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D
                                                      D | 1 | MAR ::: ABR 2011




Sustentabilidade | Futuro | Cooperação




                                         ÁG
                                         UA
                                         A VERDADEIRA
                                         CRISE

                                         CATARINA ALBUQUERQUE
                                         Relatora da ONU para a Água


                                         Direito à Água no Feminino

                                         Portugal: até Quando?

                                         30 Anos de uma Ideia Genial

REVISTA D | 1 | MARÇO ::: ABRIL 2011

                                                                   1 | Capitulo
D | 0 | MAR ::: ABR 2010




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D | 1 | MAR ::: ABR 2011




                            Nesta Edição




                            tema D                                        06
                            A Verdadeira Crise
                            Portugal: até quando
                            Direito à Água no Feminimo




                            vox                                           15
                            CATARINA ALBUQUERQUE
                            Relatora da ONU para a Água




                            mundo                                         20
                            O Templo
                            O Caminho faz-se Caminhando
                            Brasil Inova na Cooperação Internacional
                            30 Anos de uma Ideia Genial




                            dias D                                        30
UN Photo — Martine Perret




                            Eventos | Cultura | Tendências | Ecologia
D | 1 | MAR ::: ABR 2011




 Editorial



Para tod@s
Vítor Simões, Editor.


Quando as outrora serenas ruas de       Dar voz a perspetivas novas ou mar-
Tunes se incendiaram com a auto-        ginalizadas na habitual agenda noti-
imolação de um vendedor de fruta em     ciosa; fazê-lo mostrando a voz dos
protesto pela apreensão arbitrária da   excluídos, sem os vitimizar e apresen-
sua mercadoria, os líderes árabes e     tar uma visão positiva, com soluções,
os dos países desenvolvidos ficaram     para as necessidades do nosso
boquiabertos. Obama demorou se-         tempo – esta é a nossa missão.
manas a acertar o discurso – e ainda    A revista_D será uma plataforma
hoje as diplomacias ocidentais hesi-    Digital para pensar o mundo real,
tam nas medidas a tomar, perante a      que procura um Desenvolvimento
inaudita combustão social que defla-    mais sustentável, com espaço para
gra em boa parte dos países árabes,     o lucro mas também para os Direitos
alguns produtores de petróleo.          políticos, económicos e sociais. Um
                                        espaço comum.
O petróleo tem dado de comer a pou-
cos, nas terras do Norte de África e    Neste primeiro número, focamo-nos
Médio Oriente. Mas tem estado tudo      num combustível mais decisivo do
bem, desde que o combustível não        que o petróleo para o futuro comum:
páre de correr para as economias dos    a água. Os povos do Norte de África
países desenvolvidos e para as eco-     e do Médio Oriente há muito que lhe
nomias emergentes. Mas, na verdade,     dão o devido valor. Todos esperamos
este estado não serve. A surpresa de    que os líderes mundiais, incluindo os
muitos governantes mundiais – e de      nossos, ouçam mais o que dizem as
boa parte da imprensa – apenas con-     pessoas nas ruas – e assegurem uma
firma o seu distanciamento em rela-     distribuição justa deste e de outros
ção à realidade nas ruas. Mulheres,     bens escassos.
jovens e pobres, tantas vezes excluí-
dos, decidiram tomar o seu futuro nas
mãos e demonstraram que manter
muitas vozes em silêncio é brincar
com o fogo.




4 | Editorial
D | 1 | MAR ::: ABR 2011
UN Photo — Carl Purcell




                                       5 | Capitulo
D | 1 | MAR ::: ABR 2011
D | A água é transparente




 tema D




ÁG                               A verdadeira
                                 Crise
UA                               Inês Campos


                                 Na base de muitas das razões que
                                 explicam as recentes revoltas no
                                 Magrebe e Médio Oriente está a
                                 água, cuja escassez favorece a
                                 pobreza. Noutros locais, o agrava-
                                 mento das cheias é também fator
                                 de instabilidade. As alterações
                                 climáticas, o aumento da popula-
                                 ção, a sobre-exploração de cam-
                                 pos agrícolas e a contaminação
                                 dos recursos hídricos são alguns
                                 dos responsáveis por uma crise
                                 global da água.




                            00
6 | Capitulo
    tema D
D || 11 || MAR ::: ABR 2011
                                                                           D          MAR ::: ABR 2011




os conflitos e protestos no Médio
Oriente, em particular no Egito e
Tunísia, contra regimes autocráticos
foram em parte impulsionados
pelo novo aumento dos preços dos
produtos alimentares.



“Nunca vi uma seca assim”             Um cenário bastante diferente
queixa-se Liu Baojin, um agricultor   afligia o Paquistão há apenas 7
de Shandong, China, ouvido pelo       meses, quando chuvas diluviais
Guardian vendo mais de um terço       transformaram o rio Indus e os
das suas colheitas queimadas          seus afluentes numa maré que
após quatro meses sem chover.         matou cerca de 2.000 pessoas,
Apesar de ter recebido do governo     produziu 20 milhões de desaloja-
uma compensação parcial pelos         dos e cujos efeitos continuam a
danos, Baojin receia ter de aban-     assombrar a vida quotidiana do
donar as suas terras e procurar       país.
emprego na cidade.
                                      Um relatório recente de Michael
Os últimos meses de seca resul-       Kugelman, investigador do
taram em centenas de hectares         Woodrow Wilson International
queimados no maior produtor           Center em Washington alerta
mundial de trigo. Agricultores        para a crise de água iminente no
escavam poços improvisados            Paquistão e para os seus efeitos
de água lamacenta e o governo         imediatos na produção de alimen-
chinês entra com um pacote de         tos. Segundo Kugelman, “muitas
um milhão de dólares em ajuda         das terras agrícolas mais ricas da
de emergência para aliviar a seca     nação são agora demasiado pan-
mais severa dos últimos 60 anos.      tanosas ou salgadas para permitir
Segundo um alerta lançado em fe-      boas colheitas”.
vereiro, a Organização das Nações
Unidas para a Agricultura e Ali-      No vizinho Afeganistão, as es-
mentação (FAO) considera “a seca      tatísticas são chocantes. Nas
                                                                                                   UN Photo — Sophia Paris

atual da China um problema muito      áreas rurais, estima-se que 80%
sério”, notando que 5.16 milhões      dos afegãos bebem água contami-
de hectares de área afetada rep-      nada e uma proporção semelhante
resentam dois terços da produção      dos doentes internados em Cabul
de trigo do país.                     sofre de doenças causadas pela
                                      poluição do ar e da água.




                                                      00                                 7 | Capitulo
                                                                                             tema D
D | 1 | MAR ::: ABR 2011




Um Recurso Escasso
Mas o problema da escassez de         A falta de eficiência dos sistemas
água não se limita a países de-       de irrigação, que permitem o des-
vastados por conflitos ou desas-      perdício a grande escala é outra
tres naturais. Segundo as             das principais causas da crise da
Nações Unidas, no ano 2000            água. Na China dá-nos o exem-
quase 510 milhões de pessoas          plo dum país em que a falta deste
em 31 países eram afetadas por        recurso é o principal problema
intenso stress hídrico ou grave       ambiental: são precisas cerca de
escassez de água. Em 2025, este       mil toneladas de água para pro-
número poderá chegar a 3 mil mi-      duzir uma tonelada de trigo.
lhões de pessoas com menos de         A escassez deste recurso tem por
1.700 m3 por ano (considerado o       sua vez vindo a tornar os terrenos
volume mínimo de sobrevivência).      cada vez menos produtivos, situa-
                                      ção agravada com o impacto das
Apesar de parecer abundante, a        alterações climáticas na qualidade
água doce é um recurso escasso:       dos solos. O Sudão, a Tunísia, o
trata-se apenas de 0.3% do total      Egito, o México e o Paquistão, são
de água no planeta e cerca de         alguns dos países com um maior
2,5% destas reservas encontram-       défice hídrico.
se inacessíveis em lençóis freáti-
cos, aquíferos e nas calotas po-      Existem soluções, como o uso de
lares, entre outros locais remotos.   sistemas de irrigação eficientes
No total, o planeta azul disponibi-   gota a gota e de precisão e o cul-
liza cerca de 0,08% da sua água       tivo de espécies que consumam
para os seres humanos, da qual        menos água. A dessalinização
70% é usada na agricultura. Este      será uma opção inevitável, ape-
cenário é pautado pela degrada-       sar do processo consumir muita
ção da qualidade da água nos          energia.
últimos 50 anos, devido a um
tratamento ineficiente de águas
e resíduos nos grandes centros
urbanos e industriais, assim como
ao uso de adubos químicos e
agrotóxicos em áreas de desen-
volvimento agrícola. A poluição
está, por isso, a roubar grande
parte das reservas de água exis-
tentes.




8 | tema D
D | 1 | MAR ::: ABR 2011




                        Guerra dos Cereais
                        A primeira vítima da falta de água   tidores pelos fundos de matérias-
                        é a produção agrícola. A falta de    primas leva os preços destes
                        água e os impactos climáticos        bens a deixarem de ser definidos
                        em alguns dos maiores produ-         apenas pelo balanço entre a oferta
                        tores globais, como o Canadá,        e a procura. Os consumidores
                        a Austrália, a Rússia e a China,     pagam mais pelos alimentos, não
                        já se fizeram sentir numa subida     porque haja mais pessoas a con-
                        contínua dos preços do trigo nos     sumir, mas porque se prevê que
                        últimos anos no mercado global.      no futuro se vá consumir mais.
                        wNos países mais pobres, entre
                        60% a 25% da população gasta
                        entre 70% e 80% do seu escasso
                        rendimento em bens alimentares.
                        As convulsões sociais vividas em
                        Moçambique no verão passado          Novas Dietas,
                        expressam bem o impacte social
                        deste tipo de inflação.              Novos Desafios
                        Vários analistas consideram que      Nas grandes potências emergentes como a Índia e a
                        os conflitos e protestos no Médio    China – tradicionalmente países com uma dieta
                        Oriente, em particular no Egito e    vegetariana ou sobretudo à base de cereais –, o au-
                        Tunísia, contra regimes autocráti-   mento do rendimento per capita tem-se refletido num
                        cos foram em parte impulsionados     maior consumo de lacticínios e carne.
                        pelo novo aumento dos preços
                        dos produtos alimentares.            Estas mudanças de dieta redundam num efeito cres-
                        Estes países estão também entre      cente consumo de cereais, por constituírem a dieta
                        aqueles que enfrentam uma crise      alimentar dos animais. As novas dietas contribuem
                        de água iminente. A perspetiva       não só para um aumento da procura de água – agra-
                        de fome, tal como a insatisfação     vando o problema de escassez –, mas também para
                        perante recursos cada vez mais       a subida das cotações das matérias-primas agrícolas.
                        escassos e pela desigualdade na
                        sua distribuição são exacerbados     Neste novo milénio – e pela primeira vez na história
                        quando não é possível o exercício    da Humanidade –, a necessidade de alimentar os
                        livre da cidadania.                  nove mil milhões de habitantes do planeta previstos
UN Photo — John Isaac




                        A especulação financeira tem tam-    para 2050 exige que grande parte da população, so-
                        bém um papel preponderante no        bretudo nos países de rendimento alto, altere os seus
                        aumento dos preços dos cereais.      hábitos alimentares e padrões de consumo.
                        O interesse crescente dos inves-
                                                             Coordenadora da Objetivo2015,
                                                             UN Millennium Campaign Portugal.




                                                                                                               9 | tema D
D | 1 | MAR ::: ABR 2011




Portugal:
até quando?
Inês Campos


As alterações climáticas vão pôr em causa a
disponibilidade de água em Portugal, caso não
se tomem de imediato medidas de adaptação.
Os portugueses terão, também aqui, de ser
mais poupados.


                           “Ao menos aqui corre água e da      das águas superficiais e subter-
                           boa”, contava ao Diário de          râneas são alguns dos efeitos
                           Notícias Armando Mosca. Forçado     previstos das alterações climáticas
                           a deslocar-se a 25 km de Évora      em Portugal.
                           para se abastecer de água, este
                           alentejano era o exemplo de um      Apesar da relativa abundância de
                           fenómeno inesperado em Portugal:    água no nosso país, a irregulari-
                           falta de água em pleno inverno.     dade das temperaturas sazonais, a
                           Este inverno passado pode tornar-   assimetria norte-sul na distribuição
                           se na nossa realidade comum num     dos recursos, a dependência de
                           futuro próximo.                     Espanha nos rios internacionais e
                                                               diferentes necessidades regionais,
                           Menos chuva no sul, cheias no       levam muitas vezes a situações de
                           norte, um aumento das temper-       carência – por norma no verão. As
                           aturas médias sazonais e pertur-    alterações climáticas vêm alterar,
                           bações no regime de escoamento      para pior, este cenário.




