1. O verdadeiro sentido do amanhã
Eng° Antonio Fernando Navarro, M.Sc.1
O “amanhã” tem sido, ultimamente, motivo de muitas discussões, sejam elas
técnicas, religiosas ou econômicas. Quase sempre, o foco principal das discussões não é o do futuro
do planeta, relativamente jovem e com uma longa sobrevida pela frente. Também não se entra no
mérito da sobrevivência da espécie humana. Mas então, por que há tantos questionamentos?
Os questionamentos têm surgido, mais recentemente, de uns 30 anos para cá, em
função de problemas pelos quais que passa o 3° Planeta do Sistema Solar, com uma população atual
que passa de 7 bilhões de pessoas. Somente a Ásia tem mais de 25% desse contingente de pessoas.
Portanto, a distribuição dos nossos concidadãos é bastante desigual.
O Banco Mundial e a FAO estimam que, no início dos anos 80, entre 700 milhões
e um bilhão de pessoas viviam em absoluta pobreza ao redor do mundo. No continente africano,
cerca de um em cada quatro seres humanos é subnutrido. Na Ásia e no Pacífico, 28% da população
passa fome. No Oriente Próximo, um em cada dez são subnutridos. A fome crônica afeta mais do
que 1,3 bilhões de pessoas, segundo a Organização Mundial da Saúde. Na América Latina, uma em
cada oito pessoas vai para a cama com fome todas as noites. No Brasil mais de 30 milhões de
pessoas são classificadas como indigentes pelas estatísticas oficiais. Em 1980, cerca de 44% da
população vivia em estado de pobreza absoluta. Em 1992 cerca de 20.000.000 morreram de
desnutrição ou fome. A cada dia morrem 38.000 crianças, vítimas de desnutrição ou fome.
Há questionamentos envolvendo a fome, principalmente no continente africano,
questionamentos também acerca da ocorrência dos fenômenos naturais que causam milhares de
vítimas. São os vulcões ativos, terremotos e maremotos, furacões e tornados e, mais recentemente,
um tsunami causado por um tremor de terra submarino, responsável pela morte de milhares de
pessoas. O tremor de terra foi tão intenso e profundo que alterou em alguns minutos de grau, o eixo
de rotação da Terra.
Todas essas ocorrências naturais têm provocado um repensar sobre o amanhã.
Além desses, a miséria extrema pela qual passam quase um bilhão de pessoas, que vivem com
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1. Antonio Fernando Navarro, professor da Universidade Federal Fluminense, físico, engenheiro
civil, engenheiro de segurança do trabalho, especialista em gestão de riscos, mestre em saúde e
meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
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2. menos de 2 US dólar por dia, também é razão de muitos questionamentos. Enquanto esse largo
contingente passa fome há desperdícios de alimentos em muitas partes do Globo, sejam esses pelo
excesso de manipulação ou das condições das colheitas, perdas localizadas durante o transporte ou
armazenagem, e outras. Em alguns momentos o percentual dessas perdas pode chegar a mais de 2%
de tudo o quanto é colhido.
As condições climáticas são desfavoráveis ao cultivo de alimentos para toda essa
população, em muitas das regiões do nosso pequeno mundo. Os combustíveis fósseis estão com os
seus dias contados, o efeito estufa prejudica-nos, o buraco de ozônio continua aí provocando
transtornos, e, com todo esse cenário pessimista, ou muitas vezes alarmista, o Homem segue sem
rumo navegando nesse mar de intranqüilidade e incertezas, sem saber o que será do próprio planeta
e da raça humana no futuro. Isso sem falar no aquecimento global, com o desprendimento de
icebergs maiores do que muitos países, errantes pelos mares, e o encolhimento da camada de gelo
em muitos glaciares. A falta de conhecimento por parte da população tem provocado uma
ressonância muito maior desse eco de reclamações.
Quando nos referimos a cultivo de alimentos associamos a disponibilidade de
terras, em condições de absorver as culturas e a existência de água para irrigar essas culturas.
