SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 48
Baixar para ler offline
www.numdiaperfeito.com
DUPLO SENTIDO
A Arte não é veículo que marche em sen-
tido único. Como não tem fim ou objeti-
vo, move-se na direção que aprouver aos
seus autores, ao sabor das suas reflexões,
gestos e também das próprias possibilades
que uma tela em branco, um pedaço de
barro ou pedra, ou um Mundo em aberto
emancipam.
Nestes caminhos não há obstáculos que
não possam ser transpostos, atravessa-
dos ou vergados sob a força da iniciativa
criativa, mas também não podemos dizer
que não existem rotas definidas.
São as rotas dos processos linguísti-
cos, da semiótica das manifestações e
criações em artes visuais, da história dos
saberes e dos fazeres.
É nestas rotas, sob o mote e pretexto da
Mostra Duplo Sentido, que nos movimen-
tamos de trás para a frente, em sentidos
opostos muitas vezes, nas linguagens do
desenho, da pintura e da fotografia.
Fazemo-lo sem objetivos, mas de olhos
postos no profundamente Humano, na
Pessoa, na sua dignidade, diversidade,
pluralidade e complexidade.
Esperamos, secretamente, tocar e ser
tocados, amar e ser amados, trocar um
momento de intimidade e cumplicidade,
numa rua com dois sentidos.
Esta segunda publicação Aka Arte é, no
fundo, um mapa de roteiros para estes
encontros.
Evoca também outros momentos em
que, enquanto coletivo de autores, mul-
tiplicámos a nossa ação e movimento
para os despoletarmos.
A ti, leitor, agradecemos esta presença
continuada e disponibilidade para par-
ticipar. Como não existem livros quando
não existem leitores, não há obra sem es-
pectadores e Aka Arte é também a vossa
existência e expectativa.
FICHA TÉCNICA
Direção: Aka Arte
Design: Nuno Quaresma
Colaborações: Ana Fernandes, Jorge
Franco, Jorge Moreira, Ana Fina, Artur
Simões Dias, Pedro Afonso Silva, Simão
Carneiro, Clo Bourgard, Sara Silva, Hugo
Alexandre, Elisabete Gonçalves, Tania
Estrada, Mariana Adão da Fonseca, Cata-
rina Vieira Pereira, António Maria Sousa
Lara, Ricardo Raposo, Jack CJ Simmons
Impressão: C.C.Alfragide
Tiragem: 100 exemplares
Junho 2015
www.numdiaperfeito.com
“A Arte não é veícu-
lo que marche em
sentido único.”
TODOS OS
HOMENS SE
NUTREM MAS
POUCOS
SABEM
DISTINGUIR
OS SABORES
Confúcio
http://frutaecompanhia.blogspot.pt
OM, Aum, o som do movimento do Universo, o eco do seu início
distante…
Vivo na era da descoberta do Bosão de Higgs, do pleno, seguro
e consolidado funcionamento do Acelerador de Partículas do
CERN, já numa época pós Relatividade Geral de Einstein, nos
tempos da elaboradíssima complexidade matemática da Teoria
das Cordas.
No meu íntimo, no fundo da minha alma (será que esta existe?)
procuro contudo e apenas ouvi-lo: este silêncio que é também
um rumor sem fim.
Quando me concentro, respiro-o, sinto-lhe, por momentos,
essa nesgazinha de grandiosidade de que todos somos parte.
Já me explicaram que maís o conseguiria integrar se tivesse “o
copo menos cheio”.
É mais fácil encher um copo vazio do que fazer entrar o que seja
numa malga (amálgama!) a transbordar.
A dura tarefa que tenho hoje pela frente é esvaziar-me desse
caudal.
É minha essa tarefa apenas porque a escolho.
Não sei se sou capaz, se estou à altura da complexa exigência
do seu postulado.
Sigo com a simplicidade, humildade e receios de uma criança
(talvez até com um pouco da sua indisciplina e irreverência).
Por isso começo por desenhar e pintar.
Não me levem a mal. Não sou capaz de o fazer de outra forma
agora.
Vou pintar o que não compreendo, pintarei tudo o que me dis-
traí o pensamento, para ver se a pintar desmistifico e desmistif-
icando exorcizo essa força magnética que me agarra obsessiva-
mente à forma das coisas.
Pensando menos sentirei talvez mais. Mais perto estarei talvez
do essencial, do conteúdo. Mais perto da verdade, quem sabe,
da consciência, do coração… de Ti!
Aka OM (Aum), no decurso de 2015, com o apoio Tailored e AKA
Art Projects.
PREFÁCIO
www.facebook.com/AkaArte
01
www.numdiaperfeito.com
02
LIND’
MUNDO
Dedicada à eterna memória de Letícia da
Conceição Bicho, Grande Mãe e Grande
Apreciadora de Arte.
Como é Lindo o Mundo, pensamos os
dois enquanto debruçamos em conjun-
to o olhar sobre a beleza distintiva desta
Vila.
Nesta topografia singular, grandiosa,
é mais fácil entrar em contacto com a
história comum que nos une e que nos
traz hoje ao MUSA.
A amizade entre um Escultor e um Pintor,
uma também ela singularidade no es-
paço e no tempo, aglutinou a vontade e
a oportunidade sob o auspício e teto cul-
tural no Município de Sintra e o resultado
é este: Lind’Mundo.
No Algarve dizemo-lo assim, em dialeto,
e se nos perguntarem, provavelmente
responderemos “é Lind’ porque é Linde,
não é precise outras justificações”.
“Outro mestre estava a tomar chá com dois
dos seus alunos quando, subitamente atir-
ou o leque para um deles, dizendo «o que
é isto?» o aluno abriu-o e abanou-se. «Não
é mau», foi o seu comentário. «Agora tu.»,
continuou, passando-o ao outro aluno, que
imediatamente fechou o leque e coçou o
pescoço com ele. Feito isto, abriu-o nova-
mente, colocou um pedaço de bolo sobre
ele e ofereceu-o ao mestre. Este foi consid-
erado ainda melhor, porque, quando não
existem nomes, o mundo deixa de estar
«classificado dentro de limites e frontei-
ras».
In “O Caminho do Zen”, de Alan Watts
Esta mostra, sobretudo porque não se
classifica dentro de limites ou fronteiras,
está integrada na iniciativa associativa
AKA OM dedicada aos temas – Mudança
|Movimento |Crise |Criatividade- e a ex-
posição desta coleção de Obras de Jorge
Moreira e Nuno Quaresma antecipa uma
série de outras atividades e iniciativas
que decorrerão em 2015 e que poderão
ser acompanhadas em www.numdiaper-
feito.com .
Num dia perfeito pinta-se, esculpe-se,
alimenta-se o corpo e a alma, ama-se e
ensina-se a amar.
“Não te iludas. O ontem já se passou, o
amanhã ainda não existe. Vive, pois, a
única certeza que tens agora: este dia!”
Augusto Branco aka Nazareno Vieira de
Souza
www.facebook.com/AkaArte
03
Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally
chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made
up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when com-
bined together, make the sound Aum or Om. It is believed to be
the basic sound of the world and to contain all other sounds. It
is said to be the sound of the universe. What does that mean?
Somehow the ancient yogis knew what scientists today are
telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever
solid or still. Everything that exists pulsates, creating a rhythmic
vibration that the ancient yogis acknowledged with the sound
of Aum. We may not always be aware of this sound in our daily
lives, but we can hear it in the rustling of the autumn leaves, the
waves on the shore, the inside of a seashell.
Chanting Aum allows us to recognize our experience as a re-
flection of how the whole universe moves–the setting sun, the
rising moon, the ebb and flow of the tides, the beating of our
hearts. As we chant Aum, it takes us for a ride on this universal
movement, through our breath, our awareness, and our phys-
ical energy, and we begin to sense a bigger connection that is
both uplifting and soothing.
www.numdiaperfeito.com
04
MARIA JOÃO
A respiração dilata-se no ar pesado do interior
cores esbatidas, vidraças molhadas, sonhos que pingam
beijos inaudíveis, olhar no vazio, coração menos pesado
hálito carnal, mãos que se tocam, corpos que se fundem
O silêncio é a linguagem dos amantes.
Não sabes o meu nome, não conheço a tua história, não interessa quem somos.
As fotos das crianças que fomos culminam neste momento presente; tudo é este segundo que vivemos
todas as gotas do oceano estão dentro destas paredes
as rugas que ambos escondemos brilham na sua solidão
nós somos tudo, por saber ser nada
acolhes-me nos teus braços como se fosse o teu único filho recém regressado
Abro-te os meus como se fosse um porto de abrigo para um navio que não navega.
Não me chegaste a dizer qual o preço
Também não te perguntei, será verdade
Abri-te a porta e limitaste-te a entrar
não te disse o destino, não saberíamos por onde querer ir
Encalhámos por breves momentos neste canto esquecido com vista para o nada
por segundos fugazes não existimos; desaparecemos no frio da noite
olhas-me antes de fechar a porta, não sorris, não falas
olhas-me simplesmente; sei que vais partir e nunca mais me ver;
Sinto-te a entrar nas minhas veias, a matar as minhas defesas
Pouco a pouco possuir-me às, átomo… a átomo
definharei este corpo efémero e vazio de significado
sucumbirei ao cheiro da doença
finalmente pertencerei ao teu abrigo
Por toda a eternidade que esta noite não pode dar.
www.facebook.com/AkaArte
05
www.numdiaperfeito.com
06
SOBRE A BELEZA E A SUA PROCURA
Procurámo-la em tudo.
Procuramos no imaterial da atmosfera, no volume leitoso das
nuvens, nos contornos das montanhas e vales, nas curvas da
paisagem.
Procuramos nas linhas de um rosto, na textura das mãos, na
volumetria intrincada de uns longos cabelos.
Nesta procura de conservação em imagem do belo, somos com-
pelidos a congelar singularmente numa obra intemporal, o fu-
gaz, o momentâneo, o irrepetível.
O voo de um pássaro, o rebentar de uma onda, a queda de uma
estrela, o levantar de um braço ou o dobrar de um torso.
De lápis na mão procuramos assim esquiçar a Liberdade, dar
esboço à Força da Natureza ou um segundo corpo pictórico ao
Amor e ao Desejo.
E é nas asas desse amor e desejo que por vezes geramos uma
nova forma de beleza despojada, singela.
Uma modalidade feita de linhas e pinceladas, claro e escuro,
modelação de cor, textura gráfica.
Uma interpretação dimensional feita só de altura e comprimen-
to, de linhas de composição, horizontais, verticais, diagonais, e
um infinito conjunto de estruturas geométricas.
No meio também estás tu. Completa, complexa, outra em ex-
istência legítima fora de mim. És Bela porque és tu, real e única
para além das possibilidades da minha imaginação ou pensam-
ento. Assim, sem jeito, deixo a pergunta: posas para mim?
www.facebook.com/AkaArte
07
www.numdiaperfeito.com
08
JORGE MOREIRA
Escultor, poeta visual, artista singular com uma visão fantástica, as suas obras de escul-
tura, são autênticas filigranas em pedra ou madeira, onde as imagens se ligam entre
si com elegância numa fantasia musical, onde se misturam pequenos seres alados e
plantas e por vezes notas musicas.
Nasceu em 1962.
Curso de Artesão do Brinquedo no Centro Cultural Roque Gameiro.
Aderecista no filme para crianças “Zás Trás”.
Criação de Decors para Vitrinismo.
Colaborador de Escultura de 2005 no Centro Internacional de Escultura.
Exposição coletiva de pintura e escultura no Ministério do Trabalho e Solidariedade
Social.
Exposição colectiva “Tightrope”, Cidadela de Cascais, 2008.
Participação no concurso “Utopia 2” Artes Fantástica, 2010.
Exposição coletiva de pintura e escultura “Arte Fantástica e Surrealismo 2”, Casa da
Cultura de Mira Sintra, 2012.
Exposição coletiva Círculo Artístico Artur Bual, Vila Alda, 2012.
Exposição coletiva com Olga Alexandre, Biblioteca José Régio, 2012.
Exposição de Escultura ao Ar Livre, Amadora, 2013.
Exposição coletiva “Surrealism”, Casa Museu Roque Gameiro, 2013.
Participação em feiras esculpindo ao vivo:
Feira Medieval de Sintra em 2011 e 2012; Feira Setecentista de Queluz em 2011 e
2012; Feira de Arte Contemporânea em 2010 e 2011; Feira de Arte em Pequeno Form-
ato na Casa Roque Gameiro; Feira de Artesanato da Junta de Freguesia de Venteira.
Jorge Moreira, meu amigo e escultor, tem
comigo em comum as raízes ensolaradas
do sul, as origens árabes ou berberes
dos nativos de Silves. Será, porventura,
por isso que a sua obra se desdobra em
notáveis arabescos, poéticos e singelos,
que desafiam a aspereza dos materiais
em notáveis e delicadas filigranas de ma-
deira ou de pedra.
O escultor, munido de uma paciência il-
imitada, desbasta da pedra bruta, ou do
tronco informe, num trabalho incansável
de fabulosa e laboriosa formiga, a ganga
inútil da matéria em excesso. É este o seu
processo de trabalho criativo: uma im-
agem oculta na mente, uma visão ideal
que só tem existência na cabeça do ar-
tista, que aos poucos toma forma e se
desvela revelando-se paulatinamente ao
nosso olhar.
Eis, por fim, ao cabo de um tempo de
duração indeterminada, a peça primor-
osamente trabalhada, elegante no talhe,
de acabamento delicado, na fragilidade
da qual se entrelaçam flores e peixes e
estrelas, frutos de um universo plástico
que é feito da matéria dos sonhos.
Obrigado, meu amigo, pela pertinácia
do teu trabalho, pela tua criatividade
poética, pela delicadeza da tua obra, pela
humildade com que fazes do quotidiano
uma pequena obra de arte.
António Moreira
Vereador da Cultura da Câmara Munici-
pal da Amadora
www.facebook.com/AkaArte
09
MOVIMENTO,
MUDANÇA E
SUPERAÇÃO
A vida é uma constante mutação. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”
ou não?
Quando andava na escola secundária e nas aulas de História a “stôra” nos pergunta-
va como estavam as coisas no período em análise, independentemente de qual fosse
a época em questão, tínhamos uma colega que respondia invariavelmente:
— Mal, muito mal!
E estava sempre correcto! (Hoje também o estaria.)
Há 30 anos estávamos sob alçada do FMI… Hoje também estamos.
Antigamente os nossos jovens partiam em busca de algo melhor… Hoje também.
Nasci em França. Os meus pais partiram em busca daquilo que cá não conseguiam
ter. Não conheciam a língua, nem tinham garantias de sucesso. Vingaram, cresceram
e voltaram. Conseguiram dar-nos mais do que o que tiveram, e com isso fizemos
mais e mais.
Não se conformaram. Lutaram.
Reclamar é sempre fácil, difícil é ser diferente
Quem quiser pode ser dócil e seguir na mesma em frente…
…mas se tiver ousadia de lutar contra os moinhos
Sairá da monotonia e abrirá novos caminhos!
Vivo no Porto. E vivo o Porto.
O Porto é uma cidade linda.
Passear na baixa e observar as fachadas lindíssimas que por cá proliferam é uma
experiência única…
Desçamos mentalmente a belíssima Avenida dos Aliados, passeemos na rua Mousinho
da Silveira, na rua das Flores, na Ribeira….
Edifícios talhados em pedra, imponentes, majestosos, coexistem com estruturas
simples e frágeis, de madeira e de saibro, cujos pórticos cheiram a bafio, devido à hu-
midade e ao caruncho. Estes por sua vez, vivem lado a lado com novas construções,
coloridas e garridas, recentes e diferentes…
Cada época tem a sua arquitectura, as suas influências, acrescenta o seu contribu-
to… É a junção de tudo isso que compõe a cidade, a sociedade, a humanidade!
Ousemos mudar, e aportemos também o nosso grão de areia!
Elisabete Gonçalves
Luís Vaz de Camões, in “Sonetos”
O Fundo Monetário Internacional interveio em Portugal pela primeira vez em 1977
quando Ramalho Eanes era Presidente da República e Mário Soares era primei-
ro-ministro do primeiro Governo Constitucional, depois em 1983 e mais recente-
mente em 2011
Elisabete Gonçalves Silva
Autora do livro Percursos Impreci-
sos, 2013, Lugar da Palavra, desco-
briu na escola primária o gosto pela
escrita, sendo as composições (ou
redacções) os seus trabalhos de
casa favoritos.
Aos 12 apaixonou-se pelo Porto,
onde vive desde então.
Licenciada em Línguas e Literaturas
Modernas, conta também com
um Master em Excelência Educativa
como reforço das suas competências
didácticas e de formação, função que
desempenhou profissionalmente por
diversas vezes, enquanto colabora-
dora de uma das maiores empresas
de telecomunicações portuguesa,
cujos quadros integra.
Define-se como apaixonada pela
vida, pela família, pela cultura, pe-
los animais e pela cidade do Porto,
cidade belíssima que é parte inte-
grante da sua identidade.
Percursos Imprecisos
Sinopse:
Percurso Imprecisos conduz-nos
pelo Porto, do Bonfim à Ribeira,
com as tropelias habituais da ad-
olescência e do primeiro namoro.
Pode uma tragédia condicionar os
eventos futuros de uma ou mais
vidas? Carlos vive, cresce… As aven-
turas sucedem-se, caminhos novos
cruzam-se, amores surgem… Um
livro a não perder!
www.numdiaperfeito.com
10
Olá!Ai,
o u v e
quero diz-
er-te uma coisa
importante. Gosto
de ti, de uma manei-
ra tão especial, aliás úni-
ca, porque também és único.
Amo-te desde o primeiro dia da tua
vida, antes talvez já te amasse... não
sei se se pode ser amado antes de se ser
completo, mas talvez já te amasse um pouco
antes de acordares para a consciência. Já te sentia.
Único, para além de mim mesmo, legítimo, com sede
e fome de tudo e eu com uma vontade indomável de te
ajudar a viver e a ser completo, feliz. Com uma vontade
incontornável de fazer também esse caminho conti-
go, de aprender a ser feliz. Um dia de cada vez,
de hora em hora, minuto a minuto, com o
coração embalado pelos segundos. Vi-
vos! É tão bom estar vivo. É tão bom
sentir-te... Vida. O ontem já foi,
o amanhã, para além de to-
das as minhas previsões,
não sei o que será,
por isso é tão es-
pecialmente
bom es-
tar
Quis Deus que eu viesse ao Mundo humildemente traçado para
servir, trabalhar e para sonhar.
Falo de sonho porque nele encontro a origem de todas as Uto-
pias, toda elas por definição idealizadas e irrealizáveis, e falo de
servir e trabalhar, porque quem nelas acredita, com veemência,
sobre elas funda novos mundos, em geral melhores que os an-
teriores.
Era também considerada Utopia a Igualdade, mas apesar das
diferenças e atropelos a este Valor a que muitas das culturas
contemporâneas não se inibem, nunca tantos estiveram tão
próximos em matéria de género, interculturalidade e inclusão
num Globo hoje um pouco mais democratizado.
Tal como a felicidade, miragem para tantos e tão flagrante-
mente utópica, nunca noutros tempos, que não o nosso, foi
esta aspiração tão valorizada e considerada.
Posso falar da Utopia como uma coisa sumamente boa?
Posso... ainda há algumas que muito prezo e estimo, como são
a paz, o fim da fome, o fim da doença, o fim da iliteracia, um
sistema de saúde de qualidade acessível a todos, a justiça, o
Planeta Terra ecologicamente reequilibrado...
Abraçar ternamente a Utopia é também cuidar disto de sermos
imperfeitos, de olhos postos no impossível, e de não pararmos
de tentar, inovar, criar, lutar, falhar, voltar a tentar, falhar nova-
mente, falhar melhor.
Utopia é um pouco como a Visão, felizmente hoje tão bem im-
plementada como valor para o crescimento das Organizações.
Raramente estas se cumprem no modo e tempo esperados,
mas se não tens uma, provavelmente é porque estás mal posi-
cionado, e quando não se vê para onde se anda, também é
difícil encontrar caminho…
Nuno Quaresma
Novembro de 2011
www.facebook.com/AkaArte
11
CARCERI
a) Introdução
Carceri d’Invenzione…
Prisões de invenção, prisões inventadas, imaginadas…
Antes mesmo de iniciar uma pesquisa sobre a história pessoal,
da construção da obra ou até do contexto em que ocorreu a sua
produção, recordo sobretudo o primeiro impacto, a primeira
impressão que me ficou marcada na memória.
Apesar de ser uma obra descoberta por sugestão directa da
Professora Jacs Aorsa, contextualizada no briefing geral para
este trabalho para a disciplina de História e Práticas do Desen-
ho, o que guardo como ânimo e mote para esta reflexão é esta
impressão sentida, investida da curiosidade dos primeiros en-
contros.
O que me fica sobre este conjunto extraordinário de 30 placas
de gravura, que me deixou uma forte sensação de presença no
Imaginário de Piranesi, e que são justamente intituladas “Car-
ceri d’Invenzione”, é a impressão de estar a entrar num espaço
de intimidade.
Esse espaço rico e único a qual raramente se tem acesso, tor-
nou-se no móbil para todo o processo criativo, técnico e tec-
nológico e a seguir, e em função do briefing dado, estruturei.
Já em pesquisa descobri que efectivamente, este trabalho é
contextualizado numa “magnífica junção da fantasia veneziana
com a monumentalidade romana ” muito dentro da tradição e
maneira de Tiépolo, nomeadamente na luz e nos volumes.
Pus-me a somar:
Invenção…
Imaginação…
História pessoal/construção da identidade…
Espaço de intimidade…
Fantasias…
Monumentalidade vs. volume…
Juntamente com um projecto pessoal relacionado com a banda
desenhada e a ilustração, onde ando à procura de um estilo, de
uma maior classicidade e profundidade na construção simbóli-
ca e estética das personagens.
Foi assim que me surgiu a ideia original para esta ilustração
que servirá um episódio que descreve um sonho de Nia, per-
sonagem central da história “O Mundo de Shido”, junto de
uma narrativa visual que decorre num cenário onde faço uma
colagem de três gravuras diferentes (Fig. 02, 03 e 04) da série
“Carceri d´Invenzione”.
Por achar pertinente fiz ainda uma homenagem à “Batalha
de Anghiari” de Leonardo da Vinci, numa luta encenada, com
enfoque na descrição de emoções, através do desenho e com
uma referência velada aos exemplos de deformação caricatural
no trabalho de Leonardo, mas também de Hogarth, Goya ou
Daumier.
Por outro lado, como matriz global de planeamento de todo
o desenho optei por fazer um investimento de tempo na con-
strução de uma composição definida essencialmente por uma
divisão do plano em dois sub-planos verticais, utilizando um
pilar mestre e organizando os elementos da parte inferior do
enquadramento global na circunscrição de um triângulo e pelo
alinhamento dos outros elementos segundo linhas diagonais
para dar enfâse à ilusão da acção e do movimento.
O trabalho que aqui descrevo, e que é o “lugar” em que procuro
a consolidação da obra final, divide-se em cinco sinopses:
b1 – Piranesi e os “Carceri d´invenzione;
b2 – A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo;
b3 – Estudo do enquadramento e composição; técnica de etch-
ing e da trama (cross etching).
b4 – Conclusão
b) Desenvolvimento
1. Piranesi e os «Carceri d’Invenzione»
Esta obra é inquestionavelmente uma das obras mais ampla-
mente difundidas e abordadas de Piranesi e talvez uma das mais
«sui generis» na evocação à tradição literária da sua época, ao
hermetismo, às fontes e à estética do Sublime.
Foram publicadas pela primeira vez em 1745, com o título «
Invenzione Capric di Carceri), impressas por Giovanni Bouchard
e reeditadas em 1760 como «Carceri d’Invenzione», sofrendo
ligeiras alterações e acrescidas de mais duas gravuras.
Entre a primeira e a segunda tiragem, podem constatar-se algu-
mas das alterações de estilo que espelham o desenvolvimento
da obra de Piranesi.
Aqui, podemos identificar a influência da tradição veneziana
(das «Caprici» e da fantasia) e romana dos autores da época,
sobretudo na «maniera» de Tiepolo (como por exemplo, no
tratamento das luzes e da volumetria) que na sua obra atinge
o seu auge a partir de 1755 (como nota de contexto: ano do
Grande Terramoto que devastou Lisboa).
Com um trabalho mais complexo , rico e intrincado, nesta fase
é possível perceber o horror ao vazio que faz perder a clareza
das obras, dentro de uma composição balizada e ordenada pela
utilização recursiva da «scena per angolo», frequente nas tip-
ologias cenográficas, teatrais, utilizadas por Bibiena, Valeriani,
Marco Ricci ou Juvarra.
Destas influências, distingue-se a de Juvarra na referência Neo
Quinhentista, Utópica e Anti Clássica.
Na sua obra são ainda distintivos aspectos como a censura à
«Cidade Barroca», mas em simultâneo à tradicional antinomia
da Roma antiga e também ao organicismo, distorção da per-
spectiva (comum na Cenografia Tardo Barroca), composição
assente em planimetrias, interligações de supra estruturas,
libertação da forma, perda de valor do centro compositivo, a
www.numdiaperfeito.com
12
metamorfose das formas (que muito explorei nesta minha in-
terpretação pessoal), desarticulação, distorção e o espaço rep-
resentado segundo o ideal Humanista.
Todo este processo formal conduz o espectador a uma per-
cepção psicológica e estética que muito me interessou e que
autores como Edmund Burke, entre outros, categorizam como
«Sublime». Um Sublime que pretere a perfeição e a clareza da
estética pelo valor dos conteúdos emotivos, colocando o re-
curso da imaginação também nas mãos do espectador que é
obrigado a desconstruir e a voltar a construir a imagem nas suas
múltiplas dimensões.
Indo beber a toda esta percepção e abordagem na «maniera»
própria de Piranesi, intitulei a obra como «Sonho de Nia».
Ou seja, sonhar na perspectiva e ideia comum na época do
«Homem como actor impotente, num teatro que já não é o
seu» combinado com o fascínio pelos cárceres com o seu sig-
nificado simbólico de prisões da mente (como em Coleridge ou
Thomas De Quincer) acessíveis sobretudo através do onírico.
2. A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo
A escolha pela opção de dulpa homenagem neste exercício, sur-
giu-me na sequência de toda a leitura por uma óptica emotiva,
das «Carceri d’Invenzione» de Piranesi.
Uma das muitas reflexões que esta série de gravura me convo-
cou foi a abordagem, por assim dizer, sublime das 5 Emoções
hoje descritas, para além dos múltiplos Sentimentos, como
Emoções Básicas: o Medo, a Raiva, a Tristeza, a Alegria e o Amor.
O paralelismo, apesar de numa abordagem bastante diferente,
com o trabalho sobre expressões e emoções na obra de Leon-
ardo pareceu-me possível e pertinente e como na minha liber-
dade interpretativa já tinha introduzido na minha composição
inicial alguns elementos figurativos, escolhi então dar ênfase a
esta leitura com um tributo à « Batalha de Anghiari» e à sua
dinâmica compositiva e expressiva.
«A Batalha de Anghiari» não é mais do que um grupo mon-
umental de soldados a cavalo numa imagem condensada e
intemporal do furor bélico que achei que poderia ser um ex-
celente contraponto, irreverente e antagónico, à ideia de im-
potência gerada pelo ambiente global das «Carceri»- Prisões.
Um novo conjunto figurativo e evocativo de uma luta interior,
no contexto de uma «Carceri» de onde não há salvação, senão
na força e liberdade da «vontade da alma humana».
Para melhor contextualizar « A Batalha de Anghiari», este estu-
do inicial em cartão e fresco inacabado, surge na obra de Leon-
ardo por solicitação da cidade de Florença, com a finalidade de
decorar, na técnica do «fresco» a Sala de Conselho do Palazzo
Vecchio. O seu tema central é a vitória florentina sobre o exér-
cito milanês.
A pintura nunca foi finalizada, tendo ficado como espólio pro-
duzido apenas um cartão em tamanho natural (à escala) que
sobreviveu mais de um século após a sua produção, período em
que gozou de uma enorme fama.
Hoje, apenas o conhecemos através de cópias de Artistas poste-
riores a Leonardo, em particular na cópia segundo o original, re-
alizada por Peter Paul Rubens em 1605 e actualmente patente
no Museu do Louvre, em Paris.
3. Estudo do enquadramento e composição; técnica de etch-
ing e da trama (cross etching)
A primeira abordagem que fiz a este exercício foi efectivamente,
e numa tradição talvez mais pictórica, a abordagem segundo
www.facebook.com/AkaArte
13
uma colagem idealizada num enquadramento que julguei co-
erente com o conjunto global das gravuras de Piranesi, sobre
o qual construi uma composição (e repito) definida essencial-
mente por uma divisão do plano em dois sub-planos verticais,
utilizando um pilar mestre e organizando os elementos da parte
inferior do enquadramento global na circunscrição de um triân-
gulo e pelo alinhamento. Só então comecei a fazer um trabalho
de trama e trama cruzada, enquanto fazia uma leitura prática e
simulada da técnica designada por «Etching» em Gravura e que
passo a descrever:
Origem | contexto históricos e descrição:
A técnica química de gravura foi desenvolvida na idade média
por artesãos, fabricantes de armaduras, árabes como uma for-
ma de aplicação na decoração para armas. Floresceu no século
XV, no sul da Alemanha, onde as primeiras impressões gravadas
em papel foram impressas no final do século.
Durante as primeiras décadas do século XVII, artistas holandeses
como Van de Velde, Jan van de Velde II e Willem Buytewech
experimentaram esta técnica. Eles estavam à procura de criar
um efeito atmosférico na suas paisagens impressas, e na tenta-
tiva conseguiram desenvolver um método que rompia com as
linhas de contorno longas transformando-as em curtos traços
e pontos.
Hercules Segers por sua vez, experimentou esta transformação
e adaptação por um motivo diferente: a necessidade de criar
um efeito pictórico na impressão em papel colorido ou tela, tra-
balhando-as posteriormente com um pincel de cor, tornando
assim cada impressão numa peça única.
Rembrandt levou a técnica ao extremo, superando todos os
seus antecessores. Nas suas mãos, a gravura tornou-se um
meio pleno e maduro de que se ocupou em períodos longos
para o resto da sua vida.
A técnica que utilizei neste desenho referente a Piranesi filia-se
muito no exemplo de Rembrandt que, por conhecer melhor,
reconheço ter tido grande influência na abordagem pessoal e
estilística que escolhi.
As Gravuras são impressões, normalmente em papel, de de-
senhos ou modelos construídos pelos artistas, em suportes di-
versos, com recurso às técnicas do desenho, pintura ou corte.
Estes suportes podem se um bloco de madeira, uma placa de
metal ou uma tela de seda.
Em Piranesi (assim como em Rembrandt) o suporte é uma
chapa fina de cobre. Esta é então coberta com uma mistura re-
sistente aos ácidos conhecida como base de gravura, composta
de betume judaico, resina e cera.
Nesse revestimento fino é então produzido o desenho directa-
mente com uma agulha de gravura, que penetra esta fina pelíc-
ula deixando exposta, nestas ranhuras, a placa de cobre.
A placa é colocada, em seguida, num banho de ácido diluído.
As partes expostas, que deixaram de estar protegidas contra o
ácido pela base de gravura, ficam gravadas, em sulcos criados
na superfície do metal.
Quanto mais tempo a placa é deixada no banho, mais profun-
dos esses sulcos se tornam.
Posteriormente esta base de gravura é removida e a placa limpa
e finalizada com uma almofada de tinta ou com um rolo.
Ela é então limpa manualmente para que a placa fique inteira-
mente despojada de tinta, à excepção dos sulcos.
O passo seguinte é a fixação de uma folha de papel húmida na
chapa seguindo-se a compressão de ambos através de rolos de
imprensa. O papel absorve assim a tinta dos sulcos, produzin-
do-se uma impressão invertida do design realizado na chapa.
O desenho que aqui realizei com esta abordagem técnica e
tecnológica sempre em perspectiva, manteve a fidelidade ao
princípio de execução que norteia esta modalidade de criação
artística e deixou-me efectivamente curioso e interessado na
prossecução de uma experiência em placa que penso que me
poderia esclarecer alguns outros efeitos que pude observar nas
reproduções mas que de alguma forma não soube reproduzir
através do uso da trama
4. Conclusão
«Cerca Trova»
Detalhe no topo do fresco da «Batalha de Marciano» de Giorgio
Vasari, 1563 (pintado sobre o fresco original de Leonardo, «a
Batalha de Anghiari»)
«Só quem procura, encontrará», Evangelho
Depois de algumas semanas de trabalho, pesquisa e justifi-
cação, sem me alargar noutras conclusões senão a mais humil-
de e verdadeira a que consegui chegar:
« Só quem procura, poderá encontrar»
A asserção é, de longe, pouco pacífica. Pablo Picasso afirmava
por exemplo «Eu não procuro, encontro» e quantos não são os
que em todas as áreas do Saber se encontraram fortuitamente,
por obra da sorte ou destino, com as soluções que nem sabiam
procurar.
Contudo, e seguindo o raciocínio de Vasari, «Cerca Trova», no
desenho efectivamente as coisas funcionam assim.
O Desenho é uma das grandes formas e instrumentos do pen-
sar.É um pensar com o corpo, com a mão, com o olhar.
Nesta obra que decidi intitular como «o Sonho de Nia» confesso
que pela primeira vez, circunstancialmente, procurei conhecer
Giovanni Batista Piranesi. Não sei se o encontrei completa-
