No passado dia 5 de outubro, no salão nobre dos Paços do Concelho de Vila Nova de Gaia, decorreu a sessão de lançamento do 1.º volume do Património Cultural de Gaia, intitulado Património Humano. Personalidades Gaienses, projeto patrocinado pela Câmara Municipal e em execução pelo Gabinete de História, Arqueologia e Património da Confraria Queirosiana. A mesa foi presidida pelo presidente da edilidade, Prof. Doutor Eduardo Vítor Rodrigues, que na ocasião falou sobre as grandes metas orçamentais para o desenvolvimento do concelho e em particular dos projetos culturais. Estava ladeado pelo coordenador-geral do projeto, J. A. Gonçalves Guimarães, que dissertou em volta do conceito de Património e das ambições deste projeto, e pelo Professor Doutor Gonçalo Vasconcelos e Sousa, coordenador do volume, que falou sobre as suas caraterísticas e os critérios de seleção das biografias apresentadas. Também presentes os coordenadores de volume António Manuel S. P. Silva, José Manuel Tedim, Nuno Resende e Teresa Soeiro, e os autores deste volume, António Conde. António Lima, Eva Baptista, José Augusto Sottomayor-Pizarro, Laura Sousa, Licínio Santos, Maria de Fátima Teixeira, Paula Leite Santos, Paulo Costa, Susana Guimarães, Susana Moncóvio e Virgília Braga da Cruz, o quem o presidente entregou um exemplar e agradeceu a colaboração neste projeto. Para além desta cuidada edição está prevista uma outra destinada ao mercado livreiro.
1. GonCalo de Vasconcelos e Sousa
coordenação geral
coordenação do volume
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
Solar Condes de Resende
Gabinete de História, Arqueologia e Património (ASCR-CQ)
2018
PatrimOnio
Cultural de Gaia
´
PatrimOnio Humano
Personalidades gaienses
´
J.A. GonCalves GuimarAes
~
,
,
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2. TÍTULO
Património Cultural de Gaia.
Património Humano – Personalidades Gaienses
COORDENAÇÃO-GERAL
J. A. Gonçalves Guimarães
COORDENAÇÃO DESTE VOLUME
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
AUTORES DOS TEXTOS
António Adérito Alves Conde
António Lima
António Manuel S. P. Silva
Eva Baptista
Francisco Queiroz
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
Isilda Braga Costa Monteiro
J. A. Gonçalves Guimarães
José Augusto de Sottomayor-Pizarro
José Guilherme Abreu
João Maria Távora de Magalhães Basto
Laura Castro
Laura Cristina Peixoto de Sousa
Licínio Santos
Lourenço Correia de Matos
Manuel Ferreira da Silva
Maria de Fátima Teixeira
Maria de São José Pinto Leite
Mário Jorge Barroca
Paulo Jorge Sousa Costa
Paula Leite Santos
Susana Guimarães
Susana Moncóvio
Teresa Campos dos Santos
Virgília Braga da Costa
GABINETE DE HISTÓRIA, ARQUEOLOGIA E PATRIMÓNIO (ASCR-CQ)
Equipa técnica
Eva Baptista, Licínio Santos e Maria de Fátima Teixeira
Administração
Amélia Cabral
SOLAR CONDES DE RESENDE
Técnica superior - Área da Cultura
Susana Guimarães
Apoio à pesquisa bibliográfica e documental
Celeste Pinho
Fotografia
CMVNG - EMPCI – Equipa Multidisciplinar de Protocolo,
Comunicação e Imagem – Eng.ª Ilda Henriques
Fotografo: João Luís Teixeira
EDIÇÃO
Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia / Amigos do Solar
Condes de Resende - Confraria Queirosiana
Solar Condes de Resende, travessa Condes de Resende, 110
4410-264 Canelas, Vila Nova de Gaia
DESIGN
Omnisinal (Paginação por André Oliveira)
IMPRESSÃO
Mota e Ferreira - Artes Gráficas
TIRAGEM
00.000 unidades
DATA DA EDIÇÃO
00/00/0000
Património Cultural de Gaia
ISBN: 000-000-000-000-0
Depósito Legal: VG-000-0000
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3. 3
Ninguém duvida da existência de um vasto património material e imaterial
em Vila Nova de Gaia. A questão que andava às voltas na minha cabeça era a
de saber como podem os gaienses, e todas as outras pessoas, fruir, valorizar
e partilhar esse património. Era preciso encontrar uma solução, era preciso
sublinhar em nós e perenizar para os outros a nossa memória coletiva. Na
decisão de editar a presente coleção de dez volumes que versam, todos eles,
sobre o(s) património(s) da nossa cidade de Gaia encontrei uma resposta.
Uma resposta que começa já. Começa com o presente volume, dedicado à
memória de quem marcou indelevelmente o nosso concelho e que tem por
título «Património Humano: personalidades gaienses».
Também já não se duvida do papel dos municípios, para além das infraes-
truturas e das materialidades. Um papel decisivo na cultura, na educação, no
património, no trabalho pela coesão e por grupos sociais específicos. O poder
local, outrora focado na infraestruturação do território, tem hoje novas obri-
gações. Evoluiu, como evoluiu o país e as nossas representações sociais. Olha-
-se hoje para as questões imateriais com o sentido da solidariedade, da coesão
e do reforço dos laços sociais. Olha-se para as novas temáticas como novas
questões sociais e novos mundos de atuação municipal. É neste novo tempo
que nos situamos e em que se inscreve o trabalho que agora se apresenta.
NESTA MEMÓRIA COMO CONSCIÊNCIA DO TEMPO
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4. 4
Já Fernando Pessoa dizia que a “memória é a consciência inserida no tem-
po”. E este é um labor inestimável de construção de uma memória coletiva.
Uma memória que é feita de pessoas, de tradições, de instituições, de arte,
enfim, de cultura. A construção de uma memória coletiva é essencial para o
nosso conhecimento próprio enquanto comunidade, porque contém determi-
nadas perceções da realidade.
“A identidade cultural e a memória reforçam-se mutuamente. Conhecemos
as nossas raízes, distinguimos o que nos une e o que nos divide. Estamos
aptos a entender que a cultura e a memória são faces de uma mesma moeda
e que a atitude cultural por excelência e com o que nos rodeia, desde os tes-
temunhos construídos ou das expressões da natureza aos testemunhos vivos
aos quais são imprescindíveis para a construção desta identidade.”
Tais perceções objetivam-se no trabalho do historiador e do investigador
social e confluem para a construção de uma identidade. E a identidade de um
povo reside na sua cultura.
Hoje mais isto faz sentido; estamos em tempos incertos, contextos inse-
guros. A globalização tende a desvalorizar a cultura local, o que é específico
e, por isso, as questões que se prendem com a identidade cultural abrem hoje
grandes debates de ideias pelo mundo fora. Contra estes perigos é que se
ergue esta coleção. Contra o esquecimento e a diluição banal e acrítica. Há
um espaço para a preservação da identidade cultural dos povos num mundo
de “modernidade líquida”, onde as relações escorrem por entre os dedos e já
não há muito espaço para relações sólidas e duradouras, como argumentava
Zygmunt Bauman. Mas esse espaço nasce de uma vontade que tem de ser
forte, uma vontade de reter, de classificar, de estudar, de partilhar o que temos
em comum e que nos é mais identitário. É assim no mundo humano, porque,
como afirmava Nietzsche, no mundo dos animais a programação genética
tende a garantir a sobrevivência da espécie. Mas o ser humano, essa realidade
tão especial e difícil de explicar, tem que encontrar formas de manter a sua
natureza apesar das gerações. A solução para esta questão é fornecida pela
memória coletiva, um conceito que direciona comportamentos e experiências
nos interstícios de uma sociedade não cessa de mudar e de se transformar.
Este volume em particular e a coleção em que está inserido são exemplos
de um processo de rememoração, de um processo de procura das raízes, das
origens, do âmago da História do património cultural gaiense.
A memória é uma maneira de ligarmos as nossas ações do presente a acon-
tecimentos e a pessoas que tiveram lugar no passado. Temos, por isso, a lem-
brança de um rosto de uma pessoa, de um pôr-do-sol, de um sabor, de uma
sensação, de um sentimento. O que seria de nós sem as nossas lembranças?
Também ao nível do grupo, ao nível coletivo, se dá o mesmo processo. O que
seria feito de nós sem as nossas raízes? Daqui há lugar para a construção de
uma narrativa histórica que evoca acontecimentos que estão na lembrança de
todos, ou apenas de alguns, e que interessa usufruir e partilhar. Que interes-
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5. 5
sa sobretudo experienciar. Por isso, este projeto é, em primeiro lugar, uma
experiência. Um experimentar olhar para Gaia do ponto de vista do que, em
termos culturais e de património, mais a marcou e mais a marca ainda.