Somente observando o fator da disponibilidade de água, um estudo da Our Food Our World – The
Realities of an Animal-Based Diet, Earth Save Foundation, Santa Cruz, de 1992, traça a seguinte
relação, entre a produção de 1kg de alimento e a quantidade de água necessária para tal:
Litros de água para cada 1kg de alimento
Tomates
39 l Alface
Batata
41 l Trigo
Cenoura
56 l Maçã
Laranja
111 l Leite
Ovos
932 l Galinha
Porco
2.794 l Gado
39 l
42 l
83 l
222 l
1.397 l
8.938 l
O fator terra é outro que é preocupante. Se a terra não é adequada ao manejo de
animais, às culturas ou à implantação de assentamentos urbanos as pessoas se deslocam de lá. Um
dos fenômenos que preocupa a todos é o da desertificação. O estudo da Our Food Our World – The
Realities of an Animal-Based Diet, Earth Save Foundation, Santa Cruz, de 1992 apresenta a
seguinte situação:
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meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
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3. O uso intensivo da terra encorajado pela necessidade de produzir alimentos de
origem animal de modo competitivo fez com que a desertificação se espalhasse amplamente em
muitos países. Desertificação é o empobrecimento de ecossistemas áridos, semi-áridos e sub-áridos
pelo impacto das atividades humanas. As regiões mais afetadas pela desertificação são as áreas
produtoras de gado, inclusive o oeste americano, a América Central e do Sul, a Austrália e a África
Subsaariana.
A desertificação dos campos e florestas deslocou a maior massa migratória na
história do mundo. Na virada do século, mais de metade da população viverá em áreas urbanas. A
quantidade de terra tornada improdutiva pela desertificação anualmente no mundo é de
aproximadamente 21 milhões de hectares. O percentual da terra no mundo que sofre desertificação
é de cerca de 29%. As principais causas de desertificação são:
•
Pastoreio excessivo
•
Cultivo intensivo da terra
•
Técnicas impróprias de irrigação
•
Desflorestamento
•
Falta de reflorestamento
•
Criação de gado
O Portal do Meio Ambiente da Rede Brasileira de Informação Ambiental diz que
a desertificação já afeta a 1,2 bilhão de pessoas em todo o mundo, Ainda segundo artigo publicado
em seu site (http://www.portaldomeioambiente.org.br/jovens/13.asp), tem-se:
As graves conseqüências da desertificação causada pela ação humana, colocando
mais de 1,2 bilhão de pessoas em 100 países em risco, fez com que a ONU soasse o alarme no Dia
Mundial da Luta contra a Desertificação, comemorado no dia 17 de junho de cada ano.
Devido ao aquecimento global, espera-se que a quantidade de fenômenos
meteorológicos extremos, como secas e chuvas intensas, continue aumentando, com um efeito
grave em solos já danificados, afirma o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em mensagem
divulgada. A tendência "piorará a desertificação e aumentará a prevalência da pobreza, a migração
forçada e a vulnerabilidade perante os conflitos nas regiões afetadas", diz Ban. Todas as agências da
ONU e os governos de vários países admitem o retrocesso do desmatamento, das terras cultiváveis e
das florestas, assim como a carência de água, problemas que já geraram mais pobreza, o avanço dos
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meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
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4. desertos e um número cada vez maior de refugiados por causa da fome. Em março, o secretárioexecutivo da Convenção da ONU Contra a Desertificação, Hama Arba Diallo, afirmou que este
processo é um problema cujas conseqüências têm escala planetária.
Além disso, o representante da ONU lembrou a meta mundial de reduzir a
pobreza à metade até 2015, um dos Objetivos do Milênio, mas acrescentou que este propósito mal
poderá ser cumprido "caso não se tomem medidas para abordar a conservação do principal
instrumento de vida que os países em desenvolvimento têm, que é a terra".