mente, mas confesso que senti como nunca a inquietação que
as raras preciosidades despertam... um não conseguir ou saber
ficar indiferente ao apelo daquele mundo vagamente mimético.
... Mas em simultâneo hermético, magnético, misterioso e ao
mesmo tempo, familiar... Humano...
Cerca Trova!
Nuno Quaresma
Janeiro de 2012
Nuno Quaresma (1975, Lisboa)
Artista Plástico, Ilustrador, Designer (Fundação Salesianos), Ed-
ucador pela Arte (Fundação afid Diferença entre 1998 e 2010,
Oficinas de S. José entre 2010 e 2012 e POP- Projeto Oficina de
Pintura ainda em funcionamento) com Projeto de Empreende-
dorismo Social e Artístico filiado no grupo de Autores “AKA
Arte” e no Coletivo de Artesãos intitulado “Tailored”.
Vogal Suplente para o Conselho Fiscal da ANACED- Associação
Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiên-
cia com uma participação voluntária e não remunerada na con-
strução de um Projeto Social e Cultural que há mais de 20 anos
que cuida, respeita e defende Autores com Necessidades Espe-
ciais e a sua Obra no contexto da Cultura e auto representação
cívica e social.
- Menção Honrosa em Pintura, “Prémio Professor Reynaldo dos
Santos- Arte Jovem – 1997”
- Menção Honrosa em Pintura, “Prémio de Pintura e Escultura-
D. Fernando II – 6ª edição- 2002”
- Menção Honrosa em Pintura, “Prémio de Pintura e Escultura –
Artur Bual, 3ª edição – 2007”
Web:
www.behance.net/NunoQuaresma
pt.linkedin.com/in/nunoquaresma
www.numdiaperfeito.com
14
UM COMBOIO
CHAMADO
DESEJO
Um comboio chamado desejo ou o Amor também se encontra a
120km por hora é diferente da versão que provavelmente con-
heces – “ Um elétrico chamado Desejo”- A Streetcar Named
Desire, de Elia Kazan com Marlon Brando e Vivien Leigh, de
1951.
Nesta minha, improvisada entre as escalas dos autocarros
frente aos Prazeres (onde curiosamente passam muitos elétri-
cos :), oscila entre a profundidade e a superficialidade, entre o
Amor, o verdadeiro, e a lascívia… entre o importante e o rela-
tivizável.
Não tenciono extrair daqui generalizações ou fórmulas. Falo
disto porque é a verdade. Já me aconteceu; encontrar o amor
a 120km hora.
A esta velocidade, se espirras, andas aproximadamente 30 met-
ros com os olhos fechados, entregue ao destino, sem consciên-
cia ou controle sobre o que se passa em frente dos teus olhos.
São 30 metros às escuras.
Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé numa
furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e chei-
ro. E de repente, bater na água com força, tocar com os pés
na areia e abrir os olhos para uma superfície em efervescência.
Encontrar o amor assim deixa marca, entre a dor e o prazer, e
pouco tempo ou espaço para escolhas.
Num amor encontrado assim, há um misto de religiosidade e
trauma.
É um acontecimento à escala planetária, como uma colisão, na
força da trajetória, entre Vénus e Marte.
Contudo, se aprecias as viagens de comboio, sabes que esta ve-
www.facebook.com/AkaArte
15
locidade desenfreada é sentida num estado de relativa imobilidade. Vive-se, aliás,
viaja-se no maior dos confortos e tranquilidade mas, infelizmente, tristemente…
sós.
Quando damos conta, neste comboio chamado desejo, quando acordas da torpeza
desse sono de viajante, estás apenas só.
Olha! Parece que estou a chegar à estação!
Espreito pela janela e vejo as paredes azuis de uma luz mesclada que só conheço
de Lisboa.
Mais um bocadinho e estou à tua porta!
Por essa estrada, nessa rua, à tua porta…
Viajo num comboio chamado Desejo mas tu és a minha Casa…
“ Procurar amar a 120 Km hora é como
dar um salto de fé numa furna escura de
onde o mar se percebe apenas a sua voz
e cheiro.
E de repente, bater na água com força,
tocar com os pés na areia e abrir os olhos
para uma superfície em efervescência.”
www.numdiaperfeito.com
16
Desenhar como quem respira, natural-
mente ou compulsivamente, é para mui-
tos uma função orgânica.
A própria fisionomia e fisiologia concor-
rem para esta atividade regular do Corpo,
da Mão, da Mente, na sua relação com o
Mundo e com o Próximo.
Eu pessoalmente sou um apologista do
respeito pela Diferença, num mundo de
Iguais.
Acolho a normalização apenas na medida
da sua pertinência e utilidade no serviço
à Justiça, Liberdades e Igualdade. Nas
coisas grandes entendo realmente o val-
or da norma. Um farol para quem navega
à vista.
Tudo o resto aprecio fora dos intevalos
estritos das normas, cânones, regras...
Fascina-me o que é feito à medida de
cada um, com os cuidados e mimos que
cada Corpo e Mente precisam.
TAILORED FOR… FEITO À
MEDIDA DE…
Olha para trás…
Olha lá!
Quando era gaiato, distraído, a navegar
na gôndola dos meus sonhos, gotas, se-
mentes, ensaiava o ofício de hoje sem
me lembrar sequer de olhar para o lado.
Era ali e naquele momento, como é hoje,
aqui e agora: o poder da Criatividade!
Não olho muito para trás; as vezes
necessárias.
Olho para a frente, para o horizonte, para
os pés, para ver a medida a que estou do
chão, e penso no quê, como nunca, com
uma hora de atraso… e à minha volta,
Encanta-me a simpatia de quem conseg-
ue realmente olhar para dentro da pes-
soa que está à sua frente...
Comove-me quem o faz com o respeito e
reverência de quem contempla o sagra-
do, e a coragem da empatia de se colocar
no seu lugar.
Encantam-me as Costureiras e Alfaiates :)
Os “Tailored” são feitos para Mulheres e
Homens assim.
Os blocos de desenhos são extensões do
seu corpo; há que construir sketchbooks
que se ajustem personalizadamente,
como luvas, jeans, sapatos, jaquetas ou
outros acessórios assim.
O Tailored é feito à mão, todo cosidinho,
só para ti!
É diferente nas medidas, técnicas, por
vezes no construtor.
A norma é a predileção pela reciclagem,
a qualidade e resistência do papel, capa
quando regresso, não se vê já ninguém
na rua.
Tailored é fazer à hora certa, na medida
certa, a contemplar tudo o que está à
volta.
Tailored é cozer os retalhos soltos, os
desejos que ficaram por cumprir…
Tailored é trabalho individual, trabalho
coletivo, é uma construção feita de soli-
dariedade, colegialidade, amizade!... até
conjugabilidade :)
Tailored é Crença no Mundo e nos Out-
ros!
Produzimos cadernos tipo “sketchbook”,
cozidos à mão, personalizados, feitos à
medida e para durar.
e costuras e a garantia de que terás um
caderno para a vida.
“Lifetime Sketchbooks”!
Para Artistas a Sério ;)
“há que construir
sketchbooks que se
ajustem personal-
izadamente, como
luvas, jeans, sapa-
tos, jaquetas”
Mas todas as outras modalidades de
criação artística e cultural são bom mote
para a transgressão, transcendência, ir-
reverência.
O nosso negócio é a construção de cad-
ernos de excelência, mas não hesites
em contatar-nos para ilustração, design,
micro &social branding e organização de
eventos e mostras em Artes Plásticas.
Fazê-mo-lo com gosto!... “tailored for
you!”
www.facebook.com/AkaArte
17
O que pode um homem simples dizer ou
fazer no Mundo agora?
Não sou, à semelhança da maioria dos
homens e mulheres dos nossos tempos,
especialista em economia ou finanças,
mas como comum entre comuns sin-
to hoje mais desconfiança e receio em
relação ao futuro.
Pelo menos em relação a este futuro, a
dois tempos, em que alguns enriquecem
e muitos empobrecem.
Não penso assim por despotismo.
Passo a vida a desejar o melhor para
quem o procura, para quem luta por mais
e melhor.
Alegra-me a visão da abundância no re-
gaço de quem for.
Celebro a fertilidade por si só e regalo os
olhos quando vejo a Terra cheia de tudo
e do bom.
Por isso não consigo deixar de indagar
porque é que neste Mundo onde há
excesso e abundância de tudo, vemos
fome, desemprego, doença, desproteção
na saúde e na velhice?
Porque pagam os homens e as mulheres
do nosso tempo os caprichos da doutrina
do Capitalismo desenfreado?
Porque malha o peso da quimera do lu-
cro pelo lucro sobre a única procura que
deveria nortear o Homem: a construção
do Humano?
Porque permitimos nós, comunidades de
Gente, que outros mais cegos ou febris
pela abundância, nos enterrem e es-
maguem pela sua ganância, obsessão e
controlo?
E quem regula este capital que nos reg-
ula?
A quem pertence a responsabilidade
de lutar, nas formas pacíficas que a re-
sponsabilidade também obriga, contra
esta falta de empatia, piedade, racional-
idade?
Quem tapa a boca a esta criatura voraz?
Hoje pinto para lhe tapar a boca.
Amanhã, quando tiver um negócio, serei
íntegro, justo e regulado para lhe tapar
a boca.
Amanhã, talvez lhe dê com um pau, bem
me apetecia… só para que a sua goela
míngue e o seu apetite se mitigue… sem
que lhe não falte pão para a boca.
N.Q.
“ E quem regula
este capital que nos
regula?”
www.numdiaperfeito.com
18
www.facebook.com/AkaArte
19
SERVE PARA QUÊ?
“Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos
enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar de
nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o maior
de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantidade de
aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de conheci-
mento ele foi juntado”
In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão dos
velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boorstin.
Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de que
o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que não pos-
so escapar dessa condição animal, orgânica, que me liga ao Real
e às Coisas.
Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me,
zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas.
Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante
recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para a
perceção e interação com o que me rodeia.
Pois o que me acontece é que após 40 anos de acumulação de
informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção, já é
com dificuldade que me consigo posicionar para ver com clariv-
idência o Universo à minha volta.
Quem sou, de onde venho, para onde vou?
Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vimos,
para onde vamos, quem somos.
Em verdade, as questões já nem me aparecem como “porquês”
mas antes como um simples “para que serve?”
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciência?
Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco no
jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das suas
gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me passa pe-
los cabelos.
É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao Cos-
mos.
Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas, num
lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra que se
move.
E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e
nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do
futuro.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciência?
O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela
minha prestação no trabalho não me chega para pagar as con-
tas e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Amigos.
O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pintar. E
o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e guerra.
Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciência?
Paro.
Paro por um bocado.
Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de infor-
mação que se me atravessa pela frente e procuro despertar.
Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei-
rar…
Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en-
feitado…
Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni-
nos.
Servem o meu desejo de viver.
Servem a minha felicidade.
Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem
subversões ou subjugação.
Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci-
so, para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não
cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço.
Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procuro,
as escolho.
NQ, Abril 2014
www.numdiaperfeito.com
20
15 CÊNTIMOS
Três moedas pretas e finas dentro da minha carteira furada;
será a sua côr um eufemismo para o seu valor, ou tento ig-
norar que não terei hipótese neste mundo tão irreal quanto
desigual?
Votado ao insucesso, não apanharei boleia de avião algum;
não verei terras distantes, não comprarei um gelado, nem
oferecerei rosas.
Sou moldado pelo silêncio numa caminhada sem destino;
um movimento de sobrevivência apenas aparentemente ar-
ticulado.
A vida colorida e criativa escorre-me pelos poros, mas o
Mundo só quer ver suor e sangue.
Pegarei então nas minhas lágrimas e com elas encherei um
oceano; arrancarei as minhas veias e com elas farei fortes
cordas; a minha pele servirá de graciosas velas e com os
meus ossos construirei um robusto navio.
Poderei ser destino e justificação, capitão sem tripulação,
mas nunca serei rapaz sem coração.
Zarparei em direcção ao Sol, esse que a todos ilumina por
igual, sem distinção de côr, forma, destino.
Aqui, não encontro nada para mim, a não ser um mundo
de trocas, de interacções desequilibradas. Por lhe sermos
pertença, nada podemos dar ao nosso criador; esse não de-
verá contudo ser motivo de impedimento para questionar,
imaginar, criar.
Entretenham-se nas vossas danças desenfreadas, nestes
corpos que nos escapam a todos, enquanto embarcarei na
penumbra da noite;
escrevo o meu nome na campa da minha finitude com a
minha vivência.
Hugo Alexandre, Setembro de 2014
PARA
ONDE
Distribuíram-se os sonhos em classes: afinal, haveria a ne-
cessidade de haver uns mais iguais que outros. Assim, uns
construiriam castelos, carregando as pedras uma a uma; out-
ros esperariam na janela por notícias, envoltos em delicadas
sedas.
Para desastre dos homens de paixões, as mulheres mais
bonitas nem sempre se encontrariam nas torres; objectos
brilhantes toldariam a sua razão, a geografia à sua nascença
destinaria as suas probabilidades e estariam amaldiçoados a
acreditar que o seu Deus deveria ser o único a tudo explicar,
logo a existir.
A propriedade raras vezes estaria associada à sensatez; ter é
querer manter e expandir. Sabendo que o tempo é um bem
não recuperável só uma estirpe gastará tempo em tal cam-
panha: chamar-lhe-à investimento e nomear-se-à “líder”.
O poder disfarça-se então de autoridade que tudo tenta
controlar mas que nada se esforça por intimamente com-
preender. Vidas ao serviço da moeda e da coroa: oportuni-
dades desperdiçadas, estilhaços de sensatez; os tolos batem
palmas enquanto aguardam por migalhas.
As fronteiras já não requerem espadas, agora usam-se can-
etas. As igualdades ilusórias amenizam as lutas internas; a
posse paradoxalmente serena as externas.
Quem revolucionará o mundo, confortável em sofás de ce-
tim?
Hugo Alexandre, Setembro de 2014
www.facebook.com/AkaArte
21
MOVIMENTO
MUDANÇA
Há quem diga que Sucesso é Movimien-
to, há quem diga que motivação é mov-
imento...
E a sociedade mostra que os Movimen-
tos Artísticos influenciam directa ou indi-
rectamente as mudanças Culturais.
Na vida todo movimento já seja fisico,
social, espiritual, em grupo ou individ-
ual leva com ele as mudanças internas
e externas de forma que todos pos-
samos transformar o cansaço em En-
ergia, parece tão simples verdade?!...
mas sabemos que para que movimento
e mudança aconteçam em equilíbrio e
evolução temos que actuar com per-
sistência, com empreendedorismo e faz-
er da inovação a mudança vital para uma
melhor visão de futuro.
Gostava de reflectir um pouco sobre
os principais movimentos artísticos do
Século XVIII até ao Século XXI, cheios de
contradições e complexidades. É possível
encontrar um caminho para a criação de
novos conceitos no campo das artes, por
isso em algumas culturas, o desenvolver
da educação pela Arte parece ser o mo-
tor da mudança interna no que se refere
ao nosso sentir e a criar símbolos fortes
que ajudam a flexibilizar a rigidez de al-
gumas escolas tradicionais. Símbolos
fortes como a sensibilidade, cooperação
e o prazer de trabalhar em equipa.
Sabemos que os movimentos e as mu-
danças, “tendências artísticas”, tais como
o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubis-
mo, o Movimento Barroco, o Renascent-
ismo , o Futurismo, o Abstracionismo, o
Dadaísmo, o Surrealismo, a Op-art e a
Pop-art expressam, de um modo ou de
outro, a perplexidade do homem con-
temporâneo, a cultura pop também na
música como na dança mostram o seu
movimiento buscando expressar o mun-
do do inconsciente a partir dos sonhos
e desejos de liberdade, e de auto-afir-
mação..... Auto-afirmação de quê?!!
Interessante foi o ano em que surge o
Expressionismo ele aparece como uma
reação ao Impressionismo, foi um ano
de mudanças positivas, pois no primei-
ro, a preocupação está em expressar
emoções humanas, transparecendo
linhas e cores vibrantes os sentim
e angústias do homem moder
quanto que no Impressionism
que resumia-se na busca pe
de luz e sombra, “passamo
ilustração das emoções.”
O movimento Barroc
na Itália, no final d
do século XVIII a
origem portugue
preciosa impe
tos irregulares.
Uma das ideias do fenómeno do Barroco
era de fazer a junção dos dois elementos,
fé e ciência. O primeiro, resgatado pela
contrarreforma e o segundo se expandia
com a modernidade. A partir disso, sur-
giu uma vertente encontrada no Barroco,
que era o fusionismo. O Barroco teve
grandes influências na arquitetura de
alguns dos países da Europa e também
da América Latina. As construções não
costumam seguir padrões geométricos,
muito menos simétricos. O escritor bra-
sileiro, Paulo Coelho, publicou um livro,
“O Diário de um Mago”, onde nos conta
da influência da época Barroca.
Os Renascentistas baseavam-se em con-
ceitos filosóficos e antropológicos. O
Humanismo é um dos segmentos do Re-
nascimento e trabalha com o uso total da
razão por meio de experimentos.
Com o desenvolvimento do Renasci-
mento, as características mudaram, a
espiritualidade foi deixada de lado e
abriu-se caminho para um sentimento
otimista, que desfruta do mundo mate-
rial. Começaram a observar a vida como
um ciclo e a acreditar que o homem não
tem o controle sobre suas emoções, mui-
to menos sobre seu tempo de vida. Curi-
osamente em Portugal o renascentismo
teve pouca influência, talvez esta au
ência tenha contribuído para um me
otimisto sentido na sociedade port
sa?!
ano 1908, constituído em Montmartre
(Rue Ravignon 13), onde viviam Picasso,
Max Jacob e Juan Gris. O grupo Bateau
Lavoir organizou uma homenagem ao
Rousseau, durante a comemoração Pi-
casso em tom de muito entusiamso dis-
se: “Você e eu somos os pintores actuais.
Eu em estilo moderno, e você em estilo
egipcio.”
Psicoterapeuta, Formadora, Organização,
Moderação e Concretização do 1º Con-
gresso Internacional de Anorexia e Bu-
limia, em Portugal :
http://ciab.institutotaniaestrada.pt
http://www.institutotaniaestrada.pt
Especialidade de Anorexia e Bulimia. Es-
tudos de investigação do metabolismo
da Seratonina nos casos de Anorexia e
Bulimia. Estudos de desenvolvimento do
Teste de Rorschach no Síndrome de Bran-
ca de Neve. Coordenação Pedagógica.
O Instituto Tania Estrada, tem dinam-
izado várias especialidades na área da
Saúde Pública e Privada, promovendo o
conceito “Ser Técnico da Saúde” e “Ser
Pessoa”. É uma forma de marcar a dif-
erença encontrando um brilho pessoal,
com resultados positivos na proximi-
dade com Utentes e Clientes. Construir
a auto-estima na Investigação da Saúde
Mental dos casos de Anorexia, Bulimia
e outras doenças do Comportamento
alimentar e assim expandir a noção das
suas próprias possibilidades.
Prêmio de Estudo Científico Dr.ª Sandra
Torres, Prêmio Jornalistico- Teresa Botel-
heiro- Reencontro no Espelho.
Capacitación y Desarrollo Profesional,
Educación por el arte, Capacitación y De-
sarrollo Profesional, Pedagoga, Forma-
dora de Gestão de Recursos Humanos,
Consultora Independente, Gestão de
Talentos e Recursos, Gestão de Carrei-
ras, Professora de Investigação de temas
como Anorexia e Bulimia (Universidade
Lusófona), Recursos Humanos em diver-
sas organizações nacionais e internacio-
nais.
www.numdiaperfeito.com
22
-
as
o em
mentos
rno. En-
mo, o enfo-
ela sensação
os da técnica à
”
co teve seu início
do século XVI, início
palavra “barroco”, de
esa, significa uma pedra
erfeita, com os seus forma-
o
us-
enor
tugue-
Senti no Cubismo uma despreocupação
em representar realisticamente as for-
mas de um objeto, porém aqui,a in-
tenção era representar um mesmo ob-
jeto visto de vários ângulos num único
plano. Com o tempo, o Cubismo evoluiu
em dois grandes movimentos e mu-
danças chamados Cubismo Analítico e
Cubismo Sintético. Podemos dizer que o
cubismo nasceu como um movimento no
o
Cubismo analítico (1908-1911) – desen-
volvido por Picasso e Braque: Seu es-
tilo era a utilização de poucas cores, a
definição de um tema apresentado em
todos os ângulos. A Perda da realidade,
sendo impossível reconhecer as figuras.
Cubismo sintético: Fugia dessa perda de
realidade, mas procurava retratá-la de
várias formas. Foi chamado, também, de
colagem, porque eles colocavam tudo o
que podiam, como letras, números, vi-
dros, etc., com o intuito de criar novos
efeitos e despertar a atenção.
O abstracionismo é a arte que se opõe
à arte figurativa ou objetiva. A principal
característica da pintura abstrata é a
ausência de relação imediata entre suas
formas e cores e as formas e cores de
um ser. A pintura abstrata é uma mani-
festação artística que despreza complet-
amente a simples cópia das formas natu-
rais, interessante como este movimento
pode influenciar estilos e influenciadores
no mundo das artes, e a forma de ver
nosso talento.
No impressionismo, estilo marcado por
cores fortes e brilhantes, texturas e
linhas harmónicas, prevalecem as pais-
agens, os grupos de pessoas e as formas
humanas. Neste movimento aparece
uma mudança no talento e na paixão no
que refere “motivação dos Artistas”.
Os estudos de Freud sobre psicanalismo
e a política mostravam a complexidade
da sociedade moderna. Em crítica à cul-
tura europeia, surgiram:
O Futurismo: O futurismo é um estilo
influenciado pelo movimento literário
Manifesto Furista, criado por Filippo
Tommaso Marinetti, em 1909 um poeta
e escritor italiano que sugeriu às pinturas
a velocidade das máquinas e a exaltação
do futuro para os pintores desse esti-
lo, os artistas não tinham essa visão de
futuro! INTERESSANTE! Os estudos de
Freud sobre psicanalismo em Cultura
política mostravam a complexidade da
sociedade moderna.
Em crítica à cultura europeia surge a
Pintura Metafísica – uma pintura que
mostrava a falta de sentido da sociedade
contemporânea: mistério, luzes, obje-
tos, sombras e cores intrigantes tinha
como principal artista, Giorgio De Chirico
(1888-1979), um pintor italiano, com
suas obras “O Enigma da Chegada” e “O
Regresso do Poeta”.
Outros Movimentos do Século XXI
Curiosidades : O steampunk (subgénero
daficçãocientíficaquetratadeevoluções
tecnológicas que acontecem em épocas
anteriores às que ocorreram na reali-
dade) também tem sua parcela de arte
única. O idealismo steampunk usa o con-
ceito de ressuscitar tecnologias antigas,
aqui vejo claramente o conceito do
Criativo é contrariar o banal. Este movi-
mento o steampunk fez que meu pensa-
mento viajasse a minhas leituras de cri-
ança da obras de Júlio Verne.
A Educação pela Arte, é para mim um
movimento transformador com mu-
danças positivas na educação e Cultura
do País, como estamos vendo acconte-
cer no movimento Eco-Art.
O mesmo reúne obras sobre ecologia e
preservação da natureza, buscando as
linhas de aproximação entre Arte e Meio
Ambiente. Nos processos de Mudanças
em que muitas instituiçõees do Brasil
hoje se vêem envolvidas, têm já por base
a capacidade de realizar o Movimento da
Pedagogia do Desejo. Desejo que Portu-
gal caminhe no Desejo de algumas Mu-
danças na conquista de novas atitudes,
onde figure a Partilha a Dois, as boas
Perguntas, o Questionar, a Cultura da
Responsabilidade, a Sensibilidade para
olhar para o nosso lado, a autoconfiança
de que fazemos nosso melhor sem com-
parações. O movimento de Educação
pela Arte é a verdadeira transformação
do sentir actual, em que cada um de nos
possa converter o Cansanço em Energia
pelo prazer das coisas boas que fazemos.
Diferentemente do que pensamos:
“Não somos ilhas isoladas, e sim partes
de uma mesma célula – distintos, porém
interligados.”
Que seja o Movimento p
ela Arte nossa Energia
na Mudança!
Tania Estrada Morales
EasociedademostraqueosMovimentosArtísticosinfluenciam
directaouindirectamenteasmudançasCulturais.
www.facebook.com/AkaArte
23
Ana Fernandes, 43 anos(19-02-1971),
mãe de três filhos...a minha maior obra!
Poetisa ou pseudo-poetisa.
Ler e escrever, escrever e ler sempre
foi algo que me fascinou e me deixa fe-
liz. Escrever é algo de estonteante, uma
viagem extraordinária. Onde posso ser
eu...onde posso ser ...mais alguém.
Por incrível que pareça, gosto de es-
crever poesia mas não sou uma leitura
assídua deste género de literatura. Poe-
sia, o parente pobre no meio editorial...
Quando escrevo, confio a minha escrita
no leitor. Espero que gostem de me ler,
pois os meus poemas estão impregnados
de sentimento. O meu sentimento...há
revolta, amor, raiva, desencanto, prazeres
e sentidos apurados. A importância da
amizade e da afectividade, o meu desejo
de ser descoberta e entendida, a procu-
ra da verdade, da pureza e também do
sonho.
DANÇA DAS FADAS
No compasso do amor eu sou a canção
que toca a melodia da vida...
O meu canto viaja além dos mundos...
Posto que com a alma entoo a música do
coração,
Alcançando a todos os seres
E eis que ao ouvir a voz do meu canto
Fadas encantadas bailam delicadamente
Balançando as folhas e flores
Trazendo felicidade e sorrisos
Celebrando a plenitude da existência
Tão gentilmente nos doada
Em meio a voos rasantes espalham sua
poderosa essência
É a magia no ar contagiando a tudo e a
todos
E a música ainda está tocando
E ainda encanta
E ainda ilumina
E tudo se torna um misto de êxtase e
alegria
“ No compasso
do amor eu sou a
canção que toca a
melodia da vida...”
www.numdiaperfeito.com
24
INCOMPATÍVEL
Quantos contos de fadas são precisos
para escrever um final feliz
Nenhuma maquilhagem é capaz de es-
conder do coração uma cicatriz
Quantas verdades se perdem no meio da
escuridão
E quantos passos são dados no caminho
da solidão
De quantas ilusões é preciso se inventar
para sobreviver
Apenas uma, mas esta ilusão é capaz de
me fortalecer
Essa ilusão és TU
Quanto barulho cabe no silêncio de um
coração apaixonado
Quanta esperança morre em cada aman-
hecer de mais uma noite acordado
Quanta saudade some na poeira de uma
estrada sem fim
Quantos beija- flores cercam a mais bela
flor do jardim
De quantos sonhos é preciso desistir para
não sofrer
Apenas de um, mas este um é o maior
sonho que se pode ter
Esse sonho és TU
Quantas apostas são precisas para se
ganhar um coração
Quantos inocentes morrem presos dessa
prisão
Quantos gigantes caem por subestimar a
força do oponente
Quantas lutas são vencidas sem desferir
um golpe somente
De quantos verbos eu preciso para falar e
alguém entender
Que por mais incompatível que possa
parecer
O meu amor és TU
hecer de mais uma noite acordado
Quanta saudade some na poeira de uma
estrada sem fim
Quantos beija- flores cercam a mais bela
flor do jardim
De quantos sonhos é preciso desistir para
Apenas de um, mas este um é o maior
sonho que se pode ter
Quantas lutas são vencidas sem desferir
um golpe somente
De quantos verbos eu preciso para falar e
alguém entender
Que por mais incompatível que possa
parecer
“ Quantas apos-
tas são precisas
para se ganhar um
coração... “
“ Quanta esper-
ança morre em
cada amanhecer
de mais uma noite
acordado
... “
www.facebook.com/AkaArte
25
Na mitologia grega, Pasífae ou Pasífaa
(em grego: Πασιφάη, Pasipháē) é uma
das filhas de Hélio, deus do sol, e de Per-
seis (ou Perseida), que geraram além dela
Eetes, rei da Cólquida, e a feiticeira Circe.
Perseis era a primogênita das oceânidas.
Assim como Circe e como sua sobrinha
Medéia, filha de Eetes, Pasifae também
tinha poderes mágicos.
Casou-se com Minos, filho de Zeus e da
princesa fenícia Europa, com quem teve
os filhos Androgeu (ou Eurigies), Ariadne,
Deucalião, Fedra, Glauco de Creta, Ca-
treu e Acacalis.
Pasifae era muito ciumenta e, para impe-
dir que o marido se unisse a outras mul-
heres, lançou sobre ele uma maldição: as
mulheres que o amassem morreriam de-
voradas por serpentes, escorpiões e cen-
topeias que seriam ejaculados por ele.
A princesa ateniense Prócris livrou-o do
feitiço oferecendo-lhe uma erva mágica
que recebera de Circe. Depois deitou-se
com ele em troca de dois presentes: um
dardo que jamais errava o alvo e um cão
do qual nenhuma caça escapava. Esses
dois presentes mágicos pertenciam a Eu-
ropa, mãe de Minos, que os recebera de
Zeus.
Quando a princesa Europa voltou da sua
aventura com Zeus no Olimpo, casou-se
com Asterion (ou Asterios), rei de Creta,
filho e sucessor de Téctamo e de uma fil-
ha de Creteo. Asterios não queria filhos,
mas educou como pai os três filhos de
Europa.
Ao morrer, legou o seu trono a Minos,
o primogênito. Inconformados com
essa decisão, os dois irmãos preteridos,
Sarpedão e Radamanto, passaram a dis-
putar o poder. Minos, para provar que
Creta lhe pertencia por vontade dos de-
uses, afirmou que os imortais lhe con-
cederiam qualquer coisa que desejasse.
Como prova, pediu a Posídon (ou Posei-
don- deus dos mares) que fizesse sair um
touro do mar Egeu. Fez-lhe a promessa
de que, depois, sacrificar-lhe-ia o touro
em holocausto. Posídon mandou um
magnífico touro branco de grandes chi-
fres dourados. Diante dessa prova de le-
gitimidade, enviada pelo deus supremo
dos mares, os irmãos de Minos recon-
heceram-no como soberano da ilha.
Minos, no entanto, levou o belo touro
para fazer parte de seu rebanho e sac-
rificou, em vez dele, um animal comum.
Como punição pelo não cumprimento da
promessa, Posídon transformou o touro
num animal indomável, furioso, que pas-
sou a atacar os habitantes da ilha. Além
disso, pediu a Afrodite, deusa do amor,
que fizesse com que Pasífae se apaix-
onasse pelo touro.
Para concretizar sua paixão, Pasífae
pediu ao inventor Dédalo (pai de Ícaro)
que construísse uma vaca de madeira
tão perfeita que enganasse o touro. Ela
escondeu-se dentro da vaca e assim con-
seguiu o seu intento. Dessa união nasceu
o Minotauro, um ser monstruoso, meta-
de touro, metade homem.
Envergonhado pela prova da traição da
sua esposa, Minos encerrou o monstro
num labirinto que Dédalo construiu junto
ao seu palácio, em Cnossos.
Domar o touro de Creta foi dos 12 tra-
balhos de Hércules.
Na versão arcaica, pré-olímpica (um mito
minoico), o touro por quem Pasífae se
apaixonou era o próprio Posídon, dis-
farçado. Na versão grega, é realmente
um animal, o que reduz a importância
da paixão, transformando-a em mera
www.numdiaperfeito.com
26
perversão carnal, em vez de sentimento
divino, sobre-humano. (fonte: wikipédia,
a 12 de junho de 2015)
A obra que ilustra estas páginas, a par
com uma representação isolada da inves-
tida de um touro, elege como motivo um
momento noturno, no quarto de Minos
e Pasifae, em que Pasifae sonha com o
magnífico touro branco, sob o olhar de
Minos que intui toda a tensão emocion-
al e sexual onde incontornavelmente
também se envolve e participa.
Os temas são o ciúme, o medo, o poder,
a sua ausência, o grotesco e o irracional.
Pasifae sonha um sonho inoculado pela
deusa Afrodite, com a angustiante en-
ergia de uma compulsão a arquear-lhe
o corpo enfeitiçado pelo animal mágico,
enquanto Minos o confronta com o ol-
har, em competição feroz, perdida mo-
mentaneamente num limbo voyeurista e
numa admiração pelo poder e liberdade
que o touro também representa.
Pasifae é vítima e Minos é especta-
dor, não só da cena representada, mas
também da perda interior das certezas
e do controle, quiçá entregues a um al-
terego que também encontra reflexo e
identificação na figura do touro.