A um grupo muito vasto de profissionais foi pedido que refletissem sobre
o nosso património, o que faz de Gaia a Gaia que é hoje; foi-lhes pedido que
resgatassem para o futuro um passado que a nós todos nos diz respeito.
Devo um agradecimento, em primeiro lugar, a toda esta equipa coordenada
pelo nosso ilustre historiador, homem-marca do Solar dos Condes de Resen-
de e da Confraria Queirosiana, Prof. Dr. Gonçalves Guimarães.
Através dos dez volumes deste projeto que agora nasce podemos empreen-
der uma viagem pela Gaia que foi conhecendo, assim, melhor a Gaia que é.
Penso que uma instituição como a Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
tem um papel fundamental nesta memória como consciência do tempo.
Há uma outra dimensão que este projeto vem sublinhar, que é a da valori-
zação da nossa identidade coletiva, porque corresponde a uma seleção, a um
registo, a um estudo que é agora partilhado com todos. Consultar um destes
volumes é vermo-nos ao espelho, é um olhar sobre nós mesmos e sobre a
realidade que nos envolve. E, já agora, a partir daí projetarmos o nosso futuro
coletivo.
Vila Nova de Gaia, 20 de setembro de 2018
Eduardo Vítor Rodrigues
Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia
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7. 7
Se é certo que a perceção do conceito de Património seja já antiga – em Por-
tugal remontará pelo menos ao reinado de D. João V, certamente por influência
dos antiquários renascentistas – a sua teorização e sobretudo a sua compreensão
social são bem mais recentes e, ainda hoje, mesmo entre os profissionais das
Ciências Humanas e outras que com ele têm que ver, há uma certa dificuldade
em passar da teoria à prática. O Património identifica-se, estuda-se e divulga-se
mas nem sempre se seleciona ou prepara, através de um discurso organizado
e coerente, para o seu objetivo final, a usufruição como mais valia cultural por
parte dos cidadãos. Tendo na sua origem tudo aquilo que a natureza ou a obra
humana produzem, o Património como tal só o é após a necessária reflexão
que lhe dá conteúdo e mensagem para o tornar indispensável à sociedade que o
herda, suporta, recria e usufrui, procurando passá-lo às gerações vindouras em
situação dignificante, como fonte material ou imaterial de sabedoria trabalhada
por diversos profissionais que lhe acrescentam valores mais íntimos ou mais
coletivos. Embora possa arvorar muitas bandeiras, o Património é em si próprio
um valor claro e universal, desde que não seja usado como reclame redutor mais
particular ou particularista por qualquer entidade ou causa.
Uma ideia errada muito generalizada entre os não profissionais, que urge
corrigir, é a de que “tudo é Património”, o que não é nem nunca foi verdade,
pois este sempre foi e terá de continuar a ter «… qualidade e memória. Sem
qualidade, intrínseca ou circunstancial, não haverá fundamento para que um tes-
temunho-memória tenha de ser conservado», como sintetizou Carlos Alberto
Ferreira de Almeida no seu programático texto Património - Riegl e Hoje, publicado
em 1993. Sem estudo e sem a definição prévia de uma escala de valores que a ele
se agarrem no tempo e que a sociedade adote como seus, o Património não pas-
PATRIMÓNIO CULTURAL DE GAIA (PACUG)
UM PROJETO GLOBAL
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8. 8
sará do estado embrionário e socialmente não existirá. Para além do conteúdo
cultural, dado pelo seu estudo e definição, tem de ser visível, visitável, usufruível
e partilhável pelos cidadãos, numa escala que vai da pequena comunidade ao uni-
versal, através de valores que se complementem, sem atropelos destrutivos que
se excluam. Uma grande ruína que ninguém conhece, um quadro perdido numa
arrecadação, não são Património, mas apenas uma possível “matéria-prima” que
os patrimoniólogos e outros profissionais poderão um dia vir a trabalhar. Se não
pudermos rentabilizá-los já, deixemo-los seguros, intocados e em paz para os
profissionais e os públicos do futuro.
No que diz respeito ao Património gaiense, alguns dos seus monumentos
aparecem referidos em obras dos séculos XVI e XVII, mas uma primeira tenta-
tiva da sua catalogação sistemática só se encontra nas Memórias Paroquiais de 1758.
Em 1861 António Rodrigues dos Santos enumera os monumentos do Centro
Histórico nos seus acrescentos à Descrição Topográfica de Vila Nova de Gaia. Em
1864 é fundada em Lisboa a Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólo-
gos Portugueses que, entre outras missões, iria proceder ao levantamento dos
monumentos a classificar em todo o país, cuja primeira listagem só será publica-
da em 1910, ainda antes da República, e onde constam alguns edifícios gaienses.
Entretanto, em 1873, e anos seguintes, o Portugal Antigo e Moderno… de Pinho
Leal proporcionava indiretamente uma nova tentativa de sistematização do pa-
trimónio local embrulhada em descrições fantasistas e literárias. Na realidade a
primeira publicação a tal dedicada com critério só vai surgir em 1909, intitulada
Mea Villa de Gaya, a qual reúne textos de um escol dos melhores especialistas
nacionais sobre os patrimónios arqueológico, edificado, etnográfico, paisagístico,
artístico e museográfico do município, já então voltado para o turismo, obra tão
avançada para a sua época, que não teve continuidade até aos anos sessenta e
setenta do século passado, quando os boletins dos Amigos do Mosteiro da Serra
do Pilar e depois dos Amigos de Gaia, através de textos de memorialistas pas-
saram a divulgar algum do Património local. Dos anos oitenta para cá uma nova
geração de profissionais das áreas das Ciências Humanas saída da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto e que vinha procedendo a trabalhos de levanta-
mento do património concelhio nas suas mais variadas vertentes e na definição
e caraterização do seu Centro Histórico, em 1982 funda o Gabinete de História
e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, vindo a publicar muitos dos seus trabalhos
na revista Gaya, noutras publicações académicas e em diversas monografias. En-
tretanto em 1983 são criados os serviços culturais do município (depois sector
de ação cultural), transferidos em 1987 para o Solar Condes de Resende, que
passou a ter como funções, entre outras, a concretização do levantamento do
Património e a sua rentabilização cultural e social, o que deu origem, por exem-
plo, à elaboração de processos de classificação de conjuntos e sítios incluídos
nos PDM, bem assim como a publicação de muitos textos sobre a caraterização
histórica de muito do Património identificado pelos profissionais daquele Gabi-
nete, entretanto, desde 2004, integrado na associação cultural Amigos do Solar
Condes de Resende – Confraria Queirosiana.
Porém, desde sempre a tarefa se revelou gigantesca e os recursos, profissio-
nais e outros, escassos, quer no que diz respeito ao Solar Condes de Resende,
quer ao Gabinete de História, Arqueologia e Património.
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9. 9
Por proposta do presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Prof.
Doutor Eduardo Vitor Rodrigues, elaborou o coordenador desta última entida-
de o presente projeto em dez volumes sobre as seguintes áreas:
01 Património Natural: da Geomorfologia à Geografia física e humana
02 Património Arqueológico: da Pré-história à Arqueologia Industrial
03 Património Etnográfico e Imaterial: atividades tradicionais e suas
manifestações
04 Património Humano: Personalidades gaienses
05 Património Institucional: Instituições, Empresas e Associações históricas
06 Património Edificado: das construções vernaculares aos monumentos
classificados
07 Património Artístico: Arquitetura, Escultura, Pintura, Cerâmica,
Literatura, Artes Cénicas e Música
08 Património Gaiense no Mundo; Património do Mundo em Gaia
09 Gaia século XX: território, pessoas, atividades
10 Fontes, bibliografia, índices e outros aspetos complementares
Concretizados por uma equipa que integra patrimoniólogos, historiadores,
arqueólogos, geógrafos, sociólogos, biólogos e outros profissionais com um
bom entendimento teórico e prático do que é o Património Cultural nas suas
diversas vertentes e com trabalhos já publicados nas áreas suscetíveis de serem
enquadradas por este projeto que é, ao mesmo tempo, um ponto de chegada
de conhecimentos adquiridos e um ponto de partida para novas investigações,
considerando que «o Património classificado ou a classificar tem de ser encarado
como um contributo para a qualidade de vida, social e cultural, das comunidades.
Estas o vão sentindo e já vão reclamando a sua proteção. A experiência mos-
tra-nos que o Património pode ser muito mais bem defendido pelas associações
locais de defesa do património e pelas forças locais que pelo poder central. (…)
Uma sociedade moderna e qualitativamente culta olhará com respeito o seu Pa-
trimónio que a incentivará a fazer melhor…» (ALMEIDA, 1993: 416). Este in-
vestigador, santamariano e professor da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto falecido em 1996, jaz sepultado no Cemitério paroquial de Santa Marinha,
Vila Nova de Gaia, perto do local onde residia.
