1) O documento descreve a evolução histórica do uso da tecnologia no ensino de línguas estrangeiras, desde a escrita até o computador.
2) As primeiras tecnologias utilizadas foram livros, fonógrafos e fitas magnéticas para áudio, enquanto filmes e televisão eram usados para vídeo.
3) O computador tornou-se uma importante ferramenta para ensino de línguas a partir da década de 1960, permitindo novas formas de comunicação como a internet.
Tecnologias no ensino de línguas: retrospectiva histórica
1. O USO DA TECNOLOGIA NO ENSINO
DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: breve
retrospectiva histórica
Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG/
CNPq/ FAPEMIG)
PAIVA, V.L.M.O. O uso da tecnologia no ensino de línguas
estrangeiras: breve retrospectiva histórica (submetido à publicação)
2008 disponível em http://www.veramenezes.com/techist.pdf
2. 1. Introdução
Sempre que a tecnologia avança e sugere
algo novo em relação ao que já está
convencionado ocorre a reação entre adesão
e a crítica ao novo. No sistema educacional
essa relação dialética não é diferente e
quando surge uma nova tecnologia, no
primeiro momento é vista com desconfiança e
rejeição mas, aos poucos, ela começa a
integrar as atividades sociais da linguagem e
a escola termina por utilizá-la em suas
práticas pedagógicas.
3. 2. A tecnologia da escrita
A história do livro:
Volumen: rolo de folhas de papiro.
Códex: se aproximava aos livros de hoje, feito
com pergaminhos, peles de animais ou folhas
de papiro unidas por uma costura.
Imprensa: invento de Gutemberg em 1442.
Primeira grande revolução tecnológica na
história da cultura humana.
4. A socialização do livro
Não foi um processo tranquilo. Enfrentou os
mesmos problemas que os trazidos pela
inserção do computador em nossa sociedade.
Códex: era caro e privilégio de poucos.
Segundo Paiva (2008) citando Chartier
(1994), os leitores que adotaram o códex não
pertenciam à elite letrada e estavam ainda
muito ligados aos modelos gregos, o
volumen.
5. “a cultura escrita é inseparável dos gestos
violentos que a reprimem.” (CHARTIER,
1999, p.23 apud PAIVA, 2008, p.3).
Estado e Igreja: censuraram o códex
cuja prática estendeu-se aos livros ao
longo do tempo.
Igreja Católica: índex – lista de livros
proibidos considerados hereges no
século XIV.
Nazismo: incineração de livros durante
o regime autoritário no século XIX.
6. De acordo com Paiva (2008), o livro didático
também sofreu sanções restritivas ao seu uso
por razões econômicas ou políticos.
China: em 1993 era negado o acesso dos
livros ingleses aos alunos. Material didático de
má qualidade e sem ilustrações. A censura
política proibia o uso de antena parabólica e
consequentemente o acesso à programação
em língua estrangeira. Paiva (1995).
7. O computador na atualidade
Hoje é o computador que sofre
restrições nos ambientes escolares para
acesso à sites como ORKUT, salas de
bate-papo e aos vídeos do Youtube.
Nos ambientes familiares os jovens são
proibidos de obter informações sobre
assuntos como sexo e, se o fazem,
fazem escondidos dos adultos.
8. 2.1 As tecnologias no ensino
de línguas
Para o ensino de línguas os primeiros livros
foram as gramáticas. “O conceito de ensino
de línguas equivalia ao da oferta de
descrições linguísticas. Aprender uma língua
significava aprender a sintaxe dessa língua.”
(PAIVA, 2008, p.3)
O primeiro livro ilustrado foi o de Comenius, o
Orbis Sensualim Pictus que na verdade
continha um vocabulário ilustrado e foi
publicado em 1658 para a educação infantil.
9. Comenius X Lambert Sauver
Comenius: defendia o uso de livros na sala de
aula e acreditava que as imagens como
experiências sensoriais “(...) auxiliavam a
memória e que a percepção ajudava a imprimir
a imagem na mente. A aquisição de
vocabulário era sinônimo de memorização de
itens lexicais.” (PAIVA, 2008, p.4)
Sauver: era contra o uso do livro na escola.
Para ele a sala de aula era para trabalhar a
audição e o livro deveria ser lido em casa
como preparação para as aulas.
10. 3. Tecnologias de áudio e
vídeo
A reprodução de som e vídeo
configurou-se em uma grande inovação
tecnológica. Primeiro foram os
aparelhos que reproduziam o som,
depois as máquinas de projeção de
imagem e em seguida equipamentos
que projetavam a imagem e
reproduziam o som simultaneamente.
11. As inovações tecnológicas:
evolução no ensino de línguas
Fonógrafo: reproduzia sons gravados em
cilindros ou discos metálicos.
Gramofone: reproduzia sons gravados em
discos sob a forma de sulcos aspirados.
