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Sermão de Sto António aos Peixes (Resumo)
Capítulo I – Exórdio (apresentação do assunto do sermão)
Pág. 3 – 1º parágrafo
“Vos estis sal terrae” – “Vós (ospregadores) sois o sal da terra”, ou seja, o dever dospregadores é proteger
a população da corrupção tal como o sal preserva os alimentos.
Naquela época não se usava a refrigeração, mas sim, o sal para conservar os alimentos, protegendo-os das
bactérias e dos fungos.
O pregador constata que o sal (=os pregadores) não cumpre as suas funções e vai procuras as causas:
- OU : - o sal não salga, ou seja, os pregadores não pregam a verdadeira doutrina;
- os pregadores dizem uma coisa e fazem outra;
- se pregam a si e não a Cristo.
- OU: - a terra não se deixa salgar, ou seja, os ouvintes não querem receber a doutrina;
- os ouvintes preferem imitar o que os pregadores fazem e não o que eles dizem;
- os ouvintes servem os seus apetites no lugar de servirem a Cristo.
A repetição anafórica da conjunção coordenativa disjuntiva OU introduz a enumeração das hipóteses que
explicam a corrupção dos homens, ou seja, os habitantes do Maranhão, sendo eles o alvo da crítica contida
neste sermão.
2º parágrafo
Interrogação retórica: o que fazer relativamente a esta situação? Como impedir tanta e tão grande
corrupção?
Se é o pregadorque está em falta, Cristo dá a resposta segundoo Evangelho de S. Mateus, V13. O pregador
que não cumprir as suas funções deverá ser desprezado por todos.
3º parágrafo
Se o mal está nos ouvintes que não ouvem, o Padre António Vieira encontra a resposta no exemplo de Sto
António, o qual é muito elogiado pelo orador.
4º parágrafo
Vieira resume a vida dura de Sto António em Arimino (Itália) e de todas as dificuldades que sofreu devido
à maldade e à ignorância dos homens. Chegou a ver a sua vida ameaçada, mas manteve-se sempre íntegro e
firme.
Pág. 4 - 4ºparágrafo (continuação)
Sto António “mudou somente o púlpito e o auditório”, decidindo pregar aos peixes.
As antíteses “praças – praias” e “terra – mar” acentuam o contraste entre as atitudes dos homens que o
ignoraram e o perseguiram e os peixes que acorreram em grande número para o ouvir. Esta movimentação
dos peixes é ilustrada pela anáfora “começam” e a variedade de espécies que acorre a ouvir o sermão está
bem expressa na enumeração “os grandes”, “os maiores”, “os pequenos.”
5º parágrafo
Referência aos “santos doutores” num tom irónico (na verdade, não são santos, referindo-se ao Evangelho
como um texto muito bom para eles).
Sto António, para além de ter sido o sal da terra, também foi o sal do mar por ter conquistado as atenções
dos peixes.
“Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje”, diz Vieira, referindo-se às características do seu sermão.
Aproveitando o facto de ser 13 de junho, dia consagrado a Sto António, parece pertinente a Vieira pregar
como ele (aos peixes) e não pregar dele, ou seja, falar sobre o santo.
Vieira caracteriza a sua doutrina com a adjetivação “muito clara”, “muito sólida”, muito verdadeira”. A
enumeração “de manhã e de tarde”, “de dia e de noite” expressa os momentos em que ele prega
continuamente. Esta ideia de continuidade está presente no polissíndeto (repetição da conjunção “e”).
6º parágrafo: Final do Exórdio
Vieira anuncia queseguirá o exemplo de Sto Antónioe que irá pregar aos peixes, certode que eles o ouvirão
visto “o mar estar tão perto.” Ele convida os restantes ouvintes a retirar-se, dizendo que o sermão não se
destina a eles, crente de que esses não lhe darão ouvidos.
Com a intenção de obter ajuda, ele invoca Maria, Senhora do Mar (“Domino Maris”) para que dê força às
suas palavrase que elas penetrem nos ouvidos daqueles que serão o alvo deste sermão, ou seja, os habitantes
do Maranhão.
Capítulo II
Pág. 4 – 1º parágrafo
Inicio docapítulocom a interrogaçãoretórica “Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?” Em seguida,
dá-nos conta de duas qualidades dos peixes: ”ouvem e nunca falam”. Ele também refere-se a este público
com a ironia “Nunca pior auditório” (na verdade, ele quer dizer que não existe melhor auditório, sendo na
verdade muito melhor do que os homens).
Apesar disto, sente a dor de “serem gente os peixes que se não há de converter”, referindo-se aos
habitantes do Maranhõo que exploram os índios. No entanto, como esta dor é tão comum, já nem se sente.
Pág. 4 – 2º parágrafo
O sal tem duas propriedades: conservar e preservar.
Os sermões de Sto Antóniotambém tinham estas duas qualidadesqueos sermões dos pregadores deveriam
ter: louvar o bem e repreender o mal.
Pág. 5 – 2º parágrafo
A bondadee a maldade nãosão característicasexclusivasdos seres humanos. Também existem peixes bons
e peixes maus. Para ilustrar essa ideia, ele cita passagens de S.Basílio e de S.Mateus, referindo este que
Cristo comparoua sua Igreja à rede de pescar,pedindo aospescadores para recolher os peixes bons e lançar
fora os maus.
Tendo em conta esta necessidade de louvar e de repreender, Vieira, começando a dirigir-se aos peixes,
anuncia a divisão que fará no seu discurso. Em primeiro lugar, louvará as suas virtudes e, em segundo lugar,
repreenderá os seus vícios.
