1) As redes sociais surgiram como resultado da transferência de poder das instituições para o público na era digital.
2) As redes sociais permitem a comunicação direta entre pessoas e organizações e a distribuição do poder.
3) As marcas enfrentam desafios em encontrar a forma correta de se posicionar nas redes sociais devido à sua vulnerabilidade à opinião pública.
1. O Futuro das Redes Sociais 15-04-2011
O cliente tem sempre razão. Ou melhor, tinha, até ao dia em que morreu e, com ele, morreu igualmente o público, o
espectador, ouvinte ou consumidor. Assim como todas as formas de recepção passiva de um produto ou serviço. Em seu
lugar surgiu uma nova entidade que interage, participa, opina, e também produz. O Digital é um processo revolucionário e,
para o cidadão comum, as redes sociais são a grande conquista da internet.
Da banca às viagens, da hotelaria ao imobiliário ou da música aos media, a internet não impôs apenas uma nova lógica e
novos modelos de negócio à generalidade dos sectores de actividade. A transferência de poder das instituições,
nomeadamente das empresas e outras organizações institucionais, para o público é, provavelmente, o fenómeno mais
significativo.
Hoje, as empresas comunicam reciprocamente com os seus consumidores, o poder é mais escrutinado pelos cidadãos, os
serviços públicos mais expostos e mais dependentes da apreciação dos utentes. Com a desintermediação, que assolou
estruturas e processos há muito instituídos, o cidadão anónimo ganhou importância, capacidade de intervir nos processos de
decisão, estatuto.
Esta mudança transformou um mundo unidireccional, linear e hierarquicamente estruturado numa sociedade transversal,
interactiva e permanentemente online.
E, apesar da atractividade e diversidade dos novos serviços de base tecnológica, cedo surgiu um fenómeno bastante mais
significativo traduzido na importância que as pessoas dão à possibilidade de comunicarem entre si, de se promoverem e de
poder partilhar conteúdos da sua esfera privada.
Numa primeira fase por email, mais tarde nos fóruns, nos chats ou nos blogues, a relevância da comunicação entre as
pessoas, outrora receptores, leitores, ouvintes ou telespectadores passivos, atingiu a sua verdadeira dimensão com a irrupção
das redes sociais.
As redes sociais são, de facto, o corolário de uma nova sociedade, onde a comunicação directa é a base das relações entre
pessoas e organizações. Onde as decisões são distribuídas entre fornecedores de produtos e serviços e os seus utilizadores e
clientes. Onde o poder é partilhado entre governantes e governados.
Um sistema que pode despoletar grandes movimentos sociais – mesmo revoluções - resultado da transferência do poder para
as pessoas. E se o fenómeno está a ser seguido por governos de todo o mundo, é igualmente verdade que também pode ser
utilizado a favor ou contra empresas e marcas.
Já são significativos os casos de marcas cuja imagem foi, de alguma forma, afectada nas redes sociais. E mesmo aqueles
que advogam que problemas com consumidores sempre existiram, não estão a ter em conta a capacidade de amplificação
que aquelas comportam.
Por isso, se hoje os cidadãos têm mais poder, as marcas têm maior responsabilidade e bastante mais vulnerabilidade como
casos recentes evidenciam.
Sendo inevitável a necessidade de assegurar uma presença forte nas redes sociais, encontrar o modelo, a forma e o
posicionamento adequado parece ser o grande desafio com que as marcas actualmente se confrontam.
Estamos ainda no início e é cedo para perceber quão as redes sociais irão condicionar a forma como nos relacionados uns
com os outros, com as empresas, com as organizações e com as instituições governamentais.
O entusiasmo existente, traduzido no crescimento vertiginoso do número de utilizadores das redes sociais, acentua o debate
relativamente ao que é hoje a privacidade ou a segurança mas não diminui a importância que actualmente representam.
Poder comunicar com o mercado de forma directa, instantânea e, acima de tudo, a baixo custo, é o cenário ideal para
qualquer marketeer. Mas, por outro lado, a presença das organizações num território dominado por indivíduos, pode resultar
numa experiência tão estimulante como a daqueles pais que frequentam as mesmas discotecas dos filhos...
Pelo facto de ter cerca de 600 milhões de utilizadores, o Facebook é muitas vezes equiparado ao 4º país mais populoso do
mundo.
Mas, na Aldeia Global em que nos tornámos, oxalá que as redes sociais como o Facebook, por exemplo, hoje como que um
condomínio próspero e moderno desta aldeia planetária frequentado por jovens dinâmicos e sofisticados, não venha a
transformar-se num bairro degradado, repleto de gente solitária e envelhecida onde prolifera a marginalidade...
Francisco Teotónio Pereira - Director da APMP