Fita magnética: mídia de armazenamento não
volátil que consiste em uma fita plástica
coberta de material magnetizável.
12. Com uma tecnologia que permitia a gravação
e reprodução de som, foi possível levar para
a sala de aula material gravado com amostras
de fala de falantes nativos. O foco era na
oralidade, no entanto acreditava-se que a
aprendizagem da habilidade oral ocorria pela
imitação e repetição sistemática de falas
gravadas por nativos.
13. Primeiros materiais didáticos
gravados segundo Kelly (1969)
The International Correspondence Schools
of Scranton: responsável pelo primeiro
material didático gravado em 1902 e 1903.
Linguaphone: empresa inglesa fundada pelo
professor e tradutor Jacques Roston que, de
acordo com Paiva (2008, p.5), avoca para si
o pioneirismo da associação dos métodos
tradicionais escritos com as gravações em
áudio.
14. Cartoons e Filmes: em 1930 os estúdios
Disney produziram cartoons para o
ensino de inglês básico dando início ao
uso de filmes para essa prática. Outros
filmes foram produzidos por CREDIF
(Centre de Recherce et d’Étude pour la
Diffusion du Français).
15. Os aparelhos e seus usos no
ensino de línguas
O gravador de fita magnética: permitiu, na
década de 40 que alunos gravassem suas
leituras, exercícios de repetição e pudessem
avaliar o próprio desempenho.
O rádio: não exerceu muita influência no meio
escolar por suas transmissões em tempo real
não permitirem compatibilidade do horário
escolar com os programas.
16. Inventada em 1926 por John Baird a televisão só
chegou ao Brasil em 1950. Paiva (2008) revela que o
rádio e a televisão dentre todas as tecnologias de
áudio e vídeo foram as de maior socialização, no
entanto pouco contribuíram no ensino escolar formal.
A televisão na sala de aula da escola regular toma
nova dimensão ao ser usada para a visualização de
vídeos didáticos e outros que pouco a pouco migram
para CD-Roms e DVDs.
A escola busca nas novas tecnologias, ferramentas
paras suas práticas pedagógicas intentando melhorar a
mediação entre aprendiz e língua estrangeira.
17. 4. O COMPUTADOR
Surge nos Estados Unidos no período da
Guerra Fria com o intuito de transferir e
proteger dados através da rede
eletrônica ARPANET.
18. O Ensino de Línguas Mediado pelo
Computador
Teve início em 1960 na Universidade de
Illinois nos Estados Unidos com o
projeto PLATO (Programmed Logic for
Automatic Teaching), que oferecia
instrução mediada pelo computador em
várias línguas.
19. Paiva (2008) de acordo com Wooley (1994),
esclarece que o projeto PLATO se expandiu
muito nos EUA durante a década de 70,
começando com aproximadamente 20 alunos
e depois passando para um computador
mainframe que possibilitou a interação entre
muitas pessoas através dos milhares de
terminais dispostos no país a partir da década
de 80.
20. No Brasil, na década de 80 surgiram os
primeiros PCs (computadores pessoais).
Na Inglaterra foram criados programas de
reconstrução de texto: Storyboard e
Adam&Eve.
Em 1991 no Brasil é criada a Rede Nacional
de Pesquisa idealizada pelo CNPq interligando
universidades e possibilitando a interação
verbal entre professores universitários e
parceiros no exterior.
21. Segundo Paiva (2008, p.9) o acesso público
aos computadores:
(...) só teve início em 1994, com as provedoras
particulares, e, em 1997, chega a WWW nos
moldes que conhecemos hoje. Surgiram novas
formas de comunicação e os aprendizes de
línguas estrangeiras puderam, pela primeira
vez, ter acesso às páginas da Internet e
interagir com falantes das línguas por meio de
e-mail, lista de discussões e fóruns.
22. Em 1995 David Sperling cria a ESL Cafe,
uma das primeiras páginas com material
gratuito para alunos e estudantes.
A evolução da tecnologia da informática
foi ampliada rapidamente integrando
todas as tecnologias de escrita áudio e
vídeo já dispostas na sociedade.
23. “Os recursos de comunicação
instantânea como o ICq, hoje
substituído pelo MSN, deram impulso às
interações por mensagem escrita com
acréscimo gradual de recursos de vídeo
e áudio.” (PAIVA, 2008, p.9).
24. Internet no século XXI: a WEB 2
O usuário não é mais simples
consumidor, agora ele pode produzir.
Surgem o Orkut, os blogs, os
repositórios de vídeos como Youtube e
torna-se possível uma enciclopédia
mundial feita pelos próprios internautas,
a Wikipédia.
25. 5. Rumo à normalização
De acordo com Pennington(1996),
Paiva(2008) explicita as situações que
contribuíram para a inserção do
computador na sociedade:
Redução de tamanhos e custos;
Grande variedade de softwares;
Mudança de atitude em função da
repercussão entre os próprios usuários.