10 | tema D
D | 1 | MAR ::: ABR 2011




                        O aumento do nível do mar pode       a água superficial disponível é de
                        conduzir à salinidade dos aquífe-    30,7 km3/ano e a recarga de água
                        ros costeiros e ao aumento de        subterrânea é de 6,0 km3/ano – o
                        cheias e de secas. Espera-se         que satisfaz por ora as necessi-
                        ainda uma diminuição da quali-       dades médias de consumo do país
                        dade da água disponível, devido a    (ver dados disponibilidade hídrica).
                        menor escoamento e ao aumento
                        da temperatura.                      A Estratégia Nacional de Adap-
                                                             tação às Alterações Climáticas
                        Segundo um estudo recente de in-     considera que “as alterações
                        vestigadores do Instituto Superior   climáticas não são algo que irá
                        Técnico, o sul do país será o mais   ocorrer num futuro longínquo”. Em
                        afetado: zonas áridas, com pouca     acréscimo, “todos os cenários,
                        vegetação e níveis reduzidos de      preveem um aumento significativo
                        precipitação contrastam com          da temperatura média em todas
                        zonas de relevo montanhoso no        as regiões de Portugal até ao fim
                        Norte, em que um maior volume        do século XXI”. Este quadro ex-
                        de precipitação enche os caudais     ige medidas de adaptação e a
                        dos rios e lençóis freáticos.        definição de estratégias e políticas
                                                             de gestão da água.
                        Atualmente, a disponibilidade de
                        água doce em circulação à su-
                        perfície ou nos aquíferos varia
                        de acordo com o volume da pre-
                        cipitação e a sua distribuição ao
UN Photo — John Isaac




                        longo do ano. A água utilizada
                        em Portugal ronda os cerca de 7
                        500 milhões m3/ano no conjunto
                        dos setores Agrícola, Industrial e
                        Urbano. Segundo dados do INE,




                                                                                          11 | tema D
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Direito à Água
no Feminino
Isabel Alonso Gomes


A organização indiana Tarun            A 28 de julho de 2010, a Assem-
Bharat Sangh dá-nos um exemplo         bleia Geral das Nações Unidas
concreto de como a melhoria do         reconheceu o direito à água e
acesso à água conduz a progres-        ao saneamento básico como um
sos significativos na qualidade de     Direito Humano, essencial à vida
vida e empoderamento das mu-           de todas as pessoas no planeta.
lheres. Através da construção de       No texto apresentado a votação,
johads (estruturas tradicionais para   a Assembleia Geral manifesta a
o armazenamento de água) em            sua preocupação pelo facto de
várias comunidades do Rajastão –       884 milhões de pessoas não terem
e colocando uma ênfase particular      acesso a água potável e de 2.6 mil
no papel das mulheres na gestão        milhões não ter acesso a sanea-
dos recursos –, contribui para         mento básico, resultando na morte
alterar a tradicional perceção da      de 1.5 milhões de crianças por
mulher como “ignorante e inca-         ano – um número superior ao das
paz”.                                  crianças anualmente vítimas de
                                       SIDA, malária e sarampo.

                                       Em muitas sociedades, a água
                                       constitui o âmago de muitas das
                                       tarefas tradicionalmente atribuí-
                                       das às mulheres: cozinhar, lavar e
                                       limpar. Para além disso, o funcio-
                                       namento biológico do corpo das
                                       mulheres torna a água essencial
                                       para a manutenção da sua digni-
                                       dade.




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                             O compromisso assumido pelas Nações Unidas
                             para aumentar os esforços de garantir o acesso
                             universal a água limpa e saneamento básico é,
                             sobretudo, uma vitória para as mulheres.

                             Todos os anos, as mulheres dispen-        frequentar a escola. Por fim, menos
                             dem mais de 200 milhões de horas          mulheres morrerão de parto e os seus
                             no transporte de água – em muitos         filhos serão mais saudáveis.
                             locais rurais em África é comum as
                             mulheres caminharem mais de 10            Para potenciar estes ganhos é, con-
                             km até à fonte de água mais próxima       tudo, necessário envolver ativamente
                             e talvez o dobro durante a estação        as mulheres nos programas de gestão
                             seca. Nesta como noutras áreas, as        da água, garantir que a sua voz é
                             mulheres são as primeiras a sentir        ouvida, não só para assegurar que as
                             as consequências das mudanças             suas necessidades específicas são
                             climáticas: muitas mulheres afirmam       atendidas, mas empoderando-as na
                             que as distâncias que têm que per-        sua comunidade, enquanto respon-
                             correr até à água têm aumentado em        sáveis pela gestão de recursos co-
                             virtude de esta se tornar mais es-        muns.
                             cassa.
                                                                       Coordenadora de campanhas na
                             As longas caminhadas para chegar          Secção Portuguesa da Amnistia
                             até à água e para a transportar com-      Internacional
                             portam sérios riscos para a saúde das
                             mulheres, seja devido ao peso que
                             carregam, aos acidentes de percurso
                             ou ao facto de serem as primei-
                             ras expostas a doenças e poluição
                             presentes na água. Estas viagens
                             também as tornam mais vulneráveis à
                             violência, especialmente em áreas de
                             conflito.

                             A melhoria do acesso a fontes de
                             água limpa terá impactos palpáveis
                             na qualidade de vida destas mu-
                             lheres. A diminuição do tempo pas-
                             sado a transportar água significa que
UN Photo — Olivier Chassot




                             as mulheres poderão dedicar-se a
                             atividades produtivas, à sua educa-
                             ção e ao lazer. Ficará reduzido o fardo
                             sobre as raparigas que, assim, terão
                             mais tempo e oportunidades para




                                                                                                     13 | tema D
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Catarina
Albuquerque
Relatora da ONU para a Água




Entrevista de Inês Campos

Catarina Albuquerque foi a primeira perita independente
nomeada em 2008 pelas Nações Unidas como relatora da
água. Há poucos dias chegou de uma missão nos Estados
Unidos. Depois do Egipto, Bangladeche, Eslovénia e Japão,
confirmam-se as suas suspeitas: não existe um problema de
escassez na distribuição da água, mas sim de desigualdade.


                              Egipto, a Tunísia e no geral grande   não tem acesso são as pessoas
                              parte do Médio Oriente, são países    pobres, são os migrantes, as mi-
                              que associamos muito a zonas          norias étnicas, os refugiados...as
                              desertas, com pouca água. Poderá      pessoas ricas têm sempre acesso.
                              este factor estar também na ori-      Há um padrão de exclusão que
                                                                    afecta sempre as mesmas pes-
                              gem das actuais agitações sociais,    soas. O que existe é um problema
                              à semelhança do aumento dos           de falta de estabelecimento de
                              preços dos cereais?                   prioridades correctas por parte do
                              Não creio, para já acho que a         poder político, de forma a asse-
                              questão vai muito para lá da dis-     gurar que todos tenham acesso a
                              ponibilidade de água. Pode dizer-     água.
                              me que o Egipto é um deserto.
                              Sim, é verdade que há países com
                              menos água do que outros. Mas
                              considero que os problemas a
                              que assistimos hoje de acesso a
                              água, não têm que ver com falta
                              de recursos, mas antes com uma
                              má distribuição dos recursos exis-
                              tentes. Não é por acaso que quem



                                                                                                   15 | vox
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                           Então o governo interessa? Em         É um efeito de bola de neve?
                           países democráticos com uma so-
                                                                 É, sem dúvida.
                           ciedade civil mais activa este tipo
                           de problemas é menor?
                           Não acho que seja menor, mas          Acredita no cenário, por vezes
                           uma sociedade civil activa con-       falado, de guerras de água?
                           segue exercer uma maior e mel-
                           hor pressão sobre os decisores        Essa questão irrita-me, porque
                           políticos e tem mais possibilidades   é uma forma sensacionalista de
                           de conseguir boas decisões. No        abordar o problema. Eu estive
                           Egipto, por exemplo, as informa-      recentemente no Bangladeche e
                           ções sobre a qualidade da água        é verdade que eles têm muitos
                           eram segredo de Estado há um          problemas de acesso a água; mas
                           ano atrás, quando lá estive em        se vão travar-se guerras de água,
                           missão. As pessoas não sabiam         de cereais, de mais qualquer outra
                           se a água que bebiam era boa ou       coisa, não sei... Sei que é preciso
                           má, não sabiam aonde se queixar,      assegurar a todos o acesso equi-
                           a que portas é que iam bater...       tativo a água de qualidade.
                           Há corrupção, as decisões são
                           tomadas de uma forma pouco
                           transparente – possivelmente não      Qual seria a quantidade ideal de
                           são as melhores decisões para as      consumo de água por pessoa -
                           pessoas.                              tem alguma estimativa?
                                                                 Há várias estimativas, eu diria por
                                                                 volta de 100 litros de água por
                           Nas missões que fez, encontrou        pessoa/dia para beber, para coz-
                           nas zonas com problemas de falta      inhar, para a higiene pessoal, para
                           de água também problemas de           limparmos as nossas casas, etc..
                           acesso a outros serviços públicos     Mas claro que podemos ir parar a
                           básicos?                              números completamente diferen-
                           Normalmente aquilo que encontro       tes, que explodem qualquer das
                           nos países que visito é um padrão     estimativas, se estivermos a ter
                           de negação sistemática de direi-      em conta a água virtual. Isto é, a
                                                                 água que importamos nas t-shirts
No Egito as informações    tos para determinadas pessoas
                                                                 que compramos feitas no Bangla-
                           – e são sempre as mesmas pes-
sobre a qualidade da       soas. É verdade que aqueles sem       deche...
água eram segredo de       acesso a água ou saneamento são
                           quase sempre pobres: normal-
Estado.                    mente também não têm acesso a
                           uma habitação condigna, também
                           não realizam o seu direito à ali-
                           mentação na sua plenitude, tam-
As tarifas de água podem   bém não têm um bom acesso à
                           educação – e depois, também não
ter em conta algumas       usufruirão dos chamados direitos
desigualdades sociais      civis e políticos.




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É a isso que se chama de “pegada      Mas mudanças de comportamen-         tarifas, há muita discussão à volta
hídrica”?                             tos, como poupar água, são im-       disto. Há quem diga que a água
                                      portantes?                           devia ser gratuita; eu acho que a
Sim, pegada hídrica ou água vir-                                           água deve ser paga, é um bem
tual...os tomates que importamos      Claro que nós todos podemos          precioso que deve ser estimado e
de Marrocos, as laranjas de Israel,   fazer mais para poupar água. Uma     a atribuição de um preço mais
etc.. Aí o nosso consumo de água      das maneiras utilizadas por mui-     elevado pode ter um efeito positi-
passa para milhares de litros por     tos países são as tarifas de água    vo. Quem tem dinheiro deve pagar
dia.                                  progressivas. Isto é, se tenho um    pelos excessos de consumo.
                                      agregado familiar de “x” pessoas     Quem não tem dinheiro não deve
                                      presume-se que a quantidade de       ser privado deste direito humano
E em relação ao desperdício –         água que necessito para a rea-       e o Estado – não só o Português,
como combatê-lo?                      lização do meu direito humano        em qualquer país – deve adoptar
                                      é “y”. Se utilizo mais do que “y”,   medidas com vista a garantir que
Combater o desperdício é muito        começo a pagar muitíssima mais
mais do que poupar água. Os                                                as pessoas não são privadas do
                                      água. Normalmente, há uma rela-      acesso à água e ao saneamento
maiores consumidores de água          ção directa entre maior consumo
não são as pessoas. Para a real-                                           pelo facto de não terem dinheiro.
                                      de água e maior disponibilidade
ização do direito humano à água       económica, porque são as pes-
precisamos entre 3 a 5% do to-        soas que têm jardins e piscinas
tal da água doce existente em                                              A falta de acesso a água é um
                                      que consomem mais. Acho que          problema só dos países mais po-
todo o mundo; como vê, não é          as tarifas de água podem ter em
muito... A agricultura utiliza 70%                                         bres?
                                      conta algumas desigualdades
da água disponível e desse bolo       sociais.                             As minhas últimas três missões
outros 70% são utilizados para a                                           foram a países desenvolvidos: um
produção de luxury foods, que são                                          Estado membro da União Euro-
os ananases do Brasil, as man-        E em Portugal?                       peia, a Eslovénia, o Japão e os Es-
gas da Costa Rica, as laranjas de                                          tados Unidos e foram um choque,
Israel, a carne da Argentina, etc..   Sei que cá em Portugal o regu-       um reality check...
Aí estamos a consumir loucuras        lador para água quer mexer nas
de água e estamos a desperdiçar
muito.



