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GonCalo de Vasconcelos e Sousa
coordenação geral
coordenação do volume
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Solar Condes de Resende
Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ)
2018
PatrimOnio
Cultural de Gaia
´
PatrimOnio Humano
Personalidades gaienses
´
J.A. GonCalves GuimarAes
~
,
,
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TÍTULO
Património Cultural de Gaia.
Património Humano – Personalidades Gaienses
COORDENAÇÃO-GERAL
J. A. Gonçalves Guimarães
COORDENAÇÃO DESTE VOLUME
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
AUTORES DOS TEXTOS
António Adérito Alves Conde
António Lima
António Manuel S. P. Silva
Eva Baptista
Francisco Queiroz
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
Isilda Braga Costa Monteiro
J. A. Gonçalves Guimarães
José Augusto de Sottomayor-Pizarro
José Guilherme Abreu
João Maria Távora de Magalhães Basto
Laura Castro
Laura Cristina Peixoto de Sousa
Licínio Santos
Lourenço Correia de Matos
Manuel Ferreira da Silva
Maria de Fátima Teixeira
Maria de São José Pinto Leite
Mário Jorge Barroca
Paulo Jorge Sousa Costa
Paula Leite Santos
Susana Guimarães
Susana Moncóvio
Teresa Campos dos Santos
Virgília Braga da Costa
GABINETE DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO (ASCR-CQ)
Equipa técnica
Eva Baptista, Licínio Santos e Maria de Fátima Teixeira
Administração
Amélia Cabral
SOLAR CONDES DE RESENDE
Técnica superior - Área da Cultura
Susana Guimarães
Apoio à pesquisa bibliográfica e documental
Celeste Pinho
Fotografia
CMVNG - EMPCI – Equipa Multidisciplinar de Protocolo,
Comunicação e Imagem – Eng.ª Ilda Henriques
Fotografo: João Luís Teixeira
EDIÇÃO
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia / Amigos do Solar
Condes de Resende - Confraria Queirosiana
Solar Condes de Resende, travessa Condes de Resende, 110
4410-264 Canelas, Vila Nova de Gaia
DESIGN
Omnisinal (Paginação por André Oliveira)
IMPRESSÃO
Mota e Ferreira - Artes Gráficas
TIRAGEM
00.000 unidades
DATA DA EDIÇÃO
00/00/0000
Património Cultural de Gaia
ISBN: 000-000-000-000-0
Depósito Legal: VG-000-0000
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Ninguém duvida da existência de um vasto património material e imaterial
em Vila Nova de Gaia. A questão que andava às voltas na minha cabeça era a
de saber como podem os gaienses, e todas as outras pessoas, fruir, valorizar
e partilhar esse património. Era preciso encontrar uma solução, era preciso
sublinhar em nós e perenizar para os outros a nossa memória coletiva. Na
decisão de editar a presente coleção de dez volumes que versam, todos eles,
sobre o(s) património(s) da nossa cidade de Gaia encontrei uma resposta.
Uma resposta que começa já. Começa com o presente volume, dedicado à
memória de quem marcou indelevelmente o nosso concelho e que tem por
título «Património Humano: personalidades gaienses».
Também já não se duvida do papel dos municípios, para além das infraes-
truturas e das materialidades. Um papel decisivo na cultura, na educação, no
património, no trabalho pela coesão e por grupos sociais específicos. O poder
local, outrora focado na infraestruturação do território, tem hoje novas obri-
gações. Evoluiu, como evoluiu o país e as nossas representações sociais. Olha-
-se hoje para as questões imateriais com o sentido da solidariedade, da coesão
e do reforço dos laços sociais. Olha-se para as novas temáticas como novas
questões sociais e novos mundos de atuação municipal. É neste novo tempo
que nos situamos e em que se inscreve o trabalho que agora se apresenta.
NESTA MEMÓRIA COMO CONSCIÊNCIA DO TEMPO
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Já Fernando Pessoa dizia que a “memória é a consciência inserida no tem-
po”. E este é um labor inestimável de construção de uma memória coletiva.
Uma memória que é feita de pessoas, de tradições, de instituições, de arte,
enfim, de cultura. A construção de uma memória coletiva é essencial para o
nosso conhecimento próprio enquanto comunidade, porque contém determi-
nadas perceções da realidade.
“A identidade cultural e a memória reforçam-se mutuamente. Conhecemos
as nossas raízes, distinguimos o que nos une e o que nos divide. Estamos
aptos a entender que a cultura e a memória são faces de uma mesma moeda
e que a atitude cultural por excelência e com o que nos rodeia, desde os tes-
temunhos construídos ou das expressões da natureza aos testemunhos vivos
aos quais são imprescindíveis para a construção desta identidade.”
Tais perceções objetivam-se no trabalho do historiador e do investigador
social e confluem para a construção de uma identidade. E a identidade de um
povo reside na sua cultura.
Hoje mais isto faz sentido; estamos em tempos incertos, contextos inse-
guros. A globalização tende a desvalorizar a cultura local, o que é específico
e, por isso, as questões que se prendem com a identidade cultural abrem hoje
grandes debates de ideias pelo mundo fora. Contra estes perigos é que se
ergue esta coleção. Contra o esquecimento e a diluição banal e acrítica. Há
um espaço para a preservação da identidade cultural dos povos num mundo
de “modernidade líquida”, onde as relações escorrem por entre os dedos e já
não há muito espaço para relações sólidas e duradouras, como argumentava
Zygmunt Bauman. Mas esse espaço nasce de uma vontade que tem de ser
forte, uma vontade de reter, de classificar, de estudar, de partilhar o que temos
em comum e que nos é mais identitário. É assim no mundo humano, porque,
como afirmava Nietzsche, no mundo dos animais a programação genética
tende a garantir a sobrevivência da espécie. Mas o ser humano, essa realidade
tão especial e difícil de explicar, tem que encontrar formas de manter a sua
natureza apesar das gerações. A solução para esta questão é fornecida pela
memória coletiva, um conceito que direciona comportamentos e experiências
nos interstícios de uma sociedade não cessa de mudar e de se transformar.
Este volume em particular e a coleção em que está inserido são exemplos
de um processo de rememoração, de um processo de procura das raízes, das
origens, do âmago da História do património cultural gaiense.
A memória é uma maneira de ligarmos as nossas ações do presente a acon-
tecimentos e a pessoas que tiveram lugar no passado. Temos, por isso, a lem-
brança de um rosto de uma pessoa, de um pôr-do-sol, de um sabor, de uma
sensação, de um sentimento. O que seria de nós sem as nossas lembranças?
Também ao nível do grupo, ao nível coletivo, se dá o mesmo processo. O que
seria feito de nós sem as nossas raízes? Daqui há lugar para a construção de
uma narrativa histórica que evoca acontecimentos que estão na lembrança de
todos, ou apenas de alguns, e que interessa usufruir e partilhar. Que interes-
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sa sobretudo experienciar. Por isso, este projeto é, em primeiro lugar, uma
experiência. Um experimentar olhar para Gaia do ponto de vista do que, em
termos culturais e de património, mais a marcou e mais a marca ainda.
A um grupo muito vasto de profissionais foi pedido que refletissem sobre
o nosso património, o que faz de Gaia a Gaia que é hoje; foi-lhes pedido que
resgatassem para o futuro um passado que a nós todos nos diz respeito.
Devo um agradecimento, em primeiro lugar, a toda esta equipa coordenada
pelo nosso ilustre historiador, homem-marca do Solar dos Condes de Resen-
de e da Confraria Queirosiana, Prof. Dr. Gonçalves Guimarães.
Através dos dez volumes deste projeto que agora nasce podemos empreen-
der uma viagem pela Gaia que foi conhecendo, assim, melhor a Gaia que é.
Penso que uma instituição como a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
tem um papel fundamental nesta memória como consciência do tempo.
Há uma outra dimensão que este projeto vem sublinhar, que é a da valori-
zação da nossa identidade coletiva, porque corresponde a uma seleção, a um
registo, a um estudo que é agora partilhado com todos. Consultar um destes
volumes é vermo-nos ao espelho, é um olhar sobre nós mesmos e sobre a
realidade que nos envolve. E, já agora, a partir daí projetarmos o nosso futuro
coletivo.
Vila Nova de Gaia, 20 de setembro de 2018
Eduardo Vítor Rodrigues
Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
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Se é certo que a perceção do conceito de Património seja já antiga – em Por-
tugal remontará pelo menos ao reinado de D. João V, certamente por influência
dos antiquários renascentistas – a sua teorização e sobretudo a sua compreensão
social são bem mais recentes e, ainda hoje, mesmo entre os profissionais das
Ciências Humanas e outras que com ele têm que ver, há uma certa dificuldade
em passar da teoria à prática. O Património identifica-se, estuda-se e divulga-se
mas nem sempre se seleciona ou prepara, através de um discurso organizado
e coerente, para o seu objetivo final, a usufruição como mais valia cultural por
parte dos cidadãos. Tendo na sua origem tudo aquilo que a natureza ou a obra
humana produzem, o Património como tal só o é após a necessária reflexão
que lhe dá conteúdo e mensagem para o tornar indispensável à sociedade que o
herda, suporta, recria e usufrui, procurando passá-lo às gerações vindouras em
situação dignificante, como fonte material ou imaterial de sabedoria trabalhada
por diversos profissionais que lhe acrescentam valores mais íntimos ou mais
coletivos. Embora possa arvorar muitas bandeiras, o Património é em si próprio
um valor claro e universal, desde que não seja usado como reclame redutor mais
particular ou particularista por qualquer entidade ou causa.
Uma ideia errada muito generalizada entre os não profissionais, que urge
corrigir, é a de que “tudo é Património”, o que não é nem nunca foi verdade,
pois este sempre foi e terá de continuar a ter «… qualidade e memória. Sem
qualidade, intrínseca ou circunstancial, não haverá fundamento para que um tes-
temunho-memória tenha de ser conservado», como sintetizou Carlos Alberto
Ferreira de Almeida no seu programático texto Património - Riegl e Hoje, publicado
em 1993. Sem estudo e sem a definição prévia de uma escala de valores que a ele
se agarrem no tempo e que a sociedade adote como seus, o Património não pas-
PATRIMÓNIO CULTURAL DE GAIA (PACUG)
UM PROJETO GLOBAL
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sará do estado embrionário e socialmente não existirá. Para além do conteúdo
cultural, dado pelo seu estudo e definição, tem de ser visível, visitável, usufruível
e partilhável pelos cidadãos, numa escala que vai da pequena comunidade ao uni-
versal, através de valores que se complementem, sem atropelos destrutivos que
se excluam. Uma grande ruína que ninguém conhece, um quadro perdido numa
arrecadação, não são Património, mas apenas uma possível “matéria-prima” que
os patrimoniólogos e outros profissionais poderão um dia vir a trabalhar. Se não
pudermos rentabilizá-los já, deixemo-los seguros, intocados e em paz para os
profissionais e os públicos do futuro.
No que diz respeito ao Património gaiense, alguns dos seus monumentos
aparecem referidos em obras dos séculos XVI e XVII, mas uma primeira tenta-
tiva da sua catalogação sistemática só se encontra nas Memórias Paroquiais de 1758.
Em 1861 António Rodrigues dos Santos enumera os monumentos do Centro
Histórico nos seus acrescentos à Descrição Topográfica de Vila Nova de Gaia. Em
1864 é fundada em Lisboa a Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólo-
gos Portugueses que, entre outras missões, iria proceder ao levantamento dos
monumentos a classificar em todo o país, cuja primeira listagem só será publica-
da em 1910, ainda antes da República, e onde constam alguns edifícios gaienses.
Entretanto, em 1873, e anos seguintes, o Portugal Antigo e Moderno… de Pinho
Leal proporcionava indiretamente uma nova tentativa de sistematização do pa-
trimónio local embrulhada em descrições fantasistas e literárias. Na realidade a
primeira publicação a tal dedicada com critério só vai surgir em 1909, intitulada
Mea Villa de Gaya, a qual reúne textos de um escol dos melhores especialistas
nacionais sobre os patrimónios arqueológico, edificado, etnográfico, paisagístico,
artístico e museográfico do município, já então voltado para o turismo, obra tão
avançada para a sua época, que não teve continuidade até aos anos sessenta e
setenta do século passado, quando os boletins dos Amigos do Mosteiro da Serra
do Pilar e depois dos Amigos de Gaia, através de textos de memorialistas pas-
saram a divulgar algum do Património local. Dos anos oitenta para cá uma nova
geração de profissionais das áreas das Ciências Humanas saída da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto e que vinha procedendo a trabalhos de levanta-
mento do património concelhio nas suas mais variadas vertentes e na definição
e caraterização do seu Centro Histórico, em 1982 funda o Gabinete de História
e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, vindo a publicar muitos dos seus trabalhos
na revista Gaya, noutras publicações académicas e em diversas monografias. En-
tretanto em 1983 são criados os serviços culturais do município (depois sector
de ação cultural), transferidos em 1987 para o Solar Condes de Resende, que
passou a ter como funções, entre outras, a concretização do levantamento do
Património e a sua rentabilização cultural e social, o que deu origem, por exem-
plo, à elaboração de processos de classificação de conjuntos e sítios incluídos
nos PDM, bem assim como a publicação de muitos textos sobre a caraterização
histórica de muito do Património identificado pelos profissionais daquele Gabi-
nete, entretanto, desde 2004, integrado na associação cultural Amigos do Solar
Condes de Resende – Confraria Queirosiana.
Porém, desde sempre a tarefa se revelou gigantesca e os recursos, profissio-
nais e outros, escassos, quer no que diz respeito ao Solar Condes de Resende,
quer ao Gabinete de História, Arqueologia e Património.
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Por proposta do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Prof.
Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, elaborou o coordenador desta última entida-
de o presente projeto em dez volumes sobre as seguintes áreas:
01 Património Natural: da Geomorfologia à Geografia física e humana
02 Património Arqueológico: da Pré-história à Arqueologia Industrial
03 Património Etnográfico e Imaterial: atividades tradicionais e suas
manifestações
04 Património Humano: Personalidades gaienses
05 Património Institucional: Instituições, Empresas e Associações históricas
06 Património Edificado: das construções vernaculares aos monumentos
classificados
07 Património Artístico: Arquitetura, Escultura, Pintura, Cerâmica,
Literatura, Artes Cénicas e Música
08 Património Gaiense no Mundo; Património do Mundo em Gaia
09 Gaia século XX: território, pessoas, atividades
10 Fontes, bibliografia, índices e outros aspetos complementares
Concretizados por uma equipa que integra patrimoniólogos, historiadores,
arqueólogos, geógrafos, sociólogos, biólogos e outros profissionais com um
bom entendimento teórico e prático do que é o Património Cultural nas suas
diversas vertentes e com trabalhos já publicados nas áreas suscetíveis de serem
enquadradas por este projeto que é, ao mesmo tempo, um ponto de chegada
de conhecimentos adquiridos e um ponto de partida para novas investigações,
considerando que «o Património classificado ou a classificar tem de ser encarado
como um contributo para a qualidade de vida, social e cultural, das comunidades.
Estas o vão sentindo e já vão reclamando a sua proteção. A experiência mos-
tra-nos que o Património pode ser muito mais bem defendido pelas associações
locais de defesa do património e pelas forças locais que pelo poder central. (…)
Uma sociedade moderna e qualitativamente culta olhará com respeito o seu Pa-
trimónio que a incentivará a fazer melhor…» (ALMEIDA, 1993: 416). Este in-
vestigador, santamariano e professor da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto falecido em 1996, jaz sepultado no Cemitério paroquial de Santa Marinha,
Vila Nova de Gaia, perto do local onde residia.
J. A. Gonçalves Guimarães
Coordenador geral
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INTRODUÇÃO
A assunção do conceito de Património como conjunto de intervenções hu-
manas às quais é dada, pela comunidade, um determinado sentido valorativo,
contribuindo para a construção da memória, de âmbito mais geral ou local, per-
mite afirmar que, no centro deste conceito, se encontram o Homem e as suas
ações materializadas. Por detrás dos outros tipos de Património, o Homem é, nas
suas múltiplas valências, responsável pela promoção das edificações históricas e
outras manifestações artísticas, musicais e literárias, pela dimensão imaterial da
cultura e das tradições, pela intervenção marcante na paisagem, mas, igualmente,
pela sua fruição, registo e valorização. Foi ele que criou este objeto de estudo e
será ele o seu intérprete e agente de preservação, valorização e dinamização.
Em boa hora a Câmara Municipal de Gaia entendeu promover esta hercúlea
tarefa de dar à estampa um conjunto de volumes, coordenado pelo Dr. Gonçal-
ves Guimarães, em que surgem abordadas as distintas vertentes de Património
local (e não só) e de que este é o primeiro testemunho. Neste enquadramento,
quando se aborda as várias dimensões patrimoniais de um concelho como o de
Gaia, logo emergem as pessoas historicamente situadas como um ativo relevan-
te, facto que se foi acentuando ao longo da evolução desta região. A exponen-
ciação do desenvolvimento das diversas freguesias que o constituem atingiu, ao
longo dos séculos XIX e XX, uma dimensão notável, facto que este livro traduz
de uma forma clara. E isto tanto na sua capacidade de fixar pessoas nascidas
noutras regiões, que aí afluíram em busca de melhores condições, notabilizan-
do-se pelo seu percurso, seja fixando as que aí nasceram, criando os meios para
aí desenvolverem atividades em prol do engrandecimento do concelho e, em
diversos casos, atingindo uma dimensão nacional e internacional.
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O conjunto de personalidades nascidas nas distintas freguesias do atual con-
celho de Gaia que conseguiu notabilizar-se dentro e fora da região é verdadei-
ramente surpreendente, sobretudo nos últimos dois séculos, relacionadas com
atividades tão distintas como a politica, o comércio, a benemerência, a arte ou a
indústria. Nomes como Soares dos Reis, António Teixeira Lopes ou os irmãos
Oliveira Ferreira são o testemunho visível na Arte, por exemplo, mas encon-
tramos muitas outras figuras marcantes nos vários domínios elencados, num
espectro tão rico e diversificado como o são as variantes sócio-económicas do
concelho. Diversos titulares com ligações a Gaia são, também, alvo de tratamen-
to, como o barões do Candal ou de Saavedra, os viscondes de Beire, de Santo
António do Vale da Piedade ou de Vila Nova de Gaia, ou os condes de Burnay,
de Campo Belo, de Castro ou de Laborim.
O tempo da Primeira República representou, no concelho de Gaia, um perío-
do de grande efervescência política, cultural e organizativa, nele emergindo uma
multiplicidade de personalidades de índole local (e não só), que procuraram vin-
car os seus ideais republicanos e maçónicos, alguns vindo a cultivá-los já desde
os últimos tempos da Monarquia. No ímpeto de levar o progresso e certos laivos
de vivência democrática aos seus concidadãos desenvolveram as mais diversas
iniciativas de natureza política e associativa, com frutos mais ou menos eféme-
ros, pelas condicionantes da evolução histórica do País.
Outros passaram por Gaia e deixaram aí o seu rasto a diversos níveis e em
distintas épocas, ou, então, desde a cadeira régia, em distintos momentos, rela-
cionaram-se de forma particular com Gaia, tomando decisões com impacto lo-
cal, algumas de efeito multissecular. Outros, ainda, levaram o nome desta terra e
até os apelidos toponímicos para fora do país, povoando o Brasil e transportan-
do consigo as boas qualidades de trabalho e dedicação às causas públicas, factos
evidenciados em muitos dos que se fixaram em terras de Vera Cruz.
Percorrer as centenas de nomes que corporizam este volume é revisitar a his-
tória de Gaia através dos seus intérpretes, mas numa dimensão muito alargada,
pois não se confina a uma perspetiva tradicional, como a política, a economia e a
sociedade. Esta obra vai mais além, abarcando, sobretudo para Oitocentos e No-
vecentos, a rica vida coletiva do concelho, a militância em determinados valores
e visões para a sociedade, ou a intensa vida cultural, manifestada em aspetos tão
distintos como a produção artística, a musical ou a literária.
Na estruturação do presente volume dedicado ao Património Humano de
Gaia, o primeiro, como se disse supra, da coleção referente às distintas vertentes
do Património deste concelho, foi adotada uma plêiade de regras de modo a que,
dada a amplitude cronológica, a quantidade de intervenientes biografados e de
biógrafos, pudesse resultar um todo global criterioso e dotado do rigor histórico
e da coerência necessária. Nesse sentido, a elaboração de um livro desta natureza
comporta a assunção de um conjunto de decisões que procura uniformizar cri-
térios, sendo pois necessário apresentá-los para que se tornem compreensíveis,
justificando possíveis ausências ou opções desta ou daquela natureza.
A seleção dos autores dos verbetes pautou-se pelo seu conhecimento das
referências históricas das personagens, estabelecendo sempre a ligação com o
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concelho de Gaia em geral ou alguma freguesia em particular. A formação cien-
tífica dos autores, não se caindo na mera tentação dos denominados curiosos locais
– que sempre existem, e ainda bem, em todas as localidades –, constituiu um dos
pontos de partida, essenciais ao espírito com que o coordenador da obra e o do
volume se irmanaram na estruturação do presente livro. A busca do rigor cien-
tífico e metodológico levou a coordenação a estabelecer – e porque era funda-
mental escolher um critério – as normas de referenciação bibliográfica do centro
de investigação CITCEM, ao qual pertence um grande número dos autores.
O critério de arrumação cronológica dentro das grandes épocas históricas
foi a solução encontrada para evitar que este trabalho se transformasse numa
espécie de dicionário dos ilustres de Gaia. No entanto, sendo o corpo dos textos
baseado em verbetes, era necessário estruturar a respetiva informação, pelo que
esse foi o critério adotado. Por outro lado, para a seleção das centenas de figuras
que se destacaram no concelho ao longo do tempo impunha-se um limite cro-
nológico, a jusante. Deste modo, apenas se consideraram aqueles biografados
falecido até ao ano 2000, inclusive, havendo já algum distanciamento para o
respetivo gizar biográfico.
A busca iconográfica revelou-se outra preocupação deste volume, registando
a imagem daqueles cujo percurso se aborda. No entanto, no caso de não ser
possível obter especificamente a sua representação, através de fotografia, de gra-
vura ou pintura, optou-se por selecionar a figuração de um edifício, de armas de
família ou do concelho, ou outro elemento iconográfico que lhe pudesse estar
associado, pois a natureza desta obra comporta, também, essa dimensão.
Deixamos uma nota de reconhecimento ao Dr. Gonçalves Guimarães, a
quem devemos o convite para coordenar este volume, o que nos muito nos hon-
ra, não apenas pelo significado e relevância científica que atribuímos a esta obra,
mas pela nossa ligação pessoal e familiar ao concelho de Gaia, designadamente
à Praia da Granja. Por isso, para além das múltiplas colaborações científicas e
escritos sobre gente de Gaia, ao longo dos anos, acresce essa perspetiva afetiva
forte e que nos move a olhar para estas terras, igualmente, como nossas.
Uma última palavra é de agradecimento aos autores das mais de duas cente-
nas de verbetes que corporizam este volume, pois sem o seu esforço, dedicação
e empenho na entrega atempada do resultado do seu labor e investigação, não
teria sido possível erguer o presente livro no tempo determinado para a respe-
tiva execução. E abrir uma coleção com a natureza e a relevância da que agora
se inicia é algo que a todos uniu, motivando para a edificação de uma obra cujo
objetivo primacial é honrar aqueles que nela figuram e cuja vida meritória e
relevante esteve, direta ou indiretamente, ligada ao concelho de Gaia e às suas
muitas freguesias.
Porto, 29 de abril de 2017
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
Coordenador do Volume
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15
SUMÁRIO
BIOGRAFADO AUTOR P.