3º parágrafo
Começando pelos louvores, começa por referir o facto dos peixes terem sido as primeiras criaturas que
Deus criou. Desde o dia em que o homem exerceu o seu domínio sobre os restantes animais, os peixes foram
os primeiros a ser nomeados, sendo os animais que existem na terra em maior quantidade e com espécies de
maior porte (referência à baleia como o maior animal do planeta).
No final do parágrafo, Vieira salienta que todas aquelas qualidades são um atributo dos peixes e não dos
homens que se deixam dominar pela vaidade e pela adulação.
4º parágrafo
Feitos os louvores, passa às virtudes e algumas delas são a obediência,a ordem, a quietaçãoe a atençãocom
que ouvem a palavra de Deus através da boca de Sto. António.
É feita uma comparação entre esta atitude de obediência e de atenção dos peixes e a atitude dos homens
em perseguir Sto António. Os homens, apesar de serem racionais, não obedecem à razão, ao contrário dos
peixes, animais irracionais.
5º parágrafo – Pág. 5
Continuando a dirigir-se aos peixes, Vieira afirma que estes merecem todo o louvor pelo seu respeito e
devoção por quem espalha a palavra de Deus.
5º parágrafo – Pág. 6
Referência ao episódio do pregador Jonas que se viu no meio de uma tempestade. Os homens lançaram-no
ao mar para que os peixes o comessem. Um peixe engoliu-o para o salvar, levando-o para Ninive onde Jonas
continuou a pregar. Refere que os peixes são melhores do que os homens, fazendo um trocadilho com a
palavra “entranhas” (os homens tiveram entranhas para o atirar ao mar e o peixe recolheu-o nas suas
entranhas para o ajudar).
6º parágrafo
Vieira cita Aristóteles (famosofilósofo grego). Este autor refere o factode os peixes terem como virtude
natural não se domarem nem domesticarem. É feita uma enumeração dos animais domesticados pelo homem
que vivem encurralados, longe do seu habitat natural e perto do poder dos homens.
Ao contrário da opinião geral, segundo a qual este comportamento dos peixes revela“ pouca docilidade ou
demasiada bruteza”,Vieira tem uma opiniãobem contrária,louvandoospeixes poresta atitude. Ele considera
este afastamentodoshomens uma atitude bastanteprudentepor parte dos peixes. Para reforçaresta ideia,
ele dá exemplos concretos de animais presos e subjugadospelo homem através de uma enumeração(o bugio,
o cão, o boi, os tigres e os leões).
7º parágrafo
Referindo-se ao episódio do Dilúvio e da Arca de Noé, também foram os peixes os que sobreviveram em
maior quantidade, não se limitando a um macho e uma fêmea como os outros animais. A salvação dos peixes
foi este afastamento que eles tinham dos homens. Estes morreram porque viviam em pecado. Todos os
animais que serviam o homem e com ele viviam também foram condenados devido à proximidade e à
comunicação com o ser humano.
8º parágrafo
Dirigindo-seaos peixes, afirma “quãogrande bem é estar longe dos homens” e refere uma pergunta dirigida
a um filósofo: perguntaram-lhe qual era a melhor terra do mundo. Este respondeu que era a mais deserta
porque aí os homens estavam mais longe.
Isto o admitia Sto António: quanto mais desejava aproximar-se de Deus, mais se afastava dos homens,
acabando por abandonar a casa de seus pais e por se recolher na mais completa clausura. Como não deixavam
de o perseguir, ele persistiu em esconder-se, deixando Lisboa, Coimbra, Portugal… “Mudou o hábito, mudou
o nome e até a si mesmo mudou”, fazendo-sepassar por um idiota para despistar os seus inimigos e acabando
por levar uma vida solitária num local isolado, num deserto. Quanto mais se afastava dos homens, mais se
aproximava de Deus.
Este afastamento dos homens permitiu a Sto António proteger-se dos seus inimigos e manter-se fiel à
sua doutrina.
Capítulo III
1º parágrafo – pág. 7
Depois de ter falado com os peixes em geral, vai louvá-los em particular, reconhecendo que tem alguma
inveja da sua pureza.
Para louvar os peixes em particular, Vieira socorre-se de sucessivas narrativas, seja da História
Natural, da Bíblia ou de outras fontes. O primeiro a ser louvado é o peixe de Tobias. Enquanto este passeava
com o Anjo S. Rafael, vê um enorme peixe com intenções de o comer. Quando o ia atacar, o anjo S. Gabriel
aconselhou Tobias a não ter medo de modo a arrastar o peixe para terra e a retirar-lhe o coração e as
entranhas, pois o fel do peixe curaria a cegueira e o coração afastaria os demónios. Como o pai de Tobias
era cego, ele tentou logo aplicar-lhe aquele remédio e o pobre homem começou a ver.
1º parágrafo – pág. 8
Tobias casou com Sara, a quem o demónio Asmodeu havia morto sete maridos. Queimaram parte do
coração em casa e o demónio desapareceu para sempre. Há então que louvar este peixe cujo coração e fel é
tão benéfico para os homens.
2º parágrafo
Vieira estabelece um paralelo entre este peixe e Sto António queabriu a boca contra os hereges… Estes,
tal como Tobias, gritavam, assustavam-se a achavam que ele os queria comer. Como, nessa situação, não
houve nenhum anjo que revelasse como eram o coração e as entranhas desse homem. Assim, nunca
conheceram as verdadeiras intenções de Sto António: curar a cegueira dos homens e expulsar os demónios
para fora de suas casas.