18 | vox
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Um choque?
Nos Estados Unidos veio falar
comigo um sem-abrigo, chamava-
se Mike, de Sacramento, a capi-
tal da Califórnia, que vivia numa
tenda comprada no Wall-Mart. Vi-
vem vários assim em tendas... ora,
as casas de banho públicas foram
fechadas, é ilegal fazer as necessi-
dades na rua, aliás é considerado
um crime sexual. Estes senhores        A falta de acesso à água é uma questão de falta de
sem-abrigo não têm qualquer            vontade política e de exclusão deliberada para que
hipótese de ter acesso ao mínimo
saneamento, porque esse acesso         determinadas pessoas não acedam a bens
lhes é vedado de propósito. Es-        fundamentais que correspondem a direitos humanos.
tas três missões vieram confirmar
aquilo que eu sabia na teoria –
que a falta de acesso à água é
uma questão de falta de vontade
política e de exclusão deliberada
para que determinadas pessoas
não acedam a bens fundamen-
tais que correspondem a direitos
humanos. É claro que nos países
ricos a maior parte da população
tem acesso a água, mas encon-
trei várias pessoas – sem abrigo,
migrantes, pertencentes a etnias
– por exemplo na Eslovénia, a
etnia cigana – ou a minorias resi-
dentes nos países que visitei, que
são excluídas do acesso a água
potável e saneamento. Visto que a
esmagadora maioria da população
tem acesso, são claros casos de
descriminação contra estas pes-
soas.




                                                                                        19 | Capitulo
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mundo


O Templo
Leopoldo H. Santana
Num templo budista na Tailândia, os monges
cuidam de pessoas contaminadas pelo vírus
da SIDA, uma doença ainda estigmatizante
naquele país. O desconhecimento e a falta de
recursos levam muitos familiares a abandonar
os doentes neste refúgio.

Periodismo Humano




Às cinco e meia da manhã, a luz do     “Pouco a pouco foram chegando
amanhecer colora os campos de trigo    mais doentes”, recorda o monge
que envolvem a estrada. No hori-       Alonkot sobre as dificuldades dos
zonte, sobre a encosta íngreme de      primeiros tempos. A população local
uma montanha, surge o grande buda      não via com bons olhos tê-los por
branco que preside ao Wat (templo)     perto, incomodados com a presença
Phrabat Namphu. Situado nos ar-        daqueles excluídos. “Mas man-
redores de Lopburi, convivem ali os    tivemos a nossa posição, resistimos,
monges theraveda de traje laranja e    e continuámos a acolhê-los. Agora
uma das realidades mais dilacerantes   muita gente entende e até vem visitar
da Tailândia. Na harmonia do lugar,    os pacientes”, afirma. “O problema é
os seropositivos alvo de estigmas e    que as pessoas temiam ser infetadas
tabus encontram uma compreensão        pela doença, por isso os discrimina-
que lhes é negada num país que se      vam. Grande parte do nosso trabalho
esforça por manter uma imagem sem      tem sido fazê-los perceber a natureza
mácula.                                da doença”.




20 | mundo                                              00
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O Caminho da
Educação
Numa sociedade onde a SIDA ainda
mata e em que os doentes escondem
as manchas nos seus corpos te-
mendo a rejeição das próprias famí-
lias, um monge, Alonkot Dikkapanya,
acolheu há 18 anos um homem que
sofria, sem tratamento ou solidarie-
dade. Tratou-o com devoção até ao
momento da sua morte e compreen-
deu então que tinha uma missão
especial a cumprir.

Um ano depois de Alonkot ter acol-
hido o primeiro paciente, começaram
a chegar de outros templos vários
monges para ajudar na tarefa. Após 3
anos, o templo já se ocupava de mais
de 200 doentes. “O desafio agora é
que as famílias não rejeitem os seus
familiares e se ocupem deles, creio
que daqui a uns dez anos vão aceitá-
los melhor”, prevê.

Para Alonkot, a solução passa por
conseguir a aceitação familiar e por
manter os pacientes ativos, fazendo-
os sentir que apesar da doença po-
dem realizar um trabalho útil. Fala da
educação como o principal caminho
a seguir e alega que muitos seroposi-
                                                              UN Photo — Olivier Chassot
tivos sofrem por se verem abando-
nados. “O governo dá uma pensão
pequena a muitos dos doentes que
não podem trabalhar; mas não é
suficiente, nem para comer, nem para
pagar uma renda e muito menos para
medicamentos,” assegura.




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Um Homem
de Sorte
Khemkhaeng Promma nasceu na              No outro extremo da sala encontra-
província de Saraburi há 36 anos,        se Kihipong Phuusaa, que veio da
onde vivia com os seus pais e três ir-   capital Banguecoque, onde cresceu
mãos. Um sorriso tímido surge no seu     e estudou. Kihipong tem 41 anos e
rosto quando recorda a infância. “Não    começou a trabalhar como taxista
gostava de ir à escola, preferia ficar   ainda muito jovem. “Gostava do trab-
a brincar no campo”, conta. Logo na      alho porque não tinha chefes”, co-
adolescência começou a trabalhar         menta. “Há um tempo atrás a minha
numa fábrica de cimento, mas as          namorada tinha-me dito que estava
condições eram tão duras que aos 18      infetada” conta.
anos sofreu uma paralisia que o impe-
diu de caminhar durante quatro anos.     Quando descobriu que era seroposi-
Depois deste período, recuperou as       tivo não disse a ninguém, nem sequer
forças e chegou a servir como militar    à família. Desde o seu divórcio dez
por dois anos, antes de começar a        anos antes que não via a mulher e
trabalhar numa fábrica de plástico.      a filha. Começou a beber, cada dia
Porém, quando contava já com 25          mais, enquanto ainda era capaz de
anos, optou por seguir um caminho        manter o segredo, “até que já não
do qual não voltaria. “O meu coração     podia conduzir nem beber mais.”
estava desfeito e um amigo ofereceu-     Quando os vizinhos e colegas per-
me a provar ópio”, recorda. Depois       ceberam o seu estado, começou
chegou a heroína. No princípio usava     a sentir-se discriminado. “Eram os
uma vez por dia, mas logo passaram       olhares, faziam-me sentir deprimido.
a ser duas e três... e nada mudou até    Felizmente, uma das minhas vizinhas
descobrir umas manchas no corpo.         trabalhava para um médico em Ban-
Tinha SIDA. A irmã que se encar-         guecoque que conhecia este lugar,
regou-se dele; levou-o a vários hos-     tenho sorte”.
pitais, a um templo onde se dizia que
usavam umas ervas curativas. Por fim
soube da existência do Wat Phrabat

                                         A Cama Vazia
Namphu .


                                         O Wat Phrabat Namphu divide a
                                         sua atividade entre dois edifícios.
                                         O edifício principal conta com 115
                                         pacientes adultos, em situação mais
                                         crítica. Num outro, situado a 85km
                                         de Lopburi, residem 200 pessoas.




22 | mundo
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                             São acolhidos tanto os afetados pela
                             SIDA como crianças que perderam
                             os pais devido à doença. As crianças
                             frequentam a escola, praticam de-
                             sportos e ocupam-se com diversas
                             atividades.

                             Atualmente, a maioria dos fundos
                             necessários para manter o projeto
                             humanitário do templo provém de
                             doações privadas tailandesas e es-
                             trangeiras. Uma pequena parte chega
                             do governo.

                             Segundo o Ministério da Saúde, cerca
                             de meio milhão de tailandeses são
                             portadores do vírus da SIDA. Inicia-
                             tivas altruístas como as de Alonkot
                             Dikkapanyo representam a esper-
                             ança daqueles que sofrem a doença e
                             a exclusão social.

                             Kihipong está apenas há 20 dias no
                             templo, mas quer ficar forte o sufici-
                             ente para voltar a casa. “Por agora
                             estou bem aqui, mas quero voltar a
                             trabalhar e poder deixar esta cama
                             vazia”.
UN Photo — Olivier Chassot




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O Caminho Faz-se
Caminhando
Mariana Hancock


Para António*, professor voluntário
na escola da Missão dos Jesuítas da
Fonte Boa, prfovíncia moçambicana
de Tete, cedo se tornou evidente
a desigualdade entre o número de
rapazes e o de raparigas que fre-
quentavam um das poucas escolas
primárias de segundo grau (EP2) que
serviam a população rural dos distri-
tos de Angónia e de Tsangano, junto
à fronteira com o Malávi. “A partir de
uma certa idade, é comum as rapari-
gas deixarem de ir às aulas, o que,
geralmente, corresponde à altura
em que são “iniciadas, ou seja, por
ocasião da sua primeira menstrua-
ção”, constatou o professor. “naquela
região de Moçambique, assim como
em outras regiões, países e culturas,
as raparigas são valorizadas sobretu-
do enquanto mães e donas de casa”,
acrescenta.

Os alunos que vêm das escolas
primárias de primeiro grau (EP1) mais
próximas das suas aldeias chegam
à Missão a saber pouco ou nada de
Português. Para a maioria da popu-
lação rural, o Português é a segunda
língua, apenas falada na escola. Mui-
tas raparigas ficam pelo caminho.




24 | mundo
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Chegar até à Escola da Fonte Boa                                                                       No momento de as famílias toma-          Os desafios existentes em Moçam-
significa, na maioria das vezes, per-                                                                  rem a decisão, com frequência os         bique para se alcançar o ODM 3
correr vários quilómetros – o que,                                                                     estudos dos rapazes são prioritários     alargam-se ao ODM 2 – alcançar o
para uma rapariga, nem sempre é                                                                        sobre os das raparigas, quer seja por    ensino primário universal – com a
opção. A longa distância desde casa                                                                    razões de segurança, financeiras –       meta de todos os rapazes e raparigas
leva a que, quase sempre, as rapari-                                                                   ou, simplesmente, pelo papel que a       completarem um plano de estudos
gas a procurem lugar no internato                                                                      mulher assume na família. Sobretudo      de escolaridade primária até 2015.
feminino junto à escola. Essa é a úni-                                                                 nas áreas rurais, o conflito entre a     Segundo o Plano Estratégico de
ca forma de conseguirem prosseguir                                                                     educação tradicional e a educação        Educação e Cultura 2006-2010/11 do
os seus estudos.                                                                                       formal constitui ainda um desafio à      governo moçambicano, entre 1999 e
                                                                                                       escolarização das raparigas. O papel     2005 as matrículas no EP1 aumen-
                                                                                                       social que lhes é tradicionalmente       taram 65%. No entanto, as taxas de
                                                                                                       reservado – o de mães e donas de         conclusão do EP1 permaneceram
                                                                                                       casa – torna-se incompatível com os      baixas e o número de repetições e
                                                                                                       estudos superiores, ao mesmo tempo       desistências elevados, bem como a
                                                                                                       que estereótipos de género, ainda        baixa qualidade do ensino, continuam
                                                                                                       por desconstruir, diminuem o nível de    a ser dificuldades. Moçambique ne-
                                                                                                       confiança e de autonomia das mul-        cessita de 10 mil professores por ano,
                                                                                                       heres.                                   mas apenas 8.500 professores serão
                                                                                                                                                contratados este ano, sobretudo no
                                                                                                       De acordo com o Relatório de             ensino básico. Apesar dos esforços
                                                                                                       Moçambique sobre os Objetivos de         do Programa de Construção Acelera-
                                                                                                       Desenvolvimento do Milénio (ODM)         da de Infraestruturas Escolares, 700
                         Internato Feminino da Missão de Fonte Boa, Moçambique. Fotos de Luís Mileu.




                                                                                                       referente a 2008, prevê-se que a         mil rapazes e raparigas vão continuar
                                                                                                       paridade de género no EP1 seja           a estudar ao relento durante este ano
                                                                                                       atingida até 2015, embora os desafios    letivo.
                                                                                                       sejam maiores ao nível do EP2 e do
                                                                                                       Secundário – o que põe em causa a        Coordena em Portugal a Campanha
                                                                                                       concretização de todas as metas con-     Global pela Educação.
                                                                                                       tidas no ODM 3 – promover a igual-
                                                                                                       dade de género.

                                                                                                       A existência de distritos em que a
                                                                                                       percentagem de raparigas a frequen-
                                                                                                       tar o EP2 está abaixo dos 45% justi-
                                                                                                                                                Sobretudo nas áreas
                                                                                                       fica uma maior atenção para medidas      rurais, o conflito entre a
                                                                                                       de combate ao abandono escolar das
                                                                                                       raparigas. É o caso da construção de
                                                                                                                                                educação tradicional e
                                                                                                       mais escolas para reduzir as distân-     a educação formal con-
                                                                                                       cias percorridas ou ainda o equilíbrio   stitui ainda um desafio
                                                                                                       entre o número de professores e pro-
                                                                                                       fessoras (face ao receio que muitos      à escolarização das
                                                                                                       pais sentem de enviar as suas filhas     raparigas.
                                                                                                       para ambientes predominantemente
                                                                                                       masculinos).