Por continentes, a África Subsaariana é a região "com o maior índice de
desertificação do mundo", fenômeno que atinge ainda 25% da América Latina e do Caribe, entre
outros lugares, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Estima-se que até 2020 cerca de 135 milhões de pessoas correrão risco de serem obrigadas a
abandonar suas terras devido à contínua desertificação. Destas, 60 milhões serão da África
Subsaariana. Já na Ásia, com 1,7 bilhão de hectares de terra árida, semi-árida e semi-úmida, as
regiões prejudicadas incluem desertos crescentes na China, Índia, Irã, Mongólia e Paquistão; as
dunas de areia da Síria; as montanhas erodidas do Nepal; e o desmatamento e pecuária extensiva
das regiões montanhosas do Laos. Quanto ao número de pessoas afetadas pela desertificação e pela
seca, a Ásia é o continente mais prejudicado, de acordo com a ONU.
Na América Latina, apesar das florestas tropicais úmidas da região, a perda de
terras de cultivo e de vegetação afeta 313 milhões de hectares na região e no Caribe (250 milhões na
América do Sul e 63 milhões na América Central e no México). Diante deste problema, os paísesmembros do Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, criaram em março, em
conjunto com Bolívia e Chile, uma estratégia que busca uma alternativa econômica para as terras
empobrecidas.
Já na Europa, o chamado grupo do Mediterrâneo Norte, formado por Espanha,
Portugal, Itália, Turquia e Grécia, é uma das quatro regiões que, segundo a convenção das Nações
Unidas, é afetada pela desertificação. Um dos países nos quais é possível constatar uma maior
desertificação é o Sudão, onde o problema afeta 13 das 15 províncias, o que representa uma
superfície total de 414 mil quilômetros quadrados, segundo o governo sudanês.
A desertificação também preocupa a China, onde avança a um ritmo de 1.283
quilômetros quadrados ao ano e já afeta 400 milhões de pessoas diretamente, de acordo com a
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5. Administração Estatal Florestal. Cerca de 18% do território chinês já é uma área desértica,
principalmente a faixa norte e oeste, embora outros 14% sofram as conseqüências da desertificação,
que se estende praticamente por todo o país, segundo o departamento oficial
O aquecimento global é outro fenômeno climático de larga extensão, que vem
acontecendo nos últimos 150 anos, ou pelo menos sendo registrado nesse período, causando o
aumento da temperatura média da superficie da Terra.
Variação da temperatura global e de concentração de dióxido de carbono presente
no ar nos últimos 1000 anos. (Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, estabelecido
pelas Nações Unidas e pela Organização Meteorológica Mundial em 1988)
De acordo com as Nações Unidas (IPPC) a maioria do aquecimento observado
durante os últimos 50 anos pode ser devido ao efeito estufa. Ainda segundo esse o efeito estufa
pode provocar uma série de fenômenos como:
•
Elevação da temperatura média da superfície da Terra entre 2°C a 4,5°C, até o final deste século.
•
2.000 quilômetros quadrados de solo fértil sendo transformado em deserto devido à falta de
chuvas, todo ano.
•
Desaparecimento de 40% das árvores da Amazônia, antes do final do século, se a temperatura
subir de 2°C a 3°C graus Celsius.
•
Redução de 2.000 metros do comprimento que a geleira Gangotri no Himalaia (que tem agora 25
km), nos últimos 150 anos, com o rítmo de redução do tamanho ampliando-se.
•
Emissão anual de 750 bilhões de toneladas de CO2 na atmosfera.
•
Desaparecimento completo da calota polar, dentro dos próximos 100 anos, de acordo com
estudos publicados pela National Sachetimes de New York em julho de 2005, provocando o fim
das correntes marítimas no Oceano Atlântico, fazendo com que o clima fique mais frio.
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6. •
Extinção de 9% a 58% das espécies da terra e do mar nas próximas décadas.
Saindo um pouco da linha mais acadêmica, a história antiga nos conta que,
quando a população extrapolava os limites do respeito à Deus, uma desgraça caia sobre essa
dizimando-a (vide Sodoma e Gomorra). Será que estamos assistindo o final dos tempos? Cremos
que não.