26. 7 fases da socialização e uso do
computador na educação segundo
Pennington(1996):
Fase 1: o computador usado por uma classe
elitista de cientistas para cálculos
matemáticos;
Fase 2: acesso dado a professores e alunos
de instituições de prestígio;
Fase 3: início à esfera educacional, incluindo
escola públicas;
Fase 4: o computador como objeto de massa,
atingindo a classe média e tornando o acesso
aos computadores universal.
27. Fase 5: educadores se apoderam do
computador e este fica mais próximo
das práticas pedagógicas;
Fase 6: crianças tornam-se digitalmente
letradas;
Fase 7: provável acesso universal não
somente às informações mas também
às pessoas.
28. 7 estágios até a normalização das atividades
de ensino de línguas mediadas pelo
computador segundo Bax (2003):
Estágio 1: primeiros adeptos; poucos
professores e escolas que adotam a nova
tecnologia;
Estágio 2: ignorância ou ceticismo em relação
a tecnologia;
Estágio 3: as pessoas experimentam a
tecnologia, mas resistem aos primeiros
obstáculos;
29. Estágio 4: após serem motivadas as pessoas
tentam novamente e encontram vantagens
relativas na tecnologia;
Estágio 5: mais pessoas começam a usar a
tecnologia, mas ainda existe receio;
Estágio 6: a tecnologia passa a ser vista como
algo normal;
Estágio 7: se adapta às nossas vida com
normalidade.
30. O Brasil e o Computador
Alcance da normalidade em serviços
prestados por empresas como bancos.
Na educação, Paiva (2008) considera os
mesmos estágios previstos por Bax
(2003).
Apesar do uso em muitos ambientes e
contextos ainda nota-se uma tensão
entre adesão e rejeição.
31. O computador e o ensino de línguas
estrangeiras nas universidades brasileiras
De acordo com Paiva (2008) essas experiências
se dividem em três tipos: extensão, atividades
curriculares e projetos opcionais. Assim, a
autora apresenta:
Na área de extensão: a pioneira Profa. Heloisa
Collins e os cursos de língua inglesa que
ofereceu pela PUCSP em 1997. Em 1995 foi
oferecido o primeiro curso de leitura
instrumental via BBS (Bulletim Board System),
sistema precursor da Internet atual.
32. Sob a orientação de Collins, a Profa. e
pesquisadora Ana Silva Ferreira que defendeu
dissertação sobre o tema em 1998. A seguir o
Surfing & Learning de 1997 a 2002 coordenado
por Collins em parceria com a UOL. Entre 1997
e 1998 Collins e Robert Wyatt, seu aluno de
mestrado planejaram o oferecimento do
Business Writing on-line – Inglês para Negócios
via Internet.
33. Cursos de extensão por e-mail em 2008
dirigidos, segundo Collins, para professores
de escolas públicas e estaduais de São Paulo.
Como atividade curricular: Paiva (2008) cita a
própria experiência na UFMG com ofertas de
leitura e escrita na Internet para alunos da
licenciatura em inglês. Cita, ainda, Denise
Braga que, na Unicamp, coordena desde
2000 o projeto Real Web para alunos da pós-
graduação.
34. Como atividade extracurricular: o projeto
Teletandem Brasil da UNESP sob
coordenação de João Telles em parceria
com universidades no exterior. Vilson
Leffa com seu sistema ELO (Ensino de
Línguas Online) juntamente com cursos
de formação continuada de professores
de línguas com o foco nas atividades
interativas.
35. CONCLUSÃO
A partir dos anos 80 o computador começa a
fazer parte da universidade e na atualidade
muitos brasileiros ainda não tiveram experiência
com esse recurso tecnológico. No entanto,
apesar do esforço de alguns governos em
promover esse acesso tecnológico, essas ações
ainda são recusadas pelos próprios docentes
por acreditarem que esses recursos deveriam
ser revertidos para aumento dos salários e
também por crerem não possuírem treinamento
para lidarem com a máquina.
36. De acordo com Werneck (2008), esse
pensamento do professor em face da falta de
conhecimento para lidar com a máquina
encontra-se lado a lado com o pensamento
cartesiano também atrasado. O uso do
computador não requer treinamento
específico, ele age como professor estando
disponível para responder infinitamente
inúmeras questões. Portanto, é usando que o
aprendizado vai se consolidando pois se
aprende antes de fazer, enquanto se faz e
depois de fazer.
37. Dessa forma, é preciso que o professor esteja
mais aberto para aceitar e se adequar a essa
ferramenta que é, de fato, importante para o
desempenho de suas atividades como
educador. É preciso também termos em mente
que nem o livro e nem o computador
promoverão um aprendizado de línguas pleno
e satisfatório se o aprendiz não estiver
engajado em sua aprendizagem numa prática
social da linguagem. Assim, o mal uso da
tecnologia poderá encobrir as mesmas falhas
das práticas antigas.