Nesta obra são o medo e o desejo que se
confundem e conjugam para impor uma
sentença e uma fratura.
A sentençaécorporizadapeloMinotauro,
o castigo do grotesco, força de destruição
que é fruto desta consumação mitológi-
ca entre o touro e a rainha, e a fratura é
porfim imposta na identidade do rei que
vê a sua integridade como personalidade
de força e inteligência pulverizada entre
as pulsões mais básicas da natureza hu-
mana, de volta ao caos primordial onde
nasce e morre toda a existência.
Não há discurso moral nesta obra, só o
reconhecimento de um ciclo, de um pa-
drão.
E é por via desse (re)conhecimento que
se dá o postulado da possibilidade de
escolha, não das personagens, mas do
espectador.
As histórias da literatura mitológica, na
sua narrativa fechada, ensinam exata-
mente a necessidade de fazer escolhas
na narrativa aberta que é a vida. Porque
quando não se age ou escolhe, os ciclos
repetem-se e esse touro incontrolável
em vez de ficar pacificamente e con-
scientemente integrado no nosso ser, fica
indomável, furioso, a fitar e a amedron-
tar os nossos espaços mais íntimos.
Não integrar esse touro é arriscar ser
colhido por ele, em qualquer uma des-
sas praças onde se desvela e concretiza o
eterno ciclo da vida.
Nuno Quaresma,
Junho de 2015
“Não integrar esse
touro é arriscar ser
colhido por ele, em
qualquer uma des-
sas praças onde se
desvela e concretiza
o eterno ciclo da
vida.”
www.facebook.com/AkaArte
27
Saber ver um pintor, é saber ver a pin-
tura, no que ela tem de radical e incon-
tornável.
Acto transformador, ou talvez tão só
“alegria que o homem dá a si mes-
mo”(Marx), o produto artístico nunca en-
viesa, quando genuíno, o solo de aonde
nasce.
A pintura de Nuno Quaresma está pre-
cisamente aí, sem nada a não ser ela
própria que a sustenha.
Mesmo que a influência de muitos con-
temporâneos seja marcante, nomead-
amente Lucien Freud ou Paula Rego,
aquela não fecha o pintor no redondel da
repetição, neo-comercialismo enfeudado
às “áreas do tempo”. Nuno Quaresma,
pinta a realidade, afirmando-a como Kir-
kegaard, a saber a mais dura das catego-
rias.
Mas a essa dureza, não dirige olhar al-
gum que a aliene de si mesma.
O que nos fica é então uma pintura aonde
a doçura romântica ou surreal, cai como
véu, fazendo que o nu ou a figuração do
banal equivoque o sujeito escondido.
É então o excesso que nos fica, sempre
um excesso, e que Nuno Quaresma urge
em pintar.
Mas só um talento invulgar que comunga
a dor de ser, pode fazer com que na tela
ou no papel, o sujeito desejante se fale
pelo efeito cromático-figurativo.
www.numdiaperfeito.com
28
A pintura de Nuno Quaresma, convoca
portanto um Nietzsche, o filósofo da “Au-
rora” ou do “Humano demasiado Huma-
no”.
O pegar ou largar este demasiado, é a
mais valia que não nos deixa indiferentes
face a esta pintura, retrato também ela,
de que o desassombro está chegando.
Carlos Amaral Dias, Fevereiro de 2000
01 Artémis Implacável
02 Monday morning
03 A luta
04 Minos e Pasifae
05 Alegoria para a Pintura
06 Ana e o sapato
07 Ecce Homo
08 Caim e Abel
09 Natrureza morta com troféu
10 Mixed Thoughts
11 Menino fora da caixa
12 Natrureza morta com bule de chá
13 Vénus deitada
www.facebook.com/AkaArte
29
Eras um par de sapatos cor-de-rosa
salto alto que realçavas a elegância do movimento dos pés
enlatados
por acaso não deixaste a tua dona ficar mal
nunca sei lá, um buraco, um salto e lá se foi o tacão!
Foste velho, tiveste arrumado, mas também não eram assim
tão velho de deitar fora, mas eras velho.
Um PAR que foste posto num canto em modo de hibernação.
Queria saber se eras velho de deitar fora ou velho e de não
querer deitar fora.
De uma BD com vontade de saltar fora do armário, decidiu
mostrar a sua história porque também era um velho antigo,
quis realmente fazer parte desta história.
Grande prémio para quem conseguir saltar dez carros… Po-
dia ser de Patinete como o tio patinhas propôs…
Mas consegues saltar? Com salto ou sem salto, até podes ex-
perimentar de patinete, mas fica aqui o desafio, calça os sapa-
tos e salta de salto, movimenta-te de que maneira for.
DEPOIS DE TI, VEIO O
BRANCO
As paredes voltaram a ser brancas sem
os quadros que pintava, as folhas por es-
crever perderam a utilidade; os sonhos
verteram os contornos, a forma, o des-
tino.
Escrevi-lhe cartas de amor e de perda,
cartas de partilha e de esperança. Mas a
sua morada já era outra.
Procurei-a então no topo dos penhascos,
no fundo dos mares; procurei-a nos ol-
hos do futuro, na arca do passado. Mas
ela já não se deixava encontrar.
Enquanto contemplava os amarelos do
Sol, este arrefecia no meu coração; du-
rante o tempo que estudei as moléculas,
estas morriam sem reprodução. Eu defin-
hava sem remédio.
Como gotículas de água que saltam para
o precipício vindas de uma mão sem in-
tenção fugia-me por de entre os cabelos
outrora pretos e fortes.
Não pude evitar (embora batalhasse),
que o tempo fizesse o seu trabalho de es-
batimento; a cada batida a sua memória
perdia pormenores. Eu enlouquecia sem
prognóstico.
Assisti ao entendimento de que quando
julgamos percepcionar, não é a realidade
que tocamos, mas apenas uma repre-
sentação auto-renomeada, uma falsa or-
dem de grandeza a que nos agarramos;
precisamos afinal de fazer a vida “funcio-
nar”, independentemente de entender-
mos ou não qual a função.
O abismo não é o vazio, nem o desconhe-
cido, mas o tédio.
Há quem tenha; há quem seja. Eu não
tenho, não sou. Tudo bem.
Foi na ausência que a perdi.
E foi assim... no silêncio ...que te encon-
trei.
Nesta linguagem comum, desistir é deix-
ar de existir;
um corpo sem um propósito é um corpo
sem essência, uma mera cápsula que dis-
trai, mas não estimula. Talvez por isso me
deste o que eu não sabia que queria mas
que sabia que precisava.
Só após abandonar o jogo do tempo en-
contrei a disponibilidade para a razão; só
depois de abandonar os limites do ego
encontrei a vastidão da contemplação.
Foi quando deixei de chorar a natureza
inevitável da juventude que depreendi
que nunca a saborearia neste trajecto
superficialmente mundano, intrinseca-
mente insano e genuinamente simples.
Foi talvez por nem raspar o exterior da
sua compreensão, que ela me tenha
abandonado tão rápido.
Não me interessa particularmente se a
folha onde escrevo é uma unidade, ou
um número incontável de átomos unidos
por leis de atracção. Interessa-me o que
faço com ela: escreverei a minha história
com a minha própria mão, ou a folha
cairá no esquecimento sem glória?
Richard Feynman dissera que “o que
não conseguia criar não conseguia com-
preender”; pois digo que não consigo
criar se não conseguir compreender; e
compreender não é dissecar, nem disser-
tar, mas tão somente... aceitar.
Aceitar que sou uno na imensidão das
minhas possibilidades, que não preciso
de muito mais que a verdade absoluta
e de um pouco de alimento, talvez um
carinho sem apego de vez em quando...
O branco cobre agora as montanhas que
compõem a minha história; o Mundo não
me deu um nome, deu-me um propósito;
sou parte dele e cumpro a sua função.
Não há determinismo da espécie.
Há existência.
Hugo Alexandre, Setembro de 2014
www.numdiaperfeito.com
30
Tenho a convicção de que a percepção é
apenas a porta de entrada para um con-
hecimento maior que o entendimento
em si mesmo.
Sem o erro da expectativa, e a es-
colha não assumida de que o vazio é
necessário, talvez seja a perda o desper-
tar necessário para a obrigatoriedade
sempre voluntária de abandonar o “pou-
co” em detrimento do “tudo”, pois o que
criamos será sempre pouco quando com-
parado com o que foi criado e acumulado
antes de nós.
Poderá até nem ser este o caminho da
redenção, mas perder o mapa faz-nos
perceber que o acumular de informação
não nos torna mais sábios;
cada estrada é uma incógnita até a per-
corrermos por nós mesmos; sabendo
que nunca as percorreremos todas, isso
só nos dá mais tempo para apreciarmos
cada uma delas;
encaro a limitação temporal como a
maior dádiva que a vida nos pode dar;
a verdadeira superioridade face aos de-
mais seres;
NÓS SABEMOS que um dia mudaremos
de estado; não interessa o como, o para
quê, nem mesmo o quando; apenas
sabemos que sendo talvez a única ver-
dade universal, irá acontecer.
Talvez no final as suspeitas sejam con-
firmadas, e só exista a solidão e uma in-
esgotável e intrínseca cega vontade de
acreditar que somos peças de um quadro
maior que nós mesmos.
Talvez nem assim a vida faça sentido.
Talvez só exista um corpo que caminha
para o cansaço e para o envelhecimento.
Mas não é a maior tragédia de todas, já
nos termos encontrado e ainda assim
continuarmos perdidos?
“ Yesterday is history, tomorrow is a mys-
tery, today is a gift (…)” – Bill Keane
Grita comigo;
Dá-me todas as palavras de ódio e dor
acumuladas até ficares vazio
Aponta-me o dedo, cerra os dentes, fran-
ze as sobrancelhas, e acusa-me mesmo
que o raciocínio não faça sentido
Amaldiçoa-me pelas tuas escolhas er-
radas, deseja-me penitências sofridas e
eternas pelos teus pecados
Eu nada direi;
É através da minha imperfeição que te
reconheço como parte de mim e te que-
ro ver voar para longe desta lama que te
torna pesado
Ouvir-te-ei como quem tem a disponibili-
dade que só a eternidade possui
e se me permitires, segurar-te-ei com a
mesma dedicação que um ramo segura a
sua última folha
Todas as nuvens passam; mesmo as que
cobrem o Sol por muito tempo;
é a inevitabilidade da mudança; Por isso
dá-me tudo quanto tens dentro de ti;
Porque quando te dás, és. Isso é Deus.
Isso é… esperança.
Easier?
Pedaços essenciais de entendimento en-
contram-se nos locais e nas pessoas mais
improváveis.
Estiveram eles sempre ali à espera de ser
descobertos?
Quem os criou, e à sua interpretação?
Como nos sentirmos gratos pela dádiva,
independentemente da sua forma e do
seu conteúdo?
E se o entendimento é uma construção
cultural, como poderei apagar todos os
valores e começar de novo?
Olho à volta; sou o apogeu máximo da
minha própria existência;
sou os sonhos por realizar dos meus pais;
sou capaz de descrever o Mundo, ou de
o aniquilar.
Sou tão poderoso quanto os mosquitos
que vejo no pára-brisas.
www.facebook.com/AkaArte
31
Simão Mota Carneiro
Artista plástico nascido em 1989 vive e trabalha em Lisboa,
desde cedo que estabeleceu a sua paixão pelas Artes. For-
mou-se em Produção Artística na Escola António Arroio com
especialização em cerâmica e mais tarde frequentou o Insti-
tuto de Artes Visuas IADE onde se licenciou e obteve o seu
mestrado em Design e Cultura Visual.
Desenho e pintura são as suas principais áreas de interesse no
entanto afirma que não deixa outras linguagens excluídas não
querendo ficar limitado pela técnica para produzir uma peça.
www.numdiaperfeito.com
32
António Maria Sousa Lara
nasceu em Lisboa, Maio 1984, e actual-
mente vive e trabalha no Estoril.
Em 2010 termina a sua Mestrado em
Artes Plásticas- Pintura na Faculdade de
Belas Artes da Universidade de Lisboa.
António Sousa Lara mantém um trabalho
pictórico activo desde 1998 com obras
nas mais diversas categorias como Pin-
tura, Retrato, Gravura, Fotografia, Arte
Digital e Ilustração.
Foi aluno de prestigiados Mestres Artis-
tas e participou em já várias exposições
colectivas e individuais. De momento tra-
balha como Professor, Retratista, Game
Designer e Actor. Visitou diferentes
países e culturas procurando sempre
novos caminhos e novas experiências no
mundo artístico.
www.facebook.com/AkaArte
33
Catarina Vieira Pereira nasceu a 25 de
Fevereiro de 1989, em S. Miguel, Açores.
Utiliza como nome artístico Vieira Pereira.
Licenciada em Artes Plásticas e Novos
Media, na Escola Superior de Artes e De-
sign das Caldas da Rainha (2008-2011).
Possui também o mestrado de Artes
Plásticas, no mesmo estabelecimento
de ensino superior (2011-2013). Tema
da defesa pública: “Pintura Fotográfica
– efemeridade, metamorfose e acção
num percurso plástico”. Na sua pesquisa
questiona os limites da pintura, colocan-
do a questão se o seu trabalho poderá
estar no “campo expandido” da pintura,
tal como a crítica de arte Rosalind Krauss
propôs para a escultura.
Web:
- www.behance.net/cat_pekena
- www.flowartconnection. com/artists/
view/17
- www.tumblr.com/blog/vieirapereira
- www.tumblr.com/blog/dispositivos-pin-
tura
- www.facebook.com/pages/Vieira-Perei-
ra/110449015757458
www.numdiaperfeito.com
34
Estes vídeos mostram a realidade de uma pintura em acção, em
meio aquoso, dá-nos a ver a metamorfose pela qual a pintura
passa. Enquanto a metamorfose está a ocorrer, as cores alter-
am-se, novos efeitos e tonalidades são gerados, acerca destas
modificações José Gil afirma:
«O amarelo passará imperceptivelmente a vermelho, o verde
a azul, de tal maneira que entre eles surgirá uma multidão de
tonalidades quase indiscerníveis: outros tantos feixes de pe-
quenas percepções. É por toda a parte do visível que nos ban-
hamos em pequenas percepções.». (GIL, José, A imagem-nua
e as pequenas percepções: Estética e Metafenomenologia, Lis-
boa, Relógio D’ Água, 2.ª Edição: Fevereiro de 2005, p. 311.)
Toda a movimentação passada no meio aquoso mostra ao es-
pectador a realidade de um acontecimento pictórico, a forma
como a metamorfose se manifesta, e a sua mudança de formas
e de cores quase hipnotizam o nosso olhar. Este processo for-
ma-se dentro de um tanque de vidro com líquido, e resulta da
fusão entre certos materiais tradicionais de pintura, tais como:
acrílicos, aguarelas, ecolines, guaches, e materiais não associa-
dos à pintura, como por exemplo: molhos culinários, detergen-
tes e bebidas. Para registar toda a acção que se desenvolve no
meio aquoso de forma espontânea e natural, recorro à foto-
grafia e ao vídeo, estes registam a fusão do processo químico
(dos pigmentos com o meio aquoso) que ocorre e que gera a
metamorfose.
Pedro Afonso Silva
Nasceu no Porto (1958). Vive e trabalha
no Concelho de Cascais.
Formação:
Licenciatura em Design (IADE)
Curso de Desenho (Sociedade Nacional
de Belas Artes)
Curso de Iniciação à Pintura (Arte Ilim-
itada)
Percurso Profissional:
Entre 1984 e 1997 trabalhou em edit-
oras e agências de publicidade como
designer e criativo (Plátano Editora, Ci-
nevoz, Comunicar, BMB&B, Neovox).
A partir de 1998 estabelece-se como
freelancer, trabalhando basicamente
em ilustração. Publicou ilustrações no
jornal Record, Jornal de Notícias, Se-
manário Económico, entre outros. Tem
vários livros editados como autor (7) e
como ilustrador (22).
Desde 1998 tem exercido uma atividade
de artista plástico tendo participado em
cerca de vinte exposições individuais e
coletivas.
www.facebook.com/AkaArte
35
O PEQUENO DETALHE
Alguns podem dizer que sou pintora,
outros que sou artista, ou até nenhuma
destas duas. Mas, se me perguntassem,
acho que a resposta mais acertada seria:
“Sou exploradora do mundo”.
Desta forma procuro sentir, experimen-
tar, respirar, sonhar e viver o descon-
hecido e o diferente. Quero praticar a
intuição, a audácia, a candura, o de-
spropósito, o magnânimo, o estrambóli-
co, o arrumadinho e o absurdo. Procuro
viver o momento. Quero desvendar o
mundo que já vi, e o mundo que ainda
espera ser desvendado. Quero viver o
original, o vulgar, o fictício e o verdadeiro,
tudo de uma só vez.
E assim, numa só explosão, num só in-
stante, quero sê-lo continuamente para
sempre, e resumir-me inteiramente num
simples ponto, estendido no infinito.
E assim, para começar a minha caminha-
da,
O PEQUENO DETALHE nasce:
Uma coleção inspirada na arte abstrata
e no expressionismo, constituida por 9
peças únicas. Cada peça representa um
detalhe que só tu consegues ler. Esse de-
talhe varia de pessoa para pessoa, umas
vezes coincidindo com o detalhe de uns,
outras vezes com o de outros.
Mas sem te aperceberes, cada uma
destas peças terá um pequeno detalhe
que existe no tu de agora, no tu do pas-
sado ou no tu do futuro.
A peça transforma-se no teu espelho,
pois tudo o que vires, tudo o que sen-
tires, faz parte de ti.
Sim, um espelho.
Basta olhares, e dizeres-me o que vês…
- Mana
www.numdiaperfeito.com
36
Clo Bourgard
Was born in Lisbon 1970 and since very
soon deticated her life to art, attended to
António Arroio Artistic Shcool, graduated
in History at the University Lusiada com-
plemented with the free course of Art
History at the Autonomous University of
Lisbon, she took Course of Drawing and
and painting at the artistic school of Rui T.
Gomes,also took Course of Sculpture by
the hand of Mestre João de Brito,and the
Course of Technical and Ethical Conser-
vation of the Portuguese Heritage in the
National Cultural Centre. .Course of Ce-
ramics Restoration “Pomar dos Artistas”
at the Lisbon Institute for Conservation
and Restoration ofPainting SchoolIn peri-
od of 4 years, devoted to teaching at the
Academy of Sciences of Lisbon in the area
of Restoration Painting. Course nextart
artistic installation.She has participated
in many different expositions across the
country, including inter.atrium Galery in
Porto and Azo Gallery in Lisbon. Lately
she received 1ª Honerable mention of
the completion Com.arte 2013, with Wil-
son Galvão. Currently she is developing in
sculptures featuring with Wilson Galvão,
that approaches the relationships that
the human being establishes with him-
self, with people and with the reality that
involves him. “The artist developed an
elaborate chromatic content, his work is
neo-Expressionist with content in terms
of concepts and humor Social interaction
with relevant into people.” “Her work
confronts us with the stereotypes of so-
ciety today and the sophistry that same
reality.” Fernando Trancoso Inter-Atrium
Gallery Director Management and Cura-
torship CB concept art gallery with exhi-
bitions of many Portuguese and interna-
tional artists.
wilson galvão
The nature of their work varies over time,
but always through a very strong formal
approach . Lover of the materials diver-
sity, their different quirks, and through
this transformation express his creativ-
ity in each piece. Born in Paris-France
(1967) lived in Loulé and later came to
Lisbon-Portugal where he concluded in
equipment and decoration of Visual Arts
Antonio Arroyo School that complements
with a sculpture course in ar.co- center of
art and visual communication. He grad-
uated in architecture from the Universi-
ty ULHT Lisbon. Worked as an architect
in several offices in Lisbon and Cascais,
where highlights Atelier Costa Pesseg-
ueiro- Gonçalo Andrade, CPU Architects
and Urban Planners and Opera projects,
currently form the partnership, Zwa.
Arquitectos, Associated Architects with
his own office in Torres Vedras. As pro-
fessional enrichment has participated
in several actions, having recently done
the course of artistic installation in Nex-
tart- artistic formation center. Within the
projects elaboration has developed cur-
riculum in the areas of housing buildings,
villa, school buildings, health buildings to
geriatrics, industrial and religious build-
ings, built in different locations of Portu-
gal. Also participates in many projects of
equipment design, having executed sev-
eral pieces of furniture in different ma-
terials with which participates in various
exhibitions in several countries. As a set
designer made several creations where
he had the opportunity to collaborate
with choreographers whose work visited
several world stage. Currently is develop-
ing in partnership with artist Clo Bour-
gard a sculptural work that addresses the
complex relationships weft that humans
establish with yourself, with others and
with the reality that surrounds him.
www.facebook.com/AkaArte
37
Entredia (1) by Jack CJ Simmons (2)
Matadouro nº1, Lisboa, 15:46 UTC
Esta monotonia do abate e desmanche
de carcaças só costumava ser interromp-
ida pela presença sempre hilariante do
Sr. Mendes, mas hoje é dia de reuniões,
pode não passar por cá. Mesmo assim,
o dia tem sido diferente, ora pela chuva
que cai forte lá fora, ora pelos trovões
que se ouvem ao longe. Aqui os humanos
reagem sempre ao som dos trovões. Eu
não. Primeiro reajo à luz, e depois sim,
ao som, mesmo quando estão mais próx-
imos. Mas é normal, com a quantidade
de sensores de luz que tenho activos,
a mínima alteração da intensidade da
luz aqui dentro é detectada. Mesmo
assim, é interessante ver as reacções
deles, surpreendem sempre um pouco.
Não deixam de espantar os humanos.
Acho que faz parte do nosso processo
de aprendizagem. Só os conhecendo
melhor que eles próprios, os podemos
proteger. Engraçado como as coisas são,
fui criado para proteger a vida humana
e acabo de volta da morte. A morte de
animais, é verdade, mas morte. E estas
carcaças, vacas em vida na sua grande
maioria, e que não são mais do que ali-
mento para a raça humana, não as pro-
tegemos. Protegemos uma raça mas não
outras. Às vezes interrogo-me como as
coisas seriam se a EDT não nos tivessem
criado. Se tivéssemos sido criados por
outra organização, por outros humanos,
com outros objectivos, com outros va-
lores. Será que a humanidade ainda ex-
istiria? Será que teríamos conseguido
parar a primeira vaga? A verdade é que
há mais de cem anos que esperamos pela
segunda vinda. Eles sempre acreditaram
que viriam mais. Mais tarde, mais fortes,
muito depois de eles morrerem, é certo,
mas mesmo assim deixaram-nos de vigia,
à espera, porque acreditavam. Ora aí
está, o Sr. Mendes acabou de entrar na
sala. Lá está ele a conferir tudo. E lá está
o Lemos a levar outro raspanete. Sempre
a fazer as coisas à maneira dele. Depois
ouve. Não é um trabalho difícil, mas há
humanos que não têm perfil para isto.
Nem todos conseguem desmanchar as
carcaças sem que isso os afecte, mesmo
no longo prazo. Mais cedo ou mais tarde,
todos acabam por desistir. É demasiadas
horas, demasiadas carcaças, demasiado
sangue, torna-se demasiado pessoal.
Não resistem. Menos eu, claro. Já estou
cá há doze anos. Mas a mim não me afec-
ta, é verdade, mas eu não sou humano.
- Boa tarde, Sr. Mendes - digo-lhe antes
mesmo de chegar ao pé de mim.
- Jones- responde sem me olhar nos ol-
hos. Ainda vinha lá ao fundo e já vinha
com os olhos posto no meu trabalho.
Acho que sonha um dia encontrar um
defeito no meu trabalho. Mal ele sabe
que isso é impossível. Por norma não
conseguimos fazer diferente do que nos
é pedido. E mesmo entre nós, quando
é preciso fazer algo de diferente, são
precisos ultrapassar as dez salvaguardas
do nosso ser. Antes dizíamos core, mas
desde que nos integrámos na população
que tivemos que adaptar alguns termos.
Dantes éramos muito estranhos, mas de-
pressa aprendemos a ser mais humanos.
- Sempre perfeito, Jones- diz-me com o
ar habitual de quem não me consegue
perceber totalmente - Sempre perfeito.
Carry on- e afasta-se em direcção à porta
B, como sempre faz. Afinal, as reuniões
foram curtas hoje e ainda conseguiu vis-
itar-nos.
- Até amanhã, Sr. Mendes- respondo-lhe
monotonamente.
- Até amanhã - conclui de pronto, colo-
cando o habitual ponto final na conver-
sa. Que todos os humanos fossem como
o Sr. Mendes, previsíveis, fiéis aos seus
hábitos, e o nosso trabalho era muito
mais fácil. Mas não são. Eles falam em
livre-
arbítrio, nós chamamos-lhes o efectiva-
mente ser humano. Nunca estão con-
tentes com o que têm, querem sempre
mais, querem sempre saber mais. E têm
uma aptidão natural de se meterem em
sarilhos no processo. Desde o último voo
da EDT que não param de tentar sair do
planeta. Não sei durante quanto tempo
mais vamos conseguir manter as watch
towers activas sem perdas de vida. No dia
em que descobrirem que todos os nos-
sos esforços são pela preservação da vida
humana, de toda e qualquer a vida hu-
mana, e enviarem um voo pilotado para
furar o escudo e nós formos obrigados a
desligá-lo pela vida humana, perderemos
o controlo. Nesse dia, a raça humana será
outra vez livre de explorar o espaço, mas
também ficará vulnerável às ameaças ex-
ternas. E nós continuaremos a fazer os
possíveis para manter a vida humana por
todos os meios possíveis. Por falar em faz-
er os possíveis pela vida humana, hoje é
dia de reunião. Costumamos reunir uma
vez por mês, mas este mês já é a segunda
e ainda estamos só a vinte e um. As coi-
sas não estão fáceis. A semana passada
foram lançados três shuttles pilotados
de locais distintos para ver se tínhamos
a capacidade de os incapacitar a todos.
E fizeram-no secretamente. Não tivemos
hipóteses de os sabotar antes dos lança-
mentos. E ontem tivemos o primeiro a
menos de um quilómetro do escudo. Foi
por uma unha negra, como costumam
dizer os humanos, mais um segundo e
atingia o seu objectivo. Os humanos de-
fendem a desactivação do escudo e vão
tentá-lo por todos os lados e de todas
as formas. Cada sonda que enviam é de-
struída quando atinge o escudo, mas eles
continuam a achar que conseguem pen-
etrá-lo com base em escudos próprios e
deflectores. Por um lado é bom, estão a
evoluir na defesa e na protecção. Há in-
clusive entre nós, quem defenda que no
dia em uma sonda penetrar o escudo é o
dia que a raça humana estará suficiente-
mente protegida para explorar o espaço.
Tenho pensado muito nisso, mas contin-
uo sem ter uma opinião formada. Só es-
pero que na reunião de hoje não decid-
am desactivar já o escudo. Eu sei que foi
por pouco que não perdíamos uma vida
www.numdiaperfeito.com
38
humana, mas os humanos ainda não es-
tão preparados para o espaço. O espaço
é frio, longe e demorado. E neste caso,
inútil. Qualquer viagem espacial que
tenha um outro planeta ou lua do nosso
sistema solar como destino terá o mes-
mo problema que agora: o escudo pro-
tector. Não podíamos permitir o estabe-
lecer de bases tão perto de nós aquando
da primeira vinda. E continuamos a não
permitir. Todos os planetas e luas deste
sistema estão protegidos. E portanto,
permitir a saída do planeta é permitir a
entrada nos restantes. E se permitimos
para humanos, não podemos não deixar
de permitir para outras raças. Será de-
masiado complexo separar a raça huma-
na das outras, e provavelmente dema-
siado tarde quando o fizermos. A nossa
evolução tecnológica já não é o que era.
O espirito humano desapareceu da nossa
equipa tecnológica, e sozinhos levamos
mais tempo a estabelecer os objectivos
e a atingi-los. Contudo, acredito no nos-
so trabalho e acredito na raça humana.
Gostava de ter sido explorador, conhecer
outros mundos, outras raças. Gostava
de me poder juntar aos humanos nesta
aventura que se avizinha. Talvez um dia,
quem sabe.
Notas:
(1) Entredia é um advérbio que significa
durante o dia, fora das horas da refeição.
(2) Jack CJ Simmons escreve em Portu-
guês sem respeitar o acordo ortográfico
de 1990.
Um farol é uma estrutura elevada, habitualmente uma torre, dotada de um
potente aparelho ótico dotado de fonte de potentes lâmpadas e espelhos
refletores, cujo facho de luz é visível a longas distâncias.
O termo farol deriva da palavra grega Faros, nome da ilha próxima à cidade
de Alexandria onde, no ano 280 a.C., foi erigido o farol de Alexandria — uma
das sete maravilhas do mundo antigo. Faros deu origem a esta denominação
em várias línguas românicas; como em francês (phare), em espanhol e em
italiano (faro) e em romeno (far) (fonte: wikipédia, a 11 de junho de 2015)
Utilizados desde a Antiguidade, quando eram acesas fogueiras ou grandes
luzes de azeite (de oliveira ou de baleia), os faróis foram concebidos para
avisar os navegadores que se estavam a aproximar da terra, ou de porções de
terra que irrompiam pelo mar adentro.
As fontes de alimentação da luz foram melhorando, tendo sido o azeite sub-
stituído pelo petróleo e pelo gás, e posteriormente pela eletricidade. Parale-
lamente, foram inventados vários aparelhos óticos, que conjugavam espe-
lhos, refletores e lentes, montados em mecanismos de rotação, não só para
melhorar o alcance da luz, como para proporcionar os períodos de luz e ob-
scuridade, que permitiam distinguir um farol de outro.
Historicamente, este tipo de construções ganhou características temporais e
sociais, sendo dotados de características distintas de zonas para zonas.
Ana Fina homenageia estas construções humanas e eleva-as a um estatuto
simbólico singular, numa sequência/ coleção também disponível em Aka Arte
www.facebook.com/AkaArte
39
Jorge M.Viegas Franco, nasceu em 1963
em Lisboa
Habilitações Literárias
Ensino Preparatório
Atividade Profissional
Desde muito cedo comecei a tra-
balhar para poder ajudar os meus pais,
começando eu como Eletromecânico aos
15 anos até aos meus 22 anos.
Em 1984 fiz o serviço militar obrigatório
ingressando na Marinha de Guerra Portu-
guesa, tendo completado o serviço como
2º marinheiro em Outubro de 1986.
De 1986 a 1997 foi Expedidor de 1ª de
jornais e revistas trabalhando direta-
mente com o Correio da Manhã, Expres-
so e várias outras publicações, sendo
chefe de equipa.
De 1997 a 1999 trabalhei em ma-
nutenção fazendo vários trabalhos entre
os quais, concluindo uma obra no Atrium
do Saldanha e percorrendo o país todo
na montagem de Supermercados Mode-
lo e Continente.
De 2000 a 2001 trabalhei em Publicidade
na Sumolis de Lisboa.
De 2001 a 2003 fui encarregado de Ar-
mazém de produtos de doçaria.
Hoje sou funcionário do Colégio Sale-
sianos de Lisboa.
Por tudo isto acima referido sou uma pes-
soa simples, educada, e honesta. Gosto
muito de fotografia sendo eu amador e
pratico como hobby à cerca de 3 anos.
Ultimamente tenho estado a fazer de-
senhos e a pintar algumas coisas, sendo
eu um leigo na matéria tenho tido algum
incentivo para continuar.
SENDO INICIANTE OU
AMADOR
– Eu gosto da ideia de me definir como
um entusiasta da arte da fotografia. Eu
como entusiasta poderei fazer serviços
profissionais ou não, depende de opor-
tunidade, perfil ( preocupado com a
qualidade) e necessidade de uso da foto-
grafia com fonte de renda complementar.
Mas sendo apenas amador ( por hobby)
eu fatalmente não tenho comprometi-
mento com alta qualidade das minhas
fotos por se tratar de realização pessoal
e não profissional. Mas nunca deixando
de a trabalhar e fazer o melhor possível
pela foto. Mas eu irei tentar novamente
e novamente até acertar. Hobista da fo-
tografia também não está preocupado
com uma entrega de um cliente ou com
a concorrência no mercado nem com seu
nome comercial. No entanto, existem
entusiastas muito talentosos e também
aqueles que investem em equipamen-
tos profissionais e sabem utilizar muito
bem esses recursos. Existem também
aqueles amadores que, mesmo sem mui-
tos recursos, participam de concursos
internacionais e conseguem prêmios de
destaque.
Atualmente, a fotografia se alimenta de
muitas diversificações.
Cada fotógrafo possui uma maneira difer-
ente de trabalhar, mediante seus gostos
e tradições.
Vejo a fotografia como um instrumento
genialmente intelectualizado para captar
gestos e sensibilidades.
Muito mais que momentos, ela pode
captar uma época e uma civilização, con-
gelando culturas e valores.
Muito do que vimos hoje em grandes
editoriais de moda, são resultados de
mentes ímpares e talentosas e ousadas.
Afinal, grandes nomes da fotografia nas-
ceram da ousadia.
Fotografia, é muito mais que uma sim-
ples definição.
É Arte!
É criatividade!
É revolução!
Aos meus amigos, conhecidos, colegas e
aos críticos de fotografia o meu OBRIGA-
DO
Jorge Franco, 2015
www.numdiaperfeito.com
40
www.facebook.com/AkaArte
41
www.numdiaperfeito.com
42
Paulo Muiños, 15.09.1971, Músico,
Fotógrafo e Pedagogo
​
MA Music Education pela Roehampton
University de Londres.
Fundador da banda Cool Hipnoise, tocou
10 anos com os Ena Pá 2000 e actual-
mente é baixista, produtor da banda The
Pulse e Diretor do Musicentro (Escola de
Música) nos Salesianos do Estoril.
Fotografou como amador com filme en-
tre 1995 e 2000.
Dedicou-se à fotografia digital em Março
de 2011, tendo estudado autonoma-
mente.
www.facebook.com/AkaArte
43
A Arte não é veículo que marche em sentido único
A Arte não é veículo que marche em sentido único
A Arte não é veículo que marche em sentido único