                                                                                                                                                                              25 | mundo
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Brasil Inova na
Cooperação Internacional
Sara Bernardes

Bancos de leite materno e produção de biocombustíveis
conjugada com a de alimentos – eis algumas das práti-
cas inovadoras da Cooperação Brasileira, que pela
primeira vez publicou um relatório de atividades. Tam-
bém nesta área, o Brasil está em forte crescimento.

“Foi o coração que mandou e Deus          CBDI prefere pensar na cooperação         A CBDI assume o compromisso de
que envio esse leite tão gostozinho       como uma “troca entre semelhantes,        contribuir para a promoção do de-
para eles”, diz Alice Shenk, uma das      com mútuos benefícios e respon-           senvolvimento global, com ênfase
doadoras do banco de leite de Nova        sabilidades”, implementada em 70          na América Latina, África e Ásia. No
Friburgo, no estado do Rio de Ja-         países, da América Latina até aos         centro da sua atividade estão os Ob-
neiro. A exportação da rede brasileira    países africanos lusófonos. A partilha    jetivos de Desenvolvimento do Milé-
de bancos de leite materno para           de conhecimentos e aprendizagens          nio (ODM – lançados pelas Nações
22 países, na América Latina e nos        vem assim mudar as regras do jogo         Unidas em 2002, na sequência da
países Lusófonos Africanos, é talvez      na hierarquia tradicional de doadores     Cimeira do Milénio, em que chefes
o projeto mais inovador da Coopera-       e beneficiários e estabelecer uma         de Estado de cerca de 200 países
ção Brasileira para o Desenvolvim-        parceria horizontal.                      se comprometeram a acabar com a
ento Internacional (CBDI). Esta prática                                             pobreza e as suas principais causas
tem sido importante no combate à          A maior economia emergente da             até 2015.). Os ODM ligam-se, na es-
mortalidade infantil, pois além das       América do Sul está a tornar-se um        tratégia da CBDI, à partilha de tecno-
questões nutricionais e emocionais,       importante doador internacional,          logias e conhecimentos úteis para o
é através do leite materno que as         tendo gasto um volume total nos           combate às doenças graves como o
defesas naturais da mãe passam para       últimos 5 anos de 1.250 mil milhões       VIH/SIDA e a malária, a diminuição da
o filho. “Cada mamada é uma vacina”       de euros. Entre 2005 e 2009, as suas      mortalidade infantil e o desenvolvim-
– explica o médico Franz Novak, da        contribuições aumentaram 129%,            ento agrícola, entre outros.
rede brasileira de leite humano – con-    dirigidas tanto a fundos multilaterais,
siderada pela Organização Mundial         como à assistência técnica, bolsas de
de Saúde como a de maior qualidade        estudo a estrangeiros e assistência
a nível mundial.                          humanitária, que no mesmo período
                                          duplicou de 113 milhões de euros
Em vez de falar em “ajuda” e “doa-        para 259 milhões.
ção”, o primeiro relatório oficial da




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                         A multiculturalidade do Brasil, a sua    Na cooperação multilateral é dado
                         experiência com desafios agrícolas       especial destaque ao Fundo de
                         em climas áridos ou tropicais – como     Convergência Estrutural e de Forta-
                         o cultivo de cacau ou de algodão – e     lecimento Institucional do Mercosul
                         inovações ao nível da microeconomia,     (FOCEM), integrado no âmbito do blo-
                         tais como iniciativas de economia        co económico regional MERCOSUL,
                         solidária – baseada no cooperativis-     que representa cerca de 30% das
                         mo e associativismo – são facilmente     contribuições do país. Este organismo
                         transportáveis para os países mais       conta com um fundo anual de 100
                         pobres.                                  milhões de dólares e visa financiar
                                                                  programas para reduzir as assimetrias
                         Na área da cooperação técnica,           entre os Estados Membros do bloco
                         distingue-se a partilha de tecnologias   regional.
                         agrícolas para a produção de ca-
                         cau e a proteção da biodiversidade,      O Brasil já conseguiu atingir várias
                         implementadas na Colômbia, Congo         metas dos Objetivos de Desenvolvi-
                         e Equador. Outro destaque vai para a     mento do Milénio. À semelhança de
                         difusão da agroenergia, com técnicos     países como a Índia, África do Sul
UN Photo — Jerry Frank




                         brasileiros no terreno a mostrarem       e Turquia, o esforço de cooperação
                         como harmonizar a produção de bio-       internacional desta nação pode fazer
                         combustíveis com a de alimentos.         a diferença, até ao ano 2015, entre
                         No plano bilateral, o Brasil atua em     muitos milhões ou poucos milhares
                         mais de 70 países, com impacto           de pobres no mundo.
                         maior na América Latina – que recebe
                         76,27% dos fundos bilaterais – e
                         nos países lusófonos africanos, que
                         recebem 16,41%.




                                                                                                27 | mundo
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30 Anos de
Uma Ideia Genial
Alexandre Coutinho
O Grameen Bank do Bangladesh foi pio-                                           Na última década, o Grameen Bank
neiro na criação de um sistema bancário                                         começou a limitar a sua expansão no
                                                                                Bangladesh, decidido a concentrar as
baseado no mutualismo, na confiança,                                            suas atenções sobre as famílias que
participação e criatividade, concedendo                                         já beneficiam dos seus empréstimos.
                                                                                Muhammad Yunus, fundador da insti-
microcréditos aos mais pobres dos po-                                           tuição e Prémio Nobel da Paz 2006,
bres. O sistema globalizou-se e o funda-                                        reconhece que o ritmo de crescimen-
dor do Grameen quer levar o microcrédi-                                         to abrandou nos últimos dois anos.
                                                                                “Por duas razões:”, explica. “temos
to até 100 milhões de famílias.                                                 2,5 milhões de famílias titulares de
                                                                                empréstimos e o nosso desejo é de
                                                                                vê-los ultrapassar o limiar da pobreza.
“É realizável!”, afirma com entu-       do país, com mais de 8,3 milhões de     Um terço, já o conseguiu e outro
sismo Muhammad Yunus, fundador          membros e 2565 balcões, cobrindo        terço está quase e os restantes estão
do Grameen. “Em 1976, quando            um total de 81.377 aldeias do Bangla-   no bom caminho. Vamos concentrar-
emprestei 27 dólares a 42 pessoas,      desh. Entre os empréstimos de maior     mo-nos nestas pessoas, em vez de
se tivesse feito uma conferência de     sucesso, destaque para a construção     nos expandirmos cada vez mais. A
imprensa nessa tarde para anunciar      de casas – já foram financiadas         outra razão, é que já há outras orga-
que, passados 34 anos, teria conce-     687.754 habitações – e as chamadas      nizações que concedem microcrédito
dido 10.259 milhões de dólares (7543    telephone ladies que, com os seus       e ainda há lugar para mais”.
milhões de euros) você saía da sala     telemóveis, desempenham o papel de
a chamar-me maluco. Mas essa é a        telefones públicos em muitas aldeias.   Yunus aponta para um período, entre
realidade presente. Na época, a pala-   Hoje, são 396.733!                      cinco e 15 anos, como o tempo ne-
vra microcrédito nem sequer existia.                                            cessário para uma família que ben-
Não é difícil passar, de 20 para 100    As mulheres são as clientes princi-     eficia do microcrédito ultrapassar o
milhões de famílias. Vamos tentar o     pais do Grameen e são também a          limiar da pobreza. “Queremos reduzir
nosso melhor e mesmo que não seja       grande maioria da população pobre.      este tempo para um máximo de dez
possível chegar aos 100 milhões,        Mas demonstram que apostar nos          anos e depois, progressivamente,
chegaremos a 50 ou a 60 milhões”.       mais pobres compensa: o retorno         para oito ou sete anos”, prevê.
                                        dos créditos (no valor médio de 123
Atualmente, o Grameen Bank (o “ban-     dólares (90 euros) é surpreendente:     No âmbito internacional, Muham-
co da aldeia”, em Bangla) é a maior     97,38%.                                 mad Yunus defende que a dívida
instituição financeira no mundo rural                                           dos países em desenvolvimento não




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                                                                           Photos — Grameen Bank.
                                       Por cá
deveria ser perdoada sem contra-       Em Portugal, apenas existe uma      soais, a ANDC trabalha em
partidas. Propõe, em alternativa, a    instituição regida pelos mesmos     parceria com o Instituto do Em-
criação de fundos de microcrédito.     princípios do Grameen Bank,         prego e Formação Profissional
“Defendo um perdão com condições.
                                       a Associação Nacional do Di-        (IEFP) e com bancos como o
Significa que o dinheiro tem de ser
pago pelo país em causa, através       reito ao Crédito (ANDC). Em dez     Millennium (desde 1999), a Caixa
da criação de um fundo colocado        anos de atividade, o volume de      Geral de Depósitos (desde 2005)
à disposição das organizações de       crédito concedido já se eleva a     e o Banco Espírito Santo (desde
microcrédito e em benefício do seu     mais 6,5 milhões euros, situan-     2006) – que financiam os em-
próprio povo – frisa – o facto de um   do-se a média dos empréstimos       préstimos concedidos.
país credor prescindir de receber a    em 6000 euros. Ao todo, foram
dívida não significa que desista do
                                       aprovados 1433 projetos, até ao     A área do vestuário é a mais
dinheiro e que este possa ser gasto
de qualquer maneira”.                  final de janeiro de 2011, respon-   representada (12,2%), seguindo-
                                       sáveis pela criação de 1812         se as atividades ligadas à ali-
                                       postos de trabalho.                 mentação (11,8%); os cafés e
                                       Dirigida a pessoas que não têm      pastelarias (8,5%); o artesanato
                                       crédito junto da banca comer-       e a decoração (8,1%); e a con-
                                       cial, mas que querem desen-         strução (4,7%). A taxa de sobre-
                                       volver uma atividade económica      vivência destes negócios, até à
                                       concreta para a qual reúnem         data, é de 75,9%.
                                       condições e capacidades pes-




                                                                           Jornalista e coautor do livro
                                                                           “Microcrédito em Portugal – Uma
                                                                           Nova Oportunidade”.




                                                                                                                 29 | mundo
D | 1 | MAR ::: ABR 2011




 dias D


A Natureza Merece
Entre a Europa e a África, a Ria           reverte para ações de recuperação
Formosa é a paisagem natural mais          e conservação da biodiversidade do
precisosa do Algarve. Representa um        local. Por fim, a primavera também
equilíbrio tão precário quanto perene,     é saudada no Porto, onde Serralves
dentro das duras regras da natureza.       oferece um amplo programa de
Este oásis de águas calmas só sub-         atividades de sensibilização ambi-
siste graças a um sistema arenoso          ental: Habitar Serralves ajuda-nos a
de ilhas-barreira, também ele um           criar micro-habitats nos nosso jardins
caso ímpar de sobrevivência face a         ou hortas urbanas; Água no Parque
condições adversas. O sistema lagu-        toma a água como fio condutor de
nar da Ria Formosa é composto por          um percurso de recolha de amostras
cinco ilhas-barreiras: Barreta, Culatra,   para depois analisar à lupa e, por fim,
Armona, Tavira, Cabanas. Começan-          Animais na Quinta leva-nos de (re)
do pela Armona, o percurso leva-nos        encontro às galinhas, ao burro ou à
pela paisagem e pela história deste        vaca – que, afinal, existem para além
lugar único. Mais a Norte, a natureza      do supermercado e da televisão.
também se deixa ver no Parque
Natural Sintra-Cascais, onde durante
séculos a Quinta do Pisão foi palco
de atividades agrossilvo-pastoris.
Vale a pena visita guiada até à capela,
às eiras e aos fornos do século XVI,
passando pela gruta de Porto Côvo,
utilizada pelos homens pré-históricos
como necrópole. O valor da entrada