J. A. Gonçalves Guimarães
Coordenador geral
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11. 11
INTRODUÇÃO
A assunção do conceito de Património como conjunto de intervenções hu-
manas às quais é dada, pela comunidade, um determinado sentido valorativo,
contribuindo para a construção da memória, de âmbito mais geral ou local, per-
mite afirmar que, no centro deste conceito, se encontram o Homem e as suas
ações materializadas. Por detrás dos outros tipos de Património, o Homem é, nas
suas múltiplas valências, responsável pela promoção das edificações históricas e
outras manifestações artísticas, musicais e literárias, pela dimensão imaterial da
cultura e das tradições, pela intervenção marcante na paisagem, mas, igualmente,
pela sua fruição, registo e valorização. Foi ele que criou este objeto de estudo e
será ele o seu intérprete e agente de preservação, valorização e dinamização.
Em boa hora a Câmara Municipal de Gaia entendeu promover esta hercúlea
tarefa de dar à estampa um conjunto de volumes, coordenado pelo Dr. Gonçal-
ves Guimarães, em que surgem abordadas as distintas vertentes de Património
local (e não só) e de que este é o primeiro testemunho. Neste enquadramento,
quando se aborda as várias dimensões patrimoniais de um concelho como o de
Gaia, logo emergem as pessoas historicamente situadas como um ativo relevan-
te, facto que se foi acentuando ao longo da evolução desta região. A exponen-
ciação do desenvolvimento das diversas freguesias que o constituem atingiu, ao
longo dos séculos XIX e XX, uma dimensão notável, facto que este livro traduz
de uma forma clara. E isto tanto na sua capacidade de fixar pessoas nascidas
noutras regiões, que aí afluíram em busca de melhores condições, notabilizan-
do-se pelo seu percurso, seja fixando as que aí nasceram, criando os meios para
aí desenvolverem atividades em prol do engrandecimento do concelho e, em
diversos casos, atingindo uma dimensão nacional e internacional.
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O conjunto de personalidades nascidas nas distintas freguesias do atual con-
celho de Gaia que conseguiu notabilizar-se dentro e fora da região é verdadei-
ramente surpreendente, sobretudo nos últimos dois séculos, relacionadas com
atividades tão distintas como a politica, o comércio, a benemerência, a arte ou a
indústria. Nomes como Soares dos Reis, António Teixeira Lopes ou os irmãos
Oliveira Ferreira são o testemunho visível na Arte, por exemplo, mas encon-
tramos muitas outras figuras marcantes nos vários domínios elencados, num
espectro tão rico e diversificado como o são as variantes sócio-económicas do
concelho. Diversos titulares com ligações a Gaia são, também, alvo de tratamen-
to, como o barões do Candal ou de Saavedra, os viscondes de Beire, de Santo
António do Vale da Piedade ou de Vila Nova de Gaia, ou os condes de Burnay,
de Campo Belo, de Castro ou de Laborim.
O tempo da Primeira República representou, no concelho de Gaia, um perío-
do de grande efervescência política, cultural e organizativa, nele emergindo uma
multiplicidade de personalidades de índole local (e não só), que procuraram vin-
car os seus ideais republicanos e maçónicos, alguns vindo a cultivá-los já desde
os últimos tempos da Monarquia. No ímpeto de levar o progresso e certos laivos
de vivência democrática aos seus concidadãos desenvolveram as mais diversas
iniciativas de natureza política e associativa, com frutos mais ou menos eféme-
ros, pelas condicionantes da evolução histórica do País.
Outros passaram por Gaia e deixaram aí o seu rasto a diversos níveis e em
distintas épocas, ou, então, desde a cadeira régia, em distintos momentos, rela-
cionaram-se de forma particular com Gaia, tomando decisões com impacto lo-
cal, algumas de efeito multissecular. Outros, ainda, levaram o nome desta terra e
até os apelidos toponímicos para fora do país, povoando o Brasil e transportan-
do consigo as boas qualidades de trabalho e dedicação às causas públicas, factos
evidenciados em muitos dos que se fixaram em terras de Vera Cruz.
Percorrer as centenas de nomes que corporizam este volume é revisitar a his-
tória de Gaia através dos seus intérpretes, mas numa dimensão muito alargada,
pois não se confina a uma perspetiva tradicional, como a política, a economia e a
sociedade. Esta obra vai mais além, abarcando, sobretudo para Oitocentos e No-
vecentos, a rica vida coletiva do concelho, a militância em determinados valores
e visões para a sociedade, ou a intensa vida cultural, manifestada em aspetos tão
distintos como a produção artística, a musical ou a literária.
Na estruturação do presente volume dedicado ao Património Humano de
Gaia, o primeiro, como se disse supra, da coleção referente às distintas vertentes
do Património deste concelho, foi adotada uma plêiade de regras de modo a que,
dada a amplitude cronológica, a quantidade de intervenientes biografados e de
biógrafos, pudesse resultar um todo global criterioso e dotado do rigor histórico
e da coerência necessária. Nesse sentido, a elaboração de um livro desta natureza
comporta a assunção de um conjunto de decisões que procura uniformizar cri-
térios, sendo pois necessário apresentá-los para que se tornem compreensíveis,
justificando possíveis ausências ou opções desta ou daquela natureza.
A seleção dos autores dos verbetes pautou-se pelo seu conhecimento das
referências históricas das personagens, estabelecendo sempre a ligação com o
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13. 13
concelho de Gaia em geral ou alguma freguesia em particular. A formação cien-
tífica dos autores, não se caindo na mera tentação dos denominados curiosos locais
– que sempre existem, e ainda bem, em todas as localidades –, constituiu um dos
pontos de partida, essenciais ao espírito com que o coordenador da obra e o do
volume se irmanaram na estruturação do presente livro. A busca do rigor cien-
tífico e metodológico levou a coordenação a estabelecer – e porque era funda-
mental escolher um critério – as normas de referenciação bibliográfica do centro
de investigação CITCEM, ao qual pertence um grande número dos autores.
O critério de arrumação cronológica dentro das grandes épocas históricas
foi a solução encontrada para evitar que este trabalho se transformasse numa
espécie de dicionário dos ilustres de Gaia. No entanto, sendo o corpo dos textos
baseado em verbetes, era necessário estruturar a respetiva informação, pelo que
esse foi o critério adotado. Por outro lado, para a seleção das centenas de figuras
que se destacaram no concelho ao longo do tempo impunha-se um limite cro-
nológico, a jusante. Deste modo, apenas se consideraram aqueles biografados
falecido até ao ano 2000, inclusive, havendo já algum distanciamento para o
respetivo gizar biográfico.
A busca iconográfica revelou-se outra preocupação deste volume, registando
a imagem daqueles cujo percurso se aborda. No entanto, no caso de não ser
possível obter especificamente a sua representação, através de fotografia, de gra-
vura ou pintura, optou-se por selecionar a figuração de um edifício, de armas de
família ou do concelho, ou outro elemento iconográfico que lhe pudesse estar
associado, pois a natureza desta obra comporta, também, essa dimensão.
Deixamos uma nota de reconhecimento ao Dr. Gonçalves Guimarães, a
quem devemos o convite para coordenar este volume, o que nos muito nos hon-
ra, não apenas pelo significado e relevância científica que atribuímos a esta obra,
mas pela nossa ligação pessoal e familiar ao concelho de Gaia, designadamente
à Praia da Granja. Por isso, para além das múltiplas colaborações científicas e
escritos sobre gente de Gaia, ao longo dos anos, acresce essa perspetiva afetiva
forte e que nos move a olhar para estas terras, igualmente, como nossas.
Uma última palavra é de agradecimento aos autores das mais de duas cente-
nas de verbetes que corporizam este volume, pois sem o seu esforço, dedicação
e empenho na entrega atempada do resultado do seu labor e investigação, não
teria sido possível erguer o presente livro no tempo determinado para a respe-
tiva execução. E abrir uma coleção com a natureza e a relevância da que agora
se inicia é algo que a todos uniu, motivando para a edificação de uma obra cujo
objetivo primacial é honrar aqueles que nela figuram e cuja vida meritória e
relevante esteve, direta ou indiretamente, ligada ao concelho de Gaia e às suas
muitas freguesias.
Porto, 29 de abril de 2017
Gonçalo de Vasconcelos e Sousa
Coordenador do Volume
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15. 15
SUMÁRIO
BIOGRAFADO AUTOR P.