A Terra é um “Ser Vivo” e em perfeito equilíbrio. Quando uma parte desse
equilíbrio é rompida há toda uma ação no sentido de se restabelecê-lo. Alguns chamam a isso de Lei
da Ação e Reação. Assim, por exemplo, há vulcões que expelem magma. A expulsão do magma
pode criar ilhas ou ampliá-las, como no caso da Islândia, que se situa ao norte do Oceano Atlântico,
quase no meio do caminho entre a Europa e a América do Norte, como também pode destruí-las,
que foi o que ocorreu com a ilha de Santorini, próximo à Grécia. Isso é uma incoerência? Não, é o
Ser Vivo reajustando o seu equilíbrio. Há as correntes marinhas que regulam a temperatura dos
mares. O degelo da Antártica reduz a temperatura do mar, e as correntes marinhas às distribuem por
todo o oceano. Então, é natural que haja tremores de terra, vulcanismo, degelo e por aí vai. É o ciclo
do Ser Vivo Terra funcionando. Todavia, há momentos em que o reequilíbrio da Terra se choca
contra algo que foi produzido pelo homem. O resultado então é catastrófico.
O Homem busca, antes de tudo, o crescimento da sua própria espécie. O
crescimento, quase sempre desordenado, altera o equilíbrio da Terra, criando clareiras nas matas
para assentamentos urbanos, desviando rios para a irrigação das lavouras, consumindo a água dos
lençóis freáticos para o abastecimento das cidades, alterando as características dos climas com a
construção de grandes represas, extraindo os recursos naturais de maneira descontrolada. Enfim,
apronta com o Planeta Terra e depois se diz vítima do processo de reação.
Mas então, o que fazer para que o nosso planeta continue nos sustentando e nós
possamos vislumbrar o amanhã? Apenas a prevenção contra esses fenômenos bastará para o
restabelecimento do equilíbrio?
Nessa nossa introdução ao tema proposto levantamos algumas questões
importantes, mais de cunho filosófico, para a compreensão do nosso tema. Falamos sobre o
equilíbrio, o crescimento da população, geração de alimentos, efeito estufa, desmatamento, e sobre
eles iremos fazer uma abordagem simples, apresentando o nosso ponto de vista. Para nós, a palavra
chave será a prevenção, palavra essa bastante utilizada no mercado segurador.
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meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
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7. Não se deve buscar a prevenção para todos os problemas que vivenciamos ou que
percebemos por ocorrer no mundo, no seu sentido mais puro, privando àqueles seres que nos
sucedem, dos mesmos benefícios que um dia já tivemos. Seria a mesma coisa que eliminar os que
estarão por vir, deixando somente para nós o que ainda resta. Com essa filosofia, como não haverá
mais o crescimento da população, quando o último Ser Humano se for o Planeta Terra já terá
iniciado a regeneração do seu sistema, ou não ........
A questão mais importante talvez esteja na lógica do saber empregar aquilo que
nos foi disponibilizado pela natureza. Essa nos dá alimento para o sustento, remédio para nossos
males, água para o nosso asseio, materiais para o nosso abrigo, beleza para o nosso deleite. Ou seja,
nos dá tudo o que precisamos. Durante milhares de anos não havia remédios manipulados. Os
alimentos eram orgânicos, os peixes eram pescados próximo das casas em rios limpos.
O Homem gasta mais do que necessita, isso é facilmente comprovado. Muitas
vezes, os recursos de que dispomos nos fazem naturalmente gastadores. Imprimimos folhas e folhas
de papel só porque é mais prático tê-los na mão do que ler o texto na tela do computador.
Imprimimos folhas de testes porque não queremos corrigir o texto enquanto o digitamos. Não
parecendo “ecoxiitas” ou “biodesagradáveis”, será que não estamos colaborando para a derrubada
de mais matas?
Parece-nos uma medida tola ou primária, mas se levarmos em conta que não só
nós fazemos isso, como também milhares de outras pessoas também o fazem em igual medida,
começaremos a repensar conceitos.