Lúcio Lávio Tusco JAGG 24
Mafamude; Mahamūd ‘ Abd al-Yabbār JAGG-SG 25
Ordonho II, Rei JAGG 26
Ramiro II, Rei JAGG 27
Soeiro Fromarigues [de Marnel] JAS-P 28
Nuno Soares de Grijó JAS-P 29
Afonso Henriques, D., Rei JAGG 30
Gil Vasques de Soverosa PJSC 31
Rodrigo Sanches, D. MJB 32
Afonso III, D., Rei JAS-P 33
Dinis, D., Rei JAS-P 34
João da Gaia JAGG 35
Estêvão Pires Coelho JAGG 36
Maria Mendes Petite PJSC 37
Pedro I, D., Rei JAGG 38
Aires Gonçalves de Figueiredo JAS-P 39
João Rodrigues de Sá, “O das Galés” PJSC 40
Álvaro Anes de Cernache PJSC 41
Manuel I, D., Rei JAGG 42
Fernão de Magalhães JAGG 43
Fernão Brandão Pereira PJSC 44
Diogo Brandão; Diogo Brandão Pereira de Pina PJSC 45
Manuel Fernandes de Calvos, “O Rico de Ormuz” JAGG 46
Nuno da Silva JAGG-SG 47
Tomé da Costa IBCM 48
António Leite de Albuquerque, D. SM 49
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16
Filipe de Távora e Noronha JAGG 50
João Correia Pacheco Pereira, “O Manco de Gaia” AAAC 51
António Craesbeeck de Melo AAAC 52
José Pereira dos Santos JAGG 53
José de Azevedo e Sousa AAAC 54
José Bento Leitão PJSC 55
João António Monteiro e Azevedo SM 56
Pedro Leite Pereira de Melo JAGG-MFT 57
Maria Isabel Wittenhall Van-Zeller SG 58
Jerónimo Rossi LCPS 59
Barão do Corvo; Manuel Álvares (ou Alves) do Souto Guedes da Silva JAGG 60
Rosa Maria da Conceição e Silva, D. JAGG 61
José Veloso da Cruz AAAC 62
António Rodrigues dos Santos AAAC 63
José Liberato Freire de Carvalho JAGG-SG 64
José Pereira da Silva Leite de Berredo AAAC 65
Visconde de Beire; Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso
Barreto de Miranda e Figueiroa
JAGG-SG 66
Manuel Gonçalves de Castro AAAC 67
Miguel Joaquim de Moura Coutinho Lacerda Abreu Lima IBCM 68
António da Rocha Leão SM 69
Visconde de Vila Nova de Gaia; Thomas William Stubbs JAGG 70
Conde de Laborim; José Joaquim Gerardo de Sampaio JAGG 71
General Torres; José António da Silva Torres, Barão do Pico do Celeiro,
Visconde da Serra do Pilar
LCM 72
António Ribeiro da Costa JAGG-MFT 73
Barão do Candal; Manuel José Mendes JAGG 74
Visconde de Santo António de Vale da Piedade - ver António José de
Castro Silva (I)
JAGG 75
Visconde de Portocarreiro; João Cardoso da Cunha Araújo e Castro
Portocarreiro
AAAC 76
Visconde de Oliveira; Marcelino Máximo de Azevedo e Melo JAGG-MFT-SG 77
Visconde da Pena; José Rodrigues de Cazaes JAGG 78
Conde de Castro; José Joaquim Gomes de Castro JAGG 79
Marquês de Sá da Bandeira; Bernardo de Sá Nogueira, Barão, Visconde
e Marquês de Sá da Bandeira
JAGG 80
Barão de Saavedra; Tomás Pinto da Cunha Saavedra LCM 81
Pedro IV, D., Rei JAGG 82
Luís de Queiroz Monteiro Regadas FQ 83
Almeida Garrett; João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett,
Visconde de Almeida Garrett
JAGG 84
Joaquim da Cunha Lima de Oliveira Leal AAAC 85
Manuel Bento Rodrigues, D. AAAC 86
José Plácido Campeão GVS 87
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17
Manuel da Fonseca Pinto SM 88
Frutuoso Aires; Frutuoso José da Silva Aires FQ 89
Joaquim Veloso da Cruz AAAC 90
Francisco da Rocha Soares FQ 91
Visconde da Graceira; José Rodrigues de Faria JAGG-MFT 92
Barão de Forrester; Joseph James Forrester JAGG-SG 93
Antónia, D., “ A Ferreirinha”; Antónia Adelaide Ferreira JAGG 94
Diogo José de Macedo EB 95
Visconde de Oliveira do Douro; Manuel Maria da Costa Leite JAGG-MFT-SG 96
Visconde das Devesas; António Joaquim Borges de Castro JAGG 97
Frederick William Flower JAGG 98
João Ferreira da Silva Oliveira AAAC 99
Luís António Pinto de Aguiar Júnior AAAC 100
André Michon FQ 101
Manuel Lopes da Costa Soares AAAC 102
João Tomás Cardoso FQ 103
Antero Albano da Silveira Pinto FQ 104
José de Almeida Cardoso FQ 105
Diogo Leite Pereira de Melo AAAC 106
Conde de Silva Monteiro; António da Silva Monteiro, Visconde e Conde de
Silva Monteiro
MSJPL 107
Ricardo de Clamouse Browne GVS 108
Visconde de Castro Silva; António José de Castro Silva, Júnior (II) JAGG-MFT 109
Visconde de Arcozelo; Joaquim Teixeira de Castro EB 110
Camilo Castelo Branco; Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, Visconde
de Correia Botelho
JAGG 111
Abade de Arcozelo; Aires de Madureira; Cândido José Aires de Madureira EB 112
Francisco Pinto da Costa SM 113
José Mariani MFT 114
António Aires de Gouveia Osório, D. EB 115
Conde de Samodães, 2º; Francisco Teixeira de Aguilar e Azeredo AAAC 116
Joaquim Nicolau de Almeida VBC 117
Joaquim Pereira Fula JAGG-MFT 118
Visconde de Proença Vieira; Joaquim José de Proença Vieira JAGG 119
António Almeida da Costa FQ 120
José Nicolau de Almeida LS 121
Barão de S. João Batista de Canelas; Jacinto Pinto Ferreira Guerra JAGG 122
Manuel José Pereira Lima SM 123
José Joaquim Teixeira Lopes FQ 124
Conde de Burnay, 1º; Henrique Burnay GVS 125
António Narciso de Azevedo Magalhães AAAC 126
Caetano Pinho da Silva JAGG-MFT-SG 127
António Joaquim dos Reis Castro Portugal FQ 128
Conde de Porto Brandão; Tomás da Silva Brandão AAAC 129
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18
Júlio Dinis; Joaquim Guilherme Gomes Coelho SM 130
Joaquim Augusto da Silva Magalhães AAAC 131
Marciano Azuaga; Marciano do Carmo Martins Viana de Azuaga JAGG 132
Apolino da Costa Reis AAAC 133
Eduardo da Costa Santos JAGG-MFT 134
Afonseca Lapa; João de Afonseca Lapa FQ 135
António Nicolau de Almeida Júnior PLS 136
Visconde da Ermida, 1º; António Ferreira da Silva Brito (II) JAGG-MFT 137
Alfredo Lucas; Alfredo de Almeida Lucas EB 138
Jaime Teixeira da Mota e Silva AAAC 139
Manuel Pinto Mourão EB 140
Artur Napoleão dos Santos JAGG 141
Manuel Pinto dos Reis AAAC 142
Conde de Resende, 5.º; Luís Manuel Benedito da Natividade de Castro
Pamplona de Sousa Holstein, D.
SM 143
Diogo Cassels AMS 144
José Geraldo da Silva Sardinha JMTMB 145
Eça de Queirós; José Maria Eça de Queirós JAGG 146
António Monteiro dos Santos MFT 147
Adriano de Paiva; Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão, Conde de
Campo Belo, 1.º
JAGG 148
Soares dos Reis; António Soares dos Reis PLS 149
Cabo Simão; Simão da Costa Santos AAAC 150
João Rodrigues Valente Perfeito EB 151
Artur Ferreira de Macedo EB 152
Augusto César da Cunha Morais MFT 153
Flórido Toscano; António Flórido da Cunha Toscano EB-JAGG-MFT-SG 154
Albino Barbosa; Albino Pinto Rodrigues Barbosa FQ 155
Salvador Brandão; Salvador Ferreira Brandão JAGG-MFT 156
Macedo Pinto, Coronel; Augusto António de Macedo Pinto AAAC 157
Agostinho de Almeida Rego JAGG-MFT-SG 158
Domingos da Rocha Romariz JAGG-MFT 159
Alfredo Moreira da Silva, “ O Alfredo das Rosas” AAAC 160
Adriano Ramos Pinto JAGG 161
José Gonçalves da Silva Matos EB 162
José Pinto Amorim da Costa EB 163
Maximiano Lemos; Maximiano Augusto de Oliveira Lemos JAGG-MFT 164
Francisco Gonçalves Cortez JAGG-MFT 165
Adolfo Marques AAAC 166
Francisco José Ferreira Guimarães AAAC 167
António Teixeira Pinto AAAC 168
Leopoldo Mourão; Leopoldo José de Oliveira Mourão EB 169
Osório Gondim; Inocêncio Osório Lopes Gondim JAGG-MFT-SG 170
João Pinto de Azevedo AAAC 171
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19
Joaquim Gonçalves da Silva SM 172
Álvaro Cabral; Álvaro Augusto Cabral da Cunha Goodolfim de Maia
Figueiredo
AAAC 173
Venceslau Pedro da Silva JAGG-MFT 174
Amélia, D., Rainha SM 175
Manuel Maria Lúcio SM 176
Bernardo Lucas; Bernardo de Almeida Lucas EB 177
José Júlio Gonçalves Coelho AAAC 178
Teixeira Lopes; António Teixeira Lopes SM 179
José Fernandes Caldas FQ 180
Manuel Marques Gomes AAAC 181
Luís Gonçalves de Oliveira LS 182
José Tristão Pais de Figueiredo EB 183
Paulino Gonçalves TCS 184
Augusto Santo AAAC 185
Marcelino de Almeida Lucas Júnior AAAC 186
Manuel Emílio Dias Castelo Branco AAAC 187
Adelino de Sá Lemos PLS 188
Alfredo Seixas Bandeira AAAC 189
Cabo Borges; João Borges AAAC 190
José Amadeu de Castro Portugal EB 191
Alberto Júlio Pereira JAGG- MFT-SG 192
José Teixeira Lopes MFS 193
Padre Luís; Luís Gonçalves da Rocha AAAC 194
Adelino Gonçalves Gomes JAGG-MFT-SG 195
António Pimenta da Fonseca MFT 196
Belchior Fernandes da Fonseca AAAC 197
José Pinto de Macedo LS 198
António da Costa Bernardes, ”O Ferramenta” AAAC 199
António Fernandes de Sá PLS 200
Ernesto Rodolfo Alves de Castro AAAC 201
Augusto Francisco da Rocha JAGG-MFT- SG 202
Miguel Joaquim da Silva Leal Júnior JAGG-MFT-SG 203
Joaquim dos Santos Guimarães PJSC 204
Conde das Devesas, 2º; Alfredo Pereira Pinto de Castro e Lemos, 2.º
Conde das Devesas
JAGG 205
João Porfírio de Lima Calheiros Lobo EB-JAGG-MFT 206
José da Fonseca Menéres AAAC 207
Manuel Ferreira de Castro AAAC 208
César Marques dos Santos, “O Menino de Ouro” AAAC 209
Santos Costa; Manuel Rodrigues dos Santos Costa JAGG-MFT-SG 210
Ramiro Mourão; Ramiro Bastos Mourão JAGG-MFT-SG 211
Magalhães Costa; Guilherme António de Magalhães Costa JAGG-SG 212
Waldemar Löfgren; Karl Frithiof Waldemar Löfgren JAGG-SG 213
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20
Álvaro Miranda; Álvaro Pinto de Miranda SM 214
Bernardo Pinto Abrunhosa AAAC 215
José Domingues da Rocha Beleza JAGG-MFT -SG 216
Joaquim Gomes Ferreira Alves AAAC 217
José Soares de Oliveira AAAC 218
José de Oliveira Ferreira MFS 219
Alves de Sousa; António Alves de Sousa TCS 220
António Fiandor, D.; António Ferreira Fiandor AMS 221
Francisco de Oliveira Ferreira MFS 222
Joaquim Lopes; Joaquim Francisco Lopes TCS 223
Honório Costa; Honório Tavares da Costa AAAC 224
José Maria da Silva AAAC 225
Joaquim Francisco Correia AAAC 226
Alberto da Conceição Teixeira AAAC 227
José Dinis dos Santos AAAC 228
Rodolfo Pinto do Couto AAAC 229
Venceslau Fernandes de Figueiredo AAAC 230
Diogo de Macedo; Diogo Cândido de Macedo JGA 231
Henrique Moreira; Henrique Araújo Moreira AAAC 232
Zeferino Couto; Zeferino dos Santos Couto AAAC 233
António de Azevedo; António Ferreira de Azevedo AAAC 234
Manuel Marques; Manuel Marques Pinto AAAC 235
João Alves Pereira PJSC 236
Armando Leça; Armando Lopes JAGG-MFT 237
Abel Pego Fiúza AAAC 238
Cunha da Rasa; Alfredo Antunes da Silva Cunha, “ O Cunha da Rasa” JAGG 239
Sousa Caldas; José Fernandes de Sousa Caldas PLS 240
José Saavedra; José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra AAAC 241
Avelino Monteiro; Avelino da Silva Monteiro JAGG 242
Joaquim Francisco Pedrosa Júnior JAGG-MFT-SG 243
Ângelo Mendonça da Cunha Morais AAAC 244
Joaquim Alves da Silva AAAC 245
Manuel Moreira de Barros SM 246
Armando de Matos; Armando Manuel de Matos AAAC 247
António Pereira da Costa JAGG 248
José Pereira dos Santos PLS 249
Dina Teresa; Dina Teresa Moreira de Oliveira AAAC 250
José Ferreira de Albuquerque e Castro AAAC 251
Jorge Faria Vieira de Araújo AAAC 252
Conde de Campo Belo, 4º; Henrique Leite Pereira de Paiva Távora
e Cernache
GVS 253
Visconde de Pereira Machado, 3.º; Nuno Guilherme de Brito e Cunha JAGG-MFT 254
João de Brito e Cunha AAAC 255
Mário Cal Brandão AAAC 256
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21
Loubet Bravo; Loubet Moreira Bravo AAAC 257
Fernando Moreira; Fernando Jorge de Azevedo Moreira AAAC 258
Carlos Vale; Carlos dos Santos Vale AAAC 259
Alberto da Silva Bessa AAAC 260
Afonso Ribeiro; Afonso Adelino Ribeiro de Azevedo JAGG-SG 261
Romero Vila, Padre; Manuel Romero Vila AAAC 262
Guilherme Camarinha; Guilherme Duarte Camarinha TCS 263
António Coelho de Figueiredo AAAC 264
António Sampaio; António de Assunção Sampaio LC 265
Aureliano Lima; Aureliano Branquinho e Lima TCS 266
César Morais; César Augusto Ribeiro Morais JAGG 267
Isolino Vaz; Isolino da Silva Vaz FQ 268
António Reis; António Ferreira Gonçalves dos Reis LS 269
Eduardo Luiz; Eduardo Luiz Teles Fernandes Gomes TCS 270
António Lima; António de Azevedo Lima AL 271
Simões da Hora; Joaquim Eduardo Simões da Hora FQ 272
Adriano Correia de Oliveira; Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira PJSC 273
Nuno Guimarães; José Nuno Guimarães AAAC 274
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Fotografia de João Luís Teixeira©
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PatrimOnio Humano
Personalidades gaienses
´
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24
Inscrição de Lúcio Lávio Tusco, proveniente
do Castelo de Gaia; Solar Condes de Resende;
fotografia de João Luís Teixeira©
BIBLIOGRAFIA
- ALARCÃO, Jorge de (2005) – Destacamento(s)
da Legião X Gémina no Baixo Douro no tempo de
Cláudio?. «Al-madan», II série (13), p. 78-81.
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Gaia. Vila Nova de Gaia, 1993, 56 pp. Ilust. ISBN:
972-581-011-2.«Conimbriga», 35 (1996), p.
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tural Amigos de Gaia», n.º 70, junho de 2010,
p. 5-20.
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tributo de Gádir nas campanhas romanas na fachada
noroeste da Península. «Humanitas», n.º 59, p.
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Olisipo. Algumas considerações em torno do catálogo
Lisboa Subterrânea. «Al-madan». II série, n.º 3,
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- SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1983)
– As Tesserae Hospitales do Castro da Srª. da Saúde
ou Monte Murado (Pedroso, V. N. de Gaia). Contribu-
to para o estudo das instituições e povoamento da His-
pânia Antiga.«Gaya», vol. I, Vila Nova de Gaia:
Gabinete de História e Arqueologia, p. 9-26.
Se não estivesse hoje perdida uma inscrição existente
no séc. XVI no Castelo de Gaia que tinha gravado C. IVLI-
VS, bem assim como um maior adiantamento nos estudos
arqueológicos do sítio, do município e da região, talvez ar-
riscássemos escrever que o habitante de Gaia, ainda que
forâneo, mais antigo de que há notícia escrita fosse Júlio
César (Caio Júlio César) que por aqui terá passado cerca de
60 a.C..
Enquanto novos dados não estão disponíveis, os habi-
tantes de Gaia mais antigos cujos nomes se conhecem são
Niger, Rufo, Prisco e Lugário, filho de Septánio, da etnia
dos Túrdulos Velhos, a qual ocupava o território entre o Rio
Douro e o Vouga, o Atlântico e as serras de Arouca e Vale
de Cambra, tendo no Monte Murado, em Pedroso, infeliz-
mente ainda não escavado, o seu principal povoado. Eram
provavelmente os seu chefes, ou pelo menos personalidades
de destaque na sociedade castreja e por isso os seus nomes
constam em duas placas de bronze, dos anos 7 e 9 da nossa
era pelos quais se ficou a saber que fizeram um pacto de
hospitalidade com um romano chamado Décimo Júlio Cilo,
da tribo Galéria.
Mais ou menos contemporâneo, por aqui passou outro
romano de seu nome Lúcio Lávio Tusco, filho de Lúcio,
nascido em Lisboa, soldado da X Legião Gémea Vitoriosa,
cujo nome e outras indicações foram gravadas numa inscri-
ção encontrada nas Escadas da Boa Passagem no Castelo de
Gaia nos anos trinta do século passado e que hoje se guarda
no Solar Condes de Resende, talvez o que resta de um mar-
co miliário, a que falta a parte final da inscrição.
Entre o último quartel do século I a. C. e a época do
imperador Cláudio alguns destacamentos daquela legião
estiveram no Baixo Douro a assegurar a ocupação roma-
na por terra entre Olisipo (Lisboa) e Bracara (Braga) e ou-
tras povoações, na construção de pontes de barcas ou no
controle das travessias do Rio Douro em direção a Bracara
e Tongobriga (Marco de Canaveses), na vigilância das ex-
plorações mineiras, na construção de condições portuárias
flúvio-marítimas na margem esquerda do Durius em Por-
tus Cale (Vila Nova de Gaia) e Crastumia (Crestuma), e em
Cale na margem direita, povoados desde longa data conhe-
cidos pelos navegadores gaditanos da rota atlântica a quem
os romanos recorreram, ou na delimitação das civitates.
A inscrição será funerária, o que quer dizer que Lúcio
Lávio Tusco antes de morrer em Gaia deixou bens e incum-
biu alguém de lhe mandar fazer a inscrição memorialística,
ou deixou familiares que de tal se ocuparam.
Este é pois o primeiro gaiense, ainda que de adoção,
sobre quem, para além do nome, sabemos a profissão e o
enquadramento social, a época em que viveu, e a ligação ao
património de Vila Nova de Gaia.
JAGG
LÚCIO LÁVIO TUSCO (séc. I D.C.)
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25
Escultura simbólica alusiva a Mahamud, por
Avelino Rocha, Paço de Rei, Mafamude; foto-
grafia de JAGG©
BIBLIOGRAFIA
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1989) -
Mahamud: algumas dificuldades na fixação da bio-
grafia de um guerreiro berbere do Al-Garb Al-Andalus.
In MARQUES, A. H. de Oliveira; DIAS, João
José Alves - Actas das III Jornadas de História Me-
dieval do Algarve e Andaluzia. Loulé: Câmara
Municipal, 1989, p. 107-118; idem (2006) –
idem. In MARTINS, Albano, coord. (2006) - Um
nome para uma escola: Almeida Garrett. Porto: Uni-
versidade Fernando Pessoa, p. 53-63.
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves; GUIMA-
RÃES, Susana (2012) – Álbum do Gaiense do mês
- Mafamude guerreiro. Vila Nova de Gaia: Solar
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- MOREIRA, Domingos A. (1987) - Freguesias
da Diocese do Porto - elementos onomásticos altí-me-
dievais: o Concelho de Gaia. Vila Nova de Gaia:
Câmara Municipal/Gabinete de História e
Arqueologia, p. 71.
- VENEGAS RAMOS, Alberto (2014) – Las
imágenes de Mahmud en la Crónica de los emires
Alhakam I y Abderramán II entre los años 796 y 847
[Almuqtabis II-I]. «Revista de Estudios Extre-
meños», tomo LXX, número II, p. 871-892.
Mahamūd ‘Abd al-Yabbār, ou Mahmud b. Abdalgabbar
al-Maridi, de origem berbere, nasceu por volta de 796 pro-
vavelmente em Mérida. Em 827, sob o governo do emir
Abderraman II, chefia a revolta dos habitantes desta cidade
de que resulta a morte do seu governador Marwan Al Yilli-
qui, sendo subjugados pelas tropas do emir. Revoltam-se
então de novo, chefiados por Mahamūd e pelo seu com-
panheiro o muladi Sulayman b. Martin. Esta aliança entre
berberes, muladis e moçárabes tinha como objetivo mais
amplo a independência da antiga Lusitânia contra o poder
centralista omíada, cuja tirania os tinha quase reduzido à
situação de escravos. Abandonando a cidade dirigem-se
com os seus guerreiros para sul. Perseguidos, invertem a
fuga para norte e dirigem-se para a Galiza, pedindo prote-
ção a Afonso II das Astúrias, que concede a Mahamūd, nas
fronteiras do seu país, que nessa época coincidiam com o
Rio Douro, um território e a «fortaleza que hoje leva o seu
nome» (Ibn Hayan), onde viverá entre sete e dez anos. Estes
acontecimentos são relatados por vários cronistas árabes,
que nem sempre coincidem nos pormenores ou nas moti-
vações dos intervenientes.
Hesitando entre as pressões dos cristãos e as dos mu-
çulmanos, em 838 Mahamūd decide voltar para a sua terra,
o que chega ao conhecimento do rei asturiano que o usava
para conter o avanço islâmico a partir do sul, pensando por
isso tratar-se de traição. Tendo sido cercado no castelo de
Santa Cristina, numa sortida contra os cristãos o seu ca-
valo espanta-se e o atira-o contra um carvalho. Perante a
morte do líder os seus companheiros dispersam-se. Porém
sua irmã Gamilah é capturada e sorteada entre os atacantes,
vindo assim a ter descendência de um nobre cristão.
Esta fortificação passou desde então a designar-se como
castro e monte (mons) Mafamude, o qual está na origem da
denominação desta freguesia gaiense, que aparece na do-
cumentação como mahamudi, e outras variantes ortográfi-
cas, desde o século X, servindo de referência às populações
moçárabes e muladis de ambas as margens do Rio Douro,
como é o caso de Aldoar, freguesia da margem direita do
Rio Douro, conforme o atesta um documento do século X.
Existe também em Mafamude o antropónimo Suleiman, sob
a forma Soeime, a designar uma grande e antiga proprie-
dade, enquanto que um documento do século XIV ainda
regista a memória do orago Santa Cristina, na recentemen-
te desaparecida povoação medieval de Paço de Rei. Temos
pois que será esta a terra onde «No mês de maio de 840 da
era cristã/ perto deste lugar de Paço de Rei/ terá morrido
Mahamūd/ guerreiro árabe que procurou a liberdade/ en-
tre o Sul e o Norte/ o Leste e o mar», conforme se lê na
placa da escultura simbólica erguida em Paço de Rei.
JAGG-SG
MAFAMUDE (c. 796-c. 840)
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26
Pormenor do Castelo de Crestuma, in SILVA
& GUIMARÃES, 2013:17
BIBLIOGRAFIA
- FERNANDES, A. de Almeida (2001) – Por-
tugal Primitivo Medievo. Arouca: ADPA, p. 394.
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2009) – In-
trodução ao estudo do povoamento medieval da Terra
de Santa Maria: actualização bibliográfica. In «Villa
da Feira. Terra de Santa Maria», ano VIII, n.º
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Asturiano-Leonês. In MATTOSO, José – História
de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo
de Leitores, p. 536.
- SILVA, António Manuel S. P.; GUIMA-
RÃES, J. A. Gonçalves (2013) – Castelo de
Crestuma. A Arqueologia em busca da História. Vila
Nova de Gaia: Águas e Parque Biológico de
Gaia/ ASCR-CQ – Confraria Queirosiana.
- SILVA, António Manuel S. P. (2014) – El
castillo de Crestuma (Vila Nova de Gaia, Porto, Por-
tugal) entre la Romanidad tardia Y la Edad Media:
los retos de un sitio complejo. In CATALÁN, Raúl;
FUENTES, Patricia; SASTRE, José Carlos
– Las Fortificaciones en la Tardoantigüedad. Élites y
articulación del território (siglos V – VIII d. C.). Ma-
drid: Ediciones de La Ergástula, p. 405 – 416.
Rei da Galiza e Leão, era filho de Afonso III e da rai-
nha Jimena Garcês de Pamplona e neto de Ordonho I das
Astúrias e de Leão. Por morte do pai coube-lhe o reino da
Galiza em 909. Casou em 892 com Elvira Mendes, filha do
conde Hermenegildo Guterres, conquistador e repovoador
de Coimbra em 878, de quem houve três filhos. Depois de
enviuvar em 911, Ordonho II voltou a casar com Aragunte
Gonçalves, filha do conde portucalense Gonçalo Betotes e
cunhada de Mumadona Dias, a fundadora do Mosteiro de
Guimarães, de quem não teve descendência. Casou uma ter-
ceira vez com Sancha Sanches de Pamplona, também sem
descendência. Tendo estabelecido a sua capital em Viseu,
por morte de seu irmão Garcia em 914, sucede-lhe como
rei de Leão, mudando a capital deste reino de Oviedo para
Leão.
Em 910 dirigiu pessoalmente uma incursão até Sevilha
e em 913 uma outra grande expedição a Évora de onde
regressou cheio de despojos. Pouco depois envia nova ex-
pedição ao castelo de Alhange, perto de Mérida e obtém a
submissão e pagamento de tributo do governador de Bada-
joz. Mas, entretanto, o emir Abd al Rahman, que em 929 se
proclama califa, recupera a autoridade no al Andaluz e der-
rota Ordonho II em Valdejunquera em 920, onde aprisiona
o bispo portucalense Hermógio, natural de Tui, e seu sobri-
nho Pelágio, que virá a morrer no cativeiro, sendo depois
venerado como santo (S. Paio), dando mais tarde a designa-
ção a um troço da margem esquerda da foz do Rio Douro.
As relações deste rei com a Terra de Santa Maria, assim
designada desde pelo menos 978, e em particular com o
futuro julgado de Gaia, estão expressas num controverso
documento atribuído ao ano 922, de que se conhece ape-
nas uma cópia incompleta da primeira metade do século
XII proveniente do Livro Preto da Sé de Coimbra e publicado
nos Portugaliae Monumenta Historica, n.º 25. Por ele se fica a
saber que o rei veio à vila de Portugal, então uma povoação
da margem esquerda do Douro, situada entre Mafamude e
Coimbrões e que corresponderá à futura freguesia de Santa
Marinha, Vila Nova de Gaia, onde armou navios para ir
com a rainha e o seu séquito visitar o bispo Gomado ao
Mosteiro de Crestuma, e aí lhe fizeram uma ampla doação
de terras, povoações e outros direitos no Rio Douro e na
região litoral até ao Mondego. Escavações arqueológicas re-
centes no Castelo de Crestuma comprovaram a antiguidade
do lugar e a existência de um túmulo de prestígio em lugar
de destaque, no que poderão ter sido as ruínas do mosteiro
medieval.