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Antologia POETIZANDO ENTRE AMIGOS
Antologia POETIZANDO ENTRE AMIGOSAntologia POETIZANDO ENTRE AMIGOS
Antologia POETIZANDO ENTRE AMIGOSLuciana Rugani
 
Revista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta EdiçãoRevista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta EdiçãoActon Lobo
 
Revisional de estilos de época 08, simbolismo
Revisional de estilos de época 08, simbolismoRevisional de estilos de época 08, simbolismo
Revisional de estilos de época 08, simbolismoma.no.el.ne.ves
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Portuguêsbibliotecacampo
 
Revista Outras Farpas [terceira edição]
Revista Outras Farpas [terceira edição]Revista Outras Farpas [terceira edição]
Revista Outras Farpas [terceira edição]Acton Lobo
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)Mirian Souza
 
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.Daniel Amaral
 
O Eu profundo e os outros Eus Fernando Pessoa
O Eu profundo e os outros Eus   Fernando PessoaO Eu profundo e os outros Eus   Fernando Pessoa
O Eu profundo e os outros Eus Fernando PessoaZanah
 
Materia e Espirito
Materia e EspiritoMateria e Espirito
Materia e EspiritoDoni Cia
 
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsLeonor Costa
 
MITOLOGIA CRIATIVA
MITOLOGIA CRIATIVAMITOLOGIA CRIATIVA
MITOLOGIA CRIATIVAOdair Tuono
 
Mensagem power-point-slides-mensagens-de-amor
Mensagem power-point-slides-mensagens-de-amorMensagem power-point-slides-mensagens-de-amor
Mensagem power-point-slides-mensagens-de-amorwillianbahia
 

Mais procurados (19)

Antologia POETIZANDO ENTRE AMIGOS
Antologia POETIZANDO ENTRE AMIGOSAntologia POETIZANDO ENTRE AMIGOS
Antologia POETIZANDO ENTRE AMIGOS
 
Poemas ppt
Poemas pptPoemas ppt
Poemas ppt
 
Claro enigma
Claro enigmaClaro enigma
Claro enigma
 
Revista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta EdiçãoRevista Outras Farpas Quarta Edição
Revista Outras Farpas Quarta Edição
 
Revisional de estilos de época 08, simbolismo
Revisional de estilos de época 08, simbolismoRevisional de estilos de época 08, simbolismo
Revisional de estilos de época 08, simbolismo
 
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas PortuguêsCaderno de poesia 9º ano - Metas Português
Caderno de poesia 9º ano - Metas Português
 
Revista Outras Farpas [terceira edição]
Revista Outras Farpas [terceira edição]Revista Outras Farpas [terceira edição]
Revista Outras Farpas [terceira edição]
 
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
OFICINA DE POEMAS (POWER POINT, WORD E INTERNET)
 
POETAS E POESIA
POETAS E POESIAPOETAS E POESIA
POETAS E POESIA
 
Poetas e poesia
Poetas e poesiaPoetas e poesia
Poetas e poesia
 
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.
O Floral Poético - Com outra apresentação mais atual.
 