O mesmo ocorre com a luz deixada acesa no cômodo vazio da casa, o vidro de
compota que jogamos no lixo ao invés de destiná-lo à reciclagem e etecetere e tal. Muitas são as
campanhas existentes sobre essas questões, quase sempre comandadas por agências não
governamentais. A primeira tendência nossa é a do descrédito das medidas, por acreditarmos que os
recursos naturais que estão ao nosso redor são inesgotáveis. Será que despejar o óleo usado na
fritura dentro do vaso sanitário irá causar algum tipo de degradação ambiental? Talvez muita gente
acredite que não, já que não joga fora o óleo todos os dias, mas isso é um dos grandes fatores
causadores da poluição dos rios.
Há alguns anos atrás uma empresa da cidade do Rio de Janeiro contratou
especialistas para verificar se era mais barato desligarem-se todas as luzes do prédio ao final do
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8. expediente do que mantê-las acesas à noite toda. Na época os experts entenderam que era melhor
deixá-las acesas porque os reatores de partida das lâmpadas, todas às vezes em que eram acionados,
aumentavam o consumo de energia em mais 40%. Enquanto isso o tal prédio de muitos andares
ficava com as suas luzes acesas a noite toda, gerando um desperdício de energia elétrica, fazendo
com que as hidroelétricas ou termoelétricas trabalhassem mais.
Um outro prédio, também da mesma cidade, inovou a quase vinte anos atrás,
instalando uma “fábrica de gelo” no alto do prédio. Após o expediente normal a “fábrica” entrava
em operação, produzindo o gelo que ao derreter-se no dia seguinte era transformado em água gelada
no sistema de ar condicionado do prédio, gerando uma redução do consumo de energia.
Outro prédio resolveu inovar alterando as fachadas de vidro, ampliando a entrada
de luz natural e reduzindo o consumo de energia elétrica na iluminação interior.
Se formos buscar em nossas memórias muitas são as idéias criativas que não
prosperaram por várias razões. Teve até o prédio giratório em Curitiba, onde, de acordo com a hora
do dia, cada parte do apartamento era iluminado pelos raios de sol.
Mas, o que tudo isso a ver com a nossa questão principal levantada aqui: O
verdadeiro sentido do amanhã?
Novas doenças, com perfil de epidemias ou de pandemias desafiam a ciência, que
busca correr à frente delas atrás da prevenção. Novos alimentos são lançados, sem que tenhamos a
certeza de que estamos ingerindo algo bom para o nosso organismo.
A população fica cada dia mais obesa porque busca o alimento fácil, a ingestão
dos mesmos acompanhada pelo stress cada vez maior e tudo isso, em um tempo mais curto. O
alimento saudável feito em casa na hora do almoço, seguido por um cochilo rápido não existe mais,
já que o trânsito não deixa, os atropelos do dia-a-dia exigem mais e mais a nossa presença contínua,
a disputa pela nossa vaga de trabalho nos obriga a “suar a camisa” mais e mais. Ou seja, tudo
conspira para que terminemos por fazer o nosso lanche na própria mesa do trabalho enquanto
estamos à frente do computador. O Homem deixa de ser o Ser Humano e passa a ser uma
Engrenagem da grande máquina empresarial, suscetível de ser substituído a qualquer momento. Em
resumo, nos alimentamos mal, trazendo conseqüências para o nosso corpo, com o aumento de
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9. doenças provocadas por carências de vitaminas e de sais minerais, o aumento da obesidade e outros
fatores mais. E o verdadeiro sentido do amanhã?
Amanhã, e amanhã, e amanhã
Arrasta-se neste passo sorrateiro dia após dia
Até a última sílaba de tempo,
E todos os nossos dias passados mostraram-se tolos
Caminho direto para a morte sombria. Fora, fora breve vela!
A vida não é mais do que uma sombra errante, um pobre jogador
Que caminha e incomoda durante seus momentos sobre o tabuleiro
E então dele nada mais se ouve. É um conto
Contado por um idiota, cheio de barulho e fúria,
Significando nada.
Macbeth, Ato 5, Cena 5, linhas 22-31
Nossas atividades são válidas por elas mesmas, e não porque elas atendem a
algum desconhecido propósito transcendental.
