PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
A propaganda ideológica e a simplificação da violência contra a mulher
1.
2.
3. O que diz a imprensa
“Mulher mantida refém em ônibus pelo ex
reata casamento” – Último Segundo –
02.07.07
“Casal do ônibus 499 se reconcilia” – O Globo
– 1°. 07.07.
“‘Perdoei por amor’, diz mulher do ônibus
499” – G1 - Portal de notícias da Globo –
1°.07.07
4. A percepção da realidade é
totalmente influenciada pelo poder dos
meios de comunicação de massa.
Propaganda Ideológica – As manchetes
revelam em si a intenção de levar as
pessoas a já tomar partido em relação ao
assunto em questão. A mulher fraca, age
pela emoção, não é capaz de manter a
decisão de separar mesmo diante da
situação a que foi submetida
anteriormente pelo marido.
5. Antonio Rayol no site Vox Libre sobre o caso André e
Cristina e a informação sobre mulheres que sofrem de
maus tratos:
“Cristina tem o direito de pedir à Justiça que
perdoe André, mas ela deveria ao mesmo
tempo renunciar ao direito de encher o saco da
polícia caso André resolva surra-la novamente!”
a intenção de influenciar as pessoas e seus
comportamentos(propaganda ideológica),
utiliza linguagem coloquial, mostra-se ofendido
(emoção), como brasileiro pela atitude de
Cristina.
Ao falar em nome da polícia, ele age como se
tivesse falando pela sociedade(unificação).
6. Por outro lado existe uma necessidade de desqualificar
o movimento de mulheres que há décadas vem
derrubando tabus. É a luta pela supremacia do homem
(uso explícito da força, mas frequentemente
acompanhado ou baseado no desenvolvimento
de idéias) .
Afirmações como a matéria acima que circulam nos
meios de comunicação de massa ignoram (negação
das mudanças ) todos os avanços ao longo dos anos
em relação à emancipação da mulher e a sua luta pela
conquista e garantia de seus direitos.
7. autor do texto simplifica o caso,
reafirmando nas entrelinhas que mulher
gosta é de apanhar mesmo e que pelo
fato de não terem firmeza em suas
decisões, não devem ter seus direitos
garantidos!
Manchetes e textos tem o sério propósito
de reforçar idéias através da ênfase
e massificação de interpretações
tendenciosas sobre assuntos que
tem pouca ou nenhuma
profundidade .
8. Quando a mulher deixa de ser vítima? Quando
deixa de ser culpabilizada? É possível se tornar
agente como defende a professora Janira no
mundo midiático da propaganda ideológica?
“ Muita gente diz que ele vai fazer de novo”.
A responsabilidade é toda minha. Quando falei que
pretendia aceitá-lo de volta, ouvi de algumas pessoas o
alerta de que ele voltaria a fazer tudo de novo.” – Jornal
O Globo.
9. É tão arraigada no imaginário popular a cultura machista
e a universalização de seus princípios, que a própria
Cristina sente-se no dever de se desculpar com as
pessoas por ter tomado a decisão de perdoá-lo!
A entrevistada está tão absorta da sua condição de algoz,
ou da condição que lhe foi imposta que não tem
consciência dos seus direitos como ser humano: direito de
ser livre para agir dessa ou daquela maneira, de tomar
essa ou aquela decisão. Por que pedir desculpas? O fato
da Polícia e do Poder Judiciário terem se envolvido,
independe da vontade dela.
10. O jornalista responde aos princípios básicos do
jornalismo. Todos os aspectos da notícia foram
contemplados! Na busca da resposta fácil e na validação
da ordem social (de fato, a mulher está demonstrando
que é frágil, tem o coração mole, perdoa e, portanto, não
tem condições de decidir por si mesma, de ser agente
de sua história) a notícia enquanto propaganda
ideológica cumpriu o seu papel.
Cristina por sua vez, está inserida nesta sociedade, é
fruto dela. Por mais que tenha relampejos de lutar por
sua autonomia, ao pedir desculpas, reforça valores , e
dá demonstração de sua impotência frente à verdade
que está posta.
11. Quando a propaganda ideológica do
mundo dos homens começa a perder
espaço para uma outra propaganda
ideológica...
As mulheres multiplicaram. Literalmente. Somos hoje
mais de 50% da população brasileira. Aquelas que
antes não tinham voz, nem vez, hoje já têm órgãos que
pensam políticas públicas em seu favor.
