No Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro, a busca por melhores postos de trabalho (ligada quase sempre ao mercado petrolífero da Bacia de Campos/RJ), os investimentos com a instalação do Porto do Açú e do Estaleiro de Barra do Furado são fatores que têm cooperado para a manutenção da necessidade de se aprender a falar inglês nessa região. Diante desse cenário, muitos cursos livres de idiomas têm sido abertos por toda parte. Pode-se dizer também que a notória deficiência da rede regular quanto a fornecer uma formação em língua inglesa de qualidade aos nossos educandos, de longa data, tem possibilitado que os cursos livres ocupem uma posição protagonista no ensino de língua estrangeira (LE). Pois, como bem salienta Barros (2014), a grande quantidade de escolas de idiomas no Brasil – sendo mais de seis mil filiais de 70 redes em todo território nacional – deve-se, justamente, à ineficácia do ensino deste idioma nas escolas da rede pública, em especial. Entretanto, com toda essa demanda, e ainda que seja constante o crescimento e expansão dessas instituições que têm atuado no mercado privado de ensino de LE em todo território brasileiro desde a década de 1930, pontuamos que os bancos acadêmicos não têm explorado em suas investigações este locus de atuação profissional do professor de inglês. Nesse aspecto, o presente estudo é, sobretudo, fruto de uma inquietude proveniente da falta de referencial teórico consistente acerca de como se dão as relações de ensino-aprendizagem em cursos dessa natureza, tendo como foco de análise a atividade docente do professor de língua inglesa nesses contextos. Assim, em virtude do aumento expressivo do número de cursos de línguas na Região Norte Fluminense nos últimos anos, torna-se relevante investigar o trabalho dos profissionais que atuam ministrando aulas de LE-inglês nessas instituições, já que concebemos o professor como peça fundamental dentro de qualquer contexto educacional, pois, enquanto trabalhador, o professor exerce uma importante atividade de interação, na qual ele se dedica ao seu objeto de trabalho, sendo este um fazer interativo, complexo, um trabalho sobre e com o outro (TARDIFF & LESSARD, 2013, p.11). As implicações que surgem deste pressuposto levam a uma melhor caracterização dessa profissão, na qual o professor de LE-inglês é notadamente um profissional que atua em uma área com características próprias (CELANI, 2008). Nessa medida, buscamos integrar a vertente de estudos situados na interface linguagem e trabalho, com o intuito de investigar, a partir do que diz o professor de inglês sobre o seu trabalho, as imagens que constrói sobre si e sobre a sua atividade profissional em cursos livres. Tomando por base as práticas linguageiras, nossa perspectiva está pautada principalmente na fala sobre o trabalho (LACOSTE, 1998). Para o desenvolvimento desta investigação, utilizaremos uma metodologia de coleta de dados cen
VOZES DA ATIVIDADE DOCENTE EM CURSOS DE IDIOMAS EM CAMPOS-RJ: por uma análise da fala do professor de inglês sobre o seu trabalho
1. Carlos Fabiano de Souza
IFF |UFF |carlosfabiano.teacher@gmail.com
VOZES DA ATIVIDADE DOCENTE EM
CURSOS DE IDIOMAS EM CAMPOS-RJ:
POR UMA ANÁLISE DA FALA DO PROFESSOR DE
INGLÊS SOBRE O SEU TRABALHO
Orientadora: Luciana Maria Almeida de Freitas (UFF)
2. Considerações iniciais
Contextualizando as escolhas
Cursos livres de idiomas (CLs)
Abordagem ergológica da atividade (SCHWARTZ, 1997)
Linguagem sobre o trabalho (LACOSTE, 1998)
Concepção dialógica de linguagem (BAKHTIN, 2011)
Análise de falas
3. A fala do professor de inglês de CLs
Por uma análise na interface trabalho-linguagem
A esse respeito, tem-se que:
As várias práticas científicas que têm por objeto o
trabalho se constituem a partir de pontos de vista
específicos [...] Nesse sentido, há múltiplas ciências do
trabalho e não se pode pretender abordar uma
realidade tão complexa a partir do ponto de vista de
uma só área do saber. [...] (SOUZA-E-SILVA, 2002, p.63,
grifos da autora).
4. Por uma análise na interface trabalho-linguagem
Como bem salienta Nouroudine (2002),
quando a linguagem é ela própria trabalho, isto é, funciona
como parte legitimada da atividade, ela adota, ao mesmo
tempo em que revela, essa complexidade. Portanto,
complexidade do trabalho e complexidade da linguagem, de
um certo ponto de vista, se confundem. A linguagem como
trabalho não é somente uma dimensão, dentre outras, do
trabalho, mas ela própria se reveste de uma série de
dimensões (NOUROUDINE, 2002, p.21).
A fala do professor de inglês de CLs
5. Por uma análise na interface trabalho-linguagem
[...] O diálogo entre teorias é importante, mas não
podemos, ao acionar o discurso dos teóricos que compõem
o Círculo, deixar de levar em conta que, em suas obras, a
referência a texto como enunciado concreto implica
sempre fatores como a posição social, histórica e ideológica
dos interlocutores, as condições em que se deu a interação
entre eles, os demais discursos que entram em relação
dialógica com o enunciado etc. (SILVA, 2013, p.55).
