A reprodução cultural refere-se à renovação da cultura sem modificações. A escola participa na transmissão da cultura dominante e na reprodução da desigualdade social, legitimando o insucesso das crianças das classes populares. Bourdieu argumenta que a escola impõe a cultura dominante, mesmo às crianças de meios culturais diferentes, reproduzindo as relações de dominação.
1. Reprodução cultural
A reprodução cultural, tal como a reprodução social, respeita à renovação da cultura
ou das relações sociais, sem que haja uma modificação. A reprodução cultural é,
frequentemente, tratada no âmbito das funções de reprodução do sistema escolar. É o caso de
Bourdieu, que se interessou pelas funções do sistema escolar na reprodução cultural e também
pelos efeitos de diferenciação cultural provocados igualmente pela escola. A escola, segundo
a análise de Bourdieu, participa não só na transmissão e renovação da cultura, como na
renovação da desigualdade social, por intermédio da imposição da cultura dominante
como cultura legítima. São as crianças dos meios sociais privilegiados que estão mais
aptas a incorporar a cultura dominante veiculada pelo sistema de ensino.
Bourdieu insiste, assim, no facto de a cultura própria à escola e aos seus professores ser
imposta às crianças, mesmo àquelas que são provenientes de meios culturais diferentes ou de
uma outra cultura. A questão da reprodução cultural liga-se, deste modo, ao estudo das
condições da reprodução da dominação, na qual a cultura tem um lugar. O caso da análise da
escola é exemplar, na medida em que demonstra como esta instituição participa na reprodução
das relações de dominação. Com efeito, a escola legitima o insucesso das crianças
provenientes das classes populares, assim como, em contrapartida, as grandes escolas, cujos
alunos são, na sua maioria, provenientes das classes superiores, asseguram a reprodução
daqueles que dominam.
As análises de Bourdieu sobre a reprodução social e cultural utilizam determinados conceitos,
como: violência simbólica (e legitimação das diferentes dominações), habitus (ou a herança
cultural coletiva e comum, em função das aprendizagens dos modelos de conduta e dos modos
de perceção e de pensamento), capital social e cultural (no sentido dos recursos disponíveis),
campo social (há uma pluralidade de espaços sociais, marcados pelas relações de concorrência
entre agentes ou pelas relações de dominação específicas de cada campo), dominação cultural
(relações assimétricas entre os agentes e os grupos; certos agentes acumulam capitais culturais
ou mesmo capitais económicos, culturais e políticos, enquanto outros são excluídos).
Em conclusão, pode entender-se por reprodução cultural os modos como a escola, a par
de outras instituições, contribui para manter as desigualdades sociais e culturais,
transmitindo os valores, as atitudes e os hábitos de cultura dominantes.
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