3º parágrafo
Continua este paralelo entre Sto António e o peixe de Tobias. Vieira interroga porque é que o homem
desejava perseguir quem lhes queria tirar as cegueiras e livrá-los dos demónios. Vieira também refere que
a diferença entre ambos consiste em que o peixe abria a boca contra quem se lavava e Sto António abria a
boca contra os que não se queriam lavar.
4º parágrafo
Vieira dirige-se aos moradores do Maranhão (apóstrofe), pedindo que lhe abrissem as suas entranhas e
vissem o seu coração, pois ele também tem o poder de curar as cegueiras e os malefícios daquela população.
Em seguida, relembra que se dirige aos peixes e não a eles.
5º parágrafo
Referência à Rémora, cujo pequeno corpo nada tem a ver com a força que
é capaz de mudar o rumo de uma nau quando se cola no seu leme. Nota-se que
existe um exagero perante a força da rémora, pois esta realmente, apesar
de se fixar às naus, não lhes consegue mudar o rumo. Vieira lamenta: se
houvesse uma única rémora com a força do mar, haveria menos naufrágios e
menos perigos.
6º parágrafo – Pág. 8
A língua de Santo António é comparada à Rémora, pois ambas são pequenas e têm a mesma forma –
achatada. Podem medir de facto, um palmo de mão como é referido no texto: “que não sendo maior de um
palmo”. Tal como a rémora, também a língua de Santo António podia mudar o “rumo” das pessoas (guiá-las
pelo caminho do bem, impedindo que caíssem em desgraças). Assim, também as palavras de Santo António
foram “uma rémora na terra”, porque conseguiram “domar a fúria das paixões humanas”, ou seja, os vícios
humanos (soberba, vingança, cobiça, sensualidade).
Vieira continua o seu discurso alegórico, apresentando exemplos que confirmam a afirmação anterior: A
Nau Soberba, com as velas inchadas de vento, não se desfez nos rochedos, porque as palavras de Santo
António a salvaram; a Nau Vingança, repleta de ira e ódio, encontrou a paz através das palavras do santo.
6º parágrafo – Pág. 9
A NauCobiça,foi salva das garrasdos corsários pela acçãode SantoAntónio; A NauSensualidade,iludida
pelos cantos das sereias, encontrou a salvação, seguindo a luz das palavras do Santo. Podemos concluir, que
este peixe simboliza o poder da palavra dos pregadores, mais especificamente de Santo António, porque
ambos apresentam a mesma função – “guiar”.
7º parágrafo
A língua de Santo António foi a “rémora” dos ouvintes enquanto estes o ouviam. Quando o deixaram de
ouvir, foram atingidos pelos “naufrágios” (pelas desgraças morais).
8º parágrafo
À semelhança da Rémora, o Torpedo também é um peixe de pequenas
dimensões mas com grandes poderes. Este possui na cabeça um pequeno
aparelho que gera eletricidade e que faz tremer a mão do pescador.
Ventosa da rémora
Peixe torpedo
9º parágrafo
Vieira formula o desejo de que tremesse dessa forma a mão de todos aqueles que “pescam” na terra, ou seja,
roubam descaradamente. Ele não se admira da grande quantidade da “pescaria” (roubo) que acontece na terra.
Ele admira-se, sim, que haja muito “pescar” (roubar) e pouco tremer.
10º parágrafo
A maior “pescaria” (roubo) dá-se na terra e não no mar. No mar usam-se as canas para pescar, na terra usam-
se as varas (símbolo do juiz), as ginetas (símbolo do capitão), as bengalas (símbolo do mestre-de-campo), os
bastões (símbolo do posto designado por “grau-de-bastão”) e os ceptros (símbolo real e religioso)… Usam-se estes
instrumentos para “pescar” (roubar) cidades e reinos inteiros! Como é possível que os homens roubem tanto sem
lhes tremer a mão e o braço? Vieira afirma que, se tivesse a língua de Sto António, faria tremer todos aqueles
colonos que “pescam” tudo aos índios, desde os seus valores à sua integridade física e humana.
11º parágrafo
Enquanto pregava um sermão, Sto António também fez tremer 22 pescadores
que lhe confessaram todos os seus pecados e tentaram refazer a sua vida.
12º parágrafo – pág. 9
O autor do texto acaba os seus louvores referindo o peixe de quatro-olhos.
Refere este peixe pois esta espécie habita águas doces ou salgadas, em rios e
lagos do México e Brasil. Como o sermão foi escrito no Brasil mais propriamente
na cidade de Maranhão, este peixe também acabou por ser referido.
12º parágrafo – Pág. 10
Vieira demonstra ter um real conhecimento da realidade descrita no seu sermão ao afirmar ter averiguado a
razão no nome “quatro-olhos” tendo confirmado que este peixe tem quatro olhos “cabais e perfeitos”, louvando a
generosidade da divina providência para com este peixe, enquanto que as águias e os linces , animais predadores,
só têm dois olhos.
13º parágrafo
Vieira exprime a ironia daquela situação…Enquanto que um pequeno peixe tem quatro instrumentos de
observação, na terra existem tantos homens a sofrer de uma profunda cegueira…
14º parágrafo
Vieira explica o porquê dos quatro olhos: os da parte superior olham diretamente para cima e os da parte
inferior diretamente para baixo. A razão consiste em que estes peixinhos, que nadam à superfície da água, são
as presas de outros peixes maiores (inimigos no mar) e das aves marítimas (inimigos do ar).Tal como os Quatro
Olhos, é importante ver o bem e o mal, o céu e o inferno.