Ordonho II faleceu em 924, e foi sepultado na catedral
de Leão que mandara construir em 916.
JAGG
ORDONHO II, REI (c. 873-924)
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27
Ramiro II de Leão nas armas do Município
de Vila Nova de Gaia anteriores a 1934; edifí-
cio dos Paços do Concelho; fotografia de João
Luís Teixeira©
BIBLIOGRAFIA
- FERNANDES, A. de Almeida (2001) – Por-
tugal Primitivo Medievo. Arouca: ADPA, p. 394.
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mórias gaienses de Garrett. In GUIMARÃES, J.
A. Gonçalves et al. – Roteiro Garrettiano de Vila
Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: Câmara Mu-
nicipal/Solar Condes de Resende, p. 57-75.
- MATTOS, Armando de (1933) – A Lenda do
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da Empresa Aquila, p. 20.
-MATTOSO, José (1985) - Portugal Medieval.
Novas interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional
- Casa da Moeda, p. 322.
- MATTOSO, José (1992) – Portugal no Reino
Asturiano-Leonês. In MATTOSO, José – História
de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo
de Leitores, p. 536.
- SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto
de (1999) – Linhagens Medievais Portuguesas. Ge-
nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto:
Universidade Moderna/CEGHHF, p. 253 e
seg.s.
A ligação do rei Ramiro II a Gaia é bem antiga, se bem
que provavelmente lendária. Filho de Ordonho II e de Elvi-
ra Mendes, sucedeu em 931 a seu irmão mais velho, Afonso
IV, que nele abdicou, passando a ser rei de Leão, Astúrias
e Galiza. Casado em 925 com Ausenda Guterres, filha de
Guterre Ozores de Coimbra, repudiou esta e casou com
a princesa navarra Urraca Sanches de Pamplona. Encetou
então diversas campanhas contra os mouros que em 937 o
levaram a Mérida, Badajoz, Santarém e Lisboa. Casou uma
terceira vez com Onega, de quem teve em 940 Lovesendo
Ramires, que casará com Zayra Ibn Zayda, filha de Zaydan
Ibn Zayd e de Aragunta Fromarigues. Teve ainda de Ortega
Ramires um filho de nome Alboazar Ramires e uma filha
Ortega Ramires de quem pretendiam descender os senho-
res da Maia e os Gaia, depois os Sá.
Tendo o califa Abderraman retomado a ofensiva, foi
derrotado por Ramiro e obrigando a negociar uma trégua
em 944, a qual conveio ao rei leonês que estava a ter pro-
blemas com os castelhanos que não aceitavam os caudilhos
que lhes queria impor.
Os mais antigos relatos sobre a possível presença des-
te no Castelo de Gaia foram recolhidos no Livro Velho das
Linhagens, datado de entre 1270 e 1285, e no Livro de Linha-
gens do Conde D. Pedro, datado de 1340-1344, definindo-os o
historiador José Mattoso como «o exemplo mais precoce…
de um cantar jogralesco português posto por escrito», atri-
buindo uma possível intervenção na sua redação a Estêvão
Anes, pai do trovador João da Gaia, daqui natural. Concor-
dante com aquelas datas, um documento de 1384 do Mos-
teiro de Pedroso refere-se a uma casa na vila de Gaia «a par
da fonte do Rey miro», sendo igualmente antiga a rua ali
existente com o nome do monarca leonês, que em 1850 fi-
gurará a tocar a sua buzina no timbre das armas municipais.
Do final do século XVI temos outras narrativas alusivas
a este episódio, como é o caso das estrofes de Bernarda
Ferreira de Lacerda na sua Espanha Libertada, publicada em
1618, e uma outra publicada em Évora por João Vaz em
1630, intitulada O Castello de Gaya. Em 1843 Almeida Garre-
tt publica o seu Romanceiro, onde pontifica a Lenda de Gaia
sob o título de «Miragaia», que este autor diz ter recolhido
da memória oral quando em criança viveu na Quinta do
Castelo, onde terá decorrido o episódio entre Ramiro e Al-
boazar Abderraman «senhor de toda a terra des Gaia ataa
Santarém».
Para A. de Almeida Fernandes «a Lenda de Gaia…re-
presenta uma recordação eponímica das íntimas relações
que Ramiro teve com os nossos territórios…nos quais resi-
dia, embora o fizesse “in partes Visei”…». Abdicou em 950
em seu filho Ordonho III, tendo morrido em 965.
JAGG
RAMIRO II, REI (c. 900-965)
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Sarcófago medieval do Mosteiro de Grijó;
fotografia de JAGG©
BIBLIOGRAFIA
- MATTOSO, José, KRUS, Luís e ANDRA-
DE, Amélia (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra
de Santa Maria nos Séculos XI a XIII. Lisboa: Edi-
torial Estampa, p. 125-153.
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus-
to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó.
Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI
a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de
Basto (ed. original, 1987), p. 119-141.
Desde o início do século XI que se assiste a um proces-
so de duplo sentido, no que concerne aos poderes aristo-
cráticos: desaparecida a família condal de Coimbra, após o
arrasador avanço de Almançor nos anos finais da centúria
anterior, também a família condal portucalense entra num
processo de decadência, acentuado pelo facto de ter mos-
trado uma clara resistência à implantação da dinastia navar-
ra, que graças a Fernando o Magno se impusera no trono
astur-leonês, agregando-o ao recém-constituído reino de
Castela; pelo contrário, testemunha-se a afirmação de uma
série de famílias de origens muito diversificadas, os Infanções,
que apostaram no crescimento do seu poder junto da fron-
teira duriense, dinâmica que contará com o apoio da nova
dinastia, vindo mesmo a substituir a antiga nobreza condal,
por fim extincta com a morte do último conde de Portucale
na batalha de Pedroso, junto de Braga, em 1071.
A par de outras famílias bastante mais conhecidas –
como Sousa, Maia ou Ribadouro –, os senhores de Marnel,
fortemente aparentados com os antigos condes, exerceram
um protagonismo muito considerável na Terra de Santa
Maria e junto da bacia do Vouga, sendo ali responsáveis
pela fundação de diversos cenóbios, de entre os quais se
destacou o mosteiro beneditino de São Pedro de Pedro-
so. Neste alargamento da influência dos de Marnel até à
margem esquerda do Douro, destacou-se a figura de Soeiro
Fromarigues (1074-1103), filho de Fromarigo Viegas (1019-
1055) e sobrinho de Gonçalo Viegas de Marnel, governa-
dor de Montemor-o-Velho entre 1017 e 1026. “Cavaleiro de
fronteira”, aí ganhou experiência militar mas também uma
fortuna considerável, tendo em conta a capacidade que re-
velou para a compra de terras, documentadas no célebre
cartulário Baio Ferrado do mosteiro de Grijó. Investindo
sobretudo nas freguesias envolventes, Soeiro e sua mulher,
Elvira Nunes (1082-1148), acumularam um património de
cerca de 250 propriedades (igrejas, quintãs, moinhos, sali-
nas, casais, etc.), em parte convertidas em doações a favor
de São Salvador de Grijó. Com efeito, desde o início dos
anos de 1090 que se verificam doações do casal a favor da-
quele cenóbio, com Soeiro a ser referido como seu padroei-
ro em 1093, aquando da sagração da nova igreja monástica
pelo bispo Crescónio de Coimbra, para a qual aquele doou
o espaço para os passais. Desde então o casal e os seus des-
cendentes não deixaram de beneficiar o mosteiro de Grijó,
constituindo mesmo a sua “família patronal”, a qual, em
meados do século XIV, se elevava a mais de 200 naturais.
Soeiro Fromarigues morreu em 1103, na batalha de Va-
talandi, próximo de Santarém, quando chefiava um exército
que protegia as posições cristãs no vale do Tejo.
JAS-P
SOEIRO FROMARIGUES [DE MARNEL]
(1074-1103)
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Fólio 98 v.º, documentos de 1136 e 1135, in
DURAND, Robert, introd. e notas (1971) –
Le Catulaire Baio- Ferrado du Monastère de Grijó
(XI.e-XIII.e siècles). Paris: Fundação Calouste
Gulbenkian, p.>242
BIBLIOGRAFIA
- MATTOSO, José; KRUS, Luís e ANDRA-
DE, Amélia (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra
de Santa Maria nos Séculos XI a XIII. Lisboa: Edi-
torial Estampa, p. 125-153.
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus-
to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó.
Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI
a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de
Basto (Ed. original, 1987), p. 119-141.
A viúva e os filhos de Soeiro Fromarigues prosseguiram
a política de aquisição de propriedades nas terras de Gaia
e de Santa Maria, bem como as doações a favor de Gri-
jó, onde professou um dos seus netos. Por outro lado, as
alianças matrimoniais dos seus vários filhos e filhas revelam
uma clara aproximação às outras famílias de infanções, tan-
to com as que se destacavam junto da bacia duriense como
no entorno coimbrão, reforçando-se assim as posições de
influência adquiridas pelos de Grijó entre o Douro e o Mon-
dego. De entre aqueles, porém, o que mais se destacou foi
D. Nuno Soares (1102-1157), a quem o conde D. Pedro de
Barcelos referia no seu Livro de Linhagens como «o que fez
Eigrejoo».
Detentor de um património muito considerável, situado
entre Gaia e Aveiro, também protegeu o mosteiro de São
Salvador de Grijó, não apenas através de doações relevan-
tes, mas sobretudo por ter conseguido a outorga da res-
pectiva carta de couto, concedida a seu pedido pela Rainha
Dona Teresa, em 1128, quase nas vésperas da batalha de
São Mamede, o que poderia indiciar uma tentativa de atrair
o senhor de Grijó para a sua facção e dos Travas, o que
não terá sucedido. Com efeito, poucos anos depois (1132),
o bispo de Coimbra encarregou Nuno Soares de proteger
o cenóbio, no ano em que adoptou a mesma regra que os
frades crúzios de Santa Cruz de Coimbra, fundado no ano
anterior com a protecção de D. Afonso Henriques. De res-
to, entre 1139 e 1142, D. Nuno Soares surge a confirmar
diplomas do nosso primeiro monarca relativos a doações a
favor de Grijó, o que significa a sua proximidade com aque-
le, e ainda em 1152 se documenta como membro de um
tribunal para dirimir questões de disputa de terras.
D. Nuno Soares de Grijó teve um filho e três filhas, mas
a família dos de Grijó só teve continuidade através da des-
cendência da sua filha Dona Maria Nunes, casada com o
nobre galego D. Mónio Osorez, senhor de Cabreira e Ribei-
ra, espelhando bem a proximidade de D. Nuno aos meios
mais elevados da corte afonsina.
O destino, aliás, acabou por fazer cruzar o sangue dos
de Grijó com o sangue real português: uma bisneta de D.
Nuno Soares de Grijó, Dona Maria Pais da Ribeira, a cé-
lebre Ribeirinha, que teve vários filhos do rei D. Sancho
I, entre os quais o célebre D. Rodrigo Sanches, que veio a
morrer em 1245, na célebre lide de Gaia. Percebe-se bem
que não foi por acaso que o seu belo túmulo se colocou no
familiar mosteiro de São Salvador de Grijó.
JAS-P
NUNO SOARES DE GRIJÓ (1102-1157)
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30
D. Afonso Henriques, por Soares dos Reis,
1887, in Álbum Phototypico… 1889: [103]
BIBLIOGRAFIA
- Álbum Phototypico e Descriptivo das Obras de Soa-
res dos Reis. Porto: Centro Artístico Portuense,
1889; edição fac-similada, Vila Nova de Gaia:
Afons’eiro Edições, 1989.
- DURAND, Robert, introduction et notes
(1971) – Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère
de Grijó (XIe-XIIIe siècles). Paris: Fundação Ca-
louste Gulbenkian.
- FERNANDES, A. de Almeida (1985) – Os
primeiros documentos de Santa Maria da Salzeda (até
à morte da fundadora). Comentários e defesa. Gui-
marães: Sociedade Martins Sarmento, p. 126.
- FERNANDES, A. de Almeida (2009) – Viseu
– Pátria de D. Afonso Henriques. In Afonso Henriques
(1109/1185) “O Pai da Pátria”. Viseu: AVIS,
p. 9 – 30.
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1999) – A
Serra do Pilar Património Cultural da Humanidade.
Vila Nova de Gaia: Fundação Salvador Cae-
tano, p. 35/36.
- MATTOSO, José (2006) – D. Afonso Henri-
ques. Lisboa: Círculo de Leitores.
Filho do conde Henrique de Borgonha, que morre pou-
co depois do seu nascimento, e de D. Teresa, filha de Afon-
so VI de Leão, Afonso Henriques nasceu em Viseu a 6 de
agosto de 1109. Em 1255 arma-se a si próprio cavaleiro na
catedral de Zamora. No dia de S. João de 1128 derrota as
tropas do galego Fernão Peres de Trava, na batalha de S.
Mamede, perto de Guimarães. Com o apoio da nobreza de
Riba Douro, da do Entre Douro e Mondego e da sé braca-
rense, que vê na ação independentista do infante uma possi-
bilidade de se libertar das pretensões hegemónicas de Com-
postela, assume então o governo da Terra Portucalense, que
passa a unir a Diocese de Braga, o Condado Portucalense
e o Condado Conimbricense, desenvolvendo a sua luta em
três frentes: a Norte contra as pretensões galegas, a Leste
contra as leonesas e a Sul contra as muçulmanas. Em 1131
funda o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e em 1139 der-
rota os mouros em Ourique, passando a usar o título de rei.
Em 1140 derrota as tropas do primo Afonso VII de Castela
e Leão em Arcos de Valdevez, com o qual virá a estabelecer
a paz de Zamora em 1143. Em 1147 reconquista Santarém,
e depois Lisboa (1128), Beja (1162) e Évora (1166). Morre
em Coimbra a 6 de dezembro de 1185, sendo sepultado no
mosteiro que aí fundara.
Foi senhor de grandes propriedades na Terra de Santa
Maria, nomeadamente no território que viria a ser o julgado
de Gaia, que lhe vieram por herança através de sua mãe que
em 1112 faz doações de parcelas de terras em Crasto e Gui-
marães (Perosinho) e em 1117 da herdade de Santa Cruz,
sob o Monte Grande, a nobres locais. Por sua vez seu filho
Afonso em 1139 lega ao prior e cónegos do Mosteiro de
Grijó a sua propriedade de Brito (S. Félix da Marinha) e em
1142 cede-lhes os direitos régios que detém em Tarouquela
(Vilar do Paraíso), com a condição de alimentarem e vesti-
rem três eremitas. Em 1155 doa ao Mosteiro de Salzedas
(Tarouca) os direitos que tinha sobre a igreja de S. Martinho
de Gaia, com as suas pesqueiras, situada junto do Castelo
de Gaia. Seus descendentes continuarão a possuir bens pró-
prios no julgado de Gaia.
Duas outras circunstâncias ligam a memória deste pri-
meiro rei de Portugal a Vila Nova de Gaia: no século XVII
a sua espada vinha do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
para o da Serra do Pilar, onde era colocada no altar-mor
para veneração numa época em que se pretendia canonizar
este rei. Em 1887 é uma cópia dessa mesma espada que
figura na estátua modelada por Soares dos Reis, depois fun-
dida em bronze para a cidade de Guimarães, a que se segui-
ram outras cópias, mas cujo original se conserva naquele
antigo monumento gaiense, para onde em 1934 foi levada
da sua casa oficina situada ali bem perto.
JAGG
AFONSO HENRIQUES, D., REI (1109-1185)
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31
Armas dos Soverosas, adotadas por João Afon-
so Telo de Albuquerque, 1º. Conde de Barce-
los e seus descendentes; desenho de PJSC ©
BIBLIOGRAFIA
- COSTA, Paulo J. Sousa (2005) – Um senhorio
nobre na Idade Média Portuguesa. Sua extensão e de-
senvolvimento entre 1200 e 1350 [a publicar]
- RIBEIRO, João Pedro (1810) – Dissertações
cronológicas e criticas sobre a historia e jurisprudência
ecclesiastica e civil, vol. 1. Coimbra: Imprensa da
Universidade, p. 126.
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto
de (1997) - Linhagens Medievais Portuguesas. Ge-
nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. II. Porto:
Faculdade de Letras da Universidade. Tese de
doutoramento, p. 805-816.
Rico-homem da corte dos reis D. Sancho I (que frequen-
ta desde 1205), Afonso II e Sancho II. Foi um incondicional
defensor do reforço do poder régio, que o filho Martim Gil
de Soverosa prosseguiu.
Possuiu a quintã de Avintes, Seixezelo e as respetivas
jurisdições, que transmitiu aos seus sucessores. Foi tenente
das terras de Basto (onde se situava a Honra de S. Pedro
de Soverosa), Barroso, Montalegre, Sousa e Panóias, onde
adquiriu e possuiu largo património.
Era filho de Vasco Fernandes de Soverosa, mordomo-
-mor de D. Sancho I, e de Teresa Gonçalves de Sousa. Neto
materno do conde D. Gonçalo Mendes de Sousa e paterno
de Fernão Peres Cativo, alferes-mor de D. Afonso Henri-
ques. Herdeiros de duas importantes linhagens medievais
portuguesas: os Sousa e os Marnel.
Junto com as irmãs Elvira Vasques (casou com Paio
Soares de Valadares) e Alda Vasques (religiosa devota em
Santo Tirso onde faleceu em 1235, estando aí sepultada),
herdaram o património materno dos bens patrimoniais e
jurisdicionais de Avintes, Oliveira do Douro e Seixezelo.
Esse património veio-lhes do casamento de Elvira Fernan-
des de Toledo ou Marnel com Mem Gonçalves de Sousa.
Teve dois outros irmãos, Martim Vasques de Soverosa que
morreu em Placência em 1197 e Urraca Vasques de Sove-
rosa, que professou em Santo Tirso onde está sepultada,
cerca de 1219.
Teve três matrimónios e 10 filhos. Primeiro com Maria
Aires de Fornelos (amante de D. Sancho I) de quem teve D.
Martim Gil de Soverosa (trovador, alferes-mor de D. Sancho
II, vencedor da lide de Gaia onde faleceu Rodrigo Sanches
– foi seu neto João Afonso Teles de Albuquerque, primeiro
conde de Barcelos); Teresa Gil de Soverosa (barregã do rei
de Leão, Afonso IX), Fernão Gil de Soverosa (sem descen-
dência). O segundo matrimónio com Sancha Gonçalves de
Orvaneja, de quem teve os seguintes filhos: Vasco Gil de So-
verosa (trovador, com descendência de Fruilhe Fernandes
de Ribavizela, que prosseguiu a linhagem), Manrique Gil de
Soverosa (que possuiu património de herança em Avintes
partilhada com o sobrinho Martim Anes) e Guiomar Gil de
Soverosa (sem descendência). O terceiro matrimónio com
Maria Gonçalves Girão, teve: João Gil de Soverosa (casou
com Constança Gil de Ribavizela em 1258 do qual nasceu
Martim Anes de Soverosa, de alcunha Tio, que encerrou a
posse por via masculina do senhorio de Avintes, que conti-
nuaria nos descendentes do irmão Vasco Gil), Gonçalo Gil,
Sancha Gil e Dórdia Gil, estes sem descendentes.
Faleceu cerca de 1240 e foi sepultado no mosteiro de
Pombeiro.
PJSC
GIL VASQUES DE SOVEROSA (<1190-c.1240)
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32
D. Rodrigo Sanches, pormenor da estátua
jacente do seu túmulo no Mosteiro de Grijó;
fotografia de MJB©
BIBLIOGRAFIA
- BARROCA, Mário Jorge (2013) - As quatro
faces de Rodrigo Sanches. «Portvgalia», nova série,
vol. 34. Porto: Faculdade de Letras da Univer-
sidade, p. 151-189.
- MATTOSO, José (1993) - História de Portugal,
vol. 2. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 126-133.
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto
(1995) - Os Patronos do Mosteiro de Grijó. Ponte de
Lima: Ed. Carvalhos de Basto, p. 183.
Filho bastardo de D. Sancho I e de Maria Pais Ribeira, a
célebre Ribeirinha, desconhece-se a data do seu nascimento,
ocorrido na primeira década do Séc. XIII. Com efeito, o
monarca enviuvou de D. Dulce em 1198. Encetou depois
uma relação com Maria Aires de Fornelos, de quem teve
dois filhos. E só depois iniciou o seu relacionamento com a
Ribeirinha, do qual nasceram vários filhos, entre eles o nos-
so biografado. Era, assim, um dos filhos mais novos de D.
Sancho I. Mas já é contemplado, com 8000 morabitinos,
no segundo testamento do monarca, de outubro de 1210.
Esta é, de resto, a primeira referência que se conhece. Foi
educado por Teresa Peres de Bragança, na zona da Régua.
Certamente por ser ainda muito jovem, não exerceu qual-
quer cargo durante o reinado de seu meio-irmão, D. Afonso
II (1211-1223). A sua carreira junto da cúria régia inicia-se
no reinado de seu sobrinho, D. Sancho II (1223-1245), ten-
do confirmado, logo a 13 de setembro de 1223, o Foral de
Barqueiros, Mesão Frio. Até 1226 confirma vários diplo-
mas, sem menção de cargos. Só a partir de 1226 lhe são
confiadas tenências: a de Viseu em 1226; a de Trancoso entre
janeiro de 1227 e junho de 1228; a de Pinhel em 1227; a de
Entre Douro-e-Lima em 1229. Depois de um hiato entre
1229 e 1235, que talvez espelhe algum afastamento momen-
tâneo da corte, volta a exercer tenências: em 1235 as de Faria,
Maia, Vermoim, Lafões e Besteiros; entre outubro de 1235
e janeiro de 1236 a de Évora; em data não determinada a
de Panóias. A partir de 1236 deixa de desempenhar essas
funções. Terá acompanhado, assim, a dissidência que, nesse
ano, atingiu a cúria de Sancho II e que se espelha no afas-
tamento de Mestre Vicente do cargo de Chanceler-Mor do
rei e no afastamento de todos os Sousas e de outros nobres
das tenências que ocupavam.
Numa primeira fase o afastamento não terá sido total,
uma vez que ainda confirma alguns diplomas régios entre
fevereiro de 1236 e agosto de 1241. Mas a partir do verão
de 1241 parece ter-se afastado definitivamente do monar-
ca. Acabaria por apoiar aqueles que, descontentes com o
seu governo, promoveram, junto do Papado, a ascensão
do Conde de Bolonha. Em 1245 foi gravemente ferido na
“Lide de Gaia” (também conhecida como “Lide de Grijó”
ou “do Porto”), o recontro que inaugurou a Guerra Civil de
1245-48 que levou à deposição de D. Sancho II e à subida
ao poder de D. Afonso, Conde de Bolonha (futuro Afonso
III). Recolhido no Mosteiro de S. Salvador de Grijó, junto
do qual se travou o combate e onde professava um irmão
seu, D. Nuno Sanches, viria a falecer em consequência dos
ferimentos. Foi enterrado neste mosteiro tendo sido depois
trasladado para o cenotáfio com estátua jacente encomen-
dado por sua irmã, Constança Sanches, nos ateliers de es-
cultores de Coimbra.
MJB
RODRIGO SANCHES, D. (c.1210-1245)
Túmulo de D. Rodrigo Sanches no Mosteiro
de Grijó; fotografia de MJB©
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33
BIBLIOGRAFIA
- VENTURA, Leontina (2006) - D. Afonso III.
Lisboa: Círculo de Leitores.
Quinto rei de Portugal terá nascido em Coimbra, por
volta de 1214; era filho de D. Afonso II e de Urraca de
Castela, e sucedeu ao irmão, D. Sancho II, em 1248, vindo
a falecer em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1279. A sua vida
foi muito agitada. Com pouco mais de quinze anos (1229),
rumou à corte do seu primo co-irmão Luís IX de França,
onde foi muito bem recebido pela tia materna, Branca de
Castela, rainha-viúva e mãe do rei. Membro da corte fran-
cesa, e muito próximo dos seus régios primos, foi armado
cavaleiro em 1239, poucos antes de casar com Matilde de
Bolonha, aliança que o fez Conde de Bolonha, e daí o cog-
nome o Bolonhês.
Entretanto, Portugal atravessava um período muito con-
turbado, com o rei a revelar-se incapaz de controlar os abu-
sos e violências senhoriais, a ponto de D. Sancho II surgir
como o principal responsável pela anarquia vivida, sendo
acusado pelos bispos de não proteger os bens da Igreja
nem a segurança dos Povos. Como se sabe, foi deposto pelo
Papa em 1245, o que provocou uma nova viragem na vida
de D. Afonso, desde então paladino da ordem e da justiça.
Em Setembro desse ano, em Paris, jurou perante os bispos
e vários membros da nobreza que defenderia a Igreja e aca-
baria com a violência no reino português, aonde chegou em
Dezembro como curador do Reino. Os conflitos entre os
partidários dos dois irmãos, porém, já tinham começado,
e Gaia aparece precisamente como o centro de um impor-
tante conflito armado, conhecido como Lide de Gaia, na
qual saíram vitoriosos os apoiantes de D. Sancho II, e onde
perdeu a vida D. Rodrigo Sanches, bastardo de D. Sancho
I, o qual, por certo dividido entre as razões dos seus dois
sobrinhos, optara por apoiar as pretensões d’o Bolonhês.
Rei desde a morte do irmão, ocorrida no início de 1248,
D. Afonso III surge hoje na historiografia como um dos
monarcas medievais mais importantes, considerando-o
mesmo José Mattoso, como o «fundador do Estado portu-
guês». Um dos esteios onde assentou a sua política de afir-
mação régia foi o do controlo do poder episcopal. Assim
se compreende a importância do foral concedido à vila de
Gaia, em 1255, procurando dessa forma contrariar o poder
do bispo do Porto. Com efeito, nas cortes celebradas em
Leiria no ano anterior, fora possível chegar a um acordo
sobre as taxas a cobrar pela navegação do Douro, devendo
um terço do tráfego que chegava vindo do interior descar-
regar em Gaia, bem como metade dos barcos que entravam
a barra do rio provenientes de França. O seu impacto pode
avaliar-se melhor se pensarmos que em 1288 o seu sucessor,
D. Dinis, outorgou uma nova carta de foral, de conteúdo
idêntico, agora dirigida a Vila Nova, o novo núcleo popu-
lacional que entretanto extravasara os limites do anterior
concelho.
