas de Paulo, particularmen­te as de Filipenses, Efésios e Colossenses, foram o ponto alto de sua corres­pondência. Portanto, veja hoje, que petição os filipenses deviam fazer. De­dique alguns instantes para oferecer esta oração com toda a sinceridade. Você vai descobrir um novo nível de benção impregnando sua vida, visto que o próprio Senhor Jesus garante que se você pedir alguma coisa em Seu nome, segundo a Sua vontade, Ele o ouvirá (Jo 14:13,14; 1 Jo 5:14). Observe que neste parágrafo a oração de Paulo é a continuação de sua ação de graças. Assim, ele aponta um fato importante sobre a oração, sem ensiná-lo declaradamente. A primeira verdade encontra-se no v.6: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus”. Desta certeza apostólica seria possível concluir que você não precisa fazer nada além de render-se passivamente, porque Deus faz toda a parte ativa. Você poderia relaxar, dormir, descansar, em vez de orar. E nem precisaria voltar à igreja à noite. Você poderia ir para o Guarujá ou Copaca­bana, apreciar a praia e as ondas, porque Deus que começou a boa obra em você, prometeu completá-la. Não haveria necessidade de você se preocupar com a comunhão e o culto da igreja, nem com a leitura da Bíblia e a oração pelas crianças, vizinhos ou mundo, nem tampouco com o seu testemunho. Muito facilmente e com grande prazer poderíamos concluir: “já que Deus promete que vai estar operando, e Ele é mais poderoso do que quaisquer de nossas orações fracas e cheias de dúvidas; é só deixar que ele faça tudo!” Isso, porém, é bem diferente daquilo que Paulo pensou ou ensinou. À me­dida que você lê a oração dele, percebe claramente que o próprio Paulo es­tá envolvido e profundamente empenhado numa cooperação espiritual com Deus. De fato, Paulo afirma que Deus nos manda participar ativamente em sua obra: “Desenvolvam a sua salvação com temor e tremor” (2:12). A oração pode ser considerada um trabalho, até mesmo uma luta (Cl 1:29: 2:1). Deus está fazendo a Sua obra, mas a oração envolve aquele que intercede na operação de Deus (cf. 1 Co 3:9). Mas, e se eu não pedir a Deus que intervenha? Ele vai parar de operar? Paulo não responde tão clara­mente a esta questão complexa como Tiago o faz (Tg 4:2). Visto que Deus não ordena, clara e insistentemente, que oremos, não é necessário fazer es­peculações sobre a razão pela qual ele exige que Seus filhos orem. Isto expli­ca porque Paulo podia exigir de si o máximo esforço em prosseguir para o alvo e prêmio de sua soberana vocação, ou alto chamado, por um lado, ao mesmo tempo em que mostra tolerância para com aqueles que têm atitude diferen­te, preferindo esperar que Deus lhe revele quais são as suas exigências (3:13-15).
  • 25. Vejamos agora o incentivo que levava Paulo a interceder pelos fili­penses, no v.8. Ele ansiava de tal maneira (epipothõ) ver a igreja e confrater­nizar com eles, que descreve seu afeto como localizado nos “intestinos” (splagchnoi) de Cristo Jesus. Foi a maneira grega primitiva de expressar como estava emocionado no seu desejo de visitar os filipenses, seus amados filhos na fé. De fato, um pastor que ama profundamente cada membro da sua igreja, achará que orar por eles não é tarefa difícil, pelo contrário, é um prazer. Um Pedido pelo Amor Crescente Agora examinemos esta oração. Pelo que Paulo ora? Primeiro, ele roga que Deus conceda aos filipenses um amor que aumente mais e mais (v.9). Amor para com Deus e o próximo nunca chega a um ponto em que o cristão pode descansar e dizer: “Bem, agora eu amo tão fervorosamente como sou mandado amar! Esse amor agape que Deus exige de mim já é completamente meu”. Paulo pode ter sentido que os filipenses eram as pessoas mais queridas que ele conhecia. Ele os amava tanto que o seu amor por eles parecia o amor de uma mãe por seus filhos (v.8): “Tenho por vocês um afeto e saudades tão fortes que me emociono por dentro, nas próprias vísceras!” Mas isso não significa que Paulo tinha alcançado o amor perfeito, ou que seu amor não podia crescer mais ainda. Ele não estava tão influenciado pelo seu amor para com a igreja de Filipos a ponto de concluir que eles não pudessem amar mais intensamente do que quando mandaram o dinheiro tão oportuno para o apóstolo aprisionado. Você também é pessoa amorosa, mesmo que não seja possível medir seu amor por nenhum sistema. O amor não pode ser medido de maneira ma­temática concreta. Por ser dinâmico e relacionai, o amor cresce à medida em que é testado. Os pais que mais amam seus filhos são aqueles que mais sofre­ram por causa dos filhos. Talvez um filho de uma certa família possua algum problema mais grave, de ordem física ou mental: pois é por aquela criança que o pai e a mãe estão mais dispostos a se sacrificar, a fim de lhe propor­cionar alguma coisa. Os pais que têm um filho mongolóide aman-no além do normal, indizivelmente. Seu amor foi muito provado e, em conseqüência, transborda por aquela criança. Paulo está orando por um amor assim, trans-bordante, que excede os limites normais da experiência, um amor que é mais característico de Deus do que do homem egocêntrico. Tal amor é um dom do Espírito de Deus que habita no crente (Rm 5:5, cf. G1 5:22) e, conse­qüentemente, deve surgir em nossos corações como resposta à oração (cf. Lc 11:13). Essa súplica por um amor que cresça e transborde sem limites é o úni­co pedido específico desta oração (w. 9-11). Tudo o mais que é mencionado na passagem são conseqüências. Será que você está orando por alguém, ou —
  • 26. o que pode ser mais significativo — alguém estaria orando por você, rogando a Deus que seu amor continue a crescer e transbordar sempre? Talvez Paulo peça a Deus esse amor agape, crescente e dinâmico, porque sabe que um amor que não transborda, inevitavelmente se volta para dentro e se torna egoísta. Limitar nosso amor àqueles que vão nos retribuir a dívida é o opos­to do amor generoso e sacrificial pelo qual Paulo orou. Este é como leite derramado, irrecuperável, dado sacrifícialmente, sem preocupação de recom­pensa. Até o fim da sua vida, ou até que Cristo volte, esse amor como o de Cristo deve transbordar mais e mais. Na forma mais simples, essa oração pe­de a Deus um crescimento diário na habilidade e no anseio de amar de cada cristão, até o dia da formatura, quando todos passamos desta vida à outra através da morte ou da transformação miraculosa efetuada pela volta de Cristo (cf. 3:21). O v. 10 (parte final) focaliza nossa atenção nesse fim, porque o amor crescente terá o propósito de tomar os filipenses puros e imaculados, prontos para o Dia de Cristo. Quando Jesus Cristo voltar/ele irá examinar os crentes quanto à perfeição atingida em matéria de amor crescente e transbordante para com os irmãos e para com Deus. É crucial reconhecer se seu amor cres­ce dia a dia. Ou será que ele tem diminuído, como o primeiro amor da igreja de Éfeso (Ap 2:4)? Esse amor não é sentimental, não é verbal, mas é prático, encontra expressões concretas através de ações. Certamente, desejamos que essa espé­cie de amor transborde em nós, mas quem sabe não temos confiança de que é possível receber um amor tão extraordinário assim, simplesmente pedindo a Deus. Paulo nos dá algumas dicas importantes sobre como ganhar esse amor abundante em resposta à oração. Se alguém está orando por você desta maneira (talvez seja esposa, marido, pai, um filho ou um membro inte­ressado da igreja), de tal forma que a oração dele se une à sua, espere ver mudanças na intensidade de seu amor. Como se uma poça parada e mal chei­rosa se transformasse em uma corrente de águas cristalinas, o amor narcisista pode ser transformado em amor semelhante ao de Deus, que o motivou a dar Seu Filho para nos salvar (Jo 3:16). Os Dois Elementos do Amor Paulo prossegue no v.9, dizendo que duas características são importan­tes nesse amor transbordante. Se omitimos esses elementos básicos, o amor não cresce muito e não transborda. Esses dois elementos são descritos pelas palavras “conhecimento” e “percepção”. O primeiro termo representa a palavra grega epignõsis, que se encontra no Novo Testamento umas vinte vezes. Normalmente usado para designar o conhecimento de Deus e da verdade, ou conhecimento da Bíblia e de Jesus Cristo, refere-se à esfera espiritual.
