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Considerando, principalmente, os povos indígenas, europeus e africanos, descreva como 
ocorreu a miscigenação cultural brasileira, na formação do Brasil, e quais as 
consequências deste processo para a sociedade. 
Cultura pode ser definida como o conjunto formado pela linguagem, crenças, 
hábitos, pensamento e arte de um povo, e a cultura brasileira surgiu como resultado da intensa 
miscigenação e convivência dos povos que participaram da formação do Brasil, surgiu uma 
realidade cultural peculiar, que inclui aspectos das várias culturas. 
A essência da cultura brasileira formou-se durante os séculos de colonização, quando 
ocorre a fusão primordial entre as culturas dos indígenas, dos europeus, especialmente 
portugueses, e dos escravos trazidos da África. Mais do que uma junção de etnias formando 
uma etnia única, a brasileira, o Brasil é um povo nação, ajustado em um território próprio para 
nele viver seu destino. 
Quando os portugueses chegaram ao Brasil perceberam que no local já existiam 
povos que deram o nome de índios acreditando estar nas Índias. Ao longo da costa brasileira 
se encontraram duas visões de mundo completamente opostas: a “selvageria” e a 
“civilização”. Concepções diferentes de mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram. 
Para os europeus os indígenas pareciam belos seres inocentes, que não tinham noção de 
"pecado", porém com um grande defeito: eram "vadios", preguiçosos, não produziam nada 
que pudesse ter valor comercial. Serviam apenas para ser vendidos como escravos. Com a 
descoberta de que as matas estavam cheias de pau-brasil, mudaram o foco de seus interesses. 
Era necessária mão-de-obra para retirar a madeira. 
Aconteceu uma forma de miscigenação um tanto quanto opressora, onde houvesse 
algum europeu alojado na costa em contato com as naus, e que pudesse viabilizar o 
fornecimento de mercadorias das quais os indígenas já haviam se tornado até certo ponto, 
dependentes, cada aldeia levava uma moça para casar-se com os respectivos europeus. Desta 
forma o europeu passava a ser parente, ele se tornava “cunhado” passando a ter sogro, sogra 
genros. Dessa forma, o português conseguiu pôr milhares de índios a seu serviço, para a 
extração e carregamento de pau-brasil. 
O branco penetrou na cultura indígena através deste tal "cunhadismo", por meio 
desse costume foi iniciada a formação do povo brasileiro. E da união das índias com os 
europeus nasceu um povo mestiço que efetivamente ocupou o Brasil. Na barriga das mulheres 
indígenas cresciam indivíduos que não eram indígenas, nasciam meninos e meninas que
sabiam que não eram índios e nem europeus, pois os europeus não os aceitavam como iguais. 
O que eram então? Eram uma gente vazia? O que significavam eles do ponto de vista étnico? 
Estes mestiços consistiam a matéria-prima com a qual se formaria no futuro o povo brasileiro. 
No final do século XVII, a descoberta de ouro nas terras do interior modificou os 
caminhos do Brasil Colônia, a sociedade passava a ser estruturada nos moldes da fazenda, da 
casa grande e da senzala. 
Com o fracasso da escravização dos índios ao longo dos tempos, havia a necessidade 
de nova mão-de-obra, então os negros foram capturados e trazidos para o Brasil em uma 
migração involuntária como escravos, para trabalhar nas lavouras canavieiras e cafeeiras e na 
mineração. Surgiu assim o terceiro grupo importante que participaria da formação da 
população brasileira: o negro africano. 
Os europeus iam à África e faziam grandes expedições de caça de negros, metade 
morria na travessia ou na brutalidade da chegada, ou mesmo por meio do chamado “banzo”, 
um estado psicológico que pode ser explicado como depressão, mas milhões deles 
incorporaram-se ao Brasil. 
Estes negros eram provenientes de povos diferentes, com dialetos locais, línguas 
locais, o único modo de um negro falar com o outro era aprender a língua do seu capataz, que 
não desejava ensiná-los a língua local temendo a ocorrência de futuras fugas e a perda do 
controle da “mercadoria”, genialmente esses negros aprenderam a falar português ora com 
auxilio de outros empregados da casa grande, ora com auxilio de um capataz mais flexível, 
ora observando e escutando. Quem difundiu o português brasileiro foi o negro, que se 
concentrou na área da costa de produção do açúcar e na área do ouro. 