12. A verdade é que a desigualdade entre mulheres
e homens provoca danos e prejuízos que
comprometem significamente os índices de
crescimento de qualquer país, não deixando
dúvida que se faz necessário uma política que
possa incluir e diminuir a desigualdade existente
entre mulheres e homens.
13. Mas o que isso tem a ver com propaganda ideológica do estado?
Não corre o risco das políticas públicas em favor das mulheres
serem tratadas como um mal necessário e virem embrulhadas em
embalagens lindamente paternalista, que é outro aspecto do mundo
machista?
É essa a lógica?
De acordo com Max Weber, “poder é a capacidade de um
ator em impor sua vontade em uma relação social,
apesar da resistência do outro”. Quando a mulher procura
reivindicar seus direitos, na verdade o que ela busca é de fato
impor sua vontade no seu meio social?
Por outro lado, o avanço e as conquistas das mulheres,
representaram diminuição do espaço de poder do homem? Ou será
mais uma estratégia da propaganda ideológica para dar resposta a
uma demanda crescente por mais Justiça Social e ratificar a ordem
social de que o homem é o senhor absoluto do espaço público,
apesar dos avanços femininos?
14. Sensacionalismo e propaganda ideológica
A cobertura dada ao seqüestro do ônibus com a imagem
do marido violento apontando uma arma para a cabeça
da mulher foi decisiva para o desenrolar de todas as
outras seqüências da mesma novela, ou melhor, da
notícia. Quem não se lembra das imagens, “flashes”
transmitidos ao vivo durante a programação das
emissoras, inclusive com aquela música que quando a
gente ouve, faz a gente pensar assim: “ ihh quem será
que morreu?”.
O impasse criado, a dramaticidade da cena, despertaram nas
pessoas o ódio e a revolta imediata(fala direto a emoção ) .
A notícia ficou restrita ao episódio do seqüestro e meses depois ao
episódio do perdão, estabelecendo naturalmente o que é inerente
ao mundo capitalista e consumista. Deixamos de exercitar nossa
capacidade de raciocinar e julgar os fatos de forma
racional . Agimos pela emoção daquilo que em nós foi despertado
pela imagem, para daqui a algumas horas, quando o fato deixar de
ser notícia ser esquecido e descartado.
15. Problemas como de Cristina e André nunca são vistos
como parte de um problema estrutural, que envolve a
falta de investimentos em políticas públicas. A culpa
nunca é vinculada a incompetência de quem controla o
Poder, mas neste caso específico, ao homem que é
machista, a mulher que é sem vergonha e assim por
diante(bode expiatório).
A banalização da violência e sua espetacularização
servem na verdade para mistificar o poder do Estado .
As notícias e programas como são divulgadas prestam
um serviço a ineficiência do Estado , escondem um
mal muito maior, a falta de condições básica de vida
digna do povo brasileiro.
16. Dessa forma sem censura prévia, sem controle
explícito a imprensa certa da sua função
enquanto “quarto poder!” chega ao ponto de
questionar e cobrar de uma mulher uma atitude
mais “racional”, “mais inteligente” e ainda exige
que ela abdique de seus direitos de cidadã caso
ela venha a sofrer novas agressões!
Tal atitude não é só machista, ela cumpre um
papel importante na continuação do poder
hegemônico do Estado , faz parte da
propaganda ideológica do Estado.
17. A eficiência da propaganda ideológica na
simplificação da mensagem
Por trás de um grande homem, existe sempre uma
grande mulher!
O homem é a cabeça, a mulher é o coração.
No campo das letras de músicas, um talentoso poeta e
ator, Mario Lago, eternizou o estereótipo da mulher
perfeita e submissa, no clássico da música brasileira
Amélia.
Mais recentemente o movimento funk adequou o
preconceito e o machismo nas mensagens que fazem
referência a mulher objeto: cachorra, popozuda, eguinha
pocotó. As músicas sertanejas estão recheadas de
mensagens que reforçam a condição de submissão da
mulher.
18. Na televisão as mensagens reforçam a idéia da mulher
objeto em propagandas de carro, bebidas e em outros
produtos.
Ao introduzir através das músicas, comerciais, novelas,
produtos de entretenimento as mensagens, os
responsáveis pela perpetuação do ‘status quo’,
procuram facilitar a compreensão e difusão da
mensagem.