JAS-P
AFONSO III, D., REI (c.1214-1279)
Foral de Gaia de D. Afonso III, 1255; Arquivo
Distrital do Porto.
Selo de D. Afonso III, in SOUSA, D. António
Caetano de [1738] – História genealógica da Casa
Real Portuguesa…, tomo IV, Lisboa: Na Officina
de Joseph Antonio da Sylva, gravura F – XIX.
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34
D. Dinis, in Diálogos de Vária História…, de
Pedro de Mariz, 1674; coleção do autor
BIBLIOGRAFIA
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus-
to de (2005) – D. Dinis (1261-1325). Lisboa:
Círculo de Leitores (2.ª ed., Lisboa: Temas &
Debates, 2008).
Nascido em Lisboa em 1261, foi o sexto monarca por-
tuguês, sendo filho de D. Afonso III e de Beatriz de Castela.
Subiu ao trono em 1279, vindo a falecer em Santarém em
1325.
Seja qual for a perspectiva de análise, o reinado dionisi-
no foi um dos mais marcantes da História portuguesa, po-
dendo mesmo afirmar-se que todas as áreas da governação,
desde a política à economia, da sociedade à cultura, passan-
do pela arte ou pela defesa foram objecto de reformas ou
desenvolvimentos de grande alcance. Não sendo possível
enumerar todos esses aspectos, recordem-se pelo menos a
fundação da Universidade (1290) e a utilização obrigatória
da língua portuguesa nos documentos oficiais, a definição
última da fronteira com o reino vizinho, pelo Tratado de
Alcañices (1297), a Concordata com a Santa Sé (1289), a
política de povoamento e concessão de forais, de controlo
dos poderes senhoriais, a organização da marinha de guerra
ou a intensa construção de castelos e muralhas na fronteira,
etc. Por outro lado, profundamente culto, a ele se devem
dezenas de composições poéticas e intervenções da maior
importância em diversos monumentos, como em Alcobaça
ou nos paços de Sintra.
A ligação de D. Dinis a Gaia fez-se sentir desde os pri-
meiros anos do seu longo reinado, quando, em Abril de
1281, incluiu o castelo de Gaia no conjunto das praças que
garantiam o cumprimento das disposições nupciais entre o
monarca e Isabel de Aragão, a Rainha Santa. Castelo que,
por outro lado, também foi um dos que sofreu intervenções
ao nível das reparações e melhoramentos, tal como acon-
teceu a dezenas de outras estruturas militares situadas na
fronteira, ou em pontos de claro interesse estratégico, como
era a embocadura do rio Douro. Por outro lado, também
será interessante referir que, ainda a propósito da criação
dos Estudos Gerais, a igreja de Santa Maria de Gaia foi uma
das que cedeu parte das suas rendas para o sustento dos
lentes da nossa primeira alma mater.
A exemplo de seu pai, que em 1255 concedera foral a
Gaia, também D. Dinis se preocupou com o reforço do
povoamento da margem esquerda daquele rio, concedendo
foral a Vila Nova em Agosto de 1288. Recorde-se que, por
essa época, ainda o burgo do Porto era um senhorio epis-
copal, pelo que os monarcas fomentaram o desenvolvimen-
to dos dois núcleos da margem oposta do rio, Gaia e Vila
Nova, através das referidas cartas de foral, atraindo assim as
populações e, deve-se sublinhar, contrariando a hegemonia
do poder episcopal em torno de um dos principais eixos
fluviais e económicos do reino. Nesse mesmo sentido, de
resto, se deve entender a concessão de uma carta de criação
de feira em Gaia, em 1302.
JAS-P
DINIS, D., REI (1261-1325)
Selo de D. Dinis, in SOUSA, D. António Cae-
tano de [1738] – História genealógica da Casa Real
Portuguesa…, tomo IV, Lisboa: Na Officina de
Joseph Antonio da Sylva, gravura G – XXII.
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35
BIBLIOGRAFIA
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1990) – Tro-
vadores Medievais de Gaia. «Boletim da Associa-
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- MATTOSO, José (1985) - Portugal Medieval.
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- MATTOSO, José (1985) - Ricos-Homens, In-
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nos séculos XI e XII, 2.ª edição. Lisboa: Guima-
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- SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto
de (1999) - Linhagens Medievais Portuguesas. Ge-
nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto:
Universidade Moderna/CEGHHF, p. 279-
282.
João Esteves de Gaia nasceu na segunda metade do sé-
culo XIII e era descendente de Dom Soeiro Pires da Maia.
Seu bisavô, João Soares de Gaia, tinha por honrada a aldeia
de Sá em Arcozelo e seu avô, João Anes de Gaia, foi «cava-
leiro de boa palavra e muito saboroso».
Nascido fora do casamento, foram seus pais o clérigo
Estêvão Anes de Gaia, prior de São João de Alfange, em
Santarém, e Teresa Miguéis de Guimarães, tendo sido legi-
timado em 1319. «Foi mui boo trobador e mui saboroso»,
deixando 3 ou 4 cantigas de amor e 3 de escárnio, uma delas
originada numa tença que teve com o cavaleiro Fernão Vas-
ques Pimentel que lhe mereceu os seguintes versos: «Come
asno no mercado/ se vendeu um cavaleiro/ de San’hoan’a
janeiro/ três vezes – este provado;/ pero se oj’ este dia/
lh’outrem der maior contia/ ficará com ele de grado…».
O historiador José Mattoso aventou a hipótese de se de-
ver a este trovador a criação, ou pelo menos a fixação, da
famosa Lenda de Gaia, narrativa romanceada que pretende
fazer descender a família dos da Maia, antepassada dos da
Gaia, de Ramiro II das Astúrias e de uma moura. De há
muito que esta família tinha interesses na margem sul do
Rio Douro, pois logo após a conquista aos mouros de Mon-
temor-o-Velho em 1034, por Gonçalo Trastamires da Maia,
os seus infanções procuram fixar-se em Gaia e na Feira, o
que não conseguem. As suas pretensões na parte norte da
Terra de Santa Maria poderiam ter originado as condições
psicológicas para a sua fundamentação através daquela nar-
rativa fixada no Livro Velho de Linhagens e no Livro de Linha-
gens do Conde D. Pedro, em duas versões. Esta outra família de
trovadores, inicialmente cavaleiros «de um só escudo e de
uma só lança» dos quais alguns ramos foram subindo na es-
cala social, poderá também estar na origem de outras lendas
e narrativas da mesma época. O clérigo Estêvão Anes, pai
de João da Gaia, aparece relacionado com Rodrigo Afonso
Ribeiro, que em 1305 cedeu o padroado da Igreja de Cani-
delo, Gaia, à sé do Porto, a cuja família parece estar ligada à
famosa Maria Pais, a Ribeirinha, que de D. Sancho I teve D.
Rodrigo Sanches que jaz em Grijó.
«Pode ser coincidência, mas não deixa de ser curioso
que a lenda que exalta a origem da família da Maia… se
situe justamente em Gaia, que era o lugar onde viviam estes
trovadores» (MATTOSO, 1985: 322).
A família dos Gaia cruza-se no século XIV com os Alão
e fixa-se na zona de Lisboa e sul do País. Provavelmente
são também os antepassados de Rodrigo Anes de Sá, alcai-
de do Castelo de Gaia no tempo de D. Pedro, por sua vez
antepassado de João Rodrigues de Sá e Menezes, poeta do
renascimento português e de uma ilustre família que chegou
à atualidade.
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JOÃO DA GAIA (c.1267->1330)
Dinheiro, 1.ª dinastia; escavações arqueológi-
cas da igreja do Bom Jesus de Gaia; fotografia
de SCGGG©
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Armas dos Coelho; Collecção dos Brazões das
Famílias Ilustres de Portugal, c. 1800; coleção
particular.
BIBLIOGRAFIA
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1990) – Tro-
vadores Medievais de Gaia. «Boletim da Associa-
ção Cultural Amigos de Gaia», n.º 29, Junho
de 1990, p. 43-50.
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Pedatura Lusitana (Nobiliário de Famílias de Portu-
gal), tomo III, vol. I. Porto: Livraria Fernando
Machado, p. 31.
- MATTOSO, José (1985) – Portugal Medieval.
Novas Interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional
– Casa da Moeda, p. 409-435.
- SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto
de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó (Evo-
lução e estrutura da família nobre séculos XI a XIV).
Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto,
p. 254-257.
- SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto
de (1999) – Linhagens Medievais Portuguesas. Ge-
nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto:
Universidade Moderna/CEGHHF, p. 480-
491.
Filho de Pêro Anes Coelho e de Margarida Esteves da
Teixeira, era neto de João Soares Coelho, cavaleiro, trovador
e conselheiro de D. Afonso III, descendente de D. Egas
Moniz o Aio, através de Egas Lourenço de Riba Douro, o
qual, tendo estado em Castela, contactou os trovadores que
mais tarde se encontrarão na corte de Afonso o Sábio. Re-
gressado a Portugal após a Lide de Gaia (1245) e a morte
de D. Sancho II (1248), passa a fazer parte do círculo de D.
Afonso III, que dará foral a Gaia em 1255. Tendo casado
com Maria Fernandes d’ Ordens, foi pai de, entre outros
filhos, Pêro Anes Coelho, meirinho-mor de D. Dinis, que
casou com Margarida Esteves da Teixeira, e de Urraca Anes
Coelho, que viria a casar em segundas núpcias com Soeiro
Mendes Petite, pai de Maria Mendes Petite.
Do primeiro destes casamentos nasceria Estêvão Pires
Coelho de Riba de Homem, também cavaleiro e trovador,
o qual, tendo herdado bens por parte de sua mãe na Ter-
ra de Santa Maria, em 1322 é dado como vizinho de Vila
Nova de Gaia. A sua produção poética, do final da escola
galego-portuguesa, não é tão notável como a de seu avô,
mas possui alguma originalidade e inovação temática, pa-
tentes nas cantigas Se hoj’o meu amigo e Sedia la fremosa seu sirgo
torcendo. Casou com Maria Mendes Petite, filha do primeiro
casamento do acima nomeado Soeiro Mendes Petite, a qual,
por sua vez, estava ligada à família patronal dos mosteiros
de Canedo e de Grijó. Depois de enviuvar, fundou em 1345
o Mosteiro das Donas de Corpus Christi na ribeira de Vila
Nova.
Deste casamento nasceram, entre outros, João Esteves
Coelho, o Velho, que conjuntamente com seu sobrinho ho-
mónimo fará doação dos seus direitos sobre o padroado da
igreja de Canidelo ao infante D. Pedro em 1352, que logo os
passará a Inês de Castro; Estêvão Esteves Coelho, vassalo
do mesmo infante; e Pêro Esteves Coelho, um dos executo-
res da sentença de D. Afonso IV que ditou a morte de Inês
de Castro. Estes Coelho, por serem também descendentes
da família patronal do Mosteiro de Grijó, na classe dos in-
fanções, estão inscritos no Livro das Campainhas, mandado
elaborar por D. Pedro I em 1365 para se saber quais as ren-
das do mosteiro e quais os naturais que ali tinham, quando
em trânsito, direito de aposentadoria. Por isso aí encontra-
mos os nomes de João Coelho o Velho; Maria Coelha, sua
filha; Estêvão Coelho; e Soeiro Coelho.
Desta família gaiense descende o navegador Nicolau
Coelho, comandante da nau Bérrio da armada de Vasco da
Gama que em 1497 foi à Índia, de uma outra nau da frota
de Pedro Alvares Cabral que em 1500 descobriu o Brasil e
de uma outra também para o oriente em 1503, comandada
por D. Francisco de Albuquerque, que na volta se perdeu
no mar.
JAGG
ESTÊVÃO PIRES COELHO (c.1275-c.1336)
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Cachorro figurado da primitiva igreja do
Mosteiro de Corpus Christi; fotografia de João
Luís Teixeira©
BIBLIOGRAFIA
- CASTRO, Júlia Isabel Coelho Campos
Alves de (1993) – O mosteiro de S. Domingos de
Donas de Vila Nova de Gaia (1345-1513). Porto:
Faculdade de Letras da Universidade. Tese de
mestrado, p. 14-15, 52
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto
de (1997) - Linhagens Medievais Portuguesas. Ge-
nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto:
Faculdade de Letras da Universidade. Tese de
doutoramento, p. 480-487 e 579-582.
Filha de D. Soeiro Mendes Petite, alcaide de Santarém
e do seu primeiro matrimónio com Dona Maria Anes Bro-
chardo.
Casou em primeiras núpcias com Estevão Pires Coe-
lho, filho de Pero Anes Coelho, meirinho-mor de D. Di-
nis (1296-1297) e de Margarida Esteves da Teixeira, neto
de João Soares Coelho. O marido era sobrinho de Urraca
Anes Coelho, mulher do segundo matrimónio do pai. Des-
te enlace frutificaram seis filhos: João Esteves Coelho, ca-
sou com Joana Pires de Alvim, com descendência (Leonor
Anes Alvim, mulher de Nuno Alvares Pereira), Estevão Es-
teves Coelho, casou com Senhorinha Afonso Ribeiro, com
descendência, Soeiro Mendes Coelho, casou com Beatriz
Afonso de Baião, com descendência, Pero Esteves Coelho
(colaborou na morte de Inês de Castro), casou com Aldon-
ça Vasques Pereira, com descendência, Branca Pires Coe-
lho, casou com João Pires de Alvim em primeiras núpcias,
com descendência, e por último Margarida Esteves Coelho,
que professou no Mosteiro de Santa Clara de Coimbra.
Casou em segundas núpcias com Martim Pires de Al-
vim, sem descendência, cujos filhos João Esteves Coelho
e Branca Pires Coelho, consorciaram-se com os filhos da-
quele, Joana Pires de Alvim e João Pires de Alvim, numa
política de alianças e concentração patrimonial.
Por causa do primeiro casamento, Maria Mendes Petite
foi familiar dos mosteiros de S. Pedro de Canedo (c. Vila
da Feira), de S. Salvador de Grijó (c. Vila Nova de Gaia)
e de S. Martinho de Mancelos (c. de Amarante). Possuía
também o patronato da igreja de Santo André de Canidelo.
Em 1336, doou à Sé do Porto os direitos patronais em S.
Pedro de Canedo e em troca recebeu bens em Santa Mari-
nha de Vila Nova de Gaia, onde edificou o convento de seu
patrocínio em 1345, que doou às Donas de São Domingos
de Santarém. A instituição da comunidade gerou um grave
litígio com a diocese do Porto, que se opôs às pretensões
da fundadora.
O conflito só foi sanado em 1353, por bula papal que
obrigou a reforçar a dotação inicial proporcionando as con-
dições necessárias ao estabelecimento da comunidade. Foi
primeira prioresa D. Marinha Afonso Lobata, religiosa do
convento das Donas de Santarém.
O convento foi aumentando o património com impor-
tantes doações tanto da família patronal (D. Leonor de Al-
vim, mulher de D. Nuno Álvares Pereira e neta da funda-
dora) como de Álvaro Anes Cernache, senhor donatário de
Gaia-a-Grande em 1432, que instituiu a capela de Santiago.
PJSC
MARIA MENDES PETITE, D.
(fins do século XIII->1354)
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D. Pedro I in SERIES POTENTISSIMORUM
REGUM LUSITANIE ICONIBUS ILUSTRA-
TA…, 1791; BNP©
BIBLIOGRAFIA
- ALARCÃO, Jorge de; AMARAL, Luís Car-
los (1986) – Livro das Campainhas (códice da segun-
da metade do século XIV). Mosteiro de São Salvador
de Grijó. Vila Nova de Gaia: Câmara Munici-
pal/Gabinete de História e Arqueologia.
- GUIMARÃES, Gonçalves (1984) – O Conce-
lho de Canidelo de D. Pedro e D. Inês. «Gaya», vol.
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Arqueologia, p. 153-160.
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História Genealógica da Casa Real Portuguesa, to-
mos I, p. 223-232 e IV 27/28; K. XXXIII.
Coimbra: Atlântida – Livraria Editora.
Filho do infante D. Afonso e de D. Beatriz de Castela,
nasceu em 1320. Se à governação do país deu particular im-
portância, a sua memória ficou para sempre lembrada pelos
trágicos amores com D. Inês de Castro, os quais também
passaram por Vila Nova de Gaia e deram motivos para uma
forte ligação entre D. Pedro I e este município e os seus
moradores.
Em 1340 chega a Portugal D. Constança Manuel que
morrerá em 1349, deixando D. Pedro viúvo. No ano se-
guinte nasce o seu primeiro filho de D. Inês, a que se segui-
rão mais três, até que foi executada em janeiro de 1355 por
motivos políticos. Pero Coelho, filho de D. Maria Mendes
Petite fundadora do Mosteiro gaiense de Corpus Christi em
1345, foi um dos carrascos. Em 1357 morre seu pai e passa
a ser o oitavo rei de Portugal, no mesmo ano em que Teresa
Lourenço lhe dá outro filho, que virá a ser o rei D. João I
após a crise dinástica de 1383-1385.
As relações de D. Pedro com Gaia têm início em 1352,
quando dois membros da família dos Coelho, ambos João,
tio e sobrinho, lhe fazem a doação do padroado da igreja de
Canidelo, que dois dias depois o infante por sua vez doará a
D. Inês de Castro, o que poderá querer dizer que por aqui se
fixaram temporariamente na Quinta do Paço daquela locali-
dade, situada mesmo ao lado daquela igreja. Aqui lhes pode-
rá ter nascido a última filha, Beatriz. Em 1357, já como rei,
nomeia Rodrigo Anes de Sá alcaide do castelo de Gaia. No
ano seguinte confirma privilégios e isenções aos mosteiros
de Grijó e de Pedroso. Em 1360 dá isenção de pagamento
de finta, talha e sisa, e de servir nas frotas aos moradores
da Afurada, subordinada à quintã de Canidelo, aforando aí
terrenos no ano seguinte. Em 1363 cria o concelho de Ca-
nidelo, desligando-o da jurisdição de Gaia, confirmando-o
em 1366 e autorizando-o a usar as armas reais no seu selo.
No ano seguinte, que corresponde ao da sua morte, manda
entregar aos seus filhos e de D. Inês os bens que estes ali
possuem, o que virá a ser confirmado por D. Fernando, mas
que este esquece em 1375 quando extingue o concelho de
Canidelo e o reintegra no julgado de Gaia.
Entretanto em 1365, perante reclamação dos religiosos
do Mosteiro de Grijó contra os abusos da fidalguia, manda
elaborar uma ata de assembleia judiciária ali realizada, que
ficou conhecida como Livro das Campainhas, na qual cons-
tam as propriedades, rendas e foros do mosteiro, a lista dos
fidalgos descendentes dos fundadores que ali tinham direito
de aposentadoria e o rol das despesas com as comedorias,
cavalarias e casamentos dos ditos que os monges eram obri-
gados a dar, e não outras. Nesse mesmo ano provê o clérigo
Lourenço Anes na igreja de Mafamude.
JAGG
PEDRO I, D., REI (1320-1367)
Selo de D. Pedro I de 1357, in SOUSA, 1947-
IV: 27/28 e K. XXXIII.
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39
BIBLIOGRAFIA
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus-
to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó.
Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI
a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de
Basto (ed. original, 1987).
- SOVERAL, Manuel Abranches de (2004) –
Ascendências Visienses. Ensaio genealógico sobre a no-
breza de Viseu (Séculos XIV a XVII), vol. I. Porto:
edição do autor, p. 124 e 260.
Nascido por volta de 1325, era filho de Gonçalo Garcia
de Figueiredo, alcaide-mor da Feira durante o reinado de D.
Pedro I, e documentado no reinado seguinte como alcaide-
-mor de Gaia (1375), e de Maria Gonçalves de Milheirós. O
seu pai, aio do Infante D. João (filho do rei D. Pedro e de
Inês de Castro), foi senhor da terra de Vouga e de Celorico
da Beira.
Ambos, pai e filho, estão documentados como cavalei-
ros naturais dos mosteiros de S. Pedro de Pedroso (1363) e
de São Salvador de Grijó (1365), ali recebendo as respetivas
comedorias.
A figura de Aires Gonçalves é sobretudo conhecida pelo
seu papel, talvez um pouco dúbio, que representa nos su-
cessos que acompanharam a crise de sucessão dinástica dos
finais do século XIV. Tal como o seu pai também estava
ligado aos meios da corte, como vassalo de D. Afonso IV,
D. Pedro I e D. Fernando I, dos quais recebeu várias doa-
ções, mantendo a alcaidaria-mor da Feira. Naquele último
reinado seria talvez vassalo dos Teles de Meneses, uma vez
que foi aio de D. Gonçalo Teles, irmão da Rainha Dona
Leonor e conde de Neiva. Como se sabe, a trajetória deste
titular foi um pouco sinuosa durante os acontecimentos de
1383-1385, e por isso ambos estiveram presos em 1385, por
suspeitas de apoiarem o partido da Rainha Dona Beatriz
contra o Mestre de Avis. Foi nessas circunstâncias que Aires
Gonçalves, sendo alcaide de Gaia, viu o castelo ser atacado
e destruído pelas gentes do Porto que apoiavam D. João I.
Desfeito o equívoco, ou decidindo-se pelo campo ven-
cedor, o novo monarca confirmou ou doou-lhe uma série
de importantes senhorios, como Gaia e o respetivo castelo,
Maia, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão, Sanfins, etc.
O grande cronista Fernão Lopes recorda que Aires
Gonçalves de Figueiredo comandou uma nau durante a
defesa de Lisboa contra o rei de Castela. Facto ainda mais
significativo, participou na conquista de Ceuta, em 1415,
quando já rondaria os 90 anos de idade. De acordo com o
relato sobre a conquista daquela praça marroquina, também
o cronista Gomes Eanes de Zurara recorda o episódio em
que o Infante D. Henrique teria de alguma forma ridicula-
rizado a vontade de Aires Gonçalves em participar na em-
presa, tendo em conta a sua provecta idade, ao que ele terá
afirmado «que estimava achar-se naquela empresa, porque
sabia não poder ter mais honradas exéquias para sua sepul-
tura do que acabar em tão honrada obra»!
Dos seus três casamentos apenas teve descendência fe-
minina, através da qual continuou a sucessão em alguns dos
senhorios que Aires Gonçalves de Figueiredo detivera.
JAS-P
AIRES GONÇALVES DE FIGUEIREDO
(c.1325-c.1420)
Armas dos Figueiredo num sarcófago do Cas-
telo de Santa Maria da Feira; ASCR-CQ©
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Armas dos Sá; Collecção dos Brazões das Famílias
Ilustres de Portugal, c. 1800; coleção particular.
BIBLIOGRAFIA
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto
de (1987) - Os patronos do mosteiro de Grijó. Evolu-
ção e estrutura da família nobre – séculos XI a XIV.
Porto: Faculdade de Letras da Universidade.
Dissertação de mestrado, p. 97-98; 327-328.
- ABRANTES, Marquês de (1986) – Gaia e os
Sás. In História de Gaia, fasc. 11. Vila Nova de
Gaia: Câmara Municipal/ Gabinete de Histó-
ria e Arqueologia, p. 443
Era filho de Rodrigo Anes de Sá, cavaleiro e alcaide de
Gaia por doação de D. Fernando I de 1367, e de sua primei-
ra mulher, Mécia Pires do Avelar. Os avôs paternos foram
João Afonso de Sá e Maria Martins. O pai tinha relação
patronal com o mosteiro de Grijó que passou para o filho,
que no seu testamento não esqueceu esta casa monástica.
Foi cavaleiro, camareiro-mor de D. João I e alcaide do
Porto, desde 1392, e por inerência de Gaia, onde sucedeu
ao pai.
Casou com Isabel Rodrigues Pacheco, filha de Diogo
Lopes Pacheco. Deste matrimónio nasceram os seguin-
tes filhos: Fernão Anes de Sá (que sucedeu no ofício de
camareiro, alcaidaria de castelos, e senhorio de terras em
préstamo, jure e herdade e em tença, com as jurisdições cí-
veis e crime, e os tributos, foros, rendas, direitos, conforme
confirmação de D. Duarte em 1435), Gonçalo Anes de Sá
(herdará o senhorio de Aguiar de Sousa), Rodrigo Anes de
Sá, Mécia Rodrigues de Sá e Filipa de Sá. Teve três filhos
bastardos, Guiomar de Sá (legitimada em 7 de outubro de
1427, morou no Porto e foi casada com João Vasques escu-
deiro), João Anes de Sá e Violante Anes de Sá, todos com
descendência, segundo Felgueiras-Gayo. O seu testamento
informa-nos de uma filha que professou no Mosteiro de S.
Domingos das Donas de Vila Nova.
Em 1390, o rei retirou-lhe a posse de Gaia-a-Peque-
na (direitos, rendas e tributos reais), para devolver a Airas
Gonçalves de Figueiredo, objeto de confisco em 1387.
Faleceu em 1425 e por vontade manifestada em testa-
mento está sepultado no Mosteiro de S. Francisco do Porto
em capela encimada pelo símbolo heráldico.
Quando se deu o seu passamento, o rei enalteceu e re-
sumiu a vida do seu vassalo na carta da sua sucessão: «con-
siderando os muitos e estremados e famosos serviços que
João Rodrigues de Sá, cavaleiro da nossa casa e nosso ca-
mareiro-mor, cuja alma Deus haja, feitos a nós e a nossos
reinos em defesa deles desde o começo da guerra que hou-
vemos com El-Rei D. João e com outros reis de Castela até
ao seu finamento, assim em começo do cerco da cidade de
Lisboa (onde ganhou a alcunha das Galés) e da Batalha Real
como em todos mesteres da guerra enquanto durou e ainda
na tomada de Ceuta. E por nos prazer sua nobre fama de
cavalaria não tão-somente ser galardoada a ele em sua vida
mais ainda depois da sua morte».