Sabemos que com os negros escravos vinham as escravas mulheres e meninas, 
muitas apartadas dos maridos, noivos e filhos, no entanto os senhores de engenho queriam 
muito comprá-las, e os capatazes também, para explorá-las tanto no trabalho da casa grande 
como sexualmente, logicamente essas mulheres e meninas engravidavam, e quem era essa 
criança? Não era africana, não era índia e não era europeia, essa criança só encontraria uma 
identidade no dia em que se definisse o que é o brasileiro. Assim, o negro africano contribuiu 
para o desenvolvimento populacional e econômico do Brasil e tornou-se, pela mestiçagem, 
parte inseparável de seu povo. 
Desta forma, surge um povo novo que, no dizer de Darcy Ribeiro, se enfrentam e se 
fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária". Essa mestiçagem fez 
nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça na carne e no espírito.
Podemos perceber claramente que a formação da cultura brasileira, em seus vários 
aspectos, resultou de uma integração de elementos da cultura indígena, do português 
colonizador e do negro. 
Muitas foram as contribuições dos índios brasileiros para a nossa formação cultural e 
social. Do ponto de vista étnico, contribuíram para o surgimento de um indivíduo tipicamente 
brasileiro: o caboclo. Na nossa formação cultural, os índios contribuíram com: nosso 
vocabulário - que possui inúmeros termos de origem indígena, como pindorama, anhanguera, 
ibirapitanga entre outras; com o folclore - com lendas como o curupira, o saci-pererê, o 
boitatá etc.; com a culinária - que recebeu contribuições com o uso de raízes como a 
mandioca, usada para preparar a tapioca e o beiju; com os utensílios de caça e pesca como a 
arapuca e o puçá, e com os utensílios domésticos – como a rede a cabaça e a gamela, dentre 
outros. 
Os portugueses realizaram uma transplantação cultural para o Brasil, destacando-se: 
a língua portuguesa, a religião católica (o calendário religioso, as procissões etc.), as 
instituições administrativas, o tipo de construções de povoados, vilas e cidades, a agricultura, 
as lendas do folclore (a cuca e o bicho papão), os folguedos (a cavalhada, os fandangos e a 
farra do boi), as cantigas de roda, as festas juninas, uma das principais festas da cultura do 
Nordeste, as artes em cerâmica e os bordados. 
De modo geral a contribuição cultural dos negros também foi grande: na alimentação 
(vatapá, acarajé, acaçá, cocada, pé de moleque etc.); nas danças (quilombos, maracatus e 
aspectos do bumba meu boi); nas manifestações religiosas (o candomblé na Bahia, a 
macumba no Rio de Janeiro e o xangô em outros estados do Nordeste); a capoeira, os 
instrumentos de música como os tambores, atabaques, cuícas, berimbaus e afoxés. 
Podemos perceber que cada um deixou sua contribuição para nossa cultura, e mais 
do que isso, com o passar do tempo essa miscigenação difundiu-se ainda mais. A culinária 
africana misturou-se à indígena e à europeia; os valores do catolicismo europeu fundiram-se 
às religiões e aos símbolos africanos; as linguagens e vocabulários afros e indígenas 
somaram-se ao idioma oficial da coroa portuguesa, ampliando as formas possíveis para 
denominarmos as coisas do dia a dia; o gosto pela dança, assim como um forte erotismo e 
apelo sexual juntaram-se ao pudor de um conservadorismo europeu. Assim, do vatapá ao 
chimarrão, do frevo à moda de viola caipira, da forte religiosidade ao carnaval e ao samba, 
tudo isso, a seu modo, compõe aquilo que conhecemos como cultura brasileira, que surgia 
como resultado da mistura desses três elementos principais: o branco, o índio e o negro, no 
qual as características das três raças teriam se fundido e criado algo novo: o brasileiro. Além
disso, do ponto de vista moral e comportamental, acredita-se que o brasileiro consiga reunir, 
ao mesmo tempo, características contraditórias: se por um lado haveria um tipo de homem 
simples acostumado a lutar por sua sobrevivência contra as hostilidades da vida (como a 
pobreza), valorizando o mérito das conquistas pessoais pelo trabalho duro, por outro lado este 
mesmo homem seria conhecido pelo seu “jeitinho brasileiro”, o qual encurta distâncias, 
aproxima diferenças, reúne o público e o privado. 
Como pode-se perceber, o Brasil hoje é marcado pela diversidade cultural, tornando 
sua maior riqueza. A formação do povo brasileiro, além de uma mistura de raças, é marcada 
por profundas cicatrizes de conflitos de cor, de raças e de interesses econômicos, 
caracterizados pela primazia do lucro sobre a necessidade, como a escravidão e a 
transformação do índio e do negro em mercadoria , em nome do bem estar de uns poucos. 