  • 27. Ora, não me sinto bem quando divido o conhecimento humano em duas categorias, mas a esta altura pode ser proveitoso fazer isso. Possuímos dois tipos de conhecimento. O primeiro é o conhecimento humano, secular, orientado ao nosso vi­ver desta terra. Quando uma pessoa realmente sabe bastante, pode ser for­mada em faculdade, ou até mesmo se tomar professor, com nível de mestra­do ou doutorado. No contexto da vida, mostra quanto sabe pelo seu su­cesso. Sabe equilibrar as coisas, como planejar, como tratar as pessoas de modo que estas o tratem bem. Conhece a lei, e sabe como evitar as penali­dades impostas àqueles que deixam de cumpri-la (ver Lc 16:1-11). Elaé re­putada como uma pessoa bem ajustada e entendida. Para fins dessa expla­nação, classificaremos essa categoria de escolhas capazes como gnõsis, “conhecimento”. Mas é diferente o sentido do termo “Conhecimento” (epignõsis) que é usado no Novo Testamento. Esta palavra se refere à realidade espiritual. Tal conhecer ultrapassa o saber do dia-a-dia, atingindo a esfera espiritual, o que é comparável à ultrapassagem da barreira do som. As atitudes e os valores da vida que chamamos de “secular” são transformados pelo relacionamento com Deus e Seu povo através do Espírito. Não que o Espírito seja realmente dissociado do psiquê ou da alma humana em qualquer sentido claro, defini­do. Quando o crente ultrapassa a barreira, indo ao conhecimento dos valores espirituais, isso o faz perceber a realidade de uma forma que o homem secu­lar não vê. Paulo aqui dá ênfase à idéia de que, sem esta espécie de conheci­mento, o amor sacrificial não cresce — nem o amor por Deus, nem o amor pelo homem. O amor agape deve ter raízes no conhecimnto adquirido dire­tamente através da revelação e percepção do Espírito Santo. Em Ef 1:17, Paulo ora pelos cristãos de Éfeso na Ásia: que “Deus... o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento (epignõsei) dele. “Este uso que Paulo faz da mesma palavra esclarece que é o Espírito Santo que nos capacita a ultrapassar a barreira do conhecimento do mundo secular, e nos faz penetrar tal ciência. Nela alcan­çamos e experimentamos a presença de Deus. O Espírito Santo não trabalha à parte das Escrituras. Deus emprega a Bíblia para guiá-lo, quem sabe en­quanto você ouve a explicação do seu sentido, ou enquanto a lê na hora de-vocional de manhã. E assim, o solo que proporciona as condições para o amor crescer e transbordar tem sua origem na oração, uma Palavra de Deus, e produz a comunhão com Deus, que por sua vez encaminha o amor trans­bordante para com Deus e Sua igreja. Uma segunda palavra que Paulo liga ao “entendimento” do v.9 é a pa­lavra “percepção”. Transmite o sentido do original aisthesis. Uma pessoa que tem percepção tem o dom que muitas vezes é atribuído às mulheres com o nome de “intuição”. O homem pode trabalhar intensamente durante horas inteiras, lidando com os prós e contras de uma decisão importante. Talvez escreva todos os números, a lista de vantagens e desvantagens, ten­
  • 28. tando arrazoar e chegar à melhor solução de um problema. Muitas vezes, consulta os colegas executivos para que o ajudem a ponderar as conseqüên­cias favoráveis e desfavoráveis de sua opção. Depois vai para casa, pergunta à esposa qual a opinião dela, e fica admirado ao descobrir que seu conselho está de acordo com a conclusão estudada dele. A intuição adianta o processo, sendo resultado da'percepção. Por maior que seja a lógica ou a sua racionalidade, não dá ao homem a verdade espiritual. Esta precisa resultar de uma revelação por parte de Deus e de uma percepção por parte do homem. A teoria ou a teologia se transforma em rea­lidade e estilo de vida cristão. A palavra de Paulo, “percepção” ou “discer­nimento”, trata especificamente de um juízo que é tanto moral como espi­ritual. As Escrituras não fazem distinção entre as esferas moral, ética e espi­ritual, no que diz respeito à prática. Sendo assim, portanto, viver com “per­cepção” e conhecimento significa agradar a Deus. Podemos ilustrar esse termo na vida pública-terrena de Jesus. Muitas e muitas vezes, Ele foi pressionado em situações onde tinha que fazer escolhas. Suas decisões eram importantes porque milhares de pessoas ouviam Suas ins­truções. Não podia, pois, ensinar uma coisa na teoria e fazer outra diferente na prática. Seu modo de escolher, repetidas vezes, ofendia as pessoas religio­sas mais respeitadas, o que não o tomava popular. O que ele percebia e de­clarava com franqueza contrariava a opinião da maioria da época. Ele favore­cia os humildes, os fracos, os pobres e necessitados, em vez dos fariseus or­gulhosos que eram admirados (cf. Jo 5:44). No caso dos judeus, que conhe­ciam minuciosamente a Bíblia, mas não tinham o Espírito, exaltavam os va­lores do mundo. Jesus, cheio do Espírito Santo, quando ouviu o cego Barti-meu clamando por misericórdia, ordenou que lhe trouxessem o homem ime­diatamente, apesar dos discípulos quererem silenciá-lo com a justificativa de que Jesus estava ocupado demais (Mc 10:46-52). Foi esse o tipo de intuição ou sistema dè valores que determinou as decisões de nosso Senhor. Bartimeu era mais importante do que a multidão, os discípulos, os dignatários religio­sos, ou uma programação prévia. Necessitamos desesperadamente de possuir esta percepção. É um dis­cernimento tantas vezes ausente, que explica porque nossa vida espiritual é fria, e nosso amor parado. Onde existem águas estagnadas e temperaturas momas, é quase certo haver mosquitos. Essas pestes não podem reprodu­zir- se em águas correntes. Quando o amor é parado, os relacionamentos fi­cam estragados. Em lugar do amor transbordante pelo qual Paulo ora, criam­- se ressentimentos irritantes, concebidos no ciúme, para atrapalhar o povo de Deus como se fossem pernilongos zunindo perto dos nossos ouvidos. Com o conhecimento experimental de Deus e o discernimento estimulado pelo Espírito Santo, cresce o amor, e diminui o egoísmo. O autor de Hebreus também emprega um substantivo relacionado com o termo “percepção” (aisthêsis) quando repreende os cristãos estagnados, que não quiseram crescer na fé além da primeira infância. Veja o apareci­