Lúcio Lávio Tusco JAGG 24
Mafamude; Mahamūd ‘ Abd al-Yabbār JAGG-SG 25
Ordonho II, Rei JAGG 26
Ramiro II, Rei JAGG 27
Soeiro Fromarigues [de Marnel] JAS-P 28
Nuno Soares de Grijó JAS-P 29
Afonso Henriques, D., Rei JAGG 30
Gil Vasques de Soverosa PJSC 31
Rodrigo Sanches, D. MJB 32
Afonso III, D., Rei JAS-P 33
Dinis, D., Rei JAS-P 34
João da Gaia JAGG 35
Estêvão Pires Coelho JAGG 36
Maria Mendes Petite PJSC 37
Pedro I, D., Rei JAGG 38
Aires Gonçalves de Figueiredo JAS-P 39
João Rodrigues de Sá, “O das Galés” PJSC 40
Álvaro Anes de Cernache PJSC 41
Manuel I, D., Rei JAGG 42
Fernão de Magalhães JAGG 43
Fernão Brandão Pereira PJSC 44
Diogo Brandão; Diogo Brandão Pereira de Pina PJSC 45
Manuel Fernandes de Calvos, “O Rico de Ormuz” JAGG 46
Nuno da Silva JAGG-SG 47
Tomé da Costa IBCM 48
António Leite de Albuquerque, D. SM 49
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16. 16
Filipe de Távora e Noronha JAGG 50
João Correia Pacheco Pereira, “O Manco de Gaia” AAAC 51
António Craesbeeck de Melo AAAC 52
José Pereira dos Santos JAGG 53
José de Azevedo e Sousa AAAC 54
José Bento Leitão PJSC 55
João António Monteiro e Azevedo SM 56
Pedro Leite Pereira de Melo JAGG-MFT 57
Maria Isabel Wittenhall Van-Zeller SG 58
Jerónimo Rossi LCPS 59
Barão do Corvo; Manuel Álvares (ou Alves) do Souto Guedes da Silva JAGG 60
Rosa Maria da Conceição e Silva, D. JAGG 61
José Veloso da Cruz AAAC 62
António Rodrigues dos Santos AAAC 63
José Liberato Freire de Carvalho JAGG-SG 64
José Pereira da Silva Leite de Berredo AAAC 65
Visconde de Beire; Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso
Barreto de Miranda e Figueiroa
JAGG-SG 66
Manuel Gonçalves de Castro AAAC 67
Miguel Joaquim de Moura Coutinho Lacerda Abreu Lima IBCM 68
António da Rocha Leão SM 69
Visconde de Vila Nova de Gaia; Thomas William Stubbs JAGG 70
Conde de Laborim; José Joaquim Gerardo de Sampaio JAGG 71
General Torres; José António da Silva Torres, Barão do Pico do Celeiro,
Visconde da Serra do Pilar
LCM 72
António Ribeiro da Costa JAGG-MFT 73
Barão do Candal; Manuel José Mendes JAGG 74
Visconde de Santo António de Vale da Piedade - ver António José de
Castro Silva (I)
JAGG 75
Visconde de Portocarreiro; João Cardoso da Cunha Araújo e Castro
Portocarreiro
AAAC 76
Visconde de Oliveira; Marcelino Máximo de Azevedo e Melo JAGG-MFT-SG 77
Visconde da Pena; José Rodrigues de Cazaes JAGG 78
Conde de Castro; José Joaquim Gomes de Castro JAGG 79
Marquês de Sá da Bandeira; Bernardo de Sá Nogueira, Barão, Visconde
e Marquês de Sá da Bandeira
JAGG 80
Barão de Saavedra; Tomás Pinto da Cunha Saavedra LCM 81
Pedro IV, D., Rei JAGG 82
Luís de Queiroz Monteiro Regadas FQ 83
Almeida Garrett; João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett,
Visconde de Almeida Garrett
JAGG 84
Joaquim da Cunha Lima de Oliveira Leal AAAC 85
Manuel Bento Rodrigues, D. AAAC 86
José Plácido Campeão GVS 87
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17. 17
Manuel da Fonseca Pinto SM 88
Frutuoso Aires; Frutuoso José da Silva Aires FQ 89
Joaquim Veloso da Cruz AAAC 90
Francisco da Rocha Soares FQ 91
Visconde da Graceira; José Rodrigues de Faria JAGG-MFT 92
Barão de Forrester; Joseph James Forrester JAGG-SG 93
Antónia, D., “ A Ferreirinha”; Antónia Adelaide Ferreira JAGG 94
Diogo José de Macedo EB 95
Visconde de Oliveira do Douro; Manuel Maria da Costa Leite JAGG-MFT-SG 96
Visconde das Devesas; António Joaquim Borges de Castro JAGG 97
Frederick William Flower JAGG 98
João Ferreira da Silva Oliveira AAAC 99
Luís António Pinto de Aguiar Júnior AAAC 100
André Michon FQ 101
Manuel Lopes da Costa Soares AAAC 102
João Tomás Cardoso FQ 103
Antero Albano da Silveira Pinto FQ 104
José de Almeida Cardoso FQ 105
Diogo Leite Pereira de Melo AAAC 106
Conde de Silva Monteiro; António da Silva Monteiro, Visconde e Conde de
Silva Monteiro
MSJPL 107
Ricardo de Clamouse Browne GVS 108
Visconde de Castro Silva; António José de Castro Silva, Júnior (II) JAGG-MFT 109
Visconde de Arcozelo; Joaquim Teixeira de Castro EB 110
Camilo Castelo Branco; Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco, Visconde
de Correia Botelho
JAGG 111
Abade de Arcozelo; Aires de Madureira; Cândido José Aires de Madureira EB 112
Francisco Pinto da Costa SM 113
José Mariani MFT 114
António Aires de Gouveia Osório, D. EB 115
Conde de Samodães, 2º; Francisco Teixeira de Aguilar e Azeredo AAAC 116
Joaquim Nicolau de Almeida VBC 117
Joaquim Pereira Fula JAGG-MFT 118
Visconde de Proença Vieira; Joaquim José de Proença Vieira JAGG 119
António Almeida da Costa FQ 120
José Nicolau de Almeida LS 121
Barão de S. João Batista de Canelas; Jacinto Pinto Ferreira Guerra JAGG 122
Manuel José Pereira Lima SM 123
José Joaquim Teixeira Lopes FQ 124
Conde de Burnay, 1º; Henrique Burnay GVS 125
António Narciso de Azevedo Magalhães AAAC 126
Caetano Pinho da Silva JAGG-MFT-SG 127
António Joaquim dos Reis Castro Portugal FQ 128
Conde de Porto Brandão; Tomás da Silva Brandão AAAC 129
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18. 18
Júlio Dinis; Joaquim Guilherme Gomes Coelho SM 130
Joaquim Augusto da Silva Magalhães AAAC 131
Marciano Azuaga; Marciano do Carmo Martins Viana de Azuaga JAGG 132
Apolino da Costa Reis AAAC 133
Eduardo da Costa Santos JAGG-MFT 134
Afonseca Lapa; João de Afonseca Lapa FQ 135
António Nicolau de Almeida Júnior PLS 136
Visconde da Ermida, 1º; António Ferreira da Silva Brito (II) JAGG-MFT 137
Alfredo Lucas; Alfredo de Almeida Lucas EB 138
Jaime Teixeira da Mota e Silva AAAC 139
Manuel Pinto Mourão EB 140
Artur Napoleão dos Santos JAGG 141
Manuel Pinto dos Reis AAAC 142
Conde de Resende, 5.º; Luís Manuel Benedito da Natividade de Castro
Pamplona de Sousa Holstein, D.
