Intervenção Formativa é um método de pesquisa desenvolvido por pesquisadores finlandeses ligados à terceira geração da Teoria da Atividade. O objetivo é apoiar processos de mudança em organizações ao mesmo tempo em que se gera conhecimento científico a respeito de tais mudanças. A Intervenção Formativa oferece um arcabouço teórico e metodológico robusto para justificar e estudar cientificamente casos de Design Participativo.

1. Pesquisa Participante e
Intervenção Formativa
Frederick van Amstel @usabilidoido
Escola de Arquitetura e Design
Programa de Pós-graduação em Informática
PUCPR

2. O Positivismo propôs que as Ciências Humanas fossem estudadas
com os mesmos métodos das Ciências Naturais. A bandeira
brasileira expressa esse desejo de construir uma nação a partir das
Leis do comportamento humano (a ordem natural).

3. Método experimental clássico
• Redução do fenômeno a variáveis que podem ser
mensuradas e isoladas
• Variável dependente (estímulos controlados) e
variável independente (respostas mensuráveis)
• Grupo experimental (variável independente) e
grupo de controle (estímulo placebo ou nenhum
estímulo)
(derivado da Medicina)

4. Experimento de condicionamento de cães (Pavlov, 1901).

5. Experimento de condicionamento de humanos: o caso do Pequeno
Albert (Watson e Rayner, 1920).

6. Efeito Hawthorne: a produtividade dos trabalhadores aumentou em
grupos mais iluminados e em menos iluminados (1955).

7. Como estudar fenômenos
relacionados à agência humana
sem reduzi-la metodologicamente?

8. Experimentos de Dupla
Estimulação
•Fornecer um estímulo
extra que serviria para
lidar com o primeiro
estímulo (ex: uma
ferramenta)
•O reflexo não seria
condicionado pelo
pesquisador, mas sim
criado pelo participante à
partir do processo de
significação dos estímulos
Lev Vygotsky (1930)

9. Pesquisa Ação
•Aplicar o conhecimento
científico em problemas
sociais relevantes
•Planejar mudanças em um
grupo social, executar e
avaliar os resultados
•Produzir conhecimento
sobre a prática de lidar
com problemas sociais (ex:
participação de minorias
no governo)
Kurt Lewin (1946)

10. Pesquisa Participante
•O conhecimento científico
não substitui o
conhecimento popular
•O participante define os
rumos da pesquisa
•A pesquisa é uma
oportunidade de
aprendizagem para todos
(ex: alfabetização de
camponeses)
Paulo Freire (1967)

11. Intervenção Sociológica
•O pesquisador deve elevar
a consciência dos
participantes sobre a
origem de sua condição
social e sobre as
possibilidades de
transformação (ex: greve
estudantil)
Alain Touraine (1973)

12. Intervenção Formativa
•Retoma o princípio da
dupla estimulação de
Vygotsky
•Estende a Intervenção
Sociológica aos Estudos
Organizacionais
•Cria uma toolkit chamada
Laboratório de Mudança
para aplicar em diversas
empresas e instituições
Yrjö Engeström (1987)

13. Modelo de Negócios (simplificado) do Center for Research on
Activity, Development and Learning (CRADLE)
Organizações em
crise
Fomento à
pesquisa sobre
crises
CRADLE
Teoria da
Atividade
Estudos de
caso de
intervenções
formativas
Generalização
Propostas de
pesquisa
Pesquisadores
engajados

14. Intervenção formativa em Hospital Estadual Bauru
(Almeida, Vilela e Querol, 2017)

15. Princípios metodológicos
•Ponto de início: uma problemática complicada
que não se conhece de ante-mão
•Processo: a agência sobre a problemática é
transferida gradualmente do pesquisador para os
participantes
•Resultado: criação de novos conceitos para lidar
com a problemática
•Papel do pesquisador: provocar participantes e
sustentar sua participação no processo
(Engeström, 2011)

16. Processo de descoberta
Perguntas,
hipóteses,
interesses
Observação,
entrevista,
oficina
Insights,
necessidades,
ideias,
conceitos
Interpretação
análise de
dados
Compartilhar
descobertas,
cocriação

17. Laboratório de Mudanças

18. Modelo prototípico de um Laboratório de Mudança
(Engeström et al, 1996)
segundo
estímulo
primeiro
estímulo

19. Primeiro estímulo
• Um problema além das capacidades do
participante, que exige o desenvolvimento de um
novo conceito
• A solução do problema modifica o problema, por
isso, é melhor descrita como uma contradição
• Ao invés de uma solução final, a contradição leva
à formação de um conceito que se atualiza

20. Segundo estímulo
• Também chamado de estímulo auxiliar
• Pode ser fornecido ou pode se esperar que o
participante crie o segundo estímulo
• Deve ser ambíguo para exigir a formação de um
conceito
• Estrutura temporária e flexível tal como um
andaime