  • 29. mento divinamente inspirado dessas palavras: “Vocês já deviam ser mestres, capazes de ensinar a Palavra de Deus, contudo têm de novo necessidade de alguém que lhes ensine o ABC da fé cristã. Porque todo indivíduo que ainda se alimenta de leite, não está cheio da Palavra da justiça, pois é criança. Mas o alimento sólido é para os adultos, para os que têm as suas faculdades exer­citadas pela prática (Hb 5:12-14). A palavra “faculdades” (aisthenia) vem da mesma raiz grega que o termo “percepção” em Fp 1:9. Visto que aos cris­tãos hebreus faltava “percepção”, não tinham a capacidade de discernir en­tre o bem e o mal, ou distinguir o melhor do bom. As pessoas maduras preci­sam tomar decisões, à luz da vontade de Deus revelada e das conseqüências eternas. Somente a percepção espiritual produz decisões corretas. Como é triste constatar com tanta freqüência que cristãos estão se tornando estagna­dos, sem maturidade necessária para o discernimento dos valores espirituais. A Conseqüência do Amor Crescente Quando o amor de Deus cresce em nós com vitalidade, no solo do conhecimento e da percepção, o que vai produzir? Paulo dá a resposta no v.10. Produz “aprovação”. Essa palavra interessante também foi empregada por Paulo na segunda carta a Timóteo. Permita-me fazer uma paráfrase: “Quero que você seja um trabalhador “aprovado” (gr. dokimon), quando chegar no dia de sua formatura, abrir seu diploma conferido por Deus, e ler os elogios. Espero que você se forme com prêmios, em lugar de descobrir que foi reprovado no dia de Jesus Cristo” (cf. 2 Tm 2:15). Como serão emocionantes para uns e chocantes para outros, as surpre­sas do juízo final! Muitas pessoas esperam a aprovação da formatura, porém vão descobrir tarde demais, para sua tristeza, que o prêmio esperado não lhes foi conferido (cf. Fp 3:14, 2 Tm 4:8). Mas podemos ter a certeza da aprovação de Deus se somos sinceros e inculpáveis até o Dia de Cristo”, por­que então será evidente em nós a boa obra de Deus (v. 6). A expressão “para que vocês aprovem as coisas excelentes” (v. 10) mostra que essa capacidade espiritual tem sua origem nas realidades do v.9. “Aprovar” (dokimazo) significa testar e aprovar ser autêntica alguma coisa. Mesmo em nossos dias, uma nota de papel-moeda precisa ser aprovada para ser aceita. A alta qualidade da imitação engana os “leigos”, mas é rejeitada pelos profissionais (veja 2:22 e a observação que Paulo faz a respeito de Timóteo). O Senhor Jesus empregou a palavra aqui traduzida por “excelente” {diapherò), que se refere às coisas que precisam ser “aprovadas”, quando procurou ensinar os discípulos a confiar em Deus, em Mt 6:26. Os lírios do campo são de muito mais valor (“excelência”) do que o capim, todos nós concordamos. Mas a comparação não é esta. “Vocês valem muito mais do que os lírios!” Deus cuida dos lírios do campo; mas você vale muitas vezes
  • 30. mais do que os lírios do campo, então os homens são de maior valor que todas as flores silvestres, os cristãos amorosos irão distinguir o que realmente tem significação duradoura daquilo que tem boa aparência na realidade, mas imprescindivelmente destinados à fornalha (cf. 2 Co 4:18). A capacidade e o desejo de fazer esta espécie de escolhas entre valores e prioridades advêm de um conhecimento e perspicácia dados por Deus, mas prenuncia também o Dia de Cristo. É claro que nada nos fará ficar enver­gonhados, se cuidamos em escolher o caminho excelente (1 Co 13:31b). Este versículo (10) afirma a importância de aprender a distinguir o melhor do medíocre, “para sermos sinceros e inculpáveis” quando Cristo voltar e estivermos todos diante do Seu tribunal (2 Co 5:10). A palavra “sincero” tem seu significado numa prática comum do mun­do antigo. Os potes de barro eram as vasilhas domésticas habituais, usadas na cozinha como na sala de jantar. Uma das indústrias mais movimentadas era a de fazer potes e pratos, porque eles se quebravam com muita freqüência. Eram fabricados de barro queimado que, depois de muito assado e moldado na roda do oleiro, ia para o forno. Ficavam duros e quebradiços. Quando menino, eu olhava os oleiros fazendo potes de barro. De vez em quando, esses potes se rachavam ou ficavam com um buraco. Em vez de jogar fora o vaso inútil, alguns oleiros sem escrúpulos passavam um pouco de cera sobre o buraco. Quando alguém o comprava, não percebia a rachadura a não ser que duvidasse da qualidade do artigo. Nesse caso, bastava virá-lo para o lado do sol. A cera, sendo apenas opaca, dava passagem à luz. Portanto, a palavra grega significa “testado pelo sol”, enquanto que a palavra “sincera” do nosso idioma vem do latim e quer dizer “sem cera”. Devemos sempre fazer a pergunta para nós mesmos, e para nossos filhos, vizinhos e amigos: somos testados pelo sol? Observe que esse amor transbordante confirma nossa segurança de sermos um cristão aprovado, tes­tado pelo sol, no Dia do Juízo Final. O v.6 expressa a certeza de Paulo de que Deus há de completar a obra da salvação que ele principiou. Agora a oração do apóstolo proclama que a confiança de ser aprovado vem da prova do amor crescente, radicado no conhecimento e percepção. À “sinceridade”, Paulo (que gostava de usar dois termos paralelos) acrescenta “inculpáveis”. É a palavra que ele usou quando se defendia perante os acusadores judeus, incluindo o Governador Félix de Cesaréia: “Tenho vivido sem ofensa durante toda a vida. Minha consciência está limpa” (cf. At 24:16). Ora, pode ser perigoso afirmar isso se a consciência é meramente sua. Muitas de nossas consciências não nos estão acusando, o que só serve para provar que não estão muito sensíveis ou bem instruídas. Podemos ser muito bons em auto-defesa, justificando qualquer falha ou pecado de qualquer acusação interna do coração. É mais impor­tante estar sem acusação na vida e na conduta, para que nenhum acusador tenha quaisquer provas contra você, mesmo depois de examinar a fundo a sua vida.