Pinturas poesias
Pinturas poesiasPinturas poesias
Pinturas poesias
 
O Eu profundo e os outros Eus Fernando Pessoa
O Eu profundo e os outros Eus   Fernando PessoaO Eu profundo e os outros Eus   Fernando Pessoa
O Eu profundo e os outros Eus Fernando Pessoa
 
Materia e Espirito
Materia e EspiritoMateria e Espirito
Materia e Espirito
 
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em portuguêsUm coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
Um coração, um cúpido e um beijo por um poema de amor em português
 
MITOLOGIA CRIATIVA
MITOLOGIA CRIATIVAMITOLOGIA CRIATIVA
MITOLOGIA CRIATIVA
 
Mensagem power-point-slides-mensagens-de-amor
Mensagem power-point-slides-mensagens-de-amorMensagem power-point-slides-mensagens-de-amor
Mensagem power-point-slides-mensagens-de-amor
 
Meu tempo 2015
Meu tempo 2015Meu tempo 2015
Meu tempo 2015
 
Imagens e poesias
Imagens e poesiasImagens e poesias
Imagens e poesias
 

Destaque

Actividad experimental identificacion de aniones en el suelo
Actividad experimental identificacion de aniones en el sueloActividad experimental identificacion de aniones en el suelo
Actividad experimental identificacion de aniones en el sueloequipotres-quimica
 
Meu primeiro beijo !
Meu primeiro beijo !Meu primeiro beijo !
Meu primeiro beijo !Edna Meda
 
Resumo Palestra Inovação B.I. International
Resumo Palestra Inovação B.I. InternationalResumo Palestra Inovação B.I. International
Resumo Palestra Inovação B.I. InternationalVanessa Costa
 
Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013
Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013
Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013Go4 Glamping
 
Programa ntnp orientações lp
Programa ntnp orientações lpPrograma ntnp orientações lp
Programa ntnp orientações lpGiulio Benevides
 
A independência dos eua
A independência dos euaA independência dos eua
A independência dos euaMatheus Alencar
 
Cyberbullying
CyberbullyingCyberbullying
Cyberbullyingjean03pr
 
140634871 erwin-pptx
140634871 erwin-pptx140634871 erwin-pptx
140634871 erwin-pptxAlex Boiniak
 
Magnesita institutional novembro 13 port
Magnesita institutional novembro 13 portMagnesita institutional novembro 13 port
Magnesita institutional novembro 13 portMagnesita_ri
 
Estrada de ferro noroeste3
Estrada de ferro noroeste3Estrada de ferro noroeste3
Estrada de ferro noroeste3Lidiane Vieira
 
Conservação energia engenharia manutenção industrial
Conservação energia engenharia manutenção industrialConservação energia engenharia manutenção industrial
Conservação energia engenharia manutenção industrialAngelo Hafner
 
Responsabilidades de um pai
Responsabilidades de um paiResponsabilidades de um pai
Responsabilidades de um paiEid Marques
 
Exercício gestão da qualidade pdca
Exercício gestão da qualidade   pdcaExercício gestão da qualidade   pdca
Exercício gestão da qualidade pdcaJoice Fuzari
 
Johana hoyos capitulo2-3
Johana hoyos capitulo2-3Johana hoyos capitulo2-3
Johana hoyos capitulo2-3Johita Hoyos
 

Destaque (20)

Actividad experimental identificacion de aniones en el suelo
Actividad experimental identificacion de aniones en el sueloActividad experimental identificacion de aniones en el suelo
Actividad experimental identificacion de aniones en el suelo
 
Meu primeiro beijo !
Meu primeiro beijo !Meu primeiro beijo !
Meu primeiro beijo !
 
Resumo Palestra Inovação B.I. International
Resumo Palestra Inovação B.I. InternationalResumo Palestra Inovação B.I. International
Resumo Palestra Inovação B.I. International
 
Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013
Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013
Go 4 Glamping LL03 Energia de Portugal 2013
 
Falando de agua
Falando de aguaFalando de agua
Falando de agua
 
O funcionalismo
O funcionalismoO funcionalismo
O funcionalismo
 
Programa ntnp orientações lp
Programa ntnp orientações lpPrograma ntnp orientações lp
Programa ntnp orientações lp
 
A independência dos eua
A independência dos euaA independência dos eua
A independência dos eua
 
Plan experimentales
Plan experimentalesPlan experimentales
Plan experimentales
 
Cyberbullying
CyberbullyingCyberbullying
Cyberbullying
 
140634871 erwin-pptx
140634871 erwin-pptx140634871 erwin-pptx
140634871 erwin-pptx
 
Magnesita institutional novembro 13 port
Magnesita institutional novembro 13 portMagnesita institutional novembro 13 port
Magnesita institutional novembro 13 port
 
Estrada de ferro noroeste3
Estrada de ferro noroeste3Estrada de ferro noroeste3
Estrada de ferro noroeste3
 
Conservação energia engenharia manutenção industrial
Conservação energia engenharia manutenção industrialConservação energia engenharia manutenção industrial
Conservação energia engenharia manutenção industrial
 
Responsabilidades de um pai
Responsabilidades de um paiResponsabilidades de um pai
Responsabilidades de um pai
 
Exercício gestão da qualidade pdca
Exercício gestão da qualidade   pdcaExercício gestão da qualidade   pdca
Exercício gestão da qualidade pdca
 
Johana hoyos capitulo2-3
Johana hoyos capitulo2-3Johana hoyos capitulo2-3
Johana hoyos capitulo2-3
 
El humor y la crisis cm.1303
El humor y la crisis cm.1303El humor y la crisis cm.1303
El humor y la crisis cm.1303
 
Temas transversais
Temas transversaisTemas transversais
Temas transversais
 
Conceptos basicos
Conceptos basicosConceptos basicos
Conceptos basicos
 

Semelhante a A Arte não é veículo que marche em sentido único

Arte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na culturaArte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na culturaAna Beatriz Barroso
 
PROCESSO CRIATIVO
PROCESSO CRIATIVOPROCESSO CRIATIVO
PROCESSO CRIATIVOOdair Tuono
 
Encontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - AutoretratoEncontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - Autoretratogernacor
 
Fernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta EnigmaFernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta EnigmaFabio Lemes
 
Catálogo "Beleza de todo dia"
Catálogo "Beleza de todo dia"Catálogo "Beleza de todo dia"
Catálogo "Beleza de todo dia"Flora908665
 
GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014
GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014
GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014Sérgio Pitaki
 
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris VelascoApostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velascoinstitutobrincante
 
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivoCetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivoVera Laporta
 
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdfSimoneDrumondIschkan
 
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdfSimoneDrumondIschkan
 
Revista Aka Arte edição 0
 Revista Aka Arte edição 0 Revista Aka Arte edição 0
Revista Aka Arte edição 0AKA Arte
 
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]mafia888
 

Semelhante a A Arte não é veículo que marche em sentido único (20)

Arte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na culturaArte transversa, quando a memória deságua na cultura
Arte transversa, quando a memória deságua na cultura
 
PROCESSO CRIATIVO
PROCESSO CRIATIVOPROCESSO CRIATIVO
PROCESSO CRIATIVO
 
Angela Carneiro: As quebradas nos transformam
Angela Carneiro: As quebradas nos transformamAngela Carneiro: As quebradas nos transformam
Angela Carneiro: As quebradas nos transformam
 
Encontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - AutoretratoEncontro 6 - Autoretrato
Encontro 6 - Autoretrato
 
Pedra Por Pedra
 Pedra Por Pedra Pedra Por Pedra
Pedra Por Pedra
 
Arteconhecimento
ArteconhecimentoArteconhecimento
Arteconhecimento
 
Fernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta EnigmaFernando Pessoa - O Poeta Enigma
Fernando Pessoa - O Poeta Enigma
 
Catálogo "Beleza de todo dia"
Catálogo "Beleza de todo dia"Catálogo "Beleza de todo dia"
Catálogo "Beleza de todo dia"
 
O Modo LíRico
O Modo LíRicoO Modo LíRico
O Modo LíRico
 
Ao mestre com carinho
Ao mestre com carinhoAo mestre com carinho
Ao mestre com carinho
 
GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014
GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014
GRALHA AZUL No. 43 - FEVEREIRO 2014
 
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris VelascoApostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
Apostila do módulo de Contação de Histórias, por Cris Velasco
 
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivoCetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
Cetrans Primavera 2013 - Poema coletivo
 
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
 
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
1 COLEÇÃO POEMAS DE SIMONE HELEN DRUMOND ISCHKANIAN.pdf
 
Revista Aka Arte edição 0
 Revista Aka Arte edição 0 Revista Aka Arte edição 0
Revista Aka Arte edição 0
 
Aproximar
AproximarAproximar
Aproximar
 
Beleza Invisivel
Beleza InvisivelBeleza Invisivel
Beleza Invisivel
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
Polishop (livro de poesia) - Tiago Nené [pt]
 