PJSC
JOÃO RODRIGUES DE SÁ, “O DAS GALÉS”
(<1360-1425)
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Património Humano Personalidades Gaienses - 1º volume
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Património Humano Personalidades Gaienses - 1º volume

  • 1. GonCalo de Vasconcelos e Sousa coordenação geral coordenação do volume Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia Solar Condes de Resende Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ) 2018 PatrimOnio Cultural de Gaia ´ PatrimOnio Humano Personalidades gaienses ´ J.A. GonCalves GuimarAes ~ , , book.indd 1 18/09/2018 14:38:12
  • 2. TÍTULO Património Cultural de Gaia. Património Humano – Personalidades Gaienses COORDENAÇÃO-GERAL J. A. Gonçalves Guimarães COORDENAÇÃO DESTE VOLUME Gonçalo de Vasconcelos e Sousa AUTORES DOS TEXTOS António Adérito Alves Conde António Lima António Manuel S. P. Silva Eva Baptista Francisco Queiroz Gonçalo de Vasconcelos e Sousa Isilda Braga Costa Monteiro J. A. Gonçalves Guimarães José Augusto de Sottomayor-Pizarro José Guilherme Abreu João Maria Távora de Magalhães Basto Laura Castro Laura Cristina Peixoto de Sousa Licínio Santos Lourenço Correia de Matos Manuel Ferreira da Silva Maria de Fátima Teixeira Maria de São José Pinto Leite Mário Jorge Barroca Paulo Jorge Sousa Costa Paula Leite Santos Susana Guimarães Susana Moncóvio Teresa Campos dos Santos Virgília Braga da Costa GABINETE DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO (ASCR-CQ) Equipa técnica Eva Baptista, Licínio Santos e Maria de Fátima Teixeira Administração Amélia Cabral SOLAR CONDES DE RESENDE Técnica superior - Área da Cultura Susana Guimarães Apoio à pesquisa bibliográfica e documental Celeste Pinho Fotografia CMVNG - EMPCI – Equipa Multidisciplinar de Protocolo, Comunicação e Imagem – Eng.ª Ilda Henriques Fotografo: João Luís Teixeira EDIÇÃO Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia / Amigos do Solar Condes de Resende - Confraria Queirosiana Solar Condes de Resende, travessa Condes de Resende, 110 4410-264 Canelas, Vila Nova de Gaia DESIGN Omnisinal (Paginação por André Oliveira) IMPRESSÃO Mota e Ferreira - Artes Gráficas TIRAGEM 00.000 unidades DATA DA EDIÇÃO 00/00/0000 Património Cultural de Gaia ISBN: 000-000-000-000-0 Depósito Legal: VG-000-0000 book.indd 2 18/09/2018 14:38:12
  • 3. 3 Ninguém duvida da existência de um vasto património material e imaterial em Vila Nova de Gaia. A questão que andava às voltas na minha cabeça era a de saber como podem os gaienses, e todas as outras pessoas, fruir, valorizar e partilhar esse património. Era preciso encontrar uma solução, era preciso sublinhar em nós e perenizar para os outros a nossa memória coletiva. Na decisão de editar a presente coleção de dez volumes que versam, todos eles, sobre o(s) património(s) da nossa cidade de Gaia encontrei uma resposta. Uma resposta que começa já. Começa com o presente volume, dedicado à memória de quem marcou indelevelmente o nosso concelho e que tem por título «Património Humano: personalidades gaienses». Também já não se duvida do papel dos municípios, para além das infraes- truturas e das materialidades. Um papel decisivo na cultura, na educação, no património, no trabalho pela coesão e por grupos sociais específicos. O poder local, outrora focado na infraestruturação do território, tem hoje novas obri- gações. Evoluiu, como evoluiu o país e as nossas representações sociais. Olha- -se hoje para as questões imateriais com o sentido da solidariedade, da coesão e do reforço dos laços sociais. Olha-se para as novas temáticas como novas questões sociais e novos mundos de atuação municipal. É neste novo tempo que nos situamos e em que se inscreve o trabalho que agora se apresenta. NESTA MEMÓRIA COMO CONSCIÊNCIA DO TEMPO book.indd 3 18/09/2018 14:38:12
  • 4. 4 Já Fernando Pessoa dizia que a “memória é a consciência inserida no tem- po”. E este é um labor inestimável de construção de uma memória coletiva. Uma memória que é feita de pessoas, de tradições, de instituições, de arte, enfim, de cultura. A construção de uma memória coletiva é essencial para o nosso conhecimento próprio enquanto comunidade, porque contém determi- nadas perceções da realidade. “A identidade cultural e a memória reforçam-se mutuamente. Conhecemos as nossas raízes, distinguimos o que nos une e o que nos divide. Estamos aptos a entender que a cultura e a memória são faces de uma mesma moeda e que a atitude cultural por excelência e com o que nos rodeia, desde os tes- temunhos construídos ou das expressões da natureza aos testemunhos vivos aos quais são imprescindíveis para a construção desta identidade.” Tais perceções objetivam-se no trabalho do historiador e do investigador social e confluem para a construção de uma identidade. E a identidade de um povo reside na sua cultura. Hoje mais isto faz sentido; estamos em tempos incertos, contextos inse- guros. A globalização tende a desvalorizar a cultura local, o que é específico e, por isso, as questões que se prendem com a identidade cultural abrem hoje grandes debates de ideias pelo mundo fora. Contra estes perigos é que se ergue esta coleção. Contra o esquecimento e a diluição banal e acrítica. Há um espaço para a preservação da identidade cultural dos povos num mundo de “modernidade líquida”, onde as relações escorrem por entre os dedos e já não há muito espaço para relações sólidas e duradouras, como argumentava Zygmunt Bauman. Mas esse espaço nasce de uma vontade que tem de ser forte, uma vontade de reter, de classificar, de estudar, de partilhar o que temos em comum e que nos é mais identitário. É assim no mundo humano, porque, como afirmava Nietzsche, no mundo dos animais a programação genética tende a garantir a sobrevivência da espécie. Mas o ser humano, essa realidade tão especial e difícil de explicar, tem que encontrar formas de manter a sua natureza apesar das gerações. A solução para esta questão é fornecida pela memória coletiva, um conceito que direciona comportamentos e experiências nos interstícios de uma sociedade não cessa de mudar e de se transformar. Este volume em particular e a coleção em que está inserido são exemplos de um processo de rememoração, de um processo de procura das raízes, das origens, do âmago da História do património cultural gaiense. A memória é uma maneira de ligarmos as nossas ações do presente a acon- tecimentos e a pessoas que tiveram lugar no passado. Temos, por isso, a lem- brança de um rosto de uma pessoa, de um pôr-do-sol, de um sabor, de uma sensação, de um sentimento. O que seria de nós sem as nossas lembranças? Também ao nível do grupo, ao nível coletivo, se dá o mesmo processo. O que seria feito de nós sem as nossas raízes? Daqui há lugar para a construção de uma narrativa histórica que evoca acontecimentos que estão na lembrança de todos, ou apenas de alguns, e que interessa usufruir e partilhar. Que interes- book.indd 4 18/09/2018 14:38:12
  • 5. 5 sa sobretudo experienciar. Por isso, este projeto é, em primeiro lugar, uma experiência. Um experimentar olhar para Gaia do ponto de vista do que, em termos culturais e de património, mais a marcou e mais a marca ainda. A um grupo muito vasto de profissionais foi pedido que refletissem sobre o nosso património, o que faz de Gaia a Gaia que é hoje; foi-lhes pedido que resgatassem para o futuro um passado que a nós todos nos diz respeito. Devo um agradecimento, em primeiro lugar, a toda esta equipa coordenada pelo nosso ilustre historiador, homem-marca do Solar dos Condes de Resen- de e da Confraria Queirosiana, Prof. Dr. Gonçalves Guimarães. Através dos dez volumes deste projeto que agora nasce podemos empreen- der uma viagem pela Gaia que foi conhecendo, assim, melhor a Gaia que é. Penso que uma instituição como a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia tem um papel fundamental nesta memória como consciência do tempo. Há uma outra dimensão que este projeto vem sublinhar, que é a da valori- zação da nossa identidade coletiva, porque corresponde a uma seleção, a um registo, a um estudo que é agora partilhado com todos. Consultar um destes volumes é vermo-nos ao espelho, é um olhar sobre nós mesmos e sobre a realidade que nos envolve. E, já agora, a partir daí projetarmos o nosso futuro coletivo. Vila Nova de Gaia, 20 de setembro de 2018 Eduardo Vítor Rodrigues Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia book.indd 5 18/09/2018 14:38:12
  • 7. 7 Se é certo que a perceção do conceito de Património seja já antiga – em Por- tugal remontará pelo menos ao reinado de D. João V, certamente por influência dos antiquários renascentistas – a sua teorização e sobretudo a sua compreensão social são bem mais recentes e, ainda hoje, mesmo entre os profissionais das Ciências Humanas e outras que com ele têm que ver, há uma certa dificuldade em passar da teoria à prática. O Património identifica-se, estuda-se e divulga-se mas nem sempre se seleciona ou prepara, através de um discurso organizado e coerente, para o seu objetivo final, a usufruição como mais valia cultural por parte dos cidadãos. Tendo na sua origem tudo aquilo que a natureza ou a obra humana produzem, o Património como tal só o é após a necessária reflexão que lhe dá conteúdo e mensagem para o tornar indispensável à sociedade que o herda, suporta, recria e usufrui, procurando passá-lo às gerações vindouras em situação dignificante, como fonte material ou imaterial de sabedoria trabalhada por diversos profissionais que lhe acrescentam valores mais íntimos ou mais coletivos. Embora possa arvorar muitas bandeiras, o Património é em si próprio um valor claro e universal, desde que não seja usado como reclame redutor mais particular ou particularista por qualquer entidade ou causa. Uma ideia errada muito generalizada entre os não profissionais, que urge corrigir, é a de que “tudo é Património”, o que não é nem nunca foi verdade, pois este sempre foi e terá de continuar a ter «… qualidade e memória. Sem qualidade, intrínseca ou circunstancial, não haverá fundamento para que um tes- temunho-memória tenha de ser conservado», como sintetizou Carlos Alberto Ferreira de Almeida no seu programático texto Património - Riegl e Hoje, publicado em 1993. Sem estudo e sem a definição prévia de uma escala de valores que a ele se agarrem no tempo e que a sociedade adote como seus, o Património não pas- PATRIMÓNIO CULTURAL DE GAIA (PACUG) UM PROJETO GLOBAL book.indd 7 18/09/2018 14:38:12
  • 8. 8 sará do estado embrionário e socialmente não existirá. Para além do conteúdo cultural, dado pelo seu estudo e definição, tem de ser visível, visitável, usufruível e partilhável pelos cidadãos, numa escala que vai da pequena comunidade ao uni- versal, através de valores que se complementem, sem atropelos destrutivos que se excluam. Uma grande ruína que ninguém conhece, um quadro perdido numa arrecadação, não são Património, mas apenas uma possível “matéria-prima” que os patrimoniólogos e outros profissionais poderão um dia vir a trabalhar. Se não pudermos rentabilizá-los já, deixemo-los seguros, intocados e em paz para os profissionais e os públicos do futuro. No que diz respeito ao Património gaiense, alguns dos seus monumentos aparecem referidos em obras dos séculos XVI e XVII, mas uma primeira tenta- tiva da sua catalogação sistemática só se encontra nas Memórias Paroquiais de 1758. Em 1861 António Rodrigues dos Santos enumera os monumentos do Centro Histórico nos seus acrescentos à Descrição Topográfica de Vila Nova de Gaia. Em 1864 é fundada em Lisboa a Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólo- gos Portugueses que, entre outras missões, iria proceder ao levantamento dos monumentos a classificar em todo o país, cuja primeira listagem só será publica- da em 1910, ainda antes da República, e onde constam alguns edifícios gaienses. Entretanto, em 1873, e anos seguintes, o Portugal Antigo e Moderno… de Pinho Leal proporcionava indiretamente uma nova tentativa de sistematização do pa- trimónio local embrulhada em descrições fantasistas e literárias. Na realidade a primeira publicação a tal dedicada com critério só vai surgir em 1909, intitulada Mea Villa de Gaya, a qual reúne textos de um escol dos melhores especialistas nacionais sobre os patrimónios arqueológico, edificado, etnográfico, paisagístico, artístico e museográfico do município, já então voltado para o turismo, obra tão avançada para a sua época, que não teve continuidade até aos anos sessenta e setenta do século passado, quando os boletins dos Amigos do Mosteiro da Serra do Pilar e depois dos Amigos de Gaia, através de textos de memorialistas pas- saram a divulgar algum do Património local. Dos anos oitenta para cá uma nova geração de profissionais das áreas das Ciências Humanas saída da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e que vinha procedendo a trabalhos de levanta- mento do património concelhio nas suas mais variadas vertentes e na definição e caraterização do seu Centro Histórico, em 1982 funda o Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, vindo a publicar muitos dos seus trabalhos na revista Gaya, noutras publicações académicas e em diversas monografias. En- tretanto em 1983 são criados os serviços culturais do município (depois sector de ação cultural), transferidos em 1987 para o Solar Condes de Resende, que passou a ter como funções, entre outras, a concretização do levantamento do Património e a sua rentabilização cultural e social, o que deu origem, por exem- plo, à elaboração de processos de classificação de conjuntos e sítios incluídos nos PDM, bem assim como a publicação de muitos textos sobre a caraterização histórica de muito do Património identificado pelos profissionais daquele Gabi- nete, entretanto, desde 2004, integrado na associação cultural Amigos do Solar Condes de Resende – Confraria Queirosiana. Porém, desde sempre a tarefa se revelou gigantesca e os recursos, profissio- nais e outros, escassos, quer no que diz respeito ao Solar Condes de Resende, quer ao Gabinete de História, Arqueologia e Património. book.indd 8 18/09/2018 14:38:12
  • 9. 9 Por proposta do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Prof. Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, elaborou o coordenador desta última entida- de o presente projeto em dez volumes sobre as seguintes áreas: 01 Património Natural: da Geomorfologia à Geografia física e humana 02 Património Arqueológico: da Pré-história à Arqueologia Industrial 03 Património Etnográfico e Imaterial: atividades tradicionais e suas manifestações 04 Património Humano: Personalidades gaienses 05 Património Institucional: Instituições, Empresas e Associações históricas 06 Património Edificado: das construções vernaculares aos monumentos classificados 07 Património Artístico: Arquitetura, Escultura, Pintura, Cerâmica, Literatura, Artes Cénicas e Música 08 Património Gaiense no Mundo; Património do Mundo em Gaia 09 Gaia século XX: território, pessoas, atividades 10 Fontes, bibliografia, índices e outros aspetos complementares Concretizados por uma equipa que integra patrimoniólogos, historiadores, arqueólogos, geógrafos, sociólogos, biólogos e outros profissionais com um bom entendimento teórico e prático do que é o Património Cultural nas suas diversas vertentes e com trabalhos já publicados nas áreas suscetíveis de serem enquadradas por este projeto que é, ao mesmo tempo, um ponto de chegada de conhecimentos adquiridos e um ponto de partida para novas investigações, considerando que «o Património classificado ou a classificar tem de ser encarado como um contributo para a qualidade de vida, social e cultural, das comunidades. Estas o vão sentindo e já vão reclamando a sua proteção. A experiência mos- tra-nos que o Património pode ser muito mais bem defendido pelas associações locais de defesa do património e pelas forças locais que pelo poder central. (…) Uma sociedade moderna e qualitativamente culta olhará com respeito o seu Pa- trimónio que a incentivará a fazer melhor…» (ALMEIDA, 1993: 416). Este in- vestigador, santamariano e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto falecido em 1996, jaz sepultado no Cemitério paroquial de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia, perto do local onde residia. J. A. Gonçalves Guimarães Coordenador geral book.indd 9 18/09/2018 14:38:12
  • 11. 11 INTRODUÇÃO A assunção do conceito de Património como conjunto de intervenções hu- manas às quais é dada, pela comunidade, um determinado sentido valorativo, contribuindo para a construção da memória, de âmbito mais geral ou local, per- mite afirmar que, no centro deste conceito, se encontram o Homem e as suas ações materializadas. Por detrás dos outros tipos de Património, o Homem é, nas suas múltiplas valências, responsável pela promoção das edificações históricas e outras manifestações artísticas, musicais e literárias, pela dimensão imaterial da cultura e das tradições, pela intervenção marcante na paisagem, mas, igualmente, pela sua fruição, registo e valorização. Foi ele que criou este objeto de estudo e será ele o seu intérprete e agente de preservação, valorização e dinamização. Em boa hora a Câmara Municipal de Gaia entendeu promover esta hercúlea tarefa de dar à estampa um conjunto de volumes, coordenado pelo Dr. Gonçal- ves Guimarães, em que surgem abordadas as distintas vertentes de Património local (e não só) e de que este é o primeiro testemunho. Neste enquadramento, quando se aborda as várias dimensões patrimoniais de um concelho como o de Gaia, logo emergem as pessoas historicamente situadas como um ativo relevan- te, facto que se foi acentuando ao longo da evolução desta região. A exponen- ciação do desenvolvimento das diversas freguesias que o constituem atingiu, ao longo dos séculos XIX e XX, uma dimensão notável, facto que este livro traduz de uma forma clara. E isto tanto na sua capacidade de fixar pessoas nascidas noutras regiões, que aí afluíram em busca de melhores condições, notabilizan- do-se pelo seu percurso, seja fixando as que aí nasceram, criando os meios para aí desenvolverem atividades em prol do engrandecimento do concelho e, em diversos casos, atingindo uma dimensão nacional e internacional. book.indd 11 18/09/2018 14:38:12
  • 12. 12 O conjunto de personalidades nascidas nas distintas freguesias do atual con- celho de Gaia que conseguiu notabilizar-se dentro e fora da região é verdadei- ramente surpreendente, sobretudo nos últimos dois séculos, relacionadas com atividades tão distintas como a politica, o comércio, a benemerência, a arte ou a indústria. Nomes como Soares dos Reis, António Teixeira Lopes ou os irmãos Oliveira Ferreira são o testemunho visível na Arte, por exemplo, mas encon- tramos muitas outras figuras marcantes nos vários domínios elencados, num espectro tão rico e diversificado como o são as variantes sócio-económicas do concelho. Diversos titulares com ligações a Gaia são, também, alvo de tratamen- to, como o barões do Candal ou de Saavedra, os viscondes de Beire, de Santo António do Vale da Piedade ou de Vila Nova de Gaia, ou os condes de Burnay, de Campo Belo, de Castro ou de Laborim. O tempo da Primeira República representou, no concelho de Gaia, um perío- do de grande efervescência política, cultural e organizativa, nele emergindo uma multiplicidade de personalidades de índole local (e não só), que procuraram vin- car os seus ideais republicanos e maçónicos, alguns vindo a cultivá-los já desde os últimos tempos da Monarquia. No ímpeto de levar o progresso e certos laivos de vivência democrática aos seus concidadãos desenvolveram as mais diversas iniciativas de natureza política e associativa, com frutos mais ou menos eféme- ros, pelas condicionantes da evolução histórica do País. Outros passaram por Gaia e deixaram aí o seu rasto a diversos níveis e em distintas épocas, ou, então, desde a cadeira régia, em distintos momentos, rela- cionaram-se de forma particular com Gaia, tomando decisões com impacto lo- cal, algumas de efeito multissecular. Outros, ainda, levaram o nome desta terra e até os apelidos toponímicos para fora do país, povoando o Brasil e transportan- do consigo as boas qualidades de trabalho e dedicação às causas públicas, factos evidenciados em muitos dos que se fixaram em terras de Vera Cruz. Percorrer as centenas de nomes que corporizam este volume é revisitar a his- tória de Gaia através dos seus intérpretes, mas numa dimensão muito alargada, pois não se confina a uma perspetiva tradicional, como a política, a economia e a sociedade. Esta obra vai mais além, abarcando, sobretudo para Oitocentos e No- vecentos, a rica vida coletiva do concelho, a militância em determinados valores e visões para a sociedade, ou a intensa vida cultural, manifestada em aspetos tão distintos como a produção artística, a musical ou a literária. Na estruturação do presente volume dedicado ao Património Humano de Gaia, o primeiro, como se disse supra, da coleção referente às distintas vertentes do Património deste concelho, foi adotada uma plêiade de regras de modo a que, dada a amplitude cronológica, a quantidade de intervenientes biografados e de biógrafos, pudesse resultar um todo global criterioso e dotado do rigor histórico e da coerência necessária. Nesse sentido, a elaboração de um livro desta natureza comporta a assunção de um conjunto de decisões que procura uniformizar cri- térios, sendo pois necessário apresentá-los para que se tornem compreensíveis, justificando possíveis ausências ou opções desta ou daquela natureza. A seleção dos autores dos verbetes pautou-se pelo seu conhecimento das referências históricas das personagens, estabelecendo sempre a ligação com o book.indd 12 18/09/2018 14:38:13
  • 13. 13 concelho de Gaia em geral ou alguma freguesia em particular. A formação cien- tífica dos autores, não se caindo na mera tentação dos denominados curiosos locais – que sempre existem, e ainda bem, em todas as localidades –, constituiu um dos pontos de partida, essenciais ao espírito com que o coordenador da obra e o do volume se irmanaram na estruturação do presente livro. A busca do rigor cien- tífico e metodológico levou a coordenação a estabelecer – e porque era funda- mental escolher um critério – as normas de referenciação bibliográfica do centro de investigação CITCEM, ao qual pertence um grande número dos autores. O critério de arrumação cronológica dentro das grandes épocas históricas foi a solução encontrada para evitar que este trabalho se transformasse numa espécie de dicionário dos ilustres de Gaia. No entanto, sendo o corpo dos textos baseado em verbetes, era necessário estruturar a respetiva informação, pelo que esse foi o critério adotado. Por outro lado, para a seleção das centenas de figuras que se destacaram no concelho ao longo do tempo impunha-se um limite cro- nológico, a jusante. Deste modo, apenas se consideraram aqueles biografados falecido até ao ano 2000, inclusive, havendo já algum distanciamento para o respetivo gizar biográfico. A busca iconográfica revelou-se outra preocupação deste volume, registando a imagem daqueles cujo percurso se aborda. No entanto, no caso de não ser possível obter especificamente a sua representação, através de fotografia, de gra- vura ou pintura, optou-se por selecionar a figuração de um edifício, de armas de família ou do concelho, ou outro elemento iconográfico que lhe pudesse estar associado, pois a natureza desta obra comporta, também, essa dimensão. Deixamos uma nota de reconhecimento ao Dr. Gonçalves Guimarães, a quem devemos o convite para coordenar este volume, o que nos muito nos hon- ra, não apenas pelo significado e relevância científica que atribuímos a esta obra, mas pela nossa ligação pessoal e familiar ao concelho de Gaia, designadamente à Praia da Granja. Por isso, para além das múltiplas colaborações científicas e escritos sobre gente de Gaia, ao longo dos anos, acresce essa perspetiva afetiva forte e que nos move a olhar para estas terras, igualmente, como nossas. Uma última palavra é de agradecimento aos autores das mais de duas cente- nas de verbetes que corporizam este volume, pois sem o seu esforço, dedicação e empenho na entrega atempada do resultado do seu labor e investigação, não teria sido possível erguer o presente livro no tempo determinado para a respe- tiva execução. E abrir uma coleção com a natureza e a relevância da que agora se inicia é algo que a todos uniu, motivando para a edificação de uma obra cujo objetivo primacial é honrar aqueles que nela figuram e cuja vida meritória e relevante esteve, direta ou indiretamente, ligada ao concelho de Gaia e às suas muitas freguesias. Porto, 29 de abril de 2017 Gonçalo de Vasconcelos e Sousa Coordenador do Volume book.indd 13 18/09/2018 14:38:13