  • 31. Como exemplo, vejamos um contador. Ele tem um serviço interessan­te, porque o cômputo de impostos revela muito sobre a consciência secreta de seus clientes. Eles sabem quanto deviam pagar de impostos, mas resolvem que não, porque não há forma de um acusador provar a violação da lei. Sua consciência não os preocupa, visto que eles racionalizam que o governo des­perdiça vastas quantias de dinheiro. Mas o problema é como eles vão se sen­tir quando uma auditoria for feita por alguém que possui todas as provas para condená-lo. Paulo aguarda o dia do exame para o qual ninguém pode lhe trazer nenhuma preocupação, mesmo sendo examinados os registros oficiais e to­dos os documentos secretos. Para receber um veredito de isenção de culpa naquele dia, precisamos agora de consciência pura e sinceridade completa. As duas qualidades — “testado pelo sol” e “inacusável” (inculpável) no Dia de Jesus Cristo — resultam de se ter percepção e conhecimento, aliados ao amor transbordante. O Fruto da Justiça Finalmente, vejamos o versículo 11. Está aqui o tema desta mensa­gem, e a sua conclusão. “Cheios do fruto de justiça, que vem através de Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus”. Estamos acostumados com o fruto (singular, não plural) do Espírito, que é o amor. O amor possui todos os atributos de “alegria, paz, paciência, bondade, misericórdia, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (G1 5:22, 23), como se fossem expressões va­riadas desse amor. O fruto de justiça certamente será o mesmo. Assim como o fruto de Gálatas 5 é produzido pelo Espírito que habita no interior, o fru­to da justiça é produzido pela vida de Jesus atuante em nós. A oração que pede muito àmor, firmado em conhecimento e percepção, irá produzir a capacidade de se distinguir o que há de melhor, a fim de sermos puros e in­culpáveis no Dia do Juízo Final. Mas esta vida, que se torna cheia do fruto da justiça, vem por Cristo Jesus. Lourenço da Arábia certa vez levou alguns de seus amigos árabes a Pa­ris. Queria mostrar-lhes a cidade e impressioná-los. Foi há tempos, antes que os xeques árabes possuíssem rios de dinheiro pelas vendas de petróleo. Não conheciam bem as atrações e comodidades modernas, por isso ele queria dar-lhes este prazer. A Torre Eifell, os lindos edifícios e pontes, o Arco do Triunfo, nada disso os deixou atônitos. Muitas vezes, desejamos ver os turis­tas interessados, mas nossos visitantes só querem voltar para o hotel, e era isso o que acontecia com aqueles amigos. Isso porque o que os deixou real­mente admirados foi a água corrente. Para ter água éra só abrir a torneira. Ali no seu hotel é que estava a maior maravilha do mundo. Os árabes abriam e fechavam a torneira extasiados diante do milagre da água a jorrar da parede. Um dia antes de voltarem para a Arábia, Lourenço ouviu uns sons
  • 32. estranhos no banheiro. Investigando, encontrou os amigos ali com uma cha­ve inglesa, tentando desenroscar aquela torneira. Quando indagou o que fa­ziam, responderam: “Já vimos muita coisa maravilhosa em Paris, mas nada que se compare com essa torneira. É só abrir, sai água. Queríamos levar essa invenção tão importante para a Arábia”. Lourenço teve de convencê-los de uma verdade muito importante. Levar uma torneira para a Arábia e en­terrá- la em uma parede não produziria água nenhuma. Não percebiam que havia um cano e todo um sistema hidráulico para suprir a água desejada. Se os seus amigos têm o amor que transborda em fruto de justiça, baseado em sua ligação vital com Jesus Cristo, e as outras realidades alistadas por Paulo em sua oração, isso deve animá-lo a procurar que Deus faça o mesmo por você. Mas se você tenta produzir o fruto da justiça por seus próprios esfor­ços, terá tão pouco êxito quanto os amigos de Lourenço ao tentar produzir a água, sem cano e sem fonte. Conclusão Paulo quer fazer-nos entender que, no final, Deus será louvado e glori-ficado pela resposta a essa oração. Seja qual for o resultado produzido por Cristo em nós em termos de vida justa, inevitavelmente, Deus será honrado e exaltado. Bondade produzida humanamente glorifica o homem (cf. Jo 5:44)., mas logo que descobrimos que dentro de nós “nenhum bem habita”, somos forçados a dirigir-nos ao nosso Senhor em busca dessa justiça miraculosa que reflete o louvor e glória de Deus (v. 1 lb). Duvido que muitas orações tenham esta meta. É freqüente orarmos implorando alívio de aflições e do­res, ou o suprimento daquilo que supomos necessitar e desejar. Quando so­mos conscientizados para orar como Paulo orou, podemos aguardar a conse­qüência, maravilhosamente apresentada nesta curta passagem de Filipenses, além de experimentar a verdade de que Deus tem prazer em dar-nos as coisas que desejamos, mas não pedimos (Mt 6:33), Oração: Pai, Tu conheces a profundidade de nossas necessidades pessoais. Sabes como estamos ressequidos, estagnados, incapazes de produzir qualquer porção de teu amor agapê; e sabes ainda, como é impossível para nós ultrapassarmos a barreira do som de nossos conhecimentos terreais. Po­de ser que tenhamos dominado um pouco da sabedoria deste mundo, mas ela é tão desligada da ciência e percepção espirituais que possibilitam o amor abundante! Ô Pai, Tu nos amas tanto, e nós Te rogamos que, por Jesus Cristo, Tu nos faças todos aprovados por Ti, dando-nos aquela capacidade de selecionar as prioridades verdadeiras. E através de tudo isso, pedimos, por Jesus Cristo, que nosso Senhor seja exaltado e engrandecido. Amém.