21. Experimento dos blocos (Vygotsky/Sakharov)

22. Análise do experimento
• Primeiro estímulo: classificar blocos diversos
• Segundo estímulo: palavras estrangeiras
• Mediação: organização do campo visual para
perceber características variadas
• Reação: formação do conceito das palavras
estrangeiras

23. Laboratório de Mudança no Hospital de Oulu descrito por
Engeström (2011)

24. Análise do experimento
• Primeiro estímulo: vídeo de profissionais falando
sobre a falta de recursos humanos, lista de
espera longa e outros problemas
• Segundo estímulo: organograma
• Mediação: dividir a unidade cirúrgica em
subunidades com a participação de todos
• Reação: responsabilidade compartilhada apesar
da divisão de tarefas

25. Análise da oficina do Laboratório de Mudanças como um
Experimento de Dupla Estimulação (Engeström, 2011).

26. Generalizando resultados
•Intervenções Formativas aumentam a agência dos
participantes quando:
•Eles resistem ao pesquisador
•Eles percebem as possibilidades de ação
•Eles visualizam novos padrões de atividade
•Eles se comprometem com mudanças
•Eles tomam a atitude de mudar a atividade

27. Jaakko VIRKKUNEN MAHNWENyellehSesineD|
Livro gratuito sobre o método http://bit.ly/laboratoriodemudanca

28. Combinando
Intervenção Formativa
com Design Participativo

29. Design Participativo
•Começou como Pesquisa
Participante na Computação
•Foco em objetos que devem
ser transformados ou
criados pelos participantes
•Ferramentas e espaços
estruturam a participação e
devem ser cuidadosamente
projetados
Pelle Ehn (1988)

30. A pesquisa etnográfica deve prestar atenção à cultura
material (coisas e espaços).

31. A prototipação (ou modelagem) é mais produtiva do que a
definição de requisitos participativa.

32. Jogos podem ser utilizados em oficinas participativas para
aproximar a linguagem cotidiana da linguagem do projeto.

33. Jogos podem ser usados para simular cenários e ensaiar mudanças
(Garde, 2013).

34. Jogos permitem que as pessoas deixem mais explícitos seus
quadros de referência (Matos Castaño, 2017).

35. A troca de papéis no jogo permite que as pessoas adotem
quadros de referência diferentes dos seus (HC - UFPR).

36. Jogos fazem emergir contradições do projeto que as pessoas estão
evitando de falar a respeito (Van Amstel, 2015).

37. Jogos podem ser "terapêuticos". Mapa da Empatia no Hospital de
Clínicas do Paraná (Van Amstel, 2015).

38. Brincadeiras tornam o planejamento participativo mais
criativo e inclusivo (Agência PUC).

39. Teatro do Oprimido promove o diálogo produtivo entre estudantes
de esquerda e de direita (Gonzatto e Van Amstel, 2017).

40. Análise Qualitativa

41. Anotações em cadernos Molesquine.

42. Sistematização das anotações em um Issue Based
Information System IBIS (CompendiumNG)

43. Revisão constante do IBIS em busca de padrões e
explicações.

44. Aplicação de modelos da Teoria da Atividade para construir
explicações baseadas nas evidências.

45. Análise Interacional (Jordan & Henderson, 1995) com
software de codificação de vídeo (Anvil).

46. Diagrama de transição entre turnos de fala
(Zerjav et al, 2014)
Gerente de projeto
Médico Matemático

47. A liderança como uma prática emergente
(Zerjav et al, 2014)
Gerente de projeto
Médico
Matemático

48. Critérios de validade clássicos
•Validade interna baseada na minimização do
enviesamento na manipulação das variáveis.
•Validade externa baseada na generalização dos
resultados para situações diferentes do
experimento.
•Validade ecológica baseada no realismo do
experimento.
•Validade de construto baseada na relação
entre variáveis e conceitos teóricos.

49. Critérios de validade em pesquisas
abertamente ideológicas
•Triangulação de métodos e não somente de
fontes de dados.
•Validade de construto pelo confrontamento
com evidências indesejadas e reflexão.
•Validade aparente construída com
participantes.
•Validade catalítica demonstrada pela
apropriação da pesquisa pelos participantes.
(Lather, 1986)

50. Intervenção Formativa é
indicada quando…
•O fenômeno principal de estudo não é
diretamente observável
•O fenômeno tem múltiplas determinações
•O fenômeno se manifesta diferentemente em
cada situação
•O fenômeno está implicado na formação da
própria situação

51. Ou quando…
•Há organizações em crise com interesse em
colaborar com pesquisadores
•Há pesquisadores incomodados com a distância
entre pesquisa e mudança social
•Há uma necessidade de desenvolver um projeto
colaborativo e/ou multidisciplinar

52. Tese e dados abertos disponível em
fredvanamstel.com
Frederick van Amstel @usabilidoido
Escola de Arquitetura e Design
Programa de Pós-graduação em Informática
PUCPR
Obrigado!