Mas apesar de tantos dissabores, nossa gente é alegre! Somos todos brasileiros!

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  • 1. Considerando, principalmente, os povos indígenas, europeus e africanos, descreva como ocorreu a miscigenação cultural brasileira, na formação do Brasil, e quais as consequências deste processo para a sociedade. Cultura pode ser definida como o conjunto formado pela linguagem, crenças, hábitos, pensamento e arte de um povo, e a cultura brasileira surgiu como resultado da intensa miscigenação e convivência dos povos que participaram da formação do Brasil, surgiu uma realidade cultural peculiar, que inclui aspectos das várias culturas. A essência da cultura brasileira formou-se durante os séculos de colonização, quando ocorre a fusão primordial entre as culturas dos indígenas, dos europeus, especialmente portugueses, e dos escravos trazidos da África. Mais do que uma junção de etnias formando uma etnia única, a brasileira, o Brasil é um povo nação, ajustado em um território próprio para nele viver seu destino. Quando os portugueses chegaram ao Brasil perceberam que no local já existiam povos que deram o nome de índios acreditando estar nas Índias. Ao longo da costa brasileira se encontraram duas visões de mundo completamente opostas: a “selvageria” e a “civilização”. Concepções diferentes de mundo, da vida, da morte, do amor, se chocaram. Para os europeus os indígenas pareciam belos seres inocentes, que não tinham noção de "pecado", porém com um grande defeito: eram "vadios", preguiçosos, não produziam nada que pudesse ter valor comercial. Serviam apenas para ser vendidos como escravos. Com a descoberta de que as matas estavam cheias de pau-brasil, mudaram o foco de seus interesses. Era necessária mão-de-obra para retirar a madeira. Aconteceu uma forma de miscigenação um tanto quanto opressora, onde houvesse algum europeu alojado na costa em contato com as naus, e que pudesse viabilizar o fornecimento de mercadorias das quais os indígenas já haviam se tornado até certo ponto, dependentes, cada aldeia levava uma moça para casar-se com os respectivos europeus. Desta forma o europeu passava a ser parente, ele se tornava “cunhado” passando a ter sogro, sogra genros. Dessa forma, o português conseguiu pôr milhares de índios a seu serviço, para a extração e carregamento de pau-brasil. O branco penetrou na cultura indígena através deste tal "cunhadismo", por meio desse costume foi iniciada a formação do povo brasileiro. E da união das índias com os europeus nasceu um povo mestiço que efetivamente ocupou o Brasil. Na barriga das mulheres indígenas cresciam indivíduos que não eram indígenas, nasciam meninos e meninas que
  • 2. sabiam que não eram índios e nem europeus, pois os europeus não os aceitavam como iguais. O que eram então? Eram uma gente vazia? O que significavam eles do ponto de vista étnico? Estes mestiços consistiam a matéria-prima com a qual se formaria no futuro o povo brasileiro. No final do século XVII, a descoberta de ouro nas terras do interior modificou os caminhos do Brasil Colônia, a sociedade passava a ser estruturada nos moldes da fazenda, da casa grande e da senzala. Com o fracasso da escravização dos índios ao longo dos tempos, havia a necessidade de nova mão-de-obra, então os negros foram capturados e trazidos para o Brasil em uma migração involuntária como escravos, para trabalhar nas lavouras canavieiras e cafeeiras e na mineração. Surgiu assim o terceiro grupo importante que participaria da formação da população brasileira: o negro africano. Os europeus iam à África e faziam grandes expedições de caça de negros, metade morria na travessia ou na brutalidade da chegada, ou mesmo por meio do chamado “banzo”, um estado psicológico que pode ser explicado como depressão, mas milhões deles incorporaram-se ao Brasil. Estes negros eram provenientes de povos diferentes, com dialetos locais, línguas locais, o único modo de um negro falar com o outro era aprender a língua do seu capataz, que não desejava ensiná-los a língua local temendo a ocorrência de futuras fugas e a perda do controle da “mercadoria”, genialmente esses negros aprenderam a falar português ora com auxilio de outros empregados da casa grande, ora com auxilio de um capataz mais flexível, ora observando e escutando. Quem difundiu o português brasileiro foi o negro, que se concentrou na área da costa de produção do açúcar e na área do ouro. Sabemos que com os negros escravos vinham as escravas mulheres e meninas, muitas apartadas dos maridos, noivos e filhos, no entanto os senhores de engenho queriam muito comprá-las, e os capatazes também, para explorá-las tanto no trabalho da casa grande como sexualmente, logicamente essas mulheres e meninas engravidavam, e quem era essa criança? Não era africana, não era índia e não era europeia, essa criança só encontraria uma identidade no dia em que se definisse o que é o brasileiro. Assim, o negro africano contribuiu para o desenvolvimento populacional e econômico do Brasil e tornou-se, pela mestiçagem, parte inseparável de seu povo. Desta forma, surge um povo novo que, no dizer de Darcy Ribeiro, se enfrentam e se fundem, fazendo surgir, "num novo modelo de estruturação societária". Essa mestiçagem fez nascer um novo gênero humano. Nova gente, mestiça na carne e no espírito.