Estas considerações mostram que nós devemos criar nosso próprio sentido para
nossas vidas independentemente de se nossas vidas servirem ou não a um propósito maior. Se
nossas vidas têm ou não sentido para nós depende de como as julgamos. Nós atribuímos valores
para coisas na vida ao invés de descobrí-los. Não pode haver sentido na vida fora o sentido que
criamos para nós mesmos porque o universo não é um ser consciente que pode atribuir valores para
as coisas. Mesmo se um deus consciente existisse, o valor que ele iria atribuir a nossas vidas não
seria o mesmo que nós teríamos e portanto seria irrelevante. (Keith Augustine, Universidade de
Maryland, College Park).
As Nações Unidas, em Assembléia Geral de 22 de dezembro de 1989, através da
Resolução 44/228, definiram uma pauta estratégica, mais tarde denominada de Agenda 21, sobre a
necessidade de se adotar uma abordagem equilibrada e integrada das questões relativas a meio
ambiente e desenvolvimento, em todo o Mundo. Muitos dos países que têm maior peso nas Nações
Unidas postergaram a adoção imediata do conteúdo da Agenda, sob a alegação de que essas
medidas poderiam conter o desenvolvimento econômico, em seus próprios países.
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10. Quase que na mesma época houve outra reunião com o propósito semelhante,
rechaçada pelos mesmos países, denominado de Protocolo de Kyoto. Essa foi uma natural
conseqüência de uma série de eventos iniciados com a Toronto Conference on the Changing
Atmosphere, em outubro de 1988, seguida pelo IPCC's (First Assessment Report em Sundsvall)
realizado na Suécia em agosto de 1990, e que culminou com a Convenção Marco das Nações
Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC) na ECO-92 no Rio de Janeiro, em junho de 1992.
O protocolo estimula os países signatários a cooperarem entre si, através de
algumas ações básicas:
Reformar os setores de energia e transportes;
Promover o uso de fontes energéticas renováveis;
Eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da Convenção;
Limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos;
Proteger florestas e outros sumidouros de carbono.
O Protocolo de Kyoto constitui-se em um tratado internacional com
compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito estufa,
considerados, de acordo com a maioria das investigações científicas, como causa do aquecimento
global. Oficialmente entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, depois que a Rússia o ratificou
em Novembro de 2004.
Por ele se propõe um calendário pelo qual os países desenvolvidos têm a
obrigação de reduzir a quantidade de gases poluentes em, pelo menos, 5,2% até 2012, em relação
aos níveis de 1990. Os países signatários terão que colocar em prática planos para reduzir a emissão
desses gases entre 2008 e 2012.
Em uma medida paralela foi estabelecida a Agenda 21, que passou a ser um marco
divisório nas questões ambientais, sendo adotado por quase todas as grandes empresas e agora,
sendo apresentado ao Mercado Segurador Brasileiro. A Agenda 21 é uma “carta de intenções”, onde
deve ficar demonstrado o compromisso das instituições, públicas e privadas e do estado para com as
questões de sustentabilidade de nosso Planeta. Deve ficar claro que, nessa Nau que navega pelo
Universo, chamada Terra, a sorte de um está intimamente relacionada à sorte do seu companheiro
de viagem. Os destinos de todos estão intimamente entrelaçados. Não podemos nos dar ao luxo de
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11. ignorar o que os outros deixam de fazer. Até por isso, e com base na responsabilidade social de
todos, essa Agenda deve ser cumprida.
O slogan da Agenda 21 Global é: pense globalmente, aja localmente. O objetivo
principal da Agenda 21 é a mudança do padrão de desenvolvimento, a ser praticado pela
humanidade no século XXI. A este novo padrão, que concilia justiça social, eficiência econômica e
equilíbrio ambiental, convencionou-se chamar de Desenvolvimento Sustentável. Portanto, a Agenda
21 não visa somente objetivos ambientais, tampouco é um processo de elaboração de um
documento de governo. É um pacto ético entre os três principais setores da sociedadegovernamental, civil e produtivo - com o futuro. Assim, há a Agenda Nacional, A Agenda Regional
e a Agenda estadual. Cada empresa ou instituição pode e deve compor sua agenda.