SM 143
Diogo Cassels AMS 144
José Geraldo da Silva Sardinha JMTMB 145
Eça de Queirós; José Maria Eça de Queirós JAGG 146
António Monteiro dos Santos MFT 147
Adriano de Paiva; Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão, Conde de
Campo Belo, 1.º
JAGG 148
Soares dos Reis; António Soares dos Reis PLS 149
Cabo Simão; Simão da Costa Santos AAAC 150
João Rodrigues Valente Perfeito EB 151
Artur Ferreira de Macedo EB 152
Augusto César da Cunha Morais MFT 153
Flórido Toscano; António Flórido da Cunha Toscano EB-JAGG-MFT-SG 154
Albino Barbosa; Albino Pinto Rodrigues Barbosa FQ 155
Salvador Brandão; Salvador Ferreira Brandão JAGG-MFT 156
Macedo Pinto, Coronel; Augusto António de Macedo Pinto AAAC 157
Agostinho de Almeida Rego JAGG-MFT-SG 158
Domingos da Rocha Romariz JAGG-MFT 159
Alfredo Moreira da Silva, “ O Alfredo das Rosas” AAAC 160
Adriano Ramos Pinto JAGG 161
José Gonçalves da Silva Matos EB 162
José Pinto Amorim da Costa EB 163
Maximiano Lemos; Maximiano Augusto de Oliveira Lemos JAGG-MFT 164
Francisco Gonçalves Cortez JAGG-MFT 165
Adolfo Marques AAAC 166
Francisco José Ferreira Guimarães AAAC 167
António Teixeira Pinto AAAC 168
Leopoldo Mourão; Leopoldo José de Oliveira Mourão EB 169
Osório Gondim; Inocêncio Osório Lopes Gondim JAGG-MFT-SG 170
João Pinto de Azevedo AAAC 171
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19. 19
Joaquim Gonçalves da Silva SM 172
Álvaro Cabral; Álvaro Augusto Cabral da Cunha Goodolfim de Maia
Figueiredo
AAAC 173
Venceslau Pedro da Silva JAGG-MFT 174
Amélia, D., Rainha SM 175
Manuel Maria Lúcio SM 176
Bernardo Lucas; Bernardo de Almeida Lucas EB 177
José Júlio Gonçalves Coelho AAAC 178
Teixeira Lopes; António Teixeira Lopes SM 179
José Fernandes Caldas FQ 180
Manuel Marques Gomes AAAC 181
Luís Gonçalves de Oliveira LS 182
José Tristão Pais de Figueiredo EB 183
Paulino Gonçalves TCS 184
Augusto Santo AAAC 185
Marcelino de Almeida Lucas Júnior AAAC 186
Manuel Emílio Dias Castelo Branco AAAC 187
Adelino de Sá Lemos PLS 188
Alfredo Seixas Bandeira AAAC 189
Cabo Borges; João Borges AAAC 190
José Amadeu de Castro Portugal EB 191
Alberto Júlio Pereira JAGG- MFT-SG 192
José Teixeira Lopes MFS 193
Padre Luís; Luís Gonçalves da Rocha AAAC 194
Adelino Gonçalves Gomes JAGG-MFT-SG 195
António Pimenta da Fonseca MFT 196
Belchior Fernandes da Fonseca AAAC 197
José Pinto de Macedo LS 198
António da Costa Bernardes, ”O Ferramenta” AAAC 199
António Fernandes de Sá PLS 200
Ernesto Rodolfo Alves de Castro AAAC 201
Augusto Francisco da Rocha JAGG-MFT- SG 202
Miguel Joaquim da Silva Leal Júnior JAGG-MFT-SG 203
Joaquim dos Santos Guimarães PJSC 204
Conde das Devesas, 2º; Alfredo Pereira Pinto de Castro e Lemos, 2.º
Conde das Devesas
JAGG 205
João Porfírio de Lima Calheiros Lobo EB-JAGG-MFT 206
José da Fonseca Menéres AAAC 207
Manuel Ferreira de Castro AAAC 208
César Marques dos Santos, “O Menino de Ouro” AAAC 209
Santos Costa; Manuel Rodrigues dos Santos Costa JAGG-MFT-SG 210
Ramiro Mourão; Ramiro Bastos Mourão JAGG-MFT-SG 211
Magalhães Costa; Guilherme António de Magalhães Costa JAGG-SG 212
Waldemar Löfgren; Karl Frithiof Waldemar Löfgren JAGG-SG 213
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20. 20
Álvaro Miranda; Álvaro Pinto de Miranda SM 214
Bernardo Pinto Abrunhosa AAAC 215
José Domingues da Rocha Beleza JAGG-MFT -SG 216
Joaquim Gomes Ferreira Alves AAAC 217
José Soares de Oliveira AAAC 218
José de Oliveira Ferreira MFS 219
Alves de Sousa; António Alves de Sousa TCS 220
António Fiandor, D.; António Ferreira Fiandor AMS 221
Francisco de Oliveira Ferreira MFS 222
Joaquim Lopes; Joaquim Francisco Lopes TCS 223
Honório Costa; Honório Tavares da Costa AAAC 224
José Maria da Silva AAAC 225
Joaquim Francisco Correia AAAC 226
Alberto da Conceição Teixeira AAAC 227
José Dinis dos Santos AAAC 228
Rodolfo Pinto do Couto AAAC 229
Venceslau Fernandes de Figueiredo AAAC 230
Diogo de Macedo; Diogo Cândido de Macedo JGA 231
Henrique Moreira; Henrique Araújo Moreira AAAC 232
Zeferino Couto; Zeferino dos Santos Couto AAAC 233
António de Azevedo; António Ferreira de Azevedo AAAC 234
Manuel Marques; Manuel Marques Pinto AAAC 235
João Alves Pereira PJSC 236
Armando Leça; Armando Lopes JAGG-MFT 237
Abel Pego Fiúza AAAC 238
Cunha da Rasa; Alfredo Antunes da Silva Cunha, “ O Cunha da Rasa” JAGG 239
Sousa Caldas; José Fernandes de Sousa Caldas PLS 240
José Saavedra; José Nevil de Ascensão Pinto da Cunha Saavedra AAAC 241
Avelino Monteiro; Avelino da Silva Monteiro JAGG 242
Joaquim Francisco Pedrosa Júnior JAGG-MFT-SG 243
Ângelo Mendonça da Cunha Morais AAAC 244
Joaquim Alves da Silva AAAC 245
Manuel Moreira de Barros SM 246
Armando de Matos; Armando Manuel de Matos AAAC 247
António Pereira da Costa JAGG 248
José Pereira dos Santos PLS 249
Dina Teresa; Dina Teresa Moreira de Oliveira AAAC 250
José Ferreira de Albuquerque e Castro AAAC 251
Jorge Faria Vieira de Araújo AAAC 252
Conde de Campo Belo, 4º; Henrique Leite Pereira de Paiva Távora
e Cernache
GVS 253
Visconde de Pereira Machado, 3.º; Nuno Guilherme de Brito e Cunha JAGG-MFT 254
João de Brito e Cunha AAAC 255
Mário Cal Brandão AAAC 256
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21. 21
Loubet Bravo; Loubet Moreira Bravo AAAC 257
Fernando Moreira; Fernando Jorge de Azevedo Moreira AAAC 258
Carlos Vale; Carlos dos Santos Vale AAAC 259
Alberto da Silva Bessa AAAC 260
Afonso Ribeiro; Afonso Adelino Ribeiro de Azevedo JAGG-SG 261
Romero Vila, Padre; Manuel Romero Vila AAAC 262
Guilherme Camarinha; Guilherme Duarte Camarinha TCS 263
António Coelho de Figueiredo AAAC 264
António Sampaio; António de Assunção Sampaio LC 265
Aureliano Lima; Aureliano Branquinho e Lima TCS 266
César Morais; César Augusto Ribeiro Morais JAGG 267
Isolino Vaz; Isolino da Silva Vaz FQ 268
António Reis; António Ferreira Gonçalves dos Reis LS 269
Eduardo Luiz; Eduardo Luiz Teles Fernandes Gomes TCS 270
António Lima; António de Azevedo Lima AL 271
Simões da Hora; Joaquim Eduardo Simões da Hora FQ 272
Adriano Correia de Oliveira; Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira PJSC 273
Nuno Guimarães; José Nuno Guimarães AAAC 274
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26. 26
Pormenor do Castelo de Crestuma, in SILVA
& GUIMARÃES, 2013:17
BIBLIOGRAFIA
- FERNANDES, A. de Almeida (2001) – Por-
tugal Primitivo Medievo. Arouca: ADPA, p. 394.
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (2009) – In-
trodução ao estudo do povoamento medieval da Terra
de Santa Maria: actualização bibliográfica. In «Villa
da Feira. Terra de Santa Maria», ano VIII, n.º
23, Outubro de 2009, p. 52.
- MATTOSO, José (1992) – Portugal no Reino
Asturiano-Leonês. In MATTOSO, José – História
de Portugal, Primeiro Volume. Lisboa: Círculo
de Leitores, p. 536.
- SILVA, António Manuel S. P.; GUIMA-
RÃES, J. A. Gonçalves (2013) – Castelo de
Crestuma. A Arqueologia em busca da História. Vila
Nova de Gaia: Águas e Parque Biológico de
Gaia/ ASCR-CQ – Confraria Queirosiana.
- SILVA, António Manuel S. P. (2014) – El
castillo de Crestuma (Vila Nova de Gaia, Porto, Por-
tugal) entre la Romanidad tardia Y la Edad Media:
los retos de un sitio complejo. In CATALÁN, Raúl;
FUENTES, Patricia; SASTRE, José Carlos
– Las Fortificaciones en la Tardoantigüedad. Élites y
articulación del território (siglos V – VIII d. C.). Ma-
drid: Ediciones de La Ergástula, p. 405 – 416.