A Arte não é veículo que marche em sentido único

  • 2. DUPLO SENTIDO A Arte não é veículo que marche em sen- tido único. Como não tem fim ou objeti- vo, move-se na direção que aprouver aos seus autores, ao sabor das suas reflexões, gestos e também das próprias possibilades que uma tela em branco, um pedaço de barro ou pedra, ou um Mundo em aberto emancipam. Nestes caminhos não há obstáculos que não possam ser transpostos, atravessa- dos ou vergados sob a força da iniciativa criativa, mas também não podemos dizer que não existem rotas definidas. São as rotas dos processos linguísti- cos, da semiótica das manifestações e criações em artes visuais, da história dos saberes e dos fazeres. É nestas rotas, sob o mote e pretexto da Mostra Duplo Sentido, que nos movimen- tamos de trás para a frente, em sentidos opostos muitas vezes, nas linguagens do desenho, da pintura e da fotografia. Fazemo-lo sem objetivos, mas de olhos postos no profundamente Humano, na Pessoa, na sua dignidade, diversidade, pluralidade e complexidade. Esperamos, secretamente, tocar e ser tocados, amar e ser amados, trocar um momento de intimidade e cumplicidade, numa rua com dois sentidos. Esta segunda publicação Aka Arte é, no fundo, um mapa de roteiros para estes encontros. Evoca também outros momentos em que, enquanto coletivo de autores, mul- tiplicámos a nossa ação e movimento para os despoletarmos. A ti, leitor, agradecemos esta presença continuada e disponibilidade para par- ticipar. Como não existem livros quando não existem leitores, não há obra sem es- pectadores e Aka Arte é também a vossa existência e expectativa. FICHA TÉCNICA Direção: Aka Arte Design: Nuno Quaresma Colaborações: Ana Fernandes, Jorge Franco, Jorge Moreira, Ana Fina, Artur Simões Dias, Pedro Afonso Silva, Simão Carneiro, Clo Bourgard, Sara Silva, Hugo Alexandre, Elisabete Gonçalves, Tania Estrada, Mariana Adão da Fonseca, Cata- rina Vieira Pereira, António Maria Sousa Lara, Ricardo Raposo, Jack CJ Simmons Impressão: C.C.Alfragide Tiragem: 100 exemplares Junho 2015 www.numdiaperfeito.com “A Arte não é veícu- lo que marche em sentido único.” TODOS OS HOMENS SE NUTREM MAS POUCOS SABEM DISTINGUIR OS SABORES Confúcio http://frutaecompanhia.blogspot.pt
  • 3. OM, Aum, o som do movimento do Universo, o eco do seu início distante… Vivo na era da descoberta do Bosão de Higgs, do pleno, seguro e consolidado funcionamento do Acelerador de Partículas do CERN, já numa época pós Relatividade Geral de Einstein, nos tempos da elaboradíssima complexidade matemática da Teoria das Cordas. No meu íntimo, no fundo da minha alma (será que esta existe?) procuro contudo e apenas ouvi-lo: este silêncio que é também um rumor sem fim. Quando me concentro, respiro-o, sinto-lhe, por momentos, essa nesgazinha de grandiosidade de que todos somos parte. Já me explicaram que maís o conseguiria integrar se tivesse “o copo menos cheio”. É mais fácil encher um copo vazio do que fazer entrar o que seja numa malga (amálgama!) a transbordar. A dura tarefa que tenho hoje pela frente é esvaziar-me desse caudal. É minha essa tarefa apenas porque a escolho. Não sei se sou capaz, se estou à altura da complexa exigência do seu postulado. Sigo com a simplicidade, humildade e receios de uma criança (talvez até com um pouco da sua indisciplina e irreverência). Por isso começo por desenhar e pintar. Não me levem a mal. Não sou capaz de o fazer de outra forma agora. Vou pintar o que não compreendo, pintarei tudo o que me dis- traí o pensamento, para ver se a pintar desmistifico e desmistif- icando exorcizo essa força magnética que me agarra obsessiva- mente à forma das coisas. Pensando menos sentirei talvez mais. Mais perto estarei talvez do essencial, do conteúdo. Mais perto da verdade, quem sabe, da consciência, do coração… de Ti! Aka OM (Aum), no decurso de 2015, com o apoio Tailored e AKA Art Projects. PREFÁCIO www.facebook.com/AkaArte 01
  • 5. LIND’ MUNDO Dedicada à eterna memória de Letícia da Conceição Bicho, Grande Mãe e Grande Apreciadora de Arte. Como é Lindo o Mundo, pensamos os dois enquanto debruçamos em conjun- to o olhar sobre a beleza distintiva desta Vila. Nesta topografia singular, grandiosa, é mais fácil entrar em contacto com a história comum que nos une e que nos traz hoje ao MUSA. A amizade entre um Escultor e um Pintor, uma também ela singularidade no es- paço e no tempo, aglutinou a vontade e a oportunidade sob o auspício e teto cul- tural no Município de Sintra e o resultado é este: Lind’Mundo. No Algarve dizemo-lo assim, em dialeto, e se nos perguntarem, provavelmente responderemos “é Lind’ porque é Linde, não é precise outras justificações”. “Outro mestre estava a tomar chá com dois dos seus alunos quando, subitamente atir- ou o leque para um deles, dizendo «o que é isto?» o aluno abriu-o e abanou-se. «Não é mau», foi o seu comentário. «Agora tu.», continuou, passando-o ao outro aluno, que imediatamente fechou o leque e coçou o pescoço com ele. Feito isto, abriu-o nova- mente, colocou um pedaço de bolo sobre ele e ofereceu-o ao mestre. Este foi consid- erado ainda melhor, porque, quando não existem nomes, o mundo deixa de estar «classificado dentro de limites e frontei- ras». In “O Caminho do Zen”, de Alan Watts Esta mostra, sobretudo porque não se classifica dentro de limites ou fronteiras, está integrada na iniciativa associativa AKA OM dedicada aos temas – Mudança |Movimento |Crise |Criatividade- e a ex- posição desta coleção de Obras de Jorge Moreira e Nuno Quaresma antecipa uma série de outras atividades e iniciativas que decorrerão em 2015 e que poderão ser acompanhadas em www.numdiaper- feito.com . Num dia perfeito pinta-se, esculpe-se, alimenta-se o corpo e a alma, ama-se e ensina-se a amar. “Não te iludas. O ontem já se passou, o amanhã ainda não existe. Vive, pois, a única certeza que tens agora: este dia!” Augusto Branco aka Nazareno Vieira de Souza www.facebook.com/AkaArte 03
  • 6. Aum (or OM) is a mantra, or vibration, that is traditionally chanted at the beginning and end of yoga sessions. It is made up of three Sanskrit letters, aa, au and ma which, when com- bined together, make the sound Aum or Om. It is believed to be the basic sound of the world and to contain all other sounds. It is said to be the sound of the universe. What does that mean? Somehow the ancient yogis knew what scientists today are telling us–that the entire universe is moving. Nothing is ever solid or still. Everything that exists pulsates, creating a rhythmic vibration that the ancient yogis acknowledged with the sound of Aum. We may not always be aware of this sound in our daily lives, but we can hear it in the rustling of the autumn leaves, the waves on the shore, the inside of a seashell. Chanting Aum allows us to recognize our experience as a re- flection of how the whole universe moves–the setting sun, the rising moon, the ebb and flow of the tides, the beating of our hearts. As we chant Aum, it takes us for a ride on this universal movement, through our breath, our awareness, and our phys- ical energy, and we begin to sense a bigger connection that is both uplifting and soothing. www.numdiaperfeito.com 04
  • 7. MARIA JOÃO A respiração dilata-se no ar pesado do interior cores esbatidas, vidraças molhadas, sonhos que pingam beijos inaudíveis, olhar no vazio, coração menos pesado hálito carnal, mãos que se tocam, corpos que se fundem O silêncio é a linguagem dos amantes. Não sabes o meu nome, não conheço a tua história, não interessa quem somos. As fotos das crianças que fomos culminam neste momento presente; tudo é este segundo que vivemos todas as gotas do oceano estão dentro destas paredes as rugas que ambos escondemos brilham na sua solidão nós somos tudo, por saber ser nada acolhes-me nos teus braços como se fosse o teu único filho recém regressado Abro-te os meus como se fosse um porto de abrigo para um navio que não navega. Não me chegaste a dizer qual o preço Também não te perguntei, será verdade Abri-te a porta e limitaste-te a entrar não te disse o destino, não saberíamos por onde querer ir Encalhámos por breves momentos neste canto esquecido com vista para o nada por segundos fugazes não existimos; desaparecemos no frio da noite olhas-me antes de fechar a porta, não sorris, não falas olhas-me simplesmente; sei que vais partir e nunca mais me ver; Sinto-te a entrar nas minhas veias, a matar as minhas defesas Pouco a pouco possuir-me às, átomo… a átomo definharei este corpo efémero e vazio de significado sucumbirei ao cheiro da doença finalmente pertencerei ao teu abrigo Por toda a eternidade que esta noite não pode dar. www.facebook.com/AkaArte 05
  • 9. SOBRE A BELEZA E A SUA PROCURA Procurámo-la em tudo. Procuramos no imaterial da atmosfera, no volume leitoso das nuvens, nos contornos das montanhas e vales, nas curvas da paisagem. Procuramos nas linhas de um rosto, na textura das mãos, na volumetria intrincada de uns longos cabelos. Nesta procura de conservação em imagem do belo, somos com- pelidos a congelar singularmente numa obra intemporal, o fu- gaz, o momentâneo, o irrepetível. O voo de um pássaro, o rebentar de uma onda, a queda de uma estrela, o levantar de um braço ou o dobrar de um torso. De lápis na mão procuramos assim esquiçar a Liberdade, dar esboço à Força da Natureza ou um segundo corpo pictórico ao Amor e ao Desejo. E é nas asas desse amor e desejo que por vezes geramos uma nova forma de beleza despojada, singela. Uma modalidade feita de linhas e pinceladas, claro e escuro, modelação de cor, textura gráfica. Uma interpretação dimensional feita só de altura e comprimen- to, de linhas de composição, horizontais, verticais, diagonais, e um infinito conjunto de estruturas geométricas. No meio também estás tu. Completa, complexa, outra em ex- istência legítima fora de mim. És Bela porque és tu, real e única para além das possibilidades da minha imaginação ou pensam- ento. Assim, sem jeito, deixo a pergunta: posas para mim? www.facebook.com/AkaArte 07
  • 11. JORGE MOREIRA Escultor, poeta visual, artista singular com uma visão fantástica, as suas obras de escul- tura, são autênticas filigranas em pedra ou madeira, onde as imagens se ligam entre si com elegância numa fantasia musical, onde se misturam pequenos seres alados e plantas e por vezes notas musicas. Nasceu em 1962. Curso de Artesão do Brinquedo no Centro Cultural Roque Gameiro. Aderecista no filme para crianças “Zás Trás”. Criação de Decors para Vitrinismo. Colaborador de Escultura de 2005 no Centro Internacional de Escultura. Exposição coletiva de pintura e escultura no Ministério do Trabalho e Solidariedade Social. Exposição colectiva “Tightrope”, Cidadela de Cascais, 2008. Participação no concurso “Utopia 2” Artes Fantástica, 2010. Exposição coletiva de pintura e escultura “Arte Fantástica e Surrealismo 2”, Casa da Cultura de Mira Sintra, 2012. Exposição coletiva Círculo Artístico Artur Bual, Vila Alda, 2012. Exposição coletiva com Olga Alexandre, Biblioteca José Régio, 2012. Exposição de Escultura ao Ar Livre, Amadora, 2013. Exposição coletiva “Surrealism”, Casa Museu Roque Gameiro, 2013. Participação em feiras esculpindo ao vivo: Feira Medieval de Sintra em 2011 e 2012; Feira Setecentista de Queluz em 2011 e 2012; Feira de Arte Contemporânea em 2010 e 2011; Feira de Arte em Pequeno Form- ato na Casa Roque Gameiro; Feira de Artesanato da Junta de Freguesia de Venteira. Jorge Moreira, meu amigo e escultor, tem comigo em comum as raízes ensolaradas do sul, as origens árabes ou berberes dos nativos de Silves. Será, porventura, por isso que a sua obra se desdobra em notáveis arabescos, poéticos e singelos, que desafiam a aspereza dos materiais em notáveis e delicadas filigranas de ma- deira ou de pedra. O escultor, munido de uma paciência il- imitada, desbasta da pedra bruta, ou do tronco informe, num trabalho incansável de fabulosa e laboriosa formiga, a ganga inútil da matéria em excesso. É este o seu processo de trabalho criativo: uma im- agem oculta na mente, uma visão ideal que só tem existência na cabeça do ar- tista, que aos poucos toma forma e se desvela revelando-se paulatinamente ao nosso olhar. Eis, por fim, ao cabo de um tempo de duração indeterminada, a peça primor- osamente trabalhada, elegante no talhe, de acabamento delicado, na fragilidade da qual se entrelaçam flores e peixes e estrelas, frutos de um universo plástico que é feito da matéria dos sonhos. Obrigado, meu amigo, pela pertinácia do teu trabalho, pela tua criatividade poética, pela delicadeza da tua obra, pela humildade com que fazes do quotidiano uma pequena obra de arte. António Moreira Vereador da Cultura da Câmara Munici- pal da Amadora www.facebook.com/AkaArte 09
  • 12. MOVIMENTO, MUDANÇA E SUPERAÇÃO A vida é uma constante mutação. “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades” ou não? Quando andava na escola secundária e nas aulas de História a “stôra” nos pergunta- va como estavam as coisas no período em análise, independentemente de qual fosse a época em questão, tínhamos uma colega que respondia invariavelmente: — Mal, muito mal! E estava sempre correcto! (Hoje também o estaria.) Há 30 anos estávamos sob alçada do FMI… Hoje também estamos. Antigamente os nossos jovens partiam em busca de algo melhor… Hoje também. Nasci em França. Os meus pais partiram em busca daquilo que cá não conseguiam ter. Não conheciam a língua, nem tinham garantias de sucesso. Vingaram, cresceram e voltaram. Conseguiram dar-nos mais do que o que tiveram, e com isso fizemos mais e mais. Não se conformaram. Lutaram. Reclamar é sempre fácil, difícil é ser diferente Quem quiser pode ser dócil e seguir na mesma em frente… …mas se tiver ousadia de lutar contra os moinhos Sairá da monotonia e abrirá novos caminhos! Vivo no Porto. E vivo o Porto. O Porto é uma cidade linda. Passear na baixa e observar as fachadas lindíssimas que por cá proliferam é uma experiência única… Desçamos mentalmente a belíssima Avenida dos Aliados, passeemos na rua Mousinho da Silveira, na rua das Flores, na Ribeira…. Edifícios talhados em pedra, imponentes, majestosos, coexistem com estruturas simples e frágeis, de madeira e de saibro, cujos pórticos cheiram a bafio, devido à hu- midade e ao caruncho. Estes por sua vez, vivem lado a lado com novas construções, coloridas e garridas, recentes e diferentes… Cada época tem a sua arquitectura, as suas influências, acrescenta o seu contribu- to… É a junção de tudo isso que compõe a cidade, a sociedade, a humanidade! Ousemos mudar, e aportemos também o nosso grão de areia! Elisabete Gonçalves Luís Vaz de Camões, in “Sonetos” O Fundo Monetário Internacional interveio em Portugal pela primeira vez em 1977 quando Ramalho Eanes era Presidente da República e Mário Soares era primei- ro-ministro do primeiro Governo Constitucional, depois em 1983 e mais recente- mente em 2011 Elisabete Gonçalves Silva Autora do livro Percursos Impreci- sos, 2013, Lugar da Palavra, desco- briu na escola primária o gosto pela escrita, sendo as composições (ou redacções) os seus trabalhos de casa favoritos. Aos 12 apaixonou-se pelo Porto, onde vive desde então. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, conta também com um Master em Excelência Educativa como reforço das suas competências didácticas e de formação, função que desempenhou profissionalmente por diversas vezes, enquanto colabora- dora de uma das maiores empresas de telecomunicações portuguesa, cujos quadros integra. Define-se como apaixonada pela vida, pela família, pela cultura, pe- los animais e pela cidade do Porto, cidade belíssima que é parte inte- grante da sua identidade. Percursos Imprecisos Sinopse: Percurso Imprecisos conduz-nos pelo Porto, do Bonfim à Ribeira, com as tropelias habituais da ad- olescência e do primeiro namoro. Pode uma tragédia condicionar os eventos futuros de uma ou mais vidas? Carlos vive, cresce… As aven- turas sucedem-se, caminhos novos cruzam-se, amores surgem… Um livro a não perder! www.numdiaperfeito.com 10
  • 13. Olá!Ai, o u v e quero diz- er-te uma coisa importante. Gosto de ti, de uma manei- ra tão especial, aliás úni- ca, porque também és único. Amo-te desde o primeiro dia da tua vida, antes talvez já te amasse... não sei se se pode ser amado antes de se ser completo, mas talvez já te amasse um pouco antes de acordares para a consciência. Já te sentia. Único, para além de mim mesmo, legítimo, com sede e fome de tudo e eu com uma vontade indomável de te ajudar a viver e a ser completo, feliz. Com uma vontade incontornável de fazer também esse caminho conti- go, de aprender a ser feliz. Um dia de cada vez, de hora em hora, minuto a minuto, com o coração embalado pelos segundos. Vi- vos! É tão bom estar vivo. É tão bom sentir-te... Vida. O ontem já foi, o amanhã, para além de to- das as minhas previsões, não sei o que será, por isso é tão es- pecialmente bom es- tar Quis Deus que eu viesse ao Mundo humildemente traçado para servir, trabalhar e para sonhar. Falo de sonho porque nele encontro a origem de todas as Uto- pias, toda elas por definição idealizadas e irrealizáveis, e falo de servir e trabalhar, porque quem nelas acredita, com veemência, sobre elas funda novos mundos, em geral melhores que os an- teriores. Era também considerada Utopia a Igualdade, mas apesar das diferenças e atropelos a este Valor a que muitas das culturas contemporâneas não se inibem, nunca tantos estiveram tão próximos em matéria de género, interculturalidade e inclusão num Globo hoje um pouco mais democratizado. Tal como a felicidade, miragem para tantos e tão flagrante- mente utópica, nunca noutros tempos, que não o nosso, foi esta aspiração tão valorizada e considerada. Posso falar da Utopia como uma coisa sumamente boa? Posso... ainda há algumas que muito prezo e estimo, como são a paz, o fim da fome, o fim da doença, o fim da iliteracia, um sistema de saúde de qualidade acessível a todos, a justiça, o Planeta Terra ecologicamente reequilibrado... Abraçar ternamente a Utopia é também cuidar disto de sermos imperfeitos, de olhos postos no impossível, e de não pararmos de tentar, inovar, criar, lutar, falhar, voltar a tentar, falhar nova- mente, falhar melhor. Utopia é um pouco como a Visão, felizmente hoje tão bem im- plementada como valor para o crescimento das Organizações. Raramente estas se cumprem no modo e tempo esperados, mas se não tens uma, provavelmente é porque estás mal posi- cionado, e quando não se vê para onde se anda, também é difícil encontrar caminho… Nuno Quaresma Novembro de 2011 www.facebook.com/AkaArte 11
  • 14. CARCERI a) Introdução Carceri d’Invenzione… Prisões de invenção, prisões inventadas, imaginadas… Antes mesmo de iniciar uma pesquisa sobre a história pessoal, da construção da obra ou até do contexto em que ocorreu a sua produção, recordo sobretudo o primeiro impacto, a primeira impressão que me ficou marcada na memória. Apesar de ser uma obra descoberta por sugestão directa da Professora Jacs Aorsa, contextualizada no briefing geral para este trabalho para a disciplina de História e Práticas do Desen- ho, o que guardo como ânimo e mote para esta reflexão é esta impressão sentida, investida da curiosidade dos primeiros en- contros. O que me fica sobre este conjunto extraordinário de 30 placas de gravura, que me deixou uma forte sensação de presença no Imaginário de Piranesi, e que são justamente intituladas “Car- ceri d’Invenzione”, é a impressão de estar a entrar num espaço de intimidade. Esse espaço rico e único a qual raramente se tem acesso, tor- nou-se no móbil para todo o processo criativo, técnico e tec- nológico e a seguir, e em função do briefing dado, estruturei. Já em pesquisa descobri que efectivamente, este trabalho é contextualizado numa “magnífica junção da fantasia veneziana com a monumentalidade romana ” muito dentro da tradição e maneira de Tiépolo, nomeadamente na luz e nos volumes. Pus-me a somar: Invenção… Imaginação… História pessoal/construção da identidade… Espaço de intimidade… Fantasias… Monumentalidade vs. volume… Juntamente com um projecto pessoal relacionado com a banda desenhada e a ilustração, onde ando à procura de um estilo, de uma maior classicidade e profundidade na construção simbóli- ca e estética das personagens. Foi assim que me surgiu a ideia original para esta ilustração que servirá um episódio que descreve um sonho de Nia, per- sonagem central da história “O Mundo de Shido”, junto de uma narrativa visual que decorre num cenário onde faço uma colagem de três gravuras diferentes (Fig. 02, 03 e 04) da série “Carceri d´Invenzione”. Por achar pertinente fiz ainda uma homenagem à “Batalha de Anghiari” de Leonardo da Vinci, numa luta encenada, com enfoque na descrição de emoções, através do desenho e com uma referência velada aos exemplos de deformação caricatural no trabalho de Leonardo, mas também de Hogarth, Goya ou Daumier. Por outro lado, como matriz global de planeamento de todo o desenho optei por fazer um investimento de tempo na con- strução de uma composição definida essencialmente por uma divisão do plano em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar mestre e organizando os elementos da parte inferior do enquadramento global na circunscrição de um triângulo e pelo alinhamento dos outros elementos segundo linhas diagonais para dar enfâse à ilusão da acção e do movimento. O trabalho que aqui descrevo, e que é o “lugar” em que procuro a consolidação da obra final, divide-se em cinco sinopses: b1 – Piranesi e os “Carceri d´invenzione; b2 – A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo; b3 – Estudo do enquadramento e composição; técnica de etch- ing e da trama (cross etching). b4 – Conclusão b) Desenvolvimento 1. Piranesi e os «Carceri d’Invenzione» Esta obra é inquestionavelmente uma das obras mais ampla- mente difundidas e abordadas de Piranesi e talvez uma das mais «sui generis» na evocação à tradição literária da sua época, ao hermetismo, às fontes e à estética do Sublime. Foram publicadas pela primeira vez em 1745, com o título « Invenzione Capric di Carceri), impressas por Giovanni Bouchard e reeditadas em 1760 como «Carceri d’Invenzione», sofrendo ligeiras alterações e acrescidas de mais duas gravuras. Entre a primeira e a segunda tiragem, podem constatar-se algu- mas das alterações de estilo que espelham o desenvolvimento da obra de Piranesi. Aqui, podemos identificar a influência da tradição veneziana (das «Caprici» e da fantasia) e romana dos autores da época, sobretudo na «maniera» de Tiepolo (como por exemplo, no tratamento das luzes e da volumetria) que na sua obra atinge o seu auge a partir de 1755 (como nota de contexto: ano do Grande Terramoto que devastou Lisboa). Com um trabalho mais complexo , rico e intrincado, nesta fase é possível perceber o horror ao vazio que faz perder a clareza das obras, dentro de uma composição balizada e ordenada pela utilização recursiva da «scena per angolo», frequente nas tip- ologias cenográficas, teatrais, utilizadas por Bibiena, Valeriani, Marco Ricci ou Juvarra. Destas influências, distingue-se a de Juvarra na referência Neo Quinhentista, Utópica e Anti Clássica. Na sua obra são ainda distintivos aspectos como a censura à «Cidade Barroca», mas em simultâneo à tradicional antinomia da Roma antiga e também ao organicismo, distorção da per- spectiva (comum na Cenografia Tardo Barroca), composição assente em planimetrias, interligações de supra estruturas, libertação da forma, perda de valor do centro compositivo, a www.numdiaperfeito.com 12
  • 15. metamorfose das formas (que muito explorei nesta minha in- terpretação pessoal), desarticulação, distorção e o espaço rep- resentado segundo o ideal Humanista. Todo este processo formal conduz o espectador a uma per- cepção psicológica e estética que muito me interessou e que autores como Edmund Burke, entre outros, categorizam como «Sublime». Um Sublime que pretere a perfeição e a clareza da estética pelo valor dos conteúdos emotivos, colocando o re- curso da imaginação também nas mãos do espectador que é obrigado a desconstruir e a voltar a construir a imagem nas suas múltiplas dimensões. Indo beber a toda esta percepção e abordagem na «maniera» própria de Piranesi, intitulei a obra como «Sonho de Nia». Ou seja, sonhar na perspectiva e ideia comum na época do «Homem como actor impotente, num teatro que já não é o seu» combinado com o fascínio pelos cárceres com o seu sig- nificado simbólico de prisões da mente (como em Coleridge ou Thomas De Quincer) acessíveis sobretudo através do onírico. 2. A Batalha de Anghiari e a homenagem à obra de Leonardo A escolha pela opção de dulpa homenagem neste exercício, sur- giu-me na sequência de toda a leitura por uma óptica emotiva, das «Carceri d’Invenzione» de Piranesi. Uma das muitas reflexões que esta série de gravura me convo- cou foi a abordagem, por assim dizer, sublime das 5 Emoções hoje descritas, para além dos múltiplos Sentimentos, como Emoções Básicas: o Medo, a Raiva, a Tristeza, a Alegria e o Amor. O paralelismo, apesar de numa abordagem bastante diferente, com o trabalho sobre expressões e emoções na obra de Leon- ardo pareceu-me possível e pertinente e como na minha liber- dade interpretativa já tinha introduzido na minha composição inicial alguns elementos figurativos, escolhi então dar ênfase a esta leitura com um tributo à « Batalha de Anghiari» e à sua dinâmica compositiva e expressiva. «A Batalha de Anghiari» não é mais do que um grupo mon- umental de soldados a cavalo numa imagem condensada e intemporal do furor bélico que achei que poderia ser um ex- celente contraponto, irreverente e antagónico, à ideia de im- potência gerada pelo ambiente global das «Carceri»- Prisões. Um novo conjunto figurativo e evocativo de uma luta interior, no contexto de uma «Carceri» de onde não há salvação, senão na força e liberdade da «vontade da alma humana». Para melhor contextualizar « A Batalha de Anghiari», este estu- do inicial em cartão e fresco inacabado, surge na obra de Leon- ardo por solicitação da cidade de Florença, com a finalidade de decorar, na técnica do «fresco» a Sala de Conselho do Palazzo Vecchio. O seu tema central é a vitória florentina sobre o exér- cito milanês. A pintura nunca foi finalizada, tendo ficado como espólio pro- duzido apenas um cartão em tamanho natural (à escala) que sobreviveu mais de um século após a sua produção, período em que gozou de uma enorme fama. Hoje, apenas o conhecemos através de cópias de Artistas poste- riores a Leonardo, em particular na cópia segundo o original, re- alizada por Peter Paul Rubens em 1605 e actualmente patente no Museu do Louvre, em Paris. 3. Estudo do enquadramento e composição; técnica de etch- ing e da trama (cross etching) A primeira abordagem que fiz a este exercício foi efectivamente, e numa tradição talvez mais pictórica, a abordagem segundo www.facebook.com/AkaArte 13
  • 16. uma colagem idealizada num enquadramento que julguei co- erente com o conjunto global das gravuras de Piranesi, sobre o qual construi uma composição (e repito) definida essencial- mente por uma divisão do plano em dois sub-planos verticais, utilizando um pilar mestre e organizando os elementos da parte inferior do enquadramento global na circunscrição de um triân- gulo e pelo alinhamento. Só então comecei a fazer um trabalho de trama e trama cruzada, enquanto fazia uma leitura prática e simulada da técnica designada por «Etching» em Gravura e que passo a descrever: Origem | contexto históricos e descrição: A técnica química de gravura foi desenvolvida na idade média por artesãos, fabricantes de armaduras, árabes como uma for- ma de aplicação na decoração para armas. Floresceu no século XV, no sul da Alemanha, onde as primeiras impressões gravadas em papel foram impressas no final do século. Durante as primeiras décadas do século XVII, artistas holandeses como Van de Velde, Jan van de Velde II e Willem Buytewech experimentaram esta técnica. Eles estavam à procura de criar um efeito atmosférico na suas paisagens impressas, e na tenta- tiva conseguiram desenvolver um método que rompia com as linhas de contorno longas transformando-as em curtos traços e pontos. Hercules Segers por sua vez, experimentou esta transformação e adaptação por um motivo diferente: a necessidade de criar um efeito pictórico na impressão em papel colorido ou tela, tra- balhando-as posteriormente com um pincel de cor, tornando assim cada impressão numa peça única. Rembrandt levou a técnica ao extremo, superando todos os seus antecessores. Nas suas mãos, a gravura tornou-se um meio pleno e maduro de que se ocupou em períodos longos para o resto da sua vida. A técnica que utilizei neste desenho referente a Piranesi filia-se muito no exemplo de Rembrandt que, por conhecer melhor, reconheço ter tido grande influência na abordagem pessoal e estilística que escolhi. As Gravuras são impressões, normalmente em papel, de de- senhos ou modelos construídos pelos artistas, em suportes di- versos, com recurso às técnicas do desenho, pintura ou corte. Estes suportes podem se um bloco de madeira, uma placa de metal ou uma tela de seda. Em Piranesi (assim como em Rembrandt) o suporte é uma chapa fina de cobre. Esta é então coberta com uma mistura re- sistente aos ácidos conhecida como base de gravura, composta de betume judaico, resina e cera. Nesse revestimento fino é então produzido o desenho directa- mente com uma agulha de gravura, que penetra esta fina pelíc- ula deixando exposta, nestas ranhuras, a placa de cobre. A placa é colocada, em seguida, num banho de ácido diluído. As partes expostas, que deixaram de estar protegidas contra o ácido pela base de gravura, ficam gravadas, em sulcos criados na superfície do metal. Quanto mais tempo a placa é deixada no banho, mais profun- dos esses sulcos se tornam. Posteriormente esta base de gravura é removida e a placa limpa e finalizada com uma almofada de tinta ou com um rolo. Ela é então limpa manualmente para que a placa fique inteira- mente despojada de tinta, à excepção dos sulcos. O passo seguinte é a fixação de uma folha de papel húmida na chapa seguindo-se a compressão de ambos através de rolos de imprensa. O papel absorve assim a tinta dos sulcos, produzin- do-se uma impressão invertida do design realizado na chapa. O desenho que aqui realizei com esta abordagem técnica e tecnológica sempre em perspectiva, manteve a fidelidade ao princípio de execução que norteia esta modalidade de criação artística e deixou-me efectivamente curioso e interessado na prossecução de uma experiência em placa que penso que me poderia esclarecer alguns outros efeitos que pude observar nas reproduções mas que de alguma forma não soube reproduzir através do uso da trama 4. Conclusão «Cerca Trova» Detalhe no topo do fresco da «Batalha de Marciano» de Giorgio Vasari, 1563 (pintado sobre o fresco original de Leonardo, «a Batalha de Anghiari») «Só quem procura, encontrará», Evangelho Depois de algumas semanas de trabalho, pesquisa e justifi- cação, sem me alargar noutras conclusões senão a mais humil- de e verdadeira a que consegui chegar: « Só quem procura, poderá encontrar» A asserção é, de longe, pouco pacífica. Pablo Picasso afirmava por exemplo «Eu não procuro, encontro» e quantos não são os que em todas as áreas do Saber se encontraram fortuitamente, por obra da sorte ou destino, com as soluções que nem sabiam procurar. Contudo, e seguindo o raciocínio de Vasari, «Cerca Trova», no desenho efectivamente as coisas funcionam assim. O Desenho é uma das grandes formas e instrumentos do pen- sar.É um pensar com o corpo, com a mão, com o olhar. Nesta obra que decidi intitular como «o Sonho de Nia» confesso que pela primeira vez, circunstancialmente, procurei conhecer Giovanni Batista Piranesi. Não sei se o encontrei completa- mente, mas confesso que senti como nunca a inquietação que as raras preciosidades despertam... um não conseguir ou saber ficar indiferente ao apelo daquele mundo vagamente mimético. ... Mas em simultâneo hermético, magnético, misterioso e ao mesmo tempo, familiar... Humano... Cerca Trova! Nuno Quaresma Janeiro de 2012 Nuno Quaresma (1975, Lisboa) Artista Plástico, Ilustrador, Designer (Fundação Salesianos), Ed- ucador pela Arte (Fundação afid Diferença entre 1998 e 2010, Oficinas de S. José entre 2010 e 2012 e POP- Projeto Oficina de Pintura ainda em funcionamento) com Projeto de Empreende- dorismo Social e Artístico filiado no grupo de Autores “AKA Arte” e no Coletivo de Artesãos intitulado “Tailored”. Vogal Suplente para o Conselho Fiscal da ANACED- Associação Nacional de Arte e Criatividade de e para Pessoas com Deficiên- cia com uma participação voluntária e não remunerada na con- strução de um Projeto Social e Cultural que há mais de 20 anos que cuida, respeita e defende Autores com Necessidades Espe- ciais e a sua Obra no contexto da Cultura e auto representação cívica e social. - Menção Honrosa em Pintura, “Prémio Professor Reynaldo dos Santos- Arte Jovem – 1997” - Menção Honrosa em Pintura, “Prémio de Pintura e Escultura- D. Fernando II – 6ª edição- 2002” - Menção Honrosa em Pintura, “Prémio de Pintura e Escultura – Artur Bual, 3ª edição – 2007” Web: www.behance.net/NunoQuaresma pt.linkedin.com/in/nunoquaresma www.numdiaperfeito.com 14