  • 3. Podemos perceber claramente que a formação da cultura brasileira, em seus vários aspectos, resultou de uma integração de elementos da cultura indígena, do português colonizador e do negro. Muitas foram as contribuições dos índios brasileiros para a nossa formação cultural e social. Do ponto de vista étnico, contribuíram para o surgimento de um indivíduo tipicamente brasileiro: o caboclo. Na nossa formação cultural, os índios contribuíram com: nosso vocabulário - que possui inúmeros termos de origem indígena, como pindorama, anhanguera, ibirapitanga entre outras; com o folclore - com lendas como o curupira, o saci-pererê, o boitatá etc.; com a culinária - que recebeu contribuições com o uso de raízes como a mandioca, usada para preparar a tapioca e o beiju; com os utensílios de caça e pesca como a arapuca e o puçá, e com os utensílios domésticos – como a rede a cabaça e a gamela, dentre outros. Os portugueses realizaram uma transplantação cultural para o Brasil, destacando-se: a língua portuguesa, a religião católica (o calendário religioso, as procissões etc.), as instituições administrativas, o tipo de construções de povoados, vilas e cidades, a agricultura, as lendas do folclore (a cuca e o bicho papão), os folguedos (a cavalhada, os fandangos e a farra do boi), as cantigas de roda, as festas juninas, uma das principais festas da cultura do Nordeste, as artes em cerâmica e os bordados. De modo geral a contribuição cultural dos negros também foi grande: na alimentação (vatapá, acarajé, acaçá, cocada, pé de moleque etc.); nas danças (quilombos, maracatus e aspectos do bumba meu boi); nas manifestações religiosas (o candomblé na Bahia, a macumba no Rio de Janeiro e o xangô em outros estados do Nordeste); a capoeira, os instrumentos de música como os tambores, atabaques, cuícas, berimbaus e afoxés. Podemos perceber que cada um deixou sua contribuição para nossa cultura, e mais do que isso, com o passar do tempo essa miscigenação difundiu-se ainda mais. A culinária africana misturou-se à indígena e à europeia; os valores do catolicismo europeu fundiram-se às religiões e aos símbolos africanos; as linguagens e vocabulários afros e indígenas somaram-se ao idioma oficial da coroa portuguesa, ampliando as formas possíveis para denominarmos as coisas do dia a dia; o gosto pela dança, assim como um forte erotismo e apelo sexual juntaram-se ao pudor de um conservadorismo europeu. Assim, do vatapá ao chimarrão, do frevo à moda de viola caipira, da forte religiosidade ao carnaval e ao samba, tudo isso, a seu modo, compõe aquilo que conhecemos como cultura brasileira, que surgia como resultado da mistura desses três elementos principais: o branco, o índio e o negro, no qual as características das três raças teriam se fundido e criado algo novo: o brasileiro. Além
  • 4. disso, do ponto de vista moral e comportamental, acredita-se que o brasileiro consiga reunir, ao mesmo tempo, características contraditórias: se por um lado haveria um tipo de homem simples acostumado a lutar por sua sobrevivência contra as hostilidades da vida (como a pobreza), valorizando o mérito das conquistas pessoais pelo trabalho duro, por outro lado este mesmo homem seria conhecido pelo seu “jeitinho brasileiro”, o qual encurta distâncias, aproxima diferenças, reúne o público e o privado. Como pode-se perceber, o Brasil hoje é marcado pela diversidade cultural, tornando sua maior riqueza. A formação do povo brasileiro, além de uma mistura de raças, é marcada por profundas cicatrizes de conflitos de cor, de raças e de interesses econômicos, caracterizados pela primazia do lucro sobre a necessidade, como a escravidão e a transformação do índio e do negro em mercadoria , em nome do bem estar de uns poucos. Mas apesar de tantos dissabores, nossa gente é alegre! Somos todos brasileiros!