15º parágrafo
Este peixe não é só alvo de louvor como também ensina ao pregador que deve olhar diretamente para cima
considerando que há um Céu e para baixo tendo em conta que existe um Inferno. Já dizia David: “Senhor, voltai-
me os olhos para que estes não vejam a vaidade.”
16º parágrafo
E porque não olhar para os lados? Para não verem a vaidade, David queria que Deus virasse os seus olhos
apenas para cima (para ver o Céu) ou para baixo (para ver o Inferno). Vieira reflete sobre a dificuldade em
olharmos em redor porque tudo à nossa volta “é vaidade.”
17º parágrafo
Vieira dá graças aos peixes por ajudarem os homens a irem para o Céu cumprindo o jejum sagrado da
Quaresma. Ao contrário das aves e dos animais terrestres que constituem os banquetes dos ricos, os peixes
servem o jejum dos crentes e a abstinência dos justos.
17º parágrafo – Pág. 11
Deus proíbe o consumo de carne durante o jejum sagrado, mas permite o consumo do peixe. Este alimento é
de tal forma puro que se pode consumir durante todo o ano. Um só lugar foi dado à Constelação de Peixes pelos
astrólogos entre os signos celestes;no entanto, os peixes que se mantém na terrasão os que asseguram os lugares
no Céu.
18ªparágrafo
Vieira termina este discurso sobre a virtude dos peixes referindo a bênção que Deus lhes deitou de crescerem
e de se multiplicarem, nomeadamente as sardinhas, visto que são o alimento dos pobres, enquanto que os solhos e
os salmões existem em menor número, sendo o alimento dos reis e dos poderosos.
Cristo aumenta e multiplica os peixes que sustentam a fome dos pobres. Vieira deixa aqui o apelo: “crescei,
peixes, crescei e multiplicai-vos.”
Quatro olhos
Capítulo IV
1ºparágrafo
O quarto capítulo é dedicado às repreensões.
O primeiro defeito de que os peixes são acusados é de se comerem uns aos outros e, sobretudo, os grandes
comerem os pequenos. Através da palavra de Sto Agostinho, Vieira joga com o duplo significado da palavra
“comer”, estabelecendo-se um paralelismo entre os peixes e os homens. Se Santo Agostinho mostrou aos homens
o quão feio é comer um irmão através do exemplo dos peixes, Vieira ilustra aos peixes a monstruosidade de os
homens se comerem uns aos outros.
2ºparágrafo
O pregador, através da anáfora “vedes”, convida o auditório a olhar para a terra, não para o mato onde habitam
os índios, mas para a grande cidade com todo aquele “bulir”, “andar”,”concorrer”…(enumeração das ações que
descrevem a azáfama humana nas cidades com o objetivo de se “comerem” uns aos outros de modo a atingir a
supremacia social.
2ºparágrafo- pág.12
Para ilustrar esta realidade, Vieira dá o exemplo de um homem que morreu e que, antes mesmo de ser
enterrado, já havia sido comido pelos herdeiros, testamenteiros, credores, médico, etc.
3º parágrafo
Pior do que comer um homem depois de morto é comê-lo quando ele ainda está vivo. Dá o exemplo de Job, um
homem muito rico que, apesar de ter perdido todos os seus bens materiais, manteve sempre a sua fé e, no final,
Deus devolveu-lhe os seus bens a dobrar.
4º parágrafo
Vieira refere outro exemplo de um homem acusado a quem o mesmo, antes de ser sentenciado, todos comem,
desde o carcereiro à testemunha até ao julgador. Por tudo isto, conclui: “São piores os homens do que os corvos.”
Atenção à repetição anafórica (”come-o”).
5º parágrafo
Tal como acontece com os peixes, que são os grandes a comerem os pequenos, também os homens grandes
comem os seus inferiores, engolem-nos, devoram-nos. Está aqui expresse uma crítica social : a exploração dos
mais fracos. Deste mal também Deus se queixou, dizendo “Acaso não sabem todos os que praticam o mal, os que
devoram o meu povo como um pedaço de pão?” As pessoas comem-se tal como se come um pedaço de pão, alimento
que se consome todos os dias.
6º parágrafo
Os elemento do povo e da plebe são os mais comidos, visto serem estes os mais pequenos, os que menos pedem
e os que menos poder têm na república. Os poderosos que governam as cidades e as províncias não se contentam
de comer os pequenos um por um, devorando povoações inteiras como se devora o pão e não os outros alimentos.
É notória a expressividade dos verbos “engolir” e “devorar”, exprimindo metaforicamente o ato de “comer.”
7º parágrafo
A diferença entre o pão e os outros alimentos, consiste em que o pão consome-se todos os dias, tal como os
pequenos que são continuamente devorados pelos poderosos.
14º parágrafo – pág. 14
A ignorância e a cegueira são dois defeitos que levam à perdição dos peixes e dos homens. Vieira fez inúmeras
advertências no sentido de não se deixarem enganar pelos maiores nem deixarem a sua ambição falar mais alto.
15º parágrafo
A vaidade também é um engodo que provoca as batalhas entre exércitos e, consequentemente, a morte.
16º parágrafo
Tal como os peixes, os homens devoram-se uns aos outros , visto que no Maranhão se derrama muito sangue,
embora não haja exércitos nem “esta ambição de hábitos.”
17ª parágrafo.
Tanto os homens como os peixes são cegos em relação a certos aspetos. Assim sendo, os peixes são tentados
pelo isco que acabam sempres por morder, sendo assim pescados. Os homens são seduzidos pelos tecidos caros,
luxuosos e requintados que estes compram e ficam endividados para toda a vida.