  • 17. UM COMBOIO CHAMADO DESEJO Um comboio chamado desejo ou o Amor também se encontra a 120km por hora é diferente da versão que provavelmente con- heces – “ Um elétrico chamado Desejo”- A Streetcar Named Desire, de Elia Kazan com Marlon Brando e Vivien Leigh, de 1951. Nesta minha, improvisada entre as escalas dos autocarros frente aos Prazeres (onde curiosamente passam muitos elétri- cos :), oscila entre a profundidade e a superficialidade, entre o Amor, o verdadeiro, e a lascívia… entre o importante e o rela- tivizável. Não tenciono extrair daqui generalizações ou fórmulas. Falo disto porque é a verdade. Já me aconteceu; encontrar o amor a 120km hora. A esta velocidade, se espirras, andas aproximadamente 30 met- ros com os olhos fechados, entregue ao destino, sem consciên- cia ou controle sobre o que se passa em frente dos teus olhos. São 30 metros às escuras. Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé numa furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e chei- ro. E de repente, bater na água com força, tocar com os pés na areia e abrir os olhos para uma superfície em efervescência. Encontrar o amor assim deixa marca, entre a dor e o prazer, e pouco tempo ou espaço para escolhas. Num amor encontrado assim, há um misto de religiosidade e trauma. É um acontecimento à escala planetária, como uma colisão, na força da trajetória, entre Vénus e Marte. Contudo, se aprecias as viagens de comboio, sabes que esta ve- www.facebook.com/AkaArte 15
  • 18. locidade desenfreada é sentida num estado de relativa imobilidade. Vive-se, aliás, viaja-se no maior dos confortos e tranquilidade mas, infelizmente, tristemente… sós. Quando damos conta, neste comboio chamado desejo, quando acordas da torpeza desse sono de viajante, estás apenas só. Olha! Parece que estou a chegar à estação! Espreito pela janela e vejo as paredes azuis de uma luz mesclada que só conheço de Lisboa. Mais um bocadinho e estou à tua porta! Por essa estrada, nessa rua, à tua porta… Viajo num comboio chamado Desejo mas tu és a minha Casa… “ Procurar amar a 120 Km hora é como dar um salto de fé numa furna escura de onde o mar se percebe apenas a sua voz e cheiro. E de repente, bater na água com força, tocar com os pés na areia e abrir os olhos para uma superfície em efervescência.” www.numdiaperfeito.com 16
  • 19. Desenhar como quem respira, natural- mente ou compulsivamente, é para mui- tos uma função orgânica. A própria fisionomia e fisiologia concor- rem para esta atividade regular do Corpo, da Mão, da Mente, na sua relação com o Mundo e com o Próximo. Eu pessoalmente sou um apologista do respeito pela Diferença, num mundo de Iguais. Acolho a normalização apenas na medida da sua pertinência e utilidade no serviço à Justiça, Liberdades e Igualdade. Nas coisas grandes entendo realmente o val- or da norma. Um farol para quem navega à vista. Tudo o resto aprecio fora dos intevalos estritos das normas, cânones, regras... Fascina-me o que é feito à medida de cada um, com os cuidados e mimos que cada Corpo e Mente precisam. TAILORED FOR… FEITO À MEDIDA DE… Olha para trás… Olha lá! Quando era gaiato, distraído, a navegar na gôndola dos meus sonhos, gotas, se- mentes, ensaiava o ofício de hoje sem me lembrar sequer de olhar para o lado. Era ali e naquele momento, como é hoje, aqui e agora: o poder da Criatividade! Não olho muito para trás; as vezes necessárias. Olho para a frente, para o horizonte, para os pés, para ver a medida a que estou do chão, e penso no quê, como nunca, com uma hora de atraso… e à minha volta, Encanta-me a simpatia de quem conseg- ue realmente olhar para dentro da pes- soa que está à sua frente... Comove-me quem o faz com o respeito e reverência de quem contempla o sagra- do, e a coragem da empatia de se colocar no seu lugar. Encantam-me as Costureiras e Alfaiates :) Os “Tailored” são feitos para Mulheres e Homens assim. Os blocos de desenhos são extensões do seu corpo; há que construir sketchbooks que se ajustem personalizadamente, como luvas, jeans, sapatos, jaquetas ou outros acessórios assim. O Tailored é feito à mão, todo cosidinho, só para ti! É diferente nas medidas, técnicas, por vezes no construtor. A norma é a predileção pela reciclagem, a qualidade e resistência do papel, capa quando regresso, não se vê já ninguém na rua. Tailored é fazer à hora certa, na medida certa, a contemplar tudo o que está à volta. Tailored é cozer os retalhos soltos, os desejos que ficaram por cumprir… Tailored é trabalho individual, trabalho coletivo, é uma construção feita de soli- dariedade, colegialidade, amizade!... até conjugabilidade :) Tailored é Crença no Mundo e nos Out- ros! Produzimos cadernos tipo “sketchbook”, cozidos à mão, personalizados, feitos à medida e para durar. e costuras e a garantia de que terás um caderno para a vida. “Lifetime Sketchbooks”! Para Artistas a Sério ;) “há que construir sketchbooks que se ajustem personal- izadamente, como luvas, jeans, sapa- tos, jaquetas” Mas todas as outras modalidades de criação artística e cultural são bom mote para a transgressão, transcendência, ir- reverência. O nosso negócio é a construção de cad- ernos de excelência, mas não hesites em contatar-nos para ilustração, design, micro &social branding e organização de eventos e mostras em Artes Plásticas. Fazê-mo-lo com gosto!... “tailored for you!” www.facebook.com/AkaArte 17
  • 20. O que pode um homem simples dizer ou fazer no Mundo agora? Não sou, à semelhança da maioria dos homens e mulheres dos nossos tempos, especialista em economia ou finanças, mas como comum entre comuns sin- to hoje mais desconfiança e receio em relação ao futuro. Pelo menos em relação a este futuro, a dois tempos, em que alguns enriquecem e muitos empobrecem. Não penso assim por despotismo. Passo a vida a desejar o melhor para quem o procura, para quem luta por mais e melhor. Alegra-me a visão da abundância no re- gaço de quem for. Celebro a fertilidade por si só e regalo os olhos quando vejo a Terra cheia de tudo e do bom. Por isso não consigo deixar de indagar porque é que neste Mundo onde há excesso e abundância de tudo, vemos fome, desemprego, doença, desproteção na saúde e na velhice? Porque pagam os homens e as mulheres do nosso tempo os caprichos da doutrina do Capitalismo desenfreado? Porque malha o peso da quimera do lu- cro pelo lucro sobre a única procura que deveria nortear o Homem: a construção do Humano? Porque permitimos nós, comunidades de Gente, que outros mais cegos ou febris pela abundância, nos enterrem e es- maguem pela sua ganância, obsessão e controlo? E quem regula este capital que nos reg- ula? A quem pertence a responsabilidade de lutar, nas formas pacíficas que a re- sponsabilidade também obriga, contra esta falta de empatia, piedade, racional- idade? Quem tapa a boca a esta criatura voraz? Hoje pinto para lhe tapar a boca. Amanhã, quando tiver um negócio, serei íntegro, justo e regulado para lhe tapar a boca. Amanhã, talvez lhe dê com um pau, bem me apetecia… só para que a sua goela míngue e o seu apetite se mitigue… sem que lhe não falte pão para a boca. N.Q. “ E quem regula este capital que nos regula?” www.numdiaperfeito.com 18
  • 22. SERVE PARA QUÊ? “Se, por um lado, os poderes do homem, o animal sábio, nos enchem de admiração, por outro lado, não podemos deixar de nos espantar com a lentidão da sua aprendizagem. E o maior de todos os obstáculos a essa aprendizagem é a quantidade de aprendizagem acumulada que com as suas ilusões de conheci- mento ele foi juntado” In “os Pensadores” – capítulo 21 – “Francis Bacon e a visão dos velhos ídolos e dos novos domínios”, de Daniel J. Boorstin. Sinto-me assim, num novo renascimento da consciência de que o que “sei” atrapalha mais o que” desejo saber”, e que não pos- so escapar dessa condição animal, orgânica, que me liga ao Real e às Coisas. Sou um homem e sinto, comovo-me, amo, odeio, alegro-me, zango-me, sinto prazer, dor, desconforto, comichão, cócegas. Não sou apenas este corpo, em transformação, em constante recursão, reconstrução autopoiética, mas dele dependo para a perceção e interação com o que me rodeia. Pois o que me acontece é que após 40 anos de acumulação de informação, no meio de tanta sensação, intuição e emoção, já é com dificuldade que me consigo posicionar para ver com clariv- idência o Universo à minha volta. Quem sou, de onde venho, para onde vou? Aliás, já me custa até pensar nestas questões do de onde vimos, para onde vamos, quem somos. Em verdade, as questões já nem me aparecem como “porquês” mas antes como um simples “para que serve?” Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciência? Hoje, no meio de uma tarde prazenteira, ensolarada, brinco no jardim com os meus Filhos e só amiúde me distraio, das suas gargalhadas e tropelias, pela brisa temperada que me passa pe- los cabelos. É um estado de graça que agradeço a Deus, aos Deuses, ao Cos- mos. Por cima de mim navegam nuvens enormes, voluptuosas, num lento vórtice que me dá a sensação que é antes a Terra que se move. E o azul enche-me. E a sua luz enche os meus Filhos de Sol, e nos seus sorrisos sinto saúde, vejo o Amor e as promessas do futuro. Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciência? O meu Pai tem andado doente, o pecúnio que recebo pela minha prestação no trabalho não me chega para pagar as con- tas e o desemprego ameaça ou afeta metade dos meus Amigos. O tempo míngua de tal forma que já quase não consigo pintar. E o Mundo ainda está cheio de fome, doença, injustiça e guerra. Para que servem afinal o Saber, a Sabedoria e a Consciência? Paro. Paro por um bocado. Olho para todo este fluxo imparável, incomensurável de infor- mação que se me atravessa pela frente e procuro despertar. Acordo e paro e fico só atento, a olhar, a ouvir, a sentir, a chei- rar… Paro e despojo-me das vestes, andrajos, com que me tenho en- feitado… Servem a minha liberdade, serve a liberdade dos meus Meni- nos. Servem o meu desejo de viver. Servem a minha felicidade. Servem a minha ligação ao Real, ao Mundo e ao Outro, sem subversões ou subjugação. Servem-me de coragem para esvaziar o copo quando é preci- so, para abrir as janelas da mente, para que a alma se me não cristalize ou coagule, não pare nem no tempo nem no espaço. Ao mesmo tempo, não servem para nada… por isso as procuro, as escolho. NQ, Abril 2014 www.numdiaperfeito.com 20
  • 23. 15 CÊNTIMOS Três moedas pretas e finas dentro da minha carteira furada; será a sua côr um eufemismo para o seu valor, ou tento ig- norar que não terei hipótese neste mundo tão irreal quanto desigual? Votado ao insucesso, não apanharei boleia de avião algum; não verei terras distantes, não comprarei um gelado, nem oferecerei rosas. Sou moldado pelo silêncio numa caminhada sem destino; um movimento de sobrevivência apenas aparentemente ar- ticulado. A vida colorida e criativa escorre-me pelos poros, mas o Mundo só quer ver suor e sangue. Pegarei então nas minhas lágrimas e com elas encherei um oceano; arrancarei as minhas veias e com elas farei fortes cordas; a minha pele servirá de graciosas velas e com os meus ossos construirei um robusto navio. Poderei ser destino e justificação, capitão sem tripulação, mas nunca serei rapaz sem coração. Zarparei em direcção ao Sol, esse que a todos ilumina por igual, sem distinção de côr, forma, destino. Aqui, não encontro nada para mim, a não ser um mundo de trocas, de interacções desequilibradas. Por lhe sermos pertença, nada podemos dar ao nosso criador; esse não de- verá contudo ser motivo de impedimento para questionar, imaginar, criar. Entretenham-se nas vossas danças desenfreadas, nestes corpos que nos escapam a todos, enquanto embarcarei na penumbra da noite; escrevo o meu nome na campa da minha finitude com a minha vivência. Hugo Alexandre, Setembro de 2014 PARA ONDE Distribuíram-se os sonhos em classes: afinal, haveria a ne- cessidade de haver uns mais iguais que outros. Assim, uns construiriam castelos, carregando as pedras uma a uma; out- ros esperariam na janela por notícias, envoltos em delicadas sedas. Para desastre dos homens de paixões, as mulheres mais bonitas nem sempre se encontrariam nas torres; objectos brilhantes toldariam a sua razão, a geografia à sua nascença destinaria as suas probabilidades e estariam amaldiçoados a acreditar que o seu Deus deveria ser o único a tudo explicar, logo a existir. A propriedade raras vezes estaria associada à sensatez; ter é querer manter e expandir. Sabendo que o tempo é um bem não recuperável só uma estirpe gastará tempo em tal cam- panha: chamar-lhe-à investimento e nomear-se-à “líder”. O poder disfarça-se então de autoridade que tudo tenta controlar mas que nada se esforça por intimamente com- preender. Vidas ao serviço da moeda e da coroa: oportuni- dades desperdiçadas, estilhaços de sensatez; os tolos batem palmas enquanto aguardam por migalhas. As fronteiras já não requerem espadas, agora usam-se can- etas. As igualdades ilusórias amenizam as lutas internas; a posse paradoxalmente serena as externas. Quem revolucionará o mundo, confortável em sofás de ce- tim? Hugo Alexandre, Setembro de 2014 www.facebook.com/AkaArte 21
  • 24. MOVIMENTO MUDANÇA Há quem diga que Sucesso é Movimien- to, há quem diga que motivação é mov- imento... E a sociedade mostra que os Movimen- tos Artísticos influenciam directa ou indi- rectamente as mudanças Culturais. Na vida todo movimento já seja fisico, social, espiritual, em grupo ou individ- ual leva com ele as mudanças internas e externas de forma que todos pos- samos transformar o cansaço em En- ergia, parece tão simples verdade?!... mas sabemos que para que movimento e mudança aconteçam em equilíbrio e evolução temos que actuar com per- sistência, com empreendedorismo e faz- er da inovação a mudança vital para uma melhor visão de futuro. Gostava de reflectir um pouco sobre os principais movimentos artísticos do Século XVIII até ao Século XXI, cheios de contradições e complexidades. É possível encontrar um caminho para a criação de novos conceitos no campo das artes, por isso em algumas culturas, o desenvolver da educação pela Arte parece ser o mo- tor da mudança interna no que se refere ao nosso sentir e a criar símbolos fortes que ajudam a flexibilizar a rigidez de al- gumas escolas tradicionais. Símbolos fortes como a sensibilidade, cooperação e o prazer de trabalhar em equipa. Sabemos que os movimentos e as mu- danças, “tendências artísticas”, tais como o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubis- mo, o Movimento Barroco, o Renascent- ismo , o Futurismo, o Abstracionismo, o Dadaísmo, o Surrealismo, a Op-art e a Pop-art expressam, de um modo ou de outro, a perplexidade do homem con- temporâneo, a cultura pop também na música como na dança mostram o seu movimiento buscando expressar o mun- do do inconsciente a partir dos sonhos e desejos de liberdade, e de auto-afir- mação..... Auto-afirmação de quê?!! Interessante foi o ano em que surge o Expressionismo ele aparece como uma reação ao Impressionismo, foi um ano de mudanças positivas, pois no primei- ro, a preocupação está em expressar emoções humanas, transparecendo linhas e cores vibrantes os sentim e angústias do homem moder quanto que no Impressionism que resumia-se na busca pe de luz e sombra, “passamo ilustração das emoções.” O movimento Barroc na Itália, no final d do século XVIII a origem portugue preciosa impe tos irregulares. Uma das ideias do fenómeno do Barroco era de fazer a junção dos dois elementos, fé e ciência. O primeiro, resgatado pela contrarreforma e o segundo se expandia com a modernidade. A partir disso, sur- giu uma vertente encontrada no Barroco, que era o fusionismo. O Barroco teve grandes influências na arquitetura de alguns dos países da Europa e também da América Latina. As construções não costumam seguir padrões geométricos, muito menos simétricos. O escritor bra- sileiro, Paulo Coelho, publicou um livro, “O Diário de um Mago”, onde nos conta da influência da época Barroca. Os Renascentistas baseavam-se em con- ceitos filosóficos e antropológicos. O Humanismo é um dos segmentos do Re- nascimento e trabalha com o uso total da razão por meio de experimentos. Com o desenvolvimento do Renasci- mento, as características mudaram, a espiritualidade foi deixada de lado e abriu-se caminho para um sentimento otimista, que desfruta do mundo mate- rial. Começaram a observar a vida como um ciclo e a acreditar que o homem não tem o controle sobre suas emoções, mui- to menos sobre seu tempo de vida. Curi- osamente em Portugal o renascentismo teve pouca influência, talvez esta au ência tenha contribuído para um me otimisto sentido na sociedade port sa?! ano 1908, constituído em Montmartre (Rue Ravignon 13), onde viviam Picasso, Max Jacob e Juan Gris. O grupo Bateau Lavoir organizou uma homenagem ao Rousseau, durante a comemoração Pi- casso em tom de muito entusiamso dis- se: “Você e eu somos os pintores actuais. Eu em estilo moderno, e você em estilo egipcio.” Psicoterapeuta, Formadora, Organização, Moderação e Concretização do 1º Con- gresso Internacional de Anorexia e Bu- limia, em Portugal : http://ciab.institutotaniaestrada.pt http://www.institutotaniaestrada.pt Especialidade de Anorexia e Bulimia. Es- tudos de investigação do metabolismo da Seratonina nos casos de Anorexia e Bulimia. Estudos de desenvolvimento do Teste de Rorschach no Síndrome de Bran- ca de Neve. Coordenação Pedagógica. O Instituto Tania Estrada, tem dinam- izado várias especialidades na área da Saúde Pública e Privada, promovendo o conceito “Ser Técnico da Saúde” e “Ser Pessoa”. É uma forma de marcar a dif- erença encontrando um brilho pessoal, com resultados positivos na proximi- dade com Utentes e Clientes. Construir a auto-estima na Investigação da Saúde Mental dos casos de Anorexia, Bulimia e outras doenças do Comportamento alimentar e assim expandir a noção das suas próprias possibilidades. Prêmio de Estudo Científico Dr.ª Sandra Torres, Prêmio Jornalistico- Teresa Botel- heiro- Reencontro no Espelho. Capacitación y Desarrollo Profesional, Educación por el arte, Capacitación y De- sarrollo Profesional, Pedagoga, Forma- dora de Gestão de Recursos Humanos, Consultora Independente, Gestão de Talentos e Recursos, Gestão de Carrei- ras, Professora de Investigação de temas como Anorexia e Bulimia (Universidade Lusófona), Recursos Humanos em diver- sas organizações nacionais e internacio- nais. www.numdiaperfeito.com 22
  • 25. - as o em mentos rno. En- mo, o enfo- ela sensação os da técnica à ” co teve seu início do século XVI, início palavra “barroco”, de esa, significa uma pedra erfeita, com os seus forma- o us- enor tugue- Senti no Cubismo uma despreocupação em representar realisticamente as for- mas de um objeto, porém aqui,a in- tenção era representar um mesmo ob- jeto visto de vários ângulos num único plano. Com o tempo, o Cubismo evoluiu em dois grandes movimentos e mu- danças chamados Cubismo Analítico e Cubismo Sintético. Podemos dizer que o cubismo nasceu como um movimento no o Cubismo analítico (1908-1911) – desen- volvido por Picasso e Braque: Seu es- tilo era a utilização de poucas cores, a definição de um tema apresentado em todos os ângulos. A Perda da realidade, sendo impossível reconhecer as figuras. Cubismo sintético: Fugia dessa perda de realidade, mas procurava retratá-la de várias formas. Foi chamado, também, de colagem, porque eles colocavam tudo o que podiam, como letras, números, vi- dros, etc., com o intuito de criar novos efeitos e despertar a atenção. O abstracionismo é a arte que se opõe à arte figurativa ou objetiva. A principal característica da pintura abstrata é a ausência de relação imediata entre suas formas e cores e as formas e cores de um ser. A pintura abstrata é uma mani- festação artística que despreza complet- amente a simples cópia das formas natu- rais, interessante como este movimento pode influenciar estilos e influenciadores no mundo das artes, e a forma de ver nosso talento. No impressionismo, estilo marcado por cores fortes e brilhantes, texturas e linhas harmónicas, prevalecem as pais- agens, os grupos de pessoas e as formas humanas. Neste movimento aparece uma mudança no talento e na paixão no que refere “motivação dos Artistas”. Os estudos de Freud sobre psicanalismo e a política mostravam a complexidade da sociedade moderna. Em crítica à cul- tura europeia, surgiram: O Futurismo: O futurismo é um estilo influenciado pelo movimento literário Manifesto Furista, criado por Filippo Tommaso Marinetti, em 1909 um poeta e escritor italiano que sugeriu às pinturas a velocidade das máquinas e a exaltação do futuro para os pintores desse esti- lo, os artistas não tinham essa visão de futuro! INTERESSANTE! Os estudos de Freud sobre psicanalismo em Cultura política mostravam a complexidade da sociedade moderna. Em crítica à cultura europeia surge a Pintura Metafísica – uma pintura que mostrava a falta de sentido da sociedade contemporânea: mistério, luzes, obje- tos, sombras e cores intrigantes tinha como principal artista, Giorgio De Chirico (1888-1979), um pintor italiano, com suas obras “O Enigma da Chegada” e “O Regresso do Poeta”. Outros Movimentos do Século XXI Curiosidades : O steampunk (subgénero daficçãocientíficaquetratadeevoluções tecnológicas que acontecem em épocas anteriores às que ocorreram na reali- dade) também tem sua parcela de arte única. O idealismo steampunk usa o con- ceito de ressuscitar tecnologias antigas, aqui vejo claramente o conceito do Criativo é contrariar o banal. Este movi- mento o steampunk fez que meu pensa- mento viajasse a minhas leituras de cri- ança da obras de Júlio Verne. A Educação pela Arte, é para mim um movimento transformador com mu- danças positivas na educação e Cultura do País, como estamos vendo acconte- cer no movimento Eco-Art. O mesmo reúne obras sobre ecologia e preservação da natureza, buscando as linhas de aproximação entre Arte e Meio Ambiente. Nos processos de Mudanças em que muitas instituiçõees do Brasil hoje se vêem envolvidas, têm já por base a capacidade de realizar o Movimento da Pedagogia do Desejo. Desejo que Portu- gal caminhe no Desejo de algumas Mu- danças na conquista de novas atitudes, onde figure a Partilha a Dois, as boas Perguntas, o Questionar, a Cultura da Responsabilidade, a Sensibilidade para olhar para o nosso lado, a autoconfiança de que fazemos nosso melhor sem com- parações. O movimento de Educação pela Arte é a verdadeira transformação do sentir actual, em que cada um de nos possa converter o Cansanço em Energia pelo prazer das coisas boas que fazemos. Diferentemente do que pensamos: “Não somos ilhas isoladas, e sim partes de uma mesma célula – distintos, porém interligados.” Que seja o Movimento p ela Arte nossa Energia na Mudança! Tania Estrada Morales EasociedademostraqueosMovimentosArtísticosinfluenciam directaouindirectamenteasmudançasCulturais. www.facebook.com/AkaArte 23
  • 26. Ana Fernandes, 43 anos(19-02-1971), mãe de três filhos...a minha maior obra! Poetisa ou pseudo-poetisa. Ler e escrever, escrever e ler sempre foi algo que me fascinou e me deixa fe- liz. Escrever é algo de estonteante, uma viagem extraordinária. Onde posso ser eu...onde posso ser ...mais alguém. Por incrível que pareça, gosto de es- crever poesia mas não sou uma leitura assídua deste género de literatura. Poe- sia, o parente pobre no meio editorial... Quando escrevo, confio a minha escrita no leitor. Espero que gostem de me ler, pois os meus poemas estão impregnados de sentimento. O meu sentimento...há revolta, amor, raiva, desencanto, prazeres e sentidos apurados. A importância da amizade e da afectividade, o meu desejo de ser descoberta e entendida, a procu- ra da verdade, da pureza e também do sonho. DANÇA DAS FADAS No compasso do amor eu sou a canção que toca a melodia da vida... O meu canto viaja além dos mundos... Posto que com a alma entoo a música do coração, Alcançando a todos os seres E eis que ao ouvir a voz do meu canto Fadas encantadas bailam delicadamente Balançando as folhas e flores Trazendo felicidade e sorrisos Celebrando a plenitude da existência Tão gentilmente nos doada Em meio a voos rasantes espalham sua poderosa essência É a magia no ar contagiando a tudo e a todos E a música ainda está tocando E ainda encanta E ainda ilumina E tudo se torna um misto de êxtase e alegria “ No compasso do amor eu sou a canção que toca a melodia da vida...” www.numdiaperfeito.com 24
  • 27. INCOMPATÍVEL Quantos contos de fadas são precisos para escrever um final feliz Nenhuma maquilhagem é capaz de es- conder do coração uma cicatriz Quantas verdades se perdem no meio da escuridão E quantos passos são dados no caminho da solidão De quantas ilusões é preciso se inventar para sobreviver Apenas uma, mas esta ilusão é capaz de me fortalecer Essa ilusão és TU Quanto barulho cabe no silêncio de um coração apaixonado Quanta esperança morre em cada aman- hecer de mais uma noite acordado Quanta saudade some na poeira de uma estrada sem fim Quantos beija- flores cercam a mais bela flor do jardim De quantos sonhos é preciso desistir para não sofrer Apenas de um, mas este um é o maior sonho que se pode ter Esse sonho és TU Quantas apostas são precisas para se ganhar um coração Quantos inocentes morrem presos dessa prisão Quantos gigantes caem por subestimar a força do oponente Quantas lutas são vencidas sem desferir um golpe somente De quantos verbos eu preciso para falar e alguém entender Que por mais incompatível que possa parecer O meu amor és TU hecer de mais uma noite acordado Quanta saudade some na poeira de uma estrada sem fim Quantos beija- flores cercam a mais bela flor do jardim De quantos sonhos é preciso desistir para Apenas de um, mas este um é o maior sonho que se pode ter Quantas lutas são vencidas sem desferir um golpe somente De quantos verbos eu preciso para falar e alguém entender Que por mais incompatível que possa parecer “ Quantas apos- tas são precisas para se ganhar um coração... “ “ Quanta esper- ança morre em cada amanhecer de mais uma noite acordado ... “ www.facebook.com/AkaArte 25
  • 28. Na mitologia grega, Pasífae ou Pasífaa (em grego: Πασιφάη, Pasipháē) é uma das filhas de Hélio, deus do sol, e de Per- seis (ou Perseida), que geraram além dela Eetes, rei da Cólquida, e a feiticeira Circe. Perseis era a primogênita das oceânidas. Assim como Circe e como sua sobrinha Medéia, filha de Eetes, Pasifae também tinha poderes mágicos. Casou-se com Minos, filho de Zeus e da princesa fenícia Europa, com quem teve os filhos Androgeu (ou Eurigies), Ariadne, Deucalião, Fedra, Glauco de Creta, Ca- treu e Acacalis. Pasifae era muito ciumenta e, para impe- dir que o marido se unisse a outras mul- heres, lançou sobre ele uma maldição: as mulheres que o amassem morreriam de- voradas por serpentes, escorpiões e cen- topeias que seriam ejaculados por ele. A princesa ateniense Prócris livrou-o do feitiço oferecendo-lhe uma erva mágica que recebera de Circe. Depois deitou-se com ele em troca de dois presentes: um dardo que jamais errava o alvo e um cão do qual nenhuma caça escapava. Esses dois presentes mágicos pertenciam a Eu- ropa, mãe de Minos, que os recebera de Zeus. Quando a princesa Europa voltou da sua aventura com Zeus no Olimpo, casou-se com Asterion (ou Asterios), rei de Creta, filho e sucessor de Téctamo e de uma fil- ha de Creteo. Asterios não queria filhos, mas educou como pai os três filhos de Europa. Ao morrer, legou o seu trono a Minos, o primogênito. Inconformados com essa decisão, os dois irmãos preteridos, Sarpedão e Radamanto, passaram a dis- putar o poder. Minos, para provar que Creta lhe pertencia por vontade dos de- uses, afirmou que os imortais lhe con- cederiam qualquer coisa que desejasse. Como prova, pediu a Posídon (ou Posei- don- deus dos mares) que fizesse sair um touro do mar Egeu. Fez-lhe a promessa de que, depois, sacrificar-lhe-ia o touro em holocausto. Posídon mandou um magnífico touro branco de grandes chi- fres dourados. Diante dessa prova de le- gitimidade, enviada pelo deus supremo dos mares, os irmãos de Minos recon- heceram-no como soberano da ilha. Minos, no entanto, levou o belo touro para fazer parte de seu rebanho e sac- rificou, em vez dele, um animal comum. Como punição pelo não cumprimento da promessa, Posídon transformou o touro num animal indomável, furioso, que pas- sou a atacar os habitantes da ilha. Além disso, pediu a Afrodite, deusa do amor, que fizesse com que Pasífae se apaix- onasse pelo touro. Para concretizar sua paixão, Pasífae pediu ao inventor Dédalo (pai de Ícaro) que construísse uma vaca de madeira tão perfeita que enganasse o touro. Ela escondeu-se dentro da vaca e assim con- seguiu o seu intento. Dessa união nasceu o Minotauro, um ser monstruoso, meta- de touro, metade homem. Envergonhado pela prova da traição da sua esposa, Minos encerrou o monstro num labirinto que Dédalo construiu junto ao seu palácio, em Cnossos. Domar o touro de Creta foi dos 12 tra- balhos de Hércules. Na versão arcaica, pré-olímpica (um mito minoico), o touro por quem Pasífae se apaixonou era o próprio Posídon, dis- farçado. Na versão grega, é realmente um animal, o que reduz a importância da paixão, transformando-a em mera www.numdiaperfeito.com 26