OLHÃO Passeios Ria Formosa 2ª a Dom. 10h30-16h30
WEB Natura-Algarve

QUINTA DO PISÃO - Pisão de Cima (Cascais) Percurso 19
de Março WEB CascaisNatura

PORTO PROGRAMA FAMÍLIAS EM SERRALVES
WEB Serralves




30 | dias D
D | 1 | MAR ::: ABR 2011


Água para Todos

Não será por certo uma coincidência
que a capital da Andaluzia – região
fortemente afetada pela escassez
de água – receba nesta primavera a
terceira edição do congresso inter-
nacional Smallwat.Enquanto a maior
porção da Humanidade se concentra
em cidades, restam as comunidades
mais pequenas, muitas vezes rurais,
onde o saneamento básico perman-         Cultivar Ideias                          Beber Com Estilo
ece um desfio ou mesmo uma mira-
gem. Cientistas e responsáveis políti-   O trânsito corre frenético na Avenida    O design não resolve tudo, mas…
cos de todo o mundo irão, pois, afluir   Almirante Reis, em Lisboa; mas no        quase. Para quem ainda encontra na
a Sevilha para debater o progresso       número 152 o ritmo é mais calmo e        aparência “farmacêutica” dos tradi-
em relação a duas importantes metas      chegam-nos propostas de um estilo        cionais jarros de filtragem de água
que expiram no ano 2015: a Diretiva      de vida mais saudável. Tudo começou      uma intransponível barreira à sua
Quadro da Água (União Europeia) e o      com o Restaurante Bem-Me-Quer,           aquisição, recomendamos Ovopur.
Objetivo do Milénio 7 (Nações Uni-       que funciona em baixo, enquanto          Inspirado, garantem os autores, na
das).                                    que ao cimo das escadas encontra-        tradição artesanal chinesa, este filtro
                                         mos a loja de alimentos biológicos       sofisticado à base de cerâmica tem
                                         e ecologia urbana, produzidos em         um design que impede que a água,
                                         Portugal. Carne à parte, temos todos     uma vez filtrada, estagne. Para além
                                         os produtos da época. Cenouras,          de ser bonito e ecológico, também
                                         maçãs, batatas e tangerinas, entre       tem valor social: parte dos lucros
                                         outros, podem adquirir-se no local       revertem para várias causas ligadas
                                         ou encomendar-se para entrega ao         ao ambiente.
                                         domicílio em forma de cabaz. Mais do
                                         que comida para o estômago, quer-se      WEB Aquaovo
                                         alimentar a mente, com propostas no-
                                         vas em oficinas de permacultura para
SEVILHA 25 a 28 ABR Sevilha              crianças ou de cosntrução de jardins
WEB Smallwat2011                         comestíveis. Sim, porque é de cultivar
                                         ideias que se trata.

                                         LISBOA Avenida Almirante Reis, 152.
                                         WEB BioDiverCidades
                                         TLM 966237047



E Agora?

Bom, foi assim que tudo começou. Para entender muitas das raízes da crise
que hoje vivemos, dissecando o colapso do sistema financeiro subprime norte-
americano, é fundamental ver o documentário Inside Job, de Charles Ferguson.
O realizador expressa uma esperança: “que depois de vermos este filme, todos
concordemos na importância de restaurar a honestidade e a estabilidade do
                                                                                  PORTO Arrábida Shopping Sala 20
noso sistema financeiro e de responsabilizar aqueles que o destruíram”.
Muitos milhões de dólares depois, outros tantos dramas humanos, a pergunta        WEB SonyClassics
que fica é: e agora?