  • 15. 15 SUMÁRIO BIOGRAFADO AUTOR P. Lúcio Lávio Tusco JAGG 24 Mafamude; Mahamūd ‘ Abd al-Yabbār JAGG-SG 25 Ordonho II, Rei JAGG 26 Ramiro II, Rei JAGG 27 Soeiro Fromarigues [de Marnel] JAS-P 28 Nuno Soares de Grijó JAS-P 29 Afonso Henriques, D., Rei JAGG 30 Gil Vasques de Soverosa PJSC 31 Rodrigo Sanches, D. MJB 32 Afonso III, D., Rei JAS-P 33 Dinis, D., Rei JAS-P 34 João da Gaia JAGG 35 Estêvão Pires Coelho JAGG 36 Maria Mendes Petite PJSC 37 Pedro I, D., Rei JAGG 38 Aires Gonçalves de Figueiredo JAS-P 39 João Rodrigues de Sá, “O das Galés” PJSC 40 Álvaro Anes de Cernache PJSC 41 Manuel I, D., Rei JAGG 42 Fernão de Magalhães JAGG 43 Fernão Brandão Pereira PJSC 44 Diogo Brandão; Diogo Brandão Pereira de Pina PJSC 45 Manuel Fernandes de Calvos, “O Rico de Ormuz” JAGG 46 Nuno da Silva JAGG-SG 47 Tomé da Costa IBCM 48 António Leite de Albuquerque, D. SM 49 book.indd 15 18/09/2018 14:38:13
  • 16. 16 Filipe de Távora e Noronha JAGG 50 João Correia Pacheco Pereira, “O Manco de Gaia” AAAC 51 António Craesbeeck de Melo AAAC 52 José Pereira dos Santos JAGG 53 José de Azevedo e Sousa AAAC 54 José Bento Leitão PJSC 55 João António Monteiro e Azevedo SM 56 Pedro Leite Pereira de Melo JAGG-MFT 57 Maria Isabel Wittenhall Van-Zeller SG 58 Jerónimo Rossi LCPS 59 Barão do Corvo; Manuel Álvares (ou Alves) do Souto Guedes da Silva JAGG 60 Rosa Maria da Conceição e Silva, D. JAGG 61 José Veloso da Cruz AAAC 62 António Rodrigues dos Santos AAAC 63 José Liberato Freire de Carvalho JAGG-SG 64 José Pereira da Silva Leite de Berredo AAAC 65 Visconde de Beire; Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto de Miranda e Figueiroa JAGG-SG 66 Manuel Gonçalves de Castro AAAC 67 Miguel Joaquim de Moura Coutinho Lacerda Abreu Lima IBCM 68 António da Rocha Leão SM 69 Visconde de Vila Nova de Gaia; Thomas William Stubbs JAGG 70 Conde de Laborim; José Joaquim Gerardo de Sampaio JAGG 71 General Torres; José António da Silva Torres, Barão do Pico do Celeiro, Visconde da Serra do Pilar LCM 72 António Ribeiro da Costa JAGG-MFT 73 Barão do Candal; Manuel José Mendes JAGG 74 Visconde de Santo António de Vale da Piedade - ver António José de Castro Silva (I) JAGG 75 Visconde de Portocarreiro; João Cardoso da Cunha Araújo e Castro Portocarreiro AAAC 76 Visconde de Oliveira; Marcelino Máximo de Azevedo e Melo JAGG-MFT-SG 77 Visconde da Pena; José Rodrigues de Cazaes JAGG 78 Conde de Castro; José Joaquim Gomes de Castro JAGG 79 Marquês de Sá da Bandeira; Bernardo de Sá Nogueira, Barão, Visconde e Marquês de Sá da Bandeira JAGG 80 Barão de Saavedra; Tomás Pinto da Cunha Saavedra LCM 81 Pedro IV, D., Rei JAGG 82 Luís de Queiroz Monteiro Regadas FQ 83 Almeida Garrett; João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, Visconde de Almeida Garrett JAGG 84 Joaquim da Cunha Lima de Oliveira Leal AAAC 85 Manuel Bento Rodrigues, D. AAAC 86 José Plácido Campeão GVS 87 book.indd 16 18/09/2018 14:38:13
  • 17. 17 Manuel da Fonseca Pinto SM 88 Frutuoso Aires; Frutuoso José da Silva Aires FQ 89 Joaquim Veloso da Cruz AAAC 90 Francisco da Rocha Soares FQ 91 Visconde da Graceira; José Rodrigues de Faria JAGG-MFT 92 Barão de Forrester; Joseph James Forrester JAGG-SG 93 Antónia, D., “ A Ferreirinha”; Antónia Adelaide Ferreira JAGG 94 Diogo José de Macedo EB 95 Visconde de Oliveira do Douro; Manuel Maria da Costa Leite JAGG-MFT-SG 96 Visconde das Devesas; António Joaquim Borges de Castro JAGG 97 Frederick William Flower JAGG 98 João Ferreira da Silva Oliveira AAAC 99 Luís António Pinto de Aguiar Júnior AAAC 100 André Michon FQ 101 Manuel Lopes da Costa Soares AAAC 102 João Tomás Cardoso FQ 103 Antero Albano da Silveira Pinto FQ 104 José de Almeida Cardoso FQ 105 Diogo Leite Pereira de Melo AAAC 106 Conde de Silva Monteiro; António da Silva Monteiro, Visconde e Conde de Silva Monteiro MSJPL 107 Ricardo de Clamouse Browne GVS 108 Visconde de Castro Silva; António José de Castro Silva, Júnior (II) JAGG-MFT 109 Visconde de Arcozelo; Joaquim Teixeira de Castro EB 110 Camilo Castelo Branco; Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, Visconde de Correia Botelho JAGG 111 Abade de Arcozelo; Aires de Madureira; Cândido José Aires de Madureira EB 112 Francisco Pinto da Costa SM 113 José Mariani MFT 114 António Aires de Gouveia Osório, D. EB 115 Conde de Samodães, 2º; Francisco Teixeira de Aguilar e Azeredo AAAC 116 Joaquim Nicolau de Almeida VBC 117 Joaquim Pereira Fula JAGG-MFT 118 Visconde de Proença Vieira; Joaquim José de Proença Vieira JAGG 119 António Almeida da Costa FQ 120 José Nicolau de Almeida LS 121 Barão de S. João Batista de Canelas; Jacinto Pinto Ferreira Guerra JAGG 122 Manuel José Pereira Lima SM 123 José Joaquim Teixeira Lopes FQ 124 Conde de Burnay, 1º; Henrique Burnay GVS 125 António Narciso de Azevedo Magalhães AAAC 126 Caetano Pinho da Silva JAGG-MFT-SG 127 António Joaquim dos Reis Castro Portugal FQ 128 Conde de Porto Brandão; Tomás da Silva Brandão AAAC 129 book.indd 17 18/09/2018 14:38:13
  • 18. 18 Júlio Dinis; Joaquim Guilherme Gomes Coelho SM 130 Joaquim Augusto da Silva Magalhães AAAC 131 Marciano Azuaga; Marciano do Carmo Martins Viana de Azuaga JAGG 132 Apolino da Costa Reis AAAC 133 Eduardo da Costa Santos JAGG-MFT 134 Afonseca Lapa; João de Afonseca Lapa FQ 135 António Nicolau de Almeida Júnior PLS 136 Visconde da Ermida, 1º; António Ferreira da Silva Brito (II) JAGG-MFT 137 Alfredo Lucas; Alfredo de Almeida Lucas EB 138 Jaime Teixeira da Mota e Silva AAAC 139 Manuel Pinto Mourão EB 140 Artur Napoleão dos Santos JAGG 141 Manuel Pinto dos Reis AAAC 142 Conde de Resende, 5.º; Luís Manuel Benedito da Natividade de Castro Pamplona de Sousa Holstein, D. SM 143 Diogo Cassels AMS 144 José Geraldo da Silva Sardinha JMTMB 145 Eça de Queirós; José Maria Eça de Queirós JAGG 146 António Monteiro dos Santos MFT 147 Adriano de Paiva; Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão, Conde de Campo Belo, 1.º JAGG 148 Soares dos Reis; António Soares dos Reis PLS 149 Cabo Simão; Simão da Costa Santos AAAC 150 João Rodrigues Valente Perfeito EB 151 Artur Ferreira de Macedo EB 152 Augusto César da Cunha Morais MFT 153 Flórido Toscano; António Flórido da Cunha Toscano EB-JAGG-MFT-SG 154 Albino Barbosa; Albino Pinto Rodrigues Barbosa FQ 155 Salvador Brandão; Salvador Ferreira Brandão JAGG-MFT 156 Macedo Pinto, Coronel; Augusto António de Macedo Pinto AAAC 157 Agostinho de Almeida Rego JAGG-MFT-SG 158 Domingos da Rocha Romariz JAGG-MFT 159 Alfredo Moreira da Silva, “ O Alfredo das Rosas” AAAC 160 Adriano Ramos Pinto JAGG 161 José Gonçalves da Silva Matos EB 162 José Pinto Amorim da Costa EB 163 Maximiano Lemos; Maximiano Augusto de Oliveira Lemos JAGG-MFT 164 Francisco Gonçalves Cortez JAGG-MFT 165 Adolfo Marques AAAC 166 Francisco José Ferreira Guimarães AAAC 167 António Teixeira Pinto AAAC 168 Leopoldo Mourão; Leopoldo José de Oliveira Mourão EB 169 Osório Gondim; Inocêncio Osório Lopes Gondim JAGG-MFT-SG 170 João Pinto de Azevedo AAAC 171 book.indd 18 18/09/2018 14:38:13
  • 19. 19 Joaquim Gonçalves da Silva SM 172 Álvaro Cabral; Álvaro Augusto Cabral da Cunha Goodolfim de Maia Figueiredo AAAC 173 Venceslau Pedro da Silva JAGG-MFT 174 Amélia, D., Rainha SM 175 Manuel Maria Lúcio SM 176 Bernardo Lucas; Bernardo de Almeida Lucas EB 177 José Júlio Gonçalves Coelho AAAC 178 Teixeira Lopes; António Teixeira Lopes SM 179 José Fernandes Caldas FQ 180 Manuel Marques Gomes AAAC 181 Luís Gonçalves de Oliveira LS 182 José Tristão Pais de Figueiredo EB 183 Paulino Gonçalves TCS 184 Augusto Santo AAAC 185 Marcelino de Almeida Lucas Júnior AAAC 186 Manuel Emílio Dias Castelo Branco AAAC 187 Adelino de Sá Lemos PLS 188 Alfredo Seixas Bandeira AAAC 189 Cabo Borges; João Borges AAAC 190 José Amadeu de Castro Portugal EB 191 Alberto Júlio Pereira JAGG- MFT-SG 192 José Teixeira Lopes MFS 193 Padre Luís; Luís Gonçalves da Rocha AAAC 194 Adelino Gonçalves Gomes JAGG-MFT-SG 195 António Pimenta da Fonseca MFT 196 Belchior Fernandes da Fonseca AAAC 197 José Pinto de Macedo LS 198 António da Costa Bernardes, ”O Ferramenta” AAAC 199 António Fernandes de Sá PLS 200 Ernesto Rodolfo Alves de Castro AAAC 201 Augusto Francisco da Rocha JAGG-MFT- SG 202 Miguel Joaquim da Silva Leal Júnior JAGG-MFT-SG 203 Joaquim dos Santos Guimarães PJSC 204 Conde das Devesas, 2º; Alfredo Pereira Pinto de Castro e Lemos, 2.º Conde das Devesas JAGG 205 João Porfírio de Lima Calheiros Lobo EB-JAGG-MFT 206 José da Fonseca Menéres AAAC 207 Manuel Ferreira de Castro AAAC 208 César Marques dos Santos, “O Menino de Ouro” AAAC 209 Santos Costa; Manuel Rodrigues dos Santos Costa JAGG-MFT-SG 210 Ramiro Mourão; Ramiro Bastos Mourão JAGG-MFT-SG 211 Magalhães Costa; Guilherme António de Magalhães Costa JAGG-SG 212 Waldemar Löfgren; Karl Frithiof Waldemar Löfgren JAGG-SG 213 book.indd 19 18/09/2018 14:38:13
  • 20. 20 Álvaro Miranda; Álvaro Pinto de Miranda SM 214 Bernardo Pinto Abrunhosa AAAC 215 José Domingues da Rocha Beleza JAGG-MFT -SG 216 Joaquim Gomes Ferreira Alves AAAC 217 José Soares de Oliveira AAAC 218 José de Oliveira Ferreira MFS 219 Alves de Sousa; António Alves de Sousa TCS 220 António Fiandor, D.; António Ferreira Fiandor AMS 221 Francisco de Oliveira Ferreira MFS 222 Joaquim Lopes; Joaquim Francisco Lopes TCS 223 Honório Costa; Honório Tavares da Costa AAAC 224 José Maria da Silva AAAC 225 Joaquim Francisco Correia AAAC 226 Alberto da Conceição Teixeira AAAC 227 José Dinis dos Santos AAAC 228 Rodolfo Pinto do Couto AAAC 229 Venceslau Fernandes de Figueiredo AAAC 230 Diogo de Macedo; Diogo Cândido de Macedo JGA 231 Henrique Moreira; Henrique Araújo Moreira AAAC 232 Zeferino Couto; Zeferino dos Santos Couto AAAC 233 António de Azevedo; António Ferreira de Azevedo AAAC 234 Manuel Marques; Manuel Marques Pinto AAAC 235 João Alves Pereira PJSC 236 Armando Leça; Armando Lopes JAGG-MFT 237 Abel Pego Fiúza AAAC 238 Cunha da Rasa; Alfredo Antunes da Silva Cunha, “ O Cunha da Rasa” JAGG 239 Sousa Caldas; José Fernandes de Sousa Caldas PLS 240 José Saavedra; José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra AAAC 241 Avelino Monteiro; Avelino da Silva Monteiro JAGG 242 Joaquim Francisco Pedrosa Júnior JAGG-MFT-SG 243 Ângelo Mendonça da Cunha Morais AAAC 244 Joaquim Alves da Silva AAAC 245 Manuel Moreira de Barros SM 246 Armando de Matos; Armando Manuel de Matos AAAC 247 António Pereira da Costa JAGG 248 José Pereira dos Santos PLS 249 Dina Teresa; Dina Teresa Moreira de Oliveira AAAC 250 José Ferreira de Albuquerque e Castro AAAC 251 Jorge Faria Vieira de Araújo AAAC 252 Conde de Campo Belo, 4º; Henrique Leite Pereira de Paiva Távora e Cernache GVS 253 Visconde de Pereira Machado, 3.º; Nuno Guilherme de Brito e Cunha JAGG-MFT 254 João de Brito e Cunha AAAC 255 Mário Cal Brandão AAAC 256 book.indd 20 18/09/2018 14:38:14
  • 21. 21 Loubet Bravo; Loubet Moreira Bravo AAAC 257 Fernando Moreira; Fernando Jorge de Azevedo Moreira AAAC 258 Carlos Vale; Carlos dos Santos Vale AAAC 259 Alberto da Silva Bessa AAAC 260 Afonso Ribeiro; Afonso Adelino Ribeiro de Azevedo JAGG-SG 261 Romero Vila, Padre; Manuel Romero Vila AAAC 262 Guilherme Camarinha; Guilherme Duarte Camarinha TCS 263 António Coelho de Figueiredo AAAC 264 António Sampaio; António de Assunção Sampaio LC 265 Aureliano Lima; Aureliano Branquinho e Lima TCS 266 César Morais; César Augusto Ribeiro Morais JAGG 267 Isolino Vaz; Isolino da Silva Vaz FQ 268 António Reis; António Ferreira Gonçalves dos Reis LS 269 Eduardo Luiz; Eduardo Luiz Teles Fernandes Gomes TCS 270 António Lima; António de Azevedo Lima AL 271 Simões da Hora; Joaquim Eduardo Simões da Hora FQ 272 Adriano Correia de Oliveira; Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira PJSC 273 Nuno Guimarães; José Nuno Guimarães AAAC 274 book.indd 21 18/09/2018 14:38:14
  • 22. Fotografia de João Luís Teixeira© book.indd 22 18/09/2018 14:38:14
  • 24. 24 Inscrição de Lúcio Lávio Tusco, proveniente do Castelo de Gaia; Solar Condes de Resende; fotografia de João Luís Teixeira© BIBLIOGRAFIA - ALARCÃO, Jorge de (2005) – Destacamento(s) da Legião X Gémina no Baixo Douro no tempo de Cláudio?. «Al-madan», II série (13), p. 78-81. - ENCARNAÇÃO, José d’ (1996) – Gonçalves Guimarães. Roteiro Arqueológico de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia, 1993, 56 pp. Ilust. ISBN: 972-581-011-2.«Conimbriga», 35 (1996), p. 223-225. - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2010a) - Os romanos em Gaia. «Boletim da Associação Cul- tural Amigos de Gaia», n.º 70, junho de 2010, p. 5-20. - MORAIS, Rui (2007) – A via atlântica e o con- tributo de Gádir nas campanhas romanas na fachada noroeste da Península. «Humanitas», n.º 59, p. 99-132. - RIBEIRO, José Cardim (1994) – Felicitas Ivlia Olisipo. Algumas considerações em torno do catálogo Lisboa Subterrânea. «Al-madan». II série, n.º 3, p. 75-95. - SILVA, Armando Coelho Ferreira da (1983) – As Tesserae Hospitales do Castro da Srª. da Saúde ou Monte Murado (Pedroso, V. N. de Gaia). Contribu- to para o estudo das instituições e povoamento da His- pânia Antiga.«Gaya», vol. I, Vila Nova de Gaia: Gabinete de História e Arqueologia, p. 9-26. Se não estivesse hoje perdida uma inscrição existente no séc. XVI no Castelo de Gaia que tinha gravado C. IVLI- VS, bem assim como um maior adiantamento nos estudos arqueológicos do sítio, do município e da região, talvez ar- riscássemos escrever que o habitante de Gaia, ainda que forâneo, mais antigo de que há notícia escrita fosse Júlio César (Caio Júlio César) que por aqui terá passado cerca de 60 a.C.. Enquanto novos dados não estão disponíveis, os habi- tantes de Gaia mais antigos cujos nomes se conhecem são Niger, Rufo, Prisco e Lugário, filho de Septánio, da etnia dos Túrdulos Velhos, a qual ocupava o território entre o Rio Douro e o Vouga, o Atlântico e as serras de Arouca e Vale de Cambra, tendo no Monte Murado, em Pedroso, infeliz- mente ainda não escavado, o seu principal povoado. Eram provavelmente os seu chefes, ou pelo menos personalidades de destaque na sociedade castreja e por isso os seus nomes constam em duas placas de bronze, dos anos 7 e 9 da nossa era pelos quais se ficou a saber que fizeram um pacto de hospitalidade com um romano chamado Décimo Júlio Cilo, da tribo Galéria. Mais ou menos contemporâneo, por aqui passou outro romano de seu nome Lúcio Lávio Tusco, filho de Lúcio, nascido em Lisboa, soldado da X Legião Gémea Vitoriosa, cujo nome e outras indicações foram gravadas numa inscri- ção encontrada nas Escadas da Boa Passagem no Castelo de Gaia nos anos trinta do século passado e que hoje se guarda no Solar Condes de Resende, talvez o que resta de um mar- co miliário, a que falta a parte final da inscrição. Entre o último quartel do século I a. C. e a época do imperador Cláudio alguns destacamentos daquela legião estiveram no Baixo Douro a assegurar a ocupação roma- na por terra entre Olisipo (Lisboa) e Bracara (Braga) e ou- tras povoações, na construção de pontes de barcas ou no controle das travessias do Rio Douro em direção a Bracara e Tongobriga (Marco de Canaveses), na vigilância das ex- plorações mineiras, na construção de condições portuárias flúvio-marítimas na margem esquerda do Durius em Por- tus Cale (Vila Nova de Gaia) e Crastumia (Crestuma), e em Cale na margem direita, povoados desde longa data conhe- cidos pelos navegadores gaditanos da rota atlântica a quem os romanos recorreram, ou na delimitação das civitates. A inscrição será funerária, o que quer dizer que Lúcio Lávio Tusco antes de morrer em Gaia deixou bens e incum- biu alguém de lhe mandar fazer a inscrição memorialística, ou deixou familiares que de tal se ocuparam. Este é pois o primeiro gaiense, ainda que de adoção, sobre quem, para além do nome, sabemos a profissão e o enquadramento social, a época em que viveu, e a ligação ao património de Vila Nova de Gaia. JAGG LÚCIO LÁVIO TUSCO (séc. I D.C.) book.indd 24 18/09/2018 14:38:16
  • 25. 25 Escultura simbólica alusiva a Mahamud, por Avelino Rocha, Paço de Rei, Mafamude; foto- grafia de JAGG© BIBLIOGRAFIA - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1989) - Mahamud: algumas dificuldades na fixação da bio- grafia de um guerreiro berbere do Al-Garb Al-Andalus. In MARQUES, A. H. de Oliveira; DIAS, João José Alves - Actas das III Jornadas de História Me- dieval do Algarve e Andaluzia. Loulé: Câmara Municipal, 1989, p. 107-118; idem (2006) – idem. In MARTINS, Albano, coord. (2006) - Um nome para uma escola: Almeida Garrett. Porto: Uni- versidade Fernando Pessoa, p. 53-63. - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves; GUIMA- RÃES, Susana (2012) – Álbum do Gaiense do mês - Mafamude guerreiro. Vila Nova de Gaia: Solar Condes de Resende, p. 26. - MOREIRA, Domingos A. (1987) - Freguesias da Diocese do Porto - elementos onomásticos altí-me- dievais: o Concelho de Gaia. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal/Gabinete de História e Arqueologia, p. 71. - VENEGAS RAMOS, Alberto (2014) – Las imágenes de Mahmud en la Crónica de los emires Alhakam I y Abderramán II entre los años 796 y 847 [Almuqtabis II-I]. «Revista de Estudios Extre- meños», tomo LXX, número II, p. 871-892. Mahamūd ‘Abd al-Yabbār, ou Mahmud b. Abdalgabbar al-Maridi, de origem berbere, nasceu por volta de 796 pro- vavelmente em Mérida. Em 827, sob o governo do emir Abderraman II, chefia a revolta dos habitantes desta cidade de que resulta a morte do seu governador Marwan Al Yilli- qui, sendo subjugados pelas tropas do emir. Revoltam-se então de novo, chefiados por Mahamūd e pelo seu com- panheiro o muladi Sulayman b. Martin. Esta aliança entre berberes, muladis e moçárabes tinha como objetivo mais amplo a independência da antiga Lusitânia contra o poder centralista omíada, cuja tirania os tinha quase reduzido à situação de escravos. Abandonando a cidade dirigem-se com os seus guerreiros para sul. Perseguidos, invertem a fuga para norte e dirigem-se para a Galiza, pedindo prote- ção a Afonso II das Astúrias, que concede a Mahamūd, nas fronteiras do seu país, que nessa época coincidiam com o Rio Douro, um território e a «fortaleza que hoje leva o seu nome» (Ibn Hayan), onde viverá entre sete e dez anos. Estes acontecimentos são relatados por vários cronistas árabes, que nem sempre coincidem nos pormenores ou nas moti- vações dos intervenientes. Hesitando entre as pressões dos cristãos e as dos mu- çulmanos, em 838 Mahamūd decide voltar para a sua terra, o que chega ao conhecimento do rei asturiano que o usava para conter o avanço islâmico a partir do sul, pensando por isso tratar-se de traição. Tendo sido cercado no castelo de Santa Cristina, numa sortida contra os cristãos o seu ca- valo espanta-se e o atira-o contra um carvalho. Perante a morte do líder os seus companheiros dispersam-se. Porém sua irmã Gamilah é capturada e sorteada entre os atacantes, vindo assim a ter descendência de um nobre cristão. Esta fortificação passou desde então a designar-se como castro e monte (mons) Mafamude, o qual está na origem da denominação desta freguesia gaiense, que aparece na do- cumentação como mahamudi, e outras variantes ortográfi- cas, desde o século X, servindo de referência às populações moçárabes e muladis de ambas as margens do Rio Douro, como é o caso de Aldoar, freguesia da margem direita do Rio Douro, conforme o atesta um documento do século X. Existe também em Mafamude o antropónimo Suleiman, sob a forma Soeime, a designar uma grande e antiga proprie- dade, enquanto que um documento do século XIV ainda regista a memória do orago Santa Cristina, na recentemen- te desaparecida povoação medieval de Paço de Rei. Temos pois que será esta a terra onde «No mês de maio de 840 da era cristã/ perto deste lugar de Paço de Rei/ terá morrido Mahamūd/ guerreiro árabe que procurou a liberdade/ en- tre o Sul e o Norte/ o Leste e o mar», conforme se lê na placa da escultura simbólica erguida em Paço de Rei. JAGG-SG MAFAMUDE (c. 796-c. 840) book.indd 25 18/09/2018 14:38:17
  • 26. 26 Pormenor do Castelo de Crestuma, in SILVA & GUIMARÃES, 2013:17 BIBLIOGRAFIA - FERNANDES, A. de Almeida (2001) – Por- tugal Primitivo Medievo. Arouca: ADPA, p. 394. - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2009) – In- trodução ao estudo do povoamento medieval da Terra de Santa Maria: actualização bibliográfica. In «Villa da Feira. Terra de Santa Maria», ano VIII, n.º 23, Outubro de 2009, p. 52. - MATTOSO, José (1992) – Portugal no Reino Asturiano-Leonês. In MATTOSO, José – História de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 536. - SILVA, António Manuel S. P.; GUIMA- RÃES, J. A. Gonçalves (2013) – Castelo de Crestuma. A Arqueologia em busca da História. Vila Nova de Gaia: Águas e Parque Biológico de Gaia/ ASCR-CQ – Confraria Queirosiana. - SILVA, António Manuel S. P. (2014) – El castillo de Crestuma (Vila Nova de Gaia, Porto, Por- tugal) entre la Romanidad tardia Y la Edad Media: los retos de un sitio complejo. In CATALÁN, Raúl; FUENTES, Patricia; SASTRE, José Carlos – Las Fortificaciones en la Tardoantigüedad. Élites y articulación del território (siglos V – VIII d. C.). Ma- drid: Ediciones de La Ergástula, p. 405 – 416. Rei da Galiza e Leão, era filho de Afonso III e da rai- nha Jimena Garcês de Pamplona e neto de Ordonho I das Astúrias e de Leão. Por morte do pai coube-lhe o reino da Galiza em 909. Casou em 892 com Elvira Mendes, filha do conde Hermenegildo Guterres, conquistador e repovoador de Coimbra em 878, de quem houve três filhos. Depois de enviuvar em 911, Ordonho II voltou a casar com Aragunte Gonçalves, filha do conde portucalense Gonçalo Betotes e cunhada de Mumadona Dias, a fundadora do Mosteiro de Guimarães, de quem não teve descendência. Casou uma ter- ceira vez com Sancha Sanches de Pamplona, também sem descendência. Tendo estabelecido a sua capital em Viseu, por morte de seu irmão Garcia em 914, sucede-lhe como rei de Leão, mudando a capital deste reino de Oviedo para Leão. Em 910 dirigiu pessoalmente uma incursão até Sevilha e em 913 uma outra grande expedição a Évora de onde regressou cheio de despojos. Pouco depois envia nova ex- pedição ao castelo de Alhange, perto de Mérida e obtém a submissão e pagamento de tributo do governador de Bada- joz. Mas, entretanto, o emir Abd al Rahman, que em 929 se proclama califa, recupera a autoridade no al Andaluz e der- rota Ordonho II em Valdejunquera em 920, onde aprisiona o bispo portucalense Hermógio, natural de Tui, e seu sobri- nho Pelágio, que virá a morrer no cativeiro, sendo depois venerado como santo (S. Paio), dando mais tarde a designa- ção a um troço da margem esquerda da foz do Rio Douro. As relações deste rei com a Terra de Santa Maria, assim designada desde pelo menos 978, e em particular com o futuro julgado de Gaia, estão expressas num controverso documento atribuído ao ano 922, de que se conhece ape- nas uma cópia incompleta da primeira metade do século XII proveniente do Livro Preto da Sé de Coimbra e publicado nos Portugaliae Monumenta Historica, n.º 25. Por ele se fica a saber que o rei veio à vila de Portugal, então uma povoação da margem esquerda do Douro, situada entre Mafamude e Coimbrões e que corresponderá à futura freguesia de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia, onde armou navios para ir com a rainha e o seu séquito visitar o bispo Gomado ao Mosteiro de Crestuma, e aí lhe fizeram uma ampla doação de terras, povoações e outros direitos no Rio Douro e na região litoral até ao Mondego. Escavações arqueológicas re- centes no Castelo de Crestuma comprovaram a antiguidade do lugar e a existência de um túmulo de prestígio em lugar de destaque, no que poderão ter sido as ruínas do mosteiro medieval. Ordonho II faleceu em 924, e foi sepultado na catedral de Leão que mandara construir em 916. JAGG ORDONHO II, REI (c. 873-924) book.indd 26 18/09/2018 14:38:17