Uma das molas mestra do processo é a questão da sustentabilidade. Isto porque,
só colhermos ou coletarmos adequadamente os recursos que a natureza nos oferece não significa
que estejamos agindo corretamente. Para que exploremos temos que pensar na sustentabilidade.
O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou múltiplas dimensões, na
medida em que os estudiosos passaram a incorporar outros aspectos das relações sociais e dos
indivíduos com a natureza:
Sustentabilidade ecológica: refere-se à base física do processo de crescimento e tem como
objetivo a manutenção de estoques de capital natural incorporados às atividades produtivas.
Sustentabilidade ambiental: refere-se à manutenção da capacidade de sustentação dos
ecossistemas, o que implica a capacidade de absorção e recomposição dos ecossistemas em face
das interferências antrópicas.
Sustentabilidade social: tem como referência o desenvolvimento e como objeto a melhoria da
qualidade de vida da população. Em países com desigualdades, implica a adoção de políticas
distributivas e/ou redistributivas e a universalização do atendimento na área social,
principalmente na saúde, educação, habitação e seguridade social.
Sustentabilidade política: refere-se ao processo de construção da cidadania, em seus vários
ângulos, e visa garantir a plena incorporação dos indivíduos ao processo de desenvolvimento.
Sustentabilidade econômica: implica uma gestão eficiente dos recursos em geral e caracterizase pela regularidade de fluxos do investimento público e privado – o que quer dizer que a
eficiência pode e precisa ser avaliada por processos macrossociais.
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12. Sustentabilidade demográfica: revela os limites da capacidade de suporte de determinado
território e de sua base de recursos; implica cotejar os cenários ou tendências de crescimento
econômico com as taxas demográficas, sua composição etária e contingentes de população
economicamente ativa.
Sustentabilidade cultural: relaciona-se com a capacidade de manter a diversidade de culturas,
valores e práticas no planeta, no país e/ou numa região, que compõem ao longo do tempo a
identidade dos povos.
Sustentabilidade institucional: trata de criar e fortalecer engenharias institucionais e/ou
instituições que considerem critérios de sustentabilidade.
Sustentabilidade espacial: norteada pela busca de maior eqüidade nas relações inter-regionais.
Na pesquisa nacional O Que o Brasileiro Pensa do Meio Ambiente, do
Desenvolvimento e da Sustentabilidade (Ministério do Meio Ambiente/ISER, 1997), ficou
demonstrado que há forte empatia da população com os temas da sustentabilidade. Existe uma elite
multissetorial – empresários, cientistas, parlamentares, líderes de movimentos sociais, dirigentes de
ONGs ambientalistas e civis – que já opera com razoável desenvoltura o conceito e nele identifica
pelo menos quatro dimensões básicas:
uma dimensão ética, onde se destaca o reconhecimento de que no almejado equilíbrio ecológico
está em jogo mais que um padrão duradouro de organização da sociedade – está em jogo a vida
dos demais seres e da própria espécie humana (gerações futuras);
uma dimensão temporal, que rompe com a lógica do curto prazo e estabelece o princípio da
precaução (adotado em várias convenções internacionais de que o Brasil é signatário e que têm
internamente, com a ratificação pelo Congresso, força de lei), bem como a necessidade de
planejar a longo prazo;
uma dimensão social, que expressa o consenso de que só uma sociedade sustentável – menos
desigual e com pluralismo político – pode produzir o desenvolvimento sustentável;
uma dimensão prática, que reconhece como necessária a mudança de hábitos de consumo e de
comportamentos.
Essas quatro dimensões complementam a dimensão econômica, que foi a mais
destacada nas primeiras discussões a partir dos enunciados do Relatório Brundtland.
Em última análise, o conceito de desenvolvimento sustentável está em processo de
construção. É e será ainda motivo de intensa disputa teórico-política entre os atores que participam
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civil, engenheiro de segurança do trabalho, especialista em gestão de riscos, mestre em saúde e
meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
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13. de sua construção – governos nacionais, organizações internacionais, organizações nãogovernamentais, empresários, cientistas, ambientalistas etc.