Rei da Galiza e Leão, era filho de Afonso III e da rai-
nha Jimena Garcês de Pamplona e neto de Ordonho I das
Astúrias e de Leão. Por morte do pai coube-lhe o reino da
Galiza em 909. Casou em 892 com Elvira Mendes, filha do
conde Hermenegildo Guterres, conquistador e repovoador
de Coimbra em 878, de quem houve três filhos. Depois de
enviuvar em 911, Ordonho II voltou a casar com Aragunte
Gonçalves, filha do conde portucalense Gonçalo Betotes e
cunhada de Mumadona Dias, a fundadora do Mosteiro de
Guimarães, de quem não teve descendência. Casou uma ter-
ceira vez com Sancha Sanches de Pamplona, também sem
descendência. Tendo estabelecido a sua capital em Viseu,
por morte de seu irmão Garcia em 914, sucede-lhe como
rei de Leão, mudando a capital deste reino de Oviedo para
Leão.
Em 910 dirigiu pessoalmente uma incursão até Sevilha
e em 913 uma outra grande expedição a Évora de onde
regressou cheio de despojos. Pouco depois envia nova ex-
pedição ao castelo de Alhange, perto de Mérida e obtém a
submissão e pagamento de tributo do governador de Bada-
joz. Mas, entretanto, o emir Abd al Rahman, que em 929 se
proclama califa, recupera a autoridade no al Andaluz e der-
rota Ordonho II em Valdejunquera em 920, onde aprisiona
o bispo portucalense Hermógio, natural de Tui, e seu sobri-
nho Pelágio, que virá a morrer no cativeiro, sendo depois
venerado como santo (S. Paio), dando mais tarde a designa-
ção a um troço da margem esquerda da foz do Rio Douro.
As relações deste rei com a Terra de Santa Maria, assim
designada desde pelo menos 978, e em particular com o
futuro julgado de Gaia, estão expressas num controverso
documento atribuído ao ano 922, de que se conhece ape-
nas uma cópia incompleta da primeira metade do século
XII proveniente do Livro Preto da Sé de Coimbra e publicado
nos Portugaliae Monumenta Historica, n.º 25. Por ele se fica a
saber que o rei veio à vila de Portugal, então uma povoação
da margem esquerda do Douro, situada entre Mafamude e
Coimbrões e que corresponderá à futura freguesia de Santa
Marinha, Vila Nova de Gaia, onde armou navios para ir
com a rainha e o seu séquito visitar o bispo Gomado ao
Mosteiro de Crestuma, e aí lhe fizeram uma ampla doação
de terras, povoações e outros direitos no Rio Douro e na
região litoral até ao Mondego. Escavações arqueológicas re-
centes no Castelo de Crestuma comprovaram a antiguidade
do lugar e a existência de um túmulo de prestígio em lugar
de destaque, no que poderão ter sido as ruínas do mosteiro
medieval.
Ordonho II faleceu em 924, e foi sepultado na catedral
de Leão que mandara construir em 916.
JAGG
ORDONHO II, REI (c. 873-924)
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29. 29
Fólio 98 v.º, documentos de 1136 e 1135, in
DURAND, Robert, introd. e notas (1971) –
Le Catulaire Baio- Ferrado du Monastère de Grijó
(XI.e-XIII.e siècles). Paris: Fundação Calouste
Gulbenkian, p.>242
BIBLIOGRAFIA
- MATTOSO, José; KRUS, Luís e ANDRA-
DE, Amélia (1989) – O Castelo e a Feira. A Terra
de Santa Maria nos Séculos XI a XIII. Lisboa: Edi-
torial Estampa, p. 125-153.
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus-
to de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó.
Evolução e Estrutura da Família Nobre (Séculos XI
a XIV). Ponte de Lima: Edições Carvalhos de
Basto (Ed. original, 1987), p. 119-141.
A viúva e os filhos de Soeiro Fromarigues prosseguiram
a política de aquisição de propriedades nas terras de Gaia
e de Santa Maria, bem como as doações a favor de Gri-
jó, onde professou um dos seus netos. Por outro lado, as
alianças matrimoniais dos seus vários filhos e filhas revelam
uma clara aproximação às outras famílias de infanções, tan-
to com as que se destacavam junto da bacia duriense como
no entorno coimbrão, reforçando-se assim as posições de
influência adquiridas pelos de Grijó entre o Douro e o Mon-
dego. De entre aqueles, porém, o que mais se destacou foi
D. Nuno Soares (1102-1157), a quem o conde D. Pedro de
Barcelos referia no seu Livro de Linhagens como «o que fez
Eigrejoo».
Detentor de um património muito considerável, situado
entre Gaia e Aveiro, também protegeu o mosteiro de São
Salvador de Grijó, não apenas através de doações relevan-
tes, mas sobretudo por ter conseguido a outorga da res-
pectiva carta de couto, concedida a seu pedido pela Rainha
Dona Teresa, em 1128, quase nas vésperas da batalha de
São Mamede, o que poderia indiciar uma tentativa de atrair
o senhor de Grijó para a sua facção e dos Travas, o que
não terá sucedido. Com efeito, poucos anos depois (1132),
o bispo de Coimbra encarregou Nuno Soares de proteger
o cenóbio, no ano em que adoptou a mesma regra que os
frades crúzios de Santa Cruz de Coimbra, fundado no ano
anterior com a protecção de D. Afonso Henriques. De res-
to, entre 1139 e 1142, D. Nuno Soares surge a confirmar
diplomas do nosso primeiro monarca relativos a doações a
favor de Grijó, o que significa a sua proximidade com aque-
le, e ainda em 1152 se documenta como membro de um
tribunal para dirimir questões de disputa de terras.
D. Nuno Soares de Grijó teve um filho e três filhas, mas
a família dos de Grijó só teve continuidade através da des-
cendência da sua filha Dona Maria Nunes, casada com o
nobre galego D. Mónio Osorez, senhor de Cabreira e Ribei-
ra, espelhando bem a proximidade de D. Nuno aos meios
mais elevados da corte afonsina.
O destino, aliás, acabou por fazer cruzar o sangue dos
de Grijó com o sangue real português: uma bisneta de D.
Nuno Soares de Grijó, Dona Maria Pais da Ribeira, a cé-
lebre Ribeirinha, que teve vários filhos do rei D. Sancho
I, entre os quais o célebre D. Rodrigo Sanches, que veio a
morrer em 1245, na célebre lide de Gaia. Percebe-se bem
que não foi por acaso que o seu belo túmulo se colocou no
familiar mosteiro de São Salvador de Grijó.
JAS-P
NUNO SOARES DE GRIJÓ (1102-1157)
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30. 30
D. Afonso Henriques, por Soares dos Reis,
1887, in Álbum Phototypico… 1889: [103]
BIBLIOGRAFIA
- Álbum Phototypico e Descriptivo das Obras de Soa-
res dos Reis. Porto: Centro Artístico Portuense,
1889; edição fac-similada, Vila Nova de Gaia:
Afons’eiro Edições, 1989.
- DURAND, Robert, introduction et notes
(1971) – Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère
de Grijó (XIe-XIIIe siècles). Paris: Fundação Ca-
louste Gulbenkian.
- FERNANDES, A. de Almeida (1985) – Os
primeiros documentos de Santa Maria da Salzeda (até
à morte da fundadora). Comentários e defesa. Gui-
marães: Sociedade Martins Sarmento, p. 126.
- FERNANDES, A. de Almeida (2009) – Viseu
– Pátria de D. Afonso Henriques. In Afonso Henriques
(1109/1185) “O Pai da Pátria”. Viseu: AVIS,
p. 9 – 30.
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1999) – A
Serra do Pilar Património Cultural da Humanidade.
Vila Nova de Gaia: Fundação Salvador Cae-
tano, p. 35/36.
- MATTOSO, José (2006) – D. Afonso Henri-
ques. Lisboa: Círculo de Leitores.
Filho do conde Henrique de Borgonha, que morre pou-
co depois do seu nascimento, e de D. Teresa, filha de Afon-
so VI de Leão, Afonso Henriques nasceu em Viseu a 6 de
agosto de 1109. Em 1255 arma-se a si próprio cavaleiro na
catedral de Zamora. No dia de S. João de 1128 derrota as
tropas do galego Fernão Peres de Trava, na batalha de S.
Mamede, perto de Guimarães. Com o apoio da nobreza de
Riba Douro, da do Entre Douro e Mondego e da sé braca-
rense, que vê na ação independentista do infante uma possi-
bilidade de se libertar das pretensões hegemónicas de Com-
postela, assume então o governo da Terra Portucalense, que
passa a unir a Diocese de Braga, o Condado Portucalense
e o Condado Conimbricense, desenvolvendo a sua luta em
três frentes: a Norte contra as pretensões galegas, a Leste
contra as leonesas e a Sul contra as muçulmanas. Em 1131
funda o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e em 1139 der-
rota os mouros em Ourique, passando a usar o título de rei.