18ª parágrafo.
Refere o exemplo de Santo António, que se despojou de todos os seus bens materiais e vivia pregando a fé
com um simples burel atado com uma corda.

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Sermão de sto antónio aos peixes resumo i e ii capítulos

  • 1. Sermão de Sto António aos Peixes (Resumo) Capítulo I – Exórdio (apresentação do assunto do sermão) Pág. 3 – 1º parágrafo “Vos estis sal terrae” – “Vós (ospregadores) sois o sal da terra”, ou seja, o dever dospregadores é proteger a população da corrupção tal como o sal preserva os alimentos. Naquela época não se usava a refrigeração, mas sim, o sal para conservar os alimentos, protegendo-os das bactérias e dos fungos. O pregador constata que o sal (=os pregadores) não cumpre as suas funções e vai procuras as causas: - OU : - o sal não salga, ou seja, os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; - os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; - se pregam a si e não a Cristo. - OU: - a terra não se deixa salgar, ou seja, os ouvintes não querem receber a doutrina; - os ouvintes preferem imitar o que os pregadores fazem e não o que eles dizem; - os ouvintes servem os seus apetites no lugar de servirem a Cristo. A repetição anafórica da conjunção coordenativa disjuntiva OU introduz a enumeração das hipóteses que explicam a corrupção dos homens, ou seja, os habitantes do Maranhão, sendo eles o alvo da crítica contida neste sermão. 2º parágrafo Interrogação retórica: o que fazer relativamente a esta situação? Como impedir tanta e tão grande corrupção? Se é o pregadorque está em falta, Cristo dá a resposta segundoo Evangelho de S. Mateus, V13. O pregador que não cumprir as suas funções deverá ser desprezado por todos. 3º parágrafo Se o mal está nos ouvintes que não ouvem, o Padre António Vieira encontra a resposta no exemplo de Sto António, o qual é muito elogiado pelo orador. 4º parágrafo Vieira resume a vida dura de Sto António em Arimino (Itália) e de todas as dificuldades que sofreu devido à maldade e à ignorância dos homens. Chegou a ver a sua vida ameaçada, mas manteve-se sempre íntegro e firme. Pág. 4 - 4ºparágrafo (continuação) Sto António “mudou somente o púlpito e o auditório”, decidindo pregar aos peixes. As antíteses “praças – praias” e “terra – mar” acentuam o contraste entre as atitudes dos homens que o ignoraram e o perseguiram e os peixes que acorreram em grande número para o ouvir. Esta movimentação dos peixes é ilustrada pela anáfora “começam” e a variedade de espécies que acorre a ouvir o sermão está bem expressa na enumeração “os grandes”, “os maiores”, “os pequenos.” 5º parágrafo Referência aos “santos doutores” num tom irónico (na verdade, não são santos, referindo-se ao Evangelho como um texto muito bom para eles). Sto António, para além de ter sido o sal da terra, também foi o sal do mar por ter conquistado as atenções dos peixes. “Este é o assunto que eu tinha para tomar hoje”, diz Vieira, referindo-se às características do seu sermão. Aproveitando o facto de ser 13 de junho, dia consagrado a Sto António, parece pertinente a Vieira pregar como ele (aos peixes) e não pregar dele, ou seja, falar sobre o santo. Vieira caracteriza a sua doutrina com a adjetivação “muito clara”, “muito sólida”, muito verdadeira”. A enumeração “de manhã e de tarde”, “de dia e de noite” expressa os momentos em que ele prega continuamente. Esta ideia de continuidade está presente no polissíndeto (repetição da conjunção “e”).
  • 2. 6º parágrafo: Final do Exórdio Vieira anuncia queseguirá o exemplo de Sto Antónioe que irá pregar aos peixes, certode que eles o ouvirão visto “o mar estar tão perto.” Ele convida os restantes ouvintes a retirar-se, dizendo que o sermão não se destina a eles, crente de que esses não lhe darão ouvidos. Com a intenção de obter ajuda, ele invoca Maria, Senhora do Mar (“Domino Maris”) para que dê força às suas palavrase que elas penetrem nos ouvidos daqueles que serão o alvo deste sermão, ou seja, os habitantes do Maranhão. Capítulo II Pág. 4 – 1º parágrafo Inicio docapítulocom a interrogaçãoretórica “Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes?” Em seguida, dá-nos conta de duas qualidades dos peixes: ”ouvem e nunca falam”. Ele também refere-se a este público com a ironia “Nunca pior auditório” (na verdade, ele quer dizer que não existe melhor auditório, sendo na verdade muito melhor do que os homens). Apesar disto, sente a dor de “serem gente os peixes que se não há de converter”, referindo-se aos habitantes do Maranhõo que exploram os índios. No entanto, como esta dor é tão comum, já nem se sente. Pág. 4 – 2º parágrafo O sal tem duas propriedades: conservar e preservar. Os sermões de Sto Antóniotambém tinham estas duas qualidadesqueos sermões dos pregadores deveriam ter: louvar o bem e repreender o mal. Pág. 5 – 2º parágrafo A bondadee a maldade nãosão característicasexclusivasdos seres humanos. Também existem peixes bons e peixes maus. Para ilustrar essa ideia, ele cita passagens de S.Basílio e de S.Mateus, referindo este que Cristo comparoua sua Igreja à rede de pescar,pedindo aospescadores para recolher os peixes bons e lançar fora os maus. Tendo em conta esta necessidade de louvar e de repreender, Vieira, começando a dirigir-se aos peixes, anuncia a divisão que fará no seu discurso. Em primeiro lugar, louvará as suas virtudes e, em segundo lugar, repreenderá os seus vícios. 