Agora, voltando à nossa primeira questão, que deu o título desse artigo: O
verdadeiro sentido do amanhã; chegamos à conclusão que o sentido passa necessariamente por
corrigir-se os erros do passado, enquanto ainda temos tempo, bem como estabelecermos regras que
nos assegurem, ou que assegurem às próximas gerações que os recursos que estaremos deixando
como herança, mesmo não sendo efetivamente nossos, já que são naturais, estarão em condições de
serem utilizados e usufruídos por eles.
O presente questionamento sobre alguns pequenos fatores que podem por em
risco o equilíbrio de nosso Planeta, serve para demonstrar o estado de fragilidade em que esse se
encontra. Parte do processo, é claro, é devido às próprias conturbações do planeta, como os
terremotos, erupções vulcânicas, ciclones e tornados, e parte pela ação depredatória causada pelo
Homem. Há ainda mecanismos para frear a ação incessante do ser humano sobre a natureza.
As nações reunidas elaboraram o Protocolo de Kyoto. Há a Agenda 21,
constituída por princípios norteadores de nossas ações. Há ações pontuais de alguns países.
Todavia, a maior ação será aquela com a mobilização de todos em uma só direção e sentido.
Há muitos anos atrás eu ministrava uma aula para uma turma de 3° ano colegial,
abordando uma questão de Física. Disse-lhes na época que poderíamos assistir a uma partida de
futebol no Maracanã com um palito de fósforo aceso em nossas mãos, e sem a iluminação do
estádio. Houve um questionamento até que lhes disse que se todos estivessem com os seus palitos
de fósforos acesos teríamos luz suficiente naquele local, principalmente se o estádio estivesse
lotado. Ou seja, ações isoladas são importantes mas não o suficiente.
Estamos em uma fase onde as empresas devem se questionar se estão fazendo a
sua parte de maneira eficaz e consciente. Como já tivemos a oportunidade de dizer, nosso Planeta é
uma Nau que vagueia pelo espaço e que precisa de todos para concluir a sua jornada, pois tem um
espaço limitado, uma carência de recursos para continuar a viagem, uma trajetória conturbada e
cheia de obstáculos e, para piorar a situação, muitos comandantes e timoneiros que a desviam da
rota a todo instante. Se alguém não fizer a sua parte irá, com certeza prejudicará os outros. Ações
aparentemente simples como: segregar o lixo caseiro e industrial, economizar a água de casa
enquanto tomamos banho e escovamos os dentes, dispor para a reciclagem embalagens de metal,
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1. Antonio Fernando Navarro, professor da Universidade Federal Fluminense, físico, engenheiro
civil, engenheiro de segurança do trabalho, especialista em gestão de riscos, mestre em saúde e
meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
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14. plástico e vidro, reciclar o papel do escritório, desenvolver projetos que levem em consideração
uma maior insolação associada a uma ventilação natural adequada, e outras mais, são importantes.
As Seguradoras, como parte desse universo de empresas do Planeta Terra, através
de sua Federação, também devem estar engajadas no processo, que pode se dar por intermédio de
ações simples e objetivas, seja elaborando e implementando suas Agendas, divulgando ações
específicas que beneficiem o Meio Ambiente e a Sustentabilidade Ambiental, reavaliando as taxas
de seguros com o objetivo de beneficiar ações ou projetos que contribuam menos para a poluição de
nosso Planeta, como por exemplo, reduzindo as taxas para os automóveis elétricos, beneficiando as
indústrias que poluam menos ou aquelas que causem menos problemas ao meio ambiente, dando
um tratamento diferenciado às empresas que atuam fortemente com a questão da Responsabilidade
Social. Enfim, essas questões somente as próprias empresas devem responder. Se a resposta for
favorável o Planeta Terra com certeza irá agradecer e os próximos seres a chegar a essa Nau
também.
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1. Antonio Fernando Navarro, professor da Universidade Federal Fluminense, físico, engenheiro
civil, engenheiro de segurança do trabalho, especialista em gestão de riscos, mestre em saúde e
meio ambiente, tendo atuado como coordenador e ou gerente de QSMS em empresas da área de
Óleo e Gás – navarro@vm.uff.br