Em 1140 derrota as tropas do primo Afonso VII de Castela
e Leão em Arcos de Valdevez, com o qual virá a estabelecer
a paz de Zamora em 1143. Em 1147 reconquista Santarém,
e depois Lisboa (1128), Beja (1162) e Évora (1166). Morre
em Coimbra a 6 de dezembro de 1185, sendo sepultado no
mosteiro que aí fundara.
Foi senhor de grandes propriedades na Terra de Santa
Maria, nomeadamente no território que viria a ser o julgado
de Gaia, que lhe vieram por herança através de sua mãe que
em 1112 faz doações de parcelas de terras em Crasto e Gui-
marães (Perosinho) e em 1117 da herdade de Santa Cruz,
sob o Monte Grande, a nobres locais. Por sua vez seu filho
Afonso em 1139 lega ao prior e cónegos do Mosteiro de
Grijó a sua propriedade de Brito (S. Félix da Marinha) e em
1142 cede-lhes os direitos régios que detém em Tarouquela
(Vilar do Paraíso), com a condição de alimentarem e vesti-
rem três eremitas. Em 1155 doa ao Mosteiro de Salzedas
(Tarouca) os direitos que tinha sobre a igreja de S. Martinho
de Gaia, com as suas pesqueiras, situada junto do Castelo
de Gaia. Seus descendentes continuarão a possuir bens pró-
prios no julgado de Gaia.
Duas outras circunstâncias ligam a memória deste pri-
meiro rei de Portugal a Vila Nova de Gaia: no século XVII
a sua espada vinha do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra
para o da Serra do Pilar, onde era colocada no altar-mor
para veneração numa época em que se pretendia canonizar
este rei. Em 1887 é uma cópia dessa mesma espada que
figura na estátua modelada por Soares dos Reis, depois fun-
dida em bronze para a cidade de Guimarães, a que se segui-
ram outras cópias, mas cujo original se conserva naquele
antigo monumento gaiense, para onde em 1934 foi levada
da sua casa oficina situada ali bem perto.
JAGG
AFONSO HENRIQUES, D., REI (1109-1185)
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33. 33
BIBLIOGRAFIA
- VENTURA, Leontina (2006) - D. Afonso III.
Lisboa: Círculo de Leitores.
Quinto rei de Portugal terá nascido em Coimbra, por
volta de 1214; era filho de D. Afonso II e de Urraca de
Castela, e sucedeu ao irmão, D. Sancho II, em 1248, vindo
a falecer em Lisboa, a 16 de Fevereiro de 1279. A sua vida
foi muito agitada. Com pouco mais de quinze anos (1229),
rumou à corte do seu primo co-irmão Luís IX de França,
onde foi muito bem recebido pela tia materna, Branca de
Castela, rainha-viúva e mãe do rei. Membro da corte fran-
cesa, e muito próximo dos seus régios primos, foi armado
cavaleiro em 1239, poucos antes de casar com Matilde de
Bolonha, aliança que o fez Conde de Bolonha, e daí o cog-
nome o Bolonhês.
Entretanto, Portugal atravessava um período muito con-
turbado, com o rei a revelar-se incapaz de controlar os abu-
sos e violências senhoriais, a ponto de D. Sancho II surgir
como o principal responsável pela anarquia vivida, sendo
acusado pelos bispos de não proteger os bens da Igreja
nem a segurança dos Povos. Como se sabe, foi deposto pelo
Papa em 1245, o que provocou uma nova viragem na vida
de D. Afonso, desde então paladino da ordem e da justiça.
Em Setembro desse ano, em Paris, jurou perante os bispos
e vários membros da nobreza que defenderia a Igreja e aca-
baria com a violência no reino português, aonde chegou em
Dezembro como curador do Reino. Os conflitos entre os
partidários dos dois irmãos, porém, já tinham começado,
e Gaia aparece precisamente como o centro de um impor-
tante conflito armado, conhecido como Lide de Gaia, na
qual saíram vitoriosos os apoiantes de D. Sancho II, e onde
perdeu a vida D. Rodrigo Sanches, bastardo de D. Sancho
I, o qual, por certo dividido entre as razões dos seus dois
sobrinhos, optara por apoiar as pretensões d’o Bolonhês.
Rei desde a morte do irmão, ocorrida no início de 1248,
D. Afonso III surge hoje na historiografia como um dos
monarcas medievais mais importantes, considerando-o
mesmo José Mattoso, como o «fundador do Estado portu-
guês». Um dos esteios onde assentou a sua política de afir-
mação régia foi o do controlo do poder episcopal. Assim
se compreende a importância do foral concedido à vila de
Gaia, em 1255, procurando dessa forma contrariar o poder
do bispo do Porto. Com efeito, nas cortes celebradas em
Leiria no ano anterior, fora possível chegar a um acordo
sobre as taxas a cobrar pela navegação do Douro, devendo
um terço do tráfego que chegava vindo do interior descar-
regar em Gaia, bem como metade dos barcos que entravam
a barra do rio provenientes de França. O seu impacto pode
avaliar-se melhor se pensarmos que em 1288 o seu sucessor,
D. Dinis, outorgou uma nova carta de foral, de conteúdo
idêntico, agora dirigida a Vila Nova, o novo núcleo popu-
lacional que entretanto extravasara os limites do anterior
concelho.
JAS-P
AFONSO III, D., REI (c.1214-1279)
Foral de Gaia de D. Afonso III, 1255; Arquivo
Distrital do Porto.
Selo de D. Afonso III, in SOUSA, D. António
Caetano de [1738] – História genealógica da Casa
Real Portuguesa…, tomo IV, Lisboa: Na Officina
de Joseph Antonio da Sylva, gravura F – XIX.
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34. 34
D. Dinis, in Diálogos de Vária História…, de
Pedro de Mariz, 1674; coleção do autor
BIBLIOGRAFIA
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augus-
to de (2005) – D. Dinis (1261-1325). Lisboa:
Círculo de Leitores (2.ª ed., Lisboa: Temas &
Debates, 2008).
Nascido em Lisboa em 1261, foi o sexto monarca por-
tuguês, sendo filho de D. Afonso III e de Beatriz de Castela.
Subiu ao trono em 1279, vindo a falecer em Santarém em
1325.
Seja qual for a perspectiva de análise, o reinado dionisi-
no foi um dos mais marcantes da História portuguesa, po-
dendo mesmo afirmar-se que todas as áreas da governação,
desde a política à economia, da sociedade à cultura, passan-
do pela arte ou pela defesa foram objecto de reformas ou
desenvolvimentos de grande alcance. Não sendo possível
enumerar todos esses aspectos, recordem-se pelo menos a
fundação da Universidade (1290) e a utilização obrigatória
da língua portuguesa nos documentos oficiais, a definição
última da fronteira com o reino vizinho, pelo Tratado de
Alcañices (1297), a Concordata com a Santa Sé (1289), a
política de povoamento e concessão de forais, de controlo
dos poderes senhoriais, a organização da marinha de guerra
ou a intensa construção de castelos e muralhas na fronteira,
etc. Por outro lado, profundamente culto, a ele se devem
dezenas de composições poéticas e intervenções da maior
importância em diversos monumentos, como em Alcobaça
ou nos paços de Sintra.
A ligação de D. Dinis a Gaia fez-se sentir desde os pri-
meiros anos do seu longo reinado, quando, em Abril de
1281, incluiu o castelo de Gaia no conjunto das praças que
garantiam o cumprimento das disposições nupciais entre o
monarca e Isabel de Aragão, a Rainha Santa. Castelo que,
por outro lado, também foi um dos que sofreu intervenções
ao nível das reparações e melhoramentos, tal como acon-
teceu a dezenas de outras estruturas militares situadas na
fronteira, ou em pontos de claro interesse estratégico, como
era a embocadura do rio Douro. Por outro lado, também
será interessante referir que, ainda a propósito da criação
dos Estudos Gerais, a igreja de Santa Maria de Gaia foi uma
das que cedeu parte das suas rendas para o sustento dos
lentes da nossa primeira alma mater.
A exemplo de seu pai, que em 1255 concedera foral a
Gaia, também D. Dinis se preocupou com o reforço do
povoamento da margem esquerda daquele rio, concedendo
foral a Vila Nova em Agosto de 1288. Recorde-se que, por
essa época, ainda o burgo do Porto era um senhorio epis-
copal, pelo que os monarcas fomentaram o desenvolvimen-
to dos dois núcleos da margem oposta do rio, Gaia e Vila
Nova, através das referidas cartas de foral, atraindo assim as
populações e, deve-se sublinhar, contrariando a hegemonia
do poder episcopal em torno de um dos principais eixos
fluviais e económicos do reino. Nesse mesmo sentido, de
resto, se deve entender a concessão de uma carta de criação
de feira em Gaia, em 1302.