  • 27. 27 Ramiro II de Leão nas armas do Município de Vila Nova de Gaia anteriores a 1934; edifí- cio dos Paços do Concelho; fotografia de João Luís Teixeira© BIBLIOGRAFIA - FERNANDES, A. de Almeida (2001) – Por- tugal Primitivo Medievo. Arouca: ADPA, p. 394. - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1999) – Me- mórias gaienses de Garrett. In GUIMARÃES, J. A. Gonçalves et al. – Roteiro Garrettiano de Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Gaia: Câmara Mu- nicipal/Solar Condes de Resende, p. 57-75. - MATTOS, Armando de (1933) – A Lenda do Rei Ramiro e as Armas de Viseu e Gaia. Porto: Tip. da Empresa Aquila, p. 20. -MATTOSO, José (1985) - Portugal Medieval. Novas interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, p. 322. - MATTOSO, José (1992) – Portugal no Reino Asturiano-Leonês. In MATTOSO, José – História de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 536. - SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto de (1999) – Linhagens Medievais Portuguesas. Ge- nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto: Universidade Moderna/CEGHHF, p. 253 e seg.s. A ligação do rei Ramiro II a Gaia é bem antiga, se bem que provavelmente lendária. Filho de Ordonho II e de Elvi- ra Mendes, sucedeu em 931 a seu irmão mais velho, Afonso IV, que nele abdicou, passando a ser rei de Leão, Astúrias e Galiza. Casado em 925 com Ausenda Guterres, filha de Guterre Ozores de Coimbra, repudiou esta e casou com a princesa navarra Urraca Sanches de Pamplona. Encetou então diversas campanhas contra os mouros que em 937 o levaram a Mérida, Badajoz, Santarém e Lisboa. Casou uma terceira vez com Onega, de quem teve em 940 Lovesendo Ramires, que casará com Zayra Ibn Zayda, filha de Zaydan Ibn Zayd e de Aragunta Fromarigues. Teve ainda de Ortega Ramires um filho de nome Alboazar Ramires e uma filha Ortega Ramires de quem pretendiam descender os senho- res da Maia e os Gaia, depois os Sá. Tendo o califa Abderraman retomado a ofensiva, foi derrotado por Ramiro e obrigando a negociar uma trégua em 944, a qual conveio ao rei leonês que estava a ter pro- blemas com os castelhanos que não aceitavam os caudilhos que lhes queria impor. Os mais antigos relatos sobre a possível presença des- te no Castelo de Gaia foram recolhidos no Livro Velho das Linhagens, datado de entre 1270 e 1285, e no Livro de Linha- gens do Conde D. Pedro, datado de 1340-1344, definindo-os o historiador José Mattoso como «o exemplo mais precoce… de um cantar jogralesco português posto por escrito», atri- buindo uma possível intervenção na sua redação a Estêvão Anes, pai do trovador João da Gaia, daqui natural. Concor- dante com aquelas datas, um documento de 1384 do Mos- teiro de Pedroso refere-se a uma casa na vila de Gaia «a par da fonte do Rey miro», sendo igualmente antiga a rua ali existente com o nome do monarca leonês, que em 1850 fi- gurará a tocar a sua buzina no timbre das armas municipais. Do final do século XVI temos outras narrativas alusivas a este episódio, como é o caso das estrofes de Bernarda Ferreira de Lacerda na sua Espanha Libertada, publicada em 1618, e uma outra publicada em Évora por João Vaz em 1630, intitulada O Castello de Gaya. Em 1843 Almeida Garre- tt publica o seu Romanceiro, onde pontifica a Lenda de Gaia sob o título de «Miragaia», que este autor diz ter recolhido da memória oral quando em criança viveu na Quinta do Castelo, onde terá decorrido o episódio entre Ramiro e Al- boazar Abderraman «senhor de toda a terra des Gaia ataa Santarém». Para A. de Almeida Fernandes «a Lenda de Gaia…re- presenta uma recordação eponímica das íntimas relações que Ramiro teve com os nossos territórios…nos quais resi- dia, embora o fizesse “in partes Visei”…». Abdicou em 950 em seu filho Ordonho III, tendo morrido em 965. JAGG RAMIRO II, REI (c. 900-965) book.indd 27 18/09/2018 14:38:18
  • 28. 28 Sarcófago medieval do Mosteiro de Grijó; fotografia de JAGG© BIBLIOGRAFIA - MATTOSO, José, KRUS, Luís e ANDRA- DE, Amélia (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos Séculos XI a XIII. Lisboa: Edi- torial Estampa, p. 125-153. - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus- to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó. Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto (ed. original, 1987), p. 119-141. Desde o início do século XI que se assiste a um proces- so de duplo sentido, no que concerne aos poderes aristo- cráticos: desaparecida a família condal de Coimbra, após o arrasador avanço de Almançor nos anos finais da centúria anterior, também a família condal portucalense entra num processo de decadência, acentuado pelo facto de ter mos- trado uma clara resistência à implantação da dinastia navar- ra, que graças a Fernando o Magno se impusera no trono astur-leonês, agregando-o ao recém-constituído reino de Castela; pelo contrário, testemunha-se a afirmação de uma série de famílias de origens muito diversificadas, os Infanções, que apostaram no crescimento do seu poder junto da fron- teira duriense, dinâmica que contará com o apoio da nova dinastia, vindo mesmo a substituir a antiga nobreza condal, por fim extincta com a morte do último conde de Portucale na batalha de Pedroso, junto de Braga, em 1071. A par de outras famílias bastante mais conhecidas – como Sousa, Maia ou Ribadouro –, os senhores de Marnel, fortemente aparentados com os antigos condes, exerceram um protagonismo muito considerável na Terra de Santa Maria e junto da bacia do Vouga, sendo ali responsáveis pela fundação de diversos cenóbios, de entre os quais se destacou o mosteiro beneditino de São Pedro de Pedro- so. Neste alargamento da influência dos de Marnel até à margem esquerda do Douro, destacou-se a figura de Soeiro Fromarigues (1074-1103), filho de Fromarigo Viegas (1019- 1055) e sobrinho de Gonçalo Viegas de Marnel, governa- dor de Montemor-o-Velho entre 1017 e 1026. “Cavaleiro de fronteira”, aí ganhou experiência militar mas também uma fortuna considerável, tendo em conta a capacidade que re- velou para a compra de terras, documentadas no célebre cartulário Baio Ferrado do mosteiro de Grijó. Investindo sobretudo nas freguesias envolventes, Soeiro e sua mulher, Elvira Nunes (1082-1148), acumularam um património de cerca de 250 propriedades (igrejas, quintãs, moinhos, sali- nas, casais, etc.), em parte convertidas em doações a favor de São Salvador de Grijó. Com efeito, desde o início dos anos de 1090 que se verificam doações do casal a favor da- quele cenóbio, com Soeiro a ser referido como seu padroei- ro em 1093, aquando da sagração da nova igreja monástica pelo bispo Crescónio de Coimbra, para a qual aquele doou o espaço para os passais. Desde então o casal e os seus des- cendentes não deixaram de beneficiar o mosteiro de Grijó, constituindo mesmo a sua “família patronal”, a qual, em meados do século XIV, se elevava a mais de 200 naturais. Soeiro Fromarigues morreu em 1103, na batalha de Va- talandi, próximo de Santarém, quando chefiava um exército que protegia as posições cristãs no vale do Tejo. JAS-P SOEIRO FROMARIGUES [DE MARNEL] (1074-1103) book.indd 28 18/09/2018 14:38:18
  • 29. 29 Fólio 98 v.º, documentos de 1136 e 1135, in DURAND, Robert, introd. e notas (1971) – Le Catulaire Baio- Ferrado du Monastère de Grijó (XI.e-XIII.e siècles). Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, p.>242 BIBLIOGRAFIA - MATTOSO, José; KRUS, Luís e ANDRA- DE, Amélia (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra de Santa Maria nos Séculos XI a XIII. Lisboa: Edi- torial Estampa, p. 125-153. - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus- to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó. Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto (Ed. original, 1987), p. 119-141. A viúva e os filhos de Soeiro Fromarigues prosseguiram a política de aquisição de propriedades nas terras de Gaia e de Santa Maria, bem como as doações a favor de Gri- jó, onde professou um dos seus netos. Por outro lado, as alianças matrimoniais dos seus vários filhos e filhas revelam uma clara aproximação às outras famílias de infanções, tan- to com as que se destacavam junto da bacia duriense como no entorno coimbrão, reforçando-se assim as posições de influência adquiridas pelos de Grijó entre o Douro e o Mon- dego. De entre aqueles, porém, o que mais se destacou foi D. Nuno Soares (1102-1157), a quem o conde D. Pedro de Barcelos referia no seu Livro de Linhagens como «o que fez Eigrejoo». Detentor de um património muito considerável, situado entre Gaia e Aveiro, também protegeu o mosteiro de São Salvador de Grijó, não apenas através de doações relevan- tes, mas sobretudo por ter conseguido a outorga da res- pectiva carta de couto, concedida a seu pedido pela Rainha Dona Teresa, em 1128, quase nas vésperas da batalha de São Mamede, o que poderia indiciar uma tentativa de atrair o senhor de Grijó para a sua facção e dos Travas, o que não terá sucedido. Com efeito, poucos anos depois (1132), o bispo de Coimbra encarregou Nuno Soares de proteger o cenóbio, no ano em que adoptou a mesma regra que os frades crúzios de Santa Cruz de Coimbra, fundado no ano anterior com a protecção de D. Afonso Henriques. De res- to, entre 1139 e 1142, D. Nuno Soares surge a confirmar diplomas do nosso primeiro monarca relativos a doações a favor de Grijó, o que significa a sua proximidade com aque- le, e ainda em 1152 se documenta como membro de um tribunal para dirimir questões de disputa de terras. D. Nuno Soares de Grijó teve um filho e três filhas, mas a família dos de Grijó só teve continuidade através da des- cendência da sua filha Dona Maria Nunes, casada com o nobre galego D. Mónio Osorez, senhor de Cabreira e Ribei- ra, espelhando bem a proximidade de D. Nuno aos meios mais elevados da corte afonsina. O destino, aliás, acabou por fazer cruzar o sangue dos de Grijó com o sangue real português: uma bisneta de D. Nuno Soares de Grijó, Dona Maria Pais da Ribeira, a cé- lebre Ribeirinha, que teve vários filhos do rei D. Sancho I, entre os quais o célebre D. Rodrigo Sanches, que veio a morrer em 1245, na célebre lide de Gaia. Percebe-se bem que não foi por acaso que o seu belo túmulo se colocou no familiar mosteiro de São Salvador de Grijó. JAS-P NUNO SOARES DE GRIJÓ (1102-1157) book.indd 29 18/09/2018 14:38:19
  • 30. 30 D. Afonso Henriques, por Soares dos Reis, 1887, in Álbum Phototypico… 1889: [103] BIBLIOGRAFIA - Álbum Phototypico e Descriptivo das Obras de Soa- res dos Reis. Porto: Centro Artístico Portuense, 1889; edição fac-similada, Vila Nova de Gaia: Afons’eiro Edições, 1989. - DURAND, Robert, introduction et notes (1971) – Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó (XIe-XIIIe siècles). Paris: Fundação Ca- louste Gulbenkian. - FERNANDES, A. de Almeida (1985) – Os primeiros documentos de Santa Maria da Salzeda (até à morte da fundadora). Comentários e defesa. Gui- marães: Sociedade Martins Sarmento, p. 126. - FERNANDES, A. de Almeida (2009) – Viseu – Pátria de D. Afonso Henriques. In Afonso Henriques (1109/1185) “O Pai da Pátria”. Viseu: AVIS, p. 9 – 30. - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1999) – A Serra do Pilar Património Cultural da Humanidade. Vila Nova de Gaia: Fundação Salvador Cae- tano, p. 35/36. - MATTOSO, José (2006) – D. Afonso Henri- ques. Lisboa: Círculo de Leitores. Filho do conde Henrique de Borgonha, que morre pou- co depois do seu nascimento, e de D. Teresa, filha de Afon- so VI de Leão, Afonso Henriques nasceu em Viseu a 6 de agosto de 1109. Em 1255 arma-se a si próprio cavaleiro na catedral de Zamora. No dia de S. João de 1128 derrota as tropas do galego Fernão Peres de Trava, na batalha de S. Mamede, perto de Guimarães. Com o apoio da nobreza de Riba Douro, da do Entre Douro e Mondego e da sé braca- rense, que vê na ação independentista do infante uma possi- bilidade de se libertar das pretensões hegemónicas de Com- postela, assume então o governo da Terra Portucalense, que passa a unir a Diocese de Braga, o Condado Portucalense e o Condado Conimbricense, desenvolvendo a sua luta em três frentes: a Norte contra as pretensões galegas, a Leste contra as leonesas e a Sul contra as muçulmanas. Em 1131 funda o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e em 1139 der- rota os mouros em Ourique, passando a usar o título de rei. Em 1140 derrota as tropas do primo Afonso VII de Castela e Leão em Arcos de Valdevez, com o qual virá a estabelecer a paz de Zamora em 1143. Em 1147 reconquista Santarém, e depois Lisboa (1128), Beja (1162) e Évora (1166). Morre em Coimbra a 6 de dezembro de 1185, sendo sepultado no mosteiro que aí fundara. Foi senhor de grandes propriedades na Terra de Santa Maria, nomeadamente no território que viria a ser o julgado de Gaia, que lhe vieram por herança através de sua mãe que em 1112 faz doações de parcelas de terras em Crasto e Gui- marães (Perosinho) e em 1117 da herdade de Santa Cruz, sob o Monte Grande, a nobres locais. Por sua vez seu filho Afonso em 1139 lega ao prior e cónegos do Mosteiro de Grijó a sua propriedade de Brito (S. Félix da Marinha) e em 1142 cede-lhes os direitos régios que detém em Tarouquela (Vilar do Paraíso), com a condição de alimentarem e vesti- rem três eremitas. Em 1155 doa ao Mosteiro de Salzedas (Tarouca) os direitos que tinha sobre a igreja de S. Martinho de Gaia, com as suas pesqueiras, situada junto do Castelo de Gaia. Seus descendentes continuarão a possuir bens pró- prios no julgado de Gaia. Duas outras circunstâncias ligam a memória deste pri- meiro rei de Portugal a Vila Nova de Gaia: no século XVII a sua espada vinha do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra para o da Serra do Pilar, onde era colocada no altar-mor para veneração numa época em que se pretendia canonizar este rei. Em 1887 é uma cópia dessa mesma espada que figura na estátua modelada por Soares dos Reis, depois fun- dida em bronze para a cidade de Guimarães, a que se segui- ram outras cópias, mas cujo original se conserva naquele antigo monumento gaiense, para onde em 1934 foi levada da sua casa oficina situada ali bem perto. JAGG AFONSO HENRIQUES, D., REI (1109-1185) book.indd 30 18/09/2018 14:38:19
  • 31. 31 Armas dos Soverosas, adotadas por João Afon- so Telo de Albuquerque, 1º. Conde de Barce- los e seus descendentes; desenho de PJSC © BIBLIOGRAFIA - COSTA, Paulo J. Sousa (2005) – Um senhorio nobre na Idade Média Portuguesa. Sua extensão e de- senvolvimento entre 1200 e 1350 [a publicar] - RIBEIRO, João Pedro (1810) – Dissertações cronológicas e criticas sobre a historia e jurisprudência ecclesiastica e civil, vol. 1. Coimbra: Imprensa da Universidade, p. 126. - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de (1997) - Linhagens Medievais Portuguesas. Ge- nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. II. Porto: Faculdade de Letras da Universidade. Tese de doutoramento, p. 805-816. Rico-homem da corte dos reis D. Sancho I (que frequen- ta desde 1205), Afonso II e Sancho II. Foi um incondicional defensor do reforço do poder régio, que o filho Martim Gil de Soverosa prosseguiu. Possuiu a quintã de Avintes, Seixezelo e as respetivas jurisdições, que transmitiu aos seus sucessores. Foi tenente das terras de Basto (onde se situava a Honra de S. Pedro de Soverosa), Barroso, Montalegre, Sousa e Panóias, onde adquiriu e possuiu largo património. Era filho de Vasco Fernandes de Soverosa, mordomo- -mor de D. Sancho I, e de Teresa Gonçalves de Sousa. Neto materno do conde D. Gonçalo Mendes de Sousa e paterno de Fernão Peres Cativo, alferes-mor de D. Afonso Henri- ques. Herdeiros de duas importantes linhagens medievais portuguesas: os Sousa e os Marnel. Junto com as irmãs Elvira Vasques (casou com Paio Soares de Valadares) e Alda Vasques (religiosa devota em Santo Tirso onde faleceu em 1235, estando aí sepultada), herdaram o património materno dos bens patrimoniais e jurisdicionais de Avintes, Oliveira do Douro e Seixezelo. Esse património veio-lhes do casamento de Elvira Fernan- des de Toledo ou Marnel com Mem Gonçalves de Sousa. Teve dois outros irmãos, Martim Vasques de Soverosa que morreu em Placência em 1197 e Urraca Vasques de Sove- rosa, que professou em Santo Tirso onde está sepultada, cerca de 1219. Teve três matrimónios e 10 filhos. Primeiro com Maria Aires de Fornelos (amante de D. Sancho I) de quem teve D. Martim Gil de Soverosa (trovador, alferes-mor de D. Sancho II, vencedor da lide de Gaia onde faleceu Rodrigo Sanches – foi seu neto João Afonso Teles de Albuquerque, primeiro conde de Barcelos); Teresa Gil de Soverosa (barregã do rei de Leão, Afonso IX), Fernão Gil de Soverosa (sem descen- dência). O segundo matrimónio com Sancha Gonçalves de Orvaneja, de quem teve os seguintes filhos: Vasco Gil de So- verosa (trovador, com descendência de Fruilhe Fernandes de Ribavizela, que prosseguiu a linhagem), Manrique Gil de Soverosa (que possuiu património de herança em Avintes partilhada com o sobrinho Martim Anes) e Guiomar Gil de Soverosa (sem descendência). O terceiro matrimónio com Maria Gonçalves Girão, teve: João Gil de Soverosa (casou com Constança Gil de Ribavizela em 1258 do qual nasceu Martim Anes de Soverosa, de alcunha Tio, que encerrou a posse por via masculina do senhorio de Avintes, que conti- nuaria nos descendentes do irmão Vasco Gil), Gonçalo Gil, Sancha Gil e Dórdia Gil, estes sem descendentes. Faleceu cerca de 1240 e foi sepultado no mosteiro de Pombeiro. PJSC GIL VASQUES DE SOVEROSA (<1190-c.1240) book.indd 31 18/09/2018 14:38:19
  • 32. 32 D. Rodrigo Sanches, pormenor da estátua jacente do seu túmulo no Mosteiro de Grijó; fotografia de MJB© BIBLIOGRAFIA - BARROCA, Mário Jorge (2013) - As quatro faces de Rodrigo Sanches. «Portvgalia», nova série, vol. 34. Porto: Faculdade de Letras da Univer- sidade, p. 151-189. - MATTOSO, José (1993) - História de Portugal, vol. 2. Lisboa: Círculo de Leitores, p. 126-133. - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto (1995) - Os Patronos do Mosteiro de Grijó. Ponte de Lima: Ed. Carvalhos de Basto, p. 183. Filho bastardo de D. Sancho I e de Maria Pais Ribeira, a célebre Ribeirinha, desconhece-se a data do seu nascimento, ocorrido na primeira década do Séc. XIII. Com efeito, o monarca enviuvou de D. Dulce em 1198. Encetou depois uma relação com Maria Aires de Fornelos, de quem teve dois filhos. E só depois iniciou o seu relacionamento com a Ribeirinha, do qual nasceram vários filhos, entre eles o nos- so biografado. Era, assim, um dos filhos mais novos de D. Sancho I. Mas já é contemplado, com 8000 morabitinos, no segundo testamento do monarca, de outubro de 1210. Esta é, de resto, a primeira referência que se conhece. Foi educado por Teresa Peres de Bragança, na zona da Régua. Certamente por ser ainda muito jovem, não exerceu qual- quer cargo durante o reinado de seu meio-irmão, D. Afonso II (1211-1223). A sua carreira junto da cúria régia inicia-se no reinado de seu sobrinho, D. Sancho II (1223-1245), ten- do confirmado, logo a 13 de setembro de 1223, o Foral de Barqueiros, Mesão Frio. Até 1226 confirma vários diplo- mas, sem menção de cargos. Só a partir de 1226 lhe são confiadas tenências: a de Viseu em 1226; a de Trancoso entre janeiro de 1227 e junho de 1228; a de Pinhel em 1227; a de Entre Douro-e-Lima em 1229. Depois de um hiato entre 1229 e 1235, que talvez espelhe algum afastamento momen- tâneo da corte, volta a exercer tenências: em 1235 as de Faria, Maia, Vermoim, Lafões e Besteiros; entre outubro de 1235 e janeiro de 1236 a de Évora; em data não determinada a de Panóias. A partir de 1236 deixa de desempenhar essas funções. Terá acompanhado, assim, a dissidência que, nesse ano, atingiu a cúria de Sancho II e que se espelha no afas- tamento de Mestre Vicente do cargo de Chanceler-Mor do rei e no afastamento de todos os Sousas e de outros nobres das tenências que ocupavam. Numa primeira fase o afastamento não terá sido total, uma vez que ainda confirma alguns diplomas régios entre fevereiro de 1236 e agosto de 1241. Mas a partir do verão de 1241 parece ter-se afastado definitivamente do monar- ca. Acabaria por apoiar aqueles que, descontentes com o seu governo, promoveram, junto do Papado, a ascensão do Conde de Bolonha. Em 1245 foi gravemente ferido na “Lide de Gaia” (também conhecida como “Lide de Grijó” ou “do Porto”), o recontro que inaugurou a Guerra Civil de 1245-48 que levou à deposição de D. Sancho II e à subida ao poder de D. Afonso, Conde de Bolonha (futuro Afonso III). Recolhido no Mosteiro de S. Salvador de Grijó, junto do qual se travou o combate e onde professava um irmão seu, D. Nuno Sanches, viria a falecer em consequência dos ferimentos. Foi enterrado neste mosteiro tendo sido depois trasladado para o cenotáfio com estátua jacente encomen- dado por sua irmã, Constança Sanches, nos ateliers de es- cultores de Coimbra. MJB RODRIGO SANCHES, D. (c.1210-1245) Túmulo de D. Rodrigo Sanches no Mosteiro de Grijó; fotografia de MJB© book.indd 32 18/09/2018 14:38:20
  • 33. 33 BIBLIOGRAFIA - VENTURA, Leontina (2006) - D. Afonso III. Lisboa: Círculo de Leitores. Quinto rei de Portugal terá nascido em Coimbra, por volta de 1214; era filho de D. Afonso II e de Urraca de Castela, e sucedeu ao irmão, D. Sancho II, em 1248, vindo a falecer em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1279. A sua vida foi muito agitada. Com pouco mais de quinze anos (1229), rumou à corte do seu primo co-irmão Luís IX de França, onde foi muito bem recebido pela tia materna, Branca de Castela, rainha-viúva e mãe do rei. Membro da corte fran- cesa, e muito próximo dos seus régios primos, foi armado cavaleiro em 1239, poucos antes de casar com Matilde de Bolonha, aliança que o fez Conde de Bolonha, e daí o cog- nome o Bolonhês. Entretanto, Portugal atravessava um período muito con- turbado, com o rei a revelar-se incapaz de controlar os abu- sos e violências senhoriais, a ponto de D. Sancho II surgir como o principal responsável pela anarquia vivida, sendo acusado pelos bispos de não proteger os bens da Igreja nem a segurança dos Povos. Como se sabe, foi deposto pelo Papa em 1245, o que provocou uma nova viragem na vida de D. Afonso, desde então paladino da ordem e da justiça. Em Setembro desse ano, em Paris, jurou perante os bispos e vários membros da nobreza que defenderia a Igreja e aca- baria com a violência no reino português, aonde chegou em Dezembro como curador do Reino. Os conflitos entre os partidários dos dois irmãos, porém, já tinham começado, e Gaia aparece precisamente como o centro de um impor- tante conflito armado, conhecido como Lide de Gaia, na qual saíram vitoriosos os apoiantes de D. Sancho II, e onde perdeu a vida D. Rodrigo Sanches, bastardo de D. Sancho I, o qual, por certo dividido entre as razões dos seus dois sobrinhos, optara por apoiar as pretensões d’o Bolonhês. Rei desde a morte do irmão, ocorrida no início de 1248, D. Afonso III surge hoje na historiografia como um dos monarcas medievais mais importantes, considerando-o mesmo José Mattoso, como o «fundador do Estado portu- guês». Um dos esteios onde assentou a sua política de afir- mação régia foi o do controlo do poder episcopal. Assim se compreende a importância do foral concedido à vila de Gaia, em 1255, procurando dessa forma contrariar o poder do bispo do Porto. Com efeito, nas cortes celebradas em Leiria no ano anterior, fora possível chegar a um acordo sobre as taxas a cobrar pela navegação do Douro, devendo um terço do tráfego que chegava vindo do interior descar- regar em Gaia, bem como metade dos barcos que entravam a barra do rio provenientes de França. O seu impacto pode avaliar-se melhor se pensarmos que em 1288 o seu sucessor, D. Dinis, outorgou uma nova carta de foral, de conteúdo idêntico, agora dirigida a Vila Nova, o novo núcleo popu- lacional que entretanto extravasara os limites do anterior concelho. JAS-P AFONSO III, D., REI (c.1214-1279) Foral de Gaia de D. Afonso III, 1255; Arquivo Distrital do Porto. Selo de D. Afonso III, in SOUSA, D. António Caetano de [1738] – História genealógica da Casa Real Portuguesa…, tomo IV, Lisboa: Na Officina de Joseph Antonio da Sylva, gravura F – XIX. book.indd 33 18/09/2018 14:38:21