  • 33. A FILOSOFIA DE VIDA DO CRISTÃO Filipenses 1:12-26 12 - Quero ainda, irmãos, cientificar-vos de que as cousas que me aconteceram têm antes contribuído para o progresso do evangelho; 13 — de maneira que as minhas cadeias, em Cris­to, se tomaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais; 14 - e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassom-bro a palavra de Deus. 15 — Alguns efetivamente proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa von­tade; 16 - estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; 17 - aqueles, contudo, pregam a Cristo, por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. 18 - Todavia, que importa? Uma vez que Cris­to, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei. 19 - Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplica e pela provisão do Espirito de Jesus Cristo, me redundará em libertação, 20 - segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com tôda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte. 21 - Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. 22 - Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher. 23 - Ora, de um e outro lado estou constrangido, tendo o desejo de par­tir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. 24 - Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne. 25 — E, convencido disto, estou certo de que ficarei, e permanecerei com todos vós, para o vosso progresso e gozo da fé. 26 - A fim de que aumente, quanto a mim, o motivo de vos gloriardes em Cristo Jesus, pela minha presença de novo convosco. Introdução Uma biografia, para valer a pena, tem de contar mais do que os sim­ples fatos da vida de uma pessoa. Lendo Filipenses, capítulo 1, versos 12a 26, é preciso compreender que há mais do que meros fatos naquilo que o apóstolo conta. Nestes versículos vemos, primeiramente, atitudes, um modo de ver, uma maneira de avaliar as circunstâncias e as pessoas. Confiamos no Pai, autor dessas palavras preciosas, para que ele faça brilhar em nossos corações a glória de uma vida que lhe foi totalmente dedi­cada, a fim de podermos imitar este seu servo, Paulo, compreendendo como tornar nossas as suas atitudes e o seu modo de pensar. Que Deus desafie a
  • 34. nossa vontade enquanto estudamos a Palavra e abrimos os corações ao mi­nistério do Espírito. Os versículos 1 a 11 que já examinamos, revelam como Paulo agrade­cia e orava a Deus pelos cristãos de Filipos. Os versículos 12-26, no entanto, são seu testemunho pessoal. Aqui, vemos Paulo erguendo os olhos para o mundo ao redor, para seu passado, seu presente e seu futuro. Ele os examina de um certo ponto de vista. A avaliação correta da vida e até mesmo a pessoa que somos, não de­pende do que nos aconteceu durante a vida, nem de onde temos morado. Depende basicamente da atitude com que encaramos a nossa vida - nosso passado, presente e futuro. Creio que foi Elton Trueblood quem disse: “Es­tou plenamente convencido de que a humanidade não mudou nem um til. O que tem mudado, naturalmente, são as circunstâncias que lhe cercam a vida. Mas o homem é o mesmo. Reage de modo igual; pensa de modo igual; dadas as mesmas oportunidades, deseja de modo igual; há de cobiçar as mesmas coisas, como sempre fez”. Acredito que seja uma observação perspicaz e verdadeira. Paulo não só nos conta aqui quais eram as circunstâncias em que se achava, mas também nos mostra como uma pessoa age e reage, uma vez que colocou Cristo no centro absoluto de sua vida. E. Stanley Jones denominou-o de “hipótese central de sua vida”. Se você faz com que Cristo seja o eixo giratório, o vér­tice de tudo — a pessoa para quem todos os aspectos de sua vida são volta­dos, o alvo a quem todos os minutos de sua vida consciente apontam, então as conseqüências, inevitavelmente, aparecerão em sua vida e atitudes, como aconteceu com Paulo. Comecemos por um exame das perspectivas múlti­plas com que Paulo enxergava suas circunstâncias e adversários. Paulo Avaliava os seus Sofrimentos Positivamente Primeiramente, vejamos com Paulo o seu passado. Nos versículos 12 e 13 encontramos o apóstolo dizendo: “Quero que percebam que o sofrimen­to pelo que passei, o meu sofrimento pessoal, não é nada que deva nos en­tristecer Ou desanimar”. A prisão e as aflições que sofreu não o fizeram sen­tir que devia reclamar bem alto e esperar que os outros tivessem pena dele pelos maus-tratos que recebera. Sabemos como podemos nos sentir quando alguém nos trata com injustiça. Acho que Paulo poderia muito bem ter-se considerado a pessoa mais injustiçada de todo o mundo. Era um homem que não tinha feito nenhum mal, que dedicara sua vida somente para servir os outros. Entretanto, estava confinado sob acusação falsa. Por inveja e ódio diabólicos, planos foram arquitetados para se livrarem dele; de fato, mais de quarenta homens chegaram a jurar que se não o pudessem matar, comete­riam o suicídio com greve de fome (At 23:12-21). Tal foi a intensidade do ódio dirigido contra a sua pessoa. Estivera preso por dois anos em Cesaréia
  • 35. (aceitando que Filipenses foi escrito de Roma), pelo simples motivo de que ninguém aparecera com dinheiro suficiente para subornar o governador a fim de que o soltasse. O tratamento injusto do passado continuava no presente. Paulo ainda estava preso em Roma porque tinha apelado para César. Mais dois anos se passariam antes que fosse solto, durante os quais Paulo pagaria o aluguel da casa que lhe servia de prisão, acorrentado dia e noite a um guarda pretoria-no. Contudo, com o tempo ficou provado que todas essas coisas que lhe aconteceram no passado, mesmo os naufrágios, visavam o bem. Vamos para 2 Co 11, por um momento, onde se pode ver uma série de experiências às quais Paulo tinha sobrevivido nos versículos 23 a 28. Diz ele: “Falo como louco (como fora de mim) — muito mais trabalhamos, muito mais apri-sionamentos, com incontáveis açoites (Paulo diz: “Já esqueci quantas vezes fui açoitado, todas as cicatrizes praticamente se uniram”), muitas vezes em perigos de morte. Cinco vezes recebi das mãos dos judeus os “quarenta açoi­tes menos um” (sempre menos um, para que a pessoa não morresse, pois nenhum judeu queria ser julgado diante de Deus pela morte da pessoa fusti­gada). Três vezes apanhei de vara (referindo-se ao modo como os romanos açoitavam); uma vez fui apedrejado. Três vezes sofri naufrágio; uma noite e um dia fiquei à deriva no mar; em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de ladrões e salteadores (tudo, diz Paulo, contribuiu para o bem)”.P ara esclarecer: se você tem o ponto de vista de Paulo sobre o que lhe acontece na vida, você já avançou bastante na estrada da maturidade cristã ou santificação. A santidade não é aquele ideal religioso elevado, pelo qual a pessoa se torna um religioso solitário fanático ou um eremita que passa o tempo todo num cubículo, com as mãos cruzadas e as costas cada vez mais curvadas num arco santificado. Isso pode ter muito pouco a ver com a santi­dade que pode ser descrita como um ponto de vista, uma maneira cristã (de Cristo) de avaliar o que está acontecendo com você. Nas palavras de Rm 8:28, Paulo escreveu o conhecido “Biotônico Fon­toura” do crente, como podemos denominá-lo. O crente tem a Palavra in­violável e eterna de Deus para assegurar-lhe que, se realmente ama a Deus e foi chamado para compartilhar de seu divino propósito, só o bem poderá re­sultar de todas as circunstâncias exteriores que afetam a sua vida. É se­melhante ao que Isaías diz: “Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai, nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos” (Is 64:8). À medida que Paulo observava seu mundo e experimentava tudo que lhe acon­tecia, reconheceu o maravilhoso trabalho do oleiro que formava e moldava a massa flexível e receptiva do seu coração. Ele se regozijava então nos seus sofrimentos (Cl 1:24), reagindo sempre com atitude de aceitação positiva e nunca com amargura ou auto-piedade com relação àquilo que Deus estava fa­zendo em sua vida.