JAS-P
DINIS, D., REI (1261-1325)
Selo de D. Dinis, in SOUSA, D. António Cae-
tano de [1738] – História genealógica da Casa Real
Portuguesa…, tomo IV, Lisboa: Na Officina de
Joseph Antonio da Sylva, gravura G – XXII.
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36. 36
Armas dos Coelho; Collecção dos Brazões das
Famílias Ilustres de Portugal, c. 1800; coleção
particular.
BIBLIOGRAFIA
- GUIMARÃES, J. A. Gonçalves (1990) – Tro-
vadores Medievais de Gaia. «Boletim da Associa-
ção Cultural Amigos de Gaia», n.º 29, Junho
de 1990, p. 43-50.
- MORAIS, Cristóvão Alão de (1943-1948) –
Pedatura Lusitana (Nobiliário de Famílias de Portu-
gal), tomo III, vol. I. Porto: Livraria Fernando
Machado, p. 31.
- MATTOSO, José (1985) – Portugal Medieval.
Novas Interpretações. Lisboa: Imprensa Nacional
– Casa da Moeda, p. 409-435.
- SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto
de (1995) – Os Patronos do Mosteiro de Grijó (Evo-
lução e estrutura da família nobre séculos XI a XIV).
Ponte de Lima: Edições Carvalhos de Basto,
p. 254-257.
- SOTTOMAYOR PIZARRO, José Augusto
de (1999) – Linhagens Medievais Portuguesas. Ge-
nealogias e Estratégias (1279-1325), vol. I. Porto:
Universidade Moderna/CEGHHF, p. 480-
491.
Filho de Pêro Anes Coelho e de Margarida Esteves da
Teixeira, era neto de João Soares Coelho, cavaleiro, trovador
e conselheiro de D. Afonso III, descendente de D. Egas
Moniz o Aio, através de Egas Lourenço de Riba Douro, o
qual, tendo estado em Castela, contactou os trovadores que
mais tarde se encontrarão na corte de Afonso o Sábio. Re-
gressado a Portugal após a Lide de Gaia (1245) e a morte
de D. Sancho II (1248), passa a fazer parte do círculo de D.
Afonso III, que dará foral a Gaia em 1255. Tendo casado
com Maria Fernandes d’ Ordens, foi pai de, entre outros
filhos, Pêro Anes Coelho, meirinho-mor de D. Dinis, que
casou com Margarida Esteves da Teixeira, e de Urraca Anes
Coelho, que viria a casar em segundas núpcias com Soeiro
Mendes Petite, pai de Maria Mendes Petite.
Do primeiro destes casamentos nasceria Estêvão Pires
Coelho de Riba de Homem, também cavaleiro e trovador,
o qual, tendo herdado bens por parte de sua mãe na Ter-
ra de Santa Maria, em 1322 é dado como vizinho de Vila
Nova de Gaia. A sua produção poética, do final da escola
galego-portuguesa, não é tão notável como a de seu avô,
mas possui alguma originalidade e inovação temática, pa-
tentes nas cantigas Se hoj’o meu amigo e Sedia la fremosa seu sirgo
torcendo. Casou com Maria Mendes Petite, filha do primeiro
casamento do acima nomeado Soeiro Mendes Petite, a qual,
por sua vez, estava ligada à família patronal dos mosteiros
de Canedo e de Grijó. Depois de enviuvar, fundou em 1345
o Mosteiro das Donas de Corpus Christi na ribeira de Vila
Nova.
Deste casamento nasceram, entre outros, João Esteves
Coelho, o Velho, que conjuntamente com seu sobrinho ho-
mónimo fará doação dos seus direitos sobre o padroado da
igreja de Canidelo ao infante D. Pedro em 1352, que logo os
passará a Inês de Castro; Estêvão Esteves Coelho, vassalo
do mesmo infante; e Pêro Esteves Coelho, um dos executo-
res da sentença de D. Afonso IV que ditou a morte de Inês
de Castro. Estes Coelho, por serem também descendentes
da família patronal do Mosteiro de Grijó, na classe dos in-
fanções, estão inscritos no Livro das Campainhas, mandado
elaborar por D. Pedro I em 1365 para se saber quais as ren-
das do mosteiro e quais os naturais que ali tinham, quando
em trânsito, direito de aposentadoria. Por isso aí encontra-
mos os nomes de João Coelho o Velho; Maria Coelha, sua
filha; Estêvão Coelho; e Soeiro Coelho.
Desta família gaiense descende o navegador Nicolau
Coelho, comandante da nau Bérrio da armada de Vasco da
Gama que em 1497 foi à Índia, de uma outra nau da frota
de Pedro Alvares Cabral que em 1500 descobriu o Brasil e
de uma outra também para o oriente em 1503, comandada
por D. Francisco de Albuquerque, que na volta se perdeu
no mar.
JAGG
ESTÊVÃO PIRES COELHO (c.1275-c.1336)
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40. 40
Armas dos Sá; Collecção dos Brazões das Famílias
Ilustres de Portugal, c. 1800; coleção particular.
BIBLIOGRAFIA
- SOTTOMAYOR-PIZARRO, José Augusto
de (1987) - Os patronos do mosteiro de Grijó. Evolu-
ção e estrutura da família nobre – séculos XI a XIV.
Porto: Faculdade de Letras da Universidade.
Dissertação de mestrado, p. 97-98; 327-328.
- ABRANTES, Marquês de (1986) – Gaia e os
Sás. In História de Gaia, fasc. 11. Vila Nova de
Gaia: Câmara Municipal/ Gabinete de Histó-
ria e Arqueologia, p. 443
Era filho de Rodrigo Anes de Sá, cavaleiro e alcaide de
Gaia por doação de D. Fernando I de 1367, e de sua primei-
ra mulher, Mécia Pires do Avelar. Os avôs paternos foram
João Afonso de Sá e Maria Martins. O pai tinha relação
patronal com o mosteiro de Grijó que passou para o filho,
que no seu testamento não esqueceu esta casa monástica.
Foi cavaleiro, camareiro-mor de D. João I e alcaide do
Porto, desde 1392, e por inerência de Gaia, onde sucedeu
ao pai.
Casou com Isabel Rodrigues Pacheco, filha de Diogo
Lopes Pacheco. Deste matrimónio nasceram os seguin-
tes filhos: Fernão Anes de Sá (que sucedeu no ofício de
camareiro, alcaidaria de castelos, e senhorio de terras em
préstamo, jure e herdade e em tença, com as jurisdições cí-
veis e crime, e os tributos, foros, rendas, direitos, conforme
confirmação de D. Duarte em 1435), Gonçalo Anes de Sá
(herdará o senhorio de Aguiar de Sousa), Rodrigo Anes de
Sá, Mécia Rodrigues de Sá e Filipa de Sá. Teve três filhos
bastardos, Guiomar de Sá (legitimada em 7 de outubro de
1427, morou no Porto e foi casada com João Vasques escu-
deiro), João Anes de Sá e Violante Anes de Sá, todos com
descendência, segundo Felgueiras-Gayo. O seu testamento
informa-nos de uma filha que professou no Mosteiro de S.
Domingos das Donas de Vila Nova.
Em 1390, o rei retirou-lhe a posse de Gaia-a-Peque-
na (direitos, rendas e tributos reais), para devolver a Airas
Gonçalves de Figueiredo, objeto de confisco em 1387.
Faleceu em 1425 e por vontade manifestada em testa-
mento está sepultado no Mosteiro de S. Francisco do Porto
em capela encimada pelo símbolo heráldico.
Quando se deu o seu passamento, o rei enalteceu e re-
sumiu a vida do seu vassalo na carta da sua sucessão: «con-
siderando os muitos e estremados e famosos serviços que
João Rodrigues de Sá, cavaleiro da nossa casa e nosso ca-
mareiro-mor, cuja alma Deus haja, feitos a nós e a nossos
reinos em defesa deles desde o começo da guerra que hou-
vemos com El-Rei D. João e com outros reis de Castela até
ao seu finamento, assim em começo do cerco da cidade de
Lisboa (onde ganhou a alcunha das Galés) e da Batalha Real
como em todos mesteres da guerra enquanto durou e ainda
na tomada de Ceuta. E por nos prazer sua nobre fama de
cavalaria não tão-somente ser galardoada a ele em sua vida
mais ainda depois da sua morte».
PJSC
JOÃO RODRIGUES DE SÁ, “O DAS GALÉS”
(<1360-1425)
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