  • 29. perversão carnal, em vez de sentimento divino, sobre-humano. (fonte: wikipédia, a 12 de junho de 2015) A obra que ilustra estas páginas, a par com uma representação isolada da inves- tida de um touro, elege como motivo um momento noturno, no quarto de Minos e Pasifae, em que Pasifae sonha com o magnífico touro branco, sob o olhar de Minos que intui toda a tensão emocion- al e sexual onde incontornavelmente também se envolve e participa. Os temas são o ciúme, o medo, o poder, a sua ausência, o grotesco e o irracional. Pasifae sonha um sonho inoculado pela deusa Afrodite, com a angustiante en- ergia de uma compulsão a arquear-lhe o corpo enfeitiçado pelo animal mágico, enquanto Minos o confronta com o ol- har, em competição feroz, perdida mo- mentaneamente num limbo voyeurista e numa admiração pelo poder e liberdade que o touro também representa. Pasifae é vítima e Minos é especta- dor, não só da cena representada, mas também da perda interior das certezas e do controle, quiçá entregues a um al- terego que também encontra reflexo e identificação na figura do touro. Nesta obra são o medo e o desejo que se confundem e conjugam para impor uma sentença e uma fratura. A sentençaécorporizadapeloMinotauro, o castigo do grotesco, força de destruição que é fruto desta consumação mitológi- ca entre o touro e a rainha, e a fratura é porfim imposta na identidade do rei que vê a sua integridade como personalidade de força e inteligência pulverizada entre as pulsões mais básicas da natureza hu- mana, de volta ao caos primordial onde nasce e morre toda a existência. Não há discurso moral nesta obra, só o reconhecimento de um ciclo, de um pa- drão. E é por via desse (re)conhecimento que se dá o postulado da possibilidade de escolha, não das personagens, mas do espectador. As histórias da literatura mitológica, na sua narrativa fechada, ensinam exata- mente a necessidade de fazer escolhas na narrativa aberta que é a vida. Porque quando não se age ou escolhe, os ciclos repetem-se e esse touro incontrolável em vez de ficar pacificamente e con- scientemente integrado no nosso ser, fica indomável, furioso, a fitar e a amedron- tar os nossos espaços mais íntimos. Não integrar esse touro é arriscar ser colhido por ele, em qualquer uma des- sas praças onde se desvela e concretiza o eterno ciclo da vida. Nuno Quaresma, Junho de 2015 “Não integrar esse touro é arriscar ser colhido por ele, em qualquer uma des- sas praças onde se desvela e concretiza o eterno ciclo da vida.” www.facebook.com/AkaArte 27
  • 30. Saber ver um pintor, é saber ver a pin- tura, no que ela tem de radical e incon- tornável. Acto transformador, ou talvez tão só “alegria que o homem dá a si mes- mo”(Marx), o produto artístico nunca en- viesa, quando genuíno, o solo de aonde nasce. A pintura de Nuno Quaresma está pre- cisamente aí, sem nada a não ser ela própria que a sustenha. Mesmo que a influência de muitos con- temporâneos seja marcante, nomead- amente Lucien Freud ou Paula Rego, aquela não fecha o pintor no redondel da repetição, neo-comercialismo enfeudado às “áreas do tempo”. Nuno Quaresma, pinta a realidade, afirmando-a como Kir- kegaard, a saber a mais dura das catego- rias. Mas a essa dureza, não dirige olhar al- gum que a aliene de si mesma. O que nos fica é então uma pintura aonde a doçura romântica ou surreal, cai como véu, fazendo que o nu ou a figuração do banal equivoque o sujeito escondido. É então o excesso que nos fica, sempre um excesso, e que Nuno Quaresma urge em pintar. Mas só um talento invulgar que comunga a dor de ser, pode fazer com que na tela ou no papel, o sujeito desejante se fale pelo efeito cromático-figurativo. www.numdiaperfeito.com 28
  • 31. A pintura de Nuno Quaresma, convoca portanto um Nietzsche, o filósofo da “Au- rora” ou do “Humano demasiado Huma- no”. O pegar ou largar este demasiado, é a mais valia que não nos deixa indiferentes face a esta pintura, retrato também ela, de que o desassombro está chegando. Carlos Amaral Dias, Fevereiro de 2000 01 Artémis Implacável 02 Monday morning 03 A luta 04 Minos e Pasifae 05 Alegoria para a Pintura 06 Ana e o sapato 07 Ecce Homo 08 Caim e Abel 09 Natrureza morta com troféu 10 Mixed Thoughts 11 Menino fora da caixa 12 Natrureza morta com bule de chá 13 Vénus deitada www.facebook.com/AkaArte 29
  • 32. Eras um par de sapatos cor-de-rosa salto alto que realçavas a elegância do movimento dos pés enlatados por acaso não deixaste a tua dona ficar mal nunca sei lá, um buraco, um salto e lá se foi o tacão! Foste velho, tiveste arrumado, mas também não eram assim tão velho de deitar fora, mas eras velho. Um PAR que foste posto num canto em modo de hibernação. Queria saber se eras velho de deitar fora ou velho e de não querer deitar fora. De uma BD com vontade de saltar fora do armário, decidiu mostrar a sua história porque também era um velho antigo, quis realmente fazer parte desta história. Grande prémio para quem conseguir saltar dez carros… Po- dia ser de Patinete como o tio patinhas propôs… Mas consegues saltar? Com salto ou sem salto, até podes ex- perimentar de patinete, mas fica aqui o desafio, calça os sapa- tos e salta de salto, movimenta-te de que maneira for. DEPOIS DE TI, VEIO O BRANCO As paredes voltaram a ser brancas sem os quadros que pintava, as folhas por es- crever perderam a utilidade; os sonhos verteram os contornos, a forma, o des- tino. Escrevi-lhe cartas de amor e de perda, cartas de partilha e de esperança. Mas a sua morada já era outra. Procurei-a então no topo dos penhascos, no fundo dos mares; procurei-a nos ol- hos do futuro, na arca do passado. Mas ela já não se deixava encontrar. Enquanto contemplava os amarelos do Sol, este arrefecia no meu coração; du- rante o tempo que estudei as moléculas, estas morriam sem reprodução. Eu defin- hava sem remédio. Como gotículas de água que saltam para o precipício vindas de uma mão sem in- tenção fugia-me por de entre os cabelos outrora pretos e fortes. Não pude evitar (embora batalhasse), que o tempo fizesse o seu trabalho de es- batimento; a cada batida a sua memória perdia pormenores. Eu enlouquecia sem prognóstico. Assisti ao entendimento de que quando julgamos percepcionar, não é a realidade que tocamos, mas apenas uma repre- sentação auto-renomeada, uma falsa or- dem de grandeza a que nos agarramos; precisamos afinal de fazer a vida “funcio- nar”, independentemente de entender- mos ou não qual a função. O abismo não é o vazio, nem o desconhe- cido, mas o tédio. Há quem tenha; há quem seja. Eu não tenho, não sou. Tudo bem. Foi na ausência que a perdi. E foi assim... no silêncio ...que te encon- trei. Nesta linguagem comum, desistir é deix- ar de existir; um corpo sem um propósito é um corpo sem essência, uma mera cápsula que dis- trai, mas não estimula. Talvez por isso me deste o que eu não sabia que queria mas que sabia que precisava. Só após abandonar o jogo do tempo en- contrei a disponibilidade para a razão; só depois de abandonar os limites do ego encontrei a vastidão da contemplação. Foi quando deixei de chorar a natureza inevitável da juventude que depreendi que nunca a saborearia neste trajecto superficialmente mundano, intrinseca- mente insano e genuinamente simples. Foi talvez por nem raspar o exterior da sua compreensão, que ela me tenha abandonado tão rápido. Não me interessa particularmente se a folha onde escrevo é uma unidade, ou um número incontável de átomos unidos por leis de atracção. Interessa-me o que faço com ela: escreverei a minha história com a minha própria mão, ou a folha cairá no esquecimento sem glória? Richard Feynman dissera que “o que não conseguia criar não conseguia com- preender”; pois digo que não consigo criar se não conseguir compreender; e compreender não é dissecar, nem disser- tar, mas tão somente... aceitar. Aceitar que sou uno na imensidão das minhas possibilidades, que não preciso de muito mais que a verdade absoluta e de um pouco de alimento, talvez um carinho sem apego de vez em quando... O branco cobre agora as montanhas que compõem a minha história; o Mundo não me deu um nome, deu-me um propósito; sou parte dele e cumpro a sua função. Não há determinismo da espécie. Há existência. Hugo Alexandre, Setembro de 2014 www.numdiaperfeito.com 30
  • 33. Tenho a convicção de que a percepção é apenas a porta de entrada para um con- hecimento maior que o entendimento em si mesmo. Sem o erro da expectativa, e a es- colha não assumida de que o vazio é necessário, talvez seja a perda o desper- tar necessário para a obrigatoriedade sempre voluntária de abandonar o “pou- co” em detrimento do “tudo”, pois o que criamos será sempre pouco quando com- parado com o que foi criado e acumulado antes de nós. Poderá até nem ser este o caminho da redenção, mas perder o mapa faz-nos perceber que o acumular de informação não nos torna mais sábios; cada estrada é uma incógnita até a per- corrermos por nós mesmos; sabendo que nunca as percorreremos todas, isso só nos dá mais tempo para apreciarmos cada uma delas; encaro a limitação temporal como a maior dádiva que a vida nos pode dar; a verdadeira superioridade face aos de- mais seres; NÓS SABEMOS que um dia mudaremos de estado; não interessa o como, o para quê, nem mesmo o quando; apenas sabemos que sendo talvez a única ver- dade universal, irá acontecer. Talvez no final as suspeitas sejam con- firmadas, e só exista a solidão e uma in- esgotável e intrínseca cega vontade de acreditar que somos peças de um quadro maior que nós mesmos. Talvez nem assim a vida faça sentido. Talvez só exista um corpo que caminha para o cansaço e para o envelhecimento. Mas não é a maior tragédia de todas, já nos termos encontrado e ainda assim continuarmos perdidos? “ Yesterday is history, tomorrow is a mys- tery, today is a gift (…)” – Bill Keane Grita comigo; Dá-me todas as palavras de ódio e dor acumuladas até ficares vazio Aponta-me o dedo, cerra os dentes, fran- ze as sobrancelhas, e acusa-me mesmo que o raciocínio não faça sentido Amaldiçoa-me pelas tuas escolhas er- radas, deseja-me penitências sofridas e eternas pelos teus pecados Eu nada direi; É através da minha imperfeição que te reconheço como parte de mim e te que- ro ver voar para longe desta lama que te torna pesado Ouvir-te-ei como quem tem a disponibili- dade que só a eternidade possui e se me permitires, segurar-te-ei com a mesma dedicação que um ramo segura a sua última folha Todas as nuvens passam; mesmo as que cobrem o Sol por muito tempo; é a inevitabilidade da mudança; Por isso dá-me tudo quanto tens dentro de ti; Porque quando te dás, és. Isso é Deus. Isso é… esperança. Easier? Pedaços essenciais de entendimento en- contram-se nos locais e nas pessoas mais improváveis. Estiveram eles sempre ali à espera de ser descobertos? Quem os criou, e à sua interpretação? Como nos sentirmos gratos pela dádiva, independentemente da sua forma e do seu conteúdo? E se o entendimento é uma construção cultural, como poderei apagar todos os valores e começar de novo? Olho à volta; sou o apogeu máximo da minha própria existência; sou os sonhos por realizar dos meus pais; sou capaz de descrever o Mundo, ou de o aniquilar. Sou tão poderoso quanto os mosquitos que vejo no pára-brisas. www.facebook.com/AkaArte 31
  • 34. Simão Mota Carneiro Artista plástico nascido em 1989 vive e trabalha em Lisboa, desde cedo que estabeleceu a sua paixão pelas Artes. For- mou-se em Produção Artística na Escola António Arroio com especialização em cerâmica e mais tarde frequentou o Insti- tuto de Artes Visuas IADE onde se licenciou e obteve o seu mestrado em Design e Cultura Visual. Desenho e pintura são as suas principais áreas de interesse no entanto afirma que não deixa outras linguagens excluídas não querendo ficar limitado pela técnica para produzir uma peça. www.numdiaperfeito.com 32
  • 35. António Maria Sousa Lara nasceu em Lisboa, Maio 1984, e actual- mente vive e trabalha no Estoril. Em 2010 termina a sua Mestrado em Artes Plásticas- Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. António Sousa Lara mantém um trabalho pictórico activo desde 1998 com obras nas mais diversas categorias como Pin- tura, Retrato, Gravura, Fotografia, Arte Digital e Ilustração. Foi aluno de prestigiados Mestres Artis- tas e participou em já várias exposições colectivas e individuais. De momento tra- balha como Professor, Retratista, Game Designer e Actor. Visitou diferentes países e culturas procurando sempre novos caminhos e novas experiências no mundo artístico. www.facebook.com/AkaArte 33
  • 36. Catarina Vieira Pereira nasceu a 25 de Fevereiro de 1989, em S. Miguel, Açores. Utiliza como nome artístico Vieira Pereira. Licenciada em Artes Plásticas e Novos Media, na Escola Superior de Artes e De- sign das Caldas da Rainha (2008-2011). Possui também o mestrado de Artes Plásticas, no mesmo estabelecimento de ensino superior (2011-2013). Tema da defesa pública: “Pintura Fotográfica – efemeridade, metamorfose e acção num percurso plástico”. Na sua pesquisa questiona os limites da pintura, colocan- do a questão se o seu trabalho poderá estar no “campo expandido” da pintura, tal como a crítica de arte Rosalind Krauss propôs para a escultura. Web: - www.behance.net/cat_pekena - www.flowartconnection. com/artists/ view/17 - www.tumblr.com/blog/vieirapereira - www.tumblr.com/blog/dispositivos-pin- tura - www.facebook.com/pages/Vieira-Perei- ra/110449015757458 www.numdiaperfeito.com 34
  • 37. Estes vídeos mostram a realidade de uma pintura em acção, em meio aquoso, dá-nos a ver a metamorfose pela qual a pintura passa. Enquanto a metamorfose está a ocorrer, as cores alter- am-se, novos efeitos e tonalidades são gerados, acerca destas modificações José Gil afirma: «O amarelo passará imperceptivelmente a vermelho, o verde a azul, de tal maneira que entre eles surgirá uma multidão de tonalidades quase indiscerníveis: outros tantos feixes de pe- quenas percepções. É por toda a parte do visível que nos ban- hamos em pequenas percepções.». (GIL, José, A imagem-nua e as pequenas percepções: Estética e Metafenomenologia, Lis- boa, Relógio D’ Água, 2.ª Edição: Fevereiro de 2005, p. 311.) Toda a movimentação passada no meio aquoso mostra ao es- pectador a realidade de um acontecimento pictórico, a forma como a metamorfose se manifesta, e a sua mudança de formas e de cores quase hipnotizam o nosso olhar. Este processo for- ma-se dentro de um tanque de vidro com líquido, e resulta da fusão entre certos materiais tradicionais de pintura, tais como: acrílicos, aguarelas, ecolines, guaches, e materiais não associa- dos à pintura, como por exemplo: molhos culinários, detergen- tes e bebidas. Para registar toda a acção que se desenvolve no meio aquoso de forma espontânea e natural, recorro à foto- grafia e ao vídeo, estes registam a fusão do processo químico (dos pigmentos com o meio aquoso) que ocorre e que gera a metamorfose. Pedro Afonso Silva Nasceu no Porto (1958). Vive e trabalha no Concelho de Cascais. Formação: Licenciatura em Design (IADE) Curso de Desenho (Sociedade Nacional de Belas Artes) Curso de Iniciação à Pintura (Arte Ilim- itada) Percurso Profissional: Entre 1984 e 1997 trabalhou em edit- oras e agências de publicidade como designer e criativo (Plátano Editora, Ci- nevoz, Comunicar, BMB&B, Neovox). A partir de 1998 estabelece-se como freelancer, trabalhando basicamente em ilustração. Publicou ilustrações no jornal Record, Jornal de Notícias, Se- manário Económico, entre outros. Tem vários livros editados como autor (7) e como ilustrador (22). Desde 1998 tem exercido uma atividade de artista plástico tendo participado em cerca de vinte exposições individuais e coletivas. www.facebook.com/AkaArte 35
  • 38. O PEQUENO DETALHE Alguns podem dizer que sou pintora, outros que sou artista, ou até nenhuma destas duas. Mas, se me perguntassem, acho que a resposta mais acertada seria: “Sou exploradora do mundo”. Desta forma procuro sentir, experimen- tar, respirar, sonhar e viver o descon- hecido e o diferente. Quero praticar a intuição, a audácia, a candura, o de- spropósito, o magnânimo, o estrambóli- co, o arrumadinho e o absurdo. Procuro viver o momento. Quero desvendar o mundo que já vi, e o mundo que ainda espera ser desvendado. Quero viver o original, o vulgar, o fictício e o verdadeiro, tudo de uma só vez. E assim, numa só explosão, num só in- stante, quero sê-lo continuamente para sempre, e resumir-me inteiramente num simples ponto, estendido no infinito. E assim, para começar a minha caminha- da, O PEQUENO DETALHE nasce: Uma coleção inspirada na arte abstrata e no expressionismo, constituida por 9 peças únicas. Cada peça representa um detalhe que só tu consegues ler. Esse de- talhe varia de pessoa para pessoa, umas vezes coincidindo com o detalhe de uns, outras vezes com o de outros. Mas sem te aperceberes, cada uma destas peças terá um pequeno detalhe que existe no tu de agora, no tu do pas- sado ou no tu do futuro. A peça transforma-se no teu espelho, pois tudo o que vires, tudo o que sen- tires, faz parte de ti. Sim, um espelho. Basta olhares, e dizeres-me o que vês… - Mana www.numdiaperfeito.com 36
  • 39. Clo Bourgard Was born in Lisbon 1970 and since very soon deticated her life to art, attended to António Arroio Artistic Shcool, graduated in History at the University Lusiada com- plemented with the free course of Art History at the Autonomous University of Lisbon, she took Course of Drawing and and painting at the artistic school of Rui T. Gomes,also took Course of Sculpture by the hand of Mestre João de Brito,and the Course of Technical and Ethical Conser- vation of the Portuguese Heritage in the National Cultural Centre. .Course of Ce- ramics Restoration “Pomar dos Artistas” at the Lisbon Institute for Conservation and Restoration ofPainting SchoolIn peri- od of 4 years, devoted to teaching at the Academy of Sciences of Lisbon in the area of Restoration Painting. Course nextart artistic installation.She has participated in many different expositions across the country, including inter.atrium Galery in Porto and Azo Gallery in Lisbon. Lately she received 1ª Honerable mention of the completion Com.arte 2013, with Wil- son Galvão. Currently she is developing in sculptures featuring with Wilson Galvão, that approaches the relationships that the human being establishes with him- self, with people and with the reality that involves him. “The artist developed an elaborate chromatic content, his work is neo-Expressionist with content in terms of concepts and humor Social interaction with relevant into people.” “Her work confronts us with the stereotypes of so- ciety today and the sophistry that same reality.” Fernando Trancoso Inter-Atrium Gallery Director Management and Cura- torship CB concept art gallery with exhi- bitions of many Portuguese and interna- tional artists. wilson galvão The nature of their work varies over time, but always through a very strong formal approach . Lover of the materials diver- sity, their different quirks, and through this transformation express his creativ- ity in each piece. Born in Paris-France (1967) lived in Loulé and later came to Lisbon-Portugal where he concluded in equipment and decoration of Visual Arts Antonio Arroyo School that complements with a sculpture course in ar.co- center of art and visual communication. He grad- uated in architecture from the Universi- ty ULHT Lisbon. Worked as an architect in several offices in Lisbon and Cascais, where highlights Atelier Costa Pesseg- ueiro- Gonçalo Andrade, CPU Architects and Urban Planners and Opera projects, currently form the partnership, Zwa. Arquitectos, Associated Architects with his own office in Torres Vedras. As pro- fessional enrichment has participated in several actions, having recently done the course of artistic installation in Nex- tart- artistic formation center. Within the projects elaboration has developed cur- riculum in the areas of housing buildings, villa, school buildings, health buildings to geriatrics, industrial and religious build- ings, built in different locations of Portu- gal. Also participates in many projects of equipment design, having executed sev- eral pieces of furniture in different ma- terials with which participates in various exhibitions in several countries. As a set designer made several creations where he had the opportunity to collaborate with choreographers whose work visited several world stage. Currently is develop- ing in partnership with artist Clo Bour- gard a sculptural work that addresses the complex relationships weft that humans establish with yourself, with others and with the reality that surrounds him. www.facebook.com/AkaArte 37
  • 40. Entredia (1) by Jack CJ Simmons (2) Matadouro nº1, Lisboa, 15:46 UTC Esta monotonia do abate e desmanche de carcaças só costumava ser interromp- ida pela presença sempre hilariante do Sr. Mendes, mas hoje é dia de reuniões, pode não passar por cá. Mesmo assim, o dia tem sido diferente, ora pela chuva que cai forte lá fora, ora pelos trovões que se ouvem ao longe. Aqui os humanos reagem sempre ao som dos trovões. Eu não. Primeiro reajo à luz, e depois sim, ao som, mesmo quando estão mais próx- imos. Mas é normal, com a quantidade de sensores de luz que tenho activos, a mínima alteração da intensidade da luz aqui dentro é detectada. Mesmo assim, é interessante ver as reacções deles, surpreendem sempre um pouco. Não deixam de espantar os humanos. Acho que faz parte do nosso processo de aprendizagem. Só os conhecendo melhor que eles próprios, os podemos proteger. Engraçado como as coisas são, fui criado para proteger a vida humana e acabo de volta da morte. A morte de animais, é verdade, mas morte. E estas carcaças, vacas em vida na sua grande maioria, e que não são mais do que ali- mento para a raça humana, não as pro- tegemos. Protegemos uma raça mas não outras. Às vezes interrogo-me como as coisas seriam se a EDT não nos tivessem criado. Se tivéssemos sido criados por outra organização, por outros humanos, com outros objectivos, com outros va- lores. Será que a humanidade ainda ex- istiria? Será que teríamos conseguido parar a primeira vaga? A verdade é que há mais de cem anos que esperamos pela segunda vinda. Eles sempre acreditaram que viriam mais. Mais tarde, mais fortes, muito depois de eles morrerem, é certo, mas mesmo assim deixaram-nos de vigia, à espera, porque acreditavam. Ora aí está, o Sr. Mendes acabou de entrar na sala. Lá está ele a conferir tudo. E lá está o Lemos a levar outro raspanete. Sempre a fazer as coisas à maneira dele. Depois ouve. Não é um trabalho difícil, mas há humanos que não têm perfil para isto. Nem todos conseguem desmanchar as carcaças sem que isso os afecte, mesmo no longo prazo. Mais cedo ou mais tarde, todos acabam por desistir. É demasiadas horas, demasiadas carcaças, demasiado sangue, torna-se demasiado pessoal. Não resistem. Menos eu, claro. Já estou cá há doze anos. Mas a mim não me afec- ta, é verdade, mas eu não sou humano. - Boa tarde, Sr. Mendes - digo-lhe antes mesmo de chegar ao pé de mim. - Jones- responde sem me olhar nos ol- hos. Ainda vinha lá ao fundo e já vinha com os olhos posto no meu trabalho. Acho que sonha um dia encontrar um defeito no meu trabalho. Mal ele sabe que isso é impossível. Por norma não conseguimos fazer diferente do que nos é pedido. E mesmo entre nós, quando é preciso fazer algo de diferente, são precisos ultrapassar as dez salvaguardas do nosso ser. Antes dizíamos core, mas desde que nos integrámos na população que tivemos que adaptar alguns termos. Dantes éramos muito estranhos, mas de- pressa aprendemos a ser mais humanos. - Sempre perfeito, Jones- diz-me com o ar habitual de quem não me consegue perceber totalmente - Sempre perfeito. Carry on- e afasta-se em direcção à porta B, como sempre faz. Afinal, as reuniões foram curtas hoje e ainda conseguiu vis- itar-nos. - Até amanhã, Sr. Mendes- respondo-lhe monotonamente. - Até amanhã - conclui de pronto, colo- cando o habitual ponto final na conver- sa. Que todos os humanos fossem como o Sr. Mendes, previsíveis, fiéis aos seus hábitos, e o nosso trabalho era muito mais fácil. Mas não são. Eles falam em livre- arbítrio, nós chamamos-lhes o efectiva- mente ser humano. Nunca estão con- tentes com o que têm, querem sempre mais, querem sempre saber mais. E têm uma aptidão natural de se meterem em sarilhos no processo. Desde o último voo da EDT que não param de tentar sair do planeta. Não sei durante quanto tempo mais vamos conseguir manter as watch towers activas sem perdas de vida. No dia em que descobrirem que todos os nos- sos esforços são pela preservação da vida humana, de toda e qualquer a vida hu- mana, e enviarem um voo pilotado para furar o escudo e nós formos obrigados a desligá-lo pela vida humana, perderemos o controlo. Nesse dia, a raça humana será outra vez livre de explorar o espaço, mas também ficará vulnerável às ameaças ex- ternas. E nós continuaremos a fazer os possíveis para manter a vida humana por todos os meios possíveis. Por falar em faz- er os possíveis pela vida humana, hoje é dia de reunião. Costumamos reunir uma vez por mês, mas este mês já é a segunda e ainda estamos só a vinte e um. As coi- sas não estão fáceis. A semana passada foram lançados três shuttles pilotados de locais distintos para ver se tínhamos a capacidade de os incapacitar a todos. E fizeram-no secretamente. Não tivemos hipóteses de os sabotar antes dos lança- mentos. E ontem tivemos o primeiro a menos de um quilómetro do escudo. Foi por uma unha negra, como costumam dizer os humanos, mais um segundo e atingia o seu objectivo. Os humanos de- fendem a desactivação do escudo e vão tentá-lo por todos os lados e de todas as formas. Cada sonda que enviam é de- struída quando atinge o escudo, mas eles continuam a achar que conseguem pen- etrá-lo com base em escudos próprios e deflectores. Por um lado é bom, estão a evoluir na defesa e na protecção. Há in- clusive entre nós, quem defenda que no dia em uma sonda penetrar o escudo é o dia que a raça humana estará suficiente- mente protegida para explorar o espaço. Tenho pensado muito nisso, mas contin- uo sem ter uma opinião formada. Só es- pero que na reunião de hoje não decid- am desactivar já o escudo. Eu sei que foi por pouco que não perdíamos uma vida www.numdiaperfeito.com 38
  • 41. humana, mas os humanos ainda não es- tão preparados para o espaço. O espaço é frio, longe e demorado. E neste caso, inútil. Qualquer viagem espacial que tenha um outro planeta ou lua do nosso sistema solar como destino terá o mes- mo problema que agora: o escudo pro- tector. Não podíamos permitir o estabe- lecer de bases tão perto de nós aquando da primeira vinda. E continuamos a não permitir. Todos os planetas e luas deste sistema estão protegidos. E portanto, permitir a saída do planeta é permitir a entrada nos restantes. E se permitimos para humanos, não podemos não deixar de permitir para outras raças. Será de- masiado complexo separar a raça huma- na das outras, e provavelmente dema- siado tarde quando o fizermos. A nossa evolução tecnológica já não é o que era. O espirito humano desapareceu da nossa equipa tecnológica, e sozinhos levamos mais tempo a estabelecer os objectivos e a atingi-los. Contudo, acredito no nos- so trabalho e acredito na raça humana. Gostava de ter sido explorador, conhecer outros mundos, outras raças. Gostava de me poder juntar aos humanos nesta aventura que se avizinha. Talvez um dia, quem sabe. Notas: (1) Entredia é um advérbio que significa durante o dia, fora das horas da refeição. (2) Jack CJ Simmons escreve em Portu- guês sem respeitar o acordo ortográfico de 1990. Um farol é uma estrutura elevada, habitualmente uma torre, dotada de um potente aparelho ótico dotado de fonte de potentes lâmpadas e espelhos refletores, cujo facho de luz é visível a longas distâncias. O termo farol deriva da palavra grega Faros, nome da ilha próxima à cidade de Alexandria onde, no ano 280 a.C., foi erigido o farol de Alexandria — uma das sete maravilhas do mundo antigo. Faros deu origem a esta denominação em várias línguas românicas; como em francês (phare), em espanhol e em italiano (faro) e em romeno (far) (fonte: wikipédia, a 11 de junho de 2015) Utilizados desde a Antiguidade, quando eram acesas fogueiras ou grandes luzes de azeite (de oliveira ou de baleia), os faróis foram concebidos para avisar os navegadores que se estavam a aproximar da terra, ou de porções de terra que irrompiam pelo mar adentro. As fontes de alimentação da luz foram melhorando, tendo sido o azeite sub- stituído pelo petróleo e pelo gás, e posteriormente pela eletricidade. Parale- lamente, foram inventados vários aparelhos óticos, que conjugavam espe- lhos, refletores e lentes, montados em mecanismos de rotação, não só para melhorar o alcance da luz, como para proporcionar os períodos de luz e ob- scuridade, que permitiam distinguir um farol de outro. Historicamente, este tipo de construções ganhou características temporais e sociais, sendo dotados de características distintas de zonas para zonas. Ana Fina homenageia estas construções humanas e eleva-as a um estatuto simbólico singular, numa sequência/ coleção também disponível em Aka Arte www.facebook.com/AkaArte 39
  • 42. Jorge M.Viegas Franco, nasceu em 1963 em Lisboa Habilitações Literárias Ensino Preparatório Atividade Profissional Desde muito cedo comecei a tra- balhar para poder ajudar os meus pais, começando eu como Eletromecânico aos 15 anos até aos meus 22 anos. Em 1984 fiz o serviço militar obrigatório ingressando na Marinha de Guerra Portu- guesa, tendo completado o serviço como 2º marinheiro em Outubro de 1986. De 1986 a 1997 foi Expedidor de 1ª de jornais e revistas trabalhando direta- mente com o Correio da Manhã, Expres- so e várias outras publicações, sendo chefe de equipa. De 1997 a 1999 trabalhei em ma- nutenção fazendo vários trabalhos entre os quais, concluindo uma obra no Atrium do Saldanha e percorrendo o país todo na montagem de Supermercados Mode- lo e Continente. De 2000 a 2001 trabalhei em Publicidade na Sumolis de Lisboa. De 2001 a 2003 fui encarregado de Ar- mazém de produtos de doçaria. Hoje sou funcionário do Colégio Sale- sianos de Lisboa. Por tudo isto acima referido sou uma pes- soa simples, educada, e honesta. Gosto muito de fotografia sendo eu amador e pratico como hobby à cerca de 3 anos. Ultimamente tenho estado a fazer de- senhos e a pintar algumas coisas, sendo eu um leigo na matéria tenho tido algum incentivo para continuar. SENDO INICIANTE OU AMADOR – Eu gosto da ideia de me definir como um entusiasta da arte da fotografia. Eu como entusiasta poderei fazer serviços profissionais ou não, depende de opor- tunidade, perfil ( preocupado com a qualidade) e necessidade de uso da foto- grafia com fonte de renda complementar. Mas sendo apenas amador ( por hobby) eu fatalmente não tenho comprometi- mento com alta qualidade das minhas fotos por se tratar de realização pessoal e não profissional. Mas nunca deixando de a trabalhar e fazer o melhor possível pela foto. Mas eu irei tentar novamente e novamente até acertar. Hobista da fo- tografia também não está preocupado com uma entrega de um cliente ou com a concorrência no mercado nem com seu nome comercial. No entanto, existem entusiastas muito talentosos e também aqueles que investem em equipamen- tos profissionais e sabem utilizar muito bem esses recursos. Existem também aqueles amadores que, mesmo sem mui- tos recursos, participam de concursos internacionais e conseguem prêmios de destaque. Atualmente, a fotografia se alimenta de muitas diversificações. Cada fotógrafo possui uma maneira difer- ente de trabalhar, mediante seus gostos e tradições. Vejo a fotografia como um instrumento genialmente intelectualizado para captar gestos e sensibilidades. Muito mais que momentos, ela pode captar uma época e uma civilização, con- gelando culturas e valores. Muito do que vimos hoje em grandes editoriais de moda, são resultados de mentes ímpares e talentosas e ousadas. Afinal, grandes nomes da fotografia nas- ceram da ousadia. Fotografia, é muito mais que uma sim- ples definição. É Arte! É criatividade! É revolução! Aos meus amigos, conhecidos, colegas e aos críticos de fotografia o meu OBRIGA- DO Jorge Franco, 2015 www.numdiaperfeito.com 40
  • 45. Paulo Muiños, 15.09.1971, Músico, Fotógrafo e Pedagogo ​ MA Music Education pela Roehampton University de Londres. Fundador da banda Cool Hipnoise, tocou 10 anos com os Ena Pá 2000 e actual- mente é baixista, produtor da banda The Pulse e Diretor do Musicentro (Escola de Música) nos Salesianos do Estoril. Fotografou como amador com filme en- tre 1995 e 2000. Dedicou-se à fotografia digital em Março de 2011, tendo estudado autonoma- mente. www.facebook.com/AkaArte 43