                                                                                                                 31 | dias D
D
Sustentabilidade | Futuro | Cooperação




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  • 1. D D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Sustentabilidade | Futuro | Cooperação ÁG UA A VERDADEIRA CRISE CATARINA ALBUQUERQUE Relatora da ONU para a Água Direito à Água no Feminino Portugal: até Quando? 30 Anos de uma Ideia Genial REVISTA D | 1 | MARÇO ::: ABRIL 2011 1 | Capitulo
  • 2. D | 0 | MAR ::: ABR 2010 Av. da República, 15 - 5º andar 1050-185 Lisboa Tel: +351 210 501 503 www.objectivo2015.org info@objectivo2015.org Parceiros Edição Design ® ------- DESIGN FOR GOOD
  • 3. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Nesta Edição tema D 06 A Verdadeira Crise Portugal: até quando Direito à Água no Feminimo vox 15 CATARINA ALBUQUERQUE Relatora da ONU para a Água mundo 20 O Templo O Caminho faz-se Caminhando Brasil Inova na Cooperação Internacional 30 Anos de uma Ideia Genial dias D 30 UN Photo — Martine Perret Eventos | Cultura | Tendências | Ecologia
  • 4. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Editorial Para tod@s Vítor Simões, Editor. Quando as outrora serenas ruas de Dar voz a perspetivas novas ou mar- Tunes se incendiaram com a auto- ginalizadas na habitual agenda noti- imolação de um vendedor de fruta em ciosa; fazê-lo mostrando a voz dos protesto pela apreensão arbitrária da excluídos, sem os vitimizar e apresen- sua mercadoria, os líderes árabes e tar uma visão positiva, com soluções, os dos países desenvolvidos ficaram para as necessidades do nosso boquiabertos. Obama demorou se- tempo – esta é a nossa missão. manas a acertar o discurso – e ainda A revista_D será uma plataforma hoje as diplomacias ocidentais hesi- Digital para pensar o mundo real, tam nas medidas a tomar, perante a que procura um Desenvolvimento inaudita combustão social que defla- mais sustentável, com espaço para gra em boa parte dos países árabes, o lucro mas também para os Direitos alguns produtores de petróleo. políticos, económicos e sociais. Um espaço comum. O petróleo tem dado de comer a pou- cos, nas terras do Norte de África e Neste primeiro número, focamo-nos Médio Oriente. Mas tem estado tudo num combustível mais decisivo do bem, desde que o combustível não que o petróleo para o futuro comum: páre de correr para as economias dos a água. Os povos do Norte de África países desenvolvidos e para as eco- e do Médio Oriente há muito que lhe nomias emergentes. Mas, na verdade, dão o devido valor. Todos esperamos este estado não serve. A surpresa de que os líderes mundiais, incluindo os muitos governantes mundiais – e de nossos, ouçam mais o que dizem as boa parte da imprensa – apenas con- pessoas nas ruas – e assegurem uma firma o seu distanciamento em rela- distribuição justa deste e de outros ção à realidade nas ruas. Mulheres, bens escassos. jovens e pobres, tantas vezes excluí- dos, decidiram tomar o seu futuro nas mãos e demonstraram que manter muitas vozes em silêncio é brincar com o fogo. 4 | Editorial
  • 5. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 UN Photo — Carl Purcell 5 | Capitulo
  • 6. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 D | A água é transparente tema D ÁG A verdadeira Crise UA Inês Campos Na base de muitas das razões que explicam as recentes revoltas no Magrebe e Médio Oriente está a água, cuja escassez favorece a pobreza. Noutros locais, o agrava- mento das cheias é também fator de instabilidade. As alterações climáticas, o aumento da popula- ção, a sobre-exploração de cam- pos agrícolas e a contaminação dos recursos hídricos são alguns dos responsáveis por uma crise global da água. 00 6 | Capitulo tema D
  • 7. D || 11 || MAR ::: ABR 2011 D MAR ::: ABR 2011 os conflitos e protestos no Médio Oriente, em particular no Egito e Tunísia, contra regimes autocráticos foram em parte impulsionados pelo novo aumento dos preços dos produtos alimentares. “Nunca vi uma seca assim” Um cenário bastante diferente queixa-se Liu Baojin, um agricultor afligia o Paquistão há apenas 7 de Shandong, China, ouvido pelo meses, quando chuvas diluviais Guardian vendo mais de um terço transformaram o rio Indus e os das suas colheitas queimadas seus afluentes numa maré que após quatro meses sem chover. matou cerca de 2.000 pessoas, Apesar de ter recebido do governo produziu 20 milhões de desaloja- uma compensação parcial pelos dos e cujos efeitos continuam a danos, Baojin receia ter de aban- assombrar a vida quotidiana do donar as suas terras e procurar país. emprego na cidade. Um relatório recente de Michael Os últimos meses de seca resul- Kugelman, investigador do taram em centenas de hectares Woodrow Wilson International queimados no maior produtor Center em Washington alerta mundial de trigo. Agricultores para a crise de água iminente no escavam poços improvisados Paquistão e para os seus efeitos de água lamacenta e o governo imediatos na produção de alimen- chinês entra com um pacote de tos. Segundo Kugelman, “muitas um milhão de dólares em ajuda das terras agrícolas mais ricas da de emergência para aliviar a seca nação são agora demasiado pan- mais severa dos últimos 60 anos. tanosas ou salgadas para permitir Segundo um alerta lançado em fe- boas colheitas”. vereiro, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Ali- No vizinho Afeganistão, as es- mentação (FAO) considera “a seca tatísticas são chocantes. Nas UN Photo — Sophia Paris atual da China um problema muito áreas rurais, estima-se que 80% sério”, notando que 5.16 milhões dos afegãos bebem água contami- de hectares de área afetada rep- nada e uma proporção semelhante resentam dois terços da produção dos doentes internados em Cabul de trigo do país. sofre de doenças causadas pela poluição do ar e da água. 00 7 | Capitulo tema D
  • 8. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Um Recurso Escasso Mas o problema da escassez de A falta de eficiência dos sistemas água não se limita a países de- de irrigação, que permitem o des- vastados por conflitos ou desas- perdício a grande escala é outra tres naturais. Segundo as das principais causas da crise da Nações Unidas, no ano 2000 água. Na China dá-nos o exem- quase 510 milhões de pessoas plo dum país em que a falta deste em 31 países eram afetadas por recurso é o principal problema intenso stress hídrico ou grave ambiental: são precisas cerca de escassez de água. Em 2025, este mil toneladas de água para pro- número poderá chegar a 3 mil mi- duzir uma tonelada de trigo. lhões de pessoas com menos de A escassez deste recurso tem por 1.700 m3 por ano (considerado o sua vez vindo a tornar os terrenos volume mínimo de sobrevivência). cada vez menos produtivos, situa- ção agravada com o impacto das Apesar de parecer abundante, a alterações climáticas na qualidade água doce é um recurso escasso: dos solos. O Sudão, a Tunísia, o trata-se apenas de 0.3% do total Egito, o México e o Paquistão, são de água no planeta e cerca de alguns dos países com um maior 2,5% destas reservas encontram- défice hídrico. se inacessíveis em lençóis freáti- cos, aquíferos e nas calotas po- Existem soluções, como o uso de lares, entre outros locais remotos. sistemas de irrigação eficientes No total, o planeta azul disponibi- gota a gota e de precisão e o cul- liza cerca de 0,08% da sua água tivo de espécies que consumam para os seres humanos, da qual menos água. A dessalinização 70% é usada na agricultura. Este será uma opção inevitável, ape- cenário é pautado pela degrada- sar do processo consumir muita ção da qualidade da água nos energia. últimos 50 anos, devido a um tratamento ineficiente de águas e resíduos nos grandes centros urbanos e industriais, assim como ao uso de adubos químicos e agrotóxicos em áreas de desen- volvimento agrícola. A poluição está, por isso, a roubar grande parte das reservas de água exis- tentes. 8 | tema D
  • 9. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Guerra dos Cereais A primeira vítima da falta de água tidores pelos fundos de matérias- é a produção agrícola. A falta de primas leva os preços destes água e os impactos climáticos bens a deixarem de ser definidos em alguns dos maiores produ- apenas pelo balanço entre a oferta tores globais, como o Canadá, e a procura. Os consumidores a Austrália, a Rússia e a China, pagam mais pelos alimentos, não já se fizeram sentir numa subida porque haja mais pessoas a con- contínua dos preços do trigo nos sumir, mas porque se prevê que últimos anos no mercado global. no futuro se vá consumir mais. wNos países mais pobres, entre 60% a 25% da população gasta entre 70% e 80% do seu escasso rendimento em bens alimentares. As convulsões sociais vividas em Moçambique no verão passado Novas Dietas, expressam bem o impacte social deste tipo de inflação. Novos Desafios Vários analistas consideram que Nas grandes potências emergentes como a Índia e a os conflitos e protestos no Médio China – tradicionalmente países com uma dieta Oriente, em particular no Egito e vegetariana ou sobretudo à base de cereais –, o au- Tunísia, contra regimes autocráti- mento do rendimento per capita tem-se refletido num cos foram em parte impulsionados maior consumo de lacticínios e carne. pelo novo aumento dos preços dos produtos alimentares. Estas mudanças de dieta redundam num efeito cres- Estes países estão também entre cente consumo de cereais, por constituírem a dieta aqueles que enfrentam uma crise alimentar dos animais. As novas dietas contribuem de água iminente. A perspetiva não só para um aumento da procura de água – agra- de fome, tal como a insatisfação vando o problema de escassez –, mas também para perante recursos cada vez mais a subida das cotações das matérias-primas agrícolas. escassos e pela desigualdade na sua distribuição são exacerbados Neste novo milénio – e pela primeira vez na história quando não é possível o exercício da Humanidade –, a necessidade de alimentar os livre da cidadania. nove mil milhões de habitantes do planeta previstos UN Photo — John Isaac A especulação financeira tem tam- para 2050 exige que grande parte da população, so- bém um papel preponderante no bretudo nos países de rendimento alto, altere os seus aumento dos preços dos cereais. hábitos alimentares e padrões de consumo. O interesse crescente dos inves- Coordenadora da Objetivo2015, UN Millennium Campaign Portugal. 9 | tema D
  • 10. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Portugal: até quando? Inês Campos As alterações climáticas vão pôr em causa a disponibilidade de água em Portugal, caso não se tomem de imediato medidas de adaptação. Os portugueses terão, também aqui, de ser mais poupados. “Ao menos aqui corre água e da das águas superficiais e subter- boa”, contava ao Diário de râneas são alguns dos efeitos Notícias Armando Mosca. Forçado previstos das alterações climáticas a deslocar-se a 25 km de Évora em Portugal. para se abastecer de água, este alentejano era o exemplo de um Apesar da relativa abundância de fenómeno inesperado em Portugal: água no nosso país, a irregulari- falta de água em pleno inverno. dade das temperaturas sazonais, a Este inverno passado pode tornar- assimetria norte-sul na distribuição se na nossa realidade comum num dos recursos, a dependência de futuro próximo. Espanha nos rios internacionais e diferentes necessidades regionais, Menos chuva no sul, cheias no levam muitas vezes a situações de norte, um aumento das temper- carência – por norma no verão. As aturas médias sazonais e pertur- alterações climáticas vêm alterar, bações no regime de escoamento para pior, este cenário. 10 | tema D
  • 11. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 O aumento do nível do mar pode a água superficial disponível é de conduzir à salinidade dos aquífe- 30,7 km3/ano e a recarga de água ros costeiros e ao aumento de subterrânea é de 6,0 km3/ano – o cheias e de secas. Espera-se que satisfaz por ora as necessi- ainda uma diminuição da quali- dades médias de consumo do país dade da água disponível, devido a (ver dados disponibilidade hídrica). menor escoamento e ao aumento da temperatura. A Estratégia Nacional de Adap- tação às Alterações Climáticas Segundo um estudo recente de in- considera que “as alterações vestigadores do Instituto Superior climáticas não são algo que irá Técnico, o sul do país será o mais ocorrer num futuro longínquo”. Em afetado: zonas áridas, com pouca acréscimo, “todos os cenários, vegetação e níveis reduzidos de preveem um aumento significativo precipitação contrastam com da temperatura média em todas zonas de relevo montanhoso no as regiões de Portugal até ao fim Norte, em que um maior volume do século XXI”. Este quadro ex- de precipitação enche os caudais ige medidas de adaptação e a dos rios e lençóis freáticos. definição de estratégias e políticas de gestão da água. Atualmente, a disponibilidade de água doce em circulação à su- perfície ou nos aquíferos varia de acordo com o volume da pre- cipitação e a sua distribuição ao UN Photo — John Isaac longo do ano. A água utilizada em Portugal ronda os cerca de 7 500 milhões m3/ano no conjunto dos setores Agrícola, Industrial e Urbano. Segundo dados do INE, 11 | tema D
  • 12. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Direito à Água no Feminino Isabel Alonso Gomes A organização indiana Tarun A 28 de julho de 2010, a Assem- Bharat Sangh dá-nos um exemplo bleia Geral das Nações Unidas concreto de como a melhoria do reconheceu o direito à água e acesso à água conduz a progres- ao saneamento básico como um sos significativos na qualidade de Direito Humano, essencial à vida vida e empoderamento das mu- de todas as pessoas no planeta. lheres. Através da construção de No texto apresentado a votação, johads (estruturas tradicionais para a Assembleia Geral manifesta a o armazenamento de água) em sua preocupação pelo facto de várias comunidades do Rajastão – 884 milhões de pessoas não terem e colocando uma ênfase particular acesso a água potável e de 2.6 mil no papel das mulheres na gestão milhões não ter acesso a sanea- dos recursos –, contribui para mento básico, resultando na morte alterar a tradicional perceção da de 1.5 milhões de crianças por mulher como “ignorante e inca- ano – um número superior ao das paz”. crianças anualmente vítimas de SIDA, malária e sarampo. Em muitas sociedades, a água constitui o âmago de muitas das tarefas tradicionalmente atribuí- das às mulheres: cozinhar, lavar e limpar. Para além disso, o funcio- namento biológico do corpo das mulheres torna a água essencial para a manutenção da sua digni- dade. 12 | tema D
  • 13. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 O compromisso assumido pelas Nações Unidas para aumentar os esforços de garantir o acesso universal a água limpa e saneamento básico é, sobretudo, uma vitória para as mulheres. Todos os anos, as mulheres dispen- frequentar a escola. Por fim, menos dem mais de 200 milhões de horas mulheres morrerão de parto e os seus no transporte de água – em muitos filhos serão mais saudáveis. locais rurais em África é comum as mulheres caminharem mais de 10 Para potenciar estes ganhos é, con- km até à fonte de água mais próxima tudo, necessário envolver ativamente e talvez o dobro durante a estação as mulheres nos programas de gestão seca. Nesta como noutras áreas, as da água, garantir que a sua voz é mulheres são as primeiras a sentir ouvida, não só para assegurar que as as consequências das mudanças suas necessidades específicas são climáticas: muitas mulheres afirmam atendidas, mas empoderando-as na que as distâncias que têm que per- sua comunidade, enquanto respon- correr até à água têm aumentado em sáveis pela gestão de recursos co- virtude de esta se tornar mais es- muns. cassa. Coordenadora de campanhas na As longas caminhadas para chegar Secção Portuguesa da Amnistia até à água e para a transportar com- Internacional portam sérios riscos para a saúde das mulheres, seja devido ao peso que carregam, aos acidentes de percurso ou ao facto de serem as primei- ras expostas a doenças e poluição presentes na água. Estas viagens também as tornam mais vulneráveis à violência, especialmente em áreas de conflito. A melhoria do acesso a fontes de água limpa terá impactos palpáveis na qualidade de vida destas mu- lheres. A diminuição do tempo pas- sado a transportar água significa que UN Photo — Olivier Chassot as mulheres poderão dedicar-se a atividades produtivas, à sua educa- ção e ao lazer. Ficará reduzido o fardo sobre as raparigas que, assim, terão mais tempo e oportunidades para 13 | tema D