3º parágrafo Começando pelos louvores, começa por referir o facto dos peixes terem sido as primeiras criaturas que Deus criou. Desde o dia em que o homem exerceu o seu domínio sobre os restantes animais, os peixes foram os primeiros a ser nomeados, sendo os animais que existem na terra em maior quantidade e com espécies de maior porte (referência à baleia como o maior animal do planeta). No final do parágrafo, Vieira salienta que todas aquelas qualidades são um atributo dos peixes e não dos homens que se deixam dominar pela vaidade e pela adulação. 4º parágrafo Feitos os louvores, passa às virtudes e algumas delas são a obediência,a ordem, a quietaçãoe a atençãocom que ouvem a palavra de Deus através da boca de Sto. António. É feita uma comparação entre esta atitude de obediência e de atenção dos peixes e a atitude dos homens em perseguir Sto António. Os homens, apesar de serem racionais, não obedecem à razão, ao contrário dos peixes, animais irracionais. 5º parágrafo – Pág. 5 Continuando a dirigir-se aos peixes, Vieira afirma que estes merecem todo o louvor pelo seu respeito e devoção por quem espalha a palavra de Deus. 5º parágrafo – Pág. 6
  • 3. Referência ao episódio do pregador Jonas que se viu no meio de uma tempestade. Os homens lançaram-no ao mar para que os peixes o comessem. Um peixe engoliu-o para o salvar, levando-o para Ninive onde Jonas continuou a pregar. Refere que os peixes são melhores do que os homens, fazendo um trocadilho com a palavra “entranhas” (os homens tiveram entranhas para o atirar ao mar e o peixe recolheu-o nas suas entranhas para o ajudar). 6º parágrafo Vieira cita Aristóteles (famosofilósofo grego). Este autor refere o factode os peixes terem como virtude natural não se domarem nem domesticarem. É feita uma enumeração dos animais domesticados pelo homem que vivem encurralados, longe do seu habitat natural e perto do poder dos homens. Ao contrário da opinião geral, segundo a qual este comportamento dos peixes revela“ pouca docilidade ou demasiada bruteza”,Vieira tem uma opiniãobem contrária,louvandoospeixes poresta atitude. Ele considera este afastamentodoshomens uma atitude bastanteprudentepor parte dos peixes. Para reforçaresta ideia, ele dá exemplos concretos de animais presos e subjugadospelo homem através de uma enumeração(o bugio, o cão, o boi, os tigres e os leões). 7º parágrafo Referindo-se ao episódio do Dilúvio e da Arca de Noé, também foram os peixes os que sobreviveram em maior quantidade, não se limitando a um macho e uma fêmea como os outros animais. A salvação dos peixes foi este afastamento que eles tinham dos homens. Estes morreram porque viviam em pecado. Todos os animais que serviam o homem e com ele viviam também foram condenados devido à proximidade e à comunicação com o ser humano. 8º parágrafo Dirigindo-seaos peixes, afirma “quãogrande bem é estar longe dos homens” e refere uma pergunta dirigida a um filósofo: perguntaram-lhe qual era a melhor terra do mundo. Este respondeu que era a mais deserta porque aí os homens estavam mais longe. Isto o admitia Sto António: quanto mais desejava aproximar-se de Deus, mais se afastava dos homens, acabando por abandonar a casa de seus pais e por se recolher na mais completa clausura. Como não deixavam de o perseguir, ele persistiu em esconder-se, deixando Lisboa, Coimbra, Portugal… “Mudou o hábito, mudou o nome e até a si mesmo mudou”, fazendo-sepassar por um idiota para despistar os seus inimigos e acabando por levar uma vida solitária num local isolado, num deserto. Quanto mais se afastava dos homens, mais se aproximava de Deus. Este afastamento dos homens permitiu a Sto António proteger-se dos seus inimigos e manter-se fiel à sua doutrina. Capítulo III 1º parágrafo – pág. 7 Depois de ter falado com os peixes em geral, vai louvá-los em particular, reconhecendo que tem alguma inveja da sua pureza. Para louvar os peixes em particular, Vieira socorre-se de sucessivas narrativas, seja da História Natural, da Bíblia ou de outras fontes. O primeiro a ser louvado é o peixe de Tobias. Enquanto este passeava com o Anjo S. Rafael, vê um enorme peixe com intenções de o comer. Quando o ia atacar, o anjo S. Gabriel aconselhou Tobias a não ter medo de modo a arrastar o peixe para terra e a retirar-lhe o coração e as entranhas, pois o fel do peixe curaria a cegueira e o coração afastaria os demónios. Como o pai de Tobias era cego, ele tentou logo aplicar-lhe aquele remédio e o pobre homem começou a ver. 1º parágrafo – pág. 8 Tobias casou com Sara, a quem o demónio Asmodeu havia morto sete maridos. Queimaram parte do coração em casa e o demónio desapareceu para sempre. Há então que louvar este peixe cujo coração e fel é tão benéfico para os homens. 2º parágrafo