  • 36. Olhemos agora, mais uma vez, para o versículo 12: “As coisas que me acontecem têm antes contribuído para o progresso do evangelho”. Paulo não disse que gostou de suas circunstâncias. Não estava dizendo: “Eu estou completamente louco e por isso gosto desses acontecimentos dolorosos, ruins, pois minha mente não está funcionando bem.” Porém, o que Paulo afirmou foi o seguinte: “Eu avalio as coisas más que têm acontecido em minha vida em termos de como elas contribuem para o bem superior, o que realmente faz valer a pena e torna o investimento compensador. Esse bem é o progresso do evangelho”. No original, a palavra traduzida por “progresso” é um termo militar que retrata trabalhadores com machetes e machados abrindo caminho atra­vés da mata, a fim de preparar a passagem para o exército. Era de máxima importância abrir caminho para o exército avançar. Paulo estaria dizendo assim: “Já estive ali na frente, sofrendo os ferimentos bem como a oposição do inimigo, mas louvo a Deus porque o nosso exército está avançando — o Evangelho tem progredido porque o caminho foi aberto. Esta palavra que ele usa novamente um pouco adiante, fornece uma chave para compreender­mos o entusiasmo de Paulo. No versículo 25, o “progresso” que Paulo espe­ra ver na igreja filipense se refere ao crescimento deles na fé e na maturidade espiritual. Aqui ele fala no “progresso do evangelho” no sentido de o evan­gelho “se tornar conhecido em toda a guarda pretoriana” (v. 13). Antes que a arqueologia nos informasse melhor sobre esta palavra, pensávamos que o pretório se referisse somente ao palácio do imperador em Roma ou do governador na capital de uma província (At 23:35; Mt 27:27). Através de algumas inscrições descobrimos agora que o pretório tam­bém pode referir-se à guarda, que era especialmente os “olhos e ouvidos” do imperador nas principais cidades em todo o mundo romano. É possível mesmo que Filipenses tivesse sido escrito em Éfeso porque devem ter havido componentes da guarda pretoriana para zelar pelos interesses do imperador ali. Fm Roma, a guarda pretoriana se compunha de cerca de nove mil ho­mens, escolhidos dentre a elite das tropas de todo o império. Não sò tinham de ter o porte físico correto — altos, de ombros largos, fortes — também tinham que ter a lealdade de coração e ser homens dignos de confiança, mesmo sob pressão. Recebiam salário duplo, para assegurar que trabalhassem satisfeitos. Eram responsáveis pela guarda dos prisioneiros do imperador, in­cluindo Paulo nesta ocasião. Imagine um guarda pretoriano sendo algemado com Paulo. Tinha que dormir ao lado desse homem para garantir que ele não escapasse. É possível que Paulo nem sempre dormisse bem. Imagine o guarda ter que escutar a Paulo na escuridão silenciosa da noite. E Paulo falava sobre Jesus, outro Senhor, outro kúrios, em lugar do imperador. Mas esse soldado pretoriano estava lá justamente para proteger a posição ímpar e autoridade suprema da­quele único imperador através de todo o mundo civilizado. Contudo ali esta­va Paulo falando em outro Senhor (kúrios, no grego) cujo nome era Jesus
  • 37. Cristo. Aqueles guardas militares devem ter saído de perto dele meneando a cabeça. Devem ter considerado Paulo um obcecado, visto que ele falava so­bre este Senhor dia e noite. Certamente, pensavam em quem seria esse Jesus, o que lhe aconteceu, por que Paulo tinha tanta certeza da sua ressurreição. Naturalmente teriam aguçado os ouvidos quando Paulo contava do julga­mento e crucificação dele sob Pilatos, um governador romano. Talvez, a princípio, nada disso lhes fizesse sentido, mas no outro dia teriam um pouco mais clara desta vez, e assim, um por um, ouviam as boas novas do evangelho. É possível que não haja lugar mais propício para proclamar o evangelho do que uma prisão, o público cativo não podia escapar nem forçar o evangelista a silenciar-se. Pobres guardas pretorianos! Se não quisessem receber a Cristo como seu Senhor, deviam então pedir demissão da força. Sem dúvida, alguns deles se renderam ao kúrios de Paulo. Além disso, veja o final de Filipenses, onde o texto diz: “Todos os san­tos vos saúdam, especialmente os da casa de César” (4:22). Paulo estava se referindo ao lugar onde estava preso, onde tinha tido o privilégio de procla­mar o evangelho e ver o seu progresso entre aqueles que estavam algemados com ele, aqui descritos como sendo da casa do imperador. Notemos que as algemas a que Paulo se refere são suas “cadeias, em Cristo, que se tomaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais” — as cadeias são em Cristo e sua prisão é por Cristo, e esta é uma segunda conseqüência dos sofrimentos de Paulo que ele considera positiva­mente. Não só os guardas pretorianos aprendiam sobre Jesus e sobre o evan­gelho, como também, ele acrescenta, “todos os demais” : as outras pessoas também ficavam sabendo disso. O povo em geral não estava separado dos guardas. Os escravos e a população da cidade estavam logo discutindo sobre Paulo e suas “boas novas”. A terceira conseqüência afetava os cristãos de Roma ou Éfeso, que cjo-meçavam a falar sobre o Senhor mais ousada e livremente (v. 14). Além dos guardas que tinham de ouvir a Paulo, além da difusão das novas pelos guar­das e todas as pessoas da casa de César, os cristãos também começavam a dar testemunho do amor e da graça salvadora de Deus. Você deve saber, por cer­to, que a maioria dos cristãos não testemunha, pelo menos a maior parte do tempo. Um membro “normal” de uma igreja não percebe que na sua vida diária deve ser um missionário, considerando a causa missionária como sua própria missão. Algumas poucas pessoas são assim, mas não existem muitas. Era o que acontecia na cidade onde Paulo estava preso. Nesse aspecto, não havia nada de realmente fora do comum que diferenciasse a igreja de Roma ou Éfeso das nossas igrejas hoje. Muitos cristãos escolhem um método de dar testemunho que podemos chamar “método silencioso”. Não dizem nada. Vi­vem sua vida cristã tão calma e prazeirosamente quanto possível. E as pessoas que vivem acima deles, as que moram em baixo ou ao lado deles no seu prédio de apartamentos nem suspeitam que aqueles cristãos possam ser estrangeiros, cidadãos de outro país chamado céu (cf. 1:27; 3:20). Como
  • 38. poderiam saber? Entretanto, quando Paulo estava na prisão por amor ao evangelho, correu a notícia de que esse homem era diferente; ele não conse­guia deixar de anunciar a boa nova sobre o Salvador. Em 1 Co 9, Paulo revela uma parte do segredo sobre a obrigação que pesava sobre ele e o impulsionava. Ele estava sob uma maldição, um tipo es­tranho de maldição, é lógico, porque não dá para sabermos quem a pronun­ciava. É possível que fosse Paulo amaldiçoando a si mesmo. Ele dizia: “Ai de mim se não pregar o evangelho” (v.16); quer dizer, que um “ai” (maldição) o alcançaria no caso de ele deixar de falar sobre Jesus Cristo a todos com quem estivesse em contato íntimo. Quando aqueles cristãos do primeiro sé­culo'viam alguém sofrer pelo evangelho, a consciência de cada um começava a apertá-lo tanto, a ponto de não conseguir ficar calado acerca de Cristo. Não se limitavam a falar a respeito dele, mas como Paulo faz questão de frisar no v.l4, comunicavam a Palavra de Deus ousadamente e com desassombro. An­tes de Paulo ser preso, haviam sido derrotados pelo medo de serem presos por promover a causa de outro Rei. Mas a experiência de Paulo na prisão não lhes parecia assim tão má. Ele não parecia nada infeliz ou deprimido. Uma das principais razões para temermos a prisão é, naturalmente, o medo