  • 34. 34 D. Dinis, in Diálogos de Vária História…, de Pedro de Mariz, 1674; coleção do autor BIBLIOGRAFIA - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus- to de (2005) – D. Dinis (1261-1325). Lisboa: Círculo de Leitores (2.ª ed., Lisboa: Temas & Debates, 2008). Nascido em Lisboa em 1261, foi o sexto monarca por- tuguês, sendo filho de D. Afonso III e de Beatriz de Castela. Subiu ao trono em 1279, vindo a falecer em Santarém em 1325. Seja qual for a perspectiva de análise, o reinado dionisi- no foi um dos mais marcantes da História portuguesa, po- dendo mesmo afirmar-se que todas as áreas da governação, desde a política à economia, da sociedade à cultura, passan- do pela arte ou pela defesa foram objecto de reformas ou desenvolvimentos de grande alcance. Não sendo possível enumerar todos esses aspectos, recordem-se pelo menos a fundação da Universidade (1290) e a utilização obrigatória da língua portuguesa nos documentos oficiais, a definição última da fronteira com o reino vizinho, pelo Tratado de Alcañices (1297), a Concordata com a Santa Sé (1289), a política de povoamento e concessão de forais, de controlo dos poderes senhoriais, a organização da marinha de guerra ou a intensa construção de castelos e muralhas na fronteira, etc. Por outro lado, profundamente culto, a ele se devem dezenas de composições poéticas e intervenções da maior importância em diversos monumentos, como em Alcobaça ou nos paços de Sintra. A ligação de D. Dinis a Gaia fez-se sentir desde os pri- meiros anos do seu longo reinado, quando, em Abril de 1281, incluiu o castelo de Gaia no conjunto das praças que garantiam o cumprimento das disposições nupciais entre o monarca e Isabel de Aragão, a Rainha Santa. Castelo que, por outro lado, também foi um dos que sofreu intervenções ao nível das reparações e melhoramentos, tal como acon- teceu a dezenas de outras estruturas militares situadas na fronteira, ou em pontos de claro interesse estratégico, como era a embocadura do rio Douro. Por outro lado, também será interessante referir que, ainda a propósito da criação dos Estudos Gerais, a igreja de Santa Maria de Gaia foi uma das que cedeu parte das suas rendas para o sustento dos lentes da nossa primeira alma mater. A exemplo de seu pai, que em 1255 concedera foral a Gaia, também D. Dinis se preocupou com o reforço do povoamento da margem esquerda daquele rio, concedendo foral a Vila Nova em Agosto de 1288. Recorde-se que, por essa época, ainda o burgo do Porto era um senhorio epis- copal, pelo que os monarcas fomentaram o desenvolvimen- to dos dois núcleos da margem oposta do rio, Gaia e Vila Nova, através das referidas cartas de foral, atraindo assim as populações e, deve-se sublinhar, contrariando a hegemonia do poder episcopal em torno de um dos principais eixos fluviais e económicos do reino. Nesse mesmo sentido, de resto, se deve entender a concessão de uma carta de criação de feira em Gaia, em 1302. JAS-P DINIS, D., REI (1261-1325) Selo de D. Dinis, in SOUSA, D. António Cae- tano de [1738] – História genealógica da Casa Real Portuguesa…, tomo IV, Lisboa: Na Officina de Joseph Antonio da Sylva, gravura G – XXII. book.indd 34 18/09/2018 14:38:21
  • 35. 35 BIBLIOGRAFIA - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1990) – Tro- vadores Medievais de Gaia. «Boletim da Associa- ção Cultural Amigos de Gaia», n.º 29, Junho de 1990, p. 43-50. - MATTOSO, José (1985) - Portugal Medieval. Novas interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, p. 322. - MATTOSO, José (1985) - Ricos-Homens, In- fanções e Cavaleiros. A nobreza medieval portuguesa nos séculos XI e XII, 2.ª edição. Lisboa: Guima- rães Editores, p. 70/71 e 102/103. - SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto de (1999) - Linhagens Medievais Portuguesas. Ge- nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto: Universidade Moderna/CEGHHF, p. 279- 282. João Esteves de Gaia nasceu na segunda metade do sé- culo XIII e era descendente de Dom Soeiro Pires da Maia. Seu bisavô, João Soares de Gaia, tinha por honrada a aldeia de Sá em Arcozelo e seu avô, João Anes de Gaia, foi «cava- leiro de boa palavra e muito saboroso». Nascido fora do casamento, foram seus pais o clérigo Estêvão Anes de Gaia, prior de São João de Alfange, em Santarém, e Teresa Miguéis de Guimarães, tendo sido legi- timado em 1319. «Foi mui boo trobador e mui saboroso», deixando 3 ou 4 cantigas de amor e 3 de escárnio, uma delas originada numa tença que teve com o cavaleiro Fernão Vas- ques Pimentel que lhe mereceu os seguintes versos: «Come asno no mercado/ se vendeu um cavaleiro/ de San’hoan’a janeiro/ três vezes – este provado;/ pero se oj’ este dia/ lh’outrem der maior contia/ ficará com ele de grado…». O historiador José Mattoso aventou a hipótese de se de- ver a este trovador a criação, ou pelo menos a fixação, da famosa Lenda de Gaia, narrativa romanceada que pretende fazer descender a família dos da Maia, antepassada dos da Gaia, de Ramiro II das Astúrias e de uma moura. De há muito que esta família tinha interesses na margem sul do Rio Douro, pois logo após a conquista aos mouros de Mon- temor-o-Velho em 1034, por Gonçalo Trastamires da Maia, os seus infanções procuram fixar-se em Gaia e na Feira, o que não conseguem. As suas pretensões na parte norte da Terra de Santa Maria poderiam ter originado as condições psicológicas para a sua fundamentação através daquela nar- rativa fixada no Livro Velho de Linhagens e no Livro de Linha- gens do Conde D. Pedro, em duas versões. Esta outra família de trovadores, inicialmente cavaleiros «de um só escudo e de uma só lança» dos quais alguns ramos foram subindo na es- cala social, poderá também estar na origem de outras lendas e narrativas da mesma época. O clérigo Estêvão Anes, pai de João da Gaia, aparece relacionado com Rodrigo Afonso Ribeiro, que em 1305 cedeu o padroado da Igreja de Cani- delo, Gaia, à sé do Porto, a cuja família parece estar ligada à famosa Maria Pais, a Ribeirinha, que de D. Sancho I teve D. Rodrigo Sanches que jaz em Grijó. «Pode ser coincidência, mas não deixa de ser curioso que a lenda que exalta a origem da família da Maia… se situe justamente em Gaia, que era o lugar onde viviam estes trovadores» (MATTOSO, 1985: 322). A família dos Gaia cruza-se no século XIV com os Alão e fixa-se na zona de Lisboa e sul do País. Provavelmente são também os antepassados de Rodrigo Anes de Sá, alcai- de do Castelo de Gaia no tempo de D. Pedro, por sua vez antepassado de João Rodrigues de Sá e Menezes, poeta do renascimento português e de uma ilustre família que chegou à atualidade. JAGG JOÃO DA GAIA (c.1267->1330) Dinheiro, 1.ª dinastia; escavações arqueológi- cas da igreja do Bom Jesus de Gaia; fotografia de SCGGG© book.indd 35 18/09/2018 14:38:21
  • 36. 36 Armas dos Coelho; Collecção dos Brazões das Famílias Ilustres de Portugal, c. 1800; coleção particular. BIBLIOGRAFIA - GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1990) – Tro- vadores Medievais de Gaia. «Boletim da Associa- ção Cultural Amigos de Gaia», n.º 29, Junho de 1990, p. 43-50. - MORAIS, Cristóvão Alão de (1943-1948) – Pedatura Lusitana (Nobiliário de Famílias de Portu- gal), tomo III, vol. I. Porto: Livraria Fernando Machado, p. 31. - MATTOSO, José (1985) – Portugal Medieval. Novas Interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, p. 409-435. - SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó (Evo- lução e estrutura da família nobre séculos XI a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto, p. 254-257. - SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto de (1999) – Linhagens Medievais Portuguesas. Ge- nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto: Universidade Moderna/CEGHHF, p. 480- 491. Filho de Pêro Anes Coelho e de Margarida Esteves da Teixeira, era neto de João Soares Coelho, cavaleiro, trovador e conselheiro de D. Afonso III, descendente de D. Egas Moniz o Aio, através de Egas Lourenço de Riba Douro, o qual, tendo estado em Castela, contactou os trovadores que mais tarde se encontrarão na corte de Afonso o Sábio. Re- gressado a Portugal após a Lide de Gaia (1245) e a morte de D. Sancho II (1248), passa a fazer parte do círculo de D. Afonso III, que dará foral a Gaia em 1255. Tendo casado com Maria Fernandes d’ Ordens, foi pai de, entre outros filhos, Pêro Anes Coelho, meirinho-mor de D. Dinis, que casou com Margarida Esteves da Teixeira, e de Urraca Anes Coelho, que viria a casar em segundas núpcias com Soeiro Mendes Petite, pai de Maria Mendes Petite. Do primeiro destes casamentos nasceria Estêvão Pires Coelho de Riba de Homem, também cavaleiro e trovador, o qual, tendo herdado bens por parte de sua mãe na Ter- ra de Santa Maria, em 1322 é dado como vizinho de Vila Nova de Gaia. A sua produção poética, do final da escola galego-portuguesa, não é tão notável como a de seu avô, mas possui alguma originalidade e inovação temática, pa- tentes nas cantigas Se hoj’o meu amigo e Sedia la fremosa seu sirgo torcendo. Casou com Maria Mendes Petite, filha do primeiro casamento do acima nomeado Soeiro Mendes Petite, a qual, por sua vez, estava ligada à família patronal dos mosteiros de Canedo e de Grijó. Depois de enviuvar, fundou em 1345 o Mosteiro das Donas de Corpus Christi na ribeira de Vila Nova. Deste casamento nasceram, entre outros, João Esteves Coelho, o Velho, que conjuntamente com seu sobrinho ho- mónimo fará doação dos seus direitos sobre o padroado da igreja de Canidelo ao infante D. Pedro em 1352, que logo os passará a Inês de Castro; Estêvão Esteves Coelho, vassalo do mesmo infante; e Pêro Esteves Coelho, um dos executo- res da sentença de D. Afonso IV que ditou a morte de Inês de Castro. Estes Coelho, por serem também descendentes da família patronal do Mosteiro de Grijó, na classe dos in- fanções, estão inscritos no Livro das Campainhas, mandado elaborar por D. Pedro I em 1365 para se saber quais as ren- das do mosteiro e quais os naturais que ali tinham, quando em trânsito, direito de aposentadoria. Por isso aí encontra- mos os nomes de João Coelho o Velho; Maria Coelha, sua filha; Estêvão Coelho; e Soeiro Coelho. Desta família gaiense descende o navegador Nicolau Coelho, comandante da nau Bérrio da armada de Vasco da Gama que em 1497 foi à Índia, de uma outra nau da frota de Pedro Alvares Cabral que em 1500 descobriu o Brasil e de uma outra também para o oriente em 1503, comandada por D. Francisco de Albuquerque, que na volta se perdeu no mar. JAGG ESTÊVÃO PIRES COELHO (c.1275-c.1336) book.indd 36 18/09/2018 14:38:21
  • 37. 37 Cachorro figurado da primitiva igreja do Mosteiro de Corpus Christi; fotografia de João Luís Teixeira© BIBLIOGRAFIA - CASTRO, Júlia Isabel Coelho Campos Alves de (1993) – O mosteiro de S. Domingos de Donas de Vila Nova de Gaia (1345-1513). Porto: Faculdade de Letras da Universidade. Tese de mestrado, p. 14-15, 52 - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de (1997) - Linhagens Medievais Portuguesas. Ge- nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto: Faculdade de Letras da Universidade. Tese de doutoramento, p. 480-487 e 579-582. Filha de D. Soeiro Mendes Petite, alcaide de Santarém e do seu primeiro matrimónio com Dona Maria Anes Bro- chardo. Casou em primeiras núpcias com Estevão Pires Coe- lho, filho de Pero Anes Coelho, meirinho-mor de D. Di- nis (1296-1297) e de Margarida Esteves da Teixeira, neto de João Soares Coelho. O marido era sobrinho de Urraca Anes Coelho, mulher do segundo matrimónio do pai. Des- te enlace frutificaram seis filhos: João Esteves Coelho, ca- sou com Joana Pires de Alvim, com descendência (Leonor Anes Alvim, mulher de Nuno Alvares Pereira), Estevão Es- teves Coelho, casou com Senhorinha Afonso Ribeiro, com descendência, Soeiro Mendes Coelho, casou com Beatriz Afonso de Baião, com descendência, Pero Esteves Coelho (colaborou na morte de Inês de Castro), casou com Aldon- ça Vasques Pereira, com descendência, Branca Pires Coe- lho, casou com João Pires de Alvim em primeiras núpcias, com descendência, e por último Margarida Esteves Coelho, que professou no Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Casou em segundas núpcias com Martim Pires de Al- vim, sem descendência, cujos filhos João Esteves Coelho e Branca Pires Coelho, consorciaram-se com os filhos da- quele, Joana Pires de Alvim e João Pires de Alvim, numa política de alianças e concentração patrimonial. Por causa do primeiro casamento, Maria Mendes Petite foi familiar dos mosteiros de S. Pedro de Canedo (c. Vila da Feira), de S. Salvador de Grijó (c. Vila Nova de Gaia) e de S. Martinho de Mancelos (c. de Amarante). Possuía também o patronato da igreja de Santo André de Canidelo. Em 1336, doou à Sé do Porto os direitos patronais em S. Pedro de Canedo e em troca recebeu bens em Santa Mari- nha de Vila Nova de Gaia, onde edificou o convento de seu patrocínio em 1345, que doou às Donas de São Domingos de Santarém. A instituição da comunidade gerou um grave litígio com a diocese do Porto, que se opôs às pretensões da fundadora. O conflito só foi sanado em 1353, por bula papal que obrigou a reforçar a dotação inicial proporcionando as con- dições necessárias ao estabelecimento da comunidade. Foi primeira prioresa D. Marinha Afonso Lobata, religiosa do convento das Donas de Santarém. O convento foi aumentando o património com impor- tantes doações tanto da família patronal (D. Leonor de Al- vim, mulher de D. Nuno Álvares Pereira e neta da funda- dora) como de Álvaro Anes Cernache, senhor donatário de Gaia-a-Grande em 1432, que instituiu a capela de Santiago. PJSC MARIA MENDES PETITE, D. (fins do século XIII->1354) book.indd 37 18/09/2018 14:38:22
  • 38. 38 D. Pedro I in SERIES POTENTISSIMORUM REGUM LUSITANIE ICONIBUS ILUSTRA- TA…, 1791; BNP© BIBLIOGRAFIA - ALARCÃO, Jorge de; AMARAL, Luís Car- los (1986) – Livro das Campainhas (códice da segun- da metade do século XIV). Mosteiro de São Salvador de Grijó. Vila Nova de Gaia: Câmara Munici- pal/Gabinete de História e Arqueologia. - GUIMARÃES, Gonçalves (1984) – O Conce- lho de Canidelo de D. Pedro e D. Inês. «Gaya», vol. II, Vila Nova de Gaia: Gabinete de História e Arqueologia, p. 153-160. - PIMENTA, Cristina (2005) – D. Pedro I. Lis- boa: Círculo de Leitores. - SOUSA, D. António Caetano de (1947) – História Genealógica da Casa Real Portuguesa, to- mos I, p. 223-232 e IV 27/28; K. XXXIII. Coimbra: Atlântida – Livraria Editora. Filho do infante D. Afonso e de D. Beatriz de Castela, nasceu em 1320. Se à governação do país deu particular im- portância, a sua memória ficou para sempre lembrada pelos trágicos amores com D. Inês de Castro, os quais também passaram por Vila Nova de Gaia e deram motivos para uma forte ligação entre D. Pedro I e este município e os seus moradores. Em 1340 chega a Portugal D. Constança Manuel que morrerá em 1349, deixando D. Pedro viúvo. No ano se- guinte nasce o seu primeiro filho de D. Inês, a que se segui- rão mais três, até que foi executada em janeiro de 1355 por motivos políticos. Pero Coelho, filho de D. Maria Mendes Petite fundadora do Mosteiro gaiense de Corpus Christi em 1345, foi um dos carrascos. Em 1357 morre seu pai e passa a ser o oitavo rei de Portugal, no mesmo ano em que Teresa Lourenço lhe dá outro filho, que virá a ser o rei D. João I após a crise dinástica de 1383-1385. As relações de D. Pedro com Gaia têm início em 1352, quando dois membros da família dos Coelho, ambos João, tio e sobrinho, lhe fazem a doação do padroado da igreja de Canidelo, que dois dias depois o infante por sua vez doará a D. Inês de Castro, o que poderá querer dizer que por aqui se fixaram temporariamente na Quinta do Paço daquela locali- dade, situada mesmo ao lado daquela igreja. Aqui lhes pode- rá ter nascido a última filha, Beatriz. Em 1357, já como rei, nomeia Rodrigo Anes de Sá alcaide do castelo de Gaia. No ano seguinte confirma privilégios e isenções aos mosteiros de Grijó e de Pedroso. Em 1360 dá isenção de pagamento de finta, talha e sisa, e de servir nas frotas aos moradores da Afurada, subordinada à quintã de Canidelo, aforando aí terrenos no ano seguinte. Em 1363 cria o concelho de Ca- nidelo, desligando-o da jurisdição de Gaia, confirmando-o em 1366 e autorizando-o a usar as armas reais no seu selo. No ano seguinte, que corresponde ao da sua morte, manda entregar aos seus filhos e de D. Inês os bens que estes ali possuem, o que virá a ser confirmado por D. Fernando, mas que este esquece em 1375 quando extingue o concelho de Canidelo e o reintegra no julgado de Gaia. Entretanto em 1365, perante reclamação dos religiosos do Mosteiro de Grijó contra os abusos da fidalguia, manda elaborar uma ata de assembleia judiciária ali realizada, que ficou conhecida como Livro das Campainhas, na qual cons- tam as propriedades, rendas e foros do mosteiro, a lista dos fidalgos descendentes dos fundadores que ali tinham direito de aposentadoria e o rol das despesas com as comedorias, cavalarias e casamentos dos ditos que os monges eram obri- gados a dar, e não outras. Nesse mesmo ano provê o clérigo Lourenço Anes na igreja de Mafamude. JAGG PEDRO I, D., REI (1320-1367) Selo de D. Pedro I de 1357, in SOUSA, 1947- IV: 27/28 e K. XXXIII. book.indd 38 18/09/2018 14:38:22
  • 39. 39 BIBLIOGRAFIA - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus- to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó. Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto (ed. original, 1987). - SOVERAL, Manuel Abranches de (2004) – Ascendências Visienses. Ensaio genealógico sobre a no- breza de Viseu (Séculos XIV a XVII), vol. I. Porto: edição do autor, p. 124 e 260. Nascido por volta de 1325, era filho de Gonçalo Garcia de Figueiredo, alcaide-mor da Feira durante o reinado de D. Pedro I, e documentado no reinado seguinte como alcaide- -mor de Gaia (1375), e de Maria Gonçalves de Milheirós. O seu pai, aio do Infante D. João (filho do rei D. Pedro e de Inês de Castro), foi senhor da terra de Vouga e de Celorico da Beira. Ambos, pai e filho, estão documentados como cavalei- ros naturais dos mosteiros de S. Pedro de Pedroso (1363) e de São Salvador de Grijó (1365), ali recebendo as respetivas comedorias. A figura de Aires Gonçalves é sobretudo conhecida pelo seu papel, talvez um pouco dúbio, que representa nos su- cessos que acompanharam a crise de sucessão dinástica dos finais do século XIV. Tal como o seu pai também estava ligado aos meios da corte, como vassalo de D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando I, dos quais recebeu várias doa- ções, mantendo a alcaidaria-mor da Feira. Naquele último reinado seria talvez vassalo dos Teles de Meneses, uma vez que foi aio de D. Gonçalo Teles, irmão da Rainha Dona Leonor e conde de Neiva. Como se sabe, a trajetória deste titular foi um pouco sinuosa durante os acontecimentos de 1383-1385, e por isso ambos estiveram presos em 1385, por suspeitas de apoiarem o partido da Rainha Dona Beatriz contra o Mestre de Avis. Foi nessas circunstâncias que Aires Gonçalves, sendo alcaide de Gaia, viu o castelo ser atacado e destruído pelas gentes do Porto que apoiavam D. João I. Desfeito o equívoco, ou decidindo-se pelo campo ven- cedor, o novo monarca confirmou ou doou-lhe uma série de importantes senhorios, como Gaia e o respetivo castelo, Maia, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão, Sanfins, etc. O grande cronista Fernão Lopes recorda que Aires Gonçalves de Figueiredo comandou uma nau durante a defesa de Lisboa contra o rei de Castela. Facto ainda mais significativo, participou na conquista de Ceuta, em 1415, quando já rondaria os 90 anos de idade. De acordo com o relato sobre a conquista daquela praça marroquina, também o cronista Gomes Eanes de Zurara recorda o episódio em que o Infante D. Henrique teria de alguma forma ridicula- rizado a vontade de Aires Gonçalves em participar na em- presa, tendo em conta a sua provecta idade, ao que ele terá afirmado «que estimava achar-se naquela empresa, porque sabia não poder ter mais honradas exéquias para sua sepul- tura do que acabar em tão honrada obra»! Dos seus três casamentos apenas teve descendência fe- minina, através da qual continuou a sucessão em alguns dos senhorios que Aires Gonçalves de Figueiredo detivera. JAS-P AIRES GONÇALVES DE FIGUEIREDO (c.1325-c.1420) Armas dos Figueiredo num sarcófago do Cas- telo de Santa Maria da Feira; ASCR-CQ© book.indd 39 18/09/2018 14:38:22
  • 40. 40 Armas dos Sá; Collecção dos Brazões das Famílias Ilustres de Portugal, c. 1800; coleção particular. BIBLIOGRAFIA - SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto de (1987) - Os patronos do mosteiro de Grijó. Evolu- ção e estrutura da família nobre – séculos XI a XIV. Porto: Faculdade de Letras da Universidade. Dissertação de mestrado, p. 97-98; 327-328. - ABRANTES, Marquês de (1986) – Gaia e os Sás. In História de Gaia, fasc. 11. Vila Nova de Gaia: Câmara Municipal/ Gabinete de Histó- ria e Arqueologia, p. 443 Era filho de Rodrigo Anes de Sá, cavaleiro e alcaide de Gaia por doação de D. Fernando I de 1367, e de sua primei- ra mulher, Mécia Pires do Avelar. Os avôs paternos foram João Afonso de Sá e Maria Martins. O pai tinha relação patronal com o mosteiro de Grijó que passou para o filho, que no seu testamento não esqueceu esta casa monástica. Foi cavaleiro, camareiro-mor de D. João I e alcaide do Porto, desde 1392, e por inerência de Gaia, onde sucedeu ao pai. Casou com Isabel Rodrigues Pacheco, filha de Diogo Lopes Pacheco. Deste matrimónio nasceram os seguin- tes filhos: Fernão Anes de Sá (que sucedeu no ofício de camareiro, alcaidaria de castelos, e senhorio de terras em préstamo, jure e herdade e em tença, com as jurisdições cí- veis e crime, e os tributos, foros, rendas, direitos, conforme confirmação de D. Duarte em 1435), Gonçalo Anes de Sá (herdará o senhorio de Aguiar de Sousa), Rodrigo Anes de Sá, Mécia Rodrigues de Sá e Filipa de Sá. Teve três filhos bastardos, Guiomar de Sá (legitimada em 7 de outubro de 1427, morou no Porto e foi casada com João Vasques escu- deiro), João Anes de Sá e Violante Anes de Sá, todos com descendência, segundo Felgueiras-Gayo. O seu testamento informa-nos de uma filha que professou no Mosteiro de S. Domingos das Donas de Vila Nova. Em 1390, o rei retirou-lhe a posse de Gaia-a-Peque- na (direitos, rendas e tributos reais), para devolver a Airas Gonçalves de Figueiredo, objeto de confisco em 1387. Faleceu em 1425 e por vontade manifestada em testa- mento está sepultado no Mosteiro de S. Francisco do Porto em capela encimada pelo símbolo heráldico. Quando se deu o seu passamento, o rei enalteceu e re- sumiu a vida do seu vassalo na carta da sua sucessão: «con- siderando os muitos e estremados e famosos serviços que João Rodrigues de Sá, cavaleiro da nossa casa e nosso ca- mareiro-mor, cuja alma Deus haja, feitos a nós e a nossos reinos em defesa deles desde o começo da guerra que hou- vemos com El-Rei D. João e com outros reis de Castela até ao seu finamento, assim em começo do cerco da cidade de Lisboa (onde ganhou a alcunha das Galés) e da Batalha Real como em todos mesteres da guerra enquanto durou e ainda na tomada de Ceuta. E por nos prazer sua nobre fama de cavalaria não tão-somente ser galardoada a ele em sua vida mais ainda depois da sua morte». PJSC JOÃO RODRIGUES DE SÁ, “O DAS GALÉS” (<1360-1425) book.indd 40 18/09/2018 14:38:22