  • 4. Vieira estabelece um paralelo entre este peixe e Sto António queabriu a boca contra os hereges… Estes, tal como Tobias, gritavam, assustavam-se a achavam que ele os queria comer. Como, nessa situação, não houve nenhum anjo que revelasse como eram o coração e as entranhas desse homem. Assim, nunca conheceram as verdadeiras intenções de Sto António: curar a cegueira dos homens e expulsar os demónios para fora de suas casas. 3º parágrafo Continua este paralelo entre Sto António e o peixe de Tobias. Vieira interroga porque é que o homem desejava perseguir quem lhes queria tirar as cegueiras e livrá-los dos demónios. Vieira também refere que a diferença entre ambos consiste em que o peixe abria a boca contra quem se lavava e Sto António abria a boca contra os que não se queriam lavar. 4º parágrafo Vieira dirige-se aos moradores do Maranhão (apóstrofe), pedindo que lhe abrissem as suas entranhas e vissem o seu coração, pois ele também tem o poder de curar as cegueiras e os malefícios daquela população. Em seguida, relembra que se dirige aos peixes e não a eles. 5º parágrafo Referência à Rémora, cujo pequeno corpo nada tem a ver com a força que é capaz de mudar o rumo de uma nau quando se cola no seu leme. Nota-se que existe um exagero perante a força da rémora, pois esta realmente, apesar de se fixar às naus, não lhes consegue mudar o rumo. Vieira lamenta: se houvesse uma única rémora com a força do mar, haveria menos naufrágios e menos perigos. 6º parágrafo – Pág. 8 A língua de Santo António é comparada à Rémora, pois ambas são pequenas e têm a mesma forma – achatada. Podem medir de facto, um palmo de mão como é referido no texto: “que não sendo maior de um palmo”. Tal como a rémora, também a língua de Santo António podia mudar o “rumo” das pessoas (guiá-las pelo caminho do bem, impedindo que caíssem em desgraças). Assim, também as palavras de Santo António foram “uma rémora na terra”, porque conseguiram “domar a fúria das paixões humanas”, ou seja, os vícios humanos (soberba, vingança, cobiça, sensualidade). Vieira continua o seu discurso alegórico, apresentando exemplos que confirmam a afirmação anterior: A Nau Soberba, com as velas inchadas de vento, não se desfez nos rochedos, porque as palavras de Santo António a salvaram; a Nau Vingança, repleta de ira e ódio, encontrou a paz através das palavras do santo. 6º parágrafo – Pág. 9 A NauCobiça,foi salva das garrasdos corsários pela acçãode SantoAntónio; A NauSensualidade,iludida pelos cantos das sereias, encontrou a salvação, seguindo a luz das palavras do Santo. Podemos concluir, que este peixe simboliza o poder da palavra dos pregadores, mais especificamente de Santo António, porque ambos apresentam a mesma função – “guiar”. 7º parágrafo A língua de Santo António foi a “rémora” dos ouvintes enquanto estes o ouviam. Quando o deixaram de ouvir, foram atingidos pelos “naufrágios” (pelas desgraças morais). 8º parágrafo À semelhança da Rémora, o Torpedo também é um peixe de pequenas dimensões mas com grandes poderes. Este possui na cabeça um pequeno aparelho que gera eletricidade e que faz tremer a mão do pescador. Ventosa da rémora Peixe torpedo
  • 5. 9º parágrafo Vieira formula o desejo de que tremesse dessa forma a mão de todos aqueles que “pescam” na terra, ou seja, roubam descaradamente. Ele não se admira da grande quantidade da “pescaria” (roubo) que acontece na terra. Ele admira-se, sim, que haja muito “pescar” (roubar) e pouco tremer. 10º parágrafo A maior “pescaria” (roubo) dá-se na terra e não no mar. No mar usam-se as canas para pescar, na terra usam- se as varas (símbolo do juiz), as ginetas (símbolo do capitão), as bengalas (símbolo do mestre-de-campo), os bastões (símbolo do posto designado por “grau-de-bastão”) e os ceptros (símbolo real e religioso)… Usam-se estes instrumentos para “pescar” (roubar) cidades e reinos inteiros! Como é possível que os homens roubem tanto sem lhes tremer a mão e o braço? Vieira afirma que, se tivesse a língua de Sto António, faria tremer todos aqueles colonos que “pescam” tudo aos índios, desde os seus valores à sua integridade física e humana. 11º parágrafo Enquanto pregava um sermão, Sto António também fez tremer 22 pescadores que lhe confessaram todos os seus pecados e tentaram refazer a sua vida. 12º parágrafo – pág. 9 O autor do texto acaba os seus louvores referindo o peixe de quatro-olhos. Refere este peixe pois esta espécie habita águas doces ou salgadas, em rios e lagos do México e Brasil. Como o sermão foi escrito no Brasil mais propriamente na cidade de Maranhão, este peixe também acabou por ser referido. 12º parágrafo – Pág. 10 Vieira demonstra ter um real conhecimento da realidade descrita no seu sermão ao afirmar ter averiguado a razão no nome “quatro-olhos” tendo confirmado que este peixe tem quatro olhos “cabais e perfeitos”, louvando a generosidade da divina providência para com este peixe, enquanto que as águias e os linces , animais predadores, só têm dois olhos. 13º parágrafo Vieira exprime a ironia daquela situação…Enquanto que um pequeno peixe tem quatro instrumentos de observação, na terra existem tantos homens a sofrer de uma profunda cegueira… 14º parágrafo Vieira explica o porquê dos quatro olhos: os da parte superior olham diretamente para cima e os da parte inferior diretamente para baixo. A razão consiste em que estes peixinhos, que nadam à superfície da água, são as presas de outros peixes maiores (inimigos no mar) e das aves marítimas (inimigos do ar).Tal como os Quatro Olhos, é importante ver o bem e o mal, o céu e o inferno. 