de ficarmos tristes e detestarmos muito o lugar. Paulo, porém, parecia pros­perar naquela situação. Avaliava as circunstâncias de um modo tão diferente, que os cristãos estavam chegando a conclusão: “É, não deve ser tão ruim como eu pensava”. Então se inflamavam com o fogo ardente do amor pelo Senhor. Em toda parte, na cidade de Roma ou Éfeso, podia-se encontrar cristãos que estavam testemunhando sobre o Senhorio, a Soberania de Jesus Cristo, ousadamente e com desassombro. Se alguém fosse avaliar os eventos propriamente ditos que cercavam o apóstolo, não compreenderia a situação. Mas como Paulo tinha uma ati­tude que podemos chamar de positiva, otimista, missionária, isso estimulou o surgimento desse tipo de cristianismo, primeiro na casa de César e mais tarde através de toda a cidade. Paulo Reagiu Diante da Oposição dos Cristãos Positivamente Dessa consideração das circunstâncias passadas e presentes de Paulo, com a interpretação que ele lhes dava, voltamo-nos a uma apreciação da ati­tude de Paulo para com uma igreja dividida. Às vezes, não obstante nosso desejo e esforço de evitá-lo, uma igreja pode dividir-se. Lendo os versículos 15 a 18 podemos observar que havia uma comunidade cristã dividida na ci­dade onde Paulo estava preso. Ele escreve: “Alguns efetivamente proclamam a Cristo por inveja e porfia”. Será possível existir isso? Ali alguns cristãos não estavam pregando a Cristo porque o amavam, mas por rivalidade, por inveja de Paulo e daqueles que eram a seu favor. Em outras palavras, sua idéia era que pregar o evan­
  • 39. gelho fazia parte de um jogo político. Provavelmente, irritavam-se com a fama e o êxito de Paulo no piogresso do evangelho, e por isso escolhiam ser da oposição e considerar a Paulo como rival. Se eram legalistas, certamente criticavam o seu evangelho de salvação pela graça. Podemos reconstruir seus pensamentos da seguinte forma: “Paulo diz que você deve receber a Jesus Cristo sem obras e sem a necessidade de observar a lei, pois a cerimônia e o ritual nada significam para ele. Veja o que vai acontecer ao cristianismo se as pessoas o seguirem. Cairá por terra por falta de substância, regras e rituais definidos”. Essas pessoas não viam nenhum problema em seguir a Cristo. Es­tes sim, tinham acertado porque falaram favoravelmente da lei, como pode­mos ver em Mateus, mas Paulo parecia ter-se tornado um antinomiano. • Podemos então entender porque os adversários estavam transtornados com a maneira em que Paulo avançava, mesmo estando na prisão. Podemos comparar a situação de Paulo com a de uma pessoa que está contra o gover­no, e é colocada na cadeia por isso, mas enquanto ela está lá o seu partido cresce. Assim os críticos, os inimigos de Paulo, decidiram fazer uma cam­panha contra ele. Ficamos admirados ao ver que o melhor modo que acha­ram para diminuir a Paulo ou vencê-lo, foi pregar o evangelho, tentar conver­ter mais pessoas do que Paulo convertia. O desejo de realizar uma campanha dessa natureza veio da inveja e ri­validade ou porfia. Há várias palavras aqui para descrever sua motivação: “por discórdia”, “insinceramente” (v.17), “por pretexto” (v.18). Todos os motivos que tinham p"ara pregar o evangelho estavam errados, contudo esta­vam pregando a Cristo (v. 18). E a reação de Paulo, qual devia ser? Muitos pregadores de hoje acon­selhariam assim: “Paulo, se eu fosse você, acabaria com essa raça. Colocaria uma propaganda de página inteira na Folha de Roma e contaria a todo mun­do seus defeitos; faria propaganda de todos os seus pontos negativos; fulano e sicrano são hereges, não acreditam no evangelho verdadeiro, pregam a Cristo por motivos falsos”. Mas Paulo não seguiu esse caminho de modo al­gum. Por que Paulo não os condenou como carnais? Por que não começou a pregar contra irmãos tão sem amor, tão críticos, causadores de dissensões? Por que não apelou à autoridade suprema de sua apostolicidade? Afinal de contas, ele era o “papa” daquela cidade, pelo menos na ocasião, porque era o único apóstolo presente ali, ainda que seu trono fosse provavelmente uma velha esteira no chão da prisão. Por que não os excomungava a todos de uma vez? Entretanto não encontramos esse tipo de espírito em Paulo, por causa de sua atitude missionária positiva e encantadora. Vamos parar e examinar por um minuto uma das expressões mais admiráveis de Filipenses. Paulo, em uma passagem singular, mostTa sua ati­tude despreocupada. Uma frase curta revela seu ponto de vista: “Todavia, que importa?” (v. 18). “Que importa o que acham de mim contanto que Jesus Cristo esteja sendo pregado? Eu sou feliz como um pássaro. Ficaria contente em ter todo mundo como rival, se isso incentivasse mais pessoas a
  • 40. proclamarem a boa nova de Jesus Cristo. Pensam que estão contra mim, mas na verdade estão a meu favor. Pensam que vão salgar minhas feridas, mas quando a questão é pregar o evangelho, eu não tenho feridas”. Uma atitude assim só pode ser demonstrada por um cristão maduro. Quando você não se importa com o que as pessoas pensam ou dizem sobre você, quando a opo­sição e os insultos delas não o incomodam de maneira nenhuma, você che­gou então a um ponto que o Dr. Hans Bürk chama de “integração” num ní­vel tal que suas preocupações principais se focalizam em tudo menos em si próprio. Paulo estava imitando o exemplo de Jesus que demonstrava uma in­tegração perfeita ao ser falsamente acusado, insultado e finalmente condena­do (cf. 1 Pe 1:18-24). Quando as pessoas eram invejosas, críticas, insinceras, buscando “suscitar tribulação” às suas cadeias (v. 17), isso se tornava uma oportunidade para o apóstolo mostrar sua “moderação ” (4:5) a todos. Paulo sabia alegrar-se voluntária e espontaneamente nas circunstâncias presentes (“me regozijo” v. 18b) e ter certeza de que qualquer dificuldade futura não haveria de afetar sua alegria em Cristo (“sim, sempre me regozijarei” v. 18). E só podia mesmo regozijar-se com o fato de que o nome de Jesus estava sendo proclamado e o evangelho apresentado. Paulo Encarava o Futuro Positivamente Vamos observar agora o modo como Paulo encarava o futuro.Tinha muita confiança em relação ao futuro, embora não soubesse se Deus o per­mitiria sobreviver à crise presente. No passado, muitas vezes fora colocado diante da morte, e em cada uma dessas ocasiões Deus o havia resguardado. Mas, neste trecho de Filipenses, ele abriu o coração aos leitores, revelando seu pensamento maduro sobre a morte em si. A expressão chave de sua ava­liação do futuro encontra-se no v.21: “Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro”. Devemos voltar ao cap. 3 onde Paulo apresentou o mesmo ponto de vista novamente, num testemunho bastante pessoal que se encontra no v.8: “Perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo ”. Quando Paulo olhou seu futuro tão incerto, ele desconhe­cia o número de dias ou meses de sua prisão, não sabia que sentença lhe da-riam quando seu caso fosse julgado, mas sabia uma coisa: conhecia a Cristo. E porque conhecia a Cristo, para ele faria muito pouca diferença o ser solto ou decapitado, pois qualquer dos dois caminhos iria manter sua “hipótese central”, que era a comunhão contínua com seu amado Senhor. Continuaria uma pessoa bem realizada e alegre, acontecesse o que acontecesse, pois é assim que se deve enfrentar o futuro. Quando a pessoa tem sua confiança to­tal no Deus onipotente, nada de ruim pode sobrevir, porque os eventos e as circunstâncias são controlados por Ele. Só haviam duas opções, e qualquer de­las que Deus escolhesse para Paulo tinha que ser a melhor.
