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“Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o
segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no
quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o
sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no
décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o
nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro
tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro.
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Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais”.
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Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
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Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
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Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
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O ódio no Brasil: ressignificando raízes do Brasil

  • 1. História do Ódio no Brasil: ressignificando Raízes do Brasil
  • 2. A Violência na Terra da Cordialidade - 13 min – 1 assassinato - 15 min – 1 morte no trânsito - 100 mil mortes violentas por ano - Entre os 20 países mais violentos do mundo Será que somos “homens cordiais”? 1936: publicação de Raízes do Brasil do historiador Sérgio Buarque de Holanda Contexto: Europa – Ascensão do nazismo e do fascismo Brasil – Intentona Comunista (1935)
  • 3. Cordial (cordis – latim) – coração (passional) - Brasileiro ama e odeia de forma passional Interpretação Conservadora: - Passava a negar o ódio na sociedade brasileira - Tentativa de negar o passado escravocrata
  • 4.
  • 5.
  • 6. Euclides da Cunha (1866 – 1909) - Já havia percebido o ódio entre o Sertão (atrasado) e o Litoral (civilizado) na sociedade brasileira - Isso é detalhe marcante em sua obra Os Sertões
  • 7.
  • 8.
  • 10. Trânsito Brasileiro: matou 250 mil pessoas nos últimos 8 anos. Guerra do Vietnã: matou 58 mil norte-americanos em 12 anos. Violência no Brasil: 1) É questão do outro; 2) É coisa de nordestino atrasado; 3) É coisa da periferia; 4) É coisa de negro; 5) É coisa de bêbado; 6) É de qualquer outro, mas não minha. A Hipocrisia: “eu sou o representante da civilidade, sou pacífico e estou cercado por gente violenta.”
  • 11. A Incapacidade de Perceber o Ódio Esquerda: idealiza o futuro impossível Direita: idealiza o passado improvável Exemplo: - Mito do Bom Selvagem (Michel de Montaigne) - Formação cristã (Sermão da Montanha – “são bem aventurados os pacíficos.” - O ódio nos conduz ao inferno - Ódio remete à Revolução
  • 12.
  • 13. Natureza Humana na Ciência Política Thomas Hobbes (1588 – 1679): somos naturalmente violentos Rousseau (1712 – 1778): aprendemos a odiar porque a sociedade nos corrompe John Locke (1632 – 1704): nascemos tábula rasa (empirismo) Por que o ódio permanece?
  • 14. O ódio é o elemento mais fácil para unir um grupo
  • 15. 1 – É difícil amar em comum; 2 – Inimigos nos dão identidade; 3 – Odiar se confunde com o prazer e a superação de inferioridade; 4 – A derrota do outro é melhor do que a minha vitória; 5 – A gratidão me torna inferior a você; 6 – O ódio me torna superior a você porque foi você quem me atacou. Públio Cornélio Tácito (55 – 120): “Os homens apressam-se mais em retribuir um dano do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança é um prazer.”
  • 16. Sociedade Falocêntrica - Domínio masculino na forma de pensar sobre os principais paradigmas; - Tirar satisfação é sinal de força (“o vitorioso não engole calado”); - Pedir perdão é fraqueza; - Hitler X Adenauer; - Violência seduz (Gladiadores X MMA); - Patologia X Naturalidade.
  • 17. Crônica: Mineirinho (Clarice Lispector) “Esta é a lei. Mas há alguma coisa que, se me faz ouvir o primeiro e o segundo tiro com um alívio de segurança, no terceiro me deixa alerta, no quarto desassossegada, o quinto e o sexto me cobrem de vergonha, o sétimo e o oitavo eu ouço com o coração batendo de horror, no nono e no décimo minha boca está trêmula, no décimo primeiro digo em espanto o nome de Deus, no décimo segundo chamo meu irmão. O décimo terceiro tiro me assassina — porque eu sou o outro. Porque eu quero ser o outro. Essa justiça que vela meu sono, eu a repudio, humilhada por precisar dela. Enquanto isso durmo e falsamente me salvo. Nós, os sonsos essenciais”.
  • 18. Ódio Contemporâneo - Crimes famélicos (passado) X Crimes de Tecnologia (presente); - Ter para ser (ódio de consumo); - Hipocrisia Contemporânea (não posso dizer o que sinto e não sei mais o que sou); - Medicalização para ser feliz; - Resistência ao negativo e ao ódio; - Crianças odeiam? (“Juramento de Anibal”); - Criar obsolescência para criar mercado (Adam Smith); - Inveja X Cobiça.
  • 19. Poema em linha reta Fernando Pessoa (Álvaro de Campos) Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?