  • 14. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 vox 14 | Capitulo
  • 15. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Catarina Albuquerque Relatora da ONU para a Água Entrevista de Inês Campos Catarina Albuquerque foi a primeira perita independente nomeada em 2008 pelas Nações Unidas como relatora da água. Há poucos dias chegou de uma missão nos Estados Unidos. Depois do Egipto, Bangladeche, Eslovénia e Japão, confirmam-se as suas suspeitas: não existe um problema de escassez na distribuição da água, mas sim de desigualdade. Egipto, a Tunísia e no geral grande não tem acesso são as pessoas parte do Médio Oriente, são países pobres, são os migrantes, as mi- que associamos muito a zonas norias étnicas, os refugiados...as desertas, com pouca água. Poderá pessoas ricas têm sempre acesso. este factor estar também na ori- Há um padrão de exclusão que afecta sempre as mesmas pes- gem das actuais agitações sociais, soas. O que existe é um problema à semelhança do aumento dos de falta de estabelecimento de preços dos cereais? prioridades correctas por parte do Não creio, para já acho que a poder político, de forma a asse- questão vai muito para lá da dis- gurar que todos tenham acesso a ponibilidade de água. Pode dizer- água. me que o Egipto é um deserto. Sim, é verdade que há países com menos água do que outros. Mas considero que os problemas a que assistimos hoje de acesso a água, não têm que ver com falta de recursos, mas antes com uma má distribuição dos recursos exis- tentes. Não é por acaso que quem 15 | vox
  • 16. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Então o governo interessa? Em É um efeito de bola de neve? países democráticos com uma so- É, sem dúvida. ciedade civil mais activa este tipo de problemas é menor? Não acho que seja menor, mas Acredita no cenário, por vezes uma sociedade civil activa con- falado, de guerras de água? segue exercer uma maior e mel- hor pressão sobre os decisores Essa questão irrita-me, porque políticos e tem mais possibilidades é uma forma sensacionalista de de conseguir boas decisões. No abordar o problema. Eu estive Egipto, por exemplo, as informa- recentemente no Bangladeche e ções sobre a qualidade da água é verdade que eles têm muitos eram segredo de Estado há um problemas de acesso a água; mas ano atrás, quando lá estive em se vão travar-se guerras de água, missão. As pessoas não sabiam de cereais, de mais qualquer outra se a água que bebiam era boa ou coisa, não sei... Sei que é preciso má, não sabiam aonde se queixar, assegurar a todos o acesso equi- a que portas é que iam bater... tativo a água de qualidade. Há corrupção, as decisões são tomadas de uma forma pouco transparente – possivelmente não Qual seria a quantidade ideal de são as melhores decisões para as consumo de água por pessoa - pessoas. tem alguma estimativa? Há várias estimativas, eu diria por volta de 100 litros de água por Nas missões que fez, encontrou pessoa/dia para beber, para coz- nas zonas com problemas de falta inhar, para a higiene pessoal, para de água também problemas de limparmos as nossas casas, etc.. acesso a outros serviços públicos Mas claro que podemos ir parar a básicos? números completamente diferen- Normalmente aquilo que encontro tes, que explodem qualquer das nos países que visito é um padrão estimativas, se estivermos a ter de negação sistemática de direi- em conta a água virtual. Isto é, a água que importamos nas t-shirts No Egito as informações tos para determinadas pessoas que compramos feitas no Bangla- – e são sempre as mesmas pes- sobre a qualidade da soas. É verdade que aqueles sem deche... água eram segredo de acesso a água ou saneamento são quase sempre pobres: normal- Estado. mente também não têm acesso a uma habitação condigna, também não realizam o seu direito à ali- mentação na sua plenitude, tam- As tarifas de água podem bém não têm um bom acesso à educação – e depois, também não ter em conta algumas usufruirão dos chamados direitos desigualdades sociais civis e políticos. 16 | vox
  • 17. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 17 | vox
  • 18. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 É a isso que se chama de “pegada Mas mudanças de comportamen- tarifas, há muita discussão à volta hídrica”? tos, como poupar água, são im- disto. Há quem diga que a água portantes? devia ser gratuita; eu acho que a Sim, pegada hídrica ou água vir- água deve ser paga, é um bem tual...os tomates que importamos Claro que nós todos podemos precioso que deve ser estimado e de Marrocos, as laranjas de Israel, fazer mais para poupar água. Uma a atribuição de um preço mais etc.. Aí o nosso consumo de água das maneiras utilizadas por mui- elevado pode ter um efeito positi- passa para milhares de litros por tos países são as tarifas de água vo. Quem tem dinheiro deve pagar dia. progressivas. Isto é, se tenho um pelos excessos de consumo. agregado familiar de “x” pessoas Quem não tem dinheiro não deve presume-se que a quantidade de ser privado deste direito humano E em relação ao desperdício – água que necessito para a rea- e o Estado – não só o Português, como combatê-lo? lização do meu direito humano em qualquer país – deve adoptar é “y”. Se utilizo mais do que “y”, medidas com vista a garantir que Combater o desperdício é muito começo a pagar muitíssima mais mais do que poupar água. Os as pessoas não são privadas do água. Normalmente, há uma rela- acesso à água e ao saneamento maiores consumidores de água ção directa entre maior consumo não são as pessoas. Para a real- pelo facto de não terem dinheiro. de água e maior disponibilidade ização do direito humano à água económica, porque são as pes- precisamos entre 3 a 5% do to- soas que têm jardins e piscinas tal da água doce existente em A falta de acesso a água é um que consomem mais. Acho que problema só dos países mais po- todo o mundo; como vê, não é as tarifas de água podem ter em muito... A agricultura utiliza 70% bres? conta algumas desigualdades da água disponível e desse bolo sociais. As minhas últimas três missões outros 70% são utilizados para a foram a países desenvolvidos: um produção de luxury foods, que são Estado membro da União Euro- os ananases do Brasil, as man- E em Portugal? peia, a Eslovénia, o Japão e os Es- gas da Costa Rica, as laranjas de tados Unidos e foram um choque, Israel, a carne da Argentina, etc.. Sei que cá em Portugal o regu- um reality check... Aí estamos a consumir loucuras lador para água quer mexer nas de água e estamos a desperdiçar muito. 18 | vox
  • 19. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Um choque? Nos Estados Unidos veio falar comigo um sem-abrigo, chamava- se Mike, de Sacramento, a capi- tal da Califórnia, que vivia numa tenda comprada no Wall-Mart. Vi- vem vários assim em tendas... ora, as casas de banho públicas foram fechadas, é ilegal fazer as necessi- dades na rua, aliás é considerado um crime sexual. Estes senhores A falta de acesso à água é uma questão de falta de sem-abrigo não têm qualquer vontade política e de exclusão deliberada para que hipótese de ter acesso ao mínimo saneamento, porque esse acesso determinadas pessoas não acedam a bens lhes é vedado de propósito. Es- fundamentais que correspondem a direitos humanos. tas três missões vieram confirmar aquilo que eu sabia na teoria – que a falta de acesso à água é uma questão de falta de vontade política e de exclusão deliberada para que determinadas pessoas não acedam a bens fundamen- tais que correspondem a direitos humanos. É claro que nos países ricos a maior parte da população tem acesso a água, mas encon- trei várias pessoas – sem abrigo, migrantes, pertencentes a etnias – por exemplo na Eslovénia, a etnia cigana – ou a minorias resi- dentes nos países que visitei, que são excluídas do acesso a água potável e saneamento. Visto que a esmagadora maioria da população tem acesso, são claros casos de descriminação contra estas pes- soas. 19 | Capitulo
  • 20. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 mundo O Templo Leopoldo H. Santana Num templo budista na Tailândia, os monges cuidam de pessoas contaminadas pelo vírus da SIDA, uma doença ainda estigmatizante naquele país. O desconhecimento e a falta de recursos levam muitos familiares a abandonar os doentes neste refúgio. Periodismo Humano Às cinco e meia da manhã, a luz do “Pouco a pouco foram chegando amanhecer colora os campos de trigo mais doentes”, recorda o monge que envolvem a estrada. No hori- Alonkot sobre as dificuldades dos zonte, sobre a encosta íngreme de primeiros tempos. A população local uma montanha, surge o grande buda não via com bons olhos tê-los por branco que preside ao Wat (templo) perto, incomodados com a presença Phrabat Namphu. Situado nos ar- daqueles excluídos. “Mas man- redores de Lopburi, convivem ali os tivemos a nossa posição, resistimos, monges theraveda de traje laranja e e continuámos a acolhê-los. Agora uma das realidades mais dilacerantes muita gente entende e até vem visitar da Tailândia. Na harmonia do lugar, os pacientes”, afirma. “O problema é os seropositivos alvo de estigmas e que as pessoas temiam ser infetadas tabus encontram uma compreensão pela doença, por isso os discrimina- que lhes é negada num país que se vam. Grande parte do nosso trabalho esforça por manter uma imagem sem tem sido fazê-los perceber a natureza mácula. da doença”. 20 | mundo 00
  • 21. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 O Caminho da Educação Numa sociedade onde a SIDA ainda mata e em que os doentes escondem as manchas nos seus corpos te- mendo a rejeição das próprias famí- lias, um monge, Alonkot Dikkapanya, acolheu há 18 anos um homem que sofria, sem tratamento ou solidarie- dade. Tratou-o com devoção até ao momento da sua morte e compreen- deu então que tinha uma missão especial a cumprir. Um ano depois de Alonkot ter acol- hido o primeiro paciente, começaram a chegar de outros templos vários monges para ajudar na tarefa. Após 3 anos, o templo já se ocupava de mais de 200 doentes. “O desafio agora é que as famílias não rejeitem os seus familiares e se ocupem deles, creio que daqui a uns dez anos vão aceitá- los melhor”, prevê. Para Alonkot, a solução passa por conseguir a aceitação familiar e por manter os pacientes ativos, fazendo- os sentir que apesar da doença po- dem realizar um trabalho útil. Fala da educação como o principal caminho a seguir e alega que muitos seroposi- UN Photo — Olivier Chassot tivos sofrem por se verem abando- nados. “O governo dá uma pensão pequena a muitos dos doentes que não podem trabalhar; mas não é suficiente, nem para comer, nem para pagar uma renda e muito menos para medicamentos,” assegura. 21 | mundo
  • 22. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Um Homem de Sorte Khemkhaeng Promma nasceu na No outro extremo da sala encontra- província de Saraburi há 36 anos, se Kihipong Phuusaa, que veio da onde vivia com os seus pais e três ir- capital Banguecoque, onde cresceu mãos. Um sorriso tímido surge no seu e estudou. Kihipong tem 41 anos e rosto quando recorda a infância. “Não começou a trabalhar como taxista gostava de ir à escola, preferia ficar ainda muito jovem. “Gostava do trab- a brincar no campo”, conta. Logo na alho porque não tinha chefes”, co- adolescência começou a trabalhar menta. “Há um tempo atrás a minha numa fábrica de cimento, mas as namorada tinha-me dito que estava condições eram tão duras que aos 18 infetada” conta. anos sofreu uma paralisia que o impe- diu de caminhar durante quatro anos. Quando descobriu que era seroposi- Depois deste período, recuperou as tivo não disse a ninguém, nem sequer forças e chegou a servir como militar à família. Desde o seu divórcio dez por dois anos, antes de começar a anos antes que não via a mulher e trabalhar numa fábrica de plástico. a filha. Começou a beber, cada dia Porém, quando contava já com 25 mais, enquanto ainda era capaz de anos, optou por seguir um caminho manter o segredo, “até que já não do qual não voltaria. “O meu coração podia conduzir nem beber mais.” estava desfeito e um amigo ofereceu- Quando os vizinhos e colegas per- me a provar ópio”, recorda. Depois ceberam o seu estado, começou chegou a heroína. No princípio usava a sentir-se discriminado. “Eram os uma vez por dia, mas logo passaram olhares, faziam-me sentir deprimido. a ser duas e três... e nada mudou até Felizmente, uma das minhas vizinhas descobrir umas manchas no corpo. trabalhava para um médico em Ban- Tinha SIDA. A irmã que se encar- guecoque que conhecia este lugar, regou-se dele; levou-o a vários hos- tenho sorte”. pitais, a um templo onde se dizia que usavam umas ervas curativas. Por fim soube da existência do Wat Phrabat A Cama Vazia Namphu . O Wat Phrabat Namphu divide a sua atividade entre dois edifícios. O edifício principal conta com 115 pacientes adultos, em situação mais crítica. Num outro, situado a 85km de Lopburi, residem 200 pessoas. 22 | mundo
  • 23. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 São acolhidos tanto os afetados pela SIDA como crianças que perderam os pais devido à doença. As crianças frequentam a escola, praticam de- sportos e ocupam-se com diversas atividades. Atualmente, a maioria dos fundos necessários para manter o projeto humanitário do templo provém de doações privadas tailandesas e es- trangeiras. Uma pequena parte chega do governo. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de meio milhão de tailandeses são portadores do vírus da SIDA. Inicia- tivas altruístas como as de Alonkot Dikkapanyo representam a esper- ança daqueles que sofrem a doença e a exclusão social. Kihipong está apenas há 20 dias no templo, mas quer ficar forte o sufici- ente para voltar a casa. “Por agora estou bem aqui, mas quero voltar a trabalhar e poder deixar esta cama vazia”. UN Photo — Olivier Chassot 23 | mundo
  • 24. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 O Caminho Faz-se Caminhando Mariana Hancock Para António*, professor voluntário na escola da Missão dos Jesuítas da Fonte Boa, prfovíncia moçambicana de Tete, cedo se tornou evidente a desigualdade entre o número de rapazes e o de raparigas que fre- quentavam um das poucas escolas primárias de segundo grau (EP2) que serviam a população rural dos distri- tos de Angónia e de Tsangano, junto à fronteira com o Malávi. “A partir de uma certa idade, é comum as rapari- gas deixarem de ir às aulas, o que, geralmente, corresponde à altura em que são “iniciadas, ou seja, por ocasião da sua primeira menstrua- ção”, constatou o professor. “naquela região de Moçambique, assim como em outras regiões, países e culturas, as raparigas são valorizadas sobretu- do enquanto mães e donas de casa”, acrescenta. Os alunos que vêm das escolas primárias de primeiro grau (EP1) mais próximas das suas aldeias chegam à Missão a saber pouco ou nada de Português. Para a maioria da popu- lação rural, o Português é a segunda língua, apenas falada na escola. Mui- tas raparigas ficam pelo caminho. 24 | mundo