  • 41. Vamos fazer agora uma paráfrase do versículo 19: “Regozijo-me — es­tou feliz da vida mesmo nessa prisão. Primeiramente sei que suas orações vão trazer-me um suprimento do Espírito de Jesus Cristo”. É uma frase difícil, esta última. Não sabemos se Paulo queria dizer: “Serei mais cheio do Es­pírito”, ou se ele afirma: “O Espírito Santo vai me dar tudo de que necessi­to para enfrentar qualquer provação que terei de enfrentar, a fim de que eu atravesse sem perder nem um pouco da minha alegria no Senhor”. Além do mais, esse “suprimento do Espírito” que viria em resposta às orações dos filipenses redundaria em sua “libertação” ou salvação. Paulo não tem certeza se será libertado, livrado da morte, mas ele tem certeza de sua salvação (v.6). Se ele for solto, será salvação no nível humano. Se for para a glória, será sal­vação na dimensão celestial. A expressão “minha ardente expectativa ” (v.20), descreve uma pessoa que aguarda com a mesma emoção e antecipação de uma criancinha que sa­be que vai participar da melhor experiência imaginável, quem sabe um pi­quenique ou uma visita ao zoológico. Paulo reconhece que o Espírito es­tá operando seu salvamento, acompanhado pela expectativa e esperança do apóstolo de que em nada será “envergonhado”. Não que Paulo se enver­gonharia de Cristo, mas contemplava a possibilidade de perder sua coragem na hora crucial. Poderia dizer algo ou agir de alguma maneira que levasse as pessoas a crer que Jesus Cristo não era real. Se ele estivesse no banco dos réus durante seu julgamento e o promotor público lhe pedisse seu depoi­mento, poderia, por algum motivo, calar-se ou deixar de dar testemunho cla­ro e destemido em favor de seu Senhor. Afinal de contas, Pedro negou seu Mestre, não só uma vez, mas três vezes. Que vergonha terrível deve ter opri­mido o apóstolo veterano quando confessou seu ato covarde a Paulo. Por isso, Paulo pede as orações fervorosas de seus amigos de Filipos, para que não fique envergonhado quando chegar o momento de tomar posição por Cristo, a fim de que o faça da maneira mais perfeita possível. E assim continua seu pensamento: “Em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu cor­po, quer pela vida quer pela morte ” (v. 20). O importante é que aqui se ensina como devemos encarar o corpo, aquela nossa parte que valorizamos tanto. Sem dúvida alguma, ele é muito im­portante. A maior parte do tempo, trabalhamos e lutamos pelo corpo, para que ele esteja vestido, alimentado, bem agasalhado debaixo de um teto, aquecido, subimos e descemos as ruas da cidade como também pagamos bem para transportá-lo aos lugares mais lindos e confortáveis do mundo. Não se pode negar que o corpo seja importante. Mas Paulo tinha apreen­dido na prisão outra coisa sobre o corpo, que influenciava seu ponto de vis­ta. Ele descobrira que o mais importante com relação a seu corpo não era nenhuma das coisas que nos preocupam a maior parte do tempo. A grande preocupação dele é que seu corpo seja um sacrifício sem mácula, perfeito, para Jesus Cristo. Se o seu sangue fosse derramado no altar de mártir e sua
  • 42. cabeça rolasse no pó, não seria nenhuma tragédia. Antes, sua morte haveria de glorificar a Deus de modo maravilhoso. Através da morte e através de meu corpo sacrificado, afirma Paulo, Cristo será exaltado. Ora, esta é real­mente a coisa mais importante do mundo, que todo corpo seja um sacrifício na morte ou na vida (Rm 12:1). Mas, e se Deus o deixar viver? Nesse caso, esse corpo terá que viajar um pouco mais. O apóstolo tinha muita vontade de ver de novo os filipen­ses. Se Deus o levasse nessa direção, uma série de bênçãos viriam a aconte­cer. Em primeiro lugar, Paulo aguarda um trabalho frutífero (v.22), que nesse caso seria o crescimento espiritual e numérico da igreja em Filipos. Paulo precisa de seu corpo lá na Macedônia para que isso se realize. Em se­gundo lugar, ele diz: “Poderei dar-lhes mais assistência” (v.24). E em tercei­ro lugar, ele tem esperança de estimulá-los no progresso na fé e incrementar sua alegria em Cristo. A igreja filipense amava muito a Paulo, então esperava ansiosamente que ele viesse visitá-la e lhe pregasse outra vez as maravilhosas verdades de Jesus Cristo. Mas, e se ele morrer? Será lucro para o apóstolo. Cristo será ganho completamente (cf. 3:7,8). Paulo reconhecia que após a morte estaria com Cristo. João nos dá a certeza de que seremos como Ele (1 Jo 3:2). Por fim, Paulo diz que é bem melhor estar na companhia de Cristo. Conclusão Nesse pequeno resumo autobiográfico, temos o retrato de um homem que tem um ponto de vista cristão integrado sobre a vida e a morte. Já foi dito, e é verdade, que quem não tem o ponto de vista certo sobre a morte, não terá também o conceito correto sobre a vida. E. Stanley Jones nos deixou um exemplo de uma atitude correta para com a vida e a morte, quando viajava num avião que sobrevoava o aeroporto de Saint Louis nos Estados Unidos. 0 aeroporto estava fechado, e o avião dava voltas por duas horas. Temos aqui o que o veterano missionário escre­veu quando pensou que estava vivendo os últimos instantes de sua vida: “Es­tou em paz espiritualmente, sem tensões, porque creio que a hipótese cen­tral de minha vida está correta. A vida é só uma longa verificação desta hi­pótese central. Esse fato me dá um senso de estabilidade. Estou aqui em ci­ma, neste avião. Há duas horas o avião dá voltas acima destas nuvens. Se não aterrisarmos com segurança, gostaria de deixar meu último testamento para meus amigos e companheiros seguidores de Cristo. Ei-lo: Existe paz, a per­feita paz, independente de minha fidelidade ao Soberano. Não tenho pesares ou remorsos sobre o curso geral de minha vida. A vida com Cristo é a manei­ra de viver. Nesta hora, há segurança, há Deus por fundamento, debaixo de todas as incertezas da existência humana. Portanto, descanso em Deus. Que ele dê o melhor para todos vocês. Vivendo ou morrendo, eu sou dele, só dele.