15º parágrafo Este peixe não é só alvo de louvor como também ensina ao pregador que deve olhar diretamente para cima considerando que há um Céu e para baixo tendo em conta que existe um Inferno. Já dizia David: “Senhor, voltai- me os olhos para que estes não vejam a vaidade.” 16º parágrafo E porque não olhar para os lados? Para não verem a vaidade, David queria que Deus virasse os seus olhos apenas para cima (para ver o Céu) ou para baixo (para ver o Inferno). Vieira reflete sobre a dificuldade em olharmos em redor porque tudo à nossa volta “é vaidade.” 17º parágrafo Vieira dá graças aos peixes por ajudarem os homens a irem para o Céu cumprindo o jejum sagrado da Quaresma. Ao contrário das aves e dos animais terrestres que constituem os banquetes dos ricos, os peixes servem o jejum dos crentes e a abstinência dos justos. 17º parágrafo – Pág. 11 Deus proíbe o consumo de carne durante o jejum sagrado, mas permite o consumo do peixe. Este alimento é de tal forma puro que se pode consumir durante todo o ano. Um só lugar foi dado à Constelação de Peixes pelos astrólogos entre os signos celestes;no entanto, os peixes que se mantém na terrasão os que asseguram os lugares no Céu. 18ªparágrafo Vieira termina este discurso sobre a virtude dos peixes referindo a bênção que Deus lhes deitou de crescerem e de se multiplicarem, nomeadamente as sardinhas, visto que são o alimento dos pobres, enquanto que os solhos e os salmões existem em menor número, sendo o alimento dos reis e dos poderosos. Cristo aumenta e multiplica os peixes que sustentam a fome dos pobres. Vieira deixa aqui o apelo: “crescei, peixes, crescei e multiplicai-vos.” Quatro olhos
  • 6. Capítulo IV 1ºparágrafo O quarto capítulo é dedicado às repreensões. O primeiro defeito de que os peixes são acusados é de se comerem uns aos outros e, sobretudo, os grandes comerem os pequenos. Através da palavra de Sto Agostinho, Vieira joga com o duplo significado da palavra “comer”, estabelecendo-se um paralelismo entre os peixes e os homens. Se Santo Agostinho mostrou aos homens o quão feio é comer um irmão através do exemplo dos peixes, Vieira ilustra aos peixes a monstruosidade de os homens se comerem uns aos outros. 2ºparágrafo O pregador, através da anáfora “vedes”, convida o auditório a olhar para a terra, não para o mato onde habitam os índios, mas para a grande cidade com todo aquele “bulir”, “andar”,”concorrer”…(enumeração das ações que descrevem a azáfama humana nas cidades com o objetivo de se “comerem” uns aos outros de modo a atingir a supremacia social. 2ºparágrafo- pág.12 Para ilustrar esta realidade, Vieira dá o exemplo de um homem que morreu e que, antes mesmo de ser enterrado, já havia sido comido pelos herdeiros, testamenteiros, credores, médico, etc. 3º parágrafo Pior do que comer um homem depois de morto é comê-lo quando ele ainda está vivo. Dá o exemplo de Job, um homem muito rico que, apesar de ter perdido todos os seus bens materiais, manteve sempre a sua fé e, no final, Deus devolveu-lhe os seus bens a dobrar. 4º parágrafo Vieira refere outro exemplo de um homem acusado a quem o mesmo, antes de ser sentenciado, todos comem, desde o carcereiro à testemunha até ao julgador. Por tudo isto, conclui: “São piores os homens do que os corvos.” Atenção à repetição anafórica (”come-o”). 5º parágrafo Tal como acontece com os peixes, que são os grandes a comerem os pequenos, também os homens grandes comem os seus inferiores, engolem-nos, devoram-nos. Está aqui expresse uma crítica social : a exploração dos mais fracos. Deste mal também Deus se queixou, dizendo “Acaso não sabem todos os que praticam o mal, os que devoram o meu povo como um pedaço de pão?” As pessoas comem-se tal como se come um pedaço de pão, alimento que se consome todos os dias. 6º parágrafo Os elemento do povo e da plebe são os mais comidos, visto serem estes os mais pequenos, os que menos pedem e os que menos poder têm na república. Os poderosos que governam as cidades e as províncias não se contentam de comer os pequenos um por um, devorando povoações inteiras como se devora o pão e não os outros alimentos. É notória a expressividade dos verbos “engolir” e “devorar”, exprimindo metaforicamente o ato de “comer.” 7º parágrafo A diferença entre o pão e os outros alimentos, consiste em que o pão consome-se todos os dias, tal como os pequenos que são continuamente devorados pelos poderosos. 14º parágrafo – pág. 14 A ignorância e a cegueira são dois defeitos que levam à perdição dos peixes e dos homens. Vieira fez inúmeras advertências no sentido de não se deixarem enganar pelos maiores nem deixarem a sua ambição falar mais alto. 15º parágrafo A vaidade também é um engodo que provoca as batalhas entre exércitos e, consequentemente, a morte. 16º parágrafo Tal como os peixes, os homens devoram-se uns aos outros , visto que no Maranhão se derrama muito sangue, embora não haja exércitos nem “esta ambição de hábitos.” 17ª parágrafo. Tanto os homens como os peixes são cegos em relação a certos aspetos. Assim sendo, os peixes são tentados pelo isco que acabam sempres por morder, sendo assim pescados. Os homens são seduzidos pelos tecidos caros, luxuosos e requintados que estes compram e ficam endividados para toda a vida. 18ª parágrafo. Refere o exemplo de Santo António, que se despojou de todos os seus bens materiais e vivia pregando a fé com um simples burel atado com uma corda.