  • 25. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Chegar até à Escola da Fonte Boa No momento de as famílias toma- Os desafios existentes em Moçam- significa, na maioria das vezes, per- rem a decisão, com frequência os bique para se alcançar o ODM 3 correr vários quilómetros – o que, estudos dos rapazes são prioritários alargam-se ao ODM 2 – alcançar o para uma rapariga, nem sempre é sobre os das raparigas, quer seja por ensino primário universal – com a opção. A longa distância desde casa razões de segurança, financeiras – meta de todos os rapazes e raparigas leva a que, quase sempre, as rapari- ou, simplesmente, pelo papel que a completarem um plano de estudos gas a procurem lugar no internato mulher assume na família. Sobretudo de escolaridade primária até 2015. feminino junto à escola. Essa é a úni- nas áreas rurais, o conflito entre a Segundo o Plano Estratégico de ca forma de conseguirem prosseguir educação tradicional e a educação Educação e Cultura 2006-2010/11 do os seus estudos. formal constitui ainda um desafio à governo moçambicano, entre 1999 e escolarização das raparigas. O papel 2005 as matrículas no EP1 aumen- social que lhes é tradicionalmente taram 65%. No entanto, as taxas de reservado – o de mães e donas de conclusão do EP1 permaneceram casa – torna-se incompatível com os baixas e o número de repetições e estudos superiores, ao mesmo tempo desistências elevados, bem como a que estereótipos de género, ainda baixa qualidade do ensino, continuam por desconstruir, diminuem o nível de a ser dificuldades. Moçambique ne- confiança e de autonomia das mul- cessita de 10 mil professores por ano, heres. mas apenas 8.500 professores serão contratados este ano, sobretudo no De acordo com o Relatório de ensino básico. Apesar dos esforços Moçambique sobre os Objetivos de do Programa de Construção Acelera- Desenvolvimento do Milénio (ODM) da de Infraestruturas Escolares, 700 Internato Feminino da Missão de Fonte Boa, Moçambique. Fotos de Luís Mileu. referente a 2008, prevê-se que a mil rapazes e raparigas vão continuar paridade de género no EP1 seja a estudar ao relento durante este ano atingida até 2015, embora os desafios letivo. sejam maiores ao nível do EP2 e do Secundário – o que põe em causa a Coordena em Portugal a Campanha concretização de todas as metas con- Global pela Educação. tidas no ODM 3 – promover a igual- dade de género. A existência de distritos em que a percentagem de raparigas a frequen- tar o EP2 está abaixo dos 45% justi- Sobretudo nas áreas fica uma maior atenção para medidas rurais, o conflito entre a de combate ao abandono escolar das raparigas. É o caso da construção de educação tradicional e mais escolas para reduzir as distân- a educação formal con- cias percorridas ou ainda o equilíbrio stitui ainda um desafio entre o número de professores e pro- fessoras (face ao receio que muitos à escolarização das pais sentem de enviar as suas filhas raparigas. para ambientes predominantemente masculinos). 25 | mundo
  • 26. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Brasil Inova na Cooperação Internacional Sara Bernardes Bancos de leite materno e produção de biocombustíveis conjugada com a de alimentos – eis algumas das práti- cas inovadoras da Cooperação Brasileira, que pela primeira vez publicou um relatório de atividades. Tam- bém nesta área, o Brasil está em forte crescimento. “Foi o coração que mandou e Deus CBDI prefere pensar na cooperação A CBDI assume o compromisso de que envio esse leite tão gostozinho como uma “troca entre semelhantes, contribuir para a promoção do de- para eles”, diz Alice Shenk, uma das com mútuos benefícios e respon- senvolvimento global, com ênfase doadoras do banco de leite de Nova sabilidades”, implementada em 70 na América Latina, África e Ásia. No Friburgo, no estado do Rio de Ja- países, da América Latina até aos centro da sua atividade estão os Ob- neiro. A exportação da rede brasileira países africanos lusófonos. A partilha jetivos de Desenvolvimento do Milé- de bancos de leite materno para de conhecimentos e aprendizagens nio (ODM – lançados pelas Nações 22 países, na América Latina e nos vem assim mudar as regras do jogo Unidas em 2002, na sequência da países Lusófonos Africanos, é talvez na hierarquia tradicional de doadores Cimeira do Milénio, em que chefes o projeto mais inovador da Coopera- e beneficiários e estabelecer uma de Estado de cerca de 200 países ção Brasileira para o Desenvolvim- parceria horizontal. se comprometeram a acabar com a ento Internacional (CBDI). Esta prática pobreza e as suas principais causas tem sido importante no combate à A maior economia emergente da até 2015.). Os ODM ligam-se, na es- mortalidade infantil, pois além das América do Sul está a tornar-se um tratégia da CBDI, à partilha de tecno- questões nutricionais e emocionais, importante doador internacional, logias e conhecimentos úteis para o é através do leite materno que as tendo gasto um volume total nos combate às doenças graves como o defesas naturais da mãe passam para últimos 5 anos de 1.250 mil milhões VIH/SIDA e a malária, a diminuição da o filho. “Cada mamada é uma vacina” de euros. Entre 2005 e 2009, as suas mortalidade infantil e o desenvolvim- – explica o médico Franz Novak, da contribuições aumentaram 129%, ento agrícola, entre outros. rede brasileira de leite humano – con- dirigidas tanto a fundos multilaterais, siderada pela Organização Mundial como à assistência técnica, bolsas de de Saúde como a de maior qualidade estudo a estrangeiros e assistência a nível mundial. humanitária, que no mesmo período duplicou de 113 milhões de euros Em vez de falar em “ajuda” e “doa- para 259 milhões. ção”, o primeiro relatório oficial da 26 | mundo
  • 27. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 A multiculturalidade do Brasil, a sua Na cooperação multilateral é dado experiência com desafios agrícolas especial destaque ao Fundo de em climas áridos ou tropicais – como Convergência Estrutural e de Forta- o cultivo de cacau ou de algodão – e lecimento Institucional do Mercosul inovações ao nível da microeconomia, (FOCEM), integrado no âmbito do blo- tais como iniciativas de economia co económico regional MERCOSUL, solidária – baseada no cooperativis- que representa cerca de 30% das mo e associativismo – são facilmente contribuições do país. Este organismo transportáveis para os países mais conta com um fundo anual de 100 pobres. milhões de dólares e visa financiar programas para reduzir as assimetrias Na área da cooperação técnica, entre os Estados Membros do bloco distingue-se a partilha de tecnologias regional. agrícolas para a produção de ca- cau e a proteção da biodiversidade, O Brasil já conseguiu atingir várias implementadas na Colômbia, Congo metas dos Objetivos de Desenvolvi- e Equador. Outro destaque vai para a mento do Milénio. À semelhança de difusão da agroenergia, com técnicos países como a Índia, África do Sul UN Photo — Jerry Frank brasileiros no terreno a mostrarem e Turquia, o esforço de cooperação como harmonizar a produção de bio- internacional desta nação pode fazer combustíveis com a de alimentos. a diferença, até ao ano 2015, entre No plano bilateral, o Brasil atua em muitos milhões ou poucos milhares mais de 70 países, com impacto de pobres no mundo. maior na América Latina – que recebe 76,27% dos fundos bilaterais – e nos países lusófonos africanos, que recebem 16,41%. 27 | mundo
  • 28. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 30 Anos de Uma Ideia Genial Alexandre Coutinho O Grameen Bank do Bangladesh foi pio- Na última década, o Grameen Bank neiro na criação de um sistema bancário começou a limitar a sua expansão no Bangladesh, decidido a concentrar as baseado no mutualismo, na confiança, suas atenções sobre as famílias que participação e criatividade, concedendo já beneficiam dos seus empréstimos. Muhammad Yunus, fundador da insti- microcréditos aos mais pobres dos po- tuição e Prémio Nobel da Paz 2006, bres. O sistema globalizou-se e o funda- reconhece que o ritmo de crescimen- dor do Grameen quer levar o microcrédi- to abrandou nos últimos dois anos. “Por duas razões:”, explica. “temos to até 100 milhões de famílias. 2,5 milhões de famílias titulares de empréstimos e o nosso desejo é de vê-los ultrapassar o limiar da pobreza. “É realizável!”, afirma com entu- do país, com mais de 8,3 milhões de Um terço, já o conseguiu e outro sismo Muhammad Yunus, fundador membros e 2565 balcões, cobrindo terço está quase e os restantes estão do Grameen. “Em 1976, quando um total de 81.377 aldeias do Bangla- no bom caminho. Vamos concentrar- emprestei 27 dólares a 42 pessoas, desh. Entre os empréstimos de maior mo-nos nestas pessoas, em vez de se tivesse feito uma conferência de sucesso, destaque para a construção nos expandirmos cada vez mais. A imprensa nessa tarde para anunciar de casas – já foram financiadas outra razão, é que já há outras orga- que, passados 34 anos, teria conce- 687.754 habitações – e as chamadas nizações que concedem microcrédito dido 10.259 milhões de dólares (7543 telephone ladies que, com os seus e ainda há lugar para mais”. milhões de euros) você saía da sala telemóveis, desempenham o papel de a chamar-me maluco. Mas essa é a telefones públicos em muitas aldeias. Yunus aponta para um período, entre realidade presente. Na época, a pala- Hoje, são 396.733! cinco e 15 anos, como o tempo ne- vra microcrédito nem sequer existia. cessário para uma família que ben- Não é difícil passar, de 20 para 100 As mulheres são as clientes princi- eficia do microcrédito ultrapassar o milhões de famílias. Vamos tentar o pais do Grameen e são também a limiar da pobreza. “Queremos reduzir nosso melhor e mesmo que não seja grande maioria da população pobre. este tempo para um máximo de dez possível chegar aos 100 milhões, Mas demonstram que apostar nos anos e depois, progressivamente, chegaremos a 50 ou a 60 milhões”. mais pobres compensa: o retorno para oito ou sete anos”, prevê. dos créditos (no valor médio de 123 Atualmente, o Grameen Bank (o “ban- dólares (90 euros) é surpreendente: No âmbito internacional, Muham- co da aldeia”, em Bangla) é a maior 97,38%. mad Yunus defende que a dívida instituição financeira no mundo rural dos países em desenvolvimento não 28 | mundo
  • 29. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Photos — Grameen Bank. Por cá deveria ser perdoada sem contra- Em Portugal, apenas existe uma soais, a ANDC trabalha em partidas. Propõe, em alternativa, a instituição regida pelos mesmos parceria com o Instituto do Em- criação de fundos de microcrédito. princípios do Grameen Bank, prego e Formação Profissional “Defendo um perdão com condições. a Associação Nacional do Di- (IEFP) e com bancos como o Significa que o dinheiro tem de ser pago pelo país em causa, através reito ao Crédito (ANDC). Em dez Millennium (desde 1999), a Caixa da criação de um fundo colocado anos de atividade, o volume de Geral de Depósitos (desde 2005) à disposição das organizações de crédito concedido já se eleva a e o Banco Espírito Santo (desde microcrédito e em benefício do seu mais 6,5 milhões euros, situan- 2006) – que financiam os em- próprio povo – frisa – o facto de um do-se a média dos empréstimos préstimos concedidos. país credor prescindir de receber a em 6000 euros. Ao todo, foram dívida não significa que desista do aprovados 1433 projetos, até ao A área do vestuário é a mais dinheiro e que este possa ser gasto de qualquer maneira”. final de janeiro de 2011, respon- representada (12,2%), seguindo- sáveis pela criação de 1812 se as atividades ligadas à ali- postos de trabalho. mentação (11,8%); os cafés e Dirigida a pessoas que não têm pastelarias (8,5%); o artesanato crédito junto da banca comer- e a decoração (8,1%); e a con- cial, mas que querem desen- strução (4,7%). A taxa de sobre- volver uma atividade económica vivência destes negócios, até à concreta para a qual reúnem data, é de 75,9%. condições e capacidades pes- Jornalista e coautor do livro “Microcrédito em Portugal – Uma Nova Oportunidade”. 29 | mundo
  • 30. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 dias D A Natureza Merece Entre a Europa e a África, a Ria reverte para ações de recuperação Formosa é a paisagem natural mais e conservação da biodiversidade do precisosa do Algarve. Representa um local. Por fim, a primavera também equilíbrio tão precário quanto perene, é saudada no Porto, onde Serralves dentro das duras regras da natureza. oferece um amplo programa de Este oásis de águas calmas só sub- atividades de sensibilização ambi- siste graças a um sistema arenoso ental: Habitar Serralves ajuda-nos a de ilhas-barreira, também ele um criar micro-habitats nos nosso jardins caso ímpar de sobrevivência face a ou hortas urbanas; Água no Parque condições adversas. O sistema lagu- toma a água como fio condutor de nar da Ria Formosa é composto por um percurso de recolha de amostras cinco ilhas-barreiras: Barreta, Culatra, para depois analisar à lupa e, por fim, Armona, Tavira, Cabanas. Começan- Animais na Quinta leva-nos de (re) do pela Armona, o percurso leva-nos encontro às galinhas, ao burro ou à pela paisagem e pela história deste vaca – que, afinal, existem para além lugar único. Mais a Norte, a natureza do supermercado e da televisão. também se deixa ver no Parque Natural Sintra-Cascais, onde durante séculos a Quinta do Pisão foi palco de atividades agrossilvo-pastoris. Vale a pena visita guiada até à capela, às eiras e aos fornos do século XVI, passando pela gruta de Porto Côvo, utilizada pelos homens pré-históricos como necrópole. O valor da entrada OLHÃO Passeios Ria Formosa 2ª a Dom. 10h30-16h30 WEB Natura-Algarve QUINTA DO PISÃO - Pisão de Cima (Cascais) Percurso 19 de Março WEB CascaisNatura PORTO PROGRAMA FAMÍLIAS EM SERRALVES WEB Serralves 30 | dias D
  • 31. D | 1 | MAR ::: ABR 2011 Água para Todos Não será por certo uma coincidência que a capital da Andaluzia – região fortemente afetada pela escassez de água – receba nesta primavera a terceira edição do congresso inter- nacional Smallwat.Enquanto a maior porção da Humanidade se concentra em cidades, restam as comunidades mais pequenas, muitas vezes rurais, onde o saneamento básico perman- Cultivar Ideias Beber Com Estilo ece um desfio ou mesmo uma mira- gem. Cientistas e responsáveis políti- O trânsito corre frenético na Avenida O design não resolve tudo, mas… cos de todo o mundo irão, pois, afluir Almirante Reis, em Lisboa; mas no quase. Para quem ainda encontra na a Sevilha para debater o progresso número 152 o ritmo é mais calmo e aparência “farmacêutica” dos tradi- em relação a duas importantes metas chegam-nos propostas de um estilo cionais jarros de filtragem de água que expiram no ano 2015: a Diretiva de vida mais saudável. Tudo começou uma intransponível barreira à sua Quadro da Água (União Europeia) e o com o Restaurante Bem-Me-Quer, aquisição, recomendamos Ovopur. Objetivo do Milénio 7 (Nações Uni- que funciona em baixo, enquanto Inspirado, garantem os autores, na das). que ao cimo das escadas encontra- tradição artesanal chinesa, este filtro mos a loja de alimentos biológicos sofisticado à base de cerâmica tem e ecologia urbana, produzidos em um design que impede que a água, Portugal. Carne à parte, temos todos uma vez filtrada, estagne. Para além os produtos da época. Cenouras, de ser bonito e ecológico, também maçãs, batatas e tangerinas, entre tem valor social: parte dos lucros outros, podem adquirir-se no local revertem para várias causas ligadas ou encomendar-se para entrega ao ao ambiente. domicílio em forma de cabaz. Mais do que comida para o estômago, quer-se WEB Aquaovo alimentar a mente, com propostas no- vas em oficinas de permacultura para SEVILHA 25 a 28 ABR Sevilha crianças ou de cosntrução de jardins WEB Smallwat2011 comestíveis. Sim, porque é de cultivar ideias que se trata. LISBOA Avenida Almirante Reis, 152. WEB BioDiverCidades TLM 966237047 E Agora? Bom, foi assim que tudo começou. Para entender muitas das raízes da crise que hoje vivemos, dissecando o colapso do sistema financeiro subprime norte- americano, é fundamental ver o documentário Inside Job, de Charles Ferguson. O realizador expressa uma esperança: “que depois de vermos este filme, todos concordemos na importância de restaurar a honestidade e a estabilidade do PORTO Arrábida Shopping Sala 20 noso sistema financeiro e de responsabilizar aqueles que o destruíram”. Muitos milhões de dólares depois, outros tantos dramas humanos, a pergunta WEB SonyClassics que fica é: e agora? 31 | dias D
  • 32. D Sustentabilidade | Futuro | Cooperação REVISTA D | 1 | MARÇO ::: ABRIL 2011