A fala do professor de inglês de CLs
6. Por uma análise na interface trabalho-linguagem
Na teoria de Bakhtin, ou análise dialógica do discurso, a
ideia de dialogismo está ligada à própria concepção de
língua como interação verbal. Afinal, não existe enunciado
concreto sem interlocutores. O próprio fato de um autor
levar em consideração seu interlocutor direto ou indireto
quando produz um enunciado já confere à língua esse
caráter dialógico (SILVA, 2013, p.52).
A fala do professor de inglês de CLs
7. Por uma análise na interface trabalho-linguagem
De acordo com Souza-e-Silva (2002),
eleger as interações no trabalho como objeto de estudo traz
como consequência a necessidade de uma nova postura por
parte do(a) linguista, que é obrigado a recorrer a noções e/ou
categorias de análise advindas de outras disciplinas e a fazer
empréstimos diversificados no âmbito de sua própria disciplina,
sem abrir mão [...] da noção de dialogismo, princípio
constitutivo da linguagem [...] (SOUZA-E-SILVA, 2002, p.63).
A fala do professor de inglês de CLs
8. Por uma análise na interface trabalho-linguagem
A compreensão dos enunciados integrais e das relações
dialógicas entre eles é de índole inevitavelmente dialógica
(inclusive a compreensão do pesquisador de ciências
humanas); o entendedor (inclusive o pesquisador) se torna
participante do diálogo ainda que seja em um nível especial
(em função da tendência da interpretação e da pesquisa).
[...] Um observador não tem posição fora do mundo
observado, e sua observação integra como componente o
objeto observado (BAKHTIN, 2011, p.332).
A fala do professor de inglês de CLs
9. A fala do professor de inglês de CLs
Fonte:Desenvolvidapormim
Ficha de identificação: professor-participante
10. A fala do professor de inglês de CLs
Transcrição das falas dos participantes
[12] Por que há muitos profissionais não licenciados ministrando aulas de inglês
em cursos livres de idiomas?
Fonte:Desenvolvidapormim
11. A fala do professor de inglês de CLs
[13] Os cursos de Licenciatura em Letras (português/inglês) preparam
profissionais para atuação proficiente em CLs? Justifique sua resposta.
Fonte:Desenvolvidapormim
Transcrição das falas dos participantes
12. A fala do professor de inglês de CLs
[14] O que é necessário em termos de qualificação para que um profissional seja
considerado um “bom” professor de línguas para trabalhar em CLs?
Fonte:Desenvolvidapormim
Transcrição das falas dos participantes
13. A fala do professor de inglês de CLs
O professor de línguas estrangeiras, quando ensina uma língua a um aluno,
toca o ser humano na sua essência – tanto pela ação do verbo ensinar, que
significa provocar uma mudança, estabelecendo, portanto uma relação com
a capacidade de evoluir, como pelo objeto do verbo, que é a própria língua,
estabelecendo aí uma relação com a fala. Mas, se lidar com a essência do
ser humano é o aspecto fascinante da profissão há, no entanto, um preço a
se pagar por essa prerrogativa, que é o longo e pesado investimento que
precisa ser feito para formar um professor de línguas estrangeiras. Sem este
investimento não se obtém um profissional dentro do perfil que se deseja:
reflexivo, crítico e comprometido com a educação (LEFFA, 2008, p. 353-354).
14. Considerações finais
Esta apresentação buscou ilustrar uma rota de investigação
possível na interface trabalho-linguagem, por meio da análise
de falas de professores de inglês de CLs de Campos-RJ, sobre o
seu trabalho, com o intuito de trazer contribuições no que diz
respeito à compreensão da complexidade do trabalho do
professor de línguas que atua nesse contexto específico de
ensino-aprendizagem de LE, dando visibilidade para que esse
sujeito e o seu trabalho sejam reconhecidos profissionalmente
como legítimos dentro de determinada comunidade.
15. Referências bibliográficas
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
LACOSTE, M. Fala, atividade, situação. In: DUARTE, F.; FEITOSA, V. (Orgs.). Linguagem & trabalho. Rio de Janeiro:
Lucerna, 1998.
LEFFA, Vilson J. (2008). Aspectos políticos da formação do professor de línguas estrangeiras. In:
__________________ (org.). O professor de línguas estrangeiras: construindo a profissão. 2ª Ed. Pelotas: EDUCAT.
NOUROUDINE, A. A linguagem: dispositivo revelador da complexidade do trabalho. In: SOUZA-E-SILVA, M. C. P.;
FAÏTA, D. (Orgs.). Linguagem e trabalho: construção de objetos de análise no Brasil e na França. São Paulo: Cortez,
2002.
SCHWARTZ, Y. Reconnaissances du travail – Pour un approche ergologique. Paris: PUF, 1997
SILVA, A. P. P. F. Bakhtin. In: OLIVEIRA, Luciano Amaral (Org.). Estudos do discurso: perspectivas teóricas. São Paulo:
Parábola Editorial, 2013.
SOUZA-E-SILVA, M. C. P. A dimensão linguageira em situações de trabalho. In: SOUZA-E-SILVA, M. C. P.; FAÏTA, D.
(Orgs.). Linguagem e trabalho: construção de objetos de análise no Brasil e na França. São Paulo: Cortez, 2002.